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aula Franklin Nelson da Cruz Gilvan Luiz Borba Luiz Roberto Diz de Abreu Ciências da Natureza e Realidade DISCIPLINA Autores 12 Ciência e ética 2ª Edição CI_NAT_A12_RAAR_250510.indd S11 CI_NAT_A12_RAAR_250510.indd S11 25/05/10 10:14 25/05/10 10:14

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aula

Franklin Nelson da Cruz

Gilvan Luiz Borba

Luiz Roberto Diz de Abreu

Ciências da Natureza e RealidadeD I S C I P L I N A

Autores

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Ciência e ética

2ª Edição

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Copyright © 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

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Projeto Gráfi co

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Revisores de Estrutura e Linguagem

Eugenio Tavares Borges

Marcos Aurélio Felipe

Pedro Daniel Meirelles Ferreira

Tatyana Mabel Nobre Barbosa

Revisoras de Língua Portuguesa

Janaina Tomaz Capistrano

Sandra Cristinne Xavier da Câmara

Ilustradora

Carolina Costa

Editoração de Imagens

Adauto Harley

Carolina Costa

Diagramadores

Bruno Cruz de Oliveira

Maurício da Silva Oliveira Júnior

Mariana Araújo Brito

Thaisa Maria Simplício Lemos

Imagens Utilizadas

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Governo Federal

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Secretário de Educação a DistânciaRonaldo Motta

ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitorNilsen Carvalho Fernandes de Oliveira Filho

Secretária de Educação a DistânciaVera Lucia do Amaral

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS)

Cruz, Franklin Nelson da.

Ciências da natureza e realidade: interdisciplinar/ Franklin Nelson, Gilvan Luiz Borba, Luiz Roberto Diz de Abreu. – Natal, RN: EDUFRN Editora da UFRN, 2005.

348 p.

ISBN 85-7273-285-3

1. Meio Ambiente. 2. Terra. 3. Universo. 4. Natureza. 5. Seca. I. Borba, Gilvan Luiz. II. Abreu, Luiz Roberto Diz de. III. Título.

CDD 574.5RN/UF/BCZM 2005/45 CDU 504

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2ª Edição Aula12 Ciências da Natureza e Realidade

ApresentaçãoComo você deve ter percebido, desde o início de nosso curso, temos enfatizado a ciência

como produção humana, e como tal, subordinada às características sociais, culturais e aos anseios da mente.

Nesse sentido, a construção do conhecimento aparece delimitada, tanto por fatores individuais quanto sociais. Isto é, relacionada ao meio onde se estrutura o conhecimento e as ferramentas mentais que permitem aos indivíduos (cientistas) decidir o lugar, o modo e os instrumentos necessários para observar a natureza, propor problemas, defi nir objetivos e metas. Assim, a ciência sempre irá em frente sem saber seu rumo nem quando, timidamente, a natureza mostrará parte do véu que encobre suas verdades.

No entanto, em uma sociedade complexa como a atual, na qual temos condições de alterar, a partir do conhecimento gerado em instituições de pesquisa, não só a face de nosso planeta e as características das espécies que nele vivem, mas também a de outros mundos, ou até destruí-los, parece ser fundamental discutir em que bases fi losófi cas se dão a produção do saber e os eventuais mecanismos de controle e fi nanciamento da atividade científi ca.

Nesta aula, discutiremos alguns aspectos relacionados à produção do saber, de seu uso social através das tecnologias e as ações políticas visando delimitar sua ação.

Objetivos

conceitualizar moral e ética;

explicar como a ética está envolvida nas relações da sociedade com a ciência;

fundamentar seu discurso sobre a questão do controle social sobre a ciência e a tecnologia.

Ao fi nal desta aula, você deverá ser capaz de:

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O conceito de éticaDo ponto de vista conceitual, ética é a parte da fi losofi a que estuda a moral, ou a ciência

dos costumes, aquela que visa entender a natureza moral da ação e aspirações do homem. Portanto, moral e ética são conceitos distintos, mas correlacionados.

Esse tema remete nosso estudo mais uma vez à Grécia (berço do conhecimento ocidental, vide aula 1), ao encontro dos grandes fi lósofos Sócrates, Platão e Aristóteles, os quais colocaram o tema da ética e da felicidade no centro da discussão fi losófi ca. Para o primeiro deles, o homem só é feliz quando é bom e só é bom quando conhece. Por isso, a maldade seria fruto da ignorância, enquanto o bem, a suprema virtude.

Platão amplia o conceito socrático, afi rmando que não basta ao indivíduo ser eticamente bom, mas ser um bom cidadão, e que cabe ao Estado harmonizar a sociedade de forma que esta possibilite o desenvolvimento da virtude do bem. Para tanto, o Estado deve conter em seu cerne a suprema virtude coletiva: a justiça.

O conceito aristotélico de ética vai infl uenciar a sociedade ocidental como um todo ao fazer da felicidade o supremo bem, sendo esta própria da natureza humana. O homem sempre irá procurar a felicidade a qual se encontra através do bem.

O que caracteriza a ética aristotélica e dos seus seguidores é que ela estuda o agir a partir de uma concepção do homem como sendo: um animal político, que tem linguagem e muitas vezes age logicamente (ou deveria fazê-lo) e que precisa desenvolver-se dentro de uma sociedade concreta, num período de tempo, dentro de formas concretas de governo de uma cidade, se quiser ser feliz.

Segundo o texto que você acaba de ler, qual a principal diferença do discurso sobre a ética em Sócrates, Platão e Aristóteles?

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A Ciência e seu poder

Em 1945, logo após a explosão da bomba atômica, Albert Einstein (físico alemão, nascido em 1879 e morto em 1955, um dos homens mais conhecidos do séc. XX) assim se manifestou: “a ciência perdeu a ingenuidade, nunca mais seremos os

mesmos”. De fato, a partir daquela data, o mundo tomou conhecimento dos devastadores poderes do saber científi co e o centro das atenções políticas mundiais teve seu eixo deslocado. Os cientistas deixaram de ser vistos como seres exóticos, socialmente aceitáveis, que passavam os dias em esquisitos laboratórios pesquisando curas de doenças, fórmulas químicas mágicas e equações indecifráveis, para se apresentarem como detentores de um poder capaz de alterar os rumos do planeta.

Nesse contexto, um exemplo importante de ética na ciência pode ser tirado de um famoso diálogo entre os físicos Niels Bohr (físico dinamarquês, 1885-1962, reconhecido como um dos criadores da física moderna) e Albert Einstein, nos momentos que precederam a implantação, nos E.U.A., do projeto Manhattan. Como se sabe, o início desse projeto se deu a partir de duas cartas que Einstein enviou ao Presidente Roosevelt, alertando-o da necessidade da construção da bomba atômica. A seguir, reproduzimos parte desse diálogo.

– O que estão fazendo da ciência? – murmurou Einstein – O que estão fazendo de nós?Caía a tarde no parque de Princeton. Os edifícios da Universidade, do outro lado do gramado, estavam dourados pelo último raio de sol.– Agora somos obrigados a corrigir nosso erros, professor! Criando um erro

talvez ainda maior!– Sim, o senhor tem razão – disse Einstein – Um erro muito maior!Acendeu seu cachimbo, tossiu, depois olhou Bohr diretamente nos olhos.– O senhor também faz parte do Projeto Manhattan?– Sim – disse Bohr – Estou aqui para pedir sua ajuda nesse erro ainda maior...Einstein levantou-se, brandindo o cachimbo como uma espada.– Não, professor Bohr! Absolutamente não! Para mim, chega... Alertei o presidente

sobre a situação, já escrevi duas cartas a ele, sabia? Agora não farei mais nada. Eu sou inimigo de Hitler, mas também sou inimigo de qualquer matança.

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(Se você fi cou motivado, poderá ler mais sobre esses importantes cientistas, tanto no livro citado quanto em diversas fontes existentes na Internet).

O dilema e a angústia que os dois cientistas deixam transparecer no texto refere-se ao fato de que a energia nuclear, a qual havia se benefi ciado da famosa equação de Einstein (E=mc2), cujo objetivo era a geração de energia para melhorar a vida das pessoas, estava agora sendo transformada na mais mortífera das invenções humanas – a bomba atômica – capaz, inclusive, imaginava-se na época, de destruir toda a humanidade.

Tente descobrir, na história do Brasil, uma outra invenção feita por um ilustre brasileiro que inicialmente tinha fi ns pacífi cos, voltados para o transporte e lazer, mas que acabou servindo para a guerra.

Dica: existe um caso muito importante envolvendo esse tema, e que acabou, inclusive, em suicídio.

Aparentemente, o trabalho científi co visa muito mais à verdade última das coisas do que benefícios à sociedade. Mas, muitas vezes, o desdobramento das descobertas, como no caso anterior, mostra ao mundo as mais belas facetas da alma humana. Um exemplo típico está, mais uma vez, ligado à física e à química nuclear e a uma mulher extraordinária, Marie Curie, que descobriu o elemento químico rádio e o polônio, descobertas que lhe valeram um dos maiores reconhecimentos que a sociedade científi ca mostra aos seus pares: o prêmio Nobel. Mas, se sua pesquisa científi ca a levou ao topo, sua grande tarefa humanitária ainda estava por vir. Em 1914, ela acabava de criar o Instituto de Rádio da Universidade de Paris. No mesmo ano, começou a I Guerra Mundial, e encontramos Marie empenhada totalmente

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no esforço de guerra. Politicamente correta, ela fez campanhas internacionais visando obter recursos para a instalação de equipamentos de raio-X em hospitais e em veículos especiais, chegando inclusive a trabalhar em um desses veículos que prestam socorro a soldados feri-dos nos campos de batalha na França.

Mas, antes disso, seus trabalhos provocaram intensas polêmicas na sociedade eu-ropéia, a qual acreditava que os raios-X poderiam ser usados para ver “através das roupas” das pessoas, invadindo suas intimidades. Felizmente, a ciência ignorou a pressão social e continuou sua tarefa. Hoje, não podemos imaginar consultórios odontológicos e hospitais funcionando sem aparelhos de raio-X.

Pare um pouco, pense e responda: quais das modernas tecnologias mais têm afetado sua vida? Você poderia listar alguns possíveis benefícios e malefícios dessa tecnologia?

É possível que você tenha respondido aparelho celular, televisão ou até computador. Tenha sentido alguma facilidade em apresentar os benefícios trazidos por tais aparelhos, mas nem sempre tenha clareza de que existem transtornos que podem ser provocados pelo uso indevido dessa tecnologia, como dirigir e falar ao celular ao mesmo tempo (ao contrário do que se pode pensar, não existem evidências científi cas de que o uso de aparelho celular provoque câncer) ou o fato de fi car horas em frente a um aparelho de TV ou computador reduzir a sociabilidade das pessoas.

Um exemplo interessante em que a sociedade se volta contra a ciência está na luta do médico e sanitarista Oswaldo Cruz para erradicar a varíola e a febre amarela no Rio de Janeiro no período de 1903 a 1905. O texto apresentado no box seguinte relata parte dessa história.

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ABAIXO A VACINA OBRIGATÓRIA!

[...] Mas a ignorância não desarma e a guerra continua. Se a febre amarela atacava no Verão, a varíola ataca no Inverno. É doença trazida para o Rio por imigrantes estrangeiros e retirantes de outros Estados do Brasil. Armas para combatê-la são as vacinas e estas já as mandei produzir, em grande quantidade, no Instituto de Manguinhos. Todas as entradas no Rio passarão a ter postos de vacinação. Nos fi nais de 1903 e princípios de 1904, na capital recrudesce a epidemia de varíola. Insisto com a Comissão de Saúde Pública da Câmara para que edite lei que obrigue toda a população a vacinar-se. A lei tarda a ser publicada mas eu avanço: em maio de 1904 vacino mais de 8 mil pessoas, em Junho, mais de 18 mil e, em Julho, mais de 23 mil. É quanto basta para que a imprensa e a Oposição a Rodrigues Alves tornem a espicaçar a opinião pública contra mim: atentado contra a liberdade individual, contra o pudor da mulher brasileira que será obrigada a mostrar a coxa para ser vacinada, abaixo a tirania, abaixo a vacina obrigatória!

Respondo: “Quem não quer vacinar-se poderá ser infectado. E, ao sê-lo, transmitirá a doença a quem não deseja ser doente. Se colidir com o bem comum, aí sim! a liberdade individual converte-se em tirania”.

Mas a imprensa não publica a minha argumentação. E quando, em Outubro de 1904, fi nalmente é publicada e entra em vigor a lei da obrigatoriedade da vacina, essa é a gota de água que faz transbordar a antipatia popular contra Rodrigues Alves, o qual não conseguira nem deter a carestia da vida, nem promover a oferta de empregos. Há tumultos, greves e motins. A multidão enfurecida ataca a minha casa, mas eu, com a minha família, consigo escapar pelos fundos. Por infl uência do Apostolado Positivista também ocorre a insurreição da Escola Militar, tiroteio em vários bairros, cartuchos de dinamite explodindo pelas ruas. Teme-se a queda do Governo. O Presidente entra em negociações, apazigua os ânimos, concilia. Mas paga um preço: revogação da obrigatoriedade da vacina. Mais uma vitória da ignorância contra o saber [...]

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Após ler o texto anterior, faça uma pesquisa no seu ambiente social e de trabalho sobre o uso da vacina. Tente descobrir quantas pessoas se vacinam ou vacinam seus fi lhos regularmente e também o motivo pelo qual os que não vacinam assim procedem.

Do texto, surgem algumas questões bastante atuais que passaremos a abordar, no contexto da Bioética. Antes, perceba que no texto temos, de um lado, o cientista que sabe que só a vacina poderá salvar vidas, impedir epidemias e suas trágicas conseqüências, e, de outro, a sociedade, bem informada ou não, que questiona quanto ao seu direito de não se submeter a uma exigência que implica permitir a invasão do seu corpo por anticorpos. No embate, momentaneamente, a ciência perde e a ignorância vence.

Certamente, hoje essa discussão está obsoleta e a vacinação, fi nanciada pela própria sociedade, é um dos poderosos instrumentos de cidadania.

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8 Aula 12 Ciências da Natureza e Realidade 2ª Edição

Conceitualmente, a Bioética é o ramo da Filosofi a que estuda a aplicação dos conceitos morais às tecnologias e pesquisas na área da saúde. Esse é um tema palpitante e podemos começar com a pergunta: pode-se obrigar uma pessoa a permitir que um

agente de saúde entre em sua casa para aplicar o defensivo que combate o mosquito da dengue?

Para respondê-la, temos que pensar bastante. Primeiro, quando se fala em poder, se está falando em nós enquanto sociedade. Ou seja, a sociedade para se defender de uma eventual epidemia, pode “invadir a privacidade de um lar”?

Não, essa não é uma questão fácil de ser respondida e ela é um pequeno exemplo dos problemas enfrentados pela Bioética. Nela, aparece a dicotomia entre os deveres e direitos individuais e os direitos e deveres coletivos, como também os motivos que levam uma pessoa a tomar essa ou aquela atitude, tanto individual quanto coletivamente.

Em um âmbito maior, temos os problemas relativos às atividades de pesquisa no campo da saúde, envolvendo desde as cobaias humanas até portadores de doenças, como a AIDS (Síndrome da Defi ciência Imunológica Adquirida) socialmente estigmatizadas.

Comumente, questões associadas à Bioética acabam atingindo grandes proporções e são exploradas pela mídia. Um caso interessante é o de pessoas que são mantidas vivas, em estados chamados vegetativos, em hospitais, graças à ação de “aparelhos” os quais, se desligados, levam o paciente à morte.

E o que se pergunta é se se deve ou não desligar tais aparelhos, quem pode ou deve tomar esse tipo de decisão e se é socialmente aceitável manter ou não um indivíduo indefi nidamente inconsciente preso ao leito hospitalar.

A questão fi ca ainda mais complicada quando se sabe que em países como o Brasil o número de leitos hospitalares é insufi ciente e os custos da assistência médica muito altos, tendo o próprio Estado limitações nessa área. Por outro lado, se está tratando da vida das pessoas e das emoções e crenças de seus familiares em uma cultura na qual se deseja conservar a vida a todo custo.

Assim, o desenvolvimento de toda uma tecnologia médica voltada para a preservação da vida é colocada em xeque. Mas, nessa mesma linha, acontecem situações bastante complicadas, como a da preservação de corpos congelados (criobiologia – um ramo da criogenia) à espera de que a ciência descubra a cura para a doença da qual o indivíduo era portador para, então, ressuscitá-lo e proceder posterior tratamento do mal.

Mais comum é o caso da inseminação artifi cial, não pela reprodução assistida, mas pelo contingente de embriões congelados que acabam sendo destruídos sem que a sociedade tome conhecimento. No entanto, sem os embriões congelados, não é possível a reprodução assistida, uma técnica fundamental para casais que não conseguem ter fi lhos.

Bioética

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92ª Edição Aula12 Ciências da Natureza e Realidade

Do que estudamos até agora, parece que fi ca muito difícil se impor limites ao saber ou à produção científi ca, o que leva na direção de que a ciência seria um saber não ético, no sentido de que a ética, por defi nição, impõe limites. Eis o cerne de nossa aula: pode-se

ou deve-se impor limites à produção do conhecimento? Existe algum conhecimento que seja naturalmente danoso?

Se somos pacifi stas – e aqui vale à pena citar Einstein: “A paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos” –, a produção do conhecimento para fi ns bélicos seria naturalmente danosa. Armas químicas e biológicas ou nucleares representam para a sociedade atual uma verdadeira Espada de Dâmocles, em que só a sua produção já implica um perigo tremendo, pois existe o risco de “cair em mãos erradas”, como bem nos mostram os atentados terroristas que invadem os noticiários. Por outro lado, nações que não investem em sistemas de segurança correm o risco de serem invadidas por potências hostis ou mesmo sofrerem os famigerados atentados terroristas. Desse modo, a decisão de realizar ou não pesquisas relacionadas com armamento envolve mais que posturas morais.

Como foi dito no começo, ao iniciar seu projeto de pesquisa, o cientista, em geral, não pode garantir os rumos que esta irá tomar, ocorrendo que muitas vezes o projeto parece ganhar vida própria, levando o cientista em direções totalmente distintas da que ele pensava. Mas, existem também os projetos que envolvem grupos de pesquisadores os quais, de um modo geral, sabem como guiar seu trabalho e aí ocorre que geralmente eles tentam atrair a simpatia da sociedade, de grupos políticos ou de corporações para o seu trabalho. A parte visível dessa atividade aparece algumas vezes nas propagandas que recheiam as revistas que lemos, na forma de remédios mágicos, cremes irradiantes e bebidas rejuvenescedoras, tudo sob o selo da ciência. Será que as propagandas que apregoam efeitos fabulosos são éticas?

Finalmente, podemos olhar o que ocorre com as ciências que estudam o espaço exte-rior. De suas pesquisas, resultaram todo o sistema de satélites e comunicações que permite o trânsito global das informações que varrem o planeta quase à velocidade da luz. Também permitiu chegarmos a Marte e pensar em projetos mirabolantes, como torná-lo habitável mudando sua atmosfera a partir da introdução em sua superfície de algas ou outros seres que produzam oxigênio em grande escala. Mas, é lícito mudar outro planeta, quando não resolvemos nossos problemas ambientais? Mesmo sabendo que “as intervenções no meio ambiente exigem agora uma percepção científi ca e fi losófi ca da sua organização acrescida de preocupações éticas”? (CARVALHO, 1994, p. 47).

Ciência, sociedade e ética

Espada de Dâmocles

Quando se diz que alguém “está sob a espada de Dâmocles” se quer dizer que, a qualquer momento, algo de muito ruim pode acontecer a ela.

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Aula 12 Ciências da Natureza e Realidade 2ª Edição

A grande e, muitas vezes, questionada história de sucesso da ciência foi construída por pessoas com características comuns (persistentes, pacientes, ambiciosas, inventivas e intuitivas, preguiçosas, enérgicas, egoístas, de sorte, honestas), outras nem tanto, mas que, tendo algo em comum, fi zeram de fato as observações relatadas em seus escritos, o que permitiu que outros, seguindo seus passos, reproduzissem seus resultados, acrescentando novos dados e novas conclusões. Eram feios, bonitos, gordos, magros, portadores de grandes habilidades manuais ou um desastre com as mãos que escolhiam instrumentos simples ou sofi sticados para suas observações. Procuraram desvendar o muito pequeno, o muito grande, o que está por perto, o que está longe, o que tem vida, o que é inerte. Enfi m, nos conduziram a este porto em que agora nos encontramos. Foram salva-vidas, bons marujos, não muito bons em bússola, pois na maioria das vezes não sabiam para onde iam, e isso nos tem dado a sensação de que o barco muitas vezes esteve para afundar.

Olhamos a placa e vemos que o nome do “porto” é razão, poderia ter sido outro o nome do “barco”, curiosidade, ou poderia ter sido outro, mistério; mas este é o nome do próximo porto, ou será o nome do mar?

Como você imagina o ambiente de trabalho de um cientista? Tente visualizar a fi gura de um cientista. Faça um esboço (desenho) de como você o imagina e escreva ao lado algumas características relacionadas à ética que esse profi ssional deve ter.

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Resumo

2ª Edição Aula12 Ciências da Natureza e Realidade

Nesta aula, aprendemos o signifi cado dos termos ética e moral e suas impli-cações para a ciência e para a sociedade. Vimos também que a decisão do que é certo ou não em ciência é muito difícil e que, fi nalmente, não podemos impor amarras ao saber e ao conhecimento, pois eles não possuem donos.

Auto-avaliação

Podemos dizer que a sociedade atual é uma sociedade tecnológica em que os valores da ciência ocupam cada vez mais espaço em detrimento de outros valores sociais. Escreva um texto (prosa, verso, conto, ou outro que você escolha) com aproximadamente 30 linhas sobre os perigos de uma sociedade dependente da tecnologia e da ciência sem as “rédias” da ética.

CARVALHO, Adalberto Dias. Utopia e educação. Porto – Portugal: Ed. Porto, 1994.

ENCICLOPÉDIA Mirador Internacional: volume 9. São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações, 1981. v. 9.

GAROZZO, Filippo. Albert Einstein. São Paulo: Editora Três, 1974. p. 117. (Os homens que mudaram a humanidade).

KITTEL, Charles; KNIGHT, W. D.; RUDERMAN, M.A.. Curso de física de Berkeley: mecânica. Brasília: Editora Universidade de Brasília / Editora Edgard Blucher, 1965.

SILVA, Fernando Correia da. Osvaldo Cruz: médico, cientista: 1872 – 1917. Disponível em: <http://www.vidaslusofonas.pt/osvaldo_cruz.htm>. Acesso em: 10 ago. 2005.

VALLS, Álvaro L. M. Ética na contemporaneidade. Disponível em: <http://www.bioetica.ufrgs.br/eticacon.htm>. Acesso em: 10 ago. 2005.

Referências

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Anotações

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EMENTA

> Franklin Nelson da Cruz

> Gilvan Luiz Borba

> Luiz Roberto Diz de Abreu

A Ciência e seus métodos, levantamento da realidade local, o Universo, o Sistema Solar e a Terra, a atmosfera e o clima, a biosfera, a hidrografi a, a fl ora e a fauna, a interferência humana no meio ambiente, uma primeira identifi cação de problemas ambientais.

CIÊNCIAS DA NATUREZA E REALIDADE – INTERDISCIPLINAR

AUTORES

AULAS

01 Situando a Ciência no Espaço e no Tempo

02 A Terra – litosfera e hidrosfera

03 A Terra – atmosfera

04 Bioma Caatinga – recursos minerais

05 Bioma Caatinga – recursos hídricos

06 Bioma Caatinga – recursos fl orestais e fauna

07 Interação Sol – Terra: fl uxos de Energia

08 Clima e tempo

09 O Homem – origens

10 A Hipótese Gaia

11 Poluição

12 Ciência e ética

13 Ciência, Tecnologia e Sociedade

14 Universo: uma breve apresentação

15 O Nordeste, o Homem e a Seca: natureza de uma realidade

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