ribeirão santa maria - itumbiara

[email protected], So Paulo, v. 14, n. 2, p. 91-97, maio/ago. 2013 91

VerIfIcAo dA QuAlIdAde fsIco-QumIcA dAs guAs do rIBeIro sAntA mArIA no munIcPIo de ItumBIArA goIs - BrAsIl

lenilson oliveira Paula silva 1Blyeny Hatalita Pereira Alves 2

emanuel carlos rodrigues 3

O ribeiro Santa Maria o manancial que abastece o municpio de Itumbiara, em Gois, Brasil. Este apresenta em seu curso diferentes fontes de poluio, principalmente atividades agroindustriais. notrio que nas reas onde so desenvolvidas atividades produtivas, o uso do solo e o despejo de efl uentes contribuem para alteraes das caractersticas fsicas e qumicas da gua de seus rios. O Brasil apresenta legislao normativa referente gua, a Resoluo n. 357/2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e a Portaria n. 18 do Ministrio da Sade (MS) que estabelecem limites aceitveis de elementos estranhos, considerando os diferentes usos dos corpos de gua. Dentro deste contexto, este trabalho teve como objetivo verifi car as atuais condies de qualidade da gua do ribeiro Santa Maria, analisando alguns parmetros (temperatura, pH, turbidez, condutividade, demanda qumica de oxignio (DQO), oxignio dissolvido (OD) e dureza), maioria dos quais so propostos pela legislao. Foram realizadas anlises bimestrais de dois pontos do curso do ribeiro: A (origem) e B (prximo estao de captao para abastecimento pblico), com o objetivo de verifi car a variao destes parmetros durante o perodo de nove meses. O parmetro oxignio dissolvido apresentou valores pontuais que no se enquadraram aos limites estabelecidos pela legislao, indicando excesso de matria orgnica despejada no ribeiro. Os outros valores encontrados no restringem o uso da gua para um corpo de gua de classe 2.

Palavras-chave: Qualidade da gua. Parmetros fsico-qumicos. Meio Ambiente.

Santa Maria River is the water source that supplies the city of Itumbiara Gois in Brazil. Its course presents diff erent sources of pollution especially agricultural practices. It is clear that in areas where productive activities are developed, land use and discharge of effl uents contribute to changes in physical and chemical characteristics of the river water. Brazil has regulatory legislation relating to water, Resolution n 357/2005 from the National Environment Council (CONAMA) and Ordinance n 518 from the Ministry of Health (MS). This study aimed to verify the current conditions of the river water quality, analyzing some parameters (temperature, pH, turbidity, conductivity, chemical oxygen demand (COD), dissolved oxygen (DO) and water hardness), most of which are proposed by the legislation. Analyzes were conducted bimonthly from two points in the course of the river: A (head) and B (near the station level), in order to verify the variation of these parameters during the period of nine months. The dissolved oxygen presented values that did not fi t the limits established by the legislation, indicating excess of organic matter discharged into the river. Other fi ndings do not restrict the use of the water to a water body class 2.

Keywords: Water Quality. Physicochemical parameters. Environment.

1 Licenciado em Qumica pelo Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Gois Campus Itumbiara. E-mail: .2 Doutora em Qumica pela Universidade Federal de Uberlndia Professora do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Gois Campus Itumbiara. E-mail: .3 Doutor em Qumica pelo Instituto de Qumica da Universidade Estadual Paulista Professor do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de So Paulo Campus Barretos. E-mail: .Data de entrega dos originais redao em 02/08/2012 e recebido para diagramao em 09/08/2013.

VERIFICAO DA QUALIDADE FSICO-QUMICA DAS GUAS DO RIBEIRO SANTA MARIA NO MUNICPIO DE ITUMBIARA GOIS - BRASILLenilson Oliveira Paula Silva/Blyeny Hatalita Pereira Alves/Emanuel Carlos Rodrigues

92 Sinergia, So Paulo, v. 14, n. 2, p. 91-97, maio/ago. 2013http://www2.ifsp.edu.br/edu/prp/sinergia

1 Introduo

A gua um recurso indispensvel para a vida na Terra e ocupa aproximadamente 75% da superfcie do planeta. O Brasil possui 13,7% da gua doce superficial disponvel no mundo; a maioria desta se encontra na regio amaznica, e apenas 20% das guas superficiais brasileiras atendem a 93% da populao nacional (LIBNEO, 2010; MACEDO, 2004; TUNDISI, 2003).

Ao longo da histria da humanidade, os rios tm sido utilizados como vias de desbravar o interior dos continentes e assim facilitar o crescimento de meios urbanos e das reas cultivadas. Devido s suas propriedades de solvente e sua capacidade de transportar partculas, a gua dos rios incorpora a si diversas impurezas, as quais definem a sua qualidade. Dessa forma, esta qualidade o reflexo das condies naturais e das atividades humanas desenvolvidas na bacia hidrogrfica. (CUNHA, 2009; LIBNEO, 2010; MERTEN E MINELLA, 2002; ROCHA et al, 2009; TUNDISI, 2003; Von SPERLING, 2005).

O Brasil apresenta legislao que estabelece parmetros para se avaliar a qualidade de suas guas, a Resoluo n. 357/2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que dispe sobre a classificao dos corpos de gua e diretrizes para o seu enquadramento, bem como estabelece as condies e padres de lanamento de efluentes; ela apresenta valores mximos permitidos para parmetros fsicos, qumicos e biolgicos presentes nos corpos de gua (BRASIL, 2005; BRASIL, 2012). Por outro lado, o Ministrio da Sade (MS) em sua portaria n. 518/2004, estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilncia da qualidade da gua para consumo humano e seu padro de potabil idade (BRASIL, 2004).

O ribeiro Santa Maria abastece o municpio de Itumbiara-GO e tem origem com a unio dos ribeires Ponte Lavrada e Santa Maria de Baixo. O mesmo pode ser classificado, segundo a legislao do CONAMA, como um corpo de gua de classe 2, podendo ser destinado ao abastecimento para consumo

humano, aps tratamento convencional; proteo das comunidades aquticas; recreao; irrigao e aquicultura e atividade de pesca. Entretanto ele apresenta em seu curso diferentes fontes de poluio, principalmente atividades agroindustriais. Por sua vez, Itumbiara uma cidade em expanso industrial e urbana o que exige uma demanda cada vez maior por recursos hdricos. Este desenvolvimento acarreta tambm na possibilidade de uso indiscriminado e na poluio dos rios e ribeires que compe a bacia hidrogrfica do municpio. Dentro deste contexto, este trabalho teve como objetivo verificar as atuais condies de qualidade da gua do ribeiro Santa Maria, analisando alguns parmetros (temperatura, pH, turbidez, condutividade, demanda qumica de oxignio (DQO), oxignio dissolvido (OD) e dureza) que so utilizados para o controle de qualidade da gua segundo a legislao brasileira.

2 ProcedImentos metodolgIcos2.1 localizao e caracterizao da rea de estudo

O Municpio de Itumbiara est situado na regio sul do Estado de Gois, Brasil. O clima nessa regio caracterizado como tropical (tipo Aw segundo Koppen) com invernos secos e veres chuvosos. A temperatura mdia varia entre 18o e 23 C, e a precipitao total anual de 1.300 1.400 mm.

O corpo de gua em estudo apresenta em seu curso atividades rurais, com nfase para a pecuria, cultura de cana-de-acar e outras atividades de stios e fazendas, bem como atividades agroindustriais (granjas e indstria de processamento de alimentos). As suas guas so utilizadas para o abastecimento pblico do municpio aps tratamento convencional. Foram escolhidos dois pontos para coleta: o primeiro, chamado Ponto A (181432.65S - 491231.56O), prxima a sua origem; e o segundo, denominado Ponto B (182154.52S - 49 931.35O) que se localiza prximo sua jusante no rio Paranaba e da estao de tratamento de gua para abastecimento pblico do municpio de Itumbiara Gois (Figura 1).



Foram coletadas cinco amostras de cada ponto em freqncia bimestral, sendo trs amostras coletadas no perodo chuvoso e duas amostras coletadas no perodo seco, como demonstra a Tabela 1.

Foram realizadas as calibraes dos equipamentos utilizados antes de se efetuar cada anlise.

3 resultAdos e dIscusso:

A temperatura da gua um fator importante de anlise, pois influencia e influenciada por diversos fatores ambientais, tais como luz solar incidente, profundidade do corpo de gua, reaes qumicas, atividades de micro-organismos ou desintegraes radioativas. A temperatura da gua apresentou valores mdios aproximados, com 4 pequenas variaes em torno de 21,60 C. O menor valor de temperatura foi de 19,33 C e o maior valor foi de 24,00 C, conforme a figura 2.

Figura 1 - Pontos de Coleta no ribeiro Santa Maria, Itumbiara Gois - Brasil (Fonte: Google Earth, 2011)

Amostras data de coleta Clima

1 18/08/2011 Seco

2 07/10/2011 Seco

3 02/12/2011 Chuvoso

4 15/02/2012 Chuvoso

5 13/04/2012 Chuvoso

Tabela 1 - Descrio das amostras

2.2 metodologia

A m e t o d o l o g i a d e coleta, preservao e anlise das amostras de gua foram subsidiadas no Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA, 1998). A temperatura foi medida in loco e os demais parmetros foram analisados no laboratrio de qumica do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Gois, Campus Itumbiara. Figura 2 - Valores de temperatura das guas do ribeiro Santa Maria, Itumbiara Gois Brasil



O termo pH (Potencial Hidrogeninico) est relacionado com a concentrao de ons hidrognio no meio e uma das variveis ambientais mais importantes p o i s a f e t a d i r e t a m e n t e a s t a x a s d e crescimento dos micro-organismos e proliferao de algas em corpos dgua. Este parmetro apresentou a menor variao dentre as anlise, com valores prximos a neutralidade, permanecendo dentro do intervalo permitido pela Resoluo n. CONAMA 357/05, que recomenda valores de pH em torno de 6,0 a 9,0; e tambm da portaria n 518/2004 do Ministrio da Sade que recomenda pH na faixa de 6,0 a 9,5. A fi gura 3 apresenta os valores de pH nos diferentes pontos de coleta de amostra.

A Turbidez resulta do efeito frente luz causado pela presena de slidos suspensos, que reduzem a sua transparncia. Essa transparncia pode ser alterada pela presena de algas, plncton, matria orgnica e muitas outras substncias como ons metlicos e areia, resultantes do processo natural de eroso ou de despejos domsticos e industriais. Os valores de turbidez apresentaram as maiores variaes neste estudo, o que pode ser evidenciado na Figura 4. As anlises dos pontos A (233 UNT) e B (103,50 UNT) da amostra 4 resultou em valores maiores que 100 UNT, recomendado para corpos de gua classe 2 pela Resoluo n. 357 do CONAMA. Estes valores podem ser atribudos s chuvas intensas do perodo que contriburam para a incorporao de material particulado no ribeiro.

Figura 3 - Valores de pH das guas do ribeiro Santa Maria, Itumbiara Gois Brasil

Figura 4 - Valores de condutividade eltrica das guas do ribeiro Santa Maria, Itumbiara Gois Brasil



A Condutividade Eltrica indica a capacidade que a gua possui de conduzir corrente eltrica devido presena de o n s d i s s o l v i d o s. Q u a nto m a i o r fo r quantidade de ons dissolvidos na gua maior a sua condutividade. A figura 5 apresenta os valores de condutividade das amostras. A legislao no apresenta valores permitidos para a condutividade eltrica.

A Demanda Qumica de Oxignio (DQO) a quantidade necessria para oxidar quimicamente, em condies enrgicas, a matria orgnica biodegradvel e no biodegradvel. Este parmetro no apresenta

valores permitidos na legislao vigente. Os valores encontrados apresentaram variaes em torno de 42,71 mg/L, sendo que o menor valor foi de 17,36 mg/L no ponto A da amostra 5 e o maior valor foi de 68,87 mg/L no ponto B da amostra 2; este pode estar relacionado com o eventual despejo de resduo orgnico no seu leito, seja por animais que circundam em suas margens ou por causa do despejo de esgotos domstico, de granjas, de pocilgas etc. Os valores de DQO para as amostras so apresentados na figura 6.

Figura 5 - Valores de condutividade eltrica das guas do ribeiro Santa Maria, Itumbiara Gois Brasil

Figura 6 - Valores de demanda qumica de oxignio das guas do ribeiro Santa Maria, Itumbiara Gois Brasil



Os valores encontrados de Oxignio Dissolvido (OD) so apresentados na fi gura 7. Estes foram elevados, com exceo da Amostra 4, onde a concentrao encontrada foi de 4,40 mg/L (ponto A) e de 3,80 mg/L (ponto B), sendo estes inferiores ao limite ( 5mg/L) para corpos de gua de classe 2 (BRASIL, 2005). Esses valores podem ser relacionados contribuio das chuvas torrenciais e enchente que ocorreu um dia antes da coleta da amostra; nesta ocasio o ribeiro alagou grande parte das fazendas e matas ciliares, resultando numa grande descarga de matria orgnica levando diminuio na disponibilidade de oxignio. Estes valores podem ser corroborados tambm pelos valores

relativos de DQO para o mesmo perodo: ponto A (68 mg/L) e ponto B (62,4 mg/L).

A dureza calculada como sendo a soma das concentraes de ons clcio e magnsio na gua, expressos como carbonato de clcio. A dureza excessiva pode causar sabor desagradvel, efeito laxativo, incrustaes em tubulaes de gua e reduz a formao de espuma pelos sabes. Este parmetro se enquadrou dentro do limite aceitvel pela Portaria n. 518/2004 do Ministrio da Sade, que estabelece o valor mximo de 500 mg/L de CaCO3 para o consumo humano, o que pode ser observado na fi gura 8. O valor mximo da dureza foi de 68,86 mg/L de CaCO3 no ponto B da amostra 5, e o mnimo de 23,02 mg/L de CaCO3 no ponto A da amostra 1.

Figura 7 - Valores de oxignio dissolvido das guas do ribeiro Santa Maria, Itumbiara Gois Brasil (anlise no realizada na amostra 1)

Figura 8 - Valores de dureza das guas do ribeiro Santa Maria, Itumbiara Gois Brasil



Analisando os valores obtidos para os pontos A e B verifica-se que houve oscilaes para todos os parmetros; isto pode ser justificado pela natureza dinmica das amostras de guas superficiais. A menor diferena percentual entre os pontos A e B foi para o parmetro de temperatura na amostra 2 (0,48%) e a maior diferena percentual foi para o parmetro de turbidez na amostra 4 (225,12%).

4 concluses

A anlise das guas do ribeiro Santa Maria permitiu verificar os valores de alguns parmetros fsico-qumicos frente legislao brasileira vigente. O parmetro Oxignio Dissolvido apresentou valores pontuais que no se enquadraram aos limites estabelecidos pela legislao, indicando excesso de matria orgnica despejada no ribeiro. Os outros valores encontrados no restringem o uso de gua para um corpo de gua de classe 2.

Comparando-se as anlises dos pontos A (prximo a sua origem) e B (prximo captao para abastecimento pblico), foram observadas variaes nos valores dos parmetros analisados condizentes com os de uma amostra de gua superficial. Recomenda-se a avaliao da qualidade microbiolgica e de outros parmetros antes de utiliz-la para o consumo humano ou irrigao.

5 AgrAdecImentos:

Ao Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Gois, Campus de Itumbiara (IFG/Itumbiara).

referncIAs:

AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION - APHA. standard methods for examination of water and wastewater. 20. ed. Washington, DC, 1998.

BRASIL. Ministrio da Sade. Portaria n. 518, de 25 de maro de 2004. Estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilncia da qualidade da gua para

consumo humano e seu padro de potabilidade, e d outras providncias. Braslia, DF, 2004.

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). resoluo n. 357, de 17 de maro de 2005. Dispe sobre a classificao dos corpos de gua e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condies e padres de lanamento de efluentes, e d outras providncias. Dirio Oficial da Repblica Federativa do Brasil, Poder Executivo, Braslia, DF, 18 mar. 2005.

BRASIL. Ministrio do Meio Ambiente. resolues do conAmA: Resolues vigentes publicadas entre setembro de 1984 e janeiro de 2012. Braslia, DF, 2012.

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