2013- curso: a conduÇÃo da anÁlise - aula 4: a palavra do analista é alusiva: onde isto se...

27
A Condução da Análise: Tema: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica? Coordenação Alexandre Simões ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados .

Upload: alexandre-simoes

Post on 23-Jun-2015

1.126 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

A Condução da Análise:

Tema:

A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

Coordenação Alexandre Simões

ALEXANDRE SIMÕES

® Todos os direitos de

autor reservados.

Page 2: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

por definição, é algo que se apresenta por meio do e para o

equívoco

Significante

Isto quer dizer que o significante remete a várias significações possíveis e a efeitos

diversos

Page 3: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

Voltemos à questão inicial:

A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

Page 4: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

INTERPRETAÇÃO

Page 5: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

A estrutura da interpretação não deve ser explicativa, nem mesmo sugestiva ou

imperativa

Page 6: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

Ela deve ser ALUSIVA e EQUÍVOCA, pois a interpretação não é para ser

estritamente compreendida, mas para

"provocar ondas" (Lacan, Conférences et entretiens dans les universités nord-américaines.

1975)

Page 7: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

Especialmente a partir da obra de Freud,

em que ponto podemos localizar com mais precisão a estrutura da interpretação?

Page 8: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS

Page 9: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

Nesta obra, verificamos

que a interpretação é ALUSIVA, na

medida em que ela se

atrela à realização do

desejo

Page 10: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

Há uma passagem muito conhecida d’A interpretação dos sonhos, na qual Freud apresenta a seguinte situação de uma de suas pacientes:

Transferencialmente, a paciente se posicionava como uma crítica à sua afirmação de que os sonhos

são realizações de desejo.

Desta forma, ela se empenhava por refutar o saber do Outro.

Page 11: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

Em certa ocasião, ela levou para a sua sessão de análise um sonho e assim o apresentou:

Page 12: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

“O senhor sempre me diz que o sonho é um desejo realizado. Pois bem, vou lhe contar um

sonho cujo tema foi exatamente o oposto - um sonho em que um de meus desejos não foi

realizado. Como o senhor enquadra isso em sua teoria? Foi este o sonho:”

Page 13: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

“Eu queria oferecer uma ceia, mas não tinha nada em casa além de um pequeno salmão defumado. Pensei em sair e comprar alguma coisa, mas então me lembrei que era domingo à tarde e que todas as lojas estariam fechadas. Em seguida, tentei telefonar para alguns fornecedores, mas o telefone estava com defeito. Assim, tive que abandonar meu desejo de oferecer a ceia.”

(cf. A interpretação dos sonhos, capítulo IV)

Page 14: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

À primeira vista, não há nada neste sonho que possa nos levar à pensar em um desejo realizado. Na análise do sonho, Freud recorre aos elementos que dão textura ao sonho. Nas palavras de Freud: “... a investigação de um sonho é sempre

encontrada nos acontecimentos da véspera.”

(A interpretação dos sonhos, p. 161; edição de 1980)

Page 15: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

Indo aos elementos diurnos do sonho, Freud faz o seguinte comentário: “O marido de minha paciente, um açougueiro atacadista, honesto e competente, comentara com ela, na véspera, que estava ficando muito gordo e que, por isso, pretendia começar um regime de emagrecimento. Propunha-se levantar cedo, fazer exercícios, ater-se a uma dieta rigorosa e, acima de tudo, não aceitar mais convites para cear. Ela acrescentou, rindo, que o marido, no lugar onde almoçava regularmente, travara conhecimento com um pintor que o pressionara a lhe permitir que pintasse seu retrato, pois nunca vira feições tão expressivas. O marido, contudo, replicara, à sua maneira rude, que ficava muito agradecido, mas tinha a certeza de que o pintor preferiria parte do traseiro de uma bonita garota a todo o seu rosto.”

Page 16: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

Dando sequência à associação livre, a

paciente, que estava muito

apaixonada pelo marido e brincava muito com ele, diz

a Freud que lhe implorou para que ele não lhe desse nenhum caviar.

Page 17: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

“Perguntei-lhe o que significava isso, e ela explicou que há muito tempo desejava poder comer um sanduíche de caviar todas as manhãs, mas refutava fazer essa despesa.

Naturalmente, o marido a deixaria obter isso imediatamente, se ela tivesse pedido. Mas, ao contrário, ela lhe pedira que não lhe desse caviar, para poder continuar a mexer com ele por causa disso.” (cf., p. 162)

Page 18: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

Na argumentação de Freud:

“Vi que ela fora obrigada a criar para si mesma um desejo não realizado na vida real ....” - no caso em questão não simplesmente o não ter caviar ou abrir mão do sanduíche matinal de caviar, mas demandar que o amado não lhe desse caviar - “e o sonho representava essa renúncia posta em prática.”

Freud faz uma pergunta bem interessante, que pode nos auxiliar a melhor localizar a estrutura histérica:

“Mas por que precisaria ela de um desejo não realizado?”

(cf. p. 162)

Page 19: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

Prosseguindo em seu discurso, a paciente menciona que na véspera

ela visitou uma amiga “... de quem confessava ter ciúmes

porque seu marido (de minha paciente) estava constantemente a

elogiá-la. Felizmente, essa sua amiga é muito ossuda e magra, e o

marido de minha paciente admirava figuras mais cheinhas.”

(cf. p. 162)

Page 20: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

• amiga magra

• desejo insatisfeito

• caviar

salmão marido

sonhadora

Começamos, assim, a verificar um encadeamento entre os significantes:

Page 21: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

Voltando ao encontro da paciente com a amiga magra

“Perguntei-lhe o que havia conversado com

sua amiga magra. Naturalmente,

respondeu, sobre o desejo dela de engordar

um pouco. A amiga também lhe perguntara: ‘quando é que você vai nos convidar para outro

jantar? Os que você oferece são sempre

ótimos.’” (cf. p. 162)

Page 22: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

Freud vai entrar em mais detalhes na interpretação deste sonho. Todavia, o ponto que agora nos

interessa é aquilo que foi mediado pelo significante

salmão defumado:

“ ‘Como foi’, perguntei, ‘que a senhora chegou ao salmão que aparece no sonho?’ ‘Oh’, exclamou ela,

‘salmão defumado é o prato predileto de minha amiga’ ” (cf. p. 163)

Page 23: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

“ ... o próprio desejo de minha paciente era que o de sua amiga

(engordar) não se realizasse. Mas, em vez disso, ela sonhou que um de seus próprios desejos não era

realizado. Portanto, o sonho adquirirá nova interpretação se supusermos que a pessoa nele

indicada não era ela mesma, e sim a sua amiga: que ela se colocara

no lugar da amiga, ou, como poderíamos dizer, que se

‘identificara’ com a amiga.”(cf. p. 163)

Page 24: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

“Qual é o sentido da identificação histérica? (...) A identificação é um fator altamente importante no mecanismo dos sintomas histéricos.” (cf. p. 163)

Page 25: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

Por meio deste sonho, podemos extrair dois pontos cruciais para a estrutura da interpretação:

1) Um desejo sempre se vincula a outro desejo

2) Na histeria, a vinculação de um desejo a outro atrela o sujeito a uma falta

Page 26: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

O que há de alusivo na interpretação?

sujeito

falta

Page 27: 2013- CURSO: A CONDUÇÃO DA ANÁLISE - aula 4: A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?

Prosseguiremos com a pergunta

Os lugares do sentido e do não-sentido na análise:

há indicadores clínicos para isto?

Até lá!

Acesso a este conteúdo:www.alexandresimoes.com.br

ALEXANDRE SIMÕES

® Todos os direitos de autor reservados.