3 análise institucional - dbd puc rio · discussão a respeito da teoria institucional. a...

25
55 3 Análise Institucional Este capítulo, a segunda parte do referencial teórico, apresenta os conceitos que fundamentam a teoria institucional, buscando dar maior ênfase ao neo-institucionalismo através dos conceitos de campo organizacional e isomorfismo. O material tem grande influência dos trabalhos de DiMaggio e Powell, mas sem deixar de buscar apresentar as visões de atores importantes na discussão a respeito da teoria institucional. A abordagem desta teoria, no presente estudo, deve-se à percepção sobre a sua potencialidade em explicar a dinâmica existente entre os participantes da indústria analisada. 3.1. Teoria Institucional A teoria institucional é definida como o esteio teórico de diferentes esforços de explicação de fenômenos organizacionais (CARVALHO e VIEIRA, 2003 p. 1). Através da análise dos diversos atores que compõem uma indústria e de como estes atores se relacionam e se organizam, a teoria institucional é uma importante ferramenta para entender a indústria em si e de como estão estruturadas as relações de poder. Por se tratar de uma teoria que trabalha também com a idéia da indústria e, neste caso, num conceito muito próximo ao descrito por Porter (1980) e, ao mesmo tempo, por tratar da dinâmica das relações entre os atores desta indústria, resolveu-se sustentar, em conjunto à teoria da estratégia, a análise do mercado de telefonia local do Rio de Janeiro através da teoria institucional. Como afirmam Scott e Meyer (1991): Apesar das dificuldades operacionais de definição que os economistas têm encontrado, há um entendimento comum de que o conceito de indústria é extremamente útil como um caminho para entender a relevância que o ambiente onde as empresas operam possui, reconhecendo que o comportamento das

Upload: letu

Post on 07-Feb-2019

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

55

3

Análise Institucional

Este capítulo, a segunda parte do referencial teórico, apresenta os

conceitos que fundamentam a teoria institucional, buscando dar maior ênfase ao

neo-institucionalismo através dos conceitos de campo organizacional e

isomorfismo. O material tem grande influência dos trabalhos de DiMaggio e

Powell, mas sem deixar de buscar apresentar as visões de atores importantes na

discussão a respeito da teoria institucional. A abordagem desta teoria, no presente

estudo, deve-se à percepção sobre a sua potencialidade em explicar a dinâmica

existente entre os participantes da indústria analisada.

3.1.

Teoria Institucional

A teoria institucional é definida como o esteio teórico de diferentes

esforços de explicação de fenômenos organizacionais (CARVALHO e VIEIRA,

2003 p. 1). Através da análise dos diversos atores que compõem uma indústria e

de como estes atores se relacionam e se organizam, a teoria institucional é uma

importante ferramenta para entender a indústria em si e de como estão

estruturadas as relações de poder.

Por se tratar de uma teoria que trabalha também com a idéia da indústria e,

neste caso, num conceito muito próximo ao descrito por Porter (1980) e, ao

mesmo tempo, por tratar da dinâmica das relações entre os atores desta indústria,

resolveu-se sustentar, em conjunto à teoria da estratégia, a análise do mercado de

telefonia local do Rio de Janeiro através da teoria institucional. Como afirmam

Scott e Meyer (1991):

“Apesar das dificuldades operacionais de definição que os economistas têm encontrado, há um entendimento comum de que o conceito de indústria é extremamente útil como um caminho para entender a relevância que o ambiente onde as empresas operam possui, reconhecendo que o comportamento das

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

56

empresas depende crucialmente da organização da indústria” (SCOTT e MEYER, 1991, p. 120, tradução livre do autor).

A teoria institucional (CARVALHO e VIEIRA, 2003) se baseia na idéia

de que as organizações sobrevivem ao compartilharem valores em um

determinado espaço social e um dos seus questionamentos teórico é descobrir e

analisar quais são os valores que os principais atores sociais compartilham no

campo, de que recursos de poder dispõem e como os utilizam para a consecução

de seus objetivos.

A aplicabilidade desta teoria ao presente estudo está em mapear como a

dominante do mercado, neste caso a Telemar, mantém uma estrutura de relações

de poder que permitem que ela mantenha o status quo de dominante, obtendo uma

performance superior à de seus concorrentes. De acordo com Powell (1991), as

contribuições para o estudo das organizações serão extremamente enriquecidas, se

forem hábeis em discernir as fontes de padrão institucional, seu processo de

formação, como estas forças são sustentadas e os tipos de estruturas de campo em

que elas operam e que são de maior importância e ressonância dentro do ambiente

de negócios.

O entendimento de como se organizam e se relacionam as empresas, pode

mostrar que a institucionalização de uma indústria pode ser, inclusive, uma

decisão estratégica. Para DiMaggio e Powell (1991), muitos economistas

institucionais e teóricos assumem que os atores constituem organizações que se

transformam naquilo que eles desejam e raramente questionam de onde as

preferências vieram ou consideram os mecanismos de feedback entre interesses e

instituições. Ainda nesta mesma linha, Meyer e Rowan (1991) argumentam que

organizações poderosas forçam suas redes relacionais a se adaptarem às suas

estruturas e relações e, desta forma, buscam estabelecer seus objetivos e

procedimentos diretamente na sociedade, como regras institucionais. Scott (1991)

também descreve com clareza a intenção estratégica em relação ao ambiente

institucionalizado.

“The conception of a differentiated and competitive institutional environment

also supports the view that organizations are not passive actors being imprinted

by cultural templates. Rather, just as is the case within their technical

environments, organizations may be expected to exercise “strategic choice”: in

relating to their institutional environments”. (SCOTT, 1991, p. 170)

Na abordagem institucional, três elementos mostram-se como os pivôs da

teoria: as instituições, o ambiente e, as relações entre as instituições entre si e com

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

57

o ambiente, que configuram a idéia do campo organizacional. (DIMAGGIO e

POWELL, 1991, p. 63).

Apesar de bastante usado, o conceito de instituição tem um amplo espectro

de referência. Autores utilizam a palavra com conotações diferentes e, por isso, é

importante tentar-se identificar como deve ser entendido o conceito. Conforme

pondera Jepperson (1991):

“Alguns estudiosos citam instituições apenas para se referir a associações grandes e importantes. Outros parecem relacionar instituições com resultados de efeitos ambientais. E ainda outros simplesmente equacionam o termo relacionando-o a efeitos culturais ou de natureza histórica”. (JEPPERSON, 1991, p. 143, tradução livre do autor).

Instituição pode ser entendido como organização ou associação de caráter

político, econômico, social, religioso, conforme descreve o dicionário Aurélio. A

definição de instituições, contudo, foge ao mero plural da palavra e denota as

noções de conjunto de normas e de leis que regem uma sociedade, bem como o

conjunto das estruturas socialmente estabelecidas. Cabe, neste caso, recorrer à

argumentação apresentada por Jepperson:

“I argue that institutionalization best denotes a distinct social property or state,

and that institutions should not be specifically identified, as they often are, with

ether cultural elements or a type of environmental effects. It then becomes

possible to represent institutionalization as a particular set of social reproductive

processes, while simultaneously avoiding the opposition of institutionalization

and change. And it becomes possible to represent institutionalism in an entirely

straightforward way, as arguments featuring higher-order constrains imposed by

socially constructed realities, and to distinguish it from other lines of argument”.

(JEPPERSON, 1991, p. 144)

Desta forma, pode-se entender que instituição refere-se ao elemento

formador, enquanto que institucionalização refere-se ao processo de atingimento

deste quadro caracterizado por normas, leis e estruturas socialmente estabelecidas,

quadro que representa as instituições, o ambiente e como elas se relacionam entre

si. Ainda de acordo com Jepperson (1991), instituições representam a ordem

social ou padrão que atinge certo Estado ou propriedade, enquanto que

institucionalização caracteriza o processo.

Para Jepperson (1991, p.146), tratar dos conceitos de institucionalização,

instituição e institucionalismo, então, se refere a identificar o objeto de análise

segundo: (1) seu contexto, isto é, em que quadro de referência a análise está sendo

feita; (2) seu grau relacional, isto é, em que níveis as organizações estão se

relacionando, horizontalmente e verticalmente; (3) em que particular relação está

buscando se explorar; (4) a centralidade da análise.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

58

Friedland e Alfford (1991) fazem uma definição de instituição que resume

bem o conceito abordado, bem como abordam a importância de entender

instituições dentro do contexto e da dinâmica das relações entre elas. Segundo os

dois autores, instituições são padrões supra organizacionais de atividade humana,

por meio das quais indivíduos e organizações produzem e reproduzem seus

produtos de subsistência e se organizam no tempo e no espaço. Ainda segundo os

autores, os teóricos institucionais analisam a sociedade em termos das

contradições internas e entre as instituições. Instituições, desta forma, não podem

ser analisadas isoladamente uma das outras, mas devem ser entendidas em suas

relações mutuamente dependentes, ainda que contraditórias relações.

No estudo sobre instituições, é comum nos depararmos com o conceito de

burocracia. Para Weber (1978 apud DIMAGGIO e POWELL, 1991), a burocracia

era uma ferramenta importante na dominação do ambiente institucional. De

acordo com DiMaggio e Powell (1991), Weber entendia burocracia como a

manifestação racional do espírito da organização, manifestação esta que era vista

como um poderoso e eficiente mecanismo de controle do homem e da mulher, que

uma vez estabelecido, o momento da burocratização era irreversível. Para Scott

(1975 apud MEYER e ROWAN, 1991), em teorias convencionais, estruturas

formais racionais são assumidas como a mais efetiva maneira de coordenar e

controlar redes relacionais complexas e envolvem técnicas modernas de trabalho.

Este afirmativa é oriunda das discussões de Weber (1946, 1947, 1952 apud

MEYER e ROWAN, 1991) sobre o aparecimento histórico de burocracias como

conseqüências de mercados econômicos e Estados centralizados, onde os

mercados premiam a racionalidade e a coordenação.

Na verdade, os conceitos se relacionam, na medida em que a teoria

institucional busca entender como os interesses das organizações são assegurados

em um ambiente institucionalizado. Neste contexto, surge a definição de

corporativismo como um dos produtos do processo de institucionalização. Note-se

que Scott e Meyer fazem uma importante correlação entre interesses

organizacionais, Estado e concentração de mercado:

“The best current accounts of existing differences in sector organization reside in

the political science literature where an expanding body of work is developing on

(1) the nature and extent of the organization of private interests in a society, (2)

their relation to the central state, (3) the manner and degree of interest

concentration achieved. The most highly developed and explicit form of interest

articulation is corporatist state. A stated by Schmitter (1974, p.93-94):

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

59

corporatism can be defined as a system of interest representation in which the

constituent units are organized into a limited number of singular, compulsory,

noncompetitive, hierarchically ordered and functionally differentiated categories,

recognized or licensed (if not created) by the state and granted a deliberate

representational monopoly within their respective categories in exchange for

observing certain controls on their selection of leaders and articulation of

demands and supports”. (SCOTT e MEYER, 1991, p. 121)

Entender estas relações é então de suma importância para se buscar

entender as diferentes posições de dominação das organizações no mercado. Para

isso, se trabalha com o conceito de campo organizacional que passa a ser o objeto

de estudo e o ponto onde o processo de institucionalização se desenvolve:

“O campo organizacional surgiu como um elemento único na junção entre os níveis organizacionais e societais no estudo das mudanças sociais e da sociedade. O campo possui uma função que serve como uma útil base para delimitar tanto o ambiente em que as organizações estão inseridas cuja estrutura ou performance será examinada segundo uma perspectiva institucional, bem como definir uma unidade intermediária significativa (um crítico sistema em seu próprio âmago) a ser empregada em análises macrosociológicas”. (SCOTT, 1987, p. 174, tradução livre do autor)

3.1.1.

Histórico

Os primeiros estudos sobre o tema foram elaborados por Selznick, que é

apontado como o precursor da perspectiva da Teoria institucional. Selznick (1949,

p.10 apud FACHIN e MENDONÇA, 2003, p. 30) afirmou que “a coisa mais

importante sobre as organizações é que apesar de elas serem ferramentas, cada

qual tem vida em si própria”.

A institucionalização é definida por Selznick (1949, apud FACHIN e

MENDONÇA, 2003) como o processo pelo qual uma organização desenvolve

uma estrutura de caráter distintivo, ou seja, quando recebe uma infusão de valor.

Na visão de Selznick, as organizações são “conjuntos sistêmicos, caracterizados

por harmonia e consenso naturais, com funcionalidade igual para todos os

participantes, e relativamente independente tanto da ação humana como do

contexto social” (FACHIN e MENDONÇA, 2003, p.32). Selznick atribui status

político às instituições organizacionais, permitindo vê-las como forças estratégicas

de articulação de identidades e interesses nas sociedades modernas. Prates (2000,

p. 14 apud FACHIN e MENDONÇA, 2003, p.33) afirma ainda que elas

participam do jogo do poder que determina os arranjos institucionais da política e,

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

60

conseqüentemente, da definição de quem se qualifica como participante legítimo

das decisões políticas.

A obra seminal de Selznick (1949, apud FACHIN e MENDONÇA, 2003),

dentro da teoria das organizações, introduz uma visão de organização não somente

inserida num ambiente, mas reconhecendo uma interação efetiva com o ambiente,

pleno de símbolos e de valores, que precisam ser levados em conta se a

organização busca encontrar sua legitimidade, sua sobrevivência, seu equilíbrio.

De acordo com Selznick (1949, apud FACHIN e MENDONÇA, 2003, p.

35):

“a cooptação pode ser entendida como o processo de absorver elementos na liderança ou na estrutura de determinação de políticos de uma organização, como meio de procurar evitar ameaças a sua estabilidade ou existência”. A cooptação, como um processo que pode ser formal ou informal, tanto

pode significar o compartilhamento de poder e de autoridade, quanto o

compartilhamento de responsabilidade e participação, sem, entretanto, a

redistribuição real de poder.

A tática da “cooptação” identificada por Selznick (1949, apud FACHIN e

MENDONÇA, 2003), demonstra como as forças ambientais condicionam a ação

organizacional no tentativa de perpetuar-se, sobreviver e, fundamentalmente,

institucionalizar-se. A institucionalização identifica-se, assim, a uma característica

conservadora e não um instrumento de mudança social.

A institucionalização é um processo e está estreitamente ligada a uma

necessidade de sobrevivência, de reconhecimento no meio social, de

adaptabilidade aos interesses que existem em seu ambiente. No processo de

institucionalização os valores substituem os fatores técnicos na determinação das

tarefas organizativas, o que significa uma contraposição a uma visão estreitamente

racional da ação da administração. Para Selznick:

“organizações transformam-se em instituições ao serem infundidas de valor, isto é, avaliadas não como simples instrumentos, mas como fontes de gratificação pessoal direta e veículos de integridade de um grupo. Esta infusão produz uma identidade distinta para a organização” (SELZNICK 1971, p.34 apud FACHIN e MENDONÇA, 2003, p. 38).

Selznick (1996, p.271, apud Fachin e Mendonça, 2003 p. 41) argumenta

que, na medida em que uma organização se institucionaliza, ela tende a assumir

um caráter especial e alcançar uma competência distinta ou, talvez, uma

capacidade treinada ou a ela inerente. Assim a Teoria institucional traça a

convergência de formas, processos, estratégias, perspectivas e competências

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

61

distintas, à medida que emergem de padrões de interação e adaptação

organizacional. Tais padrões devem ser compreendidos como respostas a

ambientes tanto internos como externos.

Selznick vê então o processo de institucionalização como a criação de uma

estrutura formal, o aparecimento de normas informais, recrutamento seletivo,

rituais administrativos, ideologias e muitos outros que resultam de uma história

especial de buscar as metas, de resolver problemas e de adaptação, conforme

observam Fachin e Mendonça (2003).

3.1.2.

O Novo e o Velho Institucionalismo

Scott (1991) considera que a reconceitualização do ambiente se revela

como a grande contribuição dos seguidores da abordagem institucional para o

tratamento de questões organizacionais. Nesta linha, surgiu o chamado neo-

institucionalismo que busca contrapor o modelo racionalista e seu foco nas

exigências técnicas dos processos gerenciais e produtivos, ao voltar a atenção para

o exame dos elementos de redes relacionais e de sistemas culturais que modelam e

sustentam a estrutura e a ação das organizações.

Para DiMaggio e Powell (1991) o marco do aparecimento do neo-

institucionalismo foram dois trabalhos “The Effects of educational as intitution”

e “Institutionalized Organizations: Formal Structure as Myth and Ceremony”,

ambos escritos por John Meyer em 1977. De acordo com os autores, estes dois

papers definiram uma série de conceitos que passaram a ser usados como os

pilares do neo-institucionalismo, como a abordagem do ambiente e a

homogeneidade:

“Another fundamental difference between the two institutionalisms is in their

conceptualization of the environment. Authors of older works describe

organizations that are embedded in local communities, to which they are tied by

the multiple loyalties of personnel and by interorganizational treaties (co-

optation) hammered out in face-to-face interaction. The new institutionalism

focuses instead on non local environments, either organizational sectors or fields

roughly coterminous with the boundaries of industries, professions, or national

societies. Environments, in this view, are more subtle in their influence; rather

than being co-opted by organizations, they penetrate the organization, creating

the lenses through which actors view the world and the very categories of

structure, action, and thought. (DI MAGGIO e POWELL, 1991, p. 13)

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

62

O neo-institucionalismo surge como uma tentativa de continuação do

antigo que possui como seu principal representante Selznick. Das diferenças entre

as duas vertentes pode-se destacar:

� a orientação política dos adeptos do antigo institucionalismo, expressa na

marcante ênfase de interesses na formulação da ação organizacional, pouco

considerados no tratamento atual;

� a conceitualização do ambiente, tido como componente constitutivo da

organização pela nova geração, contra mero campo fornecedor de elementos

de cooptação pela antiga;

� a passagem do pensamento baseado na teoria da ação parsoniana, arraigada na

abordagem freudiana do ego, para a utilização dos princípios da teoria da ação

prática, originária da etnometodologia e da revolução cognitiva da psicologia.

DiMaggio e Powell (1991) ainda apontam diferenças em relação ao objeto

de institucionalização. Enquanto que no novo institucionalismo, organizações,

componentes estruturais e regras são considerados institucionalizados, no velho

institucionalismo apenas organizações recebiam esta abordagem. No trecho

abaixo, DiMaggio expande este conceito de abordagem e mostra como o velho se

modificou segundo o novo:

“March and Simon’s primary focus was on decision making and other internal

organization processes. This preoccupation led then away from an explicit

concern with organizational environments. Nonetheless, in the evolution of

organizational analysis from Barnard to the Carnigie school we see a shift,

parallel to the transition from the old to the new institutionalism, from a

normative to a cognitive approach to action, from commitment to routine, from

values to premises, from motivation to the logic of rule following”. (DIMAGGIO

e POWELL, 1991, p. 19)

Estendendo sua análise, DiMaggio e Powell (1991) afirmam que o novo

institucionalismo está baseado no nível micro, o que eles nomearam como teoria

da ação prática.

Selznick (1996 apud FACHIN e MENDONÇA, 2003), no entanto, já

reconhecia a estrutura formal como produto institucionalizado e, portanto,

fortemente adaptativo às influências ambientais. Perrow (1986 apud FONSECA,

2003) pondera que a principal contribuição da abordagem neo-institucional à

teoria institucional é a ênfase na influência do ambiente ao colocar a legitimidade

e o isomorfismo como fatores vitais para a sobrevivência das organizações.

Apesar de possuírem diferenças, ambos, o novo e o velho, enxergam a

institucionalização como um processo dependente do Estado que molda

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

63

organizações menos racionais através da limitação das opções que elas podem

perseguir e ambos enfatizam a relação entre ambiente e organizações, apesar do

novo trazer uma nova abordagem.

Há três pilares em torno dos quais se concentram as temáticas

desenvolvidas pelos neo-institucionalistas a partir da relação entre instituições e

organizações: o regulador, o normativo e o cognitivo, conforme apresentado no

Quadro 2 (SCOTT, 1995, p. 35 apud FONSECA, 2003 p. 50).

Quadro 2- Variações de Ênfase – Três Pilares das Instituições

Características Regulador Normativo Cognitivo

Base de submissão Utilidade Obrigação social Pressuposição

Mecanismos Coercivo Normativo Mimético

Lógica Instrumentalidade Adequação Ortodoxia

Indicadores Regras,leis, sanções Certificação,

aceitação

Predomínio,

isomorfismo

Base de legitimação Legalmente

sancionada

Moralmente

governada

Culturalmente

sustentada

O regulador envolve a busca pelo indivíduo do alcance dos interesses

próprios movidos por uma lógica utilitarista de custo-benefício, empregando para

tanto mecanismos de controle coercivos. Logo, sob tal perspectiva, a base da

legitimação organizacional é a conformidade às exigências legais.

No normativo, acredita-se que os valores e as normas se tornam papéis,

formais ou informais, a serem desempenhados por indivíduos ocupantes de

posições específicas no enfrentamento de determinadas situações. A lógica é a

adequação, uma vez que com seu uso cotidiano e repetitivo, valores e normas são

interiorizados e ao longo do tempo tornam-se uma obrigação ou comportamento

normalmente governado.

Já no pilar cognitivo, a atenção é direcionada para os aspectos simbólicos

das ações resultantes das interpretações e conseqüentes representações que os

indivíduos fazem do ambiente. As organizações encontram-se inseridas em

ambiente constituído por regras, crenças e redes relacionais, criadas e

consolidadas por meio de interação social.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

64

3.1.3.

Campo Organizacional

Um dos principais elementos na utilização empírica da teoria institucional

é definir o seu objeto de análise. Assim como na teoria da estratégia com o

conceito de arena competitiva, conforme aborda Day e Reibstein (1997, p.20), na

teoria institucional é importante definir as delimitações do campo de estudo, pois

elas são determinantes para que se realmente possa fazer uma análise da indústria.

Não conseguir delimitar e definir o campo de análise pode fazer com que não se

enxergue de maneira clara, importantes fatores determinantes das relações do

campo, assim como na teoria da estratégia pode impedir que se enxergue com

clareza um substituto, ou um potencial novo entrante. Alguns autores apresentam

argumentação neste sentido:

“Um dos significativos desafios para gerentes é de definir com precisão as fronteiras e estruturas da arena competitiva, sem, contudo, utilizar-se de perigosas simplificações que possam cegar os gerentes de mudanças que alterarão as regras previamente estabelecidas no ambiente”. (DAY e REIBSTEIN, 1997, p. 2, tradução livre do autor) “Um dos maiores problema, ao se tratar de campos organizacionais, reside na sua delimitação”. (CARVALHO E VIEIRA, 2003 p. 17).

Autores que trabalham com a Teoria institucional nomeiam o termo de

diferentes maneiras, mas todos trabalham com o mesmo conceito. Para DiMaggio

e Powell (1991, p. 63), este objeto de análise é denominado campo organizacional

e é definido como um conjunto de atores que interagem entre si, seja em troca de

bens, serviços, recursos financeiros ou informações. Estas organizações, no

agregado, constituem uma área reconhecida de vida institucional: fornecedores,

produtores, consumidores, agências regulatórias e outras organizações que

produzem produtos similares. Ainda de acordo com DiMaggio e Powell (1991, p.

63), a virtude desta unidade de análise é que ela direciona nossa atenção não

apenas para as firmas em competição direta ou para as redes relacionais que

interagem diretamente, mas para a totalidade dos relevantes atores que compõem

a indústria. Para os autores, o campo organizacional não é estático, já que é

natural que ele se modifique de acordo com a alteração dos recursos de poder dos

atores e com a mudança de posição relativa entre eles, diante da entrada de novos

personagens e da saída de outros.

Já Scott e Meyer (1991) definem o termo como Setor Societal, mas dão a

mesma conotação que DiMaggio e Powell (1991). De acordo com os atores (1991,

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

65

p.108), Setor Societal é definido de forma a incluir todas as organizações em uma

sociedade que fornecem um tipo específico de produto ou serviço junto com os

arranjos organizacionais que constituem suas redes relacionais, fornecedores,

bancos, reguladores, etc.

Assim como na definição de DiMaggio e Powell, Scott e Meyer também,

ao definirem Setor Societal, trazem um forte laço de identificação com o conceito

de indústria e de arena competitiva trabalhado na teoria da estratégia:

“A societal sector is defined as (1) a collection of organizations operating in the

same domain, as identified by the similarity of their services, products or

functions, (2) together with those organizations that critically influence the

performance of the local organizations: for example, major suppliers and

customers, owners and regulators, funding sources and competitors . . . the

boundaries of societal sectors are defined in functional, not geographical terms:

sectors are comprised of units that are functionally interrelated even though they

may be geographically remote. The concept of sector incorporates and builds on

economist’s concept of industry: all sellers of one type of product or service – or

more abstractly, all those firms characterized by a close substitutability of

product usage who, as a consequence, exhibit demand interdependence”.

(SCOTT e MEYER, 1991, p. 117).

Outros autores nomearam de maneira diferente o conceito de campo. Para

fins de análise, foi utilizado campo organizacional, neste trabalho, como

referência para tratar este conceito.

“Within the organizational literature, the concept of sector is similar to Hirsh’s

(1972, 1985) concept of “industry system” Benson’s (1975) “interorganizational

network” and DiMaggio and Powell’s (1983) “organizational field”. (SCOTT e

MEYER, 1991, p. 120).

Identificar o campo organizacional é então elemento chave na análise

empírica de um estudo de caso, mas importante também é entender o processo de

formação dos campos.

Compreender este processo profundo de transformação de um campo é

uma necessidade, pelo duplo papel que desempenha na formação da identidade

nacional e na valorização da dimensão local e da preservação de suas

especificidades.

A abordagem institucional distinguiu-se de teorias de caráter racionalista

fundamentalmente por entender que os fenômenos sociais, políticos, econômicos,

culturais e outros que compõem o ambiente institucional, moldam as preferências

individuais e as categorias básicas do pensamento como o indivíduo, a ação

social, o Estado e a cidadania (DIMAGGIO E POWELL, 1991).

Segundo DiMaggio e Powell (1991, p.65), entender o processo de

estruturação dos campos organizacionais constitui uma etapa importante da

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

66

análise institucional, uma vez que desse processo decorre a institucionalização das

formas organizacionais. Um dos maiores problemas ao se tratar de campos

organizacionais reside na sua delimitação. Entretanto, salienta-se que, para efeito

de tornar factível uma pesquisa empírica, é possível que o campo seja demarcado

pelas limitações do pesquisador, sem, contudo ferir sua natureza conceitual.

Para Boons e Strannegard (2000 apud CARVALHO e VIEIRA, 2003 p.

17) fazer parte de um campo organizacional é, para uma organização, participar

de uma grande rede não estática e ser participante de um espaço identitário de

organizações consideradas relevantes, criado pelas inter-relações que se

estabelecem entre todas. DiMaggio (1983, apud DIMAGGIO e POWELL, 1991,

p. 65) apresenta quatro indicadores de estruturação de campos organizacionais:

� aumento no grau de interação entre as organizações no campo;

� a emergência de estruturas de dominação e de padrões de coalizão claramente

definidos;

� um aumento do volume de informações com que as organizações em um

campo devem lidar;

� o desenvolvimento de uma consciência mútua, entre os participantes de um

grupo de organizações, sobre o fato de que estão envolvidos em um

empreendimento comum.

Uma vez que as organizações estão estruturadas em um campo real,

passam a poder direcionar seus interesses para o campo, que, ao mesmo tempo,

fortalece suas relações com os atores, mas engessa o campo para mudanças,

conforme abordam DiMaggio e Powell:

“Organizations may change their goals or develop new practices, and new

organizations enter the field. But in the long run, organizational actors making

rational decisions construct around themselves an environment that constrains

their ability to change further in later years”. (DIMAGGIO e POWELL, 1991,

p.65).

A Figura 6 apresenta as etapas de formação de um campo organizacional.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

67

Figura 6- Etapas de Formação de um Campo Organizacional

Fonte: Adaptado de Holanda 2003 apud Carvalho e Vieira, 2003

A idade das organizações que compõem o campo pode influenciar o seu

processo de estruturação, na medida em que, populações de organizações (ou

indústrias) tendem a formar laços por meio de associações comerciais, por

exemplo, para proteger seus interesses e ampliar seu poder junto aos diferentes

atores envolvidos, principalmente o Estado. Scott (1987, p. 176) afirma que as

estruturas de governança em um campo, apesar de, em certo grau, poderem ser

conseqüência de influências do macrosistema ou de forças decorrentes de suas

unidades constituintes, são indiscutivelmente resultado da atuação do Estado,

principal força na definição da estrutura de um campo organizacional.

Jepperson e Meyer também corroboram a importância do Estado no

processo de institucionalização.

“Polities are the primary loci of institutionalization, we suggest, rather than

organizations in themselves (and rather than diffuse “environment”)”.

(JEPPERSON e MEYER, 1991, p. 214)

Scott (1995 apud CARVALHO e VIEIRA, 2003 p. 18) ainda adiciona

mais quatro indicadores para estruturação do campo organizacional:

� extensão do acordo sobre a lógica institucional que direciona as atividades no

campo;

� aumento do isomorfismo estrutural entre populações no campo;

� aumento da equivalência estrutural de conjuntos de organizações no campo;

� o aumento das definições das fronteiras do campo;

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

68

3.1.4.

Homogeneidade e Isomorfismo

Uma das contribuições da teoria institucional na análise das organizações

foi a importância dada ao ambiente na determinação do campo organizacional. De

acordo com a teoria, as organizações são influenciadas pelos fenômenos que

ocorrem no ambiente e tendem a ficar isomórficas, não como uma simples

conseqüência do processo de institucionalização, mas também como sendo um

objetivo a ser alcançado. Segundo Jepperson e Meyer:

“The core institutionalist contribution is to see environments and organizational

settings as highly interpenetrated. In institutionalist imagery, first actors and

technical functions, taken as priori by other theories, are represented as being

constituted by social environments, that is, given form and legitimacy by them,

and then both enabling and constraining organizational form”. (JEPPERSON e

MEYER, 1991, p. 204).

Neste ponto, vale considerar que o campo organizacional é composto por

organizações, Governo e pessoas, e que, ao se tornarem isomórficas com o

ambiente, cada ator passa a fazer parte da rotina de cada um. De acordo com

Zucker (1991, p88, tradução livre do autor), “o processo de institucionalização

simplesmente define a realidade social que será transmitida e mantida como um

fato”.

Meyer e Rowan (1991) abordam que uma das maneiras pelas quais

organizações passam a ficar isomórficas é através da interdependência provocada

pela necessidade de troca com o ambiente. O ambiente demanda por serviços e

produtos e as organizações conseguem gerenciar estas demandas. Ao se tornarem

isomórficas, contudo, numa ótica institucional, organizações passam a assumir um

padrão de dominância sendo a resposta às exigências do ambiente.

“The observation is not new that organizations are structured by phenomena in

their environment and tend to become isomorphic with them. One explanation of

such isomorphism is that formal organizations become matched with their

environments by technical and exchange interdependencies. This explanation

asserts that structural elements diffuse because environments create boundary-

spanning exigencies for organizations, and that organizations which incorporate

structural elements isomorphic with the environment are able to manage such

interdependencies. A second explanation for the parallelism between

organizations and their environments- and the one emphasized here – is that

organizations structurally reflect socially constructed reality. This view is

suggested by Parsons (1956) and Udy (1970), who see organizations as greatly

conditioned by their general institutional environments and therefore as

institutions themselves in part” ( MEYER e ROWAN, 1991, p.47)

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

69

As organizações orientam-se para incorporar as práticas e procedimentos

definidos como conceitos racionais na sociedade. Assim, elas aumentam seu grau

de legitimidade e sua chance de sobrevivência, independentemente da imediata

eficiência relativa de tais práticas e procedimentos, tornando-se cada vez mais

semelhantes. Este é o conceito de isomorfismo.

Muitas vezes, contudo, as organizações, tendo em vista seu poder, buscam

incutir na sociedade os seus interesses, o que mostra que os caminhos da

institucionalização podem surgir como conseqüência de um processo natural de

homogeneidade ou pode ser resultado das ações de alguns players, como

abordado por Meyer e Rowan (1991).

Desta forma, pode-se destacar que o isomorfismo possui as seguintes

conseqüências para as organizações, segundo Meyer e Rowan (1991, p. 49):

� o isomorfismo garante que a legitimidade esteja acima da eficiência;

� o isomorfismo faz com que a definição de valor dos elementos estruturais seja

empregada externamente à organização;

� o isomorfismo garante que quanto mais isomórfico estiver o campo, mais

estável ele estará, dificultando assim mudanças na estrutura de poder do

campo.

Como resultado, o que se pode verificar é que o isomorfismo institucional

garante o sucesso e a sobrevivência das organizações:

“Market conditions, the characteristics of inputs and outputs, and technological

procedures are bought under the jurisdiction of institutional meanings and

controls. Stabilization also results as a given organization becomes part of the

wider collective system. Support is guaranteed by agreements instead of

depending entirely on performance. . . More commonly, such firms are

guaranteed by state regulated rates which secure profits regardless of cost’s.

(MEYER e ROWAN, 1991, p.52)

“Organizational success depends on factors other than efficient coordination and

control of productive activities. Independent of their productive efficiency,

organizations which exist in highly elaborated institutional environments and

succeed in becoming isomorphic with these environments gain the legitimacy and

resources needed to survive”. (MEYER e ROWAN, 1991, p.53)

Assim, o fenômeno, pelo qual as organizações são estruturadas, a fim de se

adequarem aos requisitos ambientais, é explicado por práticas isomórficas.

DiMaggio e Powell (1991) também dão especial atenção ao processo de

homogeneidade do ambiente em seus trabalhos. De acordo com estes autores,

isomorfismo pode ser entendido como um processo que força uma unidade na

população a se parecer com as outras, em face às mesmas condições ambientais.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

70

Assim, características organizacionais são modificadas em uma direção que

aumenta a compatibilidade da organização com o ambiente. Neste caso, o número

de organizações em um campo organizacional será função da capacidade que o

ambiente vai possuir, isto é, o quanto cada campo institucionalizado terá condição

de possuir mais de um dominante.

Em época de incerteza ambiental, a competição entre as organizações

volta-se tanto para a busca de recursos e consumidores, como de legitimidade

institucional, cuja perpetuação contribui para o sucesso das estratégias

implementadas e para o pleno funcionamento interno. Essa disputa torna as

práticas organizacionais cada vez mais homogêneas ou isomórficas, diminuindo a

variedade e a instabilidade dos arranjos organizacionais em vigor em dado

momento. Neste sentido dois tipos de isomorfismo emergem, o isomorfismo

competitivo, que é fruto das pressões de mercado e das relações de troca entre os

integrantes de um dado espaço organizacional, e o isomorfismo institucional, que

inclui a luta pela legitimidade.

O isomorfismo é vantajoso para as organizações, pois a similaridade

facilita as transações interorganizacionais e favorece o seu funcionamento interno

pela incorporação de regras socialmente aceitas. Entretanto, reconhecer que

estratégias e estruturas organizacionais estão sujeitas às pressões isomórficas não

elimina a tentativa, por parte da organização, de exceder certo grau de autonomia

e de controle sobre as condições do ambiente, visando à consecução dos seus

objetivos e à manutenção dos seus interesses. Essa capacidade pode ser

particularmente observada em organizações poderosas o suficiente para

influenciar estrategicamente as redes relacionais, criando demandas para os seus

produtos, seja mediante arranjos interorganizacionais, formais ou informais, seja

fixando os seus objetivos diretamente no espaço competitivo. Nesse sentido,

mesmo as tentativas de controle organizacional se realizam dentro de uma ordem

normativa constituída no ambiente institucional. Ao que parece é a conformidade

dos valores e normas sociais, ou a legitimidade, mais do que o desempenho, que

determina sobrevivência das organizações (SCOTT e MEYER, 1991).

A primeira diferenciação em relação ao isomorfismo, apresentada por

DiMaggio e Powell(1991), bem como por Scott e Meyer (1991), é a variação do

isomorfismo de acordo com as características do ambiente, que, segundo estes

autores podem ser ambientes institucionais ou técnicos.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

71

De acordo com Scott e Meyer (1991), ambientes técnicos são aqueles em

que produtos e serviços são produzidos e comercializados no mercado e

organizações são recompensadas por eficiência e eficácia em seus controles de

produção. Nestes casos, os ambientes são idênticos aos de mercados competitivos

e organizações operando nestes mercados concentram suas energias em controlar

e coordenar técnicas e processos, buscando sempre blindar estes processos de

turbulências no mercado. Ambientes institucionais, por outro lado, são definidos

como aqueles caracterizados pela elaboração de normas e requerimentos aos quais

organizações devem se adaptar a seguir, se desejam receber suporte e

legitimidade. Os requerimentos, em sua maioria, partem do Estado/agências

reguladoras, de profissionais ou associações de comércio, de um sistema de

crenças gerais que definem como específicos tipos de organização devem se

comportar. Não importam quais sejam as fontes, as organizações são

recompensadas por se conformarem a estas regras e crenças. Ambientes técnicos e

institucionais não devem ser vistos como mutuamente exclusivos.

Segundo DiMaggio e Powell (1991), a mudança institucional tende

naturalmente à manutenção de padrões de comportamento compartilhados, o que

atribui um caráter conservador à abordagem de campos a partir da teoria

institucional. Para Reed (1992 apud CARVALHO e VIEIRA, 2003), a realidade

organizacional é socialmente constituída e institucionalmente sustentada.

DiMaggio e Powell (1991) corroboram com as definições apresentadas por

Scott e indicam que existem dois tipos de isomorfismo, o competitivo (quando a

racionalidade enfatiza as condições de mercado, mudança de nichos, etc.) e o

isomorfismo institucional (quando organizações não competem somente por

recursos e clientes, mas por poder político e legitimidade institucional). O

conceito de isomorfismo institucional é uma importante ferramenta para

entendermos os processos políticos em as estruturas de dominação em campos

organizacionais:

“Once disparate organizations in the same line of business are structured into an

actual field as we argue, by competition, the sate, or the professions, powerful

forces emerge that lead them to become similar to one another. In the initial

stages of their life cycle, organizational fields display considerable diversity in

approach and form. Once a field becomes well established, however, there is an

inexorable push toward homogenization. Organizations may change their goals

or develop new practices, and new organizations enter the field. But in the long

run, organizational actors making rational decisions construct around

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

72

themselves an environment that constrains their ability to change further in later

years”. (DIMAGGIO e POWELL, 1991, p.65)

As práticas isomórficas podem ser de natureza coercitiva, mimética e

normativa. O isomorfismo coercivo, segundo DiMaggio e Powell (1991), resulta

de pressões institucionais e formais exercidas sobre as organizações por outras

organizações das quais as organizações que estão recebendo a pressão são

dependentes. Além disso, ainda existem as expectativas culturais da sociedade nas

quais estas organizações operam, que também exercem pressões de natureza

coerciva.

Um dos agentes de poder para exercer pressões isomórficas de natureza

coerciva é o Estado, conforme apontam DiMaggio e Powell:

“The existence of a common legal environment affects many aspects of an

organization’s behavior and structure. Weber point out the profound impact of a

complex, rationalized system of contract law that requires the necessary

organizational controls to honor legal commitments. Legal and technical

requirements of State shape organizations in similar ways”. (DIMAGGIO e

POWELL, 1991, p.67)

A influência de agrupamentos sociais diversificados, em especial do

Estado, nas relações intraorganizacionais e interorganizacionais, indica que são os

fatores institucionais coercivos que possibilitam a viabilidade das organizações.

Scott e Meyer também fazem ressalvas em seus trabalhos sobre o poder do

Estado no desencadeamento de processos de natureza isomórfica:

“And there is an awareness in this literature of the unique qualities of the nation-

state as one type of corporate actor and, at the same time, as one type of

organizational environment. Public status refers to the, direct or indirect,

acquisition of a unique resource that no other environment but the state has to

offer: the ability to rely on legitimate coercion”. (SCOTT e MEYER, 1991, p.

121)

Scott (1991) corrobora a questão do isomorfismo coercivo, mas acrescenta

ao trabalho de DiMaggio e Powell uma variação. Segundo Scott (1991, p. 175) o

isomorfismo coercivo pode ser imposto por meio da autoridade ou por meio do

poder coercivo. A diferença do isomorfismo coercivo através da

autorização/legitimização e do isomorfismo por meio do poder coercivo, é que no

primeiro caso a organização subordinada não é obrigada a se conformar com as

exigências, mas sim busca voluntariamente a atenção e aprovação do agente

regulador.

Outro tipo de natureza do isomorfismo é a natureza mimética. Na natureza

mimética o elemento gerador do isomorfismo é a incerteza. Quando tecnologias

não são claramente entendidas, quando os objetivos não estão muito claros e

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

73

quando o ambiente está repleto de sinais de incerteza, organizações podem

procurar moldar a si próprias de acordo com outras organizações em posições

mais vantajosas, de modo a reduzir o grau de incerteza e a sensação de risco,

conforme abordado por DiMaggio e Powell (1991).

Uma terceira fonte de isomorfismo é o isomorfismo normativo que se

origina principalmente através do processo de profissionalização.

Profissionalização é explicado por DiMaggio e Powell (1991) como sendo a luta

coletiva de membros de uma determinada ocupação para definir as condições e os

métodos de seus trabalhos, de controle da “produção de procedimentos”

(LARSON 1977, p. 49-52 apud DIMAGGIO e POWELL, 1991 p. 70). Esta busca

acaba gerando um entendimento comum entre os membros de uma determinada

ocupação e ao mesmo tempo em que geram este “consenso”, as variações e

espaços abertos para novos tipos de pensamento e abordagem acabam ficando

limitados:

“Such mechanisms create a pool of almost interchangeable individuals who

occupy similar positions across a range of organizations and possess a similarity

of orientation and disposition that may override variations in tradition and

control that might otherwise shape organizational behavior”. (PERROW 1974

apud DIMAGGIO e POWELL, 1991, p.71)

Pressões institucionais de natureza isomórfica podem constituir-se num

indicador de limitação dos atores organizacionais para produzir organizações mais

eficazes:

“There is not a grand natural selection process that determines efficient

outcomes, but instead an unfolding process where the basic choices are limited

and shaped by institutional and political processes”. (POWELL, 1991, p.187)

Como o resultado do isomorfismo institucional é a homogeneização, um

dos melhores indicadores de mudanças no isomorfismo é a redução na variação e

diversidade, que pode ser medida pela baixa variação de padrões e de valores de

indicados na montagem de organizações (DIMAGGIO e POWELL, 1991).

Conforme aumenta o grau de estruturação de um campo, simultaneamente

a diversidade entre as organizações abre espaço para a homogeneidade e, assim,

as organizações passam a se tornar mais semelhantes, e, para Scott (1991),

também mais estáveis. Nesse sentido, a habilidade para mudança no campo

organizacional fica limitada:

“DiMaggio and Powell (1983) propose the master hypothesis that as the

environments of organizations become more structured, organizational structures

within them become more homogeneous. Indeed, although they usually identify

three different mechanisms of influence operating among organizations in the

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

74

same environment – coercive, memetic, and normative – all are predicted to have

the same effect – increased structural isomorphism .By contrast, Meyer and I

argue that under some conditions, more highly structured organizational

environments may create increased diversity of form. For example, we suggest

that in environments lacking much centralized authority, organizational forms

may exhibit increased similarity (because of competitive and memetic processes).

But as authority becomes more centralized, decision makers may decide to create

a variety of more specialized organizational forms, increasing organizational

diversity by design (coercion)”. (SCOTT, 1991, p. 173)

3.1.5.

Poder nas Organizações

De acordo com o enfoque sistêmico-funcionalista, poder é a capacidade

que possui um indivíduo ou uma organização de impor extrapolações ou projeções

de sua estrutura interna em seu meio ambiente (FARIA, 2003). Existem quatro

formas de exercício do poder:

� persuasão;

� ativação de compromissos;

� incentivo;

� coerção;

Já Weber (1974 apud FARIA 2003, p. 73) define poder como a

probabilidade de impor a sua própria vontade, dentro de uma relação social,

mesmo contra a resistência e qualquer que seja o fundamento desta probabilidade.

O poder não pertence ao indivíduo, pois são as posições institucionais que,

em larga medida, determinam as oportunidades de se ter e conservar o poder e de

se desfrutar das principais vantagens desta posse, de forma contínua e importante.

Thompson (1976 apud FARIA 2003) coloca o poder sob o enfoque

institucional, isto é, uma empresa tem poder em relação a um elemento do

ambiente operacional na medida em que a empresa tem capacidade de satisfazer

necessidades desse elemento e na medida em que essa organização monopoliza tal

capacidade. Dependência e monopólio são, então, essências do poder.

Já Friedberg (1995, p.115-120 apud FARIA 2003 p.85) descreve que o

poder institucional é “a capacidade de um ator estruturar processos de troca mais

ou menos duráveis a seu favor, explorando constrangimentos e oportunidades da

situação para impor os termos de troca favoráveis aos seus sistemas”. É uma troca

negociada de comportamentos estruturados, de tal forma que todos os

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

75

participantes dela retiram qualquer coisa, permitindo ao mesmo tempo em que

algum (ou alguns) dela retire mais que os outros. Este processo possui duas

origens conforme Friedberg (1995):

� a pertinência das possibilidades de ação de cada um dos participantes para a

solução, controle ou gestão dos problemas;

� a liberdade ou a zona de autonomia de que cada participante dispõe em suas

transações com outros participantes e que determina a previsibilidade de seu

comportamento para os outros.

A categoria central para compreender as relações entre agentes dentro dos

campos sociais, assim como as relações de interdependência entre os diversos

campos sociais e destes com o campo de poder é, exatamente, o poder e sua

reprodução. Como nenhum poder pode se satisfazer simplesmente com a sua

existência como poder, isto é, como força bruta inteiramente sem nenhum tipo de

justificação, é preciso justificar sua existência, ou pelo menos, assegurar que sua

natureza arbitrária não seja reconhecida. Para isso, faz-se necessário, dentro de

cada campo social e no campo do poder, um princípio de legitimidade legitimado

e, inseparavelmente, um modo legítimo de reprodução das bases de dominação.

Bordieu e Wacquant (1992, p.99 apud MISOCZKY, 2003) apontam que em cada

momento o que define a estrutura do campo é o estado das relações de força entre

os jogadores. Segundo Misocczky (2003 apud WACQUANT 1992), duas

propriedades são centrais a esta abordagem:

� Um campo é um sistema padronizado de forças objetivas, uma configuração

relacional dotada de uma gravidade específica que é importante a todos os

objetos e agentes que entram nele. Como um prisma, refrata forças externas de

acordo com a estrutura interna. A base de transcendência, revelada por casos

de inversão de intenção, de efeitos objetivos e coletivos de ação acumulada, é

a estrutura do jogo, e não um simples efeito de agregação mecânica.

� Um campo é, simultaneamente, um espaço de conflito e competição, um

campo de batalha em que os participantes visam ter o monopólio sobre os

tipos de capital efetivos, e sobre o poder de decretar hierarquias do poder. No

desenrolar das batalhas, a forma e as diversões do campo se tornam o objetivo

central, porque alterar a distribuição e o peso relativo dos tipos de capital (das

formas de poder) é fundamental para modificar a estrutura do campo.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

76

Da luta dos agentes envolvidos em cada campo resultam processos de

acumulação ou de transformação. Os agentes podem atuar para aumentar ou

conservar seu capital (poder), em conformidade com as regras tácitas do jogo e

com os pré-requisitos de sua reprodução.

Bordieu (1996, p. 265 apud MISOCZKY 2003, p. 155) coloca:

“O campo do poder é um campo de forças estruturalmente determinado pelo estado das relações de poder entre tipos de poder, ou diferentes tipos de capital. Também é, de modo inseparável, um campo de lutas de poder entre os detentores de diferentes formas de poder, um espaço de jogo em que aqueles agentes e instituições possuidores de capital específico são capazes de ocupar posições dominantes dentro de seus respectivos campos, e confrontar os demais utilizando estratégias voltadas para preservar ou transformar as relações de poder. Os tipos diferentes de capital são tipos específicos de poder que são ativos em um ou outro campo (de forças e lutas), gerados no processo de diferenciação e autonomização. Dentro destes diferentes espaços de jogo, surgem tipos característicos de capital que são, simultaneamente, instrumentos e objetos de disputa.”

Entre as importantes contribuições das formulações de Bourdieu, pode-se

destacar a de permitir o desvendamento de mecanismos profundos de poder; a

idéia da autonomia relativa dos campos sociais em relação ao campo de poder (ou

seja, a não-determinação da superstrutura), a idéia de que a história do campo é a

que se faz através da luta entre os concorrentes no interior do mesmo; a

possibilidade de identificar as posições relativas que os agentes ocupam a partir da

visão do campo como um espaço de relações de poder, onde pode estar presente a

referência aos pólos opostos do dominante e do dominado; a possibilidade de

estudar as estratégias dos agentes que compõem o campo e nele têm interesses em

disputa, mobilizando tipos de capital (recursos de poder) nesta disputa. O Quadro

3 faz uma correlação entre Bordieu (1996, apud MISOCZKY 2003) e a teoria

institucional a partir de DiMaggio e Powell (1991).

Quadro 3 - As Formulações de Bordieu sobre Campos de Poder e as da Perspectiva

Institucional

Campos de Poder – Bordieu Perspectiva Institucional

Foco em processos, em relações. Os

agentes são ativos e atuantes

Foco em resultados, em realidades

fenomênicas. Os agentes são

fenômenos da estrutura

A ação tem caráter intencional Ação é igual a comportamento social,

é reativa e adaptativa.

A organização é uma construção social A organização é retificada

Gênese social dos esquemas de percepção Ênfase em aspectos cognitivos e

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

77

e da estrutura motivacionais

Relações de poder e disputas de interesse

estruturam o campo

Sistemas culturais estruturam o campo

organizacional

Campo: atores em interação, conflito e

competição por tipos de capital (poder)

Campo: agregado de organizações em

conflito ou cooperação a partir de

influências do ambiente

Diversidade – os diversos campos são

organizados e transformados em

decorrência do processo de lutas por tipos

de capital

Homogeneidade – comportamentos

reativos miméticos

O campo é definido pela relação de

forças entre os atores e pelos tipos de

capital em disputa

O campo é definido por sistemas de

regras compartilhadas

Possibilidade de taxa de conversão, de

alteração dos tipos de poder que

estruturam o campo

Legitimidade das estruturas existentes

O campo está em relação com o espaço

sócia, que é um campo de forças

(estrutura) e de lutas, dos atores sociais,

pela sua reprodução ou transformação

O campo organizacional está em um

ambiente retificado

Processo permanente de produção social /

acumulação / transformação / reprodução

Fase de estruturação a qual se segue a

fase de institucionalização

Reprodução ou transformação de

estruturas

Estabilidade evolutiva das estruturas

Articulação dialética entre objetivismo e

subjetivismo

Objetivismo

Construcionismo estruturalista ou

estruturalismo construcionista

Positivimo sistêmico

Fonte:(Misoczky 2003)

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

78

3.2.

Síntese do Referencial Teórico sobre Neo-Institucionalismo

A exemplo do que foi realizado no Capítulo 2, este item apresenta os

principais conceitos extraídos na revisão de literatura sobre a teoria institucional e

o neo-institucionalismo, os quais embasaram a análise do setor estudado e

serviram de elemento para composição das entrevistas com atores e consumidores

relacionados ao campo da telefonia fixa. Esta síntese é apresentada no Quadro 4.

Quadro 4– Síntese do Referencial Teórico sobre Neo-Institucionalismo

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA

79

Conceito Objetivo

Caracterização do campo (CARVALHO e VIEIRA,

2003)

Identificar como os atores no campo agem para a

consecução dos seus objetivos

Valores do campoMostrar a situação do campo e verificar qual o valor que

sustenta as relações de poder no campo, verificando como os atores o utilizam

LegitimidadeIdentificar os elementos legitimadores das organizações

e, desta forma, verificar a sustentabilidade dos seus desempenhos

Campo Organizacional (DIMAGGIO e

POWELL,1991)

Verificar a existência do campo organizacional e suas

carcaterísticas, bem como, o seu grau de

institucionalização, o que permitirá checar como os

atores estão "presos" às relações atuais no campo

Processo de formação Checar o grau de institucionazação do campo

Corporativismo (SCOTT e MEYER, 1991)

Verificar a existência do corporativismo como

característica do campo, corroborando a relação

entre concentração de mercado, Estado e interesses

organizacionais

Setor Societal (SCOTT e MEYER, 1991)

Verificar a existência e implicações do campo

organizacional (neste caso denominado de Setor

Societal) segundo a ótica de outros atores, com

ênfase na identificação da presença do Estado no

campo

Processo de formação Checar o grau de institucionalização do Setor Societal

Isormorfismo (MEYER e ROWAN, 1991)

Identificar se o campo institucionalizado já apresenta

características do processo de isomorfismo e, desta

forma, checar o grau de isomorfismo, o que permitirá

aferir o quanto a indústria está sujeita à mudanças em

relação a configuração das suas relações de poder

Grau de isomorfismoChecar os aspectos relativos à mudança na estrutura do

campo organizacional

Tipo de isomorfismoIdentificar a natureza das práticas isomórficas, de modo a se verifcar os mecanismos estabilizadores das relações

no campo organizacional

Poder (FARIA, 2003)Identificar características de dominação nas relações

entre os atores no campo organizacional

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410695/CA