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3REVISTA PRESS181

ALMANAQUE

A British Broadcasting Corporation (BBC), a rádio e tele-visão pública britânica, está completando 95 anos de fundação. A emissora de rádio foi fundada em 14 de outubro de 1922, e começou a operar em 14 de novem-

bro do mesmo ano. Inicialmente, ela era administrada de forma pri-vada, por uma associação dos principais fabricantes de aparelhos de rádio do Reino Unido, incluindo o inventor do rádio, Guglielmo Marconi. No entanto, em 1926, ela foi transformada em uma rádio pública monopolista e não comercial.

Em 2 de novembro de 1936, após sete anos de testes de transmis-são, foi lançado oficialmente o serviço de televisão da BBC, suspenso durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1953, a emissora entraria para a história com a transmissão da coroação da rainha Elizabeth II - 22 milhões de telespectadores assistiram ao evento, o primeiro a ter mais pessoas acompanhando pela TV do que pelo rádio.

Em 1955, a BBC perderia seu monopólio televisivo no Reino Unido com a fundação da primeira emissora privada britânica, a ITV. Já o monopólio do rádio continuaria até 1973.

Ainda hoje, a BBC é reconhecida pela alta qualidade de sua pro-gramação e do jornalismo praticado. É considerada a companhia de comunicação com mais empregados em todo o mundo (mais de 20 mil funcionários, chegando a 35 mil se incluídos freelancers e ou-tros trabalhadores com contratos flexíveis). Além do Reino Unido, seu serviço mundial (BBC World Service) oferece serviços de TV, rá-dio e website em 28 línguas.

Dito “O que é engraçado é que melhores programas de te-

levisão não custam assim tanto mais que os ruins.”

Warren Buffett (nascido em 1930)

“Os tempos não se tornaram mais violentos. Apenas se tornaram mais televisivos.” Marilyn Monroe (1926 - 1962)

“A televisão é a maior mara-vilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.”Apparício Torelly, Barão de Itararé (1895 - 1971)

B B C C O M P L ETA 9 5 A N O S

Lançado em 1997, Welcome to Sarajevo (Bem-vindo a Sarajevo) foi dirigido por Michael Winterbottom. O filme conta a história dos jorna-listas Jimmy Flynn (Woody Harrelson), dos Estados Unidos, e Michael Henderson (Stephen Dillane), da Inglaterra,que encontram-se em Sa-ravejo no início da Guerra da Bósnia. Durante suas reportagens, eles encontram uma órfã, Emira (Emira Nusevic). Henderson acaba se envol-vendo com os problemas da menina e decide levá-la ilegalmente para a Inglaterra, ajudado pela americana Nina (Marisa Tomei).

Bem-vindo a Sarajevo

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Almanaque

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Aquário

MIX

Entrevista: Manoel Pastana

Opinião: Mario Rocha

Capa: Ética da dor

Prêmio Press

Grandes Nomes: Euclides da Cunha

Galeria: A morte de Ulysses Guimarães

Sumário

Diretor-GeralJULIO RIBEIRO

Diretora-ExecutivaNELCI GUADAGNIN

Textos:MARCELO BELEDELI

Diagramação/ Arte Final ESPARTA PROPAGANDA

Imagens:Fotografias da entrevista:Jefferson Bernardes/Agência Preview

[email protected]

ImpressãoCOMUNICAÇÃO IMPRESSA

ComercializaçãoPORTO ALEGRE: (51) 3231 8181e (51) 99971 5805 comNELCI GUADAGNIN

PRESS e ADVERTISING SÃO PUBLICAÇÕES MENSAIS DA ATHOS EDITORA, COM CIRCULAÇÃO NACIONAL, SOBRE OS MERCADOS DE COMUNICAÇÃO E IMPRENSA BRASILEIROS. OS ARTIGOS ASSINADOS E OPINIÕES EMITIDAS POR FONTES NÃO REPRESENTAM, NECESSARIAMENTE, O PENSAMENTO DA REVISTA.

RUA SALDANHA MARINHO, 82 PORTO ALEGRE - RSCEP 90160-240 FONE/FAX (51) 3231 8181

[email protected]

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MIX

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Na noite do dia 30 de Outubro de 2017, cronistas es-portivos dos mais diversos veículos do Rio Grande do Sul se reuniram em evento na sede da Federação Gaú-cha de Futebol (FGF), em Porto Alegre.

O evento foi uma iniciativa do narrador Pedro Ernes-to Denardin em conjunto com a Associção de Cronistas Esportivos do RS (ACEG), a fim de arrecadar contribui-ções para viabilizarem a cirurgia bariátrica do repór-ter Jairo Kuba.

O profissional da Rádio Galera pesa 255kg e a inter-venção cirúrgica (que custa em torno de R$ 20 mil) possibilitará sua maior qualidade de vida. O técnico Renato Portaluppi doou R$ 10 mil.

O especial “Da fraude ao império: a his-tória do homem da faculdade de papel”, de autoria de José Luís Costa, recebeu re-conhecimento nacional. Publicada pelo Grupo de Investigação (GDI) do Grupo RBS, a reportagem venceu a categoria Impresso Regional do Prêmio Estácio de Jornalismo de 2017. Divulgado em março deste ano, o texto de José Luís denuncia o advogado Faustino da Rosa Junior, que, aos 34 anos, se apresenta como um dos maiores empresários do setor de Ensino Superior no país e é condenado por falsi-ficar diplomas universitários.

Repórter do GDI ganha

reconhecimento S o m o s t o d o s K u b a

Leonardo Meneghetti foi para Band no inteiror de SP Leonardo Meneghetti, que até janeiro deste ano foi diretor-geral do

Grupo Bandeirantes do Rio Grande do Sul assumiu a Direção Geral da BAND PAULISTA.

Em São Paulo, ele passará a trabalhar em um núcleo que está sendo formado para atuar junto à rede de emissoras próprias. “Na BAND PAU-LISTA, tenho missões bem definidas que encaro como desafios e possi-bilidade de aprendizado. São duas sedes maiores (SJ do Rio Preto e Pre-sidente Prudente), outra duas menores, e a abrangência de cobertura de 282 cidades no estado de São Paulo embaixo deste guarda chuva. A TV tem quatro programas locais diários, o que significa quase quatro horas de transmissão. Mais quatro emissoras de Rádio, duas delas brigando pela liderança na audiência”, disse o jornalista.

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apenas a classe média, que passou a economizar em táxis, mas, espe-cialmente, as populações de menor renda, que pouco ou nunca usa-vam táxis. O pessoal das comuni-dades populares passou a usar os aplicativos para buscar atendimen-to médico à noite, para se divertir nos finais de semana com a certeza de ter transporte para voltar pra casa e como alternativa aos ônibus, também caros e ruins.

Enfim, todo mundo saiu ganhan-do com os aplicativos. Essa, aliás, é a grande característica dos negó-cios surgidos na nova economia. Eles quebram lógicas tradicionais, diminuem intermediários, am-pliam e barateiam serviços e em-poderam os usuários/clientes. Isso é uma maravilha para o cidadão, mas é visto como uma ameaça por governantes e políticos, por uma razão muito simples: eles estão per-dendo poder, ficando à margem da sociedade, que vai se autoregulan-do, autogerindo.

É por isso, mais do que qualquer outra razão, que eles não aceitam "novidades" como o Uber. Como pode haver um serviço em que o Estado não impõe as regras? Como pode haver gente trabalhando e gerando renda sem a "proteção" da legislação trabalhista?

Perdeu playboy! Assim como os taxistas, os políticos e os governos estão sendo hackeados e ficando de fora do jogo, porque as regras agora são outras, a sociedade está conquistando a sua liberdade, a sua alforria. Os aplicativos de transporte são apenas um exem-plo, mas existem inúmeros outros (aluguel por temporada, médicos

em casa, advogados online, etc), que subvertem as regras do século passado e ampliam o poder do con-sumidor. E isso veio pra ficar, não adianta os perdedores do trem da história estrilarem, não tem como parar a nova economia.

E para que isso aconteça de uma forma, ainda mais ampla e mais rápida, precisamos nos privatizar, depender o menos possível de go-vernos e políticos. Não precisamos da sua proteção, a não ser ficar protegidos deles mesmos. Aos go-vernos deverá restar o papel de prover saúde, educação e seguran-ça. A propósito, há poucos dias foi divulgado o mapa da violência no Brasil, que registrou mais de 61 mil homicídios no país, em 2016. Mais de 170 assassinatos por dia no ter-ritório nacional. Com isso sim é que os governos e os políticos de-vem se ocupar seriamente. O resto deixa com a gente!

REVISTA PRESS181

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Devemos exigir nossa privatiza-ção, sob a ameaça de uma guerra santa contra governos e políticos. E a razão é muito simples, temos Estado demais, governo demais, política demais em nosso país. Re-solver aquelas questões cruciais, como segurança pública, educação, e saúde, eles não resolvem, mas se meter onde não devem, como é o caso dos aplicativos, aí se metem.

O Uber, Cabify, 99 Pop e outros aplicativos já empregam cerca de 500 mil pessoas no país, ou seja, já fizeram mais pelos brasileiros que toda a política de emprego e renda do governo federal nos últimos qua-tro anos. São mais de 15 milhões de usuários, que trocaram o serviço ruim, caro e monopolizado dos tá-xis, pelo conforto de um carro lim-po, bem cuidado, que vai buscar e levar em casa, dirigido por motoris-tas cordatos e que estão sob a ava-liação constante e eficaz do usuário.

Os aplicativos não beneficiaram

A recente tentativa do Congresso em estragar umas das poucas coisas que funciona no Brasil,

que são os aplicativos de transporte, sob a alega-ção de "regulamentar",

cristalizou em mim uma opinião, uma ideia, uma

convicção: precisamos, ur-gentemente, nos privatizar.

Precisamos nos privatizar!AQUÁRIO

JULIO [email protected]

Julio Ribeiro é jornalista e publisher da Athos Editora

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MIX

O Diário Oficial da União (DOU), veículo oficial que publica os atos do governo, não será mais comercia-lizado na forma impressa a partir do dia 30 de no-vembro. As informações só poderão ser acessadas pela internet. O Diário Oficial está em circulação desde 1 de outubro de 1862. Formado por um con-junto de três secções diárias, o DOU divulga também atos de nomeação e exoneração de agentes públi-cos, assim como aqueles referentes a contratações, convênios e licitações da Administração Pública Fe-deral e dos Poderes Legislativo e Judiciário.

Diário Oficial da União deixará de ser impresso

PRESS181

O radialista Arlindo Sassi foi contratado pela rádio Pampa. Sassi assumiu, no dia 16 de outubro, o comando o programa Pampa News, das 15h às 18h, no lugar de Marne Barcelos, que segue na empresa na faixa das 6h às 11h, além de assumir os comentários no Pampa Bom Dia, das 5h às 10h, e no Co-nexão Pampa, das 10h às 15h. O comunica-dor deixou a Jovem Pan Porto Alegre, onde atuava desde janeiro deste ano.

Arlindo Sassi vai para a Pampa

Teste do FACEBOOK derruba audiência de notícias

O Facebook provocou reação de editores ao redor do mun-do ao iniciar um teste em seis países, tirando as páginas de mídia e outras do feed de notícias - que passou a priorizar amigos e conteúdo pago. O teste foi restrito a pequenos paí-ses da América Latina (Guatemala e Bolívia), Europa Orien-tal (Eslováquia e Sérvia) e sul da Ásia (Sri Lanka e Camboja). Neles, as redações perceberam quedas de audiência. Entre as conclusões iniciais tiradas por editores, a principal foi que será preciso pagar ao Facebook para se manter no feed de notícias - e veículos menores tenderão a desaparecer.

Jornalismo do interiorAté o dia 24 de novembro, estão abertas as inscrições para

o Prêmio ARI/Banrisul da Associação Riograndense de Im-prensa (ARI). Neste ano, foi lançada a categoria Jornalismo Impresso Interior RS, que irá valorizar reportagens de tema livre publicadas em jornais que não são diários. Mais infor-mações em www.premioaridejornalismo.com.br.

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ENTREVISTA

Fale um pouco sobre suas ori-gens, sua formação...

Eu nasci no Pará, na Ilha do Ma-rajó. Tenho 55 anos. Saí de lá com 17 anos e fui morar em Brasília, onde trabalhei de faxineiro, ven-dedor de livros... Eu não tinha con-dições sequer de pagar uma passa-gem de ônibus. Morava na cidade satélite do Guará. Depois entrei na Aeronáutica, pelo serviço militar obrigatório. Depois de passar em concurso e me formar especialista em Comunicação, fui trabalhar no serviço de inteligência da Aeronáu-tica. Nesse período eu decidi cursar Direito, e entrei na faculdade com 25 anos. Estudava à noite e traba-lhava durante o dia. Eu passei em seis concursos da área jurídica, sen-do três em primeiro lugar. No MPF (Ministério Público Federal) estou há 21 anos.

Apesar das origens humildes, o senhor sempre teve uma preocu-

meu pai ficou no interior, mas que o que ele produzia não era suficien-te para a gente. Então, com sete anos, eu já vendia na rua salgados que minha mãe fazia.

Mesmo criança, tinha que traba-lhar então?

Duas coisas minha mãe teve pre-ocupação com os filhos: não virar mendigo na rua e nem ficar atrás de esmola de igreja ou de prefeitu-ra. Ela dizia que não queria criar filhos vagabundos ou preguiçosos. "Vocês vão trabalhar para sobrevi-ver." Então a gente vendia salgados, descascava palmito, lavava telhas, quebrava pedra. Naquela época fui reprovado na terceira série do primário, porque, imagina, não era sempre que a gente conseguia comer. Às vezes dormia sem co-mer nada. Você ir para o colégio com fome, sem tempo para estu-dar. Some a isso a preguiça natural. Resultado: reprovação. Quando fui

pação com sua educação. Quem foi responsável por isso?

Foi a minha mãe. Nasci na Ilha do Marajó, ao lado de um rio, onde tinha uma casa isolada, coberta de palha. Minha mãe e meu pai eram agricultores. Ali, o índice de analfa-betismo era de quase 100%. O que a mamãe fez? Ela formou um grupo de seis ribeirinhos, e se deslocavam três vezes na semana, duas horas de canoa, para ir a uma escola para se alfabetizar. Ela foi a única mulher alfabetizada desse local, que se cha-ma Sete Ilhas. Depois ela convenceu meu pai a sair desse local porque dizia que não queria que os filhos fossem burros e nem passassem tanta dificuldade. E mudamos para São Sebastião da Boa Vista, uma cidade pequena, mas que tinha es-cola. Mas havia um problema: no interior a gente não passava fome, porque tinha pesca, caça, frutas. Na cidade não tínhamos renda, então passamos extrema dificuldade. O

"Por 15 anos o Ministério Público Federal foi aparelhado por procuradores de esquerda para proteger o PT"Manoel do Socorro Tavares Pastana é Procurador Regional da República da 4ª Região. Com 55 anos, o paraense

nascido em uma família pobre da Ilha do Marajó é autor do livro autobiográfico "De Faxineiro a Procurador da Repúbli-ca", que, além de narrar sua vida, também expõe bastidores da cúpula do poder no Brasil. Pastana deve lançar um novo livro em breve, sobre o mandato de Rodrigo Janot na Procuradoria Geral da República. Nesta entrevista, Pastana fala sobre sua vida, o Judiciário e detalha o aparelhamento do Ministério Público pelos procuradores "tuiuiús", protagonis-tas nos últimos 15 anos na instituição.

MANOEL PASTANA

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Entrevista:Julio Ribeiro

Fotos:Jefferson Bernardes

Agência Preview

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ENTREVISTA

reprovado, minha mãe me deu uns cascudos, mas a dor física foi menor do que a dor moral. Isso porque eu vi que o sacrifício dela de mudar para a cidade foi para que não ficássemos como ela, para que tivéssemos edu-cação. Aquilo pesou, caiu a ficha. Aí, a partir disso, eu tinha uns 10 anos, mudei a minha vida. Nunca mais fui reprovado, virei aluno “CDF”.

Mas a legislação hoje é contrária ao trabalho de menores.

Eu acho um absurdo o que o Esta-do faz com os brasileiros. Nós somos tutelados e considerados irrespon-sáveis, desde pequeno até a morte. O Estado não te dá a condição real para você ser um cidadão de bem. Ele te dá uma condição na lei, que não é aplicada na prática. O menor não precisa trabalhar... Por outro lado, ele também não te cobra res-ponsabilidades. Nós estamos fabri-cando criminosos no Brasil! Falo por experiência própria. Só não entrei para o crime porque eu tive uma educação muito boa desde pe-queno. Cheguei em Brasília com 17 anos, menor de idade. Passei extre-ma dificuldade e fui convidado vá-rias vezes a assaltar. Na época tinha um conhecido que tinha 17 anos e assaltava lá no Guará. Ele dizia para mim: "vamos, não pega nada com a gente, nós somos de menor". Não fui, mas muita gente vai, com base nisso aí. Já vi isso em processos. Isso é outra coisa que as pessoas também não sabem e só vão saber quando já estão em fria e depois não tem como sair. Na realidade, o menor respon-de, sim, mas responde por ato in-fracional, dosado de acordo com a gravidade. Acontece na prática o seguinte: quando um menor comete um ato infracional, pela lei não de-veria ir para o registro dele. Só que todo mundo hoje tem acesso a tudo. Se você quiser arrumar um empre-go vão pesquisar e ver isso, que vai pesar contra.

Fala-se que o STF extrapola, que o Legislativo se omite, mas o Minis-tério Público Federal (MPF) tam-bém não extrapola?

Em nenhum local por onde pas-sei eu vi se cometer tanta ilegalida-de quanto dentro do MPF. Por quê? Porque o MPF é simplesmente o fis-cal do fiscal. O MPF fiscaliza todos os poderes e não tem quem fiscali-ze ele, porque quem o fiscaliza é ele próprio. Numa república ninguém pode ter poder absoluto, mas temos uma figura no Brasil que extrapo-la todos os limites republicanos: o procurador-geral da República. O poder dele é absoluto quando se trata de não acusação. E foi isso que eles fizeram com o Lula. Eu repre-sentei contra o ex-procurador ge-ral Antonio Fernando por ele não ter incluído o Lula na denúncia do mensalão. Vou explicar rapidinho como é que funciona. Nós, do MP, temos independência e autonomia funcional. Ninguém manda o que eu devo fazer. Eu processo prefeito, juiz federal de primeira instância, procurador da República de primei-ra instância, quem tem foro privile-giado perante o Tribunal Regional Federal da 4ª Região é processado por nós, os procuradores regionais. Quem decide se acusa ou não sou eu. A Polícia Federal pode investi-gar, traz tudo, mas quem vai forma-lizar ou não é o procurador.

Então, ele pode virar o “engaveta-dor-geral da República”?

Eu entrei em 1996, peguei uma parte do mandato do Geraldo Brin-deiro. O Brindeiro realmente foi um engavetador como todo o Pro-curador-Geral, da forma como é a coisa, acaba sendo. Porque quem nomeia o Procurador-Geral da Re-pública é o presidente. E o manda-to é muito curto, são só dois anos. Então, o cara que fiscaliza o presi-dente depende dele, da sua caneta, para mantê-lo ou não.

Como é a escolha do Procurador Geral da República?

Já ouviu falar da eleição da lista tríplice para a PGR? Não existe elei-ção da lista tríplice na Constituição, ela apenas diz que o procurador deve ser um membro do Ministério Público da União, tenha mais de 35 anos e seja aprovado pelo Senado. Bom, o presidente da República pode escolher qualquer membro do Ministério Público da União. Não é exigida a eleição pela lista tríplice na Constituição. A Associação Na-cional dos Procuradores da Repú-blica criou essa eleição para tentar ver se emplacavam os “tuiuiús”, procuradores ligados à esquerda, que achavam que não tinham vez na cúpula do MPF, por isso usaram o nome tuiuiús em alusão à ave do Pantanal que tem dificuldade para voar. A primeira eleição da lista trí-plice foi em maio de 2001. O man-dato do Procurador-Geral é de dois anos. E saíram três tuiuiús na lista tríplice. Foi Cláudio Fonteles, An-tonio Fernando e Ela Wiecko. Sim-plesmente, o presidente Fernando Henrique ignorou a lista e recondu-ziu o Brindeiro. Como não é exigi-do na lei, ele passou por cima. No governo Lula, eles fazem de novo a eleição, agora em 2003. E aí fica na lista tríplice os mesmos três indica-dos na anterior. E aí Lula nomeia Fonteles. A primeira coisa que eles combinaram é que cada um deles só iria ficar um mandato. Os tuiuiús ganharam todas, desde a primeira até esta última. A Raquel Dodge foi segunda da lista. E a intenção deles era enfiar três lá para pressionar o Temer. Mas a Raquel Dodge não é tuiuiú, é exceção. Por isso o Temer a nomeou. Para ganhar essa eleição, eles fazem de tudo, inclusive com-pra de votos, pressão. Só um exem-plo: o Gurgel, em 2011, era candida-to à recondução. Na época, estava sendo investigado o governador do Distrito Federal, José Arruda. O

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Gurgel teve um encontro clandesti-no com o Arruda, fora do gabinete dele. Alguém soube e vazou isso para imprensa. Os procuradores caíram de pau no Gurgel. Quando é época da eleição... o procurador-Ge-ral sempre tem um monte de gen-te que bajula, né?! Sempre quando estava próximo de uma eleição, vi-nha todo mundo para pedir voto, mas com esse negócio sumiram os apoiadores e só falavam os críticos. Mas uma semana antes da eleição, foi anunciado o pagamento de par-cela da PAE (Parcela Autônoma de Equivalência). Para você ter uma ideia, esse pagamento era para os procuradores que entraram até 1997. Eu entrei em 1996, então, pe-guei bem pouco, os que entraram antes receberam bem mais. Eu re-cebi R$ 60 mil. Meu amigo, não se viu mais nenhuma crítica.

Está dizendo que, durante 15 anos, o Ministério Público foi aparelhado?

Para proteger o PT. Claro. Veja só: o Gurgel foi o primeiro coloca-do da lista. Teve menos votos do que na eleição anterior, mas con-tinuou sendo o primeiro por conta desse pagamento aí. Bom, só que a Dilma não estava a fim de recon-duzi-lo, não. Tanto que ficou qua-se um mês sem Procurador-Geral. Sabe o que ele fez? Arquivou aque-le inquérito do Antonio Palocci (ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil) quando descobriram o pa-trimônio dele?. O Gurgel deu uma canetada, arquivou e mandou có-pia para Dilma no mesmo dia que ele promoveu o arquivamento. No outro dia, a Dilma reconduziu ele. Isso é um exemplo típico de como funcionava essa nomeação.

E o processo 2474, do Mensalão?Está no Supremo, sob segredo de

Justiça. Nisso aconteceu o seguinte: o Antonio Fernando, procurador

que fez a denúncia do mensalão, foi o segundo que veio depois do Fonteles. O Fonteles aparelhou o MPF para proteger o PT. Nós temos independência. Ninguém manda o que a gente tem que fazer. Só que, no caso criminal, só o Procurador--Geral da República pode processar o presidente da República. Então, o inquérito criminal está com ele. O Fonteles fez para proteger o PT foi colocar um corregedor tuiuiú, que era o Vagner Gonçalves, que saiu dando porrada em tudo quanto é procurador. Eu fui um dos procura-dores que sofreram nas mãos dele, vários procuradores sofreram, in-clusive o Roberto Santoro, que era um subprocurador. Havia um pro-cesso que estava em Brasília, na pri-meira instância, com o Marcelo Ser-ra Azul e com o Lúcio Avelar. Eles queriam pegar o assessor do José Dirceu, que era chefe da Casa Civil. Eles não podiam investigar o chefe da Casa Civil, que tinha prerroga-tiva de foro. Mas queriam pegar o assessor. E o Santoro era um cara muito experiente, era Subprocura-

dor-Geral e todas as vezes que eu ti-nha um caso muito complexo pedia ajuda dele. Esses dois procuradores chamaram o Santoro para ajudar. O Santoro foi e estava pressionando o Carlinhos Cachoeira para entregar uma fita onde envolvia o assessor do Zé Dirceu e, assim, chegar ao ex--ministro. Só que o Cachoeira gra-vou o Santoro mandando entregar logo a fita porque depois vinha o Fonteles para dizer “você quer pe-gar o governo”. Isso foi parar no Jornal Nacional. Cara, caíram de pau no Santoro, e Fonteles bota cor-regedor. Mas isso não é crime, não é improbidade, não é nada. Aí o San-toro pediu exoneração depois.

No que isso resultou?Sabe o que o Fonteles fez para

evitar esse tipo de coisa? Criou um serviço de inteligência dentro do Ministério Público Federal. Sabe quem era o chefe? O Rodrigo Janot. Naquela época, as denúncias que apareciam do governo petista eram pequenas ainda, eram poucas. Por isso eles usavam a corregedoria

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ENTREVISTA

para pegar a gente que era inde-pendente para intimidar. Só que quando apareceu o Mensalão, di-vulgado pela imprensa, então eles pararam com essa história de per-seguir procurador. Aí usaram a es-tratégia da atuação de faz-de-conta. Por exemplo, como eu tenho inde-pendência para atuar, mas quero proteger alguém, mando instalar um inquérito mas não faço diligên-cias que sei que vão atingir o cara. Você controla a investigação. Por exemplo: você sabe que o cara tem dinheiro no banco, você jamais vai pedir a quebra do sigilo bancário dele.. Vai pedir todas as outras di-ligências, menos aquela que sabe que vai atingir o cara. Foi assim que o Antonio Fernando fez. Antes do Mensalão, a primeira atuação de faz-de-conta protegeu o hoje minis-tro da Fazenda, Henrique Meirel-les. Ele era acusado de ter mandado não sei quanto bilhões para o exte-rior, entre outras coisas. Na época o presidente do Banco Central não tinha prerrogativa de foro perante o STF. Ele era julgado em primeira instância. Imediatamente, o Lula baixou uma medida provisória, que deu prerrogativa de foro para o presidente do Banco Central e, quando o Supremo disse que valia, o Fonteles instaura um inquérito contra o Henrique Meirelles. Aí o Lula elogiou o procurador inde-pendente. Imagina o PT comemo-rando denúncia contra o governo. Sabe no que deu isso aí? Nada. Foi arquivado o processo. Depois veio o Mensalão, e aí valeu aquela his-tória de controlar a investigação e não fazer aquilo que sabe que vai pegar quem você não quer. Marcos Valério destruiu provas. E qual era o caminho mais curto dessa inves-tigação? Prisão do Marcos Valério, isso é óbvio! Está na lei, artigo 102 do Código do Processo Penal, prisão preventiva, não é nem temporária. Para preservar provas. E o Marcos

Valério destruiu provas e o Procu-rador-Geral da República não pediu a prisão dele. Mas o Marcos Valério ficou desesperado, porque qual-quer hora poderia ser preso. Quan-do a mulher do Marcos Valério foi pega tentando sacar R$ 3,5 milhões em um banco lá em Belo Horizon-te, ele foi até a Procuradoria Geral e queria se apresentar para colabo-rar, fazer a delação premiada - que já existe há muito tempo. Sabe o que o Antonio Fernando disse para ele? Que era prematuro e inopor-tuno. Porque ele sabia que isso ia pegar o Lula e ele queria proteger o presidente.

Quem está com esse processo?Ele já passou por cinco relatores.

Agora está com o ministro Dias To-ffoli. Mas, quem comanda o inqué-rito é o Procurador-Geral. Ele que pede, que faz diligência. Eu fiquei

sabendo desse inquérito não foi por acaso, não. Fui eu quem primeiro representou contra o Antonio Fer-nando por prevaricação pelo fato de ele não ter incluído o Lula na denúncia. E eu mostrei provas que envolviam o Lula. Aí, arquivaram minha representação lá. Por que o Ministério Público foi o lugar em que eu mais vi ilegalidade? Porque ninguém fiscaliza a gente. Quem fiscaliza somos nós mesmos. Só que somos nós aqui e eles, a cúpula, lá. A corregedoria está nas mãos de-les, o conselho está nas mãos de-les, tudo lá. Então, eles que fazem, que investigam e não investigam. Eu já representei contra o Antonio Fernando, contra Gurgel, contra Fonteles, contra a cúpula. Todos arquivaram as minhas representa-ções. Quando o Gurgel assumiu, re-presentei ao Gurgel para ele incluir o Lula na denúncia e mostrei as

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Aragão, que foi nomeado ministro da Justiça por dois meses? Ele deto-nou o Janot, porque achou que o Ja-not foi traidor do PT e dos próprios tuiuiús. Por conta dessa traição o Ja-not foi obrigado a atirar no próprio PT e teve toda uma sequência de fatos. Primeiro, divulga a gravação do Delcídio. Aí, logo em seguida, o Moro divulga a escuta do "Bessias". Isso aí insuflou o impeachment, cai Dilma. Agora vem uma outra parte da história. Quando a Dilma caiu, o Janot perdeu um parceiro. Ele precisava de um presidente da Re-pública para manter ele no cargo, na recondução dele ou que colo-casse alguém do grupo dele. Janot se aproximou do Temer. Quem era vice do Janot? Era Ela Wiecko, que é esquerda convicta mesmo. Ela apareceu num protesto, na Europa, pelo Fora Temer. O Janot a convi-dou a pedir exoneração, o que ela fez. Então, ele nomeou José Bonifá-cio de Andrada. Bonifácio não tem nada a ver com PT, não tem nada a ver com tuiuiú. Ele era ligado ao PSDB. O Janot nomeou ele como vice para se aproximar do Temer.

Qual o futuro da Lava-Jato? As condenações do Lula, a primeira e a segunda, agora vão ser confir-madas?

Olha nós temos duas Lava-Jato. A da primeira instância acho que vai dar bom resultado.

A primeira sentença do Lula eu achei um pouco fraca, mas pode ser que confirme. O período em que o Lula mais praticou crimes é quando ele era presidente da Re-pública, no Mensalão, quando os tuiuiús o protegeram. Agora, essas condenações são mais difíceis, mas é possível. Já a Lava-Jato no Supre-mo, se o Supremo aplicar a lei, for técnico, ela vai ser toda anulada, porque foi mal conduzida pelo en-tão Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot.

provas. Depois de um ano sentado em cima da minha representação, o Gurgel arquivou dizendo que as provas apresentadas estavam na-quele inquérito 2474 que estava em trâmite no Supremo. Como o inqué-rito estava sob segredo de Justiça...

Em que momento o Janot foi tra-ído?

No Petrolão, o Janot vinha fazen-do a mesma coisa que os seus ante-cessores fizeram, aquela proteção velada, atuação de faz-de-conta. O Janot estava protegendo a Dilma, tanto que teve várias representa-ções contra ela, todas arquivadas. Só que aí veio a Lava-Jato. Houve duas Lava-Jato, a de primeira ins-tância e a do Supremo. Essa de primeira instância, os procurado-res estavam pegando quem não tinha prerrogativa de foro e eles estavam atuando mesmo, e eu sei disso porque eu atuava aqui em se-gunda instância. Todos os recursos que vinham da primeira instância passavam aqui por mim. Eu era o fiscal da lei aqui desses recursos. Fiquei um ano na Lava-Jato em 2014. Mas, o Janot estava tentan-do ver se parava, mas sutilmente. Eu conto no livro que o Janot der-rubou os tuiuiús porque teve um projeto megalomaníaco além dos outros, que os outros tuiuiús não se expuseram tanto. Ele se expôs e por isso foi traído. O Janot escolheu um grupo a dedo para trabalhar com ele. O Janot cometeu ilegalida-des na designação desse pessoal. E esse pessoal ele tinha como pessoas de confiança, pois não queria gen-te independente trabalhando com ele. Mas nesse grupo tinha um Ju-das, que armou a gravação do Del-cídio do Amaral (PT, ex-senador do Mato Grosso do Sul).

De que forma o Janot era diferen-te dos outros tuiuiús?

O Janot é uma espécie de Lula.

O cara que é de esquerda mesmo, morre pela esquerda, é o cara que é revolucionário e não faz acordo com banqueiro, é idealista. O Lula fez acordo com banqueiro, com todo mundo. Ele é o oportunista, a ideologia fica em segundo plano. Se ele puder seguir a ideologia, tudo bem. Se não, ele passa por cima. O Janot é igualzinho ele. Os outros tuiuiús tinham aquele negócio de esquerda, de não bater no PT. E também eles não arriscaram tanto assim. Sabe aquele negócio de pau que bate em Chico bate em Francis-co? Esse auxiliar dele, vendo o jeito que ele estava, articulou a gravação do Delcídio. O Janot não sabia que tinha sido gravado. Quando che-gou essa gravação do Delcídio para ele, apareceu como se fosse um ato voluntário. Isso é normal. Não era ilegal dizer para o filho do Nestor Cerveró (ex-diretor da Petrobras) gravar o cara, o Delcídio. Se o Del-cídio estava mesmo oferecendo vantagem, eu, como procurador, poderia dizer para gravar e trazer a gravação. E não é ilegal isso aí, se a gravação é voluntária. Se você for ver o depoimento do Cerveró, ele teve que esconder isso, que o cara foi orientado a gravar pelo procura-dor. E a interpretação pela impren-sa foi equivocada. A imprensa in-terpretava que daria nulidade, não daria nulidade coisa nenhuma,esse tipo de gravação não é ilegal. O que acontece é que eles esconderam isso, e aí é a prova que eu tenho de que o Janot foi traído, porque ele não queria que soubessem que o filho do Cerveró foi orientado por alguém da equipe dele para gravar o cara que ele - Janot - queria pro-teger. Essa gravação não era ilegal, mas eles esconderam isso para que o Janot não soubesse. No fim, ele teve que pedir a prisão do Delcídio.

E porque o Janot foi traidor? fLembra do procurador Eugênio

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ou vivos, presentes ou ausentes. Lu-cídio Castelo Branco, 92 anos, trou-xe a memória mais antiga das lutas passadas, inteirou-se sobre os novos desafios internos e externos do Sind-jor. Irradiava confiança e energia.

Houve unanimidade sobre ser este um momento de união entre os jor-nalistas sindicalizados, de reaproxi-mação com os que se afastaram, de busca dos que ainda não chegaram. Destacamos a importância de obter apoio dos já aposentados e dos estu-dantes de Jornalismo e de seus pro-fessores. Ficou claro que os novos tempos exigem impactantes ações administrativas por parte da atual gestão do Sindicato.

Consertar e concertar. É uma boa síntese do desafio que está posto. Se você é jornalista, participe.

Mario Rocha é jornalista e professor da Fabico

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que está dando tiro no pé quem não se aproxima das suas instituições profissionais porque acha que se ga-rante sozinho/a. Até pode, mas a que custo?

O otimismo realista que assumo é alavancado por momentos como o que aconteceu na ARI na manhã de 9 de outubro. Era uma terça-feira e sete dos nove presidentes vivos do Sindjor reuniram-se na sala da Dire-toria, espaço que homenageia Antô-nio Firmo de Oliveira Gonzalez. An-toninho presidiu – e bem – o Sindjor e a ARI, foi diretor da Famecos/PUC, editor na Folha da Tarde, avalista da Cooperativa dos Jornalistas (Coojor-nal), juiz classista e muito mais.

Estavam lá, sob o seu olhar vigi-lante fluindo da foto encarapita-da sobre o marco da porta, os ex--presidentes do Sindjor (em ordem alfabética) Antonio Oliveira, Celso Schröder, João Souza, Jorge Correa, José Nunes, Lucídio Castelo Branco e Vera Spolidoro. E mais o presidente atual, Milton Simas, com o diretor tesoureiro Robinson Strasulas e An-dré Pereira. Não puderam compare-cer: José Carlos Torves, que estava em Brasília, e Renato Dorneles.

Representei a ARI como entidade anfitriã que cedeu a sala para o en-contro de responsabilidade do Sind-jor e do Comitê de Finanças (Márcia Camarano, Árfio Mazzei e eu mes-mo) indicado em assembleia geral do Sindicato realizada no Sindapi em 16 de setembro.

O que aconteceu naquelas duas horas e meia? Afora divergências sobre encaminhamentos possíveis – algumas pontuais, outras essenciais -, reconheceu-se o trabalho dedicado de todos os ex-presidentes, falecidos

Ouvi do ex-presidente do Sindjor e da Fenaj, Celso Schröder, ser este um momento de “cavar trincheiras para resistir”. Completei, de imediato, so-bre a responsabilidade solidária dos jornalistas para impedir que elas vi-rem covas do sindicalismo.

Aliás, o exposto nos dois parágra-fos acima vale para a categoria dos Jornalistas e todas as outras impren-sadas por um novo regramento ju-rídico sufocante que atenta contra a organização sindical, direito es-sencial dos trabalhadores. Resistir é preciso, eis que não há furacão, tsunami ou erupção vulcânica que sejam eternos.

Sou otimista. Vinculei-me ao Sind-jor e à Associação Riograndense de Imprensa (ARI) ainda estudante, lá bem no início da década de 70. Lembra o ensinamento bíblico so-bre o graveto que pode ser quebra-do facilmente, enquanto com um monte de gravetos unidos a coisa é diferente? É por aí. Então, acredito

O assunto está mais para 100 metros rasos do que maratona. Não há tempo a perder frente à necessidade de rever estratégias

impactadas por fatos novos do passado e do presente do nosso

Sindicato dos Jornalistas do RS. É a base para promover

amplos entendimentos rumo às soluções imprescindíveis que

assegurem algum futuro no futuro. Consertar e concertar.

A trincheira e a cova

MÁRIO ROCHA

OPINIÃO

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“Fábio Henrique acabava de voltar de uma pelada de rua. Calçava chinelos com o símbolo do São

Paulo. No peito, o brasão do Barcelona. Fã de Luis Fabiano e Mes-si, o garoto de 11 anos vive longe da sede dos times que admira. É maranhense, de São Luís. Ao entrar em casa com um sorriso no rosto, encontrou a avó falando com a Folha [reportagem da Folha de S.Paulo]. O sorriso desaparece ao ouvir o assunto. Fábio fica quieto, apoiado aos pés de Maria do Socorro Silva Lima, 57. O menino sai da sala e volta com um jornal. Aponta a foto do pai, Fábio como ele. O registro mostra o pai, Fábio Silva Lima, 30, e outros nove cadáveres, com perfurações de facas e tiros.”

Assim começa a matéria “Decapitações em Pedrinhas deixam le-gião de órfãos”, produzida por Juliana Coissi e Marlene Bergamo, e publicada em 12 de janeiro de 2014 na Folha de S.Paulo. Mais do que o relato sobre os efeitos do massacre penitenciário, a reportagem evidencia algo que nem sempre a sociedade e a imprensa se dão conta: a foto estampada no jornal pode ser, para muitos, a última recordação de uma vítima da violência ou de situações trágicas.

O fato de uma criança guardar consigo o jornal em que o corpo violentado do pai é exposto cruamente na primeira página escanca-

ra o quanto o jornalismo, não raramente, ultrapassa os limites da informação e fere a dignidade humana. É quando a imprensa,

ela própria, faz suas vítimas.Na tentativa de disciplinar a conduta dos profissionais, o Código de Ética dos Jornalistas orienta que “é dever do

jornalista respeitar o direito à intimidade, à privacida-de, à honra e à imagem do cidadão” (artigo 6º, VIII).

Outra recomendação diz que “o jornalista não pode divulgar informações de caráter mórbido,

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do conteúdo sensacionalista ou o interesse do público nesse tipo de abordagem? Longe de uma respos-ta concreta, vai se buscando saciar um desejo que, natural ou criado, se manifesta na sociedade. Os deta-lhes sobre crimes ou tragédia estão constantemente presentes na cober-tura jornalística. A questão é que esses pormenores fazem parte da intimidade de pessoas que, uma vez expostas à opinião pública, ficarão vinculadas aos fatos. É uma senten-ça eterna tanto para vítimas quanto para os culpados.

Osório reforça que é preciso segre-gar a informação da exploração das sensações, o que leva o noticiário a se distanciar de seu propósito e entrar na seara do sensacionalismo. Entre os fatos que no período recente atra-íram atenção elevada da imprensa por causa da grande comoção que geraram, ele lembra do incêndio da Boate Kiss. “Acompanhei bastante a cobertura da Kiss, presidia a TVE na época, e não lembro de detalhes ou de comportamentos graves a serem criticados, mas recordo que a equi-pe da Globo transformou a cober-tura quase num relato, trabalhou

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sensacionalista ou contrário aos va-lores humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes” (artigo 11, II). No calor dos aconte-cimentos, no entanto, essas regras passam despercebidas, como se não fosse muito clara a linha que separa a informação da curiosida-de mórbida.

AS VÍTIMAS DA IMPRENSAHistórias que chocam a opinião

pública testam, rotineiramente, a ética profissional. São casos que ge-ram repercussão na sociedade, o que pode levar à pressuposição de que o público deseja obter aquele conte-údo que, muitas vezes, vai além da informação. Essa é uma tese que está mais próxima do senso comum do que de um dado concreto, reflete Rogério Christofoletti, professor na Universidade Federal de Santa Cata-rina (UFSC) e autor do livro Ética no Jornalismo. “Eu não estou convenci-do de que as redações têm pesquisas de que têm público interessado nes-se tipo de conteúdo. Não me rendo ao argumento fácil.”

Defendendo que as empresas de comunicação aperfeiçoem suas métricas, Christofoletti alega que levantamentos quantitativos, como tiragens e audiência, são insuficien-tes para avaliar o que o público re-almente deseja saber (incluindo aí detalhes que nem sempre são im-prescindíveis para transmitir uma informação). Ainda assim, não dá para negar também que situações atípicas despertem uma curiosida-de mórbida. “Sabemos que o bizar-ro e a tragédia chama atenção, e se começarmos a expor isso, vai ter audiência”, pondera o professor da Unisinos Pedro Osório, diretor-pre-sidente da Fundação Piratini entre 2011 e 2014.

É a velha questão do ovo e da ga-linha. Quem vem primeiro: o estí-mulo provocado pela mídia a favor

O “quinto poder” aparece como alternativa à mídia tradicional

muito com a sensação.”Se faltam críticas mais severas

nesse caso, elas sobram em relação ao caso do menino Bernardo Bol-drin. A história é por si só chocante, mas no decorrer do andamento das investigações houve excessiva busca e exposição de detalhes que o pro-fessor considera que não precisa-riam ser divulgados, como áudios e vídeos da relação do menino com o pai e a madrasta.

“O jornalista consegue fazer isso de outra forma: basta dizer que há gravações sendo consideradas na investigação”, salienta. Como suíte da notícia principal, essa elucidação seria suficiente. Mas Osório recobra que essa tragédia foi primeira pá-gina do jornal de maior influência e circulação no Estado por muitos dias. “Os veículos de comunicação do interior se amparam muito no modelo dos tradicionais jornais. Ou seja, a Zero Hora deu aval para que essa prática se reproduzisse em ou-tros locais”, analisa.

Outro ponto é que essa fórmula, de certa maneira, habitua o público ao formato da cobertura. “Quando tu faz isso, cria uma expectativa da au-

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diência. Foi um erro, absolutamente desnecessário. Diga o que aconteceu, e pronto.” E a exposição da intimida-de do menino e sua família não ficou restrita ao Rio Grande do Sul.

O semanal Fantástico também exi-biu matérias com excessivos deta-lhes da intimidade do menino e da família, ainda de luto pelo ocorrido. O passo a passo do crime também estiveram insistentemente presen-tes nas coberturas, chocando o pú-blico geral e traumatizando ainda mais as pessoas próximas do garoto. “É relevante a exposição? Acrescen-ta informação?”, questiona Osório. “Precisamos fazer essa discussão.” Christofoletti também defende o debate. “Em alguns países, existem

• Não publicar fotografias do falecido ou cartas suicidas• Não informar detalhes específicos do método utilizado• Não fornecer explicações simplistas• Não glorificar o suicídio ou fazer sensacionalismo sobre o caso• Não usar estereótipos religiosos ou culturais• Não atribuir culpas *Fon

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conselhos de imprensa, que reú-nem profissionais e população para discutir essas questões. Aqui, preci-samos também envolver o público, para reorientar e capacitar a cober-tura jornalística.”

AS FALHAS SÃO COLETIVASOs erros não se dão de forma in-

dividual, alerta o professor Rogério Christofoletti. Há sempre um grupo de profissionais envolvidos na co-bertura, e, espera-se que esse fato ajude a filtrar o que deve e o que não deve ser publicado ou veiculado.

Christofoletti lembra que há um processo na construção da notícia. Em um jornal impresso, a matéria é lida pelo editor antes da publica-ção, assim como uma reportagem de rádio ou de televisão é editada para, posteriormente, ser incluída na pro-gramação. Essa construção pressu-põe que uma abordagem inadequa-da possa ser observada e corrigida antes da veiculação.

O que ocorre é que, segundo o au-tor, a cobertura habitual em certas áreas acaba embrutecendo. “De for-ma geral, o ideal é que o profissio-nal tivesse respeito de maneira que conseguisse frear seus instintos. Mas no mundo real, muitas vezes, os profissionais se atropelam.” Essa correria diária inclui, ainda, uma sobrecarga de trabalho, que dificul-ta ainda mais a reflexão imprescin-dível diante de fatos de grande co-moção, seja um drama familiar ou

uma tragédia coletiva.“Não é porque o jornalista seja

insensível, é porque se torna um processo de moer carne”, frisa. No atropelo do piloto automático, como fazer prevalecer a ética, que exige tanta cautela e reflexão? “Tem que ampliar uma discussão da formação dos profissionais”, responde Christo-foletti. Não se trata apenas da gradu-ação, mas de uma “reciclagem con-tínua como cursos in company, em coletivos, para que a gente volte a se sensibilizar”, acrescenta.

Nesse sentido, as perspectivas não são muito positivas, pondera o pro-fessor Pedro Osório. O cenário atual é de redução das equipes nos veí-culos de comunicação. Com menos profissionais, um primeiro ponto imprescindível, que é a participa-ção de mais pessoas no processo de construção da notícia e troca de ex-periência entre os profissionais, vai ficando cada vez mais inviável.

“É uma profissão muito autoral, mas o jornalista não fala por si, o seu trabalho é uma manifestação que re-presenta (ou deveria representar) a sociedade”, estabelece. “Adicional-mente, temos um código de ética que determina condutas, por exem-plo, condena o sensacionalismo, mas não há uma receita, cada caso é um caso.” Partindo desses dois pressu-postos, Osório conclui que “ninguém acha esse caminho sozinho.”

Segundo ele, é indispensável que os jornalistas tenham o hábito de se manterem atualizados e que as re-dações possuam um grupo diverso de profissionais, sobretudo com ex-periência em coberturas mais com-plexas. “Mas, com frequência, isso não é possível. Então, temos que nos basear no que aprendemos.”

“NADA É FÁCIL DE ENTENDER”Arthur Dapieve, jornalista e autor

do livro Morreu na contramão – O suicídio como notícia, é cuidadoso com as palavras que usa, não para

Além de lidar com motivações que são

“complexas e abstratas”, o jornalismo se defronta

com um problema de saúde pública que, se não for

adequadamente abordado, pode ser estimulado.

(Arthur Dapieve)

S U I C Í D I O

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MATÉRIA DE CAPA

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alimentar um tabu, mas para pro-mover a reflexão. Com frequência usa o termo “morte voluntária” no lugar de suicídio. Afinal, é disso que se trata. Mas há uma análise mais aprofundada sobre como abordar o assunto na imprensa? “Há a tentati-va de simplificar”, observa.

“Nada é fácil de entender.” Da-pieve parafraseia a letra de Renato Russo, que retrata um suicídio. O ex-certo que vale como alerta para que a imprensa reconheça que esse tipo de cobertura tem muitas limitações, seja na busca por respostas (quando, muitas vezes, elas não estão clara-mente colocadas) ou na forma como a questão será abordada, ponto im-portantíssimo a ser observado pelos potenciais efeitos que essas notícias podem gerar.

Além de lidar com motivações que são “complexas e abstratas”, o jor-nalismo se defronta com um proble-ma de saúde pública que, se não for adequadamente abordado, pode ser estimulado. Nesse sentindo, explica Dapieve, a cautela primordial é tra-tar do assunto com discrição, sem detalhar o modus operandi.

“De fato há uma porcentagem de suicídio por imitação/identificação”, valida. A replicação do ato não é algo contemporâneo. Há registros que datam de mais de dois séculos sobre prática do suicídio por identi-ficação. Em 1774, ano da publicação do livro Os sofrimentos do Jovem Werther, escrito por Johann Wolf-gang Goethe, houve uma onda de suicídios inspirados pela história do protagonista, que ao final do livro se mata por amor.

O fato foi tão emblemático que a psicanálise adotou o termo Efeito Werther para referir-se à condição de pessoas propensas a copiar o ato, sobretudo, quando praticado por ídolos, como ocorreu, por exemplo, no período da morte de Marilyn Monroe e Kurt Cobain, lembra Da-pieve. De acordo com estudos sobre

FALHAS QUE PEGARAM MAL

BOATE KISSO incêndio ocorrido em Santa Maria, região central do Rio Grande do

Sul, ganhou destaque na imprensa mundial. As imagens registradas por fo-tógrafos e cinegrafistas regionais foram adquiridas e retransmitidas pelos maiores veículos de comunicação do mundo.

Mas a cobertura não ficou restrita só àquele momento. A tragédia que vitimou mais de 240 jovens em 27 de janeiro de 2013 até hoje é lembrada, sobretudo por parentes, que usam a data para prestar homenagens, o que atrai, justificadamente, a atenção da imprensa. Em 27 de janeiro de 2016, o jornal O Estado de S.Paulo publicou em seu site a matéria “Santa Maria homenageia mortos da Boate Kiss”, só que ilustrou a notícia com uma foto da banda Kiss. A gafe, um descuido de muito mau gosto, ficou no ar tempo suficiente para ser duramente criticada pelos leitores. A foto foi posterior-mente alterada, mas na matéria, possível de ser verificada no site do jornal, não há qualquer menção, pedido de desculpa ou errata sobre o episódio.

CHAPECOENSEO acidente com o voo que levava a equipe da Chapecoense para Colôm-

bia, em novembro de 2016, foi mais um desafio colocado à imprensa. En-tre as vítimas, estavam não só jogadores e equipe técnica, como também colegas jornalistas, o que aprofundou ainda mais o desafio de noticiar a tragédia. Houve momentos de extrema sensibilidade na cobertura ao vivo, como ocorreu com o repórter da TV Globo, Ari Peixoto. Durante a entra-da ao vivo no Jornal Hoje, o jornalista chorou ao falar da liberação dos corpos dos colegas. Com a voz embargada, se desculpou por um ato que é tão humano, que foi imediatamente compreendido pelos profissionais que compartilhavam daquela angustia e pelo público.

O que as pessoas não perdoaram e criticaram bastante foram outras abordagens, que soaram como falta de respeito, e de ética. O site Catraca Livre, por exemplo, perdeu 400 mil seguidores de uma hora para outra somente em sua página no Facebook por usar o acidente para atrair visu-alizações. Foram escorregadas imperdoáveis para boa parte dos seguido-res: “Medo de voar? Saiba como lidar com isso!”, “Passageiros que filmam pânico em avião”, “10 mitos e verdades sobre viajar de avião”, “10 fotos de pessoas em seu último dia de vida” (nesta, usando, inclusive, selfies feitas pelos próprios jogadores). Nas matérias, vinculavam o conteúdo ao acidente aéreo. Posteriormente, nem o pedido de desculpa do fundador Gilberto Dimenstein conseguiu reverter a imagem negativa gerada.

As reportagens sobre a chegada dos corpos à Santa Catarina no Jornal Nacional e no Fantástico mostraram as mesmas cenas em que a repórter Kiria Meurer, da RBS Santa Catarina, filma momentos que estavam res-tritos às famílias das vítimas. Apesar de todos os jornalistas estarem ad-vertidos para que não filmassem familiares no trajeto ao aeroporto para recepção dos corpos e nos primeiros momentos do velório, Kiria usou o próprio celular para fazer as imagens, admitindo para os telespectadores que as gravações não foram, oficialmente, permitidas

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o assunto, os jovens estão entre o grupo mais suscetível à imitação.

A Organização Mundial da Saúde produziu um material específico sobre como a imprensa deve abor-dar o tema, chamado Prevenção ao Suicídio: Um Manual para Profissio-nais da Mídia. Nele, há uma série de recomendações a serem seguidas tanto para casos em geral como em casos específicos. O manual indica também fontes confiáveis para fa-lar da questão.

Dapieve soma-se aos que defen-dem a importância de compartilhar os dilemas na cobertura desses ca-sos com os colegas de trabalho. Ao final, fica claro que, assim como não se erra sozinho, também é difí-cil seguir o caminho mais adequado sem discussões amplas com demais profissionais.

ERROS SEM PUNIÇÃOQuando jornalistas violam o Có-

digo de Ética não há uma punição mais séria capaz de dissuadir as práticas condenadas. Assim, os er-ros se repetem e se propagam sem responsabilização. Há, no máximo, uma nota pública de repúdio. São sanções de efeito irrisório se compa-rado com o impedimento do exercí-cio da profissão, como ocorre nos conselhos de medicina na Ordem dos Advogados do Brasil diante de condutas antiéticas.

Entre jornalistas sequer há a dis-cussão sobre os casos. O professor Rogério Christofoletti pontua que o mais agravante é que não se tem nem mesmo um canal para que as pessoas possam denunciar matérias que consideram ofensivas ou inade-quadas, como ocorre, por exemplo, na publicidade. “Poderíamos ter essa possibilidade de ter uma depu-ração mais forte, mas é necessário que haja o convencimento da cate-goria de que precisamos assumir as prerrogativas de dar os títulos e também caçá-los”, argumenta.

FALHAS QUE PEGARAM MAL

Veículos e profissionais de

imprensa, não raro, resvalam na ética

ao cobrir tragédias e dramas pessoais

Limite ético

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PRÊMIO PRESS

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Com 432.380 indicações, en-cerrou, no dia 31 de outu-bro, o período do votações

do Prêmio Press 2017, tendo sido divulgada no dia seguinte, a relação dos cinco finalistas, em cada uma das 17 categorias.

Os 85 nomes de profissionais e programas seguem, agora, para a apreciação de um júri composto por

PRÊMIO PRESSJÁ TEM SEUS FINALISTAS

60 personalidades convidadas pela revista Press. Cada jurado poderá escolher o seu preferido em cada po-sição. O resultado somente será di-vulgado na grande festa de premia-ção, marcada para a noite de 27 de novembro, no Teatro Dante Barone.

A campanha de divulgação do Prêmio Press deste ano tem como mote a expressão "O poder da pa-lavra", numa alusão à principal matéria-prima dos profissionais de imprensa. A palavra, eternizada em discursos históricos, manifestos e obras-primas da literatura, também foi usada pela humanidade para de-

sencadear conflitos, guerras e revo-luções. O registro desses fatos, feitos por jornalistas e radialistas tiveram na palavra a sua matéria essencial. A campanha, criada pela Integrada Comunicação, pretendeu sublinhar o papel do Prêmio Press, que é o de destacar e valorizar o bom uso da palavra pelos profissionais da im-prensa gaúcha.

O 18º Prêmio Press tem o patro-cínio de Sistema FIERGS, Sistema FECOMERCIO, SICREDI, SINDUS-CON, CIEE- RS, STICC e o apoio de ABAP, SBT, Krim Bureau e Assem-bleia Legislativa.

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25REVISTA PRESS181

Finalistas do PREMIO PRESS 2017

ESTAGIÁRIO DE JORNALISMO DO ANO – Troféu CIEE-RSEduardo Pinzon - SBTGuilherme Chaves – Rádio BandLuiza Fritzen - Jornal do ComércioNathalia Pase – Rádio BandTayná Schultz – TV Record

REPÓRTER DE RÁDIO DO ANO- Troféu STICCArthur Cipriani – Rádio Jovem PanDiogo Rossi - Rádio GrenalFelipe Daroit - Rádio GaúchaSaimon Bianchini – Rádio BandSamantha Klein - Rádio Guaíba

REPÓRTER DE TELEVISÃO DO ANOCesar Fabris – Esporte InterativoDaniela Mallmann - SBTKelly Veronez - RBS TVRafael Cavalheiro - Band TVVanessa Pires – TV Record

REPÓRTER DE JORNAL/REVISTA DO ANO – Troféu Sistema FECOMÉRCIOCarol Zatt – Jornal do ComércioDenise Saueressig - Revista A GranjaJoão Ávila - NHMichele Rolim - Jornal do ComércioValter Junior - Metro Jornal

COLUNISTA DE JORNAL/REVISTA DO ANO – Troféu Fernando AlbrechtDiego Casagrande – O MetroPaulo Germano – Zero HoraRogério Mendelski – Correio do PovoRosane Oliveira - Zero HoraTaline Oppitz – Correio do Povo

COMENTARISTA DE TELEVISÃO DO ANOAndré Machado – Band TVDiogo Olivier - RBS TVGustavo Victorino – TV Pampa Mauricio Saraiva – RBSTVNando Gross – TV Record

LOCUTOR/APRESENTADOR DE NOTÍCIAS – Troféu Milton Ferrreti JungArtur Chagas – Rádio GaúchaFernando Zanuzo - Rádio GaúchaMaria Luiza Benitez – Rádio GuaíbaSergio Stock – Band TVSinara Félix – Rádio Guaíba

JORNALISTA DESTAQUE DO INTERIOR – Trófeu SICREDIAlex Frantz – Rádio Progresso/IjuíDaniele Freitas – Rádio Diário da Manha/Passo FundoDenise Cruz - Rádio União/NHHalder Ramos - Correio do Povo/GramadoStephany Sander – Rádio ABC/NH

MELHOR PROGRAMA DE RÁDIO DO ANOBom dia – Rádio GuaíbaBand Repórter - Rádio BandContra Ataque - Rádio GrenalRádio Livre – Rádio BandTimeline – Rádio Gaúcha

MELHOR PROGRAMA DE TELEVISÃO DO ANOAtualidades Pampa - TV PampaFrente a Frente – TVERBS Notícias – RBS TVRio Grande no Ar - TV RecordSBT Esporte - SBT

JORNALISTA DO ANO – Troféu SINDUSCONDaniel Scola – Rádio GaúchaDiego Casagrande – Rádio BandMilton Cardoso - Rádio BandNando Gross - Rádio GuaíbaPatricia Comunello - Jornal do Comércio

COMENTARISTA DE RÁDIO DO ANO – Troféu Ruy Carlos OstermannAdroaldo Guerra Filho– Rádio GaúchaCarlos Guimarães – Rádio GuaíbaCesar Cidade Dias – Radio BandCláudio Brito - Rádio GaúchaRodrigo Giacomet – Rádio União FM

APRESENTADOR DE TELEVISÃO DO ANO – Troféu SICREDIAndre Haar – TV RecordDaniela Ungaretti - RBS TVLilian Abelin —TVELúcia Mattos - Band TVRogério Forcolen - TVU

APRESENTADOR DE RÁDIO DO ANOAntonio Carlos Macedo - Rádio GaúchaDiego Casagrande – Rádio BandMilton Cardoso - Rádio BandRafael Marconi – Rádio PampaRogério Mendelski – Rádio Guaíba

JORNALISTA DO WEB DO ANOJosé Luiz Prévidi previdi.blogspot.com.brMarcelo Ribeiro www.caderno7.comPatricia Knebel www.jornaldocomercio.com/mercadodigitalRafael Kehl -radiopachola.minhawebradio.netRicardo Wortmann cornetadorw.blogspot.com

REPÓRTER FOTOGRÁFICO DO ANOClaiton Dornelles - Jornal do ComércioGustavo Roth – Agencia PreviewInézio Machado - Jornal NHRicardo Giusti – Correio do PovoRodrigo Ziebell – SSP-RS e Brazil Photo Press

REPÓRTER CINEMATOGRÁFICO DO ANOEdmilson Schenk - ProVideo (Band TV)Gerson Paz – TV RecordGlaucius Oliveira – RBS TVRogério Aguiar – Band TVTiarles Martins - PW Video Produções

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GRANDES NOMES

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EUCLIDES DA CUNHA

No dia 5 de outubro de 1897 terminou o que seria um dos maiores conflitos da história do Brasil: a Guerra de

Canudos, confronto entre o Exérci-to Brasileiro e os integrantes de um movimento popular e messiânico li-derado pelo líder religioso Antônio Conselheiro. O conflito teve início em 1896 na então comunidade de Canudos, no interior da Bahia. Após a derrota de três expedições milita-res contra a comunidade religiosa, a destruição total do arraial tornou-se prioridade para o governo brasileiro. O resultado da ofensiva foi o massa-cre de até 20 mil sertanejos, a morte de 5 mil militares, a destruição total de Canudos e a degola de muitos pri-sioneiros de guerra.

O relato mais importante sobre a guerra foi escrito pelo jornalista Euclides da Cunha, em seu livro Os Sertões. Embora com uma lingua-gem difícil para novas gerações, e uma narração quase enciclopédica

PAI E FILHO MORTOS

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da terra, do povo e do conflito de Canudos, o texto ainda é considerado uma obra-prima essencial da literatura nacional. No entanto, poucos sabem que o autor foi um homem introspectivo e infeliz, da infância ao túmulo, por uma série de tragédias que marcaram sua vida.

Engenheiro, militar, funcionário público, escritor e jornalista, Euclides Ro-drigues Pimenta da Cunha nasceu em 20 de janeiro de 1866 na Fazenda da Saudade, em Santa Rita do Rio Negro, hoje Euclidelândia, distrito de Canta-galo, no Estado do Rio de Janeiro. Órfão da mãe aos 3 anos, juntamente com a irmã mais nova, Adélia, passou a ser criado pelo tios, Urbano e Rosinda Gouveia, em Teresópolis (RJ). Não por muito tempo. Em 1870, tia Rosinda também morreu. Ele e a irmã passaram, então, aos cuidados de outra tia, Laura Moreira Garcez, em São Fidélis. Em 1877, nova transferência, desta vez para Salvador, onde foi viver com os avós maternos.

A instabilidade familiar, que influenciou afetivamente sua formação, re-fletiu-se nos estudos. Foi de escola em escola até se matricular no Colégio Aquino, onde descobriu os ideais republicanos, sob orientação de Benjamin Constant.

Em 1884, editou com colegas o periódico O Democrata e publicou o primei-ro artigo, A Viagem. No ano seguinte, cursou a Escola Politécnica, no Rio, que logo deixou, por falta de recursos.

O próximo passo foi a Escola Militar da Praia Vermelha, porta de entrada do Exército, no qual ficou dois anos. Foi preso e expulso por rebeldia: que-brou seu sabre, recusando-se a prestar continência ao ministro da Guerra do Império, Tomás Coelho. O médico da escola considerou Euclides doente dos nervos.

Ele viajou, então, a São Paulo, onde foi bem recebido pelos republicanos e conheceu Julio Mesquita, diretor do jornal A Província de São Paulo, hoje O

Estado de S. Paulo. Com a Proclama-ção da República, em 1889, foi reinte-grado ao Exército pelo novo ministro da Guerra, o antigo mestre Benjamin Constant.

Na casa de um dos conspiradores republicanos, o major Sólon Ribeiro, que entregou ao imperador Pedro II a intimação para que deixasse o País, conheceu a filha dele, Anna, de 15 anos, com quem se casou dez meses depois, em 1890. Euclides tinha 24 anos. Em 1892, quando concluiu na Escola Superior de Guerra os cursos de Estado-Maior e Engenharia Mili-tar, passou a colaborar regularmente com O Estado de S. Paulo, com o pseu-dônimo José Dávila ou as iniciais E.C. Quando o jornal ainda era “A Provín-cia”, escreveu em 1888 dois artigos com o pseudônimo Proudhon.

Euclides desligou-se do Exército em 1896, quando trabalhava como engenheiro na construção da Estra-da de Ferro Central do Brasil, por designação do presidente Floriano Peixoto. Três anos antes, em 1893, manifestou sua insatisfação com a punição dos envolvidos na Revolta da Armada e os rumos do novo go-verno. Estava fora do serviço públi-co, em novembro de 1897, quando partiu para a Bahia a convite de Ju-lio Mesquita, como enviado especial para cobrir a Guerra de Canudos.

Saiu convencido de que a rebe-lião de Antônio Conselheiro era uma ameaça à República. “Um jagunço degolado não vale uma xícara de sangue”, observou num de seus pri-meiros despachos. No entanto, mu-dou de opinião ao chegar ao sertão. “Aquela campanha lembra um reflu-xo para o passado. E foi, na significa-ção integral da palavra, um crime. Denunciemo-lo”, escreveu. Sua visão do povo do interior do Brasil tam-bém foi transformada com o confli-to. Sua frase “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”, ficaria marcada na história da literatura nacional.

As reportagens que fez no interior

REVISTA PRESS181

PAI E FILHO MORTOSCinco anos depois, seu filho Euclides da Cunha Filho, o Quidinho, tentou vingar o pai e teve o mesmo fim: morreu pelas mãos de Dilermando.

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GRANDES NOMES

da Bahia foram o embrião de Os Sertões. A primeira edição do livro saiu em dezembro de 1902, após meses de revisões e correções. Euclides, que tivera quatro fi-lhos com Anna (uma menina morreu de varíola aos 4 anos), vivia em São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo. O livro de 633 páginas, com tiragem provável de 2 mil exemplares, esgotou-se em poucas semanas. Res-peitáveis críticos da época, como Araripe Júnior, José Veríssimo e Sílvio Romero, receberam Os Sertões com entusiasmo. Em 1903, Euclides foi eleito para a Acade-mia Brasileira de Letras.

Funcionário público em São Paulo, onde fez obras em Lorena e outras cidades, Euclides perdeu o empre-go por causa de mais uma entre sucessivas crises do café. A convite do Itamaraty, participou de comissão no Alto Purus para fixar os limites geográficos de Bra-sil e Peru.

Contraiu malária em Manaus e, ao retornar da Ama-zônia, voltou a manifestar sintomas de uma antiga tuberculose. Apesar de doente, trabalhou no gabinete do barão do Rio Branco, escreveu artigos para o Jornal do Commercio e publicou mais um livro, Contrastes e Confrontos.

Seu casamento começou a ruir ao descobrir que Anna o traía com um tenente do Exército, Dilermando de As-sis, um rapaz bonito e bem mais novo do que ela. Em-bora Anna quisesse, Euclides não se separou. Remoía o ódio e chamava o filho Luís de “espiga de milho no meio do cafezal”.

O menino era loiro, como Dilermando, enquanto os outros filhos eram morenos. Em 1906, enquanto o mari-do se tratava da malária, Anna teve outro filho - chama-do Mauro - o amante, mas o bebê viveu apenas sete dias.

Num sábado, o filho Sólon, então com 17 anos, ou-viu o pai anunciar: “Amanhã, tudo se acaba, mato-os”. Euclides tomou emprestado o revólver de um primo, alegando que era para matar um cão hidrófobo. No do-mingo, 15 de agosto de 1909, pegou um trem bem cedo, levando no bolso um talão de cheques e uma foto dele com Anna, de quando eram noivos. Parecia agitado e nervoso ao entrar na casa 214 da Estrada Real de Santa Cruz, no bairro de Piedade, Rio de Janeiro. Foi atendido por Dinorah de Assis, irmão de Dilermando.

Falou que queria ver o dono da casa e avisou que es-tava ali para matar ou morrer. Euclides perguntou pela mulher e foi entrando. Disparou duas vezes contra Di-lermando, que estava no quarto. Campeão de tiro, Diler-mando sacou a arma e, segundo palavras registradas no livro de autodefesa ao ser julgado, disse: “Fuja, doutor, não quero lhe matar”.

No tiroteio que se seguiu, duelo de vida e morte se-gundo o criminalista Evaristo de Moraes, advogado de

Dilermando no Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, em maio de 1911, Dilermando foi atingido. Embora ferido, atirou duas vezes em Euclides.Uma bala acertou o pul-mão direito do escritor, que caiu morto.

Um dos primeiros a chegar ao local, o escritor e depu-tado Coelho Neto, telegrafou ao presidente da Repúbli-ca, Nilo Peçanha, ao barão do Rio Branco e a Rui Barbo-sa, para dar a notícia. Às 12h30, o Jornal do Commercio recebeu um telegrama. “Nosso colaborador ultimamen-te andava se queixando de moléstias, mas não notamos alteração maior na fisionomia dele”, escreveu o jornal.

A necropsia apontou lesões cerebrais, com sinais de processo de demência progressiva. O corpo foi sepul-tado no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Cinco anos depois, seu filho Euclides da Cunha Filho, o Quidinho, tentou vingar o pai e teve o mesmo fim: morreu pelas mãos de Dilermando.

Dilermando foi absolvido nos dois casos, chegou ao posto de general e morreu de câncer em 1951, aos 63 anos. Em 1982, os restos mortais de Euclides da Cunha e de seu filho Quidinho foram trasladados para São José do Rio Pardo.

GUERRA DE CANUDOSO relato mais importante sobre a guerra

foi escrito pelo jornalista Euclides da Cunha, em seu livro Os Sertões

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te 1956/57, 1985/86 e 1987/88. Foi um ícone no combate à ditadura nas trincheiras do MDB. Primeiro com a sua anti-candidatura à Presidência da República, em 1973, e, depois, como o símbolo das Diretas Já, a campanha que tomou as ruas do Brasil em 1983 e 1984, no ocaso do regime militar, o político participou como um dos principais protagonistas da redemocratização do país. No Colégio Eleitoral em 1985, ele apoiou Tancredo Neves na vitória contra Paulo Maluf e, após a morte do presidente eleito, garantiu a posse de José Sarney, seu antigo desafeto, na Presidência da República.

O Senhor Democracia, como também era chamado o deputado do PMDB, ee 1987 a 1988 presidiu a Assembleia Nacional Constituinte. A nova Constituição, na qual Ulys-ses teve um papel fundamental, foi promulgada no dia 5 de Outubro de 1988, tendo sido por ele chamada de Cons-tituição Cidadã. Ele foi candidato a presidente, pelo PMDB, na eleição de 1989. Ulysses Guimarães também participou ativamente da campanha pela implantação do parlamen-tarismo no Brasil e atuou pelo impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992.

Na noite do dia 12 de outubro de 1992, uma segunda-feira, o presidente Itamar Franco foi

avisado pelo ex-ministro Renato Archer que o helicóptero em que viajavam o deputado

federal Ulysses Guimarães (PMDB-SP) e o ex-senador Severo Gomes, com suas

mulheres, havia desaparecido num voo entre Angra dos Reis e São Paulo. A aeronave

havia decolado às 15h20, devendo chegar à capital paulista em 45 minutos. Logo depois

da decolagem, o helicóptero desapareceu.

Circularam informações de que o piloto teria avisado aos passageiros que, se as condições do tempo não fossem boas, poderia aterris-sar em algum lugar do litoral.

Mas o helicóptero não fez qualquer conta-to de rádio. E em São Paulo, o filho de Ulysses e dona Mora, Tito Henrique, confirmava que não havia qualquer comu-nicação com a aeronave e que só poderia saber o que acon-teceu quando as buscas começassem.

A partir da manhã do dia seguinte ao acidente aéreo, com ampla cobertura da imprensa, o país viveu o drama do resgate dos corpos, achados somente a partir da tarde. Todos os corpos, menos o de Ulysses, foram encontrados: os de dona Mora, Severo, sua mulher Maria Henriqueta e do piloto Jorge Comemorato, este em uma praia a 20 quilôme-tros de Paraty. E o Brasil começava a se despedir do "Senhor Diretas".

Nascido em 16 de outubro de 1916,em Itirapina (SP) o advogado Ulysses Guimarães foi eleito 11 vezes deputado federal, e foi presidente da Câmara dos Deputados duran-

GALERIA

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A morte de Ulysses Guimarães