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3. RESERVA DE GURJAÚ E ENTORNO 3.1 Informações Gerais O Estado de Pernambuco possui 70 unidades de conservação distribuídas pelo território, levando em consideração as categorias de plano de manejo de uso direto e indireto, mas pouco se conhece a respeito dessas áreas. Essas unidades apresentam-se em âmbito Federal, Estadual, Municipal e Particular com uma área total de 619.577.08 ha (Uchoa Neto, 1999), o que corresponde a 6,26% do território pernambucano, aproximadamente 9.893.780ha (CONDEPE, 1995). A Reserva Ecológica de Gurjaú encontra-se assim inserida na porção Sul da Região Metropolitana do Recife, precisamente na divisa dos municípios de Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho e Moreno, entre os engenhos: Salvador, São Braz, São João, Roças Velhas. A bacia do Rio Pirapama, (FIDEM, 1998), tem sua nascente a cerca de 450m de altitude, no município de Pombos (agreste pernambucano), sendo formado por vários tributários, como o Rio Gurjaú que destaca-se pelas dimensões. O Rio Pirapama e seus tributários constituem mananciais de abastecimento d’água da cidade do Recife desde 1918, ano em que ocorreu a construção da Barragem do Gurjaú, primeira adutora de água para o Recife. 3.2 Aspectos Culturais e Históricos A partir de 1571, após a expulsão dos índios Caetés, as terras circunvizinhas ao Cabo de Santo Agostinho foram divididas e doadas em sesmarias a diversos nobres (ISRAEL FELIPE, 1962).

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3. RESERVA DE GURJAÚ E ENTORNO3.1 Informações Gerais

O Estado de Pernambuco possui 70 unidades de conservação distribuídas pelo

território, levando em consideração as categorias de plano de manejo de uso

direto e indireto, mas pouco se conhece a respeito dessas áreas. Essas unidades

apresentam-se em âmbito Federal, Estadual, Municipal e Particular com uma área

total de 619.577.08 ha (Uchoa Neto, 1999), o que corresponde a 6,26% do

território pernambucano, aproximadamente 9.893.780ha (CONDEPE, 1995).

A Reserva Ecológica de Gurjaú encontra-se assim inserida na porção Sul da

Região Metropolitana do Recife, precisamente na divisa dos municípios de

Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho e Moreno, entre os

engenhos: Salvador, São Braz, São João, Roças Velhas.

A bacia do Rio Pirapama, (FIDEM, 1998), tem sua nascente a cerca de 450m de

altitude, no município de Pombos (agreste pernambucano), sendo formado por

vários tributários, como o Rio Gurjaú que destaca-se pelas dimensões. O Rio

Pirapama e seus tributários constituem mananciais de abastecimento d’água da

cidade do Recife desde 1918, ano em que ocorreu a construção da Barragem do

Gurjaú, primeira adutora de água para o Recife.

3.2 Aspectos Culturais e Históricos

A partir de 1571, após a expulsão dos índios Caetés, as terras circunvizinhas ao

Cabo de Santo Agostinho foram divididas e doadas em sesmarias a diversos

nobres (ISRAEL FELIPE, 1962).

Com duas léguas, a zona ao Norte do rio Araçuagipe, atualmente nomeado

Pirapama, até o rio Ururaiu ou Guararibe, que posteriormente passou a

denominação de São João, coube ao fidalgo alemão Cristóvão Lins. Na referida

Zona, estão situados os engenhos Trapiche, Bom Jesus, São João, Secopema,

Pau Santo, Novo, Barbalho, Pirapama e outros. Do final do século XVII ao século

XVIII nada se conseguiu apurar sobre o desenvolvimento e a continuidade

daqueles feudos (ISRAEL FELIPE, 1962).

Durante a ocupação holandesa, muitos engenhos foram confiscados. Mas ao

término do domínio estrangeiro aqueles feudos açucareiros foram restituídos aos

legítimos donos (ISRAEL FELIPE, 1962).

No início do século XX, alguns engenhos foram desapropriados ou comprados

pelo Estado de Pernambuco para a tomada de abastecimento d’água. Dentre

estes, os que compõem a Reserva Ecológica de Gurjaú: Engenho São João,

Engenho Secupema e Engenho São Salvador.

3.2.1 Engenho São João

Construído por André Couto, confiscado pelos holandeses e vendido, em 1637, a

Pedro Lopes de Vera. Foi um dos primeiros engenhos de Pernambuco que usou

alambique de cobre para fabricação de álcool, sendo nesta época pertencente ao

Dr. Manuel Carneiro Lins de Albuquerque (ISRAEL FELIPE, 1962).

Em época mais recente, o Bacharel Carlos Change Boulitrean e Maria Cordélia

Boulitrean, proprietários do Engenho São João, no município do Cabo de Santo

Agostinho, venderam este ao Estado de Pernambuco, segundo escritura datada

em 27 de Agosto de 1913 (3º Ofício de Notas-Recife-PE), pela quantia de 90

contos de réis, para serviço de abastecimento d’água da capital. O engenho abriga

as águas do Rio Gurjaú com a respectiva cachoeira e mais 200 hectares de terra

situados na bacia do mesmo rio.

Segundo a mesma escritura, os proprietários, ou quem os substituíram na posse e

propriedade do Engenho São João, foram obrigados a construir, dentro do prazo

máximo de um ano, a contar da assinatura desta, uma estrada de ferro de um

metro de bitola aproveitando o leito atual da estrada de rodagem que vai do

referido Engenho à cidade do Cabo, para que o Governo transportasse

gratuitamente nessa via-férrea todo o material necessário às obras de

abastecimento d’água.

Outra escritura de 12 de Janeiro de 1977 (Cartório Privativo do Registro Geral de

Imóveis - Cabo-PE), registra que o Estado também desapropriava, para passagem

da linha férrea, das linhas de tubos e outras utilidades públicas, uma faixa com 12

metros de largura, englobando parte das terras da Usina Bom Jesus, entre os

Engenhos São João e Secupema e divisor de águas ao nascente, bem como parte

do Engenho Roças Velhas, compreendida entre as divisas das terras de

Secupema, Engenho São Salvador, Barbalho e referido divisor de águas.

O adquirente das terras do Engenho São João e das terras da Usina Bom Jesus

foi o Departamento de Saneamento do Estado - DSE, o Saneamento do Recife

S/A- SANER e o Saneamento do Interior Pernambucano S/A- SANEPE, que

passou a denominar-se COMPESA – Companhia Pernambucana de Saneamento.

3.2.2 Engenho Secupema

Situa-se entre os Engenhos São João, Roças Velhas e Sacambu, à margem do rio

Gurjaú. Foi comprado pelo Governo do Estado também em 1913, para

aproveitamento das águas deste rio, que se encachoeiram em terras do Engenho

São João, onde foi construída a primeira barragem destinada ao abastecimento

d’água ao Recife (ISRAEL FELIPE, 1962).

Nos mapas antigos do Departamento de Saneamento do Estado DSE, atual

COMPESA, este engenho aparece com a barragem e o açude em projeto

(Barragem n°2), tomando o açude o nome do engenho.

3.2.3 Engenho São Salvador

O Engenho São Salvador tem seus limites nas propriedades denominadas

Barbalho, Engenhos Secupeminha, Canzanza, Jacobina, São Braz, Secupema,

Roças Velhas e Ricos. A área pertenceu a Antônio Heráclito Carneiro Campello e

a sua mulher, Maria Amélia Carneiro Campello.

Em 1921, o engenho foi comprado, a 150 contos de réis, pelo senhor Oscar

Santos Dias e a mulher Cordulina Santos Dias, conforme escritura pública em

notas do Tabelião Público do Município de Jaboatão, Doutor José Ramos de

Castro Vasconcellos. Quando o adquiriu, o engenho estava em péssimo estado de

conservação, então o senhor Oscar reconstruiu todas as casas, inclusive a de

vivenda e o edifício da fábrica. Ainda construiu mais quinze casas, reforçou a

barragem do açude, abriu estradas carroçáveis para vários pontos, entre outras

benfeitorias.

O Governo do Estado resolveu desapropriar o engenho, pagou uma indenização

aos proprietários e construiu o serviço de abastecimento d’água da capital. “A

desapropriação de Engenho São Salvador deveu-se ao fato de seus terrenos

estarem compreendidos nas áreas destinadas à proteção do manancial hídrico,

praticamente circundando o açude de Secupema” (CAMINHA, 2002).

Na época em que houve a construção da ETA Saturnino de Brito, o DSE pretendia

desapropriar outros engenhos. Não se conhece o motivo da não desapropriação

destes, pois consta em mapas antigos, de 1918, a intenção de desapropriação.

3.2.4 Engenho São Bráz

O Engenho São Braz foi edificado por Antônio da Silva, em data anterior a 1630.

Quando houve a invasão holandesa, este engenho pertenceu aos invasores que

ali construíram benfeitorias (INVENTÁRIO POTENCIAL TURÍSTICO DE PE,

1998). Situado à oeste da Reserva, este Engenho contém o leito do Rio Gurjaú, a

montante da barragem. Nos mapas do DSE, de 1918, já possuía terras cultivadas.

A sede é composta pela Casa-Grande e Capela. A Casa-Grande é de apenas um

pavimento, circundada por alpendres, com cobertura em quatro águas, com

estado de conservação regular e uso residencial. A Capela é um exemplo raro da

arquitetura religiosa, sendo o elemento de maior importância do conjunto.

Destacam-se os trabalhos de talha do altar-mor, dos altares colaterais, do púlpito

e das safenas. Esta se encontra abandonada, quase em ruínas. A senzala, à

esquerda da capela, ainda possui a estrutura original, porém uma casa

recentemente construída prejudicou a harmonia do conjunto. Tanto esta casa

quanto a capela são utilizadas como moradia pelos trabalhadores do engenho.

Atualmente, a propriedade pertence à Usina Bom Jesus, sendo fornecedora de

cana. (INVENTÁRIO POTENCIAL TURÍSTICO DE PE, 1998).

3.2.5 Engenho Bom Jesus

Foi levantado, antes da invasão holandesa, por Pedro Lopes de Vera, falecido em

1651, na Bahia. Nas terras deste engenho foi fundada, em 1881, a usina de

mesmo nome. (ISRAEL FELIPE, 1962).

3.2.6 Engenho Barbalho

Fundado por Brás Barbalho Fero, que era casado com uma irmã da esposa do

morgado do Cabo, e filha de Francisco de Carvalho de Andrade e sua mulher D.

Maria Tavares Guardez. Anteriormente, as terras pertenciam ao fidalgo alemão

Cristóvão Lins.

3.2.7 Engenho Gurjaú

O Engenho Gurjaú foi um dos primeiros Engenhos de Jaboatão, sendo

mencionado como proprietário, desde 1581, Pereira da Costa. Em 1591, foi

subdividido em dois Gurjaus: de Cima e de Baixo. No mapa de Ving, Gurjaú é

citado sob a grafia de Gorogoá e uma légua distante a oeste do Cabo de Santo

Agostinho e grafado na carta como Gorajau. Em documentos holandeses, Gurjaú

é citado como Gurjaú (BREVE DISCURSO, DE 1638) ou Grojaú (RELATÓRIO DE

VAN DER RUSSEN, 1639) e o consideravam pertencente a André Soares, natural

de Viana. Em 1651, o Engenho pertencia ao Capitão–mor de Muribeca e

Jaboatão, Fernão Soares da Cunha, primo de André. Em 1667, Gurjaú foi passado

para o seu irmão, Diogo Soares. O Gurjaú dos Soares era somente o de Cima,

enquanto que o de baixo, atravessado pelo rio Gurjaú, pertencia a Antonio Nunes

Ximenes. Após os Soares, passou-se Gurjaú de Cima aos Vieira e Gurjaú de

Baixo foi arrematado, em 1674, pelo padre Antônio de Sousa Leão. Assim, os dois

engenhos tornaram-se propriedade da mesma família (SOUZA LEÃO, 1956).

3.2.7.1 Engenho Gurjaú de Baixo

O engenho existiu até o ano de 1872, sendo vendido à usina Bom Jesus em

princípios do século XX. A Casa-Grande original deste Engenho desabou e foi

reconstruída pela família Albuquerque Maranhão, no mesmo local, pois

atualmente se encontra uma Casa-Grande datada de 1919. Construída em

alvenaria de tijolo rebocada com fachada retangular em calçada alta, possui dois

pavimentos, sendo o superior sustentado por nove colunas jônicas. Antes da porta

principal, há um alpendre que possui no alto do telhado em platibanda com

elementos decorativos em massa, onde consta no alto a data de 1919. O Engenho

encontra-se desativado, sendo apenas fornecedor de cana-de-açúcar

(INVENTÁRIO POTENCIAL TURÍSTICO DE PE, 1998).

A Casa-Grande está bem conservada e pertence a Antônio José Zazá de

Albuquerque Maranhão. Situa-se no alto de um morro de onde se avistam os

coqueirais e o rio Gurjaú, onde, segundo o administrador do Engenho, o Sr. José

Otávio Vitorino, existia uma barragem de pedra que era usada para mover os

engenhos.

3.2.7.2 Engenho Gurjaú de Cima

Pertenceu à herdeira Rosa Maria Barbosa Cavalcanti, filha de uma Vieira, a qual

se casou com o capitão Manuel Tomás de Souza Leão, fundador do Engenho

Novo da Conceição.

A casa de Gurjaú de Cima é uma das mais antigas casas grandes existentes em

Pernambuco, sendo o único exemplar preservado no município do Cabo que

possui um núcleo central retangular, em alvenaria de pedra e cercado por arcadas

em três dos seus lados. Apesar da descaracterização da casa por causa dos

acréscimos feitos, ainda estão conservadas muitas características originais. A

presença de sólidos alicerces e parapeito que lhe sustentam o jardim fronteiro,

madeiramento de pau d’arco, portas conservadas com antigos gonzos de engaste

e forno arcaico, sem chaminé e com grelha típica são alguns exemplos (SOUZA

LEÃO, 1956).

Ao lado da Casa Grande existiu uma capela, sob invocação de São Miguel,

possuindo dois andares, frontão barroco e torres rasas, uma bela talha no altar-

mor, um coro e uma galeria com o mesmo piso da casa, à qual se ligava por

passagem interna.

3.2.8 Engenho Novo da Conceição

A família de senhores de engenho Souza Leão era bastante numerosa, tanto que

os diversos ramos se bifurcaram e passaram a ser identificado pelos nomes de

seus engenhos, como verdadeiras dinastias do açúcar. O ramo Novo da

Conceição foi fundado pelo capitão Manuel Tomás de Sousa Leão, senhor do

engenho do mesmo nome.

Originalmente, as terras tinham o nome de Sítio do Cavaco, que integravam o

antigo Engenho Gurjaú de Cima, da família Vieira de Lacerda. Quando foi

desmembrado, o engenho recebeu o nome de Conceição. Em 1845, data da

ampliação da Casa-Grande, passou a chamar-se Novo da Conceição.

As filhas de Manuel Tomás de Souza Leão com Rosa Maria Barbosa Cavalcanti

casaram-se com primos da família Souza Leão, tendo o filho José de Souza Leão

comprado todas as partes do Engenho dos irmãos, tornando-se assim o único

dono do Engenho. Nascido em 1838, José de Souza Leão recebeu o título de

Barão de Gurjaú em 1883. Casado com Lília Ermelinda, morreu no Recife, em

1908, em seu sobrado na rua da Aurora. Ao falecer, em 1906, deixou a

propriedade para sobrinhos. Além de grande senhor de engenho, foi coronel

comandante da Guarda Nacional de Jaboatão e juiz de paz. A baronesa morreu

no próprio engenho, em 1921, sem filhos (GOMES, 1998).

3.2.9 Engenho Trapiche

Fundado por João Pais Barreto, em 1580. Possui uma capela de invocação a São

Francisco, cuja construção data da época em que o bangüê foi erguido.

Posteriormente, a capela passou por várias restaurações.

Neste engenho nasceram alguns homens ilustres, entre eles, Francisco do Rego

Barros Conde da Boa Vista, em 3 de fevereiro de 1802; João do Rego Barros,

Barão de Ipojuca; o desembargador Sebastião do Rego Barros Lacerda e o Dr.

Francisco do Rego Barros Lacerda, que foi deputado geral do Império, senador

estadual, presidente da Intendência Municipal, etc. À época, ele transformou todos

os métodos empregados na lavoura, em Pernambuco.

3.2.10 Criação do Sistema Gurjaú

Originalmente, o sistema Gurjaú era destinado ao abastecimento d’água de

Recife, inclusive do bairro de Boa Viagem e parte de Piedade. Posteriormente, em

meados da década de 70, foi elaborado o projeto do Sistema Regional Sul.

Este projeto destinava-se, basicamente, ao abastecimento da cidade do Cabo,

inclusive do seu distrito industrial, Ponte dos Carvalhos, Pontezinha e parte de

Muribeca dos Guararapes. De acordo com o projeto, estas seriam abastecidas a

partir do Sistema Pirapama, que até o momento ainda não se concretizou.

Apesar de todos os esforços e recursos despendidos pela COMPESA, o problema

da falta de água continua e tudo indica que, enquanto o Sistema Pirapama não for

concluído, nada será resolvido a contento.

3.3 Acesso a Gurjaú e Ficha Técnica3.3.1 Acesso à Unidade

A Reserva Ecológica de Gurjaú, inserida entre os Municípios do Cabo de Santo

Agostinho, Jaboatão e Moreno. Ao norte da Reserva, encontra-se o povoado de

São Salvador, que pertence aos municípios de Moreno e Jaboatão, na parte

central o povoado de Secupema, pertencente ao Município de Jaboatão dos

Guararapes, e ao Sul abrange os povoados de São João e Secupema, integrantes

do Município do Cabo de Santo Agostinho.

Partindo do Recife, a distância para chegar à Reserva é de 33,1 Km, levando em

consideração o percurso da Rodovia Federal (PE 025) até o portão de entrada da

ETA de Gurjaú.

A estrada que dá acesso à Usina Bom Jesus, mesmo não sendo asfaltada,

permanece em bom estado no período seco, o percurso de carro normalmente

leva 30 minutos de Recife até a sede da Reserva.

O acesso pelo Município de Jaboatão dos Guararapes se dá pela PE 007, com

acesso pela Igreja Colônia dos Padres (Jaboatão Velho). É uma estrada de terra

que leva aos engenhos Palmeiras, Macujé, Pedra Lavrada, Secupema até chegar

ao Engenho São Salvador, pertencente à Reserva.

Linhas de transporte que servem à Unidade:

RecifeLinha: 182 (Cabo-Gurjaú)Empresa: São Judas TadeuTerminal: Cais de Santa RitaHorário de Segunda a Sábado

Sentido Recife/ Gurjaú 10:30h/ 16:30hSentido Gurjaú/Recife 5:00h/ 12:00h

Cabo

Linha: Gurjaú

Empresa: Transpirapama

Terminal: Em frente à Secretaria da Fazenda do Cabo de Santo Agostinho

Horário de Segunda a Sexta

5:00h as 22:00h (ônibus de hora em hora, tendo uma viagem às 19:15h e depois

desta um intervalo, sendo a última viagem às 22:20h).

Sábado e Domingo: 5:00h às 19:15h (ônibus de hora em hora)

Linha: Roças Velhas

Terminal: Cabo sede

Horário de Segunda à Sexta: 7:30h; 12:30h; 17:30h e 19:15h.

Sábado: 6:00h; 10:00h; 12:00h; 14:00h; 16:00h e 18:00h.

Figura 1- Localização da Reserva Ecológica de Gurjaú no Recife

3.3.2 Ficha Técnica da Unidade de Conservação

3.4 Situação Fundiária

Nome da Unidade de conservação: Reserva Ecológica de GurjaúGerência Executiva: FADURPE – Fundação Apolônio Salles Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos (Campus da UFRPE). Fone: (0xx81) 3301-6060Unidade Gestora responsável: COMPESA – Companhia Pernambucana de Saneamento.

Endereço da sede:

Telefone:

Fax:

E-mail:

Site:

Estrada da Usina Bom Jesus, Km 5

3510-1507

Superfície da UC (ha): 1.340,72 ha

Perímetro da UC (Km): 38.647,22 KmSuperfície da ZA (ha):Perímetro da ZA (Km):Municípios que abrange e percentual abrangido pela UC:

587,92 ha Cabo de Santo Agostinho 280,04 ha Moreno e 472,76 ha Jaboatão.

Estados que abrange: PERNAMBUCO - BRASIL

Coordenadas geográficas (latitude e longitude):

08º10`00 e 08º 15`00 “- Latitude”.35º 02`30”e 35º 05`00” – Longitude

Data de criação e número do Decreto: 13/01/1987 – Lei estadual 9.989

Marcos geográficos referenciais dos limites:

Tem como limítrofes ao sul os Engenhos São João e Bom Jesus, ao norte com os Engenhos Secupeminha e Canzanza (assentamento), a leste com os Engenhos Barbalho, Rico e Rochas Velhas e a oeste com os Engenhos São Braz, Jacobina e Pau Santo (loteamento).

Biomas e Ecossistemas: Remanescentes de Mata Atlântica, Capoeira, Capoeirinha, Vegetação Arbustiva, Higrófila.

Atividades ocorrentes: Monocultura da Cana-de-açúcar, Pesca, Roçados de subsistência e Pecuária Semi-extensiva.

Educação ambiental:Fiscalização:Cisques:Visitada:

AtividadesConflitam:

Não

CIPOMA (Incipiente)

Levantamento de Fauna e Flora. Escolas, Universidades, visitação Pública, grupos de tracking, Camping,

banhos de cachoeira, religiosa. Especulação imobiliária, caça, pesca, agropecuária, queimadas, piscicultura,

extração de essências nativas: madeiras de lei, plantas ornamentais,

(principalmente bromélias e orquídeas).

Em 1909, no governo de Herculano Bandeira, foi criada a Comissão de

Saneamento, dirigida pelo engenheiro Francisco Saturnino Rodrigues de Brito,

que objetivava construir o sistema de esgoto sanitário e obras de abastecimento

d’água da Cidade do Recife.

Em 1918, estava solucionado o problema do manancial através da Barragem de

Gurjaú, com 37,5 km em tubos de 750mm (COMPESA, 1999). Para isso, foi

adquirida pelo Estado parte da área do Engenho São João, desapropriada há 90

anos, com fins de uso público, segundo a escritura pública lavrada em 27 de

agosto de 1913, no cartório ou tabelionato 3º Ofício de Notas Bel. Melânio Correia,

município do Cabo de Santo Agostinho. A área do Engenho São Salvador –

Jaboatão dos Guararapes foi desapropriada em 19 de fevereiro de 1925, no

Cartório ou Tabelionato 5º Ofício de Notas, município do Cabo de Santo

Agostinho, com o objetivo da construção e implantação da Estação de Tratamento

de água de Gurjaú, uma das três estações de abastecimento de água do Recife.

Entre 1980 e 1982, a FIDEM (Fundação de Desenvolvimento da Região

Metropolitana do Recife) elaborou um documento intitulado “Áreas Verdes –

Proposições para a Preservação”, que serviu de base para a elaboração do

documento “Reservas Ecológicas”, que definiu a área do Sistema Gurjaú como

Reserva Ecológica. Inicialmente no documento “áreas verdes” o Sistema Gurjaú

apresentava 1.077,10 hectares e depois no documento “Reservas Ecológicas” a

área aumentou para 1.362,02 hectares. A demarcação constou de três fases: foto-

interpretação para seleção das áreas que deveriam ser preservadas, trabalhos de

campo e sobrevôo para confirmação da situação da cobertura vegetal das áreas

(FIDEM,1993).

A FIDEM trabalhou com base nas “Áreas Verdes” e selecionou apenas as áreas

com cobertura vegetal de porte de mata, deixando de fora, talvez, áreas que

pertenciam à COMPESA, mas que estavam desprovidas de vegetação, por

estarem invadidas pela cana de açúcar ou lavouras de subsistência. Por este

método, o mais provável é que haja erros na demarcação da área.

A área desapropriada pela antecessora da COMPESA, em 1918, onde foi

demarcada com marcos de ferro e de pedra e uma carta, que se encontra no setor

de patrimônio e no arquivo do cadastro técnico da empresa, foi elaborada. Esta

área delimitada por marcos forma um polígono irregular e delimita o perímetro da

propriedade, conservado até então com matas, coincidindo em parte com o

perímetro delimitado pela FIDEM nas ortofotocartas de 1975 e 1988.

Entretanto, existem divergências entre os limites da propriedade da COMPESA e

o perímetro oficial da reserva.

Considerando-se de grande importância a situação fundiária da propriedade da

COMPESA e, conseqüentemente, da reserva, fez-se um levantamento referente à

questão fundiária de Gurjaú, como Escrituras Públicas de Compra e Venda de

terrenos daquela região (Engenhos São João e São Salvador), material este já

encontrado na DIVISÃO DE MATERIAL E PATRIMÔNIO da COMPESA, além de

plantas da área dos açudes de Gurjaú e Secupema.

Conforme o quadro de legenda da planta analógica encontrada no arquivo do

Cadastro Técnico da COMPESA, a área demarcada da planta referente ao

Engenho São Braz consta como terra em desapropriação (Plantas 00.01; 00.02;

00.03;00.04), o que pode aumentar consideravelmente a propriedade da

COMPESA. Entretanto, essas terras ainda não têm “registros conhecidos” e

pertencem aos limites da Reserva de Gurjaú, podendo vir a ser incorporada

quando da recategorização, através de uma negociação com a COMPESA, caso

essas informações sejam confirmadas.

Alguns projetos encontrados na COMPESA citam a possibilidade de aumento da

vazão de água a partir das barragens de São Braz, Secupema, e Gurjaú, bastando

para isto aumentar a oferta de água a partir da implementação de barragem com

capacidade para regular a vazão de 1m³/s a montante da barragem de Gurjaú. A

barragem ficaria no local conhecido por São Braz, onde estudos preliminares

teriam sido elaborados pela ACQUA-PLAN mostrando essa possibilidade

(COMPESA, 1998).

Os Engenhos de Gurjaú e São Salvador tiveram sua desapropriação executada e

averbada em cartório. A Área de São Brás ainda é uma incógnita a ser resolvida.

Indagados sobre o tema, os topógrafos da companhia apóiam a teoria de que a

área foi desapropriada, do contrário como seria possível a construção do limite da

represa em terras alheias?

3.4.1 Documentos Pesquisados na Divisão de Patrimônio da COMPESA.

• MAPA: Uma Planta do Açude de Gurjaú na escala 1:10.000. Desenho de J.

Cruz iniciada em 17/07/1940 - terminado 18/07/1940;

• PLANTA: Uma faixa de terra dos Engenhos a ser desapropriada, na Escala

1:2 000. Desenhado por Arsênio Campos em 01/10/1945.

• PLANTA: Da Represa Gurjahú com parte do Engenho São João anexada.

Escala 1:500. Copiado por J. Navarro desenhista de 2ª classe em

21/01/1937;

• PLANTA: Engenho São Salvador na Escala 1:5000. Sem assinatura, sem

data. Apenas a referência B-14;

• PLANTA: Açude Gurjahú. Na Escala 1:10.000. Desenho J. Cruz – em

17/07/1940 até 17/07/1940;

• PLANTA da Represa do Gurjahú e terras adjacentes. Escala 1:5 000. Cópia

de Fernando Cabral. Referência B-26. Remetido ao Setor de Patrimônio

pela CI DT 552/66 (provavelmente anterior a esta data) sem data de

confecção.

• ESCRITURA: Lavrada em 27/08/1913 – Engenho São João. Terreno:

Cartório ou Tabelionato 3º Ofício de Notas Bel. Melânio Correia livro 82,

folhas 61 a 69. Registrado sob o número livro 3-I folhas 30. Município do

Cabo de Santo Agostinho, dono do Engenho São João, Bacharel Carlos

Chance Boulitreau e Dona Mª Cordélia Boulitreau com planta levantada

pela Comissão do Saneamento assinada pelos outorgantes e pelo

Representante do Outorgado. OBS: OUTORGANTE VENDEDOR.

OUTORGADO DSE;

• ESCRITURA: Lavrada em 19/02/1925 – Engenho São Salvador – Jaboatão.

Cartório ou Tabelionato 5º Ofício de Notas, livro 40 folhas 17 a 21.

Registrado sob o número 1274 Município do Cabo. Livro 4-C folhas 18v a

19;

• DOC CI: Sr. Mário Coutinho, funcionário da DSE, pede escrituras para

fiscalizar demarcações e as mesmas não estarem nos respectivos lugares.

Anexo: processo de desapropriação do Engenho São Salvador 23/07/1931

- Recife: 12/06/1924.O imóvel será efetivamente desocupado no dia

30/04/1925. 17 páginas;

• ESCRITURA: Dr. Antônio Heráclito Carneiro Campello, funcionário público,

vendeu ao Sr. Oscar dos Santos Dias, agricultor, por 100 Contos de Réis

em 12/04/1921 que por sua vez...Dr. Antônio Campello e esposa

compraram de Dona Anna Elvira Carneiro Pereira viúva do Dr. Antônio

Gomes Pereira Júnior, Antônio Américo Carneiro.

Pereira e sua mulher Dona Othília Alves Carneiro Pereira, Dr. Joaquim

Américo Carneiro Pereira e Dona Maria América Carneiro Pereira em

08/07/1907.

3.4.2 Levantamento Topográfico

Os limites da Reserva Ecológica de Gurjaú e da Propriedade da COMPESA não

estão bem definidos e deram margens para a população residente, tanto na área

da Reserva, quanto a do Entorno, aumentarem a ocupação em detrimento da

cobertura vegetal.

Devido à evolução do Projeto, fez-se necessária a remarcação dos limites da

propriedade da COMPESA. O Levantamento Topográfico efetuado pela

companhia teve como objetivo a:

• Redefinição do perímetro da propriedade da COMPESA e da Reserva;

• Colocação de novos marcos de concreto em substituição aos antigos marcos

do Departamento de Saneamento do Estado - DSE.

O levantamento foi dividido, para fins metodológicos, em etapas e os seus

produtos foram utilizados para dar prosseguimento às etapas subseqüentes.

Na primeira etapa, foi feito um levantamento cartográfico nos arquivos de mapas

no Setor de Patrimônio e no Arquivo da COMPESA em busca de mapas, cartas,

ortofotocartas e fotos aéreas contendo o perímetro da Reserva demarcado. Os

dados obtidos serviram como guia base nas demarcações de campo.

Foram identificados os marcos existentes no campo, tendo como base os mapas e

a ajuda de moradores antigos da área. Esta etapa foi realizada ao percorrer todo o

perímetro da Reserva em sentido horário, partindo do Marco 1 próximo à entrada

da Estação de Tratamento de Água – ETA.

Após a identificação dos marcos, foram determinadas as coordenadas geográficas

através do Sistema de Posicionamento Global - GPS. De posse das informações

sobre os marcos presentes no campo, determinou-se a distância e o ângulo entre

os pontos plotados. Os demais marcos não encontrados no levantamento de

campo tiveram a localização determinada a partir das coordenadas dos marcos

plotados.

A partir dos dados geográficos dos marcos, começou-se a determinar as suas

localizações em campo com o uso de Teodolito, partindo do primeiro marco

próximo à entrada da ETA e seguindo no sentido horário por todo o perímetro da

Reserva. Além dos marcos nos vértices do perímetro, foram colocados marcos de

alinhamento entre eles, de forma que a distância entre os mesmos permitisse a

visualização de um para o outro.

Os pontos onde serão colocados os marcos definitivos foram inicialmente

demarcados com piquetes de madeira e sua localização determinada com o

Teodolito. Ao término da colocação dos piquetes por todo o perímetro, eles

deverão ser substituídos por marcos de concreto.

Os mapas encontrados contendo a demarcação do perímetro da Propriedade

pertenciam ao antigo DSE, sendo o principal deles a Planta da Represa de Gurjaú

e terras adjacentes. A Mencionada carta na escala de 1:10.000, data de 1938. As

Ortofotocartas com escala de 1:20.000: 79-00; 79-05; 78-05, demarcam as áreas

de proteção de mananciais determinadas pela Lei Estadual N° 9860 de 12 de

Agosto de 1986.

Foi verificado em campo que o perímetro da Reserva determinado pela Lei de

Proteção de Mananciais não condizia com o perímetro da propriedade da

COMPESA encontrado nos levantamentos de campo e nas cartas.

Tomando como base para a demarcação do perímetro as cartas da COMPESA,

que delimitam as áreas desapropriadas pela Companhia para a construção de

barragens do Sistema Gurjaú, a área da Reserva Ecológica que consta da

legislação é maior do que a da propriedade.

Verificou-se uma grande defasagem nas informações contidas nos arquivos da

COMPESA, pois as cartas encontradas, além de estarem em péssimo estado de

conservação, datavam do começo do século passado. Existe um lapso de

informação sobre novas desapropriações decorrentes da construção da barragem

de Sucupema e da ampliação da barragem de Gurjaú.

Atualmente, o traçado do perímetro do mapa no Setor de Patrimônio da

COMPESA atravessa o Rio Gurjaú sobre o espelho d’água da barragem, deixando

de fora uma parte do lago.

O levantamento de campo teve início no dia 02 de Setembro de 2003 no qual

foram identificados aproximadamente 60 marcos, tanto de vértice como de

alinhamento. A determinação das coordenadas dos pontos com o GPS ocorreu

concomitantemente com o levantamento dos marcos no perímetro, de forma a

otimizar o tempo de execução do projeto. Foram determinadas as coordenadas de

30 % dos marcos encontrados (como mostra a Tabela 3). A localização geográfica

relativa a eles foi determinada com o GPS para possibilitar o trabalho de

Topografia em campo (Tabela 4).

Tabela 03 - Coordenadas dos marcos antigos encontrados no Levantamento de Campo *

Marcos E N H Ortom (m)03 0274399 9088555 40,88704 274206 9088440 16,00005 274086 9088461 15,67108 274022 9088473 16,19909 273889 9089112 -10 273739 9089342 -11 273369 9089072 -12 273247 9088974 -13 273104 9088878 -15 272477 9088458 -17 272151 9088562 -19 271694 9088992 -20 271396 9089274 -28 270876 9093460 -34 270913 9094982 -38 273803 9093554 -

*Coordenadas em UTM.

Tabela 04 - Localização dos Marcos encontrados no Levantamento de Campo

Marcos Azimute Distancia (m)*03 - 000,00004 278°51’53” 140,10005 284°48’33” 187,44308 336°01’33” 518,79709 025°18’05” 181,72010 326°51’56” 275,19211 233°44’50” 458,57912 224°27’30” 135,77813 240°26’05” 194,90015 236°11’10” 755,54417 287°37’52” 341,15718 313°14’42” 117,90019 313°14’57” 509,455

20 313°26’49” 411,04923 014°34’26” 1.182,00728 344°57’33” 3.149,86234 001°22’50” 1.522,41038 116°16’26” 3.223,122

*Precisão de menos de 10 centímetros.

3.5 Principais Características3.5.1 Descrição da área de Influência

A área de Influência da Reserva Ecológica de Gurjaú pode ser definida como

aquela que exerce alguma interferência direta sobre a Unidade. Neste contexto

são considerados os Municípios onde a reserva está inserida - Jaboatão dos

Guararapes, Cabo de Santo Agostinho e Moreno.

A Área de Influência da Reserva foi definida não só a partir de sua inserção

geográfica, mas também das relações que esta Unidade mantém com seu entorno

imediato, seja através de ações de fiscalização, seja através de potenciais vetores

de transformação antrópica oriundos de áreas circunjacentes. Estes vetores são

definidos como potenciais forças de pressão para o uso antrópico na região da

Reserva de Gurjaú.

Tentou-se com esta contextualização inserir a Reserva em um quadro sujeito a

mudanças antropogênicas, frutos de processos desenvolvimentistas deflagrados

pela presença de políticas públicas empreendidas naquela região, principalmente

as de incentivo à Agropecuária. Assim, a Reserva fica exposta às formas de

pressão que são exercidas, direta e indiretamente.

As atividades e políticas públicas empreendidas na área do entorno regional

podem confrontar, em maior ou menor grau, com os objetivos conservacionistas

que motivaram a criação da Reserva. Em termos de interferências administrativas,

os órgãos municipais e estaduais poderiam vir a intervir com agentes ativos

essenciais no processo de conscientização ambiental das comunidades do

entorno.

Por outro lado, são várias as vertentes para entender e contextualizar a Área de

Influência da Reserva de Gurjaú, uma vez que a Unidade não pode ser

insularizada e reduzida ao espaço físico que ocupa. Sua influência deve ser

entendida de dentro para fora e vice-versa, o que oferece diferentes perspectivas

de denotar esta área onde diversos fatores podem ser identificados.

3.5.2 Aspectos Abióticos3.5.2.1 Características geoambientais

Os organismos dependem de outros organismos e dos fatores físicos do ambiente

que os rodeiam. O fracasso de qualquer um desses elementos poderá, e quase

sempre assim acontece, levar a uma seqüência de modificações no equilíbrio do

todo. Essa totalidade de ações e reações são traduzidas na fisionomia das

paisagens, na dependência de processos físicos, químicos e biológicos, realizados

na intimidade, das águas, dos solos ou dos seres vivos, constituem e caracterizam

o ambiente (ANDRADE LIMA, 1989).

Os fatores de maior influência nos processos ecológicos são clima, solo, água no

solo, relevo, ventos e fogo.

CONDIÇÕES CLIMÁTICAS

O clima é o tempo (meteorológico) num longo prazo, e o termo “tempo” é usado

para exprimir as condições diárias da atmosfera (WOODBURY, 1954 op cit LIMA,

1989).

O clima tem ação condicionadora constante sobre os demais fatores abióticos. Na

área da Reserva, ele é quente e úmido do tipo As’, pseudotropical, da

classificação de Köppen, com chuvas de outono-inverno que caracterizam a Zona

da Mata Pluvial, apresentando precipitações de 2.450mm anuais, relativamente

bem distribuídas ao longo do ano, ao passo que o período seco abrange, em

geral, os meses de outubro a dezembro.

Com base nos ritmos de temperatura e precipitação durante o ano, e de acordo com o

diagrama ombrotérmico de GAUSSEN (apud Ribeiro; Le Sann 1985), a área apresenta

dois períodos climáticos, possuindo um mês considerado seco, novembro - quando foram

registrados, no período de 1962 a 1990 (dados médios - INMET) os menores índices

pluviométricos -, denotando o ápice da estação seca (com menos de 60mm por mês)

(Figura 2).

Figura - 2

Os maiores índices de evaporação ocorreram nos meses de outubro a fevereiro,

atingindo os 141,2 mm em outubro, mantendo-se crescente até fevereiro quando

atinge 153,3 mm. Também neste período, verifica-se maior número de horas de

insolação, atingindo 260 horas e 9 décimos em novembro, o que coincide com as

maiores velocidades dos ventos a partir de agosto, 3,4 m/s, até dezembro, 3,2

m/s, com um suave acréscimo no mês de novembro, 3,3m/s.

Predominam durante os meses de outubro a março os ventos SE/E e durante os

meses de abril a setembro, os ventos SE/S.

Tabela 5 – Valores de evaporação, insolação e velocidade dos ventos ocorrentes em Recife – PE

(1962-1990)

MESES EVAPORAÇÃO INSOLAÇÃO DIREÇÃO DO VEL. DO

TOTAL (mm.) TOTAL(hs e

décimos)

VENTO VENTO m/s

JANEIRO 135,4 242,6 SE/E 3,1FEVEREIRO 153,3 210,4 SE/E 2,9

MARÇO 97,0 208,3 SE/E 2,4ABRIL 76,6 183,4 SE/S 2,3MAIO 70,2 187,5 SE/S 2,3

JUNHO 73,0 168,6 SE/S 2,6JULHO 77,7 165,4 SE/S 2,9

AGOSTO 99,2 206,9 SE/S 3,4SETEMBRO 114,5 217,2 SE/S 3,3OUTUBRO 141,2 253,9 SE/E 3,2

NOVEMBRO 140,1 260,9 SE/E 3,3DEZEMBRO 145,3 251,3 SE/E 3,2

ANO 1323,4 2556,4 SE/S 2,9Fonte: 3º DISME – DNEMET – RECIFE – PE

RELEVO/ GEOMORFOLOGIA

A reserva ecológica de Gurjaú esta assentada sobre um relevo de Complexo

Cristalino e da Formação Cabo. Apresenta altitudes que variam entre 80m e

130m, com características de uma região tropical úmida. Encontra-se na área os

mares de morros, paisagens de formas de relevo modeladas em rochas muito

antigas, constitutivas do embasamento Cristalino (CPRH, 1999b, p.6), esculpidas

à custa de processos de decomposição química e escoamento superficial das

precipitações (ANDRADE LINS; LINS 1984, p. 36). Como resultante de várias

rupturas ocorridas em diferentes idades geológicas, essa estrutura cristalina

apresenta um grande número de falhas e fraturas, capazes de direcionar o traçado

da rede fluvial (ANDRADE; LINS, 1984, p. 26).

As várzeas de depósitos holocênicos penetram no litoral apresentando uma

extensa planície de inundação, pela contribuição das várzeas de pequenos

afluentes, por isso foi o local escolhido para a construção da represa para o

abastecimento do Recife (ANDRADE; LINS, 1984, p. 29).

SOLOS

Comumente na área do eixo barrável e proximidades encontra-se o solo produto

de alteração de rochas cristalinas, em geral, com coloração avermelhada e de

composição argilo-arenosa, variando em alguns pontos para areno-argiloso, ou

localmente arenoso. Apresenta espessura variável, dependendo do tipo de rocha

decomposta, podendo atingir, em certos locais, mais de 20 metros.( ACQUA-

PLAN, 1997).

Esses solos são bastante susceptíveis à erosão em decorrência do relevo

acidentado com fortes declividades e profundidades.

De acordo com o levantamento Exploratório e de Reconhecimento de Solos do

Estado de Pernambuco (1973), nesta área ocorre associação de Latosolo

Vermelho Amarelo Distrófico, textura argilosa, fase floresta subperenifólia, relevo

ondulado, e forte ondulado com Podzólico Vermelho Amarelo latossólico, textura

argilosa, fase floresta subperenifólia, relevo forte ondulado e Podzólico Vermelho

Amarelo orto, fase floresta subperenifólia, relevo forte ondulado (ACQUA-PLAN,

1997).

Nas cabeceiras do rio Gurjaú, ocorre o solo (PVs) Podzólico Vermelho Amarelo

orto fase floresta subperenifólia relevo forte ondulado (ACQUA-PLAN,1997).

De acordo com o zoneamento agroecológico do Estado de Pernambuco, mapa de

reconhecimento de solo, a área da Reserva Ecológica de Gurjau abriga os

seguintes solos:

LA9 – Latossolo amarelo textura argiloso e muito argiloso. Relevo é suave

ondulado e suave ondulado com partes planas + pdzólico amarelo e vermelho-

amarelo latossólico e não latossólico. Textura média e argilosa/argilosa e muito

argilosa. Relevo forte ondulado e ondulado, ambos álicos e distróficos A mod.

Floresta subperenifólia + gleissolo e cambissolo glêico distrófico e eutrófico A

mod. Textura indisc. Floresta subperenifólia e campo de várzea. Relevo plano (40-

40-20%).

G1 – Gleissolo + cambissolo glêico substrato fluvial, ambos distróficos + solos

aluviais e eutrófico; Textura argilosa e média. Floresta subperenifólia e campo de

várzea. Relevo plano + podzólico amarelo e acinzentado álico e distrófico plíntico

e não plíntico. Textura média/argilosa. Floresta subperenifólia e suave ondulado;

todos Tb e Ta mod. E proem.

PV6 – Podzólico vermelho-amarelo + podzólico amarelo, ambos álicos e

distróficos latossólico e não latossólico + podzólico vermelho-escuro distrófico e

eutrófico; Todos Tb A mod. Textura média/argilosa. Floresta subperenifólia.

Relevo ondulado e forte ondulado (50-30-20%).

PV11 – Podzólico vermelho-amarelo Tb profundo e pouco profundo. Textura

média/média e argilosa + solos litosólicos. Textura média e argilosa com cascalho

a cascalhamento. Substrato gnaisse e migmalito, ambos distróficos A mod. E

proem. Floresta subperenifólia. Relevo forte ondulado e montanhoso +

afloramento de rocha (40-35-25%).

PV3 – Podzólico vermelho-amarelo profundo e pouco profundo. Textura

média/argilosa + cambissolo pouco profundo. Textura argilosa com cascalho a

cascalhamento. Substrato gnaisse e granito, ambos Tb + solos litólicos. Textura

média e argilosa substrato gnaisse e granito; Todos distróficos. A mod. Floresta

subperenifólia. Relevo ondulado e forte ondulado (50-25-25%).

LA3 – Latossolo amarelo álico e distrófico. A mod. Textura argilosa. Floresta

subperenifólia. Relevo plano e suave ondulado.

G2 - Gleissolo + cambissolo glêico Tb e Ta substrato sedimentos fluviais ambos

distróficos + solos aluviais distróficos e eutróficos; todos A mod. E proem. Textura

argilosa e média floresta subperenifólia e campo de várzea. Relevo plano.

PV2 – Podzólico vermelho-amarelo Tb distrófico. Textura média/média e argilosa

+ podzólico vermelho-amarelo Tb e Ta álico e distrófico plíntico. Textura

média/argilosa, ambos textura média/média e argilosa. Relevo ondulado +

cambissolo Tb e Ta distrófico raso e pouco profundo. Textura argilosa com

cascalho a cascalhamento. Relevo ondulado. Substrato gnaisse e granito; Todos

A. mod. E proem. Floresta subperenifólia (50-30-20%).(EMBRAPA, 1999).

HIDROGRAFIA/ HIDROLOGIA

A Reserva está inserida na Bacia do Rio Pirapama que é formada por vários

tributários, o maior deles é o rio Gurjaú que encontra-se na margem esquerda,

fazendo parte como subacia (CPRH,1998). O rio Gurjaú entra na reserva pela sua

porção Oeste formando o açude do Gurjaú, que possui captação máxima de

3.200.000 m³ de água (SRH, 2001).

Os açudes de Gurjaú e Secupema asseguram, em épocas normais, a vazão de

960 litros de água por segundo, para abastecimento de Ponte dos Carvalhos,

Pontezinha, Muribeca dos Guararapes, Prazeres e parte do bairro de Boa Viagem.

(ACQUA-PLAN, 1997).

Após a barragem de Gurjaú, o rio segue formando cachoeira e poço. O poço

redondo localizado no leito do rio a jusante da barragem é uma área mais

profunda que foi provavelmente escavada pela correnteza. A cachoeira é um

atrativo local onde o leito do rio forma uma corredeira e quedas naturais. Quando

o volume de água do rio diminui, geralmente nos meses da estação seca, ele seca

por alguns dias. Periodicamente a água do rio, após a barragem, nas

proximidades da cachoeira, apresenta elevada turbidêz proveniente da lavagem

dos tanques de flotação da Estação de Tratamento de Água da COMPESA,

provocando contaminação por resíduos do tratamento químico da água e

conseqüente morte de peixes e crustáceos.

Após a cachoeira, o Gurjaú deixa os limites da reserva, atravessa a estrada de

acesso a Pau Santo e segue em sentido à Usina Bom Jesus. Nesse trecho o leito

do Gurjaú é bastante assoreado, com várias dragas escavando seu leito,

provocando modificações no curso normal do rio e subtração de margens de fundo

arenoso.

A exploração mineral existente em diversos pontos do rio é informal, resultado da

falta de controle da atividade, trazendo sérios impactos sobre o meio, tais como

erosão de encostas de morros, desbarrancamento de terraços fluviais e

assoreamento do rio. CPHR, 1998.p.94.

O rio Gurjaú tem uma bacia hidrográfica de 114 Km2 e corta a região com um

curso aproximadamente NW-SE, formando em alguns trechos os denominados

‘riachos de fendas’, onde ocorrem as coincidências da drenagem superficial com

as fraturas de embasamento rochoso. É facilmente reconhecida em fotografias

aéreas e mesmo “in situ”, devido à retilineidade e mudanças bruscas de direção

( ACQUA PLAN, 1997).

O rio e seus afluentes formam uma drenagem dendrítica-retangular, não muito

densa que se desenvolve em terrenos cristalinos. A drenagem é bem

desenvolvida e as variações de descarga fluvial durante o ano, e de ano para ano,

estão condicionadas pela distribuição anual das chuvas e pelas irregularidades

das precipitações (ACQUA PLAN, 1997).

No interior da reserva, o Gurjaú recebe na sua margem esquerda o afluente

“riacho São Salvador”, que corta o Engenho de mesmo nome. Este, junto com o

Engenho Secupema, foi desapropriado para construção de 2 açudes. O açude de

Secupema, com capacidade de 3.200.00 m3 de água e 97m, de extensão e o

açude de São Salvador.

Estes açudes encontram-se com trechos de suas margens assoreados por

cultivos, desmatamentos da mata ciliar e em processo de eutrofizaçao artificial dos

seus corpos d’água, devido a descargas de agrotóxico e herbicidas utilizados na

cana-de-açúcar e na lavoura branca.

Na área de São Salvador, segundo moradores locais, existem aproximadamente

200 nascentes, que abastecem o açude de Secupema e Gurjaú. São áreas de

várzeas drenadas, ou planícies aluvionares impactadas pela pressão antrópica. O

mapeamento foi iniciado, visitando-se 12 nascentes em São Salvador. Utilizou-se

critérios como vazão, altitude, tipo e demanda de uso, tamanho e interferências

externas que pudessem ocasionar a perda de vazão da nascente.

As nascentes visitadas apresentavam-se desprovidas de vegetação em seu

entorno imediato, expostas aos raios solares. Continham água de qualidade,

aparentemente boa. Ao redor de algumas foram construídas proteções de tijolos e

canos para saída da água. Aferiu-se a altitude com o GPS, estando as 12

nascentes a 111m, (algumas possuíam bomba elétrica para conduzir a água para

as casas). Lavouras brancas como macaxeira, inhame, batata, feijão e cana foram

encontrados ao redor. Outras nascentes estavam cobertas para impedir o acesso

de animais e contaminação. Cavalos e bois são criados nas várzeas onde estão

as nascentes. E perto de algumas, banheiros improvisados foram instalados, no

meio do canavial.

Descrição das nascentes visitadas:

Nascente 1: Próxima à casa de Everaldo (proteção de tijolos), com fruteiras

próximas e lavoura branca.

Nascente 2: Próxima à Braz Padre (proteção de tijolos), motor de “sapinho”, com

plantação de macaxeira ao redor.

Nascente 3: Próxima ao Sr. Antônio Vermelho, esta abastece o riacho de São

Salvador e três casas (com cana-de-açúcar e capim elefante ao redor).

Nascente 4: Próxima ao Sítio do Irmão Nilo. Bem cuidada com antiga proteção de

tijolos ao redor (cerca de 35 anos), coberta com madeira e bomba d’água.

Nascente 5 e 6 : Próximo ao Sítio de Mira (filha de Irmão Nilo), dois olhos d’água:

desprovida de proteção: poluída por resíduos domésticos (sabão).

Nascente 7 e 8: Perto do Sítio de Dé (coberta com telhas), boa vazão, corre para o

riacho São Salvador.

Nascente 9: Próxima à casa de Antônio Jorge, possui uma levada usada para

lavar roupa.

Nascente 10: Próxima à casa de Antônio Jorge, foi escavada, possui

aproximadamente 1,80m de profundidade, formando cacimba, com água límpida.

Nascente 11: Próximo ao sítio de Antônio Henrique, Cacimba da Prata: fora da

área da reserva, abastece o riacho do engenho Rico, possui vazão de cerca de 20

l/s, protegida com muro de tijolo (várias nascentes próximas).

Nascentes 12: Próximo ao sítio de José Antônio da Silva, nascente do Pitu

Dourado: fora da área da reserva, no seu entorno imediato, abastece o riacho do

Engenho Rico, vazão de cerca de 20 l/s.

Segundo os relatórios de qualidade da água, elaborados pela secretaria de

recursos hídricos, nos anos 1999-2000, a água do reservatório de Gurjaú

apresenta “excelente qualidade”, dentro dos padrões, segundo os parâmetros

analisados no monitoramento trimestral, estabelecidos na classe 3 da resolução

CONAMA Nº 20 de 1986, que determina os padrões da água destinada ao

abastecimento doméstico. (CAMINHA 2002).

Porém, o avanço da agricultura, a falta de saneamento básico e o uso doméstico

contribuem para o comprometimento das nascentes.