(2011) msc tese baropodometria
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE CINCIAS BSICAS DA SADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM NEUROCINCIAS
BAROPODOMETRIA EM INDIVDUOS DIABTICOS E PR-DIABTICOS, COM E SEM NEUROPATIA
DISSERTAO DE MESTRADO
CAROLINE CABRAL ROBINSON
PORTO ALEGRE, 2011
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE CINCIAS BSICAS DA SADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM NEUROCINCIAS
BAROPODOMETRIA EM INDIVDUOS DIABTICOS E PR-DIABTICOS, COM E SEM NEUROPATIA
CAROLINE CABRAL ROBINSON
Orientador: Prof Dr. Milton Antonio Zaro
Coorientadora: Prof. Dra. Matilde Achaval Elena
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias Biolgicas: Neurocincias, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a obteno do ttulo de
Mestre.
PORTO ALEGRE, 2011
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Este trabalho dedicado a todos os pacientes e voluntrios
que contriburam para que sua realizao fosse possvel.
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AGRADECIMENTOS
Aos meus orientadores, Professor Dr. Milton Antonio Zaro e Professora Dr. Matilde
Achaval, pela dedicao, experincia, confiana e postura que fazem juz palavra
professor.
Luciane Fachin Balbinot, colega e amiga, pelas experincias que compartilhamos,
pela oportunidade de trabalhar com algum cujo entusiasmo na busca pelo conhecimento
contagiante, assim como o exemplo de carter e profissionalismo.
Ao Professor Dr. Luis Henrique Santos Canani, pelo acesso ao HCPA.
Ao Professor Dr. Marcelo Faria Silva, pela ajuda prestativa e incansvel nos
assuntos estatsticos.
Fabi e Karen, pela dedicao, organizao e compromisso no longo perodo das
coletas de dados.
Aos colegas do Laboratrio de Pesquisa do IBTeC, Andresa, Alexandre, Clarissa,
Clarice, Eduardo, Emanuele, Gustavo, Roberta, Rudnei, Tssia e Yuri, sempre dispostos a
ajudar, compartilhar idias e conhecimentos, carregar equipamentos ... Muito obrigada!
Aos professores do PPG Neurocincias UFRGS, pelo conhecimento.
Aos colegas do PPG Neurocincias UFRGS, pela convivncia, companheirismo e
comunho de experincias ao longo dessa caminhada
Ao PPG Neurocincias UFRGS e CAPES, pelo apoio financeiro.
A todos os pacientes e voluntrios que se disponibilizaram para a realizao deste
trabalho.
E, especialmente, minha famlia, pela pacincia, compreenso e, acima de tudo,
por respeitarem minhas escolhas.
A todos que acreditaram neste trabalho e que, pacientemente, aguardaram pela
sua concluso, pois sua realizao foi possvel somente atravs da cooperao de todas
essas pessoas!
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RESUMO
Indivduos diabticos, principalmente aqueles que desenvolvem neuropatia
perifrica, so suscetveis ao desenvolvimento de lceras plantares relacionadas
neuropatia e ao aumento da presso plantar na regio anterior dos ps, decorrentes
tanto da perda de sensibilidade quanto das deformidades nos ps, ambas
associadas ao curso da doena. Indivduos pr-diabticos tambm apresentam risco
em potencial para o desenvolvimento de neuropatias perifricas. A presente
pesquisa teve como objetivo principal, estudar a distribuio da presso plantar,
atravs da baropodometria dinmica, em um grupo de indivduos diabticos e um
grupo de indivduos pr-diabticos (ambos com ou sem neuropatia perifrica
sensitivo motora ou autonmica cardaca), em comparao indivduos controle. As
variveis baropodomtricas foram comparadas entre os grupos e correlacionadas a
fatores que podem interferir na distribuio da presso plantar. O grupo diabtico
apresentou alterao na distribuio da presso plantar, com aumento dos valores
das variveis picos de presso plantar e integral da presso versus o tempo nas
regies do mediop, metatarsos e hlux, sem associao aos demais fatores
intervenientes estudados, alm de apresentar aumento do tempo de contato total do
passo e do percentual do tempo de contato durante o passo na regio do mediop.
O grupo pr-diabtico apresentou um padro similar ao diabtico, em relao
distribuio da presso plantar e aos demais parmetros baropodomtricos, exceto
no tempo de contato total do passo que foi similar ao grupo controle. Conclui-se que
indivduos diabticos sem deformidades nos ps, com e sem neuropatia perifrica,
apresentam alteraes na distribuio da presso plantar, e que os indivduos pr-
diabticos j apresentam alteraes similares s encontradas nos diabticos.
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ABSTRACT
Subjects with diabetic disease, mainly that with peripheral neuropathy, are
susceptible to develop plantar ulcers that could be associated with neuropathy or
with the high plantar pressure values found in the plantar forefoot (midfoot,
metatarsal heads and hallux) due the peripheral sensory loss and/or foot deformities
that occurs as the developing of diabetes. Pre-diabetic subjects show a potential risk
for peripheral neuropathy development, too. The main objective of this work was to
study the plantar pressure distribution, through baropodometry access, in a group of
diabetic and a group of pre-diabetic subjects (both the two groups with or without
peripheral neuropathy or autonomic cardiac neuropathy) comparing to a group of
healthy subjects. The baropodometric variables were compared among the three
groups and correlated whit intervenient factors that could modify plantar pressure
distribution. The diabetic group showed alterations in plantar pressure distribution
with increased peak plantar pressures and pressure time integral at midfoot,
metatarsal heads and hallux, without association whit other studied intervenient
factors, and an increase in the total step time contact and percentage of contact time,
during the roll over progress, in the midfoot. The pre-diabetic group presented a
plantar pressure distribution pattern and baropodometric parameters similar to the
diabetic group, excepting the total step time contact which was similar to the healthy
group. This fact is been shown for the first time and points to a demand of
interventions to pre-diabetic in order to prevent plantar injuries, like ulcers. In
conclusion, diabetic subjects without foot deformities, with or without peripheral
neuropathy show early modifications in plantar pressure distribuition and pre-diabetic
sujtects can show modifications in plantar pressure distribution similar to those found
in the diabetic subjects.
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SUMRIO
LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................. 09 LISTA DE FIGURAS ............................................................................................. 10 LISTA DE TABELAS ............................................................................................. 11 LISTA DE QUADROS ........................................................................................... 12 1 INTRODUO .................................................................................................. 13
1.1 Diabetes e pr-diabetes ....................................................................... 13 1.2 Nervos perifricos ................................................................................ 16 1.3 Neuropatia diabtica ............................................................................ 19 1.4 Baropodometria .................................................................................... 29 1.5 Justificativa ........................................................................................... 34 1.6 Objetivos ............................................................................................. 35
2 MATERIAIS E MTODOS .................................................................................36
2.1 Local da pesquisa ................................................................................. 36
2.2 Indivduos da pesquisa ......................................................................... 36
2.3 Instrumentos e equipamentos ............................................................. 39 2.4 Procedimentos ..................................................................................... 41 2.5 Variveis .............................................................................................. 48 2.6 Processamento dos dados baropodomtricos ..................................... 50 2.7 Tratamento estatstico .......................................................................... 54
3 RESULTADOS .................................................................................................. 57 4 DISCUSSO ...................................................................................................... 72
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5 CONCLUSES E PERSPECTIVAS ................................................................. 86 5.1 Concluses .......................................................................................... 86 5.2 Perspectivas ........................................................................................ 88 6 REFERNCIAS ................................................................................................. 89 APNDICE A ........................................................................................................ 101 APNDICE B ........................................................................................................ 103 APNDICE C ........................................................................................................ 104 APNDICE D ........................................................................................................ 106 APNDICE E ........................................................................................................ 121 ANEXO A ............................................................................................................. 122
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LISTA DE ABREVIATURAS
ADA American Diabetes Association
CN Com neuropatia
DM Diabete Mellitus
ENMG Eletroneuromiografia
GC Grupo controle
GDM Grupo diabtico
GDMCN Grupo diabtico com neuropatia
GDMSN Grupo diabtico sem neuropatia
GPD Grupo pr-diabdico
GPDCN Grupo pr-diabdico com neuropatia
GPDSN Grupo pr-diabdico sem neuropatia
GPPG Grupo de Pesquisa e Ps-Graduao
HCPA Hospital de Clnicas de Porto Alegre
IAP ndice do Arco Plantar
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IBTeC Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro,Calados e Artefatos
MNSI Michigan Neuropathy Screening Instrument
NAC Neuropatia Autonmica Cardaca
NADPH Nicotinamide adenine dinucleotide phosphate (Fosfato
dinucleotdeo de nicotinamida e adenina)
NPSM Neuropatia Perifrica Sensitivo Motora
SN Sem neuropatia
VFC Variabilidade da frequncia cardaca
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LISTA DE FIGURAS
Figura: 1.2.1 Diagrama esquemtico mostrando o arranjo de nervos motores e sensitivos formando um nervo perifrico (ROSS; PAWLINA, 2006)...............................................................................................................................
18
Figura 2.3.1 Baropodmetro digital (plataforma).........................................................
40
Figura 2.4.1 Avaliao no simetrgrafo a) vista anterior; b) vista lateral ....................
42
Figura 2.4.2 Avaliao da discrepncia de membros inferiores: a) medida do comprimento relativo do membro inferior; b) comparao entre comprimentos femorais; c) comparao entre o comprimento das pernas ...........................................
43
Figura 2.4.3 Avaliao do reflexo tendinoso aquileo com martelo..............................
44
Figura 2.4.4 Avaliao da sensibilidade vibratria na extremidade inferior distal com diapaso ........................................................................................................................
44
Figura 2.4.5 Avaliao da sensibilidade ttil em extremidade inferior distal com monofilamento 10 g..................................................................................................
45
Figura 2.4.6 Avaliao antropomtrica dos ps com o paqumetro: a) comprimento; b) largura.........................................................................................................................
46
Figura 2.4.7 Avaliao da mobilidade articular ativa do tornozelo com gonimetro....
46
Figura 2.4.8 Diagrama do protocolo primeiro passo para Baropodometria Dinmica, adaptado de Bus e Lange (2005)..................................................................
47
Figura 2.5.1 Diviso das regies anatmicas da planta do p....................................
49
Figura 2.6.1 Criao da mscara para estabelecimento das regies da planta do p: M01 (calcanhar); M02 (mediop); M03 (metatarsos); M04 (hlux); M05 (dedos)....
50
Figura 2.6.2 Aplicao da mscara, para diviso dos plantigramas nas regies plantares estabelecidas e verficao da sua abrangncia.............................................
51
Figura 2.6.3 Dados exportados do Group Mask Evaluation para o Excel...................
52
Figura 2.6.4 Parmetros para clculo do ndice do Arco Plantar................................
53
Figura 3.1 Frequncia geral das neuropatias no a) GDM e b) GPD ...........................
58
Figura 3.2 Exemplos de alteraes nos picos de presso plantar, devido a deformidades nos ps (circuladas em vermelho), em indivduos diabticos excludos do estudo, a) e b), em comparao a ps sem deformidades de um indivduo do GDM, c), e um indivduo do GC, d).................................................................................
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LISTA DE TABELAS
Tabela 2.7.1 Nveis de correlao conforme o coeficiente de determinao..........
56
Tabela 3.1 Fatores de excluso por grupo..............................................................
57
Tabela 3.2 Caracterizao da amostra de indivduos por grupo.............................
58
Tabela 3.3 Frequncia e classificao das neuropatias no GDM e GPD ..............
59
Tabela 3.4 Picos de presso (kPa) ........................................................................
63
Tabela 3.5 Tempo de contato (ms) ........................................................................
65
Tabela 3.6 Porcentagem do tempo de contato da regio durante a progresso do passo (%) .............................................................................................................
66
Tabela 3.7 Percentual da rea de contato por regio da planta do p (%) ............
66
Tabela 3.8 Integral da presso versus tempo (kPa.s) ............................................
67
Tabela 3.9 Correlao entre pico de presso plantar (kPa) e IMC (kg/m2) .......
67
Tabela 3.10 Correlao entre pico de presso plantar (kPa) e idade (anos) .........
68
Tabela 3.11- Correlao entre pico de presso plantar (kPa) e amplitude de movimento articular do tornozelo (dorsiflexo) .........................................................
69
Tabela 3.12 - Correlao entre pico de presso plantar (kPa) e tempo de diagnstico ................................................................................................................
70
Tabela 3.13 - Correlao entre percentual do tempo de contato e amplitude de movimento articular do tornozelo (dorsiflexo) .........................................................
70
Tabela 3.14 - Correlao entre tempo de contato total e amplitude de movimento articular do tornozelo (dorsiflexo) ............................................................................
71
Tabela 3.15 - Correlao entre tempo de contato total e idade (anos) .....................
71
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LISTA DE QUADROS
Quadro 3.1 Comparao das variveis referentes baropodometria dinmica entre os subgrupos com e sem neuropatia do GDM ................................................
61
Quadro 3.2 Comparao das variveis referentes baropodometria dinmica entre os subgrupos com e sem neuropatia do GPD .................................................
62
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1 INTRODUO
1.1 Diabetes e pr-diabetes
O diabetes Mellitus (DM) uma sndrome de etiologia mltipla, decorrente
da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina de exercer adequadamente
seus efeitos metablicos. Caracteriza-se por hiperglicemia crnica, frequentemente
acompanhada de dislipidemia, hipertenso arterial e disfuno endotelial
(AMERICAN DIABETES ASSOCIATION - ADA, 2011a).
Conforme a ADA (2011a), a classificao do diabetes inclui quatro classes
clnicas: diabetes tipo 1 (insulino-dependente, que ocorre por destruio das clulas
do pncreas, geralmente levando deficincia absoluta de insulina); diabetes tipo
2 (no insulino-dependente, que ocorre por resistncia insulina e deficincia de
insulina); outros tipos especficos de diabetes (provenientes de outras causas tais
como defeitos genticos do funcionamento das clulas do pncreas ou da ao da
insulina, doenas exgenas ou endgenas que danifiquem o pncreas, induo do
diabetes por drogas, substncias qumicas ou infeces); e diabetes Mellitus
gestacional (que ocorre apenas durante o perodo gestacional).
Estima-se que a prevalncia do diabetes, considerando os tipo 1 e 2 apenas,
esteja entre 1 a 4% da populao (VALENSI et al., 1999).
Em termos mundiais, cerca de 30 milhes de indivduos apresentavam DM
em 1985, passando para 135 milhes em 1995 e 240 milhes em 2005, com
projeo de atingir 366 milhes em 2030, dos quais dois teros habitaro pases em
desenvolvimento (WILD et al., 2004). No Brasil, dados sobre prevalncia de DM,
representativos da populao residente em nove capitais, datam do final da dcada
de 1980 (MALERBI; FRANCO, 1992). Nessa poca, estimou-se que, em mdia,
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7,6% dos brasileiros entre 30 e 69 anos de idade apresentavam DM, que incidia
igualmente nos dois sexos, mas que aumentava com a idade e a adiposidade
corporal. As maiores taxas foram observadas em cidades como So Paulo e Porto
Alegre, apontando o papel da urbanizao e industrializao na patognese do DM
tipo 2.
Segundo os dados do estudo de Ribeiro Preto (SP), a prevalncia do DM,
na faixa dos 30 aos 69 anos, foi de 12,1% (em comparao com o Censo Nacional
de Diabetes de 1988, no qual a prevalncia nessa mesma faixa etria foi de 7,6%)
sugerindo que o DM deve estar se tornando mais prevalente, pelo menos na
populao adulta residente neste estado (GOLDENBERG et al., 2003).
Para uma estimativa mais atualizada da prevalncia do DM em determinada
populao, como em um municpio, por exemplo, deve-se levar em considerao a
prevalncia mdia do DM em 3 faixas etrias: abaixo de 30 anos, entre 30 e 69 anos
e com 70 anos ou mais, aplicando esses ndices de prevalncia s respectivas
populaes de cada faixa etria, conforme o censo populacional do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE, de 2003. Com essa metodologia de
clculo, utilizando-se a prevalncia do estudo de Ribeiro Preto (12,1%) ao invs da
prevalncia do Censo Nacional de Diabetes (7,6%) para a faixa etria de 30 a 69
anos, o nmero estimado de portadores de DM no Brasil de aproximadamente
10,3 milhes (GOLDENBERG et al., 2003).
Conforme a ADA (2011a), o diagnstico do diabetes pode ser confirmado
atravs de quatro critrios diferentes:
1. Exame de hemoglobina glicada (A1C) 6,5%. O teste deve ser
realizado em laboratrio utilizando-se o mtodo certificado pelo National
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Glycohemoglobin Standardization Program (NGSP) e padronizado pelo instrumento
de avaliao Diabetes Control and Complications Trial (DCCT); ou
2. Glicose plasmtica em jejum de, no mnimo, 8 horas 126 mg/dL; ou
3. Sintomas de hiperglicemia (poliria, polifagia e excessiva perda de
peso) e glicose plasmtica casual 200 mg/dL, sendo a glicemia plasmtica casual
definida como aquela realizada a qualquer hora do dia, sem se observar o intervalo
desde a ltima refeio; ou
4. 2 horas aps a ingesta de 75 g de glicose andrica dissolvida em gua:
glicose plasmtica 200 mg/dL.
O critrio utilizado deve ser repetido em mais um dia, caso o valor tenha
ficado abaixo do esperado para hiperglicemia no primeiro exame. J o critrio 1 deve
ser repetido pelo menos mais uma vez em um horrio diferente do primeiro exame
(ADA, 2011a).
Quando a hiperglicemia no alcana os valores suficientes estabelecidos
pelos critrios para diagnosticar diabetes, classificada como dano tolerncia da
glicose em jejum ou intolerncia glicose, dependendo do critrio para diagnstico
que foi utilizado:
1. Glicose plasmtica em jejum de, no mnimo, 8 horas entre 100 a 125
mg/dL; ou
2. 2 horas aps a ingesta de 75 g de glicose andrica dissolvida em gua:
glicose plasmtica entre 140 a 199 mg/dL.
Estas condies so oficialmente denominadas pr-diabetes pela ADA,
sendo fator de risco para diabetes e doenas cardiovasculares (NATHAN et al.,
2007).
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O DM um importante agravo na sade pblica. Est associado a
complicaes que comprometem a sobrevida, a produtividade e a qualidade de vida
dos indivduos (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES - DSBD,
2009).
1.2 Nervos perifricos
Os nervos do sistema nervoso perifrico (SNP) so formados por diversas
fibras nervosas que carregam informaes sensitivas (aferentes) e motoras
(eferentes), entre rgos e tecidos do corpo e o sistema nervoso central (encfalo e
medula espinhal).
O termo fibra nervosa utilizado em diferentes situaes, podendo ter a
conotao de axnio com todos os seus constituintes (mielina e clulas de
Schwann), ou apenas o axnio. Entretanto, o termo fibra nervosa sempre se refere
ao prolongamento axonal em detrimento aos prolongamentos dendrticos (ROSS;
PAWLINA, 2006).
Os corpos celulares dos nervos perifricos podem localizar-se dentro do
sistema nervoso central (SNC) ou fora dele, nesse caso, nos gnglios perifricos. Os
gnglios perifricos contm agregados de corpos celulares neuronais e fibras
nervosas originando-se ou chegando at eles (ROSS; PAWLINA, 2006).
Os corpos neuronais presentes nos gnglios da raiz dorsal e nos gnglios
dos pares dos nervos cranianos pertencem aos neurnios sensitivos (aferentes
somticos e viscerais). J os corpos celulares, presentes nos gnglios
paravertebrais, pr-vertebrais e terminais (ou murais), pertencem aos neurnios
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motores ps-ganglionares do sistema nervoso vegetativo (SNV); (ROSS; PAWLINA,
2006).
Para entender o SNP necessrio descrever algumas partes do SNC.
O corpo celular de neurnios motores, que inervam os msculos
esquelticos (neurnios eferentes somticos), est localizado no SNC (crebro,
tronco cerebral e medula espinhal). Os axnios desses neurnios deixam o SNC e
seguem atravs dos nervos perifricos at os msculos que eles inervam. Um nico
neurnio converte impulsos do SNC para o rgo efetor (ROSS; PAWLINA, 2006).
Em relao ao sistema sensorial (somtico ou visceral), um neurnio
conecta um receptor perifrico, passando pelos gnglios da raiz dorsal
(anteriormente descritos), ao SNC (ROSS; PAWLINA, 2006).
A estrutura de um nervo perifrico consiste de fibras nervosas e suas clulas
de Schwann associadas que so mantidas unidas por tecido conjuntivo organizado
em trs componentes distintos, cada um com caractersticas morfolgicas e
funcionais distintas. Essas estruturas so o endoneuro, perineuro e epineuro,
mostradas na figura 1.2.1 (ROSS; PAWLINA, 2006).
O endoneuro envolve individualmente cada axnio e clulas de Schwann,
alm de fibras colgenas, fibroblastos, capilares e alguns mastcitos. O espao
endoneural contm uma matriz extracelular constituda de glicoprotenas produzidas
pelos fibroblastos ou pelas clulas de Schwann (ROSS; PAWLINA, 2006). Essa
matriz lubrifica as fibras nervosas para que elas deslizem durante o movimento do
corpo, sendo responsvel tambm pela manuteno do ambiente inico das fibras
nervosas, favorvel conduo do impulso nervoso (PIA-OVIEDO; ORTIZ-
HIDALGO, 2008).
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Figura: 1.2.1 Diagrama esquemtico mostrando o arranjo de nervos motores e sensitivos, formando um nervo perifrico (ROSS; PAWLINA, 2006).
Vrias fibras nervosas envoltas pelo endoneuro formam um fascculo que,
por sua vez, envolto pelo perineuro. Esse tecido conjuntivo especializado
formado por camadas concntricas de clulas delgadas que so separadas por
lminas de colgeno. O nmero de camadas celulares varia de nervo para nervo e
depende do tamanho do fascculo nervoso. A superfcie interna revestida por
vrias camadas de fibroblastos de distribuio epiteliide, unidos por junes
oclusivas e envoltas por uma membrana basal que isola o ambiente neural (PIA-
OVIEDO; ORTIZ-HIDALGO, 2008).
O epineuro consiste de uma pequena quantidade de tecido conjuntivo denso
que tem a funo de manter os fascculos neurais reunidos e funcionar como uma
barreira semipermevel. Ele est envolvido, em parte, pelo tecido adiposo que
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margeia os nervos perifricos, particularmente no tecido subcutneo (PIA-OVIEDO;
ORTIZ-HIDALGO, 2008). Alm de fibroblastos, o epineuro tambm apresenta
mastcitos, colgeno e fibras elsticas. O epineuro possui vasos sanguneos que
irrigam os nervos maiores. Os ramos desses vasos penetram no perineuro,
carregando inicialmente com eles uma bainha perineural, que depois tm o mesmo
percurso no nervo (ROSS; PAWLINA, 2006).
A partir dessas descries, temos no nervo perifrico, independente de suas
funes sensitivas ou motoras, uma estrutura complexa em que um acometimento
em qualquer nvel estrutural causa efeitos sensitivos e motores, somticos e
viscerais.
De um ponto de vista prtico, as patologias do SNP podem ser divididas em
trs grandes categorias: neuropatias do SNP, leses traumticas e neoplsicas
(PIA-OVIEDO; ORTIZ-HIDALGO, 2008).
Em relao s neuropatias, diversas so as causas relacionadas sua
fisiopatologia, dentre elas as alteraes metablicas que ocorrem no DM.
1.3 Neuropatia diabtica
A neuropatia diabtica a complicao mais comum do DM atingindo,
conforme encontrado em um estudo estatstico norte-americano, uma prevalncia de
45 a 50% comparada a 25-30% da retinopatia e 20% da nefropatia diabtica
(SHAW; ZIMMET, 1999).
Segundo Tesfaye e colaboradores (2010), a definio de neuropatia
diabtica para a prtica clnica a presena de sintomas e/ou sinais de disfuno
nervosa perifrica em indivduos diabticos, aps a excluso de outras causas.
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Embora o diagnstico no possa ser feito sem um cuidadoso exame clnico dos
membros inferiores, uma ausncia de sintomas no deve ser interpretada como uma
ausncia de sinais, e a confirmao diagnstica pode ser estabelecida atravs de
testes quantitativos eletrofisiolgicos, sensitivos (teste vibratrio com diapaso de
128 Hz, teste de sensibilidade com monofilamento de 10 g aplicado na planta do p
e reflexo aquileo) e de funo autonmica (BOULTON; VINIK et al., 2003; MOREIRA
et al., 2005). A presena de pr-diabetes tambm est associada com complicaes
microvasculares, onde se enquadram as neuropatias, como ocorre no DM tipo 2
(PICON et al., 2006).
A classificao proposta por Thomas (1997) e Boulton e colaboradores
(2005) para a neuropatia diabtica, e utilizada como referncia pela ADA (TESFAYE
et al., 2010), divide as neuropatias em Neuropatias Simtricas Generalizadas
(sensitiva aguda, sensitivo-motora crnica e autonmica) e Neuropatias Focal e
Multifocal (pares cranianos, truncal, focal e motora proximal ou amiotrofia).
A neuropatia sensitiva aguda, pouco frequente, est relacionada falha no
controle metablico como cetoacidose ou rpida alterao de glicemia;
caracterizada por crise severa e intensa de sintomas sensitivos com exacerbao
noturna e carncia de sinais ao exame fsico, cursando para uma melhora
espontnea dentro de um ano aps o incio dos sintomas, geralmente seguindo-se
ao controle metablico (ROLIM et al., 2008).
A polineuropatia sensitivo-motora crnica o quadro mais frequente de
neuropatias diabticas, provocando sintomas em mais de 50% dos pacientes (dor
em queimao, parestesia, hiperestesia e dor profunda em queimao), que
tipicamente pioram noite e so mais frequentes em ps e membros inferiores
(VINIK; ERBAS, 2001). Como quase metade dos pacientes so assintomticos, o
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diagnstico da neuropatia sensitivo-motora crnica pode ser feito, muitas vezes,
apenas por exame fsico e/ou laboratorial minucioso ou, infelizmente, quando o
paciente j apresenta lcera plantar indolor. Sua preveno atravs de cuidados
com o controle metablico do paciente e, em especial, dos nveis glicmicos
(CLAUS et al., 1993; LOW et al., 2003).
As neuropatias autonmicas podem ser responsveis por sintomas que
afetam quase todos os sistemas. Frequentemente, os sintomas so vagos e
permanecem no-reconhecidos por algum tempo, podendo se apresentar com uma
varivel combinao de hipotenso postural, diarria noturna, problemas gstricos,
sintomas urinrios, sudorese anormal, impotncia e dificuldade de reconhecer a
hipoglicemia. Do ponto de vista de morbi-mortalidade do DM, a neuropatia
autonmica tem um papel importante quando compromete o controle autonmico
cardiovascular (BOULTON, 1998; VINIK et al., 2005; RATHMAN et al., 2003). Essa
neuropatia tambm pode ser somtica, comprometendo a inervao simptica de
extremidades, como ps e mos, provocando respostas vasculares alteradas a
estmulos trmicos e que pode ser avaliado clinicamente em casos avanados
(falhas nos shunt arteriovenoso) ou mapeados termicamente atravs da termografia
(BHARARA et al., 2006).
A neuropatia focal (ou mononeuropatia) ou multifocal (mais de um nervo
perifrico envolvido, porm, sem padro de simetria) pode ocorrer de forma
insidiosa, acometendo os nervos mediano, ulnar, radial e fibular comum, nessa
ordem de prevalncia. Neuropatias de pares cranianos so bastante raras. Os
estudos eletrofisiolgicos so importantes no diagnstico diferencial e na
identificao de bloqueios localizados de conduo nervosa (ADA, 2011b).
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A amiotrofia diabtica ocorre mais comumente em pacientes com diabetes
tipo 2, com sintomas de dor neuroptica severa, fraqueza muscular unilateral ou
bilateral e atrofia de msculos proximais das coxas (ADA, 2011b).
A neuropatia autonmica cardaca, que precede a neuropatia perifrica em
diabticos tipo 2, tambm pode ser diagnosticada em indivduos com diagnstico de
pr-diabetes, atravs de testes cardiovasculares como Espectograma e
Variabilidade do intervalo R-R do eletrocardiograma (VALENSI et al., 1999).
A atualizao mais recente sobre neuropatia diabtica perifrica a de
Tesfaye e colaboradores (2010), na qual consta que a h uma forte tendncia em se
classificar a neuropatia diabtica em dois principais subgrupos: tpica e atpica.
A neuropatia diabtica perifrica tpica apresenta as caractersticas da
polineuropatia perifrica sensito-motora crnica que se desenvolve, principalmente,
devido a um longo perodo de hiperglicemia, associada a danos causados pelas
disfunes metablicas decorrentes do diabetes (hiperatividade da via dos poliis,
glicosilao no enzimtica dos tecidos, estresse oxidativo, entre outras
anormalidades metablicas), com risco em potencial para acometimentos
cardiovasculares. Alteraes microvasculares dos vasa nervorum, similares s que
ocorrem na nefropatia e retinopatia parecem estar associadas s alteraes
patolgicas nos nervos perifricos. Ao longo do tempo, desenvolve-se a disfuno
autonmica e a dor neuroptica. Nesse subtipo de neuropatia, um rigoroso controle
glicmico pode ser capaz de estabilizar esse quadro progressivo de danos nervosos
(TESFAYE et al., 2010).
J a neuropatia diabtica perifrica atpica, difere da tpica em diversos
aspectos, sobretudo em relao s manifestaes ao longo do diabetes, sendo
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23
caractersticas principais desse subtipo, os sintomas de disfuno autonmica e a
dor, assim como alteraes na imunidade (TESFAYE et al., 2010)
A fisiopatologia da neuropatia diabtica caracterizada pela progressiva
perda de fibras nervosas, que apresenta um padro pan-modal com gradiente distal-
proximal, relacionado com o dimetro das fibras; as fibras finas so
preferencialmente afetadas em estgios iniciais da doena, seguidas pelo
comprometimento das fibras grossas, evidenciado por reduo da velocidade de
conduo nervosa ou reduo da sensibilidade vibratria. No entanto, sabe-se,
atualmente, que em estgio iniciais, alteraes microangiopticas precedem a perda
de fibras nervosas (YAGIHASHI; YAMAGISHI; WADA, 2007).
A progressiva perda de fibras nervosas pode ser atribuda degenerao
axonal do tipo walleriana (uma leso focal promove degenerao distal, preservando
a poro proximal do axnio) ou do tipo dying back (a degenerao inicia
distalmente, migrando de forma retrgrada poro axonal proximal); (COLEMAN,
2005), ou mesmo, secundria a uma severa desmielinizao (YAGIHASHI;
YAMAGISHI; WADA, 2007).
Durante o ativo processo de degenerao de fibras nervosas, surgem
sintomas como dor ou parestesia (sintomas positivos). J quando as fibras foram
perdidas, h perda de sensibilidade (sintomas negativos). O risco dos sintomas
negativos justamente a falta de queixa do paciente diabtico e,
consequentemente, o maior risco de lceras plantares (YAGIHASHI; YAMAGISHI;
WADA, 2007).
Na tentativa de elucidar os mecanismos fisiopatolgicos que desencadeiam
a neuropatia diabtica, vrias hipteses foram propostas:
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a) Hiperatividade da via dos poliis. Como a clula nervosa no necessita de
insulina para captao de glicose, sua concentrao no tecido perineural reflete a
concentrao plasmtica. As enzimas aldose-redutase e a sorbitol desidrogenase,
presentes nos tecidos nervosos, ativam a via do poliol. A primeira catalisa a
transformao da glicose em sorbitol, enquanto que a segunda catalisa a
transformao do sorbitol em frutose. Como as enzimas frutase e fosfo-frutase, que
participam da metabolizao do sorbitol e da frutose, apresentam uma atividade
funcional limitante, e, como o sorbitol e a frutose no se difundem facilmente pela
membrana plasmtica, ocorre acumulo gradual de sorbitol e de frutose no interior
das fibras nervosas de indivduos hiperglicmicos (SILVA; TEIXEIRA, 1999).
Quando a sorbitol desidrogenase baixa ou ausente, como ocorre nas clulas
nervosas e dos rins, retina e cristalino de indivduos diabticos, ocorre um acmulo
de sorbitol, que origina um aumento da osmolaridade intracelular com consequente
influxo de gua, podendo resultar em leso celular osmtica (FREGONESI et al.,
2004). O acmulo de sorbitol tambm est associado com uma reduo no contedo
do mioinositol intraneural, resultando em queda no metabolismo do fosfoinositdeo e
menor atividade de diacilglicerol, protena cinase C e da Na+/K+ATPase, levando a
uma disjuno axo-glial e danificando a fibra, podendo ser a primeira anormalidade
estrutural da neuropatia diabtica (COTRAN et al., 1996).
b) Glicosilao no-enzimtica das protenas estruturais. Essa se refere ao
processo pelo qual a glicose se une quimicamente e irreversivelmente ao grupo
amino das protenas sem a ajuda de enzimas, sendo que o grau de glicosilao est
diretamente relacionado com o grau de glicemia. A glicosilao de protenas de vida
longa da parede dos vasos potencialmente patognica. Nos vasos calibrosos,
pode causar o aprisionamento da lipoprotena de baixa densidade na ntima,
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25
acelerando dessa forma a aterogenese. Nos capilares, as protenas plasmticas,
tipo albumina, fixam-se na membrana basal glicosilada, sendo responsveis, em
parte, pela maior espessura da membrana basal, caracterstica da microangiopatia
diabtica. Essa ultima, quando instalada nos vasa nervorum, contribui para a
instalao da neuropatia diabtica (COTRAN et al., 1996).
c) Comprometimento da ao de fatores trficos e de crescimento nervoso.
Para o crescimento normal, manuteno e regenerao do sistema nervoso
perifrico necessrio o transporte retrgrado, para o corpo celular, dos fatores de
crescimento neuronais. Porm, a hiperglicemia constante pode tanto diminuir a
sntese de fatores de crescimento em neurnios ou clulas de Schwann, quanto
interromper o transporte retrgrado para o corpo celular neuronal (STEVENS et al.,
1995).
d) Alteraes vasculares e hipxia endoneural. Alteraes microvasculares,
principalmente dos ramos do vasa nervorum, tais como espessamento e duplicao
da membrana basal e proliferao do epitlio vascular, com consequente obstruo
do lmen vascular, provocariam secundariamente uma leso multifocal do nervo
devido hipxia. Nos estgios mais avanados pode ocorrer a desmielinizao.
Acredita-se que o processo de glicosilao no enzimtica das protenas, causado
pela hiperglicemia crnica, possa ser responsvel pelo dano microvascular, pois
afetaria principalmente as protenas da matriz extracelular ocasionando
espessamento da membrana basal (FREGONESI et al., 2004). Stevens e
colaboradores (1995) sugerem que o oxido ntrico possa ser a ponte de ligao entre
as hipteses metablica e vascular na patognese da neuropatia diabtica. Em
animais, logo aps a induo do diabetes, defeitos metablicos podem levar a uma
diminuio na sntese de oxido ntrico no endotlio vascular ou no gnglio simptico,
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conduzindo a uma diminuio do fluxo sanguneo neural. Alm disso, o xido ntrico
pode estar envolvido em alteraes no metabolismo do nervo somtico, no qual a
atividade da Na+/K+ATPase prejudicada pelo mecanismo que envolve
fosfoinositdio e diacilglicerol, podendo, consequentemente, afetar a velocidade de
conduo nervosa, independentemente de isquemia.
e) Mecanismos imunolgicos. A ocorrncia de leses inflamatrias,
caracterizadas por infiltraes de linfcitos T e B, macrfagos e eosinfilos ao redor
de vasos epineurais onde h degenerao axonal de fibras mielinizadas e
amielnicas, sugere que, em alguns casos, mecanismos inflamatrios esto
relacionados com a gnese da neuropatia diabtica (SILVA; TEIXEIRA, 1999).
f) Estresse oxidativo. No diabetes o estresse oxidativo produz radicais livres
de oxignio e reduo da atividade antioxidante, em decorrncia da auto-oxidao
da glicose, da glicosilao protica, da micro e macroangiopatia relacionada
hipxia e da menor formao de glutationa reduzida (PARTHIBAN et al., 1995).
Alguns autores atribuem a diminuio nos nveis de glutationa a uma grande
atividade na via dos poliis, j que a glutationa redutase (enzima que regenera a
glutationa reduzida) compete com a aldose redutase pelo NADPH (PARTHIBAN et
al., 1995). Em adio, o estresse oxidativo intensificado no DM pela reduo nos
nveis da enzima superxido dismutase (PARTHIBAN et al., 1995), que catalisa a
converso do O2- (radical superxido) em H2O2 (perxido de hidrognio).
g) Comprometimento do metabolismo dos lipdeos. A reduo na formao
do cido -linoleico e aracdnico a partir do cido linoleico, pode ser induzida pela
hiperglicemia e hipoinsulinemia (SILVA; TEIXEIRA, 1999). Isso pode reduzir a
sntese de muitos eicosanides biologicamente importantes e acumular cidos
graxos txicos de cadeia longa no nervo perifrico (SILVA; TEIXEIRA, 1999).
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Segundo Pop (2002), as anormalidades no metabolismo dos cidos graxos podem
ser tanto causa como consequncia da reduo do fluxo sanguneo neural (hipxia
endoneural), sendo que as alteraes na produo e ao de prostaglandinas
poderiam estar intermediando os componentes metablico e vascular da neuropatia
diabtica perifrica. Anormalidades no metabolismo dos cidos graxos relacionadas
com alteraes nos nveis de carnitina, predispondo ao desenvolvimento de
neuropatias diabticas, tambm tm sido relatadas por diversos autores (GIUDICE
et al., 2002). A carnitina, estando diminuda, pode conduzir a defeitos no transporte
de cidos graxos, atravs da membrana mitocondrial interna, com consequente
prejuzo da -oxidaco, acarretando um acmulo de lipdeos que modulam a
atividade de algumas enzimas importantes como a protena quinase C e a
Na+/K+ATPase (GIUDICE et al., 2002). Entretanto, o mecanismo preciso para a
deficincia de carnitina observada em indivduos e animais diabticos no est
definido.
Para a avaliao da evoluo da neuropatia, alguns estudos sugeriram
formas de estadiamento. Dyck e colaboradores (1988) apud Dyck e colaboradores
(1997), propuseram quatro estgios: estgio 0 (sem neuropatia), estgio 1
(neuropatia assintomtica), estgio 2 (neuropatia sintomtica) e estgio 3
(neuropatia incapacitante). Sendo que em cada estgio, a neuropatia sub-
classificada como motora (M), sensitiva (S) ou autonmica (A). Os critrios mnimos
para o diagnstico so duas ou mais anormalidades em um ou mais dos seguintes
testes: escore de sintomas de membros inferiores, estudo eletrofisiolgico, avaliao
quantitativa da sensibilidade (vibratria ou trmica), estudo autonmico
cardiovascular (sendo pelo menos um dos testes anormais: conduo nervosa ou
teste autonmico). A perda motora, manifestada pela incapacidade de caminhar
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28
sobre os calcanhares, utilizada para fazer a distino, no estgio 2, entre
comprometimento leve e grave.
J no estadiamento elaborado pela Universidade de Michigan (NEUMANN,
1999; PERKINS; BRIL, 2003), inicialmente o paciente submetido a um questionrio
simples e a um exame fsico conforme o Michigan Neuropathy Screening Instrument
MNSI (Instrumento de rastreabilidade da neuropatia), no qual so atribudos
pontos aos itens avaliados, que resultaro em um escore final de at 10 pontos. O
paciente com um escore a partir de 3 pontos, avaliado, posteriormente, conforme
um instrumento conhecido como Inventrio de Michigan, no qual se verificam
sintomas, anormalidades eletrofisiolgicas, sensibilidade e motricidade. Com base
nessa categorizao, o paciente classificado em um dos quatro estgios: 0 (sem
neuropatia), 1 (neuropatia leve), 2 (neuropatia moderada) e 3 (neuropatia grave). O
MNSI se correlaciona com o escore de Dyck e colaboradores (1988) apud Dyck e
colaboradores (1997), embora no avalie a neuropatia autonmica.
Uma das principais complicaes da neuropatia diabtica o p diabtico,
considerado um desafio para a sade pblica, tanto no manejo, quanto nas
consequncias que podem levar a amputaes e invalidez (CASTRO, 2007).
Pacientes com neuropatia diabtica frequentemente evoluem para um grau de
desnervao de seus membros inferiores que pode culminar em anestesia. A
ausncia de dor acaba por desmotivar para os cuidados com os ps, propiciando a
ocorrncia de leses ulcerativas. Alm disso, com a circulao sangunea
comprometida, as leses no p do diabtico apresentam dificuldade de cicatrizao
(LOW et al., 2003).
Dessa forma, a neuropatia diabtica parece surgir como um distrbio
sensorial, autonmico e como uma doena motora progressiva e irreversvel,
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interrompendo as aferncias e as eferncias da extremidade inferior, responsveis
por manter a postura e a locomoo normais (CAVANAGH et al., 1992). Com isso,
se altera a propriocepo, que permite a monitorao da progresso de qualquer
sequenciamento de movimento (PERRY et al., 2000).
1.4 Baropodometria
A baropodometria uma tcnica de exame, informatizada, que permite
avaliar a presso plantar e diagnosticar suas alteraes (ANJOS, 2006). Fornece
uma documentao objetiva, considerada como o fundamento da avaliao cientfica
para o tratamento das disfunes do sistema msculo-esqueltico, atravs da
avaliao da distribuio da carga plantar, alm de informaes sobre a superfcie
dos ps, morfologia do passo, presso mdia e mxima exercida sobre os ps, e
tipo do p: normal, cavo ou plano, sendo uma ferramenta importante para
compreender as influncias posturais sobre os ps e vice versa (OLIVEIRA et al.,
1998; CHAMLIAN, 1999; CASTRO, 2007). A presso plantar calculada pela
relao entre fora e superfcie de apoio (ANJOS, 2006).
Em estudos com indivduos normais, Cavanagh e colaboradores (1987), na
anlise da distribuio da presso plantar na posio ortosttica, encontraram que
60,5% da massa corporal est distribuda sobre os calcanhares, 7,8% no mediop,
28,1% na parte anterior do p e 3,6% nos pododctilos. De acordo com Tribastone
(2001), na posio ereta, 57% da massa corporal est distribuda na regio do
calcanhar (retrop) e 43% sobre a regio plantar anterior (antep). Para Lorenzetti
(2006), o padro de normalidade da distribuio da carga plantar 35 a 40% da
presso no antep e 55 a 60% no retrop. Portanto, para todos esses autores, o
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30
pico de maior presso, em indivduos normais, apresenta-se na regio posterior do
p, na situao esttica.
O histrico do uso da baropodometria para avaliao da presso plantar em
diabticos extenso. Um dos primeiros experimentos foi realizado por Stokes e
colaboradores (1975) em que se verificou que as lceras plantares localizavam-se
na regio medial do antep, local onde a fora era trs vezes maior do que nos
indivduos normais, tanto em pacientes com lcera plantar como em pacientes
diabticos. Duckworth e colaboradores (1985) investigaram as presses plantares
estticas e dinmicas em pacientes diabticos e aceitaram valores de 10 kgf/cm2
(891 kPa) como dentro do limite de normalidade. J Armstrong e Lavery (1998)
verificaram que a presso plantar acima de 6 kgf/cm2 (534 kPa) indicativo de
ulcerao plantar. Desde ento, muitos estudos confirmaram que a alta presso
plantar o principal fator causal de lceras plantares em pacientes com DM (VEVES
et al.,1992; BOULTON et al., 1998; MAYFILED et al.,1998; LAVERY et al.,1998).
Outros estudos que avaliaram a presso plantar em pacientes diabticos
com ou sem p neuroptico (BOULTON et al., 1998; DAMBROGI, 2003) e, tambm,
sem nenhuma complicao micro e macrovascular aps seis anos do incio da
doena (PATAKY et al., 2005), mostraram um aumento da presso plantar.
Donaghue e Veves (1997) estudaram a eficcia de equipamento de
mensurao da presso plantar e concluram que a avaliao da distribuio da
carga plantar til para pacientes com p em risco de ulcerao e para a prescrio
de calados com objetivo preventivo.
Boulton e colaboradores (1998) e Dias e colaboradores (1999) mostraram
que o alto ndice de ulceraes nos ps diabticos tem como causa a elevao dos
picos de presso plantar, detectados atravs de pesquisas com baropodmetro.
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31
Em condies neuropticas, Sacco e Amadio (2000) colocam que os
parmetros biomecnicos de reao de fora e de distribuio plantar modificam-se
tanto na forma dinmica, quanto na forma esttica. Durante a caminhada, os
diabticos aumentam o contato com o solo em algumas reas e diminuem o contato
em reas opostas da superfcie plantar. Tais alteraes, associadas perda da
sensibilidade, prejudicam a biomecnica dos ps e, consequentemente, a prpria
marcha, permitindo o aumento da presso plantar, sendo este um fator de risco para
a ulcerao plantar do p diabtico (VEVES et al., 1995; CAVANAGH et al., 2002).
As variveis mais estudadas, quando se comparam os valores da
baropodometria dinmica entre indivduos com neuropatia diabtica e no
diabticos, so o pico de presso e a integral da presso versus tempo. O pico de
presso o maior valor de presso (kPa) que ocorre em determinada regio da
planta do p. A integral presso versus tempo (kPa.s) uma varivel que fornece a
carga de presso ao longo do tempo da pisada e a varivel que mais se
correlaciona ao risco de ulcerao (SHAW; BOULTON, 1996).
Diversos aspectos interferem na comparao entre os estudos sobre
baropodometria em indivduos diabticos. Primeiramente, o equipamento utilizado
que varia em funo do fabricante, bem como do software para coleta e
processamento dos dados. O protocolo de marcha utilizado para realizao da
baropodometria dinmica tambm varia de estudo para estudo. Os estudos atuais
tm se preocupado em padronizar o protocolo de marcha utilizado, neles
verificando-se que os protocolos menos extensos como o de primeiro passo e
segundo passo podem ser utilizados com segurana em detrimento ao protocolo de
marcha simulada (demanda mais tempo caminhando) na comparao dessas duas
variveis entre indivduos com neuropatia diabtica e no diabticos (BUS; LANGE,
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32
2005). Entretanto, ainda h uma grande variao entre a escolha do protocolo de
primeiro passo e o de segundo passo.
Outro aspecto que dificulta a comparao dos dados entre os estudos a
diviso anatmica da planta do p realizada para a anlise regional das variveis,
variando de 3 a 8 regies e selecionadas por diferentes parmetros, dependendo do
software utilizado. Estudos mais recentes diminuram o nmero de regies para 2 a
4 (BACARIN et al., 2009; MUELLER et al., 2009; RAO et al., 2010; SACCO et al.,
2009). Contudo, os estudos confirmam que existem diferenas entre as variveis
avaliadas, geralmente apresentando valores mais elevados em indivduos com
neuropatia diabtica em relao aos indivduos saudveis.
Bacarin e colaboradores (2009) dividiram a planta do p em trs regies:
antep (cabea dos metatarsos), mediop e calcanhar; e encontraram valores da
varivel integral da presso e tempo significativamente maiores, nas trs regies,
nos indivduos com neuropatia diabtica sem episdio de ulcerao plantar e com
episdio de ulcerao, em comparao a indivduos saudveis. Entretanto, essa
diferena no expressa em porcentagem, apenas mdia, desvio padro e
coeficiente de variao.
Rao e colaboradores (2010) ainda subdividiram as regies anterior e
posterior da planta do p em medial e lateral, encontrando valores significativamente
maiores em relao integral presso e tempo, em todas as regies plantares dos
indivduos com neuropatia diabtica em comparao indivduos saudveis. O
mesmo ocorreu na subdiviso medial de cada regio em relao ao pico de presso.
Sacco e colaboradores (2009) dividiram a planta do p em trs regies
(anterior, mdia e posterior) e encontraram diferenas significativamente maiores em
indivduos com neuropatia diabtica, nas variveis pico de presso e integral
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presso e tempo, nas regies anterior e mdia da planta do p, em comparao aos
indivduos saudveis.
Mueller e colaboradores (2009) dividiram a planta do p em duas regies
anatmicas: anterior (cabea dos metatarsos) e posterior (calcanhar); e tambm
encontraram diferenas significativas na varivel pico de presso, sendo
significativamente mais alta em indivduos com neuropatia diabtica, na regio
anterior. Este um dos poucos estudos que apresentaram a diferena entre os
grupos em valores percentuais.
Com isso, torna-se difcil encontrar referncias para embasar uma hiptese
de resultados em valores percentuais dessas variveis no exame de baropodometria
dinmica e esttica. O que poderia se esperar um valor significativamente maior
das variveis pico de presso e integral presso e tempo, na regio anterior da
planta do p dos indivduos com neuropatia diabtica. E, em relao
baropodometria esttica, um aumento nas presses mdias na regio anterior da
planta do p.
Admite-se que na Neuropatia Perifrica Sensitivo Motora (NPSM), associada
desmielinizao, ocorra atrofia e enfraquecimento dos msculos intrnsecos do p,
causando desequilbrio entre os tendes dos flexores e extensores, fato que leva ao
p cavo ou acentuao da curvatura do p. Desta forma, ocorrem deformidades na
flexo dos dedos, favorecendo a formao de dedos em garra e martelo, resultante
do domnio dos msculos flexores sobre os extensores (SUMPIO, 2001). Estas
deformidades atingem reas que sofrem maior presso como as cabeas dos
metatarsos e dos dedos, e podem desenvolver lceras neuropticas (FRYKBERG et
al., 1998). A hiperglicemia leva glicosilao protica no enzimtica, reduzindo a
elasticidade tecidual e enrijecendo a articulao, levando alterao da
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biomecnica da marcha (CAVANAGH et al., 2002). Alm disso, deslocamentos ou
atrofia do coxim adiposo tambm podem ocorrer, levando ao aumento de presso
nos calcneos e sob as cabeas metatarsianas (SUMPIO, 2000).
1.5 Justificativa
No foram encontrados estudos que avaliaram parmetros da distribuio da
presso plantar em indivduos pr-diabticos, assim como poucos estudos que
correlacionaram o tipo de neuropatia diabtica perifrica distribuio da presso
plantar, em indivduos diabticos.
Considerando os riscos de ulcerao plantar e amputao de membros
inferiores relacionados neuropatia diabtica e a relao do aumento da presso
plantar com esses fatores na populao diabtica, e ainda, que os pr-diabticos
tambm so indivduos com potencial risco para o desenvolvimento de neuropatias,
mostra-se pertinente um estudo que avalie, atravs da baropodometria, a
distribuio da presso plantar em diabticos e pr-diabticos, correlacionando os
achados classificao da neuropatia (quando presente), comparando aos achados
em indivduos no diabticos.
A partir de um estudo como este, obtem-se informaes de aplicabilidade
clnica preventiva, no momento em que a alteraes na distribuio da presso
plantar so um dos fatores que agravam o risco para o desenvolvimento de afeces
plantares, principalmente na presena de neuropatia perifrica.
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35
1.6 Objetivos
O objetivo geral deste estudo avaliar a distribuio da presso plantar,
atravs da baropodometria, em indivduos diabticos e pr-diabticos (com ou sem
neuropatia), em comparao a indivduos no diabticos e no pr-diabticos.
Como objetivos especficos, pretende-se estudar e comparar as variveis
cinticas: picos de presso plantar, tempo de contato, porcentagem do tempo de
contato por regio plantar, porcentagem da rea de contato por regio plantar e
integral da presso e tempo, durante a marcha com velocidade autosselecionada
entre indivduos diabticos e pr-diabticos (com ou sem neuropatia) e indivduos
no diabticos e no pr-diabticos (controles).
Ainda como objetivos especficos, verificar-se-, atravs do teste de
correlao linear de Pearson, o coeficiente de correlao (r) e de determinao (R)
entre as variveis: a) pico de presso em cada regio plantar e IMC nos trs grupos
estudados; b) pico de presso em cada regio plantar e a idade nos trs grupos
estudados; c) pico de presso em cada regio plantar e o tempo de diagnstico do
diabetes e do pr-diabetes; d) pico de presso em cada regio plantar e amplitude
articular ativa do tornozelo em plantiflexo e dorsiflexo, nos trs grupos; e)
porcentagem do tempo de contato e amplitude articular ativa do tornozelo em
plantiflexo e dorsiflexo, nos trs grupos.
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2 MATERIAIS E MTODOS
2.1 Local da pesquisa
O estudo est vinculado ao Laboratrio de Pesquisa do Ncleo de
Biomecnica do Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calados e Artefatos
IBTeC, que disponibilizou todos os equipamentos e instrumentos, bem como junto
UFRGS atravs Servio de Endocrinologia do Hospital de Clinicas de Porto Alegre
(HCPA - UFRGS), que encaminhou os indivduos diabticos e pr-diabticos.
2.2 Indivduos da pesquisa
Participaram do estudo, 108 indivduos de ambos os sexos, na faixa etria
dos 29 aos 69 anos que consentiram sua participao atravs da assinatura de
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apndice A), respeitando os critrios
de incluso e excluso. Os indivduos faram categorizados em: grupo diabtico
(GDM), grupo pr-diabtico (GPD) e grupo no diabtico e no pr-diabtico,
constituindo o grupo controle (GC).
O primeiro clculo amostral realizado pelo Setor de Orientao Estatstica do
Grupo de Pesquisa e Ps Graduao do Hospital de Clnicas de Porto Alegre
(GPPG-HCPA), considerou uma diferena de 11,4 % entre GDM, GPD e GC,
tomando como base a diferena encontrada por Sacco e colaboradores (2009),
considerando nvel de significncia de 5% e poder de 80%, chegando ao resultado
de 50 indivduos por grupo. Foram assumidos os resultados do clculo amostral
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37
necessrio para atender a diferena entre os grupos na regio anterior da planta do
p em relao varivel pico de presso plantar, por maximizar o nmero amostral.
O segundo clculo amostral foi realizado mantendo o mesmo nvel de
significncia e poder estatstico, porm a partir dos resultados parciais das coletas,
chegando-se a um tamanho amostral de 15 indivduos por grupo.
O clculo amostral foi realizado atravs do software estatstico Win-Pipe
verso 1.72.
Os indivduos diabticos e pr-diabticos advieram do Servio de
Endocrinologia do HCPA, atravs de convite, realizado pelo mdico endocrinologista
colaborador deste estudo. Os indivduos foram encaminhados pesquisa, triados
quanto ao diabetes tipo 2 ou pr-diabetes e quanto neuropatia. A confirmao da
neuropatia perifrica sensitivo-motora deu-se atravs do exame
eletroneuromiogrfico de membros inferiores (ENMG) e a confirmao de neuropatia
autonmica cardaca, atravs do teste de variabilidade da frequncia cardaca
(VFC). Essas informaes foram registradas na Ficha de Acompanhamento
(Apndice B), preenchida pelo mdico responsvel.
Os indivduos no diabticos e no pr-diabticos foram convidados a
participar da pesquisa, atravs de convite (Apndice C), sendo necessrio ter
realizado exame para avaliao da glicose plasmtica nos ltimos trs meses. Nos
indivduos no diabticos e no pr-diabticos tambm foi aplicado o MNSI-
adaptado (complemento do Apndice D), uma vez que, por questes ticas, os
exames eletroneuromiogrficos no foram realizados nesse grupo, por se tratar de
um procedimento invasivo, desnecessrio nesse caso.
-
38
Critrios de incluso e excluso
Diabticos e pr-diabticos: voluntrios de ambos os sexos entre 29 a 69
anos; com diagnstico de diabetes tipo 2 ou pr-diabetes; sem distrbios do
movimento e/ou distrbios neurolgicos centrais ou doenas reumticas; que no
tivessem sofrido traumas ou cirurgias ortopdicas; capacitados a colaborar com os
procedimentos. Foram excludos os indivduos que, ao exame postural,
apresentaram discrepncia entre o comprimento de membros inferiores maior que
100 mm e alteraes posturais em que o eixo da cabea ultrapassou 1 quadrado (5
cm) de referncia do simetrgrafo (descrito a seguir no item 2.3, e mostrado na
figura 2.4.1), em qualquer das vistas avaliadas. Tambm foram excludos indivduos
com qualquer alterao visual no passvel de correo com lentes e que
apresentaram sintomas tais como vertigens, tontura e zumbido no ouvido no
momento da avaliao baropodomtrica.
No diabticos e no pr-diabticos: voluntrios de ambos os sexos entre 29
a 69 anos; sem diagnstico de diabetes (confirmado por exame de glicose
plasmtica nos ltimos trs meses) ou suspeita de quaisquer patologias
potencialmente causadoras de neuropatia; sem distrbios do movimento, distrbios
neurolgicos centrais e doenas reumticas; que no tivessem sofrido traumas ou
cirurgias ortopdicas; capacitados a colaborar com os procedimentos. Foram
excludos os indivduos que alcanaram um ndice superior a 3 no MNSI-adaptado;
que ao exame postural apresentaram uma discrepncia entre o comprimento de
membros inferiores maior que 100 mm e alteraes posturais em que o eixo da
cabea ultrapassou 1 quadrado (5 cm) de referncia do simetrgrafo, em qualquer
das vistas avaliadas; que apresentaram qualquer alterao visual no passvel de
-
39
correo com lentes; e que, no momento da avaliao baropodomtrica,
apresentaram sintomas tais como vertigens, tontura e zumbido no ouvido.
Tambm foram excludos da amostra indivduos que apresentassem
quaisquer tipos de deformidades nos ps, independente do grupo ao qual
pertencessem.
2.3 Instrumentos e equipamentos
Simetrgrafo: a avaliao postural foi registrada junto a um Simetrgrafo de
Parede (Fisiobrs, Brasil), confeccionado em plstico malevel, dimenses da rea
quadriculada para avaliao 185 x 65 cm, sendo cada quadrado de 5 x 5 cm.
Paqumetro: para medidas antropomtricas dos ps foi utilizado Paqumetro
Mdico 420 mm (Sanny, Brasil), resoluo em milmetros, incerteza de 0,1 mm.
Fita mtrica: para medida de comprimento dos membros inferiores, foi
utilizada fita mtrica flexvel (FisioStore, Brasil), unidades de medida em centmetros,
amplitude de medida at 150 cm.
Gonimetro: para avaliao da mobilidade articular do tornozelo foi utilizado
um gonimetro 360 (Fisiobrs, Brasil), unidade de medida em graus, erro padro de
1.
Balana digital: para medida da massa corporal, foi utilizada uma balana
digital modelo 2096 PP (Toledo, Brasil), com resoluo de 50 g.
Estadimetro: Para a medida de estatura, foi utilizado um estadimetro
(SECA, Brasil), com amplitude de medida at 2 m e escala de 1 mm.
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40
Cmera Digital: a imagem digitalizada dos ps e da avaliao postural foi
registrada atravs de Cmera Digital modelo S730 (Samsung/Japo), 7,2 mega
pixels.
Baropodmetro digital: para aquisio das variavis relacionadas
distribuio da presso plantar, foi utilizado um baropodmetro digital (figura 2.3.1)
do tipo plataforma de presso (NovelGmbh, Alemanha), trabalhando no sistema
EMED-X, a 1 sensor/cm2, taxa mxima de aquisio de 400 amostras por segundo,
incerteza da medida de presso
-
41
Estesimetro: para avaliao da sensibilidade ttil, conforme o MNSI-
adaptado, foi utilizado um monofilamento de nylon, referncia Semmes-Weinstein
5.07 (10 g) (Sorry, Brasil).
2.4 Procedimentos
Aps aprovado o projeto pelo Comit de tica do HCPA, atravs do parecer
n 09445 (Anexo A) foi iniciado o Estudo Piloto, que contou com a participao de
trs indivduos diabticos e trs indivduos no diabticos, respeitando os critrios
de incluso e excluso.
A partir do Estudo Piloto, foram realizadas alteraes nos procedimentos de
coleta de dados, dando-se incio ao Estudo Principal, conforme segue.
Contato inicial
Apresentao dos objetivos da pesquisa e assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (Apndice A).
Procedimentos da coleta de dados
Os dados foram registrados na Ficha de Avaliao (Apndice C). O tempo
de durao da coleta de dados foi de 50 minutos, conforme segue:
1 Avaliao postural: o indivduo foi posicionado em frente ao simetrgrafo
e foram registradas duas imagens digitais: uma da vista anterior e uma da vista
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42
lateral direita (figura 2.4.1), a 2 m de distncia do indivduo. Essas imagens foram
utilizadas apenas para registro da avaliao.
a) b)
Figura 2.4.1 Avaliao no simetrgrafo a) vista anterior; b) vista lateral
Em seguida, estando o indivduo deitado em uma maca em decbito dorsal,
foi realizada medida do comprimento dos membros inferiores (figura 2.4.2), com o
joelho estendido: do trocnter ao malolo medial. Com os joelhos fletidos, foi
avaliada a discrepncia entre comprimento de coxas (femoral) e comprimento de
pernas (tibio/fibular). Utilizando balana e estadimetro, foram verificados massa
corporal e estatura.
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43
a)
b) c)
Figura 2.4.2 Avaliao da discrepncia de membros inferiores: a) medida do comprimento relativo do membro inferior; b) comparao entre comprimentos femorais; c) comparao entre o comprimento das pernas.
2 Aplicao do Michgan Neuropathy Sreening Instrument adaptado
(MSNI adaptado): com o indivduo em decbito dorsal foram realizados os
seguintes exames:
a) Inspeo dos ps para deteco de deformidades (dedos em martelo,
dedos que se sobrepem, hlux valgo, subluxao articular, cabeas de metatarsos
proeminentes, convexidade mediana);
b) Inspeo dos ps para deteco de lceras na planta do p;
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44
c) Teste de reflexo aquileo (percusso do tendo aquileo com martelo
conforme a figura 2.4.3);
Figura 2.4.3 Avaliao do reflexo tendinoso aquileo com martelo.
d) Teste de sensibilidade vibratria (posiciona-se o diapaso de 128 Hz
na falange distal, dorsalmente, no primeiro pododctilo, conforme a figura 2.4.4);
Figura 2.4.4 Avaliao da sensibilidade vibratria na extremidade inferior distal com diapaso.
-
45
e) Teste de sensibilidade ttil: aplicao do monofilamento de 10 g na
regio plantar do p (polpa do hlux e pododctilos, cabea dos metatarsos),
conforme a figura 2.4.5.
Figura 2.4.5 Avaliao da sensibilidade ttil em extremidade inferior distal com monofilamento 10 g.
3 Avaliao antropomtrica dos ps: foram tomadas, com uso do
paqumetro, as medidas hlux-calcanhar, cabea do primeiro metatatarso (medial)-
cabea do quinto metatarso (lateral) dos ps (figura 2.4.6).
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46
a) b)
Figura 2.4.6 Avaliao antropomtrica dos ps com o paqumetro: a) comprimento; b) largura.
4 Avaliao da amplitude articular ativa do tornozelo: com o gonimetro,
foi avaliada a amplitude articular ativa do tornozelo nos movimentos de plantiflexo e
dorsifllexo, com o indivduo sentado na maca, a partir da posio articular neutra
(figura 2.4.7).
Figura 2.4.7 Avaliao da mobilidade articular ativa do tornozelo com gonimetro.
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47
5 Baropodometria dinmica: consistiu em caminhar da forma mais
natural possvel, cerca de 20 vezes sobre o baropodmetro (plataforma de presso),
atravs do qual realizado o registro da distribuio da presso plantar. Foi utilizado
o protocolo de marcha primeiro passo, conforme Bus e Lange (2005), no qual o
indivduo inicia o trajeto da caminhada com os ps paralelos em frente plataforma
de presso, e realiza o primeiro passo na plataforma, continuando a caminhar por
mais dois a trs passos antes de parar. A figura 2.4.8 exemplifica o posicionamento
inicial e o trajeto realizado pelo paciente durante o exame.
Figura 2.4.8 Diagrama do protocolo primeiro passo para Baropodometria Dinmica, adaptado de Bus e Lange (2005).
Nesse protocolo o indivduo caminha, com os ps descalos, em velocidade
autosselecionada. Para cada indivduo, foram realizados 10 registros de tentativas,
cujo p direito acertou a plataforma, e 10 registros de tentativas, cujo p esquerdo
acertou a plataforma, sendo consideradas vlidas, as tentativas em que o indivduo
no modificou a marcha, propositadamente, na tentativa de acertar a plataforma.
6 Baropodometria esttica: atravs da baropodometria esttica,
originalmente pretendia-se avaliar o equilbrio postural quase-esttico, atravs da
oscilao ntero-posterior e mdio-lateral do centro de presso, com o indivduo em
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48
ortostase bipodal sobre a plataforma. Porm, por insuficincia de dados gerados por
esse sistema, essa anlise no foi realizada. Dessa forma, os dados da
baropodometria esttica serviram apenas para a confirmao do ndice do Arco
Plantar conforme ser descrito a seguir no item 2.6 Processamento dos dados
baropodomtricos.
2.5 Variveis
Tipo de neuropatia:
Neuropatia perifrica sensitivo-motora (NPSM) e neuropatia autonmica
cardaca (NAC), ambas podendo variar entre as condies presente ou ausente.
Variveis baropodomtricas:
Para avaliao das variveis referentes baropometria dinmica, a planta
do p foi dividida em cinco regies anatmicas, como mostra a figura 2.5.1, atravs
de uma mscara aplicada no processamento dos dados baropodomtricos (descrito
no item 2.6).
Dessa forma, as variveis de presso, relacionadas a seguir, referem-se a
cada uma das cinco regies plantares estipuladas:
- pico de presso (kPa), por regio da planta do p, durante a marcha em
velocidade autosselecionada.
- tempo de contato (ms), por regio da planta do p, durante a marcha em
velocidade autosselecionada.
- porcentagem do tempo de contato (%) de cada regio da planta do p,
durante a marcha em velocidade autosselecionada.
-
49
- porcentagem de rea de contato (%) de cada regio do p durante a
marcha em velocidade autosselecionada.
- integral presso versus o tempo (kPa.s), por regio da planta do p,
durante a marcha em velocidade autosselecionada.
1 Calcanhar
2 Mediop
3 Metatarsos
4 Hlux
5 Dedos
Figura 2.5.1 Diviso das regies anatmicas da planta do p.
Variveis de correlao com pico de presso plantar:
ndice de massa corporal
Tempo de diagnstico do diabetes e pr-diabetes
Amplitude articular ativa do tornozelo (em plantiflexo e dorsiflexo)
Variveis de correlao com porcentagem do tempo de contato por regio plantar:
Amplitude articular ativa do tornozelo (em plantiflexo e dorsiflexo)
-
50
2.6 Processamento dos dados baropodomtricos
O processamento dos dados brutos da baropodometria dinmica foi
realizado no software Novel Scientifc (Alemanha), nas funes Automask, Group
Editor, Group Mask Evaluation, Average e Geometry, para aos dados de cada
indivduo, atravs dos seguintes passos:
1) A partir de um plantigrama (diagrama referente regio de contato
plantar com a plataforma de presso) foi criada uma mscara na funo Automask,
que possibilitou dividir o plantigrama, automaticamente, em 5 regies: calcanhar,
mediop, metatarsos, hlux e dedos, conforme a figura 2.6.1.
Figura 2.6.1 Criao da mscara para estabelecimento das regies da planta do p: M01 (calcanhar); M02 (mediop); M03 (metatarsos); M04 (hlux); M05 (dedos).
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51
Figura 2.6.2 Aplicao da mscara, para diviso dos plantigramas nas regies plantares estabelecidas e verficao da sua abrangncia.
2) Os dados brutos dos vinte passos registrados para cada indivduo
durante o protocolo de marcha da baropodometria dinmica, foram divididos em dois
arquivos, um para cada p, nomeados com um nmero de registro em substituio
ao nome do indivduo. O indivduo Maria, por exemplo, recebeu um nmero de
registro 023. Com isso, para esse indivduo foram criados dois arquivos contendo os
dez registros de cada p e nomeados da seguinte forma: indivduo023_pdireito.par
e indivduo023_pesquerdo.par.
3) Cada arquivo com dez aquisies foi avaliado separadamente. Os
dados brutos que pertencem ao arquivo direito ou esquerdo foram inseridos na
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52
funo Group Editor, em que, alm das dez aquisies, foi inserida a mscara para
diviso do plantigrama nas regies anteriormente determinadas.
4) Todo esse conjunto de dados foi transferido para a funo Group Mask
Evaluation, que separou os valores brutos do plantigrama em valores por regies da
planta do p, determinadas pela mscara. Nesse momento, foi conferido se a
mscara abrangia todo o plantigrama. Nos casos em que a mscara no abrangeu
de forma efetiva o plantigrama, o registro foi excludo. A partir dessa verificao,
obteve-se um mnimo de seis registros abrangidos pela mscara, para cada
indivduo (figura 2.6.2).
Figura 2.6.3 Dados exportados do Group Mask Evaluation para o Excel.
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53
5) Esses resultados foram exportados para o software Excel 2003, onde
foram calculados a mdia e o desvio padro dos valores de cada uma das variveis
em cada uma das regies da planta do p, para cada p do indivduo (figura 2.6.3).
6) Esse procedimento foi realizado com cada grupo das seis aquisies
de cada um dos indivduos, e aps se obter a mdia de cada um dos ps, os valores
foram separados nos grupos principais do estudo (GC, GDM e GPD) e foi calculada
a mdia geral do grupo, considerando o p direito e esquerdo de cada indivduo,
tambm atravs do software Excel 2003.
O ndice do Arco Plantar (IAP) foi calculado a partir dos plantigramas obtidos
atravs da baropodometria. Estes plantigramas foram processados atravs da
funo Geometry que calcula automaticamente o ndice do Arco Plantar, conforme
equao descrita por Cavanagh e Rodgers (1987); (figura 2.6.4).
Figura 2.6.4 Parmetros para clculo do ndice do Arco Plantar.
O IAP uma forma de classificar, atravs de resultados quantitativos, a
altura do arco plantar longitudinal. A utilizao desse ndice permite que o p do
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54
indivduo seja classificado de forma quantitativa em trs situaes: arco plano
(ndice a 0,26), em que a altura do arco plantar do indivduo mais baixa e, em
decorrncia disso, ocorre mais contato da regio mdia do p com o solo; arco
normal (ndice > 0,21 e < 0,26), em que a altura do arco plantar est em equilbrio
com a distribuio da estrutura musculoesqueltica dos ps; e arco alto ou cavo
(ndice 0,21), em que a altura do arco plantar longitudinal maior e,
consequentemente, ocorre pouco contato da regio mdia do p e sobrecarga nas
regies posterior e anterior do p (CAVANAGH; RODGERS, 1897).
2.7 Tratamento estatstico
Medidas de tendncia central, no central e disperso:
Os dados foram tabulados em uma planilha no programa Excel (2007) sendo
posteriormente exportada para o programa estatstico Statistical Package for the
Social Science (SPSS, verso 16.0).
Primeiramente realizou-se o estudo exploratrio dos dados seguindo o
pressuposto da anlise paramtrica; para isso, foram verificadas a assimetria
(skewness), o achatamento (kurtosis), a normalidade (teste de aderncia de
Kolmogorov-Smirnov) e as possveis presenas de casos extremos moderados e
severos (outliers). Aps essa etapa, optou-se por manter os casos extremos
moderados que no afetassem a normalidade dos dados. Dessa forma, todos os
resultados desta investigao apresentam dados normalizados.
A partir da explorao dos dados, analisou-se como medida de tendncia
central a mdia de cada regio plantar nos dois ps, para cada varivel, por grupo,
atravs da baropodometria.
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55
Para a disperso, foi realizada a anlise da amplitude e do escore dos
desvios-padro.
Aps a anlise descritiva dos dois ps, realizou-se a comparao entre as
mdias normalizadas do p direito e esquerdo atravs do teste t de Student
(Apndice D).
As anlises pormenorizadas da descrio das variveis e as tabelas
normativas esto dispostas no Apndice E.
Em relao frequncia e classificao das neuropatias, importante
salientar que:
a) O tamanho da amostra referente ao GDM e ao GPD no foi suficiente
para categorizao e comparao de subgrupos conforme o tipo da neuropatia
(Neuropatia perifrica sensitiva motora ou Neuropatia autonmica cardaca);
b) Foram criados subgrupos de indivduos com neuropatia, independente
do tipo, (CN) e sem neuropatia (SN) dentro dos grupos GDM e GPD, cujos dados
foram normalizados pelos mesmos critrios j descritos e as mdias comparadas
atravs do teste t de Student para amostras independentes.
c) A partir da comparao entre os subgrupos e, considerando o tamanho
da amostra, preferiu-se manter tanto os diabticos com neuropatia quanto os sem
neuropatia no mesmo grupo (GDM), da mesma forma que no grupo de indivduos
pr-diabticos (GPD), para a comparao com o GC.
As informaes referentes aos itens acima se encontram na apresentao
dos resultados.
Estatsticas multidimensionais:
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56
A anlise de varincia (ANOVA), para cada varivel em cada regio plantar
avaliada, foi utilizada para verificar as possveis diferenas entre os grupos. Testes
complementares (post hoc) foram conduzidos para averiguar diferenas especficas
entre as mdias, em pares. Aps a anlise da disperso da varincia entre os
grupos, optou-se por no assumir a homogeneidade da varincia conforme
pressuposto estatstico (teste estatstico de Levene). Dessa forma, ficaram
estabelecidos como post hoc o teste Dunnet C, para as mdia referentes s
variveis baropodomtricas, e o teste Tukey, para as mdias referentes s variveis
de caracterizao da amostra (idade, IMC e amplitude articular ativa do tornozelo
nos movimentos de dorsiflexo e platiflexo).
Anlises de Correlaes:
As correlaes foram realizadas atravs do teste de Pearson. A partir do
coeficiente de correlao (r), foi calculado o coeficiente de determinao (R, ou r2),
considerando os seguintes nveis de determinao, conforme a tabela 2.7.1,
segundo Pestana e Gageiro (2008).
Tabela 2.7.1 Nveis de determinao conforme o coeficiente de determinao
Coeficiente de determinao (R) Nvel de determinao
> 0,2 muito baixo
0,2, a 0,39 baixo
0,4 a 0,69 moderado
0,7 e 0,89 alto
0,9 e 1 muito alto
Em todas as interpretaes, o nvel de significncia adotado foi de 5%. Os
dados foram tratados a partir do programa estatstico SPSS verso 16.0.
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57
3 RESULTADOS
Foram avaliados 103 indivduos, sendo que, desse total, foram excludos 3
indivduos do GC, 17 indivduos do GDM, e 3 do GPD, por apresentarem fatores de
excluso constatados durante o exame fsico. Os fatores de excluso que ocorreram
durante a avaliao, bem como o nmero de indivduos excludos da amostra, esto
na tabela 3.1. Sendo assim, 40 indivduos constituram o GC, 30 o GDM e 15
indivduos o GPD.
Tabela 3.1 Fatores de excluso por grupo
Fatores de Excluso GC GDM GPD
Discrepncia no comprimento dos MMII ou nas dimenses dos ps > 100 mm. 2 3 1
Deformidades nos ps. 3
Deslocamento maior que um quadro do simetrgrafo na vista lateral 2
Hlux fixo por pino sem mobilidade articular 1
Doena vascular isqumica em MMII 2
Acidente Vascular Enceflico prvio 1
Marcha dependente de rtese 2 1
Incapacidade de realizar o exame de baropodometria 1 3 1
Total de indivduos excludos por grupo 3 17 3
Total de indivduos excludos da amostra = 23
Na tabela 3.2, so mostrados os indicadores de caracterizao da amostra,
separados por grupo. A amostra pode ser considerada homognea quanto ao
gnero, idade, e classificao do arco plantar (atravs do IAP). J em relao ao
ndice de Massa Corporal (IMC) o GPD apresentou um IMC mais elevado do que o
GC, sem diferena significativa em relao ao GDM. Quanto aos dados da
mobilidade articular ativa do tornozelo dos movimentos de dorsiflexo e plantiflexo,
avaliados atravs da goniometria, o GDM apresentou uma mobilidade articular em
dorsiflexo, significativamente menor em relao aos demais grupos.
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58
Tabela 3.2 Caracterizao da amostra de indivduos por grupo
GC (40) GDM (30) GPD (15)
Gnero Feminino (%) Masculino (%)
60,5 39,5
73,3 26,7
73,3 26,7
Classificao do arco plantar Normal (%) 52,5 43,3 43,3 Cavo (%) 10,0 16,7 10,3 Plano (%)
37,5 40,0 43,4
X dp X dp X dp p
Idade (anos) 49,6 13,2 53,6 7,4 55,2 9,5 0,057 IMC (kg/m
2) 25,2* 4,1 27,4 3,6 29,8* 4,1 0,048
Plantiflexo () 35 3 33 5 33 5 0,079
Dorsiflexo () 24 2 19* 6 23 4 0,023
Mdia ( X ); desvio padro (dp); (*) diferena estatisticamente significativa no post hoc Tukey (nvel de significncia p 0,05). Tempo de diagnstico do diabetes e do pr-diabetes
O tempo mdio de diagnstico dos diabticos foi de 68,2 meses sendo o
mnimo de 20 e o mximo 156 meses.
O tempo mdio de diagnstico dos pr-diabticos foi de 25,6 meses, sendo
o mnimo de 12 e o mximo de 60 meses.
Neuropatia perifrica
GDM GPD
a) b)
Figura 3.1 Frequncia geral das neuropatias no a) GDM e b) GPD.
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Em relao ao diagnstico da neuropatia perifrica no GDM, 60% dos
indivduos apresentaram algum tipo de neuropatia: neuropatia perifrica sensitivo-
motora (NPSM) ou neuropatia autonmica cardaca (NAC). No GPD, 46,7% dos
indivduos possuam algum tipo de neuropatia, posteriormente classificada. Na figura
3.1 podem ser observadas as frequncias das neuropatias nos grupos GDM e GPD.
A frequncia e a classificao quanto ao tipo de neuropatia, encontradas
em indivduos do GDM e GDP, esto na tabela 3.3.
Tabela 3.3 Frequncia e classificao das neuropatias no GDM e GPD
GDM (30) GPD (15)
Neuropatia perifrica sensitivo-motora (NPSM) 16,7 % (5) 6,7 % (1) Neuropatia autonmica cardaca (NAC) 6,7 % (2) 26,6 % (4) NPSM + NAC 36,6 % (11) 13,3 % (2)
60,0 % (18) 46,6 % (7)
O GDM apresentou uma frequncia de 60% de indivduos com algum tipo de
neuropatia diabtica. Do total de indivduos desse grupo, 16,7% apresentou
diagnstico confirmado NPSM. Em relao NAC, 6,7 % dos indivduos do GDM
mostrou esse diagnstico isolado. O restante dos indivduos neuropticos do GDM,
36,6 %, apresentou associao de NPSM e NAC. O MNSI-adaptado foi sensvel
para apenas 6 indivduos do GDM que apresentaram NPSM. Entre os indivduos
com neuropatia pertencentes ao GDM, prevaleceu a associao entre NPSMS e
NAC.
O GPD mostrou uma frequncia de 14,3% dos indivduos com algum tipo de
neuropatia. Do total de indivduos neuropticos, 6,7% apresentou diagnstico
confirmado para NPSM. Em relao NAC, 26,6 % dos indivduos do GPD
apresentou esse diagnstico. Do restante de indivduos do GPD, com neuropatia,
13,3 %, tinha associao de NPSM e NAC. Por outro lado, o MNSI-adaptado foi
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sensvel para apenas 2 indivduos do GPD que apresentaram NPSM. Entre os
indivduos com neuropatia, pertencentes ao GPD, prevaleceu a NAC.
Baropodometria dinmica
Na comparao das variveis referentes baropodometria dinmica, entre
os subgrupos do GDM, foi encontrada diferena estatisticamente significativa em
relao ao percentual do tempo de contato, que se mostrou elevado no GDMCN em
relao ao GDMSN, nas regies plantares do calcanhar e mediop. Nas demais
regies plantares no foram encontradas diferenas significativas entre os
subgrupos. Tambm no foram encontradas diferenas significativas entre os
subgrupos do GDM, nas variveis picos de presso plantar, tempo de contato,
integral da presso versus o tempo e percentual da rea de contato, em nenhuma
das regies estudadas, conforme pode ser observado no quadro 3.1.
Em relao aos subgrupos do GPD, ocorreram diferenas significativas na
regio plantar do hlux, nas variveis pico de presso plantar e integral da presso
versus o tempo, em que o GPDSN apresentou valores mais elevados dessas
variveis na mesma regio plantar em relao ao GPDCN. Nas demais regies
plantares essas variveis no apresentaram diferenas significativas entre os
subgrupos. Tambm no foram encontradas diferenas significativas entre os
subgrupos do GPD, em nenhuma das regies estudadas, em relao s variveis
tempo de contato, percentual do tempo de contato durante o passo e percentual da
rea de contato (quadro 3.2).
O GDM e GPD foram mantidos heterogneos em relao presena ou
ausncia de NPSM ou NAC, a partir dos resultados anteriores, para comparao das
variveis baropodomtricas entre GC, GDM e GPD, assim como nas correlaes.
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Tabela 3.4 Picos de presso (kPa)
GC GDM GPD
Regio X (kPa) sd X (kPa) sd X (kPa) sd p
Calcanhar 327 62 322 84 312 64 0,786
Mediop 137* 36 162 44 173 44 0,004
Metatarsos 412* 72 481 109 510 110
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Na tabela 3.5 esto os valores mdios do tempo de contato total do passo e
do tempo de contato de cada regio plantar estudada, ocorrido durante a marcha
realizada conforme o protocolo de baropodometria dinmica. O GDM apresentou um
tempo total significativamente maior em relao aos demais grupos. J em relao
ao tempo de contato das regies plantares, observou-se um tempo de contato
significativamente maior na regio plantar do hlux do GDM em relao aos demais
grupos. O tempo de contato das regies plantares dos metatarsos e mediop foi
significativamente maior no GDM e GPD, em relao ao GC, sendo que entre GDM
e GPD no houve diferena significativa. O tempo de contato da regio plantar do
calcanhar no apresentou diferena significativa entre os grupos.
Tabela 3.5 Tempo de contato (ms)
GC GDM GPD
Regio X (ms) sd X (ms) sd X (ms) sd p
Calcanhar 598,4 120,6 695,8 134,2 662,0 90,1 0,051
Mediop 628,3* 128,7 755,7 141,3 754,8 83,6
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diferena significativa. Os percentuais do tempo de contato das regies plantares do
calcanhar e dos dedos no apresentaram diferena significa