2012 07 28 alegacoes finais trafico de drogas materialidade indireta mpms

37
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE PORTO MURTINHO EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE PORTO MURTINHO/MS. AUTOS N. ............. AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. RÉU: S.E. E OUTROS. MEMORIAIS DE ALEGAÇÕES FINAIS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por intermédio de seu Promotor de Justiça signatário, que Promotoria de Justiça da Comarca de Porto Murtinho – Rua 13 de maio, n.° 444, Ed. do Fórum, CEP – 79280-000, fone: 3287-1184 www.mp.ms.gov.br

Upload: xcesar

Post on 23-Nov-2015

21 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Processo n 3

MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

PROMOTORIA DE JUSTIA DE PORTO MURTINHO

EXCELENTSSIMA SENHORA JUZA DE DIREITO DA VARA NICA DA COMARCA DE PORTO MURTINHO/MS.

Autos n. .............

Autor: MINISTRIO PBLICO ESTADUAL.

Ru: S.E. e Outros.

MEMORIAIS DE ALEGAES FINAIS PELO

MINISTRIO PBLICO

O MINISTRIO PBLICO ESTADUAL, por intermdio de seu Promotor de Justia signatrio, que esta subscreve, vem perante Vossa Excelncia, nos autos epigrafados, apresentar Memoriais de Alegaes Finais, o que faz nos seguintes termos.

1. Da Sntese do Processo.

De promio, cumpre registrar que, aps rduo trabalho policial voltado acerca da elucidao da atividade criminosa desenvolvida pelos denunciados, com a realizao de inmeras diligncias, dentre elas, exames periciais, busca e apreenso e interceptaes telefnicas, devidamente autorizadas pelo Poder Judicirio, deflagrou-se nas prises preventivas dos referidos envolvidos e, por conseguinte, na delimitao de suas condutas, encaminhando o Inqurito Policial para este rgo ministerial para a adoo das providncias cabveis.

Assim, formulou-se a denncia nos seguintes termos (fls. 02/04):

(...) Consta dos inclusos autos de Inqurito Policial que durante os meses de outubro e novembro de 2010, nesta cidade, os denunciados S. e G. associaram-se para o fim de praticaram reiteradamente a venda e o fornecimento de drogas, sem autorizao e em desacordo com determinao legal e regulamentar.

Infere-se que, aps a anlise da degravao das interceptaes telefnicas autorizadas por este Juzo, constatou-se que os denunciados S. e G. traziam a droga das cidades de Bela Vista/MS e Ponta Por/MS e a mantinha em depsito na residncia dos mesmos, situada rua XXXXXXX, n. 00000, bairro Centro, neste municpio, local onde funcionava como um centro de distribuio de substncia entorpecente. As conversas interceptadas do conta que os denunciados S. e G. comercializavam substncias entorpecentes utilizando-se o aparelho de telefone celular como o principal meio de comunicao, tanto verdade que a prtica era intitulado de Disque Droga. Segundo consta, os denunciados S. e G. contavam com a colaborao de vrias pessoas, as quais vendiam e faziam a entrega da droga para eles, recebendo em contrapartida certa quantidade de dinheiro ou at mesmo alguma espcie de entorpecente para sustento do prprio vcio. Destarte, as investigaes policais lograram xito em constatar que o denunciado F., em associao com S. e G., seria uma das pessoas encarregadas pelo comrcio de drogas nesta cidade, sendo que recebia diariamente uma certa quantidade de paradinhas, e embolsava a quantia correspondente a 20% do valor que fosse vendido. A autoria e a materialidade do delito restam demonstradas atravs do Boletim de Ocorrncia (fls. 04/06), Auto de Apreenso (fls. 07/09), e Relatrios de Transcries das conversas inerentes s linhas telefnicas interceptadas (fls. 35/128). (...)

Diante desses fatos, suas condutas se subsumiram ao art. 33, caput, c/c 35, caput, da lei 11.343/2006.

Os denunciados foram devidamente notificados (f. 238-v), nos termos do art. 55 da Lei n 11.343/06, e apresentaram suas defesas preliminares s fls. 240, 243 e 251.

Por conseguinte, a denncia foi recebida pela deciso de fls. 253/254, bem como foram realizadas audincias de instruo e julgamento s fls. 306/324, 339/353 e 352/376, inquirindo-se as testemunhas de acusao, defesa, alm daquelas convocadas pelo juzo.

Registre-se que, por duas oportunidades, os acusados G. e F., pugnaram pelas suas liberdades provisrias, sendo indeferidas pelo juzo (autos em apenso). Insatisfeitos, impetraram writ perante o Tribunal de Justia, denegado (acrdo anexo).

Derradeiramente, foram interrogados pelo juzo (fls. 364/376).

Vieram os autos para as alegaes finais.

o sucinto relatrio.

2. Do Mrito.

2.a Do Trfico de Drogas. Pedido de Condenao.

Compulsando os autos e analisando todo o conjunto probatrio produzido durante a persecuo criminal (inqurito policial e instruo processual), conclui-se que os acusados realmente cometeram as condutas tipificadas nos artigos 33 e 35 ambos da Lei n 11.343/06.

Constata-se, de forma inequvoca, que S.E., G.A. e F.W.F., comercializavam drogas nesta urbe atravs de uma sistemtica que ficou conhecida como Disk-Droga.

A dinmica do sistema supramencionado funcionava de forma estruturada e com diviso de tarefas entre os integrantes do grupo criminoso.

O conjunto probante foi elucidativo em apontar S.E. (este, o lder e mentor da atividade criminosa) e G.A. como os responsveis pelo fornecimento das substncias entorpecentes, ao passo que F.W.F., alm de outros, saiam de bicicleta, e outros meios de locomoo disponveis, a qualquer hora do dia ou da noite, para realizar a entrega das encomendas feitas atravs de ligaes em seus telefones celulares.

O modus operandi restou patenteado por todo o acervo de provas, notadamente, as declaraes colhidas tanto na fase inquisitiva, quanto, posteriormente, corroboradas na fase processual e Relatrios de Transcries referentes s interceptaes telefnicas realizadas nos aparelhos celulares utilizados no Disk-Droga, dando conta que tinham uma estrutura voltada para o trfico.

Assentado esse panorama geral, passa-se ao exame das provas.

2.b Da Materialidade. Comprovao de Forma Indireta. Possibilidade. Vasta Prova Indiciria e Documental.

No que toca a este ponto, imperioso tecer algumas consideraes:

No caso em comento sobreleva ressaltar que conquanto no se tenha logrado xito na apreenso de substncias entorpecentes em poder dos acusados, foi produzido substancial conjunto de provas que, indubitavelmente, consubstancia corpo de delito indireto apto a ensejar o decreto condenatrio.

Como j explanado, se depreende dos autos que os acusados estavam comercializando drogas atravs de um servio de disque-drogas, sendo que as substncias entorpecentes, guarnecidas na residncia de S. e G., eram enviadas aos clientes atravs de F. e outros mediante contraprestao pecuniria e outros bens de ordem material.

Necessrio enfatizar que in casu a prova da materialidade do crime de trfico de drogas em associao est evidenciada notadamente pelo teor das conversas interceptadas, cujo teor se refere ao desenrolar das atividades de compra e venda de entorpecentes, o que vem alinhada com as demais provas testemunhais constantes no bojo dos autos.

Isso significa dizer que a materialidade, em que pese no possa ser comprovada de formar direta atravs de, por exemplo, de Laudo de Exame de Substncia Entorpecente , por inexistir, nos autos, apreenso das drogas comercializadas, pode ser constatada de forma indireta, haja vista os demais elementos coletados (que so muitos).

A propsito, a desnecessidade de apreenso da droga para subsidiar uma condenao, amplamente admitido pela jurisprudncia, conforme se depreende de inmeros arestos do E. Superior Tribunal de Justia. Vejamos:

HABEAS CORPUS. ARTS. 33 E 35 DA LEI N 11.343/06. PRISO PREVENTIVA. ASSOCIAO PARA O TRFICO. MATERIALIDADE. NO APREENSO DE DROGA COM O PACIENTE. PRESCINDIBILIDADE. GRANDE QUANTIDADE DE DROGA APREENDIDA COM A ORGANIZAO CRIMINOSA. PERICULOSIDADE CONCRETA. GARANTIA DA ORDEM PBLICA. FUNDAMENTAO IDNEA. EXCESSO DE PRAZO. ENCERRAMENTO INSTRUO CRIMINAL. ALEGAES FINAIS. SMULA 52 DESTA CORTE.

1. No obstante a materialidade do crime de trfico pressuponha apreenso da droga, o mesmo no ocorre em relao ao delito de associao para o trfico, que, por ser de natureza formal, sua materialidade pode advir de outros elementos de provas, como por exemplo, interceptaes telefnicas.

2. No caso dos autos, com a priso da corr, foram apreendidos vrios objetos, dentre os quais telefones celulares com registros de nmeros de pessoas envolvidas com o trfico.

A partir de tais registros, foram realizadas interceptaes telefnicas, devidamente autorizadas, oportunidade em que se constatou o suposto envolvimento do paciente com organizao criminosa destinada ao trfico de entorpecentes, sendo ele eventual responsvel pela manufatura e fornecimento da droga.

3. A periculosidade concreta do paciente a justificar a segregao cautelar ficou demonstrada diante da grande quantidade de droga por volta de 345 Kg (trezentos e quarenta e cinco quilos) de maconha , da considervel quantia em dinheiro R$ 20.000,00 (vinte mil reais) e das armas apreendidas em poder da quadrilha.

4. Trata-se, ainda, de extensa organizao criminosa responsvel pelo domnio do trfico e disseminao de entorpecente em Salvador e outros municpios do Estado da Bahia, faco da qual alguns integrantes so, inclusive, policiais civis.

5. Encerrada a instruo criminal, fica superada a alegao de excesso de prazo para a formao da culpa, consoante disciplina o enunciado de Smula n 52 desta Corte.

6. Ordem denegada. (HC 148480 / BA, Min. Og Fernandes, 6 Turma, 07/06/2010, STJ). Grifo.

RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIME DE TRFICO ILCITO DE ENTORPECENTES. ART. 12, CAPUT, DA LEI N. 6.368/76. PRETENDIDA ABSOLVIO. AUSNCIA DE LAUDO TOXICOLGICO. PRESCINDIBILIDADE. CONJUNTO PROBATRIO ROBUSTO PARA COMPROVAR A EXISTNCIA DO CRIME. RECURSO DESPROVIDO.

1. A despeito da pacfica orientao desta Corte no sentido da indispensabilidade do laudo toxicolgico para se comprovar a materialidade do crime de trfico ilcito de drogas, j se posicionou esta Col. Quinta Turma (HC 91.727/MS, 5. Turma, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, DJe de 19/12/2008) no sentido de que o referido entendimento s aplicvel nas hipteses em que a substncia entorpecente apreendida, a fim que se confirme a sua natureza. Dessa forma, possvel, nos casos de no apreenso da droga, que a condenao pela prtica do delito tipificado no art. 12 da Lei n. 6.368/76 seja embasada em extensa prova documental e testemunhal produzida durante a instruo criminal, o que constitui o caso dos autos.

2. Recurso desprovido. (REsp 1065592 / DF, Min. Laurita Vaz, 5 Turma, STJ). Grifo.

E outro:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. TRFICO INTERNACIONAL DE ENTORPECENTES, ASSOCIAO AO TRFICO, LAVAGEM DE DINHEIRO E SONEGAO FISCAL. NECESSIDADE DE ESGOTAMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA COMO CONDIO DE PROCEDIBILIDADE DA AO PENAL PELO CRIME DE SONEGAO. AUSNCIA DE LAUDO TOXICOLGICO. PRESCINDIBILIDADE. CONJUNTO PROBATRIO ROBUSTO A COMPROVAR A MATERIALIDADE DO DELITO. INCIDNCIA DA SMULA N 7/STJ. ALEGADA VIOLAO DO ART. 12, 2, DA LEI N 6.368/76. PREJUDICADA APRECIAO. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.

1. Nos crimes contra a ordem tributria, previstos no art. 1 da Lei n 8.137/90, a instaurao da ao penal depende da constituio definitiva do crdito tributrio, aps o encerramento do procedimento fiscal na esfera administrativa, para que no constitua constrangimento ilegal, pela ausncia de condio objetiva de punibilidade.

2. Prejudicado o pedido em relao violao do art. 1 da Lei n 8.137/90, uma vez que concedida ordem de habeas corpus ao paciente para afastar a condenao pela prtica do delito de sonegao fiscal. (HC 77.986/MS, de minha relatoria, DJ 7/4/08).

3. Consoante a jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia a materialidade do crime de trfico de entorpecentes deve ser comprovada mediante a juntada aos autos do laudo toxicolgico definitivo. Entretanto, tal entendimento deve ser aplicado na hiptese em que h a apreenso da substncia entorpecente, justamente para se aferirem as caractersticas da substncia apreendida, trazendo subsdios e segurana ao magistrado para o seu juzo de convencimento acerca da materialidade do delito.

4. O laudo de exame toxicolgico definitivo da substncia entorpecente no condio nica para basear a condenao se outros dados suficientes, incluindo a vasta prova testemunhal e documental produzidas na instruo criminal, militam no sentido da materialidade do delito.

5. A anlise de inexistncia de prova da materialidade dos delitos de lavagem de dinheiro e associao para o trfico demanda incurso no contexto ftico-probatrio dos autos, defeso em sede de Recurso Especial, nos termos do Enunciado n 7 da Smula do STJ. 6. Prejudicada a anlise da violao do art. 12, 2, da Lei n 6.368/76, em razo de julgamento de habeas corpus. 7. Recurso Especial conhecido e improvido. (Superior Tribunal de Justia STJ; REsp 1.009.380; Proc. 2007/0271350-0; MS; Quinta Turma; Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima; Julg. 12/05/2009; DJE 15/06/2009). Grifo.

E a linha de inteleco adotada, tambm adotada no mbito dos nossos Tribunais ptrios:

APELAO CRIMINAL. ASSOCIAO E TRFICO DE DROGAS (ARTS. 12 E 14 DA LEI N 6.368/76). AUTORIA COMPROVADA. ALEGADA NO-COMPROVAO DA MATERIALIDADE DELITIVA QUANTO AO TRFICO DE DROGAS. AUSNCIA DE SUBSTNCIAS ILCITAS APREENDIDAS COM O RU. PRESCINDIBILIDADE.

VASTA PROVA TESTEMUNHAL E DOCUMENTAL APTA A COMPROVAR A MATERIALIDADE. POSSIBILIDADE. CONDENAO QUE SE IMPE. RECURSO PROVIDO.

1. A autoria do crime de trfico de drogas restou plenamente comprovada, entretanto a materialidade delitiva foi afastada pela magistrada de piso, em funo da no-apreenso de drogas em poder do apelado.

2. As cortes superiores adotaram o posicionamento de que a materialidade do crime de trfico de drogas deve ser comprovada por meio do laudo toxicolgico definitvo, entretanto, quando no ocorre a apreenso das substncias ilcitas, esta poder ser caracterizada por meio de prova testemunhal e outras provas documentais produzidas durante a instruo criminal, como ocorre in casu.

3. Desde que existam outros meios de provas idneos a comprovar a materialidade do delito, no h que se falar em afastamento da mesma por ausncia de laudo pericial, principalmente quando vasta a prova testemunhal a comprov-la.

4. Diante de tantas evidncias, deve ser mitigada a exigncia de laudo toxicolgico, inclusive porque ele no foi condenado por estar portando drogas, mas por viabilizar diretamente seu transporte e distribuio.

5. Recurso a que se d provimento, a fim de condenar o apelado, tambm, nas iras do art. 12, da Lei n 6.368/76, mantendo a condenao pela associao, na forma do art. 69, do Cdigo Penal. (TJ-ES; ACr 24090012071; Primeira Cmara Criminal; Rel. Des. Srgio Bizzotto Pessoa de Mendona; Julg. 27/05/2009; DJES 26/06/2009); grifo.

Por oportuno, convm consignar que o posicionamento supramencionado decorre do sistema normativo ptrio, que admite a comprovao indireta da materialidade delitiva, consoante se depreende da redao do art. 167 do Cdigo de Processo Penal brasileiro, que, verbis, dispe:

Art. 167. No sendo possvel o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestgios, a prova testemunhal poder suprir-lhe a falta.

A par de todas essas questes, foroso reconhecer que no caso em apreo, no apenas provas testemunhais, mas tambm as provas documentais so convergentes no sentido de afirmar a existncia do conhecido Disk-Drogas, nesta cidade, sob o comando dos acusados, sendo, portanto, suficientemente idneos a demonstrarem a materialidade do crime de trfico de entorpecentes.

2.c Das Autorias. Comprovao Inequvoca.

Malgrado a ausncia de confisso por parte dos acusados, tm-se que o modus operandi da organizao est devidamente delineado nos autos, o que certificado por intermdio de outros meios probatrios existentes em seu bojo.

Dentro desse prisma, h que se registrar que no se pode aguardar uma confisso dos acusados, ou, no caso, a apreenso do objeto material do delito, para s assim dar azo a aplicao da reprimenda penal, sob pena de aodar a criminalidade mediante o estmulo impunidade. Como soa a ocorrer em delitos dessa estirpe, aos acusados submetidos ao jugo do processo penal, sempre efetivado de forma a inviabilizar a elucidao dos fatos pelos rgos e agentes repressores do crime, ainda que suas verses estejam totalmente desprovidas de qualquer respaldo probatrio.

Dentro desta perspectiva, no se pode descurar que o processo penal no lastreado apenas nos interrogatrio dos acusados. Assim fosse, inmeras e avassaladoras seriam as absolvies por negativa de autoria, numa verdadeira onda de impunidade, pois dependeria o ordenamento jurdico da moral e arrependimento do acusado em reconhecer ou no sua culpabilidade, e apesar de serem campos estreitamente ligados, no pode o Direito depender apenas da moral e tica dos homens, podendo valer-se, portanto, de quantos meios objetivos de provas estejam ao alcance para a pura descoberta da verdade real, j que impossvel vasculhar-se o interior e a mentalidade de um homem, sendo impossvel, por consequncia, saber-se se est ou no dizendo a verdade.

E exatamente diante dessa impossibilidade de saber se o acusado est ou no contando a realidade, j que o maior interessado na sua ocultao, e at mesmo porque lhe lcito mentir em Juzo, conforme unnime entendimento jurisprudencial, sendo at despiciendo colacionar julgado nesse sentido, porquanto sabidamente direito inerente ao acusado.

Em face dessa mxima, permite-se ao Magistrado avaliar no s a vertente apresentada pelo acusado, mas sim, aferir todo o acervo coligido, mais as circunstncias que se evidenciam nos autos, num raciocnio lgico e coerente de como se desenvolvera os fatos.

Por essa razo, o Direito uma cincia detentora de lgica e tirocnio, de forma a ensejar a analise de todo o conjunto instrutrio amealhado nos autos. Desse modo, h que se estudado e compreendido o contexto ftico, acervo desde a fase do inqurito policial, contextualizando-os como elementos de prova, por terem sido colhida durante o crepitar do empreendimento delituoso, onde as circunstncias se revelam com todo o seu fulgor e realidade no momento mesmo em que realizado ou finalizado o delito, at s provas colhidas em Juzo, levando-se em considerao, inclusive as contradies e omisses de que se valem os acusados para impedir a descoberta da verdade real, pois, como cedio, os rus nem sempre tem interesse na sua apurao, posto que este pode significar o seu encarceramento, ainda que a bem de toda uma coletividade.

vista disso, crvel afirmar que o s fato dos rus S., G. e F.W., negarem as imputaes, por si s, no lhe do o rtulo de credibilidade, notadamente quando estas se manifestam totalmente isoladas e sem convencimento.

Pois bem.

Conforme j consignado alhures, a materialidade e a autoria esto devidamente comprovadas atravs das investigaes policiais, declaraes colhidas tanto na fase inquisitiva, quanto na processual como tambm, pelos Relatrios de Transcries das interceptaes telefnicas.

Doravante, passa-se a elenc-las:

2.c. i Das Declaraes Colhidas:

Como j referido, todos os acusados negam o cometimento das condutas delituosas, na medida que em seus interrogatrios (fls. 364/376), afirmaram que no seriam verdadeiros os fatos tal como narrados na denncia.

Em resumo, aduziram (pasme!!) que todo o esquema denominado Disk-Droga no passaria de mera brincadeira, em que os rus, juntamente com outros amigos, trocariam ligaes nas quais se faziam referncias entrega e venda de drogas.

Segundo tal argumento que, diga-se de passagem, surreal, a brincadeira era feita em razo da perseguio de que eram vtimas da policia.

Contudo, a alegao acima no prospera.

Primeiramente, atinente vertente apresentada pelos acusados, h que tecer algumas consideraes de ordem tcnica.

Novamente, no se constitui em demasia relembrar que no esclio do entendimento do Supremo Tribunal Federal (HC 94601/CE), o interrogatrio do ru trata-se de, alm de um meio de prova, constitui-se como um ato de defesa, de sorte que lhe conferida a prerrogativa de no auto-incriminar-se, garantindo-lhe, por consequncia, o direito ao silncio e de no dizer a verdade, leia-se: mentir, sob pena de transgredir ao estatuto constitucional do direito de defesa.

Contudo, ainda que tivesse verossimilhana a vertente apresentada por S., G. e F., facilmente perceptvel que suas alegaes so totalmente divorciadas de qualquer elemento de prova contida no bojo deste processo crime. Explica-se:

Em primeiro lugar, cumpre rememorar a confisso feita por F.W.F. em seu interrogatrio prestado na fase pr processual (f. 40), no qual, com riqueza de detalhes, explica como funcionava a sistemtica do Disk-Droga:

que o interrogado usurio de maconha h aproximadamente 6 (seis) anos; que S.E., vulgo S., convidou o interrogado para fazer correria (vender drogas na cidade), ficando combinado que receberia 20 % (vinte por cento) do que fosse vendido; Que todos os dias S. entregava uma quantidade de paradinha para ser comercializada, sendo que a venda era feita atravs do nmero (xx) xxxx-xxxx; Que S. utilizava o nmero (yy) yyyy-yyyy; Que alm do interrogado, W.C.S., vulgo P., bem como a pessoa conhecida por B. tambm comercializavam drogas na cidade para S.E.; que eram muitos os usurios que procuravam o interrogado para comprar pasta base (crack); Que era S. que sempre transportava a droga de outras cidades em seu carro particular.... destaque.

Muito embora tenha alterado sua verso em seu interrogatrio judicial (fls. 364/367) o que faz, repise-se, escorado em seu direito constitucional ampla defesa , verifica-se que a confisso acima transcrita deve prevalecer, uma vez que, realizado o cotejo entre os elementos probatrios colhidos durante a instruo, conclui-se que se coaduna com a verdade real.

No que tange a S. e G., em notria evasiva e contradio, tentam se eximir da responsabilidade devida, apresentando argumentaes truncadas e que caem na inverossimilhana, tentam mudar suas verses sobre a circunstncia da traficncia, aduzindo que so inocentes e tudo no passava de uma brincadeira, atribuindo as ligaes do Disk Droga atuao da polcia.

Infere-se da conjectura apresentada, que somente o interrogatrio do acusado F.W. que coaduna com o que restou apurado durante a persecuo.

Em segundo lugar, V.A. (f. 18) sublinha-se: sobrinha dos acusados que residia com os mesmos traz importantes esclarecimentos elucidao do caso, pois, nas mencionadas condies, convivia com S. e G., com eles mantinha contato dirio, vindo a descrever com mincias os eventos criminosos:

que j viu seus tios S. e G. vrias vezes enterrando porcaria (droga) no quintal da residncia; que cada vez eles enterram a droga em local diferente no quintal; Que sabe informar que as pessoas de R., Z.B., P. e E.R. vendem droga para seus tios na rua; que viu apenas uma vez a pessoa de F. ir buscar droga na residncia; Que vrias vezes viu Z.B., P. e R. conversando com seus tios, onde combinavam os locais que iriam entregar a droga; que j ouviu eles combinando de irem entregar droga no parquinho, no posto de combustvel da entrada da cidade e tambm em uma rvore que fica na frente da casa U.; que tambm j viu vrias pessoas (usurios) indo na casa para comprar a droga; Que tais usurios compram a droga na casa dos fundos onde dorme G. e a esposa... Que j viu S. vrias vezes no quarto embalando a droga; Que viu a droga em pedra e tambm em p... Que S. e G. entregam a droga pela cidade de bicicleta ou de carro; que j viu S. colocando a droga dentro do tnis e saindo de bicicleta para fazer a entrega... Que j ouviu S. dizendo para P. que buscava droga na cidade de Ponta Por. Destaque.

Denota-se a credibilidade do depoimento de V. quando o comparamos com as declaraes por ela prestadas anteriormente (f. 18) e verifica-se que, mesmo sendo ameaada de morte pelos tios (conforme Relatrio de atendimento f 260), manteve a sua verso sobre os episdios delitivos:

que perguntada o que Z. ia fazer em sua residncia, respondeu ia comprar porcaria; que perguntada que tipo de porcaria, respondeu que era uma espcie de pedrinha; que quem vendia drogas no perodo da tarde era o irmo da depoente T.; que as pessoas na rua costumavam chamar a depoente de Maconheirinha, falando que ela sobrinha da Maconheirinha; que Z. frequentemente ia buscar droga na casa da av da depoente... que G. e S. nunca trabalharam; que tudo que possuem, inclusive carro e casa proveniente do dinheiro de venda de droga... que a droga que S. e G. vendiam era proveniente de Ponta Por; que era S. quem ia buscar a droga; que a Droga era trazida normalmente em uma mochila, embalada em plstico com durex; que era trazido tambm uma folhinha comprida verde, que era socada e colocada em um saquinho; que a droga era guardada no quarto e no quintal da casa; que por quatro vezes pegou droga escondida no quintal e queimou e seu tio S. ficou bravo com isso... que j viu os tios prepararem plstico para embalar a droga; que eles chegavam da viagem e eu j ia sondar o buraco; que sua av dizia para ela ir l ver o que os tios estavam fazendo; que depois de trazer a droga os tios ligavam para diversas pessoas e as pessoas comeavam a comparecer para pegar a droga na residncia de sua v... que S. costuma ir buscar a droga com o seu carro e depois saia de bicicleta, colocando no seu p o saquinho com a pedrinha.

Diante da explanao supra, um detalhe merece ser enfatizado:

Mesmo se tratando de uma adolescente, com apenas 13 (treze) anos de idade, V. manteve exatamente a mesma verso anteriormente apresentada, no se contradisse, no titubeou, permaneceu firme na sua narrativa e detalhou com muita propriedade o modo de agir dos acusados, fato esse, que foi atestado por este Promotor de Justia subscritor e pelos advogados que se fizeram presentes no ato processual.

E nem se diga que o fato de supostamente V. estar com raiva dos tios seria motivo para criar inverdades, como pretende fazer crer a defesa tcnica.

Ora, no h como deixar de reconhecer que, quando uma mentira dita, raramente se torna possvel reproduzi-la na ntegra momentos depois, imagina ento, quando a alegada histria fantasiosa contada meses aps e, ainda, por uma pessoa de to tenra idade.

No por outra razo que referida adolescente foi alvo de inmeras ameaas por parte de seus tios. Para melhor entendimento, transcreve-se trecho de relatrio acima mencionado:

(...) A supracitada menor encontra-se em conflito com seus familiares desde que seu tio S. foi preso por trfico de entorpecentes, onde a mesma passou a ser acusada por sua famlia como a delatora do mesmo, tendo inclusive sofrido ameaas por alguns de seus familiares, fato esse denunciado a Delegacia de Polcia civil, bem como ao Ministrio Pblico.

Gize-se tambm que a ameaa supra foi corroborada nas declaraes de V. prestadas em juzo (f. 312).

Em terceiro lugar, o que se destaca como fator importantssimo para a elucidao das aes criminosas, foi a investigao policial que redundou na propositura da presente ao penal.

Nesta senda, seno bastasse o vasto acervo de provas constante no autos, referidos acusados, j eram conhecidos nos meios policiais como agentes associados para o trfico, haja vista que h tempos j vinham sendo investigados pela conduta de traficarem entorpecentes. Nesse sentido, alguns dos inmeros Relatrios de Investigao contidos nos autos que descreveram que:

(...) A pessoa de S.E. e seu irmo G.A., residente na rua yyyyyyy, s/n, prximo C. no Bairro BBBBBB so os maiores responsveis pelo comrcio de entorpecentes. Tendo como colaboradores F.W.F., residente na Avenida LLLLLLLLL, 00000, D.R., residente na rua JJJJJJJ, s/n, em frente M. no Bairro CCCCCC, W.S.C., vulgo P., residente na rua TTTTTTT, 2222222 e o menor L.F., residente na rua ZZZZZZZ, 1111111. (...) f. 58, 135.

A colheita de provas nada mais fez do que confirmar as suspeitas que j haviam em desfavor dos mesmos.

Destaca-se, tambm, as declaraes dos seguintes policiais que participaram das investigaes e prises dos acusados:

P.G.C. (f. 314) relata a reao dos Rus, quando do cumprimento do mandado de busca e apreenso.

... que quando E. desligava o celular, os usurios iam at a casa de S.; que pelas investigaes os policiais apuraram que S. era quem buscava a droga, possivelmente de Ponta Por; que no comeo a droga era trazida de nibus; que depois S. comeou a usar os automveis... que G. cuidava da droga, repassando-a aos correria; que na ausncia de S., G. fazia a entrega da droga e pegava o dinheiro; que as vezes G. saia de bicicleta para fazer entrega; que neste momento se recorda que R. um rapaz que mora praticamente em frente da casa dos acusados e salvo engano seu sobrenome M.; sendo que este rapaz tambm fazia correria para os acusados... que perguntado se sabe nomear usurios que foram identificados como compradores dos acusados, respondeu que no bom com nomes mas que a menina que est gestante aguardando par prestar depoimento, R.Q., conhecido come R. e Z.; que participou da busca e apreenso na casa de S.; que pelo Promotor foi solicitado que o depoente descrevesse a reao dos acusados no momento da priso, tendo a testemunha declarado que S. foi calmo e G. de incio pareceu assustado mas tambm se manteve calmo...

De fato, se fossem inocentes como alegam, certamente no se resignariam quando da efetivao de suas prises, tal como se sucedeu.

Outro policial civil que participou das investigaes, R.L.B.A. (f. 317), asseverou:

Que aps determinao da autoridade policial local, os investigadores se mobilizaram para combate de trfico de drogas na cidade, o qual primeiramente culminou na priso dos irmos G.; que aps os usurios passaram a adquirir droga atravs da quadrilha de S., que mantinha uma boca de fumo conhecida na cidade... que a droga era adquirida em Bela Vista ou Ponta Por, sendo que S. ia busc-la num veculo Logus vermelho; que em uma oportunidade, o depoente escutou atravs do celular monitorado usurio contatando com G., pedindo pedra de crack proferindo os seguintes dizeres traz duas de dez... que os acusados demonstraram tranquilidade quando ocorreu a priso; que eles no comentaram nada na presena do depoente... que pode dizer que os acusados vendiam pasta base e pedra porque nas escutas os prprios usurios pediam pedra e pasta base; que no abordaram os usurios no momento da entrega para no atrapalhar as investigaes.

O fato de as testemunhas supramencionadas serem policiais, no motivo de minorar o valor da prova testemunhal. Ao contrrio, os servidores da polcia merecem, nos seus relatos, a normal credibilidade dos testemunhos em geral, a no ser quando apresente razo concreta de suspeio.

Exsurge desse contexto que s declaraes fornecidas por policiais deve-se dar crdito como se de qualquer testemunha fossem, tendo em vista o relevante servio que fazem sociedade, bem como pelo fato de que prestam depoimento devidamente compromissados, sob as penas do delito de falso testemunho.

No ponto, calha citar a jurisprudncia do Colendo TJ/MS:

APELAO CRIMINAL. TRAFICO DE ENTORPECENTE. PROVA. DEPOIMENTO DE POLICIAIS. CONFISSO EXTRAJUDICIAL RETRATADA EM JUIZO. VALIDADE. HARMONIA ENTRE AS DUAS PROVAS. RECURSO IMPROVIDO.

O depoimento vale no pela condio do depoente, mas pelo seu contedo de verdade, no havendo razo para despreza-lo apenas porque prestado por policial.

Tem valor probante a confisso extrajudicial no infirmada por outras provas, mxime quando corroborada pelos depoimentos dos policiais que prenderam o ru em flagrante.

(Apelao Criminal - Classe A - XII, 686428. Ponta Por. Rel. Des. Gilberto da Silva Castro. Primeira Turma Criminal. Unnime. J. 23/11/1999, DJ-MS, 02/02/2000, pag. 16).

Em quarto lugar, continuando a anlise das declaraes colhidas, h depoimentos de usurios exterminam qualquer resqucio de dvida (que no h), a respeito do exerccio da traficncia pelos acusados. Seno vejamos:

A.M.M. detalha todo o esquema do Disk-Droga em seus pormenores, confirmando as declaraes outrora colhidas durante a fase inquisitorial.

que a declarante usuria de pedra (crack) desde os quatorze anos de idade; Que comeou a usar drogas na companhia de amigos... Que com o valor que recebe se prostituindo compra pedra no parquinho, localizado no bairro Florestal, da pessoa de W.A.S.... que quando W. no tem droga para vender, a declarante telefona para o nmero xxxx-xxxx, sendo que atende a pessoa de G.A., irmo de S., vulgo C.... que certa vez a declarante dirigiu-se at a residncia de G. para comprar drogas e avistou que o mesmo retirou certa quantidade de drogas entre alguns tijolos que ficam prximos cerca da residncia e que algumas vezes a droga fica enterrada no fundo do terreno; que depois dessa ocasio, G. pediu para que a declarante no fosse mais at a sua residncia, pois tinha medo de ser preso, dessa forma, sempre que precisasse comprar pedra era pagar ligar... g.n. (declaraes prestadas durante o Inqurito Policial, s fls. 56/57).

Em juzo, ratifica integralmente seu depoimento. Veja:

que confirma integralmente as declaraes de f. 56, lidas nesta oportunidade; que conhece S. porque ele lhe vendia droga, sendo que a depoente ligava para o telefone de S. e ele lhe levava a droga; que G. era scio de S.; Que G. tambm entregava a droga para a requerente, sempre de bicicleta; que uma vez S. entregou a droga para a depoente em um carro vermelho; que conhece F.W. porque ele trabalha para S., efetuando entrega de drogas; que quando ligava para pedir droga todos os acusados j atenderam a ligao, sendo que a maioria das ligaes era atendida por S. ou F.; que consome crack; que j foi na casa de S.; que uma vez fez uso de Droga dentro da casa de S.... que sabe dizer que Z. comprava droga com os acusados... que R$10,00 pela pedra de crack e fazia uso do entorpecente todos os dias; que a maioria das vezes ligava e os acusados entregavam a droga na casa da depoente; que tem medo de S. e G. pois j foi ameaada por eles... sendo que os acusados disseram que quando sassem da cadeia iriam pegar a depoente para ela largar mo de ser cagoeta; que j foi ameaada vrias vezes, mais de cinco vezes, sendo que amigos que estavam presos disseram para a depoente que os acusados teriam dito que quando sassem iriam mat-la... que os acusados tinham dois nmeros para onde ligava para pedir drogas; que confirma que o nmero xxxx-xxxx pertencia a G. e era usado para pedir droga; que o nmero yyyy-yyyy de S. e tambm era utilizado como disck-droga; que a depoente utilizava esses dois nmeros para pedir droga... que nunca brigou com G. ou S.; que no tem raiva de S. ou G., apenas tem medo das ameaas que recebe deles g.n. (depoimento prestado perante o juzo, f. 323).

Importante pontuar que, pela leitura das declaraes supra, percebe-se que o nmero de telefone por ela citado pertence a G.A., e foi objeto das interceptaes realizadas durante o inqurito.

E no s.

A tambm usuria de drogas, Z.N.F.B., f. 17, relata com mincia a forma com que conseguia as substncias entorpecentes que consumia, apenas confirmando as declaraes de sua amiga e tambm usuria A.. Da mesma forma, informa o nmero de telefone para o qual ligava quando necessitava de entorpecentes, que pertencia ao ru F., o mesmo que foi objeto de interceptao durante a investigao:

que a declarante usuria de pedra (crack) desde os treze anos de idade; que comeou a usar drogas na companhia de amigos que tambm eram usurios;... que quando deseja comprar droga, a declarante sempre ligava para o nmero (xx) xxxx-xxxx, sendo que era atendida por S. (S.E.); quem, ento, s vezes, era o prprio S. quem entregava a droga para a declarante, outras vezes era o P. ou o B. ou, ainda, F.; que algumas vezes a declarante tambm chegou a comprar com G.A., irmo de S.... Que, alm disso, a declarante tambm j comprou droga na casa de S. e que cada paradinha custava em torno de R$ 10,00 (dez reais); que certa vez, a pedido de C., o qual trabalha na xxxxxx, localizada na Avenida PPPPPP, a declarante furtou alguns objetos do local, depois disso nunca mais conversou com o mesmo, mas no entanto, sabe que C. tambm estaria vendendo pedra (crack), pois sua amiga A. sempre compra com ele.

A despeito de Z. ter se retratado em juzo, o depoimento reportado h que se considerado como meio de prova.

Isso porque, tal testemunha, jovem conhecida na comarca por seu relacionamento com drogas, certamente possua amizade com os acusados, fato que muito provvel, principalmente se levar em conta o fato de residirem em uma cidade pequena e possurem, em tese, a mesma afinidade com drogas. Diante desse possvel vnculo, razovel supor que Z. almejasse prestar sua parcela de colaborao com o desiderato de eximir os fornecedores da responsabilidade penal em face do crime perpetrado, mesmo que totalmente dissidente do depoimento prestado na fase extrajudicial.

Desta feita, constata-se por meio dessa gama de meios de prova, que est evidenciada a acusao de que os rus so profissionais do trfico, na medida em que eram conhecidos tanto por policiais, quanto por usurios pela usual prtica de mercancia de substncias ilcitas, cada qual exercendo a sua funo conforme narrado na exordial acusatria.

E a infinidade de elementos de convico no para por a. Continuando:

2.c. ii Das Interceptaes Telefnicas.

Em arremate, com o fim de colocar uma p de cal na certeza da autoria dos acusados, mister reportar ao resultado da prova realizada durante a instruo, a qual no deixa qualquer margem de dvida sobre a acusao ora imputada.

Neste toar, esto as investigaes dedicadas ao combate do trfico de drogas nesta cidade, foi deferida pela autoridade judiciria nos autos n 0000000000 a quebra do sigilo telefnico dos seguintes terminais:

a- (xx) xxxx-xxxx, utilizado por G.A.;

b- (xx) xxxx-xxxx, utilizado por R.M.;

c- (xx) xxxx-xxxx, utilizado por W.A.S.;

d- (xx) xxxx-xxxx, utilizado por S.E.;

e- (xx) xxxx-xxxx, utilizado por F.W.F.;

f- (xx) xxxx-xxxx, utilizado por F.W.F..

Com efeito, vrios desses nmeros, conforme outrora consignado, foram, inclusive, citados durante a oitiva dos usurios, que esclareceram que para eles ligavam quando necessitavam das substncias entorpecentes.

Das interceptaes supramencionadas, resultaram as degravaes acostadas s fls. 89/99, 111/123 e fls. 124/128, que corroboram os depoimentos j transcritos, no sentido de apontar a existncia real e efetiva da organizao criminosa dedicada traficncia de drogas, atravs do Disk-Droga.

Deveras, em analise aos Relatrios de Transcries, percebem-se as inmeras ligaes (leia-se: centenas de telefonemas) em que eram acionados os acusados F.W.F. (fls. 89/92, 112/116 e 125/147), G.A. (fls. 92/93, 116/118 e 148/151) e S.E. (fls. 94/99, 118/123 e 152/181), a qualquer ora do dia ou da noite, com pedidos de entregas de drogas.

O contedo das investigaes telefnicas, cujos trechos esto descritos s fls. supracitadas, deixando-se de reproduzir aqui para se evitar tautologia, revelam o envolvimento de todos os rus no esquema do Disk Drogas nesta cidade de Porto Murtinho/MS.

Sob este enfoque, cabe acentuar que os prprios acusados admitem serem os responsveis pelas linhas interceptadas e os protagonistas dos dilogos, como se v atravs da leitura de seus interrogatrios judiciais, a que este signatrio reporta a sua leitura.

O contedo das declaraes telefnicas, corroborado pelo teor das investigaes policiais e testemunhos, todos ratificados em Juzo, suficiente para comprovar autoria e materialidade em relao ao crime de trfico, sendo irrelevante que no tenha sido apreendida droga em poder dos rus, porquanto, repita-se, a materialidade restou positivada de forma indireta.

Demais a mais, no se pode olvidar que S. j teve outra condenao pela prtica de trfico de entorpecente (f. 47), no sendo esta, a primeira vez que se envolve em conduta desta natureza.

Destarte, no presente caso, diante de tantas provas, a concluso deste representante institucional no sentido de apontar os acusados em questo como os responsveis pelo crime de narcotrfico, de modo que no resta outra soluo ao caso seno a prolao de decreto condenatrio.

3 Da Associao para o Trfico.

Os acusados S.E., G.A., F.W., foram denunciados, alm do delito capitulado no art. 33 da Lei de Drogas, pela infringncia ao art. 35 da mesma Lei, ou seja, associao estvel e permanente (societas delinquendi).

Aps a instruo processual, o vnculo associativo entre os acusados emerge claro e inequivocamente demonstrado.

Demonstrou-se a ocorrncia, no s da prtica do crime de trfico, mas tambm a existncia da associao entre os rus, que era feita de forma organizada, com diviso de funes e hierarquia, eis que era comandada por S., o qual, trazia a droga de outras cidades e revendia a usurios da comunidade, sempre auxiliado por G. e F..

Logo, afigura-se que a conduta dos mesmos que recaem no art. 35, da mesma Lei n 11.343/06, que prescreve:

Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou no, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e 1o, e 34 desta Lei:

Pena - recluso, de 3 (trs) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa. (g.n)

Demonstrada, pois, a configurao do delito supramencionado, uma vez que o art. 35 da mesma Lei prev a associao de duas pessoas para praticar o crime previsto no art. 33, caput da Lei. 11.343/06.

Desta forma inconteste, vale lembrar que pelo Cdigo Penal, art. 29 e regras de direito penal, a conduta de quem, associado para a prtica do crime, detm o domnio do fato para que, mantenha sob sua guarda, tenha em depsito para vender ou expor a venda a fim de que a droga seja traficada, est em aderncia de desgnios para a conduta em operao.

Destarte, diante de tudo que restou explanado aps a instruo criminal em juzo, ficou comprovado que os apelados possuam uma estrutura permanente voltada traficncia.

Constata-se, pois, que, como infelizmente est ocorrer no cotidiano das mais variadas cidades, houve, no caso, a ocorrncia de esquema associativo em irmos que, associando com terceiros colaboradores, visaram o lucro fcil, sem se preocupar com as nefastas consequncias da disseminao da droga na sociedade, ao vender entorpecente nesta pacata cidade de Porto Murtinho.

E, diante do acervo probatrio foroso reconhecer que h provas seguras quanto estabilidade dos agentes no exerccio da traficncia, tendo os agentes incidido nas figuras tpicas de importar, transportar, expor a venda, entregar a consumo e fornecer substncia entorpecente, sem autorizao e em desacordo com determinao legal ou regulamentar.

Assim, no pairam dvidas sobre a incidncia da conduta prevista no art. 35 da Lei 11.343/06.

4. Do Pedido.

Ante ao exposto, o Ministrio Pblico Estadual, por seu representante institucional, requer a condenao de F.W.F., G.A. e S.E. como incursos nos artigos 33, caput, combinado com 35, caput, ambos da Lei n 11.343/2006.

Porto Murtinho/MS, 13 de julho de 2.011.

Luiz Eduardo SantAnna Pinheiro

Promotor de Justia Substituto

CF, art. 5, inciso LV.

CRIMINAL. CRIME CONTRA A ECONOMIA POPULAR. VENDA DE PRODUTO POR PREO SUPERIOR AO TABELADO. PORTARIAS DA SUNAB. NULIDADES INOCORRENTES. Observncia dos princpios constitucionais da ampla defesa e do contraditrio, e das decises judiciais fundamentadas (CF/88, arts. 5., LV, e 93, IX). No h nulidade por falta de interrogatrio se o ato somente deixou de ocorrer em razo do no-comparecimento da r, apesar de notificada. Precedentes. O fato de a condenao ter-se respaldado em confisso extrajudicial tampouco constitui nulidade, j que outros elementos probatrios colhidos na instruo criminal corroboraram a autoria e autorizaram a concluso condenatria. Inexistncia de violao ao princpio constitucional que exige deciso judicial fundamentada, pois o acrdo contem os elementos de sua motivao, no havendo nele causa que leve a sua invalidade. Recurso extraordinrio no conhecido. (STF, RE 126656, Relator(a): Min. ILMAR GALVO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 20/08/1991, DJ 13-09-1991 PP-12490 EMENT VOL-01633-02 PP-00212 RTJ VOL-00139-02 PP-00647).

Promotoria de Justia da Comarca de Porto Murtinho Rua 13 de maio, n. 444, Ed. do Frum, CEP 79280-000, fone: 3287-1184

www.mp.ms.gov.br