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5ª REUNIÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PRESIDENTES DO SISTEMA CONFEA/CREA Teresina - PI, 23 e 24 de outubro de 2006 - INFORMES - NOME: Engº Agr. Álvaro José Cabrini Junior – Presidente do Crea-PR DATA: 03 OUT 2006 EMENTA: Restrição ao exercício profissional de tecnólogo da construção civil. Ausência de equiparação ao engenheiro civil ou engenheiro de operação. Assunto: Tecnólogos da construção civil - atribuições do artigo 7º, alíneas “a” até “h” da lei 5.194/66 – ação ordinária nº 2003.70.07.005043-3 – sentença – concessão das atribuições – apelação – manutenção da sentença – recurso especial – reversão de posicionamento – reforma das decisões de 1ª e 2.ª instâncias Conforme noticiado, os profissionais referenciados na epígrafe promoveram perante a Justiça Federal de Francisco Beltrão-PR a Ação Ordinária nº 2003.70.07.005043-3, com pedido de antecipação de tutela, objetivando o reconhecimento judicial de exercerem a profissão de Tecnólogo da Construção Civil, modalidade gerência de obras, no âmbito das atividades prescritas no artigo 7º, letras “a” a “h”, da Lei nº 5.194/66, sem as restrições impostas pela Resolução 313/86 do CONFEA. Ante a análise preliminar do assunto, o Juízo daquela Vara Federal negou o pedido de antecipação dos efeitos da tutela, cuja decisão foi recebida por esta Consultoria Jurídica em 22/03/2004. Após a apresentação pelo Crea-PR da contestação à mencionada ação, o mesmo Juízo Federal prolatou sentença, publicada em 30/09/2004, nos seguintes termos: “(...) Versa a lide acerca da legalidade das limitações impostas pela Resolução 313/86 do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEA, para o exercício da atividade de tecnólogo na área da engenharia civil. A Lei 5.194, de 24/12/66, regula o exercício das profissões de engenheiro, arquiteto e engenheiro agrônomo, dispondo quanto a suas atividades profissionais em seu artigo 7º, in verbis: (...) Mais adiante, o referido diploma legal trata dos órgãos fiscalizadores, determinando que a aplicação do disposto na norma legal e a verificação e fiscalização do exercício e atividades das profissões nela reguladas serão exercidas 1

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5ª REUNIÃO ORDINÁRIA DO COLÉGIO DE PRESIDENTESDO SISTEMA CONFEA/CREA

Teresina - PI, 23 e 24 de outubro de 2006

- INFORMES -

NOME: Engº Agr. Álvaro José Cabrini Junior – Presidente do Crea-PR DATA: 03 OUT 2006

EMENTA: Restrição ao exercício profissional de tecnólogo da construção civil. Ausência de equiparação ao engenheiro civil ou engenheiro de operação.

Assunto: Tecnólogos da construção civil - atribuições do artigo 7º, alíneas “a” até “h” da lei 5.194/66 – ação ordinária nº 2003.70.07.005043-3 – sentença – concessão das atribuições – apelação – manutenção da sentença – recurso especial – reversão de posicionamento – reforma das decisões de 1ª e 2.ª instâncias

Conforme noticiado, os profissionais referenciados na epígrafe promoveram perante a Justiça Federal de Francisco Beltrão-PR a Ação Ordinária nº 2003.70.07.005043-3, com pedido de antecipação de tutela, objetivando o reconhecimento judicial de exercerem a profissão de Tecnólogo da Construção Civil, modalidade gerência de obras, no âmbito das atividades prescritas no artigo 7º, letras “a” a “h”, da Lei nº 5.194/66, sem as restrições impostas pela Resolução 313/86 do CONFEA.

Ante a análise preliminar do assunto, o Juízo daquela Vara Federal negou o pedido de antecipação dos efeitos da tutela, cuja decisão foi recebida por esta Consultoria Jurídica em 22/03/2004.

Após a apresentação pelo Crea-PR da contestação à mencionada ação, o mesmo Juízo Federal prolatou sentença, publicada em 30/09/2004, nos seguintes termos:

“(...)Versa a lide acerca da legalidade das limitações impostas pela Resolução 313/86 do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEA, para o exercício da atividade de tecnólogo na área da engenharia civil.A Lei 5.194, de 24/12/66, regula o exercício das profissões de engenheiro, arquiteto e engenheiro agrônomo, dispondo quanto a suas atividades profissionais em seu artigo 7º, in verbis:(...)Mais adiante, o referido diploma legal trata dos órgãos fiscalizadores, determinando que a aplicação do disposto na norma legal e a verificação e fiscalização do exercício e atividades das profissões nela reguladas serão exercidas por um Conselho de Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA) e Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA), organizados de forma a assegurarem unidade de ação. Em seguida, enumera as atribuições do Conselho Federal, incluindo a competência para baixar e fazer publicar as resoluções previstas para regulamentação e execução da presente Lei.Quanto aos conselhos regionais, dispõe que estes têm, entre outras responsabilidades, a de expedir as carteiras profissionais ou documentos de registro e de cumprir e fazer cumprir as resoluções baixadas pelo Conselho Federal, prevendo, ainda, que os profissionais habilitados na forma legal só poderão exercer a profissão após o registro no Conselho Regional sob cuja jurisdição se achar o local de sua atividade, o qual deverá fornecer a respectiva carteira profissional, conforme modelo adotado pelo Conselho Federal, contendo as especializações devidas. Tal determinação legal visa a especificar com

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precisão os limites da atuação do profissional a fim de evitar eventual exercício de determinada atividade por pessoa não qualificada.Posteriormente, o Decreto-Lei nº 241, de 28/02/67, incluiu entre as profissões cujo exercício é regulado pela Lei nº 5.194/66, a profissão de engenheiro de operação. Em seguida, tendo em vista a competência dada ao sistema de ensino para dispor sobre a formação profissional, o Conselho Federal de Educação, através do Parecer 5.265/78, autorizou a conversão do curso de engenharia de operação em curso de formação em tecnólogos em edifícios, o que foi regulamentado pela portaria 235/84 do Ministério da Educação.Em nível infralegal, a Resolução CONFEA nº 218, de 29/06/73, discrimina atividades das diferentes modalidades profissionais da Engenharia, Arquitetura e Agronomia, dispondo:

“Art. 1º - Para efeito de fiscalização do exercício profissional correspondente às diferentes modalidades da Engenharia, Arquitetura e Agronomia em nível superior e em nível médio, ficam designadas as seguintes atividades:Atividade 01 - Supervisão, coordenação e orientação técnica;Atividade 02 - Estudo, planejamento, projeto e especificação;Atividade 03 - Estudo de viabilidade técnico-econômica;Atividade 04 - Assistência, assessoria e consultoria;Atividade 05 - Direção de obra e serviço técnico;Atividade 06 - Vistoria, perícia, avaliação, arbitramento, laudo e parecer técnico;Atividade 07 - Desempenho de cargo e função técnica;Atividade 08 - Ensino, pesquisa, análise, experimentação, ensaio e divulgação técnica; extensão;Atividade 09 - Elaboração de orçamento;Atividade 10 - Padronização, mensuração e controle de qualidade;Atividade 11 - Execução de obra e serviço técnico;Atividade 12 - Fiscalização de obra e serviço técnico;Atividade 13 - Produção técnica e especializada;Atividade 14 - Condução de trabalho técnico;Atividade 15 - Condução de equipe de instalação, montagem, operação, reparo ou manutenção;Atividade 16 - Execução de instalação, montagem e reparo;Atividade 17 - Operação e manutenção de equipamento e instalação;Atividade 18 - Execução de desenho técnico.

Art. 22 - Compete ao ENGENHEIRO DE OPERAÇÃO:

I - o desempenho das atividades 09 a 18 do artigo 1º desta Resolução, circunscritas ao âmbito das respectivas modalidades profissionais;

II - as relacionadas nos números 06 a 08 do artigo 1º desta Resolução, desde que enquadradas no desempenho das atividades referidas no item I deste artigo.

Art. 23 - Compete ao TÉCNICO DE NÍVEL SUPERIOR ou TECNÓLOGO:

I - o desempenho das atividades 09 a 18 do artigo 1º desta Resolução, circunscritas ao âmbito das respectivas modalidades profissionais;

II - as relacionadas nos números 06 a 08 do artigo 1º desta Resolução, desde que enquadradas no desempenho das atividades referidas no item I deste artigo.”

E ainda o mesmo diploma acrescenta:

“Art. 25 - Nenhum profissional poderá desempenhar atividades além daquelas que lhe competem, pelas características de seu currículo escolar, consideradas em cada caso, apenas, as disciplinas que contribuem para a graduação profissional,

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salvo outras que lhe sejam acrescidas em curso de pós-graduação, na mesma modalidade.Parágrafo único - Serão discriminadas no registro profissional as atividades constantes desta Resolução.”

Após a conversão do curso de engenharia de operações em tecnólogo em construções civis – modalidade edifícios, foi editada nova Resolução pelo CONFEA, de nº 313/86, a qual dispôs sobre o exercício profissional das diversas categorias de tecnólogos, arrolando as atividades referentes a estes em seu art. 3º, como segue:

“Art. 3º - As atribuições dos Tecnólogos, em suas diversas modalidades, para efeito do exercício profissional, e da sua fiscalização, respeitados os limites de sua formação, consistem em:

1) elaboração de orçamento;

2) padronização, mensuração e controle de qualidade;

3) condução de trabalho técnico;

4) condução de equipe de instalação, montagem, operação, reparo ou manutenção;

5) execução de instalação, montagem e reparo;

6) operação e manutenção de equipamento e instalação;

7) execução de desenho técnico.”

No parágrafo único do referido artigo, a norma prevê a realização de outras atividades, condicionando-as, todavia, à intervenção de outros profissionais, conforme exposto abaixo:

“Parágrafo único - Compete, ainda, aos Tecnólogos em suas diversas modalidades, sob a supervisão e direção de Engenheiros, Arquitetos ou Engenheiros Agrônomos: 1) execução de obra e serviço técnico;2) fiscalização de obra e serviço técnico; 3) produção técnica especializada.”

Neste ponto surge a irresignação dos requerentes. Com efeito, confrontando-se o art. 22 da Resolução 218/73 com o art. 3º da Resolução 313/86, percebe-se que o rol de atividades elencadas neste dispositivo repete o contido na norma anterior, deixando, entretanto, algumas atribuições para o seu parágrafo único, o qual condiciona o exercício daquelas à supervisão e direção de engenheiros, arquitetos e engenheiros agrônomos. Não há nas alegações dos autores qualquer impugnação em relação as restrições estabelecidas pela Resolução 218/73. Resta analisar se a limitação prevista na norma infralegal posterior exorbita das limitações traçadas pela Lei.A Constituição Federal determina no art. 5º, XIII, que é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais estabelecidas por lei. Entretanto, o ordenamento jurídico permite em determinados casos que a lei disponha de forma genérica sobre determinada matéria, deixando para as normas infralegais a necessária especificação.O poder normativo da administração não pode contrariar a lei, nem criar direitos, tampouco impor obrigações ou proibições não previstas naquela, sob pena de violação ao princípio constitucional da legalidade. A regra geral contida na Carta Magna é a de que no direito brasileiro existe tão somente o chamado regulamento de execução, no âmbito do poder executivo, subordinado hierarquicamente a uma lei formal, nos termos do disposto no art. 84, IV, in verbis:

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“Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:..................IV – sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para a sua fiel execução;”

Conforme transcrito acima, a lei que regula o exercício das profissões das áreas de engenharia, arquitetura e agronomia, autoriza aos conselhos profissionais a edição de atos normativos para regulamentação das atividades ali mencionadas, delegando ao sistema CONFEA/CREA a habilitação para o exercício profissional, através de registro do profissional junto ao mesmo.É possível através de norma de caráter regulamentar estabelecer restrições ao exercício de atividade profissional desde que haja base legal. No caso, a lei 5.194/66 possui forte conteúdo genérico, estabelecendo de antemão restrições à especialidade de cada profissão, deixando para o poder executivo a regulamentação e a discriminação de atribuições para cada modalidade técnica incluída naquele texto legal. Tal fato se dá em razão da amplitude do espectro de profissões abrangidas pela citada lei, a qual simplesmente vincula categorias profissionais diversas a um mesmo órgão regulamentador e fiscalizador. A interpretação de tal regulamentação, porém, deve ser feita de forma restritiva.(...)O que se verifica, porém, na questão aqui posta, é que a Resolução nº 313/86 estabeleceu condições para o exercício de determinadas atribuições por parte dos tecnólogos, limitação inexistente no ato normativo anterior. Tal atitude cria restrições ao exercício de um direito, o que, conforme dito acima, é vedado em âmbito regulamentar, pois configura inovação na ordem jurídica, somente viável em sede de Lei formal. A desobediência a esta vedação se traduz em exorbitância do poder regulamentar, o que pode ser, inclusive, objeto de sustação do ato pelo poder legislativo, nos termos do art. 49, V, da Lei Maior.A despeito das brilhantes considerações trazidas pelo requerido em sua contestação, incluído o precedente acostado à fl 262 da lavra do Eg. Superior Tribunal de Justiça, o fato é que os argumentos ali deduzidos cingiam-se à possibilidade de especificação das atividades profissionais por ato infralegal, desde que autorizados por Lei, o que é plenamente possível, de acordo com o aqui exposto. Entretanto, o réu deixou de impugnar a real controvérsia trazida aos autos, ou seja, as restrições impostas pela Resolução CONFEA nº 313/86 ao exercício de atividades profissionais por parte de tecnólogos da área da construção civil, na modalidade edifícios. Logo, descabe ao CREA/PR anotar na carteira profissional da requerente, a observância da mencionada Resolução, posto que o parágrafo único do art. 3º de tal ato regulamentar encontra-se eivado de ilegalidade.(...)Desta forma, merece acolhida o pedido dos requerentes.Diante do exposto, julgo procedente o pedido, para declarar a ilegalidade das restrições impostas pela Resolução nº 313/86 do CONFEA e para determinar ao Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Paraná – CREA/PR que expeça certidão de inteiro teor sem as restrições impostas pela Resolução nº 313/86, mas na forma da Lei nº 5.194/66, e cancele as restrições anotadas nas carteiras profissionais dos autores.”

Inconformado com a supra mencionada sentença, o CREA-PR interpôs recurso de apelação destinado ao TRF/4ª Região, o qual foi distribuído à 4ª Turma sob o nº 2003.70.07.005043-3/PR, que assim decidiu no Acórdão publicado em 27/07/2005:

“ADMINISTRATIVO. CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA. TECNÓLOGO DA CONSTRUÇÃO CIVIL.

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Segundo o Dec.-lei nº 241/67 e a Lei nº 5.194/66, aos tecnólogos da construção civil são reconhecidas as mesmas atribuições dos engenheiros civis.”

Com o intuito de reformar a decisão supra face a ocorrência de omissão, contradição ou obscuridade, novamente o CREA-PR recorreu à mesma 4ª Turma do TRF/4ª Região, desta vez interpondo Embargos de Declaração, os quais foram assim julgados no Acórdão publicado em 28/09/2005:

“ADMINISTRATIVO. CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA. TECNÓLOGO DA CONSTRUÇÃO CIVIL.

Conquanto conhecido para fim de prequestionamento, o recurso deve ser rejeitado por ausência dos indigitados pressupostos de acolhida, quais sejam a obscuridade e a omissão.”

Irresignado, este Conselho interpôs Recurso Especial ao Superior Tribunal de Justiça, visando, novamente, a reforma da decisão, o que, a seu turno de conhecimento naquele Órgão, pelo Relator no processo, Ministro José Delgado, foi conhecido e provido, alterando o posicionamento de primeira e segunda instâncias, o que fez nos termos que seguem:

(...)O pleito merece êxito parcial.É de ser repelida a ofensa aos arts. 458 e 535 do CPC. O aresto recorrido, embora de forma sucinta, abordou a questão central da controvérsia e exarou entendimento fundamentado a respeito, sem incorrer em omissão, contradição ou obscuridade. Adotou-se, pois, fundamentação suficiente para decidir de modo integral a controvérsia. Nega-se provimento, portanto, ao recurso especial em relação à infringência a tais preceitos legais. Vislumbra-se, no caso, que os autores são Tecnólogos da Construção Civil, e ajuizaram a presente ação para obter a anotação em suas carteiras profissionais de suas atribuições conforme disposição contida no art. 7º da Lei Federal nº 5.194/66, sem qualquer restrição imposta pela Resolução nº 313/86. A tese sustentada é a de que o CONFEA não teria competência para regulamentar a Lei Federal nº 5.194/66, e que a menção no DL nº 241/67 à inclusão dos Engenheiros de Operação no âmbito da norma profissional praticamente equipararia os Tecnólogos da Construção Civil aos Engenheiros Civis, podendo exercerem as mesmas atribuições destes. A legislação aplicável à espécie é a seguinte. Primeiramente, temos a Lei nº 5.194/66, que regula o exercício das profissões de g) execução de obras e serviços técnicos; h) produção técnica especializada, industrial ou agro-pecuária. Parágrafo único. Os engenheiros, arquitetos e engenheiros-agrônomos poderão exercer qualquer outra atividade que, por sua natureza, se inclua no âmbito de suas profissões." O Decreto-Lei nº 241/67, invocado pelos autores, incluiu entre as profissões cujo exercício é regulado pela Lei nº 5.194/66, a profissão de Engenheiro de Operação. O seu art. 1º dispôs: "Art. 1º - Os engenheiros de operação, diplomados em cursos superiores legalmente instituídos, com duração mínima de três anos, ficam, para todos os efeitos, incluídos entre os profissionais que têm o exercício das suas atividades regulado pela Lei número 5.194, de 24 de dezembro de 1966." A seguir, o Decreto nº 60.925/67 dispôs sobre o registro profissional dos graduados em cursos de Engenheiro de Operação.Tendo em vista a necessidade de discriminar as atividades das diferentes modalidadesprofissionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, em nível superior e em nível médio, para fins da fiscalização de seu exercício profissional, o CONFEA editou a Resolução nº 218/73.Os arts. 22 e 23 dessa resolução dispõem, respectivamente, sobre as atividades doEngenheiro de Operação e do Tecnólogo, nos seguintes termos:

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"Art. 22 - Compete ao ENGENHEIRO DE OPERAÇÃO: I - o desempenho das atividades 09 a 18 do artigo 1º desta Resolução, circunscritas ao âmbito das respectivas modalidades profissionais; II - as relacionadas nos números 06 a 08 do artigo 1º desta Resolução, desde que enquadradas no desempenho das atividades referidas no item I deste artigo." "Art. 23 - Compete ao TÉCNICO DE NÍVEL SUPERIOR ou TECNÓLOGO: I - o desempenho das atividades 09 a 18 do artigo 1º desta Resolução, circunscritas ao âmbito das respectivas modalidades profissionais; II - as relacionadas nos números 06 a 08 do artigo 1º desta Resolução, desde que enquadradas no desempenho das atividades referidas no item I deste artigo." Posteriormente, o CONFEA baixou a Resolução nº 313/86 dispondo sobre o exercício profissional dos Tecnólogos das áreas submetidas à regulamentação e fiscalização instituídas pela Lei nº 5.194/66. Engenheiro, Arquiteto e Engenheiro Agrônomo. O seu art. 7º regula as atividades e atribuições desses profissionais: "Art. 7º - As atividades e atribuições profissionais do engenheiro, do arquiteto e do engenheiro-agrônomo consistem em: a) desempenho de cargos, funções e comissões em entidades estatais, paraestatais, autárquicas, de economia mista e privada; b) planejamento ou projeto, em geral, de regiões, zonas, cidades, obras, estruturas, transportes, explorações de recursos naturais e desenvolvimento da produção industrial e agropecuária; c) estudos, projetos, análises, avaliações, vistorias, perícias, pareceres e divulgação técnica; d) ensino, pesquisas, experimentação e ensaios; e) fiscalização de obras e serviços técnicos; f) direção de obras e serviços técnicos; A tese sustentada pelos autores importa, basicamente, na alegação de equivalência, com base no Decreto-Lei nº 241/67, entre as profissões de Tecnólogo e Engenheiro de Operação. Dessume-se clara a imposição de resposta negativa à pretensão sustentada. A leitura das normas supradestacadas revela que inexiste previsão legal que ampare a pretendida equiparação do Tecnólogo (técnico de nível superior) ao Engenheiro de Operação. Não procede a tentativa dos autores em demonstrar que Engenheiros de Operação e Tecnólogos exercem, rigorosamente, as mesmas funções. Muito menos se pode cogitar que exerçam as mesmas atribuições do Engenheiro Civil. Se efetivamente praticassem iguais atividades, não estariam dispostas como profissões distintas, por meio de cursos superiores com duração e conteúdo diversos. Observe-se que o prazo para a formação do Tecnólogo é de apenas três anos, enquanto o do Engenheiro Civil é de cinco anos. Não há previsão legal que equipare as duas profissões. A Lei nº 5.194/66 e o DL nº 241/78 assim não dispõem. A Resolução nº 313/86 apenas particularizou as atividades desenvolvidas pelos Tecnólogos para fins de fiscalização da profissão. As suas atribuições foram discriminadas no art. 3º (fl. 238): "Art. 3º - As atribuições dos Tecnólogos, em suas diversas modalidades, para efeito do exercício profissional, e da sua fiscalização, respeitados os limites de sua formação, consistem em: 1. elaboração de orçamento; 2. padronização, mensuração, e controle de qualidade; 3. condução de trabalho técnico; 4. condução de equipe de instalação, montagem, operação, reparo, ou manutenção; 5. execução de instalação, montagem e reparo; 6. operação e manutenção de equipamento e instalação; 7. execução de desenho técnico. Parágrafo único - Compete, ainda, aos Tecnólogos em suas diversas modalidades, sob a supervisão e direção de Engenheiros, Arquitetos ou Engenheiros Agrônomos: 1. execução de obra e serviço técnico; 2. fiscalização de obra e serviço técnico; 3. Produção técnica especializada." Não vislumbro, em momento algum, a possibilidade de que a Resolução 313/86 tenha exorbitado dos limites impostos pela Lei nº 5.194/86. Conforme frisado, não existe nesta lei nem no DL nº 241/67 previsão que reconheça aos Tecnólogos as mesmas atribuições dos Engenheiros Civis. Nessa linha, a orientação de ambas as Turmas de Direito Público desta Corte: "PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. DISSÍDIO PRETORIANO NÃO-DEMONSTRADO. DESATENDIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS (ARTS. 541, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC, E 255, §§ 1º E 2º, DO RISTJ). NÃO-CONHECIMENTO. ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO. ALEGADA VIOLAÇÃO DO ART. 1º DA LEI

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7.410/85. NÃO-OCORRÊNCIA. EXERCÍCIO DA ESPECIALIDADE PELO TECNÓLOGO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. EQUIPARAÇÃO ENTRE TECNÓLOGO E ENGENHEIRO OPERACIONAL. INEXISTÊNCIA. APLICAÇÃO DA LEI 7.410/85, DECRETO 92.530/86 E RESOLUÇÃO 359/91 DO CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA (CONFEA). PRECEDENTES DO STJ. RECURSO CONHECIDO EM PARTE E, NESSAPARTE, DESPROVIDO. 1. A divergência jurisprudencial que enseja o conhecimento do recurso especial pela letra c do permissivo constitucional deve ser devidamente demonstrada, conforme as exigências do parágrafo único do art. 541 do CPC, c/c o art. 255 e seus parágrafos, do RISTJ, não bastando, para tanto, a simples transcrição de ementas. 2. Não há equiparação de fato e de direito entre as profissões de engenheiro operacional e tecnólogo (técnico de nível superior). 3. A Lei 7.410/85 – que dispõe sobre a especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho, posteriormente regulamentada pelo Decreto 92.530/86 e explicitada pela Resolução 359/91 do CONFEA –, não autoriza o exercício, pelo tecnólogo, da especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho. 4. O CONFEA, ao editar a Resolução 359/91, não agiu com excesso, mas, observando a restrição prevista no art. 1º da Lei 7.410/85, respeitou o princípio constitucional da legalidade (CF, art. 37, caput), que lhe é aplicado por força da personalidade jurídica de autarquia em regime especial que ostenta. 5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido." (Resp 576.938/PR, Relª Minª Denise Arruda, 1ª Turma, DJ 02/05/06) "PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. COTEJO ANALÍTICO NÃO-DEMONSTRADO. RESTRIÇÃO AO EXERCÍCIO PROFISSIONAL. LEI N. 5.194/66 (ART. 7º). DECRETO-LEI N. 241/67. RESOLUÇÃO DO CONFEA N. 218/73. LEGALIDADE. 1. O prequestionamento dos dispositivos legais tidos como violados é requisito indispensável à admissibilidade do recurso especial. Incidência das Súmulas n. 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal. 2. O conhecimento de recurso interposto com fulcro na alínea "c" do permissivo constitucional pressupõe a demonstração analítica da suposta divergência, não bastando a simples transcrição de ementa. 3. Inexiste previsão na Lei n. 5.194/66, regulamentada pelo Decreto-Lei n. 241/67, tendente a equiparar o tecnólogo ao engenheiro de operação. 4. A Resolução do Confea n. 218/73, ao discriminar as atribuições dos engenheiros, arquitetos e engenheiros agrônomos, não extrapolou o âmbito da Lei n. 5.194/66, na qual se embasa, mas apenas particularizou as atividades desenvolvidas por aqueles profissionais, para fins de fiscalização da profissão. 5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não-provido." (Resp 739.867/RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, 2ª Turma, DJ 19/12/05) Assim exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso especial para, reformando o entendimento manifestado por ambas as instâncias ordinárias, julgar improcedente o pedido formulado na exordial, mantendo-se os termos de restrição impostos pelo CREA/PR nas carteiras profissionais dos autores.É o voto.

Nada obstante a decisão favorável ao Conselho no E. Superior Tribunal de Justiça, por não ter o eminente Ministro, em seu voto, invertido o ônus sucumbencial, foram interpostos Embargos Declaratórios pelo Crea-PR, a fim de se sanar tal omissão com a seguinte decisão por parte do Tribunal:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇARECURSO ESPECIAL Nº 826.186 – PR (2006/0047471-1)

RELATOR : MINISTRO JOSÉ DELGADOEMBARGANTE : CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E

AGRONOMIA DO ESTADO DO PARANÁ –CREA-PR

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EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL. OMISSÃO CARACTERIZADA. AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO SOBRE A INVERSÃOSUCUMBENCIAL. ACOLHIMENTO.

1. Trata-se de embargos de declaração opostos pelo CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA DO ESTADO DO PARANÁ – CREA-PR em face de acórdão que deu provimento a recurso especial de sua autoria. Sustenta, tão somente, que o aresto não fez menção sobre a inversão dos ônus sucumbenciais, pleiteando manifestação expressa a respeito.2. É consectário lógico do provimento do recurso que a sucumbência sofra inversão a fim de que o vencedor da demanda não responda pelas despesas processuais. Merecem, portanto, ser acolhidos os presentes embargos para que o aresto embargado (item nº 4 da ementa) passe a conter a seguinte complementação:“Recurso especial parcialmente provido para, reformando o entendimento manifestado por ambas as instâncias ordinárias, julgar improcedente o pedido formulado na exordial, mantendo-se os termos de restrição impostos pelo CREA-PR nas carteiras profissionais dos autores. Invertam-se os ônus de sucumbência”.3. Embargos de declaração acolhidos, sem atribuição de efeitos modificativos.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, acolher os embargos de declaração, sem efeitos modificativos, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Francisco Falção, Luiz Fux, Teori Albino Zavascki e Denise Arruda votaram com o Sr. Ministro Relator.Brasília (DF), 05 de setembro de 2006 (Data do Julgamento)

MINISTRO JOSÉ DELGADORelator

Por derradeiro, cabível dar-se conhecimento ao Colégio de Presidentes, o resumo do conteúdo do acórdão determinado pelo Superior Tribunal de Justiça em relação ao julgamento do Recurso impetrado pelo CREA-PR em relação à matéria.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RELATOR : MINISTRO JOSÉ DELGADORECORRENTE : CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E

AGRONOMIA DO ESTADO DO PARANÁ – CREA-PR

EMENTA: ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. RESTRIÇÃO AO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DE TECNOLÓGO DA CONSTRUÇÃO CIVIL. AUSÊNCIA DE EQUIPARAÇÃO AO ENGENHEIRO CIVIL OU ENGENHEIRO DE OPERAÇÃO. RESOLUÇÃO DO CONFEA – CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA Nº 313/86. LEGALIDADE. LEI N. 5.194/66 (ART.7º). DECRETO-LEI Nº 241/67.

1. Tratam os autos de ação declaratória ajuizada por e outros contra o CREA-PR objetivando assegurar o direito de exercerem a profissão de Tecnólogo da Construção Civil, modalidade em gerência de obras, no âmbito das atividades prescritas pelo art. 7º, alíneas “a” a “h”, da Lei nº 5.194/66, sem as restrições impostas pela Resolução nº 313/86 do CONFEA, podendo projetarem, executarem, e gerenciarem o trabalhos. Sentença julgou procedente o pedido, com a determinação para que o CREA-PR cancelasse as restrições anotadas nas carteiras

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profissionais dos autores. Apelação do CREA que não logrou êxito, por o TRF/4ª Região entender que aos Tecnológos da Construção Civil são reconhecidos as mesmas atribuições dos Engenheiros Civis, segundo o disposto no DL nº 241/67 e na Lei nº 5.194/66. Recurso especial do CREA fundamentado nas alíneas “a” e “c” apontando violação dos arts. 458 e 535 do CPC, 1º do Decreto-lei n] 241/67, 2º, 3º, 24 e 27, ‘f’, da Lei Federal nº 5.194/66. Defende, em suma, a ausência de equiparação e previsão legal dos Tecnólogos aos Engenheiros Civis.

2. O CONFEA - Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia tem competência para regulamentar a Lei Federal nº 5.194/66. A menção no Decreto-lei nº 241/67 à inclusão dos Engenheiros de Operação no âmbito dessa norma profissional não equipara os Técnólogos da Construção Civil aos Engenheiros Civis. A Resolução nº 313/86 somente particularizou as atividades desenvolvidas pelos Tecnólogos para fins de fiscalização da profissão, não exorbitando os limites da Lei nº 5.194/66.

3. Inexiste previsão legal que ampare a pretendida equiparação do Tecnólogo da Construção Civil (técnico de nível superior) ao Engenheiro de Operação. Não procede a tentativa dos autores em demonstrar que Engenheiros de Operação e Tecnólogos exercem, rigorosamente, as mesmas funções. Muito menos se pode cogitar que exerçam as mesmas funções do Engenheiro civil. Se efetivamente praticassem iguais atividades, não estariam dispostas como profissões distintas, por meio de cursos superiores com duração e conteúdo diversos. Observe-se que o prazo para a formação do Tecnólogo é de apenas três anos, enquanto o do Engenheiro Civil é de cinco anos.

4. Recurso especial parcialmente provido para, reformando o entendimento manifestado por ambas as instâncias ordinárias, julgar improcedente o pedido formulado na exordial, mantendo-se os termos de restrição impostos pelo CREA-PR nas carteiras profissionais dos autores.

ACORDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar parcial provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Luiz Fux, Teori Albino Zavascki e Denise Arruda votaram com o Sr. Ministro Relator.Brasília (DF), 06 de junho de 2006 (Data do Julgamento)

MINISTRO JOSÉ DELGADORELATOR

Era o que tínhamos a informar

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