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O Caminho das Águas nas Rotas dos Carros-Pipa 1 O CAMINHO DAS ÁGUAS NAS ROTAS DOS CARROS-PIPA

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O CAMINHO DAS ÁGUAS NAS

ROTAS DOS CARROS-PIPA

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GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ

Cid Ferreira Gomes

GOVERNADOR

Francisco Pinheiro

VICE - GOVERNADOR

Camilo Sobreira de Santana

SECRETÁRIO SECRETARIA DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO

Wilson Brandão

SECRETÁRIO EXECUTIVO SECRETARIA DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO

Marcelo Sousa Pinheiro

DIRETOR PRESIDENTE INSTITUTO AGROPOLOS DO CEARÁ

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COORDENAÇÃO

Mércia Cristina Mangueira Sales

EQUIPE TÉCNICA

Julien Daniel Pierre Burte

Lauriston Ferreira Gomes Neto

Marcia Neves Véras

Tesoro Hinojosa Hurtado

Veleida Couto

Vinicius Feijó Cordeiro

Vivianny Mary Jucá Bezerra

ANÁLISE ESTATÍSTICA

Patrícia Verônica Pinheiro Sales Lima

SECRETARIA

Karla Patrício Alves Rezende

EQUIPE DE CAMPO

Edna Auzira Sousa

Francisco Abraão Lincoln Alves Cabral

Emanuel Cesar Chaves Maia

Jânio Pinheiro de Lima

José Wellington Ribeiro

Káritas Souza Lima

SISTEMATIZAÇÃO

Sheila Golabek Sztutman

Colaboração

Geísa Silveira do Nascimento

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................................................................ 11

PARTE I - CENÁRIO ATUAL 1. CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................................... 15

1.1 A Questão da Água no Ceará ........................................................................................ 15

1.2 Operação Pipa .............................................................................................................. 21

1.3. Políticas Públicas, Programas e Projetos voltados o Abastecimento de Água ............... 23

1.4. O Pacto das Águas e a Origem do Estudo .................................................................... 26

PARTE II - O CAMINHO DAS ÁGUAS NAS ROTAS DOS CARROS-PIPA

2. ESTUDO .......................................................................................................................... 31

2.1. Objetivo Principal........................................................................................................... 31

2.2. Abordagem metodológica .............................................................................................. 31

2.2.1. Análise Estatística ....................................................................................................... 32

2.2.1.1. Amostragem e sua justificativa ............................................................................... 32

2.2.1.2. Plano de Operacionalização das Variáveis ............................................................. 34

2.2.1.3. Justificativa e Descrição dos Métodos de Análise Estatística Selecionados ........... 37

2.2.2. Forma de Execução .................................................................................................... 39

3. CARACTERIZAÇÃO DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS ................................................... 45

4. ANÁLISE ESTATÍSTICA DO BANCO DE DADOS .......................................................... 56

4.1. Caracterização das comunidades - Aspectos sociais .................................................... 56

4.1.1. Características demográficas das comunidades ......................................................... 56

4.1.2. Características da saúde da população nas comunidades .......................................... 58

4.1.3. Nível de organização e apoio recebido pelas comunidades ........................................ 59

4.1.4. Problemas e conflitos nas comunidades ..................................................................... 65

4.2. A questão da água na comunidade ............................................................................... 67

4.2.1. A origem da água nas comunidades das bacias hidrográficas .................................... 67

4.2.2. Uso da água ................................................................................................................ 75

4.2.3. As mudanças na forma de coleta de água na comunidade ......................................... 76

4.2.4. Fatores que comprometem a disponibilidade de água para as famílias da comunidade .............................................................................................................. 82

4.2.5. O uso da água do carro pipa ....................................................................................... 83

4.3. A qualidade da água nas comunidades ......................................................................... 85

4.4. Alternativas propostas pelas comunidades .................................................................... 86

5. DIAGNÓSTICO TÉCNICO – PARTICIPATIVO ................................................................ 90

5.1. Avaliação Técnica ......................................................................................................... 91

5.2. O olhar das comunidades .............................................................................................. 98

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PARTE III - COSIDERAÇÕES FINAIS

6. Considerações ............................................................................................................... 103

6.1. Sistema de Informação ................................................................................................ 103

6.2. Análise da Pesquisa de Campo ................................................................................... 105

6.3. Gestão Compartilhada de Águas nas Comunidades Difusas ....................................... 107

7. RECOMENDAÇÕES ..................................................................................................... 109

7.1. Estudos, Parcerias e Capacitação ............................................................................... 109

7.2. Programas e Projetos Executados .............................................................................. 110

7.3. Educação Ambiental e Comunicação Social ................................................................ 112

8. CONCLUSÕES .............................................................................................................. 113

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 114

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LISTA DE SIGLAS E ACRÔNIMOS

ASA - Articulação no Sem-árido Brasileiro AVADAN - Avaliação de Danos CAGECE - Companhia de Água e Esgoto do Ceará CEDEC - Coordenadoria Estadual da Defesa Civil COGERH - Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos CONDEC - Conselho Nacional de Defesa Civil COP - Conferência das Partes CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais CPTEC - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas FECOP - Fundo Estadual de Combate a Pobreza FUNASA – Fundação Nacional de Saúde FUNCEME - Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos GPS - Global Positioning System IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICID - Conferência Internacional Sobe Impactos de Variações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável em Regiões Semi-Áridas IDACE - Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará IDH - Índice de Desenvolvimento Humano IDM - Índice de Desenvolvimento Municipal IDS - Índice de Desenvolvimento Social INMET - Instituto Nacional de Meteorologia IPECE - Instituto de Pesquisas Econômicas e Estatísticas do Estado do Ceará MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MI - Ministério da Integração Nacional OMS - Organização Mundial de Saúde ONGs - Organizações Não Governamentais P 1MC - Programa 1 Milhão de Cisternas P1 + 2 - Programa Uma Terra, Duas Águas PAPP - Programa de Apoio ao Pequeno Produtor Rural PCPR - Programa de Combate à Pobreza Rural PLANERH - Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado do Ceará PNAD - Programa Nacional de Pesquisas Contínuas por Amostra de Domicílios PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PROÁGUA - Subprograma de Desenvolvimento Sustentável de Recursos Hídricos para o Semiárido Brasileiro PRODHAM - Programa de Desenvolvimento Hidroambiental PROGERIRH - Projeto de Gerenciamento e Integração dos Recursos Hídricos do Ceará PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PROURB-RH - Projeto de Desenvolvimento Urbano e Gestão de Recursos Hídricos PSJ - Projeto São José REP – Reservas Ecológicas Particulares

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SAAE - Serviço Autônomo de Água e Esgoto SDA - Secretaria de Desenvolvimento Agrário SISAR - Sistema Integrado de Saneamento Rural SIG - Sistema de Informações Geográficas SIGERH – Sistema Integrado de Gestão dos Recursos Hídricos SINDEC - Secretaria Nacional de Defesa Civil SRH - Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará SOEC - Superintendência de Obras do Estado do Ceará SOHIDRA - Superintendência de Obras Hidráulicas

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Lista de Figuras

Figura 1 - Espelhos d’água - Ceará / 2006 ...........................................................................18 Figura 2 - Delimitação dos municípios pesquisados .............................................................42 Figura 3 - Proporção de comunidades em que a desorganização dos moradores é apontada

como um problema ou motivo de conflito, por bacia hidrográfica Ceará. ..............60 Figura 4 - Proporção de comunidades segundo a tipologia da associação, por bacia

hidrográfica do Ceará ...........................................................................................60 Figura 5 - Proporção de comunidades em que a baixa participação da comunidade na

associação é apontada como um problema ou motivo de conflito, por bacia hidrográfica do Ceará. ..........................................................................................61

Figura 6 - Proporção de comunidades que acreditam que a desorganização da comunidade agrava os problemas resultantes da disponibilidade de água, por bacia hidrográfica Ceará ................................................................................................62

Figura 7 - Proporção de comunidades segundo opinião sobre o funcionamento da associação, por bacia hidrográfica do Ceará ........................................................62

Figura 8 - Proporção de comunidades segundo a existência de articulação com comunidades próximas, por bacia hidrográfica do Ceará .....................................63

Figura 9 - Proporção de comunidades segundo opinião sobre o principal problema/conflito 66 Figura 10 - Proporção de comunidades segundo a existência

de sistema de abastecimento, por bacia ...............................................................73 Figura 11 - Principais instituições e projetos do governo estadual citados como responsáveis

pelo financiamento de projetos hídricos nas comunidades pesquisadas. .............78 Figura 12 - Principais instituições e projetos do governo federal citados como responsáveis

pelo financiamento de projetos hídricos nas comunidades pesquisadas. .............78 Figura 13 - Proporção de comunidades que possuem projetos de natureza individual, por

bacia hidrográfica .................................................................................................79 Figura 14 - Proporção de comunidades que possuem projetos de natureza coletiva,

por bacia hidrográfica ...........................................................................................79 Figura 15 - Proporção de comunidades segundo a satisfação com a qualidade da água na

comunidade, por bacia hidrográfica ......................................................................85 Figura 16 - Propriedade da Terra .........................................................................................91 Figura 17 - Percentual de Famílias Atendidas ......................................................................96 Figura 18 - Alternativas Apresentadas ..................................................................................99

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Lista de tabelas

Tabela 1 - N° de Municípios Cearenses com Portaria de Reconhecimento por Ano ............. 23 Tabela 2 - Principais Reservatórios da Bacia do Acaraú ...................................................... 45 Tabela 3 - Principais reservatórios da Bacia do Alto Jaguaribe ............................................ 46 Tabela 4 - Principal reservatório da Bacia do Baixo Jaguaribe e capacidade de

acumulação ........................................................................................................ 48 Tabela 5- Principais reservatórios da Bacia do Banabuiú ..................................................... 48 Tabela 6 - Principais reservatórios da Bacia do Coreaú ....................................................... 49 Tabela 7 - Principais reservatórios da Bacia do Curu ........................................................... 50 Tabela 8 - Principais reservatórios da Bacia do Litoral ......................................................... 51 Tabela 9 - Principais reservatórios da Bacia do Médio Jaguaribe ......................................... 52 Tabela 10 - Principais reservatórios da Bacia Metropolitana ................................................ 53 Tabela 11 - Principais reservatórios da Bacia do Parnaíba .................................................. 54 Tabela 12 - Principais reservatórios da Bacia do Salgado .................................................... 54 Tabela 13 - Estatísticas descritivas da variável tamanho da comunidade (ha) ..................... 56 Tabela 14 - Estatísticas descritivas da variável número de casas ........................................ 57 Tabela 15 - Estatísticas descritivas da variável número de casas dispersas ........................ 57 Tabela 16 - Estatísticas descritivas da variável número de famílias ..................................... 58 Tabela 17 – Doenças mais freqüentes nas comunidades pesquisadas ................................ 59 Tabela 18 - Proporção de comunidades segundo a forma como a comunidade se

articula com o poder público local, por bacia hidrográfica Ceará. ....................... 64 Tabela 19 - Proporção de comunidades segundo o prestador de apoio externo

recebido ............................................................................................................. 64 Tabela 20 - Proporção de comunidades segundo o tipo de apoio externo recebido ............. 65 Tabela 21 - Proporção de comunidades segundo principais problemas e conflitos

existentes, por bacias hidrográficas do Ceará .................................................... 67 Tabela 22 - Proporção de comunidades onde existem fontes naturais de água, por tipo

de fonte e bacia hidrográfica Ceará .................................................................... 68 Tabela 23 - Proporção de comunidades onde existem fontes artificiais de água, por

tipo de fonte e bacia hidrográfica Ceará ............................................................. 69 Tabela 24 – Proporção de comunidades por tipo de problema associado às fontes

hídricas, por bacia hidrográfica do Ceará ........................................................... 70 Tabela 25 - Proporção de comunidades segundo as fontes de c aptação de água, por

tipo de fonte e bacia hidrográfica do Ceará ........................................................ 71 Tabela 26 - Estatísticas descritivas da variável número de cisternas na comunidade .......... 71 Tabela 27 - Estatísticas descritivas de demanda por cisternas ............................................. 72 Tabela 28 - Proporção de comunidades segundo o tipo de reservatório de água, por

bacia hidrográfica do Ceará ............................................................................... 74 Tabela 29 - Proporção de comunidades segundo o tipo de uso da água, por bacia

hidrográfica do Ceará ......................................................................................... 75 Tabela 30 - Forma de uso da fonte hídrica nas comunidades pesquisadas.......................... 75 Tabela 31 - Proporção de comunidades segundo o tipo de projeto implantado para a

melhoria da disponibilidade de água, por bacia hidrográfica do Ceará ............... 76 Tabela 32 – Proporção de comunidades segundo a instituição responsável pela

implantação do projeto para a melhoria da disponibilidade de água, por bacia hidrográfica do Ceará ....................................................................... 77

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Tabela 33 - Proporção de comunidades segundo o local de coleta de água no período de seca, antigamente e hoje, por bacia hidrográfica do Ceará ........................... 80

Tabela 34 –Proporção de comunidades segundo os principais fatores que afetam a disponibilidade de água, por bacia hidrográfica do Ceará .................................. 83

Tabela 35 - Proporção de comunidades segundo o meio utilizado para armazenar a água coletada do carro pipa, por bacia hidrográfica. Ceará ............................... 84

Tabela 36 - Proporção de comunidades segundo os principais motivos que levam ao consumo de água do carro pipa, por bacia hidrográfica. Ceará .......................... 84

Tabela 37 - Proporção de comunidades segundo as alternativas propostas para resolução dos problemas hídricos, por bacia hidrográfica .................................. 86

Tabela 38 - Índice de Desenvolvimento Municipal (IDM), o IDM - Índice de Desenvolvimento Municipal e o Índice de Desenvolvimento Social de Resultado (IDS- R) ............................................................................................. 92

Tabela 39 - Total de infraestrutura hídrica encontrada nas localidades visitadas ................. 97

Lista de Quadros

Quadro 1 - Variáveis selecionadas para caracterização das comunidade em seus aspectos sociais ................................................................................................................... 34 Quadro 2 - Variáveis selecionadas para analisar a questão da água na comunidade .......... 36 Quadro 3 - Municípios Selecionados por Bacia Hidrográfica ................................................ 41

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APRESENTAÇÃO

O uso do carro pipa está intimamente associado ao problema da distribuição de água a populações rurais dispersas, carentes, que habitam regiões vulneráveis às secas. No Ceará, muitas dessas regiões não ofereciam, até o início da década passada, perspectivas para um desenvolvimento que justificassem, do ponto de vista econômico, a implantação de sistemas modernos de abastecimento, cenário este que requer ser reavaliado, em decorrência de ações implementadas de forma isolada por projetos diversos, como por exemplo Eixão das Águas, Canal do Trabalhador, Cinturão das Águas, Projeto São José, Projeto um Milhão de Cisternas, entre outros, permitindo sugerir ações de curto, médio e longo prazos de soluções estruturantes. Neste contexto, e a partir das discussões realizadas no Pacto das Águas, a Secretaria do Desenvolvimento Agrário coordena um projeto que visa a substituição dos carros-pipa, através da proposição de uma metodologia multidisciplinar, elaborada a partir de um levantamento situacional e elaboração de diagnóstico, com apontamento de soluções alternativas. O Projeto em questão foi dividido em 5 etapas. A primeira, consistiu no diagnóstico preliminar das razões que condicionam a presença dos carros pipa nas localidades, potencialidades de supressão deste serviço e programas que possam dar sustentabilidade às alternativas implementadas. Na segunda etapa, foi feito o levantamento dos recursos naturais, capacidade de oferta e mensuração e qualificação da demanda de recursos hídricos; A terceira etapa compreendeu as ações de visitas às localidades selecionadas e levantamentos de dados através de observação e aplicação de questionários. Ainda nesta etapa foram feitas as sondagens exploratórias para avaliação de potenciais. A amostra constituiu-se de 3 rotas para cada uma das 11 bacias do Estado; Na quarta etapa concluiu-se o diagnóstico, agregando-se às informações dos dados secundários os levantamentos de dados primários coletados na terceira etapa e foram apresentadas as propostas de ações. A quinta etapa, objeto deste relatório, apresenta a sistematização das informações e da análise estatística, evidenciando os aspectos que devem ser observados para a definição de uma estratégia e proposta de implementação de ações que visem resultados sistêmicos num horizonte mínimo, para assegurar uma vida digna e sustentável no campo ou na cidade. Ao longo do estudo, fica evidente, também, que não há um caminho único a solução do problema mas aponta para para o Desenvolvimento Local, uma vez que ele surge das especificidades e das escolhas das comunidades envolvidas em cada situação. Como conclusão e indicação para a formulação de políticas públicas de universalização de acesso à água, o estudo sugere que este apoio deve respeitar as especificidades de cada localidade, abstendo-se de impor modelos como se pode observar na prática recente, mas por outro lado, deve-se sim estabelecer critérios mais abrangentes para avaliação dessas experiências.

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Parte I Cenário Atual

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1. CONTEXTUALIZAÇÃO

1.1. A Questão da Água no Ceará

"Que é uma seca? É um fenômeno de natureza física com profunda repercussão nos meios econômico e social. São efeitos seus, o deslocamento das populações, a dizimação dos rebanhos, o aniquilamento da lavoura, com o seguinte cortejo: fome, morte, viuvez e orfandade; em uma palavra: a miséria” (PINTO, 1938: 17)

Um dos problemas mais graves enfrentados no Estado do Ceará e que tem sido alvo de vários programas governamentais é a questão da ampliação, distribuição e oferta pontual de água para o abastecimento das populações. Esta questão ficou mais evidenciada quando 142 municípios cearenses ficaram na dependência de abastecimento de água através dos carros-pipa (seca de 1997/1998) e as ações de precaução e prevenção, antes implantadas, se mostraram pouco efetivas na mitigação desse problema. Nesta seca, a questão da água foi uma das mais graves das últimas décadas onde, a escassez da água afetou inclusive a população residente em algumas sedes municipais. Assim, a partir de 1999, vários projetos governamentais postos em prática tiveram por objetivo principal a implantação de sistemas simplificados de abastecimento de água. A idéia era que esses projetos permitissem a gradual substituição dos carros-pipa e que levassem até as comunidades mais distantes, água de qualidade e em quantidade suficiente, garantindo segurança alimentar e hídrica para as famílias da região. Para fazer frente às questões que envolvem o abastecimento de água, o Estado do Ceará foi pioneiro na elaboração de um Plano Estadual de Recursos Hídricos - fruto de um rico processo de aprendizagem e embate político e de um longo processo de luta para superar o problema da escassez e má distribuição da água. Outros fatores também contribuíram para que o Estado formulasse estratégias para um enfrentamento dessa questão, podemos destacar:

As intervenções do governo federal, através do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca – DNOCS foram ponto de partida importante;

A introdução de uma mentalidade científico-tecnológica e o envolvimento mais efetivo de técnicos qualificados nessa área do governo;

O apoio institucional-financeiro dos organismos internacionais na consolidação do modelo em construção.

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A criação da Secretaria dos Recursos Hídricos – SRH em 1987 que passa a atuar de forma ativa no sentido de estabelecer os instrumentos técnicos, jurídicos e institucionais para uma nova política de água e que contribuiria para diminuir a vulnerabilidade do Estado às secas1.

Em dezembro de 1987 foi criada a Superintendência de Obras Hidráulicas – SOHIDRA, pela lei n° 11.380, que veio substituir a Superintendência de Obras do Estado do Ceará - SOEC. Esse órgão foi criado para neutralizar o “viés irrigação” inicial da SRH. Nesse mesmo ano, e dentre a mesma reforma, a Fundação Cearense de Meteorologia – FUNCEME passa à subordinação da SRH e tem como principal desafio trabalhar a questão dos recursos hídricos do Estado, desempenhando um papel fundamental no fornecimento de dados e informações sobre as questões técnicas essenciais para o desenvolvimento dessas políticas. Outro grande marco foi a criação da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos - COGERH, em 1993, com a função de operacionalizar o gerenciamento dos recursos hídricos no território estadual, que tem permitido ao Estado trabalhar de forma mais harmoniosa eventuais restrições (desvantagens competitivas) decorrentes das incertezas associadas às disponibilidades hídricas. O Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado do Ceará – PLANERH subsidiou a elaboração de programas objetivando a ampliação da infraestrutura hídrica e a implementação do modelo de gerenciamento participativo, bem como forneceu a base para elaboração de projetos que trabalharam a questão hídrica de forma integrada,tanto nos seus aspectos hidrológicos (superficial, subterrânea e aéreo), como em relação aos usos e finalidades múltiplas.

Assim, para garantir a concretização das ações previstas no Plano Estadual dos Recursos Hídricos foi adotado como unidade de planejamento a bacia hidrográfica, dividindo o Estado em 11 Bacias, a saber: Metropolitana, Alto Jaguaribe, Médio Jaguaribe, Baixo Jaguaribe, Litoral, Parnaíba, Coreaú, Acaraú, Salgado, Banabuiú e Curu. Foram financiados e postos em prática ações concretas através dos seguintes projetos: Projeto de Desenvolvimento Urbano e Gestão de Recursos Hídricos - PROURB-RH (1994), PROJETO ÁRIDAS (1995), Subprograma de Desenvolvimento Sustentável de Recursos Hídricos para o Semiárido Brasileiro - PROÁGUA/Semiárido (1998) e Projeto de Gerenciamento e Integração dos Recursos Hídricos do Ceará - PROGERIRH (2000), todos eles utilizando como base para o planejamento no Estado as bacias hidrográficas, que permitiu orientar a execução de obras hídricas, visando um melhor aproveitamento desses recursos e considerando as especificidades de cada região.

1 Mar cos Leg a is Es t adua is :

Capítulo VIII do Título VII da Constituição do Estado, que trata sobre as responsabilidades culturais, sociais e econômicas relacionadas ao meio ambiente;

As leis 11.411 / 87 e 12.274 / 94, que dispõem sobre Política Estadual do Meio Ambiente e cria o Conselho Estadual do meio Ambiente;

Lei 12.488/95 e Decretos 24.220/96 e 24.221/96, que dispõe e regulamentam a Política Florestal do Ceará e o reconhecimento das REP – Reservas Ecológicas Particulares;

Leis 10.148/77 e 14.535/81, que dispõem sobre a preservação e controle dos recursos hídricos existentes no estado. Plano de Desenvolvimento Sustentável (1995 / 1998).

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Nesses projetos, pela primeira vez, o processo de planejamento incorporava a idéia de sustentabilidade recomendada tanto na ICID como na Conferência do Rio de Janeiro (ECO 92) e ampliava o significado desse conceito, que deixava de ser apenas ambiental, para transformar-se em conceito global, pois nele as dimensões econômicas, sociais e políticas assumiam papel fundamental. O conceito também incorporou uma visão de longo prazo, requerida para a identificação de prioridades imediatas e futuras a serem colocadas em práticas no esforço de planejamento para a superação definitiva da questão da água no Estado. Paralelo a esses trabalhos governamentais, e com a idéia de mudar a visão e a mentalidade formada sobre a região, intensifica-se a ação da sociedade civil que começam a debater e a construir estratégias capazes de promover uma convivência sustentável com o Sem-árido com o apoio da cooperação internacional e, em 1999, juntam-se para criar a Articulação no Semiárido Brasileiro durante a realização do Fórum Paralelo da Sociedade Civil, a III Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (COP 3). Na ocasião, os participantes do evento discutiram e formataram a Declaração do Semiárido Brasileiro, documento-base que orienta o trabalho da ASA. Outro fator importante em busca da resolução dessa questão foi ampliação da capacidade cumulativa de água ao redor de 17.562.230.000 m³ (Fonte: COGERH - Capacidade de Armazenamento 2004), entre pequenos, médios e grandes reservatórios e o monitoramento da quantidade disponível, pois, açudes com baixo volume hídrico obrigam a população do sertão cearense a consumir água sem saber a procedência, situação agravada no período de secas prolongadas, quando, em geral esses açudes transformam-se em pequenos barreiros, que tem suas águas consumidas tanto pela população como pelos animais.

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Figura 1 - Espelhos d’água - Ceará / 2006

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Porém, é necessário empreender um esforço ainda maior para a superação dessa questão, já que ainda existe no Estado um grande número de pessoas que são vulneráveis às secas (cerca de 350.000 são atendidas por carros-pipa no Ceará, segundo o Exército), principalmente as famílias que residem nas comunidades difusas, localizadas em áreas distantes e que ainda não dispõem de oferta adequada de água, ficando sua sobrevivência e permanência no campo dependente do fornecimento de água por carros-pipa ou da existência de barreiros, pequenos açudes, poços profundos/aluvionais ou cacimbões. Essa questão vem sendo retratada nos diversos meios de comunicação local2 que alertam para a dificuldade que passam as famílias residentes nessas regiões. Sem carros-pipa, situação se agrava nos municípios A suspensão no abastecimento faz com que os sertanejos percorram de cinco a 10 quilômetros em busca do recurso. As formas de transporte são as mais variadas. A pé, de bicicleta, de carroça, ou veículo motorizado. Logo na entrada da localidade de Serragem, vê-se uma fila de tonéis ao redor de um poço profundo. Os recipientes marcam o lugar de cada morador que vai ao local pegar água ''Às vezes desmantela (o motor que puxa água do poço) e o homem (um vereador da cidade segundo ele) ajeita no outro dia. Mas é muita gente'', afirma o agricultor Francisco de Assis Pereira, que vai de sua comunidade, chamada Vila São Francisco, até o poço. ''Lá são dois carros-pipa por semana, mas não é suficiente para as 50 famílias. Cada um pega seu baldezinho, mas tem cinco ou 10 famílias que não tiram'', detalha ele, que nesses tempos de estiagem troca a enxada pela pá de pedreiro. Ele reclama do tempo perdido na tarefa de carregar. ''Deixo de trabalhar pra vir aqui''. Fonte: Jornal O Povo - 06 de fevereiro de 2006

Cidades do Ceará voltam a receber abastecimento dos carros-pipa Mais de 400 municípios estão em situação de emergência por causa da seca no Nordeste. No Ceará, o estado mais atingido pela estiagem, famílias sofrem com a falta de água até mesmo para beber. Muitas cidades que estavam sem abastecimento voltaram a receber carros-pipa. Só hoje o abastecimento voltou ao normal nas comunidades do sem-árido. Dos oito estados que recebem recursos do Ministério da Integração Nacional para a Operação Pipa, o Ceará é o que tem mais municípios em situação de emergência, 141. Com os reservatórios secos e os açudes vazios este foi um período ainda mais difícil para o sertanejo. Foram onze dias de espera pela água numa comunidade que tem 150 famílias e precisa ser abastecida diariamente pelo carro-pipa. Durante a suspensão, quem não tinha condições de buscar água, teve de comprar. Fonte: TV Verdes Mares - 20 de outubro de 2007

Ceará: 53 municípios pedem Operação Carro-Pipa 53 municípios cearenses entraram com pedido de abastecimento por meio de carro-pipa junto à Coordenadoria de Defesa Civil do Estado. Deste total, 13 são atendidos pelo Exército Brasileiro e 30 já foram avaliados. Esperam a elaboração do documento para definir a decretação de emergência. Já os municípios restantes serão avaliados no decorrer deste ano, à medida que outras cidades também entrarão com o pedido de abastecimento. Por mais que o número de municípios atingidos pela estiagem seja menor em relação ao ano passado, a Defesa Civil prevê que pode aumentar a quantidade de cidades atendidas pelos carros-pipas, à medida que ainda serão realizadas mais avaliações nos municípios que enviaram decretos. “Ainda faltam dez cidades a serem avaliadas. Nessa avaliação iremos analisar os prejuízos e se pode haver, ou não, decreto de emergência”, afirmou a assessora técnica do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil do Estado, Ioneide Araújo.

Fonte: Diário do Nordeste - 21 de outubro de 2008

2 Destacadas em fundo azul: Informações compiladas do site da Secretaria Nacional de Defesa Civil e de entrevistas

realizadas com os responsáveis pela execução dos trabalhos de coordenação da Operação Carro Pipa no Estado do Ceará.

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Operação Pipa atende a 19 municípios no Estado Mais seis municípios cearenses passaram a ser atendidos pela Operação Pipa, coordenada pela 10ª Região Militar do Exército. Agora, são 19 cidades cujo abastecimento de água é feito por carros-pipa no Estado. A quantidade deverá crescer ainda mais nas próximas semanas, pois o Corpo de Bombeiros/Coordenadoria Estadual de Defesa Civil já pediu, ao Ministério da Integração Nacional (MIN), a inclusão de mais 16 unidades municipais na operação. A quantidade de municípios que solicitaram o auxílio da operação também aumentou. Já são 71 cidades cearenses que pedem ajuda para garantir o abastecimento de água à população. Entre essas, as 36 que nem foram aceitas nem estão em processo de aceitação têm a demanda sob avaliação da Defesa Civil Estadual. Conforme a assessora técnica do órgão, Maria Ioneide Araújo, em alguns casos, falta apenas que os municípios providenciem a documentação necessária. Atualmente, as equipes do Exército estão cadastrando empresas e proprietários de carros-pipa, bem como verificando as condições de funcionamento dos veículos. Além disso, está sendo conferido o total de famílias que necessitam do socorro emergencial. Sem contar as seis cidades que ainda não estão sendo abastecidas, o socorro beneficia cerca de 150 mil pessoas no Estado. Fonte: Diário do Nordeste - 15 de Novembro de 2009

Sem água de beber no interior Mais de 90% da população de Capistrano está sendo atendida por carro-pipa. Água é usada para beber e cozinhar. Já a água para outros usos é salobra, inexistente ou sem regularidade de distribuição A comunidade tem nome de país de primeiro mundo, mas as semelhanças com desenvolvimento param aí. No vilarejo Japão, em Capistrano, no Maciço de Baturité, todas as 73 famílias precisam de carro-pipa para ter água potável. “Não fosse o caminhão a gente morreria de sede”, resume a dona-de-casa Rosimar da Silva Freitas, 53. Ela é uma das 351.140 pessoas atendidas no Ceará pela operação Pipa, do Exército, presente hoje em comunidades de 58 municípios. Fonte: O Povo (30 de novembro de 2009)

Carros pipa abastecem mais de um milhão no NE O Ceará é, com 93 municípios, o segundo Estado tendo cidades sob situação de emergência, depois da Bahia, que soma 153. São 1.076 carros-pipa em operação, sob a coordenação do Exército. A previsão é que haverá chuvas abaixo da média no início de 2010. Sem água para beber, 1.190.933 pessoas estão sendo atendidas por carros-pipa em 542 municípios em situação de emergência em sete estados nordestinos e mais a região semi árida de Minas Gerais. São 1.076 carros-pipa em operação, sob a coordenação do Exército, atuando em um esquema de rodízio com o envolvimento de 810 militares. De janeiro a novembro, foram investidos pelo Ministério da Integração Nacional R$ 144 milhões nessa operação. A Bahia é o Estado mais afetado, com 153 municípios sob emergência. Em seguida vêm Ceará, com 93; Paraíba, com 77; Pernambuco, com 73; Piauí, com 58; Minas, com 43; Rio Grande do Norte, com 41; e Alagoas, com quatro. Segundo o Comando Militar do Nordeste, a estiagem afeta comunidades em áreas de difícil acesso até para os caminhões-pipa. A situação tende a se agravar diante da previsão de chuvas abaixo da média histórica nos três primeiros meses de 2010. O período chuvoso no sem-árido vai de janeiro a maio. A previsão é do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), Centro de Pesquisas de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME) e centros estaduais de meteorologia, que se reuniram durante três dias, à semana passada, em Campina Grande (PB), para avaliar as condições climáticas do sem-árido.

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”Os elementos são suficientes para se prever que as chuvas vão ser abaixo da média histórica no próximo trimestre”, afirmou o coordenador do INMET- Recife, Raimundo dos Anjos. Segundo ele, o fenômeno atmosférico El Niño, que provoca aquecimento nas águas do Pacífico Equatorial, ao largo do litoral do Peru, tem relação com as chuvas do sem-árido quando apresenta intensidade moderada ou intensa. Desde outubro, El Niño está moderado. A partir de janeiro, segundo ele, a região pode enfrentar veranicos, períodos de cinco a 15 dias sem chuvas, em pleno período chuvoso. A temperatura, nos dias de veranico, poderá se elevar em até 4ºC.

Fonte: Jornal O Povo – 26 de dezembro de 2009

1.2. Operação Pipa Até o ano de 2006, a operação pipa era executada pela Defesa Civil. A partir daí, o Ministério da Defesa (MD) e o Ministério da Integração Nacional (MI) através da Portaria Interministerial n º 7, de 10 de agosto de 2005, atribuíram ao Exército a responsabilidade de fornecer apoio às ações de distribuição emergencial de água no sem-árido brasileiro. As atividades de cooperação compreendem a distribuição de água potável, preferencialmente por meio de carros pipa, às populações rurais e urbanas atingidas por estiagem, com prioridade para os municípios que se encontram em situação ou estado de calamidade pública, devidamente reconhecida por ato do governo federal. A demanda por abastecimento através de carros-pipa parte da prefeitura, que juntamente com o COMDEC (Conselho Municipal de Defesa Civil) realiza a avaliação dos desastres e danos e solicita a decretação de emergência do município. A partir de então o CEDEC (Coordenadoria Estadual da Defesa Civil) envia uma equipe ao local para a verificação das informações e envia para o Ministério da Integração Nacional. O Manual para a decretação de situação de emergência ou de estado de calamidade pública estabeleceu uma sistemática de critérios e procedimentos para a decretação das duas possibilidades legais de exceção em caso de desastre, a serem adotados por todos os órgãos de defesa civil, válido em todo território brasileiro.

A decretação de situação de emergência ou de estado de calamidade pública não é e não deve ser feita com o objetivo único de recorrer aos cofres do Estado ou da União, para solicitar recursos financeiros.

A decretação significa a garantia plena da ocorrência de uma situação anormal, em uma área do município, que determinou a necessidade de o Prefeito declarar situação de emergência ou estado de calamidade pública, para ter efeito "na alteração dos processos de governo e da ordem jurídica, no território considerado, durante o menor prazo possível, para restabelecer a situação de normalidade".

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Com a aprovação pelo Conselho Nacional de Defesa Civil, essas solicitações são repassadas ao Exército, que executa a operação. Para que os municípios sejam atendidos por essa sistemática é necessário que estejam, com os mandados de situação de emergência vigentes pela seca e enviem solicitação à Coordenadoria de Defesa Civil Estadual, responsável pela articulação junto ao Ministério da Integração Nacional e todos os documentos necessários a validação da solicitação (Decreto(s) de Declaração do(s) Prefeito(s) Municipal(ais); Decreto de Homologação do Governador; Cópia da publicação do Decreto do Governador no Diário Oficial do Estado; Formulário(s) de Avaliação de Danos - AVADAN; Mapa(s) ou Croqui(s) da(s) área(s) afetada(s) pelo desastre; Parecer do Órgão de Coordenação do SINDEC, em nível estadual, sobre a intensidade do desastre e sobre a coerência dos atos, em relação aos critérios estabelecidos pelo CONDEC; Declaração Estadual de Atuação Emergencial, conforme Decreto Nº 5.376 (art. 17 parágrafo 3º). Todo o processo, até iniciar a distribuição, demora em torno de 15 dias. O Exército é responsável pelo cadastramento das famílias e definição de: periodicidade de abastecimento das casas, quantidade de litros de água por mês, local de colocação da água (geralmente cisternas em boas condições, não sendo autorizada a colocação em tanques), atestador (responsável na comunidade), para, a partir daí, selecionar os proprietários dos carros-pipa (pipeiros) com suas respectivas rotas e fontes hídricas. Fica também sob sua responsabilidade a administração e fiscalização da distribuição de água potável. Para o controle na distribuição da água cada agrupamento de famílias recebe uma senha que deverá ser entregue aos pipeiros no momento do abastecimento. O valor pago corresponde às despesas com quilometragem, manutenção do carro e água. No caso de atendimento espontâneo, a comunidade paga entre R$ 55,00 e R$ 100,00 dependendo da distância da comunidade até a fonte de abastecimento. Vale ressaltar que o trabalho de distribuição de água com carros pipa ocorre durante todo o ano, entretanto, é nos meses de outubro a fevereiro, antes da quadra chuvosa, que este se intensifica. Antes de ser decretado o estado de emergência, essas comunidades, em geral, ficam a mercê das águas acumuladas em barreiros, açudes de pequeno porte e cacimbões.

Esses reservatórios, em geral, são utilizados tanto para abastecimento humano como dos animais, o que representa um enorme risco para a saúde dessa população, já que verificasse a contaminação pela fauna microbiana existente nas águas dessas fontes - principalmente a bacteriana, de microalgas e verminoses - contaminadas pelos dejetos animais, pela decomposição da matéria orgânica animal e por outras fontes existentes no campo que, naturalmente, são carreadas pelas águas das chuvas para o interior dos barreiros e açudes, trazendo riscos à saúde da população usuária. A 10ª Região Militar é responsável pela Coordenação da Operação Pipa, monitorando as seguintes Organizações Militares: 23° Batalhão de Caçadores, 25° Batalhão de Caçadores, 10° Depósito de Suprimentos, Parque Regional de Manutenção 10, 40° Batalhão de Infantaria e 22° Batalhão de Infantaria.

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Tabela 1 - N° de Municípios Cearenses com Portaria de Reconhecimento por Ano

Ano Municípios

2003 66

2004 2

2005 121

2006 141

2007 139

2008 93

2009 72 (*) Fonte: Defesa Civil - Ceará

1.3. Políticas Públicas, Programas e Projetos voltados o Abastecimento de Água

O fenômeno da seca possui conseqüências sociais graves e duradouras, contribuindo com a insegurança alimentar da população e outros problemas sociais, incluindo a incidência de inúmeras doenças. Devido à desnutrição e ao consumo de água de baixa qualidade, por exemplo, a taxa de mortalidade infantil na região do semi árido é historicamente a maior do país. As populações difusas, pouco foram assistidas pelo poder público. Devido ao descaso das autoridades e governos, as ações implementadas foram essencialmente compensatórias (assistencialistas) e não-estruturantes. As políticas públicas de convivência com o sem-árido já implementadas no Estado, ainda não chegam, de forma satisfatória, ao ponto de modificar substancialmente o cenário existente. Os programas de captação e adução de água para populações difusas ainda não têm a amplitude necessária diante das carências e necessidades observadas. Atualmente, a determinação do Governo do Ceará de não tratar o problema da seca como um fenômeno emergencial e sim passível de ações estruturantes se reflete nos programas executados através das Secretarias de Estado e seus programas, notadamente a Secretaria do Desenvolvimento Agrário, Secretaria das Cidades) e a Secretaria de Recursos Hídricos, integrados com os programas da esfera federal, municipal, iniciativas municipais e da sociedade civil, quais sejam: Iniciativas do Governo Federal:

Programa Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF): tem por finalidade apoiar as atividades dos agricultores da região, por meio do financiamento de tecnologias de convivência, como a construção de obras hídricas (cisternas, barragens) para consumo humano e produção.

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Projeto Dom Helder Câmara: desenvolve um conjunto de ações referenciais para o desenvolvimento sustentável do Sem-árido, buscando garantir a inserção competitiva, não subordinada, e o empoderamento de agricultores familiares na formação, implementação e controle social de políticas públicas. O projeto desenvolve ações de segurança hídrica, segurança alimentar, produção, comercialização, gestão social e acesso ao crédito.

Subprograma Proágua/Semiárido: vinculado à Agência Nacional das Águas e ao Ministério da Integração Nacional, visa garantir a ampliação da oferta de água de boa qualidade para o semi árido brasileiro, com a promoção do uso racional desse recurso, com ênfase na gestão participativa. A prioridade é o fornecimento de água potável à população do semi árido por meio da construção de barragens e adutoras.

Projeto Água Doce / Sede Zero no semiárido: lançado pelo Ministério do Meio Ambiente, para atender à população ainda sem acesso permanente e sustentável a fornecimento de água potável, especialmente na região do sem-árido do Nordeste. Apóia a implantação de pequenas usinas de dessalinização, viabilizando abastecimento de água doce para consumo humano em regiões que têm grande quantidade de água salobra.

No Ceará, o projeto implantou pequenos sistemas de abastecimento, tendo inovado na implantação de dessalinizadores com fichas, propiciando à comunidade a possibilidade de manter o sistema de forma mais autônoma.

Projeto Cisternas - tem como uma das ações prioritárias de segurança alimentar a construção de cisternas no semi árido que beneficia famílias de baixa renda que não disponham de fonte de água, ou meio suficientemente adequado para armazená-la, a fim de suprir suas necessidades básicas, e que estejam enquadradas nos critérios de elegibilidade do Programa Bolsa Família, do governo federal.

Ações do Governo Estadual

Projeto São José – iniciado em 1999, com recursos do Banco Mundial (75%), Governo do Estado do Ceará (15%) e contrapartida da comunidade (10%) tem como objetivo melhorar as condições de vida de milhares de famílias da zona rural e vem contribuindo para elevar a qualidade de vida para a população de 177 municípios e está no contexto do PACS – Programa de Ações de Convivência com o Semiárido.

PRODHAM – (Projeto de Desenvolvimento Hidroambiental 2001-2009), concebido como parte integrante do Programa de Gerenciamento e Integração dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará, PROGERIRH, constitui um dos projetos-piloto prioritários do Governo do Ceará e busca preencher uma parte dos objetivos, de promover a sustentabilidade dos recursos hídricos do Ceará, mitigando os efeitos sociais e econômicos das secas e corrigindo o processo de degradação ambiental causado pela conjugação dos períodos cíclicos de estiagem e uma forte pressão antrópica que atua especialmente nas nascentes das bacias hidrográficas.

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Elaborado, implementado e coordenado pela Secretaria dos Recursos Hídricos – SRH, com o apoio financeiro do Banco Mundial (empréstimo 4531-BR), o projeto visa globalmente desenvolver, em caráter piloto e experimental, ações articuladas e sustentáveis de recuperação/preservação dos recursos ambientais (hídricos, florestais,...) e de desenvolvimento socioeconômico no âmbito dos biomas / regiões de comunidades rurais. Ações para redução dos processos de erosão, de acumulação natural de umidade e sedimentos articulados com a experimentação de modelos de produção adequados à realidade das populações rurais e construção de infraestruturas hídricas foram efetivados nos municípios de Aratuba, Canindé, Paramoti, Pacoti e Palmácia.

Programa de Abastecimento de Água de Pequenas Comunidades executado pela SRH tem por objetivo solucionar problemas de abastecimentos de água através de ações. A solução idealizada para solucionar o abastecimento d´água está assente na combinação de poços, construídos no embasamento cristalino, mesmo com as limitações de vazão e qualidade d´água, em combinação com a utilização de dessalinizadores ou associados ao uso adequado de cisternas individuais. O programa, implantado através da SOHIDRA, tem como princípios a busca da auto-sustentabilidade, a parceria com as prefeituras e empresas de saneamento e a necessidade de conscientização da própria comunidade.

Poços do Sertão viabilizou a construção de poços aluvionais em todo o Estado do Ceará. Até junho de 2002, foram implantados 2.771 poços rasos em 87 municípios. A estimativa era então que, em todo o Estado, fossem implantados 5.000 poços rasos similares até 2003.

FECOP – Fundo Estadual de Combate à Pobreza tem como orientação principal o combate à pobreza a partir da criação de meios para o fortalecimento do patrimônio individual e social das áreas pobres. Assim, sua finalidade maior é promover transformações estruturantes que possibilitem um efetivo combate à pobreza incluindo-se aí o financiamento para implantação de sistemas de abastecimento d'água e esgoto.

As Experiências Municipais

Projeto Pingo d’água, desenvolvido no Vale do Forquilha, município de Quixeramobim, desde 1998, o projeto busca a solução integrada de abastecimento da população e irrigação no meio rural através do fornecimento da tecnologia simples e cessão dos equipamentos para perfuração de poços artesianos em áreas de aluviões, as margens do rio, que se integrou as ações de eletrificação rural e construção de kits sanitários, propiciando energia para a ligação de bombas de irrigação e a melhoria das condições de higiene de mais de 300 famílias já atendidas no município.

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Contribuições da sociedade civil

Programa 1 milhão de cisternas – P1MC, gerenciado pela sociedade civil, com recursos do governo federal, busca ofertar alternativas tecnológicas para o aproveitamento das águas de chuva, visando solucionar ou amenizar o problema de escassez ou falta de água potável nas áreas rurais do sem-árido brasileiro.

1.4. O Pacto das Águas e a Origem do Estudo Coordenado pelo Conselho de Altos Estudos e Assuntos Estratégicos da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, o Pacto das Águas teve por objetivo articular o Poder Público e a sociedade civil cearense para um planejamento estratégico acerca dos recursos hídricos do Estado, oferecendo soluções para uma gestão sustentável das águas no Ceará. O Pacto foi integrado por órgãos dos executivos estadual e federal, pelo poder público municipal, universidades, sociedade civil e pelos comitês de bacias. Na composição estão instituições como: Universidade Federal do Ceará, Agência Nacional das Águas (ANA), Cagece, União dos Vereadores e Câmaras do Ceará (UVC) e Articulação do Sem-árido Brasileiro (ASA). Fórum legítimo para a discussão sobre os recursos hídricos do Estado já no seu lançamento recebeu como sugestão do Governador Cid Gomes a elaboração de proposta de integração de todas as bacias hidrográficas de nosso território. O governador propôs a interligação das bacias e a criação do Cinturão de Águas do Ceará3 que, somados com a transposição do São Francisco, poderão garantir a sustentabilidade dos recursos hídricos no Estado. O governador lembrou ainda que Ceará foi o primeiro Estado a elaborar um plano de recursos hídricos, há 15 anos, e que está na hora de se fazer uma revisão neste plano. O governador Cid Gomes defendeu também a extinção do uso dos carros pipa no Ceará. De acordo com o governador, a existência de caminhões para a distribuição de água é uma “vergonha” que deve ser erradicada de uma vez por todas. O Pacto teve por objetivo construir, de forma conjunta e participativa, um conhecimento sobre a realidade dos recursos hídricos do Estado e buscou identificar propostas de como superar os desafios, a posição de cada município diante destes desafios, visando definir ações, responsabilidades e compromissos locais no seu enfrentamento, contribuindo assim para uma melhor política pública voltada para a questão da água e, conseqüentemente, pela melhoria das condições de vida da população. No documento “Cenário Atual dos Recursos Hídricos do Ceará” ficaram evidenciados como “grandes desafios” para o estabelecimento do Plano Estratégico dos Recursos Hídricos: 3 O “Cinturão de Águas”- CAC é um projeto já em execução pelo Governo do Estado como parte do Programa de Garantia

Hídrica para Múltiplos Usos, que é de fundamental importância para o abastecimento das populações rurais, pois quando estiver totalmente associado aos traçados do projeto de transposição, do Eixo de Integração e do Canal do Trabalhador, o CAC estabelecerá um verdadeiro cinturão de águas que contornará a grande maioria do território cearense com uma configuração espacial muito próxima da do próprio Estado. A proposta permitirá a adução das águas transpostas para a maioria do território cearense, inclusive para as regiões mais secas do Estado, bem como para aquelas de potencial turístico e econômico.

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Estabelecer políticas públicas capazes de induzir o modelo de desenvolvimento que considere as vocações do Estado, sua estrutura social, cultural e ambiental com justiça e equidade na gestão das águas;

Estabelecer e implementar uma política estadual de convivência com o sem-árido continuada e construída de forma descentralizada e participativa;

Desenvolver consciência e a capacidade de convivência com o sem-árido a partir de programas de comunicação permanente, educação ambiental formal e para a sociedade em geral, contextualizados para o meio rural e urbano.

Garantir a articulação interinstitucional e adequação legal para efetivação do SIGERH de acordo com seus princípios, objetivos e diretrizes;

Garantir de forma sustentável, água em quantidade e qualidade para os múltiplos usos da população difusa;

Estrutura política de saneamento sustentável que contemple todos os portes de sistemas e as necessidades da população, seja em grandes aglomerados ou pequenas localidades rurais com controle social, regulação, fiscalização e monitoramento público, buscando a universalização do acesso com qualidade;

Garantir o aumento da oferta hídrica nos seus diferentes aspectos complementar a infraestrutura de acumulação, interligar bacias e melhorar a eficiência na demanda.

A partir dos desafios apresentados, as discussões levaram à elaboração do Plano Estratégico que busca fortalecer o conceito de gestão integrada dos recursos hídricos. O Plano definiu e deve ser implementado através de Programas Estratégicos Gerais, Programas por Eixo Temático e Programas Indicativos, como segue:

Programas Estratégicos Gerais

Programa Garantia Hídrica para Múltiplos Usos Programa Gestão Hidroambiental Integrada Programa Sistema Integrado de Informações Programa Estudos, Pesquisas e Difusão Programa Ensino, Capacitação e Formação Programa de Comunicação Social Programa Revisão e Atualização da Legislação Estadual de Recursos Hídricos

Programas Por Eixo Temático

Eixo Água para Beber Eixo Água e Desenvolvimento Eixo Convivência com o Semi Árido Eixo Sistema Integrado de Gestão de Recursos Hídricos

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Programas Indicativos

Programa de Fortalecimento Institucional dos Órgãos Executores do Sigerh Programa de Fortalecimento do Turismo Sustentável e Participativo

Os programas visam dar ênfase à gestão da demanda, pela eficiência do uso e da conservação da água, tornando o consumo mais eficiente, reduzindo os desperdícios em todos os usos pela aplicação de tecnologias inovadoras.

O Plano enfatiza que, “para sua implementação efetiva é fundamental que haja uma integração das ações e intervenções institucionais - públicas e privadas, considerando a bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão, evitando a setorialização das inúmeras instituições envolvidas, em seus diferentes níveis – Federal, Estadual e Municipal”. Também é ressaltada a necessidade do “desenvolvimento de um amplo programa de educação e de comunicação social, para que toda a sociedade cearense compreenda a complexidade de sua realidade climática e passe a adotar hábitos de um cidadão que convive com o semi árido”. Para a implementação das ações, o Plano Estratégico apresenta um conjunto de demandas de estudos e pesquisas No que diz respeito ao Eixo Convivência com o Semi Árido, é consenso que o Estado deverá manter a sua política de gestão da oferta de água, buscando, incessantemente, aumentar a oferta hídrica, pela construção de mais infraestrutura de armazenamento, de transferência e de distribuição de água, tendo por base o conhecimento tanto do potencial de cada bacia, incluindo-se aí as águas subterrâneas e aluvionais, como também as ações de integração e transposição. No que diz respeito à qualidade da água, ações voltadas à conscientização e educação são fundamentais. No Cenário traçado pelo Pacto das Águas, constata-se que “em anos em que ocorre o fenômeno das secas, o Ceará, de um modo geral, é o Estado que possui maior número de cidades em situação emergencial. Nestes anos secos – ou mesmo no período seco de anos chuvosos, como 2009 – o Governo e as Prefeituras dos Municípios envolvidos pela seca, têm que distribuir água em carro pipa, para minimizar os efeitos da estiagem” sendo que “as chamadas populações difusas, que vivem em pequenos núcleos, enfrentam problemas para a viabilização de adutoras ou para a construção de uma rede de distribuição, e continuam dependendo dos carros pipa e das cisternas, que são soluções complementares”. Isto posto, este estudo empreendeu esforços para aprofundar os conhecimentos de forma conjugada entre a literatura e estudos disponíveis vis a vis com os levantamentos técnicos e de avaliação do capital social realizados in loco, assim como procurou traçar um cenário possível de envolvimento e comprometimento das instituições e dos atores sociais para a construção de um conjunto de ações e políticas que proporcionem a erradicação do carro pipa.

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Parte II O Caminho das Águas nas Rotas do Carro Pipa

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2. ESTUDO

2.1. Objetivo Principal

O presente estudo tem por objetivo principal construir uma metodologia de atuação no semi árido para erradicar o uso do carros pipa no abastecimento das populações difusas, distribuídas nas 11 bacias hidrográficas do Estado do Ceará.

2.2. Abordagem metodológica Tendo como pano de fundo o painel descrito no documento Cenário Atual dos Recursos Hídricos do Ceará e objetivando uma melhor compreensão da questão apresentada a metodologia selecionada repousa sobre três ações/enfoques complementares:

Realizar um levantamento estruturado de todas as informações existentes no Estado (tomando como base o ano de 1998) das rotas dos carros-pipa e dos programas governamentais e não governamentais implantados no Estado do Ceará, gerando, a partir daí, um Banco de Dados que garanta informações adequadas sob a realidade do Estado, proporcionando um planejamento territorial mais adequado;

Diagnosticar, tendo como referência os aspectos geoambientais do Estado, as questões físicas, sociais, econômicas e políticas que condicionam o uso dos carros-pipa;

Atuar como estimulador de uma reflexão coletiva (nas comunidades e na sociedade em geral), destinada a identificar/discutir e analisar os diversos aspectos, bem como, construir cenários futuros, identificando ações e potencialidades.

Para realização dessas atividades adotou-se como princípio metodológico a Participação Social - ressaltando a importância do envolvimento dos diversos atores sociais na vida social, econômica e política, mediante mecanismos e canais que permitam entrar e influir na esfera decisória, na qual se define a direção que vai tomar o processo de desenvolvimento. A participação social representa uma possibilidade real de influir na tomada de decisões, em particular no que diz respeito aos assuntos de vital importância para a vida dos atores envolvidos. E isso significa acesso ao poder, à informação e todo um processo de “empoderamento” no seio da sociedade civil. Desta forma, o modelo proposto tem seu foco na ação local buscando o fortalecimento dos canais de participação comunitária e da sociedade civil em geral e promovendo uma visão crítica da problemática ambiental e social através da percepção integrada do meio físico, biótico e antrópico e o entendimento das diversas condições que limitam a fixação do homem no campo.

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Buscou-se, assim, definir através de um estudo regional as formas de intervenção das políticas públicas para a solução do problema de falta de água em muitas comunidades do Estado, que, praticamente todos os anos demandam a utilização de carros-pipa.

2.2.1. Análise Estatística A análise estatística buscou a sistematização e descrição das informações por bacia pesquisada. Como se trata de uma amostragem, as técnicas de estatística inferencial foram aplicadas, sempre que possível, e tiveram o propósito de associar às análises descritivas uma margem de significância que atribua aos resultados obtidos a confiabilidade necessária a um processo de decisão responsável. Alguns fatores influenciaram a seleção das variáveis e do método de análise:

a relevância da variável no contexto dos recursos hídricos locais (disponibilidade e qualidade da água, fontes de água, forma de captação, ...) ;

a relevância da variável no contexto da caracterização das comunidades objeto do estudo (tamanho da comunidade, número de casas, número de famílias, principais doenças, nível de organização, ...);

a disponibilidade e confiabilidade das informações contidas no banco de dados e

a natureza da variável (quantitativa ou qualitativa)

2.2.1.1. Amostragem e sua justificativa Considerações Preliminares A adoção de técnicas estatísticas parte do pressuposto que a amostra é probabilística. No entanto, nem sempre isso é possível, principalmente em pesquisas sociais (Maroco, 2004). Neste caso, pode-se usar a amostragem não probabilística desde que certos cuidados sejam adotados. Segundo Aakar et al (2001) a amostragem não probabilística costuma ser aceita nas seguintes situações de pesquisa4:

Quando se trata de população homogênea (as comunidades apresentam importantes características distribuídas uniformemente);

Quando o fator facilidade operacional é requerido (minimização de tempo e custos)

4 Amostragem não-probabilística pode ocorrer também quando, embora se tenha a possibilidade de atingir toda a população, retiramos a amostra de uma parte que seja prontamente acessível.

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No caso específico das amostragens intencional, por cotas e a esmo a literatura científica argumenta sobre a sua validade:

1. Amostragem a esmo é aquela em que o amostrador, para simplificar o processo, procura ser aleatório sem, no entanto, realizar propriamente um sorteio usando algum dispositivo aleatório confiável. Os resultados da amostragem a esmo são, em geral, equivalentes aos da amostragem probabilística se a população é homogênea e se não existe a possibilidade de o amostrador ser inconscientemente influenciado por alguma característica dos elementos da população. SILVA (2009).

2. Amostragem por cotas é aquela que apresenta maior rigor uma vez que confere certa estratificação à amostra. Deve-se atentar para classificar a população em função de características relevantes na pesquisa. (LAKATOS e MARCONI, 2003).

3. Amostragem intencional é aquela em que de acordo com um determinado critério, é escolhido intencionalmente um grupo de elementos que comporão a amostra. Curvin e Slater (1990) afirmam que uma amostragem intencional bem conduzida pode produzir resultados satisfatórios de forma rápida e com menor custos.

Esta pesquisa atende aos dois pressupostos citados por Aakar de modo que foi empregada a amostragem do tipo não probabilística, mais especificamente amostragem intencional, amostragem por cotas e amostragem a esmo. Pela argumentação acima conclui-se, que embora não sendo probabilístico o processo de amostragem adotado, pode ser, para efeitos práticos, considerado como tal. Isso amplia consideravelmente as possibilidades de utilização do método estatístico em geral. Definição das unidades de amostragem Inicialmente foram selecionados os municípios que fariam parte da pesquisa. Essa seleção adotou como critério a questão geoambiental, onde se buscou definir municípios que caracterizassem os diferentes ambientes existentes no Estado. Caracteriza-se assim uma amostragem não probabilística intencional. A partir do critério de distribuição proporcional dos municípios nas 11 bacias hidrográficas foram selecionados 3 municípios em cada bacia, de acordo com o número de comunidades com maior atendimento de por carro pipa (amostragem não probabilística por cota), totalizando 33 municípios. Em seguida, foram selecionadas as unidades de amostragem, no caso as comunidades a serem pesquisados em cada município. Foram selecionadas 10 comunidades por município, num total de 325 comunidades, visto que no município de Tamboril só foram visitadas 5 comunidades. A escolha das comunidades em cada município foi feita por amostragem não probabilística a esmo.

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Definição do tamanho da amostra É conveniente planejar o tamanho da amostra para que seja grande o suficiente para detectar diferenças importantes. O tamanho da amostra pesquisada, 325 informações, é aceitável, principalmente pelo fato das comunidades rurais, fonte dos dados, guardarem entre si muitas semelhanças, ou seja, serem homogêneas.

2.2.1.2. Plano de Operacionalização das Variáveis Inicialmente é necessário ressaltar que os critérios adotados na seleção das variáveis estudadas foram os seguintes:

Importância na caracterização das comunidades e do problema da pesquisa; Qualidade das informações coletadas; Número suficiente de informações de modo a tornar factível e confiável a análise

estatística.

As variáveis foram organizadas em dois grupos temáticos: Caracterização das comunidades - Aspectos sociais e A questão da água na comunidade.

Quadro 1 - Variáveis selecionadas para caracterização das comunidades em seus aspectos sociais5

Variável Classificação Valores/códigos

Tamanho da comunidade (ha) Quantitativa discreta Em hectares

Número de casas Quantitativa discreta Em unidades

Número de casas dispersas Quantitativa discreta Em unidades

Número de famílias Quantitativa discreta Em unidades

Número de crianças Quantitativa discreta Em unidades

Número de homens Quantitativa discreta Em unidades

Número de mulheres Quantitativa discreta Em unidades

Doenças nas comunidades Qualitativa nominal 1 – existência da doença 0 – ausência da doença

Nível de organização dos moradores como um problema ou motivo de conflito na comunidade

Qualitativa nominal 1 – Sim 0 – Não

Qualidade do funcionamento da associação

Qualitativa nominal 1 – Sim, tem qualidade 0 – Não tem qualidade

Participação da comunidade na associação como um problema ou motivo de conflito

Qualitativa nominal

1 – Sim, participação da comunidade é motivo de

conflito 0 – Não é motivo de conflito

5 A variável bacia hidrográfica foi utilizada nos dois grupos temáticos.

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Variável Classificação Valores/códigos

Desorganização da comunidade como agravante dos problemas resultantes da disponibilidade de água

Qualitativa nominal 1 – Sim, é agravante 0 – Não é agravante

Existência de articulação com comunidades próximas

Qualitativa nominal 1 – Sim 0 – Não

Forma como a comunidade se articula com o poder público local

Qualitativa nominal

1 – Sim, a comunidade adota a forma de articulação

considerada 0 – Não adota

Principais instituições e projetos do governo estadual responsáveis pelo financiamento de projetos hídricos nas comunidades pesquisada

Qualitativa nominal

1 – Sim a instituição atua na comunidade

0 – A instituição não atua na comunidade

Principais instituições e projetos do governo federal responsáveis pelo financiamento de projetos hídricos nas comunidades pesquisadas

Qualitativa nominal

1 – Sim a instituição atua na comunidade

0 – A instituição não atua na comunidade

Prestador de apoio externo recebido Qualitativa nominal

1 – Sim o prestador atua na comunidade

0 – O prestador não atua na comunidade

Tipo de apoio externo recebido Qualitativa nominal

Principais problemas/conflitos da comunidade

Qualitativa nominal

1 – Sim o problema existe na comunidade

0 – O problema não existe na comunidade

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Quadro 2 - Variáveis selecionadas para analisar a questão da água na comunidade

Variável Classificação Valores/códigos

Existência de sistema de abastecimento Qualitativa nominal 1 – Sim 0 – Não

Projetos de natureza individual Qualitativa nominal 1 – Sim, existem 0 – Não existem

Projetos de natureza coletiva Qualitativa nominal 1 – Existem 0 – Não existem

Satisfação com a qualidade da água na comunidade

Quantitativa discreta 1 – Sim 0 – Não

Principais problemas e conflitos existentes

Quantitativa discreta

1 – Sim o problema está presente na comunidade 0 – Não há o problema na

comunidade

Fontes naturais de água Qualitativa nominal

1 – Sim, o tipo de fonte existe na comunidade

0 – O tipo de fonte não existe na comunidade

Fontes artificiais de água Qualitativa nominal

1 – Sim, o tipo de fonte existe na comunidade

0 – O tipo de fonte não existe na comunidade

Problema associado às fontes hídricas Qualitativa nominal

1 – Sim, a fonte apresenta o problema

0 – Não há o problema na fonte

Fontes de captação de água Qualitativa nominal

1 – Sim a fonte de captação existe na comunidade

0 – A fonte de captação não existe na comunidade

Número de cisternas na comunidade Quantitativa discreta unidade

Demanda por cisternas Quantitativa discreta unidade

Tipo de reservatório de água Qualitativa nominal

1 – Sim o tipo de reservatório existe na comunidade

0 – O tipo de reservatório não existe na comunidade

Tipo de uso da água Qualitativa nominal

1 – Sim o tipo de uso da água existe na comunidade

0 – o tipo de uso da água não existe na comunidade

Forma como a água é dividida Qualitativa nominal

0 – a água não é dividida 1 – toda água é dividida 2 – a água é dividida no

período chuvoso 3 – só a água do açude do

açude é dividida

Tipo de projeto implantado para a melhoria da disponibilidade de água Qualitativa nominal

1 – Sim o tipo de projeto existe na comunidade

0 – o tipo projeto não existe na comunidade

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Variável Classificação Valores/códigos

Instituição responsável pela implantação do projeto para a melhoria da disponibilidade de água

Qualitativa nominal

1 – Sim instituição atua na comunidade

0 – a instituição não atua na comunidade

Local de coleta de água no período de seca, antigamente e hoje

Qualitativa nominal

1 – Sim a água é coletada neste local

0 – a água não é coletada neste local

Os principais fatores que afetam a disponibilidade de água Qualitativa nominal

1 – Sim este fator afeta a qualidade da água

0 – o fator não afeta a qualidade da água

Meio utilizado para armazenar a água coletada do carro pipa Qualitativa nominal

1 – Sim a água é armazenada neste

reservatório 0 – a água não é armazenada neste

reservatório

Principais motivos que levam ao consumo de água do carro pipa Qualitativa nominal

1 – Sim o motivo leva ao consumo de água do

carro pipa 0 – O motivo não leva ao consumo de água do

carro pipa

Alternativas propostas para resolução dos problemas hídricos Qualitativa nominal Não houve codificação para

esta variável

2.2.1.3. Justificativa e Descrição dos Métodos de Análise Estatística Selecionados A análise estatística dos dados teve inicio com o tratamento dos dados brutos disponibilizados pela equipe responsável pela pesquisa de campo. Esse tratamento envolveu a codificação das variáveis, a análise de consistência e identificação dos missing values (valores omissos). Nessa etapa percebeu-se que a grande maioria das variáveis analisadas apresenta natureza qualitativa, mais especificamente, são qualitativas nominais ou categóricas (menos precisas e menos dóceis a transformações segundo Pereira (2004). De acordo com Miles e Huberman (1994) a análise de dados qualitativos se ampara em representações visuais como gráficos, tabelas de distribuição de freqüência ou esquemas, em lugar de modos narrativos, simplesmente. Assim, prevaleceu na análise dos dados o uso de tabelas de distribuição de freqüências e gráficos. No caso das variáveis quantitativas foram empregadas medidas descritivas (média, mediana, desvio padrão). Apesar dos procedimentos serem básicos ressalta-se que a sistematização das observações proporciona, de modo indiscutível, uma tomada de decisão mais segura.

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A seguir, a descrição dos métodos de análise empregados no estudo. Tabelas de distribuição de freqüências A construção de tabelas de distribuição de freqüências, que tem por principal objetivo de resumir as informações em classes foram construídas para cruzamento entre duas variáveis, ou tabelas de contingência. Nessa análise as tabelas de contingência foram usadas para cruzar a variável bacia hidrográfica com as demais variáveis estudadas, com o intuito de identificar as necessidades e fragilidades específicas de cada bacia, o que permite um melhor direcionamento de propostas. As tabelas de distribuição de freqüências são um importante instrumento de validação e organização dos dados. Ao mostrar informação contida em qualquer variável, é facilmente detectada qualquer informação estranha devido a um erro de introdução de dados. Estatísticas descritivas As estatísticas descritivas foram empregadas na caracterização das variáveis quantitativas. Optou-se pela média, mediana e desvio padrão. A mediana foi preferida quando se detectou uma grande amplitude entre os valores inferior e superior do banco de dados. Testes de hipóteses Quando se trabalha com dados amostrais busca-se fazer inferências sobre uma população. Isto é possível por meio de técnicas de estatística inferencial, mais comumente, os testes de hipóteses. O uso de testes de hipóteses, no entanto, assumem que determinados pressupostos sejam cumpridos. No caso de análises envolvendo variáveis quantitativas os testes paramétricos são os mais indicados. Seu principal pressuposto é que os dados tenham distribuição normal, atendam ao teorema do limite, o que requer no mínimo 30 observações.6 Quando esse pressuposto não é obedecido pode-se empregar um teste não paramétrico também usado para variáveis qualitativas. Foi utilizado o teste de Scheffé para comparação de várias médias.

6 Segundo o teorema do limite central amostras relativamente grandes tendem a apresentar uma distribuição aproximadamente normal.

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2.2.2. Forma de Execução

A orientação global deste estudo inspirou-se no seguinte esquema geral simplificado:

Recomendações Gerais

Versão Preliminar - Banco de Dados

Dados Secundários

Banco de Dando – Defesa Civil e Exército

Informações Qualificadas

Projetos Gov. e Não Governamentais

Seleção dos Municípios Piloto

Capacitação da Equipe

Refinamento dos Dados

Banco de dados consolidado Apresentação e análise dos dados

1ª. Fase

2ª. Fase

3ª. Fase

Elaboração de Material de Divulgação

Oficinas Participativas

Visita de

Reconhecimento

Definição dos Núcleos

de Pesquisa

Alinhamento Conceitual e

Metodológico (Equipe)

Levantamento Informações - Campo

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1ª FASE Ter um diagnóstico da situação existente é uma necessidade para permitir um planejamento de novas políticas de substituição dos carros-pipa por alternativas estruturantes, e de forma mais específica, no caso deste estudo, é necessário também para selecionar uma amostra representativa de áreas piloto, ao nível do Estado, da diversidade geoambiental existente. Alguns dos principais fatores que influenciam a questão do abastecimento por carro-pipa ao nível local são:

A quantidade de água disponível que vai depender da pluviometria do ano, da pluviometria dos anos anteriores versus a capacidade de armazenamento da água de forma superficial (açudes, barragens) e subterrânea (existência de aqüíferos e infraestrutura de captação (fontes, poços...);

A organização sócio-política local que vai dar à população uma determinada capacidade de resiliência à seca e

A organização sócio-política estadual/federal que vai dar à população uma determinada resposta à situação enfrentada e vai se materializar através de programas de abastecimento por carro pipa.

Neste raciocínio, para poder retratar uma realidade local e compará-la com outras realidades, teria que se considerar o conjunto destes fatores, que são variáveis no tempo (heterogeneidade temporal do clima; mudanças de orientações políticas locais ou estaduais com programas variáveis e descontínuos de luta contra o carro pipa). Já que a maioria destes dados não existe ou não é sistematizado na forma adequada, é necessário um trabalho prévio de elaboração de um diagnóstico a partir das informações disponíveis. Portanto, na 1ª. Fase foram realizadas consultas aos Bancos de Dados existentes nas diversas instituições do Estado (Defesa Civil, Exército, Secretaria de Desenvolvimento Agrário, Secretaria dos Recursos Hídricos, Secretaria de Planejamento e Gestão, FUNCEME) e nas organizações não governamentais buscando coletar dados concretos que permitissem a construção do Banco de Dados. Foram realizadas também algumas entrevistas com os gestores de projetos voltados para o abastecimento de água no Estado. Após levantamento desses municípios os dados foram consolidados em tabelas (analisando os municípios com maior incidência nos últimos anos, tendo como referencia os dados da Defesa Civil e em mapa, para, então ser realizado um análise da distribuição nas unidades geoambientais do Estado. Essa averiguação é fundamental pois, as características físico-ambientais do sem-árido, de modo geral, não são homogênea e apresentam diferenças: do ponto de vista geofísico que limita suas potencialidades de disponibilidade hídrica para a população, sendo a quantidade e qualidade da água definida pelas condições de clima, da geologia e da geomorfologia. Após avaliação da questão geoambiental, onde se buscou definir municípios que caracterizassem os diferentes ambientes existentes no Estado, foi utilizado o critério de distribuição proporcional dos municípios nas 11 bacias hidrográficas, para, só assim, realizar a seleção dos 33 municípios.

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Assim, com base nessas informações, definiram-se os seguintes municípios piloto distribuídos por Bacias Hidrográficas (Quadro 3 e Figura 2)

Quadro 3 - Municípios Selecionados por Bacia Hidrográfica

Bacia Hidrográfica Municípios Piloto Selecionados

Metropolitana Barreira, Ocara e São Gonçalo do Amarante

Curu Canindé, Caridade e Umirim

Litoral Amontada, Itapipoca e Irauçuba

Coreaú Bela Cruz, Uruoca e Viçosa do Ceará

Acaraú Catunda, Forquilha, Santa Quitéria

Parnaíba Tamboril, Quiterianópolis e Independência

Alto Jaguaribe Tauá, Aiuaba e Araripe

Médio Jaguaribe Jaguaribe, Jaguaretama e Potiretama

Baixo Jaguaribe Aracati, Limoeiro do Norte e Palhano

Salgado Jardim, Barro e Icó

Banabuiú Mombaça, Itatira e Banabuiú

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Figura 2 - Delimitação dos municípios pesquisados

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Em seguida, foram selecionados os núcleos a serem pesquisados em cada município, num total de 325 comunidades, visto que no município de Tamboril só foram visitadas 5 comunidades. Para efeito desse estudo consideram-se núcleos: agrupamentos de 10 comunidades abastecidas por carros-pipas por grau de proximidade. Devido à dificuldade de localização das comunidades nos mapas oficiais foi realizado a partir das informações das rotas realizadas pelo Exército (23° Batalhão de Caçadores, 40° Batalhão de Infantaria, Parque Regional de Manutenção/10 e 10° Depósito de Suprimentos), um levantamento de campo e, em seguida, georeferenciamento pelos técnicos, possibilitando a definição dos núcleos (conjunto de comunidades) 2ª FASE Foi realizada a capacitação de toda a equipe técnica, buscando assim, uma padronização na coleta de informações e na utilização dos instrumentos de pesquisa social que foram utilizados, dando ênfase às características físicas, sociais e econômicas de cada comunidade. Estas aconteceram durante 18 dias nos municípios de Quixeramobim, Canindé, São Gonçalo do Amarante e Irauçuba, em um total de 130 horas/aula (15 a 26 de junho e 15 a 17 de julho de 2009). A equipe capacitada foi composta por técnicos agrícolas, que, embora possuíssem experiência com comunidades rurais, possuíam experiências profissionais voltadas para a agricultura e pecuária. Assim, foram trabalhados os seguintes conceitos:

Geoambientes aplicado, hidrologia e hidrogeologia básica aplicadas ao Ceará Reservas hídricas superficiais e subterrâneas exploráveis para população difusa,

com foco especial nos pequenos depósitos sedimentares (aluviões, uso de barragem subterrânea etc.)

Abastecimento em água da população rural em áreas semiáridos pobres (uso múltiplo, percepção, estratégias de uso e gestão, sistemas de abastecimento)

Poluição das fontes hídricas no meio rural, preservação da qualidade da água e formas e sistemas de tratamento

Fontes e sistemas de abastecimento para a população difusa Cartografia básica aplicada Utilização dos equipamentos de campo (GPS e Condutivímetro) Metodologias participativas de trabalho (abordagem, metodologia, questionários,

relatórios). O uso de técnicas de pesquisa combinadas, alternando o coletivo da comunidade e o específico das famílias produziu informações qualitativas e quantitativas que permitiram distinguir o particular do geral, porque as bases de comparação eram relativamente amplas; famílias comparadas às famílias, famílias comparadas às comunidades e comunidades comparadas a outras comunidades diferentes.

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O levantamento de campo ocorreu no período de julho a agosto de 2009. E para realização das atividades foram utilizadas as seguintes ferramentas metodológicas, oriundas do Diagnóstico Rápido Participativo7:

a) Discussão informal: apresentação do trabalho, panorama global da situação de abastecimento, identificação dos principais problemas citados pela comunidade, identificação de pessoas chaves, caracterização da comunidade;

b) Levantamento de campo (observação direta e travessia): fontes hídricas apontadas pela comunidade, outras fontes possíveis, equipamentos, sistema de gestão, condições físico-ambientais (preservação das fontes, degradação ambiental, usos múltiplos eventualmente conflitantes...), georreferenciamento das fontes e avaliação da condutividade elétrica;

c) Entrevistas para confirmar e afinar as informações: caracterização da comunidade, percepção da problemática da água, estratégias de uso, participação de agentes externos (prefeitura, saúde, ONGs, Estado, ...), gestão dos sistemas, avaliação e percepção da qualidade da água, avaliação da água do carro-pipa;

d) Aplicação de Questionários: que serviram para quantificar/padronizar as informações de campo.

e) Mapa falado (problemas e soluções): Visão da comunidade em localização de infraestruturas, condições ambientais, mudanças ao longo do tempo, uso da terra, soluções para a questão. É também um elemento importante para entender os conflitos e os problemas de cada localidade.

f) Painel: A partir do mapa falado foi definida com as comunidades uma proposta para a solução do problema.

3ª. FASE Foi consolidado o Banco de Dados com todas as informações quantitativas coletadas em campo das populações difusas – alvo do nosso estudo. Para a sistematização final procurou-se debruçar-se, sobretudo, sobre o que parece ter constituído um dos pontos fortes da metodologia empregada na formulação desse documento: a sua capacidade de mobilização e envolvimento direto das populações e lideranças locais na análise das necessidades e do potencial de desenvolvimento das suas áreas e comunidades, bem como no debate e escolha das opções e prioridades para canalizar, de forma tão transparente e racional, quanto possível, os esforços coletivos e os recursos públicos para o fomento desse desenvolvimento.

7 Diagnóstico Rápido Participativo: Incentiva a atuação ativa dos atores sociais rurais, sendo um momento de levantamento de informações, análises e formulação de propostas. Utiliza métodos e técnicas que possibilitam conhecer as vidas das próprias comunidades que dispõem de conhecimentos técnicos e sociais locais.

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3. CARACTERIZAÇÃO DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS A caracterização do meio físico da bacia hidrográfica, com o intuito de levantar todas as áreas críticas do ponto de vista da manutenção da água, é condição básica para um planejamento bem sucedido da conservação e produção de água. A conservação da água não pode ser conseguida independentemente da conservação dos outros recursos naturais. Neste caso, é fundamental o conhecimento da dinâmica natural dos recursos hídricos e seu potencial de utilização. Os dados aqui apresentados referem-se apenas aos recursos hídricos das bacias e são parte da caracterização completa apresentada nos Cadernos Regionais das Bacias Hidrográficas, produzidos pelo Conselho de Altos Estudos da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará no âmbito do Pacto das Águas, 2009.

Bacia do Acaraú

Características: situada na porção norte-ocidental do estado, tem uma área de drenagem de 14.416 km², correspondente a 9,73% do território Cearense.O rio Acaraú, rio principal da bacia, nasce na Serra das Matas, e os principais afluentes encontram-se na margem direita, são os rios dos Macacos, Groaíras, Jacurutu e Sabonete, na margem esquerda, o afluente de maior destaque é o rio Jaibaras. Águas superficiais: possui um total de 1.902 reservatórios, onde 556 apresentam área superior a cinco ha. Os 12 principais reservatórios estão listados abaixo (Tabela 2).

Tabela 2 - Principais Reservatórios da Bacia do Acaraú

Nome do Açude Município Capacidade de Acumulação (m³)

Acaraú Mirim Massapê 52.000.000

Araras Varjota 891.000.000

Arrebita Forquilha 19.600.00

Ayres de Souza Sobral 104.430.000

Bonito Ipu 6.000.000

Carão Tamboril 26.230.000

Edson Queiroz Santa Quitéria 254.000.000

Farias de Souza Nova Russas 12.230.000

Forquilha Forquilha 50.130.000

São Vicente Santana do Acaraú 9.840.000

Sobral Sobral 4.675.000

Carmina Catunda 13.628.000

TOTAL 12 açudes 1.443.763.000

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Águas subterrâneas: apresenta dois sistemas aqüíferos: o das rochas sedimentares (porosos e aluviais) e os das rochas cristalinas (fissurais). A quantificação e caracterização das captações de água subterrânea na bacia, até 2006, mostram a existência de 2.242 pontos d’água, sendo: 2.134 poços tubulares; 104 poços amazonas e quatro fontes naturais captando água tanto em rochas sedimentares como cristalinas. Os 2.134 poços tubulares estão distribuídos por toda bacia e captam água dos aquíferos porosos (12,46%), aluviais (6,94%) e fissurais (80,60%).

Bacia do Alto Jaguaribe

Características: Localiza-se na porção sudoeste do Estado do Ceará, limita-se a oeste com o Estado do Piauí e ao sul com o Estado de Pernambuco. Das cinco sub-bacias que compõem a bacia do rio Jaguaribe (Alto, Médio e Baixo Jaguaribe, Banabuiú e Salgado) é a que possui maior região hidrográfica, sendo, também, a maior do Estado.Os principais afluentes do Rio Jaguaribe, neste trecho, são os rios Carrapateiras, Trici, Puiú, Jucás, Condado, Cariús, Trussu e o riacho Conceição. Águas superficiais: apresenta grande capacidade de acumulação com um total de 4.604 reservatórios, destes, 537 possuem área superior a 5 ha. São destaques: o açude Orós, responsável por 70% do total armazenado nesta Sub-Bacia, além dos açudes Trussu, Arneiroz II, Canoas, Poço a Pedra e Várzea do Boi. A água de lagoas assume importância apenas em algumas áreas, destacando a lagoa do Baú e do Barro Alto, em Iguatu. Apesar de ser o Orós o maior reservatório localizado no Alto Jaguaribe, sua contribuição como fonte hídrica nesta bacia é insignificante, por se encontrar no trecho final. Mas, este reservatório é uma importante fonte hídrica para o Médio e Baixo Jaguaribe, garantindo a perenização do rio Jaguaribe até atingir o açude do Castanhão, além de abastecer o açude Lima Campos, na bacia do Salgado.

Tabela 3 - Principais reservatórios da Bacia do Alto Jaguaribe

Nome do Açude Município Capacidade de

Acumulação (m³)

Arneiroz II Arneiroz 197.060.000

Benguê Aiuaba 19.560.000

Canoas Assaré 69.250.000

Do Coronel Antonina do Norte 1.770.000

Espírito Santo Parambu 3.390.000

Favelas Tauá 30.100.000

Faé Quixelô 23.400.000

Forquilha II Tauá 3.400.000

Muquém Cariús 47.643.000

Orós Orós 1.940.000.000

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Nome do Açude Município Capacidade de Acumulação (m³)

Parambu Parambu 8.530.000

Pau Preto Potengi 1.770.000

Poço da Pedra Campos Sales 52.000.000

Quincoé Acopiara 7.130.000

Rivaldo de Carvalho Catarina 19.520.000

Trici Tauá 16.500.000

Trussu Iguatu 301.000.000

Valério Altaneira 2.020.000

Várzea do Boi Tauá 51.910.000

TOTAL 19 açudes 2.795.953.000

Águas subterrâneas: os dois sistemas aqüíferos encontrados nesta sub-bacia são: os das rochas sedimentares (porosos; cársticos e aluviais) e os das rochas cristalinas (fissurais). A quantificação e caracterização das captações de água subterrânea na Sub-Bacia, até 2006, mostram a existência de 2.662 pontos d’água, sendo: 2.304 poços tubulares; 306 poços amazonas e 52 fontes naturais, captando água tanto em rochas sedimentares como cristalinas.

Bacia do Baixo Jaguaribe

Características: localiza-se na porção oriental do estado do Ceará limitando-se com o estado do Rio Grande do Norte a leste, o Oceano Atlântico ao norte, as bacias Metropolitanas à oeste e ao sul e sudoeste com as Sub-bacias do Médio Jaguaribe e Banabuiú, respectivamente. Das cinco sub-bacias que compõem a Bacia do Jaguaribe é a de menor área. Águas Superficiais: o rio Jaguaribe, neste trecho, apresenta extensa planície aluvial, resultante do alargamento do vale a jusante, com declividade média de 0,029% tendo como principal afluente pela margem esquerda o rio Palhano, já a margem direita é mal definida, não se destacando nenhum curso d’água. Caracteriza-se, também, pelos largos trechos de aluvião que margeiam o baixo curso do rio Jaguaribe. Possui um total de 660 reservatórios, destes, 260 apresentam área superior a 5 ha. Na tabela 4 pode-se observar a capacidade de acumulação do principal reservatório localizado nesta Sub-Bacia.

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Tabela 4 - Principal reservatório da Bacia do Baixo Jaguaribe e capacidade de acumulação

Nome do Açude Município Capacidade de Acumulação (m³)

Santo Antônio de Russas Russas 24.000.000

TOTAL 24.000.000

Águas subterrâneas: existem dois sistemas aqüíferos: os das rochas sedimentares (porosos; cársticos e aluviais) e os das rochas cristalinas (fissurais). A quantificação e caracterização das captações de água subterrânea na bacia, até 2006, mostram a existência de 1.361 pontos d’água, sendo: 1.327 poços tubulares; 33 poços amazonas e 1 fonte natural, captando água tanto em rochas sedimentares como cristalinas.

Bacia do Banabuiú

Características: Localizada na porção central do estado do Ceará limitando-se com todas as outras bacias, excetuando as bacias do Coreaú e Litoral. O principal rio desta sub-bacia tem como principais afluentes pela margem esquerda os rios Patu, Quixeramobim e Sitiá e pela margem direita destaca-se apenas o riacho Livramento. Águas Superficiais: caracteriza-se pelos largos trechos de aluvião que margeiam o baixo curso do rio Jaguaribe. Possui um total de 660 reservatórios, destes, 260 apresentam área superior a 5 ha. Na Tabela 5 pode-se observar a capacidade de acumulação dos principais reservatórios localizados nesta sub-bacia.

Tabela 5- Principais reservatórios da Bacia do Banabuiú

Nome do Açude Município Capacidade de Acumulação (m³)

Banabuiú Banabuiú 1.601.000.000

Capitão Mor Pedra Branca 6.000.000

Cedro Quixadá 126.000.000

Cipoada Morada Nova 86.090.000

Curral Velho Morada Nova 12.165.745

Fogareiro Quixeramobim 118.820.000

Jatobá Milhã 1.070.000

Monsenhor Tabosa Monsenhor Tabosa 12.100.000

Patu Senador Pompeu 71.829.000

Pedras Brancas Quixadá 434.040.000

Pirabibu Quixeramobim 74.000.000

Poço Do Barro Morada Nova 52.000.000

Quixeramobim Quixeramobim 54.000.000

São José I Boa Viagem 7.670.000

São José II Piquet Carneiro 29.140.000

Serafim Dias Mombaça 43.000.000

Trapiá II Pedra Branca 18.190.000

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Nome do Açude Município Capacidade de Acumulação (m³)

Vieirão Boa Viagem 20.960.000

TOTAL 18 açudes 2.768.074.745

Águas subterrâneas: também apresenta dois sistemas aqüíferos: os das rochas sedimentares (aluviais) e os das rochas cristalinas (fissurais). A quantificação e caracterização das captações de água subterrânea na Sub-bacia, até 2006, mostram a existência de 2.446 pontos d’água, sendo: 2.143 poços tubulares; 272 poços amazonas e 4 fontes naturais, captando água tanto em rochas sedimentares como cristalinas.

Bacia do Coreaú

Característica: está situada na porção norte-ocidental do Estado, limitando-se ao sul as bacias do Parnaíba e Acaraú, a oeste o Estado do Piauí, a leste a bacia do rio Acaraú e ao norte o Oceano Atlântico. A linha de costa possui uma extensão de aproximadamente 130 km. Águas Superficiais: Caracteriza-se por possuir poucas intervenções hídricas, possui um total de 631 reservatórios, destes, 170 apresentam área superior a 5 ha. Na tabela 6 pode-se observar a capacidade de acumulação dos principais reservatórios localizados nesta Bacia.

Tabela 6 - Principais reservatórios da Bacia do Coreaú

Nome do Açude Município Capacidade de Acumulação (m³)

Angicos Coreaú 56.050.000

Diamante Coreaú 13.200.000

Gangorra Granja 62.500.00

Itaúna Chaval 77.500.000

Martinópole Martinópole 23.200.000

Premuoca Uruoca 5.200.000

Trapiá III Coreaú 5.510.000

Tucunduba Senador Sá 41.430.000

Várzea da Volta Moraújo 12.500.000

TOTAL 12 açudes 297.090.000

Águas subterrâneas: nesta bacia também são encontrados dois sistemas aqüíferos: os das rochas sedimentares (porosos, cársticos e aluviais) e os das rochas cristalinas (fissurais). A quantificação e caracterização das captações de água subterrânea na bacia, até 2006, mostram a existência de 1.096 pontos d’água, sendo: 1.043 poços tubulares; 45 poços amazonas e 8 fontes naturais, captando água tanto em rochas sedimentares como cristalinas.

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Bacia do Curu

Característica: localiza-se no centro-norte do Estado. Limita-se, a leste, com as bacias Metropolitanas, a oeste com as bacias do Acaraú e do Litoral e ao sul com a sub-bacia do rio Banabuiú, integrante do Sistema do Jaguaribe. Possui o rio Curu como coletor principal, este rio nasce na região montanhosa formada pelas Serras do Céu, da Imburana e do Lucas. Águas Superficiais: caracteriza-se pelo alto nível de açudagem, possui um total de 818 reservatórios, destes, 229 apresentam área superior a 5 ha. Destacam-se os açudes Gal. Sampaio e Pentecoste, responsáveis por quase de 70% do volume de acumulação da bacia. Na Tabela 7 pode-se observar a capacidade de acumulação dos principais reservatórios localizados nesta Bacia.

Tabela 7 - Principais reservatórios da Bacia do Curu

Nome do Açude Município Capacidade de Acumulação (m³)

Caracas Canindé 9.630.000

Caxitoré Umirim 202.000.000

Desterro Caridade 5.010.000

Frios Umirim 33.020.000

General Sampaio General Sampaio 322.200.000

Jerimum Irauçuba 20.500.000

Pentecoste Pentecoste 395.630.000

Salão Canindé 6.040.000

São Domingos Caridade 3.035.000

São Mateus Canindé 10.330.000

Souza Canindé 30.840.000

Tejuçuoca Tejuçuoca 28.110.000

Trapiá I Caridade 2.010.000

TOTAL 13 açudes 1.068.355.000

Águas subterrâneas: os sistemas aqüíferos existentes são: os das rochas sedimentares (porosos e aluviais) e os das rochas cristalinas (fissurais). A quantificação e caracterização das captações de água subterrânea na bacia, até 2006, mostram a existência de 1.418 pontos d’água, sendo: 1.389 poços tubulares; 28 poços amazonas e 1 fonte natural, captando água tanto em rochas sedimentares como cristalinas.

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Bacia do Litoral

Característica: situa-se na porção nordeste do Estado, limitada ao sul e a oeste pela bacia do Rio Acaraú, a leste pela bacia do Rio Curu, e ao norte, pelo Oceano Atlântico. Tem como principal coletor de drenagem o rio Aracatiaçu, com 181 km de extensão. Outros cursos d’água de menores dimensões se dispõem paralelamente a ele. Tratam-se dos rios Aracati-mirim, a oeste e do Cruxati, Mundaú e Trairi a leste. Águas Superficiais: alto nível de açudagem, possuindo um total de 1.019 reservatórios, destes, 290 apresentam área superior a 5 ha. Na Tabela 8 pode-se observar a capacidade de acumulação dos principais reservatórios localizados nesta bacia.

Tabela 8 - Principais reservatórios da Bacia do Litoral Nome do Açude Município Capacidade de Acumulação (m³)

Mundaú Uruburetama 21.300.000

Patos Sobral 7.550.000

Poço Verde Itapipoca 13.650.000

Quandú Itapipoca 4.000.000

Santo Antônio de Aracatiaçu Sobral 24.340.000

Santa Maria do Aracatiaçu Sobral 8.200.000

São Pedro Timbaúba Miraíma 19.250.000

TOTAL 7 açudes 98.290.000

Águas subterrâneas: estão representadas em dois sistemas aqüíferos: rochas sedimentares (porosos e aluviais) e rochas cristalinas (fissurais). A quantificação e caracterização das captações de água subterrânea na Sub-bacia, até 2006, mostram a existência de 1.262 pontos d’água, sendo: 1.253 poços tubulares e 9 poços amazonas, captando água tanto em rochas sedimentares como cristalinas.

Bacia do Médio Jaguaribe

Característica: é uma das cinco sub-bacias que compõem a Bacia do Jaguaribe, fazendo, inclusive, fronteira com todas as demais. Localiza-se na porção leste do estado do Ceará e limita-se, em sua porção oriental, com o estado do Rio Grande do Norte. Neste trecho, o rio Jaguaribe possui como principais afluentes pela margem esquerda o rio Figueiredo e pela margem direita os riachos Manuel Dias Lopes e do Sangue, e declividades que variam de 0,02% a 0,83%, sendo a média 0,06%. Águas Superficiais: caracteriza-se pela perenização do rio Jaguaribe através da vazão liberada pelo açude Orós a montante da bacia, é também que está localizado o açude Castanhão, o maior do Estado. Possui um total de 4.592 reservatórios, destes, 997 apresentam área superior a 5 ha. Destaca-se o açude Castanhão é responsável por mais de 97% do total armazenado nesta Sub-bacia. Na Tabela 9 pode-se observar a capacidade de acumulação dos principais reservatórios localizados nesta bacia.

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Tabela 9 - Principais reservatórios da Bacia do Médio Jaguaribe

Nome do Açude Município Capacidade de Acumulação (m³)

Adauto Bezerra Pereiro 5.250.000

Canafístula Iracema 13.110.000

Castanhão Alto Santo 6.700.000.000

Ema Iracema 10.390.000

Jenipapeiro Dep. Irapuan Pinheiro 17.000.000

Joaquim Távora Jaguaribe 26.772.800

Madeiro Pereiro 2.810.000

Nova Floresta Jaguaribe 7.610.000

Potiretama Potiretama 6.330.000

Riacho do Sangue Solonópole 61.424.000

Santa Maria Ererê 5.866.800

Santo Antônio Iracema 832.000

Tigre Solonópole 3.510.000

Total 13 açudes 6.860.905.600

Águas subterrâneas: também possui dois sistemas aqüíferos: os das rochas sedimentares (porosos e aluviais) e os das rochas cristalinas (fissurais). A quantificação e caracterização das captações de água subterrânea na Sub-bacia, até 2006, mostram a existência de 929 pontos d’água, sendo: 876 poços tubulares; 52 poços amazonas e 1 fonte natural, captando água tanto em rochas sedimentares como cristalinas.

Bacia Metropolitana

Característica: localiza-se na porção nordeste do Estado, limitada ao sul pela bacia do Rio Banabuiú, a leste pela bacia do Rio Jaguaribe, a oeste pela bacia do Rio Curu, e ao norte, pelo Oceano Atlântico. A Região Hidrográfica é constituída por uma série de bacias independentes onde se destacam as que têm os rios Choró, Pacoti, São Gonçalo, Pirangi, Ceará e Cocó como coletores principais de drenagem e os sistemas Ceará/Maranguape e Cocó/Coaçu. Águas superficiais: são dezesseis as sub-bacias hidrográficas, dentre elas aquelas que possuem rio principal com maior extensão são o Choró, com 200 km; o Pirangi, com 177,5 km; e o Pacoti, com 112,5 km, todos em sentido sudoeste-nordeste. Caracterizam-se por apresentarem um volume hidrográfico de pequeno porte e de pouca representatividade, no entanto, importantes por banharem áreas urbanas. Possuem um total de 693 reservatórios, destes, 512 apresentam área superior a 5 ha. Na Tabela 10 pode-se observar a capacidade de acumulação dos principais reservatórios localizados nesta Bacia.

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Tabela 10 - Principais reservatórios da Bacia Metropolitana

Nome do Açude Município Capacidade de Acumulação (m³)

Acarape do Meio Redenção 31.500.000

Amanary Maranguape 11.010.000

Aracoiaba Aracoiaba 170.700.000

Batente Morada Nova 28.900.000

Castro Itapiúna 63.900.000

Catucinzenta Aquiraz 27.130.000

Cauhipe Caucaia 12.000.000

Gavião Pacatuba 32.900.000

Itapebussu Maranguape 8.800.000

Macacos Ibaretama 10.320.337

Malcozinhado Cascavel 37.840.000

Pacajus Pacajus 240.000.000

Pacoti Horizonte 380.000.000

Penedo Maranguape 2.414.000

Pesqueiro Capistrano 9.030.688

Pompeu Sobrinho Choró 143.000.000

Riachão Itaitinga 46.950.000

Sitios Novos Caucaia 126.000.000

Tijuquinha Baturité 881.235

Total 19 açudes 1.354.376.260

Águas subterrâneas: sistemas aqüíferos encontrados são: os das rochas sedimentares (porosos e aluviais) e os das rochas cristalinas (fissurais). A quantificação e caracterização das captações de água subterrânea na Sub-bacia, até 2006, mostram a existência de 17.969 pontos d’água, sendo: 16.019 poços tubulares; 1.945 poços amazonas e 5 fontes naturais, captando água tanto em rochas sedimentares como cristalinas.

Bacia do Parnaíba

Característica: situa-se na porção ocidental e limita-se a leste com as bacias do Acaraú, Banabuiú e Coreaú e ao sul com a sub-bacia do Alto Jaguaribe. É parte integrante da bacia do Parnaíba, localizada no estado do Piauí. Águas superficiais: caracteriza-se pelo alto nível de açudagem, possui um total de 1.657 reservatório, destes, 378 apresentam área superior a 5 ha. Na tabela 11 pode-se observar a capacidade de acumulação dos principais reservatórios localizados nesta Bacia.

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Tabela 11 - Principais reservatórios da Bacia do Parnaíba

Nome do Açude Município Capacidade de Acumulação (m³)

Barra Velha Independência 99.500.000

Carnaubal Crateús 87.690.000

Colina Quiterianópolis 3.250.000

Cupim Independência 4.550.000

Flor do Campo Novo Oriente 111.300.000

Jaburu I Ubajara 210.000.000

Jaburu Ii Independência 116.000.000

Realejo Crateús 31.550.000

Sucesso Tamboril 10.000.000

Total 9 açudes 673.840.000

Águas subterrâneas: apresentam dois sistemas aqüíferos: o das rochas sedimentares (porosos e aluviais) e os das rochas cristalinas (fissurais). A quantificação e caracterização das captações de água subterrânea na bacia, até 2006, mostram a existência de 2.173 pontos d’água, sendo: 1.945 poços tubulares; 204 poços amazonas e 24 fontes naturais, captando água tanto em rochas sedimentares como cristalinas.

Bacia do Salgado

Característica: posiciona-se na porção meridional do Estado, limita-se a oeste com a sub-bacia do Alto Jaguaribe, ao sul com o Estado de Pernambuco, ao leste com o Estado da Paraíba e a nordeste com a Sub-bacia do Médio Jaguaribe. Águas superficiais: o rio Salgado, formado pela confluência dos riachos dos Porcos e Rio das Batateiras, é o principal afluente da margem direita do Jaguaribe. Ela apresenta baixa capacidade de acumulação em termos de águas superficiais, possuindo um total de 1.695 reservatórios, destes, 254 apresentam área superior a 5 ha. Destacam-se os açudes Atalho e Lima Campos, que juntos respondem por 39% da capacidade de acumulação. Na tabela 12 pode-se observar a capacidade de acumulação dos principais reservatórios localizados nesta Bacia.

Tabela 12 - Principais reservatórios da Bacia do Salgado

Nome do Açude Município Capacidade de Acumulação (m³)

Atalho Brejo Santo 108.250.000

Cachoeira Aurora 34.330.000

Estrema Lavras da Mangabeira 2.900.000

Gomes Mauriti 2.390.000

Lima Campos Icó 66.380.000

Manoel Balbino Juazeiro do Norte 37.180.000

Olho d Água Várzea Alegre 21.000.000

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Prazeres Barro 32.500.000

Quixabinha Mauriti 31.780.000

Rosário Lavras da Mangabeira 47.200.000

Tatajuba Icó 2.720.000

Thomas Osterne Crato 28.780.000

Ubaldinho Cedro 31.800.000

Total 13 açudes 447.210.000

Águas subterrâneas: a sub-bacia do Salgado, localizada no sul do estado do Ceará na região do Cariri, tem nas águas subterrâneas da bacia sedimentar do Araripe a principal fonte de recursos hídricos necessário para seu desenvolvimento sócio-econômico. O abastecimento da população ocorre, fundamentalmente, por exutórios (fontes) e poços tubulares profundos. Apresenta dois sistemas aqüíferos: os das rochas sedimentares (porosos; cársticos e aluviais) e os das rochas cristalinas (fissurais). A quantificação e caracterização das captações de água subterrânea na sub-bacia, até 2006, mostram a existência de 3.645 pontos d’água, sendo: 3.370 poços tubulares; 23 poços amazonas e 252 fontes naturais, captando água tanto em rochas sedimentares como cristalinas.

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4. ANÁLISE ESTATÍSTICA DO BANCO DE DADOS A análise estatística dos dados primários obtidos por meio de aplicação de questionários junto aos membros das comunidades pesquisadas no estudo encontra-se dividida em duas sessões: Caracterização das Comunidades – Aspectos sociais e A Questão da Água na Comunidade. Apesar das limitações típicas de estudos desta natureza, os resultados apresentados a seguir, certamente contribuirão para balizar as recomendações e ajustes necessários que devem ser considerados na elaboração, execução, implantação e gestão de projetos vindouros.

4.1. Caracterização das comunidades - Aspectos sociais

4.1.1. Características demográficas das comunidades Entender os fatores que condicionam o uso dos carros-pipa nas comunidades localizadas na zona rural do Ceará requer, inicialmente, o conhecimento das características demográficas locais. Como apresentado na Tabela 1, existe uma elevada variação no tamanho das comunidades dentro de cada bacia. No entanto, pode-se notar que as comunidades são pequenas, a maioria não ultrapassando 10 ha. A exceção se verifica na Bacia do Baixo Jaguaribe onde existe comunidade com até 320 ha. O tamanho médio das comunidades dessa bacia deve ser visto com cautela haja vista a diferença entre a menor e a maior bacia aí localizadas. Em termos gerais, excluindo a Bacia do Baixo Jaguaribe, não existem diferenças significativas entre as bacias analisadas quanto à variável tamanho da comunidade, o que foi confirmado pelo teste de Scheffé8.

Tabela 13 - Estatísticas descritivas da variável tamanho da comunidade (ha)

Bacia Hidrográfica Média Desvio Padrão Mínimo Máximo

Alto Jaguaribe 3,48 1,85 1,00 7,00

Litoral 3,32 1,19 2,00 6,00

Baixo Jaguaribe 48,35 96,11 6,00 320,00

Banabuiú 7,12 4,87 1,50 18,00

Metropolitana 1,74 1,07 1,00 4,50

Salgado 1,83 0,76 1,00 4,00

Coreaú 2,88 1,50 1,00 7,00

Curu 3,38 2,09 1,00 8,00

Acaraú 4,00 3,00 1,00 7,00

Parnaíba 2,09 0,63 1,50 3,00

8 Resultados dos testes de hipóteses encontram-se no Apêndice B.

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Bacia Hidrográfica Média Desvio Padrão Mínimo Máximo

Médio Jaguaribe 7,44 5,25 1,50 18,00

Total 5,65 22,80 1,00 320,00

Fonte: Dados da pesquisa de campo

As comunidades localizadas nas bacias do Curu, Médio Jaguaribe e Litoral, embora com tamanho médio abaixo da média geral das onze bacias analisadas (5,65 ha) dispõem de um maior número de casas (Tabela 14). Este aspecto pode ser um potencial conflito uma vez que se associa a uma maior demanda por água. O teste para comparação de médias não apontou, no entanto, diferença significativa entre as bacias, considerando o número médio de casas nas suas comunidades.

Tabela 14 - Estatísticas descritivas da variável número de casas

Bacia Hidrográfica Média Desvio Padrão Mínimo Máximo

Alto Jaguaribe 30 26 6 96

Litoral 52 45 6 200

Baixo Jaguaribe 29 21 6 95

Banabuiú 22 20 2 70

Metropolitana 38 42 8 209

Salgado 33 34 3 130

Coreaú 40 32 7 110

Curu 62 75 3 268

Acaraú 26 35 4 190

Parnaíba 30 31 5 135

Médio Jaguaribe 52 48 4 195

Total 38 42 2 268 Fonte: Dados da pesquisa de campo

Na Tabela 15 encontram-se as estatísticas descritivas da variável número de casas dispersas. Como pode ser observado existe uma alta proporção de casas dispersas em todas as comunidades pesquisadas. A dispersão das casas é um fator limitante na implementação de uma estrutura hídrica capaz de atender às necessidades da população.

Tabela 15 - Estatísticas descritivas da variável número de casas dispersas

Bacia Hidrográfica Média Desvio Padrão Mínimo Máximo

Alto Jaguaribe 15 13 0 46

Litoral 44 33 6 150

Baixo Jaguaribe 25 20 4 95

Banabuiú 13 13 0 40

Metropolitana 30 49 0 209

Salgado 23 24 0 98

Coreaú 32 37 0 110

Curu 13 12 0 40

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Bacia Hidrográfica Média Desvio Padrão Mínimo Máximo

Acaraú 15 16 0 60

Parnaíba 19 26 0 123

Médio Jaguaribe 29 32 0 135

TOTAL 24 28 0 209 Fonte: Dados da pesquisa de campo

O número de famílias residentes nas comunidades inseridas nas bacias hidrográficas é, em média, 36. O teste de Sheffé apontou que na bacia Metropolitana o número médio de famílias na comunidade é significativamente diferente e maior em relação às bacias Alto Jaguaribe, Banabuiú, Curu, Acaraú e Médio Jaguaribe. É natural intuir que quanto mais populosa a bacia, maior a demanda por água.

Tabela 16 - Estatísticas descritivas da variável número de famílias

Bacia Hidrográfica Média Desvio Padrão Mínimo Máximo

Alto Jaguaribe 28 21 5 82

Litoral 34 33 5 130

Baixo Jaguaribe 35 46 3 200

Banabuiú 24 18 4 73

Metropolitana 73 65 6 268

Salgado 48 47 6 209

Coreaú 46 46 3 188

Curu 28 20 5 97

Acaraú 18 17 2 70

Parnaíba 34 37 5 183

Médio Jaguaribe 23 22 2 114

Total 36 39 2 268 Fonte: Dados da pesquisa de campo

4.1.2. Características da saúde da população nas comunidades

O abastecimento de água para consumo humano é um dos graves problemas sociais vividos pela população rural do Ceará. A escassez de água por longos períodos durante o ano força a população a utilizar água de baixa qualidade, captada em mananciais contaminados por bactérias, com alto teor de sais e elevada turbidez. Os fatores de risco decorrentes dessa prática envolvem a proliferação de doenças, em especial aquelas de veiculação hídrica: diarréias, verminoses, micoses. Dados da Organização Mundial de Saúde estimam que anualmente 3,4 milhões de pessoas morrem devido a problemas decorrentes do consumo de água de má qualidade. Ainda segundo a organização 80% de todas as doenças que se alastram nos países em desenvolvimento são provenientes da água de má qualidade.

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A enumeração das doenças mais freqüentes nas comunidades pesquisadas transparece a vulnerabilidade da saúde da população em relação à água consumida. Como observado na Tabela 17, doenças transmitidas por agentes presentes na água contaminada, diarréia e verminoses principalmente, estão entre as mais comuns nas bacias estudadas. As bacias com maior incidência de comunidades com casos de diarréia foram Coreaú, Paranaíba e Curu com respectivamente 96,7% , 68,0% e 62,1% de freqüência. A doença se manifesta com menor abrangência nas bacias de Alto Jaguaribe, Médio Jaguaribe e Salgado. Em relação às verminoses as bacias de Banabuiú, Baixo Jaguaribe e Parnaíba são aquelas com maior número de comunidades afetadas pela doença. Na bacia de Salgado, aparentemente, ocorre uma menor manifestação das doenças de veiculação hídrica. Nessa bacia apenas 20,7% das comunidades relataram casos de diarréia e em nenhuma delas houve casos de verminoses.

Tabela 17 – Doenças mais freqüentes nas comunidades pesquisadas

Bacia Hidrográfica

Doença

Insu

fici

ênci

a r

esp

irat

óri

a a

lta

Dia

bet

es

An

emia

Dia

rréi

a

Gri

pe

Do

r d

e

cab

eça

Do

ença

s r

esp

irat

óri

as

Mic

ose

s

Vir

ose

Ver

min

ose

s

Alto Jaguaribe 20,0 33,3 0,0 20,0 0,0 0,0 56,7 0,0 0,0 6,7 Litoral 0,0 16,7 0,0 53,3 0,0 33,3 3,3 0,0 0,0 3,3 Baixo Jaguaribe 0,0 7,1 0,0 53,6 3,6 28,6 0,0 3,6 25,0 53,6 Banabuiú 0,0 11,5 0,0 38,5 0,0 26,9 7,7 15,4 34,6 57,7 Metropolitana 0,0 24,1 0,0 55,2 0,0 65,5 0,0 0,0 0,0 24,1 Salgado 0,0 55,2 0,0 20,7 10,3 0,0 27,6 17,2 6,9 0,0 Coreaú 0,0 6,7 3,3 96,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 6,7 Curu 0,0 27,6 0,0 62,1 0,0 48,3 0,0 0,0 34,5 37,9 Acaraú 0,0 7,7 0,0 26,9 0,0 76,9 7,7 0,0 0,0 0,0 Parnaíba 24,0 40,0 0,0 68,0 0,0 0,0 0,0 0,0 12,0 52,0 Médio Jaguaribe 0,0 24,1 0,0 20,7 0,0 17,2 13,8 0,0 55,2 24,1 Amostra Total 3,9 23,2 0,3 46,9 1,3 26,7 10,9 3,2 15,1 23,5

4.1.3. Nível de organização e apoio recebido pelas comunidades

A organização das comunidades confere à população aí residente uma maior resiliência aos problemas decorrentes da escassez dos recursos hídricos. Como observado na Figura 3 em 9% das comunidades coloca a desorganização como um problema na comunidade. O problema é mais freqüente nas bacias do Baixo Jaguaribe e Acaraú.

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Figura 3 - Proporção de comunidades em que a desorganização dos moradores é apontada como um problema ou motivo de conflito, por bacia hidrográfica Ceará.

A tipologia da associação varia de comunidade para comunidade. Conforme Figura 4, de um modo geral, a associação de produtores é a mais comum nas comunidades, com exceção da bacia de Parnaíba onde essa tipologia está presente em apenas 6,2% das comunidades.

Figura 4 - Proporção de comunidades segundo a tipologia da associação, por bacia

hidrográfica do Ceará

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De um modo geral a população tem boa participação na associação, no entanto, 11,5% das comunidades na amostra total apontaram que a baixa participação dos moradores é causa de problemas ou conflitos. Dentre essas bacias, Banabuiú apresentou a maior freqüência relativa 9( Figura 5).

Figura 5 - Proporção de comunidades em que a baixa participação da comunidade na associação é apontada como um problema ou motivo de conflito, por

bacia hidrográfica do Ceará

Embora não seja um consenso entre todas as bacias, a desorganização da população foi apontada como um fator que contribui para agravar os problemas decorrentes da falta de água em 9% das comunidades entrevistadas. A desorganização das comunidades é, na prática, um fator que contribui para a manutenção do cenário de carência de um sistema de abastecimento d’água eficiente nas comunidades. No entanto, como mostra a Figura 6, apenas uma minoria das comunidades acredita que a desorganização traz essa conseqüência. A percepção da gravidade de uma comunidade com baixo nível de organização mostrou-se mais clara na bacia de Acaraú, onde 53,8% das comunidades entrevistadas demonstraram que já tiveram ou podem ter dificuldades de resolver questões referentes à gestão da água devido ao nível de desorganização em que se encontram. No entanto, essa percepção não existe em boa parte das comunidades entrevistadas.

9 Não foi possível fazer a análise do número de famílias associadas devido à inconsistência dos dados ( em algumas comunidades observou-se que o número de famílias associadas era maior que o número total de famílias)

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Figura 6 - Proporção de comunidades que acreditam que a desorganização da comunidade agrava os problemas resultantes da disponibilidade de água, por bacia hidrográfica Ceará

Quanto à aceitação da associação quando presente na comunidade, Figura 7, a maioria das comunidades concorda que a mesma é funcional. Pontos críticos na aceitação da associação foram verificados nas comunidades inseridas nas bacias do Litoral e Baixo Jaguaribe.

Figura 7 - Proporção de comunidades segundo opinião sobre o funcionamento da associação, por bacia hidrográfica do Ceará

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O processo de mobilização dos indivíduos, seja ou não por meio da associação e de reuniões periódicas, eleva as chances de concretização de um objetivo comum. Assim, a articulação entre comunidades pode contribuir favoravelmente para a melhoria no abastecimento de água. Neste aspecto, como observado na Figura 8, nota-se a existência de algum tipo de interação na quase totalidade das comunidades entrevistadas, apesar do elevado nível de dispersão das mesmas.

Figura 8 - Proporção de comunidades segundo a existência de articulação com comunidades próximas, por bacia hidrográfica do Ceará

Apesar de se considerarem articuladas percebe-se uma inconsistência na análise da forma como se dá a pretensa articulação com o poder público, Tabela 9. Na amostra total 15,3% das comunidades entrevistadas afirmaram que não possuem articulação. O mesmo percentual coube aquelas em que articulação se dá individualmente. A associação apareceu como principal elo entre a comunidade e poder público local sendo que nas bacias do Litoral, Baixo Jaguaribe, Acaraú e Parnaíba esse papel cabe aos vereadores e lideranças políticas.

Observa-se, ainda, que algumas bacias demonstram maior capacidade de articulação que outras. Nesse contexto menciona-se a bacia Médio Jaguaribe onde 72,7% das comunidades afirmaram não possuir capacidade de articulação e apenas 18,2 delas alegaram existir articulação, no caso somente por meio da associação.

Na bacia de Banabuiú identificou-se outra situação frágil, haja vista que em 58,30% das comunidades a articulação se dá por meio do interessado (individualmente) e em 50,0% por meio da associação. Outras formas de articulação não foram relatadas na bacia.

Por fim, é importante ressaltar o papel dos agentes de saúde que, pela própria natureza do trabalho que exercem, assumem um papel de mediadores entre os membros da comunidade e os tomadores de decisão.

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Tabela 18 - Proporção de comunidades segundo a forma como a comunidade se articula com o poder público local, por bacia hidrográfica Ceará.

Bacia Hidrográfica

Forma de Articulação

Não

arti

cula

ção

Ind

ivid

ual

men

te

Ag

ente

de

saú

de

Ver

ead

or/

L

ider

ança

s P

olít

icas

Ass

oci

ação

EM

AT

ER

CE

Sin

dic

ato

Pro

fess

ore

s

Alto Jaguaribe 23,8 23,8 38,1 42,9 47,6 9,5 0,0 0,0

Litoral 0,0 0,0 50,0 75,0 75,0 33,3 25,0 8,3

Baixo Jaguaribe 9,5 0,0 42,9 61,9 23,8 0,0 9,5 14,3

Banabuiú 0,0 58,3 0,0 0,0 50,0 0,0 0,0 0,0

Metropolitana 0,0 0,0 23,5 0,0 88,2 0,0 17,6 11,8

Salgado 57,1 0,0 0,0 0,0 42,9 0,0 0,0 0,0

Coreaú 0,0 25,0 25,0 12,5 62,5 0,0 0,0 0,0

Curu 5,0 20,0 0,0 5,0 65,0 0,0 0,0 0,0

Acaraú 0,0 33,3 28,6 57,1 38,1 0,0 0,0 0,0

Parnaíba 37,5 0,0 4,2 58,3 41,7 0,0 0,0 0,0

Médio Jaguaribe 72,7 0,0 0,0 0,0 18,2 0,0 0,0 0,0

Amostra Total 15,3 15,3 21,1 32,1 50,5 3,2 4,2 3,2 Fonte: Dados da pesquisa de campo

A articulação torna-se mais relevante à medida que em algumas bacias o apoio externo não atinge todas as comunidades, caso da bacia de Banabuiú, onde apenas 39,3% das comunidades recebem algum auxílio de ONGs. Embora não atuando em todas as comunidades as ONGs são a forma mais freqüente de apoio presente nas comunidades, 77,7% do total de comunidades visitadas. Os agentes de saúde forma citados em apenas 19,1% das comunidades (Tabela 19).

Tabela 19 - Proporção de comunidades segundo o prestador de apoio externo recebido

Bacia Hidrográfica ONG Agente de saúde FUNASA Outro

Alto Jaguaribe 41,4 58,6 51,7 20,7 Litoral 96,7 3,3 0,0 23,3 Baixo Jaguaribe 88,5 7,7 7,7 0,0 Banabuiú 39,3 42,9 57,1 3,6 Metropolitana 60,0 33,3 33,3 6,7 Salgado 96,7 6,7 0,0 13,3 Coreaú 96,7 0,0 0,0 43,3 Curu 54,5 45,5 36,4 4,5 Acaraú 96,7 3,3 3,3 0,0 Parnaíba 100,0 0,0 4,0 20,0 Médio Jaguaribe 79,3 13,8 3,4 3,4 Amostra Total 77,7 19,1 17,5 12,9 Fonte: Dados da pesquisa de campo

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O tipo de apoio mais freqüente nas comunidades é o de monitoramento, embora existam bacias em que prevalece o apoio financeiro, caso das bacias do Litoral e Coreaú. (Tabela 20).

Tabela 20 - Proporção de comunidades segundo o tipo de apoio externo recebido

Bacia Hidrográfica Monitoramento Financeiro Outro

Alto Jaguaribe 62.1 3.4 37.9 Litoral 48.3 86.2 6.9 Baixo Jaguaribe 96.2 61.5 0.0 Banabuiú 100.0 65.4 0.0 Metropolitana 65.5 65.5 0.0 Salgado 100.0 0.0 0.0 Coreaú 3.6 78.6 0.0 Curu 66.7 63.3 3.3 Acaraú 100.0 87.0 0.0 Parnaíba 100.0 4.0 0.0 Médio Jaguaribe 96.7 70.0 0.0 Amostra Total 75,3 53,0 4,6 Fonte: Dados da pesquisa de campo

A análise das variáveis apresentadas permitiu identificar que as comunidades encontram-se articuladas, mas não foi detectado um maior apoio de instituições governamentais cabendo às ONGs uma maior parcela de atuação local. Percebeu-se que a associação é bem aceita na comunidade e que o nível de desorganização não é visto como um dos principais problemas a serem enfrentados na melhoria do sistema de abastecimento de água.

4.1.4. Problemas e conflitos nas comunidades Na percepção dos moradores das comunidades selecionadas na amostra o problema mais freqüente é a disponibilidade e qualidade da água. Esse problema foi citado como o mais grave em 56,9% das comunidades, como observado na Figura 9. Outros pontos críticos foram a qualidade das estradas e a pouca participação da comunidade na associação de moradores. A disponibilidade de água de qualidade é um problema que adquire ramificações à medida que gera conflitos entre os usuários moradores da comunidade, fragiliza a saúde e auto estima da população.

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Estudos apontam que uma sociedade organizada apresenta melhor capacidade de resolver conflitos e de lutar por seus interesses. No caso do acesso água, o nível de organização de seus usuários é determinante para uma gestão racional do recurso. No entanto, observa-se que a baixa participação dos moradores e o seu nível de organização só são apresentados como problemas relevantes em 11,5% e 9,0% das comunidades, respectivamente. A realidade sugere que estes valores baixos não sejam interpretados como a inexistência de tais problemas na comunidade e sim, o que é preocupante, como de pouca importância para a população, o que contribui para a continuidade de problemas maiores. Como discutido na seção anterior foram poucas as comunidades que se manifestaram insatisfeitas com seu nível de organização e funcionamento da associação.

Figura 9 - Proporção de comunidades segundo opinião sobre o principal problema/conflito

As particularidades concernentes às bacias hidrográficas são visualizadas na Tabela 21. Considerando os dois problemas mais freqüentes é possível identificar dois grupos: o primeiro formado pelas bacias onde o problema principal para o maior número de comunidades é a disponibilidade de água (Alto Jaguaribe, Litoral, Baixo Jaguaribe, Metropolitana, Salgado, Coreaú, Curu, Acaraú e Parnaíba) e o segundo onde prevalecem os problemas ligados a participação e organização dos moradores (Banabuiú e Médio Jaguaribe).

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Tabela 21 - Proporção de comunidades segundo principais problemas e conflitos existentes, por bacias hidrográficas do Ceará

Bacia Hidrográfica

Problemas e Conflitos nas comunidades

Dis

po

nib

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ade

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Alto Jaguaribe 72,4 0,0 0,0 13,8 6,9 10,3 3,4 0,0 Litoral 72,0 0,0 4,0 0,0 4,0 4,0 4,0 4,0 Baixo Jaguaribe 50,0 10,7 3,6 10,7 0,0 28,6 7,1 3,6 Banabuiú 32,0 4,0 0,0 36,0 4,0 4,0 8,0 0,0 Metropolitana 88,5 19,2 11,5 3,8 3,8 3,8 15,4 0,0 Salgado 34,5 13,8 0,0 13,8 0,0 3,4 13,8 3,4 Coreaú 85,7 61,9 4,8 0,0 0,0 0,0 4,8 4,8 Curu 60,7 39,3 0,0 10,7 0,0 3,6 0,0 3,6 Acaraú 81,8 0,0 0,0 4,5 4,5 27,3 0,0 0,0 Parnaíba 48,0 0,0 8,0 8,0 0,0 4,0 0,0 0,0 Médio Jaguaribe 16,7 0,0 0,0 20,0 23,3 10,0 13,3 0,0 Amostra Total 56,9 12,8 2,8 11,5 4,5 9,0 6,6 1,7

Fonte: Dados da pesquisa de campo

4.2. A questão da água na comunidade

É importante ressaltar que existe uma confusão conceitual entre os moradores das comunidades quanto à definição de fontes hídricas, tipo de nascente, forma de captação de água e tipo de reservatório. A análise estatística constatou inconsistências decorrentes desse fato como, por exemplo, quatro proporções diferentes, em uma mesma bacia, para comunidades que possuem açude. Essas inconsistências ocorrem porque em algumas comunidades o açude é visto como uma fonte de água, em outras como nascente, em outras como forma de captação de água ou ainda como um reservatório. A análise a seguir não assumiu o ônus da frágil base conceitual verificada e seguiu o procedimento não tendencioso de analisar os dados conforme apresentados.

4.2.1. A origem da água nas comunidades das bacias hidrográficas

Fontes de água nas comunidades

A água é incontestavelmente o bem mais precioso do meio rural cearense. A sobrevivência de comunidades inteiras de sertanejos depende da existência de alguma fonte hídrica próxima, seja ela natural ou construída pelo próprio homem.

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As fontes hídricas naturais , no entanto, encontram-se rarefeitas. A escassez do recurso é sentida em todo o território e deve-se a uma interação peculiar entre fatores geológicos, geográficos, econômicos, sociais e climáticos. Como pode ser observado na Tabela 22 apenas 28,1% das comunidades são cortadas por rio. Os córregos estão presentes em 54% delas. A análise individual de cada bacia aponta que as bacias de Alto Jaguaribe e Parnaíba apresentam o maior número de comunidades banhadas por rio. Por outro lado, a maior escassez de fontes naturais de água encontra-se na bacia Metropolitana. Os dados confirmam a precariedade das comunidades quanto à existência de recursos hídricos naturais. Tabela 22 - Proporção de comunidades onde existem fontes naturais de água, por tipo de fonte

e bacia hidrográfica Ceará

Bacia Hidrográfica Fontes Naturais

Rio Fonte Riacho Córrego

Alto Jaguaribe 63,0 0,0 0,0 70,4

Litoral 40,9 0,0 0,0 40,9

Baixo Jaguaribe 28,6 0,0 0,0 21,4

Banabuiú 29,6 0,0 0,0 63,0

Metropolitana 0,0 21,4 9,5 14,3

Salgado 8,0 0,0 0,0 76,0

Coreaú 6,9 0,0 0,0 62,1

Curu 26,9 0,0 0,0 26,9

Acaraú 25,0 0,0 20,8 20,8

Parnaíba 64,0 0,0 0,0 100,0

Médio Jaguaribe 12,5 2,2 12,5 91,7

Amostra Total 28,1 2,2 3,6 54,0 Fonte: Dados da pesquisa de campo

O cenário adquire um caráter de maior gravidade quando se verifica que as fontes artificiais de água também são escassas. Como apresentado na Tabela 23 as principais fontes artificiais de água nas comunidades são os açudes, poços e cisternas. O menor número de comunidades com açudes encontra-se nas Bacias Metropolitana e Coreaú. Quanto à existência de poços nota-se uma maior demanda nas bacias de Salgado e Médio Jaguaribe. Apesar das ações como aquelas desenvolvidas pelo Programa de Mobilização Social para Construção de 1 Milhão de Cisternas (P1MC), nas bacias Banabuiú e Metropolitana apenas 24,0% e 24,1% das comunidades, respectivamente, são beneficiadas por este por cisternas.

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Tabela 23 - Proporção de comunidades onde existem fontes artificiais de água, por tipo de fonte e bacia hidrográfica Ceará

Bacia Hidrográfica

Fontes Artificiais

Açu

de

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Po

ço

Cac

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ão

Sis

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Cis

tern

a

Des

salin

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or

Alto Jaguaribe 96,3 0,0 66,7 4,2 0,0 0,0 66,7 0,0 Litoral 81,8 9,1 68,2 3,7 0,0 0,0 63,0 0,0 Baixo Jaguaribe 71,4 0,0 50,0 21,4 3,6 4,0 75,0 4,0 Banabuiú 81,5 0,0 66,7 0,0 4,0 0,0 24,0 0,0 Metropolitana 33,3 0,0 52,4 24,1 0,0 0,0 24,1 10,0 Salgado 64,0 0,0 32,0 20,7 0,0 0,0 44,8 0,0 Coreaú 37,9 0,0 75,9 43,3 0,0 20,0 50,0 0,0 Curu 42,3 0,0 46,2 6,7 0,0 0,0 30,0 0,0 Acaraú 41,7 4,5 54,2 70,0 5,0 9,1 80,0 0,0 Parnaíba 88,0 0,0 80,0 12,0 0,0 0,0 32,0 0,0 Médio Jaguaribe 87,5 3,3 33,3 6,9 13,8 0,0 41,4 0,0 Amostra Total 66,2 1,5 57,2 18,6 2,40 3,3 47,60 1,1

Fonte: Dados da pesquisa de campo

Além de existirem em quantidade deficiente, as fontes hídricas das comunidades apresentam uma série de problemas, conforme apresentados na Tabela 24. Tais problemas vão desde o domínio e posse que impedem o uso democrático da água até ao elevado grau de salinidade da água que impede o seu consumo. A falta de regularidade, ou seja, a ausência de água durante alguns períodos ao longo do ano apresenta a maior freqüência entre as comunidades da bacia de Alto Jaguaribe. No entanto, o maior problema dessa bacia é apontado como sendo a poluição da água. Na bacia do Baixo Jaguaribe o problema mais mencionado pelas comunidades refere-se às condições dos equipamentos e tratamento dado à água, citado por 34,5% das comunidades. No Médio Jaguaribe 47,6% citaram a distância entre o local de coleta e o local de consumo. Na bacia de Salgado o problema mais colocado foi o acesso livre às fontes hídricas e em Salgado o mau uso da água, reclamação de 73,3% das comunidades. Como apontado as bacias guardam especificidades que demandam ações locais. Políticas universais em uma realidade como a descrita além de onerosas correm o risco de não serem efetivas.

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Tabela 24 - Proporção de comunidades por tipo de problema associado às fontes hídricas, por bacia hidrográfica do Ceará

Bacia Hidrográfica

Principais problemas relacionados às fontes hídricas

Irre

gu

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e

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de

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Más

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po

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Dis

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Sal

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livr

e

Mau

uso

Po

luiç

ão

Alto Jaguaribe 20,8 4,2 0,0 12,5 4,2 29,2 12,5 4,2 41,7

Litoral 8,3 4,0 0,0 16,7 0,0 41,7 0,0 0,0 37,5

Baixo Jaguaribe 3,4 3,4 34,5 3,4 13,8 24,1 0,0 3,4 10,3

Banabuiú 7,1 0,0 14,3 7,1 21,4 57,1 7,1 0,0 7,1

Metropolitana 8,7 8,7 13,0 13,0 4,3 21,7 0,0 8,7 30,4

Salgado 4,8 0,0 14,3 9,5 9,5 0,0 38,1 9,5 19,0

Coreaú 14,3 0,0 14,3 10,7 21,4 17,9 14,3 3,6 21,4

Curu 8,3 0,0 20,8 4,2 4,2 20,8 8,3 16,7 25,0

Acaraú 17,2 6,9 24,1 31,0 10,3 10,3 3,4 0,0 13,8

Parnaíba 0,0 0,0 0,0 6,7 0,0 13,3 0,0 73,3 6,7

Médio Jaguaribe 9,5 9,5 0,0 14,3 47,6 28,6 0,0 0,0 0,0

Amostra total 9,9 3,6 13,4 12,3 12,3 23,0 7,5 8,7 20,2 Fonte: Dados da pesquisa de campo

Forma de captação e armazenamento de água

Como já mencionado as formas de captação e armazenamento de água se confundem entre os moradores das comunidades rurais. No entanto, considera-se nesta análise que captação de água consiste na retirada de água de um corpo hídrico para destiná-la a um determinado uso seja ele doméstico ou não. Assim, a Tabela 25 busca descrever as principais fontes de captação de água, ou seja, de onde vem a água usada na comunidade. Na amostra total verifica-se que é principalmente da cisterna que o maior número de comunidades retira a água para uso próprio. Em seguida observam-se, em 30,7% das comunidades, os açudes. As caixas d’água praticamente inexistem nas comunidades estudadas e os carros pipas foram apontados como principal fonte de captação de água em 12,2% destas, atrás apenas das cisternas (47,6%), açudes (30,7%) e cacimba/cacimbões (18,6%). A análise individual ressaltou mais uma vez a heterogeneidade entre as bacias. A bacia de Banabuiú apresentou o maior número de comunidades que captam a água principalmente de carros pipa. Nessa bacia verificou-se o menor número de comunidades que utilizam as cisternas. A captação a partir de carros pipa não foi mencionada nas comunidades localizadas nas bacias Alto Jaguaribe, Salgado, Coreaú e Parnaíba.

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Ainda segundo dados da tabela, percebe-se o reflexo de ações implementadas pelo governo com o objetivo de criar fontes de captação e armazenamento de água. Em algumas bacias foram verificadas diferentes opções de fontes, caso das bacias de Salgado e Baixo Jaguaribe que registraram, respectivamente, 8 e 7, das 10 fontes de capitação analisadas.

Tabela 25 - Proporção de comunidades segundo as fontes de captação de água, por tipo de fonte e bacia hidrográfica do Ceará

Bacia Hidrográfica

Fontes onde ocorre a captação de água pelos moradores da comunidade

Cis

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as

Po

ço

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Alto Jaguaribe 66,7 8,3 0,0 29,2 4,2 0,0 0,0 0,0 25,0 0,0

Litoral 63,0 18,5 0,0 25,9 3,7 11,1 0,0 18,5 0,0 0,0

Baixo Jaguaribe 75,0 0,0 0,0 25,0 21,4 35,7 39,3 10,7 0,0 7,1

Banabuiú 24,0 16,0 0,0 40,0 0,0 52,0 0,0 0,0 8,0 20,0

Metropolitana 24,1 27,6 0,0 13,8 24,1 13,8 0,0 13,8 0,0 0,0

Salgado 44,8 3,4 6,9 34,5 20,7 0,0 0,0 6,9 3,4 3,4

Coreaú 50,0 20,0 0,0 20,0 43,3 0,0 0,0 3,3 0,0 0,0

Curu 30,0 16,7 0,0 26,7 6,7 3,3 0,0 3,3 0,0 0,0

Acaraú 80,0 20,0 0,0 35,0 70,0 15,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Parnaíba 32,0 0,0 0,0 36,0 12,0 0,0 0,0 0,0 0,0 48,0

Médio Jaguaribe 41,4 0,0 0,0 55,2 6,9 6,9 0,0 10,3 0,0 20,7

Amostra Total 47,6 11,8 0,7 30,7 18,6 12,2 3,7 6,4 3,0 8,8 Fonte: Dados da pesquisa de campo

As cisternas vêm sendo construídas nas comunidades rurais do semiárido com o propósito de captar água (da chuva preferencialmente) e armazená-la durante todo o ano a fim de usá-la para beber e cozinhar. Em relação à existência de cisternas os dados coletados apontam uma média de 13 por comunidade. No entanto, verifica-se uma grande heterogeneidade nos dados com comunidades sem nenhuma cisterna e outras com até 162, conforme apresentado na Tabela 26.

Tabela 26 - Estatísticas descritivas da variável número de cisternas na comunidade10

Bacia Hidrográfica Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máximo

Alto Jaguaribe 8 5 9 0 34

Litoral 10 8 12 0 45

Baixo Jaguaribe 20 11 22 1 100

Banabuiú 8 5 7 0 26

Metropolitana 17 10 20 0 98

10 O resultado do teste de Scheffé, para comparação de múltiplos médias, não apontou diferença significativa entre as bacias quanto ao número médio de cisternas. No entanto, como já ressaltado várias vezes nesta análise, não será dada maior atenção a esse resultado devido ao grande número de “missing values” nessa variável.

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Salgado 19 10 33 0 162

Coreaú 6 1 8 0 31

Curu 20 16 20 0 90

Acaraú 13 7 15 0 67

Parnaíba 18 11 19 0 66

Médio Jaguaribe 6 4 6 0 29

Total 13 7 18 0 162

Fonte: Dados da pesquisa de campo

A análise do número de cisternas possui pouca funcionalidade, pois dependendo do tamanho da comunidade deve ser menor ou maior. Além disso, a elevada dispersão das informações, representada pelo desvio padrão, não confere grande confiabilidade aos resultados. Nestes casos a mediana é mais adequada que a média. A análise da mediana mostra que em 50% das comunidades estudadas há, no máximo 7 cisternas. No caso da Bacia de Coreaú metade das comunidades têm no máximo 1(uma) cisterna e metade acima de 1 podendo alcançar até 31 cisternas por comunidade. Na bacia de Curu 50% das comunidades apresentam acima de 16 cisternas. Mais informativa seria a análise da demanda por cisterna, Tabela 27. Apesar dos esforços na construção de cisternas ainda existe uma demanda de 22 cisternas, em média, para cada comunidade da amostra. A bacia Metropolitana é a mais carente. Aí as comunidades necessitam, em média, de 52 cisternas sendo que há comunidade com demanda de até 258. Ainda entre as bacias com maior demanda por cisternas destaca-se Coreaú, Salgado e Litoral, com demanda média de 40, 31 e 25 cisternas, respectivamente. É importante ressaltar, mais uma vez que a análise da média deve ser vista com ressalvas quando existe uma amplitude tão grande nos dados (0 a 258). Assim, considerando a mediana, percebe-se que na bacia Metropolitana existe uma demanda por cisterna acima de 28 em 50% das comunidades estudadas. Esse número cai para 4 na bacia de Acaraú. O teste de Scheffé apontou diferenças significativas na demanda por cisterna apenas entre a bacia Metropolitana e as bacias Baixo Jaguaribe, Curu e Acaraú, a um nível de significância de 5%.

Tabela 27 - Estatísticas descritivas de demanda por cisternas

Bacia Hidrográfica Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máximo

Alto Jaguaribe 19 15 17 2 68 Litoral 25 12 30 0 120 Baixo Jaguaribe 16 2 37 0 160 Banabuiú 16 12 15 2 59 Metropolitana 52 28 56 3 258 Salgado 31 20 36 0 149 Coreaú 40 20 49 0 188

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Curu 8 5 9 0 41 Acaraú 6 4 6 0 26 Parnaíba 15 8 27 0 137 Médio Jaguaribe 17 8 22 0 106

Total 22 9 34 0 258

Fonte: Dados da pesquisa de campo

É sabido que a construção de cisternas tem contribuído para aliviar o problema de escassez de água nos períodos de estiagem. No entanto, não se trata da opção mais confortável e segura e nem confere uma maior transformação na zona rural no que diz respeito à garantia de água durante o ano inteiro, uma vez que em cada novo período de estiagem é comum ver cisternas sendo abastecidas por carros pipas. Neste cenário, investimentos na implantação de sistemas de abastecimento surgem como a alternativa mais adequada para possibilitar o fornecimento contínuo de água. Como observado na Figura 10 os sistemas de abastecimento só existem em 28% das comunidades considerando a amostra total. Na bacia de Salgado este percentual cai para 10%. Pela própria localização, a bacia Metropolitana surge com o maior percentual de comunidades com sistema de abastecimento.

Figura 10 - Proporção de comunidades segundo a existência

de sistema de abastecimento, por bacia

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Tipos de reservatórios de água existentes na comunidade

Reservatórios são unidades que acumulam a água para uso posterior. Dada esta definição os principais tipos de reservatórios existentes nas bacias hidrográficas são os açudes, presentes em 36,7% das comunidades, conforme Tabela 28. Em seguida, são utilizadas as cisternas e em uma proporção bem inferior surgem as cacimbas/cacimbões e poços, identificados em 9,7% e 8,7% das comunidades, respectivamente. Verifica-se, ainda, que em 13% das comunidades não existem reservatórios de nenhum tipo. Essa situação é mais grave na bacia Litoral, onde a presença de reservatórios foi constatada em apenas 50% das comunidades. Os tipos de reservatórios menos freqüentes nas bacias são as caixas d’gua, barragens, tanques e barreiros. Nota-se que as cisternas usadas na captação da água são também um tipo de reservatório em algumas comunidades. No entanto, enquanto em 47% das comunidades as cisternas são usadas como forma de captação de água, o seu uso como reservatório se dá em apenas 31% das comunidades. A análise estatística não encontrou subsídios para explicar essa diferença, a qual pode representar uma subutilização das cisternas, pouco provável, ou a falta de entendimento ou distinção entre os termos captação e reservatório.

Tabela 28 - Proporção de comunidades segundo o tipo de reservatório de água, por bacia hidrográfica do Ceará

Bacia Hidrográfica

Tipos de reservatório de água

Não

rese

rvat

óri

o

Cis

tern

as

Po

ço

Cai

xa d

’ág

ua

Açu

de

Cac

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bão

Lag

oa

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e

Bar

reir

os

Alto Jaguaribe 3,4 34,5 0,0 3,4 34,5 3,4 0,0 3,4 0,0 17,2

Litoral 50,0 15,4 15,4 0,0 15,4 3,8 0,0 0,0 3,8 0,0

Baixo Jaguaribe 7,4 22,2 3,7 0,0 40,7 7,4 29,6 7,4 3,7 0,0

Banabuiú 0,0 61,5 23,1 0,0 69,2 3,8 0,0 0,0 0,0 0,0

Metropolitana 24,1 0,0 20,7 0,0 13,8 6,9 0,0 0,0 10,3 0,0

Salgado 10,3 10,3 0,0 3,4 51,7 6,9 0,0 0,0 0,0 3,4

Coreaú 23,3 50,0 3,3 6,7 10,0 10,0 0,0 0,0 3,3 0,0

Curu 13,3 26,7 0,0 0,0 36,7 0,0 0,0 0,0 3,3 0,0

Acaraú 10,5 0,0 31,6 5,3 26,3 36,8 0,0 5,3 0,0 0,0

Parnaíba 0,0 48,0 0,0 4,0 44,0 16,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Médio Jaguaribe 0,0 63,3 6,7 0,0 60,0 20,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Amostra Total 13,0 31,0 8,7 2,0 36,7 9,7 2,7 1,3 2,3 2,0 Fonte: Dados da pesquisa de campo

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4.2.2. Uso da água

O uso adequado da água é uma condição essencial para minimizar os riscos de doença, desperdícios, escassez do recurso e conflitos no interior da comunidade. Como um elemento dinâmico a água se presta a diferentes fins. Como observado na Tabela 29 o principal uso da água nas comunidades é para fins domésticos, embora existam ainda aquelas que destinam a água principalmente para trato de animais.

Tabela 29 - Proporção de comunidades segundo o tipo de uso da água, por bacia hidrográfica do Ceará

Bacia Hidrográfica Tipo de uso da fonte hídrica

Beber e cozinhar Doméstico Trato de

animais Diversos

Alto Jaguaribe 48,0 84,0 44,0 4,0

Litoral 66,7 50,0 50,0 20,8

Baixo Jaguaribe 48,3 37,9 13,8 44,8

Banabuiú 11,8 52,9 11,8 35,3

Metropolitana 23,1 92,3 50,0 11,5

Salgado 21,1 57,9 26,3 36,8

Coreaú 35,7 71,4 42,9 17,9

Curu 33,3 66,7 37,5 12,5

Acaraú 53,6 64,3 21,4 7,1

Parnaíba 12,5 100,0 75,0 0,0

Médio Jaguaribe 0,0 47,6 9,5 52,4

Amostra Total 34,6 65,4 34,2 21,8 Fonte: Dados da pesquisa de campo

O uso da água é dividido na maior parte das comunidades pesquisadas. Essa divisão é decidida por meio de conversas ou em menor proporção a partir de reuniões e pode ocorrer, na maioria das bacias estudadas (60,6%), de acordo com a necessidade do beneficiado (Tabela 30). Em algumas comunidades a água dividida é a da cisterna.

Tabela 30 - Forma de uso da fonte hídrica nas comunidades pesquisadas

Bacia Hidrográfica

Tipo de uso da fonte hídrica

Dividem a água da cisterna

Dividem a água a partir de conversas com os moradores

A divisão é resolvida em

reuniões

A água é dividida de acordo com a necessidade dos

usuários Alto Jaguaribe 34,5 17,2 13,8 27,6

Litoral 20,8 12,5 0,0 62,5

Baixo Jaguaribe 17,6 23,5 0,0 58,8

Banabuiú 0,0 0,0 0,0 100,0

Metropolitana 29,6 3,7 0,0 65,4

Salgado 5,9 11,8 0,0 76,5

Coreaú 11,8 25,0 0,0 58,8

Curu 14,3 9,5 0,0 76,2

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Acaraú 36,4 0,0 0,0 63,6

Parnaíba 0,0 40,0 0,0 60,0

Médio Jaguaribe 0,0 81,8 0,0 18,2

Amostra Total 17,7 17,8 1,8 60,6 Fonte: Dados da pesquisa de campo

4.2.3. As mudanças na forma de coleta de água na comunidade

As comunidades rurais do Ceará convivem com a escassez de água desde a época do Brasil colônia. Já nessa época, segundo relatos, buscou-se a resolução do problema. As intervenções e o “combate à seca” se manifestaram por meio de diferentes instrumentos. No entanto, parece que só nos últimos anos o homem convenceu-se que não se pode combater um fenômeno natural e cíclico como a seca. As intervenções no sentido de melhorar a qualidade de vida nas comunidades por meio de uma oferta de água mais regular e de melhor qualidade se dá atualmente de diferentes formas. Como consta na Tabela 31, a construção de cisternas e de poços são as principais alternativas implantadas considerando o total de bacias. O percentual de comunidades beneficiados pelos tipos projetos analisados é muito baixo em algumas bacias o que demonstra que ainda há muito a ser feito. Enquanto na Bacia do Acaraú 88% das comunidades foram beneficiadas por projetos de implantação de cisternas esse percentual é de apenas 6,3% no alto Jaguaribe. Tabela 31 - Proporção de comunidades segundo o tipo de projeto implantado para a melhoria

da disponibilidade de água, por bacia hidrográfica do Ceará

Bacia Hidrográfica

Projeto Implantado

Ch

afar

iz

Pro

jeto

São

Jo

Co

nst

ruçã

o d

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e

Sis

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a d

e ab

aste

cim

ento

Alto Jaguaribe 18,8 25,0 18,8 6,3 6,3 18,8 6,3 0,0 0,0 6,3

Litoral 27,8 22,2 0,0 22,2 27,8 5,6 0,0 0,0 0,0 11,1

Baixo Jaguaribe 22,2 11,1 44,4 0,0 0,0 11,1 0,0 0,0 0,0 11,1

Banabuiú 10,5 0,0 21,1 0,0 57,9 26,3 0,0 0,0 5,3 5,3

Metropolitana 0,0 0,0 33,3 9,5 71,4 9,5 0,0 0,0 4,8 19,0

Salgado 10,5 0,0 31,6 0,0 42,1 0,0 0,0 0,0 10,5 5,3

Coreaú 5,3 0,0 15,8 0,0 36,8 15,8 5,3 10,5 0,0 42,1

Curu 0,0 0,0 31,8 9,1 72,7 4,5 0,0 4,5 13,6 18,2

Acaraú 0,0 0,0 11,8 0,0 88,2 0,0 5,9 0,0 5,9 5,9

Parnaíba 14,3 0,0 71,4 0,0 42,9 14,3 0,0 0,0 0,0 0,0

Médio Jaguaribe 31,6 0,0 68,4 0,0 47,4 0,0 0,0 0,0 0,0 5,3

Amostra Total 11,8 4,8 29,0 4,8 48,4 9,1 1,6 1,6 4,3 12,9 Fonte: Dados da pesquisa de campo

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Do mesmo modo, se 71,4% das comunidades da bacia de Parnaíba foram beneficiadas pela construção de poços, nenhuma comunidade recebeu tal vantagem na bacia do Litoral. Outros tipos de projetos implantados de forma desigual entre as bacias são, principalmente, a construção de dessalinizadores, o Projeto São José, a construção de barragens e cacimbas. A observação dessa desigualdade pode auxiliar as instituições responsáveis no direcionamento de projetos para aquelas bacias mais carentes de benefícios hídricos. Como apresentado na Tabela 32, as principais instituições responsáveis pela implantação de projetos de natureza hídrica nas comunidades são o governo estadual, a ASA – Articulação do Semiárido (principalmente devido ao Programa 1 Milhão de Cisternas) e as prefeituras. Essa importância, no entanto, pode variar de bacia para bacia. O governo Federal é citado como de maior importância por 52,6% das comunidades da bacia de Banabuiú enquanto o governo estadual é citado por 47,4%. Percebe-se uma fraca atuação da ASA nas bacias de Alto e Baixo Jaguaribe. Em relação ao governo estadual, nas bacias de Acaraú e Médio Jaguaribe a sua atuação é tida como de maior relevância em apenas 18,8% e 15,8% das comunidades, respectivamente.

Tabela 32 - Proporção de comunidades segundo a instituição responsável pela implantação do projeto para a melhoria da disponibilidade de água, por bacia hidrográfica do Ceará

Bacia Hidrográfica Instituição Responsável

Governo Estadual Comunidade

Governo Federal Cáritas Prefeitura

ASA- Articulação do Semiárido

Alto Jaguaribe 78,6 0,0 7,1 7,1 0,0 0,0

Litoral 37,5 12,5 0,0 0,0 37,5 12,5

Baixo Jaguaribe 40,0 0,0 0,0 0,0 20,0 0,0

Banabuiú 47,4 0,0 52,6 0,0 5,3 42,1

Metropolitana 63,2 5,3 36,8 0,0 15,8 26,3

Salgado 52,6 0,0 0,0 0,0 15,8 31,6

Coreaú 44,4 16,7 0,0 11,1 33,3 5,6

Curu 50,0 5,0 0,0 10,0 25,0 50,0

Acaraú 18,8 12,5 12,5 31,3 0,0 25,0

Parnaíba 63,6 0,0 9,1 9,1 18,2 27,3

Médio Jaguaribe 15,8 0,0 10,5 0,0 31,6 57,9

Amostra total 46,0 5,1 13,1 6,3 18,8 28,4 Fonte: Dados da pesquisa de campo

A atuação do governo estadual nos projetos de natureza hídrica se dá, na opinião das comunidades, por meio do Projeto São José, da SOHIDRA e da CAGECE. (Figura 11). No caso do Projeto São José os benefícios para as comunidades surgem por meio dos subprojetos de abastecimento de água.

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Figura 11 - Principais instituições e projetos do governo estadual citados como responsáveis

pelo financiamento de projetos hídricos nas comunidades pesquisadas.

No caso do Governo Federal, Figura 12, o INCRA foi citado por 8,5% das comunidades. O projeto Dom Hélder Câmara foi citado por 2,3%, mais especificamente na bacia por 25% das comunidades localizadas na bacia de Acaraú.

Figura 12 - Principais instituições e projetos do governo federal citados como responsáveis pelo financiamento de projetos hídricos nas comunidades pesquisadas.

As Figuras 13 e 14 mostram o percentual de comunidades que possuem projetos de natureza individual e coletiva, respectivamente, por bacia hidrográfica.

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Figura 13 - Proporção de comunidades que possuem projetos de natureza individual, por bacia

hidrográfica

Figura 14 - Proporção de comunidades que possuem projetos de natureza coletiva, por bacia hidrográfica

Pelos resultados apresentados nota-se que existe um grande número de comunidades em que os projetos advindos de fora da comunidade ainda são escassos ou inexistem. No entanto, já podem ser observadas mudanças nos hábitos dos moradores quanto à coleta de água nos períodos de seca.

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Como se observa na Tabela 33, a principal mudança quanto à coleta de água em períodos de seca refere-se às cisternas. É importante ressaltar que isso ocorreu, no entanto, em algumas bacias e na amostra total. Na bacia de Alto Jaguaribe, como relatado na Tabela 22 as cisternas não têm papel relevante e existem em um número pequeno de comunidades. Uma inconsistência entre as tabelas 31 e 33 pode ser identificada na análise dos resultados referentes à bacia Baixo Jaguaribe. Apesar de não existirem comunidades em que foram implantados projetos de construção de cisternas nota-se um aumento de 3,6% para 50,0% na proporção de comunidades que usam a água das cisternas em períodos de seca. De um modo geral percebe-se um aumento no uso da água das cisternas e do carro-pipa, em menor proporção dos açudes e poços. Houve uma diminuição na proporção de comunidades que utilizam fontes naturais de água como riacho, lagoa, rio, nascentes, o que pode ser o reflexo da escassez dos recursos naturais. O aumento no uso de dessalinizadores, sistema de abastecimento e adutora é quase imperceptível. Tabela 33 - Proporção de comunidades segundo o local de coleta de água no período de seca,

antigamente e hoje, por bacia hidrográfica do Ceará

Bacia Hidrográfica Fonte Antigamente Hoje

Alto Jaguaribe

Cacimbão 34,5 35,0 Açude 65,5 45,0 Poço 3,4 10,0 Barragem 6,9 0

Litoral

Cacimbão 37,9 10,3 Carro pipa 10,3 65,5 Açude 24,1 13,8 Rio 6,9 0,0 Poço 3,4 10,3 Cisterna 0,0 37,9 Fonte/Nascente/Olho d'gua 6,9 0,0 Chafariz 0,0 6,9 Sistema de abastecimento 0 6,9

Baixo Jaguaribe

Riacho 3,6 0 Lagoa 0 7,1 Cacimbão 50,0 14,3 Carro pipa 3,6 75,0 Açude 25,0 17,9 Rio 21,4 0,0 Poço 10,7 0,0 Cisterna 3,6 50,0 chafariz 0,0 7,1 Tanque 7,1 3,3 Adutora 0,0 7,1 Dessalinizador 0,0 3,6 Sistema de abastecimento 0,0 3,6

Banabuiú

Cacimbão 65,4 11,1 Carro pipa 3,8 22,2 Açude 15,4 70,4 Rio 19,2 0,0 Poço 0 7,4 Cisterna 0 59,3 Comunidades próximas 3,8 0,0 Fonte/Nascente/olhod'gua 0 11,1 Barragem 3,8 0,0 Chafariz 0 3,7 Adutora 0 3,7

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Bacia Hidrográfica Fonte Antigamente Hoje

Sistema de abastecimento 0 11,1

Metropolitana

Riacho 3,6 0 Lagoa 10,7 0,0 Cacimbão 28,6 21,4 Carro pipa 0 53,6 Açude 10,7 17,9 Rio 14,3 0,0 Poço 3,6 25,0 Cisterna 0,0 17,9 Comunidades próximas 0,0 7,1

Fonte/Nascente/Olho d'água 0,0 0,0

Barragem 0,0 0,0

Chafariz 0,0 0,0 Tanque 0,0 6,7 Dessalinizador 0,0 10,7

Salgado

Cacimbão 10,3 24,1 Carro pipa 0,0 13,8 Açude 6,9 0,0 Poço 0,0 6,9 Cisterna 0,0 13,8 Comunidades próximas 0,0 27,6 fonte/Nascente/olho d'água 34,5 20,7 Barragem 3,4 0,0

Coreaú

Riacho 0,0 0,0 Lagoa 0,0 0,0 Cacimbão 51,7 16,7 Carro pipa 3,4 36,7 Açude 0,0 0,0 Rio 0,0 0,0 Poço 3,4 6,7 Cisterna 0,0 0,0 Comunidades próximas 10,3 3,3 Fonte/Nascente/Olho d'água 44,8 13,3 Barragem 3,4 0,0 Chafariz 0,0 13,3 Tanque 3,4 0,0

Sede do município 0,0 30,0

Sistema de abastecimento 0,0 6,7

Curu

Cacimbão 23,3 0,0 Carro pipa 0,0 30,0 Açude 30,0 26,7 Cisterna 0,0 26,7 Comunidades próximas 6,7 0,0

Acaraú

Riacho 12,5 0,0 Cacimbão 66,7 56,5 Carro pipa 4,2 30,4 Açude 4,2 13,0 Rio 25,0 0,0 Poço 4,2 26,1 Cisterna 0,0 65,2 Comunidades próximas 8,3 0,0 Tanque 4,2 0,0 Adutora 0,0 8,7 Sistema de abastecimento 0,0 4,3

Parnaíba

Cacimbão 56,0 72,0 Carro pipa 0,0 12,0 Açude 4,0 48,0 Rio 32,0 0,0 Poço 0,0 4,0 Cisterna 0,0 32,0

Médio Jaguaribe Riacho 3,4 0,0 Cacimbão 51,7 10,0 Carro pipa 0,0 23,3

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Bacia Hidrográfica Fonte Antigamente Hoje

Açude 48,3 56,7 Rio 13,8 0,00 Cisterna 0,0 63,3 Tanque 0,0 6,7 Adutora 0,0 6,7 Sistema de abastecimento 0,0 13,3

Amostra Total

Riacho 2,0 0,00 Lagoa 1,0 0,7 Cacimbão 42,5 23,1 Carro pipa 2,3 34,1 Açude 21,9 27,4 Rio 11,4 0,0 Poço 2,6 8,4 Cisterna 0,3 33,4 Comunidades próximas 2,6 3,7 Fonte/Nascente/Olho d'água 8,2 4,3 Barragem 1,6 0,0 Chafariz 0,0 3,0 Tanque 1,3 1,5 Sede do Município 0,0 2,8 Adutora 0,0 2,3 Sistema de abastecimento 0,0 4,3 Canal 0,0 0,3 Dessalinizador 0,0 1,3

Fonte: Dados da pesquisa de campo

4.2.4. Fatores que comprometem a disponibilidade de água para as famílias da comunidade

A disponibilidade de água na quantidade e qualidade desejada em todos os meses do ano é o anseio de toda a população residente no semiárido. As comunidades pesquisadas apontam diferentes motivos para que isso não seja possível. Na amostra total, a insuficiência de recursos hídricos na comunidade é apontada como o principal motivo da irregularidade da oferta de água por 35,7% das comunidades. Esse problema também foi detectado pela maioria das comunidades localizadas nas bacias de Alto Jaguaribe e Salgado. Em Acaraú os fatores de vulnerabilidade mais citados foram a desorganização da comunidade e a economia. Nas bacias de Banabuiú e Coreaú o problema é atribuído às comunidades difusas. De acordo com os resultados observados ressalta-se mais uma vez que as bacias hidrográficas apresentam especificidades que demandam intervenções locais.

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Tabela 34 - Proporção de comunidades segundo os principais fatores que afetam a disponibilidade de água, por bacia hidrográfica do Ceará

Bacia Hidrográfica

Fatores que afetam a disponibilidade de água

Des

org

aniz

ação

d

a co

mu

nid

ade

Co

mu

nid

ade

dif

usa

Dis

tân

cia

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fon

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Do

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Des

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ress

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ta d

e in

vest

imen

to

Alto Jaguaribe 0,0 0,0 0,0 3,6 0,0 85,7 0,0 3,6 0,0 7,1

Litoral 10,7 0,0 14,3 3,6 7,1 39,3 3,6 25,0 0,0 0,0

Baixo Jaguaribe 24,0 4,0 0,0 0,0 8,0 36,0 0,0 8,0 4,0 12,0

Banabuiú 12,5 0,0 33,3 0,0 0,0 8,3 0,0 25,0 0,0 16,7

Metropolitana 4,0 0,0 0,0 4,0 0,0 40,0 0,0 12,0 0,0 0,0

Salgado 0,0 0 3,6 17,9 0,0 71,4 0,0 3,6 0,0 0,0

Coreaú 0,0 0,0 62,1 3,4 17,2 3,4 20,7 0,0 0,0 3,4

Curu 0,0 0,0 27,6 27,6 0,0 31,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Acaraú 53,8 0,0 0,0 7,7 0,0 0,0 0,0 46,2 0,0 7,7

Parnaíba 13,0 0,0 0,0 8,7 21,7 13,0 0,0 0,0 8,7 0,0

Médio Jaguaribe 8,0 8,0 0,0 0,0 36,0 40,0 0,0 4,0 0,0 4,0

Amostra total 9,0 1,1 14,1 7,2 8,3 35,7 2,5 9,7 1,1 4,3

4.2.5. O uso da água do carro pipa

Apesar das mudanças demonstradas a população das comunidades ainda se encontra vulnerável à disponibilidade de água. Mesmo com a construção de cisternas, durante períodos mais longos de estiagem ocorre falta d’água já que as cisternas não acumulam água suficiente devido à ausência de calhas na maioria dos telhados. Sem muitos recursos alternativos para evitar a escassez de água as comunidades recorrem aos carros pipa. A água do carro pipa não é garantia de uma água potável. Além disso, o reservatório onde essa água será armazenada pode conter impurezas que contaminam ou alteram o sabor da água. Embora a maioria das comunidades afirmem que armazenam a água do carro pipa em cisternas (63,3) em muitas delas esse armazenamento é feito em pequenos depósitos, 33,7%.11(Tabela 35). Dentre os principais motivos para o uso recorrente de carros pipa, Tabela 36, as comunidades destacam, com maior freqüência, a ausência de sistema de abastecimento e de reservatórios para armazenar água, a própria escassez de recursos hídricos em alguns meses do ano e a qualidade da água.

11 Na análise dessa variável foi observada outra inconsistência do banco de dados. Nas tabelas anteriores a bacia de Alto Jaguaribe apareceu com um percentual baixo de comunidades com cisternas. Nessa variável (local onde armazena a água do carro pipa), as respostas dadas apontam que em 96% das bacias a água é armazenada em cisternas. Diante disso sugiro não considerar essa variável.

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Assim, a substituição dos carros pipa pode se dá de forma diferente em cada bacia, mas deve priorizar a construção de reservatórios maiores ou introdução de um sistema de abastecimento que garanta água na quantidade e qualidade desejada pela população.

Tabela 35 - Proporção de comunidades segundo o meio utilizado para armazenar a água coletada do carro pipa, por bacia hidrográfica. Ceará

Bacias hidrográficas

Meio utilizado para armazenar a água coletada do carro pipa

Peq

uen

os

dep

ósi

tos

Açu

de

Tam

bo

res

Cis

tern

as

Cai

xa

d’á

gu

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Tan

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e

An

éis

Cac

imb

a/c

acim

es

Sis

tem

a d

om

icili

ar

Bar

reir

os

Alto Jaguaribe 34,5 17,2 37,9 96,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 20,7

Litoral 42,9 0,0 46,4 85,7 0,0 42,9 0,0 3,6 0,0 0,0

Baixo Jaguaribe 51,9 0,0 59,3 70,4 25,9 7,4 3,7 0,0 0,0 0,0

Banabuiú 38,5 7,7 42,3 80,8 23,1 30,8 0,0 0,0 0,0 0,0

Metropolitana 13,8 0,0 27,6 24,1 0,0 27,6 0,0 3,4 0,0 0,0

Salgado 34,5 20,7 37,9 62,1 13,8 10,3 0,0 6,9 0,0 0,0

Coreaú 6,7 0,0 26,7 50,0 23,3 16,7 0,0 10,0 0,0 0,0

Curu 30,0 0,0 36,7 10,0 0,0 20,0 0,0 13,3 0,0 0,0

Acaraú 71,4 0,0 66,7 76,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Parnaíba 39,1 13,0 39,1 91,3 17,4 0,0 0,0 4,3 0,0 0,0

Médio Jaguaribe 21,4 0,0 53,6 64,3 7,1 0,0 0,0 0,0 7,1 0,0

Amostra Total 33,7 5,3 42,3 63,3 10,0 14,7 0,3 4,0 0,7 2,0 Fonte: Dados da pesquisa de campo

Tabela 36 - Proporção de comunidades segundo os principais motivos que levam ao consumo

de água do carro pipa, por bacia hidrográfica. Ceará

Bacias hidrográficas

Motivos que levam ao consumo de água de carro pipa

Au

sên

cia

de

rese

rvat

óri

os

par

a ar

maz

enar

ág

ua/

si

stem

a d

e ab

aste

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Bai

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e ág

ua

par

a co

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e d

e ág

ua

insu

fici

ente

par

a ab

aste

cer

a co

mu

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ade

du

ran

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an

o in

teir

o

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olít

icas

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rutu

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adas

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caliz

ação

da

com

un

idad

e d

ific

ult

a o

ar

maz

enam

ento

de

águ

a

Alto Jaguaribe 29,6 37,0 14,8 0,0 0,0 0,0 33,3

Litoral 35,7 10,7 10,7 28,6 10,7 0,0 0,0

Baixo Jaguaribe 42,9 14,3 7,1 25,0 3,6 7,1 0,0

Banabuiú 23,1 15,4 38,5 3,8 15,4 0,0 3,8

Metropolitana 10,3 6,9 3,4 37,9 0,0 0,0 0,0

Salgado 10,3 0,0 0,0 13,8 0,0 6,9 44,8

Coreaú 0,0 86,7 0,0 86,7 0,0 0,0 0,0

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Curu 10,0 10,0 3,3 16,7 3,3 0,0 20,0

Acaraú 80,0 0,0 0,0 0,0 15,0 5,0 0,0

Parnaíba 62,5 4,2 12,5 0,0 4,2 16,7 0,0

Médio Jaguaribe 53,3 23,3 23,3 6,7 0,0 0,0 0,0

Amostra Total 30,6 19,9 10,3 21,3 4,3 3,0 9,6 Fonte: Dados da pesquisa de campo

4.3. A qualidade da água nas comunidades Como observado na Figura 15, a qualidade da água nas comunidades só é considerada boa por 42,7% das comunidades na amostra total. Na bacia Metropolitana percebe-se um maior percentual de comunidades insatisfeitas, seguida das bacias de Curu e Parnaíba.

Figura 15 - Proporção de comunidades segundo a satisfação com a qualidade da água na comunidade, por bacia hidrográfica

O menor percentual de comunidades insatisfeitas com a qualidade da água ocorre na Bacia de Banabuiú.

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4.4. Alternativas propostas pelas comunidades Finalizando a análise estatística dos dados referentes à ficha social preenchida nas comunidades segue na Tabela 37 as alternativas propostas pela população para minimizar os problemas decorrentes da escassez de água. Tabela 37 - Proporção de comunidades segundo as alternativas propostas para resolução dos

problemas hídricos, por bacia hidrográfica

Bacia Hidrográfica Alternativas Propostas Percentual de Comunidades

Alto Jaguaribe

Barragem subterrânea + poço raso + cisterna 26,7 Expansão da adutora + cisternas 3,3

Instalação de poço existente da comunidade + cisternas 33,2

Poço tubular profundo e cisternas 30,0

Sistema de abastecimento a partir de açude da comunidade + cisternas 6,7

Litoral

Açude + cisternas 36,5

Adutora com fonte de captação no açude Cemoaba + cisternas 3,3

Ampliação da rede de abastecimento da comunidade de são José + cisternas 3,3

Ampliação do sistema de abastecimento existente e trabalho de sensibilização quanto a gestão, existem 2 associações com freqüentes

conflitos + cisternas 3,3

Cisterna de placa 16,6

Construção de cacimbão e alteração da fonte de captação do sistema de abastecimento existente + cisternas 3,3

Perfuração de poço profundo + cisterna 3,3

Recuperação do açude da comunidade + cisternas 3,3

Sistema de abastecimento a partir de açude existente + cisterna 23,3

Sondagens para a perfuração de poços rasos 3,3

Baixo Jaguaribe

Adutora a partir do sistema de abastecimento da comunidade de Teodosio 3,3

Ampliação da adutora da comunidade lagoa do cercado + cisternas 13,4

Construção de adutora 3,3 Construção de adutora + cisternas 6,7

Finalização do sistema de abastecimento a partir do canal do trabalhador, falta o sistema de distribuição + cisternas

10,0

Gestão do sistema existente pelo sisar + cisternas 3,3

Ligação domiciliar a partir do chafariz existente 3,3 Perfuração de poço profundo + cisternas 3,3

Perfuração de poço profundo + dessalinizador + cisternas 3,3

Ramificação da adutora (limoeiro - bixopá) ou sistema de abastecimento a partir do canal da integração

16,6

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Bacia Hidrográfica Alternativas Propostas Percentual de Comunidades

Sistema de abastecimento a partir da comunidade de Carnaúbas + cisternas 13,2

Sistema de abastecimento a partir da ampliação da adutora existente em Lagoa Cercada 9,9

Sistema de abastecimento a partir de poço existente 3,3

Sondagens para perfuração de poços rasos + cisternas 6,6

Banabuiú

Adutora + cisternas 19,8

Cisterna de placa 16,7

Complementação das cisternas necessárias e instalação de um dessalinizador

10,0

Conclusão do sistema de abastecimento + cisternas de placas 6,6

Perfuração de poço profundo + cisternas 6,6

Restauração do poço profundo e recuperação do dessalinizador + cisternas 3,3

Sistema abastecimento a partir de caixa d’água na comunidade de Galiza (a concluir) + cisternas 6,7

Sistema de abastecimento a partir do açude flores + cisternas 9,9

Sistema de abastecimento a partir de adutora + cisternas 6,7

Sistema de abastecimento a partir de poço existente + cisternas 3,3

Sistema de abastecimento a partir de olho d’água + cisternas 3,3

Sistema de abastecimento a partir do açude tabuleiro + cisternas 3,3

Sondagens para a perfuração de poços rasos + cisternas 3,3

Metropolitana

Cisterna de placa 20,0 Construção de cacimbões + cisternas 3,3

Dimensionamento do sistema + cisternas 3,3 Expansão da rede da Cagece da sede + cisternas 6,7

Expansão do sistema de abastecimento da comunidade + cisternas 3,3

Instalação de dessalinizador ou expansão do sistema de abastecimento da Cagece sede + cisternas

13,3

Perfuração de poço e instalação de dessalinizador ou expansão do sistema de abastecimento da Cagece sede + cisternas

20,0

Sistema de abastecimento + cisternas 26,7

Salgado

Ampliação do açude saco triste + cisternas 6,6

Ampliação do sistema do SAAE da sede municipal + cisternas 39,9

Barragem subterrânea + poço raso + cisternas 26,7

Construção de adutora a partir de poço aluvionar a ser perfurado no vale de Cuncas + cisternas

3,3

Poços rasos + cisternas 3,3

Sistema de abastecimento com ligação domiciliar + cisternas 20,0

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Bacia Hidrográfica Alternativas Propostas Percentual de Comunidades

Coreaú

Adutora 6,7 Adutora + cisternas 10,0

Adutora ou Dessalinizador + cisternas 6,7

Ligação domiciliar do poço existente + cisternas 3,3

Olho d'água + cisternas 3,3

Perfuração de novo poço + construção de cisternas de placas 16,5

Sistema de abastecimento + cisternas 54,3

Curu

Adutora a partir de açude + cisternas 33,3

Ampliação do sistema de abastecimento 19 de abril + cisternas 3,3

Conserto da parede do açude da comunidade 3,3

Conserto do dessalinizador existente + ligação dessalinizador 3,3

Instalação de poço profundo da comunidade de boa vista + cisternas 10,0

Ligação domiciliar do sistema de abastecimento existente 6,7

Perfuração de poço profundo + cisternas 23,3

Sistema de abastecimento a partir de açude da comunidade 16,5

Acaraú

Ampliação do cacimbão e sondagens nos riachos do peixe e carnaúba + cisternas 6,7

Construção de cisterna de placas 6,7

Conclusão do sistema de abastecimento + cisternas 32,2

Construção de adutora a partir do açude + cisternas 23,3

Poços + cisternas 30,1

Parnaíba

Ativação dos poços profundos existentes 8,0

Barragem subterrânea + poços rasos + cisternas 40,0

Conscientização quanto ao uso correto das cisternas 4,0

Construção de cisternas de placas 32,0

Construção de cisternas de placas + sistema de abastecimento a partir do cacimbão existente

4,0

Construção de cisternas de placas construção de cacimbões ou poços aluvionais

4,0

Construção de cisternas de placas e perfuração de poço profundo 4,0

Sistema de abastecimento a partir do cacimbão existente 4,0

Médio Jaguaribe

Abaixar parede do açude para evitar a inundação do cacimbão + cisternas 3,3

Adutora a partir do açude Castanhão 3,3

Adutora a partir do açude Castanhão + cisternas 30,0

Conclusão do sistema de abastecimento + cisternas 6,7

Construção de cisternas de placas e mudança da fonte de captação do sistema para o açude da comunidade

6,7

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Bacia Hidrográfica Alternativas Propostas Percentual de Comunidades

Construção de cisternas e sistema de abastecimento 46,7

Sondagens para construção de poços rasos e cisternas 3,3

Fonte: Dados da pesquisa de campo

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5. DIAGNÓSTICO TÉCNICO – PARTICIPATIVO

As consolidação do “olhar participativo” sobre a realidade na qual os moradores das regiões – alvo do estudo – se inserem, foi desenvolvida tendo como base os resultados das oficinas de trabalho nas comunidades visitadas e permitiu identificar as principais soluções discutidas/definidas como prioritárias para o desenvolvimento das regiões estudadas. As oficinas foram precedidas de visitas técnicas para verificação e avaliação in loco das condições de infraestrutura hídrica existente, entrevistas com gestores e instituições públicas e atores sociais. Parte das informações quantitativas e das que foram obtidas pela aplicação dos questionários estão explicitadas na análise estatística. As informações cujo volume de dados não oferecia consistência numérica foram checadas e estão a seguir detalhadas. Nas oficinas buscou-se, sempre, estimular as comunidades a olhar de forma coletiva e para os interesses coletivos, incorporando a sabedoria e o conhecimento popular na formulação das respostas e abrindo espaços para as discussões, debates e construção de alternativas que considerem os recortes territoriais, criando uma base mais sólida para o estabelecimento de propostas concretas. O processo de realização de oficinas contou com a presença de um número expressivo de representantes das comunidades nas, cerca de 4.600 pessoas, e os técnicos tiveram o cuidado de não interferir nas alternativas hídricas de abastecimento sugeridas pela comunidade. Algumas propostas e sugestões das comunidades têm algumas limitações, do ponto de vista de viabilidade técnica, mas representa os anseios das comunidades visitadas que pensam em garantir as condições de reprodução de vida e as formas de trabalho dos moradores dessas regiões e suas famílias. Portanto, as oficinas de trabalho realizadas para o estudo devem ser vistas como um instrumento importante para fortalecer a coesão da comunidade para melhorar a qualidade das decisões e viabilizar o alcance dos objetivos propostos, oportuniza, também, uma análise mais territorial por parte da comunidade que, utilizando-se do mapa construído, de forma participativa, é capaz de avaliar as possibilidades existentes.

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5.1. Avaliação Técnica Aspectos socioeconômicos A comunidades trabalhadas são, em geral, formadas por antigos moradores de grandes fazendas ou herdeiros (221 no total). Importante observar que os dados coletados demonstraram que os assentamentos, apesar dos esforços de garantir assistência técnica por parte do poder público e de organizações não governamentais e de terem acesso aos programas de crédito (PRONAF A) para implantação de infraestrutura nas terras adquiridas, ainda demandam abastecimento de água com carros pipa, sendo observada essa problemática nos municípios de Caridade, Potiretama e Viçosa do Ceará.

Figura 16 - Propriedade da Terra

A distância média dessas comunidades até as sedes dos municípios varia bastante não existindo uma relação direta com o abastecimento por carros-pipa. No conjunto das comunidades pesquisadas, diagnosticou-se que a escassez de água vai desde a escassez quantitativa, onde os riachos e córregos que cortam ou ficam próximos dessas comunidades secam durante 6 - 8 meses por ano até a escassez qualitativa, como encontrada, por exemplo, nas comunidades de Escondido (Umirim), Oliveiras (Tamboril), Açude dos Vieiras (Jaguaribe), Ematuba (Independência), São Gonçalo II (Bela Cruz) e em Aroeiras e Lagoa da Cruz I e II (Aracati) onde a água dos açudes e riachos próximos estão contaminados por animais, lavagem de roupas, agrotóxicos ou por ter um alto teor de sais, não oferecendo condições para o consumo humano e produção. Esses aspectos são extremamente importantes para compreender que a necessidade familiar de água não se restringe somente ao abastecimento doméstico – esse é o mais vital – mas, igualmente é fundamental dispor de água para a produção, pois sem isso estaremos apenas atenuando a escassez.

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Quando questionados sobre os problemas ambientais que afetam diretamente a disponibilidade de água na comunidade as pessoas afirmam que a criação de animais (gado e porcos) e os plantios existentes nas margens dos rios e riachos das comunidades trouxeram como conseqüências: o desmatamento das matas ciliares; o assoreamento dos açudes; a erosão e a poluição dos mananciais. Chamam atenção no estudo as formas de socialização da água encontrada em todas as áreas rurais, pois em praticamente 100% das comunidades visitadas a água para o consumo humano é partilhada por várias famílias, havendo comunidades onde 40 casas são abastecidas por apenas duas cisternas. Em relação aos problemas e anseios das comunidades foram citados: o preço abusivo cobrado pelos carros pipa que varia de R$ 50,00 – R$ 100,00; pouca quantidade e a qualidade (salobra e poluída) das águas disponíveis para o consumo humano; recursos financeiros liberados de forma parcelada (ou muitas vezes nem liberados) que não permitem a conclusão dos projetos; os equipamentos instalados não são mantidos pelos órgãos competentes e a comunidade não tem conhecimento suficiente e nem recursos financeiros para realizar revisões periódicas; o chafariz fica muito distante das casas; os interesses políticos partidários se sobrepõem às necessidades da população e dificuldades em prestar contas de projetos implantados deixando as associações em situação de inadimplência. Além disso, foi apontada a pouca participação dos sócios nas reuniões das associações e o não pagamento das mensalidades e a descrença no movimento associativo. As fontes de renda das populações que residem nessas comunidades difusas são: agricultura de subsistência, criação de pequenos rebanhos, aposentadoria, bolsa família e pequenos comércios locais. Para melhor entendimento da dinâmica social e econômica dos municípios destacamos abaixo os indicadores de qualidade de vida medidos através dos seguintes índices: IDH - Índice de Desenvolvimento Humano, calculado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); o IDM - Índice de Desenvolvimento Municipal e o Índice de Desenvolvimento Social de Resultado (IDS- R), calculados pelo IPECE.

Tabela 38 - Índice de Desenvolvimento Municipal (IDM), o IDM - Índice de Desenvolvimento Municipal e o Índice de Desenvolvimento Social de Resultado (IDS- R)

Bacia hidrográfica

Índices

Município IDM

(2006) IDS-R (2006)

IDH (2000)

Baixo Jaguaribe

Aracati 47,96 0,502 0,672

Palhano 30,4 0,2901 0,649

Limoeiro do Norte 40,98 0,5311 0,711

Médio Jaguaribe

Potiretama 18,49 0,3276 0,617

Jaguaretama 25,67 0,4677 0,645

Jaguaribe 26,06 0,4844 0,672

Alto Jaguaribe Aiuaba 6,87 0,4246 0,566

Araripe 16,03 0,3793 0,584

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Bacia hidrográfica

Índices

Município IDM

(2006) IDS-R (2006)

IDH (2000)

Tauá 30,65 0,4662 0,665

Salgado

Barro 27,63 0,4324 0,658

Icó 21,71 0,4824 0,607

Jardim 16,64 0,4977 0,642

Parnaíba

Independência 22,79 0,4119 0,657

Quiterianópolis 15,95 0,402 0,625

Tamboril 16,92 0,3031 0,62

Banabuiú

Banabuiú 22,7 0,4379 0,629

Itatira 40,69 0,639 0,5275

Mombaça 19,84 0,4435 0,604

Coreaú

Viçosa do Ceará 20,8 0,4073 0,593

Bela Cruz 23,93 0,4533 0,595

Uruoca 23,36 0,3988 0,587

Acaraú

Catunda 28,05 0,4417 0,628

Forquilha 36,83 0,5303 0,643

Santa Quitéria 28,33 0,4747 0,642

Litoral

Irauçuba 22,68 0,4447 0,618

Itapipoca 34,33 0,4574 0,659

Amontada 24,88 0,483 0,616

Curu

Canindé 30,72 0,5469 0,634

Caridade 17,83 0,3487 0,618

Umirim 22,75 0,4586 0,578

Metropolitana

Barreira 29,44 0,4691 0,619

Ocara 21,25 0,3957 0,594

São Gonçalo 40,69 0,.639 0,5275 Fonte: www.ipece.ce.gov.br

O processo organizativo da quase totalidade das comunidades trabalhadas iniciou-se na década de 80, como forma de auto-organização das comunidades e de diversos segmentos de produtores (associações de moradores, de pescadores, de pequenos agricultores, de assentados) seja para a defesa dos seus interesses e direitos, seja para ter acesso aos recursos dos programas governamentais de combate a pobreza rural, através do Programa de Apoio ao Pequeno Produtor Rural – PAPP e do Programa de Combate à Pobreza Rural – PCPR, que no Ceará recebe o nome de Projeto São José. Segundo dados oficiais, o Projeto São José (no período 2002 – 2009) implantou 449 projetos de abastecimento de água nas comunidades dos municípios estudados. Desses, 35 nas comunidades visitadas, segundo informações dos moradores. A integração no âmbito do “Pacto das Águas” e “Plano de Ações para a Convivência com a Seca”, com órgãos dos governos Estadual (SOHIDRA) e Federal (MDS e FUNASA) contribui para a efetivação de mais ações para solucionar a questão do acesso à água das populações, gerando impactos bem maiores.

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Foram identificadas 221 associações comunitárias na área de estudo, a grande maioria formada na década de 80 e 90, em geral fruto de reassentamentos, No entanto, quando analisamos a estrutura dessas organizações verificamos que, grande parte delas não mantém qualquer registro, além do livro de ata com relato da criação da associação e eleição dos membros da primeira diretoria e definição do projeto a ser financiado (motivo da criação da associação). Essas associações, em grande parte, demonstraram nas reuniões sérias dificuldades em se manter funcionando depois de alguns anos, principalmente, quando os recursos financeiros dos projetos encaminhados não foram liberados, criando desconfiança entre os sócios e desinteresse da maioria em participar de outras atividades propostas pelas diretorias. Fora isso, as associações relataram ter apoio externo de organismos não governamentais, dos agentes de saúde no monitoramento das águas das cisternas e de políticos, principalmente vereadores locais. A situação das entidades junto aos órgãos das esferas estadual e federal é de regularidade quando são apoiadas pelos sindicatos dos trabalhadores rurais e prefeituras. As associações comunitárias têm dificuldade para estabelecer uma administração comunitária eficiente e independente, devido a uma série de fatores: deficiência de instrução dos operadores, pouco conhecimento sobre contabilidade, administração e vendas de produtos realizados de forma ineficaz e financiamento a fundo perdido sem controle da diretoria. Somado a isso verificou-se que a falta de informação e conscientização sobre os projetos contribui para gerar falsas expectativas e inibir que os beneficiários não se identifiquem e se comprometam na sua manutenção. Infraestrutura Hídrica Encontrada nas Comunidades Dentre as infraestruturas hídricas diagnosticadas nas 325 comunidades dos 33 municípios pesquisados, as principais encontradas foram: açudes/lagoas, poços profundos, poços nos aluviões (rasos), cacimbões, canais, cisternas e sistemas de abastecimento (chafarizes e ligações domiciliares). Açudes/Lagoas - Foram preenchidas fichas de campo referentes a 211 corpos d’água (açudes e lagoas). Destes, 95 são de propriedade particular, 112 são de domínio público e 04 sem informação. Quanto ao uso, observou-se que 102 corpos hídricos são utilizados para o consumo humano e secundário, os 109 restantes para o uso doméstico, animal e irrigação. Com relação à condutividade elétrica da água dos corpos hídricos verificou-se que 165 possuem valores de até 500µS/cm, indicando que a água armazenada nesses corpos hídricos é adequada para o consumo humano. Em relação à regularidade, verificou-se a existência de 164 corpos d’água com regime anual e 47 plurianual.

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É importante salientar que no ano de 2009, o período chuvoso foi acima da média histórica para todo o Estado do Ceará, conseqüentemente, os reservatórios encontravam-se na data da coleta com boa reserva hídrica. As principais restrições encontradas nesses corpos hídricos para o uso humano foram: poluição causada pelo acesso livre de animais, lavagens de roupas em locais inadequados, lavagens de veículos e exploração agrícola com uso indiscriminado de agrotóxicos, causando processo de eutrofização, deixando a água imprópria para o consumo humano. Poços e Cacimbões - De acordo com os dados levantados em campo foram identificados 307 poços profundos, poços rasos e cacimbões nas comunidades visitadas. Com relação aos poços profundos, as maiores limitações encontradas foram os altos valores de condutividade, variando entre 3.000 a 14.000 µS/cm. Em contrapartida, os valores de condutividade encontrados nos cacimbões e poços rasos apresentaram valores dentro dos padrões máximos permitidos (MS Portaria no. 518/2004), mas apresentam, em alguns casos, grandes variações de vazão nos períodos sazonais. Apesar dessas limitações, os poços profundos têm sido amplamente utilizados como excelente alternativa hídrica para suprir a demanda das comunidades difusas, não só para o consumo humano, mas também para o uso doméstico, animal e pequenas irrigações, sendo a principal fonte de captação da maior parte dos projetos de abastecimento (chafarizes e ligações domiciliares). Sistemas de Abastecimentos - Foram identificados 104 sistemas de abastecimento entre chafarizes e ligações domiciliares, sendo 66 sistemas através de chafarizes (52 em funcionamento e 14 desativados) e 32 sistemas com ligações domiciliares (25 em funcionamento e 07 parados). Importante salientar que 06 sistemas são utilizados por mais de uma comunidade. Foi observado que o principal problema na utilização desses sistemas de abastecimento são os altos valores de condutividade elétrica, fazendo-se necessário o uso combinado com cisternas de placas e/ou dessalinizadores. Com relação aos chafarizes, a grande distância dos pontos de captação para as residências foi o fator limitante mais citado pela comunidade. Eixão, Canal do Trabalhador e Canal do Tabuleiro de Russas - A Secretaria de Recursos Hídricos - SRH já vem realizando uma série de estudos para viabilizar a oferta de água para pequenas comunidades ao longo do Eixão. Destacamos aqui, a pesquisa sobre as alternativas viáveis de abastecimento de água para as populações que residem até 5km do Eixão e o trabalho que vem sendo realizado pela SOHIDRA, implantando adutoras que utilizam a água disponível no Canal do Trabalhador. Dessalinizadores - Foi constatado na área de estudo a presença de 11 dessalinizadores, 07 em funcionamento e 04 quebrados, com valores de investimento que variaram de R$ 30.000,00 – 80.000,00. A manutenção é feita em alguns casos pela Prefeitura e outros pela comunidade, bem como o pagamento da energia.

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Atualmente, a SOHIDRA mantém uma equipe permanente de manutenção desses sistemas, evitando roubos e paralisações por longos períodos, pois grande parte das comunidades depende desses sistemas implantados. Quanto à disponibilidade d’água nessas comunidades, foi diagnosticado que, muitas famílias se abastecem em pequenos açudes, barreiros ou outras fontes hídricas extremamente vulneráveis, que secam rapidamente no verão e, mesmo durante o período chuvoso apresentam sérios problemas em relação à qualidade. Uma preocupação da SOHIDRA e detectada durante as visitas de campo é o desaparecimento dos aparelhos instalados nas comunidades (todo ou peças de suas engrenagens) que são levados para conserto, sem nenhum controle da comunidade. Os poucos dessalinizadores com fichas, instalados pelo Projeto Água Doce, ainda são mantidos em algumas comunidades, porém o preço cobrado pela ficha (R$ 0,25 a R$ 0,50 centavos por cerca de 20L de água) não cobre os custos de manutenção e pagamento da pessoa responsável pelo funcionamento do aparelho, ficando, novamente a comunidade a mercê dos órgãos públicos. Cisternas - Foram identificadas 4178 cisternas no total e cadastradas 639, sendo a maior parte de placas, construídas através de ONGs e Órgãos Estaduais. Este tipo de obra é amplamente aceito na comunidade, devido aos seguintes aspectos: boa qualidade da água, baixo custo de construção e manutenção. Analisando a abrangência de cisternas nas comunidades estudadas e sistematizadas por bacia, percebe-se que a porcentagem de famílias atendidas varia entre 13,04% e 71,94%. A cobertura de famílias beneficiadas por comunidade portanto não é universal, resultando na utilização compartilhada por várias famílias e, conseqüentemente o esvaziamento antes da quadra chuvosa.

Figura 17 - Percentual de Famílias Atendidas

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Em relação à qualidade da água das cisternas vale ressaltar que os principais problemas detectados e que comprometem os objetivos do projeto de construção de cisternas de placas podendo, inclusive ser agente de algumas doenças são: uso de baldes, panelas e outros utensílios na retirada da água; não limpeza das calhas das casas que comprometem a qualidade de água captada; uso das águas das primeiras chuvas que pode conter fezes de pequenos animais (principalmente ratos e morcegos), poeira, folhas secas, entre outras sujeiras; a não vedação das cisternas devido à quebra das tampas, falta da tela na calha e no ladrão ou mesmo descuido da família, expondo a água aos raios solares (que cria uma capa de lodo), entrada de pequenos animais, ou mesmo, colocação de papéis, brinquedos etc. por crianças; animais (jumentos) presos próximos as cisternas que pode comprometer a qualidade da água e/ou a estrutura da cisterna e a não lavagem da cisterna, pelo menos uma vez por ano. Porém, alguns pontos merecem destaque e demandam um estudo mais aprofundado: vazamento das cisternas devido a falhas na construção e uso da água das cisternas para fins diversos inviabilizando o uso para uma família durante o período seco. As famílias pesquisadas que possuem cisternas afirmam utilizar regularmente hipoclorito de sódio, distribuído pelos agentes de saúde municipais. Em relação ao tratamento da água dentro de casa todos afirmam realizar o tratamento de fervura e filtragem, sendo o armazenamento feito em potes, filtros, tambores e baldes. Outra questão observada foi a má qualidade no aspecto de bombeamento manual da água: as bombas instaladas no momento da construção quebram com facilidade, fazendo com que a retirada de água, em muitos casos, seja realizada através de baldes ou latas, facilitando a contaminação. Síntese da Infraestrutura Hídrica Encontrada por Bacia

Tabela 39 - Total de infraestrutura hídrica encontrada nas localidades visitadas

Bacia Hidrográfica

Sistema de Abastecimento

Observações

% d

e fa

míli

as

com

cis

tern

as

Açu

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ado

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s

Acaraú 69,36 Sim 8 5 em funcionamento e 3 desativados

Alto Jaguaribe 30,34 Sim 5 3 em funcionamento e 2 desativados

Baixo Jaguaribe 55,22 Sim 5 3 3 adutoras 7 em funcionamento e 2 não utilizados

Banabuiú 31,56 Sim 9 2 adutoras 9 em funcionamento e 2 desativados

Coreaú 13,04 Sim 12 12 em funcionamento e 2 desativados

Curu 71,94 Sim 2 4 1 cacimbão 6 em funcionamento e 1 desativado

Litoral 28,23 Sim 4 3 1 açude 3 em funcionamento e 5 desativados

Médio Jaguaribe 25,15 Sim 1 6 cacimbão

1 açude 7 em funcionamento e 1 desativado

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Metropolitana 28,23 Sim 13 6 18 em funcionamento e 1 não funcionando

Parnaíba 54,43 Sim 5 1 2 cacimbão 1 açude

8 em funcionamento e 1 desativado

Salgado 37,10 Sim 3 1 açude 4 em funcionamento Fonte: Dados da pesquisa de campo

Muitas das comunidades visitadas têm como fonte principal de abastecimento pequenos açudes, porém esses pequenos reservatórios secam rapidamente no verão. Um dos grandes problemas registrados nesses açudes é a qualidade da água, pois eles são utilizados para fins diversos (banho, lavar roupa, pescar etc.) e as comunidades, em geral, não têm o hábito de proteger esses mananciais de forma adequada. Muitos poços são utilizados apenas para uso doméstico devido à alta salinidade e portanto impróprios para consumo humano. O mesmo acontece com os açudes, pois não é feito tratamento da água. Na região metropolitana foram encontrados 6 sistemas que atendem mais de uma comunidade.

5.2. O olhar das comunidades As propostas apresentadas estão nos contextos e relações entre os agentes políticos e sociais, suas articulações e a capacidade de iniciativa e de elaboração de projetos das comunidades, considerando que existem limites próprios, que dependem do grau de capacitação de cada uma delas e de seus representantes além do grau de autonomia econômica e política na sua implementação. Foi ressaltada pelas comunidades a importância da continuidade de construção e aproveitamento de obras hídricas estruturantes, tais como:

Canal do Trabalhador; Açudes estratégicos; Construção e instalação de poços profundos. Em muitos casos, foi citada a

necessidade de combinar o uso dos poços para o uso doméstico e animal, aliado às cisternas para o consumo humano.

Poços Rasos: Constituem alternativa hídrica de baixo custo, frente às outras opções, porém, são necessários estudos mais aprofundados para verificar a viabilidade desses aluviões;

Cacimba / Cacimbão: Constituem uma alternativa hídrica de baixo custo, mas sendo pouca utilizada para a implantação de sistema de abastecimento de água devido a sua precariedade e facilidade de contaminação.

Cisternas: definida por 100% dos entrevistados como um dos projetos mais exitosos que vem sendo executado por diversas instituições governamentais e não governamentais. Em alguns casos as comunidades inclusive afirmam que mesmo com a chegada da água encanada, continuariam a beber água das cisternas, devido à qualidade e ao controle exercido pela própria família.

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Sistematizando as fontes hídricas potencias, por bacia hidrográfica, observamos que as soluções apresentadas são genéricas e pontuais, e por diversas vezes independem do contexto hidrográfico da bacia.

Figura 18 – Alternativas Apresentadas

Ao comparar as propostas elaboradas pelas diversas comunidades e os números de sistemas implantados em todo o Estado, é possível afirmar que é necessário um amplo trabalho de gestão dessas obras, com um maior suporte por parte dos órgãos públicos, pois, preocupante não é só a questão da falta de água, mas a grande quantidade de obras já implantadas que estão abandonadas, desativadas ou sub-utilizadas, obrigando o retorno ao abastecimento pelos carros pipa. As principais distorções ocasionadas por todo esse processo podem ser resumidas nos seguintes aspectos que caracterizam a maior parte desses projetos e que foi alvo de discussões nas oficinas realizadas:

Pouca participação das comunidades na definição do tipo de sistema a ser implantado. Na sua grande maioria a decisão fica a cargo dos projetistas que terminam por definir sistemas, que, não raramente, escapam totalmente ao controle dos beneficiários e interferem negativamente nos resultados obtidos. Quando questionados sobre quem elaborou o projeto, a comunidade não tinha nenhum conhecimento, deixando claro que é necessário alterar a metodologia de elaboração/fiscalização dessas demandas;

Não realização de um estudo sobre as tecnologias mais adequadas para a comunidade

Pouca capacidade da associação em gerir projetos comunitários, como também, nenhuma avaliação/estudo de exeqüibilidade/viabilidade de suporte de manutenção do sistema pela comunidade, fazem com que muitos sistemas funcionem precariamente e por pouco tempo;

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Os projetos não levam em consideração os planejamentos regionais e municipais, existindo, apenas a preocupação de abastecer a comunidade solicitante. Em alguns municípios tivemos a oportunidade de verificar que um pequeno acréscimo no projeto de construção de uma adutora, por exemplo, poderia solucionar o problema de um conjunto de comunidades que ficam ao longo de adutoras já construídas e são abastecidas sistematicamente pelos carros-pipas;

Não acompanhamento, por parte das instituições, das comunidades após a implantação do sistema, com exceção do SISAR que é citado como uma das poucas formas de manter o sistema funcionando de forma adequada, inclusive quando questionados sob pagamento para manutenção dos sistemas instalados as comunidades afirmaram que teriam condições de pagar mensalmente em torno de R$ 8,00 – 10,00 para sua manutenção, se a água fosse de qualidade e regular;

Pouco envolvimento e comprometimento das Prefeituras Municipais no acompanhamento e manutenção dos sistemas, principalmente no caso dos dessalinizadores;

Poços profundos perfurados e não instalados são encontrados em vários locais visitados (alguns inclusive se encontram destampados e desativados) sem condições mais de uso. Quando questionados sobre a salinidade desses poços as comunidades afirmam que, embora, alguns deles, sejam muito salobros, poderiam ser utilizados para usos múltiplos (uso animal e doméstico e pequenas irrigações – dependendo da salinidade apresentada), deixando a água das cisternas apenas para consumo humano;

Em várias comunidades foram citados pequenos açudes (que resistem por mais de dois anos, em caso de uma seca) que poderiam ser utilizados para abastecimento da população, sendo, porém necessário fazer um trabalho de recuperação da área de preservação permanente desses açudes garantindo a qualidade da água (já que muitos deles são contaminados por currais e pocilgas instalados próximos a esses mananciais, ou mesmo pela própria comunidade que usa para fins diversos;

As comunidades residentes próximas ao Canal do Trabalhador cobraram a implantação de uma rede de abastecimento de água tratada a partir dessa fonte hídrica

A partir das falas e debates das oficinas constata-se que existe muita vontade social/política nas comunidades e associações e um grande potencial para construir projetos sólidos, corrigindo erros do passado, principalmente aqueles que podem interferir na conquista de um futuro melhor, quais sejam: “divisões políticas – ideológicas”, “uso das associações para fins eleitoreiros ou para a legitimação social de decisões tomadas sem a participação de todos”, “interferências exteriores”.

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Parte III Considerações Finais

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6. Considerações

A realização do estudo para sondagem de soluções alternativas para erradicação do carro-pipa pôde identificar formas para potencializar e fortalecer as ações que promovam novas dinâmicas para convivência com o semiárido de forma digna e sustentável. A pesquisa detectou pontos de fragilidade que contribuem para que a situação das comunidades seja com muita constância considerada emergencial, sendo as soluções paliativas consideradas imprescindíveis. Como estes aspectos estão em várias instâncias, vamos discorrer sobre cada uma delas.

6.1. Sistema de Informação Neste quesito, de uma forma geral, é fundamental salientar a quase ausência da “memória institucional”, isto é, a não manutenção sistemática e segura dos arquivos de dados/ resultados / relatórios gerados ao longo dos anos. Assim, não há uma política clara de garantia da preservação da memória institucional nem ao nível das instituições que são ou foram encarregadas de avaliar e remediar as situações emergenciais (defesa civil, exército), nem daquelas que são ou foram encarregadas de estudar e propiciar soluções ao problema da descontinuidade de abastecimento (SRH, SOHIDRA, SDA e instituições federais DNOCS, FUNASA, CPRM entre outras). Salvo exceção, não foi possível conseguir relatórios sistemáticos sobre programas passados de caracterização das fontes hídricas ou construção de obras. Os dados parciais conseguidos (SRH, SDA, FUNASA entre outras instituições) foram, entretanto, sistematizados num banco de dados. Portanto, muitos dos dados disponíveis sobre a situação atual e passada das comunidades abastecidas por carro-pipa são oriundos dos bancos de dados da Defesa Civil Estadual (que monitora as necessidades das comunidades em termos de abastecimento emergencial) e do Exército (responsável pela distribuição de água por carros pipa). Os dados da Defesa Civil estão constituídos em um banco de dados históricos não georeferecenciados. Foi possível obter dados com relação aos anos 1998, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008. Portanto, apesar da falta de informações em alguns anos e da ausência de dados anteriores a 1998, este banco de dados é muito interessante porque permite um resgate histórico que se estende num período significativo e inclui dados da última grande seca (1998). Isto é fundamental, porque diante da alta variabilidade temporal e espacial das precipitações, é absolutamente ilusório tentar construir um retrato realista a partir de um ou dois anos de dados. É necessário contemplar o maior número de anos possíveis para poder retratar uma realidade “média” e não a situação específica ligada ao regime pluviométrico de um determinado ano.

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Os dados do Exército estão constituídos em um banco de dados parcialmente georeferecenciados (no momento da coleta, as Organizações Militares estavam realizando o levantamento das coordenadas), mas sem registro histórico. Dessa forma, não é possível individualizar os abastecimentos através de carros-pipa por ano. Em resumo, do ponto de vista da análise rigorosa dos dados disponíveis, é fundamental salientar as seguintes dificuldades:

Os dois bancos de dados não retratam a mesma realidade (o da Defesa Civil representa a necessidade de abastecimento e a do Exército o abastecimento realizado);

Somente o banco de dados da Defesa Civil tem registros históricos, mas é incompleto. Existe uma descontinuidade temporal na série de dados, pois até 2005 a Defesa Civil tanto diagnosticava quanto operava os carros-pipa. Posteriormente, o Exército, novo encarregado desta função, definiu seus próprios critérios de distribuição;

O banco de dados da Defesa Civil apresenta certas incoerências quanto aos dados de alguns municípios: certos municípios aparecem em determinados anos sem abastecimento de carro-pipa enquanto sabe-se (após contato com responsáveis locais) que este abastecimento, de fato, aconteceu;

Os dados são estruturados em “rotas” que não são uma variável fixa (as rotas variam anualmente, de acordo com a necessidade ou a fonte de abastecimento disponível);

Os nomes de algumas comunidades não são “estáveis” no banco de dados: eles variam ao longo dos anos o que dificultou a sistematização dos dados e a ausência de georeferenciamento impossibilitou, muitas vezes, a retificação dos erros. Assim, é muito difícil avaliar o impacto das obras/ações realizadas sobre o abastecimento por carro-pipa já que não foi possível relacionar de forma sistemática as comunidades dos dois bancos de dados;

Não foi possível verificar, em nenhum banco de dados ou relatório, a existência de trabalhos integrando de forma clara e sistemática informações técnicas (sobre fonte de água, tamanho da comunidade...) e informações sócio-políticas (sobre os tipos de usos e usuários, as percepções atuais e históricas locais sobre a questão da água que determinam as práticas locais e as suas estratégias para conseguir o seu abastecimento em água). Assim, quando se tem informações sobre uma comunidade, elas permitem, no melhor dos casos, retratar de forma grosseira a realidade, tornando difícil avaliar qual poderia ser uma boa solução para resolver o problema de abastecimento que tem que ser tecnicamente viável, mas também adaptada à realidade local;

Em conclusão, podemos afirmar que os dados não permitem a construção de um retrato fiel da realidade existente por causa de inconsistência, imprecisão dos dados (muitas vezes sem possibilidade de melhoramento) e de descontinuidade na série histórica e

Por fim, é importante salientar que, nestes dois bancos de dados, não aparecem os “carros-pipa municipais” (isto é, aqueles mantidos pela Prefeitura Municipal sem solicitação formal da mesma para a que o Exército assuma sua operação). Foi observado que algumas comunidades, abastecidas de forma quase permanente por

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carros-pipa durante a estação seca, somente aparecem nos registros estaduais quando o município promulgou o Estado de Emergência. Assim, olhando somente o banco de dados da Defesa Civil, poderia se concluir que aquelas comunidades têm problemas descontínuos de abastecimento, conforme a estação chuvosa, o que não é realidade, já que a Prefeitura mantém este abastecimento sem que o Estado tenha conhecimento.

6.2. Análise da Pesquisa de Campo Na pesquisa quantitativa realizada com as comunidades atendidas pelos carros-pipa pudemos obter algumas informações importantes para a formulação de políticas públicas que visem a erradicação da necessidade desse tipo de atendimento: A dispersão das casas é um fator limitante na implementação de uma estrutura hídrica capaz de atender às necessidades da população. De um modo geral a população tem boa participação na associação, no entanto, 11,5% das comunidades na amostra total apontaram que a baixa participação dos moradores é causa de problemas ou conflitos. Embora não seja um consenso entre todas as bacias, a desorganização da população foi apontada como um fator que contribui para agravar os problemas decorrentes da falta de água em 9% das comunidades entrevistadas. A desorganização das comunidades é, na prática, um fator que contribui para a manutenção do cenário de carência de um sistema de abastecimento d’água eficiente nas comunidades. No entanto, como mostra a Figura 6, apenas uma minoria das comunidades acredita que a desorganização traz essa conseqüência. O processo de mobilização dos indivíduos, seja ou não por meio da associação e de reuniões periódicas, eleva as chances de concretização de um objetivo comum. Assim, a articulação entre comunidades pode contribuir favoravelmente para a melhoria no abastecimento de água. Apesar de se considerarem articuladas percebe-se uma inconsistência na análise da forma como se dá a pretensa articulação com o poder público (Tabela 18). Na amostra total 15,3% das comunidades entrevistadas afirmaram que não possuem articulação. O mesmo percentual coube aquelas em que articulação se dá individualmente. O processo de mobilização dos indivíduos, seja ou não por meio da associação e de reuniões periódicas, eleva as chances de concretização de um objetivo comum. Assim, a articulação entre comunidades pode contribuir favoravelmente para a melhoria no abastecimento de água. É importante também ressaltar o papel dos agentes de saúde que, pela própria natureza do trabalho que exercem, assumem um papel de mediadores entre os membros da comunidade e os tomadores de decisão.

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Na percepção dos moradores das comunidades selecionadas na amostra o problema mais freqüente é a disponibilidade e qualidade da água. Esse problema foi citado como o mais grave em 56,9% das comunidades O cenário adquire um caráter de maior gravidade quando verifica-se que as fontes artificiais de água também são escassas. Como apresentado na Tabela 14 as principais fontes artificiais de água nas comunidades são os açudes, poços e cisternas. O menor número de comunidades com açudes encontra-se nas Bacias Metropolitana e Coreaú. Quanto à existência de poços nota-se uma maior demanda nas bacias de Salgado e Médio Jaguaribe. Apesar das ações como aquelas desenvolvidas pelo Programa de Mobilização Social para Construção de 1 Milhão de Cisternas (P1MC), nas bacias Banabuiú e Metropolitana apenas 24,0% e 24,1% das comunidades, respectivamente, são beneficiadas por cisternas. Além de existirem em quantidade deficiente, as fontes hídricas das comunidades apresentam uma série de problemas, conforme apresentados na Tabela 24. Tais problemas vão desde o domínio e posse que impedem o uso democrático da água até ao elevado grau de salinidade da água que impede o seu consumo. As principais conclusões obtidas a partir da análise estatística dos dados foram:

As comunidades estudadas são pequenas e difusas

As doenças de veiculação hídrica estão presentes em um número maior de comunidades

Não há uma percepção das comunidades sobre a necessidade de uma boa organização na resolução dos problemas hídricos da comunidade

Dentre os problemas que afligem um maior número de comunidades destacam-se a escassez, salinidade e poluição de água, devendo ser a resolução destes uma prioridade para os gestores

As fontes naturais de água são escassas nas comunidades e dentre as artificiais as cisternas são apontadas como a mais utilizada por um maior número de comunidades.

Apesar de existirem cisternas em boa parte das comunidades, há uma demanda por cisternas a ser atendida. Outra carência identificada diz respeito aos sistemas de abastecimento e dessalinizadores.

Embora se verifique mudanças na forma de aquisição de água durante os períodos de estiagem muitas comunidades não estão sendo beneficiadas por nenhum tipo de projeto hídrico.

Estes projetos ao serem elaborados deverão contemplar as especificidades identificadas em cada bacia.

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6.3. Gestão Compartilhada de Águas nas Comunidades Difusas O fortalecimento de uma gestão democrática e compartilhada das fontes hídricas existentes nas comunidades difusas do Estado do Ceará é urgente e necessária e deve buscar garantir água em quantidade e qualidade para uma população que sofre anualmente com a escassez desse recurso. Essa ação remete, necessariamente, à participação, democracia e cidadania e reconhece que a coordenação de ações integradas do Governo e da sociedade seria um arrojado programa, uma prodigiosa atitude que requer mais responsabilidade e organização local, mais conhecimento, maior capacidade por parte dos usuários, mais uso da tecnologia da informação, dos instrumentos financeiros, mais reforço na educação ambiental e fornecimento de valores corretos para o gerenciamento das águas. Os novos paradigmas de democratização da gestão dos recursos hídricos ainda estão em seu estágio de aprendizagem, mas surgem como promessa de modernização e racionalização não somente das relações entre sociedade e natureza, mas da sociedade consigo própria. Ao tratar dessa temática, Paulo César Arns12 afirma que gestão social significa gerir, administrar, cuidar do interesse social e considera o cidadão, conjuntamente com o Estado, responsável pela administração e gestão dos recursos disponíveis, devendo buscar, em sua administração, a integração institucional, a descentralização gerencial, o diálogo democrático e a participação da sociedade, adotando a negociação transparente e responsável de conflitos como forma privilegiada de superar as diferenças de uso dos recursos, a qual sugere um processo de descentralização do processo decisório e a capacidade de implementação e acompanhamento de políticas de desenvolvimento por parte da sociedade. Para tanto, a governança democrática e a gestão participativa devem incorporar a sabedoria e o conhecimento popular na formulação das respostas e nos mecanismos de implementação de ações que buscam a resolução de problemas e a satisfação das demandas sociais, assim a governabilidade pretendida depende não só da capacidade de governo, mas, igualmente da existência de capital humano (informação, conhecimento e capacidade de processar dados) e uma boa capacidade associativa do tecido social capaz de gerar sinergias em torno de projetos voltados para o desenvolvimento das comunidades. Portanto, os grandes desafios dos recursos hídricos são de caráter institucional e não apenas tecnológico, devendo ser enfrentados pelo conjunto dos atores sociais, e passam pelo desenvolvimento e a aplicação de medidas não-estruturais:

Potencializar a participação das comunidades como variável estratégica na busca da sustentabilidade das ações, garantindo o atendimento ao conjunto de suas necessidades, mas levando em consideração as especificidades locais (sociais, culturais e econômicas);

12 Texto do autor em: Zapata, Tânia. Desenvolvimento Territorial à Distância. Tânia Zapata, Mônica Amorim, Paulo César Arns. Florianópolis: SEaD/UFSC, 2007.

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Os governantes precisam estar mais abertos, disponíveis e atentos para ouvir as necessidades/reivindicações das populações adequando e ajustando os projetos, e não apenas, estabelecendo critérios técnicos rígidos para sua execução, pois é no embate e na negociação entre os diferentes que se chega ao amadurecimento e se encontra a solução para o bem comum. Uma tentativa sempre válida é a prévia informação e sensibilização popular sobre o "estado" do meio local, repartindo conhecimentos e envolvendo a comunidade desde o início no processo de gestão local/regional, incentivando uma cultura de cooperação que facilite a negociação e o suporte popular na liberação dos projetos, instalação de equipamentos e ao estabelecimento de iniciativas comportamentais relativas ao combate, ao desperdício e à poluição;

Descentralização vertical progressiva das funções executivas no campo da prestação de serviços sociais e de infraestrutura, com a definição dos Planos Municipais de Água (infraestrutura hídrica, fontes hídricas, demandas e ofertas) e Planos Territoriais de Águas visando à orientação do Estado para atender a demanda das comunidades rurais de forma conjunta e com uma visão territorial, utilizando a bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão, evitando a setorialização e facilitando a gestão, bem como, otimizando os custos para o Governo e para os beneficiários e

Integração entre as políticas públicas voltadas para questões de abastecimento d’água das comunidades rurais com o estabelecimento de critérios mais rigorosos para distribuição de carros-pipa em comunidades que já possuem sistemas de abastecimento, inclusive, envolvendo os Comitês de Bacia no acompanhamento desses processos e a Criação de um Comitê Gestor Estadual para integração das ações de abastecimento de água para a população rural, objetivando integrar as ações das esferas municipais, estaduais e federais. Para tanto, é necessário dispor de instrumentos para a melhoria do processo de decisão dos Comitês de Bacia e dos projetos (cartografia, redes de monitoramento de quantidade e qualidade da água, sistemas de informação, capacitação de recursos humanos etc.).

Reforçamos a importância da implantação imediata do Programa de Gestão dos Pequenos Sistemas de Abastecimento de Água para as Populações Rurais - Projeto detalhado no Plano Estratégico dos Recursos Hídricos do Ceará, apresentado pelo Pacto das Águas.

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7. RECOMENDAÇÕES Tendo em vista a diversidade das comunidades visitadas e levando em conta os resultados quantitativos assim como os dos representantes de todas essas comunidades se verificou a importância da troca de experiências como forma de potencializar as dinâmicas de cada uma delas e fica patente que a informação é um elemento poderoso para o fortalecimento do desenvolvimento de cada comunidade. Como forma de dar continuidade ao estudo realizado, sugerimos algumas vertentes:

7.1. Estudos, Parcerias e Capacitação Esta recomendação visa, igualmente, responder as inúmeras críticas e reivindicações dos participantes das oficinas: a urgência de se criar mais capacidade de trabalho prático/concreto. Em particular, através de projetos e programas de atividades direcionados para satisfazer as demandas e prioridades da comunidade e capazes de favorecer o aproveitamento dos recursos hídricos de forma integral. Assim, apontam-se como aspectos importantes a serem considerados:

Dotar o Estado de um banco de dados atualizado e unificado, verticalmente (Município - Estado - União) e transversalmente (entre as instituições ao nível federal, estadual e municipal);

Elaboração dos projetos de abastecimento de água levando em conta todos os estudos técnico-científicos necessários (geologia, hidrogeologia, hidrologia, engenharia, etc.) diminuindo os gastos com projetos mal formulados e a descrença da comunidade, bem como, aumentando a qualidade dos serviços;

Realização de estudos de viabilidade técnica dos açudes e canais estratégicos para o abastecimento de comunidades rurais difusas;

Construção de mais infraestrutura de armazenamento, de transferência e de distribuição de água, bem como, a integração dessas infraestruturas hídricas permitindo que a água das cisternas e dos dessalinizadores seja utilizada apenas para o consumo humano e que a água proveniente de poços profundos (muita vezes com alto teor de sais) seja utilizada para os outros fins. Portanto, é fundamental que, mesmo nos casos em que as comunidades tenham tido acesso aos programas de construção de cisternas de placas ou tenham um sistema de abastecimento funcionando, se avaliem a necessidade de complementação/integração desses sistemas.

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Capacitação e acompanhamento da comunidade não só na manutenção do equipamento e máquinas, de aplicação de metodologias e tecnologias, interagindo com estas e gerando seu próprio conhecimento;

Contratação de equipes multidisciplinares para o estabelecimento de processos de gestão comunitária da água, com o uso de metodologias participativas de gestão. Fica evidente que o trabalho de implantação de sistemas mais complexos, como é o caso dos dessalinizadores, não pode ser realizado sem um maior acompanhamento social e

Ademais, é imprescindível capacitar/qualificar o corpo diretivo das associações, que irão gerir de forma compartilhada esses equipamentos e serviços ofertados, melhorando, de imediato, sua capacidade de organização e funcionamento interno das entidades comunitárias (mais transparência na gestão dos recursos financeiros, mais prestações de contas, mais informações dos associados e menos dependência das empresas no monitoramento dos trabalhos e prestação de contas junto aos projetos). Chama-se, atenção que as capacitações somente serão eficientes se forem progressivas, articularem teoria e prática, se forem profundamente enraizadas na realidade local e se forem o mais abrangente possível, agregando homens, mulheres e jovens.

7.2. Programas e Projetos Executados

Recomendam-se, a seguir, alguns ajustes em projetos e programas, hoje executados e que são avaliados como exitosos por quase todas as comunidades visitadas, mas que, ainda não garantem o fim do abastecimento dessas populações pelos carros-pipa.

Programa 1 Milhão de Cisternas

O P1MC é considerado em todos os municípios/comunidades visitadas como o mais exitosos de todos os programas governamentais que são atualmente implementados, tanto que 100% das pessoas que participaram das oficinas afirmaram que mesmo com a construção de um sistema de abastecimento de água continuariam a utilizar a água das cisternas para o consumo humano. Porém, para que esse programa seja efetivo na erradicação dos carros-pipa é necessário:

Universalizar a construção das cisternas na comunidade, ou seja, é necessário construir uma cisterna em cada casa.

Acompanhar e fiscalizar a construção da cisterna evitando erros que possam comprometer seriamente a sua estrutura;

Envolver as Prefeituras Municipais, através de suas Secretarias de Saúde, reforçando o acompanhamento e a orientação das famílias pelos agentes de saúde.

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Além disso, é fundamental incrementar o Programa 1 Terra, 2 Águas (P1 +2) ofertando a essas populações difusas oportunidade de permanecer na sua terra, promovendo a segurança alimentar pela manutenção da produção. Programa São José – Implantação de Sistemas de Abastecimento Quando questionados sobre a instituição responsável pela implantação dos sistemas de abastecimento de água, raras são as pessoas que não associam essa ação ao Projeto São José demonstrando a atuação e o reconhecimento do trabalho realizado no decorrer desses anos. No entanto, são necessários alguns ajustes para que esse projeto alcance seu objetivo de democratizar o acesso à água a população cearense residentes nas áreas rurais difusas, tais como:

Estabelecer um rigoroso sistema de acompanhamento, dimensionamento e fiscalização das obras, realizando visitas permanentes para averiguar, junto com a comunidade, o correto cumprimento do contrato. Essa questão é fundamental, pois as associações comunitárias, na sua grande maioria, não dispõem de pessoal qualificado para realizar essa tarefa, ficando, constantemente a mercê das informações do construtor;

O projeto deverá ser analisado e aprovado integralmente, levando em consideração não o valor limite para cada ação, mas sim a necessidade do conjunto da comunidade, sem que haja divisão em etapas, pois se verifica que a demora na liberação de cada etapa da obra ou a não conclusão leva a um colapso no sistema;

Priorização das comunidades abastecidas por carros-pipa para liberação de projetos de implantação de sistemas de abastecimento de água, observando o número de famílias e a dinâmica territorial;

Estabelecer sistemática de editais (demanda induzida), estimulando as comunidades a se organizarem e buscarem soluções para a questão do abastecimento de água;

Realizar um trabalho de recuperação e adequação dos sistemas existentes, bem como a implantação de ligações domiciliares e estações de tratamento, garantindo água com qualidade dentro das residências e

Estabelecer cobrança da água tratada nos sistemas de abastecimento, promovendo um comportamento mais responsável dos usuários com relação ao consumo de água, induzindo-o à redução do volume.

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Projeto de Construção de Poços

Avaliação dos poços perfurados e não instalados com vazões adequadas que possam servir para complementar a demanda de água dessas comunidades (usos múltiplos) e

Buscar equipamentos e tecnologias mais modernas e de menor custo para dessalinizar a água salobra dos poços, ampliando a oferta de água potável para a população difusa.

7.3. Educação Ambiental e Comunicação Social

Preservação e fiscalização das fontes hídricas no que se refere às APPs (Áreas de Preservação Permanente);

Realizar uma ampla campanha para uso correto da água disponível no Estado do Ceará, estimulando a preservação dos mananciais (tanto na questão da qualidade, como quantidade disponível), recuperação dos ecossistemas e o manejo sustentável dos agrossistemas e

Utilizar diversos meios de comunicação (rádios comunitárias, jornais, etc.) para estimular posturas adequadas de preservação ambiental nessas regiões e uso racional da água.

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8. CONCLUSÕES

Como apontado ao longo do estudo, as bacias guardam especificidades que demandam ações locais. Políticas universais em uma realidade como a descrita além de onerosas correm o risco de não serem efetivas. Como a institucionalidade que mais se aproxima do conceito de local é o município, o plano de gestão dos recursos hídricos deve ser municipal e contemplar as demandas e alternativas de cada localidade procurando o aproveitamento das sinergias e das várias alternativas de políticas públicas que podem incidir sobre a mesma localidade. Os projetos devem levar em consideração os planejamentos territoriais mais abrangentes, não tendo apenas a preocupação de abastecer as comunidades solicitantes. Em alguns municípios pode-se verificar que um pequeno acréscimo no projeto de construção de uma adutora, por exemplo, poderia solucionar o problema de um conjunto de comunidades que ficam ao longo dela e são abastecidas sistematicamente pelos carros-pipa. Os sistemas de abastecimento devem ser projetados e construídos abrangendo todas as comunidades de cada localidade evitando a duplicação de investimentos. Por outro lado várias alternativas podem conviver numa mesma comunidade, ou seja, mesmo com um sistema de abastecimento e com distribuição domiciliar no núcleo de uma comunidade, moradias afastadas devem ser contempladas com outras alternativas para não onerar ou inviabilizar o sistema. Em resumo, as políticas públicas devem garantir a universalização do atendimento em cada localidade, evitando soluções parciais e paliativas. Todas estas iniciativas, além dos projetos das organizações da sociedade civil, apontam num primeiro momento para uma sobreposição de ações que poderiam ser articuladas com o intuito de permitir o fortalecimento de cada uma individualmente, proporcionar trocas de experiências, promover a sua integração e inter-relação e subsidiar a formulação de políticas públicas. Como conclusão e indicação para a formulação de políticas públicas de apoio ao acesso à água na perspectiva da erradicação do carro-pipa e do desenvolvimento local, o estudo sugere que este apoio deve respeitar as especificidades estruturais e culturais de cada localidade, abstendo-se de impor modelos prontos.

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9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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