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Unidade LIVRO DO PROFESSOR LIVRO DO PROFESSOR 116 117 A ética utilitarista de John Stuart Mill Unidade 5 5.1 O princípio da maior felicidade 5.1.1 O que é a felicidade? 5.1.2 O argumento de Mill a favor do princípio da maior felicidade 5.2 Motivos e consequências 5.3 Uma avaliação crítica da ética de Mill 5.3.1 Algumas objeções à ética de Mill 5.3.2 Méritos da ética de Mill A ética utilitarista de John Stuart Mill 5 116 Quando procuramos decidir se uma ação é moralmente correta, é natural que tenhamos em conta as suas consequências. O utilitarismo é uma teoria consequencialista, defendendo que a ação correta é determinada apenas pelas suas consequências. Para decidir o que se deve fazer, é preciso usar toda a informação disponível sobre o que pode acontecer caso se realize a ação. Essa infor- mação, que é sempre incerta, apoia crenças igualmente incertas sobre o que se deve fazer numa dada situação. Mas há crenças incertas mais razoáveis do que outras. O utilitarismo pretende responder à incerteza quanto ao futuro com as crenças mais razoáveis sobre as consequências das ações. Introdução No fim desta unidade, deverá ser capaz de responder às seguintes questões: Qual é, segundo o utilitarismo de Mill, o princípio da ação moralmente correta? Com que argumento defende Mill o princípio da maior felicidade? Que objeções enfrenta a teoria utilitarista de Mill? Quais são os méritos dessa teoria? Objetivos do capítulo Os conceitos seguintes, que são centrais nesta unidade, são definidos no fim do livro: altruísmo egoísmo ético hedonismo princípio da maior felicidade (ou princípio da utilidade) utilitarismo Conceitos fundamentais Estímulo A máquina da felicidade O Manuel gosta de ter amigos em casa para jogar na PlayStation. Desta vez, convidou o Jorge e o Diogo. Geralmente, a mãe do Manuel chega a casa por volta das cinco e meia e faz pipocas. Bem quentinhas sabem ainda melhor. Ao prazer de jogar na PlayStation soma-se o pra- zer de comer pipocas. O Jorge ficou de passar por casa do Diogo e depois seguem os dois para casa do Manuel. Foi com espanto que o Jorge encontrou o Diogo a estudar matemática. No dia seguinte não iam ter teste, mas o Diogo parecia muito aplicado. O Jorge cumprimentou-o e perguntou: — É para ir? São quase três. Foi a essa hora que pro- metemos estar lá. — Hoje não me apetece. Disse que ia, mas estou arre- pendido — disse o Diogo com ar meio aborrecido. — Mas porquê? — quis saber o Jorge. — Estou com dúvidas nesta matéria de matemática. Quero fazer muitos exercícios. É a única maneira de resolver as minhas dificuldades. Se não fizer agora, depois temos mais matéria nova e eu fico a ver navios. — Não acredito que queres ficar em casa mergulhado em equações quando podias passar uma tarde tão boa em casa do Manuel. Nem parece teu, rapaz — desafiou o Jorge, que continuou desconfiado: — Será que estás com algum problema e não queres dizer? — Não estou, a sério. É mesmo só a matemática. Já percebi que sem praticar muito não tiro as notas que quero. E, além disso, fico sem saber realmente, que é o pior de tudo. Para o ano, as minhas dificuldades serão ainda maiores. Será que não compreendes isto? — Claro que compreendo, só que acho estranho. É a primeira vez que não alinhas — respondeu o Jorge. — Eu até gostava de ir, mas tenho de fazer este sacri- fício. Diz ao Manuel que não posso — pediu o Diogo. Fez-se um breve silêncio. No olhar do Jorge, a sur- presa perante a atitude do Diogo era evidente. Já sem grande esperança de o convencer, disse: — Não acredito que prefiras uma tarde de sacrifício a uma tarde de prazer. Não acho que isso faça alguém feliz. — Talvez o prazer não seja tudo. Ocorreu-me ontem uma ideia que pode ter mudado a minha maneira de ver as coisas — afirmou o Diogo com ar pensativo. — Conta lá essa grande ideia. Se concordar, vou já para casa estudar — desafiou o Jorge na brincadeira. — Ouve com atenção — pediu o Diogo. — Imagina que foi criada a máquina da felicidade. É uma máquina espetacular. Se nos ligarmos a ela, passamos a viver numa realidade virtual permanentemente felizes. — Diz-me lá como — interrompeu o Jorge. — É simples. Gostavas de ser uma estrela pop ou um craque de futebol ou um cientista genial que fez uma descoberta revolucionária. Ou ter uma outra vida qualquer. Seja qual for, é uma vida cheia de prazeres. — E depois? Isso parece-me uma fantasia sem sen- tido, mas continua lá — observou o Jorge. — Mas o melhor da máquina é isto: nessa realidade virtual, tens tudo o que te faz feliz, mas pensas que a tua vida decorre no mundo real; em nenhum momento duvidas de que és um ser humano normal com uma vida normal. A história que irá ler pretende testar: a avaliação moral que, à partida, se faz deste caso; se a felicidade é o fator que mais pesa nas nossas decisões; se a felicidade é geralmente mais importante do que a realidade de fazer as coisas. Fig. 1 — Cartaz do filme Total Recall (2012). No filme Total Recall uma empresa implanta nos seus clientes memórias falsas de experiências que eles gostariam de ter vivido. Duração prevista para lecionar os conteúdos desta unidade: 4 aulas de 90 minutos. Planificação: Lição 1: Uma ética consequencialista. O princípio da maior felicidade. A perspetiva hedonista de Mill. Lição 2: O argumento de Mill a favor do princípio da maior felicidade. Uma avaliação crítica do argumento de Mill. Uma defesa do argumento de Mill. Lição 3: Objeções ao utilitarismo de Mill: a objeção da máquina de experiências, a objeção das dificuldades de cálculo, a objeção da justiça e a objeção da integridade. Lição 4: Os méritos da ética de Mill: simplicidade, naturalismo, pesar o prazer e a dor.

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Unidade

LIVRO DO PROFESSOR LIVRO DO PROFESSOR

116 117A ética utilitarista de John Stuart MillUnidade 5

5.1 O princípio da maior felicidade 5.1.1 O que é a felicidade?

5.1.2 O argumento de Mill a favor do princípio da maior felicidade

5.2 Motivos e consequências

5.3 Uma avaliação crítica da ética de Mill 5.3.1 Algumas objeções à ética de Mill

5.3.2 Méritos da ética de Mill

A ética utilitarista de John Stuart Mill5

116

Quando procuramos decidir se uma ação é moralmente correta, é natural que tenhamos em conta as suas consequências. O utilitarismo é uma teoria consequencialista, defendendo que a ação correta é determinada apenas pelas suas consequências.

Para decidir o que se deve fazer, é preciso usar toda a informação disponível sobre o que pode acontecer caso se realize a ação. Essa infor-mação, que é sempre incerta, apoia crenças igualmente incertas sobre o que se deve fazer numa dada situação. Mas há crenças incertas mais razoáveis do que outras.

O utilitarismo pretende responder à incerteza quanto ao futuro com as crenças mais razoáveis sobre as consequências das ações.

Introdução

No fim desta unidade, deverá ser capaz de responder às seguintes questões:

Qual é, segundo o utilitarismo de Mill, o princípio da ação moralmente correta?

Com que argumento defende Mill o princípio da maior felicidade?

Que objeções enfrenta a teoria utilitarista de Mill?

Quais são os méritos dessa teoria?

Objetivos do capítulo

Os conceitos seguintes, que são centrais nesta unidade, são definidos no fim do livro:

altruísmo

egoísmo ético

hedonismo

princípio da maior felicidade (ou princípio da utilidade)

utilitarismo

Conceitos fundamentais

Estímulo

A máquina da felicidade

O Manuel gosta de ter amigos em casa para jogar na PlayStation. Desta vez, convidou o Jorge e o Diogo. Geralmente, a mãe do Manuel chega a casa por volta das cinco e meia e faz pipocas. Bem quentinhas sabem ainda melhor. Ao prazer de jogar na PlayStation soma-se o pra-zer de comer pipocas. O Jorge ficou de passar por casa do Diogo e depois seguem os dois para casa do Manuel.

Foi com espanto que o Jorge encontrou o Diogo a estudar matemática. No dia seguinte não iam ter teste, mas o Diogo parecia muito aplicado. O Jorge cumprimentou-o e perguntou:

— É para ir? São quase três. Foi a essa hora que pro-metemos estar lá.

— Hoje não me apetece. Disse que ia, mas estou arre-pendido — disse o Diogo com ar meio aborrecido.

— Mas porquê? — quis saber o Jorge.

— Estou com dúvidas nesta matéria de matemática. Quero fazer muitos exercícios. É a única maneira de resolver as minhas dificuldades. Se não fizer agora, depois temos mais matéria nova e eu fico a ver navios.

— Não acredito que queres ficar em casa mergulhado em equações quando podias passar uma tarde tão boa em casa do Manuel. Nem parece teu, rapaz — desafiou o Jorge, que continuou desconfiado: — Será que estás com algum problema e não queres dizer?

— Não estou, a sério. É mesmo só a matemática. Já percebi que sem praticar muito não tiro as notas que quero. E, além disso, fico sem saber realmente, que é o pior de tudo. Para o ano, as minhas dificuldades serão ainda maiores. Será que não compreendes isto?

— Claro que compreendo, só que acho estranho. É a primeira vez que não alinhas — respondeu o Jorge.

— Eu até gostava de ir, mas tenho de fazer este sacri-fício. Diz ao Manuel que não posso — pediu o Diogo.

Fez-se um breve silêncio. No olhar do Jorge, a sur-presa perante a atitude do Diogo era evidente. Já sem grande esperança de o convencer, disse:

— Não acredito que prefiras uma tarde de sacrifício a uma tarde de prazer. Não acho que isso faça alguém feliz.

— Talvez o prazer não seja tudo. Ocorreu-me ontem uma ideia que pode ter mudado a minha maneira de ver as coisas — afirmou o Diogo com ar pensativo.

— Conta lá essa grande ideia. Se concordar, vou já para casa estudar — desafiou o Jorge na brincadeira.

— Ouve com atenção — pediu o Diogo. — Imagina que foi criada a máquina da felicidade. É uma máquina espetacular. Se nos ligarmos a ela, passamos a viver numa realidade virtual permanentemente felizes.

— Diz-me lá como — interrompeu o Jorge.

— É simples. Gostavas de ser uma estrela pop ou um craque de futebol ou um cientista genial que fez uma descoberta revolucionária. Ou ter uma outra vida qualquer. Seja qual for, é uma vida cheia de prazeres.

— E depois? Isso parece-me uma fantasia sem sen-tido, mas continua lá — observou o Jorge.

— Mas o melhor da máquina é isto: nessa realidade virtual, tens tudo o que te faz feliz, mas pensas que a tua vida decorre no mundo real; em nenhum momento duvidas de que és um ser humano normal com uma vida normal.

A história que irá ler pretende testar:

• a avaliação moral que, à partida, se faz deste caso;

• se a felicidade é o fator que mais pesa nas nossas decisões;

• se a felicidade é geralmente mais importante do que a realidade de fazer as coisas.

Fig. 1 — Cartaz do filme Total Recall (2012).

No filme Total Recall uma empresa implanta nos seus clientes memórias falsas de experiências que eles gostariam de ter vivido.

Duração prevista para lecionar os conteúdos desta unidade:

4 aulas de 90 minutos.

Planificação:

Lição 1:• Uma ética consequencialista.• O princípio da maior felicidade.• A perspetiva hedonista de Mill.

Lição 2:• O argumento de Mill a favor do princípio da maior felicidade.• Uma avaliação crítica do argumento de Mill.• Uma defesa do argumento de Mill.

Lição 3:• Objeções ao utilitarismo de Mill: a objeção da máquina de experiências, a objeção das dificuldades de cálculo, a objeção da justiça e a objeção da integridade.

Lição 4:• Os méritos da ética de Mill: simplicidade, naturalismo, pesar o prazer e a dor.

LIVRO DO PROFESSOR LIVRO DO PROFESSOR

118 Unidade 5 119A ética utilitarista de John Stuart Mill

Fazer filosofia

1 Debata com toda a turma se a felicidade é o aspeto mais decisivo nas nossas vidas ou se outros aspetos, como a autonomia, por exemplo, são tão ou mais importantes do que a felicidade.

2 Identifique aspetos da vida atual que podem ser semelhantes a uma existência ligada à máquina da felicidade.

— Agora a ideia já me parece mais interessante.

— Só que há uma condição para te ligares à máquina da felicidade — disse o Diogo a fazer mistério.

— Que condição é essa? Diz lá. Estou curioso.

— Se embarcares nessa realidade virtual, nunca mais podes sair dela. É como se fosses fazer a melhor via-gem da tua vida sem bilhete de regresso.

Ficaram a pensar. Havia perplexidade nos olhares. O Diogo recomeçou a conversa e perguntou ao Jorge:

— O que fazias se tivesses à tua disposição uma máquina da felicidade?

— Acho que me ligava — respondeu o Jorge.

— Era de esperar. Para ti, o prazer parece ser a única coisa que conta — comentou o Diogo.

— É a minha escolha, paciência. Há alguma coisa de errado em escolher aquilo que prefiro?

— Se calhar até há. Olha, é errado ter uma vida que é uma farsa em vez de uma vida que mostra o que real-mente és — afirmou o Diogo.

— E quem disse que eu não mostro o que sou na máquina da felicidade? Se eu escolher ser um craque do futebol em vez de um cientista genial, estou a reve-lar o que sou — Respondeu o Jorge com firmeza.

— Talvez tenhas razão. Mas, seja como for, não és um craque de futebol à custa do teu esforço. Tens de admi-tir que não mereces ser o que és — declarou o Diogo.

— Tive a sorte de me ligar à máquina, é verdade.

Mas os jogadores de futebol no mundo real também precisam de ter muita sorte. A sorte de terem o treina-dor certo, de nascerem no meio certo, de terem capa-cidades a que a sociedade dá muito valor, pagando bem por elas. E por aí fora. Podes imaginar muitos outros exemplos — disse o Jorge.

— Queres então dizer que para sermos felizes preci-samos de ter sorte? E que ter do nosso lado a sorte ou a máquina da felicidade é a mesma coisa?

— É isso mesmo — afirmou o Jorge.

— Mas deixas de ter contacto com a realidade. A tua vida é irreal, não o podes negar — argumentou o Diogo.

— E que diferença é que isso faz? Tanto a vida real como a irreal são a soma das experiências que senti-mos ter em cada uma delas. A única diferença está nas experiências que sentimos ter. É como fazeres viagens diferentes. Por que razão uma viagem é melhor do que a outra só por ser feita num barco que se chama reali-dade? — indagou o Jorge, que falava com convicção.

O Diogo estava agora ainda mais perplexo do que no início da conversa. Em todo o caso, se tivesse de tomar uma decisão naquele momento, não se ligaria à máquina da felicidade. Para ele, a felicidade não parecia ser a única coisa que contava. Por isso, reto-mou os exercícios de matemática. Apressado, o Jorge despediu-se. Não tinha uma máquina da felicidade à espera dele, mas tinha, pelo menos, os prazeres de jogar na PlayStation e de comer pipocas.

Inspirado na obra Anarquia, Estado e Utopia, de RobeRt Nozick, e na obra The Pig that Wants to Be Eaten and

99 Other Thought Experiments, de JuliaN baggiNi.

Guião de leitura

1 Formule o problema que o texto levanta.

2 Apresente a posição do Diogo e as razões que a apoiam.

3 Apresente as objeções do Jorge às razões do Diogo.

4 Exponha a justificação do Diogo para a sua posição.

5 Tome posição perante o problema e justifique a sua opção.

O utilitarismo é um tipo de ética consequencialista; defende, por isso, que a ação moralmente correta é a que produz as melhores consequências. John Stuart Mill (1806-1873), filósofo inglês defensor do utilitarismo, caracte-riza-o assim:

O princípio básico do utilitarismo é, então, o princípio da maior felicidade ou princípio da utilidade, que pode ser definido deste modo:

E deve fazê-lo de uma forma imparcial: a felicidade de cada um não conta mais do que a felicidade de qualquer outra pessoa. Saber por quem se dis-tribui a felicidade é indiferente. O que realmente conta é saber se uma determinada ação maximiza a felicidade. É de sublinhar que o utilitarismo de Mill contrasta fortemente com o egoísmo ético. Este tem como princípio a satisfação do interesse próprio, de que resultará, presume-se, a felicidade individual. Nada mais distante do princípio da maior felicidade, que nos exige a maximização da felicidade imparcialmente considerada. É esta a obrigação a que não podemos virar costas, seja qual for a justificação invo-cada. Ao contrário do egoísmo ético, o utilitarismo é exigente, senão mesmo demasiado exigente, ao ponto de nos pedir que façamos o que alguns dos seus críticos afirmam estar para além dos nossos deveres.

O princípio básico dos utilitaristas é hoje central nas disputas morais. Mas na altura foi uma ideia revolucionária. Pela primeira vez, filósofos defendiam que a moralidade não dependia de Deus ou de regras abstratas. A felicidade do maior número é tudo o que se deve perseguir com a ajuda da experiência.

Princípio da maior felicidade:

A ação moralmente certa é aquela que maximiza a felicidade.

O credo que aceita a utilidade, ou o princípio da maior felicidade, como fundamento da moralidade, defende que as ações estão certas na medida em que tendem a promover a felicidade, erradas na medida em que tendem a produzir o reverso da felicidade. Por felici-dade, entende-se o prazer e a ausência de dor; por infelicidade, a dor e a privação de prazer.

John Stuart Mill, Utilitarismo. Porto: Porto Editora, 2005 [ed. original 1861], p. 48.

Texto 1

Vidas comprometidas com um mundo melhor: John Stuart Mill e Harriet TaylorMill foi uma criança-prodígio. Ainda em idade de frequentar a escola primária, já lia em diversas línguas, entre as quais o grego clássico. Por volta dos 20 anos, sofreu uma depressão aguda. A poesia romântica, particularmente a de Wordsworth, contribuiu para que se libertasse dessa fase sombria. Foi desde essa altura que procurou conciliar o romantismo e a crença iluminista nas capacidades racionais dos seres humanos. O aspeto mais admirável do seu talento é, aliás, a combinação entre a teoria moral abstrata e a compreensão humana da textura das emoções e das relações sociais, comum nos grandes pensadores morais e políticos. Amou intensamente Harriet Taylor, por quem tinha também admiração intelectual. Casaram e escreveram juntos A Sujeição das Mulheres, um livro inspirador do feminismo moderno. Mill defendeu ideias tão polémicas para a sua época que chegou mesmo a ser preso por apoiar abertamente o uso de métodos contracetivos. O facto de trabalhar como administrador na Companhia das Índias Orientais a maior parte da sua vida não o impediu de escrever vários livros de filosofia, política e economia. Depois foi membro do parlamento britânico. Como reformista que era, aí se distinguiu pela defesa dos direitos das mulheres e das classes trabalhadoras. De resto, os utilitaristas empenharam-se em mudanças como a abolição da escravatura, a igualdade entre homens e mulheres e o direito de voto para todos.

Biografia

Atividades

1 Indique quais das afirmações seguintes são pensamentos consequencialistas e quais não são.

A — Devemos permitir o aborto porque a mulher tem demasiadas limitações cognitivas para dar os cuidados adequados ao seu filho.

B — Ajude a sua amiga a compreender a matéria de Português porque esse é o seu dever.

C — Se lhe disser a verdade, ela ficará deprimida.

D — Nunca quebre promessas seja em que circunstância for.

E — Roubar para matar a fome não é errado.

F — Tem a obrigação de doar um rim ao seu pai.

2 Apresente agora duas afirmações criadas por si, uma consequencialista e outra que não o seja.

5.1 O princípio da maior felicidade

Proposta de solução das atividades:

1. As afirmações que correspondem a pensamentos consequencialistas são a A, a C e a E. As que correspondem a pensamentos não consequencialistas são a B, a D e a F.

2. Exemplo de afirmação consequencialista: deve dar assistência à sua mãe para que um dia não venha a ter problemas de consciência. Exemplo de afirmação não consequencialista: temos o dever de dar assistência aos nossos pais.

Exploração do diálogo a partir do guião de leitura:

1. O problema tem a seguinte formulação: será a felicidade a única coisa que conta nas nossas decisões?

2. O Diogo defende que a felicidade, entendida como prazer, não é a única coisa que conta. Daí que não se ligaria à máquina. As suas razões são as seguintes: não seria uma vida autêntica; não resultaria do seu esforço; e não seria uma vida real.

3. As objeções do Jorge são as seguintes: as opções de felicidade que cada um faria depois de se ligar à máquina da felicidade mostrariam o que as pessoas são; na vida normal, a sorte intervém mais na felicidade do que se julga, e isso é semelhante a uma vida feliz adquirida com a ligação à máquina; o que conta não é se a vida é real ou irreal, mas as experiências que temos, seja numa vida real ou irreal.

4. Para o Diogo, a realidade é a soma das experiências que sentimos ter. Segue-se que o modo pelo qual sentimos ter essas experiências não é relevante na caracterização que fazemos delas e da realidade.

5. Pretende-se que o aluno tome uma posição autónoma sobre o problema de saber qual é a importância da felicidade; que o faça de maneira argumentada; e que apresente, se for o caso, outros aspetos além da felicidade que têm uma importância central numa vida genuína.

Livromédia:

PowerPointA ética utilitarista de John Stuart Mill.

LIVRO DO PROFESSOR LIVRO DO PROFESSOR

120 Unidade 5 121A ética utilitarista de John Stuart Mill

5.1.1   O que é a felicidade?Mill tem uma perspetiva hedonista de felicidade. Segundo esta perspetiva, a felicidade consiste no prazer e na ausência de dor.

O prazer pode ser mais ou menos intenso e mais ou menos duradouro. Mas a novidade de Mill está em dizer que há prazeres superiores e inferiores, o que significa que há prazeres intrinsecamente melhores do que outros. Mas o que quer isto dizer? Simplesmente que há prazeres que têm mais valor do que outros devido à sua natureza.

Mill defende que os tipos de prazer que têm mais valor são os prazeres do pensamento, do sentimento e da imaginação; tais prazeres resultam da experiência de apreciar a beleza, a ver-dade, o amor, a liberdade, o conhecimento, a criação artís-tica. Qualquer prazer destes terá mais valor e fará as pessoas mais felizes do que a maior quantidade imaginável de praze-res inferiores. Quais são os prazeres inferiores? Os prazeres ligados às necessidades físicas, como beber, comer e ter sexo.

Diz-se que o hedonismo de Mill é sofisticado. Ao ter em conta a qualidade dos prazeres na promoção da felicidade para o maior número, evitou a crítica de muitos dos seus

contemporâneos, que apelidavam o utilitarismo de «moral para porcos»; uma outra consequência disso é deixar para segundo plano a ideia de que o prazer é algo que tem uma quantidade que se pode medir meramente em termos de duração e intensidade — é a qualidade do prazer que é relevante e decisiva.

Distinção qualitativa do prazer

Prazeressuperiores

Prazeresinferiores

Intelectuais Corporais

Esquema 1 — Distinção qualitativa do prazer.

De dois prazeres, se houver um ao qual todos ou quase todos os que tiveram experiência de ambos derem uma preferência decidida, independentemente de sentirem qualquer obrigação moral para o preferir, então esse será o prazer mais desejável. Se um dos dois for colocado, por aqueles que estão completamente familiarizados com ambos, tão acima do outro que eles o preferem mesmo sabendo que é acompanhado de um maior descontentamento, e se não abdi-cariam dele por qualquer quantidade do outro prazer acessível à sua natureza, então teremos razão para atribuir ao deleite preferido uma superioridade em qualidade que ultrapassa de tal modo a quanti-dade que esta se torna, por comparação, pouco importante. […]

É indiscutível que um ser cujas capacidades de deleite sejam baixas tem uma probabilidade maior de as satisfazer completamente, e que

um ser amplamente dotado sentirá sempre que, da forma como o mundo é constituído, qualquer felicidade que possa esperar é imper-feita. Mas pode aprender a suportar as suas imperfeições, se de todo forem suportáveis, e estas não o farão invejar o ser que, na verdade, está inconsciente das imperfeições, mas apenas porque não sente de modo nenhum o bem que essas imperfeições qualificam. É melhor ser um ser humano insatisfeito do que um porco satisfeito; é melhor ser Sócrates insatisfeito do que um tolo satisfeito. E se o tolo ou o porco têm uma opinião diferente é porque só conhecem o seu próprio lado da questão. A outra parte da comparação conhece ambos os lados.

John Stuart Mill, Utilitarismo. Porto: Porto Editora, 2005 [ed. original 1861], pp. 50-51.

Texto 2

Há filósofos que consideram a distinção entre prazeres inferiores e superio-res incompatível com o hedonismo.

Se, como afirma o hedonismo, uma experiência vale mais do que outra apenas em virtude de ser mais aprazível, ao aumentarmos progressiva-mente a aprazibilidade do prazer inferior, chegaremos a um ponto em que este pesará mais do que um prazer superior na balança dos prazeres; e, nesse caso, se quisermos manter o hedonismo, a distinção entre prazeres inferiores e superiores deixará de fazer sentido e terá de ser abandonada.

A doutrina utilitarista é a de que a felicidade é desejável, e é a única coisa desejável, como um fim; todas as outras coisas são desejáveis apenas como um meio para esse fim. O que se deverá exigir à doutrina — que condições será preciso que a doutrina satisfaça — para que a sua pretensão de ser aceite seja bem-sucedida?

A única prova que se pode apresentar para mostrar que um objeto é visível é o facto de as pessoas efetivamente o verem. A única prova de que um som é audível é o facto de as pessoas o ouvirem, e as coisas passam-se do mesmo modo com as outras fontes da nossa experiência. Similarmente, entendo que a única evidência que se pode produzir para mostrar que uma coisa é desejável é o facto de as pessoas efetivamente a desejarem Se o fim que a doutrina utilitarista propõe a si própria não fosse, na teoria e na prática, reconhecido como um fim, nada poderia alguma vez convencer qualquer pessoa de que o era. Não se pode apresentar qualquer razão para mostrar que a felicidade geral é dese-jável, exceto a de que cada pessoa, na medida em que acredita que esta é alcançável, deseja a sua própria felicidade. Isto, no entanto, sendo um facto, dá-nos não só toda a prova que o caso admite, mas toda a prova que é possível exigir, para mostrar que a feli-cidade é um bem: que a felicidade de cada pessoa é um bem para essa pessoa e, logo, a felicidade geral um bem para o agregado de todas as pessoas.

John Stuart Mill, Utilitarismo. Porto: Porto Editora, 2005 [ed. original 1861], pp. 75-46.

Texto 3

5.1.2   O argumento de Mill a favor do princípio da maior felicidade

A prova de Mill do princípio da maior felicidade consiste num argumento que parte da analogia entre o que é visível e o que é desejável. Primeiro, verá como Mill o expõe. Depois, o argumento será simplificado para que o possa discutir com proveito.

Podemos agora simplificar o argumento do seguinte modo.

Dado que ver uma coisa prova que ela é visível, Mill conclui que desejar uma coisa prova que ela é desejável. Como a seguir a esta conclusão afirma que a única coisa que cada pessoa deseja como fim último é a sua própria felicidade, conclui que a única coisa que é desejável como fim último para cada pessoa é a sua própria felicidade. Desta conclusão extrai finalmente aquela que afirma o princípio da maior felicidade: cada pessoa deve realizar as ações que promovem a maior felicidade geral.

Avalie este argumento de acordo com a sua primeira reação.

A — Convincente. C — Duvidoso.

B — Atraente mas não convincente. D — Implausível.

Juízo intuitivo

Fig. 2 — Alegria de Viver (1905-1906), de Matisse.

Segundo o utilitarismo, o fundamento da moralidade consiste na felicidade do maior número de pessoas.

Atividades

1 Qual é o princípio básico da ética de Mill?

2 O que significa dizer que é indiferente saber como se distribui a felicidade?

3 O que pensaria um utilitarista como Mill da célebre máxima dos mosqueteiros no romance de Alexandre Dumas: «Um por todos e todos por um.»?

Proposta de solução das atividades:

1. O princípio básico da ética de Mill é o princípio da maior felicidade, que afirma ser nosso dever maximizar a felicidade para o maior número.

2. Significa dizer que é irrelevante por quem e como se distribui. Assim, o bem-estar individual pode ser sacrificado em nome da maximização da utilidade e o modo como se distribui a felicidade pode ser muito desigual.

3. Mill concordaria com a máxima dos mosqueteiros, pois o bem da maioria é a sua preocupação central. Se cada um promover o bem de todos, então todos estarão a promover o bem de cada um.

Livromédia:

Atividades interativasA ética utilitarista de John Stuart Mill I e II.

Livromédia:

Atividades interativas A ética utilitarista de John Stuart Mill III e IV.O argumento de Mill a favor do princípio da maior felicidade.

LIVRO DO PROFESSOR LIVRO DO PROFESSOR

122 Unidade 5 123A ética utilitarista de John Stuart Mill

Tenho de voltar a repetir o que os críticos do utilitarismo raramente têm a justiça de reconhecer: que a felicidade que constitui o padrão utilitarista do que está certo na con-duta não é a felicidade do próprio agente, mas a de todos os envolvidos. Quanto à esco-lha entre a sua própria felicidade e a felicidade dos outros, o utilitarismo exige que ele seja tão estritamente imparcial como um espectador benevolente e desinteressado. Na regra de ouro de Jesus de Nazaré, lemos todo o espírito da ética da utilidade. Tratar os outros como queremos que nos tratem e amar o próximo como a nós mesmos consti-tuem a perfeição ideal da moralidade utilitarista.

John Stuart Mill, Utilitarismo. Porto: Porto Editora, 2005 [ed. original 1861], p. 58.

Texto 4

O texto seguinte sublinha a importância de fazer escolhas imparciais para se promover a felicidade geral. As escolhas são imparciais quando a felici-dade própria conta o mesmo que a felicidade dos restantes envolvidos. Temos assim uma versão utilitarista da regra de ouro, que provavelmente já conhecerá na sua formulação negativa — não faça aos outros o que não quer que lhe façam a si.

Uma avaliação crítica do argumento de Mill Que avaliação podemos fazer deste argumento? Desde logo, é provável que veja o seguinte problema: a primeira premissa não é uma razão para aceitar que desejar uma coisa prova que ela é desejável; se pode ver uma coisa, isso significa que ela é visível; mas se pode desejar uma coisa, isso não significa que ela seja desejável, isto é, que deva ser desejada. Por que razão a analo-gia não resulta? Porque o conceito de visibilidade é descritivo, mas o con-ceito de desejabilidade é normativo.

Vejamos agora a terceira premissa. Trata-se de uma premissa falsa, ou pelo menos bas-tante duvidosa. Dizer que a felicidade é o fim último de cada pessoa significa que tudo o que as pessoas desejam é um meio para assegurar esse fim. Se desejar que as crianças sujeitas a maus-tratos recebam amor e proteção, Mill diz que quer isto como um meio para assegurar a sua felici-dade. Mas a verdade é que o bem-estar dos outros tem uma importância que não depende da importância que dá à sua felicidade. Como ninguém pode negar que muitas pessoas têm preferências deste tipo, a terceira premissa é falsa. Por outro lado, pessoas deprimidas parecem por vezes não desejar a sua própria felicidade.

E o que dizer do raciocínio «A única coisa que cada pessoa deseja como fim último é a sua própria felicidade. Logo, a única coisa que é desejável como fim último para cada pessoa é a sua própria felici-dade.»? Se reparar bem, verá que é o

mesmo tipo de raciocínio que afirma a segunda premissa a partir da pri-meira. Logo, o problema que levanta é o mesmo.

Do facto de desejar como fim último a sua própria felicidade não se segue que a coisa mais desejável para si é ver os seus desejos satisfeitos. Isso depende do tipo de desejos que tem. Se tiver desejos violentos, o melhor para si é abandoná-los.

De qualquer modo, imagine que a quarta premissa é verdadeira. Será que daí se pode concluir que cada pessoa deve realizar as ações que promovem a maior felicidade? Mesmo que a sua felicidade seja a coisa mais desejável para si, isso não implica que deve maximizar a felicidade geral. Em certas circuns-tâncias, a felicidade dos outros exige que sacrifique a sua felicidade, e não que a procure. Além disso, a última proposição parece contradizer a terceira. Ao dizer de maneira descritiva, e não normativa, que cada um deseja apenas a sua felicidade, a terceira premissa é uma expressão de egoísmo psicológico; e nesse caso, como os seres humanos de facto apenas podem desejar a sua própria felicidade, segue-se que não podem ter como fim a felicidade geral. Logo, se de todo não podem ter como fim a felicidade geral, é incoerente dizer que o fim último é maximizar a felicidade geral.

Assinale agora a sua avaliação ponderada do argumento a favor do princípio da maior felicidade.

A — Convincente. C — Duvidoso.

B — Atraente mas não convincente. D — Implausível.

Avaliação crítica

Uma defesa do argumento de Mill Alguns filósofos viram uma maneira de defender o argumento de Mill deste ataque devastador. O erro de deduzir que uma coisa é desejável a partir do facto de ser desejada é demasiado elementar para ser o que realmente está em jogo no argumento. Para eles, Mill simplesmente consultou os nossos desejos para averiguar que coisas são desejáveis. O facto de haver pessoas que dese-jam acima de tudo a felicidade, e nada de errado encontram nisso, é apenas um indício a favor da ideia de que a felicidade é desejável como fim último. Assim, Mill teria o objetivo mais modesto de apresentar uma boa razão a favor do princípio da maior felicidade, e não uma prova que o garantisse.

Atividades

1 Terá o princípio básico do utilitarismo de Mill alguma coisa que ver com o facto de ele ter sido um reformador social? Justifique a sua resposta.

2 Qual é, segundo Mill, a coisa que tem mais valor na vida de cada um de nós?

3 «Mais vale passar a vida a ver televisão com um saco de pipocas na mão do que passar a vida a apreciar a música de Schubert.» Mill concordaria com a afirmação? Justifique a sua resposta.

4 Será que desejar uma coisa a torna desejável? Justifique e dê exemplos.

5 Por que razão a terceira premissa do argumento é falsa?

6 Será que a conclusão do argumento se segue da afirmação «A única coisa que é desejável como fim último para cada pessoa é a sua própria felicidade.»? Justifique a sua resposta.

7 Que defesa pode ser feita do argumento a favor do princípio da maior felicidade?

Fig. 3 — O Massacre dos Inocentes (c. 1320), de Giotto di Bondone.

Será legítimo sacrificar uma pessoa inocente com o fim de promover o bem de muitas pessoas?

Fig. 4 — Cartaz do filme Gattaca (1997), realizado por Andrew Niccol.

Este filme mostra que a promoção da qualidade de vida pode recorrer a meios com consequências duvidosas e imprevisíveis.

Proposta de solução das atividades(continuação):

5. A terceira premissa do argumento é falsa porque muitas pessoas não desejam como fim último a sua felicidade, mas a felicidade de outras pessoas, dedicando uma boa parte das suas vidas a assegurar a felicidade dessas pessoas, e não a própria. A felicidade dos outros tem uma importância independente da felicidade pessoal.

6. A conclusão não se segue da quarta premissa. Promover a felicidade geral pode exigir o sacrifício da felicidade pessoal. E a realização desta pode comprometer a realização da felicidade geral.

7. O argumento pode ser defendido como um indício a favor do princípio da maior felicidade. O facto de haver pessoas que desejam acima de tudo a sua felicidade é apenas um indício a favor da ideia de que a felicidade é desejável como fim último; não é uma prova que a garante.

Proposta de solução das atividades:

1. Sim, as reformas sociais são conduzidas para promover o que é previsivelmente o bem da maioria.

2. A coisa que tem mais valor na vida de cada um de nós é a felicidade, que consiste no prazer e na ausência de dor.

3. Mill não concordaria, uma vez que um prazer inferior nunca é mais valioso do que um prazer superior, seja qual for a sua quantidade. Os prazeres de sentir e imaginar proporcionados pela música de Schubert, ainda que a sua quantidade seja ínfima, são sempre mais valiosos do que qualquer quantidade de um prazer inferior.

4. Desejar uma coisa não a torna desejável. Desejar uma coisa é um facto e situa-se num nível descritivo. Uma coisa desejável é algo que é valioso, situando--se num nível normativo. Logo, podemos desejar uma coisa que não é desejável; e uma coisa desejável pode não ser desejada por ninguém. Por exemplo, podemos desejar mentir a uma pessoa para a deixar numa situação ridícula, mas isso não é desejável; ou podemos, por vingança, desejar fazer mal a uma pessoa, e isso não é desejável.

Livromédia:

Atividade interativaA ética utilitarista de Stuart Mill V.

LIVRO DO PROFESSOR LIVRO DO PROFESSOR

124 Unidade 5 125A ética utilitarista de John Stuart Mill

Atividade

1 Por que razão considera Mill que os motivos são secundários na avaliação moral?

Que significado tem o que acabou de ler? Que as consequências das ações são o foco primário da avaliação moral.

Claro que os motivos dos agentes não deixam de ter importância. No entanto, essa importância está limitada ao valor moral dos agentes, que não é o foco primário da avaliação moral. O que é decisivo do ponto de vista moral é salvar um semelhante de se afogar, na medida em que daí resultem as melhores consequências — os motivos de quem o faz são secundários.

Mill reconhece que o interesse próprio e a inveja, na sua habitual estreiteza, não motivam para realizar as ações que promovem a felicidade geral. Sem dúvida que motivos benevolentes dispõem mais favoravelmente os agentes para essa finalidade. Todavia, os motivos não são o fator moralmente deci-sivo. Esta ideia é muito importante para compreender a diferença central entre a ética de Mill e a ética de Kant. Como verá, neste último a avaliação moral incidirá primariamente na motivação dos agentes.

Uma ação tem motivos e consequências. Entre os fatores moralmente rele-vantes das ações, os motivos e as consequências têm um lugar de destaque. A correção moral de uma ação pode dever-se aos seus motivos, mas pode dever-se também às suas consequências. Temos de saber então onde reside a justificação moral da ação — se nos motivos ou nas consequências. Quanto a isso, Mill não podia ser mais claro. Vejamos o que afirma o texto seguinte.

5.2 Motivos e consequências

Os moralistas utilitaristas foram além de quase todos os outros ao afirmar que o motivo, embora seja muito relevante para o valor do agente, é irrelevante para a moralidade da ação. Aquele que salva um semelhante de se afogar faz o que está moralmente certo seja o seu motivo o dever, seja a esperança de ser pago pelo incómodo; aquele que trai um amigo que confia em si é culpado de um crime, mesmo que o seu objetivo seja servir outro amigo relativamente ao qual tem maiores obrigações.

John Stuart Mill, Utilitarismo. Porto: Porto Editora, 2005 [ed. original 1861], p. 59.

Texto 5

A avaliação crítica da ética de Mill terá dois momentos. Primeiro serão apresentadas algumas objeções que o utilitarismo enfrenta. Depois destaca-remos alguns dos seus méritos próprios.

5.3.1  Algumas objeções à ética de MillAs objeções que irá considerar têm uma estratégia em comum. A ideia é partir dos juízos que faz acerca de casos particulares. Se esses juízos afir-mam que uma ação é errada e a ética de Mill implica que é certa, terá indí-cios para defender que a teoria é falsa.

A objeção da máquina de experiênciasA teoria hedonista de Mill baseia-se na ideia de que o nosso bem-estar é determinado pelas experiências que vivemos. O caso que se segue põe em causa essa ideia.

5.3 Uma avaliação crítica da ética de Mill

Imagine que tem à sua disposição um computador capaz de lhe fornecer todas as experiências que mais deseja. Passará a ser uma pessoa absolutamente feliz e não alguém que ora sente alegria e entusiasmo pela vida, ora tristeza e tédio. Tem de escolher entre ligar-se à máquina de experiências ou prosseguir a vida que já tem. Se o fizer, poderá viver a ilusão de ser, por exemplo, um ídolo pop, um revolucionário que transforma o mundo num lugar perfeito ou até um jogador de futebol milionário, informado e com gosto. Qual é a sua escolha?

Se o utilitarismo de Mill for verdadeiro, a escolha certa é estabelecer a ligação à máquina. Mas muito provavelmente não vai ser capaz de esquecer o valor que tem o facto de viver uma vida real. Fazer certas coisas tem valor para além do sentimento de felicidade que produz em si. Não quer perder a autonomia e a realidade de fazer as coisas. Isto é eticamente crucial e está acima da felicidade.

Experiência mental

Fig. 5 — Cartaz do filme Matrix, realizados pelos irmãos Wachowski.

O filme Matrix passa-se num futuro longínquo, num tempo em que máquinas altamente inteligentes dominaram a espécie humana através de um programa de computador, em tudo semelhante à máquina de experiências de que nos fala esta objeção.

Justificação moral das ações

Motivos Consequências

Ética utilitarista de John Stuart Mill

Ética deontológica de Immanuel Kant

Esquema 2 — Fatores moralmente relevantes das ações.

A objeção das dificuldades de cálculoAs dificuldades inerentes ao processo de cálculo do bem-estar recomen-dado pelo utilitarismo é uma das falhas da teoria mais destacadas pelos seus críticos. Em muitas circunstâncias pode ser complicado avaliar qual das ações disponíveis teria maior probabilidade de assegurar a maximização da felicidade. Na sua versão mais extrema, esta crítica pode levar algumas pessoas a dizer não só que é difícil, mas mesmo impossível, medir e com-parar a felicidade de diferentes pessoas.

Como poderemos ter a certeza de que o enorme prazer do sádico não ultra-passa o sofrimento da sua vítima?

Como poderemos comparar o prazer de um adepto fervoroso, que vê a sua equipa marcar um golo, com o deleite que um apreciador de ópera experi-menta ao ouvir a sua ária favorita?

A distinção entre prazeres superiores e inferiores oferece, no melhor dos casos, uma solução parcial do problema.

Proposta de solução das atividades:

1. Os motivos são secundários porque a avaliação moral está centrada nas ações, e não nos agentes. Por isso, o foco primário da avaliação moral são as consequências das ações.

Livromédia:

Atividade interativaObjeções à ética de John Stuart Mill.

LIVRO DO PROFESSOR LIVRO DO PROFESSOR

126 Unidade 5 127A ética utilitarista de John Stuart Mill

5.3.2  Méritos da ética de MillAinda que sujeito a objeções, o utilitarismo tem méritos inegáveis. Considere de seguida alguns deles.

NaturalismoDireitos humanos, regras absolutas, mandamentos divinos e princípios abs-tratos podem ser centrais para muitas pessoas, mas é difícil saber que relação têm com as nossas vidas. Ora, o prazer e a dor que estão na base do utilita-rismo são, por contraste, bem reais nas nossas vidas. Daí que o utilitarista, perante uma pergunta do género «A moralidade é acerca de quê?», responda que é acerca do prazer e como alcançá-lo e acerca da dor e como evitá-la.

SimplicidadeAlguns filósofos encontram no utilitarismo a simplicidade indispensável para tratar de casos complexos. Se pensar nas lutas sociais e políticas, verá que a sua discussão apela a conceitos morais como os de «dever», «direitos» e «culpa» e faz juízos sobre o caráter das pessoas, o que é sempre delicado. Ao ignorar as complicações que daqui resultam, o utilitarismo pode perguntar simplesmente: «Que opções são realizáveis? Para cada uma das opções realizáveis, quantas pessoas beneficiarão e quantas sofrerão? E quanto?» Não é que as respostas a estas questões sejam fáceis. Todavia, é inegável que as questões são simples e claras.

Pesar o prazer e a dorComo o utilitarismo tem de pesar as boas e as más consequências e essa avaliação pode depender de detalhes subtis, poucas são as regras gerais que ele aprova. Regras como «Não mate.», «Não minta.» ou «Cumpra promes-sas.» até podem aplicar-se em muitos casos, mas por vezes são maneiras de fugir às questões e de evitar pensar seriamente sobre elas. Quebrar promes-sas ou matar ocasionalmente pode parecer repulsivo, mas há alguns casos em que é correto quebrar promessas ou matar se desse modo se maximizar a felicidade. A única coisa valiosa é a felicidade da maioria. Por isso, não há lugar para conflitos de valor.

Caso 2

Os acasos de uma expedição botânica atiram Jim para o centro de uma aldeia sul-americana. De repente, vê à sua frente uma série de homens atados e alinhados contra uma parede. Estão prestes a ser fuzilados. Mas tudo dependerá de Jim.

Por cortesia, o capitão que comanda as operações concede-lhe o privilégio de matar um dos índios. Se o fizer, os outros serão liberta-dos. Se recusar a proposta, todos os índios morrerão.

Caso 1

George fez um doutoramento em química mas não tem emprego. A sua saúde frágil limita as opções de trabalho. Tem dois filhos. É o trabalho da sua mulher que garante a subsistência de uma família que vive dificuldades e tensões. Os filhos ressentem-se de tudo isto, e tomar conta deles tornou-se um problema. Mas, um dia, um quí-mico mais velho propõe-lhe um emprego num laboratório que faz investigação em guerra química e biológica. George é contra este tipo de guerra. Já a sua mulher nada vê de incorreto nesse tipo de investigação. Quer aceite quer não, a investigação prosseguirá. George não é realmente necessário.

Experiência mental

Segundo a teoria moral de Mill, George deve aceitar o emprego e Jim deve matar o índio. Não se trata apenas de dizer que nada há de errado nisso, mas de afirmar que essas são as opções corretas e óbvias. Mas será que são realmente corretas e óbvias? Serão as considerações utilitaristas as únicas relevantes para tratar destes casos?

Se a sua resposta for «não», é porque se sente especialmente responsável não só pelo que é, mas também pelo que deve ser — pelo tipo de pessoa que deve ser. E nesse caso é a sua integridade que está em jogo. Se admitir que uma teoria ética não pode limitar-se a ponderar consequências e terá de incluir considerações sobre o tipo de pessoa que devemos ser, o utilitarismo de Mill é claramente insatisfatório.

Atividades

1 O que mostra a objeção da máquina de experiências?

2 Que consequência tem a objeção da justiça?

3 Segundo alguns filósofos, o utilitarismo de Mill tem o mérito da simplicidade. Porquê?

4 «Um dos méritos do utilitarismo é ele ser menos abstrato do que outras teorias.» Concorda? Porquê?

Texto Sobrante

A objeção da justiçaA história que se segue oferece uma razão para rejeitarmos o utilitarismo de Mill.

Um crime horrível ocorreu numa cidade. O chefe da polícia descobriu que o assassino está morto. Todavia, ninguém acreditará nele caso apresente os indícios conclusivos que tem em sua posse. O estado de pânico na cidade é incontrolável. Rapidamente um suspeito terá de ser julgado e condenado. Se tal não acontecer, revoltas semearão o caos e a violência. Haverá certamente mortos e feridos.

Estava o angustiado chefe da polícia a pensar no caso e eis que entra no seu gabinete um desconhecido que lhe diz vaguear pela cidade e não ter relações ou amizades que o prendam ao mundo. O chefe da polícia tem de repente a solução para o caso. Por-que não prender o vagabundo solitário e manipular as provas de maneira que ele seja julgado, condenado e executado, uma vez que a lei estabelece a pena de morte para casos do género? Ninguém saberá o que de facto se passou.

Se for esta a opção, morrerá uma pessoa, mas a vida e o bem-estar de outras serão preser-vados. A consequência será claramente mais felicidade para o maior número.

Ora, se o utilitarismo for verdadeiro, esta é a opção certa. Mas será a opção justa? Não haverá aqui um conflito muito sério entre o padrão utilitarista e o valor da justiça?

Experiência mental

Fig. 6 — Cartaz do filme Medidas Extremas (1996), realizado por Michael Apted.

Este filme mostra que a maximização da felicidade, caso não esteja sujeita a restrições claras, pode implicar escolhas morais claramente condenáveis.

A objeção da integridadeAs histórias em que se baseia esta objeção poderiam passar-se consigo. Os dilemas que elas apresentam são genuínos e não deixam pessoa alguma indiferente.

Debate

1 O utilitarismo não dá lugar a conflitos de valor. Isso será uma vantagem ou uma desvantagem?

2 A teoria moral de Kant, que em seguida irá estudar, defende que os homens são fins em si. Será que esta ideia pode corrigir alguns defeitos do utilitarismo? Justifique a sua resposta.

3 O que faria num caso em que aliviar a dor de uma só pessoa diminui a felicidade de todos os envolvidos? Justifique a sua resposta.

Proposta de solução das atividades:

1. Mostra que há coisas mais valiosas do que a felicidade — é o caso da autonomia e da realidade de fazer as coisas. Essa experiência mental permite averiguar se o desejo de felicidade tem mais importância do que outros desejos. Como não tem, a situação imaginária é um exemplo contrário ao princípio da maior felicidade.

2. Tem a consequência de diminuir a importância do princípio da maior felicidade perante o valor da justiça. Em caso de conflito entre um e outro, o valor da justiça é mais forte.

3. Porque não se apoia em considerações morais que habitualmente complicam o processo de decisão. Considerações de dever e culpa, por exemplo, tornam o debate moral especialmente delicado.

4. Sim. O prazer e a dor são factos naturais da vida dos seres humanos. Por isso, a moralidade tem implicações nas vidas concretas dos seres humanos. Isto significa que não é um assunto abstrato sobre regras, direitos e princípios.

Proposta de exploração do debate:(continuação):

2. • Proporcionar aos alunos uma compreensão básica da ideia de homem como fim em si mesmo.• Levar os alunos a ponderar a hipótese de a dignidade inviolável do ser humano, expressa pela ideia de homem como fim em si, ser uma restrição à promoção das melhores consequências.

3. • Levar os alunos a testar duas hipóteses: a hipótese de simetria moral entre dor e prazer e a hipótese de assimetria moral entre dor e prazer.• Estimular a capacidade de inferir consequências das duas hipóteses.• Proporcionar uma avaliação da ética de Mill a partir das duas hipóteses: a hipótese de simetria moral apoia o utilitarismo de Mill; mas a hipótese de assimetria, em que a dor é mais importante do que o prazer, apoia um outro tipo de utilitarismo — o utilitarismo negativo.

Livromédia:

Atividades interativasOs méritos da ética de Mill.Objeções e méritos da ética de Mill.

Proposta de exploração do debate:

1. • Estimular a reflexão sobre a relação entre o princípio da maior felicidade e outros princípios e valores.• Avaliar a hipótese de uma hierarquia de valores estável em que todos os valores se subordinariam à felicidade e ao princípio da maior felicidade.

LIVRO DO PROFESSOR LIVRO DO PROFESSOR

128 Unidade 5 129A ética utilitarista de John Stuart Mill

Ideias-chave

A ética utilitarista de John Stuart Mill

• O utilitarismo é uma teoria que procura encontrar resposta para a seguinte pergunta: qual é a ação moralmente correta?

• O utilitarismo é uma teoria ética consequencialista; defende, por isso, que a ação moralmente correta é a que produz as melhores consequências.

• O princípio básico do utilitarismo é o princípio da maior feli-cidade (ou princípio da utilidade).

• O princípio da maior felicidade defende que é moralmente correta a ação que produz a maior felicidade para o maior número de pessoas.

• O cálculo da felicidade deve ser imparcial, ou seja, a felici-dade de uma pessoa particular não conta mais nem menos do que a de qualquer outra.

• O utilitarismo de Mill contrasta fortemente com o egoísmo ético.

• O utilitarismo de Mill é uma teoria exigente, pois temos sem-pre a obrigação de atender imparcialmente à felicidade.

• O utilitarismo de Mill apresenta uma perspetiva hedonista da felicidade, isto é, a felicidade consiste no prazer e na ausên-cia de dor.

• O utilitarismo de Mill não é apenas quantitativo, uma vez que tem também em conta a qualidade dos prazeres.

• Mill defende que há prazeres superiores (intelectuais) e pra-zeres inferiores (corporais).

• O argumento de Mill a favor do princípio da utilidade não é persuasivo; isto porque: a visibilidade é um conceito descri-tivo e a desejabilidade é um conceito normativo; pressupõe que tudo o que as pessoas desejam como fim último é a sua própria felicidade; infere aquilo que se deve desejar a partir daquilo que de facto se deseja; por fim, ainda que seja ver-dade que a única coisa desejável como fim último para cada pessoa seja a sua própria felicidade, daí não se segue que cada pessoa deve realizar as ações que promovem a maior felicidade.

• Alguns filósofos procuraram defender o argumento de Mill, afirmando que ele oferece um indício a favor da ideia de que a felicidade é desejável como fim último, mas não uma prova conclusiva de que esta ideia é verdadeira.

• O utilitarismo é considerado por muitos uma teoria que con-traria as nossas intuições morais e que parece, simultanea-mente, demasiado exigente e demasiado permissiva.

• O utilitarismo de Mill enfrenta a objeção de que a autonomia e a realidade são mais importantes do que a felicidade — objeção da máquina de experiências.

• O utilitarismo de Mill é enfraquecido por permitir ações que maximizam a felicidade, mas contrariam o valor da justiça — objeção da justiça.

• O utilitarismo de Mill enfrenta a dificuldade de calcular qual das ações disponíveis tem uma maior probabilidade de maxi-mizar a felicidade — objeção das dificuldades de cálculo.

• O utilitarismo de Mill é enfraquecido por se limitar a ponde-rar consequências, excluindo considerações sobre o tipo de pessoa que devemos ser — objeção da integridade.

• O utilitarismo de Mill tem o mérito de estabelecer a moralidade numa base natural, de tal modo que a moralidade é tratada como uma dimensão real das nossas vidas, pois envolve o facto natural de termos dor e prazer — mérito do naturalismo.

• O utilitarismo de Mill tem o mérito de dispensar perguntas complicadas sobre direitos e culpa, por exemplo, e de se ocupar apenas com questões mais simples, como as de saber que opções são realizáveis e qual dessas opções tem as melhores consequências — mérito da simplicidade.

• O utilitarismo de Mill tem o mérito de evitar conflitos de valor e de simplificar a tomada de decisões, uma vez que a felicidade é a única coisa valiosa — mérito de pesar boas e más consequências sem estar sujeito a regras gerais.

Esquema conceptual

A ética utilitarista de John Stuart Mill

Será que a avaliação moral de uma ação depende apenas das suas consequências?

Não.

Sim.

Deontologia

Consequencialismo

Ex.: UtilitarismoJohn Stuart Mill

defende o

Princípio da maior felicidade

A ação correta é aquela que promove a felicidade do maior número.

Imparcialidade

A felicidade de cada um não conta mais do que a felicidade de qualquer outra pessoa.

Hedonismo

A felicidade consiste no prazer e na ausência de dor.

baseia-se norequer

Distinção qualitativa do prazer

Prazeres superiores Prazeres inferiores

Sugestões

Leituras:

Mill, John Stuart — Utilitarismo. Lisboa: Gradiva, 2005 [ed. original 1861].

Rachels, James — Elementos de Filosofia Moral. Lisboa: Gradiva, 2004 [ed. original 2003], caps. 7 e 8.

singeR, Peter — «O Que a Ética É: Uma Perspectiva», in Ética Prática. Lisboa: Gradiva, 2002 [ed. original 1993].

WaRbuRton, Nigel — «Bem e Mal», in Elementos Básicos de Filosofia. Lisboa: Gradiva, 2007 [ed. original 1995], 2.a edição.

WaRbuRton, Nigel — «John Stuart Mill, Utilitarismo», in Grandes Livros de Filosofia. Lisboa: Edições 70, 2001 [ed. original 1998].

WilliaMs, Bernard — «Uma Crítica ao Utilitarismo», in Almeida, A. e Murcho, D. (org.) Textos e Problemas de Filosofia. Lisboa: Plátano Editora, 2006 [ed. original 1973].

Filmes:

Medidas Extremas (1996), realizado por Michael Apted.

Gattaca (1997), realizado por Andrew Nicol.

Páginas da Internet:

http://criticanarede.com/teleologicas.html (artigo «Éticas Teleológicas», de Thomas Hurka)

http://criticanarede.com/eti_mill.html (artigo «A Ética de John Stuart Mill», de Faustino Vaz)

Caderno de atividades:

Sugere-se a realização das atividades de enriquecimento (p. 18) e da ficha de escolha múltipla (p. 20).

Livromédia:

Páginas da Internet«Éticas Teleológicas», de Thomas Hurka.«A Ética de John Stuart Mill», de Faustino Vaz.

EducatecaGuiões de exploração dos filmes.

LIVRO DO PROFESSOR LIVRO DO PROFESSOR

131A ética utilitarista de John Stuart MillUnidade 5130

TESTE FORMATIVO 5

  1.  O utilitarismo de Mill procura dar resposta à exigência de consideração imparcial dos seres humanos.

  2.  O utilitarismo é uma forma de deontologia.

3. O utilitarismo de Mill é uma teoria de tipo teleológico.

4. O conceito de bem é irrelevante no utilitarismo de Mill.

5. O utilitarismo de Mill defende restrições à promoção do bem.

  6.  O princípio da maior felicidade ou princípio da utilidade afirma que a ação correta é a que maximiza a felicidade para o maior número.

  7.  A forma como a felicidade se distribui é um aspeto central do utilitarismo de Mill.

  8. Para Mill, a felicidade de uma pessoa com quem temos uma relação de amizade conta mais do que a felicidade de uma pessoa distante.

  9. O utilitarismo de Mill contrasta fortemente com o egoísmo ético.

 10. A satisfação do interesse próprio é relevante no utilitarismo de Mill.

11. Segundo alguns críticos, o utilitarismo de Mill é demasiado exigente por defender a consideração imparcial da felicidade.

 12. O bem, segundo Mill, consiste na satisfação do interesse próprio.

 13. O bem, segundo Mill, consiste na felicidade.

 14.  A avaliação moral de uma ação depende das suas consequências.

15. A avaliação moral de uma ação depende do respeito por certos limites à promoção das melhores consequências.

 16.  Mill pensa que a moralidade de uma ação depende do cumprimento de regras abstratas.

 17.  Defender a felicidade do maior número geralmente implica apoiar reformas sociais que promovam a igualdade e a liberdade.

 18.  O hedonismo de Mill consiste na ideia de que a felicidade é um estado mental de prazer e de ausência de dor.

 19.  O hedonismo de Mill é quantitativo.

20.   O hedonismo de Mill distingue prazeres superiores de prazeres inferiores.

 21. Para Mill, o prazer de comer tem a mesma importância moral que o prazer de apreciar a beleza.

 22. Mill prefere um Sócrates insatisfeito a um tolo satisfeito.

 23. O que conta mais é a duração e a intensidade do prazer.

 24.  O que conta mais é o tipo de prazer.

25.  Segundo Mill, uma vida limitada a prazeres baixos com grande intensidade e duração é sempre pior do que uma vida de prazeres elevados com pouca intensidade e duração.

 26. O argumento de Mill em defesa do princípio da maior felicidade é válido.

 27. A analogia entre visibilidade e desejabilidade, que o argumento de Mill faz, é boa.

 28. Mill está errado quando afirma que desejar uma coisa prova que ela é desejável.

CLASSIFIQUE AS AFIRMAÇÕES SEGUINTES COMO VERDADEIRAS OU FALSAS. 29.  A premissa «a única coisa que cada pessoa deseja como fim último é a sua própria felicidade.» é falsa.

 30.  O facto de haver pessoas que sacrificam a sua qualidade de vida para ajudar pessoas vulneráveis à pobreza mostra que a premissa da afirmação anterior é falsa.

 31.  Se o conhecimento ou o bem-estar dos outros têm importância intrínseca, então a felicidade própria não é o fim último que cada pessoa deseja.

 32.  Da premissa «a única coisa que cada pessoa deseja como fim último é a sua própria felicidade» segue-se que «a única coisa que é desejável como fim último para cada pessoa é a sua própria felicidade».

 33.  Se é um facto que as pessoas apenas podem desejar a sua própria felicidade, então faz sentido dizer que elas devem maximizar a felicidade geral.

 34. O argumento de Mill é uma prova que garante o princípio da maior felicidade.

 35. O argumento de Mill fornece apenas um indício a favor do princípio da maior felicidade.

36. Segundo Mill, os motivos são relevantes na avaliação moral.

37. Mill considera que o valor dos agentes é relevante na avaliação moral.

38. Mill defende que só as consequências são decisivas na avaliação moral.

 39. Uma ação com as melhores consequências, mas realizada por motivos egoístas, está moralmente justificada se adotarmos a teoria moral de Mill.

40. A distinção entre tipos de prazer é uma solução satisfatória para a dificuldade de calcular as consequências.

 41.  Se a teoria moral de Mill afirma que uma dada ação é correta e os nossos juízos dizem que é errada, temos indícios para defender que a teoria é falsa.

 42.  O cálculo das consequências aprazíveis é uma tarefa fiável.

 43.  Não há um método para medir o prazer, nem para comparar tipos de prazer.

 44.  A objeção da máquina de experiências favorece a ideia de que a felicidade está acima da realidade e da autonomia de fazermos as coisas.

 45.  A objeção da máquina de experiências mostra que a autonomia é mais importante do que a felicidade.

 46.  A objeção da justiça mostra que a o utilitarismo de Mill entra em conflito com o valor da justiça.

 47.  A objeção da justiça mostra que as nossas intuições de justiça estão em harmonia com a teoria utilitarista.

 48.  A objeção da integridade mostra que as consequências são o único fator moralmente relevante.

 49.  A objeção da integridade mostra que também somos responsáveis pelo tipo de pessoa que devemos ser, e não apenas pelas consequências das nossas ações.

 50. A teoria de Mill está sempre de acordo com as nossas intuições morais.

SOLUÇÕES: 1. V; 2. F; 3. V; 4. F; 5. F; 6. V; 7. F; 8. F; 9. V; 10. F; 11. V; 12. F; 13. V; 14. V; 15. F; 16. F; 17. V; 18. V; 19. F; 20. V; 21. F; 22. V; 23. F; 24. V; 25. V; 26. F; 27. F; 28. V; 29. V; 30. V; 31. V; 32. F; 33. F; 34. F; 35. V; 36. F; 37. F; 38. V; 39. V; 40. F; 41. V; 42. F; 43. V; 44. F; 45. V; 46. V; 47. F; 48. F; 49. V; 50. F.

Solução do teste formativo:

1. V2. F3. V4. F5. F6. V7. F8. F9. V10. F11. V12. F13. V14. V15. F16. F17. V18. V19. F20. V21. F22. V23. F24. V25. V26. F27. F28. V29. V30. V31. V32. F33. F34. F35. V36. F37. F38. V39. V40. F41. V42. F43. V44. F45. V46. V47. F48. F49. V50. F

Livromédia:

EducatecaSugere-se a realização do teste sumativo 5.