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  • 1

  • 2

    Governo do Estado de Pernambuco

    Governador: Paulo Henrique Saraiva Cmara

    Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade - Semas

    Secretrio: Srgio Lus de Carvalho Xavier

    Secretrio Executivo: Carlos Andr Vanderlei Vasconcelos Cavalcanti

    Gerente Geral de Desenvolvimento Sustentvel: Paulo Teixeira

    Agncia Estadual de Meio Ambiente - CPRH

    Diretor Presidente: Eduardo Elvino Sales de Lima

    Diretor de Recursos Florestais: Walber Allan de Santana

    Diretor de Controle de Fontes Poluidoras: HellderHallender Cruz Nogueira

    Diretor de Gesto Territorial e Recursos Hdricos: Nelson Maricevich

    Diretor Tcnico Ambiental: Paulo Camaroti

    Equipe Tcnica

    Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade - Semas

    Andrea Olinto

    Eliane Basto

    GianninaCysneiros

    Luiz Costa

    Rafael Siqueira

    Rodolfo J. V. Arajo

    Sidney Vieira

    Agncia Estadual de Meio Ambiente CPRH

    Carlos Moror

    Liana Melo

    Mara Braga

    Raoni Luna

    Apoio Tcnico

    Adriane Mota

    Fotos

    CPRH, Daniel Lippi, Marcus Vinicius, Sidney Vieira & Simone Marques

  • 3

    PROPOSTA DE CRIAO DA REA DE PROTEO AMBIENTAL

    MARINHA RECIFES SERRAMBI

    SUMRIO

    APRESENTAO ................................................................................................

    INTRODUO ......................................................................................................

    05

    07

    1. OBJETIVOS ..................................................................................................... 11

    2.JUSTIFICATIVA.................................................................................................. 13

    3. DESCRIO DA REA MARINHA .................................................................. 19

    4. CARACTERIZAO DA REA PROPOSTA .................................................... 23

    4.1. Localizao e limites ........................................................................... 26

    4.2. Aspectos do Meio Fsico ..................................................................... 29

    4.3. Aspectos do Meio Bitico .................................................................... 40

    4.4. Conectividade Ecossistmica ............................................................. 48

    4.5. Aspectos do Meio Socioeconmico ................................................... 51

    5. PROPOSIO DA CATEGORIA DE MANEJO ............................................... 62

    6. SISTEMA DE GESTO INTEGRADO .............................................................. 65

    REFERNCIAS .................................................................................................... 69

  • 4

  • 5

    APRESENTAO

    Pernambuco, assim como o Brasil, surgiu para o mundo pela costa litornea. So 187

    quilmetros de ambiente praial, onde o processo de colonizao e ocupao do Estado se

    deu beira-mar, e segue at hoje, tendo como base um modelo de desenvolvimento

    econmico que impulsionou grandes alteraes, presses, tenses e degradao no

    territrio, com efeito cumulativo ao longo do tempo e espao.

    O nosso litoral, com beleza cnica impar, um dos mais densamente povoados do Brasil.

    a que quase metade da populao pernambucana mora, se alimenta, trabalha, produz,

    se movimenta e se diverte. Apesar de sua resilincia, a vida marinha e estuarina de nosso

    litoral j demonstra fortes sinais de esgotamento.

    Sob o desafio de harmonizar a economia e a ecologia, o Governo de Pernambuco vem

    formulando estratgias inovadoras de polticas pblicas ambientais interconetadas que

    priorizam a conservao da biodiversidade e do ambiente marinho, visando o

    desenvolvimento sustentvel do territrio.

    Nesse sentido, a SEMAS e a CPRH vm submeter Sociedade, por meio de Consulta

    Pblica, esta proposta tcnica, amplamente debatida com os diversos setores

    interessados ao longo dos ltimos 6 meses, e que prope o processo de criao da

    primeira Unidade de Conservao Estadual exclusivamente em ambiente marinho a

    APA Marinha Recifes Serrambi.

    Desenvolvida no mbito do Grupo Tcnico da SEMAS/CPRH, essa proposta tem o

    objetivo de integrar e ordenar os mltiplos usos dos 84 mil hectares marinhos situados no

    litoral sul pernambucano, envolvendo os municpios de Ipojuca, Sirinham, Rio Formoso e

    Tamandar, em harmonia com a conservao dos ecossistemas costeiros.

    Desejamos, assim, estimular a dinmica positiva de aes e de compartilhamento de

    reponsabilidades em defesa do ambiente marinho do litoral sul de Pernambuco, que

    sem dvida um smbolo e orgulho para os pernambucanos, com algumas das praias mais

    belas do litoral brasileiro.

    Srgio Lus de Carvalho Xavier

    Secretrio de Meio Ambiente e Sustentabilidade - SEMAS

    Eduardo Elvino Sales de Lima

    Diretor Presidente da Agncia Estadual de Meio Ambiente - CPRH

  • 6

    INTRODUO

  • 7

    INTRODUO

    O litoral pernambucano, um dos mais densamente povoados do Brasil, apresenta

    grande beleza cnica, rica biodiversidade e fortes presses de uso pelas populaes

    humanas. Moradias, veraneio, turismo, pesca, atividades nuticas, reas porturias, plos

    industriais, entre outras atividades socioeconmicas, so alguns dos usos que incidem na

    regio costeira e geram impactos diretos ou indiretos na rea marinha.

    Tendo em vista a fragilidade dos ambientes costeiros e marinhos e a importncia

    de sua conservao, estes usos precisam ocorrer na perspectiva da sustentabilidade,

    visando manuteno e o equilbrio da biodiversidade e a perenidade dos servios

    ecossistmicos e ambientais, como o provimento de alimentos, lazer e oxignio.

    Os ambientes costeiros e marinhos so considerados como reas prioritrias para

    a conservao, contempladas em diversos documentos tcnico-cientficos e diretrizes de

    polticas ambientais, em mbito internacional, nacional e estadual, inclusive com

    recomendaes de criao de Unidades de Conservao (UCs).

    Alguns exemplos so a Conveno da Diversidade Biolgica (ONU, 1992);

    Conveno de Zonas midas de Importncia Internacional (Conveno RAMSAR, 1971);

    reas Prioritrias para a Conservao, Uso Sustentvel e Repartio de Benefcios da

    Biodiversidade Brasileira (MMA, 2007); Atlas Recifes de Corais em Unidades de

    Conservao Brasileira (MMA/SBF, 2003); Plano de Ao Nacional PAN Peixe-Boi

    (MMA, 2010), Atlas da Biodiversidade de Pernambuco (SECTMA, 2002); e a Poltica da

    Pesca Artesanal (SEMAS, 2015).

    Neste sentido, observa-se que as Unidades de Conservao apresentam-se como

    uma importante estratgia para a proteo dos ambientes, tendo em vista que a partir de

    sua criao os diversos segmentos atuantes na rea so envolvidos no planejamento e na

    definio de aes de conservao, preservao e estmulo aos usos sustentveis das

    reas protegidas.

    Em Pernambuco h apenas trs Unidades de Conservao estaduais que

    contemplam reas marinhas em parte de seus territrios: a APA Fernando de Noronha; a

    APA de Santa Cruz, no litoral norte; e a APA de Guadalupe, no litoral sul. Estas,

    entretanto, respondem por partes terrestres, alm de suas pores marinhas.

  • 8

    Sendo assim, o Estado de Pernambuco h anos vem amadurecendo a

    necessidade e oportunidade de proteger seu ambiente marinho, e neste momento

    apresenta esta proposta de criao da rea de Proteo Ambiental (APA) Marinha

    Recifes Serrambi que, sendo aprovada, ser a primeira UC exclusivamente marinha de

    Pernambuco.

    Esta proposta abrange cerca de 83 mil hectares de rea marinha no litoral sul do

    Estado, apresentando conexo com outras Unidades de Conservao em seu entorno,

    com potencial para ser trabalhada a gesto com viso integrada do territrio, fortalecendo

    a bioconectividade, a manuteno dos estoques pesqueiros e as prticas sustentveis.

    O indicativo de Unidades de Conservao no litoral sul de Pernambuco

    evidenciou-se em 2006, quando foi apresentado CPRH o Estudo de Impacto Ambiental

    (EIA) da Refinaria Abreu e Lima (RENEST - Ipojuca), que apontou a importncia de

    criao de um mosaico de UCs marinhas e estuarinas no litoral pernambucano. Em 2013

    a SEMAS e a CPRH discutiram sobre a questo e iniciaram a elaborao de uma

    proposta, que veio a ser apresentada em 2014 em Consulta Pblica e na reunio do

    Conselho Estadual de Meio Ambiente (CONSEMA/PE). Esta foi a proposta de criao da

    APA Marinha Pernambuco, que abrangeria todo o litoral pernambucano, e que no foi

    aprovada, por ser uma rea muito ampla. No sentido de trabalhar a proposio de criao

    de UCs costeiro-marinhas em reas mais especficas, em 2015 a CPRH lanou o Edital

    n01/2015, visando o apoio a projetos para definio de reas para criao de UCs, mas

    este edital no teve nenhum projeto aprovado.

    Em 2016 a SEMAS e a CPRH avaliaram as principais problemticas costeiras e

    oportunidades para a criao de UCs no litoral pernambucano, definindo por trabalhar

    uma proposta para o litoral sul, em rea com significativa presena de recifes de corais,

    espcies ameaas e usos diversos. Neste sentido, em 2017 foi criado um Grupo de

    Trabalho com servidores da SEMAS e da CPRH, para a elaborao da proposta da APA

    Marinha Recifes Serrambi.

    O processo de criao desta Unidade de Conservao ocorreu no perodo de

    fevereiro a setembro de 2017, contando com as etapas de elaborao da Proposta

    Tcnica e os debates com a sociedade. Este processo foi bastante participativo, tendo

    sido realizadas 19 reunies para a socializao e discusso da proposta junto aos

    segmentos sociais, contando com o envolvimento dos diversos atores institucionais e da

    sociedade civil. Aps as reunies especficas, foi tambm realizada uma Oficina, contando

  • 9

    com representantes dos diversos segmentos juntos.

    Ainda integrante do processo de compartilhamento das informaes e de escuta da

    sociedade, foi disponibilizado no site da SEMAS e da CPRH o Resumo Executivo da

    Proposta de Criao da APA MAR, o Registro das Reunies com os Atores Sociais e o

    Relatrio da Oficina, alm de ter sidodisponibilizado um e-mail para sugestes, dvidas e

    interaes sobre a proposta.

    O processo participativo visou ampliao do conhecimento sobre a proposta, a

    obteno de sugestes e o amadurecimento coletivo da mesma. Contou-se com a

    participao de instituies de ensino e pesquisa, Organizaes da Sociedade Civil,

    comunidades locais, pescadores, veranistas e as trs esferas do poder pblico, nos

    municpios relacionados: Tamandar, Rio Formoso, Sirinham, Ipojuca e Recife. A partir

    das apresentaes e discusses realizadas junto sociedade, foram incorporadas

    diversas contribuies na Proposta Tcnica.

    Assim, a proposta de criao da APA Marinha Recifes Serrambi visa conciliar os

    diversos usos da rea, em consonncia com a proteo dos ecossistemas costeiros e

    marinhos, potencializando os usos sustentveis do ambiente.

  • 10

  • 11

    1. OBJETIVOS

    Contituem objetivos da rea de Proteo Ambiental Marinha Recife Serrambi:

    I. Proteger a biodiversidade dos ambientes costeiro e marinho, com nfase nas

    espcies endmicas, raras e ameaadas de extino, considerando suas

    caractersticas e dinmicas ecossistmicas.

    II. Garantir a conservao do ambiente recifal, com sua fauna, flora, formao

    geolgica e funes ecossistmicas.

    III. Garantir a conectividade entre os diversos ambientes, visando conservao da

    biodiversidade, recuperao dos estoques pesqueiros e manuteno dos servios

    ambientais e ecossistmicos.

    IV. Conciliar e ordenar os diversos usos dos ambientes costeiro e marinho,

    considerando atividades pesqueiras, nuticas, manejo de reas, turismo e demais

    atividades socioeconmicas, compatiblizando-as com a conservao ambiental.

    V. Fortalecer a pesca artesanal, incentivando o manejo sustentvel dos recursos

    naturais.

    VI. Fortalecer o turismo sustentvel, incentivando boas prticas na implantao de

    atividades tursticas e o turismo de base comunitria.

    VII. Apoiar atividades de pesquisa, produo e sistematizao de conhecimentos

    sobre a biodiversidade, aspectos socioambientais e de gesto da rea, entre outros,

    valorizando os saberes cientficos e empricos.

    VIII. Estimular a participao social, por meio de educao ambiental, prticas

    sustentveis e desenvolvimento de estratgias de conservao e preservao.

    IX. Garantir a manuteno da paisagem dos ambientes costeiro e marinho.

  • 12

  • 13

    2.JUSTIFICATIVA

    A proposta de criao da Unidade de Conservao APA Marinha Recifes Serrambi

    est fundamentada, sobretudo, na importncia da conservao dos ecossistemas costeiro

    e marinho, da potencializao de usos sustentveis do ambiente e da mediao de

    conflitos de usos na rea em questo.

    Nessa rea so encontrados recifes costeiros, recifes profundos, paleocanais,

    pradarias de fanergamas e a conectividade com esturios, constituindo um mosaico de

    grande importncia para diversas espcies marinhas, que durante o seu ciclo de vida se

    desenvolvem em diferentes ambientes, demonstrando assim uma interconectividade

    (FERREIRA & MAIDA, 2006; FALCO, 2012).

    Associado a isso, Ray &Grassle (1991) referem-se aos ecossistemas costeiro e

    marinho tropicais como os mais ricos e, ao mesmo tempo, os menos conhecidos do

    planeta, sobretudo no que se refere biodiversidade. Essas constataes reforam a

    importncia do estabelecimento de estratgias para a conservao, a realizao de

    pesquisas e a sistematizao de informaes sobre esse ambiente - elementos estes que

    devem ser potencializados com a criao da APA Marinha ora proposta.

    A criao da APA Marinha Recifes Serrambi corrobora tambm para o atendimento

    meta estabelecida na Conveno de Diversidade Biolgica, assinada durante a

    conferncia das Naes Unidas durante a Rio 92, da qual o Brasil signatrio. Esta

    Conveno um tratado da Organizao das Naes Unidas voltado para a conservao

    e proteo da biodiversidade, e objetiva viabilizar at 2020 um percentual mnimo de 10%

    das zonas costeiras e marinhas conservadas em reas. Esta deciso segue o

    reconhecimento mundial da importncia dos ecossistemas costeiros e marinhos como

    fonte de recursos pesqueiros, outros recursos vivos e minerais, manuteno do clima,

    proteo da costa, controle de inundaes, usos recreativos, tursticos, paisagsticos,

    dentre outros.

    Em 1999, com base no Diagnstico Socioambiental do Setor Sul do Litoral

    Pernambucano, foi institudo por meio do Decreto 21.972/99 o Zoneamento Ecolgico-

    Econmico Costeiro ZECC. Este indica metas ambientais, das quais destacam-se para a

    Zona Martima que os recursos marinhos devem ser manejados de forma sustentvel e os

    recifes conservados e protegidos e com seu uso ordenado. Alm disso, estabelece como

    atividades a serem incentivadas: pesquisa para definir capacidade de suporte dos recifes;

  • 14

    elaborao do zoneamento e regulamentao do uso dos recifes; ecoturismo marinho;

    tecnologia de pesca adequada ao uso sustentvel dos estoques pesqueiros; mecanismos

    de fiscalizao para o efetivo cumprimento das leis; e regulamentao e controle da pesca

    de arrasto do camaro.

    Observa-se ainda que a proposta de criao desta APA est em consonncia com os

    estudos e documentos tcnico-cientficos que indicam esse ambiente costeiro e marinho como

    rea prioritria para a conservao, conforme alguns relacionados a seguir.A Portaria n.

    9/2007, do Ministrio do Meio Ambiente, sobre reas Prioritrias para a Conservao, Uso

    Sustentvel e Repartio de Benefcios da Biodiversidade Brasileira (Figura 1), considera a

    zona costeira como de extrema e muito alta importncia biolgica e estabelece como uma de

    suas diretrizes que as reas marinhas devem ser criadas e geridas visando conservao da

    biodiversidade e recuperao dos estoques pesqueiros (MMA, 2007).

    Figura 1 - Mapa das reas prioritrias para a conservao, uso sustentvel e repartio dos benefcios da biodiversidade brasileira.

    Fonte: MMA (2017).

    Outra importante ferramenta que subsidia as aes do Poder Pblico na Zona

    Costeira o Macrodiagnstico da Zona Costeira e Marinha - MACRO, instrumento de

    gesto do territrio que rene informaes em escala nacional sobre as caractersticas

  • 15

    fsico-naturais e socioeconmicas da costa (Figura 2). Sua finalidade orientar aes de

    planejamento territorial, conservao, regulamentao e controle dos patrimnios natural e

    cultural, servindo tambm como um referencial terico para diferentes segmentos da

    sociedade que atuam na Zona Costeira, alm de apoio para elaborao de estudos e

    pesquisas (MMA, 2008).

    O MACRO destaca a importncia da conservao da biodiversidade costeira e

    marinha em relao diversidade de espcies, incluindo as que compem os estoques

    pesqueiros (peixes, crustceos e moluscos), alm das algas, dos corais e espcies de

    mamferos, aves e quelnios. Merecem destaque os mamferos da ordem Sirenia, onde, no

    mundo inteiro, h registro de apenas quatro espcies, das quais duas ocorrem no Brasil,

    sendo apenas uma delas marinha, o peixe-boi-marinho (Trichechus manatus), mamfero

    aqutico mais ameaado de extino do Brasil, que ocorre no litoral pernambucano.

    Figura 2 - Mapa Macrodiagnstico da Zona Costeira Marinha / Biodiversidade.

    Fonte: MMA (2008).

    Nesse contexto, destaca-se a relevncia das formaes recifais para a conservao

    da vida marinha. Tal importncia pode ser ilustrada a partir de estudos de Floeter et al.

    (2001), que citam a ocorrncia no Brasil, de cerca de 350 espcies de peixes associados

    s formaes recifais e com alto grau de endemismo, o que caracteriza os recifes

    brasileiros como reas prioritrias para conservao. Ao mesmo tempo, observa-se que os

    ecossistemas recifais encontram-se cada vez mais vulnerveis, devido aos impactos

    causados pelas mudanas climticas, poluio e sobre-explotao (sobretudo para lazer e

    pesca), que ameaam a biodiversidade destes ambientes, como a ictiofaunarecifal.

  • 16

    Em relao aos aspectos geomorfolgicos, a rea objeto da Unidade de

    Conservao caracterizada pela presena de recifes de arenito (beach rocks), que

    formam at 3 linhas paralelas costa, e recifes orgnicos (coralneos e alglicos), que

    apresentam morfologia irregular e localizam-se prximo praia, ocorrendo de forma mais

    expressiva nos trechos entre as praias de Porto de Galinhas e Ponta de Serrambi

    (CPRH,1999).

    De acordo com o Atlas Recifes de Corais em Unidades de Conservao Brasileira

    (MMA/SBF, 2003),os recifes coralneos so considerados o ecossistema marinho de

    maior biodiversidade do mundo, tanto em mbito local quanto em mbito regional e global.

    Constam como ecossistema prioritrio em diversos atos e convenes internacionais, a

    exemplo da Conveno de Zonas midas de Importncia Internacional (Conveno

    RAMSAR). Os recifes coralneos foram ainda considerados, no relatrio Reviso Global

    das Prioridades para Inventrio de Zonas midas e dos Recursos Provindos dessas reas,

    como um dos ecossistemas mais vulnerveis do planeta, ameaado por perda e

    degradao de habitat. Nesse documento sugere-se que sejam adotadas providncias

    urgentes para assegurar a conservao e uso racional desses ambientes.

    Do ponto de vista biolgico, a rea da Unidade de Conservao proposta apresenta

    ecossistemas costeiro e marinho tropicais, que so considerados dos mais ricos do

    planeta, por conta da grande diversidade de vidas que abriga nos seus diversos

    ambientes.

    Em relao aos aspectos socioeconmicos, observa-se que a rea costeira e

    marinha tem grande relevncia sobretudo para a atividade pesqueira, para o veraneio e

    para o turismo atividades essas que so bastente exploradas na rea proposta para a

    APA MAR. Neste sentido, este ambiente provedor de alimentos, gerao de renda, lazer

    e contemplao, constituindo-se estes tambm como importantes servios ambientais da

    rea.

    A criao da APA Marinha Recifes Serrambi contribuir para garantir, a partir da

    conectividade entre as reas marinhas adjacentes protegidas, o livre fluxo de organismos

    durante o seu ciclo biolgico. A conectividade pode ser definida como corredores

    ecolgicos ou ligaes entre habitats adjacentes. Desse modo, a conectividade dentro e

    entre reas protegidas importante para manter a diversidade, os estoques pesqueiros e

    especialmente para manter a resilincia ecolgica (GREEN et al, 2014).

  • 17

    Apesar de toda a relevncia ambiental e socioeconmica evidenciada e corroborada

    pelos estudos e documentos que apontam esta como uma rea prioritria para a

    conservao, alguns impactos so observados. A perda de praia recreativa devido ao

    avano das construes; o uso de veculos motorizados na faixa de areia; o trfego de

    lanchas e motos aquticas de forma desordenada, pondo em risco a integridade fsica dos

    banhistas; alm do pisoteamento dos corais, da pesca predatria e da poluio, advinda

    sobretudo dos rios que desembocam no mar, constituem ameaas ao equilbrio ambiental

    e biodiversidade marinha.Neste sentido, h de se ressaltar ainda que a criao de

    Unidades de Conservao constitui-se como uma das mais eficientes estratgias de

    conservao, tendo em vista que ao serem criadas, o territrio definido como unidade

    protegida passa a ser trabalhado de forma mais estratgica. A partir do aprofundamento do

    olhar para a realidade da Unidade, observando-se suas potencialidades e ameaas, tendo

    em vista seus objetivos de manejo, so traados mecanismos para a gesto. Salienta-se,

    entre outros, a importncia do envolvimento dos diversos segmentos atuantes na rea, a

    partir da criao do Conselho Gestor; a elaborao participativa do Plano de Manejo e a

    criao de melhores condies para o incentivo a prticas sustentveis no territrio.

    Portanto, a criao da APA Marinha Recifes Serrambi representa uma ao do Poder

    Pblico Estadual que visa atender urgente necessidade de harmonizar as demandas

    sociais, econmicas e ambientais observadas nessa rea do litoral sul pernambucano,

    mostrando-se necessria para fomentar o planejamento e gesto ambiental voltados

    sustentabilidade dos recursos naturais desse ambiente costeiro emarinho e, sobretudo,

    para garantir um meio ambiente ecologicamente equilibrado para a atual e futuras

    geraes.

  • 18

  • 19

    3. DESCRIO DA REA MARINHA

    No Brasil, a Zona Marinha assume uma configurao espacial definida por um

    conjunto de leis e decretos publicados pelo Governo Federal, decorrentes de acordos

    internacionais assinados pelo Brasil, entre os quais se destaca a Conveno das Naes

    Unidas sobre o Direito do Mar (MMA, 2010).

    O territrio nacional marinho compreende uma rea aproximada de 3,5 milhes de

    km2, integrada pelo mar territorial brasileiro, que abrange 12 milhas nuticas de largura

    (22,2 quilmetros) a partir da linha de costa; pelas ilhas costeiras e ocenicas; pela

    plataforma continental, que compreende o solo e o subsolo das reas marinhas, que se

    estendem alm dos limites do mar territorial; e pela zona econmica exclusiva. Esta ltima

    medida a partir do limite exterior das 12 milhas do mar territorial at 200 milhas nuticas

    em relao costa (370 quilmetros), incluindo as reas em torno do Atol das Rocas, dos

    arquiplagos de Fernando de Noronha e de So Pedro e So Paulo e das ilhas de

    Trindade e Martin Vaz, situadas alm do citado limite martimo (MMA, 2008 e 2010) (Figura

    3).

    Figura 3 Extenso do Territrio Marinho do Brasil.

    Fonte: MULTIMAR (2017).

  • 20

    A plataforma continental representa a extenso do continente no mar, ou seja, a

    parte submersa da rea continental. Apresenta-se bastante plana, desde a zona de praia

    at a borda da plataforma, onde a declividade se acentua bruscamente. O carter amplo e

    plano resultou das atividades de eroso e deposio de sedimentos, intimamente ligadas

    aos sucessivos avanos e regresses das guas do mar em relao aos continentes,

    associadas s pocas de aumento e diminuio da cobertura de gelo do planeta (Manso et

    al., 2003; Camargo, 2016) (Figura 4).

    Figura 4 Margem Costeira com destaque para Plataforma Continental.

    Fonte: The Delaware & Lehigh National Heritage Corridor (2017).

    No Nordeste, a plataforma continental possui largura entre 36 e 55 km e a sua

    quebra regio onde esta termina e se inicia a regio do talude acontece entre 40 e 80m

    de profundidade, sendo constituda, basicamente, por fundos irregulares e formaes de

    algas calcrias. Uma caracterstica notvel, especialmente entre Natal e Aracaju, a

    barreira de recifes costeiros que a margeia. As guas do Atlntico Sul, ao largo do

    Nordeste brasileiro, pela ausncia de grandes rios e predominncia das guas quentes da

    Corrente Sul Equatorial, propiciam umacondio favorvel formao de ambientes

    recifais, suportando uma grande diversidade biolgica (MMA, 2008 e 2010, Camargo,

    2016).

    Em Pernambuco, a plataforma continental apresenta guas relativamente quentes,

    salinidade elevada e cobertura sedimentar composta por sedimentos terrgenos e

    carbonticos biognicos. O litoral do Estado apresenta uma diversidade de feies

  • 21

    morfolgicas e ambientes que contemplam a ocorrncia de terraos marinhos, recifes,

    depsitos de praias, manguezais e esturios (Dominguez et al., 1990; Manso et al., 2003).

    Os recifes constituem uma base de grande relevncia para as complexas

    comunidades costeiras e marinhas, pois so importantes agregadores de organismos,

    elevando a biodiversidade marinha e reciclando a matria orgnica, sendo um dos mais

    produtivos ecossistemas marinhos. De grande importncia ecolgica, social e econmica,

    so considerados um dos mais antigos e ricos ecossistemas do planeta (Jales et al., 2012).

    A maioria dos ambientes recifais na costa pernambucana se constitui de corpos

    alongados e descontnuos, com o eixo maior paralelo costa. As dimenses individuais

    desses corpos recifais podem chegar a 10 km de comprimento e a 1 km de largura; e as

    guas circundantes podem chegar a 10 m de profundidade. A localizao e a morfologia

    geral desses corpos recifais sugerem uma estreita relao com os bancos de arenito que

    lhes esto associados (Dominguez et al., 1990) (Figura 5).

    Figura 5 Ambientes Recifais (em verde) na rea da APA Marinha Recifes Serrambi.

    Fonte: Adaptado de: Diretoria de Hidrografia e Navegao DHN, Marinha do Brasil.

  • 22

  • 23

    4. CARACTERIZAO DA REA PROPOSTA

    A rea proposta est inserida na Zona Costeira de Pernambuco, instituda pela Lei

    n. 14.258/2010, que se estende do municpio de Goiana, ao norte, no limite com o Estado

    da Paraba, at o municpio de So Jos da Coroa Grande, ao sul, na divisa com o Estado

    de Alagoas. Possuindo uma costa de 187 km de extenso, abrange uma faixa martima de

    12 milhas nuticas (considerada mar territorial) e uma zona costeira com faixa terrestre

    composta por 21 municpios (figura 6), onde se concentra uma populao de 3.921.857

    habitantes (IBGE, 2010).

    Figura 6 - Setorizao da Zona Costeira e destaque para a rea proposta.

    Fonte: Ag. Condepe/Fidem (2009).

    Na Zona Costeira de Pernambuco encontra-se uma multiplicidade de ecossistemas

    produtivos e ricos em biodiversidade, que incluem segmentos de plancies recobertas por

    coqueirais, remanescentes da Mata Atlntica, esturios com extensos manguezais, croas,

    ilhas, restingas, recifes de arenitos e de corais. Alm disso, a bioconectividade entre o

    ambiente recifal, o ecossistema manguezal e pradarias de fanergamos ocorrentes na

    rea muito contribuem para a reproduo de espcies marinhas e aumento dos estoques

    pesqueiros.

  • 24

    No entanto, as presses humanas nos ambientes marinhos tm provocado efeitos

    negativos recorrentes, como a perda de biodiversidade e habitats e, consequentemente,

    provocando diminuio dos recursos naturais, declnio da pesca, poluio de praias,

    aumento dos processos erosivos, entre outros danos (MMA, 2008).

    No litoral sul de Pernambuco crescente o nmero de pessoas que buscam

    desfrutar de sua grande beleza paisagstica e riqueza sociocultural, alm da sua

    exuberante biodiversidade, destacando-se como um importante polo turstico do Estado.

    Por outro lado, ao longo dos anos, foram instalados diversos empreendimentos

    imobilirios, como condomnios, resorts e redes hoteleiras, alm de outros equipamentos

    de grande porte, como o Complexo Industrial Porturio de Suape, impondo a coexistncia

    destes com atividades pesqueiras, tursticas, de esportes nuticos, entre outras (Figura 7).

    Esses diversos usos provocam forte presso sobre os ambientes marinhos, complexos e

    ao mesmo tempo vulnerveis, apontando para um cenrio que evidencia a necessidade

    da interveno do poder pblico, no sentido de proteger e ordenar os usos nessas reas.

    Figura 7 Atividades e usos da rea. A) Pesca no ambiente recifal. B) Pesca e mergulho subaqutico. C) Barcos de pequeno porte para pesca ou turismo. D) Uso de jetski como recreao

    nutica. E) Passagem de grandes embarcaes comerciais para a regio Porturia.

    Fotos: Sidney Vieira

    A B

    C D E

  • 25

  • 26

    4.1. LOCALIZAO E LIMITES

    A rea proposta para ser a primeira rea de Proteo Ambiental exclusivamente

    marinha do Estado de Pernambuco, a APA Marinha Recifes Serrambi, se situa a

    aproximadamente 70 km ao sul da cidade do Recife e est inserida na plataforma

    continental do litoral sul pernambucano, abrangendo o mar territorial defrontante com os

    municpios de Ipojuca, Sirinham, Rio Formoso e Tamandar, abrangendo uma rea

    marinha total de 84.036,79 ha (oitenta e quatro mil e trinta e seis hectares e setenta e nove

    ares) (Figura 8).

    Figura 8 rea proposta e municpios relacionados com a APA Marinha Recifes Serrambi.

    Fonte: Raoni Luna - CPRH, 2017

    Seu limite, a norte, definido pelas coordenadas E= 279196,9347m e

    N=9055982,5695m, na linha de costa de Pernambuco, instituda pelo Decreto Estadual n.

    42.010/2015 (poro sul da praia de Maracape, cerca de 500m ao norte do pontal) e

    seguindo perpendicularmente no sentido leste, oceano adentro, a mesma latitude, por

    aproximadamente 18 milhas nuticas, at as coordenadas E=311810,4550m e

  • 27

    N= 9055982,5695m, onde encontra-se com a isbata de 500 metros no talude continental,

    definida pela CPRM / ANP no ano de 2013.

    A oeste, limita-se com a linha de costa de Pernambuco na extenso litornea do

    municpio de Ipojuca, correspondente aos trechos sul da praia de Maracape, pontal de

    Maracape, Enseadinha, Ponta de Serrambi, praia das Cacimbas, seguindo at encontrar-

    se com os limites marinhos norte da APA de Guadalupe (Estadual), na praia de Toquinho,

    no esturio da Barra de Sirinham. A partir deste ponto, a rea proposta segue margeando

    os limites norte e leste da rea marinha da APA Guadalupe, at a sua interseco com o

    limite norte da APA Costas dos Corais (Federal), nas coordenadas E= 275906,4433m e N=

    9035785,3322m.

    Seu limite a leste definido pelo contorno do talude continental na regio,

    determinado pela isbata de 500 metros, localizado a, aproximadamente, 18 a 21 milhas

    nuticas da linha de costa.

    A sul, limitada pela coordenada E= 275906,4433m e N= 9035785,3322m e segue

    margeando o limite norte da APA Costas dos Corais, adentrando ao mar, at a coordenada

    de interceptao da isbata de 500 metros, E= 305768,4334m e N= 9026324,0538m

    (Figura 9).

    Figura 9 rea proposta para criao da APA Marinha Recifes Serrambi e sua conexo com as APAs Guadalupe (Estadual) e Costa dos Corais (Federal) e outras Unidades de Conservao do

    seu entorno.

    Fonte: Raoni Luna - CPRH, 2017

  • 28

  • 29

    4. 2 ASPECTOS DO MEIO FSICO

    4.2.1 CLIMA

    Por conta de sua localizao, o Litoral Sul de Pernambuco tem clima tropical mido,

    com chuvas de inverno antecipadas no outono - clima As (pseudo tropical) da

    Classificao de Koeppen (KOEPPEN, 1948). Relativamente bem distribudas ao longo do

    ano, as chuvas so provocadas, sobretudo, pelos ciclones da Frente Polar Atlntica que

    atingem o litoral nordestino com maior vigor no perodo de outono-inverno, sendo os

    meses de maio, junho e julho os mais chuvosos e outubro, novembro e dezembro os mais

    secos (CPRH, 2003).

    As temperaturas mdias anuais apresentam uma variao entre 25C e 30C, no

    apresentando variaes expressivas. As temperaturas mais elevadas so observadas

    durante os meses mais secos. No perodo mais chuvoso a reduo da temperatura no

    to significativa, apresentando uma mdia de 23C (Manso, 2003).

    O regime de ventos em toda a regio costeira caracteriza-se por ser bastante

    regular, em sua sazonalidade, soprando em 90% do tempo do setor E-SE, com

    velocidades mdias de 3 a 5 m/s. Os ventos alsios de sudeste e as brisas marinhas

    exercem grande influncia nas condies climticas da rea, ora minimizando, ora

    maximizando os efeitos trmicos advindos da insolao (Manso, 2003).

    4.2.2 HIDROGRAFIA

    Quanto hidrografia, considerando que a Unidade de Conservao proposta no

    inclui poro continental, sero aqui mencionados os aspectos relativos aos municpios

    relacionados em seu entorno imediato, que apresentam forte interface com a APA Marinha

    Ipojuca, Sirinham, Rio Formoso e Tamandar.

    As bacias hidrogrficas que drenam a rea so todas originadas na vertente leste do

    Planalto da Borborema. Nestas bacias a drenagem se faz, segundo uma orientao geral,

    de oeste para leste, e desguam diretamente no Oceano Atlntico. Os baixos cursos

    dgua se fazem sobre terrenos sedimentares que constituem a regio costeira,

    apresentando certa regularidade de fluxo, sendo supridos por duas fontes hdricas:

    pluviomtrica e subterrnea. A hidrografia do trecho est constituda, principalmente, pelos

  • 30

    rios Maracape e Formoso (rios litorneos), Sirinham (rio translitorneo) e Aquir (rio

    litorneo) (CPRH, 2003; Manso, 2003).

    Os rios litorneos, embora de dimenses reduzidas, desempenham importante papel

    na manuteno dos ecossistemas e das comunidades do espao em apreo. Incluem-se,

    nessa categoria, os rios Maracape e Formoso.

    O rio Maracape, tambm localizado no municpio de Ipojuca, nasce prximo PE-

    060, em terras do Engenho Todos os Santos, dali seguindo para sudeste at a Plancie

    Costeira, que percorre no sentido norte-sul, ladeado por manguezais e restingas, at a

    desembocadura no Pontal de Maracape (CPRH, 2003).

    O rio Formoso nasce na poro noroeste do municpio de mesmo nome, em terras

    do Engenho Vermelho, onde esto localizadas as cabeceiras de seus dois formadores - os

    riachos Vermelho e Serra dgua - cuja confluncia se d a montante da sede do Engenho

    Changuazinho. A partir desse ponto, j com o nome de rio Formoso, dirige-se para

    sudeste, passando pela cidade homnima. Trs quilmetros a jusante desta, o referido rio

    alcana a Plancie Costeira dominada por seu amplo esturio que se dilata a nordeste e

    norte atravs dos vrios braos constitudos pelos rios Goiana, dos Passos, Porto das

    Pedras e Lemenho.

    Com seus largos canais, esses rios engendram uma trama compacta de mangues e

    salgados que, a oeste, nordeste e norte, se estendem at o sop dos morros e colinas que

    bordejam a Plancie Costeira e, a leste, confinam com os terraos marinhos atuais.

    Prximo desembocadura, localizada entre a Ponta de Guadalupe e a Praia dos

    Carneiros, o rio Formoso recebe o Ariquind e seu afluente Unio - dois importantes

    componentes de sua bacia (CPRH, 2003).

    O rio Sirinham nasce na Serra do Alho, no municpio de Camocim de So Flix,

    com o nome Riacho Tanque das Piabas. Toma, inicialmente, a direo sul e, a seguir, a

    direo geral sudeste, cortando os municpios de Bonito, Barra de Guabiraba, Corts,

    Ribeiro, Gameleira, Rio Formoso e Sirinham, em cujo litoral desgua aps compor, com

    seus vrios braos (rios Arrumador, Trapiche, Aquir, alm do prprio Sirinham), um

    amplo e complexo esturio. Neste, se encontram algumas lagoas, numerosas ilhas, um

    extenso manguezal com sua variada fauna e cerca de 17 ilhas que so utlizadas por

    pescadores que, alm da captura de espcies do mangue e do rio, praticam agricultura de

    subsistncia (CPRH, 2003; Manso, 2003).

  • 31

    4.2.3 RELEVO SUBMARINO

    De forma geral, a rea proposta para a criao da APA Marinha Recifes Serrambi

    apresenta uma regularidade quanto ao seu relevo e composio do fundo marinho,

    observando-se a presena de bancos arenosos alinhados linha de costa em reas

    frontais desembocadura dos rios Maracape, Sirinham e Formoso, os quais esto

    relacionados a antigas barreiras areno-recifais formadas quando o nvel do mar estava

    mais baixo. Estes bancos se encontram localizados a uma profundidade mdia de 10 m,

    estendendo-se por quase toda a rea (Dominguez et al., 1990; CPRH, 2003; Manso,

    2003).

    Do ponto de vista de distribuio dos sedimentos, a rea possui o fundo ocenico

    formado por areias mdias (30%), areias grossas (24%) e lamas (20%). A fonte principal

    de sedimentos para a rea o continente, com constituintes quartzosos predominantes.

    Porm, ocorre a presena significativa de sedimentos carbonticos biognicos formados

    por fragmentos de algas calcrias e conchas e carapaas de animais marinhos (CPRH,

    2003; Manso, 2003; Manso et al., 2003, Jales et al., 2012).

    Outra caracterstica importante do relevo submarino para a rea a presena de

    antigos canais submersos (paleocanais). H cerca de 20 mil anos, quando o nvel do mar

    era muito mais baixo do que o atual, a plataforma continetal da regio (hoje submersa) era

    a continuidade das terras emersas do continente e de seus rios e canais. Com o gradual

    aumento do nvel do mar, essas terras, rios e canais foram se tornando parte do fundo

    marinho. Atualmente, dois antigos canais submersos so identificados na rea proposta: o

    canal das Campas (nomeado assim pelos pescadores da regio) e o canal do Meio (Figura

    10). Ambos so estudados pela sua possvel associao com a bacia hidrogrfica do Rio

    Sirinham (Camargo, 2016).

  • 32

    Figura 10 No quadro vermelho, destaque para os dois paleocanais presentes

    na rea proposta para a APA Marinha Recifes Serrambi.

    Fonte: Adaptado de CAMARGO (2016).

    4.2.4 OCEANOGRAFIA

    Segundo levantamentos realizados para a regio, pelos autores CPRH (2003);

    Manso (2003), Manso et al. (2003) e a Diretoria de Hidrografia e Navegao DHN, da

    Marinha do Brasil, as mars apresentam amplitude e perodo que as classificam nas

    categorias de mesomarssemidiurnas, com amplitude mdia de sizgia de 2,0 m e de

    quadratura com 0,7 m e respondem primariamente ao forante astronmico.

    A temperatura e a salinidade das guas da plataforma continental demonstram um

    ciclo sazonal bem definido, apresentando temperatura superficial de 27 a 29C e salinidade

    variando entre 37 (no perodo seco) e 28 (no perodo chuvoso). Esses valores

    apresentam flutuaes prximas costa, devido influncia dos rios costeiros (Manso,

    2003).

    As correntes de mars, fluviais e litorneas que atuam na rea agem alterando a

    sedimentao e a configurao da forma da costa e de suas praias. Tratando-se de uma

    regio de mesomar, as correntes de mar exercem grande influncia, principalmente

  • 33

    quando esto associadas ao perodo de ventos de sudeste e s mars de sizgia. Esta

    associao produz intenso processo erosivo em todo o litoral.

    Os padres de velocidade de corrente tanto na zona externa dos recifes de arenitos

    quanto nas reas entre os recifes e a praia, so da ordem de 0,4 a 0,6 m/s e 0,1 a 0,2 m/s,

    respectivamente (Manso, 2003; Manso et al., 2003, Manso et al., 2006).

    O litoral pernambucano se caracteriza por ter uma costa com faixa praial estreita,

    uma vez que o aporte de sedimento continental mais escasso devido sua evoluo

    tectnica, permitindo apenas a formao de rios costeiros ou pequenos rios

    translitorneos. Os rios so importantes fornecedores de sedimentos para as regies

    litorneas. Na costa do Estado a distribuio dos sedimentos nas praias ocorre de forma

    heterognea, predominando as praias de areia mdia intercaladas com algumas praias de

    areia fina e raros trechos de areia grossa.

    Essa variao, entre outros fatores, devido s diferentes fontes de sedimento que

    chegam s praias, dinmica das ondas, s correntes costeiras, forma e dinmica de

    cada praia e ao processo de deposio do sedimento atuante em cada trecho do litoral. Na

    rea de costa sul, adjacente APA Recifes Serrambi, por exemplo, existe a influncia do

    Rio Una, marcada pela presena de cascalhos e baixos teores de carbonatos (< 4,1%) nos

    sedimentos das praias da rea, como Vrzea do Una e Praia do Porto (PEREIRA et al., no

    prelo).

    As praias, de maneira geral, apresentam um perfil transversal com uma forma mais

    ou menos cncava. Sua inclinao, basicamente, varia em funo do gro da areia que as

    constituem e das caractersticas das ondas que nelas chegam. O ngulo que a onda chega

    praia (junto com a velocidade e direo dos ventos) atua de maneira significativa no

    desenho da zona costeira, uma vez que este determina o sentido da corrente litornea e o

    transporte de areia ao longo do litoral (Manso, 2003; Mallmann et al., 2014).

    Estudos recentes, realizados por Pereira e seus colaboradores (2015), a partir de

    uma srie de levantamentos de dados histricos de 21 anos (1992 2014) e uma srie

    mais atual de um ano (2012 2013), constataram uma predominncia de altura

    significativa de onda (Hs) entre 1,5 2,0 m e mdia anual de 1,8 m 0,2; um perodo de

    onda (Tp) anual de 10s 0,4 e predominncia de 6s a 10s; e com a direo de onda

    variando entre NE e SSE e mdia anual de LSE. O levantamento destes dados tambm

    evidenciou uma forte influncia sazonal sobre o clima de ondas.

  • 34

    4.2.5 VULNERABILIDADE EROSO COSTEIRA E MUDANAS CLIMTICAS

    De acordo com os resultados das pesquisas globais, Pernambuco um dos estados

    mais vulnerveis do Brasil aos efeitos das mudanas do clima. Enquanto na rea litornea

    vem sendo intensificado o processo erosivo nas praias, com ameaa iminente ao

    patrimnio pblico e privado, a regio do serto e agreste padece do fenmeno das secas.

    Na Regio Metropolitana do Recife estes efeitos podem ser agravados pelo aumento

    mdio do nvel do mar, tendo em vista a alta densidade populacional do litoral, o percentual

    elevado de impermeabilizao do solo e as baixas altitudes da rea costeira (entre 2 e

    4m), o que acarreta em grande risco para as cidades.

    J no interior, de acordo com os critrios nacionais, o Estado de Pernambuco

    possuiu 135 municpios nas reas suscetveis desertificao (ASD), onde vivem, de

    acordo com o censo demogrfico de 2000, 2.622.519 milhes de habitantes. Este quadro

    pode levar a processos migratrios, deslocando as populaes afetadas para os centros

    urbanos que esto em reas costeiras, sobrecarregando os ambientes e servios nesta

    regio e agravando ainda mais a condio socioeconmica e ambiental da costa e,

    principalmente, marinha (SEMAS, 2011).

    Devido grande ocupao das cidades nas reas costeiras, grande parte da costa

    brasileira vem sofrendo processos de eroso acelerada, tanto em setores urbanizados

    como naqueles ainda no ocupados. Em Pernambuco, dados do Censo/IBGE (2010),

    apontam para concentraes urbanas costeiras com aproximadamente 44,58% da

    populao do Estado, num espao fsico equivalente a 4,53% do territrio de Pernambuco.

    As mudanas climticas podem desencadear ou agravar o fenmeno da eroso

    acelerada, ao provocar mudanas no nvel do mar, na distribuio das chuvas e na

    freqncia direcional e intensidade dos ventos - fatores que afetam a hidrodinmica, o

    balano e a disperso dos sedimentos ao longo da costa. Mudanas na descarga slida de

    rios e na frequncia direcional de ondas, no s nas ltimas dcadas como tambm nas

    escalas histrica e geolgica, podem acelerar os processos de eroso e/ou avano da

    zona costeira, acarretando em grandes prejuzos s cidades costeiras, e biodiversidade

    costeira e marinha (SEMAS, 2011).

    O aumento de temperatura, provocado pela potencializao do efeito estufa, tem

    como causa principal a concentrao de CO2 na atmosfera, sobretudo aps a Revoluo

    Industrial, pelo aumento da queima do carvo e do petrleo, entre outros fatores. Esse

  • 35

    excesso dos GEEs (Gases do Efeito Estufa) atinge tambm os ambientes aquticos,

    agravado pelas mudanas em correntes, ventos e aumentos de temperaturas, formando

    verdadeiros bolses ou piscinas quentes nos oceanos.

    Deste modo, os oceanos esto ficando mais cidos e quentes, provocando um

    processo de deteriorao de corais e conchas de moluscos, o branqueamento dos recifes

    coralneos e arenticos e o empobrecimento dos nutrientes. Consequentemente ocorre a

    perda de biodiversidade marinha associada a estes processos e tantos outros

    relacionados, como antecipao da primeira maturao sexual em peixes e mamferos

    aquticos, mudanas de rotas migratrias, entre outros.

    Estudos e levantamentos atuais sobre mudanas climticas, ndices de

    vulnerabilidade costeira, descrio do clima de ondas e modelagem numrica das ondas

    esto disponveis no Atlas da Vulnerabilidade Eroso Costeira e Mudanas Climticas

    em Pernambuco (PEREIRA et al., 2015). Esse estudo classifica a vulnerabilidade atual s

    mudanas climticas, para a regio litornea fronteiria rea proposta para a APA

    Recifes Serrambi, em trechos com intensidade baixa ou moderada. No mesmo

    documento, o litoral sul do Estado considerado o que possui maior extenso de costa

    com classificao de intensidade baixa (48%).

    Com relao s ondas que atingem o litoral pernambucano, constatou-se, a partir

    de uma srie histrica de 1992 a 2014, uma altura significativa da onda (Hs) mdia anual

    em torno de 1,8 m 0,2 m e uma predominncia de direo de incidncia entre NE e

    SSE com direo mdia anual LSE. Tanto a altura significativa quanto a direo de

    incidncia apresentaram variabilidade sazonal (Pereira et al., 2015).

    Ao longo do litoral sul pernambucano, de Ipojuca a So Jos da Coroa Grande, a

    presena dos recifes na costa mantm sua funcionalidade como obstculos eficazes

    ao de ondas incidentes durante a mar baixa. Apenas em certos locais so observados

    focos de alta energia prximos praia: em Ipojuca, no norte da praia de Sirinham, e na

    poro mais ao norte da praia dos Carneiros, em Tamandar. Durante a mar alta, como

    esperado, estes focos se mantm, porm com maior intensidade, e outros novos surgem

    e aumentam a incidncia de ondas na praia. Vale destacar que alm das variaes

    abruptas da batimetria causadas pelos recifes e bancos de arenito, as modificaes

    sofridas pelas ondas se tornam mais complexas devido geomorfologia da costa (Pereira

    et al., 2015).

  • 36

    De forma geral, o litoral sul de Pernambuco apresenta uma geologia/geomorfologia

    que favorece zonas de mais baixa energia de onda e pontos de intensa difrao e

    refrao, em relao ao restante do litoral do estado. Estudos realizados por Pereira e

    seus colaboradores (2015) mostraram que os focos de maior energia de onda seguem o

    padro atual e continuam na poro mais ao norte de cada baa, como ocorre nas praias

    do Cupe e Maracape, em Ipojuca, e na praia dos Carneiros, em Tamandar. Estes

    mesmos estudos tambm evidenciam que, a partir de um eventual aumento de 0,5 m no

    nvel do mar, os recifes de Porto de Galinhas e Maracape, em Ipojuca, j perderiam

    grande parte da funo de proteo da linha de costa e as ondas em torno de 2 m de

    altura incidiriam diretamente sobre a praia.

    Por outro lado, os recifes de corais de Tamandar a So Jos da Coroa Grande

    mostraram a cada cenrio de mar alta que, mesmo em condies extremas de aumento

    relativo do nvel do mar (ARNM) e altura de ondas, os mesmos no deixam de interferir

    na propagao de ondas incidentes, mas permitem a passagem de ondas de maior

    energia que chegam praia em alguns pontos. A variao do ARNM tem papel

    importante na alterao da funo dos recifes e bancos de arenito ao longo da costa, o

    que favorece a intensificao dos focos de alta energia j existentes e maior ocorrncia

    dos mesmos junto praia.

    4.2.6 NAUFRGIOS

    A rea proposta para a criao da APA Marinha no s possui feies e

    caractersticas naturais propcias atividade de mergulho, como tambm abriga estruturas

    artificiais que se incorporaram ao meio ambiente, passando a ser espaos habitados pela

    vida marinha, formando locus e paisagens atrativas para o mergulho esportivo

    contemplativo. So os naufrgios acidentais e artificiais, sendo estes ltimos

    deliberadamente afundados com o propsito de se tornarem recifes artificias e,

    consequentemente, pontos de atrao de espcies marinhas e de mergulhadores.

    A rea da APA Recifes Serrambi possui dois naufrgios artificiais: o ferry boat

    Gonalo Coelho (Figura 11) e o rebocador Marte (Figura 12). A regio ainda possui um

    naufrgio acidental, o Galeo Serrambi (Figura 13), que provavelmante se trata de um

    veleiro de carga (um galeo) afundado por volta de 1700.Logo, trata-se tambm de um

    possvel stio arqueolgico.

  • 37

    Figura 11 Naufrgio artificial Gonalo Coelho(36 m de profundidade mxima, 0835S e 03454O, 15 km da praia de Serrambi).

    Fonte: Carvalho, 2017.

    Figura 12 Naufrgio artificial Marte (33 m de profundidade mxima, 0835S e 03454O, 12 km da praia de Serrambi).

    Fonte: Carvalho, 2017.

  • 38

    Figura 13 Naufrgio Galeo Serrambi (35 m de profundidade mxima, 0835S e 03454O, 9 km da

    praia de Serrambi).

    Fonte: Carvalho, 2017.

  • 39

  • 40

    4.3. ASPECTOS DO MEIO BITICO

    4.3.1. FLORA

    A regio costeira do Brasil compreendida entre o estado do Cear e o norte do

    estado do Rio de Janeiro abriga a flora de algas mais diversificada do pas. A exuberante

    biodiversidade marinha observada, em especial no litoral nordestino, est diretamente

    associada s condies ambientais, como temperaturas elevadas e constantes, salinidade,

    entre outras. Associa-se tambm a uma extensa rede de substratos favorveis ao

    desenvolvimento da biota, como as formaes recifais e os fundos de algas calcreas

    (Figura 14), essenciais para a formao de recifes de corais, servindo ainda como

    substrato para outras algas e plantas, alm de estabelecer micro-habitats e nichos para

    invertebrados (BASSO, 1996; BARBERA, 2003; BJRKETAl., 1995). Apesar de crescerem

    sobre os mais diversos substratos, as algas marinhas bentnicas encontram nos recifes,

    um dos melhores habitats para o seu desenvolvimento (BERNER, 1990).

    Na costa pernambucana so registradas aproximadamente 355 espcies de flora

    marinha, segundo pesquisas realizadas no ano de 2011. A flora da regio apresenta uma

    marcada diversidade, representada pela ocorrncia de algas tpicas da regio tropical,

    como Gracilaria, Bryothamnion, Dictyota, Dictyopteris, Caulerpa, Udotea, Halimeda, entre

    outras (MALLMANN, 2011).

    Figura 14- Banco de algas calcreas

    Fonte: ICMBio (2017)

  • 41

    Nos diferentes ecossistemas a cadeia trfica tem incio com os produtores, representados

    no ambiente marinho pelas micro e macroalgas (Figura 15). Ests, embora ocupem uma

    poro relativamente pequena dos oceanos, contribuem diretamente com o equilbrio dos

    ecossistemas marinhos, por apresentarem alta produtividade primria costeira, devido

    sua biomassa concentrada, alm de desempenharem um papel fundamental na cadeia

    trfica (LITTLER, 1984).

    Figura 15 - Alga vermelha Janiaadhaerens

    Fonte: ALGABASE (2017)

    Os recifes de corais, juntamente com as florestas tropicais, so considerados uma

    das mais antigas e diversas comunidades naturais do planeta. Essa enorme diversidade

    de vida pode ser mensurada pela constatao de que uma em cada quatro espcies

    marinhas vive nos recifes de coral. As caractersticas singulares do ambiente recifal,

    associada grande importncia da comunidade planctnica nesses ecossistemas, tm

    despertado o interesse crescente em estudos na rea, sobretudo buscando avaliar a

    capacidade produtiva da comunidade fitoplanctnica (FURNAS et al.,1990; CHARPY &

    CHARPY-ROUBAUD, 1990; BLANCHOT & CHARPY,1997; FEITOSA & PASSAVANTE,

    2004; FONSECA et al.,2002; MACHADO et al., 2007; FEITOSA & BASTOS, 2007;

    MAYAL et al., 2009).

    No litoral do Nordeste, principalmente entre os estados do Cear e da Paraba, a

    explorao de espcies de interesse econmico, como as algas vermelhas dos gneros

    Gracilaria e Hypnea uma atividade relevante. A coleta e a comercializao dessas algas

    podem constituir importantes recursos para as comunidades locais, devido sua potencial

    utilizao na alimentao humana e de outros animais, alm de servirem como matria-

  • 42

    prima para a produo industrial de ficocolides (polissacardeos que em solues

    aquosas se comportam como gel), como as agaranas, carragenanas e alginatos

    (OLIVEIRA FILHO, 1998;VIDOTTI& ROLLEMBERG, 2013). Estudos realizados na rea

    proposta para a criao da APA Recifes Serrambi apontam alta diversidade e boa

    distribuio das espcies fitoplanctnicas, associada ausncia de eutrofizao

    (PEREIRA & ACCIOLY, 1988; JALES et al, 2013).

    Uma importante representante da flora dessa rea o capim-agulha

    (Halodulewrightii), fanergama marinha que ocorre no Brasil, desde o litoral do Piau at o

    litoral de Santa Catarina (MAGALHES, 2001). Os prados de capim-agulha, alm de

    servirem como habitat para vrias espcies, exerce importante papel no controle da

    hidrodinmica na regio costeira, atravs da estabilizao do sedimento (PINTO, 2008).

    Essa fanergama marinha (figura 16) tambm representa uma das principais fontes de

    alimento do peixe-boi marinho, juntamente com espcies de algas, como

    Gracilariacornea, Hypneamusciformes e Soliera sp., alm de folhas de mangue

    (Avicennianitida, Rhizophoramangle e Lagunculariaracemosa) (ALVES , 2013; BEST &

    TEIXEIRA, 1982; PALUDO, 1997). De hbito alimentar herbvoro, esses animais precisam

    ingerir grande quantidade de alimento, comendo todo dia 8 a 13% do seu peso corporal

    (BEST, 1981).

    Figura 16. Detalhe do peixe-boi se alimentando do capim marinho ou capim agulha (HalodulewrightiiAscherson)

    Fonte: Fundao Mamferos Aquticos (2017)

  • 43

    Estas informaes evidenciam a importncia da conservao da flora marinha para

    a manuteno da biodiversidade, incluindo espcies de fauna, a dinmicas ecossitmicas

    e sua constituio para gerao de renda e alimentos para a sociedade.

  • 44

  • 45

    4.3.2. FAUNA

    Os diversos ambientes que compem a costa sul pernambucana, com esturios,

    pradarias de fanergamos, recifes costeiros, recifes profundos e a quebra da plataforma,

    possibilitam que diversas espcies completem o seu ciclo de vida nessa regio, fazendo

    com que essa rea apresente grande diversidade de invertebrados e vertebrados

    marinhos,(Figura 17). Para essa rea relatada a ocorrncia de cerca de 15 espcies de

    corais, diversos porferos e anmonas, mais de 600 espcies de moluscos, cerca de 740

    espcies de crustceos, alm de equinodermos e cerca de 200 espcies de peixes

    recifais. Destaca-se ainda a ocorrncia de mamferos aquticos, como golfinhos e peixes-

    bois marinhos. Nessa rea podemos encontrar ainda tartarugas marinhas, que se utilizam

    das praias arenosas para fazer desovas (FLOETER & GASPARINI, 2001; TABARELLI &

    SILVA,2002).

    Figura 17. Representantes da biodiversidade do litoral sul de Pernambuco.

    Fontes: Daniel Lipi; Marcus Vincius; Sidney Vieira; Google imagens.

    Os peixes-bois normalmente apresentam maior ocorrncia em reas marinhas

    com extensos esturios conservados, enquanto que golfinhos e tartarugas ocorrem,

    sobretudo, em reas com formaes recifais. Tais aspectos demonstram a importncia

  • 46

    vital de proteo e manejo adequado desses ecossistemas para garantir um futuro

    sustentvel s populaes ameaadas pelo desenvolvimento costeiro urbano.

    Na regio de abrangncia da APA MAR, alm da ocorrem espcies de interesse

    econmico, como os peixes cavala(Scomberomoruscavalla); cioba(Lutjanusanalis);

    guarajuba(Carangoidesbartholomaei); dourado(Coryphaenahippurus); tainha/sauna(Mugil

    spp.), camurim/robalo(Centropomusspp), agulha(Hemiramphus brasiliensis),

    sardinhas(Anchoaspinifer,Centengraulisedentulus,Sardinellaaurita,Sardinella brasiliensis);

    crustceos como camares (Penaeusspp), lagostas (Panulirus spp.), entre

    outros.Ocorrem tambmalgumas espcies marinhas consideradas em estado de risco ou

    ameaadas de extino,comoo mero (Epinephelusitajara) (Figura 18),cavalos-marinhos

    (Hippocampuserectus, Hippocampusreidi),o peixe-boi (Trichechusmanatus) (Figura 19),

    entre outras, o que refora a importncia de proteo da referida rea (LESSA &

    NBREGA, 2000; MMA, 2014).

    Fig.18. Peixe mero em ambiente natural.

    Foto: Marcus Vincius

    Fig.19. Peixe-boi em seu ambiente natural.

    Fonte: Fundao Mamferos Aquticos (2017)

  • 47

  • 48

    4.4. CONECTIVIDADE ECOSSISTMICA

    Estudos recentes demonstram a importncia de se garantir a conectividade entre reas

    marinhas protegidas e adjacentes, no sentido de possibilitar o fluxo de organismos ao longo

    do seu ciclo biolgico (FALCO, 2012). Assim, a conectividade entre as Unidades de

    Conservao de grande importncia para a proteo da biodiversidade marinha, sendo

    fundamental a criao de mais reas protegidas, a fim de garantir o livre curso dos indivduos

    entre as Unidades. Conectividade refere-se tambm s ligaes ecolgicas associadas aos

    habitats adjacentes e distantes (Figura 19), dentro e entre reas protegidas, sendo

    importantes para manter a biodiversidade, os estoques dos recursos pesqueiros e

    especialmente a resilincia ecolgica (GREEN, 2014).

    A existncia de paleocanais na rea pretendida para a criao da APA Marinha amplia

    e evidencia a bioconectividade, a partir do uso por diversos organismos, dessas feies

    geomorfolgicas, caracterizadas por canais profundos, que surgiram h cerca de 20 mil

    anos. So exemplos algumas espcies de peixes que fazem agregao reprodutiva na

    quebra da plataforma e se utilizam desses canais para a locomoo entre os ambientes

    marinhos que compem o mosaico de ecossistemas formados pelo talude, recifes

    submersos, recifes costeiros, pradarias de fanergamos e esturios (figura e 20)

    (CAMARGO,2016).

    Figura 20- Esquema ilustrando a conectividade entre os prados de Fanergamos, manguezais, recifes de corais e a quebra da plataforma continental.

    Fonte: Modificado a partir de Mumby et al, 2004.

  • 49

    Figura 21 A - Peixe em deslocamento no paleocanal. B Peixes na regies prximo ao paleocanal.

    Fonte: Joo Camargo

    Alguns estudos demonstram que reas marinhas protegidas mais extensas

    oferecem maior proteo biodiversidade (GREENET al, 2014; HALPERN, 2010). Uma

    rede de Unidades de Conservao permite maximizar a conectividade entre UCs

    individuais, garantindo a funcionalidade ecolgica e a produtividade da rea protegida e

    do entrono. Tambm de grande importncia a demarcao de reas fechadas dentro

    das reas protegidas, para servirem como refgios para o desenvolvimento da fauna

    marinha e a recuperao de estoques pesqueiros, constituindo-se como distribuidor de

    indivduos e possibilitando uma atividade pesqueira mais sustentvel (HALPERN et al.,

    2010; HARRRISON et al., 2012).

    Desta forma, a conectividade entre os ecossistemas marinhos representa um

    importante argumento para a implantao de novas reas marinhas protegidas. Vale

    ressaltar que a rea proposta para a criao da APA Marinha Recifes Serrambi contgua

    aos limites da rea marinha da APA de Guadalupe e da APA Costa dos Corais, cumprindo

    tambm com essa perspectiva de bioconectividade, a partir do mosaico de Unidades de

    Conservao. Nos limites com a rea terrestre, a APA MAR tambm apresenta

    conectividade com a APA Estuarina dos Rios Sirinham e Maracape, apresentando

    potencial para o fluxo de diversas espcies que passam parte de sua vida nos

    manguezais, que so considerados berrios e importantes reas de alimentao para a

    maior parte das espcies marinhas.

  • 50

  • 51

    4.5. ASPECTOS DO MEIO SOCIOECONMICO

    A rea proposta para a criao da APA Marinha Recifes Serrambi, localizada no

    Litoral Sul do Estado, engloba em sua retaguarda os municpios de Ipojuca, Sirinham, Rio

    Formoso e Tamandar. A rea marinha, que inclui em torno de dezoito milhas nuticas,

    abriga expressivo ecossistema recifal, que junto s belezas cnicas da orla martima,

    servem de atrativo atividade turstica e de veraneio, cujas contribuies so essenciais

    s economias locais.

    O litoral sul de Pernambuco apresenta-se como o principal plo de desenvolvimento

    turstico do Estado. Suas guas transparentes e mornas, suas paisagens, a tranquilidade e

    a infraestrutura turstica atraemmilhares de visitantes de todo o Brasil e de outros pases.

    Especificamente na parte do litoral relacionada rea proposta para a criao da APA

    Marinha, observa-se que algumas praias so bastante utilizadas por turistas e veranistas,

    sobretudo no perodo de setembro a fevereiro, como o pontal de Maracape, Enseadinha,

    Serrambi e Toquinho. Alguns trechos, entretanto, so formados por praias quase virgens,

    por no possurem loteamentos de casas de veraneio, nem servios de apoio ao turismo.

    Outro uso bastante comum na rea a prtica da pesca artesanal. Estas duas

    atividades tusimo e pesca ocorrem de forma complementar na regio litornea. Embora

    algumas vezes ocorram confitos de interesses de usos da rea costeiro-marinha, essas

    atividades socioeconmicas predominantes devem ser trabalhadas na perspectiva de usos

    sustentveis, a partir de ordenamentos e estmulos a boas prticas de manejo.

    As APAs marinhas, que so reas constitudas de bens de uso comum, possibilitam

    um manejo integrado e ecossistmico dos diversos usos, de modo a permitir a conciliao

    das atividades tradicionais, como a pesca e o turismo sustentvel (MMA, 2007).

    Ao mesmo tempo, essas potencialidades convivem lado a lado com atividades

    industriais e porturias, atreladas a setores estratgicos para o desenvolvimento estadual.

    O quadro econmico dos quatro municpios representa uma contribuio de cerca de

    5,67% do Produto Interno Bruto (PIB), em valores correntes do Estado de Pernambuco

    (CONDEPE-FIDEM, 2013).

    A rea marinha, do ponto de vista econmico, importante para o transporte

    martimo, o turismo e a pesca, bem como tem potencial mineral, energtico, bioqumico e

    farmacolgico. Em contraponto, observa-se poluio oriunda de fontes terrestres

  • 52

    relacionadas ao desenvolvimento e ao adensamento daocupao humana, como a

    deposio irregular de resduos slidos, efluentes domsticos e industriais, sem

    tratamento, com agrotxicos e vinhoto. Verificam-se tambm outros fatores que podem

    gerar degradao,como o turismo desordenado, transporte martimo e pesca predatria,

    causando ameaas biodiversidade, ao equilbrio ambiental e qualidade das praias,entre

    outros impactos significativos, reais ou potenciais.

    Observa-se que alguns desses impactos que se refletem na rea da APA proposta

    so decorrentes de usos que ocorrem no seu entorno, tendo em vista que a rea toda

    marinha. Neste caso, alguns conflitos diretos so reduzidos, tendo em vista que no

    acontecem na rea proposta alguns dos impactos e conflitos tpicos de Unidades de

    Conservao que possuem reas no continente. oportuno, portanto, o estabelecimento

    de estratgias especficas para a gesto do ambiente marinho, que tambm possui seus

    fatores de presses antrpicas e de degradao ambiental.

    Vale salientar que a rea proposta para a criao da referida Unidade de

    Conservao toda constituda de bens de uso comum, no abrangendo terrenos

    privados, por se tratar de reas de praia e de mar. O principal desafio refere-se

    necessidade de um manejo integrado das atividades que acontecem na rea direta e

    indiretamente relacionadas APA, de forma que permita a conciliao das atividades

    tradicionais, como a pesca artesanal, com o turismo e o trfego de embarcaes, entre

    outros usos.

    4.5.1. POPULAO E EXPANSO URBANA

    A populao residente nos quatro municpios situados na retaguarda da APA

    Marinha proposta (Ipojuca, Sirinham, Rio Formoso e Tamandar) abrange quase 4

    milhesde habitantes, com densidade demogrfica em torno de 900 hab/km2, o que

    representa a maior densidade do Estado, concentrando 56% da populao urbana de

    Pernambuco. Com uma populao total de 163.799 habitantes (IBGE, 2010), os

    municpiosdetm 4,17% do contingente demogrfico da Zona Costeira de Pernambuco

    (Tabela 1).

  • 53

    Tabela 1 Caracterizao da rea e populao dos municpios envolvidos, comparados aos dados

    da capital pernambucana, da Zona Costeira e do Estado

    Fonte: IBGE(2014)

    Apesar de ter ocorrido aumento na populao costeira na regio Nordeste no

    perodo de 1991 a 2010, em Pernambuco foi verificada uma reduo da taxa demogrfica

    dessa populao, passando de 1,74% ao ano para 1,01% no perodo compreendido entre

    os anos 2000 a 2010.

    Ao mesmo tempo em que foi observada uma reduo do crescimento da zona

    costeira, ocorreu um crescimento populacional no interior (de 0,76% para 1,09%),

    provavelmente em funo das novas polticas de fortalecer a interiorizao da economia do

    Estado, mantendo, no entanto, a tendncia de reduo do crescimento populacional do

    Estado (de 1,18% para 1,06% nos mesmos perodos).

    A acelerao do processo de expanso urbana da da orla martima, a partir dos anos

    setenta, tem como fator principal a descoberta das praias do Litoral Sul como opo de

    veraneio e lazer de fim de semana, da classe mdia e mdia alta do ncleo metropolitano

    e dos centros urbanos de porte mdio, em fuga das praias de Recife e municpios vizinhos

    j, naquela dcada, submetidas a acelerado processo de adensamento populacional.

    Foi o perodo que houve a implantao, ao longo de toda orla, dos loteamentos de

    veraneio, dentre os quais figuram: Braslia, Las Vegas, Campas I, II e III, Alvorada, Praia

    Tamandar e Anaizabela, em Tamandar; Aver-o-Mar, Praia do Guaiamum e Praia de

    Sirinham, em Sirinham; Marinas do Aquir, Enseada de Serrambi e Ponta de Serrambi,

  • 54

    em Ipojuca. A ocupao desses loteamentos tem lugar a partir da dcada de oitenta e

    ocorre em ritmo acelarado, envolvendo, com freqncia, aterro de mangue, maceis e

    gamboas, destruio de dunas e privatizao de trechos da praia atravs de muros,

    rampas e outras construes que impedem o acesso pblico a essas reas (CPRH,2003).

    4.5.2 VETORES DE DINAMIZAO ECONMICA E DEMOGRFICA E INDICADORES

    SOCIOECNMICOS

    Nas ltimas duas dcadas, consolidou-se como principal vetor de dinamizao

    econmica e demogrfica dessa regio litornea a explorao turstica e imobiliria para

    casas de veraneio. Observa-se que os investimentos pblicos canalizados atravs do

    Prodetur-Nordeste qualificam seletivamente as redes de infra-estrutura, de equipamentos e

    servios tursticos para um mercado de padro nacional e internacional. A promoo

    turstica e imobiliria de agentes nacionais e estrangeiros garantida com a implantao

    de complexos hoteleiros, resorts, parques temticos, clubes privados, loteamentos,

    condomnios horizontais e verticais, para atender a diferentes nichos de mercado, alm de

    transformar, gradativamente, a paisagem litornea em mercadoria.

    O outro vetor de dinamizao da economia e crescimento demogrfico no litoral sul

    de Pernambuco o Complexo Industrial Porturio de Suape (CIPS), que reflete resultados

    econmicos expressivos a partir de investimentos de grande magnitude, onde se destacam

    o Estaleiro Atlntico Sul e Promar, a Refinaria Abreu e Lima, a Petroqumica de Suape e a

    Citepe, alm de toda a cadeia logstica relacionada. A expanso e consolidao desseplo

    industrial impulsionou tambm um expressivo aumento do nmeo de habitantes, sobretudo

    em Ipojuca.

    Em funo do CIPS, nota-se que Ipojuca apresenta um PIB (Produto Interno Bruto,

    que soma, em valores monetrios, de todos os bens e servios finais produzidos numa

    determinada regio, durante um determinado perodo) significativamente alto, assim como

    o salrio mdio do trabalhador formal, sobretudo quando comparado com os demais

    municpios(Tabela 2).

    O ndice de Desenvolvimento Humano - IDH, calculado pelo IPEA e FJP/PNUD,

    expresso no Atlas do Desenvolvimento Humano, se presta a comparar o nvel de

    desenvolvimento humano alcanado em diferentes regies, por meio de uma metodologia

    de clculo que incorpora dados de renda (PIB per capita), longevidade (esperana de vida

  • 55

    ao nascer) e educao (alfabetizao e taxa de matrcula), adotada como padro pela

    Organizao das Naes Unidas (ONU, 2003).

    Tabela 2 Recortes socioeconmicos dos municpios envolvidos, comparados capital pernambucana e ao Estado.

    Fonte: Dados municipais - Fonte: IBGE (2014)

    Pases, estados e municpios com IDH entre 0,500 e 0,799 so considerados de

    mdio desenvolvimento humano. De acordo com a Agncia Condepe/Fidem (2009), tanto

    o Estado de Pernambuco, quanto a capital Recife, como os municpios da rea em questo

    (que integram a proposta da APA Marinha) se enquadram nesta categoria de IDH(Tabela

    2).

    As redes de abastecimento de gua e de esgotamento sanitrio, que tambm

    representam fator de desenvolvimento socioeconmico, apresentam uma situao des-

    favorvel nos municpios envolvidos, quando comparado com a mdia da capital do

    Estado. H uma distribuio desigual da rede nos domiclios urbanos dos municpios na

    rea, alm de possuir a oferta inadequada desse servio (Ag.Condepe/Fidem, 2009).

    Excetuando Ipojuca, que tem 50% dos domiclios urbanos atendidos com sistema de

    esgoto, os municpios de Rio Formoso e Sirinham possuem cerca de 30% e Tamandar

    apresenta apenas 17,9% dos domiclios com esgotamento. Tal situao tem gerado,

    inclusive, srios problemas de poluio dos rios da regio, que desaguam na rea

    proposta para a APA Marinha.

  • 56

    Fora dos limites diretos da rea de abrangncia da APA (no seu entorno) esto

    previstas as atividades de explorao de leo e gs nas bacias petrolferas offshore que

    iro transcorrer em reas distantes da costa, superiores isbata de 500m, que

    configuram o Mar Territorial da Zona Costeira de Pernambuco (Figura 22).

    Cabe destacar que apesar do progresso da tecnologia de segurana operacional na

    explorao e transporte de petrleo, a eventual explorao num entorno to aproximado da

    rea proposta para a APA Marinha poder gerar impactos ambientais de grande magnitude

    associados a srios riscos de acidentes com difcil remediao. Caso a prospeco e

    explorao de petrleo e gs de fato venham a ocorrer nesses blocos, fundamental que

    sejam implantados programas de monitoramento ambiental das praias, que geralmente

    so estabelecidos como condicionantes do processo de licenciamento ambiental.

    Figura 22. Blocos de petrleo: em laranja, blocos de possvel explorao de petrleo localizados prximo rea poposta para a criao da APA Marinha (poligonal em traado branco).

    Fonte: ANP (2017)

    4.5.3. PESCA ARTESANAL

    A pesca artesanal caracterizada pelo trabalho familiar e comunitrio, utilizando

    tcnicas tradicionais para a captura do pescado, tais como: coleta manual, vara de pesca,

    linha e anzol, tarrafa, redes de cerco, de emalhe, de arrasto e armadilhas. As embarcaes

  • 57

    predominantemente utilizadas so jangadas, canoas, baiteras e barcos motorizados de

    pequeno porte. realizada com fins comerciais e de subsistncia e gera alternativa de

    renda e de provimento de alimentos para milhares de pessoas. A atividade pesqueira inclui

    os diversos atos que compem a cadeia produtiva, como captura,

    transporte, beneficiamento, armazenamento e comercializao dos recursos pesqueiros.

    No Brasil, os pescadores artesanais so responsveis pela metade de toda a

    produo pesqueira, enquanto que em Pernambucoesta proporo chega a 70%. De

    acordo com dados do antigo Ministrio da Pesca e Aquicultura (MPA), o Estado ocupa a

    15 posio nacional na produo de pescados. O levantamento feito pelo MPA em 2012

    apontou que Pernambuco possua ento 13.128 pescadores profissionais cadastrados no

    Registro Geral da Pesca. A quantidade real de pescadores, entretanto, tende a ser bem

    maior, tendo em vista que muitos no possuem suas carteiras de pescadores e, portanto,

    no entram nesta contagem oficial. Registra-se ainda que em 2010 a pesca

    especificamente em ambiente marinho em Pernambuco foi responsvel pela produo de

    10.918,3 toneladas de pescado (SEMAS, 2015).

    A atividade pesqueira na rea proposta para a APA MAR Recifes Serrambi, no litoral

    sul pernambucano, desenvolvida em uma grande diversidade de ecossistemas costeiros

    e marinhos, como na plataforma continental, na quebra do talude, nos paleocanais, nos

    recifes de corais e nos esturios, compreendendo variados habitats. Diversas populaes

    de organismos marinhos comercialmente explorveis se utilizam destes habitats, fazendo

    com que haja uma concentrao da atividade da pesca artesanal nesses ambientes.

    A pesca praticada no mar de dentro, no mar de fora e na rea estuarina. A

    pesca de mar de dentro a pesca costeira, realizada na regio protegida pelos arrecifes,

    em geral com pequenas embarcaes - principalmente jangadas - ou mesmo

    desembarcada. A pesca de mar de fora ocorre em reas mais distantes da costa at a

    regio do talude continental, chamada popularmente de paredes, onde se pratica

    sobretudo a pesca de linha, a qual captura peixes nobres, a exemplo da cioba. Esta

    uma pesca artesanal mais capitalizada, utilizando embarcaes de madeira ou fibra, a

    motor (PEDROSA, 2016).

    Apesca estuarina, realizada geralmente com o apoio de pequenas embarcaes,

    uma pesca que demanda menos capital, por no exigir grandes deslocamentos e

    compreender coletas manuais, entre outras formas de pesca. As mulheres so os grandes

  • 58

    atores da regio estuarina, onde catam seus mariscos, sururus e outros moluscos

    (PEDROSA, 2016).

    O retrato da pesca artesanal apresentado no Diagnstico Socioeconmico da Pesca

    Artesanal do Litoral de Pernambuco (Instituto Oceanrio, 2010), analisa as atividades das

    comunidades pesqueiras dos quatro municpios que esto na retaguarda da rea proposta

    para a APA Marinha. Juntos, Ipojuca, Sirinham, Rio Formoso e Tamandar respondem

    por 9,37% da captura estadual, onde as principais modalidades (e apetrechos) de pesca

    praticadas na regio e os tipos e volumes de pescado esto destacados na Tabela 3.

    Tabela 3 Recortes da caracaterizao da Pesca Artesanal

    1 Os apetrechos extrapolam 100% em funo damarcaode mais de uma opo

    Fonte: Instituto Oceanrio, 2010.

    Observa-se que as principais espcies pescadas na rea da APA proposta so

    tainha, sauna, sardinha, camaro, lagosta, guarajuba e agulha, ocorrendo tambm a pesca

    da cavala, cioba, dourado, guaba, bagre e robalo.

    Com base nas informaes apresentadas na tabela 3, h de se considerar que parte

    da atividade pesqueira destes municpios realizada fora da rea da APA proposta,

    sobretudo em Rio Formoso e Sirinham, destacadamente no que se refere s

    pescas/capturas tpicas de esturios, como o caso dos caranguejos, siris, ostras e

    sururus. Entretanto, vale ressaltar que estas reas estuarinas esto inseridas em outras

    Unidades de Conservao contguas APA proposta, reforando a bioconectividade entre

  • 59

    estes ambientes, que j protegem legalmente os manguezais, como o caso da APA de

    Guadalupe e a APA de Sirinham, alm da APA Estuarina dos Rios Sirinham e

    Maracape.

    A pesca artesanal considerada uma importante atividade socioeconmica nesta

    regio litornea, que sustenta uma grande cadeia produtiva. Esta cadeia exige complexos

    mecanismos logsticos entre a produo e o consumidor final, em funo das dificuldades

    nos processos de conservao e comercializao, sendo que s vezes algumas espcies

    de pescado passam por at quatro vendedores at atingir o consumidor final, elevando o

    preo do produto na ponta e diminuindo, consequentemente, o preo pago ao pescador

    na praia. Por sua natureza especfica, depende das condies climticas, oceanogrficas,

    biolgicas e de mercado (PEDROSA, 2016).

    De acordo com o Diagnstico realizado pelo Instituto Oceanrio (2010), que contou

    com informaes fornecidas pelos pescadores, atravs de entrevistas, so apresentados a

    seguir dados quanto destinao do pescado obtido nos quatro municpios em questo.

    Observa-se que nos municpios de Ipojuca e Rio Formoso a maior parte da produo

    do pescado destinada venda direta ao consumidor, enquanto que no municpio de

    Sirinham a maior parte do pescado vai para o peixeiro - atravessador. Destaca-se que em

    Ipojuca, onde h grande movimentao de turistas e veranistas, a comercializao direta

    para o consumidor final facilitada por este fator. Em Tamandar, a distribuio do

    pescado equitativa entre o consumo prprio e o consumidor final.

    Dados apresentados por Pedrosa (2016) afirmam queem Sirinham a maior parte da

    produo pesqueira entregue a atravessadores, muitos dos quais da prpria comunidade

    e donos de barcos, enquanto que em Tamandar a maioria dos produtos so

    comercializados diretamente aos consumidores ou no entreposto de comercializao da

    Colnia.

    Como j destacado anteriormente, o acelerado processo de explorao turstica e

    imobiliria no litoral modificou a dinmica da atividade pesqueira a partir da dcada de

    setenta, na medida que promoveu o afastamento dos pescadores de seus locais de

    moradia tradicionais, prximos ao mar. Este deslocamento dificulta tambm o acesso aos

    seus locais de trabalho e guarda de suas jangadas e materiais de pesca, que compem a

    logstica de sua atuao.

  • 60

    Muitas vezes ocorre tambm o afastamento do pescador da prpria atividade

    pesqueira, pois atrados pela possibilidade de melhoria de renda, alguns deixam suas

    funes e se tornam caseiros, comerciantes, jangadeiros, alm de outras atividades

    absorvidas pelos empreendimentos e iniciativas tursticas. Dessa forma, observa-se que a

    atividade pesqueira artesanal atualmente praticada por alguns pescadores de forma

    exclusiva e outras vezes de forma conjugada com outras atividades, de maneira a

    possibilitar a complementao de renda.

    Em face a esse cenrio, cabe ressaltar que a criao dessa rea marinha protegida

    visa no s a conservao da biodiversidade dos oceanos, mas tambm a manuteno e a

    recuperao dos estoques pesqueiros e, por consequncia, o fortalecimento da pesca

    artesanal sustentvel. Esta tem incontestvel importncia socioeconmica - no apenas

    como fator de gerao de trabalho e renda para a populao litornea, como tambm

    como fornecedora de protena animal para o consumo humano.

    No mbito das polticas pblicas, vale salientar que o Governo de Pernambuco, por

    meio da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS), instituiu em 2015 a

    Poltica da Pesca Artesanal do Estado de Pernambuco (Lei no 15.590/2015), e que desde

    ento esta Poltica passou a ser coordenada pela SEMAS, em conjunto com o Comit

    Gestor da Pesca Artesanal. Este Comit um rgo paritrio, composto por

    representantes do poder pblico e da sociedade civil, destacadamente representantes do

    segmento pesqueiro, que teve como primeira misso a construo participativa da

    regulamentao da Poltica, finalizada em 2017, e agora possui a responsabilidade de

    implement-la.

    A interface das Unidades de Conservao e das aes do Estado quanto gesto

    dos ambientes costeiros e marinhos com a Poltica da Pesca Artesanal imediata e

    permanente. Inclusive, de acordo com o seu artigo 6, as UCs so consideradas um dos

    instrumentos da referida Poltica. Tanto as Unidades de Conservao devem estabelecer

    estratgias para fortalecer a pesca artesanal e ampliar os estoques pesqueiros, quanto

    fomentar a prtica da pesca de forma sustentvel essencial para a manuteno da

    biodiversidade das UCs. Neste sentido, envolver os pescadores no processo de criao e

    gesto da APA Marinha Recifes Serrambi fundamental, tendo em vista que estes so um

    dos principais usurios das praias e oceanos.

  • 61

  • 62

    5. PROPOSIO DA CATEGORIA DE MANEJO

    De acordo com o Sistema Estadual de Unidades de Conservao(SEUC - Lei

    Estadual n. 13.787/2009), a rea de Proteo Ambiental (APA) uma categoria de

    Unidade de Conservao que pertence ao grupo de Uso Sustentvel. Conforme o artigo 7

    do SEUC, o objetivo bsico das UCsque fazem parte deste grupo compatibilizar a

    conservao da natureza com o uso sustentvel de parcela de seus recursos naturais.

    Desta forma, a categoria APA permite usos diretos e indiretos, a exemplo da pesca, turismo

    e veraneio, que so os principais usos observados na rea proposta para a criao da APA

    Marinha Recifes Serrambi, no litoral sul de Pernambuco.

    De acordo com o disposto no artigo 15 do SEUC,

    APA uma rea, em geral, extensa, com certo grau de ocupao humana, dotada de atributos abiticos, biticos, estticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem estar das populaes humanas; tem comoobjetvos bsicos proteger a diversidade biolgica e os recursos hdricos, disciplinar o processo de ocupao do solo, preservar paisagens notveis e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (Lei Estadual n. 13.787/2009, art. 15).

    A rea proposta para a criao da APA Marinha Recifes Serrambi delimita um

    territrio de importncia regional, onde se faz necessrio fomentar o planejamento e

    gesto ambiental voltados sustentabilidade. Considerando a vulnerabilidade e fragilidade

    do ambiente costeiro-marinho e a presena de diversos usos consolidados, tais como a

    pesca, o turismo e o lazer, a compatibilizao destes usos com a proteo dos

    ecossistemas marinhos e costeiros de fundamental importncia para o desenvolvimento

    sustentvel da regio.

    Esses aspectos, ressaltados pelas caractersticas de mltiplos usos desta rea to

    abrangente, levam inviabilizao de uma Unidade de Conservao de qualquer categoria

    do grupo de Proteo Integral, que s permitiriam o uso indireto dos recursos naturais.

    Conforme j bastante mencionado, na rea marinha proposta existem usos diretos

    de recursos naturais, ou seja, atividades humanas que obtm produtos, servios e

    benefcios da natureza atravsda apropriao e/ou consumo dos recursos naturais, a

    exemplo da pesca, alm da forte ocorrncia da atividade de turismo e veraneio. Esses

    fatores ratificam a necessidade de aes de disciplinamento e ordenamento dos diversos

    usos, os quais no deveroser proibidos, mas compatibilizados com os objetivos de

    conservao da rea.

  • 63

    Dentre as demais Unidades de Conservao de Uso Sustentvel, uma categoria que

    chegou a ser mencionada pelos atores sociais como possibilidade durante a oficina

    integrante do processo de criao da UC foi a Reserva Extrativista (RESEX). Na ocasio,

    discutiu-se sobre as caractersticas desta categoria e chegou-se concluso de que esta

    no seria uma opo vivel, tendo em vista que a rea apresenta mltiplos usos, usurios

    e interesses; e que a categoria RESEXprev a concesso de uso da rea s populaes

    extrativistas tradicionais, tendo como objetivos bsicos proteger os meios de vida e a

    cultura dessas populaes, e assegurar o uso sustentvel dos recursos naturais da

    Unidade (art. 21 do SEUC).

    Observam-se ainda dois outros fatores que corroboram para que esta rea marinha

    no tenha vocao para a criao de uma RESEX. Um que a RESEX precisa ser criada

    a partir de uma demanda da comunidade tradicional interessada, o que no se aplica neste

    caso. Outro que, embora existam Reservas Extrativistas em reas marinhas, h diversos

    relatos de que quando ocorrem em reas onde h diversos usos, a gesto geralmente

    bastante conflituosa. Ressalta-se ainda que um dos principais objetivos da APA Marinha

    proposta justamente a conciliao dos diversos usos da rea, reconhecidamente de

    vocao e prtica consolidadas no s para a pesca, mas tambm para o turismo e

    veraneio.

    Assim, dentre as categorias de Uso Sustentvel, a categoria APA mostrou-se a mais

    adequada para esta rea. A implantao desta Unidade de Conservao dever promover

    o zoneamento e o ordenamento dos diversos usos, a serem planejados e efetivados de

    forma participativa, envolvendo os diversos atores sociais interessados, incluindo todos os

    usurios da rea. Dever tambm buscar viabilizar medidas mitigadoras para as presses

    antrpicas consideradas degradadoras e/ou impactantes ao ecossitema marinho e