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Bruna Pinotti Garcia Oliveira Rafael de Lazari Paulo Henrique Gonçalves Portela 2ª edição revista e atualizada 2017 DIREITOS HUMANOS Revisaco-Direitos Humanos-Garcia et al-2ed.indb 3 25/03/2017 18:35:17

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Page 1: 2620 - Revisaco -Direitos Humanos-Garcia et al-2ed - Miolo · (PM-RO - 2014 - PM-RO - Sargento - Seleção Interna) Julgue o seguinte item: “Para alguns filósofos e juristas, os

Bruna Pinotti

Garcia Oliveira

Rafael de

Lazari

Paulo Henrique

Gonçalves Portela

2ª ediçãorevista e atualizada

2017

DIREITOS HUMANOS

Revisaco-Direitos Humanos-Garcia et al-2ed.indb 3 25/03/2017 18:35:17

Page 2: 2620 - Revisaco -Direitos Humanos-Garcia et al-2ed - Miolo · (PM-RO - 2014 - PM-RO - Sargento - Seleção Interna) Julgue o seguinte item: “Para alguns filósofos e juristas, os

QUESTÕES

Nota dos autores: teoria geral dos direitos

humanos é o estudo amplo de uma temática, abran-gendo desde os seus elementos básicos como conceito, características, fundamentação e finalidade, passando pela análise histórica e chegando à compreensão de sua estrutura normativa. Com exceção da questão histó-rica, que se reserva a capítulo próprio, serão colaciona-das neste ponto questões inerentes à teoria geral dos direitos humanos. Além disso, será conferido destaque à questão do tratamento das normas de direitos huma-nos no Brasil.

1 CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS

01. (FCC - 2015 - DPE-SP - Defensor Público) “Se há um direito humano à vida e à integridade física, como se pode aceitar então, com anuência, que as interven-ções militares ocidentais matem mais pessoas inocentes que as atrocidades dos ditadores e dos terroristas? Os EUA, é o que se diz, utilizam os direitos humanos apenas como pretexto para os interesses totalmente profanos do poder e da economia; não lhes interessa a situação jurídica da população, mas apenas o petróleo. E por isso, assim prossegue o argumento, há dois pesos e duas medidas: em toda parte onde os detentores do poder se destacam pelo bom comportamento, deixando por exemplo que os bombardeiros norte-americanos esta-cionem em seus territórios (como na Turquia, prova-velmente, ou na Arábia Saudita), a autonomeada polí-cia mundial ocidental não há de objetar nada contra a pilhagem, a perseguição e a chacina de grupos inteiros da população ou contra as condições ditatoriais” (KURZ, Robert. Paradoxos dos direitos humanos. Folha de São Paulo, São Paulo, 16 mar. 2003. Caderno Mais!, p. 9-11). O excerto acima é relacionado ao:

a) multiculturalismo dos direitos humanos.

b) universalismo de confluência dos direitos huma-nos.

c) imperialismo dos direitos humanos.

Teoria Geral dos Direitos Humanos

d) relativismo dos direitos humanos.

e) universalismo dos direitos humanos.

COMENTÁRIOS.

Nota dos autores: segundo Hobsbawm1, o imperialismo dos direitos humanos caracteriza-se por: a) colocar uma proposição de legitimidade e de neces-sidade de intervenções armadas internacionais para introduzir ou impor os direitos humanos em uma era de crescente barbárie, permitindo assim que o forte poderio militar norte-americano se imponha em territó-rios estrangeiros sob o pretexto da defesa dos direitos humanos; b) imunizar os regimes tiranos do dever de adotar mudanças internas, de modo que apenas a força armada externa poderia conduzi-los a adotar os valores e instituições políticas ocidentais, tornando a interven-ção militar uma necessidade; c) acreditar que as institui-ções ocidentais podem ter êxito em qualquer lugar e, assim, cuidar eficazmente dos problemas transnacio-nais e trazer a paz ao invés de instaurar a desordem.

Alternativa correta: letra “c”. Uma das maiores críticas feitas à atuação norte-americana no campo dos direitos humanos se refere ao seu imperialismo. Se diz que há uma atuação dos Estados Unidos em prol dos direitos humanos apenas quando é de seu interesse, selecionando-se as intervenções conforme critérios políticos e econômicos. Sob tais argumentos, os Estados Unidos interferem militarmente em países do Oriente, porém adotando critérios seletivos ao determinar a escolha de onde haverá ou não intervenção - fecham os olhos às violações de direitos humanos dos seus parcei-ros econômicos, insistem na punição daqueles que se recusam a cooperar com sua hegemonia.

Alternativa “a”: incorreta. O texto não aborda o multiculturalismo dos direitos humanos senão reflexa-mente como um dos pretextos para o imperialismo.

1 HOBSBAWM, Eric. Prefácio. In: Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 14-15.

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Page 3: 2620 - Revisaco -Direitos Humanos-Garcia et al-2ed - Miolo · (PM-RO - 2014 - PM-RO - Sargento - Seleção Interna) Julgue o seguinte item: “Para alguns filósofos e juristas, os

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Alternativa “b”: incorreta. O universalismo de confluência seria um universalismo dos direitos huma-nos como ponto de chegada e não de partida, que somente seria obtido após necessários conflitos. O texto não possui uma chamada de defesa ao universa-lismo, até mesmo porque questiona o porquê de se con-siderar justas certas condutas ocidentais que produzem muito mais danos que as orientais.

Alternativa “d”: incorreta. Em que pese a neces-sidade de se atentar a fatores multiculturais, um dos aspectos do relativismo dos direitos humanos, o texto não coloca tais fatores como objeto central, mas apenas como pretexto de justificação do imperialismo.

Alternativa “e”: incorreta. O texto não faz defesa do universalismo, até mesmo porque questiona: “como se pode aceitar então, com anuência, que as interven-ções militares ocidentais matem mais pessoas inocen-tes que as atrocidades dos ditadores e dos terroristas”? Logo, destaca que muitas vezes se interpreta um cená-rio como atentatório aos direitos humanos apenas para justificar uma intervenção que na verdade tem motivos econômicos e políticos.

02. (CEPS-UF - 2015 - UFPA - Pedagogo) Muito se tem falado sobre a relação entre direitos humanos e educa-ção no Brasil e na América Latina. Neste sentido, direitos humanos refere-se a:

a) um marco ético-político para ser usado como crítica e orientação às diferentes práticas sociais.

b) uma orientação política para o acolhimento de pes-soas exiladas.

c) uma utopia pela felicidade humana no espaço público.

d) uma ética que promove a democracia na América Latina e no Caribe.

e) uma orientação jurídica que leva a uma sociedade planificada.

COMENTÁRIOS.

Alternativa correta: letra “a”. Os direitos humanos podem ser apresentados como um marco ético, eis que promovem o resgate das perspectivas do direito como justiça (direito natural), e político, já que estrutura um novo sistema de proteção de direitos de caráter interna-cional. Com efeito, prestam-se à crítica e à orientação de práticas sociais sob novas perspectivas.

Alternativa “b”: incorreta. A área que cuida do direito das pessoas exiladas é o direito dos refugia-dos, apenas uma das vertentes de proteção da pessoa humana.

Alternativa “c”: incorreta. Os direitos humanos não podem ser considerados como utopia, como irreali-záveis ou meramente teóricos.

Alternativa “d”: incorreta. Os direitos humanos são universais, fazendo-se valer em todo o globo.

Alternativa “e”: incorreta. Os direitos huma-nos não buscam uniformizar todas as práticas sociais, reconhecendo as peculiaridades regionais, culturais e sociais que devem ser respeitadas.

03. (ESAF - 2012 - CGU - Analista de Finanças e Con-

trole - Prevenção da Corrupção e Ouvidoria) Marque a opção incorreta:

a) os Fundamentos e Princípios dos Direitos Humanos têm como finalidade a observância e proteção da dignidade da pessoa humana de maneira universal.

b) Direitos Humanos, Direitos Fundamentais e Direi-tos do Homem não possuem o mesmo significado. Assim, a primeira nomenclatura surgida foi a dos Direitos Fundamentais, a qual remonta a época do jusnaturalismo.

c) a concepção contemporânea de Direitos Humanos destaca que eles são vistos como uma unidade indi-visível, interdependente e inter-relacionada, capaz de conjugar o catálogo de direitos civis e políticos ao catálogo de direitos sociais, econômicos e cultu-rais.

d) surge uma concepção denominada pós-contempo-rânea dos Direitos Humanos com a Declaração de Viena.

e) tendo em vista a influência do pensamento reli-gioso e do sistema político, as diversas teorizações sobre direitos humanos encontram-se profunda-mente relacionadas às prerrogativas estamentais e à hierarquia secular.

COMENTÁRIOS.

Alternativa incorreta: letra “b”. A alternativa “b” contém uma afirmação incorreta porque, muito embora os direitos humanos, os direitos fundamentais e os direi-tos do homem não possuam o mesmo significado, é preciso lembrar que os direitos fundamentais não são

a primeira nomenclatura surgida. Divergências exis-tem se os direitos do homem (ligados ao jusnaturalismo, de formalização desnecessária) ou os direitos humanos propriamente ditos (formalizados em documentos internacionais) vieram primeiro analisando-os por ótica sistemática (prevalece que os direitos do homem vie-ram primeiro, por serem inatos ao próprio homem). De toda maneira, o que é pacífico é que os direitos funda-mentais não são a primeira nomenclatura surgida.

Alternativa “a”: correta. A finalidade essencial da proteção dos direitos humanos é a pessoa humana em todos seus atributos, ou seja, em sua dignidade. Neste sentido, a dignidade da pessoa humana aparece como fundamento de direitos humanos.

Alternativa “c”: correta. Indivisibilidade, interde-pendência e inter-relação são características de direitos humanos que deixam claro que as divisões em cate-gorias possuem um fim exclusivamente didático, não simbolizando uma real separação entre as dimensões de direito.

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Alternativa “d”: correta. A Declaração de Viena, originária da II Conferência Internacional de Direitos Humanos de Viena de 1993, não somente reafirma o compromisso internacional pelos direitos humanos como também enfatiza os direitos de solidariedade, o direito à paz, o direito ao desenvolvimento e os direi-tos ambientais, além de conferir destaque à questão da diversidade.

Alternativa “e”: correta. A nobreza e o clero for-mavam o topo do sistema de classes sociais ao qual eram conferidas diversas prerrogativas altamente preju-diciais às classes inferiores. Neste sentido, iniciou-se um movimento pelo questionamento destas prerrogativas no qual ascenderam as classes inferiores, notadamente a burguesia, origem histórica dos direitos humanos, ainda que sem uma concepção internacionalizada.

04. (NUCEPE - 2012 - PM-PI - Agente de Polícia) Em relação ao conceito dos Direitos Humanos, identifique com V as afirmativas verdadeiras e F as falsas e marque, em seguida, a sequência correta:

( ) o núcleo do conceito de Direitos Humanos se encontra no reconhecimento da dignidade da pes-soa humana. Essa dignidade expressa num sistema de valores, exerce uma função orientadora sobre a ordem jurídica porquanto estabelece “o bom e o justo” para o homem.

( ) Direitos Humanos é uma expressão moderna, mas o princípio que invoca é tão antigo quanto a própria humanidade. É que determinados direitos e liber-dades são fundamentais para a existência humana.

( ) os Direitos Humanos surgiram a partir do século XX, e devem ser utilizados apenas nos países democrá-ticos.

( ) os Direitos Humanos são considerados fundamen-tais porque sem eles a pessoa humana não conse-gue existir ou não é capaz de se desenvolver e de participar plenamente da vida.

( ) os Direitos Humanos devem privilegiar apenas a parcela da população mais carente, fato que justi-fica sua própria existência.

a) V, V, F, V, F.

b) V, V, V, V, V.

c) V, V, F, F, V.

d) F, F, V, F, V.

e) V, V, F, F, F.

COMENTÁRIOS.

Alternativa correta: letra “a”. As afirmações 1, 2 e 4 estão corretas, ao passo que as afirmações 3 e 5 estão incorretas.

Primeira afirmação: correta. O núcleo do conceito de direitos humanos se encontra no reconhecimento da dignidade da pessoa humana, e naquilo que é bom e justo para o homem.

Segunda afirmação: correta. Muito embora melhor estruturados na modernidade/contemporanei-dade, sua aplicação é retroativa às primeiras noções de humanidade e vida em sociedade.

Terceira afirmação: incorreta. Os direitos huma-nos têm incidência para todas as pessoas, indiscrimina-damente, qualquer que seja o regime em que vivam; a diferença é que tal espécie de direitos não encontra

ambiente sadio para germinar em terrenos não

democráticos, apesar da constante luta para que isso aconteça.

Quarta afirmação: correta. A característica da fun-damentalidade pode ser observada em sua internaliza-ção dos ordenamentos de cada país.

Quinta afirmação: incorreta. Os direitos humanos não se destinam a parcelas ou grupos; o que pode variar é o grau de sua aplicação aos casos em que se mos-tram mais necessários.

05. (PM-RO - 2014 - PM-RO - Sargento - Seleção

Interna) Julgue o seguinte item: “Para alguns filósofos e juristas, os direitos humanos equivalem a direitos natu-rais, ou seja, aqueles que são inerentes ao ser humano. Outros preferem tratar os direitos humanos como sinô-nimo de direitos fundamentais, conjunto normativo que resguarda os direitos dos cidadãos”.

Resposta: Certo. Há controvérsia na doutrina sobre a origem conceitual dos direitos humanos - se no jusna-turalismo ou se no contratualismo. Os que vão para o primeiro posicionamento colocam os direitos humanos como sinônimo de direitos naturais; os que vão para o segundo colocam os direitos humanos como sinônimo de direitos fundamentais. Aparentemente, o mais cor-

reto é adotar uma posição intermediária, pois os direitos humanos possuem simultaneamente origem jusnaturalista (herança dos direitos naturais) e contra-tualista (afirmação em tratados internacionais firmados no âmbito de uma organização internacional).

06. (EXATUS - 2014 - PM-RJ - Soldado da Polícia Mili-

tar) Considerando o tema “Direitos Humanos”, marque a alternativa incorreta:

a) direitos humanos são os direitos básicos de todos os seres humanos.

b) é evidente a importância dos Direitos Humanos para a construção de um Estado democrático de direito, onde as instituições públicas, em particu-lar a polícia, exercem suas atividades com base nos princípios de respeito à dignidade humana.

c) os Direitos Humanos são um conjunto de valores que admite interpretações e conotações diversas. Englobam uma gama ilimitada de direitos e deveres do homem para com o homem e por extensão para com a natureza, pois dela depende a humanidade para sua sobrevivência.

d) são considerados Direitos Humanos apenas os direitos civis e políticos.

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COMENTÁRIOS.

Alternativa incorreta: letra “d”. Os direitos civis e políticos compõem apenas uma das categorias dos direitos humanos. Ao lado deles surgem outras dimen-sões de direitos com igual importância, notadamente, direitos econômicos, sociais e culturais e direitos de

solidariedade.

Alternativa “a”: correta. Direitos humanos são os inatos a qualquer pessoa humana, sendo universais e atemporais.

Alternativa “b”: correta. Um dos fundamentos dos direitos humanos é a democracia, eis que somente num sistema democrático é possível viabilizar o real exercí-cio de liberdades civis e políticas, inerentes à primeira dimensão dos direitos humanos. Neste sentido, devem ser abolidas práticas tiranas e de abuso de autoridade, permitindo um real exercício de tais liberdades.

Alternativa “c”: correta. Os direitos humanos dei-xam larga margem hermenêutica por possuírem um con-teúdo com baixíssima densidade normativa. Sendo assim, todo direito humano é relativo e passível de limitação.

2 DIREITOS HUMANOS CONSTITUCIONA-

LIZADOS

07. (VUNESP - 2015 - MPE-SP - Analista de Promo-

toria) A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, com seu Protocolo Facultativo, assinada em Nova York, em 2007, é o único documento internacional de direitos humanos considerado com status de emenda constitucional no ordenamento jurí-dico nacional, pois:

a) foi aprovada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por dois terços dos votos dos res-pectivos membros, conforme procedimento pre-visto no art. 5o, §3o da Constituição Federal, introdu-zido pela Emenda Constitucional no 45/04.

b) foi aprovada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos res-pectivos membros, conforme procedimento pre-visto no art. 5o, §3o da Constituição Federal, introdu-zido pela Emenda Constitucional no 45/04.

c) é o único caso em que o Supremo Tribunal Federal já se pronunciou favoravelmente à tese de que o art. 5o, §2o, ao prever que direitos e garantias expres-sos na Constituição não excluem outros decorren-tes do regime e dos princípios por ela adotados, basta para que uma convenção internacional sobre direitos humanos seja considerada equivalente à emenda constitucional.

d) há previsão expressa, constante de disposição da Emenda Constitucional no 45/04, que os tratados e convenções de direitos humanos, mesmo que apro-vados por quórum de maioria simples, possuirão status de emenda constitucional, face ao caráter materialmente constitucional de seus conteúdos.

e) é o único caso em que o Supremo Tribunal Federal já se pronunciou acerca do status das convenções de direitos humanos, encampando a tese de que terão status de emenda constitucional se versarem sobre direitos expressamente previstos na Consti-tuição Federal.

COMENTÁRIOS.

Alternativa correta: letra “b”. Prevê o artigo 5o, §3o da Constituição Federal, incluído pela Emenda Constitucional no 45/2004: “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucio-nais”. Até o momento o único tratado aprovado nestes moldes é a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, com seu Protocolo Facul-tativo - Decreto no 6.949/2009, que menciona: “Conside-rando que o Congresso Nacional aprovou, por meio do Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008, con-forme o procedimento do §3o do art. 5o da Constituição, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Defici-ência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007”.

Alternativa “a”: incorreta. O quórum é de três quintos, não de dois terços.

Alternativas “c” e “e”: incorretas. Referem-se, na verdade, ao julgamento da prisão civil do depositário infiel, que deu origem à súmula vinculante no 25. Não há qualquer relação deste caso com a incorporação da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e do seu Protocolo Facultativo.

Alternativa “d”: incorreta. Somente possuirão o status constitucional se aprovados conforme o procedi-mento descrito no artigo 5o, §3o, CF, semelhante ao de aprovação de emendas constitucionais.

08. (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) Com relação à proteção dos direitos humanos e à sua consti-tucionalização, assinale a opção correta:

a) a CF distingue cidadania de nacionalidade, refe-rindo-se esta à possibilidade de a pessoa ser titular de direitos políticos e aquela, ao vínculo entre pes-soa e Estado.

b) na CF, assim como na Constituição de 1946, o princí-pio da prevalência de direitos humanos é estabele-cido como princípio fundamental a reger o Estado nas suas relações internacionais.

c) os direitos fundamentais, restritos, na CF, exclu-sivamente aos direitos individuais, são cláusulas pétreas, ou seja, não podem ser alterados por emenda constitucional.

d) os direitos fundamentais podem ser restringi-dos tanto por expressa disposição constitucional quanto por norma infraconstitucional com funda-mento na CF.

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Teoria Geral dos Direitos Humanos 21

e) a titularidade de direitos fundamentais é atribuída aos estrangeiros residentes no país, mas não aos estrangeiros não residentes.

COMENTÁRIOS.

Alternativa correta: letra “d”. Nenhum direito fundamentalmente humano é ilimitado, podendo ser restringido por normas do próprio texto constitucional ou por normas que dele decorram.

Alternativa “a”: incorreta. Inverte os conceitos de nacionalidade e cidadania, pois cidadania é a possibili-dade de ser titular de direitos civis e políticos e naciona-lidade é o vínculo jurídico-político com o Estado.

Alternativa “b”: incorreta. A CF/88 é a primeira a estabelecer a prevalência dos direitos humanos como princípio fundamental.

Alternativa “c”: incorreta. A expressão direitos fundamentais é mais abrangente, pois vai além dos direitos e garantias individuais.

Alternativa “e”: incorreta. Normas de direitos humanos permitem relativizar o teor do art. 5o, caput, que prevê a restrição de titularidade aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país. Afinal, direitos humanos são universais.

09. (CESPE - 2013 - DPE-DF - Defensor Público) Con-siderando as disposições constitucionais relativas aos direitos humanos e aos tratados que versam sobre o tema, julgue o item subsequente: “O Procurador-Geral da República poderá, ouvido o Conselho Nacional do Ministério Público, suscitar, perante o STF, incidente de deslocamento de competência para a justiça federal quando julgar que o processo envolve grave violação de direitos humanos e exige o cumprimento de obriga-ções decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte”.

COMENTÁRIOS.

Resposta: Errado. De acordo com o art. 109, §5o, da Constituição Federal (dispositivo este trazido pela Emenda Constitucional no 45/2004), nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumpri-mento de obrigações decorrentes de tratados interna-cionais de direitos humanos dos quais o Brasil faz parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Jus-

tiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, inci-dente de deslocamento da competência para a Justiça Federal.

10. (MPF - 2013) Segundo entendimento do Supe-rior Tribunal de Justiça expresso no voto do relator do incidente de deslocamento de competência no 1 - PA, a grave violação de direitos humanos que dá ensejo à iniciativa do Procurador-Geral da República para instau-ração do incidente:

a) deve ser articulada apenas com a ameaça efetiva e real de descumprimento de obrigações decorren-tes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, como condição de admissibilidade.

b) deve ser aferida, como condição de admissibilidade, em articulação com considerações sobre a necessi-dade e a imprescindibilidade do deslocamento de competência para a garantia do cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, em decorrência da observância dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

c) prescinde de melhor definição legislativa, confi-gurando, por isso, o art. 109, V-A, da Constituição Federal, norma de eficácia contida.

d) deve ser articulada, como condição de admissibi-lidade, com a necessidade de se resguardar, sem-pre que possível, o juízo natural estadual, somente se justificando o deslocamento quando houver pedido das autoridades estaduais, dando conta de sua incapacidade de garantir a prestação jurisdicio-nal em tempo razoável com todas as garantias pro-cessuais.

COMENTÁRIOS.

Nota dos autores: o art. 109, §5o, do texto cons-titucional determina que “Nas hipóteses de grave vio-lação de direitos humanos, o Procurador-Geral da

República, com a finalidade de assegurar o cumpri-mento de obrigações decorrentes de tratados interna-cionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Fede-ral”. É o incidente de deslocamento de competência (IDC), criado pela Emenda Constitucional no 45/2004. A questão em apreço também evidencia a importância de acompanhar a jurisprudência dos tribunais superiores pátrios acerca da aplicação do Direito Internacional no Brasil. Por fim, destacamos, com veemência, que o IDC deve ser suscitado perante o STJ, e não frente ao STF.

Alternativa correta: letra “b”. De acordo como o relator do IDC no 1, Min. Arnaldo Esteves, “a existência

de crime praticado com grave violação aos direi-

tos humanos é pressuposto de admissibilidade do

pedido de deslocamento de competência para a Justiça Federal, a ser apreciado à luz do “princípio da

proporcionalidade (adequação, necessidade e pro-

porcionalidade em sentido estrito), compreendido

na demonstração concreta de risco de descum-

primento de obrigações decorrentes de tratados

internacionais firmados pelo Brasil, resultante da

inércia, negligência, falta de vontade política ou de

condições reais do Estado-membro, por suas insti-

tuições, em proceder à devida persecução penal”. Os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade devem aparecer também para resolver incompatibilida-

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Revisaço® • Bruna Pinotti Garcia • Rafael de Lazari • Paulo Henrique Gonçalves Portela22

des do IDC com qualquer outro princípio constitucional ou com a sistemática processual em vigor.

Alternativa “a”: incorreta. Não basta ter ocor-rido crime praticado com grave violação aos direitos humanos e o decorrente risco de descumprimento de tratados internacionais na matéria, mas é preciso tam-

bém restar comprovado que esse risco decorra “da

inércia, negligência, falta de vontade política ou de

condições reais do Estado-membro, por suas insti-

tuições, em proceder à devida persecução penal”.

Alternativa “c”: incorreta. A norma do art. 109, V-A, da Constituição Federal, também trazida pela EC no 45/2004, não é de eficácia contida. A respeito, o relator do IDC 1, Ministro Arnaldo Esteves, deixou registrado que “dada a amplitude e a magnitude da expressão ‘direitos humanos’, é verossímil que o constituinte derivado tenha optado por não definir o rol dos crimes que passariam para a competência da Justiça Federal, sob pena de res-tringir os casos de incidência do dispositivo (CF, art. 109, §5o), afastando-o de sua finalidade precípua, que é asse-gurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tra-tados internacionais firmados pelo Brasil sobre a matéria, examinando-se cada situação de fato, suas circunstâncias e peculiaridades detidamente, motivo pelo qual não há falar em norma de eficácia limitada. Ademais, não é pró-prio de texto constitucional tais definições”.

Alternativa “d”: incorreta. Primeiro, porque o

IDC deverá ser suscitado pelo Procurador-Geral da

República. Outrossim, o valor a ser preservado não é

o juízo natural estadual, enfatizando-se a necessidade de garantir que o Brasil cumpra seus compromissos internacionais em matéria de direitos humanos.

11. (FGV - OAB 2011.2) No âmbito dos direitos huma-nos, a respeito do Incidente de Deslocamento de Com-petência, instituído pela Emenda Constitucional 45, assinale a alternativa correta:

a) para assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos de que o Brasil seja parte, o Procurador-Geral da República pode suscitar, perante o Supe-rior Tribunal de Justiça, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal, nas hipóte-ses de graves violações aos direitos humanos.

b) o incidente de deslocamento de competência, embora garanta o cumprimento de obrigações do Estado brasileiro em relação aos tratados interna-cionais de direitos humanos, não está relacionado com a razoável duração do processo para a conse-cução da finalidade de efetiva proteção dos direitos humanos.

c) pelo incidente de deslocamento de competência, a Justiça Federal só julgaria os casos relativos aos direitos humanos após o Brasil ser responsabilizado internacionalmente.

d) o incidente de deslocamento de competência se efe-tiva contrariamente ao princípio do federalismo coo-perativo por não obedecer à hierarquia de compe-

tência para julgamento dos crimes comuns, mesmo no âmbito de ferimento aos direitos humanos.

COMENTÁRIOS.

Nota dos autores: recomenda-se grande aten-ção às questões que envolvam o Incidente de Desloca-mento de Competência (IDC), por conta do rol signifi-cativo de informações constantes do dispositivo perti-nente (CF, art. 109, §5o), que facilitam a elaboração de assertivas que podem confundir o examinado.

Alternativa correta: letra “a”. A Constituição Fede-ral estabelece que “nas hipóteses de grave violação de

direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obri-

gações decorrentes de tratados internacionais de

direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá

suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal” (art. 109, §5o).

Alternativa “b”: incorreta. A falta de atenção à razoável duração do processo pode levar a não repara-

ção de um direito humano violado e poderá ensejar

a responsabilização internacional do Brasil por des-cumprimento de um tratado de direitos humanos.

Alternativa “c”: incorreta. O IDC tem como obje-tivo exatamente evitar a violação de um tratado de

direitos humanos do qual o Brasil seja parte.

Alternativa “d”: incorreta. O IDC não viola o

pacto federativo, inclusive por só ser cabível quando o Estado da Federação se revelar omisso ou incapaz de apreciar um caso de grave violação dos direitos huma-nos, colocando o Estado brasileiro em risco de ser res-ponsabilizado internacionalmente (STJ - IDC nos1 e 2).

3 VERTENTES DE PROTEÇÃO DOS DIREI-

TOS HUMANOS

Nota dos autores: as três vertentes de prote-

ção da pessoa humana no âmbito internacional são:

direitos humanos, direito humanitário e direito dos

refugiados. O Direito Internacional dos Direitos Huma-nos é o ramo do Direito que visa a proteger e a promover a dignidade humana em caráter universal, ou seja, em benefício de todos os seres humanos indistintamente e em qualquer circunstância. Já o Direito Internacional Humanitário visa a proteger e a promover a dignidade humana dentro dos conflitos armados, estando vol-tado a reduzir a violência inerente às guerras e a regu-lar a assistência às vítimas das hostilidades (“assistência humanitária”). Há uma complementariedade entre os dois ramos do Direito em apreço, aplicando-se, den-tro de um conflito armado, o Direito Humanitário e o Direito Internacional dos Direitos Humanos, este no silêncio daquele ou em reforço à incidência daquele. Ainda, também de forma complementar e extrema-mente correlata aos direitos humanos, tem-se o Direito dos Refugiados, regulamentando-se a questão do asilo e outras conexas.

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Page 8: 2620 - Revisaco -Direitos Humanos-Garcia et al-2ed - Miolo · (PM-RO - 2014 - PM-RO - Sargento - Seleção Interna) Julgue o seguinte item: “Para alguns filósofos e juristas, os

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12. (FUNCAB - 2016 - SEGEP-MA - Agente Peniten-

ciário) Dentre os dispositivos trazidos na Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados e Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados, assinale a assertiva correta:

a) após um prazo de residência de cinco anos, todos os refugiados se beneficiarão, no território dos Estados Contratantes, da dispensa de reciprocidade legislativa.

b) os Estados Contratantes proporcionarão aos refu-giados, em seu território, um tratamento diferen-ciado do proporcionado aos nacionais no que con-cerne à liberdade de praticar sua religião, a fim de preservação da religião local.

c) qualquer refugiado terá, no território dos Estados Contratantes, um acesso mais restrito aos tribunais.

d) nenhum refugiado tem deveres para com o país em que se encontra, os quais compreendem notada-mente a obrigação de respeitar as leis e regulamen-tos, assim como as medidas que visam à manuten-ção da ordem pública.

e) o estatuto pessoal de um refugiado será regido pela lei do país de seu domicílio, ou, na falta de domicí-lio, pela lei do país de sua residência.

COMENTÁRIOS.

Nota dos autores: o Estatuto dos Refugiados é o principal diploma no âmbito do direito dos refugiados, tendo natureza de Convenção, adotada em 28 de julho de 1951 pela Conferência das Nações Unidas de Plenipo-tenciários sobre o Estatuto dos Refugiados e Apátridas. O Brasil o promulgou pelo Decreto no 50.215, de 28 de janeiro de 1961. Por sua vez, a Lei no 9.474, de 22 de julho de 1997, define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providências. Além do mencionado Estatuto, diver-sos documentos internacionais disciplinam a matéria, a exemplo da Declaração Universal de 1948, Quarta Convenção de Genebra Relativa à Proteção das Pessoas Civis em Tempo de Guerra de 1949, Convenção relativa ao Estatuto dos Apátridas de 1954, Convenção sobre a Prestação de Alimentos no Estrangeiro de 1956, Con-venção sobre a Redução da Apatridia de 1961 e Decla-ração das Nações Unidas sobre a Concessão de Asilo Territorial de 1967.

Alternativa correta: letra “e”. Está de acordo com o artigo 12, primeira parte, do Estatuto dos Refugiados: “O estatuto pessoal de cada refugiado será regido pela

lei do país do seu domínio, ou, na falta de domicílio, pela lei do país de residência”.

Alternativa “a”: incorreta. Nos termos do artigo 7o, “[...] Após um prazo de residência de três anos, todos os refugiados, nos territórios dos Estados Contratantes, beneficiarão da dispensa de reciprocidade legislativa”. Logo, o prazo é de três anos, não de cinco. Passados três anos da vigência do Estatuto, os refugiados que estives-sem residindo em território de Estado contratante goza-

riam de direitos, ainda que o Estado de origem não os garantisse em contrapartida.

Alternativa “b”: incorreta. O tratamento não pre-cisa ser diferenciado, basta ser igualitário ao conferido aos seus cidadãos, conforme o artigo 4o do Estatuto dos Refugiados: “Os Estados Contratantes concederão aos refugiados nos seus territórios um tratamento pelo menos tão favorável como o concedido aos nacio-

nais no que diz respeito à liberdade de praticar a sua religião e no que se refere à liberdade de instrução reli-giosa dos seus filhos”.

Alternativa “c”: incorreta. Não cabe acesso mais restrito, pois nos termos do artigo 16, primeira parte, do Estatuto dos Refugiados, “todos os refugiados, nos territórios dos Estados Contratantes, terão livre e fácil

acesso aos tribunais. Os refugiados, no Estado Contra-tante onde têm a residência habitual, beneficiarão do mesmo tratamento que os nacionais no que diz respeito ao acesso aos tribunais, incluindo a assistência judiciária e a isenção da caução judicatum solvi”.

Alternativa “d”: incorreta. A existência de deve-res é prevista no artigo 2o do Estatuto dos Refugiados: “Cada refugiado tem para com o país em que se encon-tra deveres que incluem em especial a obrigação de

acatar as leis regulamentos e, bem assim, as medidas

para a manutenção da ordem pública”.

13. (CESPE - 2015 - DPE-PE - Defensor Público) Jul-gue o item subsecutivo, a respeito de aspectos gerais e históricos dos direitos humanos: “As três vertentes da proteção internacional da pessoa humana, a saber, os direitos humanos, o direito humanitário e o direito dos refugiados, foram consagrados nas conferências mun-diais da última década de 90. Não obstante, a imple-mentação dessas vertentes deve atender às demandas de cada região, mesmo que não haja sistemas regionais de proteção”.

COMENTÁRIOS.

Resposta: Certo. O tema denominador comum do ciclo de Conferências Mundiais patrocinadas pelas Nações Unidas desde a última década de 90 é o da legi-timidade da preocupação de toda a comunidade inter-nacional com as condições de vida de todos os seres humanos. “Um ano antes da Conferência de Viena, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio de janeiro, 1992) empenhou--se em situar os seres humanos no centro das preocu-pações em lograr o desenvolvimento sustentável. Em seguida à Conferência de Viena, na Conferência Inter-nacional sobre População e Desenvolvimento (Cairo, 1994), as questões populacionais foram pela primeira vez abordadas do prisma dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentável. A Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social (Copenhague, 1995) abordou os temas centrais da erradicação da pobreza (e expan-são do emprego produtivo), assim como do fortaleci-mento da integração social (em particular dos grupos mais desfavorecidos). A IV Conferência Mundial sobre

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Page 9: 2620 - Revisaco -Direitos Humanos-Garcia et al-2ed - Miolo · (PM-RO - 2014 - PM-RO - Sargento - Seleção Interna) Julgue o seguinte item: “Para alguns filósofos e juristas, os

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a Mulher (Beijing, 1995) adotou uma abrangente Plata-forma de Ação para a promoção, proteção e fortaleci-mento dos direitos humanos da mulher. E em junho de 1996 terá lugar em Istambul a Conferência Habitat - II, que se concentrará nos temas relativos à melhoria dos assentamentos humanos e à moradia adequada para todos. O diálogo universal propiciado pelo atual ciclo das Conferências Mundiais gradualmente dá forma e conteúdo à agenda internacional do século XXI, na qual ocupam posição central os direitos da pessoa humana. Ingressamos, enfim, na era dos direitos humanos, cuja presença é hoje reconhecida em todos os domínios da atividade humana, e no quotidiano de cada um, por-quanto, mais do que um grande movimento ou dou-trina, constituem os direitos humanos em última análise uma forma de vida”2.

14. (PROCURADOR - PGE/RO - 2011 - Procurador)

Dentre as características da perspectiva objetiva dos direitos fundamentais, compreende-se:

a) o conjunto de metas traçadas com fins diretivos de ações positivas dos poderes públicos, com o fim de outorgar-lhes eficácia dirigente.

b) a representação dos interesses individuais sob a ótica negativa perante o Poder Público.

c) ter sempre a natureza princípio, nunca de regra.

d) impossibilitar a agregação do ponto de vista axioló-gico da comunidade em sua interpretação.

e) não há dimensão objetiva na esfera dos direitos fundamentais, os quais têm como característica defender de forma singular o espaço de liberdade individual.

COMENTÁRIOS.

Alternativa correta: letra “a”. A perspectiva obje-tiva dos direitos fundamentais (direitos humanos inter-nalizados), que tanto pode ter natureza de regra, valor ou princípio, representa, essencialmente, a superação da ideia de abstenção do Estado como vigia, até então, apenas para os direitos e garantia fundamentais indi-viduais e coletivos. O entendimento atual é o de que todos os direitos fundamentais requerem uma conduta ativa do Estado, seja garantindo-os por meio de políti-cas públicas, seja se comprometendo a concretizá-los no prazo mais breve possível mediante a adoção de metas bem planejadas.

Alternativa “b”: incorreta. Está superado o enten-dimento de que os direitos individuais não exigem nenhuma postura ativa do Estado e sim mera posição de abstenção.

2 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. As três ver-tentes da proteção internacional dos direitos da pessoa humana: Direitos Humanos, Direito Humani-tário, Direito dos Refugiados. Disponível em: <https://www.icrc.org/por/>. Acesso em: 20 jun. 2016.

Alternativa “c”: incorreta. É possível que os direi-tos fundamentais adotem fórmula mais genérica - prin-cípio - ou forma mais específica - regra -, ou seja, ambas categorias de normas.

Alternativa “d”: incorreta. O processo de interpre-tação dos valores não se dá apenas pelos operadores do Direito, mas por toda a sociedade.

Alternativa “e”: incorreta. A perspectiva objetiva dos direitos fundamentais envolve os direitos humanos internalizados, colacionados no texto constitucional.

15. (CESPE - 2012 - DPE-SE - Defensor Público) Com relação ao direito humanitário, assinale a opção correta:

a) o direito humanitário, a criação da Liga das Nações e a criação da Organização Internacional do Traba-lho são apontados pela doutrina como anteceden-tes históricos do moderno direito internacional dos direitos humanos.

b) a afirmação histórica dos direitos humanos não representou mudança na perspectiva da doutrina clássica sobre o objeto de regulação do direito internacional, tendo as prescrições internacionais de proteção à pessoa humana sido plenamente inseridas no âmbito da normatização das relações entre Estados soberanos.

c) o direito internacional humanitário, como conceito abrangente, abarca, ao mesmo tempo, a proteção dos direitos humanos dos refugiados e os direi-tos humanos em tempos de paz, não alcançando, porém, as disposições de proteção aos combaten-tes postos fora de combate por captura ou feri-mento durante a guerra, por serem tais prescrições típicas matérias de jus in bello.

d) o direito humanitário não abrange as prescrições ligadas à proteção dos civis durante a guerra.

e) a doutrina não estabelece qualquer diferença subs-tancial entre as expressões direitos humanos e direito humanitário, servindo ambas à designação do mesmo conjunto de regras voltadas à proteção da pessoa humana, tanto no plano nacional quanto no internacional.

COMENTÁRIOS.

Alternativa correta: letra “a”. Os três anteceden-tes da internacionalização dos direitos humanos apon-tados pela doutrina são: Cruz Vermelha, Organização Internacional do Trabalho e Liga das Nações. São as primeiras iniciativas de direitos humanos que saíram da perspectiva local de um Estado e assumiram papel global.

Alternativa “b”: incorreta. Evidente que, com a internacionalização dos direitos humanos, numa pers-pectiva contemporânea houve modificação na doutrina clássica de direitos humanos, que restringia tais direitos ao âmbito interno e, quando partia para a internaciona-lização, restringia as categorias de direitos abrangidos, especialmente os humanitários, trabalhistas e à paz.

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Alternativa “c”: incorreta. O direito humanitário se refere às limitações das situações de guerra, prote-gendo principalmente civis, bem como evitando o uso de armamentos mais gravosos que o necessário.

Alternativa “d”: incorreta. Vide explicação da alternativa “c”.

Alternativa “e”: incorreta. Antes de se falar em direitos humanos internacionalizados e universais, se falou em direito humanitário. Hoje, direito humanitá-rio e direitos humanos convivem e se complementam enquanto duas das vertentes internacionais de prote-ção da pessoa humana.

16. (PGR - 2012 - PGR - Procurador) Sobre a relação entre direito internacional dos direitos humanos e direito internacional humanitário, é correto dizer que:

a) enquanto o direito internacional dos direitos huma-nos disciplina a proteção de direitos em tempos de paz, o direito internacional humanitário a disciplina em tempos de guerra.

b) os dois âmbitos de regulação compõem regimes internacionais distintos que não se comunicam, podendo, todavia, apresentar objetos comuns de disciplina, tratando-os diferenciadamente.

c) os dois âmbitos de regulação se interceptam quanto à disciplina do estado de emergência no direito internacional dos direitos humanos, em que se estipulam direitos mínimos inderrogáveis que coincidem, em grande parte, com as garantias mínimas do art. 3o comum às quatro Convenções de Genebra.

d) tratam as pessoas destinatárias de sua proteção de forma independente, sendo possível que haja âmbitos de exclusão recíproca de proteção, com atores em certos tipos de conflito que não gozam de proteção de nenhum dos dois regimes.

COMENTÁRIOS.

Alternativa correta: letra “c”. O art. 3o comum às Convenções de Genebra prevê: “Em caso de conflito armado que não apresente um caráter internacional e que ocorra no território de uma das Altas Partes contra-tantes, cada uma das Partes no conflito será obrigada a aplicar, pelo menos, as seguintes disposições: 1) As pessoas que não tomem parte diretamente nas hosti-lidades, incluindo os membros das forças armadas que tenham deposto as armas e as pessoas que tenham sido postas fora de combate por doença, ferimento, deten-ção, ou por qualquer outra causa, serão, em todas as cir-cunstâncias, tratadas com humanidade, sem nenhuma distinção de caráter desfavorável, baseada na raça, cor, religião ou crença, sexo, nascimento ou fortuna, ou qualquer outro critério análogo. Para este efeito, são e manter-se-ão proibidas, em qualquer ocasião e lugar relativamente às pessoas acima mencionadas: a) As ofensas contra a vida e integridade física, em espe-cial o homicídio sob todas as formas, as mutilações, os

tratamentos cruéis, torturas e suplícios; b) A tomada de reféns; c) As ofensas contra a dignidade das pessoas, em especial os tratamentos humilhantes e degradantes; d) As condenações proferidas e as execuções efetua-das sem prévio julgamento, realizadas por um tribunal regularmente constituído, que ofereça todas as garan-tias judiciais reconhecidas como indispensáveis pelos povos civilizados. 2) Os feridos, os doentes e os náufra-gos serão recolhidos e tratados. Um organismo huma-nitário imparcial, tal como a Comissão Internacional da Cruz Vermelha, poderá oferecer os seus serviços às Par-tes no conflito. As Partes no conflito esforçar-se-ão tam-bém por pôr em vigor, por meio de acordos especiais, todas ou parte das restantes disposições da presente Convenção. A aplicação das disposições precedentes não afetará o estatuto jurídico das Partes no conflito”. Já o art. 4o, 2, do Pacto dos Direitos Civis e Políticos, fixa que são inderrogáveis, mesmo em situação de emer-gência os seguintes direitos: vida; a proteção contra a

tortura e penas ou tratamentos cruéis, desumanos

ou degradantes; proibição de submeter uma pessoa, sem seu livre consentimento, a experiências médicas ou científicas; proibição da escravidão, da servidão e do tráfico de escravos; proibição da prisão pelo descum-primento de obrigações contratuais; legalidade, ante-

rioridade da lei penal e irretroatividade da lei, salvo

para beneficiar o réu; reconhecimento da personali-dade jurídica do indivíduo; e liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Pelos dispositivos nota-se que normas de direitos humanos se inter-relacionam com normas de direito humanitário, por exemplo: veda-ção da tortura e não discriminação aliados à aceitação de rendição e ao direito de tratamento dos feridos.

Alternativa “a”: incorreta. Embora o direito humanitário volte-se principalmente aos conflitos armados, não substitui os direitos humanos em tempo de guerra. Estes continuam vigentes da mesma forma, acrescendo-se outros direitos que devem ser respeita-dos em tempo de guerra e são regulados pelo direito humanitário. Assim, direitos humanos e direito humani-tário não se excluem.

Alternativa “b”: incorreta. Os dois âmbitos

de regulação se comunicam, incidindo em diversos momentos sobre as mesmas situações, podendo o

Direito Internacional dos Direitos Humanos regular

situações ocorridas dentro de conflitos armados.

Alternativa “d”: incorreta. Direitos humanos e direitos humanitários não se excluem e é inconcebí-vel um cenário de não aplicabilidade, pelo menos, dos direitos humanos. O Direito Internacional dos Direitos Humanos disciplina a proteção de direitos em qual-

quer tempo e circunstância e, portanto, no tocante a

qualquer pessoa indistintamente, sendo inclusive

irrelevante o tipo de status do combatente.

17. (VUNESP - Defensor Público - MS/2014) A Con-venção de Genebra, de 1951, relativa ao Estatuto dos Refugiados, estabelece que as medidas restritivas impostas ao emprego de estrangeiros, para a proteção

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Page 11: 2620 - Revisaco -Direitos Humanos-Garcia et al-2ed - Miolo · (PM-RO - 2014 - PM-RO - Sargento - Seleção Interna) Julgue o seguinte item: “Para alguns filósofos e juristas, os

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do mercado nacional de trabalho, não serão aplicáveis aos refugiados que preencham uma das seguintes con-dições:

a) ter um filho que possua a nacionalidade do país de origem.

b) ter vários filhos que não possuam nacionalidade do país de residência.

c) contar três anos de residência no país.

d) contar dois anos de residência no país.

COMENTÁRIOS.

Nota dos autores: a Convenção de Genebra Relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 1951, atualizada pelo Protocolo de Genebra de 1967, é o principal tratado internacional na matéria, insiste-se. No Brasil, o diploma legal que detalha e expande as normas do Estatuto dos Refugiados é a Lei no 9.474/1997. Ademais, a proteção de refugiados foi estabelecida como missão principal da agência de refugiados da ONU, qual seja o Alto Comis-

sariado das Nações Unidas para os Refugiados

(ACNUR), que foi constituída para assistir, entre outros, os refugiados que esperavam para retornar aos seus paí-ses de origem no final da Segunda Guerra Mundial.

Alternativa correta: letra “c”. O art. 17, “b”, do Estatuto dos Refugiados estabelece que “as medidas restritivas aplicadas aos estrangeiros ou ao emprego de estrangeiros para proteção do mercado nacional do trabalho não serão aplicáveis aos refugiados que já estavam dispensados delas à data da entrada desta Convenção em vigor pelo Estado Contratante interes-sado ou que preencham uma das condições seguintes: (i) Ter três anos de residência no país; (ii) Ter por côn-juge uma pessoa com a nacionalidade do país de resi-dência. Nenhum refugiado poderá invocar o benefício desta disposição se tiver abandonado o cônjuge; (iii) Ter um ou mais filhos com a nacionalidade do país de residência”.

Alternativa “a”: incorreta. O art. 17, “b”, iii, do Estatuto dos Refugiados estabelece que “as medidas restritivas aplicadas aos estrangeiros ou ao emprego de estrangeiros para proteção do mercado nacional do trabalho não serão aplicáveis aos refugiados que já esta-vam dispensados delas à data da entrada desta Conven-ção em vigor pelo Estado Contratante interessado ou que preencham uma das condições seguintes: (iii) Ter

um ou mais filhos com a nacionalidade do país de

residência”.

Alternativa “b”: incorreta. O art. 17, “b”, iii, do Estatuto dos Refugiados estabelece que “as medidas restritivas aplicadas aos estrangeiros ou ao emprego de estrangeiros para proteção do mercado nacional do trabalho não serão aplicáveis aos refugiados que já esta-vam dispensados delas à data da entrada desta Conven-ção em vigor pelo Estado Contratante interessado ou que preencham uma das condições seguintes: (iii) Ter

um ou mais filhos com a nacionalidade do país de

residência”.

Alternativa “d”: incorreta. O art. 17, “b”, do Esta-tuto dos Refugiados dispõe que “as medidas restritivas aplicadas aos estrangeiros ou ao emprego de estran-geiros para proteção do mercado nacional do trabalho não serão aplicáveis aos refugiados que já estavam dis-pensados delas à data da entrada desta Convenção em vigor pelo Estado Contratante interessado ou que pre-encham uma das condições seguintes: (i) Ter três anos

de residência no país; (ii) Ter por cônjuge uma pessoa com a nacionalidade do país de residência. Nenhum refugiado poderá invocar o benefício desta disposição se tiver abandonado o cônjuge; (iii) Ter um ou mais filhos com a nacionalidade do país de residência”.

18. (MPF - 2013) A responsibility to protect (R2P), como conjunto de princípios orientadores de ação da comuni-dade internacional:

a) diz respeito, apenas, à proteção da população civil em conflitos internacionais.

b) diz respeito, apenas, à proteção da população civil em conflitos não internacionais.

c) exclui a possibilidade de intervenção militar para proteção da população civil.

d) inclui a possibilidade de intervenção militar para proteção da população civil como ultima ratio.

COMENTÁRIOS.

Nota dos autores: a iniciativa Responsibility to Protect (R2P - em português: responsabilidade de pro-teger) relaciona-se com o dever dos Estados de pro-

teger as respectivas populações de crimes interna-

cionais graves, como o genocídio, os crimes contra a humanidade, a limpeza étnica e os crimes de guerra. A iniciativa funda-se em três “pilares”:

1. Os Estados têm a responsabilidade primária de proteger as respectivas populações contra o geno-cídio, os crimes contra a humanidade, a limpeza étnica e os crimes de guerra.

2. A comunidade internacional tem a responsabili-dade de prestar assistência aos Estados, para que estes cumpram referida responsabilidade.

3. A comunidade internacional deve empregar meios

diplomáticos, humanitários e de outra natu-

reza, desde que pacíficos, para proteger as popu-lações humanas contra tais crimes e, se um Estado for falho em proteger a respectiva população con-tra tais atos, ou for o perpetrador de tais crimes, a comunidade internacional deve estar preparada para tomar medidas mais duras, que podem incluir o uso da força no interesse coletivo, determinado pelo Conselho de Segurança da ONU.

A iniciativa, também conhecida como RtoP, foi estabelecida na Cúpula Mundial de 2005 (Cúpula das Nações Unidas), promovida pela ONU, e suas linhas gerais constam dos pontos 138 e 139 do documento da reunião em apreço.

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