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Análise Institucional
Este capítulo, a segunda parte do referencial teórico, apresenta os
conceitos que fundamentam a teoria institucional, buscando dar maior ênfase ao
neo-institucionalismo através dos conceitos de campo organizacional e
isomorfismo. O material tem grande influência dos trabalhos de DiMaggio e
Powell, mas sem deixar de buscar apresentar as visões de atores importantes na
discussão a respeito da teoria institucional. A abordagem desta teoria, no presente
estudo, deve-se à percepção sobre a sua potencialidade em explicar a dinâmica
existente entre os participantes da indústria analisada.
3.1.
Teoria Institucional
A teoria institucional é definida como o esteio teórico de diferentes
esforços de explicação de fenômenos organizacionais (CARVALHO e VIEIRA,
2003 p. 1). Através da análise dos diversos atores que compõem uma indústria e
de como estes atores se relacionam e se organizam, a teoria institucional é uma
importante ferramenta para entender a indústria em si e de como estão
estruturadas as relações de poder.
Por se tratar de uma teoria que trabalha também com a idéia da indústria e,
neste caso, num conceito muito próximo ao descrito por Porter (1980) e, ao
mesmo tempo, por tratar da dinâmica das relações entre os atores desta indústria,
resolveu-se sustentar, em conjunto à teoria da estratégia, a análise do mercado de
telefonia local do Rio de Janeiro através da teoria institucional. Como afirmam
Scott e Meyer (1991):
“Apesar das dificuldades operacionais de definição que os economistas têm encontrado, há um entendimento comum de que o conceito de indústria é extremamente útil como um caminho para entender a relevância que o ambiente onde as empresas operam possui, reconhecendo que o comportamento das
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empresas depende crucialmente da organização da indústria” (SCOTT e MEYER, 1991, p. 120, tradução livre do autor).
A teoria institucional (CARVALHO e VIEIRA, 2003) se baseia na idéia
de que as organizações sobrevivem ao compartilharem valores em um
determinado espaço social e um dos seus questionamentos teórico é descobrir e
analisar quais são os valores que os principais atores sociais compartilham no
campo, de que recursos de poder dispõem e como os utilizam para a consecução
de seus objetivos.
A aplicabilidade desta teoria ao presente estudo está em mapear como a
dominante do mercado, neste caso a Telemar, mantém uma estrutura de relações
de poder que permitem que ela mantenha o status quo de dominante, obtendo uma
performance superior à de seus concorrentes. De acordo com Powell (1991), as
contribuições para o estudo das organizações serão extremamente enriquecidas, se
forem hábeis em discernir as fontes de padrão institucional, seu processo de
formação, como estas forças são sustentadas e os tipos de estruturas de campo em
que elas operam e que são de maior importância e ressonância dentro do ambiente
de negócios.
O entendimento de como se organizam e se relacionam as empresas, pode
mostrar que a institucionalização de uma indústria pode ser, inclusive, uma
decisão estratégica. Para DiMaggio e Powell (1991), muitos economistas
institucionais e teóricos assumem que os atores constituem organizações que se
transformam naquilo que eles desejam e raramente questionam de onde as
preferências vieram ou consideram os mecanismos de feedback entre interesses e
instituições. Ainda nesta mesma linha, Meyer e Rowan (1991) argumentam que
organizações poderosas forçam suas redes relacionais a se adaptarem às suas
estruturas e relações e, desta forma, buscam estabelecer seus objetivos e
procedimentos diretamente na sociedade, como regras institucionais. Scott (1991)
também descreve com clareza a intenção estratégica em relação ao ambiente
institucionalizado.
“The conception of a differentiated and competitive institutional environment
also supports the view that organizations are not passive actors being imprinted
by cultural templates. Rather, just as is the case within their technical
environments, organizations may be expected to exercise “strategic choice”: in
relating to their institutional environments”. (SCOTT, 1991, p. 170)
Na abordagem institucional, três elementos mostram-se como os pivôs da
teoria: as instituições, o ambiente e, as relações entre as instituições entre si e com
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o ambiente, que configuram a idéia do campo organizacional. (DIMAGGIO e
POWELL, 1991, p. 63).
Apesar de bastante usado, o conceito de instituição tem um amplo espectro
de referência. Autores utilizam a palavra com conotações diferentes e, por isso, é
importante tentar-se identificar como deve ser entendido o conceito. Conforme
pondera Jepperson (1991):
“Alguns estudiosos citam instituições apenas para se referir a associações grandes e importantes. Outros parecem relacionar instituições com resultados de efeitos ambientais. E ainda outros simplesmente equacionam o termo relacionando-o a efeitos culturais ou de natureza histórica”. (JEPPERSON, 1991, p. 143, tradução livre do autor).
Instituição pode ser entendido como organização ou associação de caráter
político, econômico, social, religioso, conforme descreve o dicionário Aurélio. A
definição de instituições, contudo, foge ao mero plural da palavra e denota as
noções de conjunto de normas e de leis que regem uma sociedade, bem como o
conjunto das estruturas socialmente estabelecidas. Cabe, neste caso, recorrer à
argumentação apresentada por Jepperson:
“I argue that institutionalization best denotes a distinct social property or state,
and that institutions should not be specifically identified, as they often are, with
ether cultural elements or a type of environmental effects. It then becomes
possible to represent institutionalization as a particular set of social reproductive
processes, while simultaneously avoiding the opposition of institutionalization
and change. And it becomes possible to represent institutionalism in an entirely
straightforward way, as arguments featuring higher-order constrains imposed by
socially constructed realities, and to distinguish it from other lines of argument”.
(JEPPERSON, 1991, p. 144)
Desta forma, pode-se entender que instituição refere-se ao elemento
formador, enquanto que institucionalização refere-se ao processo de atingimento
deste quadro caracterizado por normas, leis e estruturas socialmente estabelecidas,
quadro que representa as instituições, o ambiente e como elas se relacionam entre
si. Ainda de acordo com Jepperson (1991), instituições representam a ordem
social ou padrão que atinge certo Estado ou propriedade, enquanto que
institucionalização caracteriza o processo.
Para Jepperson (1991, p.146), tratar dos conceitos de institucionalização,
instituição e institucionalismo, então, se refere a identificar o objeto de análise
segundo: (1) seu contexto, isto é, em que quadro de referência a análise está sendo
feita; (2) seu grau relacional, isto é, em que níveis as organizações estão se
relacionando, horizontalmente e verticalmente; (3) em que particular relação está
buscando se explorar; (4) a centralidade da análise.
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Friedland e Alfford (1991) fazem uma definição de instituição que resume
bem o conceito abordado, bem como abordam a importância de entender
instituições dentro do contexto e da dinâmica das relações entre elas. Segundo os
dois autores, instituições são padrões supra organizacionais de atividade humana,
por meio das quais indivíduos e organizações produzem e reproduzem seus
produtos de subsistência e se organizam no tempo e no espaço. Ainda segundo os
autores, os teóricos institucionais analisam a sociedade em termos das
contradições internas e entre as instituições. Instituições, desta forma, não podem
ser analisadas isoladamente uma das outras, mas devem ser entendidas em suas
relações mutuamente dependentes, ainda que contraditórias relações.
No estudo sobre instituições, é comum nos depararmos com o conceito de
burocracia. Para Weber (1978 apud DIMAGGIO e POWELL, 1991), a burocracia
era uma ferramenta importante na dominação do ambiente institucional. De
acordo com DiMaggio e Powell (1991), Weber entendia burocracia como a
manifestação racional do espírito da organização, manifestação esta que era vista
como um poderoso e eficiente mecanismo de controle do homem e da mulher, que
uma vez estabelecido, o momento da burocratização era irreversível. Para Scott
(1975 apud MEYER e ROWAN, 1991), em teorias convencionais, estruturas
formais racionais são assumidas como a mais efetiva maneira de coordenar e
controlar redes relacionais complexas e envolvem técnicas modernas de trabalho.
Este afirmativa é oriunda das discussões de Weber (1946, 1947, 1952 apud
MEYER e ROWAN, 1991) sobre o aparecimento histórico de burocracias como
conseqüências de mercados econômicos e Estados centralizados, onde os
mercados premiam a racionalidade e a coordenação.
Na verdade, os conceitos se relacionam, na medida em que a teoria
institucional busca entender como os interesses das organizações são assegurados
em um ambiente institucionalizado. Neste contexto, surge a definição de
corporativismo como um dos produtos do processo de institucionalização. Note-se
que Scott e Meyer fazem uma importante correlação entre interesses
organizacionais, Estado e concentração de mercado:
“The best current accounts of existing differences in sector organization reside in
the political science literature where an expanding body of work is developing on
(1) the nature and extent of the organization of private interests in a society, (2)
their relation to the central state, (3) the manner and degree of interest
concentration achieved. The most highly developed and explicit form of interest
articulation is corporatist state. A stated by Schmitter (1974, p.93-94):
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corporatism can be defined as a system of interest representation in which the
constituent units are organized into a limited number of singular, compulsory,
noncompetitive, hierarchically ordered and functionally differentiated categories,
recognized or licensed (if not created) by the state and granted a deliberate
representational monopoly within their respective categories in exchange for
observing certain controls on their selection of leaders and articulation of
demands and supports”. (SCOTT e MEYER, 1991, p. 121)
Entender estas relações é então de suma importância para se buscar
entender as diferentes posições de dominação das organizações no mercado. Para
isso, se trabalha com o conceito de campo organizacional que passa a ser o objeto
de estudo e o ponto onde o processo de institucionalização se desenvolve:
“O campo organizacional surgiu como um elemento único na junção entre os níveis organizacionais e societais no estudo das mudanças sociais e da sociedade. O campo possui uma função que serve como uma útil base para delimitar tanto o ambiente em que as organizações estão inseridas cuja estrutura ou performance será examinada segundo uma perspectiva institucional, bem como definir uma unidade intermediária significativa (um crítico sistema em seu próprio âmago) a ser empregada em análises macrosociológicas”. (SCOTT, 1987, p. 174, tradução livre do autor)
3.1.1.
Histórico
Os primeiros estudos sobre o tema foram elaborados por Selznick, que é
apontado como o precursor da perspectiva da Teoria institucional. Selznick (1949,
p.10 apud FACHIN e MENDONÇA, 2003, p. 30) afirmou que “a coisa mais
importante sobre as organizações é que apesar de elas serem ferramentas, cada
qual tem vida em si própria”.
A institucionalização é definida por Selznick (1949, apud FACHIN e
MENDONÇA, 2003) como o processo pelo qual uma organização desenvolve
uma estrutura de caráter distintivo, ou seja, quando recebe uma infusão de valor.
Na visão de Selznick, as organizações são “conjuntos sistêmicos, caracterizados
por harmonia e consenso naturais, com funcionalidade igual para todos os
participantes, e relativamente independente tanto da ação humana como do
contexto social” (FACHIN e MENDONÇA, 2003, p.32). Selznick atribui status
político às instituições organizacionais, permitindo vê-las como forças estratégicas
de articulação de identidades e interesses nas sociedades modernas. Prates (2000,
p. 14 apud FACHIN e MENDONÇA, 2003, p.33) afirma ainda que elas
participam do jogo do poder que determina os arranjos institucionais da política e,
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conseqüentemente, da definição de quem se qualifica como participante legítimo
das decisões políticas.
A obra seminal de Selznick (1949, apud FACHIN e MENDONÇA, 2003),
dentro da teoria das organizações, introduz uma visão de organização não somente
inserida num ambiente, mas reconhecendo uma interação efetiva com o ambiente,
pleno de símbolos e de valores, que precisam ser levados em conta se a
organização busca encontrar sua legitimidade, sua sobrevivência, seu equilíbrio.
De acordo com Selznick (1949, apud FACHIN e MENDONÇA, 2003, p.
35):
“a cooptação pode ser entendida como o processo de absorver elementos na liderança ou na estrutura de determinação de políticos de uma organização, como meio de procurar evitar ameaças a sua estabilidade ou existência”. A cooptação, como um processo que pode ser formal ou informal, tanto
pode significar o compartilhamento de poder e de autoridade, quanto o
compartilhamento de responsabilidade e participação, sem, entretanto, a
redistribuição real de poder.
A tática da “cooptação” identificada por Selznick (1949, apud FACHIN e
MENDONÇA, 2003), demonstra como as forças ambientais condicionam a ação
organizacional no tentativa de perpetuar-se, sobreviver e, fundamentalmente,
institucionalizar-se. A institucionalização identifica-se, assim, a uma característica
conservadora e não um instrumento de mudança social.
A institucionalização é um processo e está estreitamente ligada a uma
necessidade de sobrevivência, de reconhecimento no meio social, de
adaptabilidade aos interesses que existem em seu ambiente. No processo de
institucionalização os valores substituem os fatores técnicos na determinação das
tarefas organizativas, o que significa uma contraposição a uma visão estreitamente
racional da ação da administração. Para Selznick:
“organizações transformam-se em instituições ao serem infundidas de valor, isto é, avaliadas não como simples instrumentos, mas como fontes de gratificação pessoal direta e veículos de integridade de um grupo. Esta infusão produz uma identidade distinta para a organização” (SELZNICK 1971, p.34 apud FACHIN e MENDONÇA, 2003, p. 38).
Selznick (1996, p.271, apud Fachin e Mendonça, 2003 p. 41) argumenta
que, na medida em que uma organização se institucionaliza, ela tende a assumir
um caráter especial e alcançar uma competência distinta ou, talvez, uma
capacidade treinada ou a ela inerente. Assim a Teoria institucional traça a
convergência de formas, processos, estratégias, perspectivas e competências
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distintas, à medida que emergem de padrões de interação e adaptação
organizacional. Tais padrões devem ser compreendidos como respostas a
ambientes tanto internos como externos.
Selznick vê então o processo de institucionalização como a criação de uma
estrutura formal, o aparecimento de normas informais, recrutamento seletivo,
rituais administrativos, ideologias e muitos outros que resultam de uma história
especial de buscar as metas, de resolver problemas e de adaptação, conforme
observam Fachin e Mendonça (2003).
3.1.2.
O Novo e o Velho Institucionalismo
Scott (1991) considera que a reconceitualização do ambiente se revela
como a grande contribuição dos seguidores da abordagem institucional para o
tratamento de questões organizacionais. Nesta linha, surgiu o chamado neo-
institucionalismo que busca contrapor o modelo racionalista e seu foco nas
exigências técnicas dos processos gerenciais e produtivos, ao voltar a atenção para
o exame dos elementos de redes relacionais e de sistemas culturais que modelam e
sustentam a estrutura e a ação das organizações.
Para DiMaggio e Powell (1991) o marco do aparecimento do neo-
institucionalismo foram dois trabalhos “The Effects of educational as intitution”
e “Institutionalized Organizations: Formal Structure as Myth and Ceremony”,
ambos escritos por John Meyer em 1977. De acordo com os autores, estes dois
papers definiram uma série de conceitos que passaram a ser usados como os
pilares do neo-institucionalismo, como a abordagem do ambiente e a
homogeneidade:
“Another fundamental difference between the two institutionalisms is in their
conceptualization of the environment. Authors of older works describe
organizations that are embedded in local communities, to which they are tied by
the multiple loyalties of personnel and by interorganizational treaties (co-
optation) hammered out in face-to-face interaction. The new institutionalism
focuses instead on non local environments, either organizational sectors or fields
roughly coterminous with the boundaries of industries, professions, or national
societies. Environments, in this view, are more subtle in their influence; rather
than being co-opted by organizations, they penetrate the organization, creating
the lenses through which actors view the world and the very categories of
structure, action, and thought. (DI MAGGIO e POWELL, 1991, p. 13)
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O neo-institucionalismo surge como uma tentativa de continuação do
antigo que possui como seu principal representante Selznick. Das diferenças entre
as duas vertentes pode-se destacar:
� a orientação política dos adeptos do antigo institucionalismo, expressa na
marcante ênfase de interesses na formulação da ação organizacional, pouco
considerados no tratamento atual;
� a conceitualização do ambiente, tido como componente constitutivo da
organização pela nova geração, contra mero campo fornecedor de elementos
de cooptação pela antiga;
� a passagem do pensamento baseado na teoria da ação parsoniana, arraigada na
abordagem freudiana do ego, para a utilização dos princípios da teoria da ação
prática, originária da etnometodologia e da revolução cognitiva da psicologia.
DiMaggio e Powell (1991) ainda apontam diferenças em relação ao objeto
de institucionalização. Enquanto que no novo institucionalismo, organizações,
componentes estruturais e regras são considerados institucionalizados, no velho
institucionalismo apenas organizações recebiam esta abordagem. No trecho
abaixo, DiMaggio expande este conceito de abordagem e mostra como o velho se
modificou segundo o novo:
“March and Simon’s primary focus was on decision making and other internal
organization processes. This preoccupation led then away from an explicit
concern with organizational environments. Nonetheless, in the evolution of
organizational analysis from Barnard to the Carnigie school we see a shift,
parallel to the transition from the old to the new institutionalism, from a
normative to a cognitive approach to action, from commitment to routine, from
values to premises, from motivation to the logic of rule following”. (DIMAGGIO
e POWELL, 1991, p. 19)
Estendendo sua análise, DiMaggio e Powell (1991) afirmam que o novo
institucionalismo está baseado no nível micro, o que eles nomearam como teoria
da ação prática.
Selznick (1996 apud FACHIN e MENDONÇA, 2003), no entanto, já
reconhecia a estrutura formal como produto institucionalizado e, portanto,
fortemente adaptativo às influências ambientais. Perrow (1986 apud FONSECA,
2003) pondera que a principal contribuição da abordagem neo-institucional à
teoria institucional é a ênfase na influência do ambiente ao colocar a legitimidade
e o isomorfismo como fatores vitais para a sobrevivência das organizações.
Apesar de possuírem diferenças, ambos, o novo e o velho, enxergam a
institucionalização como um processo dependente do Estado que molda
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organizações menos racionais através da limitação das opções que elas podem
perseguir e ambos enfatizam a relação entre ambiente e organizações, apesar do
novo trazer uma nova abordagem.
Há três pilares em torno dos quais se concentram as temáticas
desenvolvidas pelos neo-institucionalistas a partir da relação entre instituições e
organizações: o regulador, o normativo e o cognitivo, conforme apresentado no
Quadro 2 (SCOTT, 1995, p. 35 apud FONSECA, 2003 p. 50).
Quadro 2- Variações de Ênfase – Três Pilares das Instituições
Características Regulador Normativo Cognitivo
Base de submissão Utilidade Obrigação social Pressuposição
Mecanismos Coercivo Normativo Mimético
Lógica Instrumentalidade Adequação Ortodoxia
Indicadores Regras,leis, sanções Certificação,
aceitação
Predomínio,
isomorfismo
Base de legitimação Legalmente
sancionada
Moralmente
governada
Culturalmente
sustentada
O regulador envolve a busca pelo indivíduo do alcance dos interesses
próprios movidos por uma lógica utilitarista de custo-benefício, empregando para
tanto mecanismos de controle coercivos. Logo, sob tal perspectiva, a base da
legitimação organizacional é a conformidade às exigências legais.
No normativo, acredita-se que os valores e as normas se tornam papéis,
formais ou informais, a serem desempenhados por indivíduos ocupantes de
posições específicas no enfrentamento de determinadas situações. A lógica é a
adequação, uma vez que com seu uso cotidiano e repetitivo, valores e normas são
interiorizados e ao longo do tempo tornam-se uma obrigação ou comportamento
normalmente governado.
Já no pilar cognitivo, a atenção é direcionada para os aspectos simbólicos
das ações resultantes das interpretações e conseqüentes representações que os
indivíduos fazem do ambiente. As organizações encontram-se inseridas em
ambiente constituído por regras, crenças e redes relacionais, criadas e
consolidadas por meio de interação social.
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3.1.3.
Campo Organizacional
Um dos principais elementos na utilização empírica da teoria institucional
é definir o seu objeto de análise. Assim como na teoria da estratégia com o
conceito de arena competitiva, conforme aborda Day e Reibstein (1997, p.20), na
teoria institucional é importante definir as delimitações do campo de estudo, pois
elas são determinantes para que se realmente possa fazer uma análise da indústria.
Não conseguir delimitar e definir o campo de análise pode fazer com que não se
enxergue de maneira clara, importantes fatores determinantes das relações do
campo, assim como na teoria da estratégia pode impedir que se enxergue com
clareza um substituto, ou um potencial novo entrante. Alguns autores apresentam
argumentação neste sentido:
“Um dos significativos desafios para gerentes é de definir com precisão as fronteiras e estruturas da arena competitiva, sem, contudo, utilizar-se de perigosas simplificações que possam cegar os gerentes de mudanças que alterarão as regras previamente estabelecidas no ambiente”. (DAY e REIBSTEIN, 1997, p. 2, tradução livre do autor) “Um dos maiores problema, ao se tratar de campos organizacionais, reside na sua delimitação”. (CARVALHO E VIEIRA, 2003 p. 17).
Autores que trabalham com a Teoria institucional nomeiam o termo de
diferentes maneiras, mas todos trabalham com o mesmo conceito. Para DiMaggio
e Powell (1991, p. 63), este objeto de análise é denominado campo organizacional
e é definido como um conjunto de atores que interagem entre si, seja em troca de
bens, serviços, recursos financeiros ou informações. Estas organizações, no
agregado, constituem uma área reconhecida de vida institucional: fornecedores,
produtores, consumidores, agências regulatórias e outras organizações que
produzem produtos similares. Ainda de acordo com DiMaggio e Powell (1991, p.
63), a virtude desta unidade de análise é que ela direciona nossa atenção não
apenas para as firmas em competição direta ou para as redes relacionais que
interagem diretamente, mas para a totalidade dos relevantes atores que compõem
a indústria. Para os autores, o campo organizacional não é estático, já que é
natural que ele se modifique de acordo com a alteração dos recursos de poder dos
atores e com a mudança de posição relativa entre eles, diante da entrada de novos
personagens e da saída de outros.
Já Scott e Meyer (1991) definem o termo como Setor Societal, mas dão a
mesma conotação que DiMaggio e Powell (1991). De acordo com os atores (1991,
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p.108), Setor Societal é definido de forma a incluir todas as organizações em uma
sociedade que fornecem um tipo específico de produto ou serviço junto com os
arranjos organizacionais que constituem suas redes relacionais, fornecedores,
bancos, reguladores, etc.
Assim como na definição de DiMaggio e Powell, Scott e Meyer também,
ao definirem Setor Societal, trazem um forte laço de identificação com o conceito
de indústria e de arena competitiva trabalhado na teoria da estratégia:
“A societal sector is defined as (1) a collection of organizations operating in the
same domain, as identified by the similarity of their services, products or
functions, (2) together with those organizations that critically influence the
performance of the local organizations: for example, major suppliers and
customers, owners and regulators, funding sources and competitors . . . the
boundaries of societal sectors are defined in functional, not geographical terms:
sectors are comprised of units that are functionally interrelated even though they
may be geographically remote. The concept of sector incorporates and builds on
economist’s concept of industry: all sellers of one type of product or service – or
more abstractly, all those firms characterized by a close substitutability of
product usage who, as a consequence, exhibit demand interdependence”.
(SCOTT e MEYER, 1991, p. 117).
Outros autores nomearam de maneira diferente o conceito de campo. Para
fins de análise, foi utilizado campo organizacional, neste trabalho, como
referência para tratar este conceito.
“Within the organizational literature, the concept of sector is similar to Hirsh’s
(1972, 1985) concept of “industry system” Benson’s (1975) “interorganizational
network” and DiMaggio and Powell’s (1983) “organizational field”. (SCOTT e
MEYER, 1991, p. 120).
Identificar o campo organizacional é então elemento chave na análise
empírica de um estudo de caso, mas importante também é entender o processo de
formação dos campos.
Compreender este processo profundo de transformação de um campo é
uma necessidade, pelo duplo papel que desempenha na formação da identidade
nacional e na valorização da dimensão local e da preservação de suas
especificidades.
A abordagem institucional distinguiu-se de teorias de caráter racionalista
fundamentalmente por entender que os fenômenos sociais, políticos, econômicos,
culturais e outros que compõem o ambiente institucional, moldam as preferências
individuais e as categorias básicas do pensamento como o indivíduo, a ação
social, o Estado e a cidadania (DIMAGGIO E POWELL, 1991).
Segundo DiMaggio e Powell (1991, p.65), entender o processo de
estruturação dos campos organizacionais constitui uma etapa importante da
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análise institucional, uma vez que desse processo decorre a institucionalização das
formas organizacionais. Um dos maiores problemas ao se tratar de campos
organizacionais reside na sua delimitação. Entretanto, salienta-se que, para efeito
de tornar factível uma pesquisa empírica, é possível que o campo seja demarcado
pelas limitações do pesquisador, sem, contudo ferir sua natureza conceitual.
Para Boons e Strannegard (2000 apud CARVALHO e VIEIRA, 2003 p.
17) fazer parte de um campo organizacional é, para uma organização, participar
de uma grande rede não estática e ser participante de um espaço identitário de
organizações consideradas relevantes, criado pelas inter-relações que se
estabelecem entre todas. DiMaggio (1983, apud DIMAGGIO e POWELL, 1991,
p. 65) apresenta quatro indicadores de estruturação de campos organizacionais:
� aumento no grau de interação entre as organizações no campo;
� a emergência de estruturas de dominação e de padrões de coalizão claramente
definidos;
� um aumento do volume de informações com que as organizações em um
campo devem lidar;
� o desenvolvimento de uma consciência mútua, entre os participantes de um
grupo de organizações, sobre o fato de que estão envolvidos em um
empreendimento comum.
Uma vez que as organizações estão estruturadas em um campo real,
passam a poder direcionar seus interesses para o campo, que, ao mesmo tempo,
fortalece suas relações com os atores, mas engessa o campo para mudanças,
conforme abordam DiMaggio e Powell:
“Organizations may change their goals or develop new practices, and new
organizations enter the field. But in the long run, organizational actors making
rational decisions construct around themselves an environment that constrains
their ability to change further in later years”. (DIMAGGIO e POWELL, 1991,
p.65).
A Figura 6 apresenta as etapas de formação de um campo organizacional.
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Figura 6- Etapas de Formação de um Campo Organizacional
Fonte: Adaptado de Holanda 2003 apud Carvalho e Vieira, 2003
A idade das organizações que compõem o campo pode influenciar o seu
processo de estruturação, na medida em que, populações de organizações (ou
indústrias) tendem a formar laços por meio de associações comerciais, por
exemplo, para proteger seus interesses e ampliar seu poder junto aos diferentes
atores envolvidos, principalmente o Estado. Scott (1987, p. 176) afirma que as
estruturas de governança em um campo, apesar de, em certo grau, poderem ser
conseqüência de influências do macrosistema ou de forças decorrentes de suas
unidades constituintes, são indiscutivelmente resultado da atuação do Estado,
principal força na definição da estrutura de um campo organizacional.
Jepperson e Meyer também corroboram a importância do Estado no
processo de institucionalização.
“Polities are the primary loci of institutionalization, we suggest, rather than
organizations in themselves (and rather than diffuse “environment”)”.
(JEPPERSON e MEYER, 1991, p. 214)
Scott (1995 apud CARVALHO e VIEIRA, 2003 p. 18) ainda adiciona
mais quatro indicadores para estruturação do campo organizacional:
� extensão do acordo sobre a lógica institucional que direciona as atividades no
campo;
� aumento do isomorfismo estrutural entre populações no campo;
� aumento da equivalência estrutural de conjuntos de organizações no campo;
� o aumento das definições das fronteiras do campo;
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3.1.4.
Homogeneidade e Isomorfismo
Uma das contribuições da teoria institucional na análise das organizações
foi a importância dada ao ambiente na determinação do campo organizacional. De
acordo com a teoria, as organizações são influenciadas pelos fenômenos que
ocorrem no ambiente e tendem a ficar isomórficas, não como uma simples
conseqüência do processo de institucionalização, mas também como sendo um
objetivo a ser alcançado. Segundo Jepperson e Meyer:
“The core institutionalist contribution is to see environments and organizational
settings as highly interpenetrated. In institutionalist imagery, first actors and
technical functions, taken as priori by other theories, are represented as being
constituted by social environments, that is, given form and legitimacy by them,
and then both enabling and constraining organizational form”. (JEPPERSON e
MEYER, 1991, p. 204).
Neste ponto, vale considerar que o campo organizacional é composto por
organizações, Governo e pessoas, e que, ao se tornarem isomórficas com o
ambiente, cada ator passa a fazer parte da rotina de cada um. De acordo com
Zucker (1991, p88, tradução livre do autor), “o processo de institucionalização
simplesmente define a realidade social que será transmitida e mantida como um
fato”.
Meyer e Rowan (1991) abordam que uma das maneiras pelas quais
organizações passam a ficar isomórficas é através da interdependência provocada
pela necessidade de troca com o ambiente. O ambiente demanda por serviços e
produtos e as organizações conseguem gerenciar estas demandas. Ao se tornarem
isomórficas, contudo, numa ótica institucional, organizações passam a assumir um
padrão de dominância sendo a resposta às exigências do ambiente.
“The observation is not new that organizations are structured by phenomena in
their environment and tend to become isomorphic with them. One explanation of
such isomorphism is that formal organizations become matched with their
environments by technical and exchange interdependencies. This explanation
asserts that structural elements diffuse because environments create boundary-
spanning exigencies for organizations, and that organizations which incorporate
structural elements isomorphic with the environment are able to manage such
interdependencies. A second explanation for the parallelism between
organizations and their environments- and the one emphasized here – is that
organizations structurally reflect socially constructed reality. This view is
suggested by Parsons (1956) and Udy (1970), who see organizations as greatly
conditioned by their general institutional environments and therefore as
institutions themselves in part” ( MEYER e ROWAN, 1991, p.47)
69
As organizações orientam-se para incorporar as práticas e procedimentos
definidos como conceitos racionais na sociedade. Assim, elas aumentam seu grau
de legitimidade e sua chance de sobrevivência, independentemente da imediata
eficiência relativa de tais práticas e procedimentos, tornando-se cada vez mais
semelhantes. Este é o conceito de isomorfismo.
Muitas vezes, contudo, as organizações, tendo em vista seu poder, buscam
incutir na sociedade os seus interesses, o que mostra que os caminhos da
institucionalização podem surgir como conseqüência de um processo natural de
homogeneidade ou pode ser resultado das ações de alguns players, como
abordado por Meyer e Rowan (1991).
Desta forma, pode-se destacar que o isomorfismo possui as seguintes
conseqüências para as organizações, segundo Meyer e Rowan (1991, p. 49):
� o isomorfismo garante que a legitimidade esteja acima da eficiência;
� o isomorfismo faz com que a definição de valor dos elementos estruturais seja
empregada externamente à organização;
� o isomorfismo garante que quanto mais isomórfico estiver o campo, mais
estável ele estará, dificultando assim mudanças na estrutura de poder do
campo.
Como resultado, o que se pode verificar é que o isomorfismo institucional
garante o sucesso e a sobrevivência das organizações:
“Market conditions, the characteristics of inputs and outputs, and technological
procedures are bought under the jurisdiction of institutional meanings and
controls. Stabilization also results as a given organization becomes part of the
wider collective system. Support is guaranteed by agreements instead of
depending entirely on performance. . . More commonly, such firms are
guaranteed by state regulated rates which secure profits regardless of cost’s.
(MEYER e ROWAN, 1991, p.52)
“Organizational success depends on factors other than efficient coordination and
control of productive activities. Independent of their productive efficiency,
organizations which exist in highly elaborated institutional environments and
succeed in becoming isomorphic with these environments gain the legitimacy and
resources needed to survive”. (MEYER e ROWAN, 1991, p.53)
Assim, o fenômeno, pelo qual as organizações são estruturadas, a fim de se
adequarem aos requisitos ambientais, é explicado por práticas isomórficas.
DiMaggio e Powell (1991) também dão especial atenção ao processo de
homogeneidade do ambiente em seus trabalhos. De acordo com estes autores,
isomorfismo pode ser entendido como um processo que força uma unidade na
população a se parecer com as outras, em face às mesmas condições ambientais.
70
Assim, características organizacionais são modificadas em uma direção que
aumenta a compatibilidade da organização com o ambiente. Neste caso, o número
de organizações em um campo organizacional será função da capacidade que o
ambiente vai possuir, isto é, o quanto cada campo institucionalizado terá condição
de possuir mais de um dominante.
Em época de incerteza ambiental, a competição entre as organizações
volta-se tanto para a busca de recursos e consumidores, como de legitimidade
institucional, cuja perpetuação contribui para o sucesso das estratégias
implementadas e para o pleno funcionamento interno. Essa disputa torna as
práticas organizacionais cada vez mais homogêneas ou isomórficas, diminuindo a
variedade e a instabilidade dos arranjos organizacionais em vigor em dado
momento. Neste sentido dois tipos de isomorfismo emergem, o isomorfismo
competitivo, que é fruto das pressões de mercado e das relações de troca entre os
integrantes de um dado espaço organizacional, e o isomorfismo institucional, que
inclui a luta pela legitimidade.
O isomorfismo é vantajoso para as organizações, pois a similaridade
facilita as transações interorganizacionais e favorece o seu funcionamento interno
pela incorporação de regras socialmente aceitas. Entretanto, reconhecer que
estratégias e estruturas organizacionais estão sujeitas às pressões isomórficas não
elimina a tentativa, por parte da organização, de exceder certo grau de autonomia
e de controle sobre as condições do ambiente, visando à consecução dos seus
objetivos e à manutenção dos seus interesses. Essa capacidade pode ser
particularmente observada em organizações poderosas o suficiente para
influenciar estrategicamente as redes relacionais, criando demandas para os seus
produtos, seja mediante arranjos interorganizacionais, formais ou informais, seja
fixando os seus objetivos diretamente no espaço competitivo. Nesse sentido,
mesmo as tentativas de controle organizacional se realizam dentro de uma ordem
normativa constituída no ambiente institucional. Ao que parece é a conformidade
dos valores e normas sociais, ou a legitimidade, mais do que o desempenho, que
determina sobrevivência das organizações (SCOTT e MEYER, 1991).
A primeira diferenciação em relação ao isomorfismo, apresentada por
DiMaggio e Powell(1991), bem como por Scott e Meyer (1991), é a variação do
isomorfismo de acordo com as características do ambiente, que, segundo estes
autores podem ser ambientes institucionais ou técnicos.
71
De acordo com Scott e Meyer (1991), ambientes técnicos são aqueles em
que produtos e serviços são produzidos e comercializados no mercado e
organizações são recompensadas por eficiência e eficácia em seus controles de
produção. Nestes casos, os ambientes são idênticos aos de mercados competitivos
e organizações operando nestes mercados concentram suas energias em controlar
e coordenar técnicas e processos, buscando sempre blindar estes processos de
turbulências no mercado. Ambientes institucionais, por outro lado, são definidos
como aqueles caracterizados pela elaboração de normas e requerimentos aos quais
organizações devem se adaptar a seguir, se desejam receber suporte e
legitimidade. Os requerimentos, em sua maioria, partem do Estado/agências
reguladoras, de profissionais ou associações de comércio, de um sistema de
crenças gerais que definem como específicos tipos de organização devem se
comportar. Não importam quais sejam as fontes, as organizações são
recompensadas por se conformarem a estas regras e crenças. Ambientes técnicos e
institucionais não devem ser vistos como mutuamente exclusivos.
Segundo DiMaggio e Powell (1991), a mudança institucional tende
naturalmente à manutenção de padrões de comportamento compartilhados, o que
atribui um caráter conservador à abordagem de campos a partir da teoria
institucional. Para Reed (1992 apud CARVALHO e VIEIRA, 2003), a realidade
organizacional é socialmente constituída e institucionalmente sustentada.
DiMaggio e Powell (1991) corroboram com as definições apresentadas por
Scott e indicam que existem dois tipos de isomorfismo, o competitivo (quando a
racionalidade enfatiza as condições de mercado, mudança de nichos, etc.) e o
isomorfismo institucional (quando organizações não competem somente por
recursos e clientes, mas por poder político e legitimidade institucional). O
conceito de isomorfismo institucional é uma importante ferramenta para
entendermos os processos políticos em as estruturas de dominação em campos
organizacionais:
“Once disparate organizations in the same line of business are structured into an
actual field as we argue, by competition, the sate, or the professions, powerful
forces emerge that lead them to become similar to one another. In the initial
stages of their life cycle, organizational fields display considerable diversity in
approach and form. Once a field becomes well established, however, there is an
inexorable push toward homogenization. Organizations may change their goals
or develop new practices, and new organizations enter the field. But in the long
run, organizational actors making rational decisions construct around
72
themselves an environment that constrains their ability to change further in later
years”. (DIMAGGIO e POWELL, 1991, p.65)
As práticas isomórficas podem ser de natureza coercitiva, mimética e
normativa. O isomorfismo coercivo, segundo DiMaggio e Powell (1991), resulta
de pressões institucionais e formais exercidas sobre as organizações por outras
organizações das quais as organizações que estão recebendo a pressão são
dependentes. Além disso, ainda existem as expectativas culturais da sociedade nas
quais estas organizações operam, que também exercem pressões de natureza
coerciva.
Um dos agentes de poder para exercer pressões isomórficas de natureza
coerciva é o Estado, conforme apontam DiMaggio e Powell:
“The existence of a common legal environment affects many aspects of an
organization’s behavior and structure. Weber point out the profound impact of a
complex, rationalized system of contract law that requires the necessary
organizational controls to honor legal commitments. Legal and technical
requirements of State shape organizations in similar ways”. (DIMAGGIO e
POWELL, 1991, p.67)
A influência de agrupamentos sociais diversificados, em especial do
Estado, nas relações intraorganizacionais e interorganizacionais, indica que são os
fatores institucionais coercivos que possibilitam a viabilidade das organizações.
Scott e Meyer também fazem ressalvas em seus trabalhos sobre o poder do
Estado no desencadeamento de processos de natureza isomórfica:
“And there is an awareness in this literature of the unique qualities of the nation-
state as one type of corporate actor and, at the same time, as one type of
organizational environment. Public status refers to the, direct or indirect,
acquisition of a unique resource that no other environment but the state has to
offer: the ability to rely on legitimate coercion”. (SCOTT e MEYER, 1991, p.
121)
Scott (1991) corrobora a questão do isomorfismo coercivo, mas acrescenta
ao trabalho de DiMaggio e Powell uma variação. Segundo Scott (1991, p. 175) o
isomorfismo coercivo pode ser imposto por meio da autoridade ou por meio do
poder coercivo. A diferença do isomorfismo coercivo através da
autorização/legitimização e do isomorfismo por meio do poder coercivo, é que no
primeiro caso a organização subordinada não é obrigada a se conformar com as
exigências, mas sim busca voluntariamente a atenção e aprovação do agente
regulador.
Outro tipo de natureza do isomorfismo é a natureza mimética. Na natureza
mimética o elemento gerador do isomorfismo é a incerteza. Quando tecnologias
não são claramente entendidas, quando os objetivos não estão muito claros e
73
quando o ambiente está repleto de sinais de incerteza, organizações podem
procurar moldar a si próprias de acordo com outras organizações em posições
mais vantajosas, de modo a reduzir o grau de incerteza e a sensação de risco,
conforme abordado por DiMaggio e Powell (1991).
Uma terceira fonte de isomorfismo é o isomorfismo normativo que se
origina principalmente através do processo de profissionalização.
Profissionalização é explicado por DiMaggio e Powell (1991) como sendo a luta
coletiva de membros de uma determinada ocupação para definir as condições e os
métodos de seus trabalhos, de controle da “produção de procedimentos”
(LARSON 1977, p. 49-52 apud DIMAGGIO e POWELL, 1991 p. 70). Esta busca
acaba gerando um entendimento comum entre os membros de uma determinada
ocupação e ao mesmo tempo em que geram este “consenso”, as variações e
espaços abertos para novos tipos de pensamento e abordagem acabam ficando
limitados:
“Such mechanisms create a pool of almost interchangeable individuals who
occupy similar positions across a range of organizations and possess a similarity
of orientation and disposition that may override variations in tradition and
control that might otherwise shape organizational behavior”. (PERROW 1974
apud DIMAGGIO e POWELL, 1991, p.71)
Pressões institucionais de natureza isomórfica podem constituir-se num
indicador de limitação dos atores organizacionais para produzir organizações mais
eficazes:
“There is not a grand natural selection process that determines efficient
outcomes, but instead an unfolding process where the basic choices are limited
and shaped by institutional and political processes”. (POWELL, 1991, p.187)
Como o resultado do isomorfismo institucional é a homogeneização, um
dos melhores indicadores de mudanças no isomorfismo é a redução na variação e
diversidade, que pode ser medida pela baixa variação de padrões e de valores de
indicados na montagem de organizações (DIMAGGIO e POWELL, 1991).
Conforme aumenta o grau de estruturação de um campo, simultaneamente
a diversidade entre as organizações abre espaço para a homogeneidade e, assim,
as organizações passam a se tornar mais semelhantes, e, para Scott (1991),
também mais estáveis. Nesse sentido, a habilidade para mudança no campo
organizacional fica limitada:
“DiMaggio and Powell (1983) propose the master hypothesis that as the
environments of organizations become more structured, organizational structures
within them become more homogeneous. Indeed, although they usually identify
three different mechanisms of influence operating among organizations in the
74
same environment – coercive, memetic, and normative – all are predicted to have
the same effect – increased structural isomorphism .By contrast, Meyer and I
argue that under some conditions, more highly structured organizational
environments may create increased diversity of form. For example, we suggest
that in environments lacking much centralized authority, organizational forms
may exhibit increased similarity (because of competitive and memetic processes).
But as authority becomes more centralized, decision makers may decide to create
a variety of more specialized organizational forms, increasing organizational
diversity by design (coercion)”. (SCOTT, 1991, p. 173)
3.1.5.
Poder nas Organizações
De acordo com o enfoque sistêmico-funcionalista, poder é a capacidade
que possui um indivíduo ou uma organização de impor extrapolações ou projeções
de sua estrutura interna em seu meio ambiente (FARIA, 2003). Existem quatro
formas de exercício do poder:
� persuasão;
� ativação de compromissos;
� incentivo;
� coerção;
Já Weber (1974 apud FARIA 2003, p. 73) define poder como a
probabilidade de impor a sua própria vontade, dentro de uma relação social,
mesmo contra a resistência e qualquer que seja o fundamento desta probabilidade.
O poder não pertence ao indivíduo, pois são as posições institucionais que,
em larga medida, determinam as oportunidades de se ter e conservar o poder e de
se desfrutar das principais vantagens desta posse, de forma contínua e importante.
Thompson (1976 apud FARIA 2003) coloca o poder sob o enfoque
institucional, isto é, uma empresa tem poder em relação a um elemento do
ambiente operacional na medida em que a empresa tem capacidade de satisfazer
necessidades desse elemento e na medida em que essa organização monopoliza tal
capacidade. Dependência e monopólio são, então, essências do poder.
Já Friedberg (1995, p.115-120 apud FARIA 2003 p.85) descreve que o
poder institucional é “a capacidade de um ator estruturar processos de troca mais
ou menos duráveis a seu favor, explorando constrangimentos e oportunidades da
situação para impor os termos de troca favoráveis aos seus sistemas”. É uma troca
negociada de comportamentos estruturados, de tal forma que todos os
75
participantes dela retiram qualquer coisa, permitindo ao mesmo tempo em que
algum (ou alguns) dela retire mais que os outros. Este processo possui duas
origens conforme Friedberg (1995):
� a pertinência das possibilidades de ação de cada um dos participantes para a
solução, controle ou gestão dos problemas;
� a liberdade ou a zona de autonomia de que cada participante dispõe em suas
transações com outros participantes e que determina a previsibilidade de seu
comportamento para os outros.
A categoria central para compreender as relações entre agentes dentro dos
campos sociais, assim como as relações de interdependência entre os diversos
campos sociais e destes com o campo de poder é, exatamente, o poder e sua
reprodução. Como nenhum poder pode se satisfazer simplesmente com a sua
existência como poder, isto é, como força bruta inteiramente sem nenhum tipo de
justificação, é preciso justificar sua existência, ou pelo menos, assegurar que sua
natureza arbitrária não seja reconhecida. Para isso, faz-se necessário, dentro de
cada campo social e no campo do poder, um princípio de legitimidade legitimado
e, inseparavelmente, um modo legítimo de reprodução das bases de dominação.
Bordieu e Wacquant (1992, p.99 apud MISOCZKY, 2003) apontam que em cada
momento o que define a estrutura do campo é o estado das relações de força entre
os jogadores. Segundo Misocczky (2003 apud WACQUANT 1992), duas
propriedades são centrais a esta abordagem:
� Um campo é um sistema padronizado de forças objetivas, uma configuração
relacional dotada de uma gravidade específica que é importante a todos os
objetos e agentes que entram nele. Como um prisma, refrata forças externas de
acordo com a estrutura interna. A base de transcendência, revelada por casos
de inversão de intenção, de efeitos objetivos e coletivos de ação acumulada, é
a estrutura do jogo, e não um simples efeito de agregação mecânica.
� Um campo é, simultaneamente, um espaço de conflito e competição, um
campo de batalha em que os participantes visam ter o monopólio sobre os
tipos de capital efetivos, e sobre o poder de decretar hierarquias do poder. No
desenrolar das batalhas, a forma e as diversões do campo se tornam o objetivo
central, porque alterar a distribuição e o peso relativo dos tipos de capital (das
formas de poder) é fundamental para modificar a estrutura do campo.
76
Da luta dos agentes envolvidos em cada campo resultam processos de
acumulação ou de transformação. Os agentes podem atuar para aumentar ou
conservar seu capital (poder), em conformidade com as regras tácitas do jogo e
com os pré-requisitos de sua reprodução.
Bordieu (1996, p. 265 apud MISOCZKY 2003, p. 155) coloca:
“O campo do poder é um campo de forças estruturalmente determinado pelo estado das relações de poder entre tipos de poder, ou diferentes tipos de capital. Também é, de modo inseparável, um campo de lutas de poder entre os detentores de diferentes formas de poder, um espaço de jogo em que aqueles agentes e instituições possuidores de capital específico são capazes de ocupar posições dominantes dentro de seus respectivos campos, e confrontar os demais utilizando estratégias voltadas para preservar ou transformar as relações de poder. Os tipos diferentes de capital são tipos específicos de poder que são ativos em um ou outro campo (de forças e lutas), gerados no processo de diferenciação e autonomização. Dentro destes diferentes espaços de jogo, surgem tipos característicos de capital que são, simultaneamente, instrumentos e objetos de disputa.”
Entre as importantes contribuições das formulações de Bourdieu, pode-se
destacar a de permitir o desvendamento de mecanismos profundos de poder; a
idéia da autonomia relativa dos campos sociais em relação ao campo de poder (ou
seja, a não-determinação da superstrutura), a idéia de que a história do campo é a
que se faz através da luta entre os concorrentes no interior do mesmo; a
possibilidade de identificar as posições relativas que os agentes ocupam a partir da
visão do campo como um espaço de relações de poder, onde pode estar presente a
referência aos pólos opostos do dominante e do dominado; a possibilidade de
estudar as estratégias dos agentes que compõem o campo e nele têm interesses em
disputa, mobilizando tipos de capital (recursos de poder) nesta disputa. O Quadro
3 faz uma correlação entre Bordieu (1996, apud MISOCZKY 2003) e a teoria
institucional a partir de DiMaggio e Powell (1991).
Quadro 3 - As Formulações de Bordieu sobre Campos de Poder e as da Perspectiva
Institucional
Campos de Poder – Bordieu Perspectiva Institucional
Foco em processos, em relações. Os
agentes são ativos e atuantes
Foco em resultados, em realidades
fenomênicas. Os agentes são
fenômenos da estrutura
A ação tem caráter intencional Ação é igual a comportamento social,
é reativa e adaptativa.
A organização é uma construção social A organização é retificada
Gênese social dos esquemas de percepção Ênfase em aspectos cognitivos e
77
e da estrutura motivacionais
Relações de poder e disputas de interesse
estruturam o campo
Sistemas culturais estruturam o campo
organizacional
Campo: atores em interação, conflito e
competição por tipos de capital (poder)
Campo: agregado de organizações em
conflito ou cooperação a partir de
influências do ambiente
Diversidade – os diversos campos são
organizados e transformados em
decorrência do processo de lutas por tipos
de capital
Homogeneidade – comportamentos
reativos miméticos
O campo é definido pela relação de
forças entre os atores e pelos tipos de
capital em disputa
O campo é definido por sistemas de
regras compartilhadas
Possibilidade de taxa de conversão, de
alteração dos tipos de poder que
estruturam o campo
Legitimidade das estruturas existentes
O campo está em relação com o espaço
sócia, que é um campo de forças
(estrutura) e de lutas, dos atores sociais,
pela sua reprodução ou transformação
O campo organizacional está em um
ambiente retificado
Processo permanente de produção social /
acumulação / transformação / reprodução
Fase de estruturação a qual se segue a
fase de institucionalização
Reprodução ou transformação de
estruturas
Estabilidade evolutiva das estruturas
Articulação dialética entre objetivismo e
subjetivismo
Objetivismo
Construcionismo estruturalista ou
estruturalismo construcionista
Positivimo sistêmico
Fonte:(Misoczky 2003)
78
3.2.
Síntese do Referencial Teórico sobre Neo-Institucionalismo
A exemplo do que foi realizado no Capítulo 2, este item apresenta os
principais conceitos extraídos na revisão de literatura sobre a teoria institucional e
o neo-institucionalismo, os quais embasaram a análise do setor estudado e
serviram de elemento para composição das entrevistas com atores e consumidores
relacionados ao campo da telefonia fixa. Esta síntese é apresentada no Quadro 4.
Quadro 4– Síntese do Referencial Teórico sobre Neo-Institucionalismo
79
Conceito Objetivo
Caracterização do campo (CARVALHO e VIEIRA,
2003)
Identificar como os atores no campo agem para a
consecução dos seus objetivos
Valores do campoMostrar a situação do campo e verificar qual o valor que
sustenta as relações de poder no campo, verificando como os atores o utilizam
LegitimidadeIdentificar os elementos legitimadores das organizações
e, desta forma, verificar a sustentabilidade dos seus desempenhos
Campo Organizacional (DIMAGGIO e
POWELL,1991)
Verificar a existência do campo organizacional e suas
carcaterísticas, bem como, o seu grau de
institucionalização, o que permitirá checar como os
atores estão "presos" às relações atuais no campo
Processo de formação Checar o grau de institucionazação do campo
Corporativismo (SCOTT e MEYER, 1991)
Verificar a existência do corporativismo como
característica do campo, corroborando a relação
entre concentração de mercado, Estado e interesses
organizacionais
Setor Societal (SCOTT e MEYER, 1991)
Verificar a existência e implicações do campo
organizacional (neste caso denominado de Setor
Societal) segundo a ótica de outros atores, com
ênfase na identificação da presença do Estado no
campo
Processo de formação Checar o grau de institucionalização do Setor Societal
Isormorfismo (MEYER e ROWAN, 1991)
Identificar se o campo institucionalizado já apresenta
características do processo de isomorfismo e, desta
forma, checar o grau de isomorfismo, o que permitirá
aferir o quanto a indústria está sujeita à mudanças em
relação a configuração das suas relações de poder
Grau de isomorfismoChecar os aspectos relativos à mudança na estrutura do
campo organizacional
Tipo de isomorfismoIdentificar a natureza das práticas isomórficas, de modo a se verifcar os mecanismos estabilizadores das relações
no campo organizacional
Poder (FARIA, 2003)Identificar características de dominação nas relações
entre os atores no campo organizacional