28-a 4ª batalha da quinta da confusão

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Quinta da Confusão – O nascimento de um império 196 Agora que a Quinta da Confusão estava livre dos touros, os oficiais das Forças Armadas da Quinta da Confusão decidiram que era altura de se mudarem os quartéis para a capital do império. Com efeito, se estes estavam na Quinta da Perfeição era porque, na altura em que foram construídos, os dois touros ocupavam a capital e impossibilitavam a construção dos quartéis lá. Além disso, era na Quinta da Confusão que estava a ribeira onde a Marinha poderia pôr os seus barcos (até agora esta ainda não tinha arranjado nenhuns, porque o seu quartel não tinha acesso a curso de água algum). Mas, com a quinta libertada, os soldados já poderiam mudar os seus quartéis de posição. Assim, sob a orientação dos cientistas da Quinta da Perfeição, estes começaram a desmontar as tábuas dos quartéis e a embarcá-las em carroças que iriam para a capital. Tábua após tábua, carroça após carroça, os quartéis começaram a perder forma. Enquanto isso, o Comandante Supremo do Exército foi para a Quinta da Confusão ver qual seria o melhor local para se colocarem os quartéis, desta vez na sua localização definitiva. O local escolhido foi a margem esquerda da ribeira. O quartel do Exército ficaria a norte e o da Marinha a sul, sendo que entre os dois haveriam alguns metros de espaço. Na verdade, se houvesse uma linha a dividir a Quinta da Confusão em duas metades, essa linha passaria pelo espaço entre os locais onde ficariam os quartéis. Com o local decidido, o comandante aguardou pela chegada das primeiras carroças com partes dos quartéis para indicar aos soldados onde deveriam eles montá-las. Na verdade, porém, a reconstrução dos quartéis só poderia começar quando os alicerces fossem extraídos da terra para serem recolocados na Quinta da Confusão, e isso só aconteceria depois de as construções estarem totalmente desmontadas. Era algo inédito na Quinta da Confusão, a mudança de uma construção de um sítio para o outro. E os militares do país estavam à altura da tarefa. 10:00 Habitantes: 530 Mais de 48 horas após a inundação da Mina de Ferro da Quinta da Confusão, os mineiros da mina conseguiram por fim tirar de lá toda a água que impossibilitava o trabalho lá dentro. Restavam ainda algumas poças, mas isso era insignificante para os animais. Império da Quinta da Confusão Quintas (2) – Quinta da Confusão e Quinta da Perfeição Minas de Ferro (2) – Quinta da Confusão e Quinta da Perfeição Minas de Ouro (1) – Quinta da Perfeição Minas de Carvão (1) – Quinta da Perfeição

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Páginas 196 a 204

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Page 1: 28-A 4ª Batalha da Quinta da Confusão

Quinta da Confusão – O nascimento de um império

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Agora que a Quinta da Confusão estava livre dos touros, os oficiais das Forças Armadas da Quinta da Confusão decidiram que era altura de se mudarem os quartéis para a capital do império. Com efeito, se estes estavam na Quinta da Perfeição era porque, na altura em que foram construídos, os dois touros ocupavam a capital e impossibilitavam a construção dos quartéis lá. Além disso, era na Quinta da Confusão que estava a ribeira onde a Marinha poderia pôr os seus barcos (até agora esta ainda não tinha arranjado nenhuns, porque o seu quartel não tinha acesso a curso de água algum). Mas, com a quinta libertada, os soldados já poderiam mudar os seus quartéis de posição. Assim, sob a orientação dos cientistas da Quinta da Perfeição, estes começaram a desmontar as tábuas dos quartéis e a embarcá-las em carroças que iriam para a capital. Tábua após tábua, carroça após carroça, os quartéis começaram a perder forma. Enquanto isso, o Comandante Supremo do Exército foi para a Quinta da Confusão ver qual seria o melhor local para se colocarem os quartéis, desta vez na sua localização definitiva. O local escolhido foi a margem esquerda da ribeira. O quartel do Exército ficaria a norte e o da Marinha a sul, sendo que entre os dois haveriam alguns metros de espaço. Na verdade, se houvesse uma linha a dividir a Quinta da Confusão em duas metades, essa linha passaria pelo espaço entre os locais onde ficariam os quartéis. Com o local decidido, o comandante aguardou pela chegada das primeiras carroças com partes dos quartéis para indicar aos soldados onde deveriam eles montá-las. Na verdade, porém, a reconstrução dos quartéis só poderia começar quando os alicerces fossem extraídos da terra para serem recolocados na Quinta da Confusão, e isso só aconteceria depois de as construções estarem totalmente desmontadas. Era algo inédito na Quinta da Confusão, a mudança de uma construção de um sítio para o outro. E os militares do país estavam à altura da tarefa.

10:00 Habitantes: 530

Mais de 48 horas após a inundação da Mina de Ferro da Quinta da Confusão, os mineiros da mina conseguiram por fim tirar de lá toda a água que impossibilitava o trabalho lá dentro. Restavam ainda algumas poças, mas isso era insignificante para os animais.

Império da Quinta da Confusão

Quintas (2) – Quinta da Confusão e Quinta da Perfeição Minas de Ferro (2) – Quinta da Confusão e Quinta da Perfeição

Minas de Ouro (1) – Quinta da Perfeição Minas de Carvão (1) – Quinta da Perfeição

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Área: 1 km2

O regresso ao trabalho da Mina de Ferro da Quinta da Confusão trouxe grandes quantidades desse metal à feira da Quinta da Confusão, que desvalorizou então a matéria-prima (os preços dos produtos eram diferentes para cada feira). Isso foi bom para os fabricantes de instrumentos, e não afectou os mineiros que agora tinham a sua fonte de rendimento novamente activa. Por fim, todos os vestígios da inundação que ocorrera na Quinta da Confusão no Dia 6 estavam já finalmente eliminados.

Após 1 hora de trabalho, os quartéis que estavam na Quinta da Perfeição foram totalmente movidos para a Quinta da Confusão, o lugar onde era suposto estarem desde que foram erguidos pela primeira vez. Assim, os espaços do quartel da Marinha destinados aos barcos já puderam ser escavados e ligados à ribeira, mesmo em frente. A feira da Quinta da Perfeição cedeu então 20 barcos a remos de Modelo 1 para servirem a Marinha. Estava previsto ficarem 5 soldados em cada um: 4 a remar e o restante a atacar os inimigos com flechas. Isso se o barco precisasse de ter mais velocidade e agilidade, pois se o Comandante Supremo da Marinha achasse que os barcos deveriam ter mais poder de fogo aconteceria o contrário: haveriam 4 soldados a lançar flechas e só 1 a remar. E mal sabia o próprio que em breve teria que dar o seu melhor como oficial para dar a vitória ao seu país no campo de batalha.

10:30 Habitantes: 450

Para os animais da Quinta da Confusão, o Dia 8 estava a ser tão calmo e tranquilo como o Dia 7. Os donos permaneciam fora, sem chamarem os funcionários; não surgira nenhum novo touro e nenhuma quinta inimiga atacara alguma quinta do império. Mas isso não tardaria a mudar, porque a Herdade dos Ovos cobiçava o território da Quinta da Confusão. Os seus animais sabiam muito pouco sobre o país: desconheciam a existência da Quinta da Perfeição e de soldados profissionais no império, na verdade apenas sabiam onde ficava a Quinta da Confusão e que esta não possuía a sua arma devastadora. Essa arma, armazenada em cilindros de madeira com um rastilho no topo ou em grandes barris, era a pólvora. A pólvora que em breve seria usada para atacar a Quinta da Confusão. O presidente da Herdade dos Ovos, confiante em como a falta de informações sobre a Quinta da Confusão seria compensada pela superioridade tecnológica, conseguiu arranjar 300 animais que se voluntariaram para conquistar a Quinta da Confusão. Estes, trazendo consigo algumas carroças carregadas de cilindros de pólvora, partiram rumo ao país. Era óbvio o quanto a

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Herdade dos Ovos estava a subestimar o seu inimigo: nenhum dos soldados trazia cavalos, e alguns nem sequer traziam escudos tal era a confiança que tinham em como a pólvora acabaria facilmente com os inimigos. Só havia um factor do seu lado, que eles próprios ignoravam: a superioridade numérica. O exército tinha o dobro dos animais do Exército da Quinta da Confusão, visto que a Herdade dos Ovos tinha uns estrondosos 1.150 habitantes. Isso era mais do dobro da população de todo o Império da Quinta da Confusão, 530 habitantes. Foi, portanto, esse exército incrivelmente grande que invadiu de rompante o este da Quinta da Confusão. Os soldados desembainharam a espada e começaram a posicionar-se, procurando manter sob controlo os animais que estavam na zona. À primeira vista, a tarefa pareceu-lhes fácil: nem sequer tiveram que atirar um só cilindro de pólvora. Mas os habitantes da Quinta da Confusão, ao perceber que estavam a ser invadidos, não hesitaram. Pegaram nos instrumentos que tinham ao seu alcance e avançaram para os inimigos. O exército da Herdade dos Ovos então percebeu que a Quinta da Confusão não se renderia tão facilmente, e decidiu usar a pólvora. Os soldados pegaram então em cilindros de pólvora, acenderam os rastilhos em archotes fixados às carroças e atiraram-nos contra as construções e os animais.

As explosões fizeram exactamente aquilo que a Herdade dos Ovos esperava: assustaram e desnortearam os animais da Quinta da Confusão que sobreviveram às detonações. De onde viriam tantas explosões em simultâneo? Os animais viram-se confrontados com duas opções: ou fugiam e deixavam o território à quinta invasora, que só poderia ser a Herdade dos Ovos; ou ficavam e tentavam atacar os invasores correndo o risco de morrer nas explosões. A grande superioridade numérica do inimigo levou a que os animais optassem pela primeira hipótese. Que hipóteses tinham de conseguir vencer um exército enorme e ainda por cima armado com explosivos? Os soldados invasores, ao verem o caminho livre, avançaram pela metade oriental da Quinta da Confusão para a ocuparem na totalidade. Depois logo cruzariam a ribeira e atacariam a metade ocidental. Ao fazerem isso, cometeram um erro estratégico: deixaram para trás as carroças com pólvora, a sua arma mais mortífera. Mas o que poderia acontecer? Depois da debandada geral que conseguiram provocar, quem se atreveria a atacá-los? A resposta surgiu com um grupo de 150 animais que atravessaram a ribeira a nado e que traziam uma placa metálica a cobrir o peito e as costas. O Exército da Quinta da Confusão. Eram metade do exército invasor, mas estavam treinados, tinham o peitoral a defendê-los e os arcos e as flechas para atacar mais longe do que qualquer cilindro de pólvora. E, como se não bastasse, a Marinha também entrou no combate. Os seus 20 barcos posicionaram-se ao longo da ribeira, com 4 soldados em cada barco prontos a atacar para se obter o máximo poder de fogo. À frente dos soldados do Exército estavam três animais com um peitoral preto a

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dizer «Comandante», e à sua frente um cavalo com um peitoral igualmente preto a dizer «Comandante Supremo». Esse animal, o mesmo que servira de secretário em todos os conselhos realizados pelo país, era o cavalo 3. Atrás do Exército, num dos barcos da Marinha, estava um porco com um peitoral igual com o nome de porco 30. Esses dois animais tinham a seu cargo liderar as suas tropas para derrotar o inimigo, um inimigo numeroso que contava com explosivos devastadores. Mas isso não assustou o cavalo 3. Este ajustou o cinto, tirou a espada e, brandindo-a, começou a cavalgar para os inimigos gritando «Ao ataque!». Todo o Exército fez o mesmo nos segundos seguintes. Estava-se na 4ª Batalha da Quinta da Confusão.

Os soldados inimigos, ao verem o Exército da Quinta da Confusão a avançar contra eles, tentaram alcançar as carroças com pólvora para o aniquilarem. Mas a falta de cavalos fez a diferença: só os que estavam mais perto conseguiram alcançar o armamento. Os restantes foram alcançados pela Cavalaria, e tiveram que lutar com a espada e o escudo. Na prática, os combates decorriam entre pequenos grupos de soldados, separados por algumas dezenas de metros. A Artilharia, assim como a Marinha, tinha alguma dificuldade em atacar à distância. Com efeito, corria-se o risco de as flechas acertarem em aliados em vez de em inimigos. Mas o porco 30, assim como as suas tropas, não deixaram escapar nenhuma oportunidade de abater inimigos. Mal viam um a jeito, puxavam as cordas dos arcos, faziam pontaria ao animal e deixavam a flecha voar para o matar. Ao cavalo 3, o método pareceu-lhe tão eficaz que este deu ordem para que a Cavalaria e a Infantaria recuassem para junto da ribeira, deixando desprotegidos os soldados inimigos. Quanto aos archeiros, deveriam ficar também aí, ao pé dos barcos, para assim terem mais poder de fogo do que se estivessem separados. A estratégia resultou em afastar as tropas inimigas, que recuaram para lá das estufas e árvores em chamas e para junto das carroças com pólvora. A sua pólvora devastara o este da Quinta da Confusão: as estufas, compostas pelo precioso plástico há muito esgotado, estavam envoltas em chamas que as devoravam. As árvores também iam pelo mesmo caminho, e se não haviam terrenos inteiros em chamas era por causa da neve e do gelo. Apesar de tudo, até o abrigo nocturno estava quase a ser alcançado pelo fogo. Os soldados da Herdade dos Ovos tiveram tempo para ver tudo isso, fora do alcance das flechas da Quinta da Confusão. E também tiveram tempo de pensar numa forma de usar a estratégia do Comandante Supremo do Exército da Quinta da Confusão a seu favor. Se conseguissem atacar os inimigos levando consigo a pólvora, poderiam usar a sua arma mortífera como planeavam. Assim, improvisaram uma blindagem para as carroças fazendo-lhes paredes e um tecto com um alçapão improvisado para entrada. Para evitar que os cavalos fossem mortos, pôs-se uma bicicleta na carroça ligada às rodas para os substituir. O condutor poderia ver o exterior graças a uma janela na parte da frente.

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Quando o cavalo 3 viu avançarem as carroças da Herdade dos Ovos na direcção das suas tropas, blindadas, imparáveis e impenetráveis para as flechas, este percebeu que a sua estratégia tinha sido um erro. Ao concentrar os archeiros na margem da ribeira em vez de os espalhar pela quinta, para cobrirem toda a área, dera tempo aos inimigos de fortificarem as suas carroças e poderem atacar mais eficazmente os inimigos. De modo algum as carroças da Herdade dos Ovos poderiam ser detidas, porque não só não tinham cavalos como o condutor podia pedalar em segurança que a blindagem protegia-o dos ataques inimigos. Os soldados da Herdade dos Ovos rodearam as carroças, e seguiram-nas ao seu ritmo em direcção aos inimigos. As carroças bombardeavam as linhas inimigas com pólvora, e ao mesmo tempo os soldados que as rodeavam impediam que os inimigos conseguissem alcançar os veículos. A estratégia do cavalo 3 matara alguns inimigos, mas tivera consequências nefastas. Ainda por cima, as carroças podiam servir de protecção aos soldados inimigos contra as flechas da Quinta da Confusão. Os 3 Comandantes do Exército entreolharam-se. Atacar à distância já não servia, tinham que enviar as suas tropas numa ofensiva directa contra o inimigo. Era óbvio que muita gente iria morrer, mas o que é que se poderia fazer em alternativa? Entre morrer a fugir na explosão de um cilindro de pólvora e morrer da mesma forma a atacar depois de se terem morto inimigos, os comandantes preferiam a segunda hipótese. Assim, deram ordens aos soldados para avançarem. Logo estes, motivados para defenderem a Quinta da Confusão, começaram a correr (ou a cavalgar) contra o inimigo. Os combates centraram-se então nas carroças da Herdade dos Ovos, defendidas ferozmente pelas tropas do país auxiliadas pelos bombardeamentos dos companheiros a bordo das carroças. A Quinta da Confusão não tinha como escapar da pólvora senão tentando fugir antes da explosão, mas em compensação tinha vantagem no combate frente-a-frente. E tinha também apoio da Marinha, que bombardeava sempre que possível os inimigos com flechas. Ninguém sabia dizer quem sairia vencedor na 4ª Batalha da Quinta da Confusão.

11:30 Habitantes: 380

Uma hora após o começo da 4ª Batalha da Quinta da Confusão, o equilíbrio de forças continuava. Ambas as partes tinham sofrido grandes baixas: tanto a Quinta da Confusão como a Herdade dos Ovos tinham perdido 1\3 dos seus soldados. Entre as vítimas contavam-se o Comandante da Artilharia e o da Infantaria da Quinta da Confusão, o primeiro morto na detonação de um cilindro de pólvora e o segundo num combate frente-a-frente. Importa dizer que a Quinta da Confusão sabia perfeitamente que o

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peitoral não tornava o soldado invulnerável, este podia morrer se fosse atingido em certas zonas desprotegidas. E o cavalo 3 sabia também que o peitoral não ajudava a sobreviver às explosões. Enquanto os inimigos tivessem pólvora na sua posse, a vitória não poderia ser alcançada com poucas baixas. Era necessário tirar à Herdade dos Ovos o seu letal armamento. Mas como? O comandante lembrou-se então de um pormenor: todos os cilindros traziam uma pequena corda no topo acesa, provando que era o fogo que provocava a sua detonação. Se alguém conseguisse mandar algo em chamas para dentro das carroças, não só esta explodiria como todos os inimigos por perto também morreriam. E, com isso, a Quinta da Confusão teria a vitória por garantida. Mas não chegava incendiar as carroças, pois bastava os soldados fugirem para não serem mortos pelas detonações. Era preciso deitar fogo à pólvora repentinamente, de tal modo que a Herdade dos Ovos só se apercebesse do perigo tarde demais. Assim, o cavalo 3 posicionou archeiros nos locais mais altos que pudessem encontrar: o topo das construções e das árvores ainda intactas perante a destruição que assolava a metade este da Quinta da Confusão. Mal os condutores das carroças abrissem os alçapões dos seus veículos, os archeiros enviariam as flechas a arder lá para dentro, se possível directamente contra os cilindros de pólvora. O Comandante Supremo estava confiante em como a estratégia iria resultar.

De repente, os soldados da Herdade dos Ovos viram os seus inimigos pararem de lutar e começarem a fugir aparentemente ao acaso. Era a oportunidade ideal para dizimar as tropas inimigas, uma vez que em fuga seriam muito mais fáceis de abater. Assim, os animais e as carroças começaram a perseguir as tropas da Quinta da Confusão. Mas o que parecia uma debandada geral que acabaria em massacre era na verdade um plano bem pensado. Ao irem atrás dos inimigos, os soldados da Herdade dos Ovos estavam a ir para zonas onde ficariam ao alcance dos archeiros da Quinta da Confusão. Para ter a certeza de que os condutores das carroças se expunham nas zonas de emboscada, os soldados aliados começaram a andar às voltas nos locais verificando sempre se os inimigos permaneciam no seu encalço. Como estes insistiam em perseguir os soldados da Quinta da Confusão, a emboscada foi um êxito. Mal o primeiro dos condutores abriu o alçapão da carroça para atirar um cilindro de pólvora, o archeiro mais próximo largou a corda do seu arco e uma flecha com a ponta a arder veio atingir em cheio a pilha de cilindros de pólvora guardados na carroça. As chamas irromperam de imediato, e poucos segundos os animais da Herdade dos Ovos por perto tiveram para perceberem que iriam morrer se não fugissem. De repente, ouviu-se um grande estrondo e uma bola de fogo irrompeu no lugar onde segundos antes estava uma carroça blindada e algumas dezenas de animais. Quando as chamas se dissiparam, viu-se que a carroça estava desfeita por completo e que todos os soldados da Herdade

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dos Ovos jaziam mortos no chão, abatidos pela arma mortífera na qual tinha depositado tanta confiança. Mas a batalha não ficou por aí, e a Artilharia da Quinta da Confusão destruiu ainda mais algumas carroças e matou mais de meia centena de inimigos. Por fim, os sobreviventes perceberam que a pólvora estava a revelar-se a sua ruína, em vez de ser a sua salvação. Como as carroças movidas a pedais eram muito lentas, os soldados da Herdade dos Ovos incendiaram-nas para não deixarem a pólvora aos inimigos e depois fugiram para a sua quinta. O cavalo 3, apesar de quase ter levado a Quinta da Confusão à derrota ao concentrar as tropas na ribeira, salvou o dia com a sua estratégia de emboscar as carroças com pólvora e usá-las para fazer ainda mais baixas no inimigo. Estava vencida a 4ª Batalha da Quinta da Confusão.

4ª Batalha da Quinta da Confusão

• Data: 10:30 – 11:30 do Dia 8 • Local: Metade este da Quinta da Confusão • Resultado: Derrota da Herdade dos Ovos • Combatentes: Herdade dos Ovos X Quinta da Confusão • Forças: Herdade dos Ovos – 300 animais, 15 carroças de

pólvora; Quinta da Confusão – 150 soldados do Exército, 100 soldados da Marinha, 20 barcos

• Líderes: Herdade dos Ovos – Nenhum; Quinta da Confusão – Cavalo 3 e porco 30

• Baixas: Herdade dos Ovos – 200 animais, 15 carroças de pólvora (todas); Quinta da Confusão – 75 soldados do Exército, 25 soldados da Marinha, 5 barcos, 50 civis

458

180

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Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5 Dia 6 Dia 7 Dia 8

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Ilustração 22 - Gráfico com a população da Quinta da Confusão dos Dias 1 ao 8

(valores do final do dia, excepto para o Dia 8)

Apesar da vitória, a 4ª Batalha da Quinta da Confusão fora a mais mortífera e devastadora de sempre para o país. Cento e cinquenta animais, quer civis quer militares, haviam morrido durante a batalha. Uma hora bastara para fazer cair a população da Quinta da Confusão quase para os níveis do final do Dia 6, e para destruir por completo as estufas da zona este da quinta. Os soldados sobreviventes olharam em volta para observarem o panorama do campo de batalha. Nos lugares onde antes estavam estruturas plásticas em forma de arco restavam agora chamas, cinzas e o cheio característico do plástico queimado. Escusado seria dizer que as plantações que estavam lá dentro, e também muitas outras da área, estavam também queimadas e destruídas. O abrigo nocturno estava à beira de ser também incendiado, pelo que os soldados foram a correr apagar as chamas que o ameaçavam. A feira e o seu armazém, assim como os altos-fornos, por sorte conseguiram escapar intactos. Mas a destruição da maioria das plantações da metade este da Quinta da Confusão, 1\4 de toda a produção nacional, fez de imediato subir o preço dos produtos agrícolas na feira da Quinta da Confusão. Enquanto os agricultores do resto do império lucravam com a situação, os que trabalhavam na área devastada regressaram lá para apagar os incêndios e recomeçar a trabalhar. Ignoravam que as cinzas serviam como fertilizante, o que os ajudaria a compensar as perdas. Mas logo se depararam com um problema: como substituir as estufas? O plástico que as compunha viera das ruínas do Celeiro-forte, destruído no Dia 2, e há muito que se esgotara. A Quinta da Confusão não tinha como produzir o material, pelo que os cientistas da quinta tentaram obter os mesmos efeitos das estufas de plástico com outros materiais. Ao fim de alguns minutos de procura, os animais acharam o material ideal: o vidro. Aparentemente, por aquilo que os cientistas puderam calcular, uma estrutura fechada em vidro deixaria entrar o calor do sol mas não o deixaria sair, exactamente aquilo que uma estufa em plástico fazia. Assim, estes não tardaram a construir uma estufa experimental em vidro, suportada por arcos de ferro forjado com portas nas paredes. A nova estufa podia ser feita em larga escala pelo império fora, e tinha a vantagem de ter duas portas para se entrar e sair mais facilmente, ao contrário da estufa de plástico.

Mas teria a estufa de vidro a mesma eficácia da sua antecessora? Os cientistas decidiram comparar. Entraram numa estufa de plástico para verem quão quente estava no seu interior, e depois passaram para a de vidro. Como esta ainda não tinha tido tempo de aquecer muito a temperatura no seu interior era menor, mas os cientistas acharam que a estufa de vidro era satisfatória. Assim, mostraram-na aos agricultores que tinham tido estufas no este da Quinta da Confusão, e estes adoptaram-nas

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logo. Não era propriamente fácil fazê-las, porque era necessário fazer uma rede em forma de arco de ferro forjado. Depois, era preciso fabricar-se uma série de placas de vidro e depois metê-las em cada espaço da estrutura, e só aí a estufa estaria funcional. Apesar de serem mais elaboradas do que as estufas de plástico, os agricultores conseguiram acabá-las rapidamente. Assim, aparentemente todos os vestígios da 4ª Batalha da Quinta da Confusão estavam apagados, excepto a grande queda da população do império. Mas a feira, mal soube da existência das novas estufas, alarmou-se. Se todos os agricultores do império decidissem criar também as suas estufas, a produção de ervas e uvas face ao consumo seria muito desigual, passaria a haver superprodução. E todos os empregados da feira se recordavam do que se sucedera na Crise do Dia 5, causada por isso mesmo: toda a gente a produzir o máximo possível; a feira a pagar o mínimo possível mas ainda assim a perder dinheiro; toneladas de mercadorias a serem destruídas para tentar diminuir a oferta e, no final desta, um grande prejuízo para a feira em consequência da crise. Era algo que ninguém queria repetir, pelo que os empregados da empresa se encarregaram de fazer circular a mensagem de que não valia a pena fazer estufas para aumentar a produção, pois isso só faria cair o preço dos produtos agrícolas. Os agricultores do império receberam e aceitaram a mensagem, pelo que não houve nenhuma crise a seguir à batalha. Enquanto isso, o cavalo 3 e o porco 30 decidiram repor as Forças Armadas no seu nível inicial. Assim, deixaram os soldados ir para onde quisessem, com a condição de estarem de regresso aos quartéis às 15:30. Isso porque em princípio a formação dos novos soldados deveria acabar a essa hora, visto que o cavalo 3 já sabia como reduzir o tempo de formação das tropas. Foram nomeados novos Comandantes, e todos juntos começaram a formar os recrutas que surgiram. Quando acabassem, as Forças Armadas iriam atacar a Herdade dos Ovos.

12:00

Os cientistas da Quinta da Confusão, ao olharem para um mapa do país feito pelos 3 cartógrafos, viram que o que havia a sul do império era totalmente desconhecido. Conheciam-se apenas 200 a 250 metros de terreno, e para lá disso aparecia uma área vazia a dizer «Território desconhecido». Nem se sabia onde era a foz da ribeira. Desde sempre que se sabia onde era a nascente, meio km a norte da Quinta da Confusão (isso porque os camiões dos funcionários passavam sempre por ali, e os animais capturados viam onde era a nascente), mas a localização da foz era desconhecida. Como seria o resto do curso da ribeira? Seria sempre direito como a parte já conhecida, ou pelo contrário começava a andar às curvas pelo território? Dois cientistas ofereceram-se para descobrir. Embarcaram