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XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016 Análise ergonômica do trabalho em posto de trabalho de logística, no centro de distribuição de uma empresa do ramo comercial varejista e atacadista Endrigo Rafael Mildner Engenheiro Civil, Esp. em Engenharia de Segurança do Trabalho e Pós-graduando em Ergonomia com Ênfase na Análise Ergonômica do Trabalho Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected] Regina Buhrer Tecnóloga em Recursos Humanos e Pós-graduanda em Ergonomia com Ênfase na Análise Ergonômica do Trabalho Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected] Fernanda Gomes e Silva Oltramari Bel. em Design com habilitação em Design do Produto e Pós-graduanda em Ergonomia com Ênfase na Análise Ergonômica do Trabalho Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected] Angela Drasseno Bel. em Design com habilitação em Design do Produto e Pós-graduanda em Ergonomia com Ênfase na Análise Ergonômica do Trabalho Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected] Claudio Cezar Peres Engenheiro Metalurgista, Esp. em Engenharia de Segurança do Trabalho e Msc. em Engenharia da Produção com Ênfase em Ergonomia Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected] Resumo: O objetivo da presente análise consiste na verificação da adaptação das condições de trabalho em um posto alocado no setor de conferência do centro de distribuição de uma empresa do ramo comercial varejista e atacadista, em relação às características psicofisiológicas dos trabalhadores. A pesquisa fundamentou-se na observação direta, através de filmagem da operação e da realização de entrevistas abertas com os trabalhadores. A quantificação dos riscos para o sistema osteomuscular dos trabalhadores utilizou a equação de NIOSH, além do método RULA e do diagrama de Corlett. O estresse térmico pelo calor foi avaliado através do monitoramento do IBUTG. Os resultados obtidos indicam a existência de sobrecarga de trabalho

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XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016

Análise ergonômica do trabalho em posto de trabalho de logística, no centro de distribuição de uma empresa do ramo comercial varejista e

atacadista

Endrigo Rafael Mildner Engenheiro Civil, Esp. em Engenharia de Segurança do Trabalho e Pós-graduando em Ergonomia com Ênfase na Análise Ergonômica do Trabalho Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected] Regina Buhrer Tecnóloga em Recursos Humanos e Pós-graduanda em Ergonomia com Ênfase na Análise Ergonômica do Trabalho Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected] Fernanda Gomes e Silva Oltramari Bel. em Design com habilitação em Design do Produto e Pós-graduanda em Ergonomia com Ênfase na Análise Ergonômica do Trabalho Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected] Angela Drasseno Bel. em Design com habilitação em Design do Produto e Pós-graduanda em Ergonomia com Ênfase na Análise Ergonômica do Trabalho Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected] Claudio Cezar Peres Engenheiro Metalurgista, Esp. em Engenharia de Segurança do Trabalho e Msc. em Engenharia da Produção com Ênfase em Ergonomia Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected]

Resumo: O objetivo da presente análise consiste na verificação da adaptação das condições de trabalho em um posto alocado no setor de conferência do centro de distribuição de uma empresa do ramo comercial varejista e atacadista, em relação às características psicofisiológicas dos trabalhadores. A pesquisa fundamentou-se na observação direta, através de filmagem da operação e da realização de entrevistas abertas com os trabalhadores. A quantificação dos riscos para o sistema osteomuscular dos trabalhadores utilizou a equação de NIOSH, além do método RULA e do diagrama de Corlett. O estresse térmico pelo calor foi avaliado através do monitoramento do IBUTG. Os resultados obtidos indicam a existência de sobrecarga de trabalho

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para os funcionários do posto em estudo, devido à elevada massa dos volumes manuseados, à repetitividade dos movimentos, às posturas corporais adotadas, ao ritmo de trabalho e à ausência de meios para a recuperação fisiológica, agravados por condições de conforto térmico que geram riscos aos mesmos. Recomenda-se que a empresa adote medidas técnicas ou administrativas no sentido de atenuar a sobrecarga de trabalho imposta aos funcionários que laboram no posto de trabalho objeto do presente estudo.

1 Introdução

A ergonomia pode atuar em diversos aspectos relativos às condições de trabalho para transformá-las, de forma a maximizar a eficiência, o conforto e a segurança. Conforme Abrahão et al. (2009), para transformar o trabalho, é preciso compreendê-lo, o que consiste em um complexo desafio, considerando-se a diversidade de variáveis envolvidas. Nesse contexto, torna-se necessário aplicar os conhecimentos metodológicos estruturados da Análise Ergonômica do Trabalho, a qual se constitui de diversas etapas inter-relacionadas e permite a análise do trabalho, respeitando a variabilidade das pessoas e das características do trabalho.

No departamento de saúde ocupacional do centro de distribuição de uma empresa do ramo comercial varejista e atacadista, observou-se a existência de registros que mostram relevante frequência na procura voluntária por atendimentos ambulatoriais, principalmente por parte de trabalhadores do setor de conferência de mercadorias, geralmente relacionados a queixas de dores lombares, nos ombros, em membros superiores e/ou articulações. Tais fatos podem estar associados a potenciais inadaptações do posto de trabalho com relação às características dos trabalhadores.

A demanda da presente análise consiste na verificação da adaptação das condições de trabalho em um posto de trabalho, alocado no setor de conferência acima citado, em relação às características psicofisiológicas dos trabalhadores. A pesquisa fundamentou-se na observação direta, através de filmagem da operação, além da realização de entrevistas abertas. 2 Análise global da empresa

A empresa em análise atua na área de comércio varejista e atacadista, possuindo um quadro de cerca de seis mil colaboradores, trabalhando em dois centros de distribuição e em mais de trezentas e cinquenta lojas espalhadas por mais de oitenta e cinco cidades, as quais estão distribuídas nos estados da região sul do país e contam com um público superior a três milhões de clientes por mês. São mais de quinze mil itens à venda nas lojas, entre medicamentos, perfumaria, cosméticos, produtos para higiene e beleza, nacionais e importados.

O estabelecimento em estudo compreende o centro de distribuição principal da empresa, alocado em planta com cerca de quatrocentos funcionários. A mesma possui algum nível de automação, através de processos automáticos e semiautomáticos para seleção de produtos, esteiras transportadoras, máquinas para fechar e lacrar caixas, entre outros, mas por outro lado, possui grande volume de trabalho manual e repetitivo. A

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produtividade da planta é programada e supervisionada por um setor de gestão, que estipula e monitora os índices de produtividade e as metas a serem atingidas pelos diversos setores. Tais metas sofrem alterações sazonais em função das variações do mercado.

O regime de trabalho da empresa comporta três turnos distintos, sendo que dois envolvem trabalho noturno, operando de segunda à sexta-feira.

3 Análise da população de trabalhadores

O perfil dos trabalhadores do setor de conferência do centro de distribuição principal é bastante heterogêneo, composto por ambos os sexos, com faixa etária variando entre menores (aprendizes) e maiores de cinquenta anos, e escolaridade variando entre fundamental incompleto e superior incompleto.

Os níveis hierárquicos da área de logística, no qual o setor de conferência está inserido, apresentam basicamente três níveis hierárquicos: coordenação, supervisão e execução. Quanto à escolaridade, para o nível de coordenação, é exigida formação em nível superior em área compatível, enquanto que para o nível de supervisão é exigido pelo menos nível médio e curso técnico em área afim. Já para os funcionários em nível de execução, é desejável o nível fundamental completo, mas não se trata de exigência.

4 Descrição das tarefas e atividades

A descrição das tarefas e das atividades foi desenvolvida conforme os conceitos apresentados por Rabardel et al. (1998). Conforme o autor, do ponto de vista da ergonomia e da análise ergonômica do trabalho, considera-se que há sempre um desvio, às vezes considerável, entre o trabalho prescrito e o trabalho real, às vezes ignorado, não compreendido e, às vezes, não percebido pela própria empresa.

A tarefa prescrita é especificada em procedimento operacional escrito, formalizado pela gestão de logística da empresa. No referido procedimento, consta como atribuições do funcionário: transferir as caixas provenientes das estações automáticas da esteira transportadora para o rack, para conferência; Transferir as caixas provenientes da estação manual para a conferência através do rack, Realizar leitura da caixa em leitor de código de barras; Dispor as caixas com os itens conferidos sobre paletes e encaminhá-los à expedição nos horários determinados; Encaminhar as sobras, no final do turno, para devido tratamento; Observar e atender os procedimentos da área de prevenção de perdas e as normas de saúde e segurança do trabalho.

A observação in loco e a filmagem da operação permitiram detalhar as tarefas reais (ou efetivas). O funcionário pega manualmente as caixas da esteira transportadora proveniente das estações automáticas, desliza através da bancada de modo a passar o código de barras pelo leitor óptico para registro, visualizando os dados do pedido no monitor instalado na bancada, e direciona para a esteira transportadora ou esteira manual (roletes) que as conduzem para os postos de conferência. Além disso, pega manualmente as caixas provenientes das estações manuais, deslizando-as através dos roletes da esteira manual,

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ou pegando-as manualmente de palete disposto no piso, encaminhando para a esteira manual (roletes) que as conduzem para os postos de conferência. Quanto aos volumes já conferidos, o trabalhador pega manualmente as caixas na esteira manual, e as empilha sobre um palete disposto no piso. Nos horários predeterminados, o mesmo efetua o transporte dos paletes ao setor de expedição, através de transpaleteira hidráulica manual. Finalmente, o colaborador encaminha as “sobras”, que são itens equivocadamente adicionados aos pedidos, de volta para o setor de origem. Para tanto, o funcionário deve observar, simultaneamente, o risco de interrupção no fluxo das esteiras transportadoras das estações automáticas, o acúmulo de volumes provenientes das estações manuais, e o cumprimento dos horários estipulados para expedição dos diversos pedidos.

As atividades que compõem a tarefa contemplam levantamento manual de caixas a partir das esteiras e de paletes dispostos no chão, a leitura do código de barras das caixas e a simultânea visualização de dados do pedido no monitor, a deposição manual das caixas sobre as esteiras e sobre os paletes, o deslocamento manual de caixas empurrando-as através da esteira de roletes, e o transporte dos paletes com as caixas mediante a utilização de paleteira manual hidráulica, tanto dos pedidos já conferidos para o setor de expedição quanto às “sobras” para o setor de origem (estações automáticas ou manuais). Além disso, o operador deve tomar decisões quanto às prioridades entre as diferentes tarefas, em função da exigência de tempo e do ritmo de trabalho.

Em relação às normas de produção, destaca-se que um mesmo funcionário trabalha no referido posto de conferência durante toda a jornada de trabalho, que tem duração de oito horas e quarenta e oito minutos, de segunda à sexta-feira. Além do intervalo para alimentação e repouso, com uma hora de duração, não são adotas quaisquer pausas no trabalho.

Observando-se os modos operatórios reais, constata-se que o funcionário pega manualmente as caixas da esteira transportadora, por vezes inclinando lateralmente o tronco, desliza a caixa sobre a bancada direcionando a etiqueta com código de barras no leitor ótico e visualizando o monitor simultaneamente, então transporta manualmente a caixa até a esteira com roletes, muitas vezes inclinando as costas para depositá-la, ou até esteira transportadora que corre no outro sentido. Adicionalmente, o funcionário pega manualmente caixas que são empilhadas sobre paletes dispostos no piso, sendo obrigado a flexionar as costas conforme a pilha diminui.

As atividades desenvolvidas no setor de conferência sofrem pressão de tempo, uma vez que são fixados horários limites para a expedição dos produtos. Quanto ao conteúdo do tempo, destaca-se que no maior período da jornada o funcionário ocupa ambas as mãos pegando duas caixas (verdes) ao mesmo tempo, contudo o peso dessas caixas não é elevado e o funcionário as carrega com notável facilidade. As caixas azuis, consideravelmente maiores e mais pesadas, são transportadas individualmente.

O ritmo de trabalho é imposto, principalmente, através da esteira transportadora que traz as caixas com produtos provenientes da estação automática. Tal esteira movimenta um

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determinado fluxo de caixas e, em caso de interrupção desse fluxo, um alarme sonoro e luminoso é automaticamente acionado.

O conteúdo das tarefas expressa pouca variabilidade nas atividades e baixa participação do trabalhador em decisões sobre o processo. O trabalho é extremamente mecânico e repetitivo, sendo que praticamente o mesmo ciclo de trabalho se repete durante toda a jornada.

Os produtos manuseados pelos trabalhadores do posto de conferência em tela consistem em caixas plásticas contendo os produtos comercializados pela empresa. Existem dois tipos de contentores: as caixas azuis, que possuem volume interno de 0,15m³ e pesam 3,7kg (vazias), e as caixas verdes que possuem volume interno de 0,05m³ e pesam 2,4kg (vazias), as quais são selecionadas em função da quantidade de produtos que compõem o pedido. O peso total de cada caixa varia significativamente, de acordo com as características dos produtos acondicionados e do volume interno do contentor empregado.

O posto de trabalho foi concebido para a postura em pé, sendo que o mobiliário consiste em uma bancada com noventa centímetros de largura por setenta e cinco centímetros de profundidade, e noventa centímetros de altura a partir do piso, localizado entre duas linhas de esteiras transportadoras. A bancada de trabalho é equipada com microcomputador, cujo monitor é montado em suporte que permite a regulagem em altura e rotação. O teclado e o dispositivo de apontamento na tela (mouse) ficam dispostos sobre a superfície de trabalho da bancada, que também conta com um leitor óptico conectado ao sistema informatizado, para proceder à leitura dos códigos de barra impressos nas etiquetas de identificação das caixas.

Em relação às condições ambientais no posto de trabalho, ressalta-se que a edificação destinada ao centro de distribuição não possui características construtivas destinadas ao isolamento térmico do seu interior, e tampouco conta com qualquer sistema de climatização, exceto para as células de escritórios e alguns setores que comportam produtos que necessitam refrigeração. A única medida existente para melhorar o conforto térmico no setor de conferência, nos dias quentes de verão, consiste em ventiladores instalados em suportes elevados no entorno dos postos de trabalho.

5 Observação sistemática da atividade e dos meios disponíveis para realizar a tarefa

Com base na filmagem da tarefa no posto de trabalho do setor de conferência, constata-se que o levantamento manual de caixas com produtos ocorre de maneira repetitiva e constante, durante toda a jornada dos trabalhadores, de forma que o peso total das caixas torna-se um parâmetro crítico a ser verificado, em especial as caixas azuis que são mais pesadas. Abrahão et al. (2009) menciona que operações como o transporte e manuseio de cargas são denominadas trabalho pesado, tendo como características o alto consumo energético e a grande solicitação do sistema circulatório, o que impõe limites à execução de tais atividades.

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O trabalho é dinâmico para os membros superiores e inferiores e, além disso, exige movimentos amplos e frequentes dos membros superiores. Conforme o Manual de Aplicação da NR-17, MTE (2002), estas características justificam o trabalho na postura em pé. Um ciclo típico de movimentação manual de uma caixa com produtos no posto de conferência é mostrado sequência de imagens a seguir.

Figuras 1, 2 e 3: Ciclo típico de movimentação manual de uma caixa com produtos no posto

de conferência em estudo.

Fonte: Registrado pelos autores, com base na pesquisa de campo realizada. Para avaliar os riscos de lombalgia associados ao peso das caixas azuis

manuseadas no posto, foi aplicada a metodologia denominada equação de NIOSH, que consiste em uma ferramenta ergonômica desenvolvida por uma comissão de cientistas, que se baseou em critérios biomecânicos, fisiológicos e psicofísicos. De acordo com Waters et al. (1993), esta equação avalia a sobrecarga física durante o transporte e o manuseio repetitivo de cargas, e tem por objetivo prevenir ou reduzir a ocorrência de dores causada pelo desgaste da atividade.

Conforme Iida (2005), a equação estabelece um valor de referência de vinte e três quilogramas que corresponde à capacidade de levantamento no plano sagital, de uma altura de setenta e cinco centímetros do solo, para um deslocamento vertical de vinte e cinco centímetros, segurando-se a carga a vinte e cinco centímetros do corpo. Essa seria a carga aceitável para noventa por cento dos homens e setenta e cinco por cento das mulheres, sem provocar nenhum dano físico, em trabalhos repetitivos. Esse valor de referência é multiplicado por seis fatores de redução (valores iguais ou inferiores a um), que dependem das condições de trabalho. A tabela a seguir mostra o cálculo do Limite de Peso Recomendado (LPR) para as caixas, considerando-se a natureza da atividade, com base na aplicação da Equação de NIOSH.

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Quadro 1: Cálculo do Limite de Peso Recomendado (LPR) das caixas manuseadas no posto em estudo.

Fonte: Elaborado pelos autores, com base na aplicação da Equação de NIOSH, conforme Waters et al. (1993).

Realizou-se uma amostragem dos pesos reais das caixas manuseadas no posto de trabalho, para fins de comparação com o Limite de Peso Recomendado anteriormente demonstrado. Os valores obtidos são mostrados no quadro a seguir.

Quadro 2: Amostragem do peso real das caixas manuseadas no posto.

Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa realizada.

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Observa-se que a totalidade das caixas verificadas nas amostragens possui peso total superior ao limite calculado através da equação de NIOSH. Conforme os critérios do referido método, esse tipo de tarefa é inaceitável do ponto de vista de ergonomia e deve ser modificada.

Adicionalmente, a observação da atividade no posto de trabalho em análise permite constatar a adoção frequente de posturas de flexão das costas por parte do funcionário. Isto decorre principalmente da necessidade de pegar os produtos nas caixas armazenadas em paletes dispostos ao nível do piso, para depositá-las nas esteiras de roletes, e no caso das caixas com itens já conferidos, depositá-las novamente em paletes dispostos no chão.

De acordo com Kroemer e Grandjean (2005), se a área de trabalho é muito baixa, as costas são sobrecarregadas pelo excesso de curvatura do tronco, o que frequentemente dá margem a queixa de dores nas costas. De fato, os registros do departamento de saúde ocupacional da empresa demonstram relevante frequência na procura voluntária dos funcionários para atendimentos ambulatoriais relacionados a queixas de dores nas costas.

Com o intuito de determinar e quantificar os riscos relacionados à sobrecarga biomecânica associada às posturas críticas anteriormente identificadas foi aplicado o método denominado RULA, sigla para Rapid Upper Limb Assessment. Tal método foi desenvolvido por Mc. Atamney e Corlet (1993), sendo um instrumento ágil e veloz que permite obter uma estimativa da sobrecarga biomecânica nos membros superiores e do pescoço numa determinada tarefa. A determinante de risco fundamental neste método é representada pela postura, que diz respeito ao membro superior, ao pescoço, ao tronco e aos membros inferiores. Os ângulos relativos às duas posturas críticas de flexão das costas analisadas foram estimados com auxílio do software KINOVEA ®.

Após a análise das posturas críticas através do método RULA, constata-se que as posturas de flexão das costas anteriormente descritas necessitam de investigação mais aprofundada e mudanças no posto de trabalho imediatamente, devendo estas ser tratadas em caráter prioritário.

Complementarmente aos métodos de avaliação dos riscos utilizados, aplicou-se o diagrama desenvolvido por Corlett e Bishop (1976) aos dois funcionários que trabalham no posto, o qual se trata de um indicador da percepção de dor e/ou desconforto dos trabalhadores. O referido diagrama apresenta uma imagem do corpo humano dividido em segmentos, no qual o próprio trabalhador indica a percepção de dor ou desconforto em uma escala de intensidade partindo de um (significando “nenhum”) até cinco (significando “intolerável”).

Os resultados da aplicação do diagrama convergem para o sentido da existência de sobrecarga nas costas dos colaboradores, que pode estar relacionado às frequentes posturas de flexão acentuada adotadas, associadas com as elevadas cargas manuseadas. Aliás, o peso elevado das caixas e a repetitividade inerente às atividades em análise, sugerem relação com a indicação de dor e/ou desconforto nos punhos, cotovelos e braço direito.

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Também foram observados aspectos relacionados às condições ambientais de trabalho, evidenciando-se prováveis inadequações relacionadas às condições de conforto térmico. De acordo com Kroemer e Grandjean (2005), a manutenção de um clima confortável é essencial para o bem estar e desempenho do trabalhador.

Dessa forma, procedeu-se uma avaliação quantitativa do estresse térmico por calor no posto de trabalho, utilizando-se equipamento eletrônico denominado monitor de estresse térmico, o qual é equipado com um termômetro de bulbo úmido natural, um termômetro de globo e um termômetro de bulbo seco, conectados a um sistema eletrônico para registro dos dados em intervalo de tempo programável.

As avaliações quantitativas de estresse térmico pelo calor foram realizadas em termos do Índice de Bulbo Úmido e Termômetro de Globo (IBUTG), conforme o Anexo 3 da Norma Regulamentadora nº 15 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e observando-se os critérios e a metodologia prevista na norma de higiene ocupacional brasileira Fundacentro NHO-06: Avaliação da exposição ocupacional ao calor (2002). Foi monitorada uma jornada de trabalho completa no turno diurno, sendo que a condição meteorológica consistia em dia ensolarado e sem nuvens. Os resultados encontrados são apresentados na figura a seguir.

Figura 4: Avaliação quantitativa do estresse térmico por calor no setor de conferência.

Fonte: Elaborado pelos autores, com base na avaliação quantitativa realizada.

De acordo com os critérios estabelecidos no Anexo 3 da NR-15 do MTE, as

atividades desenvolvidas no posto analisado se classificam como moderadas, de forma que o limite de exposição ao calor, para trabalho em regime contínuo, consiste em um IBUTG de até 26,7°C. Analisando o gráfico acima, observa-se que tal limite foi ultrapassado por volta das nove horas e quinze minutos da manhã e se estendeu até o final da jornada. Nessas condições térmicas, o trabalho só é permitido mediante regime de trabalho intermitente com períodos de descanso, conforme indicado na figura.

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Com base nessa análise, constatamos que, em dias quentes, os níveis de calor ultrapassam os limites de exposição legalmente estabelecidos, podendo causar prejuízos à saúde dos trabalhadores.

6 Conclusões

Com base no anteriormente exposto, conclui-se pela existência de sobrecarga de trabalho para os funcionários do posto de trabalho de conferência analisado, uma vez que estes manuseiam repetidamente volumes de elevada massa, mediante grande imposição do ritmo de trabalho e sem a possibilidade de meios para a recuperação fisiológica, além das exigências frequentes para a adoção de posturas críticas, em especial de flexão das costas, em função da configuração do processo produtivo e dos equipamentos envolvidos.

Adicionalmente, observa-se que as condições de conforto térmico no setor geram riscos aos funcionários, durante os meses quentes do ano. De acordo com Iida (2005), as condições climáticas podem influir na saúde, na produtividade e no risco de acidentes do trabalho.

Conforme Guérin et al. (2001), quando o operador não pode regular os meios disponíveis para executar a tarefa, sofrerá constrangimentos os quais compensará com seu próprio corpo, expondo-se aos riscos ocupacionais, condição que pode se traduzir em danos à sua saúde. Considerando-se os conceitos desse autor sobre o modo operatório, podemos depreender que, no caso do posto de trabalho em estudo, o desempenho é obtido às custas da perturbação do estado interno do trabalhador, tendo em vista a impossibilidade deste em regular os objetivos e os meios disponíveis para a realização das tarefas.

A partir do diagnóstico desta análise ergonômica do trabalho, sugere-se que a empresa realize intervenções no posto ora analisado, seja através da implementação de processos de automação que eliminem a sobrecarga de trabalho, ou então através de uma reconfiguração do processo e do posto de trabalho, de modo a minimizar a carga física sobre os trabalhadores.

Adicionalmente, recomenda-se que a empresa adote um sistema de rodízio de operadores entre os postos de trabalho, conforme sugestão dos próprios funcionários entrevistados. De acordo com Gomiero Junior e Reame Junior (2008), através da multifuncionalidade é possível reduzir a monotonia e combater a fadiga, além de maior motivação do trabalhador e enriquecimento do trabalho.

Noutro aspecto, aconselha-se que a empresa estude e implemente medidas para melhoria nas condições de conforto térmico, podendo envolver a adequação das características construtivas de isolamento térmico da edificação, a instalação de sistema de climatização, ou ainda, a melhoria do sistema de ventilação, inclusive avaliando a possibilidade de sistema de umidificação do ar.

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