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AQUÁRIO PARA BOTIAS O QUE PRECISO SABER? Por Marcos Mataratzis Dezembro de 2010

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Page 1: Aquário para Botias

AQUÁRIO PARA BOTIAS

O QUE PRECISO SABER?

Por Marcos Mataratzis Dezembro de 2010

Page 2: Aquário para Botias

AQUÁRIO PARA BOTIAS – O QUE PRECISO SABER? Por Marcos Mataratzis

O objetivo deste artigo é ser um ponto de partida para a escolha de quais e quantas Botias colocar em nossos aquários, obedecendo suas necessidades e possíveis companheiros "não Botias". Existem 198 espécies de Botias já catalogadas até o presente momento e uma em fase de entrar para a lista. Sem dúvida alguma a Botia palhaço é a mais conhecida e desejada pela maioria dos aficionados por esses peixes, mas existem diversas outras espécies que também se dão muito bem com elas e são igualmente atraentes. Vamos primeiro descrever as necessidades comuns das Botias para depois citar algumas espécies mais facilmente encontradas no mercado brasileiro: Características comuns Família: Cobitídea Habitat: Sudeste asiático e Oceania

pH: deverá estar compreendido no intervalo entre 6,5 e 7,2. Botias são muito adaptáveis a diversos pHs mas esta é a faixa mais confortável para elas. Existem algumas poucas espécies que preferem águas de neutras para alcalinas mas são exceção. Temperatura: Não deve ser inferior a 27°C. Botias são peixes sensíveis ao Íctio e em temperaturas abaixo de 27°C podem contrair a doença com mais facilidade. A faixa ideal vai de 27 a 29°C. GH : menor que 12° gH. Tamanho máximo: de 6 a 40 cm dependendo da espécie. Sociabilidade: Grupos de 5 ou mais indivíduos. Zona do aquário: Fundo. Manutenção: Fácil a moderada. Agressividade: A maioria das Botias é dócil. Entretanto existem certas espécies de Botias, chamadas de "Botias Grrr" (de agressivas) que devem ser criadas com certos cuidados.

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Alimentação: Onívoros: flocos, crisps, pastilhas de fundo, waffles de algas, Bloodworms, camarões, caramujos, artêmias e enquitréias. Algumas espécies também gostam de pepinos, ervilhas, brócolis e outros vegetais macios. iluminação: Botias não gostam de muita luz. Recomenda-se que aquários para Botias tenham, no máximo, 0,4 Watts/litro de luz. Se possível, menos. Presença de ferrões sub-oculares: Todas as Botias apresentam ferrões retráteis abaixo de seus olhos. Tais ferrões são usados para defesa: Botia palhaço

Botia modesta

Botia skunk

Botia striata

Botia YoYo

Page 4: Aquário para Botias

Como deve ser um aquário para Botias: 1- O aquário deve ser grande: Pelo menos 200 a 300 litros. Lembre-se que o número ideal de Botias, seja qual for sua espécie, é de 5 ou mais indivíduos. Preferencialmente, um aquário para Botias deve ser o mais comprido quanto possível (o comprimento ideal é de 1,80 m ou mais) e ter uma área da base grande também, já que as Botias passam a maior parte do tempo no fundo do aquário. São mais importantes o comprimento e a largura do que a altura do aquário; 2- Deve conter muitas tocas: Botias gostam muito de se enfiar em buracos. Troncos e pedras formando esconderijos são muito apreciados mas elas também aceitarão canos de PVC ou outros materiais que lhes proporcionem abrigo;

Foto: Marcos Mataratzis 3- O substrato do aquário deverá ser de pequena granulometria, pois as Botias possuem barbilhões bastante sensíveis e ficam fuçando o fundo do aquário à procura de alimento. Evite cascalhos pontiagudos ou de granulometria grande; 4- Abuse na filtragem: Botias são peixes exigentes quanto à qualidade da água. Considero uma boa vazão de filtragem valores acima de 8 vezes o volume de água do aquário por hora. Aferições periódicas dos níveis de amônia, nitritos e nitratos são desejáveis. Procure mantê-los sempre o mais baixo quanto possível. Amônia e nitritos sempre zerados. Nitratos abaixo de 30 PPM; 5- As sifonagens e TPAs devem ser feitas pelo menos uma vez por semana. Preferencialmente duas TPAs de 20% por semana para garantir água sempre limpa; 6- Águas movimentadas: As necessidades de oxigênio das Botias costumam ser maiores do que a maioria dos demais peixes tropicais. Em seu habitat as Botias vivem em rios com águas muito movimentadas o que favorece a oxigenação da água. Bombas submersas para circulação da água são muito bem vindas em aquários para Botias. Mas como simular isso em nossos aquários? O sistema é relativamente simples de se fazer e requer basicamente canos e juntas de PVC de 3/4". Basicamente, ele consiste em colocar bombas submersas num canto do aquário empurrando a água numa mesma direção. Na outra ponta do aquário teremos captação dessa água através de esponjas (que auxiliam na limpeza) conforme o esquema abaixo:

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Imagem adaptada do original de Martin Thoene

Nas fotos abaixo vemos os canos e conexões sendo montados:

Foto: Martin Thoene

Foto: Martin Thoene

Page 6: Aquário para Botias

Sistema Já pronto dentro do aquário:

Foto: Emma Turner

Foto: Emma Turner

Uma vez montado o sistema acima é só colocar 2 ou 3 bombas submersas (conforme tamanho do aquário) para simular a correnteza. Normalmente, nos rios onde as Botias são encontradas, o fluxo de água é bem veloz. Recomenda-se que a vazão somada das bombas submersas seja de pelo menos 6 a 10 vezes o volume do aquário. Não confunda esta vazão de circulação com a vazão de filtragem do item 4. Observe também que tal fluxo de água literalmente lava o chão do aquário evitando o acúmulo de sujeira sob o cascalho. É uma forma extra de minimizar as terríveis sifonagens, tão odiada por todos nós! Reparem agora no aquário já montado:

Foto: Emma Turner

Page 7: Aquário para Botias

O que devo evitar em aquário para Botias: 1- Aquários plantados: Botias fuçam o substrato o tempo todo. Se seu aquário possuir camadas férteis elas não vão durar muito. Botias também adoram desenterrar plantas, comer algumas ou até mesmo furar as folhas de outras (apenas por diversão). Veja também que por não gostarem de muita luz, a seleção de plantas deve conter as mais robustas e menos exigentes. Entre elas, cito as Anubias gigantes, a Microsorium, Valisneria gigante e Amazonensis. Evite usar CO2 em seu aquário de Botias pois além de baixar o pH durante o dia (e subir de noite - Botias não gostam de variações de pH) ele também contribui para diminuir o teor de oxigênio da água e elas são exigentes quanto a isso; 2- Aquários sem tampas: Botias são peixes muito curiosos e eventualmente dão saltos fora d´água; Outros peixes compatíveis com as Botias: Evite misturar muitas espécies, especialmente se forem espécies de regiões muito distintas do Sudeste Asiático. Labeo bicolor é uma excelente opção de companhia para elas. Labeo frenatus também mas atente para o fato de que não devemos colocar mais que um Labeo por aquário. Embora também sejam peixes de fundo, um cardume de Corydoras ajudam na faxina do substrato. Botias também gostam de olhar para cima e notar a presença de "dither fishes", peixes que lhes informam se existem ou não predadores na área. Geralmente pequenos cardumes de peixes de superfície são bons companheiros para elas até uma certa idade (lembre-se que Botias, de um modo geral, crescem bastante). Rasboras arlequim, Dânios e Melanotaenias são bons dither fishes para as Botias. Espécies mais comuns de Botias e suas características:

1- Botia palhaço (Chromobotia macracanthus)

Foto: Marcos Mataratzis

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Peixe proveniente de Sumatra e Bornéu, extremamente gracioso, ativo e possui diversas particularidades como por exemplo sua pelagem:

Adaptado do original de Martin Thoene É sem dúvida a Botia mais conhecida porém muitas informações sobre elas não são passadas pelos lojistas como por exemplo a idade que podem alcançar (50 anos!) e o tamanho que podem chegar quando adultas. Botias palhaço podem facilmente chegar aos 30cm em aquários e não raro passar disso: Botia "Marge" (in memorian) e seus 35cm!

Foto: Emma Turner

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Por conta do tamanho que elas podem atingir, recomenda-se que o tamanho mínimo do aquário para se ter 5 Botias palhaço por 2 ou 3 anos seja de 200 litros. Entenda este tamanho mínimo como provisório. Botias palhaço crescem muito lentamente. Podem levar 10 anos para chegar aos 20cm mas certamente chegarão e 200 litros ficará pequeno. Um comportamento muito comum entre as palhaços é dormir de lado. Muita gente se assusta e acha que o peixe morreu mas na verdade estão apenas tirando um cochilo:

Foto: Marcos Mataratzis Dormir de cabeça para baixo também é comum:

Foto: Marcos Mataratzis

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2- Botia azul (Yasuhikotakia modesta)

Foto: Marcos Mataratzis Também chamadas de Botia azul, são Botias robustas podendo chegar a 25cm na natureza mas dificilmente passam de 15 a 18cm em aquários. Trata-se de uma Botia Grrr. Juntamente com as Botias tigre e as skunk são Botias que requerem certa atenção devido à sua agressividade. Possuem hábitos noturnos e dificilmente as vemos durante o dia. Passam grande parte de seu tempo entocadas em seus troncos saindo apenas para comer. Nessa hora, quem estiver em seu caminho será devidamente cutucado.

3- Botia YoYo - (Botia almohae)

Foto: Marcos Mataratzis

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Podem chegar a 15cm (e chegam rapidamente) e são chamadas de YoYo devido às listras escuras em sua pele que se assemelham às letras Y e O principalmente quando jovens. À medida que vão crescendo tais "letras" desaparecem. Botia YoYo jovem:

Foto: Marcos Mataratzis Botias YoYo adultas:

Foto: Marcos Mataratzis Botias YoYo costumam fazer muito um tipo especial de movimento chamado "Ghosting" onde uma delas nada rapidamente em paralelo com outro peixe (não necessariamente outra Botia YoYo) imitando seus movimentos e então começa a rodopiar em volta deste.

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YoYos fazendo ghosting:

Foto: Marcos Mataratzis O sexo das Botias YoYo é facilmente reconhecido observando os barbilhões dos indivíduos. Nos machos os barbilhões são avermelhados: YoYo macho (esquerda):

Foto: Marcos Mataratzis Embora machos e fêmeas possam ser facilmente reconhecidos a reprodução em aquário não é comum. Fêmeas grávidas (cheias de ovos) são relativamente freqüentes em aquários de YoYos mas pelo que se sabe os machos não conseguem fertilizar seus ovos em aquários sem incentivo hormonal. As fêmeas desovam mas os machos não conseguem fertilizá-los.

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YoYo grávida:

Foto: Marcos Mataratzis

4- Botia mármore (Botia kubotai)

Foto: Marcos Mataratzis Peixe gracioso e pacato que pode chegar no máximo a 13 cm. Diferentemente das palhaço e YoYos, elas não são tão sociais, preferindo a companhia de outras kubotai. Entretanto, também são bem ativas e nadam por todo aquário preferindo a meia-água e o fundo.

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Foto: Marcos Mataratzis

5- Botia de Burma (Botia histrionica)

Foto: Shari Sanford A Botia histrionica, também chamada Botia zebra dourada ou Botia de Burma é uma das Botias mais sociáveis. São ativas durante o dia e não raro nadam livremente por todo aquário competindo pelo alimento até mesmo com outras espécies como os barbos. Passam bem pouco dos 10cm e se parecem bastante com as YoYo exceto pelo fato que não costumam ter o "o", apenas o "Y". Mais precisamente, 5 bandas escuras cortando seu corpo cinza dourado. Esse dourado tende a desaparecer com a idade, sobrando a coloração acinzentada, semelhante às YoYo. São muito pacíficas e sociais gostando de se esconder entre as plantas, quengas de coco, troncos ou bambus que lhe conferem segurança.

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6- Botia zebra (Botia striata)

Foto: Emma Turner

Foto: Helen Nightingale Peixe extremamente pacífico que não passa dos 10 cm. Excelente para aquários comunitários. Sua coloração pode variar um pouco conforme a idade. A padronagem, embora usualmente seja formada por listras verticais também pode apresentar variações. Os machos apresentam a boca avermelhada. Depois de adultas podem apresentar colorações exuberantes:

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Foto: Emma Turner

7- Botia anã (Yasuhikotakia sidthmunki)

Foto: Emma Turner As Botias anãs são os menores exemplares de Botias que se conhecem. Não passam de 6cm mesmo quando adultas. Diferentemente de outras Botias, as anãs gostam muito de passear a meia-água durante o período diurno. Infelizmente, ela quase não existe mais na Tailândia, um de seus habitat. Não existem relatos recentes de captura de Botias anãs nos rios Kwai Yai, Kwai Noi e Mae Klong, rios onde eram

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numerosas no passado. Existem relatos que elas foram introduzidas nas Filipinas nos anos 70 mas não há confirmação se sua população se estabeleceu ou não. Devido a tal dificuldade em coletá-las os preços dela no mercado são meio salgados mas são uma espécie extremamente pacífica, ideal para aquários comunitários.

8- Botia skunk (Yasuhikotakia morleti)

Foto: Emma Turner Chegam a 10cm de comprimento mas não pense que são calmas. É um peixe bastante agressivo, especialmente com Botias palhaço por perto. Recomenda-se tê-las apenas com outras Botias Grrr. FAQ 1- Posso ter Botias em meu aquário de Discos? R: Poder pode, mas não é uma mistura muito compatível pelo fato de que os Discos preferem águas mais calmas enquanto as Botias preferem águas turbulentas. Além disso, a agitação normal das Botias pode acabar estressando seus Discos. 2- Posso ter Botias em meu aquário de CAs? R: Absolutamente não! O pH e a dureza da água dos aquários de Ciclídeos Africanos é completamente incompatível para as Botias.

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3- Posso ter Botias no meu aquário de peixes Jumbos? R: Depende. Se as Botias forem suficientemente grandes para se defender, sim. Caso contrário, não. Entenda-se como "suficientemente grandes" um tamanho proporcional aos Jumbos. Botias sabem se defender mas isso tem limites. Um Oscar de 35cm junto com 5 Botias de 8 ou 10cm provavelmente não dará certo mas se elas já tiverem uns 15 a 20cm eles poderão conviver pacificamente. Lembre-se também que Botias são peixes de cardume. Não adianta colocar uma única Botia de 20cm que ela não vai se defender. A força delas está justamente na frase "a união faz a força". Botias palhaço, por exemplo, se criadas na ausência de outras de mesma espécie podem até morrer de solidão. 4- É verdade que Botias pegam Íctio muito facilmente? R: Sim. É bastante comum comprarmos Botias aparentemente saudáveis e, no dia seguinte elas apresentarem os famosos pontos brancos. 5- É verdade que não devemos usar remédios à base de Cobre nem sal grosso com Botias? R: As escamas das Botias são muito pequenas ao longo de seu corpo e ausentes na cabeça. Isto as torna muito sensíveis. O sal grosso não deve ser usado. Quanto ao cobre, a dose da medicação deverá ser menor que a recomendada na bula do remédio. Geralmente usamos de 1/6 a, no máximo, 1/2 dose. O Verde Malaquita pode ser usado em Botias. Ele é menos agressivo para elas. 6- Posso ter uma ou duas Botias apenas em meu aquário? R: Não! Botias são peixes de cardume. O número ideal é 5 ou mais pois, assim como abelhas e formigas, elas tem funções específicas no grupo. Todavia, em certos casos provisórios, podem ser introduzidas como mínimo dos mínimos apenas 3 mas fique avisado de que seu comportamento será mais ativo em grupos maiores. 7- Posso usar areia branca como substrato? R: Pode, mas não deve. Como Botias são peixes de fundo e preferem baixa iluminação seria mais recomendado cascalho ou areia escura ou pelo menos não branco. 8- Como escolher as Botias na loja? R: Não compre Botias com suas cores esmaecidas, nadadeiras fechadas muito menos se sua barriga não estiver roliça e mais gorda que a cabeça. Uma outra doença comum em peixes capturados na natureza é o chamado Skinny ou barriga seca. Peixes com essa doença possuem o ventre murcho. Não compre peixes nessas condições. Botia com Skinny:

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Sobre o autor:

Marcos Mataratzis iniciou no aquarismo ainda criança, mas começou a se dedicar de forma mais séria nos idos de 1986, quando se apaixonou pelas Botias. Desde então, vem se dedicando ao estudo deste gênero de peixes, possuindo diversos artigos sobre o assunto. Vem sendo moderador e administrador de fóruns de aquarismo pelos últimos 4 anos. Nesse tempo, postou mais

de 22.000 vezes, quase sempre ajudando aquaristas novatos a resolver seus problemas imediatos, assim como os aconselhando sobre o melhor setup para seus aquários. Organizou e ajudou a organizar diversos encontros aquarísticos no Rio de Janeiro, palestrando em diversos deles, muitas vezes sobre Química da água e outros temos correlatos. É consultor técnico do CEA – Centro de Estudos de Aquariofilia, onde também ajuda com palestras e consultas. Além disso, é astrônomo amador e astrofotógrafo desde 1980, tendo inclusive fotos publicadas em livros estrangeiros. É também professor de Química no Colégio Pedro II – Rio de Janeiro, desde a década de 1990, onde procura ao máximo despertar em seus alunos o interesse pelas ciências.