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1991 . 2012 36 ABPMC | junho de 2012 | n. 36 | ISSN 2178-583X Editorial Contribuições da Diretoria 2012: relato da experiência do primeiro semestre de gestão da ABPMC Alguns processos comportamentais envolvidos no ensino de análise de contingências: o papel do comportamento intraverbal, do tato e da abstração O que é a Terapia de Aceitação e Compromisso? Análise do comportamento e análise da cultura: onde estamos e para onde vamos? O autismo em foco Introdução à Economia Comportamental para analistas do comportamento Reflexões sobre o estudo da política pela análise do comportamento Tradução de artigo Ativação Comportamental: história, evidência e promessa Arte em Contexto O brincar necessário: falando da vida com as crianças via histórias infantis

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1991 . 2012

36

ABPMC | junho de 2012 | n. 36 | ISSN 2178-583X

EditorialContribuições da Diretoria 2012: relato da experiência do primeiro semestrede gestão da ABPMC

Alguns processos comportamentais envolvidos no ensino de análise decontingências: o papel do comportamento intraverbal, do tato e da abstração

O que é a Terapia de Aceitação e Compromisso?

Análise do comportamento e análise da cultura:onde estamos e para onde vamos?

O autismo em foco

Introdução à Economia Comportamental para analistas do comportamento

Reflexões sobre o estudo da política pela análise do comportamento

Tradução de artigoAtivação Comportamental: história, evidência e promessa

Arte em ContextoO brincar necessário: falando da vida com as crianças via histórias infantis

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PresidenteClaudia Kami Bastos Oshiro (USP - São Paulo)

Vice-PresidenteGiovana Del Prette (IPq-USP e Núcleo Paradigma - São Paulo)

Primeira SecretáriaAriene Coelho Souza (USP - São Paulo)

Segunda SecretáriaGiovana Veloso Munhoz da Rocha (UTP e FEPAR - Curitiba)

Primeira TesoureiraFátima Aparecida Miglioli Fernandez Tomé

Segunda TesoureiraElaine Cristina Catão

Conselho ConsultivoFrancisco Lotufo Neto (IPq/HC/FMUSP - São Paulo)Deisy das Graças de Souza (UFSCar, São Carlos)Denis Roberto Zamignani (Núcleo Paradigma - São Paulo)Regina Christina Wielenska (HU/USP e AMBAN/IPq/HC/FMUSP - São Paulo)Sonia Beatriz Meyer (USP - São Paulo)Vera Regina L. Otero (Clínica Ortec – Ribeirão Preto)

Membros Permanentes do Conselho ConsultivoBernard Pimentel Rangé (UFRJ – Rio de Janeiro)Hélio José Guilhardi (ITCR - Campinas)Roberto Alves Banaco (PUC-SP e Núcleo Paradigma - São Paulo)Rachel Rodrigues Kerbauy (USP - São Paulo)Maria Zilah Brandão (PSICC - Londrina)Wander Pereira da Silva (IBMEC - Brasília/DF)Maria Martha Hübner (USP - São Paulo)

Membros HonoráriosRachel Rodrigues Kerbauy (USP - São Paulo)João Claudio Todorov (IESB - Brasília/DF)Isaías Pessotti (USP – Ribeirão Preto)

Diretoria ABPMC – Gestão JUNHO/2012

Boletim ContextoUma publicação eletrônica da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC).São Paulo, n. 36, junho de 2012.

Coordenação editorialAlessandra Villas-Bôas (USP - São Paulo)Jan Luiz Leonardi (Núcleo Paradigma - São Paulo)

Colaboração especialClaudia Kami Bastos Oshiro (USP - São Paulo)

Projeto gráfico e diagramaçãoFG1 Comunicação Interativa

Expediente

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Editorial Contribuições da Diretoria 2012: relato da experiência do primeiro semestre de gestão da ABPMCClaudia Kami Bastos Oshiro

Alguns processos comportamentais envolvidos no ensino de análise de contingências: o papel do comportamento intraverbal, do tato e da abstração.Denigés Maurel Regis NetoFernando Albregard Cassas

O que é a Terapia de Aceitação e Compromisso?Desirée da Cruz Cassado

Análise do comportamento e análise da cultura: onde estamos e para onde vamos?Christian Vichi

O autismo em focoLygia T. Dorigon

Introdução à Economia Comportamental para analistas do comportamentoAna Carolina Trousdell FranceschiniDiogo Conque Seco Ferreira

Reflexões sobre o estudo da política pela análise do comportamentoLuana Hamilton

Tradução de artigo Ativação Comportamental: história, evidência e promessaJonathan W. Kanter, Ajeng J. Puspitasari, Maria M. Santos and Gabriela A. Nagy

Arte em Contexto O brincar necessário: falando da vida com as crianças via histórias infantisLaércia Abreu Vasconcelos

Sumário

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Prezados sócios, colaboradores e amigos,

É com grande satisfação que escrevo este texto que dará início

ao nosso relato de como tem sido a condução da ABPMC neste primeiro

semestre de 2012. Sinto-me honrada por estar à frente da ABPMC,

associação que hoje se encontra no seu 21º ano de vida. Como é de

conhecimento de todos vocês, a ABPMC conseguiu proporcionar, ao

longo dos anos de sua existência, uma interação reforçadora e

produtiva para seus participantes em suas respectivas áreas. Fred

Keller, Carolina Bori, Maria Amélia Matos e outros pesquisadores

contribuíram ativamente para formar uma geração capacitada a dar

continuidade aos trabalhos desenvolvidos na Psicologia.

Durante vinte anos, líderes de nossa área, como Bernard

Pimentel Rangé, Hélio José Guilhardi, Rachel Rodrigues Kerbauy,

Roberto Alves Banaco, Maria Zilah Brandão, Wander Pereira da Silva,

Maria Martha Hübner, trabalharam como presidentes da ABPMC para

que a nossa associação se fortalecesse. Não posso deixar de enfatizar o

trabalho exaustivo dos presidentes dos Encontros, peças

fundamentais na condução, divulgação e disseminação de nossa área

ao garantir eventos de alto nível científico.

Com o objetivo de dar continuidade aos trabalhos desenvolvidos

ao longo dos anos de ABPMC, em agosto de 2011, um grupo liderado

EditorialContribuições da Diretoria 2012: relato da experiência do primeiro semestre de gestão da ABPMC

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por pesquisadoras da Universidade de São Paulo (USP), se uniu para

investir em uma nova geração de analistas do comportamento. Foi

neste cenário que eu, Giovana Del Prette, Ariene Coelho Souza,

Giovana Veloso Munhoz da Rocha, Fátima Ap. M. F. Tomé e Elaine Catão

fomos eleitas para compor a nova diretoria.

Entusiasmadas com a possibilidade de aumentarmos as

respostas cooperativas e integrativas entre nossos membros e a

coesão interna, nossa proposta de gestão foi sintetizada na sentença

“Interatividade: Avanço da Ciência para o Desenvolvimento Sustentável”.

Assim, nosso trabalho enfatiza a importância de melhorar a

comunicação entre os diversos pesquisadores brasileiros e

estrangeiros, entre a população leiga e científica, com vistas ao

fortalecimento do grupo e do conhecimento científico. A partir disso,

nossa prática, em última análise, objetiva a melhoria das relações

humanas e da cultura para um mundo melhor, sustentável e humano.

Para colocarmos em prática o que a nossa proposta significava,

fizemos um levantamento inicial para identificar as possíveis demandas

da ABPMC. Na tentativa de continuarmos os trabalhos de gestões

passadas no que diz respeito à organicidade da associação, priorizamos

a resolução de questões internas de funcionamento, tais como

questões jurídicas e redução de custos mensais. O principal acerto

jurídico foi com relação ao nosso mandato complementar com duração

de um ano (2012). Devido à alteração do nome da ABPMC (em

01/12/2010), cuja denominação social passou a ser Associação

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Brasileira de PSICOLOGIA e Medicina Comportamental, o período de

gestão da diretoria anterior foi modificado e, consequentemente, a

nossa diretoria se constituiu como uma gestão complementar, na

tentativa de acertarmos novamente o fluxo dos biênios. Feito isso,

seguimos para a redução de custos. Este último item era um grande

desafio porque a ABPMC já funcionava com um orçamento enxuto. Para

isso, tomamos algumas medidas, tais como: a transferência de sede

para um local sem custo, a dispensa de secretária, a regra de adotarmos

três orçamentos para fecharmos qualquer prestação de serviço e

estudos de viabilidade financeira das possíveis cidades-sede do XXI

Encontro.

A função de presidir o XXI Encontro de Psicologia e Medicina

Comportamental coube à Giovana Munhoz da Rocha, desafio assumido

com coragem e alegria. Giovana tinha a experiência de ter organizado

com sucesso a XL Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia,

em Curitiba, no ano de 2010. Em termos operacionais, a proposta de

Curitiba também se alinhava com o cuidado financeiro que estávamos

tendo com a ABPMC. Primeiro, estando a presidente do XXI Encontro na

mesma cidade do evento teríamos a vantagem de reduzir os custos de

viagens, telefonemas, além de facilitar a coordenação da equipe de

voluntários. Segundo, muitos locais haviam sido consultados e

estávamos com alguns critérios selecionados para avaliarmos a

estrutura que cada cidade oferecia: datas disponíveis, local, número de

salas, logística de transporte, alimentação, hotelaria, pontos turísticos.

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Felizmente, Curitiba oferecia uma rede hoteleira ampla e variada,

atendendo a todas as faixas de clientela. Apresentava restaurantes dos

mais variados tipos de cozinha, com preços acessíveis. A malha aérea

conectava-se com todas as capitais brasileiras, bem como a malha

rodoviária, que apresentava várias opções de acesso à cidade.

Tínhamos atrações turísticas variadas, que iam de museus a parques;

estávamos a apenas uma hora do litoral, no qual encontrávamos

passeios em pontos históricos e culinária típica. Curitiba tinha ainda

uma vida noturna intensa, o que também fazia parte de grandes

encontros.

O Encontro Anual já foi realizado nas cidades de: Campinas - SP

(9 anos); São Paulo-SP (2 anos); Águas de Lindóia-SP (1 ano); Santos-SP

(1 ano); Rio de Janeiro- RJ (1 ano) ; Brasília-DF (2 anos); Londrina (2

anos); Campos do Jordão-SP (1 ano) e Salvador-BA (1 ano). Com

exceção de Brasília, Londrina e Salvador, todas as outras edições do

Encontro foram na região Sudeste. Apesar de a ABPMC possuir fortes

núcleos no Norte/Nordeste (Salvador, Fortaleza, Teresina, Maceió, São

Luís, Belém do Pará, Aracajú) e no Sul (Londrina, Curitiba, Florianópolis),

o evento ocorreu apenas duas vezes na região Sul (Londrina-PR). Dado

que no ano passado o Encontro Anual foi realizado no nordeste

(Salvador-BA), para este ano, pudemos trazê-lo para o Sul. Além dos

fatores operacionais supracitados, a cidade de Curitiba nos permitiu

continuarmos alinhados com a proposta de promover a Análise do

Comportamento e a Terapia Cognitivo-comportamental em

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diferentes regiões do país (saímos do Nordeste em 2011, para o Sul em

2012); vale lembrar que Curitiba nunca teve a oportunidade de receber

um Encontro Brasileiro da ABPMC. Com os custos reduzidos em 2012,

poderíamos nos preparar financeiramente para um grandioso XXI

Encontro!

Enfim, com esses temas resolvidos, partimos para a nossa

interatividade! Criamos a “Interatividade ABPMC” ou, como nomeamos

informalmente, o “Exército ABPMC”, que consiste em uma rede de

contatos com profissionais de todo o Brasil dispostos a divulgar nossa

associação e formar parcerias. A Figura 1 apresenta as universidades

que foram contatadas por região do Brasil. Temos espalhados pelo

território brasileiro muitos associados, professores universitários

dispostos a trabalhar em prol da ABPMC.

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Figura 1. Distribuição da “Interatividade ABPMC” ao longo das regiões dos estados brasileiros. As siglas representam os estados brasileiros e uma amostra das universidades contatadas.

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Seguindo nossa proposta de interatividade, em fevereiro de

2012, fizemos um pronunciamento intitulado “Interatividade entre

Psicologia e Medicina Comportamental e Cognitiva” em resposta à

matéria publicada pelo jornal o Estado de São Paulo que destacou uma

afirmativa equivocada do Presidente do Conselho Federal de Medicina,

o Dr. Roberto Luiz D´Avila, sobre a Psicologia. Mantivemos o que foi

implementado pela gestão de 2008/2009: responder oficialmente às

críticas ou equívocos que envolvem nossa área.

Iniciamos também nosso contato com o Grupo de Trabalho (GT)

das Jacs (Jornadas de Análise do Comportamento) e Eacs (Encontros

de Análise do Comportamento) com o objetivo de estabelecermos

parcerias futuras. Surgiu, então, nas discussões do GT, a “Parceria

ABPMC-Eventos Regionais”, cujo objetivo é atrelar os projetos da

ABPMC Comunidade aos eventos regionais que ocorrem por todo o

Brasil.

O programa ABPMC Comunidade vem sendo realizado com

sucesso pelas diretorias anteriores, que firmaram parcerias com

instituições e profissionais. Para dar continuidade a este programa,

nossa diretoria propôs que este conjunto de ações seja desenvolvido

também em parceria com os organizadores dos eventos regionais do

Brasil (JACs e EACs) para que seja garantida a sua ocorrência durante

todo o ano e nas mais diversas regiões do território nacional. A proposta

atual, portanto, articula-se em duas categorias: 1) realização de um

ciclo de palestras para a comunidade e para os profissionais e, 2)

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capacitação de profissionais em escolas, instituições organizacionais e

de saúde. Esta parceria contará com o apoio da ABPMC na elaboração e

execução do projeto. As conversas estão a topo vapor! Teremos

novidades para o próximo número do Boletim Contexto!

Outra frente importante para a ABPMC Comunidade que temos

investido é a “conversa” (iniciada na ABAI Granada em novembro de

2011) com o pesquisador Dr. Fergus Lowe, diretor do Bangor Food and

Activity Research Unit – BFARU, da Bangor University, Reino Unido. Na

ABA Seattle, eu tive a oportunidade de marcar uma reunião com o Dr.

Lowe e Dra. Pauline Horne (também diretora do BFARU) para discutir a

viabilidade de realizar o “Food Dude Programme” no Brasil. Este

programa enfatiza a mudança dos hábitos alimentares em crianças com

idades entre 4 e 11 anos para que eles se mantenham ingerindo uma

dieta equilibrada durante a vida. O programa prega que para alterar as

dietas de crianças para a vida é necessário que você encontre uma

maneira de incentivá-los a comer e a se divertir. O procedimento

envolve um conjunto de etapas que giram em torno de um sistema de

recompensa, aventuras emocionantes em DVD e repetidas

degustações. Atualmente, o programa tem produzido dados empíricos

interessantes sobre a sua eficácia e tem obtido sucesso no Reino

Unido, Europa e EUA (mais de 300.000 crianças já participaram). Devido

aos escassos recursos financeiros da ABPMC, neste momento,

estamos avaliando a viabilidade financeira para iniciarmos um pequeno

estudo piloto em uma escola municipal de Piracicaba/SP na tentativa de

angariarmos futuros patrocinadores.

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No que concerne ao aumento da representatividade mundial da

ABPMC, temos estabelecido novos contatos com associações da

América Latina, o que inclui a ALAMOC (Asociación Latino Americana de

Análisis, Modificación Del Comportamiento y Terapia Cognitiva

Conductual) e uma possível participação da ABPMC no 7º. Congreso

Mundial de Terapias Conductuales y Cognitivas, a ser realizado no Peru. A

postura adotada nestas negociações é a de apresentarmos para um

público mundial o conhecimento produzido por pesquisadores e

profissionais representados pela ABPMC. É importante lembrar que a

Profa. Dra. Maria Martha Hübner é a Representante Internacional no

Conselho Executivo da ABA (Association for Behavior Analysis) e vem

trabalhando intensamente na disseminação de nossa área. O pôster

intitulado “Association for Behavior Analysis of Brazil: 21 years old and a

leader in South America”, apresentado em maio de 2012 no 38th Annual

Convention da ABA em Seattle mostrou o quanto o nosso grupo cresce

a cada ano.

Nossas publicações também estão a todo vapor. Inicialmente,

optamos em manter as equipes de editores do Boletim Contexto,

Comportamento em Foco e Revista Brasileira de Terapia

Comportamental e Cognitiva (RBTCC). Devido à alteração da diretoria,

alguns editores haviam assumido outros compromissos e novos

membros foram convidados a participar da equipe. Por exemplo, no

Boletim Contexto, pudemos contar com a permanência de Jan

Leonardi e com o aceite entusiasmado de Alessandra Villas-Bôas, cuja

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experiência de editoração foi adquirida ao lado do Prof. Gerson

Tomanari, na condução da revista Temas em Psicologia. Também

tivemos que selecionar uma nova equipe de editores para o volume 3 do

Comportamento em Foco e nos baseamos no critério de que os

editores deveriam pertencer a diferentes áreas: clínica, experimental,

cultura, controle de estímulos. Foi assim que Christian Vichi, Edson

Huziwara, Hérika Sadi e Lídia Postalli aceitaram a tarefa de conduzir o

volume 3.

Outra boa notícia é que a Revista Brasileira de Terapia

Comportamental e Cognitiva (RBTCC) é quadrimestral e subiu de B3

para B1 na avaliação QUALIS, fruto do intenso trabalho dos editores

Francisco Lotufo Neto, Paulo Roberto Abreu, Marcos Roberto Garcia,

Pedro Bordini Faleiros e Eduardo Neves Pedrosa de Cillo.

Sabemos que a ABPMC é uma sociedade científica sem fins

lucrativos e que sobrevive da arrecadação da anuidade, afiliação de

institutos e de doações de poucos sócios-patrocinadores. Têm sido

recorrentes os esforços das diretorias para aumentar o número de

associados e garantir um gerenciamento mais tranquilo da associação.

E como nós poderíamos atingir esta meta em nossa gestão?

Durante a discussão de planos de ação, encontramos uma

diversidade interessante entre os membros da nossa diretoria: ela era

composta por uma geração de jovens profissionais acadêmicos,

professores universitários e estudantes de pós-graduação que

conviviam intensamente com as diferentes necessidades de cada

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ambiente. Havíamos presenciado, em passado recente, os correntes

desacordos relacionados aos valores da inscrição nos Encontros da

ABPMC e o baixo número de sócios estudantes. Urgia a necessidade de

conquistarmos nossos estudantes para que eles entrassem em

contato com o conhecimento científico tão bem produzido pela nossa

área, além de criarmos um sentimento de: “a ABPMC é a sua

comunidade”. Os estudantes precisavam tomar consciência de que

eles são a maioria nos Encontros e que, se eles se associassem,

poderiam participar ativamente das decisões e trabalhar em prol da

ABPMC. Então, como manteríamos a ABPMC e faríamos um Encontro

de qualidade e acessível aos nossos associados, principalmente aos

estudantes?

Embora cautelosas com o financeiro, topamos o desafio:

revisamos os custos da ABPMC, selecionamos onde os cortes

ocorreriam, “apertamos os cintos” para economizarmos no que era

possível e chegamos a um valor extremamente acessível aos

estudantes. Na nossa avaliação, este valor era um meio termo entre

uma inscrição com valor justo para esta categoria e um valor que arcaria

com os custos do Encontro/ABPMC. Assim, permitiríamos que jovens

talentos tivessem a oportunidade de mostrar seus trabalhos,

renovando a força produtiva e criativa que move o desenvolvimento da

nossa área. A próxima preocupação era de como lançaríamos uma

campanha de impacto.

Para isso, fizemos uma promoção no mês de março, com

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duração de 20 dias, para tornar os valores de anuidade e inscrição mais

acessíveis aos estudantes de graduação e pós-graduação. Para que a

campanha abrangesse, em curto período de tempo, todo o Brasil, nós

acionamos o exército “Interatividade-ABPMC” e ficamos felizes com a

prontidão e entusiasmo das pessoas. O sucesso de nossa promoção

era certo!

Após os 20 dias, ao selecionarmos a categoria ESTUDANTE

(graduação e pós) verificamos que, do total de 1619 estudantes sócios e

inscritos no XXI Encontro, 1184 (73%) eram da graduação e 435 (27%)

eram da pós-graduação. A Figura 2, a seguir, mostra a distribuição da

categoria ESTUDANTE pelas regiões do Brasil. Fica evidente a intensa

participação de estudantes da região Sul (45%) e Sudeste (33%),

tendência já observada em outros Encontros Anuais.

11

Figura 2. Distribuição dos estudantes de graduação e pós-graduação pelas regiões brasileiras (sul, sudeste, centro-oeste, norte e nordeste) que se associaram à ABPMC e se inscreveram no XXI Encontro durante os 20 dias da promoção relâmpago.

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As Figuras 3 e 4 apresentam, separadamente, a distribuição dos

estudantes de graduação e de pós-graduação que se associaram à

ABPMC e se inscreveram no XXI Encontro, durante a promoção

relâmpago. Ao refinarmos nossos olhares para as subcategorias

ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO e ESTUDANTES DE PÓS-

GRADUAÇÃO, encontramos diferenças interessantes: os pós-

graduandos da região sudeste (53%) se inscreveram e se associaram

em peso!

Quando comparamos os dados parciais de inscritos no XXI

Encontro em Curitiba-PR com os mesmos dados dos dois últimos

Encontros, o de Campos do Jordão-SP e o de Salvador-BA, nota-se a

tendência de que as pessoas que se localizam na mesma região do

Encontro se inscreverão em maior número. A Figura 5, a seguir, ilustra

isto: o Encontro de Curitiba conta com a participação de 43% de

pessoas da região Sul, contra 7% em Salvador e 15% em Campos do

12

F i g u r a 3 . D i s t r i b u i ç ã o d o s estudantes de graduação pelas regiões brasileiras (sul, sudeste, centro-oeste, norte e nordeste) que se associaram à ABPMC e se inscreveram no XXI Encontro durante os 20 dias da promoção relâmpago. N= 1184.

F i g u r a 4 . D i s t r i b u i ç ã o d o s estudantes de pós-graduação pelas regiões brasileiras (sul, sudeste, centro-oeste, norte e nordeste) que se associaram à ABPMC e se inscreveram no XXI Encontro durante os 20 dias da promoção relâmpago. N= 435.

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Jordão, na mesma região. Entretanto, quando o Encontro foi em

Salvador, por exemplo, tivemos uma expressiva participação das

pessoas da região Nordeste (34% contra 10% em Curitiba e 6% em

Campos do Jordão – região nordeste).

Esses dados fortalecem o papel da ABPMC na disseminação do

conhecimento científico produzido e fornecem subsídios para que o

nosso Encontro continue com um caráter itinerante, “viajando” pelas

diversas regiões do país.

Vamos agora considerar as anuidades de 2012. Dois meses

depois do término da promoção relâmpago, pudemos fazer a contagem

da anuidade por categorias (estudante de graduação, pós-graduação,

profissional e patrocinador) e também analisá-las em função das

regiões brasileiras. As Figuras 6 e 7 apresentam a distribuição das

anuidades entre as categorias e entre regiões, respectivamente.

13

Figura 5. Distribuição dos inscritos nos três últimos Encontros (Campos do Jordão, Salvador e Curitiba) de acordo com as regiões brasileiras.

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Os dados das Figuras 6 e 7, embora parciais e referentes até o

i n í c i o d o m ê s d e j u n h o , a p o n t a m p a ra u m a u m e n to d e ,

aproximadamente, 100% de associados abrangendo todas as regiões

do Brasil. Estas figuras são retratos do trabalho da presente diretoria

para fazermos jus à ABPMC e tudo o que ela nos representa.

Com relação à submissão de trabalhos, recebemos mais de 700,

nas mais diversas modalidades: mesas redondas, simpósios, painéis,

sessões coordenadas e comunicações orais. Para avaliarmos os

trabalhos, contamos com a participação voluntária de doutores da

região Sul e montamos uma comissão científica disposta a trabalhar

intensamente por três dias. Experiência produtiva a ser repetida!

Resultado: a nossa programação conta com 6 conferências, 3 palestras

internacionais, 9 sessões especiais, 17 simpósios, 42 mesas redondas,

43 sessões coordenadas, 49 sessões de comunicação oral, 28 primeiros

passos, 3 supervisões públicas, 32 cursos e 216 painéis. As novidades

são as atividades Cinema ABPMC (5), Hora da Conversa (2), e um Mini-

evento sobre o tema “Violência”.

14

Figura 6. Distribuição da anuidade 2 0 1 2 e n t r e a s c a t e g o r i a s : e s t u d a n t e s d e g r a d u a ç ã o , estudante de pós-graduação, profissionais e patrocinador. N=2377

Figura 7. Distribuição da anuidade 2012 de acordo com as regiões brasileiras. N= 2377.

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Nosso XXI Encontro, então, será prestigiado por convidados

internacionais . Peter Sturmey (Queens College -NYC), Armando

Machado (Universidade do Minho – Portugal), François Tonneau

(Universidade do Minho – Portugal), Gladys Williams (Centro de

Investigación del Lenguaje em NYC, Barcelona e Oviedo) e Luis

Oswaldo Perez Flores (Presidente do 7th World Congress of Behavioural

and Cognitive Therapies - WCBCT) estarão oferecendo mini-cursos,

palestras e conferências.

Como uma sociedade científica sem fins lucrativos e de parcos

recursos, temos construído nossa história de congressos regulares e

de qualidade, construídos por todos que enviam propostas, que

avaliam, que organizam, que se inscrevem nos Encontros Anuais e por

meio das agências de fomento (CNPq, FAPESP, Capes). Sendo assim, os

recursos concedidos por essas agências tornam-se imprescindíveis

para garantir a realização deste evento de alta qualidade científica,

como nos comprometemos a fazer durante nossa gestão. Solicitamos,

então, o apoio dessas agências e já temos respostas parciais positivas.

Mais uma vez, temos o apoio da comunidade científica que vem com o

reconhecimento que temos feito um excelente trabalho ao longo da

existência da ABPMC.

Neste ano de 2012 o Encontro terá premiação para painéis nas

categorias graduação, mestrado e doutorado, com vistas a incentivar a

pesquisa e a publicação de dados científicos na área. É por isso que a

qualidade e a representatividade do programa científico são cuidados

15

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com atenção. Como já sabemos, a organização de um evento anual de

grande porte como o da ABPMC envolve, além das preocupações com a

qualidade do programa científico, as preocupações quanto à instalação,

despesas com convidados e monitores, equipamento áudio-visual,

locação do espaço, segurança, limpeza, divulgação (material impresso

e internet) etc. Estamos fazendo um grande Encontro com um custo-

benefício excelente, garantindo a mesma qualidade de nossos

Encontros Anuais.

Portanto, consideramos a nossa associação e o nosso

congresso um arranjo de contingências fundamental para que

continuemos contribuindo para o desenvolvimento da ciência

comportamental e cognitiva. Nossa diretoria, inspirada na experiência

de nossos antecessores e de nossos professores, tem trabalhado

intensamente para continuarmos a grande tarefa de conduzir bem a

ABPMC.

Enfim, aproveito para agradecer o apoio e respaldo das gerações

anteriores na condução de nossa associação! Agradeço também o

apoio de cada de vocês! Nosso XXI Encontro está chegando e já

contamos com mais de 2700 inscritos! Estamos entusiasmadas para

encontrarmos todos vocês em Curitiba, participando ativamente de

nossa Associação. E boa leitura do Boletim.

Um grande abraço,

Claudia Kami Bastos Oshiro

Presidente da ABPMC – Gestão 2012

16

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O ensino da Análise do Comportamento, como o de qualquer

disciplina cientifica, implica na aprendizagem de um conjunto de

habilidades (repertórios) que estarão sob controle de um conjunto de

condições (ambiente). Cursos de graduação ou pós-graduação são

divididos em um conjunto de disciplinas que os alunos devem cursar

para obter os diferentes títulos. Cada uma delas possui uma ementa,

programa ou cronograma que reflete (em tese) o que será apresentado

e o que o aluno deve aprender ao cursar tal programação. A Análise do

Comportamento - ciência que tem como objeto de estudo a relação dos

indivíduos com o ambiente e trabalha amplamente com discussões

sobre as transformações mútuas entre eles -, é capaz de descrever as

relações existentes nas condições de ensino, seja no papel da didática

de aula, na função de um cronograma, ou ainda nos objetivos das

atividades pedagógicas.

Sendo assim, a Análise do Comportamento se ocupa

também da discussão e proposição de métodos de ensino. E, por isso,

deve ser capaz de discutir, avaliar e criar propostas de ensino para seu

próprio conteúdo. Essa temática é recorrente, aparecendo ou sendo

desenvolvida em inúmeros trabalhos como em Holland e Skinner

Alguns processos comportamentais envolvidos no ensino de análise de

contingências: o papel do comportamento intraverbal, do tato e da abstração

17

Denigés Maurel Regis NetoPUC-SP/CeAC - Centro de Análise do Comportamento/ Paradigma

Fernando Albregard CassasParadigma - Núcleo de Análise do Comportamento/PUC-SP

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(2004/1961), Skinner (1972/1968), Haydu (1999), Tomanari (2000),

Cirino (2001) e Hübner e Marinotti (2004). Vale destacar também o

volume 18 da revista The Behavior Analyst (1995a; 1995b) que dedica-se

exclusivamente a essa temática. Nestes trabalhos, muitos aspectos

são problematizados; desde o tipo de conteúdo a ser apresentado para

o aluno; passando pelo uso do laboratório como ferramenta didática;

até o desenvolvimento de métodos e estratégias de ensino.

Dentro da diversidade de conteúdos e métodos de ensino

adotados, este trabalho se dedicará a discutir o ensino da “Análise de

Contingências”. Considerando-a uma atividade que requer os mais

fundamentais e importantes conteúdos, o presente artigo tem como

o b j e t i v o d i s c u t i r b r e v e m e n t e o s p o s s í v e i s p r o c e s s o s

comportamentais envolvidos na aprendizagem de alguns dos

conceitos presentes na análise de contingências; suas particularidades,

dificuldades práticas e teóricas envolvidas; e, a partir disso, sugerir

cuidados que auxiliem no arranjo de contingências de ensino.

Análise de Contingências: definição e importância

Contingência é definida por Ferster e Skinner (1957) como as

condições temporais de intensidade e topografia nas quais uma

resposta é seguida de estímulo reforçador positivo ou negativo, ou

ainda eventos em que ocorre a remoção de um deles (p. 725).

Posteriormente, Skinner (1969) sumariza o que chamou de algumas

contingências de reforçamento (p. 22), nas quais 18 (dezoito) arranjos

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entre respostas e estímulos são, segundo ele, grosseiramente

descritos; entre eles descreve: as relações de reforçamento,

discriminação de estímulos, três tipos de matching, esquemas de

reforçamento e finaliza descrevendo os operantes verbais primários.

Catania (2006/1999) define contingência operante como “as condições

sob as quais uma resposta produz uma consequência” (p. 394) e

acrescenta que “as relações resposta-reforço envolvem dois termos,

mas quando correlacionadas com os estímulos discriminativos elas

produzem uma uma contingência de três termos” (p. 394). Catania

defende, ainda, que a contingência se distingue da contiguidade devido

às probabilidades condicionais entre respostas e estímulos

(consequentes).

Segundo Sousa (2001a), o termo contingência busca enfatizar

“como a probabilidade de um evento pode ser afetada ou causada por

outros eventos” (p. 83). Segundo a autora, relações de contingência são

descritos como relações de “se … então ...”, isso é, dado um evento um

outro se seguirá, como nos casos nos quais “se a resposta ocorrer,

então a consequência também ocorrerá” (p. 84); e, no caso do operante

discriminado, essa fórmula se estenderia para “se o estímulo

disciminativo estiver presente e se a resposta ocorrer, (então) ela

produzirá a consequência” (p. 84).

Para Sousa (2001b) o conceito de contingência tríplice é um

poderoso instrumento de análise na investigação das variáveis de

controle do comportamento, que permitiriam, a identificação e, por

vezes, o controle de tais variáveis (p. 88).

19

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Analisar contingências é, portanto, a utilização do conceito de

contingência (relação de dependência entre eventos) na compreensão

de relações comportamentais de um organismo com o ambiente. É a

divisão (análise) de um fenômeno (comportamental) que permita a

identificação das relações que estabelecem entre seus elementos. A

esse respeito, a autora ainda destaca:

Fica claro o percurso proposto para proceder tal análise: a

identificação de elementos (respostas e estímulos); relações de

dependência (antecedência ou precedência dos elementos entre si); e,

posteriormente, já identificados e estabelecidas as relações entre os

elementos, nomeá-las pelo tipo de contingência que estabelecem

(reforçamento positivo/negativo, etc). Sendo assim, continua a autora

20

A importância de se fazer uma análise de contingências reside

exatamente na possibilidade de se [1] identificar os elementos

envolvidos em uma dada situação, e [2] verificar se há ou não

relação de dependência entre eles. Se houver, o segundo passo

é [3] identificar qual é o tipo de relação, uma vez que diferentes

relações de contingência dão origem a diferentes processos e

padrões de comportamento. (Sousa, 2001a, p. 85, numeração

adicionada)

Um analista do comportamento tem como tarefa [1.] identificar

contingências que estão operando ([1.a.] ou inferir quais as que

podem ou devem ter operado), quando se depara com

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A análise de contingência parece ser de fundamental

importância na medida que serve como ferramenta de identificação (ou

inferência) das relações comportamentais presentes e, a partir dessa

identificação, da criação de procedimentos cabíveis e eficientes na

transformação necessária e/ou desejada.

A análise de contingência é entendida aqui como a identificação

de possíveis variáveis dependentes e independentes do

comportamento que envolvem (1) respostas de um indivíduo; (2) os

estímulos do ambiente; e (3) suas relações de dependência. A

formulação de tal análise deve objetivar a identificação de relações

funcionais entre as respostas do organismo e os estímulos do

ambiente, de modo a permitir a nomeação dessas relações em termos

dos processos comportamentais possivelmente envolvidos (Meyer et

al., 2010).

d e t e r m i n a d o s c o m p o r t a m e n t o s o u p r o c e s s o s

comportamentais em andamento, em como [2.] propor, criar ou

estabelecer relações de contingências para o desenvolvimento

de certos processos comportamentais. É através da

manipulação de contingências que se pode [2.a.] estabelecer ou

instalar comportamentos, alterar padrões [...], assim como

[2.b.] reduzir, enfraquecer ou eliminar comportamentos dos

repertórios dos organismos. (Sousa, 2001a, grifos e

numerações adicionadas)

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Retomando Skinner (1969) “a interrelação entre SD, R and Srein

compõem a contingência de reforçamento. Todas os três termos

precisão ser especificados.” (p. 23). Identificar os elementos de uma

contingência refere-se, então, a nomear adequadamente os

componentes de uma contingência: os antecedentes, as respostas e as

consequências envolvidas na relação sob investigação.

O que se espera de uma análise de contingências é que, diante de

um conjunto de atividades de um indivíduo em relação a um ambiente,

seja possível identificar as respostas e estímulos, suas relações e o

processo comportamental envolvido (Sousa, 2001a). Inicialmente, na

graduação, as atividades de laboratório servem como oportunidades

de identificar contingências em um ambiente restrito e com critérios já

definidos; a resposta a ser observada costuma ser bastante evidente

(pressão a uma barra ou atravessar uma argola) as consequências para

tais atividades também são evidentemente administradas (água ou

comida), algumas condições antecedentes (luzes ou sons) são

utilizados para produzir discriminações; e a descrição da contingência

vai sendo construída ao longo de algumas semanas. Em sala de aula os

conceitos são apresentados e estudados; processos comportamentais

vão sendo discutidos e paralelos podem ser feitos entre atividades

teóricas e práticas na tentativa de contribuir para o treinamento da

habilidade de analisar contingências.

Não é incomum, no entanto, que ao se deparar com uma

situação nova (um novo indivíduo, outros antecedentes e diferentes

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consequências) o estudante tenha dificuldade de realizar uma

descrição correspondente com a análises de contingências já

treinadas. Um tipo de problema comum encontrado em relatórios de

atendimento clínico exemplifica essa dificuldade: ao descrever uma

ocasião na qual uma criança havia chorado após receber um nota ruim

em uma prova, a contingência costuma ser descrita e organizada pelo

terapeuta na forma de: antecedente, resposta e consequência, sendo

respectivamente: “a nota baixa” (antecedente), “ficar triste” (a

resposta) e “chorar” (consequência). Neste caso, fica clara a

i m p ro p r i e d a d e d a a n á l i s e , q u e v i o l a d i v e rs o s p r i n c í p i o s

comportamentais, e que revelam parte do repertório do terapeuta e,

em particular o controle de estímulos aos quais ele responde. A

topografia de suas respostas não parecem problemáticas, os

elementos de uma contingência de fato são a Sd, R e Srein, mas

parecem estar sob controle dos estímulos errado (“nota baixa”, “ficar

triste” e “chorar”). Isto é, ele identifica erroneamente o papel de alguns

elementos do episódio (responde sob condições incorretas, segundo a

comunidade verbal). A questão que se apresenta, portanto, é: como

esse controle de estímulos se estabeleceu? Como descrever

conceitualmente os procedimentos pelos quais esses conceitos tem

sido ensinados? Qual aprimoramento de tais procedimentos é possível

propor dado conhecimento dos processos envolvidos?

Atuando e acompanhando atividades docentes, é possível

perceber preocupações típicas dos analistas do comportamento

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como: a hierarquia de atividades pela complexidade, a avaliação

contínua, o uso de monitores, cuidados no estabelecimento de

objetivos claros para cada aula/atividade, etc. Ainda assim, mesmo os

alunos mais dedicados, engajados nas atividades planejadas e

frequentemente com boas notas em avaliações, apresentam

dificuldade quando colocados para executar análises de contingência,

exemplificar conceitos ou estabelecer relações com novos elementos.

Como anunciado inicialmente, a preocupação deste trabalho é

com descrição teórica dos processo que envolvem a habilidade de

identificar os elementos de uma contingência e das relações entre eles.

Para isso, será importante descrever o que se espera do estudante e em

termos de repertório e principalmente do controle de estímulos que

opera sobre este repertório.

Ao ensinar conceitos, geralmente, iniciamos já pela reprodução

de afirmações de autores importantes na forma de operantes textuais,

ecóicos ou transcrição, isto é, com correspondência formal e/ou ponto-

a-ponto (Skinner, 1992/1957, p.71). Com esses procedimentos,

espera-se que o aluno seja capaz de escrever (ou falar) essas

afirmações sob controle de outros estímulos verbais (por exemplo,

responder uma pergunta ou completar lacunas em frases), que não

envolveriam mais as correspondências como nos operantes

anteriores, tornando-os agora operantes intraverbais, como será visto

a seguir.

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A passagem de um tipo de operante verbal para outro parece ser

o processo que é maciçamente executada em sala de aula na forma

exposições, discussões, provas e exercícios. As próprias aulas

costumam ser ocupadas por apresentação do professor que

relacionam alguns eventos verbais entre si (por exemplo, quando diz

que: “segundo o autor x, ‘estímulo’ é uma parte do ambiente”). Com

isso, pretendem modelar um comportamento verbal (afirmações) em

condições antecedentes verbais (perguntas ou lacunas). Os

procedimentos didáticos pretendem produzir um controle de

estímulos específico de um antecedente sobre uma resposta. Por

exemplo, uma pergunta: “O que é um estímulo?” ou lacuna: “Um

estímulo é....” produziria a resposta “Uma parte do ambiente”.

De acordo com a interpretação de Skinner (1992/1957, p. 71)

essa relação pode ser caracterizada como um Intraverbal : um operante

verbal sob controle de um antecedente verbal sem correspondência

formal, isto é, que não é uma reprodução (leitura, cópia ou ecóico). O

intraverbal representa as respostas verbais “da maior parte dos “fatos”

da história” que são adquiridos e retidos (...) assim como muitos fatos da

ciência” (p. 72). Ao responder uma pergunta, escrita ou falada, o aluno

recorre ao repertório intraverbal que adquiriu e completa a cadeia de

respostas iniciada por algum dos elementos da pergunta. Segundo

Skinner (1992/1957) “Uma pergunta é frequentemente um estímulo

para uma resposta [answer] mais extensa que não possui outra variável

de controle importante [que controlariam tatos ou mandos]. Completar

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¹ Original em inglês: A question is frequently the stimulus for an extended answer which has no other important controlling

variable. The completion items on an objective examination stimulate intraverbal responses in much the same fashion.

os itens [lacunas] em um teste objetivo estimula respostas intraverbais

de modo muito semelhante.” (p. 72)¹.

Caso estivesse lendo ou copiando a resposta se trataria de outro

operante verbal (isso é, envolveria outro controle de estímulos) e é

possível que não seja capaz de responder a mesma pergunta se esta

aparecer sem o apoio das condições antecedentes que o auxiliaram

anteriormente (o texto que recitou ou do qual copiou a resposta).

Muitas vezes a aquisição do comportamento intraverbal pode se

iniciar pela forma de cópia, leitura ou ecóica, mas para tornar-se

independente dessas condições deve ter como antecedente outros

elementos verbais sem correspondência formal ou ponto-aponto

(Skinner, 1992/1957, p. 73), neste caso costuma-se dizer que o aluno

deve saber “de cor”. Um elemento inicial do conjunto de respostas

encadeadas que compõem a definição de um conceito deve controlar,

como um antecedente, a emissão dos elementos subsequentes que

são, por fim, reforçados e fortalecidos pela comunidade (p. 74).

Problemas particulares na aquisição de intraverbais são

apontados por Skinner (1992/1957),

26

As relações intraverbais no repertório de qualquer adulto

constituem o resultado de centenas de milhares de

reforçamentos sob uma grande variedade de contingências

inconsistentes e frequentemente conflitantes. Muitas

respostas diferentes são postas sob controle de uma dada

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palavra-estímulo e diferentes palavras-estímulo são postas sob

o controle de uma única resposta. (p. 74)

Isto representa um problema comum no ensino de alguns

conceitos ou processos comportamentais; como, por exemplo, no

caso do conceito de 'reforçamento negativo', que frequentemente é

definido pelo alunos como 'redução de respostas', possivelmente

devido ao termo “negativo” da definição. Este é um estímulo cujo

controle sobre respostas intraverbais é, possivelmente, bastante

antigo no repertório do aluno que, com muita dificuldade, passa a

responder e se adequar à nova contingência, com o então novo

conceito de 'reforço'. Esse assunto mereceria maior atenção, que será

dada em trabalhos futuros, no momento serão enfatizadas outras

distinções entre os operantes intraverbais e outros tipos de atividade

envolvidas na análise de contingências.

É importante, nesse ponto, avaliar o papel desse controle de

estímulos das respostas verbais na análise de contingências. As

respostas verbais que ficam sob controle de eventos de episódios

comportamentais diversos são emitidos inicialmente sob controle de

antecedentes verbais com correspondência formal e/ou ponto-a-

ponto; passando ao controle por estímulos verbais antecedentes sem

correspondência formal ou ponto-a-ponto (intraverbal). Que

passagem costuma ser realizada na direção da mudança no controle de

estímulos? A pergunta que pode ser feita é qual operante verbal estaria

envolvido na descrição dos elementos de uma contingência?

27

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Espera-se que em uma análise de contigências o analista do

comportamento emita as respostas verbais sob controle dos

elementos e eventos comportamentais sob análise. Essa poderia ser

caracterizada como uma resposta verbal de tato. “Um tato pode ser

definido como um operante verbal no qual uma resposta de uma dada

forma é evocada (ou pelo menos fortalecida) por um objeto específico

ou evento ou uma propriedade de um objeto ou evento.”² (p. 81-82).

Quando, diante da atividade de um rato pressionando uma barra,

pombo bicando um ponto de luz, ou uma pessoa abrindo uma porta, o

analista do comportamento deveria ser capaz de identificar uma

“resposta”, ou seja, emitir a resposta verbal “resposta” ou “isso é uma

resposta” sob controle das atividades observadas (que servem como

condições antecedentes). Para a água que se segue a pressão a barra, a

comida para a bicada, ou o aparecimento de alguém do outro lado da

porta o analista do comportamento deveria ser capaz de emitir a

resposta “consequência” ou “isso é a consequência da resposta”. O

som que é condição para a produção da água, o ponto de luz que foi

bicado ou a campainha que antecedeu a abertura da porta deveriam ser

nomeados como “Antecedentes” ou “Estímulos antecedentes”. (Os

adjetivos “operante”, “reforçadora” e “discriminativo” para cada uma

das respostas anteriores deveriam e deverão aparecer quando outros

elementos das relações descritas fossem identificados.)

² A tact may be defined as a verbal operant in which a response of given form is evoked (or at least strengthened) by a particular

object or event or property of an object or event.

28

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Um aspecto que parece crítico no controle de estímulos das

respostas descrita a cima, é a diversidade de características que

compõem cada um dos elementos sob os quais as respostas verbais

estão sob controle. A pressão a barra, o bicar de um pombo, e o abrir a

porta (que controlam a mesma verbalização) não possuem qualquer

característica em comum que sejam facilmente descritível. As

consequências e antecedentes de cada uma dessas respostas também

diferem amplamente entre si. Nesses casos, como poderíamos falar de

uma resposta verbal de tato que fica sob controle antecedente de “um

objeto específico ou evento”? Quando a “pressão a barra“ é identificada

(tateada) como “uma resposta” é fácil explicar como novas respostas

de pressão a barra são novamente identificadas como tal. A extensão

do controle de estímulos para novos, porém semelhantes, exemplares

parece um caso comum de generalização do controle de estímulos. No

entanto, promover o controle dessa resposta verbal por novos

episódios comportamentais que não participaram das condições de

treino prévias e que, além disso, não guardem semelhanças óbvias com

estas condições parece ser o grande desafio. Ao ensinar análise de

contingência a dificuldade se apresenta como: explicar e promover a

análise de contingências novas e em contextos diferentes daqueles

treinados.

29

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A abstração como tipo de responder discriminado

Retomando a definição do operante tato, um aspecto pode

ajudar a explicar a identificação (tatear) dos elementos da contingência

em novas situações: o tato pode ser evocado “por um objeto particular

ou um evento ou propriedade do objeto ou evento” (Skinner,

1992/1957, p. 81-82). Nos casos problematizados anteriormente, a

resposta do tipo tato parece ficar sob controle de uma propriedade do

objeto/evento. Este tipo de controle é discutido anteriormente por

Skinner (2000/1953) quando afirma que

A abstração permite o controle de respostas por alguma(s)

característica(s) (propriedade(s)) dos estímulos independentemente

de diversas outras propriedades. Essa possibilidade do controle de

estímulos é destacada por Skinner (1992/1957) como de especial

importância nas atividades cientificas, onde a imprecisão do controle

pode ser um problema. “Certa extensão do controle é, (...), permitida e

30

O comportamento pode ser colocado sob controle de uma

única propriedade ou combinação especial de propriedades de

um estímulo e ao mesmo tempo liberado do controle de todas

as outras propriedades. (...) Para que isso seja possível, devemos

reforçar respostas a muitos objetos, [com a propriedade

comum] (...), mas diferindo grandemente em suas outras

propriedades. O resultado característico é conhecido como

abstração. (p. 148, ênfases adicionadas)

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até mesmo útil, mas uma extensão livre do tato não pode ser tolerada,

particularmente em questões de ordem prática e científica”³ (Skinner,

1992/1957, p. 107).

O ensino de análise de contingências parece compartilhar dessa

preocupação. E o controle de estímulos que se observa na identificação

dos elementos de uma contingência num novo episódio

comportamental poderia ser descritos pelo controle de estímulos

peculiar da abstração. Neste caso, um novo responder em uma nova

condição e que produza diferentes consequências (das citadas em

exemplos anteriores) poderia ser precisamente identificado (tateada)

por compartilhar uma mesma propriedade controladora das

verbalizações (Sd, R e Srein).

Uma importante dificuldade que se coloca, com isso, é

identificar qual a propriedade abstrata sobre a qual o reforçamento

ocorre e que passa a controlar as respostas de tato na análise de

contingências. Que elemento poderia ser comum a uma diversidade de

respostas operantes, ou estímulos antecedentes, ou consequências

reforçadoras que nos permitiriam tateá-las como tais? Ainda assim,

(sem a descrição precisa da propriedade do estímulos que controla os

tatos de elementos de contingências) a interpretação deste processo

como abstração possibilita algumas ideias no planejamento de

contingências para o ensino desse repertório. Inicialmente, é

³ Some extended control is, as we have just seen, permissible and even useful, but a free extension of the tact cannot be

tolerated, particularly in practical and scientific matters.” (p. 107)

31

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necessária a discussão da aquisição do repertório intraverbal, ou seja,

as definições e as relações entre conceitos.

Arranjo de contingências de ensino: um caminho

Skinner (1972/1968) define o ensino como arranjo de

contingências sob os quais os alunos aprendem. A função do professor,

portanto, é construir contingências especiais que acelerem a

aprendizagem.

Este trabalho buscou até esse ponto discutir os possíveis

processos envolvidos no ensino/aprendizagem da análise de

contingências. As considerações feitas podem, em muitos aspectos,

ser relacionadas aos processos de aprendizagem descritas por Skinner

(1972/1968). Nesse trabalho o autor preocupa-se, entre outros

assuntos, em descrever planejamentos de ensino eficazes com base

em descobertas experimentais no campo da aprendizagem.

Quatro tipos programação apresentadas compõem um arranjo

de contingências . A primeira delas tem como objetivo modelar

topografia de respostas. Durante o procedimento identifica-se uma

resposta- alvo (R1) e, qualquer resposta emitida semelhante ou em sua

direção será consequenciada com um reforço (previamente

estabelecido). Por exemplo, tomando a resposta de pressão à barra

como R1 e água como o estímulo reforçador. Qualquer movimento do

rato na gaiola em direção à barra será reforçada: olhar para a barra,

encostar na barra. Com isso, garante-se que uma resposta que nunca

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havia sido emitida pelo sujeito passa a ocorrer. No entanto, esse

processo garante apenas que que a resposta esperada seja emitida no

ambiente especialmente arranjado da gaiola (Skinner, 1972/1968, p.

64).

O segundo tipo de programa de ensino tem o objetivo de alterar

propriedades temporais ou de intensidade do comportamento. Isso é

possível alterando a condição de reforçamento do processo anterior.

Serão selecionadas, agora, não qualquer resposta na direção de R1,

mas apenas aquelas que forem mais vigorosas. Isso levará a ao

fortalecimento de um padrão específico e mais vigoroso (p. 66).

O terceiro tipo de programação, ocupa-se de colocar o

repertório, já estabelecido e fortalecido, agora sob controle de

estímulos. O autor refere-se aqui ao estabelecimento de uma

discriminação sutil. Altera-se a condição para que existam situações de

Sd e Sdelta e em que passo a passo o Sd se torne mais sutil do que o

anterior (p.69).

Há ainda, o quarto tipo de programação. Nele a preocupação é

com a manutenção do comportamento por reforço pouco frequente.

Uma resposta que, na instalação foi submetida a um esquema de

reforçamento contínuo, agora é gradualmente colocada sob um

esquema de reforço intermitente.

Esses parâmetros são claros no ensino de um repertório

mecanicamente relacionado com o ambiente (ou instrumental). Mas

ganha em complexidade quando o objetivo é o ensino de um

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conhecimento verbalmente construído. Para esses casos, o autor

agrupa esses programas da seguinte forma: supondo-se que aluno

deve aprender a recitar um poema, o primeiro passo é o aluno aprende a

reproduzir de forma (ecóica ou textual) o que esta lendo no livro -

resposta sob controle do livro, por exemplo. No momento em que ele

começa a reproduzir sem ler o livro, o controle de estímulos sob o qual a

resposta acontece se altera, ou seja, seu comportamento fica menos

sob controle de estímulos externos (livro) e mais sob controle de

estímulos autogerados. Quanto mais ele reproduz, mais sob controle

de estímulos que ele próprio gera o relatar esta (p. 79).

No caso da análise de contingências, como apontado antes, uma

parte fundamental é que o aluno seja capaz de classificar diferentes

eventos que compõem uma contingência, isto é, saiba descrever e

conceituar de forma intraverbal os elementos da contingência. Usando

o que Skinner (1972/1968) apontou, o objetivo é que o aluno seja capaz

de emitir respostas que completem a frase do tipo “uma resposta é...”

ou responda “o que é uma resposta?” de modo independente de

estímulos presentes (que controlariam respostas na forma textual ou

ecóica); o controle deve se estabelecer por estímulos autogerados.

É comum que esperemos que, ao se estabelecer o controle

intraverbal dos conceitos e definições de uma contingência, isso

permita a identificação e análise de seus elementos em novas

situações. Mas, se considerarmos as análises anteriomente

apresentadas, é evidente que o controle discriminativo que opera na

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respostas intraverbais (ao definir um conceito) e as respostas de tato

(ao identificar os elementos de uma contingencia), são diferentes. As

contingências estabelecidas no laboratório didático se diferenciam das

de sala de aula comuns em alguns aspectos que podem auxiliar na

aquisição de respostas de tato sob controle dos elementos da

contingência.

Como foi dito anteriormente, no laboratório o aluno tem

oportunidade de observar os elementos de uma contingência de modo

mais evidente e discreto; apesar de dinâmico o processo é repetitivo, e

muitas instâncias de respostas, consequência e antecedente são

observados; assim como as relações entre eles. Diferente das

condições de sala de aula na qual os conceitos são lidos, repetidos e

colocados sob controle intraverbal, sem necessariamente identificar

qualquer deles na forma do controle exercido no tato.

Como proposto acima, a suposição de que o controle exercido

sobre a identificação de elementos de uma contingência tratar-se-ia de

uma resposta de tato sob controle de um propriedade abstrata do

estímulo antecedente (cada elemento da contingência), nos possibilita

sugerir estratégias que tornem esse controle mais efetivo e o processo

de aquisição mais veloz.

Segundo o que foi apresentado ( Skinner, 2000/1953;

1992/1957) o controle discriminativo por propriedades abstratas

exige que a propriedade (dimensão) crítica do estímulo seja mantida

constante enquanto todas as outras sejam alteradas. Ao

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considerarmos a discriminação como caráter essecial do controle do

tato, devemos nos preocupar com os processos que operam na

discriminação operante. Um parâmentro fundamental a ser

considerado é o reforçamento diferencial (Sério, et al., 2008) a resposta

deve ser reforçada na presença de um determinado estímulos e não

reforçado em sua ausência (ou na presença de outro). Criar condições

programadas que permitam a apresentação de condição de não

reforçamento são críticas na construção de controle discriminativo;

alguns cuidados devem ser tomados para que as condições de não

reforçamento impliquem numa quantidade de respostas não

reforçadas que levem ao enfraquecimento geral da atividade. Colocado

em termos práticos, será importante diferenciar os elementos da

contingência de outros que não façam parte dela; isso parece estar

sendo feito quando pedimos que o aluno identifique e diferencie as

'respostas' dos 'estímulos' em um dado exemplo; ou quando pedimos a

distinção entre respostas operantes e reflexas em novos exemplos; ou

ainda, a distinção entre estímulos antecedentes e consequentes de

uma resposta. Em todos esses casos, parece que produzem-se

discriminações importantes para o controle de estímulos das

respostas de tato. Nesse caso, deveria-se questionar qual tem sido o

papel das respostas intraverbalmente adiquiridas na identificação

desses elementos. Também, é possível perguntar se, acrescentar

elementos que se distingem mais groceiramente dos componentes de

um comportamento poderiam ser um bom início na aquisição de tais

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controles de estímulos: o uso de fenômenos não comportamentais

poderiam auxiliar na produção da discriminação funcionando com

Sdelta.

Quanto a abstração, o uso de diversos estímulos que variem em

muitas dimensões exceto o papel que exercem em uma contingência

pode ser a estratégia mais importante na aquisição do controle

discriminativo do tato e, portanto, para a análise de contingências. A

experiência de laboratório, por mais importante que seja, não parece

oferecer a diversidade de exemplos necessários para a aquisição do

controle abstrato. Os exemplos em situações aplicadas e com

humanos, que são muitas vezes requisitados por alunos, podem

exercer aqui um papel muito além do motivacional. Os exemplos

humanos e aplicados que são muitas vezes evitados pelas dificuldades

que implicam poderiam fornecer o material necessário para produzir o

controle da propriedade abstrata.

O que haveria de comum entre alguém que arremessa uma bola,

abre uma porta, da a partida em um carro, faz sinal para um táxi, assobia

para um amigo, levanta a mão em sala de aula, etc, poderia auxiliar na

construção do controle de estímulos necessário para o tato “Resposta

(operante)”. Os riscos do uso de tais exemplos recai na própria

dificuldade de reconhecer bons exemplos cotidianos, é possível que

algumas respostas não sejam facilmente compatibilizadas com as

definições intraverbais aprendidas, nesse caso reforçamos a

necessidade de se compreender a relação entre as definições

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intraverbais e o controle de estímulos no tato presenta na análise de

contingências.

Como foi dito anteriomente, a análise de contingências não se

encerra apenas com a identificação dos elementos (antecedente,

resposta e consequente-subsequente) as relações entre eles devem

ser especificadas e nomeadas de acordo com os processos

comportamentais conhecidos. Acreditamos que os processos de

discriminação abstrata sejam igualmente relevantes nesse caso. A

relação entre os processos intraverbais e de tato devem ser

especialmente importantes nesse momento da análise; na qual o

processo pelo qual será definido o episódio comportamental então

descrito dependerá amplamente das definições conhecidas e estas

definições são agora descrições de relações entre eventos, mais do que

um tato de cada um dos elementos. É compreensível que respostas de

tato operem sob controle também de “relações entre elementos”, que

novamente devem depender de outras abstrações produzidas na

história de discriminação do analista de contingências.

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¹ Agradeço ao Willian Perez pela cuidadosa revisão do texto.

A Terapia de Aceitação e Compromisso (dito em inglês, ACT) é

uma das terapias mais representativas da chamada Terceira Onda das

Terapias Comportamentais (ver Hayes, 2004 para uma descrição

detalhada das três gerações).

As terapias de terceira onda caracterizam-se por serem

particularmente sensíveis ao contexto e às funções dos fenômenos

psicológicos e não apenas a sua forma ou conteúdo. Os tratamentos

tendem a buscar a construção de um repertório amplo, flexível e eficaz.

Assim, as terapias não são dirigidas especificamente para a

redução de sintomas ou para o tratamento e psicopatologias

específicas. Caracterizam-se pela inserção contextual e sócio verbal

dos problemas e a análise funcional dos eventos privados, destacando o

papel do comportamento verbal na origem do sofrimento humano

(Conte, 2010; Vandenberghe, 2011; Perez-Alvarez, 2006).

As terapias de terceira geração mais relevantes neste cenário

são a Psicoterapia Analítica Funcional (Kohlenberg & Tsai, 1991), a

Terapia Comportamental Dialética (Linehan et al., 1999) e a Terapia de

Aceitação e Compromisso (Hayes, Strosahl, & Wilson, 2011).

A ACT, surge de um enquadrament o filosófico chamado

Contextualismo Funcional (Hayes, Hayes, & Reese, 1988). Tal

O que é a Terapia de Aceitação e Compromisso?¹

42

Desirée da Cruz Cassado

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abordagem filosófica caracteriza-se por ser monista, não mentalista,

funcional, não reducionista, ideográfica e por dividir com o

Interbehaviorismo de Kantor e com o Behaviorismo Radical as mesmas

influências filosóficas (Luciano, Valdívia, Gutierrez, & Páez-Blarrina,

2006; Twohig, 2012; Dougher & Hayes, 2000).

A unidade de análise do Contextualismo Funcional é o organismo

como um todo se comportando de acordo com elementos históricos e

contextuais – pensamentos, sentimentos e ações - desenvolvendo-se

ao longo do tempo e emergindo em um contexto específico em

conformidade com uma história individual e com uma função atribuída

na regulação do comportamento (Dougher & Hayes, 2000, Luciano et

al., 2006).

Os estudiosos da ACT rejeitam a ideia de que os pensamentos e

sentimentos causam ações porque os eventos privados estão

inseridos num contexto, e até que este contexto seja especificado, o

objetivo de predizer e influenciar o comportamento não pode ser

alcançado. Uma vez que o contexto é especificado, o próprio fato de que

estes eventos privados têm significados específicos dentro de

determinados contextos, demonstra que os mesmos são variáveis

dependentes (tal como as ações). Assim, os eventos privados são

respostas à eventos ambientais e não possuem uma relação causal

independente. As tais causas mentais do comportamento são

admitidas como inerentemente incompletas até que as variáveis

contextuais sejam especificadas.

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O interesse é dirigido ao contexto histórico situacional que

origina os eventos privados e a forma como pensamentos, sentimentos

e ações relacionam-se entre si (Hayes et al., 2011).

Assim, um evento ambiental pode evocar um determinado

evento privado e este, por sua vez, pode influenciar uma determinada

ação, mas a causa do comportamento ainda está no ambiente.

Exatamente por este motivo, pensamentos e sentimentos são

elaborados através de técnicas de atenção plena (Mindfulness) e

aceitação, ao invés da reestruturação cognitiva e equivalentes. Afinal,

por não assumir que os eventos privados são causa do comportamento,

o foco não está em mudar tais eventos, mas sim em mudar a relação do

indivíduo com seu mundo privado. Para isso, lhe é ensinado a responder

aos eventos externos (como fazer as coisas que lhe importam),

enquanto cadeias de respostas privadas se sucedem (sejam elas

aversivas ou não). O objetivo final é tornar o individuo menos sensível a

tais eventos privados e mais sensível às reais contingências em vigor

(Twohig, 2012).

Teoria dos Quadros Relacionais

A linguagem tem papel essencial na compreensão do

comportamento humano. Os seres humanos não respondem

simplesmente às propriedades formais dos estímulos. A característica

mais relevante da linguagem e cognição humana se refere à capacidade

de relacionar estímulos de forma arbitrária, independente das

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propriedades formais e relações de contingências.

Murray Sidman (1971) foi o pioneiro a descrever a emergência de

comportamentos novos - que não são seguidos de reforçamento - sob

controle de estímulos arbitrariamente relacionados, revolucionando o

conceito de linguagem e comportamento simbólico dentro da

perspectiva comportamental.

Através dos procedimentos desenvolvidos por Sidman, palavras

escritas, sons, desenhos e outros símbolos podem ser arbitrariamente

r e l a c i o n a d o s , to r n a n d o - s e s u b s t i tu í v e i s n o co n t ro l e d o

comportamento na medida em que passam a partilhar algumas de suas

funções (De Rose & Bortoloti, 2007; Barnes-Holmes, Barnes-Holmes,

McHugh, & Hayes, 2004b; Hübner, 2006; Barnes-Holmes, Keane,

Barnes-Holmes, & Smeets, 2000).

Partindo deste contexto, a Teoria dos Quadros Relacionais,

(Hayes, Barnes-Holmes, & Roche, 2001), propõe que indivíduos

verbalmente competentes são capazes de responder a relações

arbitrárias entre estímulos, ou seja, somos capazes de responder a

relações que não são baseadas somente em propriedades físicas (como

“uma bola de gude é menor que uma bola de basquete”), mas em

convenções estabelecidas socialmente pela comunidade verbal (“um

Real vale menos que um Dólar”). Para a RFT, compreender essa

habilidade é central para o entendimento do comportamento humano.

A Teoria dos Quadros Relacionais afirma que o responder

relacional arbitrariamente aplicável (qualquer resposta controlada por

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uma relação arbitrária) é um comportamento operante. Portanto, 1) é

aprendido, se desenvolve, e 2) está sob controle de estímulos, ou seja

sob controle de dicas contextuais que determinam o modo como os

estímulos devem ser relacionados (por comparação, oposição,

igualdade, hierarquia, etc). Na medida em que somos expostos, a

múltiplos exemplos de respostas relacionais (uva menor que a bola;

lápis menor que o estojo; Maria menor que João) as dicas contextuais

que controlam tais respostas (menor que) são abstraídas e podem ser

aplicadas, de modo arbitrário, convencionado pela comunidade verbal,

a novos estímulos (um Real é menor que um Dólar) (Hayes et al., 2001,

Ruiz, 2010).

Quadros relacionais são diferentes classes de respostas

relacionais (comparar, hierarquiar, opor, igualar etc.) que se diferem

pelo tipo de relação arbitrariamente estabelecida entre os estímulos e

pela dica contextual que controla tais respostas (maior que,

pertencente à, oposto de, igual à etc.). São três os eventos que

caracterizam os quadros relacionais: a Implicação Mútua, a Implicação

Combinatória e a Transferência de Função.

A implicação mútua envolve a bidirecionalidade da relação entre

dois estímulos, ou seja, se um indivíduo aprende a relacionar o estímulo

A com o estímulo B, está implicado que B está relacionado com A de

algum modo. Assim, se Maria é mais bonita que Joana, ele irá derivar que

Joana é menos bonita que Maria.

A implicação combinatória é caracterizada quando dois

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estímulos estão mutuamente relacionados a um terceiro estímulo em

comum e, por isso, passam a se relacionar indiretamente. Por exemplo,

quando aprendemos que A é maior que B e que B é maior que C, pela

combinação das duas relações aprendidas, podemos nos comportar

em acordo com as relações A é maior que C e, por implicação mutua, C é

menor que A. Assim, se for dito a um adolescente que Adriana é mais

bonita que Joana, ela irá derivar que Maria também é mais bonita que

Joana e então, Joana é menos bonita que Adriana.

O fenômeno psicológico mais interessante no estudo dos

quadros relacionais é certamente a transformação de função.

Estímulos arbitrariamente relacionados podem ter suas funções

transformadas por conta do tipo de relação estabelecida entre eles.

(Dougher, Perkins, Greenway, Koons, & Chiasson, 2002; Hayes, Luoma,

Bond, Masuda, & Lillis, 2006). Supondo que um estímulo A tem função

reforçadora, se A for arbitrariamente relacionado como maior que B e B

maior que C, o estímulo C será mais reforçador que A (Whelan & Barnes-

Holmes, 2004). Por outro lado, se A e C estiverem relacionados por

oposição, C terá função punidora, aversiva, e não reforçadora (Whelan,

Barnes-Holmes, & Dymond, 2006). Por exemplo, se a um adolescente é

dito que com uma namorada mais bonita ele será mais respeitado pelos

seus pares, ele provavelmente abordará Adriana.

Uma vez que o indivíduo tem um repertorio verbal mínimo, a

transformação de função de estímulos de acordo com a rede relacional

estabelecida (que pode envolver múltiplas relações diferentes) é

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incontrolável e, ao contrario do que sugerem algumas técnicas

psicológicas, a mudança ou subtrair o conteúdo das redes relacionais

não é possível, pois as mesmas são produtos de uma extensa história de

aprendizado e funcionam por adição (Törneke, Luciano, & Valdivia,

2008; Wilson, Hayes, Greeg, & Zettle, 2001; Wilson & Luciano, 2002;

Hayes et al., 2001). De tal forma que tentativas de alteração direta

focadas no conteúdo das redes relacionais acabam por ampliá-las,

aumentando o controle pelos seus conteúdos (Hayes et al., 2001).

Desta forma, segundo a ACT, tentativas de alterar as redes

relacionais aprendidas, tais como estratégias de racionalização e de

supressão de pensamentos, podem levar à inflexibilidade do repertório

e às chamadas psicopatologias. Isso se dá justamente porque os

processos cognitivos e verbais não são adequados para eliminar ou

solucionar os problemas criados pelos mesmos (Hayes et al., 2006).

Assim humanos verbalmente competentes são capazes de

responder sob controle de relações arbitrárias entre estímulos. Isto

significa que somos capazes de responder a palavras como se elas

fossem os eventos aos quais estão relacionadas, emitindo respostas

tais como planejar, comparar, ordenar e hierarquizar (Luciano et al.,

2006; Hayes, Pistorello, & Biglan, 2008). Tais redes relacionais podem

relacionar-se com outras redes relacionais tornando as relações entre

estímulos extremamente complexa (Stewart, Barnes-Holmes, Hayes,

& Lipkens, 2001, Barnes-Holmes, Barnes-Holmes, Smeets, Cullinan, &

Leader, 2004a).

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Esta habilidade de derivar relações torna os indivíduos hábeis

para regular seu próprio comportamento, prever as consequência das

suas ações e mesmo construir uma cultura (Conte, 2010). Entretanto

quando há a transferência de funções aversivas em redes relacionais

arbitrariamente estabelecidas sem o devido controle contextual, a

mesma classe de respostas que permite a sofisticação e a flexibilidade

do comportamento pode restringi-lo, torná-lo inflexível, regulado por

respostas de fuga e esquiva que caracterizam o que chamamos de

"sofrimento psicológico" e, muitas vezes, de psicopatologia (Barnes-

Holmes et al., 2004b).

A Psicopatologia segundo a Terapia de Aceitação e Compromisso

Do ponto de vista da ACT, o sofrimento psicológico e a

psicopatologia é resultado da interação inadequada entre a linguagem e

cognição com as contingências diretas, produzindo inabilidade para

persistir ou mudar o comportamento a serviço de consequências

reforçadoras a longo prazo (Hayes et al., 2006).

A excessiva regulação do comportamento por processos

verbais, como regras, auto-regras oriundos de redes relacionais

derivadas é chamado de Fusão Cognitiva (Hayes, Strosahl, & Wilson,

1999). Tal processo pode ser de grande importância em alguns

contextos onde o seguimento de regras tem valor adaptativo.

Entretanto, em contextos que favoreçam de forma inadequada tal

fusão, o comportamento é predominantemente guiado por redes

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verbais relativamente inflexíveis, tornando-se rígido e insensível às

contingências diretas em vigor (Hayes, Strosahl, & Wilson, 1999).

A comunidade verbal fomenta práticas que prejudicam ainda

mais o contato com as contingências, como a literalidade com que trata

o conteúdo dos pensamentos (como o pensamento de “sou um infeliz”

referindo-se indiscutivelmente a uma vida verdadeiramente miserável)

e o comportamento de “dar razões” ou de atribuir causas mentais para

as próprias ações.

Ainda, sentimentos e pensamentos são rotulados e avaliados:

ressalta-se a importância do controle e manipulação de estados

emocionais e cognitivos aversivos como condição para atingir o bem

estar e saúde emocional.

Sem repertório apropriado para distanciar-se do próprio

comportamento, o indivíduo se comportará sob o controle de suas

próprias respostas relacionais ou de seus efeitos (usualmente

encobertos) (Luciano et al., 2006). Assim, devido às inúmeras

capacidades relacionais da linguagem humana, as emoções ditas

“negativas” são verbalmente previstas, avaliadas e portanto, evitadas

(Hayes, Wilson, Gifford, Follette, & Strosahl, 1996). Essa chamada

“Evitação Experiencial” é definida como uma classe de respostas

topograficamente distintas de fuga e esquiva que são negativamente

reforçados pela esquiva ou supressão de eventos privados de conteúdo

aversivo. Em outras palavras, são esforços deliberados com o objetivo

de evitar ou fugir de sensações físicas, memória e pensamentos

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desagradáveis. (Hayes et al., 1996; Luciano & Hayes, 2001).

Infelizmente tais esforços em evitar experiências privadas

tendem a aumentar a frequência e intensidade das mesmas (Wenzlaff &

Werger, 2000; Paéz-Blarrina et al., 2008);. Como grande parte dos

eventos privados aversivo, por definição, estão aquém de qualquer

regulação comportamental voluntária, a esquiva comportamental

torna-se a única estratégia para lidar com pensamentos, sentimentos e

estados físicos desagradáveis.

A esquiva experiencial não é necessariamente um

comportamento disfuncional, mas se torna um problema quando leva a

padrões rígidos de comportamentos. A longo prazo, tais padrões

rígidos levam a uma inflexibilidade psicológica, criando contexto para a

multiplicação das situações a serem evitadas e potencializando a

aversividade dos eventos privados (Luciano et al., 2006).

Progressivamente os efeitos do controle aversivo sobre o

comportamento tornam-se claros: o repertório comportamental

estreita-se e o indivíduo perde a capacidade de entrar em contato com

o momento presente e as reais contingências ambientais.

Concentrando-se na necessidade de suprimir o mal estar, o indivíduo

se engaja em comportamentos que proporcionam um relativo alívio

imediato e, paradoxalmente, um aumento em intensidade e frequência

dos eventos aversivos privados a longo prazo (Luciano et al., 2006;

Hunziker, 1997; Wilson & Hayes, 1996; Wilson & Luciano, 2002, Sidman,

1990).

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Terapia de Aceitação e Compromisso

Sabendo que eventos privados são inevitáveis e incontroláveis,

a ACT não tem como objetivo mudar ou reduzir pensamentos ou

sensações desagradáveis, mas sim alterar a função de tais estímulos de

modo que as respostas sob controle de tais eventos seja flexível e o

comportamento seja regulado por propósitos, valores pessoais,

eventos reforçadores verbalmente construídos, e não pelo conteúdo

literal dos comportamentos privados. A ACT busca potencializar, no

processo terapêutico, interações clínicas que permitam ao paciente

tomar consciência do fluxo de eventos privados de modo que ele possa

nota-los e então eleger ações coerentes com seus valores (Luciano et

al., 2006).

O objetivo é aumentar a flexibilidade psicológica, ou seja, a

habilidade de estar em contato com o momento presente, como um

i n d i v í d u o co n s c i e n t e e p l e n o , p e rs i s t i n d o o u m u d a n d o

comportamentos a serviço de um valor (Hayes et al., 2006).

O modelo de tratamento divide-se didaticamente em seis sub-

processos interligados, organizados em um Hexágono (ver Figura 1,

retirada de Hayes et al., 2008) que pode ser dividido em dois

componentes principais. O primeiro promoveria a desfusão e aceitação

como forma de manter o indivíduo comportando-se de forma

comprometida mesmo na presença de eventos privados aversivos;

enquanto que o segundo promoveria a clarificação de valores e ações

com compromisso (Ruiz, 2010). Cada uma dessas áreas é

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conceitualizada como um repertório comportamental a ser adquirido e

podem descritas brevemente da seguinte maneira:

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Figura 1. Hexágono com os processos de intervenção centrais da Terapia de

Aceitação e Compromisso (Hayes et al., 2008).

Aceitação

Desfusão Ações comCompromisso

Valores

Contato como Presente

Eu comoContexto

Processos de Mudança deComportamento e Compromisso

Processos de Conscientização e Aceitação

FlexibilidadePsicológica

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Aceitação: A aceitação é a alternativa à esquiva experiencial. A

aceitação implica no envolvimento ativo e consciente aos eventos

privados, sem tentativas de mudar sua forma ou frequência. Aceitar

distingue-se de tolerar tais eventos porque a aceitação é uma escolha

consciente que envolve explorar a futilidade do controle emocional. A

aceitação não tem um fim em si mesma, ela é o contexto para que as

ações baseadas em valores possam ocorrer (Hayes et al., 2006).

Desfusão Cognitiva: A desfusão cognitiva objetiva alterar as

funções dos eventos privados sem necessariamente alterar sua

frequência ou conteúdo de forma a criar contextos que diminuam o

controle disfuncional destes sobre o comportamento (Hayes et al.,

2006; Twohig, 2012). Ou seja, a ACT almeja mudar a maneira como o

indivíduo interage e se relaciona com os eventos privados através da

construção de contextos nos quais as funções dos mesmos são

alteradas.

Contato com o momento presente (Mindfulness): A ACT promove

o que pode ser definido como uma atenção voluntária, fluida e flexível

aos eventos internos e externos, na forma como eles ocorrem, sem

apegos, avaliações ou julgamentos.

Estar sob controle dos estímulos ambientais presentes no aqui

agora diminui o impacto de um mundo construído de redes relacionais,

regras e auto regras que distanciam o indivíduo das contingências

presentes.

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Assim, a linguagem passa a ser utilizada como uma ferramenta

para observar e descrever eventos e não para prever e julgá-los (Hayes

et al., 2006; Twohig, 2012).

Eu como contexto: através da capacidade de relacionar

estímulos arbitrariamente, somos capazes de abstrair e avaliar a nós

mesmos, construindo uma noção de Eu-conceitual baseado em auto

avaliações e categorizações. É o que acreditamos ser. O rótulo que

levamos “eu sou tímido”, “burro”, “depressivo”, “dependente”

restringe o repertório comportamental e a flexibilidade psicológica.

Assim, na busca pelo Eu-contexto trabalha-se para desenvolver a

tomada de perspectiva que permite conceber a si mesmo como um

observador dos eventos, sem apegar-se ou definir-se por eles (Hayes

et al., 2006; Twohig, 2012; Saban, 2011).

Valores: Valores são construções verbais que funcionam como

operações estabelecedoras que alteram as funções de determinados

estímulos na rede relacional.

Através da clarificação de valores, as funções reforçadoras e

punitivas de ações envolvidas em alcançar determinados valores são

alteradas. Assim, a aceitação de eventos privados desagradáveis ou o

engajamento em comportamentos com consequências a aversivas a

curto prazo torna-se mais provável quando o sofrimento está a serviço

de algo maior como um valor. Proporcionando significado e propósito às

ações.

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Valores não são objetivos que podem ser alcançados, são

representados como aspectos de uma ação em andamento, como

dedicar-se à carreira ou ser um pai amoroso, que podem ser

perseguidos por toda uma vida, mas que não podem ser obtidos como

um objeto. (Hayes et al., 2006; Twohig, 2012).As direções valiosas

conduzem e dignificam a terapia (Wilson & Luciano, 2002).

Ação com compromisso: Enfim, a ACT encoraja o

d e s e nvo l v i m e n to d e p a d r õ e s c a d a v ez m a i s a m p l o s d e

comportamentos efetivos vinculados aos valores elegidos. Ao

contrário dos valores, que nunca serão atingidos como um objeto,

objetivos concretos que são consistentes com esses valores podem

ser alcançados de uma forma bastante semelhante a terapia

comportamental como a conhecemos: com o uso de protocolos,

treinamento de habilidades, exposições e traçando metas específicas a

curto, médio e longo prazo. (Hayes et al., 2006).

Os processos se sobrepõem e se inter-relacionam, enquanto os

métodos clínicos se valem de particularidades verbais pouco literais: as

metáforas e analogias ao problema devem ser elaboradas para que

sejam funcionalmente equivalentes ao padrão de evitação, os

paradoxos mostram as armadilhas do comportamento verbal, e os

exercícios experienciais permitem a exposição aos eventos privados

aversivos (Luciano et al., 2006).

A ênfase está na relação terapêutica e nas interações durante a

sessão. A ACT é fluída, dinâmica e essencialmente experiencial. Espera-

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se que o paciente aprenda a resolver seus problemas de forma útil,

gerando regulações verbais do próprio comportamento que estejam

sob controle dos valores pessoais e não das funções verbais dos

eventos privados (Luciano et al., 2006; Hayes et al., 1999).

Evidências

Finalmente, os métodos clínicos são numerosos e baseiam-se

tanto nas investigações sobre transformações de funções,

aprendizagem relacional e papel dos eventos privados na regulação do

comportamento como em ensaios clínicos.

Os ensaios clínicos com base na ACT são relativamente novos.

Somente a partir da publicação do primeiro livro publicado por Hayes,

Strosahl and Wilson em 1999 (Acceptance and Commitment Therapy: An

experiential approach to behavior change) que estudos passaram e ser

feitos. Ainda assim a produção científica na área tem sido intensa e o

número de artigos publicados praticamente dobrou somente nos

últimos três anos (Hayes et al., 2006; Ruiz, 2010).

Análises dos processos mediacionais têm fornecido evidências

para a influência de processos descritos pela ACT – como aceitação,

desfusão e valores – na produção de bons resultados clínicos

(Lundgren, Dahl, & Hayes 2008). Estudos correlacionais também

apontam que a ausência desses processos pode prever algumas

psicopatologias como depressão e ansiedade (Hayes et al., 2006).

A ACT tem demonstrado evidências de eficácia em ensaios

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clínicos randomizados para uma variedade de patologias como dor

crônica, dependência de drogas, depressão, tabagismo, ansiedade,

psicose, estresse no trabalho, gestão de diabetes, emagrecimento,

tratamento da epilepsia, auto-mutilação, insatisfação corporal,

transtornos alimentares, entre outros (Hayes et al., 2006; Ruiz, 2010)

Para a Associação americana de Psicologia, a ACT é considerada

um tratamento empiricamente validado para depressão e dor crônica.

Outros órgãos governamentais americanos como o Substance Abuse

and Mental Health Services Administration of the United States também

consideram a ACT como um tratamento empiricamente validado para

psicose, estresse no trabalho, transtorno obsessivo depressivo e

depressão (Twohig, 2012).

Conclusão

Enfim, a ACT procura criar contextos para aumentar a

flexibilidade psicológica através da associação de processos de

aceitação e atenção ao momento presente com ações comprometidas

com valores, desenvolvendo padrões mais amplos de respostas ao

alterar as funções dos eventos privados na determinação do

comportamento, tornando o comportamento mais sensível às

contingências ambientais.

À partir do crescente e significativo corpo de evidências acerca

da eficácia da ACT em um amplo escopo de patologias, é possível

afirmar que a mesma vem destacando-se progressivamente como uma

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terapia comportamental de forte suporte empírico (Hayes, Masuda,

Bissett, Luoma, & Guerrero, 2004).

A proposta á audaciosa: os avanços da Teoria dos Quadros

Relacionais e da ACT trariam o comportamento verbal e a cognição

humana à luz da análise clínica de uma maneira inédita.

E precisamente por isso, muito precisa ser feito para que a total

compreensão dos métodos e processos permita que a abordagem

conquiste o pleno reconhecimento da comunidade acadêmica.

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¹ Professor Adjunto I do Colegiado de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Mestre em Psicologia

Experimental: Análise do Comportamento pela PUC-SP e Doutor em Teoria e Pesquisa do Comportamento pela UFPA.

Em seu modelo de seleção por consequências Skinner

(1965/1953, 1981) propõe que um mesmo processo seletivo estaria

por trás de diversos fenômenos e processos naturais, tais como a

filogênese (seleção natural), a ontogênese (seleção operante) e a

culturogênese (seleção cultural). Em comum, estes três níveis teriam o

fato de terem suas variantes, sejam características anátomo-

f i s i o l ó g i c a s o u co m p o r t a m e n t a i s i n a t a s , s e j a m p a d r õ e s

comportamentais aprendidos ou sejam práticas culturais, selecionadas

por sua eficiência em produzir certas alterações no ambiente. Como

pode ser observado, o primeiro nível diz respeito ao campo da biologia,

fisiologia ou etologia; o segundo ao campo da psicologia e; o terceiro ao

campo das ciências sociais.

Nota-se também que o lugar da psicologia no modelo de seleção

por consequências é no segundo nível, o da ontogênese. Contudo,

diversos analistas do comportamento com amplo interesse em

temáticas sociais vêm tentando interpretar fenômenos sociais dos

mais diversos e, nesse processo, feito incursões no campo das ciências

sociais (e.g. Skinner, 1976/1948; Rakos, 1988; Dixon, Dymond,

Rehfeldt, Roche, & Zlomke, 2003). Ao longo dos primeiros 40 anos da

Análise do comportamento e análise da cultura:

onde estamos e para onde vamos?Christian Vichi¹ Universidade Federal do Vale do São Francisco

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análise do comportamento, a investigação dos processos

comportamentais básicos na ontogênese, tais como relações

resposta-consequência, controle de estímulos e esquemas de

reforçamento, parece ter captado a maior parte dos recursos humanos

e financeiros da área. Poucos eram os trabalhos sobre comportamento

social e principalmente sobre práticas culturais, e quando surgiam

normalmente tratavam de uma tentativa interpretativa ou aplicada dos

conhecimentos sobre princípios básicos do comportamento operante

numa prática cultural (e.g. Cohen & Filipczak, 1989/1971).

Evidentemente os princípios comportamentais básicos estão

presentes onde quer que haja comportamento (humano ou não).

Porém, se aceitarmos a assertiva de Skinner (1981; 1965/1953) de que

o processo seletivo ocorre em três níveis distintos, com três áreas

distintas de conhecimento; se observarmos que os princípios básicos,

de pelo menos dois destes níveis (filogenético e ontogenético), estão

relativamente bem descritos e; se entendermos que estes princípios

permitem a observação de semelhanças e diferenças entre eles (cf.

Donahoe & Palmer, 1994; Hull, Langman, & Glenn, 2001); por

generalização seremos obrigados a supor que um nível não pode ser

reduzido a outro, pois envolvem processos que se diferenciam, tanto

quanto se assemelham.

66

Estes três processos (seleção na biologia, imunologia e

comportamento) devem ser estruturados de tal maneira que a

interação ambiental causa replicação diferencial. Todos os três

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As diferenças entre estes níveis, sobretudo, justificam as

separações dos diferentes campos de conhecimento. Neste sentido,

não se pode explicar comportamento humano com base puramente no

funcionamento neurofisiológico do cérebro, assim como,

supostamente, não poderemos explicar uma prática cultural com base

puramente no comportamento operante dos indivíduos que integram a

prática. Existem processos básicos nos níveis anátomo-fisiológicos e

ontogenético, muitos deles assemelhados, outros diferentes, é

possível, portanto que haja processos básicos no nível cultural também

e que estes guardem semelhanças e diferenças com os outros dois

níveis de variação e seleção.

Ao abordar práticas culturais os analistas do comportamento

frequentemente abordam comportamento social de diversos tipos,

cujos quais não trataremos aqui (para uma discussão dessa temática

ver Guerin, 2001; Sampaio & Andery, 2010 e Schimitt, 1998). Para os

objetivos do presente trabalho pode-se definir o comportamento

social como “... o comportamento de duas ou mais pessoas em relação

uma à outra, ou em conjunto em relação ao ambiente comum” (Skinner,

1965/1953, p. 297).

67

sistemas incluem variação. Porém, a quantidade que variação

difere de sistema para sistema ... A unidade natural de variação

é menos óbvia com relação ao comportamento do que com

relação aos outros dois sistemas. (Hull et al., 2001, p. 527,

acréscimos adicionados)

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A definição acima descrita merece alguma reflexão, pois fornece

base para uma discussão de práticas culturais e sua relação com o

comportamento social. Observe que inicialmente a definição sugere

que o comportamento social envolve “...o comportamento de duas ou

mais pessoas em relação uma à outra...”, ou seja, quando uma pessoa se

torna ambiente social, seja como um estímulo antecedente ou como

um estímulo consequente para o comportamento da outra; neste caso,

tem-se um padrão de comportamento social simples. A segunda parte

da definição deixa as coisas mais interessantes para os interessados no

estudo da cultura, pois aponta, também como comportamento social, o

comportamento das pessoas “... em conjunto em relação ao ambiente

comum”. Neste caso, tem-se uma relação entre a relação de uma

pessoa com a outra e um ambiente comum.

Tal relação, entre as relações sociais e o ambiente comum,

poderia estar sendo alvo do processo seletivo em seu terceiro nível.

Glenn (2004) e Glenn e Malott (2004) chamaram este tipo de

contingência social de contingências comportamentais entrelaçadas

(CCEs) enfatizando o duplo papel dela como comportamento de um

sujeito e ambiente para o outro, e denominaram o efeito destas

contingências sobre o ambiente de produto agregado (PA), notem que o

produto agregado dificilmente poderia ser produzido por um individuo

sozinho, é necessário o entrelaçamento das contingências. Tourinho e

Vichi (2012) sugeriram que o PA, em culturas menos complexas, pode

diretamente selecionar as CCEs; já em culturas mais complexas, ele

interagiria com outros sistemas sociais e seria selecionado por um

Sistema Receptor (SR) (cf. Glenn & Malott, 2004).

68

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Vichi e Tourinho (2012) exemplificam os conceitos acima

descritos com uma pequena comunidade de pescadores que vive da

pesca. Nesta comunidade existem múltiplas relações (CCEs)

envolvidas na prática de pescar, alguns indivíduos pescam (com redes),

outros conduzem os barcos, alguns limpam os peixes e, no final, a pesca

(PA) é dividida entre as famílias. Agora imagine que o negócio da pesca

começa a prosperar, e então um excedente de peixes passa a ser

gerado, o que leva as famílias a organizarem uma cooperativa (novas

CCEs entram em ação). Por meio desta cooperativa a comunidade

passa a revender a produção peixes (PA) para outros distribuidores,

estes distribuidores passariam a atuar como um SR selecionando então

as CCEs e seus PAs. Neste caso, se a qualidade ou quantidade da pesca

não estiver dentro de parâmetros definidos pelo SR, ela poderá não ser

totalmente vendida. Como notamos, em práticas culturais menos

complexas (pesca de subsistência) pode não haver a mediação social de

69

Na medida em que a mediação social é exigida pode produzir a

diferença entre fenômenos culturais mais ou menos

complexos. Com a mediação social, o produto agregado e a

consequência cultural se tornam diferenciados. Em arranjos

complexos, o produto agregado se torna parte do que é

selecionado e a consequência cultural diferenciada, juntamente

com as CCEs que dão origem a ele. E o papel seletivo agora é

desempenhado pela consequência cultural que difere do produto

agregado. A transição requer crescente mediação social.

(Tourinho & Vichi, 2012, p. 173, itálicos acrescentados)

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um SR (empresa revendedora dos peixes) e a função de Consequência

Cultural seletiva (CC) é exercida diretamente pelo PA (pesca), já em

práticas culturais mais complexas a seleção das CCEs e seus PAs só

acontecem com a mediação social de um SR.

O processo seletivo no nível cultural tende a continuar

gradualmente operando por muitas gerações de modo análogo a uma

linhagem genética ou uma linhagem operante de respostas. O termo

linhagem é usado por Glenn (2004) para enfatizar o caráter evolutivo

das classes de resposta, pois cada resposta é única e ocorre uma única

vez, o que ocorre posteriormente é outra resposta da mesma linhagem

(ou classe) que passa a recorrer com maior ou menor frequência,

produzindo a seleção operante. De modo análogo, uma linhagem

cultural é composta pela recorrência das CCEs ao longo do tempo,

porém estas CCEs excedem o tempo de vida dos indivíduos que

integram uma prática cultural, exigindo com que novos indivíduos

passem a ocupar suas posições em gerações futuras. No exemplo

acima da comunidade pesqueira, poderíamos notar que a comunidade

existe a, pelo menos, 150 anos, e muitos dos pescadores são filhos,

netos e bisnetos de pescadores.

Portanto, assim como numa contingência operante, onde uma

linhagem operante de respostas produz alteração no ambiente e essa

alteração pode ter função seletiva, o mesmo ocorre no nível cultural.

Neste sentido, de modo análogo a uma contingência operante,

teríamos uma metacontingência (por vezes chamada de contingência

cultural, Lamal, 1997), cuja função não é selecionar linhagens operantes

e sim linhagens culturais, compostas por CCEs, ou seja, as relações

existentes entre determinadas funções sociais num grupo.

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Estudos empíricos com práticas culturais

Recentemente analistas do comportamento têm empreendido

estudos empíricos de natureza experimental acerca dos conceitos

empregados no estudo de práticas culturais por uma perspectiva

analítico-comportamental. O leitor não familiarizado com esta

literatura poderá pensar “certo, mas, como seria possível estudar

experimentalmente uma cultura”? E não seria tola essa pergunta, pois

sua resposta não é óbvia.

Evidentemente não seria possível colocar toda uma sociedade

em laboratório, conduzir experimentos e ter um razoável controle das

variáveis, mas isso não é necessário. É possível criar análogos

experimentais de práticas culturais em escala muito menor, assim

como fazem os biólogos aos estudarem o desenvolvimento de

microrganismos numa placa de petri e assim como fez Skinner (1938)

para estudar o comportamento operante (que envolve processos

complexos como pensamentos e sentimentos) empregando uma

amostra simples de operante sob a forma de um rato pressionando uma

barra. Tais análogos não são particulares da Análise do Comportamento

e existem em várias áreas como a Psicologia Social Experimental ou

Sociologia Comportamental, eles são feitos construindo-se

microsociedades ou microculturas de laboratório (cf. Jacobs &

Campbell, 1961; Baum, Richerson, Efferson, & Paciotti, 2004), através

da criação de uma tarefa coletiva usualmente sob a forma de um tipo de

jogo.

A possibilidade de criação de microculturas experimentais de

laboratório tem permitido aos analistas do comportamento produzir

71

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72

estudos experimentais acerca do processo de seleção em seu nível

cultural, a fim de verificar ou refutar as proposições teóricas,

compreender melhor a gênese e dinâmica das práticas culturais por

meio de dados. Tais trabalhos tem contado com marcante presença

brasileira nesta produção (Sampaio, 2008) os sobretudo de programas

de pós-graduação em análise do comportamento, como os da PUC-SP,

USP, UnB e UFPA.

Os estudos experimentais têm se concentrado na

demonstração ou tentativa de replicação de seleção cultural, seleção

CCEs e seus PAs por uma CC (Lopes, 2010; Pereira, 2008; Vichi, Andery,

& Glenn, 2009). Têm sido observado que, como previsto na teoria, as

CCEs e seus PAs podem ser selecionados e também podem ser extintos

(Caldas, 2009). Algumas variações paramétricas tem sido testadas, o

que tem permitido uma complementação teórica de pontos que ainda

não haviam sido previstos, por exemplo, o aumento de complexidade

de componente das CCEs que pode ser ampliado em laboratório com

até quatro participantes (Bullerjhann, 2009), contudo, se o grau de

complexidade da tarefa for muito elevado isso se torna mais difícil, mas

pode ser resolvido com um gradual aumento da complexidade

ambiental (Esmeraldo, 2012).

Sabemos também que é possível manter as CCEs e seus PAs em

esquemas intermitentes de VR2 (Amorim, 2010; Vichi, 2012), VR3, FR2

e FR3 e que as CCEs podem ser instaladas sem passar por CRF, pelo

menos em VR2 (Amorim, 2010). Foi investigado o efeito do controle

antecedente sobre a recorrência das CCEs e seus PAs (Vieria, 2010); a

transmissão de diferentes tipos de descrições verbais ao longo de

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múltiplas gerações (Leite, 2009); e o efeito da remoção das interações

verbais (CCEs verbais) sobre a seleção cultural (Sampaio, Alves Filho,

Barros, & Brito, manuscrito em preparação).

Foi também testado o papel de contingências de suporte sobre

as CCEs (Tadaiesky & Tourinho, 2012) e a criação de um modelo

experimental de superstição (Marques, 2012). Além disso, empregando

a terminologia teórica da análise do comportamento aplicada a cultura e

com os modelos experimentais sendo desenvolvidos, é possível

colocar a teste algumas proposições teóricas clássicas da análise do

comportamento sobre práticas culturais. Como a proposição de que

sistemas sociais com predomínio de contingências aversivas

produziriam a fuga de seus membros para sistemas sociais menos

aversivos (Guimarães, Pedrosa, & Vichi, manuscrito em preparação).

O futuro: promessas e obstáculos

Muitas outras questões empíricas, assim como o

desenvolvimento de modelos experimentais que permitam estudar

questões sociais mais próximas as encontradas no mundo real estão

abertas e devem ser investigadas na Análise do Comportamento.

Começamos recentemente a entender os princípios básicos que

determinam as práticas culturais e ainda estamos longe de ter uma

compreensão mínima sobre o assunto, mas o trabalho vêm sendo

desenvolvido.

A ciência básica da cultura, ou Análise da Cultura, que assim

como a Análise do Comportamento tem suas bases epistemológicas

fortemente calcadas no Behaviorismo Radical, mas cujo objeto de

73

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74

estudo seriam as práticas culturais está em seu início e se supõe que

dentro de algum tempo será possível ousar e tentar transformar os

achados da ciência básica em tecnologia e aplicação para solucionar

problemas sociais, criando assim uma espécie de psicologia

comunitária analítico-comportamental e contribuindo para áreas como

gerenciamento comportamental em organizações, educação, saúde,

organização de serviços públicos, etc. O mesmo ocorreu com a

transferência de conhecimento da Análise Experimental do

Comportamento para a Análise do Comportamento Aplicada nos anos

60 e garantiu um lugar de destaque aos analistas do comportamento no

campo profissional, sobretudo no trabalho com autismo.

Alguns problemas, entretanto, se interpõe e merecem ser

discutidos. No passado analistas do comportamento dedicaram-se

sistematicamente ao estudo do comportamento social (Schmitt, 1998;

Hake & Vukelich, 1972) e produziram uma significativa quantidade de

dados e teorizações sobre o tema, porém, após os anos 80 estes

trabalhos foram diminuindo em frequência e hoje já praticamente não

se encontram trabalhos recentes experimentais sobre cooperação,

competição ou troca na Análise do Comportamento. Somente no

campo aplicado estes conceitos são vistos e raramente influenciados

pela pesquisa básica, as razões disso não são claras. É importante saber

com detalhes o que ocorreu na área de comportamento social e

aprender com a história, a fim de evitar um destino semelhante no

estudo empírico sobre cultura.

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Sabe-se que os trabalhos com comportamento social gozavam

de ampla variabilidade metodológica e de uma certa variabilidade

conceitual, o que pode ter criado entraves no dialogo com os

pesquisadores. Algo parecido começa a ser observado na Análise da

Cultura, recentemente vêm surgindo uma ampla variabilidade de

termos para designarem os mesmos fenômenos, e tais termos, muitas

vezes, não se tratam de um refinamento conceitual, mas sim de uma

substituição injustificada de uma terminologia por outra. Isso pode ser

observado num artigo de Houmanfar, Rodrigues e Ward (2010) em que

os autores propõe um modelo de cinco termos para descrever

metacontingências: a) um milieu cultural-organizacional (antecedente

cultural); b) comportamentos sócio entrelaçados (um nome diferente

para CCEs); c) produto agregado; d) prática do consumidor (um nome

diferente para sistema receptor) e; e) regras do grupo. O modelo

descrito contribui adicionando ao modelo metacontingência um termo

novo e, possivelmente, necessário o a) milieu cultural. Contudo, os

demais ou já estavam descritos em versões anteriores do modelo ou

são desnecessários. É o caso do elemento d) regras do grupo, que

refere-se a descrição de regras (por gerações presentes e anteriores)

que passariam a controlar os comportamentos dos integrantes do

grupo. Regras são descritas com base no contato do grupo com as CCs

e suas regularidades, ou sejam, são selecionadas como CCEs e PAs (ver

Leite, 2009). De fato, as regras parecem ser parte das CCEs e não outra

coisa; este modelo propõe o que, na prática, seria uma divisão de CCEs

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verbais e sociais, na forma de reforço e punição verbal social de um

membro do grupo sobre o outro, e CCEs verbais do tipo regras.

No modelo de Houmanfar et al. (2010) observa-se uma

tendência perigosa e contrária a tradição de parcimônia teórica da

Anál ise do Comportamento. Observa-se uma teorização

desnecessária, gerando uma multiplicação de termos e, quando isso

não ocorre, a mera substituição de um conceito por um novo conceito

com a mesma função. Esta tendência de empregar diferentes

nomenclaturas não é exclusividade destes autores, embora raramente

sejam vistas tamanhas diferenças.

Como Skinner (1990) já sugeriu o esforço para a construção de

uma teoria requer o uso de uma linguagem científica consistente. A

área de Análise da Cultura precisará discutir e possivelmente unificar os

termos empregados, a fim de conseguir criar uma linguagem científica

comum e garantir assim as condições para que a investigação científica

de práticas culturais possa se tornar uma prática que sobreviva. Do

contrário, correrá o risco de se extinguir antes mesmo de conseguir

replicar a tão bem sucedida travessia vista da Análise Experimental do

Comportamento para a aplicação.

76

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O autismo é um distúrbio do desenvolvimento caracterizado por

déficits nas áreas de comunicação, socialização e por padrões restritos

e repetitivos de comportamento. Nos Estados Unidos da América

(EUA), o último levantamento realizado pelo Center of Disease Control

and Prevention (CDC) apontou uma prevalência de um caso

diagnosticado a cada 88 crianças (1,13%). No Brasil, não há dados de

prevalência atualizados, com exceção de uma pesquisa-piloto realizada

em um bairro do município de Atibaia, no Estado de São Paulo (Paula,

Ribeiro, Fombonne, & Mercadante, 2011), a qual apontou um número de

0,3%, o menor da literatura. Questões metodológicas podem ter

interferido no resultado ou até mesmo as características da população

brasileira, uma vez que este foi o primeiro estudo do tipo realizado no

país.

De todo o modo, os números de prevalência são expressivos e,

ao longo dos últimos anos, o número de casos diagnosticados vem

crescendo. Os dados do CDC demonstram que, entre os anos de 2006 e

2008, houve um aumento de 25% nos casos de autismo diagnosticados

nos EUA.

Questiona-se se este crescimento está relacionado a um real

aumento epidemiológico do transtorno ou se a melhora na definição

dos critérios diagnósticos e a maior difusão do tema entre profissionais

O autismo em foco

81

Lygia T. Dorigon

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82

da saúde e da educação não seriam as variáveis responsáveis. É possível

que ambos os fatores sejam relevantes, mas o fato é que atualmente

existem muito mais crianças diagnosticadas com algum transtorno do

espectro autista que há dez anos.

Dado o alto índice de prevalência do transtorno, torna-se

fundamental a discussão sobre o assunto e a disseminação do

conhecimento relacionado a critérios diagnósticos e a tratamentos

possíveis. O diagnóstico precoce tem se mostrado uma ferramenta

importantíssima à intervenção antes dos três anos de idade, o que

favorece imensamente o prognóstico.

Diversos sinais (e.g., falha no contato visual durante a

amamentação, ausência ou déficit de reciprocidade sócio-emocional,

dificuldade em se aconchegar nos braços da mãe, ausência de busca

espontânea por atenção, interesses restritos por determinados

objetos, falha no desenvolvimento de repertórios de imitação,

seguimento de regras e comunicação) podem indicar a presença de um

transtorno do desenvolvimento. Sem o tratamento, não há chances de

reversão do quadro. No entanto, com um atendimento adequado e

especializado, é possível alcançar-se uma melhora tão expressiva que,

em muitos casos, a criança evolui com comportamentos semelhantes

aos das crianças com desenvolvimento típico.

O tratamento multidisciplinar que estimula a criança tanto

quanto possível nas diferentes áreas em que ela apresentar

dificuldades tem sido uma forma eficaz de se garantir a melhora global

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no quadro. Quanto mais oportunidades adequadas de ensino forem

disponibilizadas à criança, maiores condições ela terá de aprender

novos comportamentos e de evoluir de forma positiva.

A participação do psicólogo (especializado) é parte fundamental

neste processo. Nesse sentido, a terapia orientada sob os princípios da

análise aplicada do comportamento vem se mostrando, nos últimos 50

anos, uma intervenção eficaz, com procedimentos definidos,

desempenho mensurável e resultados consistentes. De acordo com

Baer, Wolf e Risley (1968), a intervenção comportamental se diferencia

por ser científica. Para isso, algumas dimensões norteadoras da prática

do analista do comportamento têm de ser consideradas. Em síntese,

tais dimensões descrevem que: (a) o comportamento-alvo deve ser

socialmente relevante; (b) as variáveis que controlam o

comportamento, adequadamente identificadas; (c) os procedimentos

a ser utilizados, bem estabelecidos e de acordo com os princípios da

abordagem; (d) as mudanças comportamentais devem ter valor

prático, melhorando significativamente a vida dos indivíduos; (e) devem

se manter ao longo do tempo, em diferentes contextos ou se

estendendo a diferentes comportamentos.

O importante papel da análise do comportamento na

intervenção com crianças autistas, aliada às suas pesquisas sobre o

assunto, vem sendo reconhecido em diversos países desde a década de

1970. Apesar disso, no Brasil, o impacto da análise aplicada do

comportamento ao autismo ainda é muito menor que o de países como,

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por exemplo, EUA e Canadá. De acordo com dados da Fundação de

Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), o Programa de

Pós-Graduação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) é o

único no país que se dedica totalmente à educação especial. Além disso,

há escassez de centros especializados ao redor do Brasil, bem como

pouquíssimos interessados em associar pesquisa e prática.

Por conta desse quadro e considerando a relevância do tema, no

início do ano de 2012, entre os dias 9 e 13 de janeiro, a FAPESP financiou

um evento internacional intitulado Advanced in Research and Treatment

of Autistic Behavior. O evento, que ocorreu no município de São Carlos

(SP), foi organizado pelo professor Celso Goyos, da UFSCar, em

parceria com os pesquisadores analistas do comportamento Caio

Miguel, da Universidade da Califórnia, e Thomas Higbee, da

Universidade de Utah, ambas nos EUA.

O objetivo do evento era a atualização dos profissionais sobre os

avanços relacionados ao autismo nas áreas de diagnóstico e de

intervenção, o compartilhamento de experiência entre pesquisadores

e psicoterapeutas de diferentes nacionalidades e o fomento para a

consolidação de outros grupos de pesquisa sobre o autismo no Brasil.

Foram reunidos cerca de 40 estudantes brasileiros de graduação

e de pós-graduação e 25 do exterior. Trinta e um pesquisadores (nove

brasileiros e 22 de países como EUA, Canadá, Noruega e Espanha) foram

convidados para apresentarem seus trabalhos de pesquisa.

Alguns dos pesquisadores mais importantes da análise do

comportamento, como Brian Iwata, James Carr, Douglas Greer,

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¹ A certificação é reconhecida pela Comissão Nacional de Agências Certificadoras em Washington, D.C. e reconhecido pela Associação de Profissionais analistas do comportamento e pela Associação Européia de Análise do Comportamento.

Thomas Higbee, DickieYu, Rebecca Mac Donald e Dorothea Lerman,

estiveram presentes. Além desses nomes, responsáveis por centros

especializados como o Saint Amant, no Canadá, e o New England Center

for Children, nos EUA, apresentaram suas experiências e modelos de

atendimento (as brasileiras Daniela Fazzio e Paula Braga-Kenyon, entre

outras). A discussão sobre as descobertas mais recentes em pesquisas

genéticas foram apresentadas por pesquisadores renomados, como

Alysson Muotri (da Universidade da Califórnia) e Maria Rita Passos

Bueno (da Universidade de São Paulo).

Um dos aspectos que chamou a atenção, durante o evento, é o

quanto o Brasil ainda é deficitário em termos de pesquisa, intervenção e

legislação sobre o autismo. Nos EUA, por exemplo, centros

especializados no atendimento das crianças com transtorno do

espectro autístico recebem financiamento do Estado e atendem

diversas crianças diária e intensamente. A intervenção é realizada por

horas e compreende o ensino de repertórios comportamentais

básicos, além de treinamento nas atividades de vida diária.

Os responsáveis pelos centros e parte dos psicólogos que

atuam diretamente com as crianças são credenciados pelo Board

Certification Behavior Analys¹(BCBA), que estabelece critérios

específicos para a certificação dos profissionais da área, o que tende a

assegurar a qualidade da intervenção ou, pelo menos, a aumentar a

probabilidade de que isso ocorra.

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Além disso, também nos EUA existem leis específicas

relacionadas ao tratamento dos indivíduos com autismo, que

asseguram direitos, sob responsabilidade do Estado, para que as

crianças recebam tratamento adequado, escola e outros benefícios.

Em 2006, o governo federal aumentou o investimento no combate ao

autismo em cerca de 50%, incluindo recursos relacionados ao

diagnóstico e ao tratamento, bem comoà expansão e à intensificação

das pesquisas biomédicas na área.

No Brasil, este cenário é ainda muito diferente. Há um enorme

esforço de entidades e familiares para que a legislação seja modificada e

assegure direitos às crianças com transtorno do espectro autístico. Em

2011, foi promulgada a lei que institui a obrigatoriedade do Poder

Executivo proporcionar tratamento especializado, educação e

assistência específicos a todos os autistas, independentemente da

idade. Apesar disso, conforme anteriormente apontado, há poucos

centros de atendimento especializado ao redor do país.

O serviço oferecido é insuficiente para atender a

demanda. O que se vê, atualmente, são muitas famílias dispendendo

recursos financeiros para que os filhos possam receber tratamento

especializado por clínicas particulares. Considerando a necessidade de

intervenção intensiva, o custo do tratamento dificulta (e muito) que

muitas famílias tenham condições de financiar os atendimentos. O

número de horas da intervenção acaba se reduzindo às possibilidades

monetárias da família. E, nesse caso, a intensividade, variável que

diferencia as intervenções baseadas em análise do comportamento,

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acaba sendo desconsiderada.

Estamos longe de uma certificação que estabeleça critérios

para garantir profissionais qualificados à frente dos tratamentos, o que

expõe muitas famílias a serviços de psicólogos que dizem

(erroneamente) que “fazem ABA” e que, na verdade, são meros

aplicadores de técnicas e nem sempre sabem o que estão fazendo.

O evento realizado em São Carlos foi de extrema relevância para

o fomento da discussão em torno do assunto e para a elaboração de

projetos e compartilhamento de ideias com o objetivo de estabelecer

novos rumos ao Brasil, tanto no que se refere à pesquisa quanto à

prática. Apesar disso, ainda há muito o que fazer. A discussão precisa

extrapolar um pequeno grupo de analistas do comportamento

interessados em realizar mudanças no cenário atual. É preciso o

engajamento da comunidade como um todo, de instituições não

governamentais, de centros de atendimento gratuito e de profissionais

que atuam em clínicas particulares no sentido de divulgação do

assunto, investimento em pesquisas na área e, principalmente, atuação

junto ao Estado para que a legislação vigente seja revista, devidamente

executada e os direitos à educação e à saúde das crianças com

transtorno do espectro autista sejam efetivamente assegurados.

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Referências

Baer, D., Wolf, M. M., & Risley, T. R. (1968). Some current dimensions of applied

behavior analysis. Journal of Applied Behavior Analysis, 1, 91-97.

Paula C. S., Ribeiro S. H., Fombonne, E., & Mercadante, M. T. (2011). Prevalence of

pervasive developmental disorder in Brazil: A pilot study. Journal of

Autism Developmental Disorder, 41, 1738-1742.

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Economia Comportamental é uma área híbrida de

conhecimento que reúne as Ciências Econômicas e a Psicologia. No

âmbito da Psicologia, a maioria dos trabalhos está baseada em

abordagens cognitivistas, mas o volume de trabalhos baseados no

Behaviorismo Radical/Análise do Comportamento se encontra em

crescimento. Esta faceta analítico-comportamental é demarcada por

uma sobreposição: de um lado, os interesses de analistas do

comportamento em produzir explicações para temas julgados

relevantes pela comunidade de analistas do comportamento; de outro

um conjunto de teorias formuladas por economistas para responderem

outro conjunto de questões, que podem ou não tangenciar temas

psicológicos (IBR, 2012).

Historicamente, a relação entre Economia e Psicologia foi

marcada por períodos de aproximação e afastamentos, em um

movimento quase pendular. O penúltimo período de aproximação

ocorreu no século XIX na busca conjunta, de economistas e psicólogos,

por medidas diretas de “prazer”, que será brevemente descrita abaixo.

Introdução à Economia Comportamental

para analistas do comportamentoAna Carolina Trousdell Franceschini¹Universidade de São PauloDiogo Conque Seco Ferreira²Universidade Federal de Sergipe

¹ Economista, psicóloga e analista do comportamento. MBA em Finanças Corporativas (FIA-USP) e mestranda em Psicologia

Experimental pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

² Psicólogo, mestre e doutor em Psicologia. Professor de Universidade Federal de Sergipe, coordenador do laboratório de

psicologia experimental e pesquisador do Grupo Consuma.

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Em seguida, os dois campos permaneceram afastados por grande parte

do século passado. A recente retomada de esforços interdisciplinares

foi originada por questionamentos internos ao campo econômico

sobre premissas como racionalidade e maximização, pela confrontação

de previsões teóricas e observações empíricas e pelo crescimento da

Economia Experimental. Tais tendências abriram espaço para

iniciativas interdisciplinares, na medida em que economistas passaram

a buscar na Psicologia premissas mais realistas sobre o

comportamento humano, para formular suas teorias (Muramatsu,

2007).

A fundação da Economia Comportamental dentro da Análise do

Comportamento se deveu ao esforço de pioneiros como Hursh (1978;

1980; 1984), Allison (1983), Green e Rachlin (1975), Kagel e Winkler

(1972), entre outros, e se sustentou sobre a convicção de que a busca

por explicações alternativas trazidas de outros campos científicos

poderia promover avanços dentro da própria disciplina-receptora e das

ciências em geral (Foxall, 1990). Condizente com tal proposta, a Análise

do Comportamento vêm testemunhando iniciativas favoráveis à

expansão da aplicação prática dos princípios comportamentais, em

trabalhos use-inspired ou translacionais (Critchfield, 2011). Parte

destes esforços se refletiu na expansão da Economia Comportamental.

O objetivo deste artigo é descrever processos históricos relevantes à

parceria entre Economia e Psicologia/ Análise do Comportamento e

identificar alguns temas nos quais os esforços de pesquisas parecem

estar concentrados, dentro e fora do Brasil.

290

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Similaridades entre Economia e Análise do Comportamento

Algumas similaridades entre os objetos de estudos da Economia

e Análise do Comportamento podem ter facilitado iniciativas em favor

do importe de conceitos do primeiro campo científico ao segundo

(Allison, 1983). Assim como a Análise do Comportamento, a Economia é

também uma ciência do comportamento, mas diferentemente da

primeira, seu foco recai exclusivamente sobre comportamentos sociais

humanos de alta complexidade (Hursh, 1984). Seu objetivo é estudar os

efeitos que a escassez de recursos ambientais produz sobre o

comportamento humano (Robbins, 1945), geralmente pela descrição e

análise de tendências em grandes grupos de pessoas em diferentes

contextos sociais. A Análise do Comportamento, por sua vez, adota um

objeto de estudo mais abrangente ao se interessar por qualquer

organismo, em qualquer ambiente. Seu foco recai sobre a ontogenia de

comportamentos individuais, entendidos como uma relação bilateral

entre organismos e ambiente (Tourinho & Sério, 2010).

Um dos desafios enfrentados por economistas

comportamentais desde a fundação desta área interdisciplinar é a

adaptação dos conceitos econômicos para a linguagem e práticas da

Análise do Comportamento e a verificação da validade empírica destes

conceitos em sujeitos individuais, humanos ou não. Tais iniciativas

somente se justificam se tais conceitos se provarem coerentes e/ou

complementares às explicações comportamentais já existentes.

Nestas investigações, os resultados experimentais, amealhados por

analistas do comportamento ao longo de décadas têm rendido

proveitosos frutos. Muitos conceitos econômicos, como demanda,

elasticidade ou modelos fechados, já foram importados com sucesso e

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hoje consistem em poderosas ferramentas analíticas para temas como

abuso de substâncias químicas, escolha de marcas de produtos, manejo

de contingências clínicas etc. (Hursh, 1984; Bickel, Green, & Vuchinich,

1995; Oliveira-Castro, Foxall, & Schrezenmaier, 2006; Francisco,

Madden, & Borrero, 2009).

Os avanços produzidos pela vertente analítico-

comportamental da Economia Comportamental podem também

oferecer contrapartidas ao campo econômico. Dentre estas estão as

potenciais contribuições às investigações da Economia Experimental,

uma linha de pesquisas que propõe o uso do método experimental para

comparação de teorias econômicas concorrentes, em substituição ou

complemento a outros métodos de pesquisa como a inferência indutiva

ou a lógica pura (Caldwell, 1986; Guala, 2005). A sofisticação

tecnológica dos economistas comportamentais pode também inspirar

avanços metodológicos e conceituais (Kagel & Winkler, 1972), uma vez

que investigações pelo método experimental reúnem os esforços de

uma boa parcela de analistas do comportamento (Tourinho, 2003;

Tourinho & Sério, 2010). Outra potencial contribuição à Economia

reside na ênfase contextualista adotada nas análises funcionais de

contingências entre respostas e estímulos, que oferece explicações

para o comportamento humano, sem a necessidade de recorrer-se a

inferência sobre processos “internos” ou subjetivos.

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Praticamente todos os conceitos usados hoje em Economia

Comportamental foram retirados de um conjunto de temas dentro das

Ciências Econômicas, chamado Microeconomia (Allison, 1983; IBR,

2012). A Microeconomia se debruça sobre o comportamento dos

chamados “agentes representativos”, ou seja, de pessoas no momento

em que assumem papéis sociais como consumidores, empresários,

trabalhadores, investidores etc. Este interesse específico por agentes

representativos cunhou algumas preferências metodológicas. Grande

parte das teorias econômicas atuais foi formulada a partir do método

indutivo inferencial, no qual observações empíricas (não experimentais

ou controladas) são usadas para formulação de predições de eventos

futuros. O procedimento mais comum é a coleta e análise de dados

sobre eventos sociais já ocorridos para embasar a formulação de

hipóteses sobre seus determinantes causais (não funcionais).

Pautados sobre alguns axiomas³ que pretensamente captariam

características do comportamento humano (exemplos: racionalidade,

aversão à perda, preferências intransitivas), cientistas econômicos

costumam propor um conjunto de relações matemáticas que são então

usadas para embasar predições sobre eventos futuros. Neste método,

os esforços costumam estar voltados à construção de um conjunto de

relações matemáticas que detenha coerência interna. A observação

direta de sujeitos individuais em ambientes controlados de laboratório

não é tradicional nas ciências econômicas. O método experimental foi

³ Axioma: premissa considerada verdadeira sem necessidade de demonstração  

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introduzido na Economia somente na década de 70 e seu uso ainda não

é consensual. Mesmo entre economistas experimentais, a preferência

metodológica recai sobre o método experimental hipotético-dedutivo

(ou teórico-formal), ou seja, a realização de experimentos voltados a

avaliar e refutar hipóteses teóricas formuladas previamente (Guala,

2005). Entre analistas do comportamento, a preferência recai sobre o

método experimental indutivo (ou teórico-informal), a partir do

entendimento de que pesquisadores devem partir da observação de

dados para a experimentação, buscando identificar padrões e relações

funcionais entre variáveis, e que somente após tal processo é que

devem ser formuladas leis gerais (Bachrach, 1974).

O uso de sujeitos não-humanos, como pombos, ratos ou

macacos, em experimentos de Economia Comportamental é talvez a

prática que causa maior estranhamento entre economistas. A

justificativa desta prática por analistas do comportamento está na

adoção de princípios evolucionistas, ou seja, no entendimento de que

existe uma continuidade comportamental entre diferentes espécies.

Também se baseia na percepção de que estudos em laboratório não

precisam criar condições perfeitamente análogas entre o “mundo real”

e as contingências experimentais, sendo suficiente a reprodução de

semelhanças entre variáveis e relações de controle vigentes nas duas

situações (Bachrach, 1974). Esta maneira de produzir conhecimento é

uma marca da Análise do Comportamento desde suas primeiras

elaborações e até hoje consiste em um de seus principais pilares

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(Tourinho & Sério, 2010). Vantagens como rapidez na produção de

dados e possibilidades éticas de manipulações sem dúvida despertam o

interesse de cientistas econômicos, mas muitos se mostram céticos

em relação à generalidade dos resultados produzidos desta maneira

para o caso humano, em contextos sociais (Guala, 2005). Por conta

d i s s o , u m d o s d e s a f i o s e n f r e n t a d o s p o r e c o n o m i s t a s

comportamentais é a necessidade de conduzirem testes entre

diferentes espécies de sujeitos e verificar a possibilidade de

extrapolação dos resultados encontrados para casos humanos (Kagel,

Batallio, & Green, 1995).

Uma dificuldade metodológica que se impõe a toda iniciativa de

se “traduzir” conceitos (micro) econômicos para a Análise do

Comportamento deriva do fato de que grande parte destes conceitos

foi erigido sobre dados coletados em grandes populações, sob

condições não controladas (denominadas “séries temporais

agregadas” – aggregate time-series). Até que ponto tais conceitos,

pautados na observação de grandes populações, são adequados para

estudo dos comportamentos de sujeitos individuais? Esta questão foi

examinada por Kagel, Batallio e Green (1995), que propuseram um

conjunto de critérios empíricos a serem atendidos nesta “tradução”,

tais como a homogeneidade das tendências observadas entre sujeitos

individuais, expostos a um mesmo conjunto de contingências, ou a

necessidade de se obter, em laboratório, baixas medidas de dispersão

de médias grupais.

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Breve história da aliança entre Microeconomia e Psicologia

Em 1789, o filósofo Jeremy Bentham postulou que a busca pelo

prazer e esquiva da dor explicariam todas as ações humanas. Para este

autor, objetos físicos, ações ou serviços, tudo que pudesse produzir

prazer ou reduzir dor em alguém, teria Utilidade (em maiúscula para

enfatizar o caráter técnico deste termo). A Utilidade não seria uma

propriedade intrínseca aos objetos, mas algo estabelecido na relação

destes com cada ser humano particular (Bentham, 1823). Note-se que

esta proposta se aproxima bastante da noção de valor reforçador,

formulada séculos adiante.

A noção de Utilidade inspirou toda uma geração de economistas

no século XIX, e a partir dela emergiu uma das mais influentes correntes

de pensamento econômico até hoje, a Neoclássica. Quatro autores são

considerados seus fundadores: Stanley Jevons (1837-1882), Alfred

Marshall (1842-1924), Leon Walras (1834-1910) e Carl Menger (1840-

1921) (Forstater, 2007). Um dos maiores desafios metodológicos dos

Neoclássicos consistia em desenvolver meios de se medir a Utilidade

diretamente. Nesta empreitada, o economista Edgeworth (1879)

propôs que “prazer” poderia ser uma variável empírica. Baseou-se nos

achados da Psicologia Experimental de Wilhelm Wundt (1832-1920) e

Gustav Fechner (1801-1889) para defender a existência de relações

diretas entre quantidades de estímulos (chamados “bens”) e a

intensidade de sensações percebidas pelos sujeitos-consumidores.

Estas relações, se expostas graficamente, formariam uma curva

inicialmente crescente e depois decrescente, o que significava que em

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condições de privação, o aumento na disponibilidade de bens produziria

aumentos de “prazer”/ Utilidade, mas com a proximidade da saciação,

c a d a a c r é s c i m o d o e s t í m u l o p ro d u z i r i a m e n o s e m e n o s

“prazeres”/Utilidade, podendo em extremos causar dor. Esta relação é

denominada Utilidade Marginal Decrescente e até hoje embasa

diversos argumentos microeconômicos.

Os Neoclássicos marcaram profundamente a história do

pensamento econômico e estabeleceram vínculos profundos entre a

Economia e a Psicologia (introspectiva, hedonista) da época.

Entretanto, as mesmas questões que inspiraram esta parceria também

erigiram sérios obstáculos ao projeto de a Economia se tornar uma

ciência exata e empírica, por conta das barreiras metodológicas à

observação direta da Utilidade (Muramatsu, 2007). O desenrolar dos

eventos no campo psicológico parecem ter contribuído para fragilizar

esta parceria.

O Rompimento

As teorias econômicas formuladas ao longo do século XIX foram

solidamente calcadas em informações de correntes psicológicas

introspectivas, nas quais o projeto de se obter alguma medida “interna”

de prazer era tomado como factível. Com a emergência da corrente

behaviorista (não-Skinneriana) e a adoção de critérios de

refutabilidade, alguns expoentes psicólogos classificaram as ideias

N e o c l á s s i c a s co m o n ã o - c i e n t í f i c a s ( M u ra m a t s u , 2 0 0 7 ) .

Exemplificando, William James, em Principles of Psychology (1890),

afirmou não haver evidências empíricas para dar suporte à afirmação de

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que o comportamento humano estaria voltado à maximização do

prazer ou minimização da dor.

Mesmo julgando procedente a crítica quanto à falta de

cientificidade das teorias baseadas na noção de Utilidade e admitindo

as dificuldades metodológicas (Garcia, 1996), muitos economistas

responderam aos ataques desqualificando a necessidade de se

recorrer a bases psicológicas para formular teorias econômicas e

propuseram a independência da Economia em relação a influências

psicológicas (Muramatsu, 2007). Camerer (1999) descreve duas

tendências que a Economia seguiu nesta separação da Psicologia. Uma

delas foi uma tendência à “matematização”, com cientistas recorrendo

cada vez mais a argumentos matemáticos para construção de

argumentos, aspirando aproximar a Economia das ciências exatas. Uma

das estratégias foi a adoção do princípio das Preferências Reveladas

(Muramatsu, 2007): Samuelson (1938), propôs que as escolhas das

pessoas poderiam ser previstas a partir da observação de suas

preferências e da aceitação de um conjunto de axiomas sobre o

comportamento humano ser racional e internamente consistente. A

segunda tendência descrita por Camerer (1999) foi uma ênfase na

capacidade de predição de modelos econômicos: sob influência do

Positivismo Lógico, muitos economistas tentaram desvencilhar a

validade de suas teorias da veracidade de suas premissas,

argumentando que teorias com premissas patentemente falsas

poderiam gerar previsões acuradas. Este argumento é conhecido como

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“F twist”, em homenagem ao seu criador, Milton Friedman (Camerer,

1999).

O retorno às bases psicológicas na Economia

Ao longo do século XX foram se acumulando as críticas ao

pressuposto de que seres humanos seriam racionais e maximizadores

de Utilidade, e estas vozes foram tomando força na mesma proporção

em que evidências empíricas sistematicamente não foram

confirmando previsões baseadas em tais axiomas (Muramatsu, 2007;

Simon, 1955). Como a aceitação das teorias estava firmemente

condicionada à acurácia das previsões, tais evidências começam dar

força ao clamor por bases teóricas mais realistas sobre o

comportamento humano. A busca por explicar os desvios sistemáticos

de previsão econômica (chamadas “anomalias”) propulsionou a

retomada do diálogo entre as duas ciências, que consiste hoje a

Economia Comportamental.

Dado o fato de este artigo ter como foco as contribuições

específicas da Análise do Comportamento para a Economia

Comportamental, não serão expostas as contribuições de outras

abordagens psicológicas. Cabe apenas mencionar que psicólogos

cognitivistas tem se mostrado ativos pesquisadores e interlocutores

junto a economistas, a ponto de suas contribuições terem amealhado o

prêmio Nobel de Economia em 2002, entregue aos psicólogos Daniel

Kahneman e Amos Tversky pela Teoria do Prospecto (1979).

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Economia Comportamental e Análise do Comportamento

Trabalhos em Análise do Comportamento em temas

econômicos existem desde a década de 70, mas foi na década de 90 que

este tipo de pesquisa começou a crescer de maneira consistente. Os

temas mais recorrentes versam sobre curvas ou elasticidade de

demanda, esquemas concorrentes, taxas de desconto (temporal e

probabilístico), economias fechadas ou comportamento do

consumidor. A seguir serão feitas breves incursões em cada

aglomerado temático.

Modelos abertos e fechados

Uma importante contribuição da Economia à Análise do

Comportamento foi a distinção entre sistemas abertos e fechados.

Modelos abertos são os arranjos experimentais mais comuns em

laboratório com não-humanos, nos quais o sujeito recebe reforços

dentro e fora da sessão, como forma de garantir a saúde do sujeito e/ou

mantê-lo em um determinado nível de privação ou peso corporal; em

modelos de economia fechada, a totalidade de consumo é

consequência das respostas emitidas dentro das sessões (Kagel,

Battalio, & Green, 1995). A característica do modelo, aberto ou fechado,

já foi identificada como um fator determinante das taxas de resposta

observadas em sessões experimentais (Hursh, 1984). Em sistemas

fechados, aumentos nos requisitos dos esquemas de reforçamento

produzem aumento nas taxas de respostas, ao passo que em sistemas

abertos é possível observar taxas de resposta inversamente

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relacionadas (Oliveira-Castro & Foxall, 2005; Hursh, 1980).

Bens substitutos e complementares

Esta noção contribuiu para estudos sobre escolhas

concorrentes, Lei da Igualação e comportamento do consumidor.

Tecnicamente, diz-se que dois reforços são substitutos quando o

aumento nas exigências de reforçamento de um estímulo produzir o

aumento da escolha por outro estímulo que esteja simultaneamente

disponível (Green & Freed, 1993). Um exemplo de bens substitutos são

dois produtos similares, de marcas diferentes. Dois estímulos são

considerados complementares se o aumento nas exigências para

obtenção de um estímulo resultar na redução do consumo não apenas

deste estímulo, mas também de outro, cuja exigência para

reforçamento não tenha se alterado. Um exemplo é água e ração:

animais tendem a reduzir a ingestão de água caso obtenham menos

ração. Se a modificação nas exigências para liberação de um reforço não

afetar a escolha de outro reforço disponível, os estímulos são tomados

como independentes. Dentre inúmeras influências deste conceito,

podemos mencionar a Lei da Igualação. Sua versão original (Hernstein,

1970) pressupõe a disponibilidade de dois estímulos perfeitamente

substitutos (Hursh, 1984), ao passo que a Lei de Igualação Generalizada

(Baum, 1974) acomodou efeitos de undermatching e outros viéses

observados (Hursh, 1984) a partir da diferenciação entre bens

substitutos e complementares.

Curvas de Demanda e Elasticidade

O conceito de demanda se tornou popular entre analistas do

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comportamento por oferecer um arcabouço teórico que descreve a

relação entre ingestão de reforçadores, emissão de respostas e

esquemas de reforçamento (Hursh, Raslear, & Shurtlef, 1988). A curva

de demanda descreve a relação entre a quantidade de bens consumida

e seus preços. Diante da ausência de um meio de troca como dinheiro

no repertório comportamental de não-humanos, a curva de demanda

foi transposta para o laboratório a partir da proposta de que respostas

como pressionar uma barra ou bicar em uma chave seriam

funcionalmente análogas ao comportamento de comprar (Francisco,

Madden, & Borrero, 2009; Hursh, Raslear, & Shurtlef, 1988). Supõe-se

que os preços possam ser simulados pelo esquema de reforçamento

em vigor e que, portanto, variações no esquema ou da magnitude do

reforço seriam similares a variações de preços (Francisco, Madden, &

Borrero, 2009). A curvatura da curva de demanda, ou Elasticidade,

oferece uma medida da sensibilidade dos sujeitos experimentais a

variações nas exigências para reforçamento. Outros usos possíveis da

Elasticidade são a medida de quão essencial ou supérfluo um reforço é

para o sujeito experimental (Hursh & Silberberg, 2008), ou das relações

f u n c i o n a i s e n t r e d i f e r e n t e s r e f o r ç o s : s u b s t i t u i ç ã o o u

complementaridade (Kagel, Battalio, & Green, 1995).

A literatura analítico-comportamental apresenta alta

frequência de experimentos sobre demanda e Elasticidade em

pesquisas sobre escolhas de produtos de diferentes marcas (Oliveira-

Castro & Foxall, 2011), abuso de substâncias (DeGrandpre, Bickel,

Higgins, & Hughes, 1994; Carroll, Carmona, & May, 1991; Wade-

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Galuska, Galuska, & Winger, 2011) ou no planejamento de

contingências clínicas (Francisco, Madden, & Borrero, 2009; Borrero,

Francisco, Haberlin, Ross, & Sran, 2007).

Desconto por atraso

As curvas de desconto têm fomentado interesse de

pesquisadores das duas áreas, Análise do Comportamento e

Economia. Ao importar este conceito, analistas do comportamento

encontraram resultados empíricos que contradizem teorias

econômicas, e isso tem gerado alguma resistência, mas também

bastante curiosidade científica. Pesquisas sobre desconto buscam

identificar processos comportamentais pelos quais o valor reforçador

de um estímulo se reduz por conta de sua liberação ocorrer

atrasadamente. Curvas de desconto tradicionalmente são construídas

usando-se contingências de escolhas concorrentes em que os sujeitos

devem escolher entre duas alternativas de resposta, cada uma sob um

esquema de reforçamento. Em modelos de atraso temporal, uma

alternativa de resposta produz uma consequência menor e imediata, e a

segunda alternativa produz uma consequência de maior magnitude,

porém entregue com alguns segundos de atraso. Em estudos com

esquemas probabilísticos, uma alternativa de resposta tem uma

consequência menor, mas liberada com certeza, e outra alternativa

pode liberar ou não um reforço (de maior magnitude), de acordo com

uma probabilidade. De forma geral verifica-se que a eficácia do

reforçamento declina à medida que o atraso aumenta ou a

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probabilidade de reforço diminui (Francisco, Madden, & Borrero, 2009).

O padrão de escolha mais consistentemente entre duas

alternativas, observado por analistas do comportamento, forma uma

curva hiperbólica (Green, Myerson, Holt, Slevin, & Estle, 2004;

Francisco, Madden, & Borrero, 2009), ao passo que a teoria econômica

propõe que o valor de reforços atrasados seria descontado

exponencialmente. Esta suposição foi a base de todo um sistema de

cobrança de juros bancários, de maneira que substituição das curvas

exponenciais por hiperbólicas alteraria a base teórica sobre a qual todo

o sistema financeiro foi construído (Francisco, Madden, & Borrero,

2009).

Curvas de desconto também tem produzido um dos mais

consistentes exemplos de generalidade comportamental entre

diferentes espécies (humanos, macacos, pombos ou ratos) e com

diferentes tipos de reforços (comida, cigarros, água, pontos em

programas de computador etc.) (Madden, Bickel, & Jacobs, 2000;

Green, Fry, & Myerson, 1994; Green, Myerson, Holt, Slevin, & Estle,

2004).

Economia Comportamental e Análise do Comportamento no Brasil

A Economia Comportamental não tem atraído muita atenção

entre os psicólogos brasileiros de diferentes abordagens, de maneira

que a produção de conhecimento no país é em quantidade inferior a

países como os Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Holanda, Suíça,

entre outros, nos quais a Economia Comportamental prolifera. Isso

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significa que há carência de literatura em português e poucas

pesquisas. Entretanto, em contraste com outros países, a abordagem-

líder das pesquisas sobre Economia Comportamental no país parece

ser Análise do Comportamento, de maneira que o Brasil pode vir a se

tornar o maior polo de pesquisas Economia Comportamental dentro

desta abordagem.

Atualmente, pesquisas em Economia Comportamental no Brasil

são dependentes de interesses pontuais de pesquisadores e

estudantes, havendo poucas regiões geográficas que exibem produção

consistente ao longo dos anos. Um breve exame dos trabalhos

apresentados do Encontro Anual da Associação Brasileira de Psicologia

e Medicina Comportamental (ABPMC) entre 2008 e 2011 evidenciou

algumas concentrações temáticas em determinadas regiões

geográficas. Foram encontradas pesquisas de cinco regiões do país que

especificamente abordavam o tema da Economia Comportamental:

São Paulo (USP, UFSCAR e Metodista de Piracicaba), Sergipe (UFS),

Goiânia (UCG), Santa Catarina (UFSC) e Distrito Federal (UnB).

Pesquisas sobre Comportamento do Consumidor foram produzidas

em oito regiões: São Paulo (USP, UFSCAR, Unesp, PUC-SP), Distrito

Federal (UnB), Goiânia (UCG), Espírito Santo (UFES e FAESA), Minas

Gerais (Federal de Uberlândia), Paraná (Unifil), Fortaleza (UFC) e Piauí

(Universidade Estadual do Piauí). O tema da curva de descontos e/ou

Elasticidade apareceu em alguns anos esporádicos, geralmente

enfocando sua aplicação ao tratamento de abusos de substâncias

como álcool e tabaco, em São Paulo (USP) e no Distrito Federal (UnB).

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Em um recente artigo, Todorov e Hanna (2010) apresentam um

apanhado histórico da fundação e desenvolvimento da Análise do

Comportamento no Brasil, do qual podem ser destacados dois tópicos

claramente relacionados à literatura recente de Economia

Comportamental, ainda que os pesquisadores nem sempre

identifiquem seus interesses com a literatura econômico-

comportamental.

Pesquisas Brasileiras sobre Comportamentos de Escolha

O interesse no comportamento de escolha surgiu no Brasil

como resposta ao célebre artigo de Herrnstein (1970) sobre a Lei de

Igualação (Todorov e Hanna, 2010). Grande parte da produção

acadêmica se voltou à investigação dos parâmetros envolvidos na Lei

Generalizada de Igualação (Baum & Rachlin, 1969; Baum, 1974), tais

como as características diferenciais de esquemas de reforçamento,

atraso e magnitude do reforço (Todorov, Hanna, Seco, & Medeiros,

2003). Ao investigar fatores envolvidos em respostas de escolha,

analistas do comportamento acabaram por contribuir na discussão da

tomada de decisões, na formação de preferências e em estudos sobre

autocontrole (para uma análise mais aprofundada, ver Hanna & Todorov,

2002). Ainda na área de tomada de decisões, é válido ressaltar

pesquisas brasileiras que investigam fatores envolvidos em escolhas

envolvendo risco e atraso (Coelho, Hanna, & Todorov, 2003). Estudos

sobre autocontrole inserem-se na literatura de Economia

Comportamental dentro do tema da curva de desconto, nos quais se

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inserem investigações sobre inconsistências temporais entre escolhas

ou sobre reversões de preferências em função da passagem de tempo

(Loewenstein & Elster, 1992).

Pesquisas brasileiras sobre Comportamento do Consumidor

A publicação do trabalho seminal de Oliveira-Castro (2003),

realizado em parceria com pesquisadores internacionais tornou-se

uma referência em pesquisas sobre comportamento do consumidor no

país. Nesta obra, foram investigados comportamentos de busca de

preços como função do preço médio de produtos em supermercados.

Diversas dissertações de mestrado e teses de doutorado vêm sendo

defendidas sobre o tema sob orientação direta deste pesquisador, na

Universidade de Brasília , mas também de outros analistas do

comportamento na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-

GO), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), dentre

outras. O interesse pela área de consumo, tema este ao mesmo tempo

complexo e de grande relevância social, tem servido para aumentar a

visibilidade da Análise do Comportamento em áreas aplicadas, que

pode ser verificada pela publicação de artigos desta orientação teórica

em revistas mais generalistas ou de outras abordagens (Foxall, Oliveira-

Castro, & Schrezenmaier, 2006; Pohl, Oliveira-Castro, Bertoldi, &

Lourenzo, 2006; Ferreira & Oliveira-Castro, 2011). No conjunto, a

produção brasileira se caracteriza por tentar compreender as variáveis

4 Para uma lista destes trabalhos, acessar www.consuma.unb.br, homepage do Grupo de Pesquisas em Comportamento

do Consumidor – Consuma.

8107

4

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que afetam o comportamento do consumidor tanto na compra, como

no uso e no descarte de produtos.

Considerações Finais

A Economia Comportamental foi gestada na área econômica, o

que determinou muitas de suas características e fronteiras de estudo. A

Psicologia, apesar de não determinar os rumos nesta área, tem se

beneficiado de um novo e amplo público interessado em suas

contribuições e pela ampliação do escopo de aplicação prática de seus

princípios para além da tradicional psicoterapia. Entretanto, a maior

parte destes benefícios tem sido usufruída por psicólogos de

orientação cognitivista. É importante que os analistas do

comportamento procurem incluir temas que sejam relevantes à área

econômica em suas pesquisas e ousem um pouco mais na escolha de

veículos de divulgação. Note-se que nenhuma das sugestões acima

implica no sacrifício da precisão das análises realizadas.

Os benefícios em contrapartida são grandes. A Economia

historicamente tem se mostrado como uma das ciências mais abertas

às contribuições advindas de outras áreas, como Psicologia,

Matemática, Sociologia, Marketing, Biologia entre outros. Em troca,

tem oferecido um arcabouço teórico que muito tem a dizer sobre os

efeitos de controles sociais sobre o comportamento humano

(Blanchard, 2004). Trabalhos de “ponte” entre Análise do

Comportamento e Economia tendem a estimular a reflexão e a

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Behaviorismo radical como uma filosofia política

Uma forma de descrever a ciência é como um conjunto de

atitudes que buscam encontrar relações ordenadas nos eventos da

natureza. Nas palavras de Skinner (1953/2005a): “A ciência é mais do

que a simples descrição de eventos à medida que eles acontecem. É a

tentativa de descobrir uma ordem, de mostrar que certos eventos

seguem determinadas leis em relação a outros eventos” (p. 6, tradução

da autora).

Skinner descreve, em diversas passagens dos seus textos, a

posição privilegiada em que se encontram a ciência e os cientistas para

a criação de um mundo melhor. Um exemplo é quando o autor ressalta a

importância da ciência para a resolução de problemas sociais:

Reflexões sobre o estudo da política pela análise do comportamento

Luana Hamilton

115

A escolha é clara: ou não fazemos nada e permitimos que um

futuro miserável e provavelmente catastrófico nos alcance, ou

usamos nosso conhecimento sobre o comportamento humano

para criar um ambiente social no qual poderemos viver vidas

produtivas e criativas, e fazemos isso sem pôr em risco as

chances de que aqueles que se seguirão a nós sejam capazes de

fazer o mesmo." (Skinner, 1976/1978, p. 66, tradução da autora)

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116

Skinner (1953/2005) propôs uma ciência do comportamento

cuja filosofia, como sabemos, foi nomeada “behaviorismo radical”.

Nesta filosofia, as causas do comportamento foram atribuídas à relação

do indivíduo com o seu ambiente, e não a um “eu interior” desse

indivíduo. A determinação dos comportamentos se dá por fatores

outros que não a espontaneidade de um agente interno e tal concepção

impossibilita qualquer tentativa de previsão (Skinner, 1953/2005). O

conceito de comportamento está, então, articulado com as relações

comportamentais e, no caso do comportamento humano,

principalmente com as relações comportamentais sociais e aspectos

destas (Tourinho, 2003).

Tourinho (1993) ressalta que todas as comprovações dos

pressupostos produzidos pela análise do comportamento não foram

suficientes para suplantar a visão de homem mais comumente

encontrada na nossa sociedade: a de que ele é autodeterminado e

dotado de livre-arbítrio. Essa resistência à assimilação de outra

natureza humana cria alguns impasses para intervenções analítico-

comportamentais em instâncias e instituições políticas. Tourinho

(1993) sugere que a inserção política do analista do comportamento

possa ter uma importância, pois “a superação de uma visão de homem

pode não depender simplesmente de uma produção científica, mas de

uma ação política” (p. 8).

Como descreve Dittrich (2004), a política não está fora do

alcance da ciência do comportamento:

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E o autor vai mais longe ao afirmar que “o behaviorismo radical é,

além de uma filosofia política (que versa, descritivamente e

prescritivamente, sobre práticas políticas), também uma filosofia

metapolítica (que versa, descritivamente e prescritivamente, sobre a

produção do discurso denominado filosofia política).” (Dittrich, 2004, p.

463)

Dittrich (2010) ressalta que a filosofia política surge na obra de

Skinner quando este discute a necessidade de um planejamento

cultural voltado para a sobrevivência das culturas. O autor descreve

uma definição possível de política na obra de Skinner:

117

Tradicionalmente, assume-se que juízos de valor estão fora da

alçada científica, cabendo a esta o juízo sobre “fatos”. Para

Skinner, questões éticas e políticas situam-se, sim, no âmbito

da ciência do comportamento – e, portanto, a ciência do

comportamento é, também, ciência dos valores e ciência da

política. Se valores estão nas contingências, valores são objetos

de estudo da ciência do comportamento. (p. 2)

...podemos definir a política como um conjunto de

procedimentos através dos quais se busca produzir certas

consequências, em geral (mas não necessariamente) expostas

a éticas prescritivas. Se aceitarmos tal definição, o conceito de

política é indissociável do conceito de comportament o.”

(Dittrich, 2010, p. 56)

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Assim, apesar de ainda ter muito a ser desenvolvido na

caracterização do behaviorismo como uma filosofia política, é justo

afirmar que ele pode ser tratado desta forma (Dittrich, 2010), e ainda

podemos dizer que “reconhecer tal fato pode inaugurar novas

perspectivas de planejamento e ação entre behavioristas radicais”

(Dittrich, 2010, p. 56).

Estudos conceituais: Reflexões entre áreas

A análise do comportamento é multidimensional: abrangendo

estudos experimentais, intervenções voltadas para a solução de

problemas humanos, produções reflexivas ou metacientificas

(Tourinho & Sério, 2010). O destaque dessa multidimensionalidade é

importante, pois a produção em algumas destas áreas – talvez por uma

questão histórica, já que o início do desenvolvimento da análise do

comportamento se deu por investigações experimentais (Tourinho &

Sério, 2010) – é ainda muito pequeno. E como ressaltam Tourinho e

Sério (2010): “esse reconhecimento deve trazer consequências para o

acesso e atuação de analistas do comportamento em contextos

variados de produção e gestão das práticas psicológicas na cultura”

(p.12). Assim, os estudos reflexivos são parte importante da produção

de conhecimento na análise do comportamento.

As produções que se encontram mais próximas da categoria dos

chamados estudos reflexivos ou conceituais-filosóficos são muito

úteis para a investigação de aspectos políticos das sociedades dentro

118

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da análise do comportamento. Tourinho (1999) ressalta algumas

vantagens deste tipo de trabalho. Uma delas será de especial relevância

nesta discussão; o autor dirá que “os estudos conceituais

frequentemente criam/definem possibilidades de interlocução com

o u t r a s a b o r d a g e n s / c i ê n c i a s , o q u e p r o p i c i a m a i o r

conhecimento/divulgação da abordagem” (p. 221).

Muitas vezes o conhecimento sobre um determinado fenômeno

estudado é desenvolvido de forma paralela entre as ciências, cada uma

aprofundando recortes específicos de suas áreas, mas como ressalta

Gusso (2008):

Assim, algumas questões trabalhadas pela análise do

comportamento podem ser também parte do objeto de estudo de

outras áreas. Um exemplo de estudo que trata de um conceito – cultura

– afim à análise do comportamento e a outra área, no caso a

antropologia, foi realizado por Gusso (2008). O autor buscou

compreender os processos comportamentais existentes nas

definições de cultura na antropologia, explorando as formas que

119

A organização do conhecimento científico em áreas de

conhecimento visa facilitar a localização e o acesso ao

conhecimento produzido. Ainda assim, os fenômenos naturais

não são delimitados pelos mesmos critérios de ordenação e

podem, inclusive, abranger dimensões que perpassam o estudo

de várias dessas áreas. (p. XII)

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diversos ramos da antropologia definiam a cultura. Gusso (2008)

ressalta a importância da análise do comportamento se relacionar com

a antropologia para o avanço das análises culturais.

Existe todo um ramo de conhecimento formado pelas chamadas

ciências humanas (além da antropologia, temos as ciências sociais e

políticas) que pode somar esforços com a produção reflexiva feita

dentro da análise do comportamento. Por muito mais tempo que a

Psicologia, essas ciências vêm desenvolvendo teorias e estudando

processos culturais.

Alguns dos pressupostos que embasam essas teorias podem

divergir bastante dos pressupostos behavioristas, mas justamente os

estudos conceituais podem ser uma prática de diálogo identificando

quando essas diferenças existem ou não, pois uma palavra - ou conceito

- não carrega em si significado; os seus significados são estabelecidos a

partir dos usos que se fazem dela (Skinner, 1957/1992), como

destacam Strapasson, Carrara e Lopes Junior (2007):

Dessa forma, o estudo dos usos de um determinado conceito

em um ou outro sistema explicativo pode ajudar a delimitar

possibilidades e impossibilidades de diálogo entre filosofias e ciências.

120

A interpretação comportamental constitui-se, portanto, como

produto de uma interpretação funcional do comportamento

verbal de propor termos e conceitos no contexto de uma

determinada comunidade como, por exemplo, um modelo

teórico da Psicologia” (p.131).

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Dois estudos de política pela análise do comportamento

Gostaría de apresentar aqui dois estudos que procuraram fazer

essa articulação entre análise do comportamento e discussões

políticas: um que trabalhou relação entre anarquismo e behaviorismo

radical e um segundo que trabalhou as concepções a respeito da

democracia descritas pelos analistas do comportamento.

No primeiro destes trabalhos, na dissertação de Mestrado

intitulada “Os usos do termo 'liberdade' no anarquismo de Bakunin e no

behaviorismo radical de Skinner”, Hamilton (2012) procurou descrever

as compatibilidades e incompatibilidades entre as duas filosofias no que

diz respeito às suas concepções de liberdade humana.

Por meio da análise de textos das obras dos autores estudados, o

trabalho pontuou algumas aproximações entre as filosofias como, por

exemplo, a concepção da natureza humana sem qualidades

intrinsecamente boas ou más, morais ou imorais, cooperativas ou

individualistas e a noção de que essas qualidades são constituídas a

partir da relação do indivíduo com a sociedade/cultura (Hamilton,

2012). Essas similaridades entre as filosofias têm como consequência

serem possíveis algumas contribuições do anarquismo estudado à

análise do comportamento que não são incompatíveis com os

pressupostos behavioristas – e vice e versa (Hamilton, 2012).

Hamilton (2012) descreve uma possível contribuição do

anarquismo de Bakunin as discussões realizadas no âmbito da análise

do comportamento. O autor estudado – Bakunin – critica um governo

121

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formado por cientistas ao descrever passo a passo como as ações

desse hipotético governo passariam do uso da ciência para o bem da

sociedade e se tornariam ações visando à manutenção daquele grupo,

tornando a sociedade cada vez mais necessitada das suas diretrizes e

cuidados. Hamilton (2012) destaca que esta descrição é muito

semelhante às realizadas por Skinner para descrever o funcionamento

das agências de controle. Nas palavras do próprio autor:

E ainda que:

Skinner critica o comportamento dos políticos indicando que

eles atuam de forma a manter sua posição de poder em detrimento do

bem comum da sociedade que regem, mas o autor coloca os cientistas –

122

Governos, religiões e o sistema capitalista, seja público, seja

privado, controlam a maioria dos reforçadores do dia a dia e

devem usá-los, e assim têm feito, para seu próprio

engrandecimento — e não têm nada a ganhar renunciando a

esse poder. (Skinner, 1987b, p. 7, tradução da autora).

As leis dos governos e das religiões são mantidas

principalmente pelo bem das instituições. Consequências

como segurança ou paz de espírito também ocorrem para o

indivíduo (de outro modo, as instituições não sobreviveriam

como uma prática cultural), mas elas são normalmente

atrasadas. (Skinner, 1986/1987a, p. 23, tradução da autora)

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por características específicas do fazer ciência – em um grupo de

pessoas cujo comportamento não seria controlado pela manutenção

do seu status de poder (Hamilton, 2012). Porém, podemos observar

facilmente, em qualquer instituição acadêmica, que muitas vezes os

comportamentos dos cientistas ficam sob controle da manutenção da

sua posição de poder dentro destas instituições.

Afinal os cientistas são homens como outros quaisquer e, como

todos, estão sujeitos às mais diversas contingências. Eles fazem parte

de uma cultura e suas produções não estão à margem de ideologias.

Como ressalta Todorov (2011):

O importante é que todas estas questões sejam explicitadas

para que possamos analisar as condições das produções dos analistas

do comportamento. As análises feitas dentro de um sistema explicativo

– no caso do exemplo acima, o anarquismo – podem servir como fonte

de reflexão em outro sistema – no caso o behaviorismo radical –, sem

ferir com isso os seus pressupostos e podendo abrir novas

possibilidades de reflexão sobre temas tratados nas abordagens. Em

123

É preciso admitir que a ideologia dominante em uma sociedade

dirige tanto os esforços de pesquisa quanto os de aplicação.

Quando questões ideológicas não são explicitadas e analisadas,

corremos o risco de confundir pressupostos básicos da análise

do comportamento com características ideológicas de uma

determinada sociedade. (p. 22)

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suma, a partir dessas reflexões é possível procurar estabelecer e

analisar formas eficientes de atuações políticas dos analistas do

comportamento.

Ao agregar discussões já existentes em outros sistemas

explicativos que não ferem a sua coerência teórica, a análise do

comportamento pode (1) dialogar e se aproximar de outras

abordagens, evitando um isolamento científico e social da abordagem e

(2) se utilizar de forma pragmática de discussões já existentes para

expandi-las e propor novos desdobramentos para as questões

estudadas.

No segundo estudo, Szinwelski (2012) buscou compreender

como os analistas do comportamento descrevem o sistema político

democrático – a democracia – e quais as implicações desta descrição no

planejamento cultural proposto pelos behavioristas radicais.

Esse estudo caracterizou o sistema democrático a partir de uma

perspectiva behaviorista radical e delimitou algumas das

características desse sistema que podem limitar os benefícios que o

conhecimento produzido pela análise do comportamento poderia

garantir a curto e longo prazo, como a noção existente na base desse

sistema do homem livre e autodeterminado (Szinwelski, 2012).

Szinwelski (2012) descreve cinco formas de atuação política dos

analistas do comportamento no contexto de democracia – que é o

nosso contexto político atual:

124

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A primeira forma de atuação descrita por Szinwelski (2012) pode

se relacionar com um tipo específico de estudo que produz

conhecimentos reflexivos acerca de questões sociais e políticas. A

autora ainda levanta três possibilidades de inserção ética dos analistas

do comportamento: “implantação do projeto utópico de Skinner,

substituição do sistema democrático pela personocracia ou, por fim,

inserção (direta ou indireta) no sistema democrático” (p. 82). As duas

primeiras propostas são de difícil execução, sendo a terceira a mais

viável, uma vez que constitui a realidade da maior parte das

comunidades no mundo (Szinwelski, 2012).

O estudo de Szinwelski (2012) demonstra que uma segunda

forma de diálogo pode ser estabelecida entre teorias políticas

tradicionais e o behaviorismo radical. Por meio do estudo de processos

políticos e do funcionamento de suas instituições, as reflexões da

abordagem analítico-comportamental podem ganhar relevância e

125

Produzir conhecimento sobre questões sociais do cotidiano,

como procedimentos políticos e suas implicações; disseminar

conhecimento sobre o que envolve processos democráticos;

arranjar contingências favoráveis ao convívio, incentivando a

cooperação na tomada de decisões; estimular a participação

dos cidadãos na política; e atuar como consultores no processo

de formação de políticas públicas ou como agentes de governo

profissionais. (p.73-74)

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propor novas possibilidades de intervenção na sociedade. Discussões

sobre como as tomadas de decisões políticas são feitas, amparadas por

dados reflexivos e empíricos, podem levar a uma maior compreensão

pelos cidadãos de quais contingências estão vigorando nessas

situações (Szinwelski 2012).

Considerações Finais

Referiu-se aqui a dois tipos de estudos conceituais – não como

as únicas possibilidades – que podem fazer avançar as reflexões de

ordem políticas na abordagem analítico-comportamental, assim como

a interlocução com outras abordagens. Como consequência do

desenvolvimento desta área, espera-se uma maior inserção da análise

do comportamento no contexto político da sociedade e, a longo prazo, a

contribuição para a modificação de algumas práticas culturais.

Os conhecimentos produzidos nesta área, agregados a estudos

empíricos e trabalhos de intervenções (Tourinho, 1999; Tourinho &

Sério, 2010), podem ampliar as possibilidades de atuação política dos

analistas do comportamento, assim como a produção de novas

propostas. Szinwelski (2012) ressalta:

126

Com os avanços das pesquisas sobre metacontingências,

muitos caminhos estão se abrindo para o estudo de fenômenos

sociais. Analistas do comportamento agora podem produzir

conhecimento sobre questões sociais do cotidiano, como

procedimentos políticos e suas implicações, atuando como

cidadãos-cientistas. (p. 74)

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Muitas questões estão em aberto e há todo um campo de

investigações a ser desenvolvido, como por exemplo, confrontar

teorias políticas e seus conceitos, sistemas de organização política,

fazer análises de movimentos populares contemporâneos. Inclusive o

próprio conceito de “política” e “ação política” podem ser temas de

reflexões.

Estudos deste tipo podem delimitar recortes das filosofias e

determinar até que ponto é possível uma convergência entre elas. E,

ainda, ajudar a criar contingências nas quais nós, analistas do

comportamento, possamos ter um papel ativo – junto com os outros

membros da sociedade – na construção e planejamento de nossa

cultura.

E como evidencia Skinner (1955-56/1972):

Nós somos controlados pelo mundo em que vivemos, e parte

desse mundo foi e continuará sendo construído pelos homens.

A questão é: seremos controlados por acidentes, por tiranos ou

por nós mesmos com base em um planejamento cultural

efetivo? (p. 11, tradução da autora)

127

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¹ Texto traduzido do original Kanter, J. W., Puspitasari, A. J., Santos, M. M., & Nagy, G. A. (2012). Behavioural activation: history, evidence and promise. The British Journal of Psychiatry, 200, 361-363. DOI: 10.1192/bjp.bp.111.103390. Tradução de Alessandra Villas-Bôas (USP). Agradecemos grandemente a The British Journal of Psychiatry (2012), revista na qual o presente texto foi originalmente publicado, por nos ceder os direitos de tradução e publicação do presente artigo.² Jonathan Kanter é professor associado, diretor da Clínica Especializada no Tratamento de Depressão e cientista principal no Centro de Pesquisa Aplicada de Saúde Comportamental na Universidade de Wisconsin-Milwaukee. Ajeng Puspitasari, Maria Santos e Gabriela Nagy são estudantes de pós-graduação em Psicologia Clínica no Departamento de Psicologia da Universidade de Wisconsin-Milwaukee. Correspondência: Jonathan W. Kanter, PO Box 413, University of Wisconsin-Milwaukee, Milwaukee, WI 53201, USA. E-mail: [email protected]. Declaração de interesse: J.W.K. dá treinamento profissional em ativação comportamental.

Resumo

A ativação comportamental é uma promessa para reduzir o

fardo mundial da depressão como uma perspectiva de tratamento

efetivo, fácil de ensinar, adaptável e aceitável para aplicadores e

pacientes de diversos contextos e culturas. Este texto revê a história da

ativação comportamental, dando evidências para seu uso e direções

futuras.

Ativação Comportamental: história, evidência e promessa

Em 2008, a Organização Mundial de Saúde previu que, em 2030,

a depressão será a doença mais opressiva no mundo (OMS, 2008). Para

lidar com esse imenso e crescente problema de saúde pública,

precisamos de abordagens para tratar depressão baseadas em teorias

bem embasadas, que facilitem a investigação científica em níveis de

análises psicológica e biológica e que sejam efetivas, fáceis de ensinar,

Tradução de artigo

Ativação Comportamental: história, evidência e promessa¹

Jonathan W. Kanter, Ajeng J. Puspitasari, Maria M. Santos e Gabriela A. Nagy²University of Wisconsin-Milwaukee

131

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132

adaptáveis e aceitáveis para aplicadores e pacientes de diversos

contextos e culturas. Sugerimos que a ativação comportamental traz

grandes promessas nesse sentido, representando um componente

importante de uma estratégia multifacetada clínica e científica para

reduzir o fardo mundial da depressão.

História da ativação comportamental

A ativação comportamental é uma abordagem de psicoterapia

comportamental desenvolvida nos anos 70 por Lewinsohn e seus

colegas (Dimidjian, Barrera, Martell, Muñoz, & Lewinsohn, 2011; Kanter

et al., 2010). Desde sua criação, a base conceitual da ativação

comportamental em simples princípios comportamentais de

aprendizagem, enfatizou a simplicidade e eficiência no tratamento. A

ativação comportamental inicial, que conceptualizou a depressão

como resultado de uma ampla privação de reforçamento positivo e

focou na identificação e programação de atividades prazerosas para

aumentar o contato com fontes de reforçamento positivo, acumulou

considerável suporte empírico. Apesar desse suporte, a ativação

comportamental caiu em desuso nos anos 80, em parte pela

insatisfação com a desatenção da terapia comportamental a

constructos cognitivos, vistos como importantes para a depressão e

pelo aumento da popularidade da terapia cognitiva para depressão. Na

verdade, a terapia cognitiva incluía as técnicas comportamentais

iniciais de monitoração de atividade e programação de atividade em seu

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tratamento, mas essas técnicas eram aplicadas no âmbito de um

enquadramento de mudança cognitiva, ao invés de um modelo baseado

em reforçamento.

O interesse na ativação comportamental como um tratamento

autônomo viável foi renovado por uma análise dos componentes da

terapia cognitiva que verificou que técnicas comportamentais,

utilizadas separadamente do tratamento cognitivo, produziram

resultados equivalentes ao tratamento cognitivo ao final do tratamento

e em follow-up de dois anos. Pesquisadores concluíram que as técnicas

da ativação comportamental eram potencialmente preferíveis em

razão da maior eficiência e facilidade de treinamento dos terapeutas.

Desde então, variações na ativação comportamental têm sido

pesquisadas mais extensivamente, levando a conclusão de que ela

representa um tratamento bem estabelecido e eficaz (Mazzucchelli,

Kane, & Rees, 2009).

Diversas variações da ativação comportamental têm sido

desenvolvidas e refinadas ao longo dos anos (Kanter et al., 2010). As

variações consistentemente focam na programação de atividades para

obter reforçamento positivo, mas a maneira através da qual isso é

alcançado varia um pouco de acordo com a abordagem e existe uma

variedade de técnicas para suplementar e maximizar a efetividade da

programação da atividade existente. Ao contrário das primeiras

variantes de ativação comportamental, tratamentos com ativação

comportamental não mais focam apenas em experiências agradáveis

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ou eventos prazerosos (ou seja, recompensas) como um meio de obter

reforçamento. Em vez disso, reforçamento é definido amplamente

como qualquer evento do ambiente que torne mais provável

comportamentos saudáveis, não depressivos. O terapeuta tenta

ajudar de múltiplas formas o cliente a se reengajar na vida, incluindo o

aumento de experiências prazerosas, ativando “comportamentos de

aproximação” na presença de fortes dicas para esquiva e emoção

aversiva, solucionando problemas, engajando em comportamentos

que levam a experiências de controle e realização, e engajando em

comportamentos significativos e difíceis que são consistentes com

seus valores de vida. Também diferentemente das variações

anteriores, as abordagens atuais não ignoram a cognição, mas

enquanto a terapia cognitiva foca no conteúdo cognitivo negativo, a

atual ativação comportamental foca em comportamentos de

ruminação e procura ativar comportamentos alternativos saudáveis

quando o paciente está ruminando.

Evidência da ativação comportamental

As abordagens atuais de ativação comportamental têm

chamado considerável atenção científica (Mazzucchelli, Kane, & Rees,

2009). Um estudo notável, bem delineado, amplo, randomizado e com

controle placebo, comparou um protocolo de 24 sessões de ativação

comportamental com a terapia cognitiva e paroxetina. Esse estudo

mostrou que todos os tratamentos funcionaram bem para depressão

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leve, mas para depressão moderada a severa, tanto a ativação

comportamental como a paroxetina funcionaram melhor do que a

terapia cognitiva ao final do tratamento de 24 semanas (Dimidjian et al.,

2006), e a ativação comportamental foi equivalente ao uso contínuo da

paroxetina em um follow-up de dois anos. De forma geral, esse estudo

sugeriu que a ativação comportamental é um tratamento efetivo para

depressão moderada a severa, produzindo eficiência equivalente à

paroxetina, com bom engajamento no tratamento, manutenção,

eficiência e custo-benefício.

Ao mesmo tempo, há muito interesse na aplicabilidade da

ativação comportamental, sua facilidade no treino de terapeutas,

facilidade de implementação e acessibilidade aos aplicadores e

pacientes em diversas condições de ambientes de tratamento e

objetivos (Dimidjian et al., 2011). A população com a qual a pesquisa

sobre ativação comportamental foi ou tem sido conduzida com

resultados promissores inclui indivíduos com depressão combinada

com uma variedade de condições (Transtorno de Stress Pós-

traumático, abuso de substâncias, obesidade, diabetes e câncer),

pacientes de diferentes idades (adolescentes, estudantes

universitários, mulheres com depressão perinatal, idosos em asilos e

contextos de vida independente) e pacientes de diferentes religiões

(por exemplo, muçulmanos no Reino Unido) e origens étnicas (por

exemplo, indivíduos de origem latino-americana nos EUA). A ativação

comportamental também tem se mostrado promissora em uma

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variedade de contextos como os tradicionais de saúde mental, aulas de

ginástica, hospitais e hospitais de veteranos, unidades de internação

médica por uso e abuso de substâncias e contextos públicos e

comunitários de saúde mental.

Em diversos desses projetos de pesquisa, os aplicadores não

eram altamente treinados e não incluíam especialistas em saúde

mental e profissionais associados. O melhor exemplo disso é o estudo

randomizado de Ekers e seus colegas, publicado no The British Journal

of Psychiatry (Ekers et al., 2011), no qual enfermeiros de saúde mental,

sem treinamento prévio em psicoterapia, receberam treinamento em

ativação comportamental e o aplicaram efetivamente em um contexto

de saúde primária, com melhoras estatisticamente significativas para

depressão, funcionamento geral e satisfação comparados com os

cuidados usuais. O sucesso desses pesquisadores ao treinar

enfermeiros (sem treino prévio em psicoterapia) é importante e a

análise de custo-benefício desse estudo, sugeriu que a ativação

comportamental pode oferecer um baixo custo por unidade de melhora

comparado com outras intervenções, visando melhoras no tratamento

da depressão na saúde primária.

A promessa da ativação comportamental

A teoria da ativação comportamental da patologia e mudança

está bem especificada, com medidas desenvolvidas para avaliar cada

elemento (Manos, Kanter, & Busch, 2010); assim, a ativação

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comportamental não é apenas pragmática e efetiva no nível clínico, mas

é estável no nível da ciência translacional bio-comportamental. A

suposição por trás da mudança direta de comportamento pela ativação

comportamental não é que fatores comportamentais são os únicos

fatores relevantes para a depressão, mas que a depressão é um

transtorno multissistêmico e, a mudança comportamental, no

contexto de uma relação terapêutica genuína, empática e validante, é

um método direto e pragmático para afetar o sistema. Assim, pesquisas

tem mostrado que tanto mudanças cognitivas importantes (Jacobson

et al., 1996) como mudanças neurobiológicas (Dichter et al., 2009)

ocorrem depois do percurso de um tratamento bem sucedido. A teoria

da ativação comportamental, de fato, se enquadra bem com a pesquisa

neurobiológica sobre os circuitos de recompensa do cérebro e

depressão, no qual o reforçamento do ambiente e o circuito de

recompensa podem ser vistos como processos paralelos em diferentes

níveis de análises. Isso permite que a pesquisa translacional identifique

mediadores biológicos, demográficos, comportamentais e ambientais

e moderadores de resultados de tratamento. Mais pesquisas são

necessárias nessas áreas para clarear seus mecanismos no nível

comportamental e biológico, explorar seus mecanismos no contexto

de mecanismos não específicos (tais como a relação terapêutica), que

também podem contribuir para resultados positivos, e adequar

estratégias de tratamentos para maximizar a implementação do

mecanismo e seu impacto na saúde pública.

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Outro ponto potencialmente forte desse tratamento é que sua

racional é bastante flexível, adaptável e sensata e pode ser levado às

populações e regiões tradicionalmente difíceis de alcançar. Como

apresentado aos pacientes, a racional da ativação comportamental de

que a depressão não é função de causas internas pode ser menos

estigmatizante do que narrativas biológicas sobre a depressão (Rusch,

Kanter, Brondino, Weeks, & Bowe, 2010). Esse pode ser um ponto forte

particular da ativação comportamental em termos do alcance a

populações sub-representadas, para as quais estigmas podem ser

obstáculos especiais, assim como aqueles para quem o modelo médico

da depressão pode ser inadequado ou ameaçador para as crenças

culturais locais. A ativação comportamental, apesar de enraizada

firmemente na tradição médica ocidental, não precisa ser explicada

com termos ocidentais médicos aos pacientes. Além disso,

competentes terapeutas que usam ativação comportamental devem

ser receptivos a valores de pacientes de uma cultura particular ao

definirem as metas de ativação, incluindo metas que sejam

significativas culturalmente, espiritualmente e pessoalmente. Nesse

sentido, ela permite uma estratégia de tratamento da depressão que

pode melhorar resultados e reduzir o fardo mundial da acomodação de

doenças, ao invés de desafiar ou requerer mudanças em crenças e

práticas de culturas locais. Pesquisas adicionais nessas áreas serão de

substancial benefício.

São de grande necessidade pesquisas que capitalizem os pontos

potencialmente fortes da ativação comportamental em termos de

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parcimônia, portabilidade e eficiência de treinamento e que explorem

como treinar efetivamente clínicos em ativação comportamental com

atenção aos tipos e quantidades de recursos necessários ao

treinamento. No momento, existem algumas pesquisas que

corroboram com a ideia de que ativação comportamental efetiva é fácil

de treinar, mas essas pesquisas estão ainda em seu início e longe de

serem definitivas. Além disso, algumas variáveis da ativação

comportamental podem ser mais fáceis de aprender do que outras e, na

verdade, a variável que tem recebido maior suporte empírico (Dimidjian

et al., 2006), pode possivelmente ser a mais complexa e difícil de ser

aprendida. Assim, é necessário pesquisar estratégias, incorporando

tecnologia moderna (como computadores e internet) para treino em

alta-escala efetiva e disseminação da ativação comportamental. Talvez

a promessa final da ativação comportamental seja a de que protocolos

de treinamento podem ser desenvolvidos para maximizar boa

compreensão e implementação da ativação comportamental com

fidelidade aos mecanismos para diversos aplicadores, contextos e

pacientes enquanto minimiza o uso de fontes de treinamento. Se tal

disseminação eficiente e efetiva puder ser alcançada, a ativação

comportamental pode vir a ter um grande impacto sobre a carga global

de saúde pública da depressão.

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¹ Analista do Comportamento, Coordenadora do Curso de Graduação do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília. Orienta pesquisas (básica e aplicada) e intervenções, na graduação e pós-graduação, incluindo Terapia Analítico-Comportamental Infantil. Entre os temas orientados estão práticas culturais (de minissociedades criadas em laboratório à família), a relação criança e mídia, e a ampliação da interpretação de comportamentos emitidos pela criança que não deveriam estar sendo diagnosticados como transtornos psiquiátricos (e.g., pesquisas sobre autocontrole/impulsividade).

A análise dessa história por parte de analistas do

comportamento conduz a algumas interpretações a serem

investigadas em cada família. O que nos parece é que temas relativos às

Arte em ContextoO brincar necessário: falando da vida com as crianças via histórias infantis

Laércia Abreu Vasconcelos¹Universidade de Brasília

142

Era uma vez uma criança que não sabia abordar diferentes

temas da vida – seja falar sobre a escola, o filme, o livro, a rotina

da família ou a programação de lazer. Ela tinha 11 anos e se

mostrava diante da família estendida com comportamentos

que se repetiam tais como pular de um lado para outro o que

conduzia a rotulações da criança – infantilizada. Seus erros eram

seguidos por frequentes críticas diárias a ela como um todo e

não apenas a alguns de seus comportamentos. Os pais não

conversavam com a criança sobre fatos ocorridos no dia a dia:

“Amanhã, quando ela crescer conversaremos, mas hoje ela é

apenas uma criança...”. É como se o coelho de Alice no País das

Maravilhas nos rondasse a todo instante repetindo sua frase:

“Tenho pressa, tenho muita pressa...”. Estamos deixando para

a mídia de tela todos os diálogos sem intermediação...

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143

crianças podem estar se tornando secundários e de menor urgência

quando comparados a temas profissionais do mercado de trabalho. No

momento seguinte, é como se aquela família passasse a buscar

diagnósticos para a agitação, questionamentos, tristeza, agressão, ou

ainda, gravidez na adolescência e consumo de drogas por parte de seus

filhos. Mas, no ponto de partida de tudo, é como se a brincadeira com as

crianças fosse um dos comportamentos mais banais do dia, o qual pode

ser postergado sem prejuízo para 5 min de um domingo. Isto se o

cuidador se lembrar da promessa feita à criança. Prosseguindo nesta

linha do tempo, é como se ele passasse depressa demais e houvesse

um tipo de maturação precoce do século XXI (com uma longa história de

não parceria amorosa com aqueles que são mais significativos na vida

da criança). O sofrimento causado por esta ausência tem resultados

adversos, em geral, de longa duração. E esse ciclo pode se repetir em

novas gerações de famílias.

A infância vivida de forma adversa foi inicialmente destacada por

Freud, Jung, Adler e Melaine Klein, autores de grande impacto nos

cursos de Psicologia em todo o mundo². Skinner, embora de forma

menos popular do que os autores citados desenvolveu a partir de 1937

um instrumental teórico-metodológico para uma ampla abordagem do

desenvolvimento/aprendizagem, o que se sofisticou no transcorrer de

sua obra até os anos 1990, ao incluir uma diversidade de conceitos e

² Ver o filme “Um método Perigoso” (Cronenberg, 2012 - A Dangerous Method) baseado no livro Um Método Muito Perigoso de John Kerr. O filme tem a direção de David Cronenberg e teve estréia em 30/03/2012. Interações de Jung e Freud são abordadas com uma introdução do diferencial teórico de Jung a ser desenvolvido em sua carreira.

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temas abordados. O impacto da atuação de analistas do

comportamento pode ser observado em diferentes contextos e

populações, independente do desenvolvimento típico ou atípico.

Porém, é necessária uma maior divulgação na sociedade brasileira para

além de nossas comunicações especializadas em fontes científicas³.

Ao considerar o comportamento de brincar é como se a ampla

utilização do termo brincar/brincadeira tivesse conduzido os adultos a

uma banalização da rotina de uma criança. É como se o cuidador (e.g.,

pais, tios, avós e babás) se perguntasse – qual é a importância disso?

Apenas psicólogos defenderão o exagero de permanecermos

rotineiramente ao lado de nossas crianças conversando com elas via

brincadeiras? Todo esse contexto mostra aos analistas do

comportamento o quanto deve ainda ser feito para mudar padrões de

comportamentos dos educadores no sentido de promover um efetivo

respeito à criança.

Ao final do século XIX, na França já se observou discussões sobre

os direitos da criança (Mendez & Costa, 1994). E, no transcorrer da

história o Brasil formula o Estatuto da Criança e da Adolescência (ECA,

Lei N° 8.069, 1990), um código de leis que envolve a utopia que devemos

sempre buscar – melhores condições para todas as crianças brasileiras.

Nenhuma criança sem teto, sem família e sem escola. Nenhuma criança

144

³ Ver o filme no qual a analista do comportamento Maria Martha Costa Hübner apresenta a Análise do Comportamento, o qual tem uma excelente edição, imagens e narração. O filme é vendido em feiras do livro ou bienais do livro entre importantes pensadores/educadores, podendo ser utilizado nas escolas de todo o país (Atta Mídia e Educação & Horta, 2007 – Coleção grandes educadores B. F. Skinner). O DVD tem a duração de 40 min com produção e distribuição da Pólo Industrial de Manaus, Sonopress Rimo da Amazônia Indústria e Comércio Fonográficos Ltda. Copyright Paulus, São Paulo. www.paulus.com.br.

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abusada ou sob qualquer condição de risco para seu desenvolvimento

físico e psicológico. A utopia necessária que nos estimula a uma efetiva

programação de contingências nos contextos familiar, escolar entre

outros de apoio da comunidade. Uma criança amada, feliz, que acredita

em si mesma, que se insere em atividades acadêmicas e em interações

sociais. Uma criança com saúde física e psicológica.

A revisão sobre a criação da juventude – como o conceito de

teenage revolucionou o século XX alerta para a falta de parceria das

famílias com seus filhos, neste caso, os jovens quando passaram a ter os

pais fora de casa envolvidos com o mercado de trabalho ou com as

guerras (Savage, 2007/2009). O afastamento entre pais e filhos

resultou em comportamentos sociais de risco e sofrimento

apresentado por muitos jovens. Ademais, as inúmeras famílias

atendidas pelo pediatra Brazelton o faz destacar em sua obra, com um

alto número de publicações de artigos e livros, a necessidade dos pais

dedicarem tempo à brincadeira com seus filhos – pelo menos em dois

blocos de 20 min ao dia – e ainda, evitarem deixar uma criança jovem de

apenas 2 anos diante de uma tela por mais de 2h ao dia (e.g., Brazelton &

Greenspan, 2000/2002).

Analistas do comportamento estão contribuindo neste cenário

ao evidenciarem os efeitos positivos de se observar a evolução de uma

criança passo-a-passo em cada competência a ser desenvolvida em

sala de aula ou no ambiente doméstico. A pesquisa básica, a pesquisa

aplicada e a tecnologia comportamental, todas consideradas de forma

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entrelaçadas, sofisticam o repertório do pesquisador/interventor

(Lattal, 2005). A metodologia de pesquisa utilizada é a do “sujeito como

seu próprio controle” – o indivíduo comparado com ele mesmo em

diferentes condições e sob sua história de vida ou história de um padrão

comportamental (alvo de avaliação/intervenção) (Johsnton &

Pennypacker, 2009; Sidman, 1960/1976). Os analistas do

comportamento têm mostrado também a potencial contribuição da

união de diferentes visões na pesquisa – a idiográfica (com análises da

evolução individual em pequenos grupos) e a nomotética (com análises

estatísticas de grandes grupos) (Harris, 2003). Assim, análises

individuais e grupais são consideradas, e em alguns casos com a

contribuição de um banco de dados normativos do desenvolvimento

em diferentes idades produzidos pela neonatologia, pediatria e estudos

genéticos.

A história apresentada anteriormente tem sido recorrente no

acompanhamento de famílias com crianças e jovens em Terapia

Analítico-Comportamental Infantil – TACI. Profissionais da escola

buscam parcerias diante das dificuldades na promoção de padrões

comportamentais de acompanhamento das crianças pelos pais (e.g.,

dos registros na agenda acadêmica, apresentações na escola,

confecção de tarefas em casa, estudo para as provas e interações

sociais no interior da escola). Portanto, a parceria família-escola

constitui um objeto de pesquisa/intervenção ao discutirmos

contingências que favoreçam a emissão de comportamentos alvos dos

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pais e um posterior fortalecimento, tudo dentro de um variado contexto

caracterizado pelo acolhimento, por interações reforçadoras com os

pais/cuidadores e professores. Intervenções culturais devem ser

planejadas em equipes interdisciplinares (ver Hübner & Marinotti, 2004;

Hübner & Moreira, 2012; Postalli, Almeida, Canovas, & Souza, 2008).

Em todo esse contexto a mídia livros/histórias infantis torna-se

potencialmente valiosa ao possibilitar ao analista do comportamento

aumentar as contingências de interação entre pais e filhos, além da

mediação dos pais frente a conteúdos e imagens divulgados pela

televisão, filmes, videogame e a internet. A formação de valores

voltados para a ética, amizade, saúde, trabalho, família; a abordagem de

diferentes conceitos como gênero, criança, morte, saúde; o ensinar a

estudar; o ensinar a ler, o autocontrole; a aprendizagem são todos

temas que podem compor brincadeiras com histórias infantis

(Carvalho, 2011; Conte & Regra, 2000; de Rose & Gil, 2003; Del Prette,

2006; Postalli, Almeida, Canovas, & Souza, 2008; Vasconcelos, 2003;

Vasconcelos et al., 2006/2008; Zanotto, 1996). A formulação de regras,

a ampliação de análises funcionais podem conduzir a adaptações

sociais com potencialização de resultados favoráveis a cada criança.

A Terapia Analítico-Comportamental Infantil tem muito a

contribuir visando a evolução do respeito à criança, ao jovem e aos pais.

Trabalhos preventivos e de tratamento têm sido programados junto às

famílias (ver Del Prette, 2011; Silvares, 1995). Novos modelos

terapêuticos compõem a TACI, especificamente a Psicoterapia

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Analítico Funcional (Kohlenberg & Tsai, 1991/2001) e a Terapia da

Aceitação e do Compromisso, a ACT (Hayes, Strosahl, & Wilson, 1999).

A família ou os principais cuidadores participam ativamente do

processo terapêutico no qual a criança poderá ou não estar

diretamente envolvida. Um conjunto o mais completo possível de

comportamentos da criança é avaliado – comportamentos manifestos,

encobertos (de acesso especial àquele que o emite) – como

pensamentos e sentimentos serão considerados. Relações verbais são

necessariamente um meio de análise e nas últimas décadas tem sido

crescente a facilidade de expressão das crianças devido ao intenso

desenvolvimento de meios de comunicação por elas precocemente

utilizados.

Assim, o tema histórias infantis como instrumento de pesquisa

e de intervenção por parte de analistas do comportamento é aqui

introduzido via o comportamento de brincar e a Terapia Analítico-

Comportamental Infantil, ao destacar algumas demandas sociais para

as quais pesquisas e intervenções podem envolver equipes

multidisciplinares. A formação em pesquisa ou mesmo uma visão de

pesquisador é necessária neste percurso de coleta de dados e

programações de intervenções no contexto clínico (ver Ireno, 2007,

com importantes pontos sobre a formação de terapeutas analítico-

comportamentais). A organização deste protocolo/prontuário oferece

feedbacks que promovem uma avaliação contínua do trabalho

profissional executado.

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5

Crianças em torno de 10 anos de idade, ao lerem histórias

infantis mostram que em um ambiente no qual a sua leitura e os seus

comentários são valorizados o resultado é uma inserção gradualmente

maior na tarefa. Mesmo que haja desaprovação inicial por parte da

criança quanto ao tema ou ao tamanho do livro (quantidades de palavras

por página e quantidades de páginas por livro) ela o lê e ao final solicita

outros livros para manter consigo. Apesar dos erros de pontuação na

leitura (a falta de pausas adequadas diante de diferentes pontuações

tais como ponto final, vírgula e ponto e vírgula) a criança apresenta a

compreensão do texto, apresentando exemplos de seu cotidiano

(Vasconcelos, et al., 2011).

Diferentes valores fizeram parte dos livros selecionados em

Vasconcelos et al. (2011) tais como aqueles voltados para os temas

amizade, brincadeira, natureza, família, e o relato da verdade.

Inicialmente, foi utilizado um livro sem texto como uma forma de

promover a integração da criança ao contexto da pesquisa e observar

sua própria produção/leitura de imagens. Em seguida, um livro com

menor texto (três a quatro frases por página) seguido por dois outros

livros com maior conteúdo foram utilizados em sessões de

aproximadamente 30 min, nas quais as crianças liam e terminavam com

comentários sobre a leitura. Na replicação deste estudo, ao final da

leitura, temas foram selecionados pelas crianças em uma rodinha de

brincadeiras e discussão, envolvendo valores. Com esta programação,

as crianças interagiram com as pesquisadoras em todo o período e

149

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Projetos de Pesquisa de Iniciação Científica ProIC/CNPq/UnB. 4

4

relataram exemplos e comentários sobre a leitura. Com sorriso no

rosto, brincadeiras e outras histórias foram citadas (Hösel, 2012;

Moura, 2012 ).

A análise de histórias infantis pode ser feita via um recorte do

analista do comportamento de eventos da história, contextos e

comportamentos dos personagens, classificando-os em um dos

elementos da contingência tríplice (Estímulo Discriminativo (SD) –

Resposta (R) Consequência (CSQ)), ou em uma contingência contendo

mais elementos (Operações Estabelecedoras (OE) – SD – R CSQ).

Relações mais complexas que envolvem vários indivíduos e várias

contingências sem uma relação de dependência funcional entre elas

como em macrocomportamentos (ver Gleen, 2004; Vasconcelos, no

prelo) e com dependência funcional entre as contingências – como em

metacontingências (Glenn, 2008) podem também fazer parte destas

interpretações analítico-comportamentais.

Cada contingência, macrocomportamento ou

metacontingência pode ser tema de brincadeira com discussões

programadas sobre cada elemento e os potenciais efeitos observados.

As crianças ou adolescentes serão convidados a contribuir nesta roda

de discussão ao apresentarem seus pontos de vista, trazendo

exemplos do cotidiano. Regras e auto-regras podem ser enfraquecidas,

quando desfavoráveis ao indivíduo ou fortalecidas ao descreverem com

precisão relações funcionais (e.g., Beckert, 2005; Chase & Danforth,

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1991; Meyer, 2005; Pinto, Paracampo, & Albuquerque, 2006). Literatura

científica da análise do comportamento com seus diferentes conceitos,

assim como literatura da grande área da psicologia podem fazer parte

deste contexto. Outras áreas de conhecimento de interface podem

também ser introduzidas de forma a contribuir para a expansão do

debate. Dessa forma, cria-se uma ocasião para modelagem de novos

comportamentos em uma oficina de trabalho criada na escola ou em

casa ou no consultório de um analista do comportamento, pediatra,

ginecologista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, entre outros.

Outros estímulos podem ser considerados neste contexto de

leitura/discussão como pontos da literatura de acesso ao público em

geral, assim como músicas, internet e diferentes brinquedos

compatíveis com o tema em discussão. Assim, o trabalho com histórias

infantis possibilita uma interação interdisciplinar entre a Análise do

Comportamento, a Antropologia da Criança, A Sociologia da Criança,

Pedagogia, Comunicação, Letras e Fonoaudiologia. Interpretações

analítico-comportamentais de trechos da história de um livro ou filme

promovem o enriquecimento/sofisticação do repertório verbal da

criança. “Se utiliza histórias de princesas com crianças de nível

socioeconômico que refletem extrema pobreza?” (uma pergunta

formuladada por uma diretora de biblioteca). Histórias clássicas que

envolvam contextos palacianos podem ser utilizadas com crianças

independentemente de seu nível socioeconômico ao se destacar

pontos da obra e, simultaneamente valorizar aspectos do cotidiano das

crianças, mesmo em um ambiente extremamente carente.

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A aplicação destas estratégias poderia ocorrer ao se utilizar

como exemplo a análise do conceito de felicidade (o que poderia ter sido

identificado como interesse em um grupo de crianças de 12 anos ou de

adolescentes de 15 anos). “Felizes para sempre...” pode ser descrito em

uma contingência, a partir de uma ou mais histórias, com grande riqueza

de detalhes. Conceito de felicidade (SD) – Casar-se (R) � Felizes para

sempre (CSQ). É possível se ter várias destas contingências

envolvendo diferentes reinados, príncipes e princesas, com um

resultado cultural de manutenção dos domínios de determinados

reinados, com a manutenção de determinados tipos de família. É

possível considerar a existência de um macrocomportamento no qual

várias contingências são organizadas de forma que não tiveram seus

elementos (SD, R, CSQ) influenciando o comportamento dos

personagens envolvidos nas diferentes contingências que compõem o

quadro analítico (contingências em diferentes reinos, envolvendo

diferentes personagens e lugares). O produto cultural pode ser

observado sem uma relação funcional de dependência entre os

elementos, sem entrelaçamento de contingências.

152

Macrocomportamento

[Reino A] Conceito de felicidade (SD) – Casar-se (R) � Felizes para sempre (CSQ)

[Reino B] Conceito de felicidade (SD) – Casar-se (R) � Felizes para sempre (CSQ)

[Reino C] Conceito de felicidade (SD) – Casar-se (R) � Felizes para sempre (CSQ)

[Reino D] Conceito de felicidade (SD) – Casar-se (R) � Felizes para sempre (CSQ)

[Reino E] Conceito de felicidade (SD) – Casar-se (R) � Felizes para sempre (CSQ)

[Reino Z] Conceito de felicidade (SD) – Casar-se (R) � Felizes para sempre (CSQ)

Produto Cultural produzido por diferentes agentes:

Manutenção política do reinado

Tipos específicos de família

Controle sobre as escolhas dos esposos para as princesas

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Ao se considerar o conceito de felicidade, a roda de discussão

poderia abordar o “treinamento para felicidade individual e social”

discutido por Dalai-Lama via o milenar Budismo, assim como pela

ciência apresentada pelo psiquiatra Howard C. Cutler (Dalai-Lama &

Cutler, 2011), ou ainda o enorme impacto da “aquisição de habilidades

sociais” sobre crianças e adolescentes (e.g., Bolsoni-Silva, 2002; 2009;

Del Prette & Del Prette, 2001; 2009). A análise da família via áreas

jurídicas, antropologia, sociologia e psicologia são também estímulos

centrais nestas relações funcionais que se formarão na roda de

discussão (Naves, 2008; Naves & Vasconcelos, 2008).

Em um animado workshop as crianças e adolescentes podem ser

expostos a informações tais como as apresentadas a seguir voltadas

para o conceito de felicidade. Um censo geral da Universidade de

Chicago bem como análises do cientista político da Universidade de

Harvard, Robert D. Putnam, mostram que nos últimos 30 anos observa-

se um declínio do engajamento civil, de uma visão comunitária e do

número de amigos próximos e confidentes. As migrações em busca de

melhores trabalhos, melhores salários e mudanças na jornada de

trabalho conduzem à dispersão geográfica de membros familiares,

assim como de amigos de mais longa data. Todos esses fatores têm

contribuído para um relativo isolamento social num contexto de alta

exposição ao computador, televisão e internet. No entanto, Putnam

relaciona maiores redes sociais à diminuição de taxas de criminalidade,

mortalidade e corrupção em um grupo social/país. Portanto, o

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despertar de valores de compaixão, cooperação, o conceito de

amizade, a vida em comunidade, o equilíbrio entre o individualismo e

coletivismo, o equilíbrio entre a independência e a interdependência

são estratégias necessárias no processo de se sentir feliz, da felicidade,

o que deveria estar sendo considerado já com as crianças de tenra idade

em nosso sistema de ensino. O conceito de felicidade envolve um

otimismo definido como uma ampla visão funcional de um problema

sob diferentes aspectos – não a partir de uma única explicação (Dalai-

Lama & Cutler, 2011).

O desenvolvimento verbal das crianças de forma a expressar

seus sentimentos e a descrever seus comportamentos em geral tem

imenso valor no século XXI, considerado o século do diálogo, o século

do homem – o qual recebe destaque em estudos e intervenções sociais.

Tal desenvolvimento pode prevenir comportamentos sociais de risco,

potencializando também o sentir-se feliz, a felicidade, como um dos

antídotos contra sentimentos de raiva e medo, os quais têm sido

seguidos frequentemente por afastamento e/ou ataques. A interação

dos pais no treino do comportamento verbal da criança foi apresentada

por Hart e Risley (1975; 1980; 1995/2004). No ambiente natural da

criança o adulto disponibiliza reforçadores, modelando o repertório

verbal. O ensino pode ocorrer de forma incidental (Hart & Risley, 1975;

1980), o reforçamento pode ser automático (Smith, Michael, &

Sundberg, 1996). O reforçamento automático não exige a deliberação

de outra pessoa. O comportamento da mãe torna-se reforço ao ter uma

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história de emparelhamento com outros reforços poderosos como

alimento ou carinho. Nesse sentido, o relato verbal da criança é

reforçado automaticamente quando ela replica sons de objetos,

animais e especialmente dos pais e outras pessoas (Skinner, 1957).

Este processo pode ter peso significativo no desenvolvimento inicial da

linguagem. Crianças de 11 a 14 meses já mostram mudanças no

comportamento verbal em função de manipulações no ambiente

(condições neutras, reforçadoras e com suave estimulação aversiva)

(Smith, Michael, & Sundberg, 1996).

Os pais podem parafrasear vocalizações da criança, nomear

ações e objetos, auxiliando desta forma na percepção, descrição e no

lembrar das crianças. Em um estudo de alto impacto, Hart e Risley

(1995/2004) mostraram que alguns pais utilizam 28 min diários

interagindo verbalmente com a criança, enquanto outros nada

conversam em 20 min. Assim, crianças cujos pais com elas

conversavam 800 vezes por hora, ouviam mais de 11.000 vocalizações

ao dia, o que representaria ao ano 4 milhões de vocalizações. Esta

frequência de interação no dia a dia, com maior interação com os

adultos conduz a uma clara ampliação do repertório verbal vocal da

criança de 1 a 3 anos de idade.

Adicionalmente, Whitehurst et al. (1988) adotou técnicas

evocativas para encorajar a criança a falar das ilustrações nos livros,

consequenciou com elogios as vocalizações apropriadas, ampliou

informações e modelos diante de uma vocalização inapropriada, e

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ainda, os pais deveriam repetir e expandir as vocalizações de suas

crianças com maior frequência do que o habitual. Estas intervenções

resultaram no aumento da fluência da leitura e no desenvolvimento do

repertório verbal.

Ademais, narrar histórias tem uma função social ao evocar e

modelar, direta ou indiretamente, padrões de comportament os

específicos que têm maior probabilidade de serem reforçados

socialmente (Prebianchi, 2000; Prebianchi & Soares, 2004). Ávila (2006)

investigou as mudanças no comportamento verbal vocal de crianças de

5 anos ao recontarem trechos da história de Branca de Neve e os Sete

Anões. As vocalizações eram reforçadas e os erros sutilmente

corrigidos via modelos oferecidos pela experimentadora em meio a

comentários contendo informações adicionais sobre o tema. Cenas do

filme e desenhos feitos em papel A3 (relacionados aos temas

abordados na mídia filme) mostraram que as crianças aumentaram suas

descrições acerca da história, bem como aumentaram suas relações

funcionais envolvendo eventos e comportamentos dos personagens.

Os grandes desenhos (com belos traços e contexto) relacionados à

história introduziram novos conjuntos de estímulos diferentes do filme

e possibilitar am interações verbais da experimentador a com as

crianças. O diálogo, episódios verbais, foi registrado para além da

postura mais passiva de se assistir ao filme. Intercâmbios entre fantasia

e realidade foram observados com relato de experiências, formulação

de questões e oferecimento de soluções alternativas para as situações

vividas pelos personagens.

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Portanto, a mídia filme pode ser inserida em contextos que

promovam a participação da criança solicitando-a a apresentar sua

opinião, sua compreensão. Nery (2012) analisa as relações de

estereótipos de gênero via exposição a filmes e brincadeiras entre

diferentes grupos formados por três crianças de 7 a 9 anos de idade.

Três diferentes filmes com predomínio de estereótipo masculino (Max

Steel), feminino (Barbie) ou quebra de estereótipo (Shrek) foram

apresentados e seguidos por brincadeiras e entrevistas. As frequências

de comportamentos não-verbais e verbais mostraram os efeitos

destas diferentes fontes sobre as brincadeiras, aumentando de forma

específica a cada filme algumas das seguintes categorias: atividades

domésticas, parentais, cuidados com a aparência/beleza,

violência/agressividade, aventura/esportes/movimento, cooperação

ou neutros. Assim, brinquedos “femininos”, “masculinos” e “neutros”

foram aumentados após a exposição aos filmes Barbie, Max Steel e

Shrek, respectivamente. Este estudo apresenta análises das

repercussões de desses controles culturais sobre os valores e padrões

de comportamentos de educadores e crianças, enfatizando uma vez

mais a importante inserção de analistas do comportamento em

diversos contextos – instituições de ensino, de saúde, organizações

empresariais, consultórios clínicos entre outros. Os dados refletem

também a necessidade de mediação dos pais frente a diferentes mídias

de forma a fortalecerem suas práticas culturais familiares, marcando

presença (estabelecendo controle/influência) rotineira na vida de seus

filhos.

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O refrão da canção Criança Não Trabalha de Sandra Peres nos

lembra com bom-humor, em uma bela interpretação de Sandra Peres e

Paulo Tatit : “Criança não trabalha, criança dá trabalho!!!”.

Educar dá muito trabalho! Produzir profissionalmente dá muito

trabalho! Há custo e benefícios em todas as nossas escolhas! Educar dá

muito trabalho ao necessitar de contatos frequentes e rotineiros com a

criança no transcorrer da semana, dos meses e anos... Educar não

deveria ser de acordo com o humor do educador, escolhendo os dias

para estar com a criança ou para ser carinhoso... Educar com amor

tendo sensibilidade aos comportamentos da criança, o que é

preventivo – oferecer oportunidades de demonstração de amor, de

Ver www.palavracantada.com.br (Peres & Tatit, 2012).5

158

Lápis, caderno, chiclete, pião

Sol, bicicleta, skate, calção

Esconderijo, avião, correria, tambor, gritaria,

jardim, confusão

Bola, pelúcia, merenda, crayon

Banho de rio, banho de mar, pula cela, bombom

Tanque de areia, gnomo, sereia, pirata, baleia,

manteiga no pão

Giz, merthiolate, band-aid, sabão

Tênis, cadarço, almofada, colchão

Quebra-cabeça, boneca, peteca, botão, pega-pega,

papel, papelão

Criança não trabalha, criança dá trabalho

Criança não trabalha...

1, 2 feijão com arroz

3, 4 feijão no prato

5, 6 tudo outra vez...

5

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econhecimento pela evolução da criança na construção de

comportamentos, objetivos, estratégias para uma vida em família, e de

forma mais ampliada para uma vida em sociedade. O diálogo com

crianças e adolescentes exige uma adaptação no sentido de adquirir

funções motivadoras. Não se trata de um “tom professoral” (eu falo e

você deve escutar e seguir), não se trata de inúmeros mandos, não se

trata de palestras. A canção do projeto “Palavra Cantada” ilustra a

necessidade de brincarmos com as palavras, de utilizarmos metáforas,

poesia, brincando de falar da vida...

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