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241 30/11/96 ik Sindicatos mudam para enfrentar globalização ik Trabalhadores combatem arrocho ik O real e a globalização ik A lógica perversa do governo ik Exército nas ruas, constituição no lixo ^k América Latina: dívida e miséria Custo unitário desta edição: R$ 2,50

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Page 1: 241 - :: Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiroda jornada de trabalho associa-do a uma política de treinamento e requalificação profissional e a ampliação, em vez da Jiquidação,

241 30/11/96

ik Sindicatos mudam para enfrentar globalização ik Trabalhadores combatem arrocho ik O real e a globalização ik A lógica perversa do governo ik Exército nas ruas, constituição no lixo ^k América Latina: dívida e miséria

Custo unitário desta edição: R$ 2,50

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Quinzena N0 241-30/11/96 Trabalhadores

Boletim DIEESE - Outubro/96 - N0 187

Plenária da CUT começa a preparar o 6o Congresso

Analisar a conjuntura nacional e internacional, discutindo as questões da atualidade, realizar um balanço das atividades propostas na Plenária Zumbi dos Palmares e dar início à preparação do 6° Congresso da entidade constituíram-se nos principais pontos da pauta da 8a Plenária das Central

dos Trabalhadores, realizada em São Paulo, entre os dias 28 e 30 de agosto. Cerca de quatrocentos delegados de todo o país participaram das discussões desenvolvidas na plenária que, no

organograma dá CUT, é a segunda principal instância de deliberações da entidade.

O moliberalismo, a reestruturação industrial e econômica, a concentração de renda, as questões do mercado de tra- balho, os problemas no campo, a estru- tura sindical e os direitos dos senado- res públicos foram alguns dos aspectos analisados pelos delegados, que defini- ram também um plano de lutas. A Iguns dos pontos desse plano de ação serão aqui reproduzidos.

Seguro desemprego e Sistema único de emprego

Em sua última reunião, o Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) aprovou a exten- são do seguro desemprego para as dez maiores regiões metropolitanas do país: Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Distrito Fede- ral. Nessas regiões, até o final deste ano, os trabalhadores que têm direito a rece- ber parcelas do seguro desemprego po- derão receber até mais duas parcelas, chegando a um máximo de sete.

Essa resolução, embora taiha sido apre- saitada como proposta do governo visan- do apenas a região metropolitana de São Paulo, com o intuito de fortalecer a candi- datura Serra, havia sido apresentada ante- nomiaitepela bancada dos trabalhadores, mas vinha sendo recusada pelo governo. Agora, o Codefat, a partir de proposta das caitrais sindicais, aitendeu que a extaisão do seguro devena abranger o pais como um todo. Mas, dado o empecilho legal (só podenam ser comprometidos 10% dos re- cursos da reserva minima de liquidez, que corresponde a R$ 230 milhões), só sena possivel, nesse momento, alcançar apaias os trabalhadores das regiões metropolita- nas relacionadas acima.

No entanto, para a próxima reunião do Condefat, no dia 18/09/%, na sede do BNDES no Rio de Janeiro, será pos-

sivel abrir um processo de negociações que permitirá a apresentação de propos- tas direcionadas a estaider, deforma per- manente, essa ampliação do seguro de- semprego em nivel nacional. Para isso, será necessário efetuar uma articulação ampla, a partir das Comissões Estaduais e Municipais do Emprego, dos sindica- tos e do Fórum de Secretários Estaduais do Trabalho (Fonset) de forma a apre- saitar ao governo, até o final do ano, pro- posta com esse teor.

Coloca-se, portanto, no curto prazo, a tarefa de disseminar pelo pais a cam- panha para extensão, por até sete meses, do seguro desemprego para todo o pais.

No entanto, é preciso discutir, de for- ma mais ampla, uma reforma do sistema do seguro desemprego para instituir, pro- gressivamente, o sistema público de em- prego, integrando as ações nas áreas do seguro, da requalificação e formação pro- fissional, e da intermediação e formação profissional, e da intermediação e recolocação da mão-de-obra. Para isso, a CUT apresenta uma série de propostas que devem ser discutidas amplamente e que sirvam como plataforma para esta- belecimento dessa discussão com o con- junto da sociedade.

Diante disso, o plano de lutas in- corpora:

1 - Ampliar, segundo cronograma a ser estabelecido, o seguro desemprego até doze parcelas, definindo conjuntamente a implantação progressiva do novo sistema.

2 - Elevar o valor máximo a ser pago pelo seguro: durante os primeiros seis meses, o teto será de dez salários míni- mos, variando entre 60% do último salá- rio do seguro, para salários mais eleva- dos, e 80% para os de renda mais baixa; nos seis meses restantes, o teto cairá para cinco salários minimos, e os percentuais referentes ao último salário para 40% e

60%, respectivamente, cabendo ao Codefat definir o detalhamento da pro- posta para as faixas intermediárias.

3 - Para garantir recursos adequados ao financiamento do sistema, deve-se lu- tar contra a prorrogação do Fundo de Estabilização Fiscal (FET), que hoje des- via R$ 1,7 bilhão ao ano, a fundo perdi- do), e contra o desvio dos recursos do FAT para finalidades estranhas ao siste- ma público de emprego, especialmente no que se refere á edição de medidas provi- sórias, pelo governo, desviando recursos do Fundo para cobrir rombos fiscais.

4 - Associar o pagamento do seguro desemprego a um sistema público de emprego, geraiciado pelo Codefat, abran- gendo os programas de requalificação e treinamento profissional e a intermedia- ção de mão-de-obra.

5 - Para facilitar o acesso do desem- pregado ao seguro, estabelecer que a pri- meira parcela deve ser paga em até tnnta dias a partir da inscrição do trabalhador em qualquer agência dos bancos públicos. Nesse saitido, todos os bancos deverão estar aptos a receber a inscrição e efetuar o pagamarto do seguro desemprego

Com relação à organização do 6o Con- gresso da CUT, a Plenária decidiu que a direção nacional da entidade deverá ela- borar um texto base, a ser discutido nos sindicatos bases. Otemário estabelecido prevê o balanço e análise da conjuntura nacional e internacional e a estratégia da central quanto à estrutura sindical e reestmturação produtiva. A realização do congresso está marcada para o periodo entre 14 e 17 de agosto de 1097.

Alguns dos aspectos a serem aprofun- dados mas já discutidos na plenária, são aqui reproduzidos.

Reestruturação produtiva Ação sindical frente às mudanças

tecnológicas

A moda do fim do século nos pede para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"

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Quinzena N0 241 -30/11/96 Trabalhadores

As deliberações desta 8n Plenária Nacional da CUT em relação à ação sin- dical frente as mudanças tecnológicas e organizacionais na produção e nos servi- ços se dão no marco estabelecido pelas resoluções do 5o Concut (maio, 1994) e buscam ser um passo preparatório para uma nova tese completa a ser debatida no Congresso Nacional da Central em 1997.

A Executiva Nacional da CUT pau- tou para esta Plenária um debate centrado na ação sindical mais do que no aprofun- damento do diagnóstico. Por isso, são os temas da ação sindical, pouco discutidos até aqui, que foram priorizados neste tex- to. Até o 6o Concut, esta Plenária Nacio- nal indica, como texto de referência para o debate de uma análise global, o docu- mento que foi apresentado na 7:' Plenária Nacional (1995) com as modificações introduzidas no Informacut n0 259 (de- zembro, 1995).

Orientações da CUT e as mudanças tecnológicas

Diagnóstico Vivemos um período em que aumen-

ta, cada vez mais, a exploração capita- lista através de intensas mudanças tecnológicas e organizacionais na produ- ção e nos serviços. Trata-se de inovações de base técnica, com ênfase na utiliza- ção da microeletrônica (informática, automação, robótica), mudanças nas re- lações entre empresas (terceirização, con- domirúos industriais, consórcios modu- lares), mudanças na organização da pro- dução (células, mini-fábricas, just-in- time/kanban) e do trabalho (polivalência, trabalho em equipe) e novas formas de gestão das empresas (qualidade total, sis- temas participativos).

Fazem parte da resposta do capital à crise econômica internacional aberta em começo dos anos 70. Desde então desen- volveram-se políticas visando romper as barreiras nacionais para os capitais e as mercadorias. Intensificou-se a "guerra comercial". A palavra de ordem é a "competitividade internacional" , que deve ser alcançada a qualquer custo. E o primeiro "custo" a ser cortado são os di- reitos sociais e trabalhistas.

Nesse contexto a competitividade da empresa é "tudo", enquanto os direitos dos trabalhadores são subordinados a esse objetivo. Surgem várias estratégias

empresariais que visam transferir a con- corrência entre capitais a uma concor- rência entre trabalhadores de diferentes países, de diferentes regiões,de um país, de diferentes empresas da mesma região ou até de diferentes departamentos de uma mesma empresa.

Esse processo está sendo vivido com maior intensidade no Brasil desde 1990, quando se combinou com a implantação do projeto neoliberal e recessões recor- rentes. Mas essas mudanças tecnológicas e organizacionais não têm se difundido para o conjunto da economia. Estas con- centradas nas "ilhas" que conseguem se inserir no mercado mundial, e mais re- centemente avançam também no serviço público. Dar respostas a essa diversida- de de situações é um grande desafio para a ação sindical cutista.

O resultado mais evidente do novo modelo econômico em implantação é o aumento do patamar do desemprego, que nas medições do Seade / DIEESE para a Grande São Paulo chegava até 10% nos anos 80 e agora já atingiu 16%.

Se diversas mudanças tecnológicas e organizacionais têm um potencial que poderia ser aproveitado em prol do bem- estar geral, ao ser inseridas no marco descrito, reforçam as tendências à exclu- são social, ao aumento do desemprego, à deterioração de condições de trabalho etc. Isso é, no contexto da estratégia neolibe- ral essas mudanças aprofundam o cará- ter excludente, explorador e opressor do capitalismo.

E importante assinalar que dentro des- se novo cenário surgiu um novo discurso conservador, capaz de se articular com as iniciativas empresariais desde o local de trabalho até o nível geral nacional.

Diante de tal quadro, é indispensável que nossa central se oriente por uma fi- losofia de resistência, em defesa dos di- reitos e interesses dos assalariados, e combate à ofensiva do capital.

Ao mesmo tempo, é preciso que se diga que os problemas acarretados pela reestaituração produtiva não serão solu- cionados a contento nos marcos do siste- ma capitalista. A tendência objetiva des- ta reestaituração é produzir o desempre- go em massa, além da precanzação das relações de trabalho. E, embora possa e deva ter seus efeitos amenizados pela luta e resistência popular (indispensáveis), tal

tendência não pode ser revertida enquan- to subsistir a lógica que preside a acu- mulação do capital.

E nesse sentido que medidas imedia- tas devem ser tomadas para alcançar uma solução racional e progressista para o desemprego, tais como um programa de redução da jornada de trabalho associa- do a uma política de treinamento e requalificação profissional e a ampliação, em vez da Jiquidação, dos serviços pú- blicos que visam ao bem-estar social, principalmente na área da educação.

Por esta razão, a CUT entende que, conjuntamente com a luta em defesa do emprego e dos direitos dos trabalhado- res, devemos intensificar a propaganda por uma nova sociedade, uma sociedade socialista. E a própria incapacidade do capitalismo de resolver os problemas bá- sicos da humanidade que realça esta ne- cessidade, que deve estar refletida nas ati- vidades de nossa central.

A 8a Plenária Nacional da CUT delibera

1 - A orientação estratégica básica para enfrentar esse novo cenário é o for- talecimento dos laços de solidariedade entre os trabalhadores dentro da empre- sa, no ramo, entre as categorias, a nível nacional e internacional. Esta orientação agrega-se à deliberação do 5o Concut que apontou para a rejeição da ideologia da "parceria" trabalhador-empresa e reafir- mou o caráter conflitivo da relação capi- tal-trabalho também no plano da organi- zação da produção e do trabalho.

2 - Os três eixos estratégicos da CUT frente a esse cenário são:

a) uma política de emprego que bus- que o pleno emprego e a melhoria da qua- lidade do mesmo;

b) implantação da organização do sin- dicato no local de trabalho, construindo o sindicato no lugar privilegiado da dis- puta frente á reestruturação, na perspec- tiva da constaição da estrutura cutista e como instrumento de defesa das reivin- dicações e dos direitos dos trabalhado- res, não como instrumento para flexibili- zar direitos;

c) a capacitação da militância sindi- cal, seja no diagnóstico sobre os "novos temas", na análise das experiâicias (além de estimular o intercâmbio das mesmas), de forma a aprender as melhores formas de organização / ação sindical frente a

A moda do fim do século nos pede para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"

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esse cenário e dar ferramentas para en- frentar negociações nesse plano.

3 - Impulsionar a mobilização dos tra- balhadores em defesa do emprego com redução da jornada, sem redução salari- al, por medidas de proteção à saúde, pela democracia no local de trabalho (direito de organização, representação e autono- mia dos trabalhadores), contra a terceiri- zação e contra a intensificação do ritmo de trabalho, etc.

No desenvolvimento dessa estratégia há três planos de intervenção que devem ser considerados:

a) o legal, por exemplo, o projeto de lei que regulamenta o art. 7o da Consti- tuição Federal no que diz respeito à pro- teção do trabalhador frente à automação e outros;

b) o institucional, por exemplo, atra- vés da atuação dos representantes da Central nos fóruns que discutem políti- cas públicas (como Codefat, PBQP e Mercosul) no sentido de colocar a pauta sindical;

c) a relação direta de negociação, por exemplo, quando os sindicatos, através da mobilização, buscam impedir ações unilaterais das empresas e conseguir clá- usulas nos acordos / convenções que pro- tejam os trabalhadores frente ás mudan- ças organizacionais e tecnológicas.

4 - A orientação estratégica básica para enfrentar este novo cenário no que toca á relação entre reestaituração produtiva e meio ambiente é, além das especificida- des nos itens anteriores, ampliara relação da CUT com a sociedade civil, visando assegurar a igualdade no usufruto dos re- cursos naturais e na distribuição dos cus- tos ambientais do desenvolvimento; liber- dade de acesso aos recursos naturais; res- peitados os limites físicos e biológicos da capacidade de suporte da natureza; a soli- dariedade das populações que comparti- lham o meio ambiente comum; o respeito á diversidade da natureza e aos diferentes tipos de relação que as populações com elas estabelecem; a participação da socie- dade no controle das relações entre os in- divíduos e a natureza.

Políticas de emprego e produtivas

Diagnóstico O aumento do desemprego, verifica-

do nos últimos tempos, é conseqüência direta do Plano Real, da continuidade da

implantação do projeto neoliberal pelo governo FHC, das estratégias de reestaituração das empresas e do proces- so de concentração da terra e da política agrícola voltada a favorecer os grandes proprietários do campo.

É preciso que tenhamos claro que a reestaituração produtiva também afeta o meio ambiente. As mudanças tecnológi- cas realizadas ao longo das últimas dé- cadas tomaram claro para a população mundial (vide Rio/92) que o atual mode- lo de desenvolvimento é insustentável também do ponto de vista ambiental. Assim é que temos a crise ambiental glo- bal, configurada no efeito estufa (aque- cimento global do planeta), destruição da camada de ozônio, chuvas ácidas, perda de biodiversidade etc. Mas os problemas ambientais também estão dentro das fá- bricas atingindo diretamente a saúde do trabalhador. Só para dar um exemplo, podemos citar o caso do benzaiismo, que já foi objeto de campanha da CUT.

Contribuíram, especialmente, para a deterioração da situação do emprego: as facilidades concedidas ás importações (sobrevalorização do real, abertura indiscriminada ás importações), a políti- ca monetária restritiva que provocou retração das atividades em vários seto- res e o uso abusivo das horas extras por parte das empresas.

Soma-se ainda que está mudando a composição do mercado de trabalho, cres- cendo todo tipo de empregos precários, tais como o trabalho sem carteira assina- da, o trabalho autônomo no mercado in- formal, a contratação via cooperativas fantasmas, a mão-de-obra temporária e o trabalho a domicílio, além do trabalho infantil e escravo. São, em geral, mani- festações da busca das empresas para reduzir custos e ganhar em competitivi- dade internacional.

A 8a Plenária Nacional da CUT delibera

1 - Lutar contra o atual modelo eco- nômico. Não haverá melhoria qualitati- va da situação do emprego e do mercado de trabalho, em que mais de 50% da po- pulação economicamente ativa não tem carteira assinada, se não for revertido o atual modelo econômico. Trata-se de mudar o curso atual da constaição do Mercosul e da política de comércio exte- rior, a partir da compreensão de que o

livre mercado não promove um cresci- mento econômico duradouro, com dis- tribuição de renda, aumento de empre- go e preservação e recuperação do meio ambiente.

A CUT propõe política industrial e agrícola cujo centro é a geração de em- prego e renda, e uma estratégia de co- mércio exterior seletiva que visa desen- volver complementaridade entre o mer- cado interno e o regional / internacional. Em relação ao Mercosul continua válida a resolução do 5o Concut sobre a neces- sidade de uma carta social. Urge promo- ver nos ramos e grupos econômicos, no espaço do Cone Sul, mobilizações sindi- cais e negociações coletivas visando a homogeneização das condições de con- tratação de trabalhadores. Essa discus- são deverá estender-se a todos os traba- lhadores da América Latina, formando um pólo de resistência contra a ação pa- tronal, intensificada através da reestaitu- ração produtiva.

As políticas industrial e agrícola, bem como a estratégia de comércio exterior seletiva, devem ser pensadas e executa- das em conformidade com uma política ambiental, demonstrando assim que to- das devem ser trabalhadas num mesmo plano de importância e que o conjunto destas ações aponte para a construção de uma sociedade sustentável.

Igualmente a CUT se posiciona pela redução dos atuais níveis da taxa de ju- ros - que inibem a atividade econômica.

2 - Lutar por medidas para o aumen- to imediato da oferta de empregos:

a) redução da jornada para 40 horas sem redução salarial;

b) limitação legal e contratual ao uso das horas extras;

c) campanha pelo cumprimento da Convenção 158 da OIT que proíbe a dis- pensa imotivada;

d) reforma agrária e política agrícola voltadas para a pequena produção;

e) sistema público de emprego, arti- culando seguro-desemprego, requalifica- ção profissional e realocação no merca- do de trabalho;

f) política de formação profissional, tal como definida pela resolução da 7a

Plenária Nacional da CUT; g) luta contra as tentativas de desregu-

lamentar direitos trabalhistas individuais; h) política de compras do Estado e

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política creditícia dos bancos públicos voltadas para estimular a geração de empregos;

i) combate ao trabalho de crianças; j) combate ao trabalho escravo. 3 - Reconversão de setores industri-

ais ou empresas cujas atividades signifi- cam depredação irreversível da nature- za, como, por exemplo, a indústria ma- deireira da Amazônia, atividade pecuá- ria na Amazônia etc.

A preservação da biodiversidade com certeza assegurará, num balanço realiza- do entre empregos desativados egerados, no médio e longo prazos, efeitos positi- vos também no que tange à criação de mais e semelhantes empregos.

A estratégia sindical no local de trabalho e na empresa

Diagnóstico Nos anos 90 o cenário mudou tanto

no plano da economia como um todo como no local de trabalho, e neste segun- do âmbito estão acontecendo transfomia- ções decisivas para os trabalhadores e os sindicatos.

Empresas buscam alternativas (em resposta às fortes lutas sindicais, mas também à crise dos mercados desde os anos 70) no plano da organização dos processos de produção e de trabalho, ten- tando superar os impasses do modelo consolidado desde a pós-Segunda Guer- ra. São novas formas de buscar maximi- zar o lucro, através de estratégias que aumentam a competitividade a partir dos cortes nos custos (sobretudo os que di- zem respeito a massa salarial, benefícios sociais), com um pernicioso impacto so- bre o emprego e as condições de traba- lho e sobre o meio ambiente.

O controle direto sobre os trabalha- dores está sendo trocado por um contro- le mais sofisticado e abrangente. O tra- balhador é incentivado a participar em busca de mais produtividade e quajida- de, solucionando problemas encontrados no caminho. Nesse contexto se dá a eli- minação de níveis hierárquicos e a trans- formação da figura do chefe autoritário. Para isso, as empresas investem muito na comunicação direta com os funcioná- rios, de forma a convencê-los da impor- tância de se identificar com os objetivos da empresa.

Em termos gerais, constituem-se um forte desafio ao movimento sindical,

quanto à sua capacidade para represen- tar aos trabalhadores no novo cenário, seja porque alguns "métodos participati- vos" buscam excluir os sindicatos, seja porque no novo cenário coexistem traba- lhadores dentro das "ilhas de excelência" com uma maioria de terceirizados, em regimes de contratação precários, desem- pregados etc. Isto é, uma grande diversi- dade dentro da classe trabalhadora.

Essas estratégias empresariais não estão isentas de contradições já que con- vocam a "participar" mas sob a "tutela" da gerência, colocam em discussão o con- teúdo do trabalho mas visando intensificá-lo, falam em "parceria" mas não hesitam em demitir trabalhadores em massa, aumentam a produtividade mas os salários não acompanham, reduzem a massa salarial através de demissões e da "contenção salarial" para "não atrapalhar a competitividade" mas aumentam os salários da alta gerência etc. Essas con- tradições abrem um terreno onde pode se desenvolver a intervenção sindical.

Por outro lado, como essa estratégia empresarial depende em boa medida da "colaboração" do trabalhador, pode am- pliar a vulnerabilidade da empresa fren- te à ação sindical - desde que esta se ca- pacite a aproveitar esses pontos fracos.

Mas o novo cenáno desafia fortemente o movimento sindical brasileiro porque a atual estrutura sindical inibe a organiza- ção no local de trabalho.

De qualquer forma, esse enfrentamai- to não pode se limitar ao local de traba- lho. Tentativas de avançar nesse terreno apenas em uma empresa podem estar fa- dadas a ser asfixiadas; por isso, é funda- mental que as organizações verticais de ramo e horizontal da CUT difundam as experiências e orientem a sua dissemina- ção. Igualmente, devem estar articuladas com as políticas produtivas que a Cen- tral defende no plano nacional.

A 8* Plenária Nacional da CUT delibera

1 - Lutar pela implantação da orga- nização sindical no local de trabalho. O elo entre a estratégia geral da CUT e o terreno onde se desenvolve a disputa é a organização do sindicato no local de trabalho:

a) garantia à organização sindical no local de trabalho. A 8a Plenária Nacio- nal aprova a apresentação de um projeto

de lei de garantia á organização sindical no local de trabalho;

b) campanha de sensibilização so- bre OLT e divulgação da proposta da CUT entre os trabalhadores e na opi- nião pública.

2 - Contrapor ao discurso da compe- titividade das empresas uma visão e uma prática de solidariedade de classe:

a) a disputa no local de trabalho é entre duas visões ideológicas, a que su- bordina tudo á competitividade da em- presa e ao lucro de seus proprietários e a que se funda na solidariedade entre os trabalhadores e a busca do bem-estar para a maioria, com base na formação da cons- ciência de classe antí-capitalista e com perspectiva de socialismo;

b) essa visão alicerçada na solidarie- dade deve ser traduzida em propostas concretas. Nessa perspectiva o sindicato deve propiciar que os trabalhadores dis- cutam seu projeto de reorganização da produção do trabalho e de apropriação da natureza, que deverão ser o ponto de partida para discutir as propostas patro- nais. Para tanto, devemos construir o necessário suporte técnico seja para for- mular essas propostas, seja para capaci- tar á militância sindical nesses temas;

c) os sindicatos devem desenvolver novas estratégias comunicativas com a base e com a sociedade. As ações dos nossos sindicatos devem ser repensadas para fazer com que as entidades sindi- cais sejam também aiticuladoras da so- ciabilidade, do lazer e da cultura dos tra- balhadores que aspiram a organizar. Isso certamente colocará a necessidade de re- organizar internamente os sindicatos.

As negociações coletivas Diagnóstico Está em curso uma ampla taitativa de

desregulamentação do mercado de traba- lho. O objetivo é reduzir os direitos traba- lhistas individuais garantidos em lei, pro- piciar a dispersão das negociações e pri- vilegiar os acordos por empresa, criando- se assim melhores condições para trans- ferir a guerra comercial ao seio dos traba- Ihadores (que abririam mão de direitos em prol da competitividade de suas empresas para bater seus concorrentes etc).

Mas, enquanto os setores conserva- dores propõem retirar o Estado de sua função de garantidor dos direitos traba- lhistas básicos, paralelamente buscam

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Quinzena N0 241 -30/11/96 Trabalhadores

reforçar a regulamentação repressiva contra a organização e ação sindical (o exemplo mais recente é o do projeto de lei sobre direito de greve).

Depois de décadas de negociações coletivas tuteladas pelo poder normativo da Justiça do Trabalho, se ameaça agora inibir as negociações coletivas para além do âmbito da empresa.

A 8* Plenária Nacional da CUT delibera

1 - Para a CUT as negociações cole- tivas por ramo (articulando os diversos niveis nacional, estadual e empresas) são uma ferramenta fundamental para forta- lecer a solidariedade entre os trabalha- dores e sua organização sindical. Todas as instâncias e sindicatos filiados à Cen- tral devem dar ampla divulgação às nos- sas propostas de garantias de direitos in- dividuais básicos na lei combinadas com a negociação coletiva nacional articula- da (como parte da proposta de uma nova regulamentação das relações de trabalho).

2-0 ponto de partida é buscar cons- truir campanhas nacionais ou estaduais por ramo. Negociações por empresa de- vem estar subordinadas a esse processo e devem visar apenas obter melhorias em relação aos acordos de categona / ramos.

3 - Nessa tarefa, a proposta de uma pauta nacional unificada (tal como apro- vada pela Direção Nacional de maio/95) é a principal ferramenta. São priorida- des da pauta:

a) redução da jornada de trabalho, sem redução de salários;

b) esgotados os meios para impedir / reverter a terceirização, extaisão dos acor- dos para os trabalhadores terceirizados;

c) informação antecipada sobre mu- danças organizacionais, tecnológicas e ambientais e obrigatoriedade de negoci- ação das mesmas com o sindicato;

d) educação e formação profissional; e) OIT 4 - Iniciar a discussão sobre reflexos

da terceirização no serviço público junto às categorias e à população usuária, bem como sobre os impactos da reestaituração produtiva no setor público.

A participação dos trabalhadores nos lucros/resultados

Diagnóstico A Medida Provisória de Participação

dos Trabalhadores nos Lucros/Resulta- dos (PTLR) é parte da estratégia empre-

sarial de remuneração flexivel. A PTLR vem se constituindo para os empresários, daitro da lógica neoliberal, como remu- neração estratégica, no sentido da total flexibilização das relações de trabalho.

Conforme tendâicias internacionais, as empresas começam também a repen- sar a política salarial, tentando separar a remuneração fixa (salário base) da remu- neração por desempaiho individual ou de um gaipo específico (que inclui também formas de participação acionária). O que se pretende com isso é associar o paga- mento de salários á ampliação dos gan- hos da empresa (reforçando o discurso empresarial de parceria).

Dentro dos objetivos e estratégias patronais, a PTLR é um eficiente instai- mento de remuneração da reestruturação produtiva, tentando comprometer os tra- balhadores com metas de produção, qua- lidade, absenteismo etc, além de servir para a construção da ideologia da "par- ceria" e de enfraquecimento dos sindica- tos de trabalhadores.

Até agora, a PTLR tem funcionado em muitos casos apenas como um abono. No entanto, em vários casos, já tem conse- guido mudar um aspecto da relação capi- tal-trabalho ao obngar aos trabalhadores e sindicatos a discutir a pauta patronal referaite à metas de qualidade e produção (ao qual antes nos recusávamos).

O debate sobre PTLR cresceu no mesmo periodo em que a política econô- mica buscava quebrar a lógica dos sindi- catos de buscar recuperar o poder aqui- sitivo dos salários e de incorporar nos mesmos os ganhos de produtividade. A situação desesperadora vivida pelos tra- balhadores levou, em muitos casos, a priorizar a reivindicação de PTLR como um mal menor nesse contexto. Assim, frente a uma conjuntura de dificuldades para negociar reajustes salariais, os nos- sos sindicatos têm utilizado os acordos de PTLR de forma compensatória, sem se dar conta do caráter e complexidade dessas negociações. Verificamos que mesmo o conjunto de diretrizes aprova- do pela CUT para as negociações de PTLR muitas vezes não está sendo ga- rantido nos acordos.

Há ainda que se destacar que a PTLR não gera recursos para sustaitar as políti- cas públicas de segundade social, contribuin- do dessa fonna para sua descapitalização.

A 8* Plenária Nacional da CUT delibera

1 - Para a CUT, as reivindicações sa- lariais prioritárias continuam sendo a de- fesa do valor do salário contra a inflação e a incorporação aos salários dos ganhos de produtividade. Essas bandeiras não devem ser substituídas pela PTLR. Os sindicatos filiados devem fazer esse es- clarecimento junto à base.

2 - A construção de uma estratégia de ação cutista que enfrente a questão da PTLR do ponto de vista dos interesses dos trabalhadores, que seja capaz de idai- tificar os riscos e construir oportunida- des, a partir da disputa, ampliando o es- paço de conflito para desmistificar a ide- ologia da "parceria".

3 - Essa estratégia deve reverter o caráter da PTLR a partir da óptica dos trabalhadores, garantindo os pressupos- tos e diretrizes classistas como referên- cias para a ação e negociação.

4 - A CUT orienta para que nas ne- gociações coletivas por ramo / categoria / empresa sejam apresentadas pautas que defendam a representação sindical eleita democraticamente e com estabilidade, a defesa e ampliação do emprego, a defesa da saúde e o combate às doenças profis- sionais que permitam a desmistificação da reestruturação produtiva a partir da luta concreta. Nesse sentido devem ser considerados os seguintes parâmetros comuns:

a) onde não existir organização no local de trabalho, a eleição de uma co- missão de representantes, sob a coorde- nação do sindicato, com estabilidade no emprego para seus membros, para acom- panhar as negociações junto com o sin- dicato, sendo que a responsabilidade po- lítica e legal da negociação da PTLR deve ser do sindicato;

b) cláusulas de reajuste salarial, au- mento real e produtividade separadas da reivindicação de PTLR. Não aceitar que o acordo sobre PTLR impeça a reivindi- cação de produtividade e aumento real;

c) a PTLR nunca poderá ser para um período inferior ao semestre. A negocia- ção entre as partes deve respeitar como limite que a remuneração dos emprega- dos seja composta de no mínimo 85% de salários e demais verbas salariais no ano e o restante podendo ser composto dos valores decorrentes da PTLR. Quando a

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negociação resultar em um montante que exceda os percentuais previstos no pará- grafo anterior, a diferença será automati- camente incorpora ao salário para todos os efeitos;

d) garantir o acesso às entidades sin- dicais e comissões de representantes de funcionários aferição das informações pertinentes aos valores devidos;

e) garantia da distribuição de valores iguais entre todos os empregados. Deve ser vedada a compensação de prejuízos ou re- sultados não atingidos no cálculo da PTLR a ser apurada em períodos postenores;

í) a CUT recomenda que os sindicatos não aceitem a vinculação da PTLR a me- tas futuras de produtividade, qualidade e assiduidade. Em caso de que a discussão de metas já tenha sido instalada pela em- presa, qualquer aumento dá produção deve ser condicionado ao aumento de contrata- ções à melhoria das condições de traba- lho (a qualidade do processo de trabalho, a saúde do trabalhador) e de vida e acesso a informações pertinentes da empresa;

g) nos casos que as empresas anun- ciam / obtêm aumento da produtividade com aumento do investimento em maquinário, devemos negociar o aumai- to proporcional do salário do conjunto dos trabalhadores e (no mínimo) a ma- nutenção dos postos de trabalho. Frente aos casos em que as empresas anunci- am / obtêm aumentos de produtividade com base no mero aumento do ritmo e intensidade do trabalho, devemos orga- nizar a recusa frontal a esses planos;

h) a CUT recomenda que em nenhu- ma hipótese se aceite a vinculação da PTLR a metas referentes a absaiteísmo, doenças profissionais, acidentes de tra- balho e outras conseqüências do ritmo estafante de trabalho, ou que a empresa estipule, de forma vinculada à PTLR, metas individuais, grupais ou setoriais;

i) a CUT recomenda que em nenhu- ma hipótese qualquer representação dos trabalhadores (instância da CUT, sindi- cato, comissão de fábrica, cipeiros)atue como fiador de metas estabelecidas pela

empresa e/ou como controlador dos tra- balhadores para atingir as metas.

5 - A Plenária aprova ainda os seguin- tes encaminhamentos:

a) que no Grupo Técnico de Reestruturação Produtiva da Secretaria Nacional de Política Sindical se consti- tua um grupo temático sobre PTLR que subsidie o processo já em andamento de unificação das campanhas salariais em conjunto com as confederações e os de- partamentos nacionais;

b) que a CUT, a partir das informa- ções coletadas pelo DIEESE, produza nas confederações e sindicatos um ba- lanço dos acordos de PTLR frente às diretrizes construídas em maio/1995, trabalho que deve ser subsidiado pelo GT-RPdaSPS;

c) que a Executiva Nacional da CUT convoque até dezembro/1996 as confede- rações, instâncias da CUT e sindicatos para um seminário para, a partir desse balanço, intercambiar experièicias e ajus- tar a estratégia de intervenção. □

Jornal da Cidadania -16 a 30 de Novembro/96 - N0 50

Sindicatos mudam para enfrentar globalização Aumento do desemprego, extinção de vagas em diversos setores da indústria brasileira e

crescimento do emprego precário, informal ou autônomo estão forçando mudanças no perfil dos sindicatos do país. São os efeitos da globalização sobre o movimento sindical.

Silvia Noronha

O movimento sindical também vem so- frendo as conseqüências da globaliza- ção. O aumento do desemprego e a precari- zação do mercado de trabalho ao mesmo tempo em que reduz o número de associa- dos, aumenta a demanda dos sindicatos. A atuação dos dirigentes vai muito além das negociações de salário e das condi- ções de trabalho nas empresas. Atualmen- te, eles discutem qualificação profissional, oferecem cursos profissionais e de alfa- betização e debatem até formas de dimi- nuir custos para as empresas.

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, que a cada mês vê reduzir um pouco sua receita por causa de demissões, pretende discutir com os novos prefeitos da região a implementação de uma políti- ca pública conjunta que traga benefícios para empresários, trabalhadores e para a economia dos municípios. Nesta discus- são, investimentos em transporte, saúde, educação, abastecimento de água e habi- tação, além de gerarem empregos diretos.

ainda podem diminuir custos para as em- presas e, assim, evitar mais desemprego.

"Uma boa assistèicia médica pública pode diminuir os custos dos empresári- os, porque eles não precisanam mais ofe- recer planos de saúde pnvada para seus trabalhadores", exemplifica Luiz Man- nho, presidente do Sindicato do ABC, que viu minguar de 90 mil para 65 mil o nú- mero de filiados à instituição, somente nos últimos três anos. Quanto ao acesso à água, Luiz lembra que é a matéria-pri- ma da indústria química.

Em defesa do cidadão Marco Antônio Mota, da secretaria

nacional da Força Sindical, também avalia como uma tendência a ampliação cada vez maior do papel dos sindicatos. "E preciso defender o trabalhador como cidadão, pensar no todo da sociedade e quebrar a idéia de categoria", afínna, ao lembrar que os sindicatos têm aumenta- do sua participação na sociedade fazen- do parte de conselhos municipais e dis-

cutindo com universidades e com o po- der público. Para o secretário geral da CUT - Central Única dos Trabalhadores - João Vaccari Neto, o movimento sindi- cal vive hoje uma "grande crise". Há per- da de receita, diminuição das bases e au- mento das despesas.

"A tendâicia é escassear ainda mais os recursos dos sindicatos", prevê. A maior dificuldade, segundo ele, é mobilizar os trabalhadores, porque o sindicalismo não consegue resolver o problema do desem- prego. "O empresário quer que o traba- lhador brasileiro seja comparado ao da índia, Paquistão, sem nenhum direito".

No Nordeste, o diretor do sindicato dos Vigilantes de Pernambuco, Elieu Rodrigues, sente dificuldades semelhan- tes. "A tendência do governo é acabar com o sindicalismo", opina.

O sindicato também procura ampliar sua atuação, montando uma academia de formação, que deverá oferecer cursos gratuitos, em parceria com a secretaria

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de Ação Social do governo do Estado. Hoje, existem 5 mil vigilantes desempre- gados em Pernambuco, de acordo com dados do sindicato.

"O brasileiro, que já vivia situação de exclusão, agora passa pela radicalização

dessa exclusão. O quadro de desemprego impõe o desafio de construir solidarieda- de nessa situação", analisa a socióloga e pesquisadora do Dieese - Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos -, Soma Gonzaga.

"Não dá para viver com esse nivel de desemprego. É preciso acabar com os corporativismos dos empresários e pen- sar na sociedade como um todo", reco- menda Marco Antônio Mota, da Força Sindical. "I

Combate Socialista - Movembro/96 - Editorial

Reformas de FHC e os Movimentos Sociais Desde que assumiu a presidência da

república Fernando Henrique e sua equi- pe não deixaram de defender as reformas constitucionais. Primeiro veio a queda do monopólio estatal do petróleo e das tele- comunicações, em seguida a tentativa de reformar a previdência, depois a cantinela da reforma administrativa, tributária e da legislação trabalhista. Agora mais uma mudança constitucional, desta vez pre- vendo o direito do presidente à reeleição. A midia subserviente dominada por cor- aiptos magnatas da manipulação de mas- sas fez coro com o tucanato. O tempo inteiro, não cessou e nem vai cessar.

Como até agora nenhuma das refor- mas foi definitivamente concluída, o FMI, o Banco Mundial, a midia, os consulto- res capitalistas, os políticos picaretas de todas as estirpes e dos distintos partidos burgueses e chegando nos burocratas sin- dicais da turma de Medeiros insistem na necessidade de acelerar as tais reformas. É o típico choro de barriga cheia, já que o governo federal tem trabalhado exata- mente nesta direção e, apesar das refor- mas não terem andado, até o momento, como todos estes privilegiados gostari- am, é certo também que os ajustes do governo vêm fazendo um grande estrago na vida dos trabalhadores e do país.

O governo tem desmontado as empre- sas estatais, leiloando, por exemplo, todo o parque siderúrgico nacional; está regu- lamentando a entrega das telecomunica- ções e da Vale do Rio Doce em 97. No pacote fiscal de outubro, além de usur- par direitos em relação à previdência pública, determinou uma séne de ataques ao funcionalismo público, cortando con- quistas sociais e demitindo; ato seguido, com seu PDV, vai colocar no olho da aia uma nova leva de trabalhadores. Tudo isso sem mudança na Constituição. Fi- nalmente, com o arrocho salarial sem precedentes trata de garantir superlucros para as transnacionais e seus sócios na-

cionais e acaba de cancelar sua adesão á convenção 187 da OIT.

Assim fica claro que o governo fede- ral não está parado. Tenta impor como pode seu plano de ajuste sobre as costas dos trabalhadores e do povo.

Não se pode dizer o mesmo da direção de nosso partido e da Caitral. Na verdade estão andando para trás. E esse, por sinal, o pnncipal motivo pelo qual o ajuste não é derrotado. Numa situação como essa dirigentes importantes do PT como Cristovam Buarque, governador de Brasília, sugerem uma aliança com FHC num suposto 2o turno das eleições presi- denciais de 98 e Eamdina chegou a elogi- ar FHC em seu programa eleitoral, du- rante o 2oturno paulista. Lula e José Dir- ceu, ao invés de desautorizarem esta gai- te, acabaram avalizando sua conduta.

Na direção da CUT as coisas não an- dam melhor. A greve de fome (um dia) de Vicentinho poderia parecer um sinal diferente, mas não é. A medida de Vicentinho, longe de ser uma demonstra- ção de coragem e disposição de luta dei- xou apenas correr solta a impotência de quem realmente não quer enfrentar com força e determinação o governo e o FMI. Com estas e outras se constata uma au- sência no panorama político nacional: uma oposição ao governo nacionalmente organizada. A direção do partido e da Central, pelo menos, estão abdicando, na prática, de cumprir este papel.

Com tamanha sorte FHC não espera- va contar. Seus problemas, contudo, não estão resolvidos. As contradições do pla- no econômico estão saído incrementadas. O déficit na balança comercial superou a casa do US$ I bilhão, mostrando a valo- rização cambial e impossibilitando, pela própria lógica do plano, a redução as ta- xas de juros, principal atrativo dos capi- tais especulativos que bancam o déficit na balança de pagamento. Por isso não são poucos os economistas, como um dos

pais do Plano Real, Pérsio Árida, que defendem uma nova retração da ativida- de produtiva, créditos mais caros e salá- rios ainda mais arrochados para desesti- mular o consumo e não pressionar as importações.

Junto com isso seu projeto de reelei- ção não navega em águas calmas. Afi- nal, tem muita gente da própria burgue- sia que não gosta muito da idéia, princi- palmaite Maluf, sempre de olho na fai- xa presidencial. De qualquer forma o maior problema do governo para aplicar seu plano e para se reeleger segue aten- daido por outro nome: são os trabalha- dores da cidade e do campo, a juventude e o povo pobre.

As ocupações de terra, as greves ope- rárias e os enfrentamentos (como os protagonizados pelos mineiros de Criciú- ma), as manifestações estudantis, a re- sistência do funcionalismo público estão muito longe de terem dado sua última palavra. É daí, das ações de rua, que pode ganhar corpo e se desenvolver uma ver- dadeira oposição.

Uma oposição que diga não ao piano de ajuste, ao governo e ao seu projeto de reeleição, com ou sem referendum e ple- biscito, n

A VENDA NO CPV

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"A OCmNTALIZAÇÃO DO MUNDO' PREÇO: 13,60

"A moda do fim do século nos pede para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"

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Quinzena N0 241 -30/11/96 Trabalhadores

Exame - 4 de Dezembro/96 - N0 25

A negociação agora épor empresa Nos acordos trabalhistas, tem sido cada vez mais rara a reposição pela inflação passada.

Lembra a época em que as empresas tomavam um determinado índice de in- flação e reajustavam os salários em percentuais elevados? Esqueça isso. Hoje, com a inflação baixa e em trajetória de queda, os sindicatos têm encontrado mui- to mais dificuldades para negociar tais reposições com os patrões. Um levanta- mento do Dieese indica que, de janeiro a setembro deste ano, os reajustes salari- ais ficaram abaixo da inflação em 35% do acordos que foram fechados. E uma situação bem distinta da existente há ape- nas 3 anos, e aponta para uma realidade que deve tomar cada vez mais abrangente no universo das empresas brasileiras. "A desindexação avançou, principalmaiteno campo dos salários", diz José Roberto Mendonça de Barros, secretário de Polí- tica Econômica do Ministério da Fazen- da. "Agora é preciso pensar em novas estruturas de remuneração, e não apenas em reposições de perdas inflacionárias".

Em boa medida, é nessa direção que está se movendo a indústria. Até julho deste ano, as empresas ainda pagaram os resíduos finais de IPC-r, o último indexador de salários que existiu no país. Agora, como não há mais uma política salarial, as empresas estão dando ênfase aos acordos de participação nos lucros ou nos resultados. Até porque os preços dos produtos industriais têm obtido rea- justes bem menores do que apontam os indicadores de custo de vida. Este ano, a variação do IPA, que mede a inflação in- dustrial, foi de apenas 2,7%.

"As margens das empresas estão mui- to menores e não há mais espaço para repassar para os consumidores eventu- ais aumentos de custos", afirma Ivan Aves, diretor da Monsanto, empresa do setor químico cujos funcionários tiveram data-base em novembro. Os percentuais de reajuste tendem a ser maiores porque procuram refletir a inflação futura. Em compensação, entraram outros itens na negociação dos acordos. Na Monsanto, todos os empregados devem receber pelo menos l salário adicional no final deste ano a título de participação nos resulta-

A discussão mudou. Leonardo Alluch

dos. Apenas esse abono representa um acréscimo de 7,7% em relação à renda anual dos empregados.

Há outras empresas que também abandonaram a cultura da indexação. Elas buscaram novas fórmulas de manu- tenção do poder aquisitivo dos funcioná- rios. E o caso da Asea Brown Boveri, multinacional que fabrica equipamentos pesados. A empresa trabalha com a ex- pectativa de inflação futura. Tira-se a média do poder aquisitivo dos funcioná- rios no ano anterior e os salários são re- ajustados por um índice que permita manter o mesmo poder de compra nos 12 meses seguintes. "Como a inflação de 1997 deverá ser menor do que a de 1996, é natural que o reajuste deste ano seja inferior à inflação dos últimos 12 meses", diz José Carlos Misiara, vice-presidente da empresa. "No passado, quando esti- mávamos que a inflação subiria no perí- odo seguinte, reajustamos os salários vánas vezes por percentuais superiores aos dos índices de meses anteriores". Na ABB, a maioria dos funcionários tam- bém deve receber pelo menos 1 salário como participação em resultados.

Produtividade Se as empresas estão buscando no-

vas fórmulas de negociação, os sindica- tos ainda continuarão a bater na tecla de recuperação de perdas passadas. "A re- posição da inflação sempre será o miolo de qualquer negociação", diz Wilson Anorim, técnico do Dieese. "E assim que funciona em qualquer lugar do mundo, e a inflação brasileira ainda é alta, compa- rada aos padrões intemacionais". Além disso, os sindicatos pretaidem pressio- nar as empresas por conta dos grandes aumaitos de produtividade que vêm se verificando na indústria. Em 1996, os ganhos totais devem ser de 13,1%.

De certa forma, isso já vem ocorren- do. Desde o início do Plano Real, o salá- rio médio pago nas indústrias cresceu 33,8%, de acordo com os dados do IBGE. Em São Paulo, apenas no mês de setem- bro, o salário médio teve um ganho de 8,5%, segundo números do próprio Diee-

se. O salário médio na região metropoli- tana era de 815 reais em setembro, o maior valor do ano. No ano, contando o 13° salário, isso represaita uma renda de 10.600 reais, mais do que o dobro da ren- da per capita nacional. Esse aumento do salário médio acontece por duas razões: de um lado, há repasses de ganhos de produtividade para os salários; de outro, continuam sendo demitidos os trabalha- dores menos qualificados nas indústrias. Como o número de funcionários diminui e a produtividade aumenta, há uma ele- vação do salário médio.

Na mesa de negociação, os sindicatos têm brandido os números de produtivida- de para justificar pedidos mais elevados de reajuste. Mas as empresas fazem outra leitura desses números. "Os ganhos de produtividade não se transformaram em mais lucratividade para as indústrias, por- que a indexação da primeira fase do Pla- no Real forçou o repasse dos ganhos para os salários", diz Ricardo Ammirati Rodrigues, advogado trabalhista que par- ticipa de várias negociações pelo lado pa- tronal. Boa parte das demissões, segundo as empresas, pode ser atribuída aos res- quícios de indexação compulsória. Como os salários tiveram de aumentar, cortaram- se empregos para preservar a competiti- vidade em um ambiaite de preços esta- vas. A tendência, daqui por diante, é os sindicatos se colocarem cada vez mais ataitos ao nível de emprego que resulta de qualquer negociação. Em troca da ma- nutenção de postos de trabalho, aceita-se um reajuste salarial mais modesto.

Negociação por empresa Evidentemente, nas categorias em que

o poder de barganha dos trabalhadores é maior - e nas quais o peso da competição externa não é tão forte -, os sindicatos têm conseguido fechar acordos melhores. Os metalúrgicos de algumas empresas do ABC paulista, como a Volkswagai e a Gaieral Motors, obtiveram um reajuste de 11 % na negociação que transcorreu no inicio de novembro. A diferença é que, agora, os contratos não se fazem mais por categoria, e sim por empresa. A Ford,

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por exemplo, não aceitou conceder o mes- mo reajuste. "Somos contra a reindexação dos salários e os nossos parâmetros não são idênticos aos das outras montadoras", afirma Carlos Augusto Marino, diretor da empresa. "Nossa lucratividade foi di- ferente da deles".

Em vários casos em que as empresas estão se negando a repor a inflação pas- sada, a decisão caberá à Justiça do Tra- balho. Mas o Tribunal Superior do Tra- balho ainda não julgou nenhum dissídio depois da eliminação dos últimos resídu- os do EPC-r. Os primeiros julgamentos

devem ocorrer até o final do ano, para empregados de alguns setores como os de papel e celulose e da indústria do ves- tuário. "Esses casos servirão para sinali- zar a postura da Justiça do Trabalho di- ante da nova realidade", diz o advogado Rodrigues. O fato é que, agora, os argu- mentos de ambas as partes serão diferen- tes. Os patrões levarão aos tribunais os números de desempenho das empresas e dos aumentos reais de salários, e os sin- dicatos darão ênfase também aos ganhos de produtividade.

A eliminação da indexação é positi-

va para a política econômica. Ajuda a conter pressões inflacionárias pelo lado da demanda e também reprime a onda de desemprego. Nos 12 meses encerra- dos em setembro, foram cortados mais de 300.000 empregos na indústria naci- onal, segundo as estatísticas divulgadas pelo IBGE. "Se a indexação não for eli- minada, a solução será ter menos em- pregados, que ganharão bem melhor", diz Marino, da Ford. Nos últimos dois anos, a montadora demitiu cerca de 2.000 operários, quase 15% do seu quadro de pessoal. D

Massas - 2' Quinzena de Novembro/96 - N0 122

Reforma administrativa esmaga o funcionalismo Um dos eixos centrais da Reforma

Administrativa de FHC é a quebra da es- tabilidade do funcionalismo, supressão dos direitos adquiridos pelos servidores (licen- ça prêmio, sexta parte) e demissão em massa de servidores sem estabilidade.

A Lei Camata, que obnga os Estados a gastarem 60% de sua receita liquida com a folha de pagamaito do pessoal, conge- lará os salários e, caso a folha de paga- mento ultrapasse o percentual estipulado, o Estado teria todos os mecanismos legais para suprimir as gratificações não fixas, ou seja, diminuição dos salários.

O governo Covas segue à risca a cartilha imposta pelo Banco Mundial e conta com a "ajuda" do BID e sua equipe técnica para realizar os ajustes da má- quina. Com a ladainha de criar um esta- do gerenciável, a proposta neoliberal se- ria a extinção de secretarias e fusão de outras, eliminando, através de avaliação de desempenho, quadros inteiros do fun- cionalismo.

O relator Moreira Franco em seu substitutivo sobre os eixos - ajuste, flexibilização e concentração de poderes - defende, entre tantos, os principais pon- tos: 1) Contrato de emprego genérico na administração pública, para praticamente todas as atividades, onde não há estabili- dade nem direitos previdenciários dife- renciados. Consequentemente, fim do Regime Jurídico Único, que passa a ser Regime à atratividade do Regime do Con- trato de Emprego; 2) Flexibilização do Concurso Público, por meio de contrato de gestão, onde a contratação de pessoal em caráter temporário poderá dispensá-

lo; 3) Permitir a demissão de servidores estáveis, mediante indenização e com base em critérios fixados em lei, para dar cumprimento ao limite de gasto permiti- do na Lei Rita Camata, desde que sejam reduzidos antes os gastos com cargos comissionados e demitidos os servidores não-concursados, sem estabilidade. A principio, a permissão é limitada até 1998, mas o prazo podena ser ampliado por lei complementar; 4) Restrição ao repasse para Estados e Municípios de verbas para pagamento de pessoal.

O que fica claro analisando a demago- gia derramada acima, seria a extinção dos concursos públicos, substituídos por con- cursos de seleção com prioridade para o contrato temporário de trabalho. Mas tudo isto gira em tomo de uma única questão: depende da quebra da estabilidade.

O PT segue uma linha de alinhamen- to com a burguesia. As emendas da opo- sição, representada pelo PT, em nada têm o caráter de oposição à política neoliberal do governo FHC e, muito pelo contrário, seguem direitinho a cartilha da burgue- sia, mudando apenas os termos, deixan- do claro que a ordem dos fatores não al- tera o produto. Em suas emendas defen- de: garantia de estabilidade após três anos de exercício; demissão apenas por falta grave ou insuficiência de desempenho, mediante avaliação de desempenho regu- lar e periódico. Institui meios para asse- gurar a profissionalização da administra- ção pública: a) concurso público, como única via de acesso a cargos e empregos; b) critérios e requisitos para provimen- tos e fixação de proporção entre cargos

comissionados e cargos efetivos; c) ins- tituição de escolas degovemo voltadas à formação e aperfeiçoamento dos servi- dores; d) plano de carreira com critério definido e quadro geral de servidores em cada Poder. Possibilidade de contratos de gestão com empresas estatais, aumentan- do sua autonomia, respeitados os princí- pios constitucionais. Democratização das relações de trabalho, mediante negocia- ção coletiva na administração e possibi- lidade de delegação legislativa para im- plantação dos acordos. Permissão para descaitralização, mediante autorização legislativa em cada caso e garantida uni- versidade do acesso aos servidores. O PT não é contra a quebra da estabilidade.

A versão reformista da reforma ad- ministrativa, longe de barrar um dos ícones das reformas antipopulares, pro- cura melhorá-los - aliás, o que mais sabe fazer atualmente.

Ao primeiro item das emendas, defen- de a garantia de estabilidade após 3 anos de efetivo exercício. Admite ainda, as avaliações como meio de demitir os fun- cionários que estejam no período probatório (maios de dois anos) como aos que têm estabilidade, deixando a nu sua proposta, que é a quebra da estabilidade. Mais abaixo, defende que o governo crie escolas para formação e aperfeiçoamen- to de funcionários. De que servina a for- mação e o aperfeiçoamento, sendo que o trabalho tem o caráter burocrático, repetitivo e mecanicista? Plano de car- reira para que os funcionários passem de uma função à outra com grande ênfase à formação escolar, para que os funciona-

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rios ganhem umas migalhas a mais. O auge de insanidade é quando propõe uma comissão legislativa para implantação de acordos, retirando o direito dos funcio- nários de se organizarem enquanto enti- dade de classe - o sindicato.

Os sindicatos da CUT, cuja corrente dominante - a Articulação (PT), segue à risca as deliberações de seu partido e, ao invés de organizar as entidades ligadas ao funcionalismo para avançarem na luta pela manutenção de seus direitos, se-

gue a política da pressão parlamentar. Além de subordinar as reivindica-

ções da classe às pressões parlamenta- res promove carreatas à Brasília e atos isolados em todo o pais, onde apenas a casta parasitária da Central comparece.

As categorias ligadas ao funcionalis- mo devem rechaçar esta política de pres- são ao parlamento burguês e retomar as bandeiras abandonadas pelos reformis- tas burocratas, e lutar por: realizar As- sembléias Gerais conjuntas onde se dis-

cutam os problemas da categoria; usar os métodos próprios da classe e de ação direta para derrubar as reformas antinacionais e antipopulares do gover- no neoliberal de FHC; incorporação de todas as gratificações ao salário base, usando como índice o salário mínimo vi- tal de 1.500 reais; redução da jornada de trabalho para 6 horas diárias, sem diminuição dos salários; concursos pú- blicos já, para suprimir o quadro defici- tário do funcionalismo. □

Conquista/RJ - Nov/96 - N0 11

Trabalhadores combatem arrocho Servidores públicos, bancários, telefônicos, pessoal dos correios, petroleiros, metalúrgicos,

professores e eletricitários foram à luta no segundo semestre Olyiilhí) Conlenle

que acaba com a estabilidade no setor. Bancários arrancam 10,8%

Foi com uma greve nacional de nove dias que os bancários de bancos priva- dos decidiram responder ao arrocho dos banqueiros e do governo FHC. Desde o

Neste segundo semestre os trabalha- dores em campanhas salariais e mesmo categorias que estão fora de suas datas- base foram à luta pela melhoria dos seus salários, por mais empregos e contra a extinção de seus direitos. Com greves e grevilhas conseguiram alguns avanços, mesmo tendo pela frente patrões seguin- do à risca a política de forte arrocho do governo FHC.

No setor público - estatais e servido- res públicos - enfrentam uma queda-de- braço ainda mais dura, reforçada pelo recente pacotaço que extinguiu inúmeros direitos e prevê demissões em massa no funcionalismo público. Para combater o pacote, a CUT vem convocando todos os sindicatos a uma luta conjunta, a Cam- panha Unificada. Manifestações nacio- nais aconteceram nos dias 30 de outubro e 6 de novembro.

Servidores federais versus pacote

Já em luta pela reposição salarial ne- gada pelo governo há dois anos, os ser- vidores federais foram pegos de surpre- sa por um pacote que inclui a extinção de 100 mil cargos, mais 55 mil demis- sões "incentivadas" e o fim de inúmeros direitos. Atinge também os trabalhado- res das estatais, restringindo em 50% a concessão da reposição devida, limitan- do o valor da gratificação, da hora extra etc. Além do pacote, os servidores lutam contra a aprovação do substitutivo de reforma administrativa, de autoria do deputado Moreira Franco (PMDB-RJ)

início concebida para ser um movimento nacional que paralisasse as agências do centro das cidades, a greve, iniciada dia 26 de setembro, conseguiu quebrar a intransigência dos banqueiros.

Os bancários reivindicavam 21,08% de reposição, produtividade de 6,71%, participação nos lucros, redução da jor- nada para cinco horas, entre outras. A primeira proposta feita pelos agiotas ofi- ciais, no dia 11 de setembro, foi de 8% de reajuste, participação nos lucros de 60% do salário, mais R$ 270,00. Nada de abono. Após a deflagração da greve os banqueiros subiram o reajuste para 10% e depois 10,8%, mais abono de 45% sobre o salário. Participação nos lucros de 60% mais R$ 270,00.

Bancos oficiais Nos oficiais a luta está em andamen-

to. Alguns estaduais, como Banerj, acei- taram seguir a Fenaban. Nos federais, o governo mandou dar zero de reajuste. Face a isto, os bancários da CEF fize- ram cinco dias de greve, iniciada dia 17 de outubro. Os do BB pararam por 24 horas na mesma data.

Telefônicos e acetistas: unificação

Os trabalhadores da ECT e da Telebrás, subsidiárias e Embratel (tele-

fônicos), unificaram sua campanha sala- rial este ano. A data-base de ambas as categonas é Io de dezembro. Realizaram suas primeiras assembléias conjuntas em 17 de outubro. Têm nova assembléia dia 5/11. Como os demais trabalhadores es- tatais terão suas campanhas atingidas pelo pacotaço e pelas instaições do CCE (Comitê de Controle das Estatais). Vêm realizando paralisações-surpresa.

Encontro In teram erican o

A IPCTT (Internacional do Pessoal de Correios, Telégrafos e Tefefômcos) realizou no Rio a LU Conferàicia Conti- naital Postal, reiuiindo trabalhadores dos Correios de 23 países americanos. O en- contro decidiu orientar os sindicatos fili- ados ao JPCTT (254 em todo o planeta) a enviar ao governo FHC telegramas de apoio ao Dia Nacional de Luta contra o pacote, dia 6 de novembro.

Petroleiros: campanha continua

8,8% foi o índice proposto à FUP (Fe- deração Única dos Petroleiros) pela Petrobras. A categoria precisa de 22,71% para repor as perdas de um ano, fora os 6,21 % das inflações de julho e agosto de 95 não pagas pela empresa Os petrolei- ros reivindicam ainda produtividade de 12,47% e garantia de emprego. Fizeram paralisação de duas horas no dia 26 de setembro e vêm intensificando a mobilização. A campanha tem sido marcada pela total insensibilidade da Petrobras, leia-se, governo FHC.

A moda do fim do século nos pede para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"

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Quinzena N0 241 -30/11/96 12 Trabalhadores

Metalúrgicos: greve "kinder ovo"

Em campanha salarial, com data-base em Io de outubro, os metalúrgicos do Rio não hesitaram em lançar mão de greves surpresa ao receber dos patrões a pro- posta de 5% de reajuste. Apelidadas de greves "kinder ovo", pararam em cada dia da semana, uma fábrica. Conseguindo em sete dias, um pequeno avanço nas nego- ciações: além dos 5%, um "adiantamen- to" de 3% em janeiro. A tática vai se in- tensificar. Os empresários do setor naval

negaram qualquer reajuste. A categoria quer 19,57% de reposição, aumento real de 7% e produtividade de 10%.

Rede estadual de ensino Embora não tenham conquistado

melhorias salariais com seus mais de 10 dias de greve, os profissionais da rede estadual de Educação obrigaram Marcello Alencar a empossar 30 mil profissionais concursados. Esta era uma das reivindicações da greve iniciada em agosto e suspensa em setembro, além do piso salarial de 5 mínimos para pro- fessores e de 3,5 para pessoal de apoio.

Eletricitários: campanha salarial

Com data-base em Io de dezembro, os eletricitários iniciaram campanha sa- larial em setembro. Têm pela frente, como outros empregados em estatais, a mesma dificuldade; o arrocho de FHC e suas investidas contra os direitos do setor. A Federação dos Eletricitários já entregou a pauta unificada. Os principais pontos são: reposição integral das perdas; pro- dutividade de 18%, e participação nos lucros. D

Conquista/RJ -Nov/96 - N° 11

Amianto provoca câncer Brasil está entre os cinco maiores fornecedores de amianto do mundo.

Mas não há estatísticas desta doença invisível. Fernanda Cíiannasi

amianto no terceiro mundo é de 7% ao ano. Enquanto isso, nos países do Hemis- fério Norte tem ocorrido um acentuado declínio, com fortes restrições ao seu uso e mesmo a proibição em diversos deles.

União Européia quer banimento Nos países de capitalismo avançado,

em especial os da Unificação Européia, se discute o banimaito do amianto/asbes- to. Também se estruturam formas de descontaminação dos lugares onde foi empregado. No Brasil persiste o eterno imobilismo das instituições governamen- tais e do movimento sindical corporati- vista. Estes gastam energia e tempo de- batendo como usar este cancerígeno com segurança. Segurança para quem nos perguntamos?

Saiba o que é o amianto

O amianto é empregado no Brasil em milhares de produtos, mas principalmente na indústria de telhas e caixa d'água. O uso do amianto está em declínio no setor de autopeças. É utilizado também nas indústrias têxteis e químicas/plásticas.

O Brasil está entre os cinco maiores utilizadores e fornecedores de amianto do mundo, com uma produção média de 223 mil toneladas por ano. Um cidadão ame- ricano se expõe anualmente a lOOg de amianto, e os canadenses - segundo maior produtor do mundo - a 500g por ano. Um brasileiro, em média tem contato com 1.400g de amianto, no mesmo período.

Uso cresce mais no terceiro mundo

A tendência de crescimento do uso do

Pelo lado empresarial, um forte e com- petente lobby aproveita todas estas lacu- nas para empurrar goela abaixo da con- fusa opinião pública a tese de que a utili- zação do amianto no Brasil é completa- mente segura porque não há doentes.

O relatório realizado pelo Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (INSERM), órgão governamental fran- cês, desmistifica a tese das diferentes nocividades do amianto. Concluem os pesquisadores que sob todas as formas e tipos o amianto são cancerígenos.

Esta conclusão está na ongem da lei que proíbe, a partir de 1/1/97, a impor- tação, fabncação e venda de produtos que contenham o amianto em território francês.

Um produto indestrutível O asbesto ou amianto é uma fibra fi-

bra mineral natural sedosa. E largamen- te utilizada na indústria, principalmente na fabricação de telhas, caixas dágua, lonas e pastilhas dos freios dos carros.

A sua utilização é grande também em materiais plásticos reforçados, massas, tintas, pisos vinílicos, e outros.

O nome asbesto, de origem grega, sig- nifica incombustível. Já amianto, pala- vra de origem latina significa sem mácu- la ou incorruptível. As duas palavras se referem às propriedades físico-químicas que tomaram o amianto uma matéria- prima tão importante para a indústria.

São elas: - Alta resistâicia mecânica, especial-

mente à tração; - incombustível; - bom isolante térmico - resiste a al-

tas temperaturas; - alta resistência a produtos químicos

(não se decompõe) e a mcroorganismos; - boa capacidade de filtragem e de

isolação elétrica e acústica; - durabilidade e flexibilidade; - afinidade com outros materiais para

comporem matrizes estáveis (cimento, resinas e ligantes plásticos;

- resistência ao desgaste e à abrasão.

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Quinzena N0 241 - 30/11/96 13 Trabalhadores Cambota - Out/Nov/96 -N0 226

Governo esconde verdades sobre a reforma agrária Manifesto da Confederação Nacional dos Servidores do INCRA

A Confederação Nacional dos Ser- vidores do Incra divulgou um manifes- to buscando repor a verdade sobre a Reforma Agrária, Solicitamos autori- zação da CNASI para, sem desvirtuar a intenção do documento, publicar as partes que julgamos importantes. Cer- tos de que o texto é fundamental, para toda sociedade, o INESC se coloca à disposição de quem quiser obter o tex- to na íntegra.

As visíveis contradições entre o dis- curso e a ação, não mais permitem ao Governo esconder a sua falta de vontade politica em executar a reforma agrária ou mesmo conduzir com seraiidade as nego- ciações com o MST, que são forçados a ocuparem áreas improdutivas ou estabe- lecimentos públicos como forma de cha- marem atenção para sua trágica situação.

O descaso Governamental, marcado pela ausência de um verdadeiro progra- ma de reforma agrária, tem sido, junta- mente com a impunidade, a causa maior da violência que se abate sobre o campo e da situação de desespero de milhares de famílias que se encontram anos a fio sob condições sub-humanas de vida, no aguardo das providências do Estado.

Destacamos o fato de que o Incra é manipulado por forças contrárias aos seus objetivos e em apenas 1 (um) ano e 9 (nove) meses nada menos do que 5 (cin- co) presidentes assumiram o cargo. A esta absurda descontinuidade administra- tiva aliam-se os cortes de recursos reali- zados pelos setores econômicos às pro- postas do Incra, sem falamos contingen- ciamentos a que são submetidos os orça- mentos após a aprovação pelo Congres- so Nacional. Os créditos autorizados são liberados a base conta-gotas, conforme a alegada disponibilidade financeira, fi- cando a liberação de mais da metade des- ses recursos reservada para os três últi- mos meses do ano, quando o Incra, não mais dispõe de tempo hábil para excutar o programa de todo um exercício.

Dos 3,2 bilhões de reais requeridos pelo Incra para 1996, só foram aprova- dos 1,5 bilhões ou 47% , com apenas 871,5 milhões reservados as ações dire-

tas de reforma agrária, assim distribuí- dos: 400 milhões em títulos da dívida agrícola - TDA's e 471,5 milhões em moeda. Desses 871,5 milhões, o Incra só contava, até o final de agosto, efetivamen- te com 223,9 milhões ou 26%. Este fato resultou num quase total engessamento da instituição, atenuado pelos seus recur- sos próprios, ora ameaçados de desapa- recerem, em razão do projeto de lei N" 1.724/96, encaminhado pelo Governo ao Congresso Nacional. Dos 647,6 milhões restantes, ou 74% dos 871,5 milhões re- servados à reforma agrária, 100,6 milhões acham-se bloqueados até a presente data; já os 547,0 milhões que representam a fatia maior, entre as quais se encontram os 400 milhões de TDA's só foram libe- rados para inclusão no Orçamento a par- tir de 26 de agosto, por força de Decreto Presidencial.

O Incra, apresentou um baixo desem- penho e o comprometimento das medi- das anunciadas, pois até o início de se- tembro, cerca de 70% desses recursos reservados à reforma agrária ainda se achavam indisponíveis por culpa e res- ponsabilidade exclusiva do Governo.

Ao invés de ocupar a mídia com o propósito de encobrir suas omissões e desviar a atenção da sociedade para incriminar o MST de supostamente aten- tarem contra o estado de direito, ou res- ponsabilizar os servidores do Incra pela lentidão do cumprimento de suas metas, o atual governo bem que podia adotar uma tentativa, inovadora em relação aos seus antecessores: assumir plenamente o programa de Reforma Agrária, apropri- ando de forma eficiente e em tempo há- bil os recursos financeiros, materiais e humanos necessários a sua execução.

Desta forma, a Confederação Nacio- nal das Associações dos Servidores do incra (CNASI) interpela como inconseqüentes as atitudes do Governo em responsabilizar publicamente o Incra pela morosidade na implementação das ações de reforma agrária, acusações essas não condizentes com a realidade já enfocada, bem assim o fato de ter suspendido o di- álogo com o MST sob a alegação de este

atentar contra o estado de direito, contra o patrimônio público e contra a integri- dade dos servidores do Incra.

A propósito, cabe afirmar que as pres- sões do MST não se constituem em ame- aças da segurança pessoal dos servido- res do Incra, nem ao seu patrimônio, haja visto o fato desta situação perdurar a mais de 10 (dez) anos, sem que se tenha notí- cias de qualquer incidente mais sério, a despeito de alguns excessos perfeitamente contornáveis via diálogo.

Por último, entende a CNASI que a insegurança maior tem a ver tão somai- te: com as ameaças de demissão e dispo- nibilidade anunciadas pelo próprio Pre- sidente da República e recepcionados pela proposta de Reforma Administrativa que aponta para o fim da estabilidade, numa clara intenção em ampliar o processo de privatização dos serviços públicos; com a transgressão aos direitos adquiridos imposta aos servidores ativos e inativos através de Medidas Provisórias; enfim, com a falta de condições de trabalho e o próprio desaparelhamento em que se acha mergulhado o Incra, exposto ao mais absoluto descrédito junto à opinião pú- blica e aos beneficiários das ações de re- feamaagtárH. □

Acampamentos 1996

* Fazenda Perseverança: Marmeleiro 27 famílias - 956 hectares * Fazenda Lufasi: Marmeleiro 17 famílias- 140 alqueires * Fazenda Reserva: Marmeleiro 40 famílias - 300 hectares * Fazenda Jaciretã: Renascença 39 famílias - 695 hectares * Fazenda Marrecas: Francisco Beltrão 230 famílias - 1998 hectares * Fazenda Giacomett: Rio Bonito do Iguaçu 2.000 famílias - 83.000 hectares * Fazaida Curi: Chopinzinho 102 famílias

A moda do fim do século nos pede para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"

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Quinzena N0 241 -30/11/96 14 Trabalhadores

Jornal da USP - Opinião -11 a 17/11/1996 - N0 370

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qnalquer natureza, reza o art. 5o da Constituição da República. Por- tanto: "as cotas são inconstitucionais!", bradam alguns juristas, segurando a es- pada da justiça com as duas mãos e bran- dindo a regra, como se fosse um tacape, que deve rachar a cabeça do indio da tribo inimiga. No entanto, as coisas não são tão simples, como passamos a demonstrar.

Antes de mais nada, cumpre dizer que o pensamento jurídico moderno tem uma vertente normativista que dá valor exces- sivo à segurança jurídica. De fato, dian- te da arbitrariedade do Ancien Regime, ninguém de bom senso deve desprezar o valor "segurança", garantido principal- mente pela lei. A lei representa a substi- tuição da vontade pessoal do soberano pela decisão impessoal do povo. Toda- via, justamente pelo seu caráter abstra- to, um entendimento literal e rígido do texto legal acaba por destruir o valor maior, essa espécie de estrela que qual- quer lugar e em qualquer tempo, que é a justiça. Toda lei, para ser aplicada, exi- ge um processo intelectual de ir e vir, do abstrato ao concreto e do concreto ao abstrato, que se chama interpretação.

Ora, no caso das cotas, estamos di- ante de dois entendimentos diferentes do pnncipio da isonomia; de um lado, os que defendem a igualdade formal dos cida- dãos e, de outro, os que defendem a igual- dade substancial. Vale testemunhar: dan- do aulas há 28 anos na Faculdade de Di- reito da USP, numa média de 250 alunos por ano, devo ter tido aproximadamente 7.000 alunos, dos quais nem mesmo cin- co eram negros (digo melhor, "negros brasileiros", porque os estudantes-convê- nio, para o caso, não contam). Eis aí a questão: o que é que destrói a igualdade entre os cidadãos, o fato de não ingres- sarem negros numa universidade mantida com dinheiro público, ou a regra que lhes reserve cotas, num total de 10%, nos cur- sos dessa universidade9

Há, no sentido das cotas, cujas vagas no vestibular teriam, evidentemente, nota de corte mais baixa que a dos restantes 90%, um projeto, defendido por um gru- po de negros e negras da USP, reunidos

Cotas para negros Anlimii) .limqiieira de Azevedo *

no Comitê Pró-Cotas. A questão, por outro lado - o lado oficial -, está em dis- cussão no Grupo de Politicas Públicas, junto à Pró-Reitoria de Cultura e Exten- são, sob presidência do professor Jacques Marcovitch. Continuemos.

Não deixa de ser interessante colocar junto ao importantíssimo art. 5o da Cons- tituição da República, acima citado, o ait.206, relativo à educação, que, no inciso I, detennina que o ensino será ministrado com base no princípio da "igualdade de condições" para o acesso e pennanâicia na escola. Contra o entendimento literal de igualdade, opõe-se o paisamento, sem- pre lembrado, de Rui Barbosa, que sus- taitou consistir a igualdade em dar trata- mento igual aos iguais e tratamento desi- gual aos desiguais, na proporção da desi- gualdade. A própna Consituição não per- maneceu cega ás diferaiças reais. E ela mesma que, depois de determinar a igual- dade entre homais e mulheres, dístingue- os, por exemplo, para efeitos de aposai- tadoria, permitindo proventos integrais, para o homem, após 35 anos de trabalho e, para a mulher, após 30 (art. 202, II). Também não vimos naihum jurista sus- tentar a inconsitucionalidade - sempre exemplificando - do ait. 183, XII, do Có- digo Civil, que proíbe o casamaito das mulheres, se maiores de 16 anos, e dos homais, se maiores de 18. Além do sexo, as leis distinguem as pessoas também pela idade e ora exigem, para certos cargos, limite mínimo (por exemplo, na própna Constituição, 35 anos, para ser ministro do STF) ora, máximo (idem, 65 anos). Os tribunais admitem pacificamente pré-re- quisitos para concurso, até mesmo dan- do preferência a quem veio da escola pública, diante de quem veio da escola particular (veja-se o teor de acórdão de junho de %, na apelação n0 245.792-1/4 do TJSP). Como se percebe, contra pos- síveis excessos de juristas normativistas, o principio da igualdade não é o famoso leito de Procusto, assaltante violento que, não contente com tirar os bens das viti- mas, as igualava, sob tortura, deitando- as numa cama de ferro e lhes cortando os pés, se elas fossem maiores que a cama, ou as esticava á força, se fossem meno-

res. A regra da igualdade, bem interpre- tada, não tem rigidez procusteana que impeça as cotas.

Passando a outros aspectos, as cotas não deixam de ser uma compaisação pelo que foi feito e - isto é importante - pelo que não foi feito, por ocasião da Abolição, aos bra- sileiros descaidaites de africanos. Essa si- tuação não se compara com a de descai- daites de imigrantes, eis que este vieram para o Brasil voluntanamaite, tiveram al- gum apoio do Estado e nunca foram escra- vizados. Mutatis mutcaiáis, o mesmo se aplicar aos índios que também não tiveram, e não têm, o mesmo tratamaito dos negros.

As cotas, portanto, não são um prê- mio a uma etnia, e sim, repetimos, uma compensação para uma situação injusta. Esta reserva de 10% poderia, aliás, para evitar alegações de racismo - de negros ou não negros -, ser feita, formalmente, a descendentes de pessoas que foram es- cravizadas em séculos passados (isto significa que, em tese, se alguém conse- guisse provar que seu ascendente, ape- sar de branco, foi escravo no Brasil, tam- bém poderia concorrer ás cotas. A ques- tão não é, pois, de raça). Para os negros, incluindo nessa palavra, independente- mente da cor da pele, todos os que te- nham algum ascendente africano, seria criada uma presunção legal, isto é, have- ria dispensa de qualquer prova de que o ascendaitetenha sido escravo, seguindo- se a automática permissão para concor- rer ás vagas das cotas.

CumpiEeailaiHHqpatafrBlizar: a) 90% das vagas continuariam disputadas normalmente e somente 10% é que seri- am para concorrência entre candidatos naquelas condições (a concorrência, por- tanto, continuaria aberta tanto para os 90% quanto para os 10%; b) ninguém, afro-descendente, seria obrigado a se apresentar para o vestibular pelas cotas (o que respeita a liberdade individual); c) cotas teriam prazo de vigência de vin- te e cinco anos e, depois, se faria uma revisão da regra ("lei-experiência"- téc- nica normativa modema que, entre ou- tros paises, a Argentina usou para a lei de arbitragem e Portugal, para revisão, a cada cinco anos, da Constituição); e) de-

"A moda do fim do século nos pede para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"

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Quinzena N0 241 -30/11/96 15 Economia

pois do vestibular, aos ingressantes se- ria dado um acompanhamento especial para eliminação das possiveis dificulda- des. Por fim, a questão sobre "quem é afro-descendente" poderia ser respondi- da com simplicidade: seriam considera-

dos afro-descendentes, em principio, to- dos os que assim se autodeclarassem, isto é, todos os que, independentemente da cor se inscrevessem para o vestibular no gru- po das cotas - somente após os resulta- dos, é que, se houvesse dúvida, o apro-

vado seria, a seu risco, investigado. G

* é professor titular de Direito Civil da Fa- culdade de Direito da USP. É autor de Ne- gócio Jurídico: Ebcistência, Validade e Efi- cácia, além de outros livros jurídicos.

Documento - Gurupi - 05/11/96

O real e a globalização O capitalismo está reorganizando o

mundo e mudando seu centro político e econômico. E sempre que muda o cen- tro, tem que mexer na periferia. A recei- ta é o neoliberalismo, pregado onde não existe mais autonomia nacional.

No Brasil, as elites aceitaram com FHC para cumprir as três regras neoliberais: reestaituração do projeto econômico, ajus- te fiscal e privatizações. O principal desa- fio para a elite é a sustaitação do real, só ele manterá a credibilidade ao seu gover- no, além das refonnas constitucionais (uma das formas de viabilizar a reestaituração econômica) e as privatizações.

O grande problema, aitão, passa a ser o politico: quem irá comandar a reestrutu- ração do projeto econômico, o reajuste e a sustentação do real? E nesse contexto que hoje se discute a reeleição de FHC e todas as "reformas" pregadas.

"O governo FHC, seguindo os exem- plos de Maien e Fujimori, apresenta a tese de reeleição como o único caminho da estabilidade politica supostamente necessária para concluir o projeto de ajus- te neoliberal do capitalismo brasileiro. O que não deixa de ser verdade pois as re- formas constitucionais foram travadas, em vários aspectos, no Congresso, mui- to mais por divergências no campo do- minante do que resultado da articulação das forças sociais e politicas progressis- tas para derrotá-la.

No campo econômico a grande ten- dência da conjuntura hoje é a volta da privatização da divida externa (onde os agentes econômicos privados contraem empréstimos no exterior). Isso é a prova cabal que o Plano Real está dando tão certo para iniciativa privada, que ela pró- pria está pegando o dinheiro externo, ali- viando o governo e desonerando o setor público.

Mas é preciso observar que mesmo esse capital estrangeiro que está entran- do no pais é muito reduzido em se com-

Panh Henrique Cosia Maltas *

parando o montante de capitais privados que estão sendo investidos. Para se ter uma idéia a previsão de investimentos do capital privado para 1997 é de cerca de 180 bilhões de dólares, disso somente 6 bilhões serão de capitais estrangeiros.

O Brasil somaite em 1995 pagou 21,7 bilhões de juros e amortizações de sua divida externa. Isso era mais do que o previsto no Plano Real e deveu-se ao in- cremento das remessas de royalties e pri- meiras repercussões da Lei de Pataites. Um envio maior é esperado para 1996.

Não foi atoa que as bases de uma al- teração drástica na política brasileira começaram justamente com a assinatura dos acordos da Dívida. A aceitação dos novos mecanismos de financiamento in- ternacional solidificaram ainda mais a dominação do país.

O acordo que o Governo FHC fez para renegociação da divida compromete o país até o ano 2020, acelera o enxuga- mento do Estado e abre as portas para um maior endividamento do pais. Sem contar que esse comprometimento se dá inclusive pelo monitoramento do FMI e Banco Mundial.

Em 97 persistirá e até se aprofundará o déficit do setor público. Cálculos mais tímidos indicam um déficit na casa dos 2,5% (o equivalente hoje a R$ 20 bi- lhões) do Produto Interno Bruto (PIB soma das riquezas nacionais, que deve atingir cerca de R$ 800 bilhões em 1997). Já circulam no Banco Central e Ministério da Fazenda previsão de défi- cit na ordem de 3,5% (R$ 28 bilhões) no fechamento de 1996.

Grande parte do rombo público é de responsabilidade dos Estados, que rejei- tam o amargo remédio da renegociação das dívidas estaduais proposto pela equi- pe econômica". Somente no primeiro se- mestre de 1996 União, Estados, Municí- pios e estatais gastaram R$ 12,839 bi- lhões a mais do que arrecadaram. Esta-

dos e Municípios tiveram déficit de R$ 7,069 bilhões, o Governo Federal de R$ 4,782 bilhões e as estatais, de R$ 987 milhões.

Gastando mais do que arrecada o go- verno é obrigado a tomar dinheiro em- prestado nos bancos - que passam a ter menos recursos para investir na produ- ção. O país fica mais dependente de re- cursos externos porque não há poupan- ça interna suficiente para financiar o déficit dos governos federal, estaduais e municipais.

A comprovação evidaite da persistâi- cia do déficit público é o Orçamento da União para 1997. Este "Orçamento será cerca de 500 bilhões de reais, contudo cerca de 203 bilhões de reais será para o pagamento da dívida interna e 6 bilhões para a dívida externa. Somente o setor público brasileiro gastará 25 bilhões de reais para pagar juros da dívida externa einterna".

Isso toma bem evidente uma tendên- cia iniciada a partir dos anos 80, a ex- ploração do capital cada vez mais se dan- do diretamente pelo pagamento de juros da Dívida Externa. Os outros mecanis- mos principais para a exploração do ca- pital, que tendem também a aumentar cada vez mais é a taxa dos royalties, com a tecnologia moderna vindo para o Bra- sil mas com o pagamento cada vez maior dos royalties, e o controle de mercado (dado como livre e sem ingerâicia do Estado no neoliberalismo) onde serão vendidas mercadorias cada vez mais com- petitivas com a indústria local.

A análise geral do orçamento de 1997 mostra que será tirado dinheiro das ati- vidades fins para rolagem e pagamento da dívida interna. Além disso, como será preciso arranjar dinheiro para cobrir o déficit público, o governo com certeza vai acelerar as privatizações, onde é espera- da uma receita de cerca de R$ 8 bilhões com a venda de empresas estatais. Sem

moda do fim do século nos pede para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"

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Quinzena N0 241 - 30/11/96 16 Economia

falar no fim dos bancos estaduais e na privatização de empresas-chaves como a Petrobrás e a Vale do Rio Doce. FHC tem afirmado que isso é previsão catas- trófica da esquerda burra, contudo terá que fazer isso para garantir a manuten- ção da estabilidade do Plano Real.

Outro indicador negativo na economia é a projeção de um rombo na balança co- mercial na ordem de até US$ 5 bilhões no final de 1996, embora os Ministérios da Fazenda, do Planejamento e o Banco Cen- tral afirmem que o défiat ficará entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões, de qualquer forma um recorde deficitário, decorrente das importações acima das exportações. Em 1997, ficaria acima disso, podendo entrar na casa dos US$ 5 bilhões. A justi- ficativa que FHC apresaita, para compai- sar o déficit na balança comercial é de que a entrada de investimentos extemos aju- dará a compensá-lo.

De qualquer forma o Brasil terá que queimar uma parcela de suas reservas cambiais, hoje em tomo de US$ 55 bi- lhões de dólares, para financiar o buraco provocado pelas importações. E isso não é considerado um bom sinal.

A paridade dólar/real inexiste, a mo- eda brasileira na prática vale hoje US$ 1,80. Mas a maior contradição, nesse setor, é que se o governo brasileiro me- xer na taxa de câmbio, pode levar o Pla- no Real à bancarrota, por isso o Gover- no manterá o Plano sustentado na taxa de câmbio mesmo que o rumo da econo- mia continue gerando falências e consequentemente desemprego. Para manter a moeda nacional sobrevaloriza- da, em relação ao dólar, o Banco Central precisa continuar acumulando e manten- do elevada reserva em dólar. Contudo há uma tendência a desvalorização do real

frente ao dólar, que deve ocorrer em rit- mo lento, a desvalorização anual (1996) não deve passar de 8% e em 1997 esse percentual pode ser até maior.

Para manter a moeda estável e tentar assegurar a reeleição o governo planeja demissões em massa das máquinas ad- ministrativas dos governos federal e es- taduais. O governo conseguiu aprovar depois de 15 meses, em comissão especi- al da Câmara, a emenda constitucional da reforma administrativa. Esta emenda prevê, dentre outras coisas, a quebra da estabilidade no emprego do servidor, o fim da isonomia salarial entre os três poderes, a extinção de cargos e a demis- são de 27,5 mil funcionános públicos sem estabilidade.

A política econômica brasileira não vai resolver os problemas sociais embo- ra o PIB (Produto Interno Bruto) conti- nue crescendo de 2 a 3% ao ano. Além disso prosseguirá a abertura de mercado e a inundação de produtos chineses ou de outros paises em larga escala em nosso mercado.

Está ocorrendo hoje no Brasil um ver- dadeiro processo de desindustrialização, não escapa nem as empresas nacionais mais modernas e que se utilizam de tecnologia avançada. O exemplo maior disso foi a venda da Metal Leve para sua concorrente alemã.

O "crescimento econômico", que segu- ramente tem fôlego pelo maios para mais dois anos as custas dos US$ 55 bilhões de reservas cambial brasileira pennanecerá a quebradeira de pequaios, médios e al- guns grandes empresários, resultante da manutaição da taxa de câmbio nos pata- mares atuais (que provocou em 1996 a falência de grandes magazines, o fecha- maito de 15 mil pequaias e médias em

presas e deixou mais 300 mil na fila para o mesmo fim). Além de manter o desem- prego, a inadimplência dos mutuários do sistema habitacional e o agravamaito da falta de políticas públicas.

A tendência das taxas de juros é de que deverão cair um pouco mais. A deste ano deve ficar em tomo de 24% ao ano e em 1997, pode cair para menos de 20%, mas de qualquer forma ficará acima de 15%. Uma das maiores do mundo! Nem a máfia italiana chega a juros desse percentual.

"A perspectiva é de que a inflação permanecerá em um digito. Há dois ce- nários desenhados pela equipe econômi- ca de FHC. No mundo deles, a taxa esta- ria entre 6% a 8%. No pior, de 8% a 9%".

E preciso percebermos com urgência que toda essa conversa sobre integração e globalização da economia, competitivi- dade e modernidade não passa da pers- pectiva do velhíssimo imperialismo em tentar fazer alguns países, dentre eles o Brasil, renunciarem a um projeto autô- nomo de condução de seu destino, por fim a perspectiva de ser nação e estabele- cer um desenvolvimento auto-sustentá- vel, sem endividamento e dependência externa.

Enquanto as transformações produti- vas e as mudanças organizacionais con- duzem rapidamente á virtual liquidação de importantes setores da indústria naci- onal, reduzindo o país á condição de neo- colônia e contrariando a perspectiva de construção de um projeto de desenvolvi- mento nacional baseado na soberania, o presidente se limita a produzir análises sociológicas sobre o vértice inexorável da globalização. 1

* É assessor do IFAS - G uni pi

Folha de São Paulo - 02/Dezembro;i996

"Reeleição não é crucial à estabilidade" Scheinkman, da Universidade de Chicago, e Pettras, da Universidade

de Nova York, avaliam FHC

O economista José Alexandre Scheinkman, chefe do Departamento de Economia da Universidade de Chi- cago (EUA), diz que, "dependendo do custo, pode não valer a pena aprovar a reeleição".

Jfiíia Catlns tlc Olivcirti c Kcnncí/y Alencar

Não prívatizar a Vale do Rio Doce seria um custo excessivo. "Não tanto pela Vale em si, mas pelo que isso sinaliza no futuro".

Morando nos Estados Unidos desde 1973, o carioca Scheinkman, 48, acha

que seria um caminho arriscado apostar todas as fichas na aprovação da emenda dos sonhos de FHC: "O que a gente vai fazer em fevereiro e março se a reeleição não tiver passado'7".

Para ele, as medidas econômicas do

A moda do fim do século nos pede para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"

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Quinzena N0 241 -30/11/96 17 Economia

governo brasileiro estão no rumo certo, mas não no ritmo desejado. Na sua avali- ação, portanto, pode surgir um nome na sucessão presidencial de 1998 que repre- sente, mais do que FHC, os anseios da comunidade internacional.

Leia os principais trechos de sua en- trevista à Folha:

Folha - Como a comunidade inter- nacional está acompanhando o debate da reeleição no Brasil?

José Alexandre Scheiiikman - Espe- ro que o Brasil já tenha uma maturidade política tal que não tome esse debate tão crucial. Evidentementeéimportante: pode decidir quem será nosso próximo presi- dente. Mas eu acho que nem o Brasil vai cair em uma crise se a reeleição não pas- sar, nem vai sair de uma crise se tiver re- eleição. E muito importante não focalizar demais essa questão da reeleição como crucial à estabilidade. O que a gente vai fazer se chegar em fevereiro ou março e a reeleição não tiver passado9

Folha - Mas o ministro Antônio Kandir (Planejamento) chegou a prever que a economia poderia crescer até 9% com a reeleição.

Scheiiikinan - Olha, só a aprovação da reeleição é pouco para mudar nossa taxa de crescimento.

Folha - A comunidade internacional não vê FHC como o grande avalista do Plano Real? Sem ele, o Brasil não vira uma incógnita?

Sclieiiikinaii - E uma incógnita por- que não se sabe quais serão as alternati- vas. O presidente está praticamente na metade de um mandato. Mas, suponha que, de repente, apareça outro político, com possibilidade de ser eleito, que esteja disposto a privatízar mais rapidamente, a abnr a economia mais rapidamente, a cor- tar um déficit fiscal mais rapidamente?

Folha - O custo da reeleição não é uma outra incógnita?

Sclieinkiiiaii - Temos de aitender o que vai ser preciso fazer para que esse Con- gresso aprove a reeleição, isso não está claro Depois de tudo feito, vamos saber se a reeleição valeu a pena.

Folha - O processo depende do custo?

Scheinkman - Certamente. Por exem- plo, não privatízar a Vale eu já acho um custo excedente. Não tanto pela Vale em si, mas pelo que isso sinaliza no futuro.

Folha - Qual é a imagem do gover- no lá fora?

Scheinkinan - As reformas em geral podenam ter ido mais rápido. O Brasil já poderia ter uma situação fiscal mais ga- rantida a longo prazo. Já podena ter ido mais longe na privatização. Já podena ter tido maior sucesso na reforma da Previ- dência. Agora, ao mesmo tempo, é aitai- dido também que o governo atual é favo- rável a essas reformas. E isso é positivo.

Folha -/l incerteza política poderá provocar saída de capital?

Sclieiiikainn - As incertezas estão todas no preço. Se você olhar os "bradies" (títulos da dívida externa) vai ver que existem diferenças de preços. Os títulos mais longos pagam juros maio- res. Por quê9 Porque há mais incerteza no futuro do que no presente. Se ela vai subir ou descer vai depender da alterna- tiva que for escolhida.

Folha - Como é vista no exterior a alternativa Maluf?

Scheiiikinan - Eu nunca conversei com alguém sobre o Maluf. Vi uma cita- ção na "The Economist", de que ele é um populista de direita. Foi tudo o que eu vi.

Folha -Ea chamada alternativa de esquerda?

Scheinkiiiaii - Qual a proposição da esquerda no Brasil hoje em dia9 Sei que eles são contra. Mas não sei exatamente do que eles são a favor. Vão ter de ser a favor de alguma coisa. Quer dizer, a Previdência como está, não pode conti- nuar. O déficit fiscal do tamanho que está não pode continuar.

Folha - Setores de esquerda acham que houve uma abertura econômica excessiva. O deputado Delfim Netto (PPB-SP) também e defende mudan- ças no câmbio.

Sclieiiikman - A taxa dejuro real que foi preciso ser usada no Brasil ocasio- nou, entre outras coisas, uma certa va- lorização do real em relação ao dólar.

A solução para isso passa pela redu- ção do déficit fiscal. Eu não sei exata- mente o que o Delfim Netto pensa, mas acho que concordaria que uma diminui- ção do déficit fiscal traria uma melhoria profunda

A queda do juros e, provavelmente, acompanhando isso uma valorização do dólar em relação ao real melhoraria a posição de certos setores exportadores.

Agora, o Brasil é um país extremamente desconectado do resto do mundo.

A soma das exportações e importa- ções dividida pelo PIB (Produto Interno Bruto), que é uma medida da abertura, ficava em 20% no Brasil em 1980. Caiu para 15%, em 1994. Na China, esse nú- mero se aproxima de 50%.

Folha - O sr. acha que o Brasil está ficando parecido com o México?

Scheinkinan - Não. A situação do Brasil é bastante diferente da situação do México. Por que o governo está se endi- vidando? Por causa do déficit fiscal. Por que o juro está alto? Porque o governo tem de se financiar. O déficit fiscal, se não for resolvido, não a curto prazo, mas a médio e a longo prazo, vai trazer pro- blemas. O pais está se endividando, o que isso quer dizer9 Que, no futuro, o gover- no vai ter uma divida maior e, portanto, um serviço da dívida maior, mesmo que os juros caiam.

Folha - E uma bomba de efeito re- tardado?

Scheinkinan - Não seria uma bom- ba. E um veneno de efeito retardado. É uma coisa que deixará doente e pior de saúde no futuro.

Folha - A Vale deve ser privatizada mesmo dando lucro?

Scheinkinan - A questão não é se uma empresa dá lucros. E se ela paga o custo alternativo de financiamento. A taxa de retomo da Vale, pelo que vi, não é com- parável com o que custa ao govemo sae financiar. O que acontece com o empre- sário que toma dinheiro para empregar num negócio, cuja taxa de retomo é mais baixa do que o custo do empréstimo9

Folha - Mas a questão essencial não é que, se todas as empresas forem privatizadas, e todo dinheiro usado para cancelar dívidas, ainda assim vai sobrar dívida?

Sclieínkman - Hoje, no Brasil, os gas- tos com juros crescem mais do que a eco- nomia. É uma situação explosiva. Você não resolve isso vendendo nada Então, para resolver esse problema, você preci- sa diminuir seus gastos. Temos de dimi- nuir e redirecionar os gastos, investindo em saúde e educação. Agora, existe um estoque de divida. Tudo o que você con- seguir diminuir daquele estoque represai- ta uma necessidade menor de redução de outras despesas.

'A moda do fim do século nos pede para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"

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Quinzena N0 241 -30/11/96 18 Economia

Folha - O Brasil, para crescer, não precisa mexer no câmbio e admitir um pouco mais de inflação?

Scheinkman - Olha, o meu colega Robert Lucas ganhou o Prêmio Nobel de Economia no ano passado. Ele demons- trou, nos anos 70, que é impossível você usar a inflação como mola para o cresci- mento. Que isso era uma ilusão estatisti

ca, uma besteira teórica. Qualquer um que hoje esteja falando isso parou de ler economia por volta de 1973.

Folha - O sr. acha o déficit comerci- al preocupante ?

Scheinkman - O que é realmente im- portante não é a taxa de crescimento do mês, a taxa de câmbio do mês, o déficit do mês. O importante é se o Brasil está

tomando as medidas necessárias para, no longo prazo, crescer e aumentar o salário real da economia. Acho que muito pior do que o déficit comercial foi a notícia de que o Brasil ficou fora da Internet por dois dias. Demonstra que estamos com um setor de telecomu- nicações que não é compatível com o crescimento. O

"FHC é executivo de investidor estrangeiro " Fernando Henrique Cardoso, de um

político preocupado com o avanço do conservadorismo nos partidos de centro- esquerda, transformou-se no mais apli- cado executivo dos grandes investidores estrangeiros.

E o que diz o Cientista político norte- americano James Pettras, autor de 25 li- vros sobre movimentos sociais nos EUA, Europa e América Latina e um dos mai- ores críticos do neoliberalísmo.

Pettras, 65, é professor da Universi- dade Estatal de Nova York. Foi, na dé- cada de 80, membro do Tribunal Russell contra a repressão na América Latina.

Durante sua estada no Brasil, na se- mana passada, ele deu a seguinte entre- vista à Folha.

Folha - Há seis anos, o sr. teve uma reunião com o então senador FHC. Como vê o seu interlocutor de então na Presidência?

James Pettras - Nosso pensamento político tem hoje pouco em comum. FHC deu uma guinada forte para o espectro conservador. Há poucos pontos em co- mum para uma conversa hoje.

Folha - O presidente, a seu ver, mu- dou muito?

Pettras - Dramaticamente. Em nossa conversa em 1990, ele se queixava que o PMDB estava sendo dominado por polí- ticos dispostos a transformá-lo em con- servador. Ele me disse que por isso esta- va no PSDB, que seria autenticamente democrático e socialista.

Conversamos sobre suas preocupa- ções: desigualdades econômica e social, reforma agrária. Isto está muito longe de suas alianças com o PFL e de sua apro- ximação com as multinacionais.

Folha - Qual é a sua impressão do Brasil sob FHC?

Pettras - Ele é provavelmente o exe- cutivo mais aplicado e convincente que

Anlonio Carlos SeiJl

os grandes investidores, banqueiros e agribusiness terão neste século.

Folha - Por que? Pettras - Da perspectiva de Wall

Street, ele é um presidente ideal, capaz de impor diretnzes contra os sindicatos, que limitam salários e reduzem programas sociais com o objetivo de fazer o mercado de capitais brasileiro muito atraaite.

Folha - Quais são as conseqüências dessa política?

Pettras - A curto prazo, o Brasil vai ser um lugar muito aprazível para o in- vestimento estrangeiro.

A General Motors e grandes investi- dores estão olhando para o Brasil como um mercado emergente. Transformam o país, com toda a sua complexa estrutura social, em apenas um mercado.

Folha - É a médio prazo? Pettras - A médio prazo, teremos um

desafio a essas políticas. O mais notável é o MST (Movimento dos Sem Terra), que começa a tomar iniciativa para en- contrar um modelo alternativo, de coo- perativas de produtores de pequeno por- te, abastecendo mercados locais e absor- vendo mão-de-obra.

Temos nos EUA ecologístas e femi- nistas, que lidam com estilo de vida, em vez de lidar com questões econômicas fundamentais.

Acho que se tivéssemos um movimen- to como o MST, Nova York não seria o equivalente de Calcutá, onde há padrões de vida de 50 ou 60 anos atrás no Harlem.

Folha - Quais são as características importantes do MST?

Pettras - E a crença na ação social oiganízada. Planejam muito bem seus atos e combinam mudanças sociais com pro- dução. Não querem favores do Estado.

Tem uma visão do futuro para o resto da sociedade, não apenas para si próprios.

Folha - O sr. acredita, então, que o MST vai conseguir avançar?

Pettras - E a única história de suces- so no assentamento de famílias. Conse- guiram o assentamento de cerca de 140 mil delas. Eu visitei algumas das coope- rativas.

A solução para a violência e o crime passa pelo modelo do MST. É a solução para impedir a migração rural para as áreas urbanas.

Folha - Como o sr. analisa os pri- meiros dois anos do Plano Real?

Pettras - Está salvando o sistema fi- nanceiro, mas matando a economia ver- dadeira. O Brasil é capaz de obter uma taxa de crescimento de pelo menos 7% a 8%. Mas está virtualmente estagiado.

A indústria opera perto da capacida- de plena em alguns setores, mas há uma taxa elevada de falência de pequenas e médias empresas. Os pequenos empresá- rios e os desempregados estão se trans- formando em importadores e vendedores de bens importados.

Acho que o real , do ponto de vista da estabilidade monetária, é excelaite, mas com um tremendo custo para a economia.

O aquecimento do consumo é ampla- mente baseado em crédito e importações baratas. Essa não é a melhor maneira de construir uma economia durável.

A estabilidade do real é boa para os grandes banqueiros e empresários, mas está tolhaido as exportações brasileiras e investimentos significativos. Se não mu- dar, o país caminha para o tatcherísmo.

Folha - Por que? Pettras - O modelo neoliberal na

América Latina é um tipo de tatcherísmo, semelhante ao da Inglaterra, onde as de- sigualdades sociais aumentaram.

E para isto que, apesar de alguma retórica social, o Brasil de FHC está caminhando

A moda do fim do século nos pede para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"

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Quinzena N0 241 -30/11/96 19 Economia

Folha - Como vê o Brasil de 1997? Pettras - As pessoas não estão se dan-

do conta que o pais não está lidando com pequenas mudanças. E uni tipo novo de governo.

O presidaite vai conseguir o que quer, como a privatização da Vaie, por exemplo. Se não conseguir aprovação no Congres- so, vai recorrer a uma medida provisória.

Começa a crescer um tipo de oposi- ção em duas direções: uma positiva, na

forma de ações coletivas, como o MST, e a outra negativa, na forma de uma onda ainda maior do crime e delinqüência.

Folha - Como o sr. vê a questão da emenda para a reeleição?

Pettras - Acho que FHC vai comprar os votos. Nesse sentido, ele não é um neoliberal, porque usa o Estado e o Legislativo para obter favores.

Folha - E seria reeleito? Pettras - No último ano de seu go-

verno, vai aumentar os gastos sociais. Não digo que será reeleito, mas isso dá a ele uma grande vantagem sobre seus ad- versários, provavelmente Paulo Maluf e uma coalizão de esquerda.

A vitória de Fernando Henrique não é um resultado inevitável. O provável agravamento do desemprego e a possibi- lidade de repressão a movimentos soci- ais podem provocar a queda de sua po- pularidade e eventual derrota. Cl

Jornal do DIAP - Outubro/96 - N" 119

A lógica perversa do governo

Três IVIP's, cinco decretos e três reso- luções embrulham o pacote do governo contra servidores, empregados de esta- tais e segurados da Previdência Social. As medidas, extraídas do receituário neoliberal, fazem parte da operação des- manche do Estado, cuja conclusão depai- de da aprovação das emendas constituci- onais das reformas Administrativa e Previdenciária, já em curso no Congres- so, e da Reforma Trabalhista e Sindical, em gestão no Executivo.

A cesta de medidas, de conformida- de, com a exposição de motivos enviada ao Congresso, destina-se a reduzir o dé- ficit público provocado em grande parte pelos encargos das dividas interna e ex- terna, pela prática de altas taxas de juros, pela política cambial, pelo socorro aos bancos falidos e pelas generosas anistias.

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Cnlíihiiroii l.uizAlhcrfii dos Sanlos

isenções e incentivos fiscais ao capital. O pacote, a pretexto de combater pn-

vilégios e reduzir despesas públicas, acerta em cheio as três categonas de assalaria- dos que ousam combater a política neoliberal patrocinada por FHC: os ser- vidores públicos, os empregados das es- tatais e os segurados da Previdência Soci- al em vias de requerer aposentadoria.

São exatamente estes três segmentos de trabalhadores que dão sustentação política e financeira às entidades sindi- cais, outro alvo prioritário do governo. Para atingir as organizações de trabalha- dores, o governo intimida quem dá sus- tentação a elas, ameaçando com demis- são, redução e supressão de direitos, numa operação de aniquilamento e asfi- xia dos que resistem à falsa modernidade.

O próximo passo, depois da fragiliza-

ção dos trabalhadores eprecarização das relações de trabalho, será o desmonte das organizações sindicais, mediante a pul- verização, a extinção de qualquer forma de contribuição para seu custeio, a apli- cação de multas por deflagração de gre- ve, e finalmente limitação de sua repre- sentação apenas aos associados, tentan- do assim eliminar de vez as organizações representativas dos trabalhadores.

A perseguição aos servidores do Es- tado, incluindo os da administração di- reta e indireta, é inédita no pais. Nunca um governo, nem mesmo os do regime autontário, investiu tão ferozmente con- tra os servidores públicos e funcionários das estatais como o atual. Confira abai- xo as medidas de supressão de direitos adotados pelo Governo FHC nos seus 20 meses de mandato.

I - Em relação aos servidores públicos 1 - Acabou com a política salarial, ne-

gando vigência à lei que previa data-base anual em janeiro.

2 - Limitou os anuênios a no máximo 35% sobre o vencimento.

3 - Instituiu contribuição para a previ- dência dos inativos.

4 - Sustou a readmissão dos demitidos no Governo Collor e anistiados na gestão Itamar Franco.

5 - Incentivou e condicionou qualquer apoio aos governos estaduais à demissão de servidores.

6 - Limitou em 60% das receitas líqui- das correntes os gastos com pessoal.

7 - Proibiu a contagem do tempo mral para efeito de aposentadoria no serviço público.

8 - Proibiu a conversão em pecúnia de um terço das férias.

9 - Proibiu a mudança de padrão quan- do da aposentadoria, eliminando o ganho na passagem para a inativídade.

10 - Proibiu o pagamento de função comissionada ao substituto que exercê-la por período inferior a 30 dias.

11 - Ampliou de 10% para 25% da remueração os descontos em favor da União, além de reduzir o prazo para des- contos de adiantamento de férias.

12 - Obriga a devolução de valores rece- bidos em decorrência de liminar ou sentença judicial posteriormente cassada ou revista.

13 - Limita a três os números de diri- gentes sindicais liberados e com ônus para a entidade sindical. Impede que sindicato com menos de 1.000 filiados possa ter di- reitos liberados.

14 - Proíbe a acumulação de remunera- ção com proventos da aposentadoria.

15 - Autoriza a reti rada, do âmbito da uni- dade de trabalho, dos processos administrati- vos de punição disciplinar e sindicâncias ins- tauradas contra servidores.

16 - Autoriza a demissão dos não-está-

veis, contratados sem concurso público en- tre outubro de 1983 e outubro de 1998, fi- xando uma indenização de um mês de salá- rio por ano de serviço.

17 - Transforma o tíquete refeição e ali- mentação em dinheiro, sem garantia efeti- va de correção.

18 - Extingue a licença prêmio. 19 - Proíbe o pagamento de horas extras

no serviço público. 20 - Extingue mais de 100.000 cargos

no serviço público. 21 -Transforma os "quintos" em dé-

cimos. 22 - Aumenta o prazo para incorpora-

ção de gratificação de chefia, que passa de cinco para 14 anos.

23 - Transforma o anuênio em qüinqüênio.

24 - Reduz o teto de vencimento de 90% para 80% dos veiicímentos do Ministro de Estado.

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25 - Acaba com a jornada de trabalho de 6 horas.

26 - Ampliou as hipóteses de contrata- ção temporária, em que não é exigido con- curso público.

27 - Restringiu o direito de greve, proi-

bindo abono de faltas e obrigando a aplicação de penas disciplinares aos grevistas.

28 - Concursos públicos somente com autorização do MARÉ.

29 - Restringiu o pagamento do adicio- nal de dedicação exclusiva aos professores.

quando cedidos para ocupação de cargos comissionados em órgãos da Administração Federal.

30 - Restringiu o afastamento do servi- dor para ocupar cargo comissionado duran- te o estágio probatório.

II - Em relação aos empregados de estatais 1 - Instituiu programas de demissão "in-

centivada". 2 - Adotou critérios restritivos quanto a

participação dos empregados de estatais nos lucros das empresas.

3 - Puniu com demissão e suspensão os dirigentes sindicais de estatais que ousaram fazer greve em sua gestão, especialmente os petroleiros.

4 - Entrou com ação judicial para pena- lizar financeiramente os sindicatos que fi- zeram greve nas empresas estatais.

5 - Proibiu a negociação com os sindica- tos de estatais, determinando que os acordos não poderão ter conquistas superiores as já asseguradas pela legislação.

6 - Determinou a exclusão dos acor- dos coletivos de cláusulas que estabele- çam: i) concessão de empréstimos pecuniários a qualquer título; ii) incor- poração de qualquer gratificação; iii) con- cessão de licença-prêmio ou abono assi- duidade; iv) concessão de férias em perí- odo superior a 30 dias.

7 - Transformar o anuênio em qüinqüênios.

8 - Limita a 1% os gastos anuais a titulo de promoção por antigüidade ou por mere- cimento.

9 - Proíbe o parcelamento da devolução da antecipação de férias, que será devolvida em parcela única, no mês subsequente ao retorno das férias.

10 - Proibição de reajustes salariais, li- mitando a reposição na data-base a 50% do 1GP-DI.

III - Em relação aos benefícios previdenciários

1 - Extingue a aposentadoria especial dos jornalistas, telefonistas, aeronautas e tam- bém dos jogadores de futebol.

2 - Os juizes classistas da Justiça do Tra- balho e da Justiça Eleitoral, mesmo na con- dição de magistrado, serão aposentados pela legislação previdenciária a que estavam sub- metidos antes da invés- tidura na magistra- tura, eliminando o direito á aposentadoria integral como servidor público.

3 - Extingue o vínculo empregatício por ocasião da aposentadoria, eliminan- do o direito a indenização de 40% sobre

o montante do FGTS e ao aviso prévio. 4 - Condiciona a aposentadoria por ida-

de ao cumprimento de carência de contri- buição, à idade de 65 anos, se homem, e 60, se mulher, e proíbe sua concessão para quem receber benefício de aposentadoria em qual- quer outro regime.

5 - Proíbe a utilização do tempo rural não contributiva para fins de carência, con- tagem recíproca e averbação de tempo de serviço.

6 - Atribui competência privativa ao Poder Executivo para definir os agentes no

civos, químicos, físicos e biológicos ou as- sociação dos agentes prejudiciais à saúde para efeito de aposentadoria especial.

7 - Institui programa permanente de revi- são da concessão e da manutenção dos benefí- cios previdenciários, permitindo sua suspen- são imediata se constatada irregularidade.

8 - Fixa em 3,5% o recolhimento de con- tribuições de entidades como Sesi, Senai, Sesc etc.

9 - Fim do pecúlio. 10 - Fim do abono de permanência no

serviço. ("1

O São Paulo - 20 de Novembro/96 - N" 2110

Começa movimento contra venda da Vale do Rio Doce

O ex-presidente da República Itamar Franco reuniu-se em Juiz de Fora, Mi- nas Gerais, com o presidente do PMDB, Paes de Andrade, e o ex-vice-presidente da República Aureliano Chaves para ser lançado manifesto contra a venda da Vale do Rio Doce. Itamar foi foi a Juiz de Fora votar no seu candidato à Prefeitura lo- cal, Tarcísio Delgado, que venceu as elei- ções. Além do manifesto, Itamar, embai- xador do Brasil nas Organizações dos Estados Americanos (OEA), pediu ao presidente Fernando Henrique Cardoso que exclua a Vale do programa de privatização.

Em nota divulgada na semana passa- da, a Comissão Brasileira de Justiça e Paz afirmou que pretende fazer em de- zembro, em Brasília, uma audiência pú-

blica, na qual todos os interessados po- dem se manifestar, ocorrerá provavel- mente no dia 17 de dezembro, dependen- do apenas da confirmação da presença de dom Luciano Mendes de Almeida, um dos principais articuladores do inovnnai- to contra a privatização.

Na audiência pública deverão estar presentes o jornalista Barbosa Lima So- brinho e o empresário Antônio Ermino de Moraes, que será convidado.

Na nota, a CBJP afirma que "não en- contra argumentos capazes de convencer da necessidade e conveniência da privati- zação em causa, e por isto opõe-se a ela. Ao fazê-lo, porém, entende que a forma como a Vale vem desenvolvendo as suas atividades exige, em muitos pontos, uma análise critica cuidadosa e, com base nes-

ta, uma revisão. Os dois aspectos mere- cem análise conjunta".

"Nessa perspectiva abrangente, e como um primeiro passo para a constru- ção do projeto social que a consciência nacional reclama, a CBJP promoverá ações tendentes a prover a opinião públi- ca da informação, do conhecimento e da capacidade de discernir entre alternati- vas postas em discussão. Pela urgência do assunto, essa reflexão será iniciada com uma audiência pública que deverá examinar as implicações indesejadas da privatização da Vale".

Como complemento à campanha, se- rão publicadas duas cartilhas: a primei- ra contará a história da Vale e a segunda listará os motivos do movimento contra a privatização. □

moaa ao rim ao século nos peae para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"

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Quinzena N0 241 -30/11/96 21 Economia

O São Paulo - 20 de Novenibro/96 - N0 2110

Não vale a pena vender a Vale Enquanto a sociedade discute temas

como reeleição, outros assuntos muito mais importantes estão passando desper- cebidos. Um deles, de suma importância, é a privatização da Vale do Rio Doce.

Ao que tudo indica, o governo FHC pretende dar um golpe na opinião públi- ca, veiculando o edital de venda em de- zembro, às vésperas do Natal, e levando a leilão essa empresa em fevereiro, épo- ca de Carnaval.

A Vale do Rio Doce é a mais impor- tante empresa mineradora mundial. De- tém o controle de 40 empresas, inclusive no extenor, tem um faturamaito de mais de 2 bilhões de dólares por ano e é dona de concessões para exploração de minéri- os em solo brasileiro de valor inestimável.

A Vale produz 14 toneladas de ouro por ano, sendo a maior produtora de ouro da América Latina. Só a mina de ouro do Pará, descoberta recaitemaite, tem um potencial de 900 toneladas desse metal. Como se não bastasse, ela é a maior pro- dutora e exportadora de minério de fer- ro em todo o mundo. Suas reservas têm

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uma duração estimada em 540 anos. A Vale pesquisa, explora e comerciali-

za minerais os mais diversos: alumínio, alumina, titânio, fósforo, ferro, bauxita metalúrgica, bauxita refratária, manganês metalúrgico, manganês eletrolítico, cobre, níquel, estanho, tungstênio, caulim, calcário, dolomita, gipsita e nióbio.

Alguns desses minerais de nome es- quisito para a maioria de nós são valiosíssimos. O nióbio, por exemplo, é utilizado na fabricação de uma liga usa- da nas turbinas de aviões. O valor das reservas desse metal em solo brasileiro é de cerca de 500 bilhões de dólares. O Brasil detém 90% das reservas mundiais desse metal.

Além desse potencial todo na área mineral, a Vaieé dona da Estrada de Ferro Vitória-Minas, com 918 quilômetros de extensão, e da Estrada de Ferro Carajás, com 890 km. É dona também do Porto de Tubarão, em Vitória (ES), e do Porto de Ponta da Madeira, em São Luis (MA), e tem uma frota de 21 navios de grande porte. Detém participação acionária na

Usiminas, na Companhia Siderúrgica de Tubarão e na Companhia Siderúrgica de Volta Redonda. Fora isso, ainda tem em- presas de celulose - a Cenibra e a Bahia Sul -, que produzem mais de mil tonela- das de celulose por ano, e empresas que administram áreas de florestas nativas no Amazonas, em Minas Gerais e no Espí- rito Santo.

Por tudo isso, vender a Vale do Rio Doce representa não apenas desfazer-se de mais uma estatal. Se concretizada, a venda dessa empresa representará a alie- nação de quase todo o nosso subsolo. Nenhum país responsável faria uma coi- sa dessas. Se vendermos a Vale estare- mos entregando - verdadeiramente entre- gando - nossas riquezas aos interesses dos países desenvolvidos. Não podemos dei- xar isso acontecer. E preciso que acorde- mos para essa realidade, ou será muito tarde. D

* é deputado federal (PT-SP) e ex-presi- dente do Sindicato dos Bancários de São Paulo.

Teoria & Debate - Jul/Ago/Set/96 - N0 32 (Texto que faz contraposição ao texto publicado no Quinzena N0 238)

Nacional

Metamorfoses na miliíância A militância vem saído muito questio-

nada. É visível, aitre os socialistas, o ceti- cismo de parte dos ativistas quanto á efetividade de fonnas de aigajamaito prá- tico antes dominantes. Há um saitimaito de que muitas delas são inadequadas ou er- radas. A militância é um tana caitral para a esquerda que adaitra o novo século.

Sempre existiu e existirá o aigajamaito voluntáno em uma causa ou luta, visando mudar as relações de poder. Essa ativida- de recebe o nome de política e vem saído debatida desde os gregos. Porém, o que discutimos aqui é a atividade política vol- tada para realizar uma transfonnação pro- funda no mundo, partindo de um compro- misso com o emancipação humana, ori- aitando-se para o combate á exploração e á opressão, á justiça e à violèicia.

A militância socialista tem três di- mensões, que nem sempre se relacionam harmonicamaite. A primeira é a ativi-

.lusé Corrêa Leite

dade de negação do sistema, de rejeição da sociedade capitalista. A atuação so- cialista representa uma inserção contra- ditória na sociedade, conflituosa com a ordem burguesa, já que visa a sua sub- versão. A negação da ordem é decisiva para evitar o risco da integração e da cooptação.

Em segundo lugar, esta atividade tem que ser eficaz na construção na constru- ção de outro regime social, superior pe- los criténos que defendemos. Isso remete à organização da prática socialista a par- tir do que, simplifícadamente, chamarí- amos de racionalidade instrumental, da eficiência no trato com as relações soci- ais e de poder estabelecidas. Quaisquer que sejam os perigos que nos espreitam na dialética entre meios e fins, temos que buscar a eficácia prática na afirmação de uma alternativa globa\, se queremos evitar o risco do isolamento.

A militância também tem uma tercei- ra dimensão, a práxis. "Atividade livre, universal, criativa e autocriativa, por meio da qual o homem cria (faz, produz) e transforma (confonna) seu mundo huma- no e histórico e a si mesmo" (segundo o Dicionário do Pensamento Marxista), a praxis remete aos objetivos mais nobres e libertários do projeto socialista. Ativi- dade consciaite que permitiria aos seres humanos se assaihorea- rem do controle de seu próprio destino, a práxis elimina- ria as causas sociais das injustiças e so- frimentos e possibilitaria o pleno desen- volvimento das potenciali-dades huma- nas. Esta compreensão foi enriquecida, nas últimas décadas, por movimentos que procuram alterar as relações de poder de gênero, raça e opção sexual.

A combinação destas três dimensões da militância é variada. Porém, em to- dos os casos contribui para moldar iden-

moda ao fim ao século nos peae para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"

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tidades pessoais, articulando-se com outros papéis sociais, definindo os esti- los e os compromissos de vida dos ativistas de esquerda. Estas dimensões variaram conforme os modelos de ação revolucionária adotados e as conjuntu- ras, do militantismo exacerbado das si- tuações de crise à atuação quase rotinei- ra nos momentos de calmaria.

Tendo estes parâmetros, quero tratar de quatro desafios da militância socia- lista hoje.

Expressão das lutas sociais A esquerda nasceu vinculada à luta

de setores sociais excluídos do poder; pequenos proprietários rurais na Revolu- ção Inglesa, pobres da cidade na Revolu- ção Francesa, assalariados explorados pelo capital no século XEX. Foi como expressão das aspirações dos assalariados que o socialismo se desenvolveu. Foi a partir da idéia de que o proletariado seria uma classe universal e poderia unificar ao redor de si o conjunto dos explorados e oprimidos que o socialismo se consti- tuiu num grande movimento político.

A militância socialista está, assim, estreitamente vinculada ao movimento dos explorados e oprimidos na defesa de seus interesses. E como atividade práti- ca, fruto da mobilização e conscientiza- ção de amplas parcelas da população, que a atividade militante se expande. Ela é parte do aprendizado político de clas- ses e setores que pretendem mudar sua situação na sociedade, dos operários ás mulheres, dos negros aos camponeses.

Não podemos, à luz do debate con- temporâneo, sustentar a existência de uma classe social universal, destinada a fazer a revolução em uma história dota- da de sentido imanente. Além disso, o atual aumento da heterogeneidade do proletariado toma a unificação de seus interesses mais difícil. Os dois aspectos reforçam a importância de outros seto- res na luta socialista, mas sem a mobili- zação da maioria dos assalariados não podemos visualizar avanços decisivos na direção de algo que possa ser chamado de socialismo.

Porém, no atual contexto de crise do imaginário socialista, o movimento vivo de todos os setores capazes de desenvol- verem lutas radicais contra o sistema constitui uma bússola insubstituível para a revitalização da esquerda. As energias ai gestadas alimentam o caráter contestador não apenas destes movimen- tos, mas também dos projetos políticos

que buscam expressá-los e dar-lhes uma dimensão globalizadora, constituindo-se no contrapeso mais efetivo às tendênci- as integradoras da democracia liberal e da economia de mercado.

A resistência ao neoliberalismo es- tabelece disputas em tomo de questões de sociedade, em geral vinculadas à universalização das condições para o exercício da cidadania. Elas abarcam tra- balhadores, mulheres, negros, jovens, sem-terra, homossexuais, aposentados, ecologistas, grupos de defesa dos direi- tos humanos e do consumidor e vincu- lados á luta antimanícomial. A esquerda necessita ter uma relação não-instrumen- tal com estes setores, buscando incor- porar suas perspectivas em um movi- mento e uma visão política de oposição ao capitalismo, desdobrando-as em ação partidária, solidariedade entre os vários movimentos e intervenção institucional.

Esta é a militância que tende a for- necer a energia crítica e o impulso ra- dical decisivo para o questionamento da sociedade atual e a construção de uma alternativa estratégica socialista nos anos vindouros.

Atividade partidária Os movimentos dos excluídos ou su-

bordinados não ganha em si só um cará- ter anti-sistema, isto é, não leva à for- mulação global de organização social, fora da luta pelo poder político.

A instituição pela qual os grupos so- ciais intervieram na esfera política e dis- putaram, nos últimos séculos, projetos parciais ou globais, recebeu o nome de partido. No cerne da disputa de poder na sociedade esteve a ação da militância de partidos políticos.

Há diferentes formas de poder e es- feras do seu exercício, que se alteram e entrecruzam. As relações entre Estado, economia e ideologia se modificaram na história do capitalismo. Hoje, o poder da mídia cresce e a disputa de idéias na so- ciedade toma-se mais importante; a dis- puta política tem agora que ser travada com muito mais peso em marcos conti- nentais e mundiais. Mas se a sociedade se toma mais complexa, isso aumenta e não diminui o papel objetivo da políti- ca. As mudanças nas relações do Estado com a mídia e a economia não vão no sentido de esvaziá-lo de seu papel na articulação das formações sociais e sim no de esvaziar os já limitados mecanis- mos de controle da sociedade sobre o pessoal dirigente do Estado.

A ruptura das relações de poder estabelecidas e a constituição de novas continua passando pela luta política, cuja catalização permanece função dos par- tidos e de sua militância.

Um parênteses sobre Lenin Aqui cabe um parênteses sobre

Lenin, que surge em qualquer debate sobre o tema. Ele está atualmente com muito má fama, apontado como pai do stalinismo ou mesmo como um pensa- dor totalitário.

Mas quais são os traços distintos da visão de ação política de Lenin face à tradição socialista anterior? Primeiro, o reconhecimento efetivo da autonomia e especificidade da esfera política. No cen- tro de sua concepção estão idéias como as de acontecimento político, da neces- sidade de uma estratégia, de acumula- ção de forças na luta para disputar o po- der e de atualidade da revolução. Se- gundo, que o partido deve ser claramen- te delimitado da classe, que a atividade política não decorre naturalmente da ati- vidade social ou econômica.

A idéia da delimitação entre classe e partido é democrática e não totalitária. Ela não é clara em Marx ou Rosa Luxemburgo. Como poderiam os traba- lhadores (ou os oprimidos) terem dife- rentes partidos, igualmente legítimos, sem que esta distinção se estabeleça9

Como poderíamos, de outra forma, cons- taiir um bloco de forças sociais hetero- gêneas ao redor de um projeto revoluci- onário sem que nenhuma destas forças fosse intrinsecamente revolucionária?

Retomo esse tema não para idealizar Lenin, nem para minimizar os limites da visão de mundo que organizou sua lei- tura do marxismo, nem tampouco para secundarizar o papel que a substituição da atividade da classe trabalhadora pela ação do partido, depois de 1917, teve na burocratização da URSS e na formação do stalinismo, inclusive quando o pró- prio Lenin esteve á frente do poder. Retomo para destacar uma problemáti- ca, introduzida no pensamento socialis- ta por Lenin, com a qual nossos objeti- vos emancipadores não podem ter uma relação fácil, sem contradições, mas da qual também não podemos fugir. Afi- nal, a caieza com que ele lidou com as dimensões da política como luta pelo poder só encontra paralelo nas reflexões de Maquiavel.

Todo partido socialista que almeja o poder - rechaçando o espontaneismo, de

A moda do fim do século nos pede para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"

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um lado, e não reduzindo sua atividade à respeitosa atuação parlamentar, de ou- tro - está se movendo num espaço onde a ação tem que levar em conta a lógica própria da esfera política. Lidar com a necessária unilateralidade da eficácia instrumental aí presente faz parte da luta pela mudança das relações de poder na nossa sociedade. As situações ideais de comunicação apontadas por Habermas, onde um interlocutor respeita o outro e o que vale são os argumentos levanta- dos, não é um modelo para explicar o que se passa no mundo real da política; ai, infelizmente, estamos no universo instaurado pelas reflexões de Lenin, com todos os riscos que isso implica.

Se a obra de Lenin tem um alcance mais geral não é, pois, porque fornece um modelo de partido (qual? o legal e massivo ou o clandestino e conspirativo?) ou um modelo de militante (qual? o re- volucionário profissional ou tribuno do povol). E por isso que a sua obra foi apro- priada por doutrinas tão diferentes, da mesma forma que proliferaram diferen- tes marxismos. A forma como Lenin é normalmente invocado na discussão so- bre partido e militância mais confunde que esclare.

As questões que definem o sentido da militância partidária são muito con- cretas: a ação política se restringe ao parlamento ou tem ai o seu centro de gravidade? ou, pelo contrário, o centro de uma política transformadora está fora daí9 O militante de um partido deve de- fender suas posições em um sindicato ou movimento? caso derrotado, deve res- peitar as decisões democráticas destas aitidades? A atuação dos dirigentes de um partido socialista deve ser submeti- da ao controle do conjunto dos membros do partido? Deve existir solidariedade coletiva no encaminhamento das deci- sões democráticas tomadas por um par- tido? As fronteiras que separam um par- tido dos demais e da sociedade devem ser abolidas?

São respostas a essas e outras ques- tões que o PT debate desde sua forma- ção, que delimitam um partido como uma instituição onde a militância tem senti- do enquanto adesão a um programa e a um projeto político.

Livre expressão da subjetividade

Os modelos de militância que mar- caram os setores mais radicais da esquer- da no século XX se esgotaram. Eram fi-

guras como o bolchevique, o agitador anarquista, o guerrilheiro (à imagem do Che), o comunista soldado do partido. As regras que permitiam o funcionamen- to de coletivos que constituíam estas fi- guras foram sendo corroídas. Uma ex- plicação corrente é que foram demíba- das em nome da democracia e da defesa dos indivíduos, antes asfixiados por es- truturas onde imperava a disciplina ou por ideais tão absorventes e grandiosos que hoje são vistos como religiosos.

Estes são aspectos do problema, mas como explicação isso é insuficiente. As personalidades, necessidades e compor- tamentos dos indivíduos são socialmen- te constituídas por relações que se alte- ram na história. As figuras acima eram possíveis no contexto de sociedades cuja reprodução ainda era, em grande parte, moldada pela tradição, onde a discipli- na era um valor positivo compartilhado por diferentes camadas, o espaço para os indivíduos fazerem suas escolhas de vida muito reduzido, o sentimento de continuidade com a cultura do passado muito mais forte, a separação entre o público e o privado bastante rígida. Tudo isso propiciava a formação de subjetivi- dades referenciadas num universalismo prometéico que mesclava ideais ilumi- nistas e românticos.

As transformações na constituição das personalidades foram profundas. Autores como Norbert Elias, Louis Dumont, Chrístopher Lasch, Anthony Giddens e outros já se detiveram sobre elas. Alguns vêem estas mudanças como negativas: individualismo exacerbado, narcísismo, crise do sujeito; outros como positivas: democratização da vida pes- soal, possibilidade dos indivíduos mol- darem cada vez mais aspectos de sua existência, terem um projeto reflexivo do eu. De qualquer forma, aquilo que para gerações passadas aparecia como nor- mal, para nós surge como opressivo e inaceitável.

E a forma como se articulam hoje indivíduo e sociedade que faz com que o direito à diferença seja valorizado. Pra- ticamente todos os aspectos que consti- tuem os estilos de vida, da profissão à vida afetiva, da sexualidade às opções políticas, são encarados, por setores cada vez mais amplos, como decisões a se- rem autonomamente tomadas por cada pessoa.

Neste quadro, a militância só pode se desenvolver como a expressão de sub-

jetividades mais autônomas, mais cons- cientes das forças sociais que atuam so- bre elas. O peso de Foucault no pensa- mento social contemporâneo não é for- tuito. As regras de convivência coletiva na militância têm que ser mais negocia- das e flexíveis, aptas a lidarem com uma margem de liberdade individual muito maior. E a militância tem que ser inte- grada de forma mais coerente na defini- ção do conjunto dos estilos de vida que conformam a identidade pessoal.

Luta por uma utopia Nenhum movimento de mudança

profunda avança sem um horizonte utó- pico e um discurso que o perfile. O mar- xismo, como interpretado pelo movi- mento socialista do início do século, fun- cionou como o discurso constitutivo da esquerda radical, como uma constelação básica de referências que se manteve bastante estável.

Este marxismo era marcado por um cientificismo positivista, onde se desta- cava uma concepção evolucionista da história, o determinismo econômico, a idéia do domínio da natureza pela soci- edade, a razão igualada à consciência e expressa como técnica. Isso convivia com uma utopia: a promessa de uma adequação da existência humana com sua essência. Como ressalta Henri Maler em Cobiçar o impossível, "a emancipa- ção humana deveria sertotal; isto é, com- pleta (superando a totalidade das alie- nações), universal (superando a aliena- ção da totalidade dos homens) e integral (superando a totalidade das alienações de cada indivíduo) - a realização do ho- mem total em cada indivíduo singular".

A política emancipadora na atualida- de exige a revisão profunda destas con- cepções, a começar por reflexões do pró- prio Marx, embora ele não saia de foco - sua análise do capitalismo é mais atual do que nunca - e que ainda tenhamos que explorar diversas vias abertas por ele e até hoje pouco percorridas.

Mas a reestruturação da visão de mundo e a conformação de uma nova utopia socialistas independem de qual- quer debate teórico sobre Marx e o mar- xismo. Os indivíduos procuram sempre dar forma ás suas esperanças de um mundo melhor. Estas alterações ^ó es- tão hoje se processando nos debates po- líticos e nas reflexões teóricas, reorga- nizando os horizontes de cada militan- te. Ecologia, feminismo, anti-racismo, intemacionalismo, valorização da dife-

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rença e da democracia participativa são núcleos temáticos desta reestruturação. Na medida em que para novas gerações de militantes este repertório represente não uma ruptura com o passado, mas referên- cias normais para organizar a ação políti- ca coletiva e sua inserção pessoal nelas,

uma nova utopia emergirá dando forma a um amanhã pelo qual vale a pena lutar.

Todas estas faces da militância têm que se expressar numa compreensão co- mum dos acontecimentos, das tarefas presentes e de uma estratégia política, bem como no engajamento em institui-

ções que propiciem a organização e ação política dos interessados em mudar a sociedade presente. □

José Corrêa Leite é editor do jornal Em Tempo e membro do Conselho de Redação de Teoria & Debate.

O Trabalho - 20 de Novembro à 4 de Dezembro/SG - N0 406

O que bloqueia o voto PT? A mesma imprensa que anunciou com

estardalhaço, no Io turno, que o PT era o grande vitorioso da eleição, no 2o turno o apresenta como o maior derrotado. Um balanço preciso, no entanto, mostra que as coisas não são tão simples.

Se o critério for o número de votos nas 31 cidades em que houve 2o turno e, ainda mais, nas capitais, o PT foi o se- gundo partido mais votado: 2,7 milhões de eleitores votaram PT, contra 3,6 mi- lhões no PPB. Foi também o partido cuja votação mais cresceu (cerca de 20%) nestas eleições.

Vitória do PT, portanto? Não: na ver- dade, por trás destes números está o con- flito entre a orientação imposta ao parti- do, a base petista e a procura pelo elei- tor de um instaimento contra FHC.

No 1° turno, o sentimento de rejei- ção a FHC se expressou em grande me- dida na votação obtida pelo PT. Nas 100 maiores cidades do país, foi o partido mais votado (5,6 milhões de votos). Apesar de plataformas que se confundi- am com as de outros partidos, sem des- tacar a oposição a FHC, ainda assim o povo se agarrou no PT.

Para o 2o turno, no entanto, a política da direção do partido foi além: a orien- tação da Executiva Nacional era "municipalizar a campanha", para justi- ficar os apoios mútuos com o PSDB. Isso só serviu para frear ou desviar esta ten-

dência ao voto PT. Porque não estáva- mos diante de eleições isoladas, mas de um embate com a ofensiva de FHC que inclui os cortes de verbas e ataques aos municípios.

Rio, outra vez O Rio de Janeiro mostra as possibili-

dades colocadas para o PT. Ali, o parti- do já havia feito uma campanha vitorio- sa no Io turno, chegando a quase 19% dos votos e por pouco não indo para o 1° turno. Decidindo pelo voto nulo, mante- ve uma posição independente, ponto de apoio para a expressão do descontenta- maito com os candidatos do PFL e PSDB. O resultado é que 34% dos eleitores can- ocas votaram em branco, nulo ou se abs- tiveram. Em Campinas (SP), em que o PT também decidiu pelo voto nulo, 30% dos eleitores igualmente recusaram os dois candidatos (do PPB e PSDB).

Milhões de eleitores, ali onde o PT disputou, procuraram o partido para ex- pressar este mesmo repúdio a FHC. Mas a linha de campanha tolhia este movi- mento. E o que explica o crescimento das abstenções, também, em cidades como São Paulo: os eleitores sentem-se sem opção, não encontram no PT a ex- pressão de sua vontade de derrotar o governo.

O PSDB, com todo o peso que joga- ram FHC e seus governadores, teve um desempenho pífio nas grandes cidades.

Mesmo no segundo turno, teve me- nos votos que o PT e ficou só com 4 das 26 capitais.

Derrota do "modo petista" Sai derrotado o chamado "modo

petista de governar". Se fez sucesso na Cúpula da ONU de Istambul (Hábitat 2), junto às ONGs, entre o povo a situação não é a mesma.

O partido só conseguiu manter-se à frente de 3 das 14 maiores cidades que administrava. Em São Paulo, não houve vitória em nenhum dos 9 municípios os administrados pelo PT!

A política do "modo petista" impli- ca aceitar o ajuste do FMI como inevi- tável e procurar políticas compensató- rias para "aminizá-lo". E o caso, em particular, da renda mínima, menina- dos-olhos das campanhas petistas e de outros partidos. É também a situação do orçamento participativo, descolado de um combate contra o governo fede- ral por mais verbas, condena o povo a "poder" escolher o que vai cortar por- que não há verba para tudo.

Em vários casos, como Santos e Diadema, o PT chega a uma situação de desagregação. É decorrência da políti- ca: abandonando-se o combate a FHC como eixo para o partido, resta o "cada um por si", um conflito permanente en- tre grupos, acobertado pela direção que não tem tampouco outra política. Cl

1° turno - votação nas 100 maiores cidades (*)

2o turno - votação apenas das capitais (*)

PPB [ PI [ PFL [ PSDB[

3.6 ^ T 2,7

1,7 ... "í /^ 1,6

'A moda do fim do século nos pede para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"

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Combate Socialista - Movembro/96

Erundina, Buaiz e Buarque: os mais conseqüentes na aplicação da política da

Os resultados da eleição, sobretudo no Io turno, foi claro: se inicia uma ex- periência de amplos setores com este governo e seu nefasto plano neoliberal. E nós fomos o partido que mais capita- lizou esse descontentamento com o de- semprego, os salários congelados e a miséria crescente. Mas a direção nacio- nal do partido parece estar alheia a tudo isto, já que não utilizou o palanque do 2o tumo para acelerar esta experiência, se mostrando como clara oposição a este governo, lutando por uma política con- tra o desemprego e por aumento de sa- lários, apresentando um plano de emer- gência em alternativa ao Plano Real.

Ao contrário, neste ídtimo mês e meio a direção do partido esteve dedicada a aumai- tar ainda mais a aproximação com Fernando Hainque e sai partido. Se restringindo a cri- ticar as seqüelas sociais causadas pdo Plano Real, não só tem admitido e defendido as refomias mas está aplicando o mesmo ajus- te "Femandohainquista" nos estados onde o partido dinge (DF E ES). Foi assim que o partido ficou em silêncio diante da danis- são de mais de 50 mil funcionários públicos federais, orquestrada pdo planalto.

Neste periodo, enquanto os militan- tes carregavam bandeiras disputando o voto contra a burguesia, as grandes fi- guras do partido se revezavam na im- prensa burguesa com declarações que diluem completamente o perfil do PT.

Primeiro foi o próprio Lula chaman- do uma frente para as eleições de 98 com o PDT, o PMDB e PSDB, incluindo Itamar Franco e Ciro Gomes. Na ânsia de ampliar as alianças das "esquerdas" Lula chegou no partido de FHC. Buaiz foi além. Depois de dizer que governar com o PT é difícil, trocou a negociação da divida do estado do Espirito Santo pelo apoio a reeleição, e, de troco, en- tregou algumas estatais das áreas de agri- cultura e saneamento, além do Banco do Estado, do qual demitiu 700 bancários, seguindo religiosamente a receita do pre- sidente. Erundina após passar toda a campanha eleitoral namorando o PSDB, não resistiu a tentação e colocou uma

liernadele Menezes

gravação do próprio FHC no "seu" pro- grama eleitoral. E por último, Cristovam Buarque, em entrevista a "Gazeta Mer- cantil" admitiu que o PT poderia apoiar em 98 um candidato de outro partido, e considerou a hipótese de que este candi- dato poderia ser Fernando Henrique.

Essa não é parte de uma política iso- lada de uma suposta direita do partido, como tentam passar alguns. Ao contrá- rio, a conduta de Erundina, Buaiz e Buarque tem represaitado a aplicação da política da direção nacional levada as suas últimas conseqüências. Não é à toa que um dia após as declarações de Buarque, José Dirceu, presidente nacio- nal do partido, reconheceu que as decla- rações dele refletem as discussões no partido e restringiu a crítica ao fato de ter citado nomes.

Não nas mesmas proporções, mas jogando na mesma direção, Raul Pont, um dos dirigentes da Opção de Esquer- da, tida pela mídia como ala radical do PT, chamou o PDT a governar conjun- tamente a cidade de Porto Alegre, mes- mo depois do populismo brizolista ter tomado uma verdadeira surra nas umas.

Logo após a fundação do PT, quan- do os militantes do partido tinham que enfrentar a política dos reformistas de esquerda (PC do B e PC) que gravitavam ao redor dos partidos da burguesia, em particular do PMDB, se costumava can- tar uma musiquinha que dizia assim: "Todos juntos com a burguesia, na uni- dade popular, mais se estamos todos jun- tos contra quem vamos lutar". Agora devemos perguntar à direção nacional: se estamos todos juntos, PT, PMDB, PDT, PSDB, contra quem vamos lutar?

A militância começa a dar a resposta

Essa política da Direção Nacional tem desnorteado a militância petista, ain- da mais em vésperas de eleições, onde as declarações dos dirigentes do partido acabam servindo de munição para os partidos burgueses. Um exemplo disso ocorreu no Rio Grande do Sul, onde o governador Britto do PMDB e seus ali-

Direção Nacional

ados, reproduziram na imprensa local trechos de entrevistas de Buaiz, para- benizando-o pela aplicação dos mes- mos planos de ajuste aplicados no es- tado gaúcho.

Mas setores da militância começam a dizer não a esta direção. Já no Rio de Janeiro, os militantes rejeitaram a posi- ção da Direção Nacional e chamaram o voto nulo no 2o tumo. E no último co- mício de Erundina os 5 mil presentes vaiaram Buarque e Buaiz, govemadores do Distrito Federal e Espírito Santo, res- pectivamente. Mas esse descontenta- mento tem que se transformar em polí- tica organizada que se expresse nos en- contros do próximo ano. Uma política alicerçada na rejeição das alianças com os partidos burgueses, na oposição in- transigente ao governo federal e seu pla- no, na defesa de um plano de emergên- cia para o país que rompa com o paga- mento da dívida extema, crie empregos e aumente os salários. Constaiindo um pólo com este conteúdo estaremos dan- do passos na luta por uma nova direção para o partido. □

A VENDA NO CPV

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PREÇO: 24,00

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Relatório Reservado - Rio - 20/Novembro/96 - N0 531

Todos os homens do candidato Mais candidato do que nunca à Pre-

sidência, Paulo Maluf anda com pouco tempo para responder a telefonemas de felicitações pela vitória de Celso Pitta em São Paulo. Antes, ele liga para de- putados e senadores de todos os parti- dos, com auxilio de uma dezena de se- cretárias. O mote da ligação é sempre o mesmo, o voto do parlamentar quanto à reeleição. Rápido no gatilho, Maluf já montou um quartel-general em Brasília, coordenado por Heitor de Aquino, ex- secretário particular do ex-presidente Figueiredo.

A ofensiva malufista conta com o time habitual, integrado por Calim Eid, Duda Mendonça e Adilson Laranjeira. O elenco de colaboradores informais.

contudo, começa a se ampliar do circu- lo paulista habitual: entre as pessoas ouvidas com freqüência pela estrela em ascensão do PPB figura Mauro Salles, ligado ao PFL nacional e um dos estra- tegistas da campanha indireta de Tancredo Neves contra o próprio Maluf, em 84. O discurso mais agressivo con- tra Fernando Henrique Cardoso, aprovei- tando o intervalo para balanço da esquer- da, rendeu uma aproximação maior com Delfim Netto, lançado por Maluf para a presidência da Câmara.

O lançamento de Delfim, entretanto, é pouco mais do que um balão de en- saio, de acordo com interlocutores fre- qüentes de FHC e da coordenação polí- tica do Planalto. Maluf já foi informado

de que a confirmação da candidatura causaria estragos na tentativa de seduzir aliados potenciais, como Inocêncio de Oliveira (PFL), também candidato, e magoaria antigos aliados, como Prisco Vianna. Mágoas que serviriam de maté- ria-prima para os defensores da reelei- ção no PPB, como o ministro Francisco Domelles e os egressos do PP de Joa- quim Roriz e Álvaro Dias.

O problema ganha dimensão quando se sabe o estilo com que Luis Eduardo Magalhães conduz as negociações para a Mesa Diretora: chapas derrotadas não levam cargos proporcionais. Uma dis- puta aberta com Luis Eduardo e ACM, no momento, é a última coisa que inte- ressa a Maluf. Cl

Documento - Novembro/96

Exército nas ruas. Constituição no lixo O papel constitucional das Forças

Armadas é defender nossas fronteiras contra o ataque de outros paises.

Depois de invadir, torturar e matar os pobres nas favelas do Rio, ser deslo- cado para o garimpo de Serra Pelada e para Eldorado dos Carajás (onde acon- teceu o massacre dos Sem-terra), agora o governo aventa a hipótese de colocar o Exército para proteger as fazendas dos latinfundiários, próprios governamentais (sede do INCRA, Ministérios e etc), nas reservas indígenas e combate ao narcotráfico.

Se levarmos em consideração que o famigerado SNI contínua atuante, ape- nas travestido com o pomposo nome de ABIN (Agência Brasileira de Informa- ção), que os trabalhadores são condena- dos e mortos por lutarem pela divisão dos bens e pela justiça como se fossem bandidos (Sem-Terra e Sem-Teto, por exemplo), chegaremos à triste conclu- são de que realmente vivemos numa di- tadura econômica.

Há constantemente o desaparecimen- to de lideranças dos trabalhadores, de- zenas de líderes comunitários foram eli- minados: Carelli, da Associação de Fun- cionários da Fio-Cruz, Marco Antônio Rufino, advogado negro e diretor da

Andrc de Paula *

Associação dos Funcionários da Biblio- teca Nacional, Teixeirinha e Oziel, lide- ranças do MST, apenas para citar alguns exemplos. Além disso, existem elimina- ções massivas, como por exemplo: Carandiru, Vigário Geral, Eldorado dos Carajás, Corumbiara, Candelária e peri- feria das grandes cidades, destacando que além das prisões dos Sem-Terra e Sem-Teto. temos também a condenação dos militantes do MIR-Chileno (Movi- mento de Izquierda Revolucionário), em São Paulo, atestando bem esta triste re- alidade. Recentemente, Frei Anastácio da CPT-Paraibana (Comissão Pastoral da Terra) também foi condenado pelo simples fato de lutar pela Reforma Agrá- ria. Sempre são enquadrados como For- madores de Quadrilha.

E preciso perceber a sórdida arma- ção de nosso sistema. A lei, elaborada pelos grandes, só é usada para proteger os interesses dos tubarões.

A ação dos órgãos de repressão (mi- litares e paramilitares) e dos Tribunais acobertados e estimulados por uma la- vagem cerebral perpetrada pelos meios de comunicação, para justificá-la, éo que poderia se chamar de conflito de baixa intensidade.

Pela lógica do sistema, existe um con-

tingente de pessoas que precisam desa- parecer. Com a substituição do homem pela máquina, há muita gente ocupando o espaço que a burguesia julga ser dela. A luta de classes hoje, manifesta-se en- tre os incluídos e os excluídos.

Devemos nos organizar para comba- ter a exclusão e a violência, venha ela da bandidagem ou da policia, constitu- indo milícias eleitas e controladas pelos próprios pobres, sem a interferência dos governos ou dos militares. De outra for- ma, sempre estaremos no fogo cruzado dos poderosos.

Na verdade ao se desrespeitar a cons- tituição, colocando o exército nas ruas, o sistema pretende treinar sua milicia para combater a organização dos traba- lhadores. Já vimos este filme. O

* é advogado, membro do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e da direção Nacional da CMP (Cen- tral de Movimentos Populares).

"Não se constrói uma nação soberana com políticas de sub- missão ao capital estrangeiro!"

Jornal do MST Dezembro/96

A moda do fim do século nos pede para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"

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Quinzena N0 241 -30/11/96 27 Internacional Revista Combate Socialista - Novembro/96 - N0 1

América Latina: Dívida e Miséria De 1982 até 1993, a América Latina

pagou 330 bilhões de dólares de dívida. Mas segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), "a di- vida externa alcança, apesar de Brady e das privatizações, um recorde de US$ 534 bilhões".

Ao mesmo tempo, em todos os países do subcontinente se desferem violentos ajustes que estão destruindo os postos de trabalho, a educação, a saúde e o salário, e levando à exploração milhões de traba- lhadores latino-americanos. O advento da crise e as lutas operárias e populares que ocorrem na América Latina aprofundam uma situação altamente instável.

As conseqüências da pilhagem na América Latina com a dívida externa são enormes. Segundo um informe da CEPAL, do Io semestre de 93, 50% da população é pobre e 22% são indigentes, o que significa que nem sequer se alimen- tam todos os dias. Vejamos este dado em números, para que se compreenda me- lhor. Dos 426 milhões de latino-ameri- canos, 196 milhões vivem na pobreza e 94,5 milhões são indigentes.

Só em nosso pais, uma população equivalente á população total da Argen- tina vive na mais absoluta miséria. São 32 milhões de pessoas famélicas. Os 10% mais ricos da população viram sua renda aumentar de 30.000 a 48.000 dólares anu- ais entre os anos 80 e 90.

O desemprego não deixa de crescer em todos os países. A Nicarágua encabeça a lista, com 23%. Segue a Argentina, com uma cifra que, no mês de setembro de 1995, se estimava em mais de 20%. No Brasil, o índice também é alarmante. Em São Paulo há um milhão e trezentos mil desemprega- dos, enquanto em Belém, capital do Pará, 60% da população está sem emprego. Fi- nalmente, em países como Colômbia, Vaiezuela, Panamá, Peai e Uruguai o de- semprego chega na casa dos 10% da popu- lação economicamaite ativa.

Assim poderíamos seguir enumeran- do como cada vez mais drenam as rique- zas desta América Latina com suas "vei- as abertas". Como empobrecem nosso povo através deste verdadeiro saque pro- movido pelo imperialismo e pelas novas oligarquias locais. Bilhões que deveriam

garantir trabalho, saúde, educação, ali- mentação e moradias dignas foram gi- rados ao exterior como pagamento da dívida, como lucro das multinacionais, como produto das privatizações ou do déficit da balança comercial, fundamen- talmente com os EUA.

41 Supermilionários A outra cara deste avanço colossal

na colonização latino-americana é a consolidação de uma "nova classe de supermilionários na região". Em 1987 havia menos de 6 multimilionários, em 1990 eram 8, em 1991 já haviam 20, e em 1994 eram 41. A maioria destes super-ricos eram milionários antes, mas muitos deles se converteram em multimilionários com a compra das empresas públicas nos finais dos anos 80 e durante os atuais anos 90. Dos 41 multimilionários, 24 são mexicanos, 6 do Brasil. A Argentina, o Chile e a Co- lômbia têm cada um 3 e a Venezuela 2. (Revista Forbes (EUA), 18/07/94 - Ca- dernos da Dívida Externa, n0 9, Brasil).

A Revista Forbes publicou a biogra- fia de alguns destes multimilionários mexicanos. A família Peralta está as- sociada com a empresa norte-america- na Bell Atlantic e ascenderam à condi- ção de multimilionários graças a sua participação no ano de 1992 no Banco Nacional do México (Banamex). A fa- mília Salinas Pliego é outra citada. En- riqueceu mediante a compra da Televi- são Azteca - que era estatal - em socie- dade com a cadeia norte-americana NBC, propriedade da empresa General Eletric. Eles são a versão mexicana dos nossos Gerdau, Olavo Setúbal, Roberto Marinho, Odebrechet, Ermírio de Moraes, Camargo Correia.

Mais pagamos, mais devemos A roubalheira imposta através da

dívida externa inclui as privatizações, o pagamento de patentes e a remessas de dinheiro das empresas multinacio- nais para suas matrizes. Por sua vez, á dívida segue aumentando a medida que se vai pagando.

Entre 1980 e 1990, o Brasil pagou 163,5 bilhões de dólares em juros da dívida externa e ainda assim esta cres- ceu 88,5%: de US$ 64,2 bilhões em

1980 a 122 bilhões em 1990 (Cadernos da Dívida Externa, n0 5 e 8). Neste ano de 96 já está em US$ 159 bilhões. So- mente os gastos do governo FHC para amortizar a dívida, também em 96, vão chegar a US$ 13 bilhões. No ano que vem, entre juros e amortizações, o país irá gastar US$ 28 bilhões.

Este saldo na colonização nas últimas décadas é produto de uma verdadeira contra-revolução econômica, instaimen- tada, durante um período, através das ditaduras militares. Quando os povos, com suas lutas, varreram os governos militares, os governos "democráticos" patronais seguiram este caminho de sub- missão, com a cumplicidade das direções burocráticas.

A América Latina está atravessan- do um momento de luta aguda. De um lado, está o imperialismo e seus sócios regionais. Do outro, o movimento ope- rário e os setores populares que resis- tem aos planos de entrega e miséria. E nesta luta aberta, uma das principais ta- refas que temos pela frente, os trabalha- dores e os povos latino-americanos, é desconhece- dor estas dívidas, já pagas rnjmetas vezes. □

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Quinzena N0 241 - 30/11/96 28 Internacional Documento - 11/Novembro/96

Dados gerais - Seu Território possui 18.899 km2

- A distância de Jacarta (capital da Indonésia) é de 2.000 km e de Darwin (Austrália) é de 600 km.

- Timor é rico em petróleo, situando- se aitre as 20 maiores reservas do mundo.

- A população de Timor Leste era de 700.000 habitantes em 1975. Calcula-se que mais de 200 mil pessoas tenham sido assassinadas pela ditadura Indonésia.

- A população fala o tetum como lín- gua nacional, também falam vários dia- letos e o português, como lingua oficial.

- A religião católica tem grande ex- pressão entre os timonenses (mais de 90%).

História - A primeira invasão ocidental se deu

em 1515, foi o chamado "descobrimen- to" português.

- Em 1651 os holandeses invadiram a parte ocidental da ilha, que foi anexa- da pela Indonésia em 1945 (depois da Segunda Guerra Mundial).

- A população resistiu ao colonialis- mo, e uma série de rebeliões sangrentas aconteceram entre 1894 e 1912, que con- duziram a uma "pacificação" efetiva.

Em 14/12/1960, sob a resolução 1514 Timor Leste foi considerado pela ONU território não autônomo, sob administra- ção portuguesa.

- Entre 1945 e 1974 a Indonésia, em obediência ao Direito Internacional afir- ma à ONU não ter quaisquer reivindica- ção sobre o território.

- Após a "Revolução dos Cravos" em 25 de abnl de 1974. Portugal no proces- so de descolonização, cna em 27/07/74 uma Comissão para a Autodetermina- ção, "aceitando a independência".

- Em 03/08/74 Portugal entrega a ONU um memorando afirmando a dis- posição em cooperar com a independên- cia das ex-colonias.

- Portugal nunca exerceu forte domí- nio sobre o território de Timor Leste. Sempre recebeu grande oposição dos povos naturais da ilha.

Organização partidária - Após 25 de abnl os timorenses co-

meçam a se organizar partidariamente. Neste momento foi criado, entre outros.

Timor Leste 2 partidos políticos de forte raízes po- pulares;

UDT - União Democrática Timorense. FRETILIN - Frente Revolucionária

para a Independência de Timor-Leste. - Outra instituição denominada de

APODET1 (Associação Popular Demo- crática de Timor) que propunha a ane- xação de Timor Leste á Indonésia, tam- bém foi criada. A Indonésia financiava esta associação para servir, especialmen- te, na consolidação das invasão.

- O objetivo para os 2 partidos era a independência e isso unificava-os pos- sibilitando a realização de uma coliga- ção, que foi desfeita em seguida, pela ação dos serviços secretos Indonésios.

- O choque entre os interesses do anexionismo Indonésio e dos indepen- dentistas, fez com que ocorra uma ten- tativa de golpe de estado por parte da UDT contra o qual a FRETILIN respon- de conduzindo a um conflito armado que durou cerca de um mês.

- Ao mesmo tempo que Timor Leste passava por uma Guerra Civil, da qual sai vitoriosa a FRETILIN, a Indonésia começava a realizar manobras militares na fronteira de Timor Ocidental.

- Vitonosa, a FRETILIN declara a in- depaidâida do país, cnando, em 28/11/75, a República Democrática de Timor Leste.

Invasão Indonésia - A Indonésia celebra, neste ano, 50

anos como país independente. - Desde 1965 que é regida por uma

ditadura facista e militar liderada por Suharto.

- Em 07/12/1975, a Indonésia inva- diu Timor Leste. Pouco antes da inva- são o presidente dos EUA, Gerald Ford, havia visitado Jacarta, onde possivel- mente conheceu e aprovou o plano expansionista.

- A 22 de dezembro de 1975, o Con- selho de Segurança da ONU exigiu, ao "Governo da Indonésia que retirasse, sem demora, todas as forças do territó- rio". A Indonésia nega a existência de tropas em Timor Leste.

- Em 17/07/1976, Suharto assinou a lei que integrava Timor Leste na Indonésia, com base numa assembléia com 28 "representantes" convocados

por sua ditadura. Calcula-se que duran- te 5 anos de severos ataques ao povo do Timor Leste após a invasão, tenham sido assassinadas 200 mil pessoas, entre elas lideranças e militantes da FRETILIN.

- Em 1979 a Indonésia controlava todo o país e acreditava que a FRETILIN estava derrotada. No entanto, ressurgem das montanhas e matas de Timor inú- meros guerrilheiros, liderados pelo sím- bolo incontestável da resistência do povo Maubere, Xanana Gusmão. Os guerri- lheiros, enquadrados nas FAL1NTIL (Forças Armadas de Libertação Nacio- nal de Timor Leste), da qual Xanana Gusmão é comandante-chefe, ampliam suas operações conduzindo a guerrilha a uma resistência que conseguiu criar ligações com povoações estratégicas, resistindo a inúmeros ataques da ditadura Indonésia.

- O EUA teve um claro comprometi- mento na invasão de Timor Leste por parte da Indonésia. As armas utilizadas pela Indonésia nas várias investidas eram, em sua maioria, originárias dos EUA.

- A Austrália, país vizinho, também tem mostrado, na prática, seu interesse em apoiar a invasão promovida pela Indonésia, especialmente devido às gran- des reservas de petróleo existentes no mar entre Timor e Austrália.

O massacre de Santa Cruz e a prisão de Xanana Gusmão

- A luta do povo Maubere toma pro- porções mundiais quando, no dia 12 de novembro de 1991, na saída de uma mis- sa em memória de um estudante assas- sinado pela ditadura, os populares fize- ram uma passeata rumo ao Cemitério de Santa Caiz, sendo barbaramente ataca- dos pelas tropas Indonésias, que assas- sinaram mais de 200 pessoas.

- A presença de jornalistas possibili- tou filmar o massacre, o qual foi ampla- mente exibido, causando um repúdio público por todo o mundo.

- Decorrem conversações entre Por- tugal e Indonésia no âmbito da ONU, sob o mandato da resolução 37/30 da Assem- bléia da ONU.

- Em 20 de novembro de 1992, Xanana Gusmão, líder da Resistência

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Quinzena N0 241 -30/11/96 29 Internacional

timorense foi capturado. A atuação de Xanana Gusmão, na prisão reitera sua condição de líder. E tal como aconteceu com Nelson Mandeia, a Resistência exi- ge a libertação imediata e incondicional de Xanana Gusmão.

Situação atual - Depois de 20 anos de guerra não há

solução militar. - A Resistência expande-se e emerge

o Conselho Nacional da Resistência Maubere (CNRM).

- A causa para a libertação de Timor Leste ganha apoios incluindo a indonésia.

- A iniciativa de paz apresentada pelo CNRM ganha apoios. Ela compõe-se em 3 fases: retirada das forças ocupantes, instalação de um dispositivo da ONU, autonomia progressiva do território sob os auspícios da ONU e um referendo de autodeterminação.

Reivindicações da Resistência; - Libertação imediata e incondicio-

nal de Xanana Gusmão.

- Participação de Representantes da Resistência Timorense no processo de conversações sob os auspícios da ONU, no âmbito das resoluções aprovadas pela ONU

- Acesso livre ao território de Timor Leste, ilegalmente ocupado pela Indonésia.

Tarefas no Brasil - Abertura de uma representação da

Resistência timorense. - Apoio da sociedade civil organiza-

da à causa do povo do Timor Leste. Cl

Princípios - Movem bro/Dezembro/96 á Janeiro/97 - N0 43

Vietnam: o tigre prepara outro salto Para prevenir os riscos representados para a manutenção do

socialismo, o Congresso apontou a direção da economia como a tarefa central e a construção do partido como a tarefa chave

Certa vez falando ao jornalista nor- te-americano David Schoenbrunn, Ho Chi Minh referiu-se a resistência de seus compatriotas ao colonialismo francês como a um combate entre um tigre e um elefante: "Se o tigre parar, o elefante o transpassará com suas possantes presas. Mas o tigre jamais parará, e o elefante morrerá de exaustão e hemorragia".

O 8o Congresso do Partido Comunista do Vietnam, realizado no início de ju- lho, em Hanói, e ao qual tive a honra de assistir como representante do Partido Comunista do Brasil, atualiza os passos do incansável tigre, festejando um feito singular: o partido dirige a segunda eco- nomia que mais cresce na Ásia - 9,5% em 1995 - logo depois da China, por si- nal, outro país que persiste no caminho socialista.

Em um mundo capitalista que assis- te estarrecido e imponente ao declínio das taxas de crescimento, quer nas na- ções industrializadas, quer nos países da periferia submetidos á brutalidade da estabilização neolíberal, as realizações econômicas do Vietnam e da China me- recem atenção e destaque.

Enquanto Brasil, Argentina, México e outras vítimas do receituário do Ban- co Mundial e FM! naufragam no desem- prego, aumento da marginalização soci- al e vêem suas economias destroçadas a pretexto da manutenção da moeda está- vel e inflação baixa, a experiência viet- namita alerta que pode haver um cami- nho para o desenvolvimento com equí-

Aliln Reheln

líbrio social, moeda confiável e inflação sob controle.

Os vietnamitas empenham-se, hoje, em reconstruir sua pátria devastada por três guerras sucessivas de agressão, mo- vidas pelo Japão, pela França e pelos Estados Unidos. A resistência heróica e prolongada do povo vietnamita terminou com a derrota americana em 1975 e a reunificação nacional em 1976.

O país enfrentou uma grave crise eco- nômica e social no final dos anos 70 e no começo dos 80, em parte por causa das dificuldades herdadas do período da guerra e em parte pela aplicação mecâ- nica dos modelos de construção do so- cialismo, conforme reconheceu o Parti- do Comunista em 1986, no 6o Congres- so, iniciando um movimento de retifica- ção, aprofundado após a derrota do So- cialismo no Leste Europeu e na União Soviética.

O modelo de forte centralização bu- rocrática foi substituído por uma orien- tação mais flexível que, preservando a direção do Partido Comunista, a hegemonia do setor socialista da econo- mia e os planos qüinqüenais, adotou mecanismos de mercado e promoveu uma abertura controlada a investimen- tos privados, principalmente estrangei- ros, ou como eles próprios denominam no Informe Político do Comitê Central ao 8o Congresso "economia mercantil com vários componentes, movendo-se segundo o mecanismo de mercado sob a gestão do Estado".

O acelerado ritmo de crescimento entre 1991 e 1995 - taxas médias anuais de 8,2% na produção global, de 13,3% na indústria, de 20% nas exportações e de 27% na produção de alimentos - tor- nou o país capaz de garantir o abasteci- mento alimentar de sua população de 70 milhões de habitantes e ainda exportar excedentes de arroz, inclusive para o Brasil.

Ao mesmo tempo, o combate á in- flação obteve êxitos invejáveis, sem co- brar do país e do povo os elevados cus- tos sociais dos programas de estabiliza- ção tão conhecidos dos povos da Amé- rica Latina. A taxa de inflação que che- gou a alcançar 774,7% em 1986 foi bai- xando gradativamente para 67,4% em 1990, 67.6% em 1991, 17,6% em 1992, 5,2% em 1993, 14,4% em 1994 e 12,7% em 1995, índices absolutamente aceitá- veis, considerando a elevada taxa de crescimento do país no mesmo período.

Uma apreciação dos resultados do plano qüinqüenal 1991-1995 evidencia as vitórias alcançadas e responde com um exemplo prático como a intervenção de um estado comprometido com os in- teresses populares pode fazer mais pelo povo do que a mão invisível e interes- seira do mercado (tabela 1).

Os números, porém, não rebaixam o senso crítico e autocrítico dos vietnami- tas em relação às suas debilidades. Eles reconhecem as dificuldades de gestão nas empresas estatais, reduzidas de apro- ximadamente 12 mil em 1990 para algo

A moda do fim do século nos pede para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"

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Quinzena N0 241 - 30/11/96 30 Internacional

próximo de 6 mil em 1995. Essa redu- ção, longe de significar a abdicação do Estado do papel dirigente na economia, apenas evidencia uma reorientação para se concentrar nos setores considerados estratégicos - eletricidade, petróleo, te- lecomunicações, informática, indústria naval, bancos, seguros. Ao mesmo tem- po a indústria de manufaturados, alimen- tos, cerâmicas e artesanato perdem pri- oridade na ação estatal.

As estatísticas oficiais registram ain- da que a participação do setor estatal no PIB apresenta uma tendência a diminuir, passando de 67,5% em 1990 a 59,8% em 1994. O governo e o partido não acham essa tendência lógica, mas apenas o re- flexo das dificuldades das empresas es- tatais em explorar suas potencialidades. Acreditam que a melhoria nos mecanis- mos de gestão, principalmente a quali- ficação de mão-de-obra, ajudará na re- tomada da expansão do setor estatal no conjunto da economia.

Embora o último plano qüinqüenal (1991-1995) tenha cnado uma média de um milhão de empregos/ano, o desem- prego permanece como uma questão social dramática para milhões de vietnamitas da cidade e do campo.

Os dingentes do Estado manifestam preocupação com o desenvolvimento da infraestrutura. Os bombardeios norte- americanos, principalmente no Norte, deixaram o país praticamente sem pon- tes e com as malhas rodoviária e ferro- viária destruidas. Mesmo quinze anos após o fim da guerra, o trabalho de re- construção não está terminado e consti- tui grave inibição aos investimentos e ao desenvolvimento.

A cidade de Hao Long, situada na baía do mesmo nome, tem tudo para se transformar em um dos grandes pólos turísticos da Ásia. A baía com suas três mil pequenas ilhas serviu de cenário para boa parte do filme Indochina. Mas o hotel que hospedou a estrela francesa Catherine Deneuve obtém taxas muito baixas de ocupação.

Questionado sobre as razões de tan- to potencial desaproveitado o responsá- vel local do partido respondeu que os turistas não podem ser trazidos para um local que não dispõe de um aeroporto internacional nem de acesso fácil por ferrovia ou rodovia. Tão logo seja pos-

sível, acrescentou, os investimentos se- rão realizados para tomar Hao Long um lugar irresistível aos olhos dos turistas de todo o mundo.

As esperanças do dirigente de Hao Long não devem estar muito longe da concretização, pelo menos a considerar as taxas de investimento na economia em relação ao PIB, que saltaram de 15,8% em 1990 para 27,6% em 1995. Os núme- ros são alentadores se cotejados com as taxas de investimento de 15% do PIB do Brasil, e ainda que guardando uma relati- va distância dos 37,2% alcançados pela Coréia do Sul e 39,7% por Cingapura.

Os avanços sociais também têm sido significados, a ponto do Unicef orga- nismo das Nações Unidas para a infân- cia, colocar o Vietnam em segundo lu- gar numa lista de países que adotaram programas eficientes de proteção às suas crianças.

A parcela de famílias abaixo da li- nha de pobreza caiu de 55% em 1989, para 20% em 1993. Vai ficando distante a imagem desoladora de milhares de vietnamitas em frágeis botes á deriva fugindo das dificuldades econômicas no ápice da crise de final dos anos 70 e iní- cio dos anos 80. Nos pronunciamentos dos dirigentes durante o Congresso, es- ses migrantes são tratados como parte do povo e a eles é feito o mesmo apelo para o esforço comum de reconstrução nacional.

Com apenas 30% de sua população residindo nas adades, o vietnamita reser-

va um respeito especial ao trabalho no campo. E motivo de orgulho ter alguém da família no cultivo da terra, e o gover- no tem feito todo o esforço para levar ao campo escolas, assistência médica e melhorias que tomem a vida rural me- nos difícil.

As terras férteis cortadas por nos cau- dalosos e a posição estratégica de seu imenso litoral debruçado sobre o mar da China e o golfo do Sião tomaram o Vietnam uma atraente presa para a cobi- ça estrangeira ao longo de sua história. Invasores mongóis e chineses precederam as recentes ocupações do país pela Fran- ça, Japão e Estados Unidos. Eis porque os vietnamitas são tão ciosos de sua in- dependência e exigentes nos cuidados com a defesa de sua soberania e com a preparação de suas forças armadas.

O museu das forças armadas em Ha- nói exibe nos jardins o Mg 21 que, pi- lotado por um vietnamita, derrubou 14 gigantescos bombardeiros B52 dos agressores americanos. Lá também pode-se ver os destroços dos aviões ini- migos abatidos, a bateria de canhões que primeiro chegou a Dien Bien Phu na derrota francesa de 1954, além do tan- que que entrou no palácio presidencial de Saigon em 1975.

Engana-se quem confundir este zelo com qualquer espírito belicista. Ao con- trário, os vietnamitas são portadores de um elevado espírito intemacionalista e uma curiosidade sem par em relação ao mundo. Nas províncias, inúmeros diri-

Tabela 1 - Resultados do PI; ino Quinqi lenal 1991-1995 (Média anual)

Previsto Realizado Crescimento do PIB (%) 5,5-6,5 8,2

Valor da produção agrícola (%) 3,7-4,5 5,4

Valor da produção industrial (%) 7,5-8,5 13,5

Valor das exportações (bilhões de dólares) 12-15 17,0

Valor das importações (bilhões de dólares) 16 22,1

Produção de viveres (MT) 24-25 27,5

Produção de eletricidade (bilhões de kwh) 15-16 14,7

Produção de petróleo baito (MT) 7,0-8,0 7,7

Produção de aço em 1995 (1000T) 270-300 380

Produção de cimento em 1995 (MT) 4,0-4,5 5,8

Taxa de crescimento da população (%) 1,87 2,0

Fonte: Burcau Central des Statistiques - fietnam

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Quinzena N0 241 -30/11/96 31 Internacional

gentes manifestaram diversificado e surpreendente conhecimento do nosso país, de sua geografia e economia, do mesmo modo que um grande número de meninas e meninos camponeses lembra- ram p nome de astros de nossa seleção de futebol e das telenovelas brasileiras.

Ho Chi Minh, fundador do Partido Comunista e do moderno Vietnam, vi- veu quase trinta anos fora do país, per- correu continentes, visitando inclusive o Brasil, sendo recebido pelo pinto Di Cavalcanti. Ele via na luta de libertação do Vietnam não apenas a realização do patriotismo do seu povo mas a contri- buição que ela representava para a cau- sa comum da humanidade contra o colonialismo, a opressão e a barbárie.

Apesar do bloqueio norte-americano, mantido até recentemente, o Vietnam estabeleceu relações diplomáticas com aproximadamente I60 países e relações comerciais com cerca de 100 países, re- cebendo de pelo menos 50 deles algum tipo de investimento.

No Congresso de Hanói, pude ouvir, além dos pronunciamentos dos partidos comunistas de vários países, o comoven- te discurso da representante do Partido Social-Dcmocrata da Suécia, que evo- cou o assassinato do ex-primeiro minis-

tro Olaf Palme e sua posição crítica à agressão norte-americana.

Como pode um pequeno país como o Vietnam resistir ao cerco ideológico, político e econômico de um mundo do- minado pelos valores do mercado'.' Que desafios vencer e dificuldades superar9

Que concessões fazer e que linha imagi- nária traçar como limite na defesa das conquistas revolucionárias'.'

O S0 Congresso faz grave adveitência: "As forças hostis ao socialismo e á

independência nacional dirigem sempre seu ataque contra o Partido. Suas mano- bras usuais consistem em falsificara his- tória, renegar as conquistas revolucio- nárias assim como os sacrifícios e os méritos dos comunistas, exagerar os er- ros c insuficiências do Partido, exigir o exercício dos direitos do homem e da democracia segundo a concepção bur- guesa, a despolitização do aparelho de Estado, o pluralismo e o multipartídaris- mo, com vistas a apagar o papel dirígaite do Partido Eles se servem dos oportu- nistas, dos renegados políticos ou dos elementos degenerados em qualidade e em moral para dividir o Partido, enfra- quecê-lo e sabotá-lo em seu seio"

Com a finalidade de prevenir os ris- cos representados para a manutenção da

construção do socialismo, o Congresso apontou a direção da economia como a tarefa central e a construção do Partido como a tarefa chave.

Para impedir os danos causados pela burocratização, o Partido se esforça para ampliar a democracia socialista no país, aperfeiçoar o estado de direito, critican- do e punindo a violação dos direitos hu- manos do povo por •parte de dirigentes partidários e funcionários do Estado.

Conscientes de que os tempos atuais ensejam perigos e desafios a Conferên- cia Nacional do Partido realizada em |QQ4 advertiu contra os quatro grandes riscos: o perigo de cair no atraso econô- mico masi acentuado em relação aos outros países da região; o desvio da ori- entação socialista, o burocratismo e a corrupção.

A julgar pelas convicções manifes- tadas por dirigentes e militantes da tri- buna do 8o Congresso e pela conhecida disposição de luta e trabalho da nação indochinesa, os quatro grandes perigos serão vencidos para a merecida alegria de um dos povos mais resolutos e sacri- ficados da história contemporânea. "1

A Ido Rebelo, é deputado federal pelo PC do B/SP.

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A moda do fim do século nos pede para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"

Page 32: 241 - :: Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiroda jornada de trabalho associa-do a uma política de treinamento e requalificação profissional e a ampliação, em vez da Jiquidação,

Quinzena N0 241 -30/11/96 32 mmmmwmm Cultura

CAUÇÃO VA SAÍDA

SE NÃO TENS O QUE COMEU

COMO PRETENDES DEFENDER-TE?

É PRECISO TRANSFORMAR

TODO O ESTADO

ATÉ QUE TENHAS O QUE COMER.

E ENTÃO SERÁS TEU PRÓPRIO CONVIDADO.

QUANDO NÃO HOUVER TRABALHO PARA TI

COMO TERÁS DE DEFENDER-TE?

É PRECISO TRANSFORMAR

TODO O ESTADO

ATÉ QUE SEJAS TEU PRÓPRIO EMPREGADOR.

E ENTÃO HAVERÁ TRABALHO PARA TI.

SE RIEM DE TUA FRAQUEZA

COMO PRETENDES DEFENDER-TE?

DEVES UNIR-TE AOS FRACOS.

E MARCHAREM TODOS UNIDOS.

ENTÃO SERÁ UMA GRANDE FORÇA.

E NINGUÉM RIRÁ.

Bertolt Brecht

O Boletim QUINZENA divulga textos, artigos, e clocumentos produzidos pelos movimentos. Caso você queira divulgar algiau documento no QUINZENA, basta enviar-nos. Pedimos, dentro do possível, ater-se a S laudas. Textos

que ultrapassem este limite estarão sujeitos a cortes, por imposição de espaço.

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A moda do fim do século nos pede para largar a esperança, como se esta fosse um cavalo cansado"