cf para concursos 3ª edição - dirley da cunha jr

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DIRLEY DA CUNHA JÚNIOR Juiz Federal da Seção Judiciária da Bahia. Doutor em Direito Constitucional pela PUC-SP. Mestre em Direito Econômico pela UFBA. Pós-graduado em Direito pela Universidade Lusíada (Porto/ Portugal) e pela Fundação Faculdade de Direito da Bahia. Ex-Promotor de Justiça do Estado da Bahia (1992- 1995). Ex-Procurador da República (1995-1999)- Professor-Doutor (concursado) de Direito Constitucional da Universidade Católica do Salvador. Professor do Mestrado e Doutorado em Direito da Universidade Federal da Bahia e professor visitante do Mestrado da Universidade Federal de Alagoas. Professor-Conferendsta de Direito Constitucional da Escola da Magistratura do Estado da Bahia (EMAB), da Fundação Escola Superior do Ministério Público da Bahia (FESMIP), da Escola Judicial do TRT da 5a Região (Bahia) e TRT da 19» Região (Alagoas). Professor-Coordenador do Curso de Pós-graduação em Direito do Estado da Faculdade Baiana de Direito e do Curso Juspodivm. Professor de Direito Constitucional e Administrativo dos Cursos Juspodivm/ IFG. Professor e Coordenador do Núcleo de Direito do Estado da Faculdade Baiana de Direito. Membro da Associação Brasileira de Constitucionalistas Democratas (ABCD). Membro do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional (IBDC). Presidente fundador do Instituto de Direito Constitucional da Bahia (IDCB). MARCELO NOVELINO Procurador Federal. Doutorando em Direito Público pela UERJ. Professor de Direito Constitucional do Curso LFG. Membro fundador do INJUR. P A R A C O N C U R S O S 3aedição Revisada, ampliada e atualizada 2012 EDITORA u PODIVM EDITORA J ís P O D IV M www.editorajuspodivm.com.br

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Constituição Federal para concursos 3ª Edição

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  • DIRLEY DA CUNHA JNIORJuiz Federal da Seo Judiciria da Bahia. Doutor em Direito Constitucional pela PUC-SP.

    Mestre em Direito Econmico pela UFBA. Ps-graduado em Direito pela Universidade Lusada (Porto/ Portugal) e pela Fundao Faculdade de Direito da Bahia. Ex-Promotor de Justia do Estado da Bahia (1992- 1995). Ex-Procurador da Repblica (1995-1999)- Professor-Doutor (concursado) de Direito Constitucional da

    Universidade Catlica do Salvador. Professor do Mestrado e Doutorado em Direito da Universidade Federal da Bahia e professor visitante do Mestrado da Universidade Federal de Alagoas. Professor-Conferendsta de

    Direito Constitucional da Escola da Magistratura do Estado da Bahia (EMAB), da Fundao Escola Superior do Ministrio Pblico da Bahia (FESMIP), da Escola Judicial do TRT da 5a Regio (Bahia) e TRT da 19 Regio (Alagoas). Professor-Coordenador do Curso de Ps-graduao em Direito do Estado da Faculdade Baiana

    de Direito e do Curso Juspodivm. Professor de Direito Constitucional e Administrativo dos Cursos Juspodivm/ IFG. Professor e Coordenador do Ncleo de Direito do Estado da Faculdade Baiana de Direito. Membro da Associao Brasileira de Constitucionalistas Democratas (ABCD). Membro do Instituto Brasileiro de Direito

    Constitucional (IBDC). Presidente fundador do Instituto de Direito Constitucional da Bahia (IDCB).

    MARCELO NOVELINOProcurador Federal.

    Doutorando em Direito Pblico pela UERJ.Professor de Direito Constitucional do Curso LFG.

    Membro fundador do INJUR.

    P A R A C O N C U R S O S

    3a edio Revisada, ampliada e atualizada

    2012EDITORA

    uPO DIVM

    EDITORAJ sP O D IV M

    www.editorajuspodivm.com.br

  • I I ED IT O R A I f I jypO D IVMwww.editorajuspodivm.com.br

    Rua Mato Grosso, 175 - Pituba, CEP: 41830-151 - Salvador - BahiaTel: (71) 3363-8617 / Fax: (71) 3363-5050 E-mail: [email protected]

    Conselho Editorial: Dirley da Cunha Jr., Leonardo de Medeiros Garcia, Fredie Didier Jr., Jos Henrique Mouta, Jos Marcelo Vigliar, Marcos Ehrhardt Jnior, Nestor Tvora, Robrio Nunes Filho, Roberval Rocha Ferreira Filho, Rodolfo Pamplona Filho, Rodrigo Reis Mazzei e Rogrio Sanches Cunha.Capa: Rene Bueno e Daniela Jardim (www.buenojardim.com.br)Diagramao: Caet Coelho ([email protected])

    Todos os direitos desta edio reservados Edies jusPODIVM.Copyright: Edies JusPODIVM terminantemente proibida a reproduo total ou parcial desta obra, por qualquer meio ou processo, sem a expressa autorizao do autor e da Edies JusPODIVM. A violao dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislao em vigor, sem prejuzo das sanes civis cabveis.

  • Sumrio

    - Prembulo..................... ........................................................................................ 9

    Ttulo I: Dos Princpios Fundamentais................................................................ 10

    Ttulo II: Dos Direitos e Garantias Fundamentais_______________________ 25

    Captulo I: Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos.................................... 25Captulo II: Dos Direitos Sociais............................................................................. 167Captulo III: Da Nacionalidade............................................................................... 199Captulo IV: Dos Direitos Polticos......................................................................... 209Captulo V: Dos Partidos Polticos......................................................................... 234

    Ttulo III: Da Organizao do Estado.................................................................... 237

    Captulo l: Da Organizao Poltico-Administrativa..................................................... 237

    Captulo II: Da Unio.................................................................................................... 248Captulo III: Dos Estados Federados........................................................................... 277Captulo IV: Dos Municpios......................................................................................... 290Captulo V: Do Distrito Federal e dos Territrios....................................................... 307

    Seo I: Do Distrito Federal................................................................................... 307Seo II: Dos Territrios......................................................................................... 311

    Captulo Vi: Da Interveno......................................................................................... 313Captulo VII: Da Administrao Pblica........................................................................ 323

    Seo I: Disposies Gerais................................................................................... 323Seo II: Dos Servidores Pblicos........................................................................ 388Seo III: Dos Servidores Pblicos dos Militares dos Estados, doDistrito Federal e dos Territrios......................................................................... 433Seo IV: Das Regies............................................................................................ 435

    Ttulo IV: Da Organizao dos Poderes............................................................... 437

    Captulo I: Do Poder Legislativo................................................................................. 437

    Seo I: Do Congresso Nacional............................................................................ 437Seo II: Das Atribuies do Congresso Nacional................................................. 444Seo III: Da Cmara dos Deputados................................................................... 450

  • Dirley da Cunha Jnior e Marcelo Novelino

    Seo IV: Do Senado Federal................................................................................ 452Seo V: Dos Deputados e dos Senadores........................................................... 456Seo VI: Das Reunies.......................................................................................... 472Seo VII: Das Comisses...................................................................................... 476Seo VIII: Do Processo Legislativo....................................................................... 484Subseo I: Disposio Geral................................................................................ 484Subseo II: Da Emenda Constituio................................................................ 488Subseo III: Das Leis............................................................................................. 501Seo IX: Da Fiscalizao Contbil, Financeira e Oramentria........................... 526

    Captulo II: Do Poder Executivo................................................................................... 537Seo I: Do Presidente e do Vice-Presidente da Repblica................................ 537Seo II: Das Atribuies do Presidente da Repblica........................................ 545Seo III: Da Responsabilidade do Presidente da Repblica............................. 550Seo IV: Dos Ministros de Estado....................................................................... 556Seo V: Do Conselho da Repblica e do Conselho de Defesa Nacional........... 557Subseo I: Do Conselho da Repblica................................................................. 557Subseo II: Do Conselho de Defesa Nacional.................................................. 558

    Captulo III: Do Poder Judicirio.................................................................................. 559Seo I: Disposies Gerais................................................................................... 559Seo II: Do Supremo Tribunal Federal................................................................. 616Seo III: Do Superior Tribunal de Justia............................................................. 675Seo IV: Dos Tribunais Regionais Federais e dos Juizes Federais...................... 684Seo V: Dos Tribunais e Juizes do Trabalho........................................... ............ 702Seo Vi: Dos Tribunais e Juizes Eleitorais............................................................ 712Seo VII: Dos Tribunais e Juizes Militares............................................................ 716Seo VIII: Dos Tribunais e Juizes dos Estados..................................................... 718

    Captulo IV: Das Funes Essenciais Justia............................................................. 723Seo I: Do Ministrio Pblico............................................................................... 723Seo II: Da Advocacia Pblica.............................................................................. 750Seo 111: Da Advocacia e da Defensoria Pblica................................................. 753

    ^ Ttulo V: Da Defesa do Estado e das Instituies Democrticas........................ 758Captulo I: Do Estado de Defesa e do Estado de Stio.............................................. 758

    Seo I: Do Estado de Defesa............................................................................... 758Seo II: Do Estado de Stio.................................................................................. 762Seo III: Disposies Gerais................................................................................. 765

    Captulo II: Das Foras Armadas................................................................................. 766

    6

  • Sumrio

    Ttulo VI: Da Tributao e do Oramento______________________________________ 775

    Captulo I: Do Sistem a Tributrio N acional.............................................................................. 775

    Seo I: Dos Princpios G erais................................................................................................ 775

    Seo II: Das Limitaes do Poder d e Tributar................................................................ 793

    Seo III: Dos Impostos d a U nio......................................................................................... 816

    Seo IV: Dos Im postos d o s Estados e do Distrito Federal........................................ 824

    Seo V: Dos Impostos d os Municpios.............................................................................. 836

    Seo VI: Da Repartio d as Receitas T rib utrias......................................................... 843

    Captulo II: Das Finanas Pblicas................................................................................................ 849

    Seo I: Normas Gerais............................................................................................................. 849

    Seo II: Dos Oram entos........................................................................................................ 850

    Ttulo VII: Da Ordem Econmica e F in an ceira_________________________________ 861

    Captulo I: Dos Princpios Gerais da Atividade Econm ica................................................. 861

    Captulo II: Da Poltica Urbana....................................................................................................... 879

    Captulo III: Da Poltica Agrcola e Fundiria e da Reforma Agrria................................ 886

    Captulo IV: Do Sistem a Financeiro Nacional............................................................................ 892

    Ttulo VIII: Da Ordem So cial.................................................................................................... 894

    Captulo I: Disposio G era l.......................................................................................................... 894

    Captulo II: Da Seguridade Social

    Seo I: Disposies G erais.................................................................................................... 895

    Seo II: Da S a d e ..................................................................................................................... 9 12

    Seo III: Da Previdncia So cia l............................................................................................ 922

    Seo IV : Da Assistncia So cia l............................................................................................ 932

    Captulo III: Da Educao, da Cultura e do desporto ......................................................... 936

    Seo I: Da Educao................................................................................................................ 936

    Seo II: Da Cultura.................................................................................................................... 950

    Seo III: Do D esporto.............................................................................................................. 954

    Captulo IV: Da Cincia e Tecnologia........................................................................................... 956

    Captulo V: Da Comunicao Social............................................................................................. 958

    Captulo III: Da Segurana Pblica................................................................................................ 958

    Captulo VI: Do Meio Am biente.................................................................................................... 966

    Captulo VII: Da Famlia, d a Criana, do A d olescen te , do Jovem e do Id o so ............ 975

    Captulo VIII: Dos ndios................................................................................................................... 988

    Ttulo Dfc Das Disposies Constitucionais G e ra is .......................................................... 9 97

    7

  • CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA

    DO BRASIL DE 19 8 8

    PREMBULO

    - Ns, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assemblia Nacional Gonsti- tuinte para instituir um Estado Democrtico, destinado a assegurar o exerccio dos .

    direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurana, o bem-estar, o desenvolvi- \ mento, a igualdade e a justia como valores supremos d a uma sociedade fraterna,

    pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a soluo pacfica das controvrsias, promulgamos, sob a proteo de Deus, a seguinte CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

    1. BREVES COMENTRIOS

    0 prembulo parte integrante da Constituio, com todas as suas conseqncias, apesar de no ser um componente indispensvel, afirma Jorge MIRANDA. Dela no se distingue nem pela origem, nem pelo sentido, nem pelo instrumento em que se contm, podendo distinguir-se apenas pela sua eficcia ou pelo papel que desempenha. 0 prembulo no uma declarao de direitos; no forma um conjunto de preceitos; no pode ser invocado enquanto tal, isoladamente; no cria direitos nem deveres. Portanto, no h inconstitucionalidade por violao do prembulo.1

    0 STF adota a tese da irrelevncia jurdica, segundo a qual o prembulo no se situa no domnio do Direito, mas da poltica ou da histria, possuindo apenas um carter poltico-ideolgico destitudo de valor normativo e fora cogente, motivo pelo qual no pode ser invocado como parmetro para o controle de constitucio- nalidade.

    i . Manual de direito constitucional. 4. ed. Coimbra: Coimbra, 2000. Tomo II, p. 240-241.

    9

  • Art. l Dirley da Cunha Jnior e Marcelo Novelino

    2. QUESTES DE CONCURSOS

    . (AGU/PROCURADOR FEDERAL/CESPE - 2007 - ADAPTADA) A invocao a Deus, presente noprembulo da CF, reflete um sentimento religioso, o que no enfraquece 0 fato de 0 Estado brasileiro ser laico, ou seja, um Estado em que h liberdade de conscincia e de crena, onde ningum privado de direitos por motivo de crena religiosa ou convico filosfica.

    2. (AGU/PROCURADOR FEDERAL/CESPE - 2007 - ADAPTADA) 0 prembulo constitucional possui destacada relevncia jurdica, situando-se no mbito do direito e no simplesmente no domnio da poltica.

    3. (AGU/PROCURADOR FEDERAL/CESPE - 2007 - ADAPTADA) 0 prembulo da CF norma central de reproduo obrigatria na Constituio do referido estado-membro.

    4. (PGE-PE/PROCURADOR DO ESTADO/CESPE - 2009 - ADAPTADA) 0 prembulo constitucional, segundo entendimento do STF, tem eficcia jurdica plena, consistindo em norma de reproduo obrigatria nas constituies estaduais.

    5. (TCE-ES/PROCURADOR ESPECIAL DE COHTAS/CESPE - 2009 - ADAPTADA) No tocante ao poder constituinte originrio, o Brasil adotou a corrente positivista, de modo que 0 referido poder se revela ilimitado, apresentando natureza pr-jurdica.

    6. (IPAJM-ES/ADVOGADO/CESPE-2010-ADAPTADA) Para o STF, o prembulo da CF no se situa na esfera do direito, mas na da poltica - refletindo a posio ideolgica do constituinte. No possui, portanto, relevncia jurdica, e no constitui norma central da CF, apesar de ser de reproduo obrigatria pelas constituies estaduais.

    7. (ECT - ANALISTA DE CORREIOS - ADVOGADO/2011) 0 prembulo constitucional estabelece as diretrizes polticas, filosficas e ideolgicas da CF, razo pela qual pode servir de elemento de interpretao e de paradigma comparativo em eventual ao de declarao de incons- titucionalidade.

    W S h t e c \-

  • Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 Art.

    1 . BREVES COMENTRIOS

    REPBUCA FEDERATIVA DO BRASIL

    Forma de Estado Federao

    Forma de Covemo Repblica

    Sistema de Governo Presidencialista

    Regime de Governo Democrtico

    No caput do art. i. esto consagrados princpios materiais estruturantes que constituem diretrizes fundamentais para toda a ordem constitucional, a saber: princpio republicano; princpio federativo; e, princpio do Estado democrtico de direito.

    0 princpio republicano vem sendo consagrado entre ns desde a Constituio de 1891, instituidora da Repblica e do Estado Federal em substituio Monarquia e ao Estado Unitrio adotados pela Constituio de 1824. A Repblica, enquanto forma de governo associada s idias de coisa pblica e igualdade, tem como critrios distintivos a temporariedade, a eletividade e a responsabilidade dos governantes. A temporariedade (ou periodicidade) impe a alternncia no poder dentro de um perodo previamente estabelecido, de modo a impedir o seu monoplio por uma mesma pessoa ou grupo hegemnico ligado por laos familiares. A eletividade est ligada possibilidade de investidura no poder e acesso aos cargos pblicos em igualdade de condies para todos que atendam os requisitos preestabelecidos na Constituio e nas leis. A responsabilidade do governante decorre de uma idia central contida no princpio republicano segundo a qual todos os agentes pblicos so igualmente responsveis perante a lei, porquanto em uma Repblica no deve haver espaos para privilgios.

    0 princpio federativo tem como dogma fundamental a autonomia poltico- -administrativa dos entes que compem a federao. A federao uma forma de Estado na qual h mais de uma esfera de poder dentro de um mesmo territrio. No Estado federativo os entes polticos que 0 compem possuem autonomia, sendo o poder de cada um deles atribudo pela Constituio. Decorrente do princpio federativo, 0 principio da indissolubilidade do pacto federativo ("unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal") veda aos Estados o direito de secesso.

    A noo de Estado dem ocrtico d e direito est indissociavelmente ligada realizao dos direitos fundamentais, porquanto se revela um tipo de Estado que busca uma profunda transformao do modo de produo capitalista, com o objetivo de construir uma sociedade na qual possam se r

    1 1

  • A lt 1 Dirley da Cunha Jnior e Marcelo Novelino

    implantados nveis reais de igualdade e liberdade.2 Na busca pela conexo entre a democracia e o Estado de direito, o princpio da soberania popular se apresenta como uma dasvigas mestras deste novo modelo, impondo uma organizao e um exerccio democrticos do Poder (ordem de domnio legitimada pelo povo).

    Os fundamentos devem ser compreendidos como os valores estruturantes do Estado brasileiro, aos quais foi atribudo um especial significado dentro da ordem constitucional, sendo a dignidade da pessoa humana considerada o valor supremo do nosso ordenamento jurdico.

    A soberania pode ser definida como um poder poltico supremo e independente. Supremo, por no estar limitado por nenhum outro na ordem interna; independente, por no ter de acatar, na ordem internacional, regras que no sejam voluntariamente aceitas e por estar em igualdade com os poderes supremos dos outros povos.3 Portanto, a soberania deve ser analisada em dois mbitos distintos. A soberania externa se refere representao dos Estados, uns para com os outros, na ordem internacional; a soberania interna responsvel pela delimitao da supremacia estatal perante seus cidados na ordem interna. Por ser um instituto dinmico, a soberania no possui atualmente o mesmo contedo de outras pocas. A evoluo do Estado de Direito formal para o Estado Constitucional Democrtico fez com que, no plano interno, a soberania migrasse do soberano para o povo, exigindo-se uma legitimidade formal e material das Constituies. No plano externo, a rigidez de seus contornos foi relativizada com a reformulao do princpio da autodeterminao dos povos e o reconhecimento do Estado pela comunidade internacional.

    A cidadania, enquanto conceito decorrente do princpio do Estado Democrtico de Direito, consiste na participao poltica do indivduo nos negcios do Estado e at mesmo em outras reas de interesse pblico.4 0 tradicional conceito de cidadania vem sendo gradativamente ampliado, sobretudo aps a Segunda Grande Guerra Mundial. Ao lado dos direitos polticos, compreendem-se em seu contedo os direitos e garantias fundamentais referentes atuao do indivduo em sua condio de cidado.

    Dentre os fundamentos do Estado brasileiro, a dignidade da pessoa humana possui um papel de destaque.5 Ncleo axiolgico do constitucionalismo

    2. STRECK, Lenio Luiz. Hermenutica jurdica e(m) crise: Uma explorao hermenutica da construo do Direita. 8. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 36.

    3. CAETANO, Marcello. Manual de cincia poltica e direito constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 2003. Tomo I, p. 132.

    4. BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 16. ed. So Paulo: Saraiva, 1995, p. 148.5. Sobre o tema, cf. NOVEUNO, Marcelo. "0 contedo jurdico da dignidade da pessoa humana". Leituras

    complementares de direito constitucional: direitos humanos e direitos fundamentais. 3. ed. Marcelo Novelino [orgj. Salvador: Juspodivm, 2008, p. 153-174.

    12

  • Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 A rt i

    contemporneo, constitui 0 valor constitucional supremo que ir informar a criao, a interpretao e a aplicao de toda a ordem normativa constitucional, sobretudo, 0 sistema de direitos fundamentais. Como conseqncia da consagrao da dignidade humana no texto constitucional impe-se 0 reconhecimento de que a pessoa no simplesmente um reflexo da ordem jurdica, mas, ao contrrio, deve constituir 0 seu objetivo supremo,sendo que na relao entre 0 indivduo e 0 Estado deve haver sempre uma presuno a favor do ser humano e de sua personalidade. 0 indivduo deve servir de "limite e fundamento do domnio poltico da Repblica", pois 0 Estado existe para o homem e no 0 homem para o Estado.6

    0 reconhecimento dos valores sociais do trabalho como um dos fundamentos do Estado brasileiro impede a concesso de privilgios econmicos condenveis, por ser 0 trabalho imprescindvel promoo da dignidade da pessoa humana. A partir do momento em que contribui para o progresso da sociedade qual pertence, 0 indivduo se sente til e respeitado. Sem ter qualquer perspectiva de obter um trabalho com uma justa remunerao e com razoveis condies para exerc-lo, o indivduo acaba tendo sua dignidade violada. Por essa razo, a Constituio consagra o trabalho como um direito social fundamental (CF, art. 6.), conferindo-lhe proteo em diversos dispositivos. A liberdade de iniciativa, que envolve a liberdade de empresa (indstria e comrcio) e a liberdade de contrato, um princpio bsico do liberalismo econmico.7 Alm de fundamento da Repblica Federativa do Brasil, a livre iniciativa est consagrada como princpio informativo e fundante da ordem econmica (CF, art. 170), sendo constitucionalmente "assegurado a todos 0 livre exerccio de qualquer atividade econmica, independentemente de autorizao de rgos pblicos, salvo nos casos previstos em lei" (CF, art. 170, pargrafo nico).

    0 pluralismo poltico decorre do princpio democrtico, que impe a opo por uma sociedade plural na qual a diversidade e as liberdades devem ser amplamente respeitadas. 0 carter pluralista da sociedade se traduz no pluralismo social, poltico (CF, art. 1.), partidrio (CF, art. 17), religioso (CF, art. 19), econmico (CF, art. 170), de idias e de instituies de ensino (CF, art. 206, III), cultural (CF, arts. 215 e 216) e dos meios de informao (CF, art. 220).8 Este fundamento concretizado, ainda, por meio do reconhecimento e proteo das diversas liberdades, dentre elas, a de opinio, afilosfico-religiosa, aintelectual, artstica, cientfica, a de- comunicao, a de orientao sexual, aprofissional, a deinformao, a dereunioe a deassociao (CF, art. 5., IV, VI, IX, X, XIII, XIV, XVI e XVII).

    6. CANOTILHO, Jos Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituio, p. 225.7. SILVA, Jos Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 14. ed. Malheiros: So Paulo, 1997. P- 725-8. SILVA, Jos Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 14. ed. Malheiros: So Paulo, 1997, p. 143-

    13

  • Art. i Dirley da Cunha jnior e Marcelo Novelino

    PODER CONSTITUINTE V - ' - t i .

    ORIGINRIODERIVADO

    DECORRENTE REFORMADOR -

    Poder que institui a Constituio de um Estado. A posio dominante na doutrina que possui natureza poltica (ou de um poder de fato).

    Poder que os Estados-mem- bros tm de elaborar suas constituies.

    Poder de alterao da constituio por reviso ou emenda constitucional.

    CARACTERSTICAS CARACTERSTICAS

    Inicial - porque inaugura uma nova ordem jurdica.

    Autnomo - porque somente ao seu exercente cabe estabelecer os parmetros da nova constituio.

    Ilimitado - porque soberano e no sofre qualquer limitao pelo direito pr-existente. - Dignidade da pessoa humana

    Incondicionado - porque no se condiciona a nenhum processo ou procedimento previsto. ele que, quando invocado, estabelece a forma como vai proceder.

    Permanente - porque no se exaure com 0 seu exerccio.

    Derivado - porque um poder derivado do PCO. Possui natureza de poder de direito e no de fato".

    Limitado - porque a constituio impe limites ao seu exerccio.

    Condicionado - porque s pode se manifestar de acordo com as formalidades traadas pela constituio.

    i OBSERVAO: o titular do Poder Constituinte sempre o povo, mas o seu exerccio se i[ d por meio de representantes. J

    2. ENUNCIADOS DE SMULA DE JURISPRUDNCIA

    STF - Smula vinculante n 1 1

    S lcito o uso de algemas em casos de resistncia e de fundado receio de fuga ou de perigo integridade fsica prpria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros. Justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da priso ou do ato processual a que se refere, sem prejuzo da responsabilidade dvil do Estado.

    STF - Smula vinculante n 14

    direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, j documentados em procedimento investigatrio realizado por rgo com competncia de polcia Judiciria, digam respeito ao exercido do direito de defesa.

    14

  • Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 Art. 1

    STF - Smula n 70

    inadmissvel a interdio de estabelecimento como meio coercitivo para cobrana de tributo.

    STF - Smula n 323

    inadmissvel a apreenso de mercadorias como meio coerdtivo para pagamento de tributos.

    STF - Smula n 547

    No lcito autoridade proibir que o contribuinte em dbito adquira estampilhas, despache mercadorias nas alfndegas e exera suas atividades profissionais.

    3. INFORMATIVOS DE JURISPRUDNCIA

    3.1. STF

    Art. 3, I, da EC 58/2009: recomposio das cmaras municipais e devido processo eleitora l- 2

    Ressaltou-se, ademais, que, se se permitisse que algum pudesse ser empossado vereador, ainda que no eleito conforme as regras vigentes no processo eleitoral, por cargo surgido posteriormente eleio, poder-se-ia chegar a duas incongrundas da nova regra jurdica com os prindpios bsicos da Constituio: a) no eleitos passariam a prover cargos de representantes do povo, em transgresso ao que dispe 0 pargrafo nico do a r t 1 da CF; b) o constituinte reformador teria alterado, tadtamente, o modelo de composio e durao dos mandatos, pois a regra do inciso I do art. 29 da CF estabelece que a eleio do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para mandato de quatro anos, mediante pleito direto. Venado o Min. Eros que no referendava a liminar, por no vislumbrar as alegadas violaes aos dtados dispositivos constituaonais. ADI 4307 Re/erendo-MC/ DF, rei. Min. Ctftmen lcia, 11.11.2009. Pleno, (/n/o 567)

    Autorizao do uso de algemas e Smula Vinculante 1 1

    0 Tribunal julgou improcedente reclamao ajuizada contra ato de autoridade judidria que, em decreto de priso preventiva do reclamante, teria autorizado o uso de algemas. Entendeu-se que o juiz de primeiro grau no teria determinado, mas apenas autorizado o uso de algemas para o caso da autoridade politial deparar-se com alguma das hipteses previstas na Smula Vinculante 1 1 . Ademais, considerou-se o fato de o redamante no ter demonstrado que, durante o cumprimento do mandado de priso, a autoridade policial efetivamente fizera uso das algemas, no havendo, ainda, provas nos autos nesse sentido, o que descaracterizaria a violao ao citado verbete. Rcl 7814, rei. Min. Cdrmen Ivda,27.5.2010. Pleno. (Info 588)

    Dupla identificao do eleitor e princpios da proporcionalidade e da razoabilidade

    A apresentao do ttulo de eleitor, nos moldes estabelecidos hoje, no ofereceria garantia de lisura nesse momento crucial de revelao da vontade do eleitorado e que as experincias das ltimas eleies demonstrariam maior confiabilidade na identificao aferida com base em documentos oficiais de identidade com foto. Aduziu-se que os preceitos adversados, embora objetivassem maior segurana no reconhecimento dos eleitores, estabeleceriam uma exigncia desmedida, a qual afastaria a finalidade que

    15

  • Art. l Dirley da Cunha Jnior e Marcelo Novelino

    a norma pretendera alcanar. Concluiu-se que se deveria apresentar, no momento da votao, tanto o ttulo de eleitor como documento oficial de identificao com fotografia. Contudo, enfatizou-se que apenas a frustrao na exibio deste ltimo que teriao condo de impedir o exerccio do voto. ADI 4467 MC, rei. Min. Ellen Grade, 29 e 30.9.10. Pleno, (/n/o 602)

    3.2. STJ

    Propriedade industrial. Marca. Importao

    A Turma decidiu que, referente ao pedido da recorrente, no procede a pretenso de impedir a importao e comercializao de produtos na forma do a r t 132, III, da Lei 9.279/1996, por falta de autorizao expressa para utilizao de marca por seu titular e pela distribuidora exclusiva no Brasil, porquanto, ainda que se trate de importao paralela, realizada licitamente no pas, a proibio absoluta de tal comrcio incompatvel com a livre iniciativa, ex vi dos arts. 1 e 170 da CF/1988. Tambm, a anlise de eventual ilicitude na importao e distribuio de produtos originais demanda exame fatico-probatri (Sm. 7-STl). REsp 609.047, fiel. Min. Lu is F. Salomo, 20.10.09.4 T. (/n/o. 412)

    Doao universal. Bens. Separao.

    A dissipao completa do patrimnio atenta contra o princpio da dignidade da pessoa humana (a rt 1, II, da CF). Assim, a nulidade da doao dar-se- quando o doador no reservar parte de seus bens, ou no tiver renda suficiente para a sua sobrevivncia e s no ser nula quando o doador tiver outros rendimentos. REsp 285.421, Rei. Min. Vasco D. Giustina (des. conv. Tj-RS), j. 4.5.10.3 T. (Info 433)

    4. OUESTES DE CONCURSOS

    1 . (n - MG/JUIZ/2009 - ADAPTADA) 0 que est implcito em um determinado princpio tem a mesma fora do que vem nele explicitado

    2. (TCE-ES/PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS/CESPE - 2009 - ADAPTADA) Segundo entendimento do STF, no afronta a fora normativa da Constituio nem 0 princpio da mxima efetividade da norma constitucional a manuteno de decises divergentes da interpretao adotada pelo STF, proferidas no mbito das instncias ordinrias.

    3. (TCE-ES/PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS/CESPE - 2009 - ADAPTADA) De acordo com 0 princpio do efeito integrador, os bens jurdicos constitucionalizados devem coexistir harmoni- camente na hiptese de eventual conflito ou concorrncia entre eles, evitando-se, desse modo, 0 sacrifcio total de um princpio em relao a outro em contraposio, considerando a ausncia de hierarquia entre os princpios.

    4. (IKT 3* REGIO/JUIZ DO TRABALHO - 2009) Na forma de redao do texto constitucional, aRepblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como princpios fundamentais, exceto:

    (A) a soberania

    (B) a cidadania

    (C) a dignidade da pessoa humana

    16

  • Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 Art. 2

    (D) os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa

    (E) a sade e a segurana

    5. (DPE-SP/DEFENSOR PBUCO/FCC - 2009 - ADAPTAD/O 0 princpio do pluralismo poltico refere- -se ideologia unitria da preferncia poltico-partidria, j que nesse terreno imperativa a aplicao da reserva da constituio.

    6. (IJ-MS/JUIZ/FCC-2010 - ADAPTADA) A Repblica Federativa do Brasil tem como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e 0 pluralismo poltico.

    7. (IJ-MS/JUIZ/FCC-2010 - ADAPTADA) Todo o poder emana do povo, que o exerce diretamente ou por meio dos seus representantes nos Poderes Executivo (Presidente da Repblica, Governadores de Estado e Prefeitos municipais). Legislativo (parlamentares) e Judicirio (juizes).

    8. (ECT - ANALISTA DE CORREIOS - ADVOGADO/2011) 0 poder constituinte originrio, por ser aquele que instaura uma nova ordem jurdica, exige deliberao da representao popular,razo pela qual no se admite a outorga como forma de sua expresso.

    BH 31 01 c I 02 E | 03 E | 04 E [ 05 E | 06 , c | 07 E [ 08 ' E 1

    ArL 2 So Poderes da Unio, independentes e harmnicos entre ^.o-Legislativolrbj^riisExecutivo e 0 Judicirio.

    1. BREVES COMENTRIOS

    Inspirado na obra de Locke, Montesquieu escreveu 0 clssico tratado L'Espirit des lois (1748). Aps constatar, com base na "experincia eterna", que todo aquele que investido no poder tende a dele abusar at que encontre limites, 0 escritor francs sustenta que a limitao a um poder s possvel se houver outro poder capaz de limit-lo.9 A descrio da Constituio inglesa como exemplo de limitao do poder pelo poder, segundo Manoel Gonalves Ferreira Filho pode ter tido a inteno oculta, em razo das cautelas exigidas pela poca, de "recomendar a diviso do poder como remdio contra o absolutismo e como garantia da liberdade", especialmente se assegurada a independncia do Judicirio.10

    No final do Sculo XVIII, este princpio transformou-se em dogma com a clebre consagrao no art. 16 da declarao dos direitos do homem e do cidado, na qual ficou estabelecido que "toda sociedade na qual no assegurada a garantia dos direitos, nem determinada a separao dos poderes, no possui uma constituio.

    9. CAETANO, Marcello. Manual de dnda poltica e direito constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 2003. TomoI, pp. 192-193.

    10. FERREIRA FILHO, Manoel Gonalves. Do processo legislativo. 6. ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 61.

    17

  • A rt 2 Dirley da Cunha Jnior e Marcelo Novelino

    A doutrina liberal do incio do sculo XIX preconizava uma rigorosa separao de funes a serem atribudas com exclusividade a cada rgo da soberania. Esta rgida separao, baseada na interpretao do esquema extrado por Locke e Montesquieu da prtica constitucional britnica, todavia, mostrou-se inadequada.11

    CANOTILHO constata que atualmente h uma tendncia de se considerar que a teoria da separao dos poderes engendrou um mito, consistente na atribuio a Montesquieu de um modelo terico reconduzvel teoria dos trs poderes rigorosamente separados, no qual cada poder recobriria uma funo prpria sem qualquer interferncia dos outros. Todavia, prossegue o constitucionalista portugus, "foi demonstrado por EISENMANN que esta teoria nunca existiu em Montesquieu [...]. Mais do que separao, do que verdadeiramente se tratava era de combinao de poderes: os juizes eram apenas a boca que pronuncia as palavras da lei; o poder executivo e legislativo distribuam-se por trs potncias: o rei, a cmara alta e a cmara baixa, ou seja, a realeza, a nobreza e o povo (burguesia). 0 verdadeiro problema poltico era o de combinar estas trs potncias e desta combinao poderamos deduzir qual a classe social e poltica favorecida".12

    Atualmente a idia de limitao da soberania por meio da repartio das competncias distribudas por diversos rgos perdeu grande parte de seu valor. Hoje, o princpio no apresenta a mesma rigidez, porquanto a ampliao das atividades estatais imps novas formas de interrelao entre os Poderes, de modo a estabelecer uma colaborao recproca.

    Nesse sentido, Jos Afonso da SILVA ensina que "A 'harmonia entre os poderes' verifica-se primeiramente pelas normas de cortesia no trato recproco e no respeito s prerrogativas e faculdades a que mutuamente todos tm direito. De outro lado, cabe assinalar que nem a diviso de funes entre os rgos do poder nem sua independncia so absolutas. H interferncias, que visam ao estabelecimento de um sistema de freios e contrapesos, busca do equilbrio necessrio realizao do bem da coletividade e indispensvel para evitar o arbtrio e o desmando de um em detrimento dooutro e especialmente dos governados".13

    Por seu turno, Joo Maurcio ADEODATO identifica trs fatores importantes e estreitamente conexos responsveis por tomar obsoleta a tradicional separao

    11. CAETANO, Marcello. Manual de aenta polftica e direito constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 2003. Tomo I, p. 202.

    12. CANOTILHO, Jos Joaquim Gomes. Direito constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 1993, p. 260.13. Curso de Direito Constitucional Positivo. 14. ed. Malheiros: So Paulo, 1997, p. 111.

    18

  • Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 A lt 2

    de poderes: "a progressiva diferenciao entre texto e norma, a crescente proce- dimentalizao formal das decises e o aumento de poder do judicirio".14

    A Constituio de 1988, alm de proteg-lo como clusula ptrea (CF, art. 60, 4., III), estabeleceu toda uma estrutura institucional de forma a garantir a independncia entre eles, matizada com atribuies de controle recproco. Nesse prisma, a separao dos poderes no impede o controle de atos do Legislativo e do Executivo pelo Poder Judicirio.

    Conforme destacado pelo Ministro Seplveda Pertence, para fins de controle de constitucionalidade necessrio extrair da prpria Constituio o trao essencial da atual ordem, por no haver uma "frmula universal apriorstica" para este princpio.15

    2. INFORMATIVOS DE JURISPRUDNCIA

    2.1. STF

    ADI e depsitos judiciais

    Ausncia de violao do princpio da harmonia entre os poderes. A recepo e a administrao dos depsitos judiciais no consubstanaariam atividade jurisdicional. 2. Ausncia de violao do princpio do devido processo legal. 0 levantamento dos depsitos judiciais aps o trnsito em julgado da deciso no inova no ordenamento. 3. Esta Corte afirmou anteriormente que o ato normativo que dispes sobre depsitos judiciais e extrajudiciais de tributos no caracteriza confisco ou emprstimo compulsrio. ADI/MC 2214. 4. 0 depsito judicial consubstancia faculdade do contribuinte. No se confunde com 0 emprstimo compulsrio. ADI 1933, rei. Mia Eros Grau, 14.4.10. Pleno, (m/o 582)

    2.2. STJ

    Ao civil pblica. Telefonia celular. Cartes pr-pagos

    ,A Turma negou provimento ao recurso do Ministrio Pblico e aos adesivos, por considerar que da exclusiva competncia das agncias reguladoras estabelecer as estruturas tarifrias que melhor se ajustem aos servios de telefonia oferecidos pelas empresas concessionrias. 0 Judicirio, sob pena de criar embaraos que podem comprometer a qualidade dos servios e, at mesmo, inviabilizar sua prestao, no deve intervir para alterar as regras fixadas pelos rgos competentes, salvo em controle de constituaonalidade. certo, ainda, que a ausncia de nulidade especfica do ato da agncia afasta a interveno do Poder Judicirio no segmento sob pena de invaso na seara administrativa e violao da clusula de harmonia entre os poderes. Consectariamente, no h, no cumprimento das regras regulamentares, violao prima fa d e dos deveres do consumidor. REsp 806.304-RS, Rei. Min. Luiz Fux, j. 2/12/2008.1= T. (Info. n 379)

    14. "Adeus separao dos poderes?", leituras complementares de constitucional: Teoria da Constituio. Marcelo Novelino [orgj. Salvador: Juspodivm, 2009, p. 283-292.

    15. STF - ADI 98, rei. Ministro Seplveda Pertence.

    19

  • A rt 3 Dirley da Cunha jnior e Marcelo Novelino

    3. OUESTES DE CONCURSOS

    1 . (DPE-SP/DEFENSOR PBUCO/FCC - 2009 - ADAPTADA) A teoria da "tripartio de poderes" confirma 0 princpio da indelegabilidade de atribuies, por isso qualquer exceo, mesmo advinda do poder constitucional originrio, deve ser considerada inconstitucional.

    ~i

    Art 3 Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil: ,

    I - construir uma sociedade livre, justa e solidria; - - - - - . < - "Z 1

    II - garantir o desenvolvimento nacional; , , : 1

    III - erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e t . regionais;

    IV - promover 0 bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao.

    1. BREVES COMENTRIOSInspirada na Constituio portuguesa de 1976, na qual foi consagrada dispo

    sitivo semelhante (art. 9), a Constituio brasileira de 1988 inovou em relao anteriores ao estabelecer os objetivos fundamentais que visam promoo e concretizao dos fundamentos da Repblica Federativa do Brasil (CF, art. 1). Diversamente dos fundamentos, valores estruturantes do Estado brasileiro consubstanciados em normas de eficcia plena, os objetivos fundamentais consistem em algo exterior a ser perseguido.16 Esto consagrados em normas-tarefa (normas- -fim, normas de eficcia limitada) que estabelecem os fins precpuos para os quais os poderes pblicos devem empreender todos os esforos necessrios para que sejam alcanados.

    A construo de uma sociedade justa e solidria (principio da solidariedade) e a busca pela reduo das desigualdades sociais e regionais esto associadas concretizao do princpio da igualdade, em seu aspecto substancial (igualdade material). Nesse sentido, legitimam a adoo de polticas afirmativas (aes afirmativas ou discriminaes positivas) por parte do Estado.

    A erradicao da pobreza uma das muitas concretizaes do princpio da dignidade da pessoa humana, por estar indissociavelmente relacionada promoo de condies dignas de vida. Com o objetivo de viabilizar a todos os brasileiros acesso a nveis dignos de subsistncia, foi institudo pela EC 31/2000 0 Fundo de Combate e Erradicao da Pobreza, cujos recursos so aplicados em aes suplementares de nutrio, habitao, educao, sade, reforo de renda familiar e outros programas de relevante interesse social voltados para melhoria da qualidade

    16. BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional.16. ed. So Paulo: Saraiva, 1995, p. 149-

    20

  • Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 Art. 3"

    de vida (ADCT, art. 79). 0 prazo de vigncia, inicialmente previsto at 0 ano de 2010, foi prorrogado por prazo indeterminado pela EC 67/2010.

    A promoo do bem de todos, sem quaisquer formas de preconceito e discriminao, est diretamente relacionada proteo e promoo da dignidade da pessoa humana e ao respeito s diferenas, como exigncia do piuraiism.

    Certo que o rol de objetivos fundamentais mencionados neste dispositivo apenas exemplificativo, no se exaurindo nos que foram expressamente enumerados.

    J ATENO: bastante usual rh provas objetivas serem invertidos os fundamentos (CF, J1 art. 1), com os objetivos fundamentais (CF; a rt 3) e os priripios qu regem Brasil 11 . em suas relaes Internacionais (CF, art. 4), razo pela

  • Art. 4o Dirley da Cunha Jnior e Marcelo Novelino

    Esto corretas SOMENTE:

    (A) I, II e IV.

    (B) I, II e V.(C) I, IV e V.

    (D) II, III e IV.

    (E) III, IV e V.

    5. Cn-MS/JUlZ/FCC-2010 - ADAPTADA) Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil construir uma sodedade livre, justa e solidria, garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao.

    6. (BDMG - Advogado/2ou) Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil:

    I. Construir uma sociedade livre, justa e solidria.II. Garantir o desenvolvimento nacional.

    III. Erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais.

    IV. Promover 0 bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao.

    V. Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.

    Baseando-se nos objetivos listados acima, assinale a alternativa VERDADEIRA:

    A) Todos os objetivos esto corretos.

    B) Os objetivos l e II esto corretos e os objetivos III, IV e V esto errados.

    C) Os objetivos I, II e III esto corretos e os objetivos IV e V esto errados.

    D) Os objetivos I, II, III e IV esto corretos e o objetivo V est errado.

    7. (IRT14- Tcnico judicirio - rea Administrat'rva/2011 - FCC). NO constitui objetivo fundamental da Repblica Federativa do Brasil, previsto expressamente na Constituio Federal,

    A) construir uma sociedade livre, justa e solidria.

    B) garantir 0 desenvolvimento nacional.C) erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais.

    D) captar tributos mediante fiscalizao da Receita Federal.E) promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer

    outras formas de discriminao.

    B i 0 1 c I 02 C I 3 c I 4 B | Og c | 06 D [ 0 7 D I

    A rt 4 A Repblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaes internacionais pelosseguintes princpios:

    I - independncia nacional;

    II - prevalncia dos direitos humanos;

    III- autodeterminao dos povos;

    IV - no-interveno;

    22

  • Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 A rt 4

    - - V - igualdade entre os Estados;

    . VI - defesa da paz;

    VII - soluo pacfica dos conflitos;

    VIII - repdio ao terrorismo e ao racismo; . .

    IX - cooperao entre os povos para o progresso da humanidade; ; ' , - ..

    X - concesso de asilo poltico.

    Pargrafo nico. A Repblica Federativa do Brasil buscar jta. integrao econmica,poltica, social e cultural dos povos da Amrica latina, visndo formao de uma vicomunidade latino-americana d naes. ' v ' r ' ''

    1 . BREVES COMENTRIOS

    Os princpios que regem 0 Brasil em suas relaes internacionais, elencados de forma sistemtica neste dispositivo, orientam a postura a ser adotada pelo Estado brasileiro perante outros Estados, trazendo diversas repercusses tambm no plano interno.

    Jos Afonso da SILVA identifica quatro inspiraes para o rol de princpios consagrados neste dispositivo: (a) uma nacionalista, nas ideias de independncia nacional (inciso l), de autodeterminao dos povos (inciso 111), de no interveno (inciso IV) e de igualdade entre os Estados (inciso V); (b) outra intemacionalista, nas ideias de prevalncia dos direitos humanos (inciso II) e de repdio ao terrorismo e ao racismo (inciso Vlll); (c) uma pacifista, nas ideias de defesa da paz (inciso V), de soluo pacfica dos conflitos (inciso VII) e na concesso de asilo poltico (inciso X); (d) uma orientao comunitarista, nas idias de cooperao entre os povos para o progresso da humanidade (inciso IX) e na formao de uma comunidade latino-americana (pargrafo nico)".17

    A consagrao de forma indita de tais princpios pela Constituio de 1988 contou com a participao decisiva de destacados intemacionalistas que defenderam a necessidade de uma consagrao especfica de dispositivos referentes s relaes internacionais, sob 0 argumento de que a democratizao era algo que se impunha, no apenas no mbito interno, mas tambm no mbito da poltica internacional.18 Sua fonte inspiradora, foi o art. 7 da Constituio Portuguesa de 1976.

    Conforme a observao precisa de Flvia Piovesan, tais inovaes inserem-se no contexto contemporneo marcado pela tendncia de constitucionalizao do Direito Internacional e de internacionalizao do Direito Constitucional.19

    17. SILVA, Jos Afonso da. Comentrio contextuai Constituio. So Paulo: Malheiros, 2005, p. 50.18. PIOVESAN, Flvia. Comentrios Constituio Federal de 1988. Paulo Bonavides et ai [CoordJ. Rio de Janeiro:

    Forense, 2009, p. 40.19. Comentrios Constituio Federal de 198S. Paulo Bonavides et alii [CoordJ. Rio de Janeiro: Forense, 2009,

    P- 44-

    23

  • Art. 4o Dirley da Cunha Jnior e Marcelo Novelino

    REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL , ,f . l rj .. i- -*- J K71,. si r * v 11Princpios Fundamentais

    (Art )Objetivos Fundamentais

    (Art. 3)Princpios das Relaes Internacionais (Art. 4)

    I. Soberania

    II. Cidadania

    III. Dignidade da pessoa humana

    IV. Valores sodais do trabalho e da livre iniciativa

    V. Pluralismo poltico

    I. Construir uma sodedade livre, justa e solidria

    II. Garantir 0 desenvolvimento nacional

    III. Erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sodais e regionais.

    IV. Promover 0 bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao

    DICA: Por se tratar de uma ao estatal, sempre comea com verbo.

    I. Independnda NadonalII. Prevalnda dos Direitos

    HumanosIII. Autodeterminao dos po

    vosIV. No-intervenoV. Igualdade entre os EstadosVI. Defesa da PazVII. Soluo padfica dos confli

    tosVIII. Repdio ao terrorismo e

    ao radsmoIX. Cooperao entre os po

    vos para 0 progresso da humanidade

    X. Concesso de asilo poltico.

    2. QUESTES DE CONCURSOS

    i . (Sn/ANAUSTA JUDIC1RIO/CESPE - 2008) 0 Brasil regido, nas suas relaes internacionais, pelo princpio da autodeterminao dos povos, mas repudia o terrorismo e o racismo.

    2- (MP-CE/PROMOTOR DE JUSI1A/FCC - 2009 - ADAPTADA) 0 Supremo Tribunal Federa! interpretaos princpios fundamentais constantes do Ttulo I da Constituiio como informadores da compreenso do sistema constitucional como um todo. Neste sentido, segundo a jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal, 0 Supremo Tribunal Federal fica vinculado ao juzo formulado pelo Poder Executivo na concesso administrativa de asilo poltico. A condio de asilado poltico suprime, por si s, a possibilidade d e o Estado brasileiro conceder a extradio que lhe haja sido requerida, inclusive quando 0 fato que enseja 0 pedido assume a qualificao de crime poltico ou de opinio.

    3. (DPE-SP/DEFENSOR PBUCO/FCC - 2009 - ADAPTADA) Nas relaes internacionais aplica-se o princpio constitucional da interveno, com repdio ao terrorismo e defesa da paz, alm da soluo pacfica dos conflitos.

    4. (DPGU/DEFENSOR PBUCO DA UNIO/CESPE - 2007 - ADAPTADA) A CF prev expressamente normas de integrao econmica, poltica, social e cultural dos povos da Amrica Latina.

    5. (TJ-MS/JUlZ/FCC-2010 - ADAPTADA) a Repblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaesinternacionais pelos seguintes princpios: independncia nacional, prevalncia dos direitoshumanos, autodeterminao dos povos, no interveno, igualdade entre os Estados, defesa da paz, soluo pacfica dos conflitos, repdio ao terrorismo e ao racismo, cooperaoentre os povos para o progresso da humanidade, concesso de asilo poltico.

    24

  • Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 A rt 5o

    6. CO-MS/JUlZ/FCC-2010 - ADAPTADA) a Repblica Federativa do Brasil buscar a integrao econmica, poltica, sodal e cultural dos povos da Amrica latina, visando formao de uma comunidade latino-americana de naes.

    7. (Cmara Munidpal do Ass/RN - Procurador/2011 - CONSEL) No texto constitucional est in- serto que a Repblica Federativa do Brasil, nas suas relaes internacionais, rege-se pelos princpios da independnda nadonal e no da interveno, dentre outros. Assim sendo, pode-se afirmar, tal qual inscrito na Constituio Federal de 1988, que so tambm print- pios intemaaonais:

    A) A soberania e a concesso de asilo poltico;

    B) Autodeterminao dos povos e soluo pacfica dos conflitos;

    C) Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao; e a prevalncia dos direitos humanos;

    D) A dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho.

    8. (Prefeitura Munidpal de Nova lorque/MA - Advogado/2011 - ADAPTADA) Dentre outros princpios, a Repblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaes intemaaonais pelo princpio da concesso fundamentada de asilo poltico.

    m j l 0 1 C I 02 1 E I 03 E I 04 ' c I 05' C j 06 C I 07 1 B I o E I

    S E y u p , P u * ' : ; ; D A J X S l t O H O i i i S i T t O O '

    v-, > TTULO II: DOS DIRETOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIStv ... ^ CAPTULO I: DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOSa'.--:.

    Gi j ' Pst. 50Todos so iguais perante a lei;-semdistino dequalquer-natureza; garantindo-' -se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito

    liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes:

    1. BREVES COMENTRIOS

    Com a finalidade de impedir discriminaes e privilgios arbitrrios, preconceituosos, odiosos ou injustificveis, o constituinte originrio consagrou expressamente neste dispositivo a igualdade formal (Igualdade perante a lei, civil ou jurdica), princpio que impe seja conferido um tratamento isonmico a todos os seres de uma mesma categoria essencial. A Igualdade material (igualdade perante os bens da vida, real ou ftica), cujo objetivo reduzir as desigualdades fticas por meio da concesso de direitos sociais substanciais, surge a partir da conjugao deste com outros dispositivos constitucionais (CF, arts. 3, 111; 6o e ss).

    Parte da doutrina diferencia a igualdade perante a lei, dirigida apenas aos aplicadores do direito (Poder Judicirio e Administrao Pblica), da igualdade na lei, dirigida tanto aos que aplicam, quanto queles que criam as normas jurdicas (Poder Legislativo). No Brasil, tal distino desnecessria, uma vez que h muito j se firmou 0 entendimento de que a expresso "igualdade perante a lei".

    25

  • Art. 5 Dirley da Cunha Jnior e Marcelo Novelino

    utilizada no texto constitucional, tem como destinatrios o legislador e os aplica- dores do direito.20

    0 princpio da isonomia se dirige tanto aos poderes pblicos (eficcia vertical), quanto aos particulares (eficcia horizontal). Nas relaes interprivadas, todavia, dependendo das circunstncias fticas e jurdicas existentes, o princpio da autonomia da vontade poder afastar a aplicao do princpio da isonomia.

    Questo bastante cobrada em provas objetivas envolve a possibilidade de serem estabelecidos, em concursos pblicos, critrios de admisso baseados em sexo, idade, altura ou em outras caractersticas pessoais. Tem se admitido que o edital estabelea tais limitaes, desde que observados dois requisitos: I) previso legal anterior definindo os critrios de admisso para o cargo; e, II) razoabilidade da exigncia, decorrente da natureza das atribuies do cargo a ser preenchido.

    Com relao aos destinatrios dos direitos e garantias individuais, umainter- pretao literal do dispositivo excluindo os estrangeiros no residentes, revelar- -se-ia incompatvel com a dignidade da pessoa humana (CF, art. i, III). Por isso, deve-se fazer uma interpretao extensiva no sentido de assegurar tais direitos e garantias, a todas as pessoas que se encontrem no territrio brasileiro, independentemente de sua a condio jurdica de estrangeiro aliada ao fato de no possuir domiclio no Brasil. Ademais, ainda que originariamente os direitos e garantias fundamentais tenham sido pensados em referncia s pessoas fsicas, atualmente incontestvel a possibilidade de tambm serem titularizados por pessoas jurdicas, inclusive as de direito pblico (no caso dos direitos fundamentais de natureza procedimental). Essa a orientao adotada pelo STF.

    Em relao ao direito vida este deve ser compreendido em uma dupla acepo: I) o direito a permanecer vivo; e, II) o direito a uma existncia digna (CF, art. 170). A inviolabilidade, consistente na proteo deste direito contra violaes por parte de terceiros, no se confunde com a irrenunciabilidade, a qual protege o direito contra o seu prprio titular.

    2. INFORMATIVOS DE JURISPRUDNCIA

    2.1. STF

    Homicdio culposo na direo de veculo automotor e constitucionalidade A Turma, ao declarar a constitucionalidade do art. 302, pargrafo nico, da Lei 9 -503/97 - Cdigo de Trnsito Brasileiro, manteve acrdo que condenara o recorrente e o co-ru pelo crime de homicdio culposo em decorrncia de acidente de trnsito. Alegava-se, na espcie, que, em razo de a pena-base varivel cominada no dispositivo mencionado ser

    20. SILVA, Jos Afonso da. Curso de direito constiturional positivo, p. 210.

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  • Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 A rt 5

    de 2 a 4 anos de deteno e, no a rt 12 1, 3, do CP, ser apenas de 1 a 3 anos, o tratamento diferenciado seria inconstitucional por violar o princpio da igualdade (CF, art. 5, caput). Considerou-se que o princpio da isonomia no impede o tratamento diversificado das situaes quando houver um elemento de discrmen razovel, pois inegvel a existncia de maior risco objetivo em decorrncia da conduo de veculos nas vias pblicas. Enfatizou-se que a maior freqncia de addentes de trnsito, aadentes graves, com vtimas fatais, ensejou a aprovao de tal projeto de lei, inclusive com o tratamento mais rigoroso contido no a rt 302, pargrafo nico, do CIB. RE 428864/SP, rei. Min. Ellen Grade, 14.10.2008. 2a T. (Info. n 524)

    ADI n. 3.070-RN. Rei.: Min. Eros Grau

    A lei pode, sem violao do princpio da igualdade, distinguir situaes, a fim de conferir a um tratamento diverso do que atribui a outra. Para que possa faz-lo, contudo, sem que tal violao se manifeste, necessrio que a discriminao guarde compatibilidade com o contedo do princpio. 5. A Constituio do Brasil exclui quaisquer exigndas de qualificao tcnica e econmica que no sejam indispensveis garantia do cumprimento das obrigaes. A discriminao, no julgamento da concorrnda, que exceda essa limitao inadmissvel. 6. Ao direta julgada procedente para declarar inconstitudonal o 4 do artigo 1 1 1 da Constituio do Estado do Rio Grande do Norte. Notidado no Informativo 490. (Info. n 493)

    2.2. STJ

    Cautelar. Fornecimento. Medicamento

    certo que h vrios julgados do STJ a reconhecer o direito de os portadores de molstia grave sem disponibilidade financeira para custear seu tratamento receberem gratuitamente do Estado os medicamentos de comprovada necessidade. Isso se d em respeito ao direito vida (art. 5 da CF/1988), anotado que o cuidado com o direito sade (art. 6 da mesma carta) de competncia da Unio, DF, estados e municpios. Porm, no se olvida que est em discusso pela v Seo deste Superior Tribunal a competnda para atender tais pleitos (REsp 862.923-SP). Assim, a cautelar deve se r atendida para que se fornea o medicamento (insulina) enquanto se aguarda o julgamento do REsp, pois, alm do carter de absoluta urgncia da medida, h de se ponderar que a improcednaa desta cautelar acarretaria, inevitavelmente, a perda do objeto do REsp (que, por fora da concesso de liminar, obteve o efeito suspensivo), a impor, pela falta de fomeamento do medicamento, a perda do bem que se busca proteger, a prpria vida. MC 14.015, Rei. Min. Eliana Calmon, 17.2.09.2 T. (Info. 384)

    3. QUESTES DE CONCURSOS

    1 . (AGU/PROCURADOR FEDERAL/CESPE - 2007 - ADAPTADA) A CF trouxe grandes avanos na rea dos direitos e das garantias fundamentais, atestando a modernidade e fazendo do radsmo e da tortura crimes inafianveis, estabelecendo o habeas data e reforando a proteo dos direitos e das liberdades constitudonais, e restituindo ao Congresso Nadonal prerrogativas que lhe haviam sido subtradas pela administrao militar.

    2. (AGU/PROCURADOR FEDERAL/CESPE - 2007 - ADAPTADA) 0 prindpio da unidade da CF, como princpio interpretativo, prev que esta deve ser interpretada de forma a se evitarem contradies, antinomias ou antagonismos entre suas normas.

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  • Art. 5 Dirley da Cunha Jnior e Marcelo Novelino

    3. (AGU/PROCURADOR FEDERAL/CESPE - 2007 - ADAPTADA) No existe relao hierrquica fixa entre os diversos critrios de interpretao da CF, pois todos os mtodos conhecidos conduzem sempre a um resultado possvel, nunca a um resultado que seja 0 unicamente correto. Essa pluralidade de mtodos se converte em veculo da liberdade do juiz, mas essa liberdade objetivamente vinculada, pois no pode o intrprete partir de resultados preconcebidos e, na tentativa de legitim-los, moldar a norma aos seus preconceitos, mediante a utilizao de uma pseudo-argumentao.

    4. (MP-AM/PROMOTOR DE JUSTIA/CESPE - 2007) Quanto ao tratamento que 0 permissivo constitucional brasileiro consagra a direitos e a garantias fundamentais, julgue os itens subseqentes.

    I. A CF no permite ao ordenamento jurdico ptrio recepcionar normas estrangeiras, como 0 Pacto de So Jos da Costa Rica.

    II. Salvo excees, a CF proscreve a priso por dvidas.

    III. 0 art. 5 da CF concentra esses direitos e essas garantias. Alm disso, a CF conforma norma modelar, que inclui um rol de direitos objetivamente previstos, como 0 reconhecimento da concesso de asilo a estrangeiros acusados da prtica de crimes polticos.

    IV. Embora o a rt 5 da CF disponha de forma minuciosa sobre os direitos e as garantias fundamentais, ele no exaustivo e no exclui outros direitos.

    V. 0 art. 5 da CF exaure o tratamento da matria no acervo jurdico brasileiro, consagrando garantias basilares do Estado democrtico de direito. Esto certos apenas os itens

    (A) I e lll.

    (B) I e IV.

    (C) II e IV.

    (D) II e V.

    (E) III e V.

    5. (DPE-PI/DEFENSOR PBUCO/CESPE - 2009 - ADAPTADA) O STF entende que os direitos e garantias individuais considerados clusulas ptreas pela CF restringem-se queles expressos no elenco do a rt 5, no admitindo interpretao extensiva.

    6. (PGE - PE/PROCURADOR DO ESTADO/CESPE - 2009) Quanto aos direitos e garantias fundamentais, assinale a opo correta.

    (A) Embora a formulao e a execuo das polticas pblicas seja uma prerrogativa dos Poderes Legislativo e Executivo, possvel ao Poder Judicirio determinar, excepcionalmente, a sua implementao, quando a omisso da administrao pblica comprometer a eficcia e a integridade de direitos sociais impregnados de estatura constitucional.

    (B) Os direitos fundamentais no podem ser considerados como concretizaes das exigncias do princpio da dignidade da pessoa humana, na medida em que h direitos assegurados a pessoas coletivas ou jurdicas que no possuem fundamento nesse princpio.

    (C) De acordo com a teoria dos quatro status de Jellinek, o status negativo consiste na posio de subordinao do indivduo aos poderes pblicos, como detentor de deveres para como Estado. Assim, o Estado tem competncia para vincular o indivduo, por meio de mandamentos e proibies.

    (D) Conforme entendimento do STF, a eficcia dos direitos e garantias fundamentais ocorre apenas e to somente no mbito da relao do indivduo com o Estado, no sendo

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  • Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 A rt 5

    reconhecida a sua eficcia horizontal, tendo em vista que, nas relaes entre particulares, vige 0 princpio da autonomia da vontade privada.

    (E) Os direitos e garantias fundamentais previstos no texto constitucional no podem ser restringidos pela legislao infraconstitucional, uma vez que esto includos no rol das clusulas ptreas.

    7. (IRT/ES/ANAUSTA/CESPE - 2009) 0 estrangeiro sem domiclio no Brasil no tem legitimidade para impetrar habeas corpus, j que os direitos e as garantias fundamentais so dirigidos aos brasileiros e aos estrangeiros aqui residentes.

    8. (PGE-SP/PROCURADOR DO ESTADO NVEL l/FCC - 2009) Os direitos e garantias expressos na Constituio Federal

    (A) constituem um rol taxativo.(B) no excluem outros decorrentes do regime e dos princpios por ela adotados, entre os

    quais o Estado Democrtico de Direito e 0 princpio da dignidade humana.(C) no excluem outros decorrentes do Estado Democrtico de Direito e do prindpio da digni

    dade humana, mas a ampliao deve ser formalmente reconhecida por autoridade judicial no exerccio do controle de constitucionalidade.

    (D) no excluem outros decorrentes do Estado Democrtico de Direito e do princpio da dignidade humana, mas a ampliao deve ser formalmente reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal ao julgar argio de descumprimento de preceito fundamental.

    (E) somente podem ser ampliados por fora de Tratado Internacional de Direitos Humanos aprovado em cada Casa do Congresso Nacional, em dois tumos, por trs quintos dos votos dos respectivos membros.

    9. Cn-AP/JUlZ/FCC-2009-APAPTADA) As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tm aplicao imediata e eficcia plena, inclusive quando remetem a respectiva regulamentao lei, como se d com a defesa do consumidor ("o Estado promover, na forma da lei, a defesa do consumidor").

    10. (DPE-SP/DEFENSOR PBUCO/FCC - 2009 - ADAPTADA) Em relao s polticas de ao afirmativa de carter racial no mbito do acesso ao ensino superior, dentre os argumentos expostos a seguir, favorveis e desfavorveis, NO correto do ponto de vista do direito constitucional positivo afirmar que

    I. Contrariam 0 princpio da igualdade porque 0 critrio de raa no pode ser considerado distino, j que biologicamente s existe o ser humano. E tanto isto verdade que as formas de identificao racial dos programas de ao afirmativa pecam pela falta de razo- abilidade (v.g: auto-identificao)

    11. Concretizam o princpio da igualdade porque, independentemente da lei no poder estabelecer a igualdade, j que, em verdade, esta um fato poltico, dever do Estado proporcionar os meios atravs dos quais os negros podero, agindo, ascender a esfera poltica, e um destes meios o do acesso diferenciado ao ensino superior.

    I I . CTRF4/ANALISTA/FCC-2010) A inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade so garantias previstas na Constituio Federal

    (A) aos brasileiros, no estendidas s pessoas jurdicas.(B) aos brasileiros natos, apenas.(C) aos brasileiros natos e aos estrangeiros com residncia fixa no Pas.(D) aos brasileiros, natos ou naturalizados.(E) aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas.

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  • Art. 5 Dirley da Cunha Jnior e Marcelo Novelino

    12. (DPE/SP/Defensor/2oio) Aps grave crise energtica, o Governo aprova lei que disciplina 0 racionamento de energia eltrica, estabelecendo metas de consumo e sanes pelo des- cumprimento, que podem culminar, inclusive, na suspenso do fornecimento. Questionado judicialmente, se v o Supremo Tribunal Federal - STF com a misso de resolver a questo, tendo, de um lado, a possibilidade de interrupes no suprimento de energia eltrica, se no houver economia, e, de outro, as restries a servio pblico de primeira necessidade, restrio que atinge a igualdade, porque baseada em dados de consumo pretrito, bem como limitaes livre iniciativa, ao direito ao trabalho, vida digna etc 0 controle judicial neste caso envolve

    (A) a apreciao de coliso de direitos fundamentais, que, em sua maior parte, assumem a estrutura normativa de "regras", o que implica anulao de uns em detrimento de outros.

    (B) a aplicao da regra da proporcionalidade, que, segundo a jurisprudncia constitucional alem, tem estrutura racionalmente definida - anlise da adequao, da necessidade e da proporcionalidade em sentido estrito.

    (C) a utilizao do princpio da razoabilidade, j consagrado no Brasil, e que determina tratar os direitos colidentes como "mandamentos de otimizao".

    (D) a eliminao da falsa dicotomia entre direitos constitucionais, j que a melhor soluo a que os harmoniza, sem retirar eficcia e aplicabilidade de nenhum deles.

    (E) juzo de constitucionalidade clssico, pois nem emenda Constituio pode tender a abolir direitos fundamentais.

    13. (MP-GO/PROMOTOR DE JUSHA/CESPE - 2010-ADAPTADA) A aplicabilidade imediata das normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tem contedo extensivo, no se vinculando apenas s normas dos artigos 50 ao 17 do texto constitucional, ampliando-se, com base na concepo materialmente aberta dos direitos fundamentais, para fora do catlogo dos dispositivos constitucionais.

    14 . (MP-SC/PROMOIOR DE JSHA-2010) Analise os itens a seguir.

    I. 0 ordenamento jurdico-constitucional no autoriza nenhuma das espcies de eutansia, nem mesmo a ortotansia.

    II. A Constituio Federal permite a violao do domiclio, sem consentimento do morador, durante o dia exclusivamente nas hipteses de flagrante delito, desastre, para prestar socorro ou mediante ordem judicial e durante a noite, sem qualquer outra exceo, somente nos casos de flagrante delito, desastre ou para prestar socorro.

    III. No existe proibio constitucional alguma entrada de pessoa no territrio nacional portando moeda estrangeira.

    IV. Compete aos juizes de direito do juzo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis.

    V. Os crimes dolosos contra a vida sempre sero julgados pelo tribunal do jri, por fora do contedo da norma constitucional.

    Com fundamento na Constituio da Repblica:

    (A) ( ) Apenas os itens I, II, IV e V esto corretos.

    (B) ( ) Apenas os itens I, II e III e IV esto corretos.

    (C) ( ) Apenas os itens I, II, III e V esto corretos.

    (D) ( ) Apenas os itens II, III, IV e V esto corretos.

    (E) ( ) Todos os itens esto corretos.

    30

    B

  • Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 Art. 5

    15. (Prefeitura Municipal de Valinhos/RN - Advogado/2011 - ADAPTADA) A Constituio Federal de 1988 adotou 0 princpio da igualdade de direitos, prevendo a igualdade de aptido, uma igualdade de possibilidades reais e aplicadas.

    16. (STM - ANAUSTA JUDICIRIO/2011 - CESPE) Os direitos fundamentais, em que pese possurem hierarquia constitucional, no so absolutos, podendo ser limitados por expressa disposio constitucional ou mediante lei promulgada com fundamento imediato na prpria CF.

    17. (IRE/ES -Tcnico Judia'rio/2011 - CESPE) Os direitos fundamentais considerados de primeira gerao compreendem as liberdades clssicas, negativas ou formais.

    | 0 1 C 02 C 03 C 04 C 05 E 06 A 07 E 8 : B 09^ EI 10 E 1 1 E 12 B 13 C 14 B 15 E 16 C *7 C

    I - homens e mulheres so iguais em direitos e obrigaes, nos termos desta Cons- - tituio; - ; 0

    1. BREVES COMENTRIOS

    Este dispositivo deve ser interpretado no sentido de que a lei infraconstitucio- nal no pode estabelecer diferenas de tratamento, salvo se for com a finalidade de atenuar os desnveis existentes. 0 caso, por exemplo, da lei que estabelecer normas protetivas do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos especficos, nos termos do art. 7, XX da Constituio.

    No texto constitucional so encontrados alguns dispositivos que estabelecem um tratamento diferenciado, como no caso da licena gestante/paternidade (CF, art. 7, XVIII e XIX), na aposentadoria (CF, art. 40, 1, III, a e b; art. 201, 7, I e II) e no servio militar (CF, art. 143, 2).

    II - ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude . .de lei;

    1. BREVES COMENTRIOS

    0 princpio da legalidade tem como objetivo limitar o poder do Estado impedindo sua utilizao de forma arbitrria. Para isso, a Constituio confere ao Legislativo, rgo mximo de expresso da vontade popular, a funo precpua de criar leis, as quais devem ser pautadas pelo critrio da razoabilidade e elaboradas em conformidade com os preceitos constitucionais.

    Celso BASTOS destaca o duplo significado atribudo ao princpio: garante o particular contra os possveis desmandos do Executivo e do prprio Judicirio;

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  • Art. 5 Dirley da Cunha Jnior e Marcelo Novelino

    e, representa o marco avanado do Estado de direito, procurando conformar os comportamentos s normas jurdicas das quais as leis so a suprema expresso.31

    0 princpio da legalidade exige, para sua plena realizao, a elaborao de lei em sentido estrito, veculo supremo da vontade do Estado, elaborada pelo Parlamento. Todavia, quando a Constituio preceitua que "ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei" (CF, art. 5., II), admite-se a criao de lei em sentido amplo (CF, art. 59). Observadas as limitaes materiais e formais estabelecidas pela Constituio, as espcies normativas compreendidas no art. 59 da Constituio podem criar direitos e impor deveres.

    So restries excepcionais ao princpio da legalidade as medidas provisrias (CF, art. 62) e os estados de legalidade extraordinria, quais sejam, o estado de defesa (CF, art. 136) e o estado de stio (CF, art. 137).

    0 princpio da legalidade possui uma abrangncia mais ampla que o princpio da reserva legal. Enquanto o primeiro consiste na submisso a todas as espcies normativas elaboradas em conformidade com 0 processo legislativo constitucional (leis em sentido amplo), 0 princpio da reserva legal incide apenas sobre campos materiais especficos, submetidos exclusivamente ao tratamento do Poder Legislativo (leis em sentido estrito).

    Quando a Constituio exige a regulamentao integral de sua norma por lei em sentido formal, trata-se de reserva legal absoluta; se, apesar de exigir a edio desta espcie normativa, permite que ela apenas fixe os parmetros de atuao a serem complementados por ato infralegal, trata-se de reserva legal relativa.

    No que se refere interveno do legislador no mbito de proteo dos direitos fundamentais, fala-se ainda em reserva legal simples, quando a Constituio se limita a autorizar a interveno legislativa sem fazer qualquer exigncia quanto ao contedo ou finalidade da lei; ou em reserva legal qualificada, quando as condies para a restrio vm fixadas na Constituio, que estabelece os fins a serem perseguidos e os meios a serem utilizados.22

    0 princpio da reserva legal vem sendo gradativamente convertido pela doutrina constitucionalista no principio da reserva legal proporcional. Este exige, alm da admissibilidade constitucional da restrio eventualmente fixada a um determinado direito, a compatibilidade da restrio com 0 princpio da proporcionalidade. Deve-se averiguar: 1) a legitimidade dos meios utilizados e dos fins perseguidos pelo legislador; II) a adequaodos meios para a consecuo dos objetivos almejados; e III) a necessidade de sua utilizao.23

    21. Curso de direito constitucional, p. 172.22. MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade, p. 33-37.23. MENDES, Gilmar Ferreira. Hermenutica constitucional e direitos fundamentais, p. 250.

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  • Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 Art. 5

    2. ENUNCIADOS DE SMULA DE JURISPRUDNCIA

    STJ - Smula n 319

    O encargo de depositrio de bens penhorados pode ser expressamente recusado.

    3. INFORMATIVOS DE JURISPRUDNCIAS3.1. STJ

    Execuo fiscal. Depositrio. Substituio

    A jurisprudncia deste Superior Tribunal, com a edio da Sm. 316-STJ, flexibilizou a possibilidade de haver recusa expressa do depositrio nomeado compulsoriamente contra sua vontade, com base no art. 5, II, da CF/1988, o qual consagra que ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei. Por essa razo, o mesmo tratam ento deve se r conferido ao depositrio que assume o encargo, mas, posteriorm ente, de form a justificada, explica que no pode mais arcar com tal nus. Ademais, no caso dos autos, 0 prprio acrdo recorrido reconhece ser justificada sua exonerao do encargo de depositrio. REsp 1.120.403, Rei. Min. Luiz Fux, 3.12.09. i" T. (Info. 418)

    Repetitivo. Execuo fiscal. Despesa. Transporte.

    consabido caber Justia Federal, diante da fundamentada convenincia do ato, a expedio de carta precatria a ser cumprida pelo juzo estadual (art. 1.2 13 do CPC e arts. 15, pargrafo nico, e 42 da Lei 5.010/66). Tambm se sabe que a Unio e suas autarquias esto isentas do pagamento de custas e emolumentos, alm de se postergar o custeio das despesas dos atos processuais quando efetuados a seu pedido (art. 39 da Lei 6.830/80 e art. 27 do CPC). Porm, esses privilgios no dispensam o pagamento antecipado da despesa com o transporte de oficial de Justia (Sm. 190/STJ), ainda que ela sirva ao cumprimento de diligncia (carta precatria) determinada em execuo fiscal ajuizada na Justia Federal (0 que afasta o art. 1, 1, da Lei 9-289/96). REsp 1.144.687, fiel. Min. Luiz Fux, j. 12.5.10.1 S. (Info 434)

    4. QUESTES DE CONCURSOS

    1 . (H - MG/JUIZ/2009 - ADAPTADA) 0 princpio da legalidade comporta exceo, quando se trate de atos administrativos discricionrios.

    2. (IRE/ES - Tcnico Judicirio/2011) 0 princpio da legalidade no se confunde com o da reserva legal: o primeiro pressupe a submisso e o respeito lei; o segundo se traduz pela necessidade de a regulamentao de determinadas matrias ser feita necessariamente por lei formai.

    3. (MPE/PR - Promotor Substituto/2011 - ADAPTADA) Embora inserido no inciso II do artigo 5 da Constituio Federal, o princpio da legalidade no se insere entre os direitos e garantias fundamentais, pois apenas uma regra bsica para aplicao das normas jurdicas.

    H b. e [ .o2 c 103 ~ n

    ' III- ningum ser submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degr^dant;

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  • Art. 5 Dirley da Cunha Jnior e Marcelo Novelino

    1 . BREVES COMENTRIOS

    Este dispositivo consagra uma concretizao da regra de proteo da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1, III), cuja violao ocorre quando uma pessoa tratada, no como um fim em si mesmo, como um meio para se atingir um determinado fim (frmula do objeto), sendo este tratamento fruto de uma expresso do desprezo pela pessoa ou para com a pessoa.

    Esta acepo consagra um direito de carter negativo, exigindo que os poderes pblicos e particulares se abstenham de praticar condutas violadoras da dignidade do ser humano.

    2. ENUNCIADOS DE SMULA DE JURISPRUDNCIA

    STF - Smula vinculante n 1 1

    S lcito o uso de algemas em casos de resistncia e de fundado receio de fuga ou de perigo integridade fsica prpria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da priso ou do ato processual a que se refere, sem prejuzo da responsabilidade civil do Estado.

    IV - livre a manifestao do pensamento, sendo vedado o.anonimato;

    1 . BREVES COMENTRIOS

    Como forma de reao ao regime ditatorial anterior, a Constituio de 1988 assegurou, dentre suas clusulas ptreas, a liberdade de expresso do pensamento. Considerando que a manifestao do pensamento pode atingir direitos de terceiros, impe-se a identificao de quem emitiu o juzo para viabilizar, se necessrio, a responsabilizao civil e/ou penal.

    A vedao do anonimato tem por finalidade desestimular manifestaes abusivas do pensamento, sendo assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo, alm da indenizao por eventuais danos materiais, morais ou imagem do ofendido (CF, art. 5., V).

    Delaes annimas e escritos apcrifos, em regra,no podem ser qualificados como atos de natureza processual, mas podem ser utilizados com 0 obj'etivo de levar a informao ao conhecimento da autoridade responsvel para que seja investigada a veracidade da informao de modo a viabilizar a instaurao de procedimento penal. Nesse caso, ocorre a desvinculao entre a investigao estatal e a delao formulada por autor desconhecido. Excepcionalmente, a utilizao de escritos annimos e peas apcrifas tem sido admitida como prova formal, desde que produzida pelo prprio acusado ou constitua 0 corpo de delito do crime.

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  • Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 A rt 5

    2. INFORMATIVOS DE JURISPRUDNCIAS

    2.1. STF

    Inqurito policial e denncia annima

    A 2a Turma indeferiu"habeas corpus" em que se pretendia o trancamento de aes penais movidas contra a paciente, sob a alegao de que estas supostamente decorreriam de investigao deflagrada por meio de denncia annima, em ofensa ao a rt 5, IV, da CF. Reputou-se no haver vcio na ao penal iniciada por meio de denncia annima, desde que seguida de diligncias realizadas para averiguao dos fatos nela noticiados, o que ocorrido na espcie. Concluiu-se que tanto as aes penais quanto a interceptao decorreriam de investigaes levadas a efeito pela autoridade policial, e no meramente da denncia annima, razo pela qual no haveria qualquer nulidade. HC 99490, re i Min. Joaquim Barbosa, 23.11.10.29 T. (Info 610)

    AgRg-AI 675.276-RJ. Rei. Min. Celso de Mello

    A questo da liberdade de manifestao do pensamento (e do direito de crtica nela fundado) em face de figuras pblicas ou notrias. A liberdade de expresso - que no traduz concesso do Estado, mas, ao contrrio, representa direito fundamental dos cidados - condio inerente e indispensvel caracterizao e preservao de sociedades livres, organizadas sob a gide dos princpios estruturadores do regime democrtico. 0 Poder Judicirio, por isso mesmo, no pode ser utilizado como instrumento de injusta restrio a essa importantssima franquia individual cuja legitimidade resulta da prpria declarao constitucional de direitos. 0 exerccio regular do direito de crtica, que configura direta emanao da liberdade constitucional de manifestao do pensamento, ainda que exte- riorizado em entrevista jornalstica, no importando 0 contedo cido das opinies nela externadas, no se reduz dimenso do abuso da liberdade de expresso, qualificando- -se, ao contrrio, como verdadeira exdudente anmica, que atua, em tal contexto, como fator de descaracterizao do intuito doloso de ofender. (Info 623)

    2.2. STJ

    Procurador-geral. Denncia annima. E-mail

    0 a r t 5, IV, da CF/1988 veda o anonimato, a fim de coibir tais abusos contra os direitos de personalidade (honra, vida privada e intimidade). Outrossim, ao se admitir a submisso de uma pessoa com tal prerrogativa, fragiliza-se, sobretudo, a instituio a que pertence e, em ltima instncia, o prprio Estado democrtico de direito. Embora no seja descartada a possibilidade de que 0 MP proceda investigao mediante denncia annima, em se tratando de denncia de crime contra a honra, no prevalecem tais denncias annimas. Precedentes citados; HC44.165-RS, DJ 23/4/2007,e HC 42.914-RS, DJ19/8/2005. HC95.838-RJ, Rei. Min. Nilson Naves, j. 26/2/2008. 5 T. (Info. n 346)

    3. QUESTES DE CONCURSOS

    1 . (DPGU/DEFENSOR PBUCO DA UN10/CESPE - 2010) Conforme entendimento do STF com base no princpio da vedao do anonimato, os escritos apcrifos no podem justificar, por si ss, desde que isoladamente considerados, a imediata instaurao da persecutio criminis, salvo quando forem produzidos pelo acusado, ou, ainda, quando constiturem eles prprios o corpo de delito.

    35

  • Art. 5o Dirley da Cunha Jnior e Marcelo Novelino

    2. (MP-SP/PROMOTOR DE JUSTIA - 2010-ADAPTADA) livre a manifestao de pensamento, sendo vedado o anonimato, nos termos da lei.

    B S || 'i-. C I 02 E 1

    V - assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, alm da indenizadopor dano material, moral ou imagem; ' ' "

    t.

    1. BREVES COMENTRIOS

    Ver comentrio ao dispositivo anterior.

    2. OUESTES DE CONCURSOS

    1 . (TCE-ES/PROCURADOR ESPECIAL DE COHTAS/CESPE - 2009 - ADAPTADA) A indenizao por danos morais tem seu mbito de proteo adstrito s pessoas fsicas, j que as pessoas jurdicas no podem ser consideradas titulares dos direitos e das garantias fundamentais.

    2. (TCE-ES/PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS/CESPE - 2009 - ADAPTADA) Conforme entendimento do STF, a atual CF recepcionou o dispositivo da Lei de Imprensa que estabelece limitao quanto indenizao devida pela empresa jornalstica, a ttulo de dano moral, na hiptese de publicao de notcia inverdica, ofensiva boa fama da vtima.

    3. (TCE-ES/PROCURADOR ESPECIAL DE COHTAS/CESPE - 2009 - ADAPTADA) 0 direito de resposta proporcional ao agravo constitui instrumento democrtico de ampla abrangncia, j que aplicvel em relao a todas as ofensas, independentemente de elas configurarem ou no infraes penais.

    4. (MP-SP/PROMOTOR DE JUSTIA - 2010-ADAPTADA) assegurado o direito de resposta, alm da indenizao exclusiva por dano material.

    5. (MPF - Procurador da Repblica/2011 - ADAPTADA) 0 direito de resposta, alm de tutelar os direitos da personalidade, tambm configura instrumento para a promoo do pluralismo intemo dos meios de comunicao social, na medida em que confere ao pblico a possibilidade de acesso a posies divergentes sobre tema de interesse social.

    i r a - * - E I 02 E I 03 E | ajp E | 05 C~1

    VI - inviolvel a liberdad de conscincia e de crena, sendo assegurado 0 livre exerccio dos cultos religiosos e garantida, :n forma da lei, a proteo aos locais de culto e a suas liturgias;

    1 . BREVES COMENTRIOS

    A liberdade de conscincia consiste na adeso a certos valores morais e espirituais, independentes de qualquer aspecto religioso. Abrange a liberdade de crena, podendo se determinar no sentido de crer em algo ou no ter crena alguma.

    36

  • Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 A rt 5o

    como ocorre com agnsticos e ateus. A liberdade de culto uma das formas de expresso da liberdade de crena, podendo ser exercida em locais abertos ao pblico, desde que observados certos limites, ou em templos, aos quais foi assegurada a imunidade fiscal (CF, art. 150, VI, b). Tais liberdades no so absolutas, devendo ser exercidas em harmonia com os padres tico-jurdicos.

    A inviolabilidade da liberdade de conscincia, de crena e de culto constitui a resposta poltica adequada aos desafios do pluralismo religioso, permitindo desarmar 0 potencial conflituoso existente entre as vrias concepes.24

    A laicidade do Estado brasileira impe a neutralidade do exerccio do poder, a qual constitui condio necessria, ainda que no suficiente, para uma garantia simtrica da liberdade de religio.

    Ver art. 5, Vlll e art. 19, ambos da Constituio Federal.

    VII assegurada, nos termos da lei, prestao de assistncia religiosa nas entida- :des civis e militares de internao coletiva; ~ s

    1. QUESTES DE CONCURSOS

    1 . (CISMEPAR/PR - ADVOGADO/2011 - AOCP - ADAPTADA) assegurada, nos termos da lei, a prestao de assistncia religiosa nas entidades ch/is e militares de internao coletiva.

    H f r m * C I

    VIII - ningum ser privado de direitos por motivo de crena religiosa ou de convico , filosfica ou poltica, salvo se as inVocar para eximir-se de obrigao legal a todos

    imposta ercusar-s, a cumprir prestao alternativa^ fixada em lei;

    1 . BREVES COMENTRIOS

    0 dispositivo consagra a escusa de conscincia, impedindo a privao de direitos daqueles que invocam o imperativo de conscincia para se eximir de determinadas obrigaes legais.

    A objeo deve surgir a partir de um pensamento suficientemente estruturado, coerente e sincero. Para ser considerada legtima, a recusa no pode decorrer de mero capricho ou de interesses mesquinhos, devendo ser baseada em "convices seriamente arraigadas no indivduo, de tal sorte que, se o indivduo atendesse ao comando normativo, sofreria grave tormento moral", por se tratar de uma conduta incompatvel com algo irrenuncivei para ele. (MENDES, Gilmar

    24 HABERMAS, JUrgen. Entre naturalismo e rel