2007__317_fevereiro-marco

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Jornal da ABI Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa 317 Duas datas marcantes: Victor Civita, 100 anos; Ziraldo, 75 Comemorações exaltam o fundador da Editora Abril, que importou o Pato Donald, e o criador do Menino Maluquinho, 2 milhões de exemplares vendidos.Páginas 27 e 28 FEDERAL AGE NA MOITA CONTRA TRÊS JORNALISTAS EXPEDIENTE DE EX-MINISTRO GERA INVESTIGAÇÃO EM SIGILO SOBRE PROFISSIONAIS DE ISTOÉ E VEJA. PÁGINA 15 UERJ DECLARA 2007 O ANO BARBOSA LIMA CÍCERO SANDRONI, BECHARA E PROENÇA FILHO FALAM SOBRE ELE NA BIBLIOTECA NACIONAL. PÁGINA 25 CLÁUDIO LEMBO, NOVO SÓCIO, VISITA A ABI EX-GOVERNADOR DE SÃO PAULO PERCORRE A CASA E SE ENCANTA COM A BIBLIOTECA BASTOS TIGRE. PÁGINA 23 A GUERRA DO IRAQUE, PIOR QUE A DO VIETNÃ CONFLITO COM DURAÇÃO DE QUATRO ANOS MATOU MAIS JORNALISTAS DO QUE OS TREZE DO VIETNÃ. PÁGINA 17 O cartunista Ota fala sobre a crise dos quadrinhos na série Estação ABI. Página 24 ABI PENSA O HUMOR TEMPOS DE GUERRA Assaltos e tiroteios freqüentes entre bandidos e policiais espalham mortes, terror e medo no Rio, O que mudou na cidade? Páginas 3, 4, 5 e 6 e Editorial na página 2 MARIA I GNEZ DUQUE E STRADA E ARMANDO NOGUEIRA Alberto Ferreira: uma lente que captou a dor e o virtuosismo de Pelé Vidas, Páginas 35 Ela ouviu celebridades para jornais; ele deu mais ética ao jornalismo da televisão Páginas 10, 11, 12 e l3; 18. 19, 20 e 21 GUILHERME PINTO /AG. O GLOBO

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Jornal da ABIÓrgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa

317

Duas datas marcantes: Victor Civita, 100 anos; Ziraldo, 75Comemorações exaltam o fundador da Editora Abril, que importou o Pato Donald, e o criador do Menino Maluquinho, 2 milhões de exemplares vendidos.Páginas 27 e 28

FEDERAL AGE NA MOITACONTRA TRÊS JORNALISTAS

EXPEDIENTE DE EX-MINISTRO GERAINVESTIGAÇÃO EM SIGILO SOBRE

PROFISSIONAIS DE ISTOÉ E VEJA. PÁGINA 15

UERJ DECLARA 2007O ANO BARBOSA LIMA

CÍCERO SANDRONI, BECHARA E PROENÇAFILHO FALAM SOBRE ELE NA BIBLIOTECA

NACIONAL. PÁGINA 25

CLÁUDIO LEMBO, NOVOSÓCIO, VISITA A ABI

EX-GOVERNADOR DE SÃO PAULO PERCORREA CASA E SE ENCANTA COM A BIBLIOTECA

BASTOS TIGRE. PÁGINA 23

A GUERRA DO IRAQUE,PIOR QUE A DO VIETNÃ

CONFLITO COM DURAÇÃO DE QUATRO ANOSMATOU MAIS JORNALISTAS DO QUE OS TREZE

DO VIETNÃ. PÁGINA 17

O cartunista Ota falasobre a crise dos

quadrinhos na sérieEstação ABI. Página 24

ABI PENSAO HUMOR

TEMPOS DE GUERRAAssaltos e tiroteios freqüentes entre bandidos e policiais espalham mortes, terror e medo no Rio, O que mudou na cidade?

Páginas 3, 4, 5 e 6 e Editorial na página 2

MARIA IGNEZ DUQUE ESTRADAE ARMANDO NOGUEIRA

Alberto Ferreira: umalente que captou a dore o virtuosismo de Pelé

Vidas, Páginas 35

Ela ouviu celebridades parajornais; ele deu mais éticaao jornalismo da televisão

Páginas 10, 11, 12 e l3; 18. 19, 20 e 21

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2 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

Especial Direitos Humanos - Sobra violência! 3Artigo: A peregrinação de José e Thereza pelos caminhos do mundo 8Maria Ignez Duque Estrada - A repórter de celebridades 10Ziraldo, 75 anos 18Cultura é com Gorgulho / Derengoski no Instituto Histórico 19Armando Nogueira - Seriedade e ética no jornalismo de tv 20Seminário abre o Ano Barbosa Lima 27Mil no ato pelas vítimas do Holocausto 28Victor Civita, 100 anos 29Nas livrarias o Graciliano de Audálio 30O jornal que fez a Independência 31Um canal de esportes, o dia todo / Tognozzi, nosso homem em Brasília 32Nossos mortos dão nomes a 10 ruas 33 Jornal da ABI

Associação Brasileira de Imprensa

Rua Araújo Porto Alegre, 71, 7º andarTelefone: (21) 2220-3222/2282-1292 Cep: 22.030-012Rio de Janeiro - RJ ([email protected])Editores: Francisco Ucha, Joseti Marques e Maurício AzêdoProjeto gráfico, diagramaçãoe editoração eletrônica: Francisco UchaApoio à produção editorial: Ana Paula Aguiar,Fernando Luiz Baptista Martins, Guilherme Povill Vianna,José Ubiratan Solino, Maria Ilka Azêdo e Solange Noronha.Diretor responsável: Maurício AzêdoImpressão: Gráfica LanceRua Santa Maria, 47 - Cidade Nova - Rio de Janeiro, RJ.

As reportagens e artigos assinados não refletemnecessariamente a opinião do Jornal da ABI.

DIRETORIA – MANDATO 2004/2007Presidente: Maurício AzêdoVice-Presidente: Audálio DantasDiretor Administrativo: –Diretor Econômico-Financeiro: Domingos MeirellesDiretor de Cultura e Lazer: Jesus ChediakDiretor de Assistência Social: Paulo Jerônimo de Souza (Pajê)Diretora de Jornalismo: Joseti Marques

CONSELHO CONSULTIVOChico Caruso, Ferreira Gullar, José Aparecido de Oliveira,Miro Teixeira, Teixeira Heizer, Ziraldo e Zuenir Ventura

CONSELHO FISCALJesus Antunes, Presidente; Argemiro Lopes do Nascimento, Secretário;Adriano do Nascimento Barbosa, Arthur Auto Nery Cabral, GeraldoPereira dos Santos, Jorge Saldanha e Luiz Carlos de Oliveira Chester.

CONSELHO DELIBERATIVO (2006-2007)Presidente: Fernando Segismundo1º Secretário: Estanislau Alves de Oliveira2º Secretário: Maurílio Cândido Ferreira

Conselheiros efetivos (2006-2009)Antônio Roberto Salgado da Cunha, Arnaldo César Ricci Jacob,Arthur Cantalice, Aziz Ahmed, Cecília Costa, Domingos Augusto Xistoda Cunha, Domingos Meirelles, Fernando Segismundo, Glória SuelyAlvarez Campos, Heloneida Studart, Jorge Miranda Jordão,Lênin Novaes de Araújo, Márcia Guimarães, Nacif Elias Hidd Sobrinhoe Pery de Araújo Cotta.

Conselheiros efetivos (2005-2008)Alberto Dines, Amicucci Gallo, Ana Maria Costábile,Araquém Moura Rouliex, Arthur José Poerner, Audálio Dantas,Carlos Arthur Pitombeira, Conrado Pereira (in memoriam),Ely Moreira, Fernando Barbosa Lima, Joseti Marques, Mário Barata,Maurício Azêdo, Milton Coelho da Graça e Ricardo Kotscho

Conselheiros efetivos (2004-2007)Antonieta Vieira dos Santos, Arthur da Távola, Cid Benjamin,Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Héris Arnt, Irene Cristina Gurgel do Amaral,Ivan Cavalcanti Proença, José Gomes Talarico, José Rezende,Marceu Vieira, Paulo Jerônimo, Roberto M. Moura (in memoriam),Sérgio Cabral e Teresinha Santos

Conselheiros suplentes (2006-2009)Antônio Avellar, Antônio Calegari, Antônio Carlos Austregésilode Athayde, Antônio Henrique Lago, Carlos Eduard Rzezak Ulup,Estanislau Alves de Oliveira, Hildeberto Lopes Aleluia, Jorge Freitas,Luiz Carlos Bittencourt, Marco Aurélio Barrandon Guimarães,Marcus Miranda, Mauro dos Santos Viana, Oséas de Carvalho,Rogério Marques Gomes e Yeda Octaviano de Souza.

Conselheiros suplentes (2005-2008)Anísio Félix dos Santos, Edgard Catoira, Francisco de Paula Freitas,Geraldo Lopes (in memoriam), Itamar Guerreiro, Jarbas DomingosVaz, José Amaral Argolo, José Pereira da Silva, Lêda Acquarone, ManoloEpelbaum, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Pedro do Coutto,Sidney Rezende, Sílvio Paixão e Wilson S. J. Magalhães

Conselheiros suplentes (2004-2007)Adalberto Diniz, Aluísio Maranhão, Ancelmo Gois, André Louzeiro,Jesus Chediak, José Silvestre Gorgulho, José Louzeiro, Lílian Nabuco,Luarlindo Ernesto, Marcos de Castro, Mário Augusto Jakobskind,Marlene Custódio, Maurílio Cândido Ferreira e Yaci Nunes

COMISSÃO DE SINDICÂNCIAEly Moreira, Presidente, Jarbas Domingos Vaz, José Ernesto Vianna,Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Maurílio Cândido Ferreira

COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃOAlberto Dines, Artur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filhoe Paulo Totti

COMISSÃO DE LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOSAudálio Dantas, Presidente; Arthur Cantalice, Secretário; Arthur NeryCabral, Daniel de Castro, Germando Oliveira Gonçalves, GilbertoMagalhães, Lucy Mary Carneiro, Maria Cecília Ribas Carneiro, MárioAugusto Jakobskind, Martha Arruda de Paiva, Orpheu Santos Salles,Wilson de Carvalho, Wilson S. J. Magalhães e Yaci Nunes

Barbárie à solta

EditorialEditorial

Nesta EdiçãoNesta Edição

SEÇÕESDIREITOS HUMANOS Delane, há um ano desaparecido 7LIBERDADE DE IMPRENSA Portugal deixa sua imprensa à míngua 14

Editor e colunistas de revistas sob ameaça da Polícia Federal 15Guerra do Iraque matou mais jornalistas do que a do Vietnã 17

ACONTECEU NA ABI As propostas de Fruet 24Entre nós, Cláudio Lembo, nosso novo sócio 25Samba faz festa para Família Santa Clara 25Ota: A salvação dos quadrinhos 26

VIDAS - Alberto Ferreira, Anísio Félix, Antônio José Chediak, Gerardo de Melo Mourão, Júlio Camargo 34

A A A A A POPULAÇÃOPOPULAÇÃOPOPULAÇÃOPOPULAÇÃOPOPULAÇÃO DODODODODO R R R R RIOIOIOIOIO EEEEE DEDEDEDEDE OUTROSOUTROSOUTROSOUTROSOUTROS CENCENCENCENCEN-----tros urbanos do Ptros urbanos do Ptros urbanos do Ptros urbanos do Ptros urbanos do País, agora sem distinção seaís, agora sem distinção seaís, agora sem distinção seaís, agora sem distinção seaís, agora sem distinção sesão grandes ou pequenos, tem recebido comsão grandes ou pequenos, tem recebido comsão grandes ou pequenos, tem recebido comsão grandes ou pequenos, tem recebido comsão grandes ou pequenos, tem recebido comestupefação e intranqüilidade as repetidasestupefação e intranqüilidade as repetidasestupefação e intranqüilidade as repetidasestupefação e intranqüilidade as repetidasestupefação e intranqüilidade as repetidasmanifestações da violência e da criminalida-manifestações da violência e da criminalida-manifestações da violência e da criminalida-manifestações da violência e da criminalida-manifestações da violência e da criminalida-de mais desaçaimadas, que romperam todosde mais desaçaimadas, que romperam todosde mais desaçaimadas, que romperam todosde mais desaçaimadas, que romperam todosde mais desaçaimadas, que romperam todosos limites do que é compreensível como exos limites do que é compreensível como exos limites do que é compreensível como exos limites do que é compreensível como exos limites do que é compreensível como ex-----pressão da anormalidade humana e descam-pressão da anormalidade humana e descam-pressão da anormalidade humana e descam-pressão da anormalidade humana e descam-pressão da anormalidade humana e descam-bam para a bestialidade mais repugnante.bam para a bestialidade mais repugnante.bam para a bestialidade mais repugnante.bam para a bestialidade mais repugnante.bam para a bestialidade mais repugnante.A tragédia do pequeno João Hélio, arrasta-A tragédia do pequeno João Hélio, arrasta-A tragédia do pequeno João Hélio, arrasta-A tragédia do pequeno João Hélio, arrasta-A tragédia do pequeno João Hélio, arrasta-

do até à morte por muitos quilômetros ata-do até à morte por muitos quilômetros ata-do até à morte por muitos quilômetros ata-do até à morte por muitos quilômetros ata-do até à morte por muitos quilômetros ata-do a um cinto de segurança do carro da mãe,do a um cinto de segurança do carro da mãe,do a um cinto de segurança do carro da mãe,do a um cinto de segurança do carro da mãe,do a um cinto de segurança do carro da mãe,é agora e ainda será por muito tempo moé agora e ainda será por muito tempo moé agora e ainda será por muito tempo moé agora e ainda será por muito tempo moé agora e ainda será por muito tempo mo-----tivo de dor não apenas para sua família, seustivo de dor não apenas para sua família, seustivo de dor não apenas para sua família, seustivo de dor não apenas para sua família, seustivo de dor não apenas para sua família, seuspais e sua irmã, mas para todos quantospais e sua irmã, mas para todos quantospais e sua irmã, mas para todos quantospais e sua irmã, mas para todos quantospais e sua irmã, mas para todos quantosaspiram a viver numa sociedade civilizadaaspiram a viver numa sociedade civilizadaaspiram a viver numa sociedade civilizadaaspiram a viver numa sociedade civilizadaaspiram a viver numa sociedade civilizadaem que os liames de solidariedade e de res-em que os liames de solidariedade e de res-em que os liames de solidariedade e de res-em que os liames de solidariedade e de res-em que os liames de solidariedade e de res-peito recíproco entre as pessoas não sejampeito recíproco entre as pessoas não sejampeito recíproco entre as pessoas não sejampeito recíproco entre as pessoas não sejampeito recíproco entre as pessoas não sejamesgarçados como neste momento inundadoesgarçados como neste momento inundadoesgarçados como neste momento inundadoesgarçados como neste momento inundadoesgarçados como neste momento inundadode brutalidade que vivemos, no varejo e node brutalidade que vivemos, no varejo e node brutalidade que vivemos, no varejo e node brutalidade que vivemos, no varejo e node brutalidade que vivemos, no varejo e noatacado, a cada dia e na sucessão dos dias.atacado, a cada dia e na sucessão dos dias.atacado, a cada dia e na sucessão dos dias.atacado, a cada dia e na sucessão dos dias.atacado, a cada dia e na sucessão dos dias.A desumanidade presente nesse caso sus-A desumanidade presente nesse caso sus-A desumanidade presente nesse caso sus-A desumanidade presente nesse caso sus-A desumanidade presente nesse caso sus-

cita preocupações que ultrapassam em muitocita preocupações que ultrapassam em muitocita preocupações que ultrapassam em muitocita preocupações que ultrapassam em muitocita preocupações que ultrapassam em muitoos contornos de um caso policial. Essa ca-os contornos de um caso policial. Essa ca-os contornos de um caso policial. Essa ca-os contornos de um caso policial. Essa ca-os contornos de um caso policial. Essa ca-rência de traços e sentimentos humanos érência de traços e sentimentos humanos érência de traços e sentimentos humanos érência de traços e sentimentos humanos érência de traços e sentimentos humanos ésintoma de que vivemos um momento emsintoma de que vivemos um momento emsintoma de que vivemos um momento emsintoma de que vivemos um momento emsintoma de que vivemos um momento emque numeroso segmento da sociedade estáque numeroso segmento da sociedade estáque numeroso segmento da sociedade estáque numeroso segmento da sociedade estáque numeroso segmento da sociedade estádestituído e distante de valores essenciaisdestituído e distante de valores essenciaisdestituído e distante de valores essenciaisdestituído e distante de valores essenciaisdestituído e distante de valores essenciaisà convivência coletiva. O desapreço à vida,à convivência coletiva. O desapreço à vida,à convivência coletiva. O desapreço à vida,à convivência coletiva. O desapreço à vida,à convivência coletiva. O desapreço à vida,a própria e a dos outros; a busca do prazera própria e a dos outros; a busca do prazera própria e a dos outros; a busca do prazera própria e a dos outros; a busca do prazera própria e a dos outros; a busca do prazerimerecido e da vantagem fácil; a generali-imerecido e da vantagem fácil; a generali-imerecido e da vantagem fácil; a generali-imerecido e da vantagem fácil; a generali-imerecido e da vantagem fácil; a generali-zação a níveis preocupantes da sensação dezação a níveis preocupantes da sensação dezação a níveis preocupantes da sensação dezação a níveis preocupantes da sensação dezação a níveis preocupantes da sensação deimpunidade e a constância com que esta éimpunidade e a constância com que esta éimpunidade e a constância com que esta éimpunidade e a constância com que esta éimpunidade e a constância com que esta é

escancarada ante o olhar indignado do con-escancarada ante o olhar indignado do con-escancarada ante o olhar indignado do con-escancarada ante o olhar indignado do con-escancarada ante o olhar indignado do con-junto da sociedade, com os pequenos e osjunto da sociedade, com os pequenos e osjunto da sociedade, com os pequenos e osjunto da sociedade, com os pequenos e osjunto da sociedade, com os pequenos e osgrandes ladrões acobertados e premiadosgrandes ladrões acobertados e premiadosgrandes ladrões acobertados e premiadosgrandes ladrões acobertados e premiadosgrandes ladrões acobertados e premiadosem vez de punidos; o desrespeito à coisaem vez de punidos; o desrespeito à coisaem vez de punidos; o desrespeito à coisaem vez de punidos; o desrespeito à coisaem vez de punidos; o desrespeito à coisapública e o desconhecimento da noção depública e o desconhecimento da noção depública e o desconhecimento da noção depública e o desconhecimento da noção depública e o desconhecimento da noção deserserserserservirvirvirvirvir, tudo isso oferece demonstração, si-, tudo isso oferece demonstração, si-, tudo isso oferece demonstração, si-, tudo isso oferece demonstração, si-, tudo isso oferece demonstração, si-nais inequívocos de que a sociedade está donais inequívocos de que a sociedade está donais inequívocos de que a sociedade está donais inequívocos de que a sociedade está donais inequívocos de que a sociedade está do-----ente, muito doente, e não encontrará bál-ente, muito doente, e não encontrará bál-ente, muito doente, e não encontrará bál-ente, muito doente, e não encontrará bál-ente, muito doente, e não encontrará bál-samo em medidas que ignorem as fontes esamo em medidas que ignorem as fontes esamo em medidas que ignorem as fontes esamo em medidas que ignorem as fontes esamo em medidas que ignorem as fontes eas causas de sua falta de sanidade. Em de-as causas de sua falta de sanidade. Em de-as causas de sua falta de sanidade. Em de-as causas de sua falta de sanidade. Em de-as causas de sua falta de sanidade. Em de-claração que ainda preserva extrema atua-claração que ainda preserva extrema atua-claração que ainda preserva extrema atua-claração que ainda preserva extrema atua-claração que ainda preserva extrema atua-lidade, eminentes juristas de São Plidade, eminentes juristas de São Plidade, eminentes juristas de São Plidade, eminentes juristas de São Plidade, eminentes juristas de São Paulo aleraulo aleraulo aleraulo aleraulo aler-----taram em maio passado que estamos em meiotaram em maio passado que estamos em meiotaram em maio passado que estamos em meiotaram em maio passado que estamos em meiotaram em maio passado que estamos em meioà barbárie e que esta não será superada comà barbárie e que esta não será superada comà barbárie e que esta não será superada comà barbárie e que esta não será superada comà barbárie e que esta não será superada comtruculência; somente será resolvida com maistruculência; somente será resolvida com maistruculência; somente será resolvida com maistruculência; somente será resolvida com maistruculência; somente será resolvida com maiscivilização.civilização.civilização.civilização.civilização.Os meios de comunicação têm relevanteOs meios de comunicação têm relevanteOs meios de comunicação têm relevanteOs meios de comunicação têm relevanteOs meios de comunicação têm relevante

missão a cumprir na difusão de conceitosmissão a cumprir na difusão de conceitosmissão a cumprir na difusão de conceitosmissão a cumprir na difusão de conceitosmissão a cumprir na difusão de conceitosque modifiquem esse adoentado estado deque modifiquem esse adoentado estado deque modifiquem esse adoentado estado deque modifiquem esse adoentado estado deque modifiquem esse adoentado estado decoisas; que promovam a socialização decoisas; que promovam a socialização decoisas; que promovam a socialização decoisas; que promovam a socialização decoisas; que promovam a socialização depreceitos que contribuam para que o res-preceitos que contribuam para que o res-preceitos que contribuam para que o res-preceitos que contribuam para que o res-preceitos que contribuam para que o res-peito aos valores agora desdenhados alcan-peito aos valores agora desdenhados alcan-peito aos valores agora desdenhados alcan-peito aos valores agora desdenhados alcan-peito aos valores agora desdenhados alcan-ce o conjunto da população, com uma efi-ce o conjunto da população, com uma efi-ce o conjunto da população, com uma efi-ce o conjunto da população, com uma efi-ce o conjunto da população, com uma efi-cácia que permita a redução paulatina, ain-cácia que permita a redução paulatina, ain-cácia que permita a redução paulatina, ain-cácia que permita a redução paulatina, ain-cácia que permita a redução paulatina, ain-da que lenta e demorada, dos padrões abje-da que lenta e demorada, dos padrões abje-da que lenta e demorada, dos padrões abje-da que lenta e demorada, dos padrões abje-da que lenta e demorada, dos padrões abje-tos de comportamento individual e coleti-tos de comportamento individual e coleti-tos de comportamento individual e coleti-tos de comportamento individual e coleti-tos de comportamento individual e coleti-vo que agora nos cobrem de opróbrio e devo que agora nos cobrem de opróbrio e devo que agora nos cobrem de opróbrio e devo que agora nos cobrem de opróbrio e devo que agora nos cobrem de opróbrio e devergonha, por seu caráter degenerado, evergonha, por seu caráter degenerado, evergonha, por seu caráter degenerado, evergonha, por seu caráter degenerado, evergonha, por seu caráter degenerado, esacrificam tantas vidas, cortandosacrificam tantas vidas, cortandosacrificam tantas vidas, cortandosacrificam tantas vidas, cortandosacrificam tantas vidas, cortando-as com-as com-as com-as com-as comcega impiedade. O pequeno João Héliocega impiedade. O pequeno João Héliocega impiedade. O pequeno João Héliocega impiedade. O pequeno João Héliocega impiedade. O pequeno João Héliomerecia viver numa sociedade digna. Seusmerecia viver numa sociedade digna. Seusmerecia viver numa sociedade digna. Seusmerecia viver numa sociedade digna. Seusmerecia viver numa sociedade digna. Seuscontemporâneos -- todos nós -- têm obri-contemporâneos -- todos nós -- têm obri-contemporâneos -- todos nós -- têm obri-contemporâneos -- todos nós -- têm obri-contemporâneos -- todos nós -- têm obri-gação de construí-la.gação de construí-la.gação de construí-la.gação de construí-la.gação de construí-la.

3Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

ESPECIAL - DIREITOS HUMANOS

SOBRAVIOLÊNCIA!

A sociedade assistiu com estupor neste começo de ano a ações criminosas debrutalidade estarrecedora, numa indicação de que a violência escapou ao controle

do Poder Público e cresce não apenas em número, mas também em impiedade.Balas referidas como perdidas e assaltos à luz do dia atingem tanto as vitimas diretas

dessas ações como o conjunto da cidadania, pelo qual se espalham medo e desassossego.

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Missa contra a violência no Centro do Rio de Janeiro

4 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

ESPECIAL - DIREITOS HUMANOS

esta vez a ABI e a comunida-de jornalística do Rio, que faza contabilidade sinistra daviolência desalmada quecampeia na Cidade e no Es-

tado, foram atingidas diretamente nacarne: o jovem professor de EducaçãoFísica Vladimir Novaes, de 28 anos, fi-lho do Conselheiro da ABI Lênin Nova-

Jovem professor de Educação Física, filho de um Conselheiro da Casa, é morto porsuposta bala perdida quando, de madrugada, voltava para casa após uma noitada de

trabalho. A ABI contesta o jargão de que se trata de balas perdidas: elas não são perdidas;partem de armas de criminosos e policiais que, desumana e irresponsavelmente, atiram a

esmo, sem o menor respeito à vida e à integridade das pessoas.

VLADIMIR, ASÉTIMA VÍTIMA

es, foi morto por uma suposta bala per-dida quando, após uma noite de traba-lho, voltava para casa numa Kombi detransporte coletivo. A violência golpeouVladimir quando o veículo passava pelaAvenida dos Democráticos, no subúrbiocarioca de Manguinhos, cenário fre-qüente de enfrentamentos a tiros de re-vólveres, escopetas e metralhadorastravados entre si por quadrilhas e entrequadrilhas e policiais.

Além de divulgar vigorosa nota deprotesto, a ABI iniciou uma articulaçãoentre entidades representativas da soci-edade civil voltadas para a defesa dosdireitos humanos, a fim de definir eprogramar iniciativas de repúdio à vio-lência e para reclamar ações mais efica-zes das autoridades do Estado do Rio e daUnião para contenção ou diminuição doshomicídios em série: Vladimir foi a sé-tima vitima nos três primeiros meses doano das impropriamente chamadas ba-las perdidas. À frente da coordenação, como coração ferido, está o companheiroLênin Novaes, pai de Vladimir. A decla-ração da ABI foi a seguinte:

“A ABI manifestou neste domingo,dia 25, seu pesar pela ocorrência de maisuma morte causada por bala perdida,desta vez tendo como vítima o jovemprofessor de Educação Física VladimirNovaes de Araújo, filho de seu Conse-lheiro Lênin Novaes de Araújo e deCreuza das Graças de Oliveira. Vladi-mir, de 28 anos, foi ferido no tórax poruma bala que o atingiu no interior deuma Kombi quando o veículo trafega-va de madrugada pela Avenida dosDemocráticos, nas proximidades daFavela de Manguinhos, em Bonsuces-so, no Rio de Janeiro. Socorrido noHospital Getúlio Vargas, na Penha, nãoresistiu aos ferimentos. Vladimir vol-tava de um espetáculo de música popu-lar e dormia quando foi baleado.

Vladimir foi sepultado no Cemité-rio de Inhaúma no fim da manhã destasegunda-feira, dia 26, após uma vigíliamarcada por cenas de dor e desespero.Sua mãe, Creuza, teve de ser afastadado esquife e socorrida: sua pressãochegou a 28. Entre as centenas de pre-

sentes encontravam-se colegas de Vla-dimir no curso de Educação Física e ematividades esportivas, muitos dos quaischoravam, inconsoláveis. A ABI fez-serepresentar na cerimônia por seu Pre-sidente, Maurício Azêdo, e pelos Con-selheiros Amicucci Gallo e DomingosXisto da Cunha.

Além de levar sua palavra de confor-to ao jornalista Lênin Novaes de Araú-jo, a ABI considerou necessário expres-sar seu protesto diante da insegurançaque afeta o dia-a-dia das pessoas comunsde todas as condições sociais, as quais nãocontam com um aparato eficaz de po-liciamento, para prevenir ocorrênciasque lhes causem lesões e padecimentos,nem com um sistema de investigaçãoque conduza à identificação dos auto-res dos atos criminosos e permita a suaresponsabilização penal. O jovem pro-fessor Vladimir foi a sétima vítima fa-tal de balas perdidas dentre as 29 alcan-çadas por disparos dessa origem somen-te neste mês de março.

O que causa especial indignação, agra-vando o sentimento de dor pelo sacrifí-cio de tantos inocentes, é a indiferençae o conformismo com que as autorida-des da União, do Estado e do Municípiodo Rio de Janeiro acolhem os repetidoscasos de balas perdidas, como esse quevitimou o professor Vladimir, como sefosse natural, inelutável, a freqüênciacom que ocorrem os casos de balas im-propriamente chamadas de perdidas.Essas balas não são perdidas; partem dearmas de criminosos e de agentes polici-ais, que atiram a esmo, desumana e irres-ponsavelmente, sem o menor respeito àvida e à integridade física das pessoas.Perdida é a vergonha na cara daqueles quetêm a obrigação funcional de garantir asegurança coletiva e se revelam incom-petentes no exercício de encargo de tan-ta importância para a vida e o bem-estarda população.”D

Creuza das Graças eLênin Novaes, pais, e

Nadja, irmã deVladimir, choram ante

o corpo do jovemprofessor, alvejado no

tórax por uma balaimpropriamente

chamada de perdida.

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5Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

descarga emocional que mis-turou perplexidade, indigna-ção, revolta e a sensação de ab-soluta impotência diante dabrutalidade do assassinato do

menino João Hélio buliu com a memóriado veterano repórter, vergado ao peso deseis décadas de atividade ininterrupta e queacreditava que já não tinha mais nada denovo a ver nem de se indignar.

Não cobri o setor policial. Nos temposde iniciante na antiga A Notícia de Cân-dido de Campos e Silva Ramos a única salada Redação definia o estilo de convivên-cia e intimidade, sem as frias e sofistica-das divisões da era da informática, no jeitode salas de parto. Espremia-se no segun-do andar de modesto prédio na AvenidaRio Branco, entre as Ruas da Assembléiae Sete de Setembro, com a carcomida mesaao centro, cercada de cadeiras em que cadaum se acomodava para redigir as maté-rias, nas laudas de sobras das bobinas, apa-radas a facão, com canetas-tinteiro bara-tas, compradas nos camelôs.

Ali, na sala sem baias e biombos, sabí-amos de tudo que acontecia de importanteno Rio, no Brasil e no mundo, inclusiveos grandes crimes de violência passional,de sádica crueldade, do desatino do ciú-me, das tragédias das traições nos desen-ganos do amor. E não amarguei o impac-to que sombreou a vista, umedeceu osolhos, travou a garganta e disparou ocoração como no tranco na alma domartírio do menino João Hélio.

O que mudou tanto em 60 anos, nes-ga insignificante de tempo na história deuma cidade?

A insônia que rola a madrugada revêo filme em preto e branco do Rio da perdidacordialidade, amorável, alegre, que envol-

via o forasteiro e o transformava emcarioca de nascença.

Para acudir as despesas da família espi-chei o dia e a noite e acumulei bicos emjornais, revistas, rádios e mais tarde natelevisão. Como a maioria das Redaçõesespalhava-se pelo Centro da cidade para afacilidade de acesso aos ministérios, autar-quias, Senado, Câmara de Deputados, Câ-mara dos Vereadores, era a pé que cobría-mos as distâncias no desafio da mocidadeao cansaço da estafante jornada diária.

Por muitos anos trabalhei no finadoDiário de Notícias, instalado em sobradocolonial na Rua da Constituição, quecruza a Praça Tiradentes. Na sala de re-portagem política, em cima da fornalhadas rotativas, aprendi com uma equipefabulosa, que ilustra a crônica da impren-sa e da cidade: Prudente de Morais, neto,o Pedro Dantas, Heráclio Salles, PedroGomes e, na cobertura parlamentar, JoséWamberto e Castelo Branco.

Depois de horas de busca da notícia noPalácio Tiradentes, sede da Câmara deDeputados, do Senado no Palácio Monroe,derrubado pela estupidez, o serão entra-va pela noite e pela madrugada. Nuncaantes da uma, duas horas descíamos os

degraus da velha escada rangente. À por-ta, os grupos buscavam seus caminhos.Com o Odylo e o Heráclio repetíamos acaminhada da rotina, atravessando a PraçaTiradentes, descendo a Rua da Carioca atéo Tabuleiro da Baiana para esperar o bon-de do horário incerto. E jamais nos passoupela cabeça medo, o simples temor deassalto, roubo, violência ou desacato.

A cidade era nossa. Do povo. Do tran-seunte rico, pobre ou remediado; adul-to, homem, mulher ou criança.

Quando do lançamento de O Dia, comas prerrogativas de fundador, criei osComandos Parlamentares, de enormesucesso popular. Com dois ou três depu-tados e senadores convidados, todas asquartas-feiras partíamos de manhã da sededo jornal para as visitas de surpresa aosendereços previamente escolhidos e queprometiam matérias de repercussão.

Com senadores e deputados subi de-zenas de favelas nos quatro cantos da ci-dade. Sem aviso prévio. Descíamos dacamionete do jornal, com o fotógrafo,caminhávamos diretamente até a biroscapara o dedo de prosa. Logo se aproxima-va o chefe do local, geralmente o bichei-ro e/ou também presidente da associa-

Dois textos que questionam as raízes da violência, como a do brutal assassinatodo menino João Hélio, arrastado como uma coisa por mais de sete quilômetros,

nos subúrbios do Rio, por assaltantes, um deles de 16 anos, que roubaram ocarro de sua mãe, em cujo banco traseiro ele dormia.

O que aconteceucom a cidade

cordial?

A MORTE DOMENINO JOÃO HÉLIO

ção comunitária. E, sem pedir licença, su-bíamos pelos becos e vielas acompanha-dos por moradores. Nunca fomos barra-dos, interrogados, suspeitados.

O que corrompeu a cidade cordial efraterna em seis décadas? Não faltam ex-plicações de sociólogos e palpiteiros.Buscam justificativas as mais óbvias ousofisticadas, da invasão das drogas e odomínio do traficante que expulsou obicheiro à implosão populacional e suasvariantes. E ainda a passividade, a indi-ferença, a abulia de governos, partidos,candidatos que descobriram a mina devotos nas favelas, vilas, invasões espalhan-do a praga do populismo. E mais a implo-são dos profissionais do voto e gigolôs damiséria, do crime organizado, das fave-las, da juventude perdida.

O menino João Hélio Fernandes é aúltima vítima da falência do governo, dodescalabro moral do Legislativo, da soci-edade emparedada nas jaulas gradeadasdas casas e apartamentos.

Somos todos culpados.

A

Transcrito de A Voz da Serra, de Nova Friburgo, ediçãode 17 a 21 de fevereiro de 2007, página 8. Publicadooriginalmente com o título Memórias de velho repórter.

POR VILLAS-BÔAS CORRÊAUm dosprotestoscontra a ondade violênciano Rio: milcruzesfincadas sobrea areia dapraia deCopacabana,simbolizandoas vítimas dacriminalidadesem controle.

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6 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

brutalidade do crime que ti-rou a vida do menino JoãoHélio Fernandes, de 6 anos,chocou o País e tem demons-trado a força e o vigor da so-

ciedade quando se reúne em torno de umdeterminado objetivo e encontra a soli-dariedade da mídia. O conceito de soci-edade transmuta-se para o de opiniãopública, que se diferencia do primeiro porser um bloco de cidadãos articulados deforma crítica em torno de uma idéia quese propõe como alternativa ao que estáestabelecido.

O que dá a esta parcela da sociedade oscontornos de poder para fazer valer seusargumentos é a visibilidade que a mídiaem geral, e a imprensa em particular, dãoaos seus clamores, traduzindo-os emmanchetes contundentes, edições fortes,depoimentos emocionais, opiniões crí-ticas, ampliando a dramaticidade da re-alidade e legitimando os apelos pormedidas específicas. Neste momento, aimprensa é a própria opinião pública. Estáem seu papel e é a ela que devemos per-guntar, amplificando suas premissas téc-nicas para colocá-la no mesmo diapasãoda indignação da sociedade e da dimen-são da tragédia: ouviu os dois lados?

O princípio do contraditório é, para ojornalista, uma velha bússola que ajudaa não errar o caminho que conduz àimparcialidade e à isenção possíveis.

Nesta altura dos acontecimentos, aspersonagens da história já não são maisas mesmas; os lados já não são os mes-mos, separando assassinos e vítimas, masos dois lados da realidade que os produ-ziu. A cena do crime agora é outra, masa imprensa parece não se ter dado conta.Está ainda de plantão na delegacia. Per-deu a bússola. Que os políticos respon-dam apenas em uma direção para aten-der os clamores da opinião pública é com-preensível. Afinal, a opinião pública temo poder de destituí-los! Mas a imprensanão pode esquecer o outro lado da ques-tão e seguir de antolhos nos agendamen-tos que vêm mirando apenas o aprofun-damento da punição como solução paraum problema, como se o assassinato de

está para perseguir bandidos e botar gen-te na cadeia. Investigar números, estatís-ticas e indicadores sociais também deve-ria render matérias importantes, que cer-tamente levariam a criminosos contuma-zes e historicamente impunes.

Os dados mais recentes da publicaçãoRadar Social, do Ipea, Instituto de PesquisaEconômica Aplicada, do Ministério doPlanejamento, Orçamento e Gestão, dãoconta de que, no Brasil, 30% da popula-ção (52,5 milhões de pessoas) são pobres,vivendo com até meio salário-mínimo pormês. Os indigentes, estes sobrevivem commenos de ¼ de salário mínino (R$ 87,50)por mês e são 11,3% da população - 19,8milhões de pessoas!

Que os políticos declarem que a solu-ção está na esfera da Justiça e da Polícia,não é de se espantar. Provavelmente nãoestarão no mesmo lugar quando rebeli-ões em presídios superlotados de crian-ças e adolescentes produzirem manche-tes no futuro.

Há 36 anos, Vinicius de Moraes, Garo-to e Chico Buarque compuseram umamúsica que descrevia o começo da deca-dência e da miséria que hoje se abate sobreo subúrbio do Rio. A letra fala de "casastristes, com cadeiras na calçada, e na facha-da escrito em cima que é um lar". E con-cluíam emocionados: "é gente humilde,que vontade de chorar".

A imprensa também não pode perdera capacidade de se emocionar; não podeaderir à resposta fácil e deixar de ouvir ooutro lado, mesmo à custa do exercíciodifícil de se indignar sem perder a razão.

Grupos de parentes de vítimas de cha-cinas no Rio encaminharam mensagemao Governador do Estado do Rio, Sér-gio Cabral Filho, exigindo mudançasna área de segurança pública, que ale-gam não inspirar confiança. O texto dodocumento, assinado por 12 organiza-ções não-governamentais representan-tes das famílias, pede que o novo Go-vernador inclua o Ministério Públicodo Rio de Janeiro nas ações integradasde "combate à violência e às milícias (mi-neiras) que atuam há uma década noEstado".

Em sintonia com o discurso do pró-prio Governador quando estava em cam-panha, os solicitantes destacam, alegan-do experiência própria, que o Rio pre-cisa de polícia técnica sem indicação po-lítica. Afirmam que o fato de passaremuma década freqüentando órgãos liga-dos à área no Estado (como ouvidorias,delegacias e batalhões da PM) fez de cadaum deles, “vítimas diretas da violência,especialistas em segurança pública".

Assinam o documento as organiza-ções Mães e Familiares da Chacina doMaracanã, Grupo Mães do Rio, OngQuestão de Honra, Mães da Cinelân-dia, Familiares da Chacina da Cande-lária, Mães da Chacina do Via Show, Fa-miliares e Vítimas da Chacina de Quei-mados, Desaparecidos de Vigário Ge-ral 2005, Associação de Moradores deVigáro Geral, Associação de Familiarese Amigos das Vítimas de Violência (Afa-vi) e Cadec.

Entidades querepresentam famíliase vítimas de chacinasvão ao Governador.

A

Joseti Marques é Diretora de Jornalismo da ABI.

João Hélio fosse caso único, com ban-didos exclusivos, numa espécie de exce-ção à normalidade das relações huma-nas nestes tempos.

A velha técnica de humanizar a repor-tagem oferecendo a descrição do ambi-ente e ouvindo suas personagens temcomo premissa básica oferecer à opiniãopública o máximo de elementos para queela se manifeste de maneira sensata. Nestecaso, seria aconselhável que a reportagemvoltasse à cena do crime. Quem são os paisdos criminosos?

Como estão se sentindo diante daconstatação de que seus filhos são"monstros"? Que contexto social os cer-ca? Que expectativas um dia tiveramdiante da vida? Como seus filhos se tor-naram "monstros"? Sim, porque um diaeles também tiveram seis anos e é muitopouco provável que já fossem perverti-dos. Este é o outro lado da história. Porisso convém voltar à cena do crime, agoraque ninguém mais se interessa pelo local.A imprensa poderá encontrar outros com-parsas, quase mandantes, da brutalidadeque vitimou João Hélio: vai encontrarruas sujas de subúrbio, porque lá os garissó passam de quando em vez; vai encon-trar pedaços de ruas, em meio a buracosque ao longo de muitos anos nunca fo-ram tapados; vai encontrar ruas às escu-ras e crianças assustadas pelo fantasmaconcreto da violência, do estupro; vai en-contrar casas velhas, quase escombros,porque o empobrecimento é um fato ine-xorável na região; vai encontrar desem-pregados sem perspectivas, assediadospelo alcoolismo; vai ver mães com filhosdoentes de madrugada, à espera da con-dução que não vem para levá-la ao hos-pital que inúmeras vezes não a atende-rá; vai ver favelas onde se vota em gru-pos de milicianos, porque é o que há. Vaiver que não são apenas os carros de polí-cia que não passam por lá.

A morte do pequeno João Hélio nãopode servir apenas para colocar maisalguns bandidos na cadeia. Pensem nascrianças pobres inocentes! O chamadojornalismo investigativo não é autarquiada Secretaria de Segurança Pública; não

O que geraassaltantessem alma?

FAMÍLIASENLUTADASRECLAMAMMUDANÇAS

POR JOSETI MARQUES

ESPECIAL - DIREITOS HUMANOS

Uma imagem quecomoveu o País: JoãoHélio, com a suavidadede um anjo, desfruta docarinho dos pais, Élsone Rosa Cristina Vieites,que suportam comânimo forte a dolorosaprovação sofrida.

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7Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

A Juíza de Direito da Vara Única deGuapimirim, Myriam Therezinha Si-men Rangel Cury, acatou a denúncia daPromotora Marceli Navega contra o Ve-reador Osvaldo Luiz de Carvalho Vivaspela morte do jornalista Ajuricaba Mo-nassa, ocorrida no dia 24 de julho de 2006naquele Município do Estado do Rio.

Em seu despacho – proferido no Pro-cesso número 2006.073.001819-3 –, aJuíza manteve o enquadramento do réuno artigo 129, parágrafo 3º, do CódigoPenal, que define o crime de lesão corpo-ral seguido de morte, cuja pena podechegar a até 12 anos de reclusão.

O inquérito que apurou a morte do jor-nalista Ajuricaba Monassa foi concluí-do em 9 de agosto de 2006 pelo DelegadoLuiz Carlos dos Santos, titular da 65ª De-legacia de Polícia. No dia 4 de outubro,a Promotora Marceli Navega denunciouo vereador.

O Ministério Público do Trabalho doRio de Janeiro começou a investigar emjaneiro denúncia de que houve pagamen-to de indenização por rescisão contratu-al, com privilégios, a funcionários daantiga Varig ocupantes de cargos de ge-rência e de direção. A informação chegouà ABI e foi confirmada pelo Procuradordo Trabalho João Hilário Valentim, umdos responsáveis pela investigação.

Revelou o Procurador que o MPT re-cebeu denúncia anônima e a cópia de do-cumentos que comprovam que 20 fun-cionários, que já estão trabalhando naNova Varig, receberam a indenização. Umgerente teria recebido R$ 145 mil, enquan-to 9 mil funcionários continuam sem in-denização:

– O Ministério Público do Trabalhoestá investigando a identidade desses fun-cionários que teriam sido privilegiadoscom o pagamento de rescisão.

–Estamos apurando valores e quandoe como os pagamentos foram realizados,para adotar as medidas judiciais cabíveispara o caso – disse João Valentim.

Se forem confirmadas as denúncias,caberá ao Ministério Público do Trabalhopedir ao Juiz Roberto Ayoub, titular da 33ªVara Empresarial e responsável pelo pro-cesso de reestruturação da Varig, que sejaaberto processo por danos morais e o res-sarcimento do montante pago.

Em mensagem à ABI, o escritor parai-bano Agassis Almeirda comunicou a cri-ação na cidade de Sapé de um memorialdestinado a exaltar a memória dos traba-lhadores que, reunidos nas Ligas Campone-sas, lutaram pela reforma agrária nos anosque precederam ao golpe militar de 1º deabril de 1964. Entre os homenageados des-taca-se o líder camponês João Pedro Tei-xeira, fundador da Liga Camponesa de Sapé,assassinado em 1962 por latifundiários. Diza comunicação de Agassis Almeida:

• “A história das Ligas Camponesas naParaíba e sua importância para o País estãosendo resgatadas com a fundação doMemorial das Ligas Camponesas, em Sapé,núcleo do movimento que marcou a lutacontra as injustiças sociais desde a décadade 60. A organização não-governamentalque tem também por objetivo fazer jus-tiça à memória daqueles que deram a vidana luta pelos direitos dos trabalhadores foiinaugurada no domingo, dia 7 de janeiro,no Centro Social da cidade de Sapé. O eventocontou com ampla participação da comu-nidade sapeense e de líderes sindicais. Naocasião foram homenageados o escritore Deputado constituinte Agassiz Almei-da, cassado pelo golpe militar de 64, a lídercamponesa Elizabete Teixeira, viúva dolíder camponês João Pedro Teixeira, e o ex-Deputado Assis Lemos. Eleita a nova di-retoria da organização, foi escolhido pre-sidente o líder camponês Eduardo da Sil-va Costa, que ressaltou a importância deresgatar para a História o trabalho, a lutae o sacrifício daqueles que abraçaram háquase meio século as lutas dos trabalha-dores do campo sob a bandeira das LigasCamponesas e que por estas lutas perde-ram liberdades e vidas.

• Em 2 de abril de 1962, João PedroTeixeira, um dos fundadores das Ligas

Ao se completar, em 16 de março, um ano do desaparecimen-to de Roberto Delanne, a ABI, o Conselho Municipal de Defesados Direitos dos Negros-Comdedine, a Edições Condão e a Con-federação Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB-Leste 1 realiza-ram o ato Delanne, um ano de tortura social, para cobrar das au-toridades do Estado do Rio esclarecimentos sobre o que acon-teceu ao jornalista, professor e escritor Roberto Delanne.

Entre as instituições promotoras do evento estavam o jornalTribuna da Imprensa, o Instituto Nacional e Órgão Supremo Sa-cerdotal da Tradição e Cultura Afro-Brasileira, a Associação dosDefensores Públicos do Estado do Rio de Janeiro e o Grupo TorturaNunca Mais. O protesto aconteceu na Sala Belisário de Souza,na sede da ABI.

Em documento encaminhado à ABI, em que pediram a adesãoda Casa ao ato, os organizadores reclamam da omissão dasautoridades policiais. Eles alegam que, em entrevista realizadaem 25 de maio de 2006, o Comissário Domingos de Souza Lopes,então lotado na 62ª DP, informou que um dos depoentes sabiamais do que declarou à polícia.

Camponesas, foi covardemente assassina-do pelos latifundiários da Várzea do Para-íba. No outro dia, 3 de abril, a Paraíba e oPaís ouviram a palavra inflamada do jovemDeputado Agassiz Almeida, um dos ho-menageados no evento, da tribuna da As-sembléia Legislativa, contra os covardeslatifundiários. Na Assembléia Constitu-inte de 1986 estava lá aquele mesmo jo-vem defendendo os trabalhadores do País.O ex-Deputado Assis Lemos relembrou osesforços dos camponeses no início da dé-cada de 60. Elizabete Teixeira relatou todoo martirológio e a luta de João Pedro Tei-xeira em defesa dos camponeses.

• Usando da palavra na inauguraçãodo Memorial, o escritor Agassiz Almei-da exaltou o trabalho daqueles que estãoa resgatar a história das Ligas Campone-sas, genes dos quais se originou o Movi-mento dos Trabalhadores Sem Terra.Continuando, disse Agassiz: 'O País viveuma melancólica hora em que o povoperdeu sua capacidade de indignação. As

Direitos humanosDireitos humanos

Um memorial para as Ligas CamponesasParaibanos criam instituição destinada a exaltar a memória

dos que lutavam no começo dos anos 60 pela reforma agrária.

Ajuricaba Monassa foiassassinado em

Guapimirim, em 2006.

injustiças mais brutais desabam contraa população e ela se queda passiva semnenhum protesto'.

• Quarenta e cinco anos nos separamdo assassinato de João Pedro Teixeira. Ojovem indignado de 1964, o então Depu-tado Agassiz Almeida, que está hoje car-regando os mesmos ideais através de livroscomo 500 anos do povo brasileiro (Paz eTerra, 2001) e República das elites (BertrandBrasil, 2004) editados para todo o País, re-latou ainda que 'diante dessa falência totalde valores políticos e morais da nação, ainauguração do Memorial das Ligas Cam-ponesas marca alta significação: reconheceaqueles que deixaram nas suas lutasmomentos de resistência'.

• Encerrando a sessão, usou da palavraum dos líderes do movimento operáriona Paraíba, o Vereador Garibaldi de Sou-sa Pessoa, um dos coordenadores do even-to. Ele disse que “a bandeira de 64 das LigasCamponesas será bem defendida nas mãosdessa entidade.”

Delanne, há umano desaparecido

Roberto Delanne morava em Santa Lúcia, no Município deDuque de Caxias, RJ, onde foi visto pela última vez. De acordocom a ocorrência registrada na 62ª DP, uma testemunha afirmaque viu o jornalista na noite do seu desaparecimento e que eleteria dito que iria ao Centro de Tradições Nordestinas, no bairrode São Cristóvão, no Rio. Depois disso não houve mais notíciassobre o seu paradeiro.

Diante de Elizabete Teixeira, viúva do líder camponês assassinado, Agassiz evoca as lutas de 1962.

Juíza enquadravereador pela

morte de jornalista

Varig deuprioridade

aos caciques

8 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

Estávamos nos idos de 1960: eu naManchete do Rio e José Maria Rabelono Binômio de Belo Horizonte, em cam-pos distantes, mas unidos por forteslaços de comum estima, respeito eadmiração.

Sobrevieram os anos de chumbo de1964, quando ele foi vítima de umacovarde agressão no interior do Binô-mio, seu jornal: o General Punaro Bley,de triste memória, denunciado pelo seupassado de nazista como interventorno Espírito Santo, levou desvantagemna agressão física, mas vingou-se logodepois, enviando uma expedição puni-tiva, de 200 soldados do Exército e daFAB, que reduziram a pó as máquinasdo jornal. No melhor estilo hitlerista.

Caçado como o inimigo nº 1, JoséMaria conseguiu, numa fuga rocambo-lesca, vir de Belo Horizonte até àEmbaixada da Bolívia, no Rio, cujoembaixador, convencido, entre outros,por Hélio Fernandes, concedeu-lhe oasilo. Embarcou para La Paz, onde JuanLechín, um sofrido revolucionárioboliviano, vendo-o ansioso por voltarao Brasil, tranqüilizou-o: “Tive com-panheiros que morreram na angústiae na ilusão de poderem voltar imedia-tamente. A volta tem a sua hora, quenão pode antecipar, porque não dependede você. E olhe que posso falar do as-sunto, pois já estive exilado oito vezes...”

No altiplano da Bolívia, a mais dequatro quilômetros acima do nível domar, morou inicialmente num aparta-mento com os jornalistas Neiva Mo-reira (Diários Associados) e Carlos Ola-vo da Cunha Pereira (de O Combate, deGovernador Valadares), além do alemãoKurt e de José Serra, ex-Presidente daUne, e, depois, secretário do Planeja-mento de São Paulo, deputado-consti-tuinte pelo PMDB paulista, senador doPSDB, ministro da Saúde e atual Go-vernador de São Paulo.

Como a Bolívia era um país onde sóhavia hora certa para golpes, Estens-soro foi derrubado por Barrientos e, emmenos de um ano, José Maria teve deexilar-se novamente, desta vez, nou-tra angustiada viagem, que levou doisdias, de La Paz a Antofagasta.

Em Santiago, integrou o grupo deAdão Pereira Nunes, Paulo Freire, JoséSerra, Artur da Távola, Almino Afon-so, Paulo de Tarso, Plínio Sampaio, DarciRibeiro, César Maia, Francisco Weffort,

DRAMA

A peregrinação de José e Therezapelos caminhos do mundo

POR MURILO MELO FILHO

Ib Teixeira e Lício Hauer, entre outros.Aonde quer que fosse, os tentáculos daditadura militar buscavam alcançá-lo.Não tinham qualquer assistência daEmbaixada. Antes, pelo contrário.

Cinco anos depois, 4 de setembro de1970, Frei não conseguiu eleger o seucandidato Alessandri, derrotado porAllende, que, no dia 11 de setembro de1973, justamente três anos depois deum governo convulsionado por grevese uma inflação galopante, era depostoe morto, com uma metralhadora namão, dentro do palácio La Moneda, in-cendiado.

O nome de José Maria constava deuma lista “de morte”, na qual figura-vam Luis Corvalán, Carlos Altamirandoe Clodomiro Almeyda. Um dos seus fi-lhos, Pedro José, de 17 anos, levado parao Estádio Chile, viu-se durante trêsmeses torturado e submetido a simu-lacros de fuzilamentos, com descargase tiroteios ouvidos à distância.

O asilo na Embaixada do Panamá foisimplesmente dantesco: num aparta-mento de 150 metros quadrados, com-primiam-se 300 asilados, entre os quais22 crianças, 24 gestantes, três epilép-ticos e um hemofílico, o nosso Betinho,com a média de quase três pessoas pormetro quadrado então disponível.

A área de serviço, com seis metrosquadrados, foi reservada aos fumantes.Havia apenas dois banheiros: um des-tinado às crianças, às gestantes e aosdoentes. O outro, ao resto, para cujo

uso as filas exigiam três horas de espera.Aquela foi uma vivência assaz dolorosa,mas ao mesmo tempo uma ambiência queproduziu enormes e sólidas amizades.

Depois, novo exílio - desta vez, e ain-da, na catarse do seu calvário - para a França,com um vôo de 20 horas, via Lima,Guaiaquil, Bogotá, Caracas e Lisboa, atéParis.

Sempre ao lado de sua mulher, The-reza, e dos seus sete filhos, Álvaro, Pedro,Mônica, Patrícia, Hélio, Fernando eRicardo, José Maria iria enfrentar a ter-ceira adaptação a um novopaís, de idioma, hábitos ecostumes diferentes, masno convívio de muitos ou-tros brasileiros: Josué deCastro, Waldir Pires, He-ron de Alencar, LeiteLopes, Luís Hildebrando,Raul Ryff, EdmundoMoniz, Márcio MoreiraAlves, Celso Furtado,Roberto Las Casas e Má-rio Pedrosa, entre outros.

Já sob o governo de Mit-terrand, o seu faro de em-presário transformou num sucesso aLivraria de Língua Espanhola e Portugue-sa, em pleno Quartier Latin, como cen-tro cultural de irradiação brasileira, porcujo Auditório Gil Vicente desfilaramgrandes nomes ibero-americanos: o pa-raguaio Roa Bastos, o argentino JúlioCortázar, o peruano Vargas Llosa e o ni-caragüense Ernesto Cardenal, além do

MURILO MELO FILHO é jornalista, acadêmico eescritor, autor do livro Testemunho Político, membrodo Pen Club, da União Brasileira de Escritores–UBE eda Academia Brasileira de Letras e sócio da ABI.

Em artigo especial para o Jornal da ABI, o jornalista e acadêmico Murilo Melo Filho evocaa tormentosa trajetória do jornalista José Maria Rabelo e sua mulher, Thereza, após o

golpe militar de 1964, que eles narram no livro-testemunho Diáspora – Os longos anos do exílio.

português José Saramago.Mas desligou-se dela, dia 31 de de-

zembro de 1978, ao divergir de umgrupo sob a chefia de outro brasileiro,transformado em próspero empresá-rio ligado à empreiteira Mendes Júni-or no projeto da construção de umarodovia na Mauritânia.

José Maria já vivia aí, em 1979, coma expectativa da anistia, a esperança doretorno ao Brasil, após 16 anos de umpenoso exílio. Repetia Manuel Alegre,o grande poeta português: “Perguntoao vento que passa/ Notícias do meupaís. O vento cala a desgraça/ O ventonada me diz”.

Como iria reencontrar o Brasil? Deque forma seria recebido? E compôsestas poucas linhas marcadas por umaprofunda ansiedade: “Mais do que apartida, o que dói é a volta, quando vocênão sabe, ao certo, se está voltando, ounovamente partindo”.

Sob o prisma da crítica literária, esteé um depoimento objetivo e simplesescrito por um jornalista, no seu uni-verso kafkiano, sobre a odisséia vivi-da por centenas de escritores, estudan-tes, jornalistas, professores e cientis-tas, que, como nômades, se espalha-ram pela Europa e pelas Américas doSul e do Norte.

Impávido, determinado e escorreito,José Maria desfila tudo isto aos olhosdo leitor, no viés de um texto escrito comcorreção e dignidade, sem exageros,transbordamentos, excessos, sentimenta-lismos ou ambições intelectuais, muito

menos sem pretensões a laMaurois, Brecht, Neruda,Rui ou Zola, do CapitãoDreyfus.

As 250 páginas desteDiáspora – Os longos anosdo exílio, escrito de parce-ria com a mulher There-za Rabelo, encerram so-bretudo lições da saga deum exilado coerente e sin-cero, que soube, com afamília unida sob sua lide-rança, mapear com altiveza malaise do desterro, do ba-

nimento e da proscrição e pagar o altís-simo tributo da fidelidade às suas opini-ões e credos políticos.

José Maria e Thereza num momento de carinho:15 anos de exílio que eles contam num livro sem exageros.

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10 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

DEPOIMENTO MARIA IGNEZ DUQUE ESTRADA

Setorista do Aeroporto Internacional do Galeãono começo da vida profissional, Maria Igneztropeçava em personalidades, como Marlene

Dietrich, John dos Passos, Ted Kennedy.As entrevistas eram rápidas,

“pouco passavam de banalidades”, diz.

ENTREVISTA A JOSÉ REINALDO MARQUES

Jornal da ABI — Quando você estreou como jorQuando você estreou como jorQuando você estreou como jorQuando você estreou como jorQuando você estreou como jornalista, havianalista, havianalista, havianalista, havianalista, haviapoucas mulheres na imprensa. Sentiu alguma dificuldade?poucas mulheres na imprensa. Sentiu alguma dificuldade?poucas mulheres na imprensa. Sentiu alguma dificuldade?poucas mulheres na imprensa. Sentiu alguma dificuldade?poucas mulheres na imprensa. Sentiu alguma dificuldade?

Maria Ignez Duque Estrada — Na época, a presença dasmulheres no mercado de trabalho e o movimento feministacomeçavam a se refletir na imprensa. Lembro-me, inclusive,de uma passagem interessante. Em 1960, cobri uma palestrado Sartre, que, com a Simone de Beauvoir, passou pelo Brasilvindo de Cuba. Foi no auditório da Faculdade de Filosofia daUFRJ, que ficava ao lado da Maison de France. Eu estava com20 anos. Depois, soube que o Vladimir Herzog — que tinha amesma idade — estava ali também, grudado no Sartre, comorepórter do Estadão. Eu já sabia quem eram Sartre e Simonede Beauvoir, cujo livro O terceiro sexo foi fundamental para aminha formação.

Jornal da ABI — Na primeira Redação em que você trabalhou,Na primeira Redação em que você trabalhou,Na primeira Redação em que você trabalhou,Na primeira Redação em que você trabalhou,Na primeira Redação em que você trabalhou,da Tda Tda Tda Tda Tribuna, havia outras mulheres jorribuna, havia outras mulheres jorribuna, havia outras mulheres jorribuna, havia outras mulheres jorribuna, havia outras mulheres jornalistas?nalistas?nalistas?nalistas?nalistas?

Maria Ignez — Sim, a começar pela Hilde Weber, excelentechargista política e maravilhosa figura humana, e a Clecy Ri-beiro, que depois foi minha colega na Internacional do JB.

Jornal da ABI — VVVVVocê recorda como foi a sua estréia na Redação?ocê recorda como foi a sua estréia na Redação?ocê recorda como foi a sua estréia na Redação?ocê recorda como foi a sua estréia na Redação?ocê recorda como foi a sua estréia na Redação?Maria Ignez — Minha chegada à Tribuna foi muito engraça-

da, porque eu comecei assinando uma coluna. Mas antes tenhoque contar uma história. Eu tinha 18 anos, uma boa cultura,gostava de desenhar e ia estudar Arquitetura. Mas peguei umasegunda época justamente numa matéria de que gostava mui-to, Matemática, porque chegava atrasada na aula, às 7h, no PedroII da Avenida Marechal Floriano.

Jornal da ABI — Que é que isso teve a ver com o jor Que é que isso teve a ver com o jor Que é que isso teve a ver com o jor Que é que isso teve a ver com o jor Que é que isso teve a ver com o jornal?nal?nal?nal?nal?Maria Ignez — Não pude fazer o vestibular para Arquitetu-

ra, mas fiz exames para a Escola Nacional de Belas-Artes, que,naquela época, não exigia secundário completo, só o ginásio.Passei em segundo lugar e, enquanto cursava Belas-Artes, ter-minei o terceiro ano científico. Foi então que um colega, MariusLauritzen Bern, me levou para a Tribuna.

úri Gagárin. Ted Kennedy, Jean-Paul Sar-

tre, John dos Passos, Graham Greene, Mar-

lene Dietrich, Leonel Brizola e Carolina

Maria de Jesus foram algumas personali-

dades entrevistadas pela jornalista Maria Ignez Du-

que Estrada Bastos, que começou a carreira, ainda

como estagiária de Belas-Artes, ao fazer estágio na

Tribuna de Imprensa, assinando a coluna de artes

plásticas, e depois foi para o Diário Carioca.

Militante contra a ditadura, foi presa e interro-

gada no Doi-Codi e na PE, trabalhou na Petrobrás,

mas voltou ao jornalismo, como setorista no Ga-

leão, simultaneamente, da Ultima Hora, Jornal do

Brasil e Jornal do Commercio. Tradutora de autores

americanos e franceses, Maria Ignez relembra os

tempos de Redação com poucas repórteres mulhe-

res e fala sobre seu namoro com Carlinhos de Oli-

veira e sua simpatia por Cuba e Fidel Castro.

Y

11Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

Jornal da ABI — Ele também era jorEle também era jorEle também era jorEle também era jorEle também era jornalista?nalista?nalista?nalista?nalista?Maria Ignez — O Marius, que morreu há poucos

meses, foi um artista que merece reconhecimento. Eraexcelente fotógrafo, desenhista e pintor e foi ilustra-dor da Tribuna. O jornal estava precisando de uma co-lunista de artes plásticas. Como eu conhecia um pou-co de artes e escrevia direitinho (tive excelente cursoprimário), aceitei a função. Estreei com uma colunaassinada, mas naquela época não havia tanto glamourna função de colunista. Eu fazia um noticiário, davaalgumas notícias do exterior, e pronto. Quando deci-diram acabar com a seção, me passaram para a Geral.

Jornal da ABI — Essas são as melhores lembran-Essas são as melhores lembran-Essas são as melhores lembran-Essas são as melhores lembran-Essas são as melhores lembran-ças que você tem da ças que você tem da ças que você tem da ças que você tem da ças que você tem da TTTTTribunaribunaribunaribunaribuna?????

Maria Ignez — Minhas memórias do prédio da Ruado Lavradio são muito loucas.

Jornal da ABI — Como assim?Como assim?Como assim?Como assim?Como assim?Maria Ignez — É muito engraça-

do pensar no que era uma Redação de jornal naqueletempo e o que é hoje, em termos de decoração. Erauma bagunça, mas ótima e alegre.

Jornal da ABI — VVVVVocê chegou a ser apresentada aoocê chegou a ser apresentada aoocê chegou a ser apresentada aoocê chegou a ser apresentada aoocê chegou a ser apresentada aoCarlos LCarlos LCarlos LCarlos LCarlos Lacerda?acerda?acerda?acerda?acerda?

Maria Ignez — Ele não estava no Brasil, quem dirigiao jornal era o Aluisio Alves. Além da Hilde, tinha oNewton Carlos, Carlos Lemos, Zuenir Ventura (res-ponsável pela pesquisa e arquivo), Hermano Alves,Hilcar Leite, que foi meu primeiro professor de Jor-nalismo, e a Clecy.

Jornal da ABI — VVVVVocê se lembra das suas primeirasocê se lembra das suas primeirasocê se lembra das suas primeirasocê se lembra das suas primeirasocê se lembra das suas primeirasreportagens?reportagens?reportagens?reportagens?reportagens?

Maria Ignez — Lembro-me bem de uma das mi-nhas primeiras matérias. Millôr Fernandes fazia umagrande exposição no MAM e eu fui entrevistá-lo emseu apartamento, na praia de Ipanema. Quando es-tava chegando, começou a chover e foi piorando. Oguarda-chuva não adiantava de nada. Podia ter de-sistido e deixado para outro dia. Mas eu era muitocaxias e fui até o fim, entrevistando o Millôr, molha-da feito um pinto, com o guarda-chuva escorrendoágua num canto da sala.

Jornal da ABI — Em que ano você ingressou no Em que ano você ingressou no Em que ano você ingressou no Em que ano você ingressou no Em que ano você ingressou no DiárioDiárioDiárioDiárioDiárioCariocaCariocaCariocaCariocaCarioca?????

Maria Ignez — O Diário Carioca foi uma espéciede promoção, embora na época eu não tenha repa-rado nisso. Foi José Carlos Oliveira quem me levoupara lá, em 1958. Era o jornal mais bem escrito deentão. Tinha entre seus colunistas Paulo Francis,Armando Nogueira e Jota Efegê, uma figura notávele de quem me lembro com o maior carinho. No co-pidesque, Nélson Pereira dos Santos, Ferreira Gullar,Nilson Lage, Décio Vieira Ottoni, José Ramos Tinho-rão. Luiz Edgar de Andrade chefiava o copidesque eEvandro Carlos de Andrade, a Redação. Não esque-ço também de meu grande amigo Alaor Barreto,fotógrafo, meu companheiro em muitas reportagens.

Jornal da ABI — O O O O O Diário CariocaDiário CariocaDiário CariocaDiário CariocaDiário Carioca nos anos 60 já nos anos 60 já nos anos 60 já nos anos 60 já nos anos 60 játinha mulheres entre os repórteres?tinha mulheres entre os repórteres?tinha mulheres entre os repórteres?tinha mulheres entre os repórteres?tinha mulheres entre os repórteres?

Maria Ignez — Eu não era a única mulher no DiárioCarioca. Tinha também a Stella Lachter, que já morreu.Havia também uma aeromoça, que, quando estavano Rio, trabalhava na Redação, mas não sei exata-mente o que escrevia. Chamava-se Maria do Socor-ro, excelente nome para aeromoça. O Deodato Maia,que muitos anos depois reencontrei no Globo, era osecretário de Redação. Ficava sentado próximo dajanela que dava para a Rádio Nacional e, de vez emquando, soltava uns gritos loucos: “Caubicha!”

Jornal da ABI — PPPPPelo visto era um ambiente muitoelo visto era um ambiente muitoelo visto era um ambiente muitoelo visto era um ambiente muitoelo visto era um ambiente muitodivertido...divertido...divertido...divertido...divertido...

Maria Ignez — Uma vez quiseram me pregar umapeça: trouxeram um rato para a Redação e o levaramatrelado a um barbante, andando pelo chão, até o ladoda minha mesa. Todo mundo na expectativa. Só queeu, que gosto muito de bichos, peguei o rato, quepasseou pelos meus ombros, e mandei que o levas-sem de novo para o lugar dele, na oficina. Isto foi re-gistrado numa crônica do Carlinhos Oliveira, que in-felizmente não tenho.

Jornal da ABI — Como era a sua relação com oComo era a sua relação com oComo era a sua relação com oComo era a sua relação com oComo era a sua relação com oCarlinhos Oliveira?Carlinhos Oliveira?Carlinhos Oliveira?Carlinhos Oliveira?Carlinhos Oliveira?

Maria Ignez — Eu conheci o Carlinhos na Tribu-na, e ele ficou me cortejando; mandava bilhetes lin-

dos. Uma vez minha mãe viu um e detestou, princi-palmente porque os bilhetes eram escritos a máqui-na, em laudas do jornal. Para ela, bilhete de amor tinhaque ser escrito a mão. Alguns desses bilhetes eu deiao Jason Tércio, que escreveu uma biografia do Car-linhos intitulada Órfão da tempestade. Carlinhos erauma pessoa muito especial. O que me encantou neleantes de tudo foi o senso de humor. Ele era muitoengraçado. Também havia o nosso gosto comum porliteratura. Lembro-me dele recitando Baudelaire...Nosso namoro começou no Diário Carioca e termi-nou quando fui para o JB. Foi aí que começou a minhapaixão pelo samba e suas agremiações, que me acom-panha até hoje. Nada me faz mais feliz do que umaroda de samba e um partido-alto.

Jornal da ABI — Saiu publicado recentemente numSaiu publicado recentemente numSaiu publicado recentemente numSaiu publicado recentemente numSaiu publicado recentemente numsite jorsite jorsite jorsite jorsite jornalísticonalísticonalísticonalísticonalístico que Carlinhos Oliveira, quando lia que Carlinhos Oliveira, quando lia que Carlinhos Oliveira, quando lia que Carlinhos Oliveira, quando lia que Carlinhos Oliveira, quando liaseus teseus teseus teseus teseus textos, a comparava a Hemingwayxtos, a comparava a Hemingwayxtos, a comparava a Hemingwayxtos, a comparava a Hemingwayxtos, a comparava a Hemingway...............

Maria Ignez — Não sei disso, não. Se fosse verda-de, ficaria muito feliz, porque acho Hemingway umescritor extraordinário. Na verdade, acho que nuncafalamos sobre como eu escrevia, nada disso. Conver-sávamos sobre literatura, arte, coisas assim. E bebí-amos também. Íamos à casa de amigos como Márioe Mary Pedrosa, Ferreira Gullar e Teresa Aragão,Reinaldo Jardim e Edelweiss. Um tempo lindo, pes-soas lindas. E tinha os bares, muitos bares. Nisso eume parecia com Hemingway, mas bebia com mode-ração e não dirigia... não tinha carro.

Jornal da ABI — VVVVVocê trabalhou no JB, no ocê trabalhou no JB, no ocê trabalhou no JB, no ocê trabalhou no JB, no ocê trabalhou no JB, no JornalJornalJornalJornalJornaldo Commerciodo Commerciodo Commerciodo Commerciodo Commercio e na e na e na e na e na Última HoraÚltima HoraÚltima HoraÚltima HoraÚltima Hora ao mesmo tempo. ao mesmo tempo. ao mesmo tempo. ao mesmo tempo. ao mesmo tempo.Como conseguiu fazer isso?Como conseguiu fazer isso?Como conseguiu fazer isso?Como conseguiu fazer isso?Como conseguiu fazer isso?

Maria Ignez — Eu saí do Diário porque não pagavam,

davam vale. Dizia-se que algumas pessoas recebiamgeladeiras e outras coisas cedidas pelos anunciantes.Então, resolvi fazer concurso para a Petrobrás, onde tra-balhei durante pouco mais de um ano, mas voltei paraa redação, fazendo frila para UH, JB e Jornal do Commer-cio, como setorista do aeroporto do Galeão, porque falavaum pouco de francês e de inglês. O problema era quenão podia escrever a mesma coisa para os três jornais,tinha que dar uma redação diferente a cada matéria. Minhabase se alternava entre a UH, onde também tive colegasmuito estimados, como Haroldo Wall, que foi para Cuba,e o JB, onde acabei ficando.

Jornal da ABI — Das diversas personalidades in-Das diversas personalidades in-Das diversas personalidades in-Das diversas personalidades in-Das diversas personalidades in-terterterterternacionais que entrevistou, qual foi a mais inte-nacionais que entrevistou, qual foi a mais inte-nacionais que entrevistou, qual foi a mais inte-nacionais que entrevistou, qual foi a mais inte-nacionais que entrevistou, qual foi a mais inte-ressante?ressante?ressante?ressante?ressante?

Maria Ignez — As entrevistas feitas no Galeão eramem geral muito rápidas, pouco passavam de banalida-des. Digamos que cruzei com grandes personalidades

Maria Ignez entrevista no Galeão o jovem Senador Edward Kennedy: a conversa, como outras, ela conta, não foi além das trivialidades.

“Nada me faz mais feliz do que uma roda de samba e um partido-alto.”

12 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 200712 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 314 Novembro de 2006

internacionais. Lembro-me de poucos: os escritoresGraham Greene, que eu ainda não tinha lido, emborajá tivesse visto filmes baseados em livros dele, como Oterceiro homem, que recomendo; e John dos Passos, Mar-lene Dietrich, já idosa, mas ainda linda, Ted Kennedy...Não era um trabalho fácil.

Jornal da ABI — Sua admiração por FSua admiração por FSua admiração por FSua admiração por FSua admiração por Fidel Castroidel Castroidel Castroidel Castroidel Castroé notória.é notória.é notória.é notória.é notória.

Maria Ignez — Até hoje o considero o maior líderda América Latina e Cuba, o maior exemplo de resis-tência do mundo, ao lado do Vietnã. Eu já trabalhavano JB quando a Revolução Cubana foi vitoriosa e tivealguns atritos devido à minha admiração por ele. Sósaí depois de uma greve que mobilizou todos os jor-nalistas e gráficos da imprensa do Rio. Naquela época,como não havia computador, os gráficos eram umacategoria essencial para que os jornais saíssem. Istoaconteceu em 1962 e eu já tinha então uns cinco anosde jornalismo diário. Ou melhor, quatro, porque umano passei trabalhando na Petrobrás, de que desisti por-que me botaram no setor de compras.

Jornal da ABI — VVVVVocê se arocê se arocê se arocê se arocê se arrepende hoje de não terrepende hoje de não terrepende hoje de não terrepende hoje de não terrepende hoje de não tercontinuado na Pcontinuado na Pcontinuado na Pcontinuado na Pcontinuado na Petrobrás?etrobrás?etrobrás?etrobrás?etrobrás?

Maria Ignez — Não, e por vários motivos. Não muitodepois, viria a ditadura. Não consigo nem imaginar comoseria eu trabalhando no serviço público sob um regimemilitar. Depois, continuei um caminho que era mais omeu, este da comunicação. O jornalismo combina commeu temperamento. Acho fantástica a Petrobrás (que naépoca tinha acento), e hoje ela dá um apoio enorme à culturae às artes. Se naquele tempo tivesse isto, talvez desse certo.

Jornal da ABI — Em 1968, você trabalhava no Em 1968, você trabalhava no Em 1968, você trabalhava no Em 1968, você trabalhava no Em 1968, você trabalhava no CorCorCorCorCorrrrrreioeioeioeioeioda Manhãda Manhãda Manhãda Manhãda Manhã, um jor, um jor, um jor, um jor, um jornal visado pela ditadura militarnal visado pela ditadura militarnal visado pela ditadura militarnal visado pela ditadura militarnal visado pela ditadura militar.....Algum episódio da época a marcou?Algum episódio da época a marcou?Algum episódio da época a marcou?Algum episódio da época a marcou?Algum episódio da época a marcou?

Maria Ignez — Lembro-me muito bem do dia emque foi decretado o AI-5, do silêncio mortal na Reda-ção. Lembro-me também da notícia da morte de CheGuevara. Alguns, como eu, não queriam acreditar.Achávamos que era invenção dos americanos para minara nossa moral, até que chegaram as fotos. Foi tambéma época de O Sol, que durou pouco tempo, mas foi mar-cante, como o filme da Tetê Moraes mostrou. O Solficava perto do Correio, e lá trabalhavam amigos meus,

como Ana Arruda, chefe de Reportagem, e ReinaldoJardim, o grande idealizador do jornal.

Jornal da ABI — A que grA que grA que grA que grA que grupo político você perten-upo político você perten-upo político você perten-upo político você perten-upo político você perten-cia quando foi presa no Doi-cia quando foi presa no Doi-cia quando foi presa no Doi-cia quando foi presa no Doi-cia quando foi presa no Doi-Codi, no quartel da PCodi, no quartel da PCodi, no quartel da PCodi, no quartel da PCodi, no quartel da Políciaolíciaolíciaolíciaolíciado Exército, da Rdo Exército, da Rdo Exército, da Rdo Exército, da Rdo Exército, da Rua Barão de Mesquita, no Rio deua Barão de Mesquita, no Rio deua Barão de Mesquita, no Rio deua Barão de Mesquita, no Rio deua Barão de Mesquita, no Rio deJaneiro, em abril de 1973?Janeiro, em abril de 1973?Janeiro, em abril de 1973?Janeiro, em abril de 1973?Janeiro, em abril de 1973?

Maria Ignez — Estava ligada à Resistência ArmadaNacional, um grupo pequeno, herdeiro do movimen-to de Caparaó, mas nunca peguei em armas ou viarmadas as pessoas que conheci ali. Eu colaboravanum jornalzinho, Independência ou Morte, que vei-culava artigos contra a ditadura e notícias censura-das pela imprensa, como a de uma homenagem aDom Hélder Câmara na Suécia. Nessa época, eu nãoestava em Redação, fazia a Enciclopédia Britânica— antes fui redatora da Mirador, dirigida pelo pro-fessor Antônio Houaiss, na editoria chefiada peloOtto Maria Carpeaux e onde também trabalhavaMoacyr Werneck de Castro. Convivi com tantaspessoas maravilhosas! Isso não teria acontecido setivesse ficado no serviço público.

Jornal da ABI — Chegou a ser torturada noChegou a ser torturada noChegou a ser torturada noChegou a ser torturada noChegou a ser torturada noDoi-Codi?Doi-Codi?Doi-Codi?Doi-Codi?Doi-Codi?

Maria Ignez — Fiquei um mês lá e duas semanas no

DEPOIMENTO MARIA IGNEZ DUQUE ESTRADA

Com paciência, MariaIgnez aguarda que umcolega maisentusiasmado pegue oautógrafo da visitanteilustre: Célia Guevara dela Sierna, mãe dolegendário Che. Alémdela, Maria Ignezentrevistou outras figurasmitológicas, como a divaMarlene Dietrich, jáenvelhecida, “mas aindalinda”. Em 1979 elaentrevista outro mito, quevoltava do exílio: LeonelBrizola. Ela o entrevistara18 anos antes. após aCampanha da Legalidade,em 1961.

Maria Ignez naRedação do JB na

era da máquinade escrever

13Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

Batalhão de Guardas. Não gosto de falar sobre isso, foimuito duro. Mas com tudo na vida se aprende. Aprendivivendo que odeio a tortura, que não a aceito em hipó-tese alguma, seja aqui, em Guantânamo, em qualquerlugar. Fui presa diante do meu filho pequeno, levada porhomens armados com metralhadoras, que revistaramminha casa e cortaram meu telefone. Nada disso a genteesquece.

Jornal da ABI — VVVVVocê já era uma repórter eocê já era uma repórter eocê já era uma repórter eocê já era uma repórter eocê já era uma repórter expe-xpe-xpe-xpe-xpe-riente, formada em Filosofia, quando deixou oriente, formada em Filosofia, quando deixou oriente, formada em Filosofia, quando deixou oriente, formada em Filosofia, quando deixou oriente, formada em Filosofia, quando deixou oBrasil (entre 1978 e 1980) para estudar Jorna-Brasil (entre 1978 e 1980) para estudar Jorna-Brasil (entre 1978 e 1980) para estudar Jorna-Brasil (entre 1978 e 1980) para estudar Jorna-Brasil (entre 1978 e 1980) para estudar Jorna-lismo da França.lismo da França.lismo da França.lismo da França.lismo da França.

Maria Ignez — Não fui estudar, fui praticar num paísque tem talvez o melhor jornalismo do mundo. Os de-bates políticos, por exemplo, são tratados com dignida-de e inteligência pela mídia, não é como aqui, onde seimita o estilo dos EUA.

Jornal da ABI — Como foi essa prática jornalís-Como foi essa prática jornalís-Como foi essa prática jornalís-Como foi essa prática jornalís-Como foi essa prática jornalís-tica no exterior?tica no exterior?tica no exterior?tica no exterior?tica no exterior?

Maria Ignez — Fui indicada pela jornalista SôniaMeinberg para integrar o programa chamado Journa-listes en Europe, na Escola de Formação e Aperfeiçoa-mento de Jornalistas. Havia repórteres de diversos paísese fizemos matérias sobre a antiga União Européia paraseis edições da revista Europe, criada em 78. Outros bra-sileiros — como a Iza Freazza, o Roberto D’Ávila e oMárcio Chalita — participaram do programa, que aca-bou há pouco tempo.

Jornal da ABI — Fale do seuFale do seuFale do seuFale do seuFale do seuencontro com Carlos Heitorencontro com Carlos Heitorencontro com Carlos Heitorencontro com Carlos Heitorencontro com Carlos HeitorConyConyConyConyCony.....

Maria Ignez — Foi na Fatos,uma revista que procurava con-correr com a Veja e que, se tivessecontinuado, seria sem dúvidamuito, mas muito melhor. Infe-lizmente, não durou muito tem-po, provavelmente porque a Edi-tora Bloch já começava a se dete-riorar. A Redação era chefiada peloCony, de quem sou grande admi-radora como chefe, ser humanoe escritor. Seu livro Quase memó-ria é inesquecível. Da equipe fa-ziam parte dois excelentes cole-gas: o crítico de arte Flávio deAquino e o jornalista Sérgio Ryff,filho do grande Raul Ryff, comquem tive a honra de trabalhar naInternacional do velho JB.

Jornal da ABI — Além deAlém deAlém deAlém deAlém dejornalista, você é traduto-jornalista, você é traduto-jornalista, você é traduto-jornalista, você é traduto-jornalista, você é traduto-ra de livros. O que a levoura de livros. O que a levoura de livros. O que a levoura de livros. O que a levoura de livros. O que a levoua entrar nesse mercado?a entrar nesse mercado?a entrar nesse mercado?a entrar nesse mercado?a entrar nesse mercado?

Maria Ignez — Nem sei comocomeçou, mas já traduzi muitoslivros. É um trabalho fisicamen-te cansativo, mas sempre há umacoisa nova a descobrir num livro.Gosto mais de traduzir do francês,mas, infelizmente, as editoras pri-vilegiam os autores americanos.

Jornal da ABI — Quais foramQuais foramQuais foramQuais foramQuais foramas obras mais importantesas obras mais importantesas obras mais importantesas obras mais importantesas obras mais importantesque você traduziu?que você traduziu?que você traduziu?que você traduziu?que você traduziu?

Maria Ignez — Como um autor, diria que a maisimportante é a que estou traduzindo no momento —no caso, The Poe´s shadow, que é muito instigante, di-fícil de traduzir e ainda não sei como vai se chamar emportuguês. Gostei muito de uma biografia de Yitzak Ra-bin, escrita por uma equipe de jornalistas israelenses,que fiz há anos para a Nova Fronteira.

Jornal da ABI — VVVVVocê colaborou recentemente comocê colaborou recentemente comocê colaborou recentemente comocê colaborou recentemente comocê colaborou recentemente comum conto para o livro um conto para o livro um conto para o livro um conto para o livro um conto para o livro PPPPParararararem as máquinas — Jorna-em as máquinas — Jorna-em as máquinas — Jorna-em as máquinas — Jorna-em as máquinas — Jorna-listas que valem mais de 50 contoslistas que valem mais de 50 contoslistas que valem mais de 50 contoslistas que valem mais de 50 contoslistas que valem mais de 50 contos. Já pensou em es-. Já pensou em es-. Já pensou em es-. Já pensou em es-. Já pensou em es-crever um só seu?crever um só seu?crever um só seu?crever um só seu?crever um só seu?

Maria Ignez — Não, nunca pensei, talvez por faltade tempo. O conto não tinha sido escrito para publica-ção. Na realidade, nem era um conto. Eram divagaçõesregistradas no computador, às quais dei um acabamentoquando o José Sérgio Rocha, meu amigo e ex-colega deJB, pediu minha participação no livro que estava orga-nizando. Tenho projetos de livros muito interessan-tes, mas são livros-reportagem, a serem produzidoscom equipes de jovens jornalistas e fotógrafos.

Jornal da ABI — FFFFFale da sua relação com a ABI.ale da sua relação com a ABI.ale da sua relação com a ABI.ale da sua relação com a ABI.ale da sua relação com a ABI.Maria Ignez — Como repórter, cobri muitas co-

letivas na ABI nos anos 60 e 70: a do astronauta russoYúri Gagárin, quando ele veio ao Brasil; a do Brizola,quando a Campanha da Legalidade saiu vitoriosa,garantindo a posse de Jango após a renúncia do Jâ-nio... Lembro também da Carolina Maria de Jesus,mulher, negra e favelada, que publicou o livro Quar-to de despejo, com prefácio de Audálio Dantas, hojeVice-Presidente da Casa. Em 1968, na passeata emprotesto pela morte do estudante Edson Luiz, gran-de parte do trajeto caminhei ao lado do Azêdo (Mau-rício Azêdo, Presidente da entidade). A ABI está serenovando e espero que ela abra espaço para os jor-nais comunitários. Há muitos jovens aprendendo jor-nalismo na prática, seja na Maré, na Cidade de Deusou em outros bairros mais pobres do Rio.

“Lembro-me muito bem do dia em que foi decretado o AI-5, do silêncio mortal na Redação.”

A militante Maria Ignez em dois momentos de sua combativa trajetória: na histórica Passeata dos 100 mil,de braço dado com a atriz Odete Lara na primeira fila da manifestação, tendo ao fundo o escritor

Antônio Callado (ao centro), o ex-Deputado Renato Archer (à esq.) e a atriz Norma Benguell; na foto de baixo,ela empunha um cartaz em manifestação da também histórica greve dos jornalistas e gráficos em novembro de 1962

14 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

Liberdade de imprensaLiberdade de imprensa

O Governo de Portugal anunciou quenão vai mais subsidiar o envio de jornaispara as colônias lusitanas espalhadas pelomundo. O anúncio foi feito pelo Secre-tário de Estado das Comunidades Portu-guesas, António Braga (foto), durante se-minário promovido no fim do ano pas-sado pela União Portuguesa da Impren-sa Regional (Unir). A medida entrou emvigor em janeiro, com a publicação noDiário da Repú-blica (jornal ofici-al do Governoportuguês).

Em entrevistaà revista Portugal,o Secretário disseque, apesar daprovável insatis-fação dos portu-gueses emigra-dos, a decisão jáestava tomada: –Embora o Gover-no saiba que eles(imigrantes e seus descendentes) não vãoficar satisfeitos com esta notícia, é certoque o porte-pago para os integrantes dascomunidades portuguesas vai acabar – de-clarou.

Órgão responsável pela área de emigra-ção, o Ministério dos Negócios Estrangei-ros, ao qual está subordinada a Secreta-ria de Estado das Comunidades Portugue-sas, gasta cerca de € 7 milhões por ano como envio de jornais para as colônias. Ojornalista português Nuno Araújo, reda-tor da revista Portugal, revelou que atu-almente a imprensa regional de seu paíspublica 1.500 mil títulos. Deste total, 900publicações se beneficiam do subsídio doGoverno para circular no exterior, por-que atendem aos requisitos exigidos, taiscomo o número de profissionais contra-tados e tiragem.

ConcentraçãoCalcula-se que existem cerca de 5

milhões de portugueses espalhados pelomundo, sem contar seus descendentes.Recebem os veículos regionais países commaior concentração de colônias, comoBrasil, Estados Unidos, Venezuela, Cana-dá, Reino Unido, França e Luxemburgo.Em Portugal, apenas dois títulos são edi-tados exclusivamente para portuguesesque residem no exterior: a revista Portu-gal e o jornal Mundo Português, que deve-rão ser muito afetados pela medida ofi-cial, afirma Nuno Araújo.

– Serão afetadas todas as comunida-des que querem manter o vínculo à lín-gua, à cultura e à sua região de origem.Muitos dos nossos emigrantes não do-minam as novas tecnologias para teracesso a uma publicação online. Alémdisso, os jornais circulam de mão em mãonas várias associações e instituiçõesespalhadas pelo mundo.

Portugal deixa sua imprensa à mínguaCortados subsídios que beneficiavam 900 publicações enviadas para emigrantes em todo o mundo.

Nuno Araújo acrescenta que a inter-rupção do envio de jornais ao exteriorconduzirá a um inevitável decréscimodo número de publicações regionais quecirculam nas comunidades portuguesas,porque as empresas jornalísticas não têmcomo arcar com os custos de correio:

– Se a participação do Estado na expe-dição de jornais para o estrangeiro é de 95%e, com a nova portaria, passará a zero, na-turalmente isso trará custos insuportá-veis para as empresas do setor, que cobrampreços de assinaturas insuficientes parafazer face às despesas de envio. Assim, sóhá uma solução: aumentar o preço das as-sinaturas, que nem todos podem pagar.Ou seja, a medida levará a um afastamentoprogressivo da terra de origem por partedos nossos emigrantes e descendentes,além de uma drástica diminuição da lín-gua, da cultura e do patrimônio portu-gueses no exterior. Mais do que lamen-tar, porém, é necessário agir e tentarcumprir aquilo que a imprensa regionalsempre fez: prestar um serviço públicoao país e sua gente.

Abaixo-assinadoA notícia do fim da circulação dos

jornais pegou de surpresa alguns dirigen-tes das associações que têm sede no Rio,

Beiras, Casa dos Poveiros, Casa de Trás-os-Monte etc. Depois, existe nessas agre-miações uma grande concentração deportugueses de várias regiões – umas maisque outras, é certo –, o que só favorece essaimprensa. É preciso salientar que sãomuitos os jornais que chegam às entida-des associativas sem custos de assinatu-ra. Com a nova lei, isso vai acabar.

"Como uma carta de família." AssimNuno descreve a imprensa regional quan-do chega aos imigrantes portugueses."Mas agora, como é que eles saberão dasnotícias de sua aldeia, vila ou cidade?Canais de televisão como a RTP Interna-cional ou a SIC são generalistas e exigemplanos especiais de assinatura. A impren-sa regional é aquela que lembra ao emi-grante de onde veio e que o português que

reside do outro lado doAtlântico gosta de sabercomo vai".

Ele sublinha que aimprensa regional tempossibilitado o apoiosistemático dos cida-dãos emigrados a inú-meras causas:

– Da associação daterra que precisa de di-nheiro aos bombeiros davila que necessitam denova viatura ou à ban-da de música que preci-sa de instrumentos, nãoesquecendo um aspectofundamental: é a im-prensa regional que con-

tinua a dar eco do que se passa nas nossascomunidades espalhadas pelo mundo.

Enquanto a portaria governamentalnão entrava em vigor, a Unir, juntamen-te com outros organismos, dedicou esfor-ços para que a situação não avançasse. Seusrepresentantes procuraram autoridadese até se reuniram com o Ministro dos As-suntos Parlamentares, Augusto SantosSilva, que tutela o setor de imprensa re-gional, para propor a manutenção dapolítica de sustentabilidade da remessade jornais ao exterior.

Outra proposta seria encontrar solu-ções alternativas de expedição das publi-cações, o que implicaria consulta aosoperadores postais internacionais, medi-da considerada de longo prazo. Para osempresários do setor jornalístico, serianecessário ao menos um ano para sechegar a alternativas e, ao mesmo tem-po, honrar os compromissos com os as-sinantes que têm de pagar antecipadamen-te a assinatura.

Apesar de demonstrar entender osargumentos dos representantes da im-prensa regional, o Ministro AugustoSantos Silva disse que não podia alterarsua posição, nem prolongar o prazo paraposterior implementação da suspensãodo porte-pago internacional.

como o empresário Vicente Tavares, Pre-sidente da Casa dos Poveiros, na Tijuca:

– Eu não sabia disso e considero pés-sima a novidade. É uma medida muitonegativa do Governo de Portugal, pois va-mos deixar de ficar informados sobre oque acontece em nossas cidades de origem.Temos que tomar uma atitude e vou proporque todas as Casas portuguesas façam umabaixo-assinado entre seus membros, paraque as autoridades mudem de idéia. E nãoacho que os donos dos jornais devam arcarcom as despesas de correio, pois já nos man-dam os jornais de graça.

O 2º Vice-presidente da Casa dosAçores, Mateus Rocha, também lamen-ta a medida: – É muito triste para nós. Nãotenho dúvidas de que isso vai ser preju-dicial para os nossos associados. Temosgente que vem à sede somente para pe-gar os jornais e ler as notícias da sua terra.Acho que o Governo não deve parar umsistema que vem funcionando bem hámuito tempo.

Nuno Araújo acha que o forte víncu-lo dos luso-brasileiros com Portugal é umdos motivos de preocupação da impren-sa regional do país:

– Eu diria que todas as associações luso-brasileiras têm um cunho regional muitoacentuado. Basta ver os nomes: Casa das

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A decisão do Governo de Portugal rompe os vínculos dos imigrantes com sua terra de origem, diz o jornalistaNuno Araújo (à esq.), cuja análise é confirmada por Mateus Rocha (ao centro), da Casa dos Poveiros. O Ministro

Santos Silva (à dir.) ouviu os representantes da imprensa regional, achou justo o pleiteado, mas não passou disso.

15Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

A ABI recebeu com preocupação ainformação de que o Departamento dePolícia Federal estaria investigando aatividade profissional e a vida pessoaldos jornalistas Leonardo Attuch, edi-tor de Economia da revista IstoÉ Dinhei-ro, e Lauro Jardim e Diogo Mainardi, colu-nistas da revista Veja.

A informação encaminhada à ABI deuconta de que o motivo das investigaçõesseria uma denúncia do ex-Ministro da Co-municação Social, Luiz Gushiken, em cartaenviada ao Diretor-Geral do DPF, Delega-do Paulo Lacerda. Em ofício que enviouao Ministro da Justiça, a ABI justificou apreocupação da entidade com a atitude deGushiken, alegando que ele "não detémtitularidade para se dirigir diretamente aoDiretor-Geral da PF para postular, proporou reivindicar a adoção de procedimentosinvestigatórios". O ofício da ABI tem oseguinte teor:

"Ilustre Ministro Márcio ThomazBastos,

A Associação Brasileira de Imprensadirige-se a Vossa Excelência para mani-festar apreensão em relação à informa-ção de que o Departamento de PolíciaFederal, subordinado a esse Ministério,estaria realizando investigações em tor-no da atividade profissional e da vidapessoal dos jornalistas Leonardo Attuch,Editor de Economia da revista IstoÉ Di-nheiro, Lauro Jardim, titular da colunaRadar da revista Veja, e Diogo Mainardi,colunista de Veja, em razão de denúnciaformulada contra os três pelo ex-Minis-tro Luiz Gushiken.

Causa especial preocupação, SenhorMinistro, o fato de que o ex-Ministro LuizGushiken solicitou a realização das ci-tadas investigações em carta que dirigiu

cidadão que lhe escreveuuma carta ou ofício, umagrave ameaça à liberdade deimprensa, que fica desdelogo constrangida não sópelas investigações que serealizem, mas até mesmopela simples divulgação deque tais investigações seencontram em curso. Gol-pear a liberdade de informa-ção constitui, como sabeVossa Excelência, um danoirreparável ao Estado De-mocrático de Direito.

Pleiteamos a Vossa Ex-celência, digno MinistroMárcio Thomaz Bastos,um esclarecimento formalacerca do exposto, por-quanto o fato descrito com-promete o Governo Fede-ral em sua obrigação defidelidade ao juramento derespeito à Constituição e àsleis do País, ainda recente-mente renovado perante oCongresso Nacional peloExcelentíssimo SenhorPresidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva.

Na expectativa da mani-festação de Vossa Excelên-cia, renovamos as expres-sões do nosso elevado ejustificado apreço. Cordial-mente (a) Maurício Azêdo,Presidente"

SilêncioO Ministro Márcio Thomaz Bastos

não respondeu ao ofício nem acusou seurecebimento.

Foram presos dia 23 de janeiro, emSão Paulo, três diretores da ong NovaOrdem, acusados de envolvimentocom a facção criminosa Primeiro Co-mando da Capital (PCC) e com o se-qüestro de Guilherme Portanova, re-pórter da TV Globo, e de AlexandreCalado, auxiliar técnico da emissora.Os dois foram seqüestrados em 12 deagosto do ano passado, quando esta-vam em uma padaria em frente à sede

Presos acusados de seqüestrar equipe da GloboPolícia de São Paulo diz que diretores de ong participaram da ação.

da rede de televisão.A polícia prendeu o ex-policial e ex-

presidiário Ivan Raymondi Barbosa,Presidente da Nova Ordem, e Ander-son Luis de Jesus e Simone Barbares-co, diretores da entidade. Além deles,também foi presa, por porte ilegal dearma, a advogada Iracema Vasciaveo,que presta assessoria jurídica a presi-diários e à ong.

Os diretores da Nova Ordem são acu-

tros de detenção no Estado de São Paulo.O seqüestro de Guilherme Portano-

va e Alexandre Calado aconteceu al-guns dias depois de uma série de ataquesdo PCC em São Paulo. Alexandre foisolto na noite do dia 12, mas Guilher-me só foi libertado depois de a Globoveicular mensagem em vídeo de um su-posto integrante da facção. Na época,a ABI pediu ação política contra a cri-se em São Paulo.

Editor e colunistas de revistassob ameaça da Polícia Federal

Diretor do DPF atendeu a solicitação feita de forma imprópriapara investigar Attuch, de IstoÉ, e Jardim e Mainardi, de Veja.

ao Senhor Diretor-Geral doDepartamento de PolíciaFederal, Delegado PauloLacerda, o qual teria acolhi-do a manifestação desseantigo membro do Gover-no Federal como se esteainda detivesse prerrogati-vas e competências deferi-das aos Ministros de Esta-do, cargo que Sua Senho-ria desempenhou na admi-nistração federal passada.

Decorre tal preocupaçãoda circunstância de que oeminente cidadão LuizGushiken não detém titu-laridade para se dirigir di-retamente ao Senhor Dire-tor-Geral do Departamentode Polícia Federal para pos-tular, propor ou reivindicara adoção de procedimentosinvestigatórios. O que elefaz como cidadão comum,ainda que em defesa legíti-ma de interesse e bemimaterial que consideravulnerado, não pode seracolhido in limine peloDPF e seu Diretor, sob penade se instalar a desordemnesse setor governamental.Se todos os atingidos ouprejudicados por atos deprofissionais da comunica-ção puderem recorrer dire-tamente à Polícia Federalpara a busca de satisfaçõesde justiça em caráter pesso-al, esse respeitável órgão do GovernoFederal estará entregue a irremediávelbalbúrdia.

O Ministro Márcio Thomaz Bastos ficou impassível diante da denúncia deexorbitância do Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal.

sados de ter fornecido apoio logísticopara o seqüestro dos profissionais daTV Globo, repassando informações eordens dos líderes da facção aos respon-sáveis pelo crime.

Desde julho de 2006, a ong é inves-tigada pelo Ministério Público paulistapor supostas ligações com o PCC. Fun-dada em 2005, a Nova Ordem propõe-se a desenvolver atividades de recupe-ração de presos, atuando em 144 cen-

A Associação Brasileira de Imprensa vêno procedimento do Senhor DelegadoPaulo Lacerda, ao acolher as razões de um

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16 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

Em mensagem encaminhada à ABI, ojornalista Ademar Adams acusou os ve-ículos de comunicação de Mato Grosso desilenciar em relação a denúncias de cor-rupção, numa demonstração do condici-onamento e envolvimento político quepesa sobre a mídia da região.

O jornalista baseia sua denúncia naentrevista coletiva convocada por en-tidades não-governamentais - no dia24 de janeiro, na sede local da Ordemdos Advogados do Brasil (OAB-MT) -para distribuir aos jornalistas um cd coma relação das ações propostas peloMinistério Público contra os Deputa-dos José Riva, Bosaito e Fabris, que, dizAdemar, são acusados de desviar R$ 65milhões dos cofres públicos.

No dia seguinte, informa o jornalis-ta, à exceção do site Olhar Direto e daRádio Cultura, nenhum veículo noti-ciou o que foi dito no encontro, ao qual

Todo mundo dominadoVeículos de Mato Grosso recebem cd com denúncias de corrupçãoeleitoral formuladas pelo Ministério Público, mas nada divulgam.

compareceram equipes dos jornais Diá-rio de Cuiabá, A Gazeta e Folha do Estadoe da TV Record.

No documento enviado à ABI, Ademarexplica que a intenção da coletiva promo-vida pelas organizações governamentaisera sensibilizar os deputados da AssembléiaLegislativa de Mato Grosso "para não ele-ger para a Mesa-Diretora aqueles acusadosde desvios de verba pública". E relata tam-bém que na ocasião dois estranhos, que seidentificaram como "acadêmicos de Di-reito", causaram tumulto, e um deles foiidentificado como segurança do Deputa-do José Riva.

As entidades que assinaram o docu-mento apresentado à imprensa são aOAB-MT, o Movimento de Combateà Corrupção Eleitoral – MCCE, o Fórumde Controle Social – Focos e o MovimentoOrganizado pela Moralidade Pública eCidadania –Moral/MT.

O cinegrafista freelancer Joshua Wolfbateu um recorde infeliz no princípio defevereiro. Ele se tornou o jornalista a passarmais tempo na prisão, nos Estados Uni-dos, por proteger suas fontes: 169 dias dedetenção. O cálculo foi feito por organi-zações de imprensa locais.

Wolf, que teve negado um pedido deliberdade, foi preso por se recusar a divul-gar para autoridades norte-americanas

A Procuradoria colombiana emitiunova ordem de prisão para o corresponden-te da Telesur Freddy Muñoz, sob acusaçãode envolvimento em ataques a redes elé-tricas, que seriam atos de guerrilha dasForças Armadas Revolucionárias da Co-lômbia-Farc. Informações divulgadas pelaagência Ansa revelam que uma fonte, queprefere não se identificar, disse que a or-dem de captura de Munõz não tem rela-ção com sua profissão ou seu vínculocom um canal estrangeiro de televisão.

No fim de 2006, o jornalista foi pre-so pelas autoridades colombianas, acusa-do por crimes de rebelião e terrorismo. Aversão oficial da Procuradoria é de que ex-

O Comitê de Proteção dos Jornalistas-CPJ condenou os ataques de manifestan-tes e policiais a 11 repórteres, fotógrafose cinegrafistas que cobriam violentos pro-testos na cidade de Cochabamba, naBolívia, no dia 8 de janeiro. As manifes-tações pediam a renúncia do PrefeitoManfred Reyes Villa, segundo os infor-mes da imprensa. Alguns jornalistasforam alvo dos manifestantes e das for-ças de segurança enquanto outros esta-vam no meio do fogo cruzado.

O Diretor-Executivo do CPJ, Joel Si-mon, pediu às autoridades bolivianas quedêem proteção adequada aos jornalistase que responsabilizem os agressores.

Liberdade de imprensaLiberdade de imprensa

Colômbia persegue venezuelano

Joshua Wolf, um recorde indesejável

Condenadas agressõesem Cochabamba

Repórteres foram atacados e perderam equipamentos.

Alfredo Orellana, cinegrafista da Uni-valle Televisión, foi hospitalizado pordois dias com ferimentos na cabeça e teveseu equipamento roubado; ElizabethParavisini, fotógrafa do periódico LosTiempos, sofreu ferimentos leves e teveo equipamento extraviado; e o repórterde rádio Efraín Gutiérrez foi agredidopor seguranças do Prefeito, que o acusa-ram de ser contra Villa.

Durante o tumulto, manifestantesacusavam profissionais de imprensa deserem parciais contra o Governo do Pre-sidente Evo Morales, que também jáacusou a mídia de seu país de se unir aforças da oposição.

integrantes das Farc afirmaram queentre 2000 e 2002 Freddy Muñoz teriaparticipado da derrubada de três torres deeletricidade com o uso de explosivos. Elefoi libertado em 9 de janeiro por falta deprovas.

Tito Gaitán, advogado do correspon-dente, supõe que o processo é uma reta-liação contra o trabalho de seu cliente eacredita que haja o desejo das autorida-des de provocar um conflito com a Vene-zuela. Ele afirma também que até o prin-cípio de fevereiro ninguém receberaqualquer notificação da nova ordem deprisão. Seu cliente aguardava em liber-dade que a situação se resolvesse.

uma gravação que mostra um grupo deanarquistas acusados de depredar umcarro da polícia e fraturar o crânio de umoficial durante um encontro de líderesmundiais em São Francisco, em 2005.

O recorde anterior, nos EUA, perten-cia a Vanessa Leggett, que também senegou a divulgar informações obtidascom fontes em off sobre um assassinato.Ela ficou presa 168 dias, entre 2001 e 2002.

"Cala a boca!!!", "Vou tomar suamáquina!!!", "Vou apreender suamáquina", "Apague a foto!!!", "Secontinuar falando, vou teprender!!!". Estas ameaças histéricasforam desferidas e fazem parte dovocabulário de um policial (que nãoquis revelar seu nome mas cujoprenome, Alexandre, descobridepois), e foram usadas contra mimem 25 de março, quando exercia omeu direito profissional ao fazerreportagem escrita e fotográfica,nas dependências da Delegacia deInvestigações Gerais e Delegacia deInvestigações Sobre Entorpecentesde Itapeva, São Paulo, sobre oresultado da Operação Nacional daPolícia Civil, desencadeada em 26Estados e no Distrito Federal. E afoto nem prestou.

A tentativa de intimidação sedeu depois que foi feita uma fotosem autorização de Silvio MacielDomingues, acusado de ser ocoordenador regional da facçãocriminosa denominada PrimeiroComando da Capital, o PCC. Que amanifestação partisse, como partiu,do advogado do acusado, quetambém tentou me intimidar, tudobem, é até explicável. Mas partir deum policial, que, tomado por umhisterismo incontrolável, gritava,desferindo, não só as frases acima,mas outras ameaçadoras, é de se

Raul Rodrigues Azêdo é jornalista há 26 anos efiliado desde 1984 à ABI.

POR RAUL RODRIGUES AZÊDO

Histeria policial em Itapeva, SPcausar estranheza!

Quando escrevia este artigo meperguntava, qual o interesse que estepolicial teria para proteger o acusadoe tentar constranger o jornalista?Será que, se houvesse outrosjornalistas nas dependências da DIG/DISE, ele faria a mesma coisa?

É preciso apurar, saber por que opolicial saiu em defesa de umapessoa que está sendo acusada de sero coordenador regional do PCC.Esta facção é que tem,constantemente, comandadoataques em delegacias policiais doEstado de São Paulo.

Não ficou só nisso. As ameaçascontinuaram até depois que eu jáestava saindo no portão, quandopediu meu nome dizendo que iriaabrir um Boletim de Ocorrência(BO) contra mim, a despeito da Leide Imprensa, que garante os direitosda informação e do exercício daprofissão de jornalista.

É bom lembrar que ameaças ajornalistas são objeto depreocupação e apuração da ABI, daFederação Nacional dos Jornalistase do Sindicato dos JornalistasProfissionais no Estado de SãoPaulo. Fatos como este não podem enão devem se repetir em nenhumaDelegacia de Polícia do Estado oudo País.

Presidente Evo Morales acusa a mídia de se unir aos setores de oposição ao seu Governo.

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17Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

Mais de uma centena de profissionais da mídia morreram noexercício da atividade em 2006, ano que alcança o execrado pódiode mais mortífero da história para os jornalistas. O conflito do Ira-que assume um papel nefasto neste registro com quase metadedas perdas fatais. A lastimável contabilidade é referendada por or-ganismos internacionais de defesa da liberdade de expressão comoa ong Repórteres Sem Fronteiras, a Federação Internacional de Jor-nalistas e a Associação Mundial de Jornais, entre outros.

Afora esta preocupação sobremaneira vital que tem atingidodefinitivamente o jornalismo no mundo, há outra que assumeespecial relevância no debate sobre o trabalho dos meios de co-municação social.

Abrangendo todas as suas mídias – jornal, rádio, revista, tv einternet –, cada vez mais surgem formas de tentativa de amor-daçamento, em especial os ataques reiteradamente freqüentesà prerrogativa constitucional – no Brasil – do sigilo da fonte.

Inúmeros episódios têm escancarado as tentativas de vilipêndiodesta matéria-prima básica da boa informação: a preservação daorigem e dos agentes propulsores das mais relevantes matérias.

Exemplos surgem todos os dias, reprisando a situação vividapela ex-repórter do New York Times Judith Miller, que perma-neceu 85 dias na prisão em 2005 por desafiar uma ordem judicialpara que informasse suas fontes de informação e testemunhas-se em uma investigação sobre o vazamento à imprensa do nomede uma espiã da CIA.

Casos como este têm-se repetido recentemente, inclusive emnações ditas civilizadas como a França, a Holanda e nos própriosEUA, inclusive com novas detenções de profissionais, todas aten-tando contra o preceito assinalado no item III da Declaração deChapultepec: "Nenhum jornalista poderá ser compelido a reve-lar suas fontes de informação."

O mandamento constitucional brasileiro está inserido taxa-tivamente no inciso XIV do artigo 5º do capítulo dos "Direitose garantias fundamentais": "É assegurado a todos o acesso à in-formação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário aoexercício profissional."

Mesmo assim, o jornalismo tem sido notícia quando são gram-peados telefones de jornais e jornalistas como o ocorrido em 2005e 2006 com a Rede Gazeta (ES) e o jornal Folha de S.Paulo (SP).Ou como o que ocorreu com profissionais da revista Veja que,em outubro de 2006, sofreram tentativa de intimidação na PolíciaFederal (PF) para revelar as fontes utilizadas na matéria "Ope-ração Abafa", em que afirmam que o Ministro da Justiça teriaorientado policiais e acusados a blindarem o Presidente da Re-pública das acusações envolvendo o Dossiê Cuiabá. Um outrorepórter, da revista IstoÉ, teve que buscar na Justiça paulista a garantiado sigilo de suas fontes em matéria sobre um assassinato de 2004,onde era criticada a ação de setores da Polícia Civil paulista.

Estes são alguns casos tornados públicos. Como neste emara-nhado de tensões e pressões muita coisa não se revela, com certezahá uma série de outras ocorrências, inclusive internas, nas reda-ções, constrangendo jornalistas pela quebra de um dos pilares fun-damentais sobre o qual se assenta a informação de qualidade.

Até a famigerada Lei de Imprensa (5250/67), editada sob o tacãodo regime militar, garantia em seu artigo 7º: "No exercício da li-berdade de manifestação do pensamento e de informação não épermitido o anonimato. Será, no entanto, assegurado e respeita-do o sigilo quanto às fontes ou origem de informações recebidasou recolhidas por jornalistas, radiorrepórteres ou comentaristas."

A tomada de posição firme com uma nova postura dos pro-fissionais e empresários dos meios de comunicação social, bus-cando a consolidação de um marco regulador condizente comos novos tempos, deve considerar convictamente a preservaçãodeste ingrediente essencial da imprensa: o sigilo da fonte. Semele, não há imprensa livre, um dos pilares da democracia e, antesde tudo, um bem da sociedade e da cidadania.

Sigilo e liberdade

A organização Repórte-res Sem Fronteiras (RSF) di-vulgou na primeira semana dejaneiro o balanço anual so-bre a liberdade de im-prensa e a violência con-tra jornalistas no mun-do. Os números são sur-preendentes: 81 profissi-onais foram mortos en-quanto exerciam uas ativi-dades em 2006. É o maioríndice desde 1994, quando o nú-mero chegou a 103.

Dos 81 jornalistas assassinados em 2006, 64foram mortos no Iraque, considerado o país maisperigoso para profissionais da imprensa. Soman-do-se as vítimas desde o começo da guerra, em 2003,o número chega a 139, mais que o dobro de jor-nalistas mortos durante a guerra do Vietnã, quedurou 13 anos (Fonte: Almanaque Abril). O rela-tório da RSF apresenta estimativas de casos em quea morte do profissional está relacionada ao deverde informar, mas há outras dezenas de casos aindaem investigação que não entraram no ranking.

Já no continente americano, o México lideraa lista dos países com maior risco de vida para osprofissionais dos meios de comunicação e apare-ce em segundo lugar na lista da RSF. Foram noveos jornalistas mortos enquanto faziam investiga-ções sobre o narcotráfico ou cobriam movimen-tos sociais violentos. As Filipinas vêm na terceiraposição, com seis jornalistas mortos, e, em segui-da, a Rússia, com três.

Agressões e censuraO balanço anual também mostra que o núme-

Vilson Antonio Romero é jornalista da Associação Riograndense de Imprensa eDelegado Sindical do Sindifisp/RS

POR VILSON ANTONIO ROMERO

Repórteres Sem Fronteiras denunciamatentados, agressões e censura em todo o mundo.

Guerra do Iraque matou maisjornalistas do que a do Vietnã

ro de vítimas entre os co-laboradores dos veículosde comunicação saltoude cinco, em 2005, para

32, em 2006. São moto-ristas, tradutores, técnicos

e agentes de segurançasque passam a ilustrar alista da organização. No

ano passado, outro recor-de foi atingido: foram regis-

trados mais de 1.400 casos deagressão a jornalistas, a maioria

em razão de campanhas eleitorais.Já os índices de censura apresenta-

ram melhora: o número de casos dimi-nuiu de 1.006 em 2005 para 912 no ano passado.Os principais registros de cerceamento à liberda-de de imprensa se deram na Tailândia, onde mui-tos sites e mais de 300 rádios comunitárias foramfechados no dia seguinte ao golpe de Estado, em19 de setembro de 2006. Na China, Coréia do Nortee Birmânia, no entanto, a censura é tão freqüenteque não foi possível quantificar o número de meiosde comunicação prejudicados por ela.

No Egito, Arábia Saudita, Irã, Síria e Turcome-nistão, entre outros países, a internet é firmementecontrolada. Blogueiros dessas nações sofreram durasrestrições e chegaram a ser presos em algumas oca-siões. Até os fóruns de discussão de alguns sites foramretirados do ar.

No relatório (disponível na íntegra emwww.rsf.org), a RSF registra pela primeira vez onúmero de jornalistas seqüestrados em todo omundo. Em 2006, pelo menos 56 profissionais foramcapturados enquanto trabalhavam: 17 no Iraquee seis na Faixa de Gaza.

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Entre uma missão e outra, uma batalha e outra, os invasores norte-americanos curtem tirar fotografias edivulgá-las na internet, como se estivessem numa viagem de turismo. Esta foto é uma da série.

18 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

o ano em que completa o 75ºaniversário, Ziraldo foi o gran-de homenageado da 18ª ediçãodo Salão Carioca de Humor, o

mais importante evento de desenho eartes gráficas da América Latina. Até 30de abril, o Centro Cultural dos Correi-os abriga a exposição Jubileu do Ziral-do: 75 anos de um menino feliz, que fazum balanço dos mais de 50 anos de tra-balho do quadrinista, cartunista, escri-tor, jornalista e sócio da ABI.

Com o humor que lhe é característico,Ziraldo brinca com o fato de ser homena-geado mesmo estando em plena ativida-de: – É muito bom ser reconhecido, masacho que quiseram me homenagear an-tes que eu morra – diverte-se o artista, queparticipou intensamente da montagemda exposição, selecionando, junto com ocurador, Ricky Goodwin, cerca de 400 obraspara a exibição, entre cartuns, cartazes,quadrinhos e tirinhas, além de persona-gens como o Menino Maluquinho,Jeremias e Turma do Pererê.

A mostra, que tem ceno-grafia assinada por Da-niela Thomas, filha deZiraldo, ocupa dois andares doCentro Cultural dos Correios. A gran-deza do trabalho do artista ficaexposta em seis salas temáti-cas: O início de carreira, Ospersonagens, Sala in-fantil, Pasquim & po-lítica, Pôsters & carta-zes e Ora bolas (e belas)– Mulheres & futebol.Em um outro ambiente,estão reunidas carica-turas de 25 colegas emhomenagem a Ziraldoe a seu personagemmais famoso, o Meni-no Maluquinho.

Ziraldo orgulha-sede chegar aos 75 anos econtabilizar tantos tra-balhos. Ele diz que sópercebe o quanto traba-lhou quando vê seusfilhos – não os impres-

fotografado e, com a ajuda da tecnologia,o Paulo Caruso usou meus slides e recu-perou o painel.

Ziraldo informou que ainda há outrashomenagens previstas até o fim desteano, como o lançamento de um dvd dasérie Grandes Brasileiros, coordenada porFernando Barbosa Lima, e a inaugura-ção da exposição Ziraldo – O eterno Me-nino Maluquinho, voltada para o públi-co infantil, com fotos, desenhos origi-nais, livros, vídeos, filmes e um carro ale-górico criado pelo carnavalesco PauloBarros, que ficarão expostos no CentroCultural da Caixa Econômica. Ainda deacordo com o artista multimídia, deveser lançado pela Editora Melhoramen-tos, até o fim de 2007 o Almanaque do Zi-raldo, além de um livro que está ilustran-

do com a históriado musical Os sal-timbancos, de Chi-co Buarque.

Aliás, este anopode representartambém outromarco na vida deZiraldo: ele estáprestes a bater amarca de 10 mi-lhões de livros ven-didos e a expectati-va é de que alcan-ce o número entre2007 e 2008. Atu-almente, já atin-giu quase 9,7 mi-lhões – 2,5 milhõessó com O MeninoMaluquinho. Eguarda os textos demais dois livros in-fantis, O namora-do da fada, conti-

nuação do recém-lançado O menino dalua, e Meninas.

TrajetóriaZiraldo estreou profissionalmente

desenhando para publicidade, no fim dadécada de 40, em Minas Gerais. Nas dé-cadas de 50 e 60, começou a brilhar naimprensa, colaborando como cartunis-ta para revistas como O Cruzeiro, A Ci-garra, fenômenos de vendas da época.Ainda nos anos 60, lançou a Turma do Pe-rerê, primeira revista em quadrinhos bra-sileira de um único autor. Em 1969, es-treou na literatura infantil com Flicts, con-siderado um clássico do segmento.

Nos anos 60 e 70, militou contra a di-tadura com O Pasquim, que ajudou a fun-dar e revolucionou a imprensa, a lingua-gem e o comportamento do País na épo-ca. Em 1980, lançou O Menino Maluqui-nho, que até hoje bate sucessivos recor-des de vendas e o consagrou definitiva-mente junto ao público infantil.

Durante muitos anos, ele foi chargis-ta diário do Jornal do Brasil e cartunistada Visão. Criou personagens popularescomo a Supermãe, Jeremias, o bom eMineirinho Come-Quieto. Também pas-sou pela presidência da Funarte e foi editorde publicações como Bundas, Palavra,Pasquim 21 e Caderno B.

GENTE

75 ANOSO criador do Menino Maluquinho recebe homenagenspelo que realizou numa existência intensa e criativa.

Mais homenagensUm dos maiores destaques da exposição,

no entanto, encontra-se no Pátio dos Cor-reios: um painel de 15 metros, que é umaréplica do mural que o artista pintou noCanecão em 1967, mas que, apesar de todoo sucesso na época, foi encoberto por umaarquibancada construída um ano depois:

– Por sorte – diz Ziraldo – tinha tudo

sos, mas sim os de sangue – fazendo ani-versário. Lisonjeado com a homenagem,brinca:

– Não dá pra não ficar contente. Souexibido mesmo e gosto de mostrar o quefaço. E o meu acervo está aí servindo dereferência para o trabalho das novas ge-rações.

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Em comemoração aos 10 anos do Pasquim, foilançado na década de 80 o Almanaque do

Ziraldo, que trazia uma seleção de trabalhos dodesenhista, incluindo a dos super-heróis ao lado.

The Supermãe eO Menino Maluquinho

na exposição do CentroCultural dos Correios,

que fez um balanço dacarreira de Ziraldo.

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19Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

jornalista Silvestre Gorgulho,membro suplente do ConselhoDeliberativo da ABI e até entãoChefe da Representação da Casa

em Brasília, é desde 1º de janeiro Secretá-rio de Cultura do Distrito Federal. Formadoem Comunicação Social pela Universida-de Federal de Minas Gerais em 1972, noinício dos anos 80 Gorgulho foi professor-visitante na University of Minnesota(EUA). Trabalhou como repórter do Di-ário do Comércio, redator das revistas Veja,Quatro Rodas e Escola, da Editora Abril,e foi colunista do Jornal de Brasília, pordez anos. Em 1989, fundou seu própriojornal, a Folha do Meio Ambiente.

Esta não é a primeira vez que Silves-tre Gorgulho ocupa um cargo público.Ele passou pela Codevale (Comissão deDesenvolvimento do Vale do Jequiti-nhonha), vinculada ao Ministério daAgricultura e à Embrapa; de 1974 a 1998,esteve ao lado de três ministros de Esta-do – Alysson Paulinelli, Nestor Jost e JoséHugo Castelo Branco – e foi Secretáriodos Governadores José Aparecido de Oli-veira (DF), Harry Amorim (MS) e LuizRocha (MA):

– Criei a Secretaria de ComunicaçãoSocial do Distrito Federal. Antes, era ape-nas uma Coordenação – diz ele. – E, porum breve período, ocupei a Secretaria deImprensa da Presidência da República, noGoverno Sarney.

Gorgulho trabalha com o atual Gover-nador José Roberto Arruda desde 1986 –na gestão de José Aparecido no DF, oprimeiro foi Secretário de Comunicaçãoe o segundo, Secretário de Serviços Pú-blicos: – Somos conterrâneos do Sul deMinas e temos sonhos e propostas paraBrasília como Capital da República.Recebi o convite logo depois da eleição,em outubro. Foi até uma surpresa, poisminha ligação é mais com o jornalismoe com o meio ambiente. Quando o Go-vernador eleito me disse que gostaria decontar comigo, achei que fosse numadestas duas Pastas. Mas ele veio falandologo de Cultura. Disse claramente quehavia pessoas mais preparadas, mais dis-poníveis, e até relacionei algumas. Aí, umdia antes de anunciar os últimos nomesdo primeiro escalão, ele me avisou: anun-cio seu nome amanhã.

Para poder ocupar a Secretaria deCultura, Gorgulho deixou sua empre-sa Folha do Meio Ambiente para "mergu-lhar de cabeça nos desafios das questõesculturais de Brasília", onde mora há 33 anos– foi para lá, em 1974, a convite do entãoMinistro da Agricultura Alysson Pauli-nelli: – Vejo a possibilidade de interferirno dia-a-dia dos assuntos e implementarações que ratifiquem a importância de

O jornalista Paulo RamosDerengoski está à frente daPresidência provisória da filialde Lages do InstitutoHistórico Geográfico de SantaCatarina. Esta é a primeiraseção da entidade fundadafora da capital. Paralelamenteà sua inauguração, foi criada arevista História Catarina, cujasegunda edição começa acircular em março e trazcomo assunto principal aGuerra do Contestado. Oconvite para a Diretoriaprovisória surgiu em razão daatuação de Paulo comoassociado do IHGSC.

Paulo Derengoski, que écolaborador do Jornal da ABI eautor de 14 livros, diz que oIHGSC é uma entidade nãoacadêmica, criada com oobjetivo de preservar amemória catarinense. Oacervo do Instituto reúnedocumentos e uma bibliotecaespecializada em assuntos daregião, com fototeca emapoteca: – É um centro deestudos que está-seespalhando pelo Brasil e todasas seções são filiadas aoInstituto Histórico eGeográfico Brasileiro.

Derengo, como é tratadopelos amigos mais antigos,publicou suas obras fora doeixo Rio-São Paulo, abordandotemas como meio ambiente,guerras, artes e viagens, entreoutros. Todas as edições estãoesgotadas: – O que prova quenão só nas grandes capitaisexiste produção literária,embora a grande mídia, asbienais e as feiras gigantesmuitas vezes ignorem aprodução do Brasil profundo –diz ele.

Antes de se radicarnovamente em Lages, suaterra, onde está há mais detrês décadas, Derengoskitrabalhou na imprensa do Rio,como redator e editor depublicações da Bloch, comoManchete e Fatos & Fotos. Ele écolaborador freqüente do Sitee do Jornal da ABI, para osquais produziu textosexemplares, como, entreoutros, os dedicados a ErnestHemingway e Jack London.

nossos equipamentos culturais, reforcemo caráter aglutinador de uma capital, en-volvendo moradores e visitantes.

Sob a responsabilidade da Secretariade Cultura do Distrito Federal estão 54museus, o Teatro Nacional, o Pólo deCinema e Vídeo, a Orquestra Sinfôni-ca do Distrito Federal, o Arquivo Públi-co, bibliotecas, espaços culturais e even-tos como o Festival de Brasília do Cine-ma Brasileiro, para os quais Gorgulhoconta com o apoio declarado do novo Go-vernador:

– O Governador José Roberto Arrudatem envolvimento pessoal com a cultu-ra, foi quem praticamente criou o Pólode Cinema. Mas o trabalho é intenso,diário e interminável, seja para man-ter o existente, seja pelo que preten-demos implementar nos anos que seseguem.

O Ano NiemeyerO centenário de Oscar Niemeyer –

"uma das maiores personalidades vivas domundo e a personificação dos conceitosfundamentais da criação de Brasília" – estána agenda do novo Secretário: – Pensa-mos num cinema itinerante, com filmessobre o homenageado, sempre seguidosde debates e exibição por todo o DistritoFederal; no lançamento de um selo co-memorativo; na criação de um portal nainternet, com a vida e a obra do arquitetoe muita interatividade. O Ano OscarNiemeyer terminaria com um grandeseminário internacional sobre o 20º ani-versário do tombamento de Brasília, queé a única cidade do mundo tombada noséculo XX.

Gorgulho também pretende resgatare premiar as pessoas que foram importan-tes para o ato de tombamento da cidade– “quando o professor Darci Ribeiro

mandou um bilhete para o então Gover-nador José Aparecido com uma simplesfrase: 'Zé, você fincou uma lança na Lua'."Com relação à verba para investir nosprojetos, ele afirma:

– Partimos do compromisso – absolu-tamente cumprido nos primeiros dias donovo Governo – de obter receita sufici-ente, apoio oficial e estímulo na criaçãode ações e estratégias. Cabe a nós unircriatividade, tradição e vocação culturalda capital para que, rompendo as fronteirasdo Distrito Federal, nossa cidade sejareconhecida como capital de todos osbrasileiros, todas as culturas, todas asmanifestações de seu povo.

A vez da ABIA ABI não foi esquecida pelo novo

Secretário de Cultura do DF: – Há umsonho que nasceu na primeira reuniãoda atual Diretoria da Casa, em junhode 2004. Todos conhecem a história de lutae de trabalho da ABI pela cultura, a valo-rização política e a imprensa brasileira.Foram muitos os movimentos democrá-ticos encabeçados pela entidade, que vaicomemorar seu centenário em abril de2008. A intenção do Presidente Maurí-cio Azêdo era promover uma grande festa,quem sabe inaugurando a nova sede nacapital da República. E um de nossos as-sociados, também no caminho dos 100anos, topou fazer o projeto: o arquitetomaior Oscar Niemeyer. A ABI pensanuma sede que tenha biblioteca, museumultimídia e espaço cultural para passaràs futuras gerações a história de luta daimprensa brasileira. Uma sede que possareceber Chefes de Estado quando emvisita a Brasília, para entrevistas, seminá-rios, encontros e workshops.

Ele dirige a seção de Lages,a primeira fora dacapital catarinense.

Derengoskino InstitutoHistórico

Cultura é com Gorgulho

Gorgulho anuncia entre os planos da Secretaria de Cultura a comemoração do Ano Oscar Niemeyer.

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Além da homenagem a Niemeyer, o novo Secretárioquer reforçar o caráter aglutinador da Capital.

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20 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

DEPOIMENTO ARMANDO NOGUEIRA

Seriedade e éticano jornalismo de tv

iretor de Jornalismo da TV Globo entre 1973 e 1989, períodoem que consolidou um padrão de seriedade e ético nosnoticiários da rede, Armando Nogueira chega aos 80 anosem plena atividade em jornal e programas de televisão e

diz que assim pretende continuar “por necessidade profissional eexistencial”. Repórter, Armando foi testemunha do atentado con-tra o Major Rubem Vaz e o jornalista Carlos Lacerda, tendo escritoo texto na primeira pessoa do singular para o Diário Carioca e de-pois, como testemunha no processo, conseguiu entrevistar dois im-

plicados no caso, Climério e Alcino. Também como repórter, foto-grafou o técnico Zezé Moreira atirando uma chuteira na cabeça doministro de Esportes da Hungria, após a derrota brasileira por 4 a 2na Copa de 1954.

E foi como cronista esportivo que Armando Nogueira se tornouconhecido do grande público, em jornal e televisão, por seu estiloleve e poético ao tratar da paixão pelo futebol. Tão leve e poéticoquanto seu hobby: é piloto de ultra-leves, atendendo assim ao so-nho da juventude – ele queria ser aviador ou jornalista. É os dois.

D

Este acreano deXapuri, terra deChico Mendes,implantou econsolidou ojornalismo daTV Globo e diz

que o ponto maislouvável dessetrabalho, umaobra coletiva,

foi dar umpadrão ético

ao tratamentoda notícia.

ENTREVISTA A JOSÉREINALDO MARQUES

21Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

Jornal da ABI — Em que ano vocêEm que ano vocêEm que ano vocêEm que ano vocêEm que ano vocêchegou ao Rio de Janeiro?chegou ao Rio de Janeiro?chegou ao Rio de Janeiro?chegou ao Rio de Janeiro?chegou ao Rio de Janeiro?

Armando Nogueira — Cheguei aquiem setembro de 1944, com 17 anos,vindo diretamente de Rio Branco, numvôo da Cruzeiro do Sul que levava doisdias do Acre ao Rio.

Jornal da ABI — Qual foi a primeiraQual foi a primeiraQual foi a primeiraQual foi a primeiraQual foi a primeiraimpressão que teve da cidade?impressão que teve da cidade?impressão que teve da cidade?impressão que teve da cidade?impressão que teve da cidade?

Armando — Mais que um deslum-bramento, foi um choque emocional,porque nunca tinha visto o mar, asfal-to, bonde e automóvel — até àquelaaltura, só tinha conhecido um carro na

minha vida. A sensação fí-sica era de que estavarespirando um ar quepertencia a outros e nãoa mim. Que eu estavausurpando o meio físicode um carioca. Isso medava desconforto e inse-gurança muito grande.

Jornl da ABI — PPPPPor quê?or quê?or quê?or quê?or quê?Armando — Eu me

sentia muito intimidadoe afrontado com a mara-vilha que era a vida urba-na, com todos os ingredi-entes que naquela época

eram sedutores. O Rio erauma cidade sem violênciae muito cordial que sopra-va a brisa do poder, por sera capital da República.

Jornal da ABI — O queO queO queO queO quemais o impressionava eramais o impressionava eramais o impressionava eramais o impressionava eramais o impressionava eraa estra estra estra estra estrutura urbana da ci-utura urbana da ci-utura urbana da ci-utura urbana da ci-utura urbana da ci-dade grande ou a postu-dade grande ou a postu-dade grande ou a postu-dade grande ou a postu-dade grande ou a postu-ra do povo carioca?ra do povo carioca?ra do povo carioca?ra do povo carioca?ra do povo carioca?

Armando — Todos es-ses elementos juntos. So-fri forte impacto com a be-leza da cidade e tambémcom as manifestações daspessoas, que, de certamaneira, me deixavaminibido pelo olhar, o sor-riso e o ar sisudo com queme assustavam no bonde.

Jornal da ABI — Demorou muito paraDemorou muito paraDemorou muito paraDemorou muito paraDemorou muito parase adaptar à nova realidade?se adaptar à nova realidade?se adaptar à nova realidade?se adaptar à nova realidade?se adaptar à nova realidade?

Armando — Demais. Era impressi-onante como eu, jovem interiorano, mesentia muito órfão. Nessa época o Brasilera um arquipélago urbano, as cidadespouco se intercomunicavam. Conseguisuperar essa fase graças à rotina do Ins-tituto Lafayete, onde me matriculeipara complementar os estudos.

Jornal da ABI — Como se deu esseComo se deu esseComo se deu esseComo se deu esseComo se deu esseprocesso?processo?processo?processo?processo?

Armando — A convivência com oscolegas de turma foi decisiva para euconquistar um lugar na cidade. Um dado

muito curioso contribuiu para a minhaadaptação: a simpatia que as pessoasdemonstravam por alguém com pro-cedência tão exótica de acreano comoeu; quando ninguém sabia que o Acreexistia. Isso despertava muito interesse,era como se eles dissessem “descobri-mos um kaxinauá, um apurinã”, paracitar as duas tribos indígenas mais co-nhecidas do Estado.

Jornal da ABI — E por que você resol-E por que você resol-E por que você resol-E por que você resol-E por que você resol-vvvvveu sair de Xapuri, sua cidade natal?eu sair de Xapuri, sua cidade natal?eu sair de Xapuri, sua cidade natal?eu sair de Xapuri, sua cidade natal?eu sair de Xapuri, sua cidade natal?

Armando — Achava que estava semhorizonte no Acre. Minha intenção eracontinuar a carreira de pilotagem, ini-ciada no aeroclube de Rio Branco.

Jornal da ABI — Então seu gosto porEntão seu gosto porEntão seu gosto porEntão seu gosto porEntão seu gosto poraeronaves é antigo?aeronaves é antigo?aeronaves é antigo?aeronaves é antigo?aeronaves é antigo?

Armando — É um devaneio desdeque eu tinha cinco anos de idade, quan-do tinha freqüentes sonhos de queestava voando nas asas de um regadorde jardim. Voar de ultraleve, como façoatualmente, não é um acaso na minhavida. Eu diria que faz parte de uma pre-destinação.

Jornal da ABI— PPPPPor que você deci-or que você deci-or que você deci-or que você deci-or que você deci-diu estudar Direito?diu estudar Direito?diu estudar Direito?diu estudar Direito?diu estudar Direito?

Armando — Esse era o desejo do meu

pai. Acabei me formando, mas nuncafui buscar o diploma.

Jornal da ABI — A vontade de ser jorA vontade de ser jorA vontade de ser jorA vontade de ser jorA vontade de ser jor-----nalista já era mais forte?nalista já era mais forte?nalista já era mais forte?nalista já era mais forte?nalista já era mais forte?

Armando — Quando eu estava nosegundo ano de Direito, abriu-se umaoportunidade para eu exercer o jorna-lismo. Experiência — muito incipien-te — que eu já tinha tido quando esta-va no colegial e redigia notícias para ojornal O Acre. Meu sonho oscilava entreser aviador ou jornalista, nunca bacha-rel, porque já estava no pleno exercí-cio da atividade de imprensa.

Jornal da ABI — Onde foi o seu pri-Onde foi o seu pri-Onde foi o seu pri-Onde foi o seu pri-Onde foi o seu pri-meiro emprego como jormeiro emprego como jormeiro emprego como jormeiro emprego como jormeiro emprego como jornalista?nalista?nalista?nalista?nalista?

Armando — Num jornal que já de-sapareceu do mapa, chamado DiárioCarioca, mas não sumiu da História,porque foi um veículo muito importan-te no Rio de Janeiro.

Jornal da ABI — Como profissional,Como profissional,Como profissional,Como profissional,Como profissional,você já começou atuando na editoriavocê já começou atuando na editoriavocê já começou atuando na editoriavocê já começou atuando na editoriavocê já começou atuando na editoriade Esportes?de Esportes?de Esportes?de Esportes?de Esportes?

Armando — Sim, fiz a cobertura dasequipes que vieram ao Brasil disputara Copa do Mundo de 1950.

Jornal daJornal daJornal daJornal daJornal da ABIABIABIABIABI — Nessa época o — Nessa época o — Nessa época o — Nessa época o — Nessa época o Di-Di-Di-Di-Di-ário Cariocaário Cariocaário Cariocaário Cariocaário Carioca contava com uma equipe contava com uma equipe contava com uma equipe contava com uma equipe contava com uma equipede jorde jorde jorde jorde jornalistas de primeira linha, quenalistas de primeira linha, quenalistas de primeira linha, quenalistas de primeira linha, quenalistas de primeira linha, queincluía Pincluía Pincluía Pincluía Pincluía Prrrrrudente de Morais, neto eudente de Morais, neto eudente de Morais, neto eudente de Morais, neto eudente de Morais, neto eCarlos Castelo Branco. Como foi con-Carlos Castelo Branco. Como foi con-Carlos Castelo Branco. Como foi con-Carlos Castelo Branco. Como foi con-Carlos Castelo Branco. Como foi con-viver com eles?viver com eles?viver com eles?viver com eles?viver com eles?

Armando — Eu era um garoto ex-

tremamente comunicativo, isso faci-litou demais meu acesso a essa gera-ção de monstros sagrados do jornalis-mo, entre os quais faço questão de citaro legendário jornalista Jota Efegê, quefoi crítico musical. Conheci tambémPompeu de Sousa e Sábato Magaldi, queeram críticos de teatro; Oto Lara Re-sende, repórter político; FernandoSabino, colunista e cronista. Essa eliteme adotou, inclusive me chamava ca-rinhosamente de Armando Doidinho.

Jornal da ABI — PPPPPor que o apelido?or que o apelido?or que o apelido?or que o apelido?or que o apelido?Armando — Porque eu era muito safo

e elétrico e eles achavam que eu tinhauma espontaneidade que atribuíam àmagnanimidade da floresta acreana.Tanto que ao me apresentar a seusamigos da boemia, quando saíamos ànoite do jornal, o Rubem Braga dizia:“Esse aqui é o Armando Nogueira,recém-chegado do Acre, onde vivia dacaça, da pesca e da coleta de frutosnaturais, como um bom nativo.”

Jornal da ABI — O O O O O Diário CariocaDiário CariocaDiário CariocaDiário CariocaDiário Cariocafoi, então, a sua escola de jorfoi, então, a sua escola de jorfoi, então, a sua escola de jorfoi, então, a sua escola de jorfoi, então, a sua escola de jornalismo?nalismo?nalismo?nalismo?nalismo?

Armando — Foi a minha escoladefinitiva, na qual me preparei do pontode vista técnico e, sobretudo, ético paraexercer a profissão.

Jornal da ABI — VVVVVocê ainda traba-ocê ainda traba-ocê ainda traba-ocê ainda traba-ocê ainda traba-lhava no lhava no lhava no lhava no lhava no DiárioDiárioDiárioDiárioDiário quando testemu- quando testemu- quando testemu- quando testemu- quando testemu-nhou o atentado ao jornalistanhou o atentado ao jornalistanhou o atentado ao jornalistanhou o atentado ao jornalistanhou o atentado ao jornalistaCarlos Lacerda?Carlos Lacerda?Carlos Lacerda?Carlos Lacerda?Carlos Lacerda?

Armando — Sim, e fiz a matériaprincipal. Eu estava entrando em casaquando presenciei o atentado (na noi-te de 5 de agosto de 1954). A primeiracoisa que fiz foi correr para uma esquina,entrar num bar em busca de um tele-fone e ligar para o jornal. Pedi ao secre-tário de Redação, que era o Pompeu deSousa, para não fechar a edição, por-que eu tinha acabado de assistir aoatentado contra o Carlos Lacerda, iaapurar os últimos dados e voltariacorrendo para lá.

Jornal da ABI — O que aconteceu emO que aconteceu emO que aconteceu emO que aconteceu emO que aconteceu emseguida?seguida?seguida?seguida?seguida?

Armando — Ele pôs todo mundo deplantão e me deu instrução para redi-gir a reportagem na primeira pessoa dosingular, ato que acabaria se tornandoum fato quase histórico na técnica deescrever notícias de jornal.

Jornal da ABI — O teO teO teO teO texto é considera-xto é considera-xto é considera-xto é considera-xto é considera-do um marco no jordo um marco no jordo um marco no jordo um marco no jordo um marco no jornalismo brasileiro...nalismo brasileiro...nalismo brasileiro...nalismo brasileiro...nalismo brasileiro...

Armando — Foi uma grande jogadado Pompeu, que me transformou derepórter em testemunha.

Jornal da ABI — Diz-se que todo re-Diz-se que todo re-Diz-se que todo re-Diz-se que todo re-Diz-se que todo re-pórter é testemunha dos fatos.pórter é testemunha dos fatos.pórter é testemunha dos fatos.pórter é testemunha dos fatos.pórter é testemunha dos fatos.

Armando — Isso é uma metáfora,mas no meu caso, não. O Pompeu,deliberadamente, me lançou na condi-

ção de testemunha. No inquérito quecorria no 2º Distrito Policial, me inclu-íram como peça do processo. Com isso,passei a ter acesso aos personagensprincipais do episódio, como o Climé-rio (investigador Climério Eurides deAlmeida, apontado como integrante daguarda pessoal de Getúlio Vargas) e oAlcino (João Alcino do Nascimento, queconfessou ter matado o Major RubensVaz), que eu entrevistei tirando parti-do da minha condição de testemunhaprocessual.

Jornal da ABI — Então o repórter Então o repórter Então o repórter Então o repórter Então o repórteresportivo acabou se transforesportivo acabou se transforesportivo acabou se transforesportivo acabou se transforesportivo acabou se transformandomandomandomandomandonum privilegiado repórter policial?num privilegiado repórter policial?num privilegiado repórter policial?num privilegiado repórter policial?num privilegiado repórter policial?

Armando — Na verdade, um repór-ter político-policial.

Jornal da ABI — Em algum momen-Em algum momen-Em algum momen-Em algum momen-Em algum momen-to pensou em trocar de editoria?to pensou em trocar de editoria?to pensou em trocar de editoria?to pensou em trocar de editoria?to pensou em trocar de editoria?

Armando — Fiquei tentado. NoDiário Carioca, segui uma carreira quepassava, paralelamente, pela Políti-ca e os Esportes. Só que fazer maté-rias em duas frentes era quase impos-sível. Então eu me mantive comorepórter político e o jornal criou paramim uma coluna chamada Bola prafrente, que eu assinava com o pseu-dônimo de Arno.

Jornal da ABI — Quanto tempoQuanto tempoQuanto tempoQuanto tempoQuanto tempodurou essa coluna?durou essa coluna?durou essa coluna?durou essa coluna?durou essa coluna?

Armando — Três anos. Depois apa-receu um liquidificador da marca Arno,que inviabilizou o pseudônimo, e eupassei a assinar a coluna com o meuverdadeiro nome, Armando Nogueira.

Jornal da ABI — Quando o esporteQuando o esporteQuando o esporteQuando o esporteQuando o esportedominou de vez sua trajetória no jordominou de vez sua trajetória no jordominou de vez sua trajetória no jordominou de vez sua trajetória no jordominou de vez sua trajetória no jor-----nalismo? nalismo? nalismo? nalismo? nalismo?

Armando — Nunca deixei a edito-ria. Continuei cronista esportivo doDiário Carioca, ao mesmo tempo emque era redator-copidesque do jornal eredator principal da revista Manchete,de 1954 a 55, sob a direção de Oto LaraResende. Fiz o mesmo quando vireirepórter de Geral em O Cruzeiro e quan-do fui trabalhar no Jornal do Brasil em59, logo após a reforma.

Jornal da ABI — FFFFFale de sua passa-ale de sua passa-ale de sua passa-ale de sua passa-ale de sua passa-gem pelo gem pelo gem pelo gem pelo gem pelo JBJBJBJBJB.....

Armando — Eu me transferi para láa convite do Carlos Lemos, que estavacriando uma nova figura na Redação, quetive o privilégio de estrear na imprensacarioca: a de pauteiro. Eu chegava às 4h,lia todos os jornais, fazia um pré-roteirode matérias, e ia embora às 7h. Como meuscompanheiros me viam apenas no dia dopagamento, surgiu um movimento di-zendo que eu era protegido da direção esó aparecia para pegar o dinheiro.

Jornal da ABI — Como você reagiu?Como você reagiu?Como você reagiu?Como você reagiu?Como você reagiu?Armando — Para neutralizar a ma-

“O Diário Carioca foi a minha escola definitiva, na qual me prepareido ponto de vista técnico e, sobretudo, ético para exercer a profissão”

22 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

ledicência e mostrar às pessoas que eucomeçava no batente de madrugada,morto de sono, num horário que nemcontínuo pegava, criei uma marca parao meu trabalho. Na primeira lauda,punha o título: “Balanço do dia”. Em-baixo, escrevia: “Não leva a vida na flautaquem vive de fazer pauta”. E assinava:“Armando Nogueira, o filho da pauta”.

Jornal da ABI — Qual foi sua fun-Qual foi sua fun-Qual foi sua fun-Qual foi sua fun-Qual foi sua fun-ção seguinte no jorção seguinte no jorção seguinte no jorção seguinte no jorção seguinte no jornal?nal?nal?nal?nal?

Armando — Copidesque da edito-ria de Esportes, por sugestão tambémdo Carlos Lemos. Na época, NascimentoBrito, então dono do JB, havia compradoa Tribuna da Imprensa do Carlos Lacer-da. O Alberto Dines, que era editor-chefe do JB, me convidou para escre-ver na Tribuna uma coluna que batizoude Na grande área. A estréia foi logo apóso Mundial de 62, no Chile, mas trêsmeses depois houve um desentendi-mento entre o Nascimento Brito e oHélio Fernandes, que retomou o jornal.Então a coluna Na grande área passoua ser publicada no Jornal do Brasil, jun-tamente com a Coluna do Castelo, doCarlos Castelo Branco, também cria-da pelo Dines.

Jornal da ABI — P P P P Por quanto tempoor quanto tempoor quanto tempoor quanto tempoor quanto tempoa coluna ficou no a coluna ficou no a coluna ficou no a coluna ficou no a coluna ficou no JBJBJBJBJB?????

Armando — Até 1973, quando medesliguei do jornal e fui ser exclusivoda recém-inaugurada TV Globo, comodiretor de Jornalismo..

Jornal da ABI — Antes de falarAntes de falarAntes de falarAntes de falarAntes de falarmosmosmosmosmosda da da da da GloboGloboGloboGloboGlobo, poderia comentar o furo que, poderia comentar o furo que, poderia comentar o furo que, poderia comentar o furo que, poderia comentar o furo quevocê deu na Copa de 1954, na Suíça, evocê deu na Copa de 1954, na Suíça, evocê deu na Copa de 1954, na Suíça, evocê deu na Copa de 1954, na Suíça, evocê deu na Copa de 1954, na Suíça, eque o projetou definitivamente comoque o projetou definitivamente comoque o projetou definitivamente comoque o projetou definitivamente comoque o projetou definitivamente comorepórter esportivo?repórter esportivo?repórter esportivo?repórter esportivo?repórter esportivo?

Armando — Fotografei uma brigaentre brasileiros e húngaros, cena queentraria para a história dos sururus dosMundiais de futebol. Enfiei uma câmera

pelo basculante do vestiário e fotografei,sem querer, o Zezé Moreira, que era téc-nico da nossa Seleção, arremessando umachuteira no rosto do então ministro deEsportes da Hungria. O flagrante me deugrande popularidade no meio profissio-nal e ainda ganhei uns trocadinhos,porque alguns veículos — como a revis-ta El Gráfico, de Buenos Aires — compra-ram a foto.

Jornal da ABI — VVVVVocê se consideraocê se consideraocê se consideraocê se consideraocê se consideraum jorum jorum jorum jorum jornalista de sorte?nalista de sorte?nalista de sorte?nalista de sorte?nalista de sorte?

Armando — Na verdade, eu estavaonde tinha que estar para ser benefici-ado com a sorte. Picasso dizia: “Eu tenhosorte porque toda vez que ela me pro-cura me encontra no meu ateliê, tra-balhando.”. Quando a sorte me procu-rou, no dia do atentado contra o Car-los Lacerda, eu estava no exercícioprofissional; assim como na Copa, emque fiz uma foto que não esperava.

Jornal da ABI — V V V V Você foi apuradorocê foi apuradorocê foi apuradorocê foi apuradorocê foi apurador,,,,,repórterrepórterrepórterrepórterrepórter, redator e comentarista de, redator e comentarista de, redator e comentarista de, redator e comentarista de, redator e comentarista deEsportes. Quanto essa eEsportes. Quanto essa eEsportes. Quanto essa eEsportes. Quanto essa eEsportes. Quanto essa experiência sig-xperiência sig-xperiência sig-xperiência sig-xperiência sig-nificou para o enificou para o enificou para o enificou para o enificou para o exxxxxercício da crônica?ercício da crônica?ercício da crônica?ercício da crônica?ercício da crônica?

Armando — Foi fundamental. Omelhor caminho para a formação de umprofissional de jornalismo, de qualquereditoria, vai do estágio na Reportagematé o ponto de passar a assinar maté-rias, especialmente para quem desejaser comentarista ou cronista.

Jornal da ABI — Quem é o melhorQuem é o melhorQuem é o melhorQuem é o melhorQuem é o melhorcronista esportivo brasileiro?cronista esportivo brasileiro?cronista esportivo brasileiro?cronista esportivo brasileiro?cronista esportivo brasileiro?

Armando — Para mim, Nélson Ro-drigues era o maior do mundo. Ele nãotinha olhos para ver as partidas, por-que enxergava pouco. No entanto,ninguém jamais escreveu crônicas comoele sobre a Seleção, os ídolos da bola eo Fluminense do seu coração. O Nél-son via o futebol por meio da alma. Eraum extraordinário dramaturgo que se

transformou em cronista, função quenos permite viajar e recriar, com direi-to a devaneios.

Jornal da ABI — Suas crônicas fica-Suas crônicas fica-Suas crônicas fica-Suas crônicas fica-Suas crônicas fica-ram famosas devido ao estilo poético.ram famosas devido ao estilo poético.ram famosas devido ao estilo poético.ram famosas devido ao estilo poético.ram famosas devido ao estilo poético.O futebol lhe inspira poesia?O futebol lhe inspira poesia?O futebol lhe inspira poesia?O futebol lhe inspira poesia?O futebol lhe inspira poesia?

Armando — Se fosse escrever sobreaviação, outra das minhas paixões, ofaria com o mesmo enfoque. Para mim,a poesia é uma janela que me permitedebruçar sobre a vida. Haja o que hou-ver na minha paisagem, eu descreve-rei sempre com um toque de poesia. Seeu sou poeta, não sei; mas poético, tenhocerteza.

Jornal da ABI — A crônica valoriza oA crônica valoriza oA crônica valoriza oA crônica valoriza oA crônica valoriza ojorjorjorjorjornalismo esportivo ou é o contrário?nalismo esportivo ou é o contrário?nalismo esportivo ou é o contrário?nalismo esportivo ou é o contrário?nalismo esportivo ou é o contrário?

Armando — A crônica veio dar umtoque literário ao jornalismo esporti-vo, que é seguramente a vertente maisfecunda para alimentar os ideais de umpoeta ou grande trovador.

Jornal da ABI — PPPPPor quê?or quê?or quê?or quê?or quê?Armando — Porque numa partida

de futebol ou vôlei ou numa corrida de100 metros você vê concentrados to-dos os sentimentos que regem a exis-tência humana, dos mais subalternos

DEPOIMENTO ARMANDO NOGUEIRA

aos mais sublimes. No esporte, convi-vemos com ódio, paixão, soberba, frus-tração, lágrima, sorriso, ironia... Todasas emoções e qualidades que enaltecemou aviltam o ser humano se encontramna grande alegoria do esporte. Então,é um prato cheio para um poeta.

Jornal da ABI — Nos anos 60, vocêNos anos 60, vocêNos anos 60, vocêNos anos 60, vocêNos anos 60, vocêfoi um dos curingas do programafoi um dos curingas do programafoi um dos curingas do programafoi um dos curingas do programafoi um dos curingas do programaMesa-redonda FMesa-redonda FMesa-redonda FMesa-redonda FMesa-redonda Facit, da TV Rio, hojeacit, da TV Rio, hojeacit, da TV Rio, hojeacit, da TV Rio, hojeacit, da TV Rio, hojeeeeeextinta. Ele foi realmente um dos me-xtinta. Ele foi realmente um dos me-xtinta. Ele foi realmente um dos me-xtinta. Ele foi realmente um dos me-xtinta. Ele foi realmente um dos me-lhores debates esportivos da televi-lhores debates esportivos da televi-lhores debates esportivos da televi-lhores debates esportivos da televi-lhores debates esportivos da televi-são brasileira?são brasileira?são brasileira?são brasileira?são brasileira?

Armando — O programa contavacom grandes personalidades, comoNélson Rodrigues, João Saldanha, queera uma figura sedutora, e Luiz Men-des, grande narrador. Foi a melhor portade entrada para o debate esportivo naTV, revestido, ao mesmo tempo, deinteligência e de paixão. Esse binômiofoi irresistível para perenizar a atração,dirigida pelo saudoso companheiroAugusto Melo Pinto, que deu forma auma idéia de Walter Clark.

Jornal da ABI — O que mais o atraiO que mais o atraiO que mais o atraiO que mais o atraiO que mais o atraina televisão?na televisão?na televisão?na televisão?na televisão?

Armando — Gosto muito de fazertv. Outro dia o Otávio Florisbal, dire-

Armando diante de duas de suas paixões: o Botafogo de Futebol e Regatas, que ele aprendeua amar ao ver o lendário Heleno de Freitas jogando, e a aviação. Ele é siderado por gaita, que

está aprendendo a tocar. Abaixo, num estúdio de televisão, em que é reconhecido mestre.

23Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

tor-geral da Globo, me perguntou: “Ar-mando, onde é que você se sente melhor,por trás das câmeras ou diante delas?”Respondi que me sinto muito maismotivado atrás das câmeras. Devo reco-nhecer que tenho que ir pra frente delaspara me valorizar no mercado, mas o meuideal é atuar nos bastidores. É um desafioquase neurótico comandar uma cober-tura, seja de uma partida de futebol oude um buraco na rua.

Jornal da ABI — Seus colegas e oSeus colegas e oSeus colegas e oSeus colegas e oSeus colegas e opúblico dizem que você é um cra-público dizem que você é um cra-público dizem que você é um cra-público dizem que você é um cra-público dizem que você é um cra-que do jorque do jorque do jorque do jorque do jornalismo esportivo. Pnalismo esportivo. Pnalismo esportivo. Pnalismo esportivo. Pnalismo esportivo. Porororororque você mesmo acha que ainda nãoque você mesmo acha que ainda nãoque você mesmo acha que ainda nãoque você mesmo acha que ainda nãoque você mesmo acha que ainda nãoatingiu a valorização profissionalatingiu a valorização profissionalatingiu a valorização profissionalatingiu a valorização profissionalatingiu a valorização profissionaldesejada?desejada?desejada?desejada?desejada?

Armando — Se sentisse que não pre-cisava dessa valorização, estaria corren-do um risco muito grande de morrer antesdo tempo, porque perderia essa coisafundamental na existência humana queé se sentir desafiado pela própria vida.

Jornal da ABI — VVVVVocê foi um dosocê foi um dosocê foi um dosocê foi um dosocê foi um dosresponsáveis pela implantação doresponsáveis pela implantação doresponsáveis pela implantação doresponsáveis pela implantação doresponsáveis pela implantação doDepartamento de Jornalismo daDepartamento de Jornalismo daDepartamento de Jornalismo daDepartamento de Jornalismo daDepartamento de Jornalismo daGlobo. O que foi mais significati-Globo. O que foi mais significati-Globo. O que foi mais significati-Globo. O que foi mais significati-Globo. O que foi mais significati-vo em sua passagem pela emisso-vo em sua passagem pela emisso-vo em sua passagem pela emisso-vo em sua passagem pela emisso-vo em sua passagem pela emisso-ra?ra?ra?ra?ra?

Armando — Essa implantação foi,antes de tudo, obra coletiva. Agora, se eupudesse destacar o ponto mais louváveldesse trabalho, eu diria que foi a criaçãode um padrão ético no tratamento danotícia, no respeito à responsabilidadesocial do veículo e na configuração detodos os elementos do telejornalismo, doprodutor ao locutor, criados sob o rótulode operários e não de artistas. Se eu dei umacontribuição relevante, foi essa. Porquenotícia se apura por fontes, que podem serqualificadas ou não, mas o revestimentomoral da informação só é preservado se exis-tir um modelo ético inflexível. De talmaneira que, mesmo quando atravessa-mos todo o período da ditadura militar,fazendo um noticioso como o JornalNacional, ainda assim conseguimosimplantar um padrão de credibilidade,porque tínhamos o apoio da direçãoda Rede Globo de então, da qual faço

questão de citar o Walter Clark e o Boni. Jornal da ABI — VVVVVocê chegou a terocê chegou a terocê chegou a terocê chegou a terocê chegou a ter

alguma dificuldade na direção doalguma dificuldade na direção doalguma dificuldade na direção doalguma dificuldade na direção doalguma dificuldade na direção doJornalismo da emissora?Jornalismo da emissora?Jornalismo da emissora?Jornalismo da emissora?Jornalismo da emissora?

Armando — Naquela época, vivia-seuma briga de cão e gato entre a área comer-cial e a editorial, com pessoas ligadas àsagências de publicidade querendo inter-ferir de maneira tendenciosa para distor-cer a verdade dos fatos.

Jornal da ABI — E qual era a posi-E qual era a posi-E qual era a posi-E qual era a posi-E qual era a posi-ção do Roberto Marinho?ção do Roberto Marinho?ção do Roberto Marinho?ção do Roberto Marinho?ção do Roberto Marinho?

Armando — Com ele tive menos difi-culdade, porque encontrei apoio total.Toda a direção da emissora costumava medizer que eu estava no caminho certo. “Deveser assim mesmo, tem que ser ético”,incentivavam eles.

Jornal da ABI — Alguém tentouAlguém tentouAlguém tentouAlguém tentouAlguém tentoucontrariar esse processo?contrariar esse processo?contrariar esse processo?contrariar esse processo?contrariar esse processo?

Armando — Havia um sujeito de umaagência de propaganda, ligada ao patro-

cinador do primeiro telejornal que fize-mos, o Ultranotícias. Quando assumi oJornalismo, ele passou a ser o primeiro areceber o script do jornal e o censuravaseguindo instruções da sua empresa. Atéque eu lhe disse: “Você vai continuarsendo o primeiro a receber o espelho dojornal, mas o último a opinar sobre ele.”A partir daí, estabeleceu-se uma guerracom a agência e o anunciante. Eu banquei,a direção da Globo ficou do meu lado e nósacabamos com a interferência da publi-cidade nos jornais da emissora.

Jornal da ABI — Na campanha pre-Na campanha pre-Na campanha pre-Na campanha pre-Na campanha pre-sidencial de 1989, como você rea-sidencial de 1989, como você rea-sidencial de 1989, como você rea-sidencial de 1989, como você rea-sidencial de 1989, como você rea-giu ao episódio da edição do deba-giu ao episódio da edição do deba-giu ao episódio da edição do deba-giu ao episódio da edição do deba-giu ao episódio da edição do deba-te entre Lte entre Lte entre Lte entre Lte entre Lula e Collorula e Collorula e Collorula e Collorula e Collor, favorecen-, favorecen-, favorecen-, favorecen-, favorecen-do este último no do este último no do este último no do este último no do este último no Jornal NacionalJornal NacionalJornal NacionalJornal NacionalJornal Nacional?????

Armando — Fiquei muitodecepcionado, mas não

com meus superiores esim com os meus subor-dinados, que se porta-

ram de maneiramuito equivocadana adulteração do de-bate. Isso contri-

buiu, definitivamente, para eu sair da emis-sora.

Jornal da ABI — Gostaria que vocêGostaria que vocêGostaria que vocêGostaria que vocêGostaria que vocêfalasse sobre Copas do Mundo, eventofalasse sobre Copas do Mundo, eventofalasse sobre Copas do Mundo, eventofalasse sobre Copas do Mundo, eventofalasse sobre Copas do Mundo, eventoesportivo que acompanha desde 1950.esportivo que acompanha desde 1950.esportivo que acompanha desde 1950.esportivo que acompanha desde 1950.esportivo que acompanha desde 1950.

Armando — É mera circunstância —pelas oportunidades profissionais que osveículos me deram de acompanhar osMundiais — e um pouco de obstinação— por eu gostar muito de futebol e deviver a adrenalina do esporte. Acabeitransformando isso num patrimônio que,além de profissional, é sentimental.

Jornal da ABI — Na Copa de 1954,Na Copa de 1954,Na Copa de 1954,Na Copa de 1954,Na Copa de 1954,Nélson Rodrigues implicou com suas re-Nélson Rodrigues implicou com suas re-Nélson Rodrigues implicou com suas re-Nélson Rodrigues implicou com suas re-Nélson Rodrigues implicou com suas re-portagens sobre a Seleção Húngara, di-portagens sobre a Seleção Húngara, di-portagens sobre a Seleção Húngara, di-portagens sobre a Seleção Húngara, di-portagens sobre a Seleção Húngara, di-zendo que os tezendo que os tezendo que os tezendo que os tezendo que os textos eram pura ficção.xtos eram pura ficção.xtos eram pura ficção.xtos eram pura ficção.xtos eram pura ficção.VVVVVocê chegou a questioná-lo sobre isso?ocê chegou a questioná-lo sobre isso?ocê chegou a questioná-lo sobre isso?ocê chegou a questioná-lo sobre isso?ocê chegou a questioná-lo sobre isso?

Armando — Cheguei a romper re-lações com o Nélson, preocupado com aminha reputação profissional. Com aautoridade que ele tinha, ao criar uma

ficção para questionar o talento da Sele-ção Húngara, de certa forma desvalori-zava o meu trabalho, numa fase da mi-nha carreira em que eu precisava meafirmar perante o público. Depois per-cebi que ele não me havia feito malalgum; tinha até me promovido. Ain-da contribuiu para dar respeitabilida-de a tudo que eu fazia e, sobretudo, aojornalismo esportivo brasileiro. Hoje,sou muito grato ao Nélson.

Jornal da ABI — Quais foram asQuais foram asQuais foram asQuais foram asQuais foram asmelhores Copas a que você assistiu?melhores Copas a que você assistiu?melhores Copas a que você assistiu?melhores Copas a que você assistiu?melhores Copas a que você assistiu?

Armando — Esquecendo as derro-tas e pensando nas equipes, elejo a de1950 — pelo futebol do mais alto níveljogado pelo Brasil, principalmente naspartidas memoráveis contra Espanha,Suécia e Iugoslávia, e a de 1958, quan-do as seleções do Brasil e da França meimpressionaram muito. A nossa foi oextremo da excelência em matéria defutebol-arte.

Jornal da ABI — O que o fez che-O que o fez che-O que o fez che-O que o fez che-O que o fez che-gar a essa conclusão?gar a essa conclusão?gar a essa conclusão?gar a essa conclusão?gar a essa conclusão?

Armando — Em 58 aconteceu a liber-tação do futebol brasileiro, que passou

uma década inteira atreladoa esquemas europeus de jo-gar, até aparecerem Garrin-cha e Pelé, fazendo uma re-

“A poesia é uma janela que me permite debruçar sobre a vida”

volução para impor a vitória do drible.

Jornal da ABI — Outras Copas lheOutras Copas lheOutras Copas lheOutras Copas lheOutras Copas lheagradaram?agradaram?agradaram?agradaram?agradaram?

Armando — A de 1974, na Alema-nha, foi admirável, pelo fenômeno doCarrossel Holandês. Gostei da de 82,na qual o Brasil foi desclassificado tal-vez num exemplo de injustiça maiordo que em 1950, porque fomos des-bancados pela Itália, que não jogavao futebol que o Uruguai jogou aqui, eporque a Seleção montada pelo Telêera mais brilhante que a outra.

Jornal da ABI — E os melhores joga-E os melhores joga-E os melhores joga-E os melhores joga-E os melhores joga-dores que você viu jogar em Mundiais?dores que você viu jogar em Mundiais?dores que você viu jogar em Mundiais?dores que você viu jogar em Mundiais?dores que você viu jogar em Mundiais?

Armando — Eu poderia citar umadinastia, pois vi Puskas, Di Stéfano,Masopust, Nilton Santos, Djalma San-tos, Nestor Rossi, Maradona, Didi, Zizi-nho, Danilo, Rui, Zito, Pelé, Garrincha,uma galeria em que, se estiver faltandoalgum nome, autorizo qualquer pessoa

de bom gosto a acrescentar o jogadorausente.

Jornal da ABI — Hoje o futebol explo-Hoje o futebol explo-Hoje o futebol explo-Hoje o futebol explo-Hoje o futebol explo-ra mais o conjunto. Neste contexto, Garra mais o conjunto. Neste contexto, Garra mais o conjunto. Neste contexto, Garra mais o conjunto. Neste contexto, Garra mais o conjunto. Neste contexto, Gar-----rincha ainda seria considerado um gênio?rincha ainda seria considerado um gênio?rincha ainda seria considerado um gênio?rincha ainda seria considerado um gênio?rincha ainda seria considerado um gênio?

Armando — Com o poder de dribleque tinha, acho que sim, mas ele pre-cisaria de muito mais condições físicaspara defender o seu repertório.

Jornal da ABI — Como você virou torComo você virou torComo você virou torComo você virou torComo você virou tor-----cedor do Botafogo?cedor do Botafogo?cedor do Botafogo?cedor do Botafogo?cedor do Botafogo?

Armando — Descobri o time pelaestrela solitária que brilhava no peitode Heleno de Freitas, o primeiro joga-dor que mexeu comigo. Assistindo auma partida entre o Botafogo e o Fla-mengo, em General Severiano, vi oHeleno fazer uma exibição épica, meapaixonei por seu futebol e, conseqüen-temente, pelo clube.

Jornal da ABI — V V V V Você é autor de dezocê é autor de dezocê é autor de dezocê é autor de dezocê é autor de dezlivros sobre futebol. Plivros sobre futebol. Plivros sobre futebol. Plivros sobre futebol. Plivros sobre futebol. Pretende escreverretende escreverretende escreverretende escreverretende escreveroutros?outros?outros?outros?outros?

Armando — É minha sina e minhasobrevivência. Preciso escrever pornecessidade profissional e existencial,embora eu sofra muito no processo, aponto de dizer que melhor que escre-ver é ter escrito. Vou continuar a es-crever, para ter a alegria de depois poderdizer: “Escrevi, confesso que escrevi!”

Jornal da ABI — Como é chegar aosComo é chegar aosComo é chegar aosComo é chegar aosComo é chegar aos80 com qualidade de vida, fazendo o80 com qualidade de vida, fazendo o80 com qualidade de vida, fazendo o80 com qualidade de vida, fazendo o80 com qualidade de vida, fazendo oque aprecia e sendo reverenciado comoque aprecia e sendo reverenciado comoque aprecia e sendo reverenciado comoque aprecia e sendo reverenciado comoque aprecia e sendo reverenciado comoum ícone do jorum ícone do jorum ícone do jorum ícone do jorum ícone do jornalismo brasileiro?nalismo brasileiro?nalismo brasileiro?nalismo brasileiro?nalismo brasileiro?

Armando — Basta ser otimista econtinuar tendo projetos de vida, queé o que eu faço. Quero aprender a to-car gaita, a pilotar melhor os meusaviõezinhos e aumentar meu círculo deamigos. Quanto mais eu os tiver, maistestemunhas terei da minha vida.

Armando agora é uma das 00estrelas do canal por assinatura0Globo News, mas confessa que0

sempre gostou mais de ficar atrásda tela, vivendo nos bastidores oclima de produção do noticiário.

24 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

Em visita à ABI, o Deputado federalGustavo Fruet (PSDB-PR) explicou as ra-zões que o levaram a se candidatar àpresidência da Câmara, no que se conven-cionou chamar de terceira via. RevelouFruet que sua intenção era "mostrar con-trovérsias, provocar o diálogo e o debate,acabar com a discussão sobre quem é maisleal ao Governo e vai dar aumento de 90%e estabelecer 12 itens que são importan-tes na relação do Congresso e da Câmaracom a sociedade, questões internas e es-truturantes para o País".

Entre as questões defendidas peloDeputado estavam o voto aberto, a res-trição à edição de medidas provisórias, arevisão da forma de elaboração e discus-são do orçamento e o debate das reformastributária e política.

Gustavo Fruet chegou à ABI, no dia26 de janeiro, acompanhado pelo Vice-Prefeito do Rio, Deputado federal Otá-vio Leite, e Paulo Renato de Souza, De-putado federal e ex-Ministro da Educa-ção do Governo FHC, ambos do PSDB,e disse que sua proposta como candidatoà Presidência da Câmara visava a promo-ver o reencontro da instituição com asociedade. Daí a razão de visitar a ABI etambém a CNBB e a OAB.

O Deputado fez questão de frisar queseu gesto não era para pedir apoio ou voto,pois acha que se deve respeitar a relaçãopolítico-institucional. Sua visita, expli-cou, era a sinalização de que mais do quenunca a Câmara dos Deputados tem queradicalizar seu contato com a população:

– A Câmara afastou-se muito da soci-edade, com os escândalos, julgamentos

As propostas de FruetNa Presidência da Câmara dos Deputados,ele pretendia lutar pelo fim

das medidas provisórias e promover o reencontro da Casa com a sociedade.

e algumas investigações não terminadasque culminaram com a tentativa de au-mento no final de 2006. Essa é a contra-dição dos acordos políticos, do que repre-senta cada candidatura que nós quisemosagora trazer à ABI.

A Vereadora Aspásia Camargo (PV), queacompanhou Fruet, defendeu a reformapolítica proposta pelo Deputado: – Achoque a reforma política, como se vem dis-cutindo, é muito ampla e talvez lhe falteum pouco de objetividade. A primeira re-forma que deve ocorrer é intraparlamen-tar, porque são problemas que envolvem

regimento interno, práticas e cultura po-lítica da Casa. É nisso que eu vejo a presen-ça do Fruet já muito ativa eimportante. Fatores como atirania das medidas provisó-rias, votos de liderança e a for-ma de negociar as emendasparlamentares são graves e,na verdade, funcionamcomo mecanismos que dege-neram em corrupção. Sãoatos que não permitem aoCongresso cumprir seu ver-dadeiro papel.

DiálogoGustavo Fruet foi recebi-

do por membros da Direto-ria da ABI, entre os quais oPresidente da Casa, Maurício Azêdo; aDiretora de Jornalismo, Joseti Marques;o Diretor Econômico-Financeiro, Domin-gos Meirelles; o Diretor de Assistência So-cial, Paulo Jerônimo; o Diretor Cultural,Jesus Chediak; e o Conselheiro Francis-co de Paula Freitas.

Durante o encontro, Fruet ouviu deMaurício Azêdo que a ABI defende umareforma política que estabeleça fidelidadepartidária, os critérios de financiamen-to de campanha e a contenção do uso damáquina pública para campanhas eleito-rais, "uma distorção do regime democrá-tico e da democracia no País". O Presidenteda ABI agradeceu a visita do Deputado,uma iniciativa de Otávio Leite:

– Otávio é um parlamentar muito res-peitado e nos deu a oportunidade de po-der testemunhar em nome da Diretoriada ABI, sem que isso que represente umatomada de posição em relação à votaçãoa se processar na Câmara dos Deputados,a nossa admiração pelo seu desempenhoparlamentar, que o Brasil inteiro acom-panhou nas CPIs que se formaram na Câ-mara. O Deputado Fruet mostrou sua fir-me adesão a uma causa com uma concep-ção altamente ética da administração pú-blica, bem como a sua competência comoparlamentar.

Maurício Azêdo destacou tambémque as Casas Legislativas contam comgrande número de parlamentares, masnem todos têm a possibilidade de seafirmar no exercício do mandato comoGustavo Fruet: – O Deputado se afir-mou nessas jornadas memoráveis. Paranós é gratificante registrar que esse reco-nhecimento nosso, aqui à distância, noEstado do Rio de Janeiro, foi feito tam-bém pelo eleitorado e pelo conjunto dacidadania do Paraná, que lhe assegurouuma reeleição consagradora.

Referindo-se à comitivaque acompanhou o Depu-tado Gustavo Fruet, Mau-rício comentou: – A Dire-toria da ABI sente-se hon-rada pela presença de umhomem público do escol eda envergadura do MinistroPaulo Renato de Souza, que,sabemos, vai elevar o nívelintelectual e ético da Câma-ra dos Deputados nessa pró-xima legislatura.

Lembrando BarbosaPara destacar a sua rela-

ção com a ABI, GustavoFruet lembrou uma passagem do perío-do em que fazia mestrado e doutorado emDireito de Informação: – Minha disser-tação foi sobre a Lei de Imprensa e um belodia eu queria falar com Barbosa Lima So-brinho. Era 1988 e eu achei que, comoestudante, seria muita pretensão de minhaparte falar com o Presidente da ABI.Resolvi mandar uma carta. E olha o queé o destino: quem me respondeu foi oMaurício Azêdo, que me mandou um livrodo Barbosa Lima. Na minha carta haviaalgumas perguntas que continham ca-coetes de estudante, mas ele a respondeue eu a guardo até hoje. Então, para mim,já está sendo uma vitória na campanhaestar hoje aqui na ABI.

Aconteceu na ABIAconteceu na ABI

Foi o Deputado Otávio Leite (à esq.) quem sugeriu que Fruet visitasse a ABI, a OAB e a CNBBpara expor seu programa. Com eles veio (à dir.) o ex-Ministro e Deputado Paulo Renato de Souza.

Aspásia, vereadora: Formasde negociar emendas

degeneram em corrupção.

Fruet expôs na ABI os 12 pontos de seu programa, um dos quais a restrição às medidas provisórias.

25Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

O ex-Governador de São Paulo, Cláu-dio Lembo, fez demorada visita no dia 21de março ao Edifício Herbert Moses, sededa ABI, para receber oficialmente a car-teira de sócio da entidade. Lembo foirecepcionado pelos Diretores MaurícioAzêdo, Audálio Dantas, Paulo Jerônimo(Pagê) e Jesus Chediak, além de Ziraldo,membro do Conselho Consultivo, eMilton Coelho da Graça, membro doConselho Deliberativo.

Cláudio Lembo foi convidado paraingressar no quadro de associados dainstituição por Maurício e Audálio, an-tes de deixar o cargo de Governador, emdezembro passado. Honrado com o con-vite, aceitou-o prontamente e estava

Samba faz festa paraFamília Santa Clara

Instituição que abriga crianças de áreas de riscorecebe alimentos não perecíveis.

Entre nós, Cláudio Lembo,nosso novo sócio

ansioso para receber a sua carteira: – É umagrande honra tornar-me sócio da ABI,uma casa que tem uma bela trajetória naluta pelas liberdades democráticas. Naépoca em que trabalhava no Rio, sempreadmirava o prédio da ABI, que tem umsignificado histórico para a imprensa ea arquitetura nacionais.

Formado em Direito pela Universidadede São Paulo, Lembo exerceu paralelamen-te à profissão de advogado as funções derevisor e redator da Editora Revista dosTribunais. Em seguida, foi articulista doextinto Diário Popular, hoje Diário de S.Paulo, e depois analista político das TVsGlobo e Gazeta. Atualmente, exerce amesma função no Portal Terra. Na época

da ditadura, apresentou um programa naRádio Record de São Paulo, chamadoTestemunho de um liberal; apesar da cen-sura naqueles tempos, não sofreu repre-sálias graves.

Na BibliotecaDurante a visita, Lembo conheceu as

dependências de vários pavimentos doEdifício Herbert Moses. O roteiro come-çou pela Biblioteca Bastos Tigre, no 12ºandar, onde o ex-Governador ficou fasci-nado com a preservação de alguns exem-plares históricos de periódicos brasileiros,como o jornal A República e jornais alter-nativos, como Resistência, de Belém: – Pa-rabenizo a Biblioteca e a preciosidade das

Ex-Governador de São Paulo veio ao Rio para receber sua carteira de associado.

A emoção tomou conta do AuditórioOscar Guanabarino na noite de 25.de ja-neiro: crianças da instituição FamíliaSanta Clara subiram ao palco do 9º an-dar do edifício-sede da ABI e interpreta-ram grandes ícones do samba, como Pi-xinguinha, Ari Barroso, Noel Rosa e Aracide Almeida, num show que embalou aplatéia e foi finalizado com a apresenta-ção de Moacyr Luz.

O evento foi uma sessão especial desolidariedade apoiada pela ABI, a Accen-ture do Brasil e a Biblioteca Nacional, como objetivo de arrecadar alimentos não-

obras; aqui dá para se ter acesso a uma li-teratura que não é fácil de ser encontrada.O Rio tem uma seiva cultural, diferente-mente de São Paulo – destacou Lembo.

No 9º andar, Lembo admirou a conser-vação de detalhes do Auditório Oscar Gua-nabarino, que passou por reformas recen-tes e mantém a construção original, commatéria-prima importada da Argentina:– Os autores deste projeto eram tão vi-sionários que, antes de chegarem à déca-da de 40, já construíram este auditório comcaracterísticas de arquitetura que mar-cariam aqueles anos.

Em seguida, Lembo conheceu o 3ºandar, onde ficam as salas dos Cursos Livresde Jornalismo da ABI, onde comentou:

– Hoje em dia deve ser muito difícildar aulas de Jornalismo. São diversasmídias e todas com linguagens distintas.

Lembo não escondeu a emoção ao rece-ber a carteira de sócio da Casa. Disse: – Tera carteira da ABI é uma dádiva da vida. Ficoimensamente feliz por, agora, figurar en-tre os sócios desta entidade histórica.

Ziraldo, que veio à ABI especialmen-te para receber Cláudio Lembo, destacoua atuação política do novo sócio: – Tê-lo como associado é motivo de orgulho.Ele teve atuação importante na históriapolítica de São Paulo e foi coroado quan-do assumiu o Governo daquele Estado.Demonstrou sabedoria enquanto este-ve no poder.

Também Audálio Dantas exaltou oingresso de Cláudio Lembo no quadrosocial da ABI: – Essa filiação é importan-te, especialmente porque ocorreu antesde ele deixar o Governo de São Paulo, aoqual deu uma grande contribuição na lutapela democracia. Pode-se dizer que o Lem-bo é um conservador que sempre se por-tou como progressista, preocupado comos problemas sociais da população. Quan-do fui Presidente do Sindicato dos Jorna-listas de São Paulo, que fazia oposição àditadura militar, Lembo não deixou denos visitar. Isso demonstra o tipo de par-ticipação pública que ele tem.

perecíveis para a Família Santa Clara, quedá assistência e educação a 80 crianças ejovens originários de famílias em situa-ção de risco social.

O Presidente da ABI, Maurício Azêdo,abriu a cerimônia, destacando o traba-lho meritório da Família Santa Clara.Para ele, "a Casa do Jornalista estarásempre aberta a eventos dessa natureza.É um momento de comunhão e doação,que vai ficar registrado na história deambas as instituições".

O jornalista José Reinaldo Marques foio organizador do evento e apresentou as

Maurício, Audálio Dantas (2º à esq.), Ziraldo e, ao fundo, Milton Coelho e Pagê, percorreram a ABI com Lembo, que se encantou com a Biblioteca.

Crianças e jovens da Família Santa Clara mostraram nossamúsica desde Pixinguinha a Chico Buarque.

26 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

Entrevistado na série ABI pensa ohumor, o cartunista Ota - de nascimen-to, Otacílio D'Assunção - disse que ohumor em quadrinhos vive momento decrise. A declaração foi feita ao DiretorCultural da ABI, Jesus Chediak, que re-úne depoimentos de profissionais da mídiae de outros segmentos artísticos para oProjeto Estação ABI.

– As revistas vendem pouco, porqueo custo de tiragem é alto e isso dificultao mercado. O gibi, hoje, é peça acessó-ria. O desenho de humor tem mais vidanos jornais. A Folha de S. Paulo, por exem-plo, tem uma página de quadrinhos be-líssima, mas é um jornal e pode bancaro custo dos autores.

Ota, que nasceu no Rio em 1952, disseem seu depoimento, gravado no dia 16 dejaneiro, que gosta de fazer trocadilhos como seu nome artístico – daí se considerar um“cariota”. Formado em Jornalismo pelaUniversidade Federal do Rio de Janeiro,nunca fez curso de Desenho, apesar de,na infância, ter nos gibis Pererê, de Ziral-do, Luluzinha e Bolinha suas leituras pre-diletas e rabiscar as próprias histórias:

– Acho que fiz meu primeiro gibiquando tinha cinco para seis anos, nemsabia escrever. E aprendi a ler rapidamen-te para poder consumir os quadrinhos.Meu pai era professor e lá em casa nãofaltavam livros. Naquele tempo, com osalário de professor era possível susten-tar a família e ainda sobrava dinheiro paracomprar livros e revistinhas.

Aconteceu na ABIAconteceu na ABI

atrações da noite. Emocionado, agrade-ceu aos amigos e colaboradores que tor-naram possível a realização da sessão.

– Conheci a Família Santa Clara hápouco tempo e mergulhei nesse trabalhovoluntário de doação. Lá as crianças têmacesso à educação, convivem em harmo-nia e aprendem música. E a ABI, tradici-onalmente ligada à luta, defesa e promo-ção dos direitos humanos, só podia ser omelhor palco.

A primeira apresentação musical foide André Donha, funcionário da Accen-ture, e Ricardo Barcelos, com Sal da ter-ra, que, para eles, reforçava a temática danoite por ter uma letra que prega a dimi-nuição das diferenças. Depois, cantaramSangrando, de Gonzaguinha, e Outrasrotas, de autoria de Ricardo

– Todas essas canções traduzem sen-timentos, passam emoções. Nós abraça-mos esta causa beneficente e temosmuito prazer de estar aqui nesta noite -disse André.

TalentoEm seguida, foi a vez de as crianças mos-

trarem seus talentos. O primeiro quar-teto veio representando Donga, João daBaiana, Pixinguinha e Ari Barroso. Na se-qüência, vieram Geraldo Pereira, WilsonBatista, Noel Rosa, Araci de Almeida,Adoniran Barbosa, Dolores Duran, AssisValente, Chico Buarque e Nara Leão. Tam-bém houve espaço para a Tropicália e aBossa Nova, representadas por CaetanoVeloso e Tom Jobim, entre outros. A apre-sentação infantil foi encerrada ao som deA voz do morro, de Zé Kéti, também ho-menageado na festa.

À vontade no palco que já pisou algu-mas vezes (na última, em homenagemao amigo Lan), Moacyr Luz não escon-deu a alegria de ter assistido à represen-tação de grandes nomes do samba na voze interpretação de crianças. Sem repertó-rio definido, inspirou-se no que viu:

– Como não sabia o que tocar, mas viPixinguinha aqui no palco – brincou –,resolvi começar cantando uma músicapara o Rio de Janeiro, aproveitando tam-bém o ensejo da recente comemoraçãodo dia do padroeiro da cidade.

AtividadesAo final do show de Moacyr Luz,

Cícero e Eliete Soares de Castro Rosa, cri-adores da Família Santa Clara, agradece-ram a participação de todos e definiramas atividades da instituição, que já aco-lheu mais de mil crianças até hoje.

– A música solta a alma, faz estarmosmais próximos do mundo. Com o nossotrabalho, queremos construir um mun-do melhor, cercado de amigos - disse Eliete.

As apresentações da noite, segundo ela,foram baseadas na identificação de cadacriança com um artista.

– Fizemos um recorte pessoal da cri-ança e sua semelhança com o sambista.O resultado foi esta bela apresentação,carregada de energia, alegria, beleza e ver-dade. Quem quiser conhecer ainda maisas nossas atividades ou ainda colaborarcom a nossa instituição, visite www.familiasantaclara.org.br – conclamou.

A salvação dos quadrinhosO humorista Ota, que começou a desenhar profissionalmente aos 14 anos e agora invade tambémas telas, lamenta a crise das tiras de humor, que só não é pior graças à sua publicação em jornal.

Os primeiros gibisEm junho de 1973, Ota criou a revis-

ta Os Birutas, primeira hq feita integral-mente com seus textos e desenhos. A pu-blicação, mensal, teve só três edições. Em93, durante a II Bienal Internacional deQuadrinhos do Rio de Janeiro, o cartu-nista lançou a Revista do Ota, que um anodepois ganhou o prêmio HQ Mix deMelhor Revista Indepen-dente, apesar de não ter pas-sado do número de estréia.

A adoração pelos qua-drinhos é tanta que, alémde desenhista, Ota viroucolecionador, com acervode mais de 50 mil títulos,e chegou a criar uma edi-tora, a Otacomix, para fazersuas produções.

– Eu achava que fazen-do o lançamento de váriasrevistas ia incrementar a produção, coma impressão de várias capas de uma só vez.O plano parecia ótimo na teoria, mas naprática foi um tremendo fracasso.

O cartunista começou a carreira naeditora Ebal, na qual passou três anoscomo editor de quadrinhos:

– Eu fazia gibizinhos e meu pai acha-va que eu era menino prodígio. Quandocompletei 14 anos e fazia o curso clássico(naquela época, havia o ginasial e depoiso clássico ou científico ou normal), já pen-sava em editar quadrinhos. Meu pai tinhaum amigo na Ebal e lá eu aprendi tudo oque sei sobre gráfica, fotolito, impressãoetc. Nessa época o trabalho de menoresde idade era legalizado, havia até uma car-teira de trabalho especial. Quando com-

pletei 25 anos, já tinha dez de trabalho.Ota é o editor responsável pela revis-

ta Mad in Brazil, que já passou pela an-tiga Editora Vecchi e pela Record e ago-ra está a cargo da Mythos.

– As editoras fazem contrato com aMad norte-americana e obtêm licençapara publicar a revista. Eu sou contrata-do para fazer a adaptação local.

Sonho animadoO sonho de transfor-

mar suas tiras em anima-ção foi alcançado com ofilme A dança do acasa-lamento que, em suas pa-lavras, representa “a pri-meira fita pornô libera-da para menores de 18anos”, realizada com aajuda do animador Fer-nando Miller e reunin-

do cerca de 3 mil cartuns.Entre os grandes colegas brasileiros

por quem foi influenciado, Ota cita Mau-rício de Souza, Millôr, Jaguar e Ziraldo,de quem recebeu importante conselho:

– Uma vez ele viu meus desenhos efoi curto e grosso: "Isto está uma merda.Sua idéia é boa, mas você tem que capri-char mais. Não basta somente sua mãee seu pai acharem que está bom, você temque melhorar." Eu saí desse encontro ar-rasado, mas valeu o toque, porque o queele disse era extremamente procedente.Já o Maurício de Souza foi mais carinho-so, chegou a me mandar uma carta, di-zendo: "Otacílio, vi seus desenhos dequando você ainda era criança. Parabéns.Seremos colegas em breve."

O criador Ota esuas criaturas:

acima, DomInáfio, tira

publicada noJornal do Brasil;

abaixo, oprimeiro númeroda revista Mad in

Brazil e, logoabaixo, página

de aberturasobre super-

heróis da série“Relatório Ota”

27Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

m comemoração ao seu 30º ani-versário de fundação, a SociedadeBrasileira de Estudos Interdiscipli-nares da Comunicação-Intercompromove, em 2007, o Ano Barbo-

sa Lima Sobrinho. A programação foi aber-ta dia 22 de janeiro, data em que o jorna-lista completaria 110 anos, com o Semi-nário Barbosa Lima Sobrinho: precursordo estudo do jornalismo no Brasil.

O evento, no Anfiteatro Machado deAssis, da Biblioteca Nacional, contoucom os depoimentos de Cícero Sandro-ni, que ocupa a cadeira que foi de BarbosaLima na Academia Brasileira de Letras, ede Fernando Barbosa Lima, filho do ho-menageado, mediados por Marialva Bar-bosa, especialista em História do Brasilpela Universidade Federal Fluminense.

A ABI foi representada pelo DiretorEconômico-Financeiro Domingos Mei-relles. Na platéia, destacava-se a presen-ça dos imortais Evanildo Bechara e Do-mício Proença Filho, amigos de BarbosaLima Sobrinho.

Antes da composição da mesa, foi exi-bido um vídeo sobre o Centro de Cida-dania Barbosa Lima Sobrinho, projetoque compreende a restauração e adapta-ção do conjunto arquitetônico que abri-gou a Faculdade de Direito da Uerj até1976 e que faz também o tratamento eprocessamento técnico do acervo dojornalista e acadêmico, para compor umabiblioteca pública de preciosidades emFilosofia, Direito, História, Política e Li-teratura, entre outras áreas.

Marialva Barbosa destacou a impor-tância da homenagem ao jornalista, a seuver o maior nome da imprensa brasilei-ra no século XX, que foi também teste-munha das modernizações no setor e pro-tagonista de transformações sociais napolítica nacional:

– É uma justa homenagem da Inter-com, que está completando 30 anos. ODr. Barbosa lutou veementemente con-tra a ditadura e transformou a ABI naprincipal trincheira de luta pelas liberda-des democráticas.

ConveniênciaCícero Sandroni recordou os tempos

em que era Secretário-Geral da ABI e tevegrande convivência com Barbosa Lima,

LEMBRANÇA

Seminário abre oAno Barbosa LimaSentimento nacionalista e luta contra

a ditadura são apontados comomarcas do homenageado na

comemoração do seu 110° aniversário.

com quem aprendeu lições de vida, depatriotismo e de nacionalismo. Diz, noentanto, que o jornalista estava muitomais ligado à ABI do que à ABL: – Elefoi Tesoureiro da Academia e a constru-ção do prédio que a abriga aconteceu du-rante sua gestão. Foi o segundo imor-tal mais novo, eleito em 1938, aos 41anos de idade, concorrendo com o po-eta Jorge de Lima. Foi também o segun-do que mais tempo permaneceu naABL, num período de 61 anos, só per-dendo para Carlos Magalhães de Aze-redo, um dos fundadores e o mais novoa ocupar uma cadeira, aos 25 anos.

Sandroni disse que um aspectofundamental a ser destacado na tra-jetória de Barbosa Lima Sobrinho ésua contribuição à política brasileira.A pregação do jornalista, diz, era na-cionalista, mas sem xenofobia. Elelembrou também como foi a chega-da de Barbosa ao Rio de Janeiro, apósperder uma vaga num concurso daUniversidade Federal de Pernambu-co, Estado onde nasceu e, anos maistarde, ocupou o cargo de Governador:

– Ele desembarcou no Rio comuma carta do Barão de Suassuna, queera amigo de seu pai, endereçada aoConde Pereira Carneiro, dono do Jor-nal do Brasil. Era jovem, talentoso eculto. Pouco tempo depois, publicouO problema da imprensa, para comba-ter um projeto de lei que instituía acensura aos veículos de comunicação.Ele mandava petardos contra tudo oque achava de errado na política.

Outro livro citado por Cícero foi Pre-sença de Alberto Torres, pensador de idéi-as nacionalistas que dizia que naciona-lismo e patriotismo tinham o mesmoconceito, mas que, segundo BarbosaLima, foi desvirtuado pela globalização:– Para ele, o conceito de globalização ba-seia-se no nacionalismo de nações he-gemônicas, preocupadas com os inte-resses de suas empresas no estrangeiro.Ele costumava dizer que primeiro veioo colonialismo, depois o imperialismoe, então, a globalização.

Num discurso caloroso, Sandroniafirmou que as lições de BarbosaLima permanecem e serão eternas,pois suas reflexões se contextualizam

E

Os acadêmicos na homenagem a Barbosa Lima: Bechara (à esquerda), pernambucano, falou de seu orgulho detê-lo como conterrâneo. Proença (ao centro) e Sandroni ressaltaram a atualidade das idéias de Barbosa.

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28 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

A TV Câmara e a TV Cultura exibiram no dia 22 de janeiro, o documentárioBarbosa Lima Sobrinho, Cidadão do Brasil, que contou com o apoio da Petrobras.O vídeo também foi ao ar no Canal Brasil, na TV Senado e na TVE. Na data, oPresidente da ABI, Maurício Azêdo, destacou a trajetória de Barbosa Lima na im-prensa e sua dedicação àdefesa dos interesses do País:

"O Dr. Barbosa LimaSobrinho foi um dos maiseminentes brasileiros amarcar sua presença na vidanacional, expressa na defe-sa que fazia dos interessesda Nação e quando dizia queo Brasil tem dois partidos:o de Tiradentes, que defen-de o País, e o de José Silvériodos Reis, que conspira etrabalha contra o interesseda pátria. Foi um exemplode jornalista, que imprimiu um estilo ímpar nos mais de 70 anos em que es-creveu artigos na imprensa brasileira."

Barbosa Lima Sobrinho, Conselheiro e Presidente da ABI em várias ocasiões,também foi homenageado no dia 18 de janeiro em sessão especial da AcademiaBrasileira de Letras, onde ocupou a cadeira nº 6, que tem como patrono Casi-miro de Abreu. Em discurso, o acadêmico Tarcísio Padilha destacou a impor-tância do jornalista para a História:

– O seu desaparecimento não se dá à semelhança do que ocorre com aquelesque são apenas dirigentes, são apenas chefes, e desaparecem definitivamente.Já aqueles que são modelos e referenciais da sociedade às vezes se opulentamquando desaparecem, porque a morte permite que se faça de cada ser humanoque desaparece um retrato irretocável, e aí, em toda sua grandeza límpida e me-ridiana, emerge a figura e o papel representado, no caso, por Barbosa Lima So-brinho. Fixemos o nosso olhar neste retrato definitivo, e tenhamos como modelopara cada um de nós, porque ele já é modelo do Brasil inteiro.

O jornalista Fernando Barbosa Lima, filho de Barbosa Lima Sobrinho e autordo documentário Cidadão do Brasil, comentou:

– Sempre fizeram essas homenagens a meu pai e eu acho que são justas, porqueele é uma pessoa que deve ser lembrada por sua trajetória.

A ABI estava presenteentre as mais de mil pesso-as que participaram da ce-lebração promovida em 2de fevereiro pela Congrega-ção Israelita Paulista e aB'nai B'rith do Brasil do DiaInternacional de Recorda-ção das Vítimas do Holo-causto, instituído pela Or-ganização das Nações Uni-das.

Presidida pelo RabinoHenry Sobel, Presidente doRabinato da Cip, a cerimô-nia contou com a presençado Presidente Luiz InácioLula da Silva; dos Governa-dores de São Paulo, José Ser-ra, e da Bahia, Jacques Wag-ner; do Prefeito de São Pau-lo, Gilberto Kassab; do Pre-sidente da ConferênciaNacional dos Bispos do Bra-sil (CNBB), Dom GeraldoMagela Agnelo; dos Embai-xadores dos Estados Uni-dos, Clifford Sobel, e daÁustria, Werner Brandstetter, da Embai-xadora de Isarael, Tzipora Rimon, alémde líderes de entidades judaicas do Brasile do exterior. A ABI foi representadapelo Vice-Presidente Audálio Dantas.

Em seu discurso, o Presidente Lulaafirmou que, "cada vez que prestamoshomenagens às vítimas do Holocaus-to, ampliamos as forças que irão preve-nir que esses horrores não se repitam".

A ABI foi a primeira instituição dasociedade civil, com precedência atémesmo em relação a instituições is-raelitas, a manifestar solidariedade aoRabino Henry Sobel, Presidente doRabinato da Congregação Israelita deSão Paulo, após o episódio em que elese viu envolvido numa loja em WestPalm Beach, na Flórida, Estados Uni-dos. Em nota oficial, disse a ABI:

"Por mais graves que sejam as con-seqüências do episódio, que alcançouampla repercussão no noticiário daimprensa, a ABI quer levar uma pa-lavra de conforto ao Rabino Sobel elembrar a importância do papel porele desempenhado em defesa das li-berdades democráticas e dos direitoshumanos.

Não se pode esquecer, por exemplo,a sua participação no episódio do as-

com momentos atuais mesmo com a pas-sagem do tempo. Uma peculiaridade dojornalista destacada por ele foi a aversãoa homenagens. Quando completou 102anos, rendeu-se a uma comemoração naquadra da União da Ilha, por ter tido suavida escolhida como tema do enredo daescola naquele ano. Sandroni lembroutambém que Ziraldo pediu a BarbosaLima, na virada para o século XXI, que es-crevesse uma carta dirigida aos brasilei-ros do terceiro milênio:

– No texto, ele escreveu que, comotestemunha por mais de cem anos de es-forços do brasileiro para o Brasil crescer,gostaria de ver o País destacado entre asgrandes nações do mundo.

OrgulhoEmocionado com a homenagem, Fer-

nando Barbosa Lima afirmou que seu paise sentiria orgulhoso de saber que suacadeira na ABL é ocupada atualmente porCícero Sandroni. Durante a cerimônia,ele mostrou a edição de um jornal japo-nês em que a primeira e a segunda pági-nas foram dedicadas a Barbosa LimaSobrinho, em razão de um livro seu so-bre o Japão, redigido sem que o jornalistajamais pisasse naquele país:"Papai diziaque se viaja muito mais com a cabeça doque com os pés", esclareceu.

Contou Fernando que em sua casahavia uma divisão perfeita das tarefas: atrivial, com sua mãe, Maria José, adminis-trando os problemas da casa, e a essenci-al, com seu pai, tomando conta dos pro-blemas do mundo. Fernando recordouainda que Barbosa Lima Sobrinho faziaparte da Academia de Ciências de Lisboa.

– Ele era um homem que ia além dasfronteiras, mas que nunca perdeu a humil-dade. Certa vez, caminhando juntos pelarua, uma mulher o reconheceu e beijousua mão. Ele me perguntou se eu sabia porque ela tinha feito aquilo e respondi queem razão da figura que ele representava.Ele rebateu: "Não. Foi porque eu tenhomais de cem anos!", brincou.

Evanildo Bechara sentiu-se tocado comas homenagens a seu conterrâneo e exal-tou a obra Língua portuguesa e a unidadedo Brasil, também de Barbosa Lima:

– Este é um dos livros mais lúcidos deuma língua que persiste e que mereceser preservada. O livro não ficou na pri-meira edição e é permanente em Portu-gal e no Brasil.

Domício Proença Filho, por sua vez,reafirmou a atualidade do pensamentoe da reflexão de Barbosa Lima Sobrinho:– Todos os que se debruçam sobre osestudos da língua portuguesa percebema vitalidade desta obra do jornalista.

LEMBRANÇA

Mil no ato pelasvítimas do Holocausto

Celebração amplia forças que impedirãoa repetição desses horrores, disse o Presidente Lula.

Ele mencionou a instituição do Dia Na-cional de Recordação das Vítimas do Ho-locausto, pela Onu, em 2005, aprovadacom voto favorável do Brasil.

O Rabino Henry Sobel disse que"compartilhamos de um único mundoe é nele que precisamos viver". E com-pletou: "Quanto tempo levará para queos países tenham o pluralismo e o res-peito pelas minorias, como no Brasil?"

Solidariedade ao Rabino Sobel

sassinato do jornalista VladimirHerzog, em 1975. Sua coragem comocidadão e líder religioso contribuiu demaneira relevante para que não pre-valecesse a versão de suicídio apresen-tada pelas autoridades militares.

Foi destacada sua participação, aolado de Dom Paulo Evaristo Arns e dopastor James Wright, no culto ecumê-nico que o Sindicato dos Jornalistas deSão Paulo, então presidido por Audá-lio Dantas, atual Vice-Presidente daABI e Presidente de sua Representaçãoem São Paulo, organizou em memó-ria de Herzog. Realizado na Catedralda Sé, o culto marcou um momentode grandeza na História recente do País,pois foi a partir daquele ato, que reu-niu 8 mil pessoas, representando seto-res diversos de sociedade civil, que a di-tadura militar começou a cair."

Filho do ex-Presidente, Fernando Barbosa Limaproduziu o documentário Barbosa Lima Sobrinho,

Na tela das tevês do Congresso e na TVE“Compartilhamos de um único mundo e

é nele que precisamos viver”, disse oRabino Henry Sobel ao lembrar o Holocausto.

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29Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

O lançamento de umdocumentário e de um

site e a inauguração de umapraça, prevista para 2008, ede um busto, na sede da em-

presa, no bairro paulistano de Pinhei-ros, marcaram o início das homenagensdo Grupo Abril ao seu fundador Victor Ci-vita, que estaria completando 100 anos deidade no dia 9 de fevereiro.

O vídeo de comemoração do cente-nário do criador do Grupo Abril – dirigi-do por Sérgio Mota Mello, da TV1 – foiexibido em 7 de fevereiro para 1.500convidados na Sala São Paulo, na Esta-ção da Luz. O busto foi inaugurado namanhã do dia do centenário do empre-

julho de 1950,lançou o pri-meiro númeroda revista O PatoDonald.

Na década se-guinte, VictorCivita investiuna publicação deobras em fascícu-

los, que se transformaram em fenôme-no editorial, e lançou a revista Zé Cari-oca, impulsionando os quadrinhos na-cionais. Aproveitando o crescimento daindústria automobilística e do turismo,iniciado no Governo Juscelino Kubits-chek, pôs também no mercado as revis-tas Quatro Rodas, Guia Quatros Rodase Viagem & Turismo.

Victor Civita foi um dos maiores em-preendedores do setor editorial no Bra-sil. Sob sua direção, em 50 anos de fun-dação, o Grupo Abril se tornou um doslíderes da sua área de atuação. A editorachegou a publicar 351 títulos, sendo 90regulares, com circulação de 161 milhõesde exemplares e índice de 23 milhões deleitores e 3,5 milhões de assinaturas. Setedas principais revistas que circulam atu-almente no País pertencem à Abril – aVeja lidera a circulação, com cerca de 1milhão de exemplares, de acordo com aAssociação Nacional dos Editores deRevistas. A editora é também uma dasmaiores empresas de comunicação quemais emprega profissionais de impren-sa – atualmente, tem em seus quadros miljornalistas.

Em setembro de 1985, Seu Victor,como era chamado, criou a fundação queleva seu nome, com a missão de "contri-buir para a melhoria da qualidade doensino fundamental, prioritariamentedas escolas públicas com menos recur-sos". Pompeu de Toledo considera queVictor Civita é um dos principais per-sonagens da história dos sucessos empre-sariais do Brasil, aliando a capacidade detrabalho "ao fino talento para manter suacaravela a favor do vento, de forma a apro-veitar-se das mesmas forças que impul-sionavam o País de modo geral".

COMEMORAÇÃO

Victor Civita,100 anos

Fundador da Editora Abril, Seu Victor, como erachamado na empresa, foi um dos mais bem

sucedidos empresários da área de comunicação.

sário, numa cerimônia com a presença doGovernador José Serra e do Prefeito Gil-berto Kassab.

Falecido em 24 de agosto de 1990,Victor Civita até hoje é considerado umdos mais bem-sucedidos empresários daárea editorial e conseguiu transformara Editora Abril – fundada em 1950 – numadas maiores do setor na América Lati-na. De ascendência italiana, Victor Ci-vita nasceu em Nova York, no bairro deGreenwich Village. Em 1935, casou-secom Sylvana Alcorso, com quem teveos filhos Roberto e Richard. Morou naInglaterra, na França e nos EUA. Em meioà dedicação à família e aos negócios,sempre reservava um tempo para a

música, especialmente a ópera – pai-xão também do pai, Carlo.

Em 1949, Victor foi passar fé-rias com a família na Itália, ondese encontrou com o irmão Cé-sar Civita, que se tornara res-

ponsável pela versão itali-ana das revistas do Gru-

po Disney. Na biogra-fia que escreveu sobre

ele, o jornalista Rober-to Pompeu de Toledo,

editor especial deVeja, conta que o

empresário re-solveu inter-romper as féri-as e viajar ime-d i a tamente

com o irmão paraa América do Sul.

Ele visitou primeiroa Argentina, para conhe-

cer a Editorial Abril, fundada porCésar. Depois, veio para o Rio e seguiupara São Paulo, que o atraiu mais. "Acidade era mais do feitio de um milanês.Disseram-lhe que implantar uma editoraem São Paulo não daria certo. Era umaprovíncia. Não tinha os jornalistas, osartistas gráficos, os recursos necessári-os ao setor. Victor insistiu, e o resto já sesabe", destaca Pompeu.

Ao se mudar para São Paulo, VictorCivita instalou-se com a família noHotel Esplanada, considerado o maisnobre da cidade, próximo ao Teatro Mu-nicipal. Seu primeiro escritório foi umapequena sala, com apenas um telefo-ne, na Rua Líbero Badaró, que dividiacom uma secretária.

Fundou a Editora Abril – mês em quecomeça a primavera na Europa – e esco-lheu a logomarca, como costumava ex-plicar, porque "a árvore é a representa-ção da fertilidade, a própria imagem davida, e o verde é a cor da esperança e dootimismo". Nessa época, contava comUS$ 500 mil em recursos próprios, levan-tou alguns empréstimos e convidou parasócios o Grupo Smith de Vasconcelos eo italiano Gordiano Rossi. No dia 12 de

30 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

Em concorrida noite de autógrafos na Livraria da Vila, nobairro paulistano da Vila Madalena, Audálio Dantas, Vice-Presidente da ABI, e o fotógrafo Tiago Santana, lançaram nodia 1º de março o livro O chão de Graciliano, que tem apre-sentação de um jornalista e escritor notável: Joel Silveira.

O chão de Graciliano é definido como um livro de arte-reportagem, que mostra, com texto de Audálio e fotogra-fias de Tiago, a região de nascimento e criação literária deGraciliano Ramos. Com versões em inglês e espanhol, o livroé resultado de várias viagens dos autores ao sertão de Ala-goas e Pernambuco, a partir de 2002, quando foi feito oprimeiro ensaio fotográfico para a exposição homônima,considerada a mais importante até hoje realizada sobre avida e a obra do escritor, e promovida no Sesc Pompéia, emSão Paulo, em 2003.

Na época, a exposição - que teve projeto e curadoria deAudálio - marcou a passagem dos 110 anos de nascimentode Graciliano e os 70 anos da publicação de seu primeiroromance, Caetés, e percorreu cidades como Maceió, Forta-leza e Recife, onde contou com palestra de abertura de Ari-ano Suassuna.

Como Graciliano, Audálio e Tiago têm origem nordes-

A ABI expressou mais uma vez seuapoio à idéia de reunificação da China atra-vés de negociações, sem guerra, ao parti-cipar, em 10 de março, no Hotel Rio Othon,da cerimônia de posse da Associação Pró-Reunificação Pacífica da China do Rio deJaneiro, entidade que há oito anos traba-lha para ver seu país novamente unido.

À mesa principal da solenidade tiveramassento o Cônsul-Geral da RepúblicaPopular da China no Rio, Yan Xiaomin,a Presidente Zhan Hui Hua, o Presidenteda ABI, Maurício Azêdo, o EmbaixadorFrancisco de Lima e Silva, ex-chefe darepresentação diplomática brasileira emPequim, os Vereadores Rubens de Andrade(PSC) e Sílvia Pontes (PFL) e o Presidentede Honra da Associação Pró-Reunifica-ção, Chiu Ke Yu, um dos fundadores daentidade. Entre os presentes encontrava-se o Professor Raimundo de Oliveira, ex-Presidente do Clube de Engenharia. Con-vidado a usar da palavra, o Presidente daABI leu a seguinte saudação aos membrosda Diretoria que tomavam posse:

"Em nome da Associação Brasileira deImprensa, que se sente honrada com oconvite que recebeu para participar des-ta cerimônia, quero saudar os diretoresda Associação Pró-Reunificação Pacíficada China que ora tomam posse e expres-sar nossos votos de uma gestão fecunda,marcada pelo êxito de iniciativas que visemà consecução dos altos e generosos pro-pósitos que inspiraram a sua criação.

É alentador verificar que os povos daRepública Popular da China não esmo-receram em sua luta para promover aunificação do território chinês, fracio-nado por uma guerra civil cujo desfechoremonta a quase 60 anos, quando asforças revolucionárias lideradas por MaoTse Tung assumiram o controle políticodo país e implantaram o regime que desdeentão governa os chineses. Cessadas asanimosidades e as práticas belicistas quemarcaram a Guerra Fria, acreditam asautoridades chinesas, com apoio de re-presentações de seus cidadãos radicadosem diferentes países, como esta criadano Rio de Janeiro, que um processo denegociação poderá conduzir à reunifica-ção do território chinês, sonho de mui-tos dos que aqui se encontram.

A Associação Brasileira de Imprensasabe que esse processo, lento, marcadopor adversidades de todo tipo, exigiráobstinação e paciência e é preferível aqualquer outro que dependa da violên-cia das armas, com sacrifício de vidashumanas. Seu desfecho não se dará coma rapidez que seria desejável. A Chinanão tem pressa e há-de construir comperseverança e lucidez o caminho da fe-licidade de seus povos. Parabéns, senho-res diretores."

Empossados os dirigentes daassociação que sonha com a

China novamente unidaatravés de negociações.

POSSE

Chineses pelareunificaçãosem guerra

Em colaboração com o fotógrafo Tiago Santana, Audálio fez várias viagens a partirde 2002 às áreas do sertão nordestino presentes na obra do romancista de Vidas Secas.

O jornalista e escritorArthur José Poerner, Con-selheiro da ABI, doou paraa Biblioteca Bastos Tigreum exemplar de Invasão daFNM - 40 anos, obra que re-mete à madrugada do dia 23de setembro de 1966, quan-do forças policiais do regi-me militar espancaramcruelmente os estudantesque haviam se abrigado noantigo prédio da Faculda-de Nacional de Medicina,no Rio de Janeiro.

Poerner doa obra sobre a invasão da FNM em 1966

tina. O Vice-Presidente da ABI, também nascido em Ala-goas, produziu para a obra uma reportagem literária em queregistra o tempo e o espaço do escritor em sua região: - Opassado e o presente muitas vezes se confundem, pois emmuitos aspectos as condições do homem que nela vive per-manecem praticamente as mesmas - explica.

Já o fotógrafo, cearense, cresceu vendo os romeiros quebuscavam milagres em Juazeiro, cidade do Padre Cícero. Se-guindo a obra de Graciliano, fez um ensaio fotográfico cen-trado na figura do homem, tendo a paisagem como meropano de fundo.

Na apresentação do livro, Joel Silveira, outro nordesti-no, afirma: "O chão percorrido pelo fotógrafo é o mesmosobre o qual Graciliano construiu a sua literatura, mas nãoé a paisagem, a terra quase sempre dura e seca, que Tiagorecolhe em sua câmera; o que ele registra é o homem quenela vive, sobrevive ou dela se retira quando de todo perdea esperança."

O chão de Graciliano, que contou com incentivo da LeiRouanet, tem como patrocinadores a Companhia Hidre-létrica do São Francisco-Chesf e a Petrobras Transporte S.A-Transpetro.

LIVROS

O episódio, conhecidocomo Massacre da PraiaVermelha, é contado no li-vro através de depoimen-tos de testemunhas da-quele dia, como AloísioTeixeira, Almir Fraga Va-ladares, Antônio Paes deCarvalho, Diana Maul deCarvalho e Antônio Rafa-el da Silva.

No livro, a pedido da Co-ordenadoria de Comuni-cação da Universidade Fe-deral do Rio de Janeiro, foi

reproduzido um dos capí-tulos de O poder jovem: his-tória da participação polí-tica dos estudantes brasilei-ros, de autoria de Poerner:

– Eles aproveitaram omeu relato porque descre-vo aquele momento críticoda luta dos estudantes con-tra a ditadura militar, con-textualizado com aconteci-mentos anteriores. A noitedo dia 23 de setembro foitrágica, revoltante e cho-cante - diz Poerner.

Nas livrarias o Graciliano de Audálio

31Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

A historiadora Cybelle de Ipanema,Presidente do Instituto Histórico e Ge-ográfico do Rio de Janeiro-IHGB, doouà Biblioteca da ABI (Biblioteca BastosTigre) a versão fac-símile dos exempla-res do jornal Reverbero ConstitucionalFluminense, publicado de 1821 a 1822para apoiar a Independência do Brasil.

O trabalho foi editado pela Biblio-teca Nacional em três volumes: um ins-trumental, de orientação para pesqui-sa, e dois com a reprodução dos exem-plares do jornal. Trata-se de um docu-mento raro, hoje encontrado apenas naBN, na Biblioteca da ABI e no IHGB,todos no Rio de Janeiro.

Para realizar o trabalho, a historia-dora contou com a colaboração do ma-rido, o jornalista e também historia-dor Marcello de Ipanema, falecido em1993: — O Reverbero foi o jornal quemais contribuiu para a Independên-cia do Brasil. Reunir os exemplares foiuma obra de paixão, que começou aser desenvolvida nos anos 50. Resol-vemos fazer um estudo sobre o jornal,que circulou entre 1821 e 1822, esti-mulando a população a aderir à idéiada Independência.

Os três volumes foram lançados emmarço de 2005, no Instituto Históri-co e Geográfico Brasileiro. Diz a Pro-fessora Cybelle que a obra é fruto dedemorada pesquisa e constitui um ins-trumento valioso “para a História doBrasil, da imprensa e da Independên-cia, que vai facilitar o acesso dos pes-quisadores a uma obra rara”. O maiortrabalho, diz, foi conseguir que a BN

RARIDADE

O jornal que fez a Independência A coleção do Reverbero Constitucional Fluminense, em edição fac-similada, é doada à

Biblioteca da ABI (Biblioteca Bastos Tigre) pela historiadora Cybelle de Ipanema, que fez com o marido,o falecido historiador Marcelo de Ipanema, um índice de 120 páginas com todos os assuntos tratados no jornal.

fizesse a edição fac-símile dos doistomos com exemplares da publicação:— O volume instrumental será mui-to útil aos pesquisadores e interessa-dos na história do Reverbero. Só a par-te da indexação, por exemplo, tem 120páginas e é uma peça importante daobra, porque foi organizada em capí-tulos toponímicos (de lugar), heme-rográficos (jornais citados), onomás-

A Biblioteca da ABI (BibliotecaBastos Tigre) conta agora com todaa coleção (44 volumes) da revista His-tória Ciências Saúde, publicação daCasa de Oswaldo Cruz, órgão liga-do à Fundação Oswaldo Cruz. Lan-çada em 1994, a revista circula en-tre pesquisadores, especialistas, ci-entistas sociais e historiadores dasáreas de medicina e de biologia.

A Editora-Executiva Ruth Mar-tins, que teve a iniciativa da doação,informa que a revista – trimestraldesde o ano passado – publica rese-nhas, notas de pesquisas, artigos e

Ledo e o cônego e jornalista Januárioda Cunha Barbosa: — O lançamentoteve um impacto muito grande, por-que naquele momento a população jávia com boa aceitação os princípios doliberalismo — diz Cybelle.

O jornal chegou a ser impresso emtrês gráficas diferentes: Moreira e Gar-cez, Tipografia Nacional e Tipografiade Silva Porto e Cia. Geralmente circu-lava sem o nome de seus editores e co-laboradores — mas apenas porque na-quela época não era comum as publi-cações terem o que chamamos de ex-pediente: — Descobriam-se os respon-sáveis por informações cruzadas e re-ferências. Uma vez ou outra alguémassinava as matérias — explica a his-toriadora.

Quando o Reverbero começou a cir-cular, a idéia de liberar a colônia daCorte portuguesa, apesar da oposição,já estava bem adiantada; seria muitodifícil o Príncipe Regente recuar da res-ponsabilidade de concretizar a Inde-pendência do País, diz Cybelle, que ésócia da ABI.

Outra informação que consta do tra-balho de Cybelle e Marcelo de Ipanemaé que os jornais da época costumavamter epígrafes, a maioria em latim ou fran-cês. A de Januário da Cunha Barbosa eJoaquim Gonçalves Ledo para o Rever-bero era “Redire sit nefas” (“É um crimevoltar atrás”), numa clara alusão à ati-tude que desejavam de Dom Pedro I.Quem não gostou foi José da Silva Lis-boa, o Visconde de Cairu, que fez recla-mou da divisa diretamente ao jornal.

Uma coleção de História Ciências Saúde na ABI

ticos (nomes de pessoas) e analíticos.

O impacto, na épocaA edição nº 1 do Reverbero Constitu-

cional Fluminense foi lançada em 15 desetembro de 1821 — data da comemo-ração, pela Corte, do primeiro aniver-sário da adesão de Lisboa à revoluçãoda cidade do Porto — e seus mentorese editores foram Joaquim Gonçalves

gresso no portal de periódicos cien-tíficos Scielo, que abriga textos e di-vulga a produção científica da Amé-rica Latina e do Caribe.

Ruth Martins, porém, não escon-de que, no lançamento, a revista apa-receu como um corpo estranho na cen-tenária Fiocruz, que até então só se de-dicava às pesquisas médicas e biológi-cas: – Surgiu na instituição um novoolhar para a memória e a preservaçãoda história da saúde e da medicina. Hoje,a Casa de Oswaldo Cruz já tem umlastro que inclui cursos de pós-gradu-ação e um museu de ciências.

Cybelle de Ipanema: Mais de 50 anos pesquisando o Reverbero.Constitucional.

ensaios inéditos e foi pioneira numcampo editorial que vem crescendono País. A publicação também repro-duz documentos e imagens de valorhistórico e edita debates, entrevis-tas, dissertações e teses:

– Desde o seu lançamento, ela vemcausando boa impressão no meio aca-dêmico e o número crescente de co-laboradores mostra que estamos nocaminho certo, ganhando prestígioem vários campos de pesquisa. Umdos fatores que também contribuiupara o crescimento do interesse porHistória Ciências Saúde foi o seu in-

32 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

O novo Chefe da Representação daABI em Brasília é o jornalista MarceloTognozzi, que substitui Silvestre Gorgu-lho, empossado em 1º de janeiro no cargode Secretário de Cultura do DistritoFederal. Logo após ser indicado, Togno-zzi veio ao Rio acompanhado do Presi-dente do Conselho Nacional de Propa-ganda, Hiran Castello Branco, e do pu-blicitário João Santos, sócio de Hiran naagência Giacometti, que será responsá-vel pela criação voluntária da campanhade promoção do centenário da Casa.Participaram do encontro o Presidenteda ABI, Maurício Azêdo, o Diretor Fi-nanceiro, Domingos Meirelles, e o Con-selheiroFrancisco Paula Freitas.

Marcelo Tognozzi iniciou a carreirajornalística na Bloch Editores, em 1977,e trabalhou na Rádio Roquette Pinto, noJornal do Commercio, O Globo, CorreioBraziliense e Folha de S. Paulo e nas revis-tas Tendência, Veja e IstoÉ. Em 1966, as-sumiu o cargo de Secretário-Adjunto deComunicação do Governador CristovamBuarque, para o qual criou a primeiraagência de governo online. De 1977 a2000, escreveu a coluna política O Diaem Brasília, no jornal carioca O Dia. Es-pecializou-se em assuntos políticos e man-tém uma empresa de consultoria na área,a A + B Comunicação.

A reaproximação do jornalista com aABI aconteceu há dois anos, quando elefoi convidado para suplente de Silves-tre Gorgulho como representante daentidade no Conselho de Defesa dosDireitos da Pessoa Humana, órgão doMinistério da Justiça. Na ocasião, foiconvidado também para colaborar naorganização dos festejos do centenárioda ABI, em Brasília.

Além de chefiar a Representação daAbi, Tognozzi foi designado representan-

Chama-se Esporte Inte-rativo e é produzido pelaagência de marketing es-portivo TopSports o maisnovo canal de tv com pro-gramação exclusivamentededicada ao tema. A estréiafoi no dia 20 de janeiro e atransmissão é ininterrup-ta. O novo canal tem trans-missão em UHF e via an-tena parabólica – presenteem 15 milhões de lares noBrasil – na freqüência 980vertical do satélite B1. De acordo como publicitário Carlos Moreira – respon-sável pelo marketing comercial daTopSports –, essa distribuição vai pos-sibilitar o acesso de telespectadores devárias camadas sociais:

– O Esporte Interativo é mais vol-tado para as classes B, C e D, para genteaté então sem acesso a um canal es-portivo que funcionasse 24 horas pordia, por não ter tv paga.

Os principais atrativos da gradeprogramação do Esporte Interativosão as exibições dos campeonatosinglês, italiano e português de fute-bol; o torneio pré-olímpico sul-ame-ricano sub-20, em fase final; e os jo-gos da divisão sub-17, que acontece-

Em comemoração aos seus 30 anosde fundação, o Clube de Astronomiado Rio de Janeiro lançou a publicaçãoAstronomia em Jornal, um espaço paradivulgação de artigos e curiosidadessobre temas referentes à astronomiae aos objetos celestes. No primeiro nú-mero, colaboram os astrônomos Fer-nando Vieira, Diretor-Presidente da As-sociação Brasileira de Planetários e Ro-naldo Rogério de Freitas Mourão, Pre-sidente de honra do Clube, que assinao artigo A história do universo, sobre gê-

REPRESENTAÇÃO

Tognozzi, nosso homem em Brasília

VEÍCULOS

Um canal de esportes,o dia todo

Transmitido em UHF e por parabólica, Esporte Interativoé o primeiro canal aberto exclusivo sobre o assunto

rão agora em março. Ocanal investe também emesportes radicais, comosurfe e skate, e tem o pro-grama Revista Eletrônica,com conteúdo mais diver-sificado: – Ele exibe o quehá de mais atual no espor-te internacional, como asmais importantes compe-tições de tênis, natação eatletismo. E ainda acom-panhamos o dia-a-dia deuma equipe de iatismo que

se prepara para o Pan 2007 no Amé-ricas cup – diz Carlos Moreira.

O jornalista André Henning é o res-ponsável pelo comando das 50 pesso-as das equipes de transmissão (narra-dores, comentaristas e apresentado-res) e produção (jornalistas e pessoalde operação). Informou Carlos Moreiraque o canal vai manter as parcerias coma TV Band – jogos dos campeonatosinglês e italiano – e a TV Cultura – cam-peonato português: – Já para a com-petição do Sul-Americano Sub-17, noParaguai, estamos em contato com aBand e a Record. Vamos viabilizar esseprojeto. Afinal, será a última compe-tição de seleções nacionais antes dosJogos Pan-Americanos 2007.

O Diretor de Jornalismo da TV Ver-de Vale, Wilkier Barros, pediu orien-tação à ABI sobre como procederdiante de incidente recente do qualsua emissora foi vítima. Disse ele quea concorrente TV Verdes Mares, afi-liada da Rede Globo no Ceará, acio-nou a Polícia Militar para que todasas câmeras da Verde Vale fossem re-tiradas do campo durante as partidasde futebol Icasa X Guarani e Icasa XCeará pelo Campeonato Cearense,alegando que o contrato de exclusi-vidade na transmissão dos jogos es-tava sendo infringido.

O clube de futebol Icasa assinou umcontrato de exclusividade para as trans-missões ao vivo dos jogos no estádiomunicipal Romeirão, que foi cedido pela

Tevês do Ceará em disputa pelo futebolVerde Vale x Verdes Mares, o prélio fora do gramado.

Astronomia tem jornal trimestralnese e a formação dos elementos fun-damentais do universo.

O Astronomia em Jornal tem forma-to A4, com oito páginas, em quatrocores. Sua distribuição é feita gratuita-mente para associados e parceiros doclube, com o objetivo de contribuir paraa difusão da astronomia como área doconhecimento humano. O Vice-Presi-dente do Clube, Roberto Alvim Pinheiro,revelou que a periodicidade de Astrono-mia em Jornal deverá ser trimestral, comtiragem de 1 mil exemplares.

O site da TopSports apresenta entre outras atrações os jogos doCampeonato Italiano, onde brilha o brasileiro Kaká, astro do Milan.

Carlos Moreira:atrações diversificadas

Prefeitura de Juazeiro do Norte parasediar a equipe da TV Verdes Mares.No entanto, disse Wilkier, o contratoda afiliada da Rede Globo "não tem qual-quer cláusula que proíba a permanên-cia de outra emissora de televisão ourádio no campo; mesmo que houvesseesta cláusula, não poderia se sobreporà Lei de Imprensa ou ao direito de trans-mitir, através de videoteipe, os jogose/ou lances do campeonato". Para o Di-retor de Jornalismo da Verde Vale, aatitude da concorrente é "equivocadae contraventora".

A ABI recomendou à TV Verde Valeque recorresse à Justiça e pedisse umaliminar que possa garantir o seu direi-to de fazer a cobertura do Campeona-to Cearense.

COMPETIÇÃO

te da Casa no Conselho, em substituiçãoa Gorgulho. Para suplente foi designadoo jornalista Orlando Britto, um dos maisrespeitados repórteres-fotográficos dacapital.

Ao comunicar o apoio que o Conse-lho Nacional de Propaganda dará à ABIna divulgação do seu centenário, HiranCastello Branco disse que um dos prin-cipais objetivos da entidade é justamenteparticipar de campanhas de interessepúblico: - A ABI é uma das principaisentidades de mobilização pela liberda-de de expressão. Não podemos falar delivre iniciativa e cidadania sem citar aliberdade de expressão, princípio que oConselho Nacional de Propaganda tam-bém defende. Por isso, trabalhar emparceria com a ABI é motivo de orgulhopara nós e as agências filiadas e atende-mos ao chamado desta Casa para cola-borar na campanha que será criada vo-luntariamente pela Giacometti.

Tognozzi assumiu a ABI de Brasília jáfazendo planos para o centenário da Casa.

33Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

Mário Cunha, que foi 1º Secretário daABI na Gestão Prudente de Morais, neto,Conrado Pereira e José Carlos Rego, queforam membros do Conselho Delibera-tivo, estão entre os jornalistas homenage-ados com nomes de rua em Campo Gran-de, no Rio Janeiro, de acordo com o Decre-to nº 27.570, do Prefeito Cesar Maia, pu-blicado no dia 29 de janeiro no DiárioOficial do Município. Marco Uchôa, Elai-ne Rodrigues, Rogério Coelho Neto, LuizAlberto Bahia, Jacinto Figueira Júnior, Ar-naldo Nogueira e Sérgio Lopes tambémreceberam a homenagem póstuma.

Ex-Secretário da Diretoria de Assistên-cia Social da ABI, Conrado Pereira dedi-cou mais de 30 anos de sua vida à Asso-ciação e 46 ao jornalismo. Passou porveículos como TV Excelsior, Rádio Tupi,Jornal do Brasil, O Globo e O Dia e foi umdos primeiros profissionais formados peloCurso de Jornalismo da FaculdadeNacional de Filosofia. José Carlos Rego,cuja carreira começou no diário Impren-sa Popular, órgão do Partido ComunistaBrasileiro-PCB, completaria 50 anos deprofissão neste ano de 2007.

Marco Uchôa era repórter da TV Glo-bo e morreu, aos 36 anos, em decorrênciade um câncer. Também vítima da doença,Elaine Rodrigues trabalhava no Globo e umade suas últimas grandes reportagens pu-blicada no jornal foi sobre como os bicheirosadministravam os cerca de R$ 70 milhõesdestinados ao Carnaval carioca. RogérioCoelho Neto iniciou a carreira como re-

A Associação Catarinense de Imprensamantéve seu calendário cultural duran-te as férias. Aproveitando a presença demilhares de turistas brasileiros e estran-geiros no litoral, a ACI decidiu promo-ver a exposição Memória da Imprensa Ca-tarinense – Fase I. É o embrião do futuroMuseu da Imprensa de Santa Catarina,projeto da Casa do Jornalista que come-ça a ser executado este ano.

A mostra passou o mês de fevereiro nopavilhão central do Parque Unipraias, emCamboriú, e conta com o apoio da Assem-bléia Legislativa, da Eletrosul, do Gover-no do Estado e da Secretaria Municipalde Turismo. Comemorativa do bicente-nário de nascimento de Jerônimo Coe-

HOMENAGEM

Nossos morNossos morNossos morNossos morNossos mortos dão nomes a 1tos dão nomes a 1tos dão nomes a 1tos dão nomes a 1tos dão nomes a 10 ruas0 ruas0 ruas0 ruas0 ruasA Prefeitura do Rio celebra companheiros que se dedicaram a jornal, rádio e televisão.

pórter do Diário do Comércio na década de50; quando morreu, era relator da Assem-bléia Legislativa do Estado do Rio e che-fiava o Gabinete da Presidência da Câma-ra de Vereadores de Niterói. Jacinto FigueiraJúnior, conhecido como O Homem doSapato Branco – nome de uma de suas atra-ções –, apresentava programas policiais nosanos 60 e 70, dando início ao gênero queaté hoje faz sucesso na TV.

Membro do Conselho Editorial da Folhade S. Paulo, Luiz Alberto Bahia começouna profissão em 1945, como repórter doCorreio da Manhã, depois foi editorialis-ta do JB e editor de Política da revista Visão.Entre 1966 e 1968, foi Chefe do Gabinete

Civil de Negrão de Lima, Governador doentão Estado da Guanabara. Em 1980,tornou-se Conselheiro do Tribunal deContas do Município do Rio de Janeiro.

Mário da Cunha trabalhou durante 20anos no Estado de S. Paulo e foi um aguer-rido defensor da liberdade de imprensa.Durante o regime militar, chefiou a sucur-sal Rio do Estadão e driblou a censura naRedação. Trabalhou ainda no Jornal doCommercio, no Correio da Manhã, na TVGlobo, na Radiobrás e na Folha Dirigida.Na campanha das Diretas Já, foi assessorde Ulysses Guimarães. Morreu em 2004,quando editava o jornal Terceiro Tempo,criado por ele e dirigido aos aposentados.

Arnaldo Nogueira é considerado um

MEMÓRIA

Catarinenses mostramsua imprensa desde 1831

Exposição itinerante é o embrião do futuro Museu da ACI.

lho, fundador da imprensa e da Maçona-ria em Santa Catarina, a exposição já temagendadas exibições em Blumenau, Po-merode, Jaraguá do Sul e Brusque, entreoutros Municípios.

Dois núcleos principais compõem amostra: o histórico, com a apresentação deuma réplica do prelo em que foi impressoo primeiro jornal catarinense, em 1831, eo contemporâneo, com capas de todos osdiários que circulam hoje no Estado – háuma foto da capa do primeiro número decada jornal e foto da capa do número quecirculou no primeiro dia de janeiro de 2006– ano do bicentenário –, um breve histó-rico do jornal e um mapa de Santa Catari-na, localizando a cidade sede da publicação.

A exposição Memória da Imprensa Catarinense, organizada pela ACI, que atraiu visitantesdurante as férias de fevereiro em Camboriú, percorrerá diversas cidades do Estado

dos pioneiros da televi-são brasileira. Foi locutore ator de rádio em cida-des do interior de São Pau-lo e Minas Gerais; em1946, tornou-se corres-pondente da Rádio BBC,e foi morar em Londres.No início dos anos 50,participou da inaugura-ção da TV Tupi e apresen-tou os programas de en-trevistas Falando franca-mente e Senhora opinião.Em 1954, entrou para aUnião Democrática Na-cional (UDN), pela qualse elegeu vereador e de-putado estadual e fede-

ral pelo Rio de Janeiro. Dirigiu a sucursalde O Globo em Brasília por 22 anos.

Sérgio Lopes, conhecido como Serjão,era apaixonado por Carnaval e dividiu seutempo entre o mundo do samba e dapolítica. Acumulou passagens nas Orga-nizações Globo - jornal, rádio e televisão-, na Gazeta Mercantil, na Luta Democrá-tica, no Jornal dos Sports e nas rádiosGuanabara e Continental. Foi tambémprofessor da disciplina Jornal-laborató-rio, na Faculdade da Cidade, e assessor deimprensa de escolas de samba, como Man-gueira, Salgueiro, Estácio de Sá e Acadê-micos da Rocinha. Antes de falecer, emjulho passado, trabalhava na assessoria doDeputado estadual Noel de Carvalho.

Conrado Pereira e José Carlos Rego: dois dos dez jornalistas queagora dão nomes a ruas do Rio, por iniciativa da Prefeitura.

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Tez cor de cobre, cabelos cortados rente, o corpo enxuto,apesar da deseconomia à mesa. Anísio Félix dos Santos podiater saltado das páginas de um romance de Jorge Amado ounelas ter ingressado sem pedir licença ao autor, que o re-ceberia com uma saudação familiar, alguémdo extenso rol de personagens do romancistabaiano. Anísio tinha a riqueza de uma densapersonalidade da Bahia. Jornalista e advo-gado, editor internacional de jornais impor-tantes de Salvador, como o Jornal da Bahiae a Tribuna da Bahia, editor de Opinião domais respeitado dos jornais baianos, A Tar-de, repórter e redator do Diário de Notíciasde Salvador, era festejado como intelectuale admirado como boêmio: não havia cantoda cidade, por mais recôndito que fosse, queele não conhecesse, em que não tivesse umamigo, um parceiro de aventuras, mais queum simples conhecido. Ele sabia onde degustar a arraia fritamais saborosa e a moqueca mais deliciosa, o acarajé maisapimentado a evitar, o terreiro de mãe-de-santo onde bus-car proteção, o grupo cultural mais criativo, a barraca (agora,boxe) do Mercado Modelo mais indicada para algumas horasde prosa e prazer. Sabia, na profusão de gente de tipos e figurasda Bahia, quem era quem, quem fez o quê, quem pensouem fazer e não fez, quem podia ser encontrado onde. Seminvestidura especial para isso, era um secretário de Cultu-ra da Bahia, um guia e cicerone de sua esplêndida e hospi-taleira capital.

Anísio morava há seis anos no Rio, mas voltava sempre aSalvador, onde estava passando férias quando teve um infar-to fulminante, em 27 de janeiro. Membro atuante da ABI, in-tegrou a Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Di-reitos Humanos de 1999 a 2005. Em 2002, como suplente, as-sumiu no Conselho Deliberativo a vaga do Conselheiro Fritz

Sócio efetivo da ABI desde 18 de ju-lho de 1972, quando ingressou na Casapela mão de Danton Jobim, o professor,jornalista e destacado acadêmico Antô-nio José Chediak, nascido em 10 de abrilde 1916 na cidade mineira de Três Cora-ções, começou a trabalhar muito cedo,aos 10 anos de idade, como tipógrafo eatendente numa loja de discos e papela-ria, onde tomou gosto pelas letras e maistarde veio a se tornar professor.

Chediak foi professor de Francês, La-tim e Grego, mas tinha especial predile-ção pela língua portuguesa. Lecionou emimportantes unidades educacionais, comoos cursos de Jornalismo e Letras Clássi-cas da Faculdade Nacional de Filosofia daantiga Universidade do Brasil. Dirigiuoutras instituições de ensino, como oColégio Pedro II, a Universidade Santa Úr-sula e a Faculdade de Humanidades Pe-dro II. Ele foi Presidente e fundador, aolado de Antônio Houaiss, da AcademiaBrasileira de Filologia. Na AcademiaBrasileira de Letras, presidiu a ComissãoMachado de Assis e coordenou a equipeque elaborou o Dicionário e o Vocabulá-rio Ortográfico de Língua Portuguesa dainstituição. Ocupou importantes cargosnos Governos Federal e Estadual na áreade ensino e cultura. Fez parte da Comi-tiva Presidencial que, em 21 de abril de1960, inaugurou Brasília. Na qualidadede Secretário Particular do PresidenteJuscelino Kubitschek foi o redator da Atada Nova Capital do País, documento his-tórico concebido por ele e JK.

Ainda no serviço público Chediakexerceu inúmeras atividades. Foi Dire-tor da Divisão de Obras Raras e Publica-ções da Biblioteca Nacional do Rio de Ja-neiro e dirigiu o Departamento de Edu-cação Técnico-Profissional da Secreta-ria Geral de Educação e Cultura do an-tigo Estado da Guanabara. No GovernoChagas Freitas, ocupou a Chefia deGabinete do Tribunal de Contas do Es-tado do Rio de Janeiro.

Em diferentes períodos e por váriosanos, integrou os Conselhos de Culturae de Educação do Estado do Rio de Janei-ro. Em 1997, foi condecorado com aMedalha Tiradentes pela AssembléiaLegislativa do Estado do Rio de Janeiro,a comenda mais importante do PoderLegislativo do Estado. Era tio do Diretorde Cultura e Lazer da ABI, Jesus Chedi-ak, e do violonista, editor e produtormusical Almir Chediak, criador dos Son-gbooks. Ele faleceu em 11 de fevereiro,dois meses antes de completar 91 anos.

VidasVidas

ANÍSIO FÉLIXUm personagem de romance

Utzeri. Há dois anos fora reeleito suplente do Conselho De-liberativo para o triênio 2005-2008.

Com atuação destacada na imprensa de Salvador, Anísiofoi Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Bahia

e teve participação de relevo nas lutas que se tra-varam nos anos 70 para a retomada da Federa-ção Nacional dos Jornalistas-Fenaj pelo segmen-to mais combativo da comunidade profissio-nal, com a derrota do setor apelegado e acum-pliciado com a ditadura militar. Sua sobrinhaJacileida Félix lembra que ele desempenhou im-portante papel no noticiário político da impren-sa da Bahia: -- Ele era um profissional supercrí-tico, cujos comentários mais ácidos tinhamcomo alvo os desmandos na política regionale nacional. No dia-a-dia, era uma pessoa que ama-va a vida e não tinha medo de nada, nem da morte.

Escritor, cronista, poeta, compositor e his-toriador, Anísio Félix escreveu cinco livros: Bahia pra come-ço de conversa, Filhos de Gandhi - A história de um afoxé, PeloPelourinho, Um vento estranho e Bahia, Carnaval, este emparceria com Moacir Néri. Ele participou de duas coletâne-as de contistas baianos: Dezoito contos baianos e Contos quea Bahia conta.

Companheiro de Anísio na Redação de A Tarde, CláudioLeal considera que ele integrava uma espécie em extinção:-- Anísio era de uma geração de jornalistas que pegou a fasede modernização da imprensa baiana, que implantou o lidee outras técnicas que mudaram a forma de escrever as no-tícias. Pertencia também ao grupo da imprensa boêmia quiefreqüentava o Centro de Salvador. Como cronista, escreveua história da cidade. Foi, também, um grande compositor,famoso como outras importantes figuras da música baiana,como Ederaldo Gentil, Batatinha e Riachão. (José ReinaldoMarques-Maurício Azêdo)

GERARDO, O DECANO DOS MOURÕES

Chediak,o mestre

do idioma

Celebrado como o único brasileiroindicado para o Prêmio Nobel de Lite-ratura, por inscrição feita em 1979 pelaUniversidade de Nova York e que elepropalava sem qualquer culto à mo-déstia, Gerardo de Melo Mourão era es-critor, romancista, poeta, político ejornalista e teve uma trajetória tormen-tosa, à qual não faltou uma condena-ção como espião nazista pela ditadurado Estado Novo (1937-1945), duran-te a qual foi preso 18 vezes. Na prisão,em que permaneceu durante quase seisanos e da qual se livrou após um apelode intelectuais franceses, à frente JeanPaul Sartre, Simone de Beauvoir e Al-bert Camus, escreveu seu romance OValete de Espadas e o ambicioso poe-ma Cabo das Tormentas,composto pordez elegias.

A vinculação de Melo Mourão aosnazistas decorreu de sua filiação ao in-tegralismo, movimento criado em 7de outubro de 1932 pelo escritor Plí-nio Salgado, sob a denominação deAção Integralista Brasileira, à qual eleaderiu por influência e sugestão deAlceu Amoroso Lima, o Tristão de

Ataíde. Não fora pelo conselho deAlceu, Melo Mourão teria se tornadopadre, vocação que o levara ao Semi-nário Redentorista de Congonhas doCampo, em Minas Gerais, e ao Con-vento da Glória, no Rio Entre seus com-panheiros no movimento figuravampelo menos quase 40 intelectuais damaior expressão na época e nas déca-das seguintes, conforme relação pu-blicada pelo escritor e crítico literárioVictor Emanuel Vilela Barbuy no elo-gio póstumo de Melo Mourão. A listaincluía, entre outros, os nomes do poetaVinícius de Morais e do romancistaJosé Lins do Rego.

Natural de Ipueiras, no interiordo Ceará, onde nasceu em 8 de janei-ro de 1917, o poeta Melo Mourão es-creveu também A Invenção do Mar,livro dedicado a Luiz Gonzaga, e atrilogia Os Peãs, composta por O Paísdos Mourões, Peripécia de Gerardo eRastro de Apoio. No texto em memó-ria de Melo Mourão, Vilela Barbuy dizque ele e sua obra "tiveram seu valorreconhecido por críticos do porte de umWilson Martins, que chamou seu livro

Invenção do Mar de Os Brasilíadas,numa comparação com Os Lusíadas,de Camões".

Nas duas últimas décadas de vida,Melo Mourão ligou-se ao bloco polí-tico oposto àquele que integrara nosanos 30 e 40 e ocupou cargos de rele-vo na administração do PDT de Leo-nel Brizola, entre as quais a de Presi-dente do Instituto Municipal de Artee Cultura-Rioarte. Ele encerrava na ad-ministração pública sua carreira tan-to de escritor como de jornalista, estaúltima assinalada por importantes mis-sões jornalísticas, como a de corres-pondente da Folha de S. Paulo em PiongYang, capital da Coréia do Norte.Sempre fascinado pelos extremos,Melo Mourão não escondeu seu en-tusiasmo pelo Governo de Kim Il Sung,fundador da República DemocráticaPopular da Coréia do Norte, de quemdecantava entre as realizações a de terimplantado luz elétrica em todas ashabitações do país, incluídas as situ-adas nas montanhas e de difícil aces-so. Ele faleceu em 9 de março, no Riode Janeiro. (Maurício Azêdo)

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ESSOAL

35Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

Júlio Camargo teve o cuidado deeditar o número 29 de Bem-Te-Vi, jor-nal que digitava com paixão para im-primir em frente e verso de uma folhaA-4, antes de se embrenhar pelo inte-rior de São Paulo, em visita a amigos,aproveitando o recesso do Carnaval.Quando voltava para a capital paulis-ta, no dia 19 de fevereiro, após algunsdias em Itapevi, viajando sozinho emum trem suburbano, foi acometido deum mal súbito. Levado para um hos-pital, não resistiu e morreu antes dereceber atendimento.

Júlio, que estava com 78 anos, foi su-plente do Conselho Administrativo,entre 2001 e 2004, e membro da Cai-xa de Auxílios no período de 1994 e1995. Radicado no Rio há 50 anos, elese formou em História da Arte pelaUniversidade Federal de Pernambuco,Estado onde nasceu, na pequena cida-de de Ipojuca. Na capital fluminense,deu aulas no Colégio Pedro II e tambémlecionou em outras instituições de en-sino. Escreveu 11 livros, entre os quaisse destacam A arte de sofismar e Comose faz um presidente, que, segundo suasobrinha Maria Beatriz Araújo Silva,deveria ser leitura obrigatória nas salasde aula: – É uma obra educativa que nãofala só sobre os presidentes, mas con-textualiza assuntos históricos e depouco conhecimento do público.

Lembra Maria Beatriz que Júlio ti-nha vida cultural intensa e se dedica-va, nos últimos anos, à edição do bo-letim Bem-Te-Vi, redigido por ele e quecirculou por mala-direta até janeirodeste ano. Caminhava diariamente ecostumava se reunir ao grupo de an-darilhos das Paineiras, para onde leva-va, nas folgas, sua máquina de escre-ver e datilografava suas crônicas.

Aficionado por viagens, Júlio or-gulhava-se da última, feita de navio,o único meio de transporte de que ain-da não havia desfrutado. Maria Bea-triz se consola: – Certamente meu tiomorreu feliz, fazendo uma de suas pai-xões: viajar.

Por dificuldades na comunicaçãocom os parentes residentes em Pernam-buco, o corpo de Camargo foi sepul-tado na sexta-feira, dia 23, em Itapevi.

Algumas das mais preciosas fotos dePelé foram colhidas pela lente desteparaibano, entre elas a mais simbólica, emque o Rei do Futebol, no apogeu de seuinigualável e inigualado virtuosismo,aparece parado no ar dando uma bicicle-ta, a perna direita, que desferiu o petar-do, a formar um ângulo de quase 90 graus,absolutamente retilíneo, com o resto docorpo perfeito de atleta.

Ao fazer a evocação póstuma do an-tigo companheiro no Jornal do Brasil,em artigo publicado em 18 de março nosite Direto da Redação, editado a partirde Miami pelos jornalistas Leila Cor-deiro e Eliakim Araújo, o jornalistaRoberto Porto deu pormenores dessa ex-traordinária criação de Alberto Ferrei-ra, o autor da foto que correu mundo.Foi em 1965, no Maracanã, contra aSeleção da Bélgica, que, diz RobertoPorto, nasceu esse instantâneo “que setransformou numa espécie de ícone dojornalismo esportivo, tal o oportunismodo fotógrafo e a plasticidade do movi-mento do jogador”.

Antes de chegar à chefia da Editoria deFotografia do JB dos áureos tempos daAvenida Rio Branco, 110, onde ombreoucom profissionais da expressão de ErnoSchneider, Campanela Neto, Evandro

Júlio Camargo,o andarilho

ALBERTO FERREIRAA lente precisa, no momento certo

Teixeira, José Antônio Moraes, DelfimVieira, Kaoru Higuchi, Odir Amorim,Alberto Jacob, Ronald Theobald, Antô-nio Andrade e Ari Gomes e com o labo-ratorista Jair Martinho, como lembroucom saudade Roberto Porto na crônica Ré-quiem para Alberto Ferreira, Alberto fezoutras fotos antológicas de Pelé, como ado momento em que o Rei sentiu a coxana Copa do Mundo do Chile em 1962 ecaminhava na direção da margem docampo, ao qual não mais retornaria atéo fim da competição. Espalhava-se emtodo o Brasil o temor de frustração dasonhada conquista do bicampeonatomundial de futebol. O JB abriu a foto coma dimensão devida, encimando-a com otítulo que refletia a angústia nacional:O Rei se curva ante a dor que o Brasil in-teiro sentiu.

Também Hélio Fernandes prestoucomovida homenagem a Ferreira, exal-tando-o como “excelente profissional defotografia e um grande amigo e compa-nheiro”. Em texto publicado na sua co-luna da página 9 da Tribuna da Imprensano dia 13 de março, dois dias após o pas-samento do amigo, Hélio Fernandes des-creveu-o como “divertidíssimo, sempre debom humor, gostando de fotografar e defazer amizades”, “as duas coisas muito

fáceis para ele”. Na série de tópicos dorodapé da coluna, intitulado Ur-gente,lembrou Hélio:

“Pouco depois de chegar ao Rio, (Al-berto) foi trabalhar comigo na Revista daSemana, uma das três Revistas Ilustradas,como se chamava na época. (Além doAlberto, lancei ali Paulo Francis, CarlosLemos e muitos outros).

A Revista da Semana era a mais antigadas 3 (as outras eram O Cruzeiro e Man-chete), mas ficou retardada, por causa deGratuliano de Brito (interventor na Pa-raíba, que deu o primeiro emprego civila Ernesto Geisel), que recebera essa revista,e muitas outras, pelo casamento.

Eu e Alberto Ferreira nos divertimosmuito, principalmente em 2 carnavais.Enquanto O Cruzeiro e a Manchete mo-bilizavam mais de 100 pessoas para a co-bertura, eu e o Alberto Ferreira fazíamostudo sozinhos.

Um número especial antes do carna-val, outro depois. As duas outras revistasmontavam “salões” para fotografiasposadas. Alberto Ferreira fazia tudo aovivo e com que categoria. Esses númerosda Revista da Semana devem ter destaqueno seu acervo profissional.”

Alberto Ferreira morreu no dia dos seus75 anos.

Esta foto de Alberto Ferreira se tornou um símbolo de Pelé: o atacante Flávio passou a bola com o peito e o Rei desferiu a bicicleta prodigiosa.

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA - ABI

BALANÇO PATRIMONIAL SIMPLIFICADOEm 31 de dezembro de 2006

ATIVO

CICICICICIRCURCURCURCURCULLLLLANTEANTEANTEANTEANTE- DISPONIBILIDADES - CAIXA e BANCOS- CRÉDITOS A RECEBER

RRRRREALIZÁVEL A LEALIZÁVEL A LEALIZÁVEL A LEALIZÁVEL A LEALIZÁVEL A LONGONGONGONGONGO PO PO PO PO PRRRRRAAAAAZZZZZOOOOO- C/C REPRESENTAÇÃO ABI-SP- CRÉDITOS A RECEBER- DEPÓSITOS JUDICIAIS

PPPPPERERERERERMANMANMANMANMANENTEENTEENTEENTEENTE. I. I. I. I. INVESNVESNVESNVESNVESTITITITITIMMMMMENTENTENTENTENTOSOSOSOSOS. I. I. I. I. IMOBMOBMOBMOBMOBIIIII LIZLIZLIZLIZLIZADOADOADOADOADO- BENS MÓVEIS- BENS IMÓVEIS. DI. DI. DI. DI. DIFFFFFERERERERERIIIIIDODODODODO- INSTALAÇÕES

TOTAL

ABI-RJ

233.963,50233.963,50233.963,50233.963,50233.963,502.950,06

231.013,44

212.254,86212.254,86212.254,86212.254,86212.254,863.657,71

125.338,3783.258,78

788.258,15788.258,15788.258,15788.258,15788.258,15

777778888877777.3.3.3.3.3999991,61,61,61,61,677777288.632,68498.758,99

866,48866,48866,48866,48866,48866,48

1.234.476,511.234.476,511.234.476,511.234.476,511.234.476,51

ABI-SP

3.653.653.653.653.6577777,,,,,77777111113.657,71

0,000,000,000,000,00

0,000,000,000,000,00

0,000,000,000,000,00

0,000,000,000,000,00

3.653.653.653.653.6577777,,,,,7777711111

CONSOLIDADO

222223333377777.62.62.62.62.621,21,21,21,21,2111116.607,77

231.013,44

212.254,86212.254,86212.254,86212.254,86212.254,863.657,71

125.338,3783.258,78

788.258,15788.258,15788.258,15788.258,15788.258,150,00

777778888877777.3.3.3.3.3999991,61,61,61,61,677777288.632,68498.758,99

866,48866,48866,48866,48866,48866,48

1.238.134,221.238.134,221.238.134,221.238.134,221.238.134,22

PASSIVO

CICICICICIRCURCURCURCURCULLLLL ANTEANTEANTEANTEANTE- OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS- CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS- FORNECEDORES- EMPRÉSTIMOS- OBRIGAÇÕES COM EMPREGADOS- OUTRAS OBRIGAÇÕES

EXIGÍVEL A LEXIGÍVEL A LEXIGÍVEL A LEXIGÍVEL A LEXIGÍVEL A LONGONGONGONGONGO PO PO PO PO PRRRRRAAAAAZZZZZOOOOO- JUROS E MULTAS A PAGAR- CEDAE- C/C ABI-RJ

PPPPPAAAAATRTRTRTRTRIIIIIMÔNMÔNMÔNMÔNMÔNIO SIO SIO SIO SIO SOCIALOCIALOCIALOCIALOCIAL- FUNDO PATRIMONIAL- FUNDOS ESTATUTÁRIOS- SUPERAVIT ACUMULADO

TTTTTOOOOOTTTTTALALALALAL

ABI-RJ

372.315,14372.315,14372.315,14372.315,14372.315,1410.811,81160.855,5333.915,65148.418,544.639,4213.674,19

320.730,31320.730,31320.730,31320.730,31320.730,31160.056,41160.673,90

541.431,06541.431,06541.431,06541.431,06541.431,06301.357,7858.501,89181.571,39

1.234.476,511.234.476,511.234.476,511.234.476,511.234.476,51

ABI-SP

0,000,000,000,000,00

3.653.653.653.653.6577777,,,,,7777711111

3.657,71

0,000,000,000,000,00

3.653.653.653.653.6577777,,,,,7777711111

CONSOLIDADO

372.315,14372.315,14372.315,14372.315,14372.315,1410.811,81160.855,5333.915,65148.418,544.639,4213.674,19

324.388,02324.388,02324.388,02324.388,02324.388,02160.056,41160.673,90

3.657,71

541.431,06541.431,06541.431,06541.431,06541.431,06301.357,7858.501,89181.571,39

1.238.134,221.238.134,221.238.134,221.238.134,221.238.134,22

ABI – RJ e SP

BALANÇO PATRIMONIAL SIMPLIFICADOEm 31 de dezembro de 2006 e 2005

ATIVO

CICICICICIRCURCURCURCURCULLLLLANTEANTEANTEANTEANTE- DISPONIBILIDADES - CAIXA e BANCOS- CRÉDITOS A RECEBER

RRRRREALIZÁVEL A LEALIZÁVEL A LEALIZÁVEL A LEALIZÁVEL A LEALIZÁVEL A LONGONGONGONGONGO PO PO PO PO PRRRRRAAAAAZZZZZOOOOO- C/C REPRESENTAÇÃO ABI-SP- CRÉDITOS A RECEBER- DEPÓSITOS JUDICIAIS

PPPPPERERERERERMANMANMANMANMANENTEENTEENTEENTEENTE. I. I. I. I. INVESNVESNVESNVESNVESTITITITITIMMMMMENTENTENTENTENTOSOSOSOSOS. I. I. I. I. IMOBMOBMOBMOBMOBIIIII LIZLIZLIZLIZLIZADOADOADOADOADO- BENS MÓVEIS- BENS IMÓVEIS. DI. DI. DI. DI. DIFFFFFERERERERERIIIIIDODODODODO- INSTALAÇÕES

TOTAL

Nota Explicativa

44444

555556666677777

88888

2006

222223333377777.62.62.62.62.621,21,21,21,21,2111116.607,77

231.013,44

212.254,86212.254,86212.254,86212.254,86212.254,863.657,71

125.338,3783.258,78

788.258,15788.258,15788.258,15788.258,15788.258,15

777778888877777.3.3.3.3.3999991,61,61,61,61,677777288.632,68498.758,99

866,48866,48866,48866,48866,48866,48

1.238.134,221.238.134,221.238.134,221.238.134,221.238.134,22

2005

436.876,73436.876,73436.876,73436.876,73436.876,73132.200,25304.676,48

125.338,37125.338,37125.338,37125.338,37125.338,37

125.338,37

606060606077777.5.5.5.5.5222225,655,655,655,655,65

606060606077777.5.5.5.5.5222225,655,655,655,655,65268.680,84338.844,81

0,000,000,000,000,00

1.169.740,751.169.740,751.169.740,751.169.740,751.169.740,75

PASSIVO

CICICICICIRCURCURCURCURCULLLLLANTEANTEANTEANTEANTE- OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS- CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS- FORNECEDORES- EMPRÉSTIMOS- OBRIGAÇÕES COM EMPREGADOS- OUTRAS OBRIGAÇÕES

EXIGÍVEL A LEXIGÍVEL A LEXIGÍVEL A LEXIGÍVEL A LEXIGÍVEL A LONGONGONGONGONGO PO PO PO PO PRRRRRAAAAAZZZZZOOOOO- JUROS E MULTAS A PAGAR- CEDAE- C/C ABI-RJ

PPPPPAAAAATRTRTRTRTRIIIIIMÔNMÔNMÔNMÔNMÔNIO SIO SIO SIO SIO SOCIALOCIALOCIALOCIALOCIAL- FUNDO PATRIMONIAL- FUNDOS ESTATUTÁRIOS- SUPERAVIT ACUMULADO

TOTAL

Nota Explicativa

999991010101010111111111112121212121313131313

141414141415151515151616161616

1717171717

2006

372.315,14372.315,14372.315,14372.315,14372.315,1410.811,81160.855,5333.915,65148.418,544.639,4213.674,19

324.388,02324.388,02324.388,02324.388,02324.388,02160.056,41160.673,90

3.657,71

541.431,06541.431,06541.431,06541.431,06541.431,06301.357,7858.501,89181.571,39

1.238.134,221.238.134,221.238.134,221.238.134,221.238.134,22

2005

412.063,81412.063,81412.063,81412.063,81412.063,8111.014,88157.593,90230.364,18

1.630,5111.460,34

163.426,04163.426,04163.426,04163.426,04163.426,04163.426,04

594.250,90594.250,90594.250,90594.250,90594.250,90301.357,7858.501,89234.391,23

1.169.740,751.169.740,751.169.740,751.169.740,751.169.740,75

CONSOLIDADO - ABI – RJ e SP

Continua na próxima página

Em R$

Em R$

38 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS SIMPLIFICADAEm 31 de dezembro de 2006 e 2005

ITENS

RECEITA ASSOCIATIVARECEITA DE PUBLICIDADERECEITA DE PATROCÍNIORECEITA ATIVIDADE ESPORTERECEITA ATIVIDADE CULTURARRRRR EEEEECEITCEITCEITCEITCEITA BA BA BA BA BRRRRR UTUTUTUTUTA - AA - AA - AA - AA - ATIVITIVITIVITIVITIVIDDDDDADE PADE PADE PADE PADE PRRRRR IIIII NCINCINCINCINCIPPPPPALALALALALDESPDESPDESPDESPDESPESAS OPESAS OPESAS OPESAS OPESAS OPERERERERERAAAAACIONAICIONAICIONAICIONAICIONAISSSSSGERAISPESSOALINSSFGTSPIS SOBRE FOLHA DE PAGAMENTOATIVIDADE ESPORTEATIVIDADE CULTURAATIVIDADE SAÚDEDESPESAS FINANCEIRASRECEITAS FINANCEIRASSUSUSUSUSUPPPPP ERÁVIT / DÉFERÁVIT / DÉFERÁVIT / DÉFERÁVIT / DÉFERÁVIT / DÉF ICIT OPICIT OPICIT OPICIT OPICIT OPERERERERERAAAAACIONALCIONALCIONALCIONALCIONALBENEFÍCIOS OBTIDOS RENÚNCIA FISCALOBTENÇÃO SERVIÇOS - GRATUIDADE ATV. SAÚDEBENEFÍCIOS CONCEDIDOS - GRATUIDADE ATV. SAÚDESUSUSUSUSUPPPPP ERÁVIT / DÉFERÁVIT / DÉFERÁVIT / DÉFERÁVIT / DÉFERÁVIT / DÉF ICIT DO EXERCÍCIOICIT DO EXERCÍCIOICIT DO EXERCÍCIOICIT DO EXERCÍCIOICIT DO EXERCÍCIO

2006

1.327.938,09288.390,00372.800,00

1.989.128,091.989.128,091.989.128,091.989.128,091.989.128,09(2.268.522,20)(2.268.522,20)(2.268.522,20)(2.268.522,20)(2.268.522,20)

(1.022.394,70)(901.783,35)(226.574,27)(64.897,48)(7.634,95)(500,00)

(31,00)(57.270,22)12.563,77

(279.394,11)(279.394,11)(279.394,11)(279.394,11)(279.394,11)226.574,27229.665,00

(229.665,00)(52.819,84)(52.819,84)(52.819,84)(52.819,84)(52.819,84)

2005

1.275.970,16111.900,00372.350,001.830,001.470,00

1.763.520,161.763.520,161.763.520,161.763.520,161.763.520,16(1.656.070,53)(1.656.070,53)(1.656.070,53)(1.656.070,53)(1.656.070,53)

(612.746,34)(755.320,60)(184.800,27)(68.575,20)(5.134,73)(5.775,50)(16.916,33)

(671,64)(16.712,46)10.582,54

111110000077777.449,63.449,63.449,63.449,63.449,63180.975,38159.110,00

(159.110,00)288.425,01288.425,01288.425,01288.425,01288.425,01

CCCCCONONONONONSSSSSOLIOLIOLIOLIOLIDDDDDADO ABADO ABADO ABADO ABADO ABI – RI – RI – RI – RI – RJ e SPJ e SPJ e SPJ e SPJ e SP

DEMONSTRAÇÕES DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDOEm 31 de dezembro de 2006 e 2005

EM 3EM 3EM 3EM 3EM 31 DE DEZEM1 DE DEZEM1 DE DEZEM1 DE DEZEM1 DE DEZEM BBBBB RO DE 2RO DE 2RO DE 2RO DE 2RO DE 2004004004004004Superávit do Exercício 2004EM 3EM 3EM 3EM 3EM 31 DE DEZEM1 DE DEZEM1 DE DEZEM1 DE DEZEM1 DE DEZEM BBBBB RO DE 2RO DE 2RO DE 2RO DE 2RO DE 2004004004004004Superávit do Exercício 2005EM 3EM 3EM 3EM 3EM 31 DE DEZEM1 DE DEZEM1 DE DEZEM1 DE DEZEM1 DE DEZEM BBBBB RO DE 2RO DE 2RO DE 2RO DE 2RO DE 2005005005005005Défic i t do Exercíc ioTransferência para Fundo estatutár ioEM 3EM 3EM 3EM 3EM 31 DE DEZEM1 DE DEZEM1 DE DEZEM1 DE DEZEM1 DE DEZEM BBBBB RO DE 2RO DE 2RO DE 2RO DE 2RO DE 2006006006006006

PatrimônioSocial

33333000001.31.31.31.31.35555577777,,,,,7777788888

33333000001.31.31.31.31.35555577777,,,,,7777788888

33333000001.31.31.31.31.35555577777,,,,,7777788888

33333000001.31.31.31.31.35555577777,,,,,7777788888

FundosEstatutários

58.501,8958.501,8958.501,8958.501,8958.501,89

58.501,8958.501,8958.501,8958.501,8958.501,89

58.501,8958.501,8958.501,8958.501,8958.501,89

58.501,8958.501,8958.501,8958.501,8958.501,89

Superávit(Déficit)

Acumulado

(2(2(2(2(2222229.79.79.79.79.79999977777,4,4,4,4,47)7)7)7)7)175.763,69

(54.033,78)(54.033,78)(54.033,78)(54.033,78)(54.033,78)288.425,01

234.391,23234.391,23234.391,23234.391,23234.391,23(52.819,84)

181.571,39181.571,39181.571,39181.571,39181.571,39

Total

130.062,20130.062,20130.062,20130.062,20130.062,20

305.825,89305.825,89305.825,89305.825,89305.825,89

594.250,90594.250,90594.250,90594.250,90594.250,90

541.431,06541.431,06541.431,06541.431,06541.431,06

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS SIMPLIFICADAEm 31 de dezembro de 2006

ITEITEITEITEITENNNNNSSSSS

RECEITA ASSOCIATIVARECEITA DE PUBLICIDADERECEITA DE PATROCÍNIORECEITA ATIVIDADE ESPORTERECEITA ATIVIDADE CULTURARRRRREEEEECEITCEITCEITCEITCEITA BA BA BA BA BRRRRRUTUTUTUTUTA - AA - AA - AA - AA - ATIVITIVITIVITIVITIVIDDDDDADE PADE PADE PADE PADE PRRRRR IIIII NCINCINCINCINCIPPPPPALALALALALDESPDESPDESPDESPDESPESAS OPESAS OPESAS OPESAS OPESAS OPERERERERERAAAAACIONAICIONAICIONAICIONAICIONAISSSSSGERAISPESSOALINSSFGTSPIS SOBRE FOLHA DE PAGAMENTOATIVIDADE ESPORTEATIVIDADE CULTURAATIVIDADE SAÚDEDESPESAS FINANCEIRASRECEITAS FINANCEIRASSUSUSUSUSUPPPPPERÁVIT / DÉFERÁVIT / DÉFERÁVIT / DÉFERÁVIT / DÉFERÁVIT / DÉF ICIT OPICIT OPICIT OPICIT OPICIT OPERERERERERAAAAACIONALCIONALCIONALCIONALCIONALBENEFÍCIOS OBTIDOS RENÚNCIA FISCALOBTENÇÃO SERVIÇOS - GRATUIDADE ATV. SAÚDEBENEFÍCIOS CONCEDIDOS - GRATUIDADE ATV. SAÚDESUSUSUSUSUPPPPPERÁVIT / DÉFERÁVIT / DÉFERÁVIT / DÉFERÁVIT / DÉFERÁVIT / DÉF ICIT DO EXERCÍCIOICIT DO EXERCÍCIOICIT DO EXERCÍCIOICIT DO EXERCÍCIOICIT DO EXERCÍCIO

ABI-RJ

1.327.938,09288.390,00322.800,00

1.939.128,091.939.128,091.939.128,091.939.128,091.939.128,09(2.1(2.1(2.1(2.1(2.17777777777.2.2.2.2.245,545,545,545,545,52)2)2)2)2)

(933.559,68)(899.615,42)(226.574,27)(64.897,48)(7.634,95)(500,00)

(31,00)(56.618,69)12.185,97

(2(2(2(2(2333338.18.18.18.18.11111177777,43),43),43),43),43)226.574,27229.665,00

(229.665,00)(11.543,16)(11.543,16)(11.543,16)(11.543,16)(11.543,16)

ABABABABABI-I-I-I-I-SSSSSPPPPP

50.000,00

50.000,0050.000,0050.000,0050.000,0050.000,00(91.276,68)(91.276,68)(91.276,68)(91.276,68)(91.276,68)(88.835,02)(2.167,93)

(651,53)377,80

(41.276,68)(41.276,68)(41.276,68)(41.276,68)(41.276,68)

(41.276,68)(41.276,68)(41.276,68)(41.276,68)(41.276,68)

ABI CONSOLIDADO

1.327.938,09288.390,00372.800,00

0,000,00

1.989.128,091.989.128,091.989.128,091.989.128,091.989.128,09(2.268.522,20)(2.268.522,20)(2.268.522,20)(2.268.522,20)(2.268.522,20)

(1.022.394,70)(901.783,35)(226.574,27)(64.897,48)(7.634,95)(500,00)

0,00(31,00)

(57.270,22)12.563,77

(279.394,11)(279.394,11)(279.394,11)(279.394,11)(279.394,11)226.574,27229.665,00

(229.665,00)(52.819,84)(52.819,84)(52.819,84)(52.819,84)(52.819,84)

Em R$

Continuação da página anterior

Em R$

Em R$

1. CONTEXTO OPERACIONALA ASS ASS ASS ASS ASSOCIAÇÃO BOCIAÇÃO BOCIAÇÃO BOCIAÇÃO BOCIAÇÃO BRRRRRASIASIASIASIASILEILEILEILEILEIRRRRRA DE IA DE IA DE IA DE IA DE IMMMMMPPPPPRRRRRENENENENENSA - ABSA - ABSA - ABSA - ABSA - ABIIIII, sediada

na Rua Araújo Porto Alegre, 71 – Castelo – Rio de Janeiro – RJ, CEP:20.030-012, legalmente constituída e registrada com situação ca-dastral regular na Secretaria da Receita Federal ATIVA, CNPJ n°34.058.917/0001-69; é uma entidade sem fins lucrativos. Reco-nhecida como de utilidade pública no Governo do PresidenteVenceslau Brás Pereira Gomes, em 14 de julho de 1917, atravésdo Decreto-Lei nº 3.297, a ABI tem atuado ao longo de quase umséculo na assistência social aos jornalistas e suas famílias e a quan-tos recorrem dos seus serviços, na promoção cultural de seusassociados e na defesa dos interesses do País e do povo brasileiropromovendo, inclusive, a filantropia com assistência médica semqualquer forma de discriminação, como estabelecido em seuEstatuto.

2. APRESENTAÇÃO DASDEMONSTRAÇÕES CONTÁBEISAs demonstrações financeiras foram elaboradas e estão sendo

apresentadas de acordo com as práticas contábeis adotadas noBrasil, com observância da Resolução nº 877, do Conselho Federalde Contabilidade-CFC, que aprovou a NBC-T-10.19, que visa a orientaro atendimento às exigências legais sobre procedimentos contá-beis a serem cumpridos pelas pessoas jurídicas de direito privadosem finalidades de lucro. Foi observado o cumprimento dos Prin-cípios Fundamentais de Contabilidade, bem como as demais Nor-mas Brasileiras de Contabilidade.

3. SUMÁRIO DAS PRINCIPAIS PRÁTICAS CONTÁBEISAs principais práticas contábeis adotadas pela ABI na elaboração

das demonstrações contábeis são as seguintes: a)a)a)a)a) Imobilizado:Imobilizado:Imobilizado:Imobilizado:Imobilizado:Está registrado ao custo de aquisição. A depreciação é calculadapelo método linear, com base em taxas determinadas em funçãodo prazo de vida útil estimado dos bens. As reformas dos pavimen-tos e dos elevadores são registradas pelo custo do material e mão-de-obra e são contabilizados em contas específicas do ativo per-manente. b) Imposto de Renda Pb) Imposto de Renda Pb) Imposto de Renda Pb) Imposto de Renda Pb) Imposto de Renda Pessoa Jurídica – Iessoa Jurídica – Iessoa Jurídica – Iessoa Jurídica – Iessoa Jurídica – IRRRRRPPPPPJ e Con-J e Con-J e Con-J e Con-J e Con-tribuição Social sobre o Lucro–CSL: tribuição Social sobre o Lucro–CSL: tribuição Social sobre o Lucro–CSL: tribuição Social sobre o Lucro–CSL: tribuição Social sobre o Lucro–CSL: A ABI goza da prerrogativaconcedida pela União de isenção do Imposto de Renda PessoaImposto de Renda PessoaImposto de Renda PessoaImposto de Renda PessoaImposto de Renda PessoaJurídica-IJurídica-IJurídica-IJurídica-IJurídica-IRRRRRPPPPPJ e Contribuição Social sobre o Lucro - CSLLJ e Contribuição Social sobre o Lucro - CSLLJ e Contribuição Social sobre o Lucro - CSLLJ e Contribuição Social sobre o Lucro - CSLLJ e Contribuição Social sobre o Lucro - CSLL, con-forme art.15 da Lei n° 9.532/97. c) Cofins: c) Cofins: c) Cofins: c) Cofins: c) Cofins: A isenção desta con-tribuição esteve amparada pela legislação que vigiu até 31/01/99(art. 6°, III, da Lei Complementar n° 70/91). A partir de 01/02/99, de acordo com os arts. 2° e 3° da Lei n° 9.718/98, a base decálculo da Cofins foi ampliada. Porém, nos termos do art. 14, incisoX, da MP n° 1.991-16/2000, atual MP n° 2.158-35/2001, em relaçãoaos fatos geradores ocorridos a partir de 01/02/99 as instituiçõesde caráter filantrópico, recreativo, cultural, científico e associaçõesisentas do imposto de renda continuaram isentas da Cofins, masrestringindo às receitas relativas às atividades próprias das enti-dades. d) Pd) Pd) Pd) Pd) PIIIIIS/PS/PS/PS/PS/PASEP: ASEP: ASEP: ASEP: ASEP: A ABI efetua regularmente os pagamentosmensais com a alíquota de 1% sobre a folha de salários, conformelegislação vigente. e)e)e)e)e) Contribuições Previdenciárias: Contribuições Previdenciárias: Contribuições Previdenciárias: Contribuições Previdenciárias: Contribuições Previdenciárias: A isençãodestas contribuições, de que tratam os arts. 22 e 23 da Lei n° 8.212/91, concedida às entidades beneficentes de assistência social, foicancelada em 18/08/2003, pelo Ato Cancelatório de Isenção deContribuições Sociais N° 17.001/001/2003, retroagindo seus efeitosa 01/01/1995. A atual administração recorreu administrativamen-te ao INSS em 04/11/2004 (Processo 35301.011197/2004-34),sem êxito, tendo orientado que fosse apresentado recurso ao CNAS,porém a ABI, ao dar entrada no CNAS, constatou que já existia oProcesso n° 71010.00795/2004-17, requerendo a restituição daimunidade retroativa a janeiro de 1995. Em 11/05/2005 o CNASindeferiu o recurso, determinando o arquivamento do pedido. Emjulho de 2005, a ABI formula novo pedido de RECONSIDERAÇÃOdo indeferimento publicado no D.O.U. de 17/05/2005. Em janeirode 2006 o CNAS indeferiu o pedido e arquivou o processo. A ABIespera o restabelecimento da isenção das contribuições sociais,interrompida em 01/01/1995, com a aprovação do Projeto de LeiProjeto de LeiProjeto de LeiProjeto de LeiProjeto de Leido Senado Nº 191/2006do Senado Nº 191/2006do Senado Nº 191/2006do Senado Nº 191/2006do Senado Nº 191/2006, de autoria do Senador José Sarney,que concede isenção tributária à Academia Brasileira de Letras –ABL, Associação Brasileira de Imprensa – ABI e Instituto Históricoe Geográfico Brasileiro – IHGB, e cancela os débitos fiscais destasinstituições. Assim, a ABI adotou, durante o ano-calendário de 2006,por decisão da direção, o mesmo procedimento de renúncia fiscaldas contribuições sociais adotados em 2005. Por último, cabe in-formar que a ABI teve o seu pedido de registro no Conselho Municipalde Assistência Social do Município do Rio de Janeiro negado em18/12/2006 e apresentou novo requerimento em 3 de janeirode 2007 com novas alegações. Esta iniciativa tem como objetivo,independentemente da iniciativa do Projeto de Lei do Senado queresolve definitivamente a situação da ABI, preparar um novo pro-cesso via administrativa para dar entrada no CNAS. f) Provisão paraf) Provisão paraf) Provisão paraf) Provisão paraf) Provisão paracontingências: contingências: contingências: contingências: contingências: Não foram constituídas provisões para contingên-cias com expectativa de “perda provável”, tendo em vista não terexistido manifestação da consultoria jurídica sobre os custos dosdesfechos dos processos em andamento na Justiça. g) Demaisg) Demaisg) Demaisg) Demaisg) Demais

39Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 317 Fevereiro/Março de 2007

NOTAS EXPLICATIVAS às demonstrações contábeis em31 de dezembro de 2006 e 2005 (Em reais)

Ativos e Passivos: Ativos e Passivos: Ativos e Passivos: Ativos e Passivos: Ativos e Passivos: Os demais ativos e passivos, classificados nocirculante a longo prazo, obedecem ao prazo de realização ou deexigibilidade. Esses ativos e passivos estão apresentados pelo valorde custo ou realização. h) Apuração do Resultado: h) Apuração do Resultado: h) Apuração do Resultado: h) Apuração do Resultado: h) Apuração do Resultado: As receitase os gastos foram reconhecidos pelo regime de competência re-gistrando um déficit de R$ 52.819,84 (cinqüenta e dois mil, oito-centos e dezenove reais e oitenta e quatro centavos). A conta-bilização da gratuidade e dos benefícios da contribuição patronalà Previdência Social está apresentado em quadro resumo anexoe os documentos que dão suporte estão organizados junto à do-cumentação contábil do exercício. Quanto ao resultado, apesar dea receita total ter apresentado um acréscimo de 13% em relaçãoao ano de 2005, cabe destaque para a receita de publicidade, queobteve um aumento de 157%, comparada com o ano anterior. Poroutro lado, cabe ressaltar que os fatores responsáveis pelo aumentodos gastos, em torno de 36% em relação ao ano anterior, foram:1)1)1)1)1) indenização trabalhista de R$ 37.600,00 (trinta e sete mil eseiscentos reais); 2)2)2)2)2) reflexo do reajuste dos acordos coletivos dosanos de 2003/2004 (13%), 2004/2005 (6%) e 2005/2006 (7%),representando um aumento acumulado na folha de pagamentode 28% e reflexos nos encargos sociais. Este reajuste provocouum maior comprometimento da receita com os gastos de pessoal;3)3)3)3)3) parcelamento da apropriação indébita do IRF, ITR, PIS e Cedaecom maior gasto com despesas de juros e multas; 4)4)4)4)4) aumentodos gastos gerais em decorrência do aumento dos preços e fun-cionamento da Representação da ABI-São Paulo que apresentouum déficit de R$41.276,68 (quarenta e um mil, duzentos e setentae seis reais e sessenta e oito centavos) no seu primeiro ano deatividade, e 5)5)5)5)5) com a redução da liquidez, agravada com a con-tinuidade dos bloqueios judiciais, a ABI teve que captar recursosno mercado para capital de giro e honrar suas obrigações ordiná-rias. Isto também impactou o resultado com o aumento das despesasfinanceiras. Logo, estes gastos provocaram o déficit do exercício,mas a ABI teve uma postura ousada na recuperação de seu pa-trimônio, que apresentou um aumento do ativo permanente deR$180.732,50 (cento e oitenta mil, setecentos e trinta e dois reaise cinqüenta centavos), representando um acréscimo de 30% emrelação ao ano anterior.

4. DISPONIBILIDADESO bloqueio do valor de R$ 83.258,78 (oitenta e três mil, duzen-

tos e cinqüenta e oito reais e setenta e oito centavos) reduziua liquidez da ABI neste exercício, fazendo que houvesse neces-sidade de captação de recursos no mercado para honrar obriga-ções de curto prazo.

5. REALIZÁVEL A LONGO PRAZO –C/C REPRESENTAÇÃO ABI-SPO valor da conta representa os recursos adiantados que estão

em poder da Representação da ABI-São Paulo para custear o fun-cionamento operacional.

6. REALIZÁVEL A LONGO PRAZO -CRÉDITOS A RECEBERO valor de R$125.338,37 (cento e vinte e cinco reais, trezentos

e trinta e oito reais e trinta e sete centavos) s.m. resulta de váriosdireitos que continuam merecendo providências judiciais, a médioe longo prazos, para o seu recebimento.

7. REALIZÁVEL A LONGO PRAZO –DEPÓSITOS JUDICIAISPara uma melhor compreensão da demonstração contábil os

valores bloqueados nas contas bancárias decorrentes de causasjudiciais foram transferidos para esta conta. A ABI tem, por decisãojudicial, o bloqueio das contas 1011882-4, Agência 026-4, do BancoBradesco, no valor de R$ 52.032,74 (cinqüenta e dois mil, trintae dois reais e setenta e quatro centavos), e 1010266-9, Agência026-4 do mesmo Banco no valor de R$ 31.226,04 (trinta e um mil,duzentos e vinte e seis e quatro centavos); totalizando R$ 83.258,78(oitenta e três mil, duzentos e cinqüenta e oito reais e setenta eoito centavos)

8. ATIVO PERMANENTE - IMOBILIZADOOs valores do balanço patrimonial não retratam o preço real

dos bens móveis e imóveis. Quanto aos valores dos imóveis,torna-se necessária uma reavaliação por perito ou empresa es-pecializada para ajuste de seu valor contábil. Cabe o registro deque a atual administração consolidou a melhoria dos controlesinternos do patrimônio adotando a prática da depreciação dosbens. Neste exercício, apesar de a liquidez não ter tido o de-sempenho de anos anteriores, a ABI fez investimentos signi-ficativos representando um acréscimo de R$180.732,50 (cen-to e oitenta mil, setecentos e trinta e dois reais e cinqüenta cen-tavos), conforme citado na Nota 3, letra h, item 5. O peso dessasimobilizações foi na recuperação da Sede da ABI com priorida-de nos reparos do 3º e 12º pavimentos reforma da BibliotecaBastos Tigre e reforma dos elevadores.

9. OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIASa) Ia) Ia) Ia) Ia) IRRRRRFFFFFOs valores já lançados na dívida ativa foram objeto de notificação

e cobrança através de Termo de Constatação Fiscal, demonstran-do um valor de R$38.998,67 (Principal + Multa), conforme Proces-so RPF/MPF nº 0719000/02011/2005. A administração, tempes-tivamente, em 15/12/2005, requereu o parcelamento em 30 (trinta)meses, através do Processo n° 18471.001520/2005-71 e pas-sou a efetuar um recolhimento mensal de R$ 1.316,94 (hum mil,trezentos e dezesseis reais e noventa e quatro centavos). A PagadoriaGeral da Fazenda Nacional – Dívida Ativa, processou novo parce-lamento com prazo de 60 (sessenta) meses, no valor de R$ 633,99(seiscentos e trinta e três reais e noventa e nove centavos), parareinício do pagamento em julho de 2006. A ABI está honrando todosos pagamentos; entretanto já existe processo iniciado pela PGRF- Pagadoria Geral da Receita Federal (Procedimento Administrativoda Dívida Ativa número 18471.001642/2005), tramitando no Mi-nistério Público Federal (Procedimento 1.30.011.001684/2006-47) e Polícia Federal (Protocolo Geral da Polícia Federal número08455.027824/2006-94), sob segredo de justiça, responsabilizandopenalmente os gestores que praticaram crime de apropriação indébita.A ABI, antecipando-se à notificação, protocolou na Polícia Federal,em 24 de janeiro de 2007, Defesa Prévia.

b) ITRb) ITRb) ITRb) ITRb) ITROs ITR´s de 1998, 1999, 2001 e 2002 foram parcelados junto

à dívida ativa em 60 (sessenta) meses e estão sendo pagos re-gularmente. A partir de 2003 a ABI passou a fazer as declaraçõesno prazo e vem efetuando os pagamentos em dia.

10. CONTRIBUIÇÕES SOCIAISa) Ia) Ia) Ia) Ia) INNNNNSS Empregador a RecolherSS Empregador a RecolherSS Empregador a RecolherSS Empregador a RecolherSS Empregador a RecolherOs valores apurados até abril de 2004 e atualizados até dezem-

bro 2006 são R$ 3.228.017,57 (três milhões, duzentos e vinte eoito mil, dezessete reais e cinqüenta e sete centavos), conformeplanilha anexa, não foram reconhecidos no passivo em funçãonão foram reconhecidos no passivo em funçãonão foram reconhecidos no passivo em funçãonão foram reconhecidos no passivo em funçãonão foram reconhecidos no passivo em funçãodas informações constantes da Nota 3e.das informações constantes da Nota 3e.das informações constantes da Nota 3e.das informações constantes da Nota 3e.das informações constantes da Nota 3e. Mesmo assim, oMesmo assim, oMesmo assim, oMesmo assim, oMesmo assim, oIIIIINSS está dando andamento ao processo de cobrança comNSS está dando andamento ao processo de cobrança comNSS está dando andamento ao processo de cobrança comNSS está dando andamento ao processo de cobrança comNSS está dando andamento ao processo de cobrança coma conseqüente execução do débito, necessitando, s.m.j., dea conseqüente execução do débito, necessitando, s.m.j., dea conseqüente execução do débito, necessitando, s.m.j., dea conseqüente execução do débito, necessitando, s.m.j., dea conseqüente execução do débito, necessitando, s.m.j., deprocedimento judicial para obtenção de liminar visando acau-procedimento judicial para obtenção de liminar visando acau-procedimento judicial para obtenção de liminar visando acau-procedimento judicial para obtenção de liminar visando acau-procedimento judicial para obtenção de liminar visando acau-telar os procedimentos adotados.telar os procedimentos adotados.telar os procedimentos adotados.telar os procedimentos adotados.telar os procedimentos adotados.

b) Ib) Ib) Ib) Ib) INNNNNSS Empregado a RecolherSS Empregado a RecolherSS Empregado a RecolherSS Empregado a RecolherSS Empregado a RecolherOs valores históricos de retenção da contribuição social do em-

pregado pela ABI e não recolhido ao INSS, praticada por gestõesanteriores, estão sendo executados pelo INSS através da Ação deExecução Fiscal n° 2006.51.01.527985-1, na 5a. Vara Federal deExecução Fiscal do Rio de Janeiro. Cabe ressaltar a que a atual ad-ministração, a partir de maio de 2004, passou a adotar um proce-dimento para pagamento de todas as retenções. O valor da exe-cução na Justiça é de R$ 347.002,39 (trezentos e quarenta e setemil, dois reais e trinta e nove centavos) está atualizado até julhode 2006 e apresenta a seguinte discriminação: Principal – R$143.757,21; Juros – R$ 88.239,42 e Multa – R$ 115.005,76. Os valoresatualizados até dezembro de 2006 totalizam R$ 354.940,81 (tre-zentos e cinqüenta e quatro mil, novecentos e quarenta reais eoitenta e um centavos).

c) Ic) Ic) Ic) Ic) INNNNNSS Autônomo a RecolherSS Autônomo a RecolherSS Autônomo a RecolherSS Autônomo a RecolherSS Autônomo a RecolherOs valores históricos contabilizados sob este título represen-

tam a retenção da contribuição social dos autônomos efetuadospela ABI e não recolhidos ao INSS. Cabe a observação de que aatual administração a partir de maio de 2004 passou a adotar umprocedimento para pagamento de todas as retenções. O valor retidoatualizado até junho de 2006 está incluído no débito apurado doINSS contido na execução em curso na 5a. Vara Federal de Exe-cução Fiscal do Rio de Janeiro.

d) Pd) Pd) Pd) Pd) PIIIIIS sobre FS sobre FS sobre FS sobre FS sobre Folha a Recolherolha a Recolherolha a Recolherolha a Recolherolha a RecolherO valor devido, atualizado até setembro de 2006, é de R$ 18.702,70

(dezoito mil, setecentos e dois reais e setenta centavos). A ABI incluiueste valor no Parcelamento Excepcional (Paex), conforme permitea MP nº 303, de 29 de junho de 2006, com benefício de reduçãode juros e multa e conseguiu reduzir a dívida para R$ 17.285,39 (de-zessete mil, duzentos e oitenta e cinco reais e trinta e nove cen-tavos), com a seguinte composição: Principal – R$ 10.719,45; Multa– R$ 1.514,33 e Juros – R$ 5.051,61. Assim, este passivo já estáequacionado da seguinte forma: a)a)a)a)a) Dívida até 28/02/2003 – 6 (seis)parcelas de R$988,37 (novecentos e oitenta e oito reais e trinta esete centavos) acrescida da TJLP, b)b)b)b)b) Dívida de 01/03/2003 a 30/04/2004 – 56 (cinqüenta e seis) parcelas de R$202,77 (duzentose dois reais e setenta e sete centavos) acrescida da TJLP. A ABI estáhonrando os pagamentos mensalmente.

11. FORNECEDORESFoi realizada uma conciliação da conta visando à melhoria dos

controles internos dos fornecedores. Neste sentido foi excluída

40.000,00TEXTO

50.000,00

BANRISULTEXTO

BANCO REAL

InstituiçãoInstituiçãoInstituiçãoInstituiçãoInstituiçãoFinanceiraFinanceiraFinanceiraFinanceiraFinanceira

Tipo de Operação paraTipo de Operação paraTipo de Operação paraTipo de Operação paraTipo de Operação paraCapital de Giro no CurCapital de Giro no CurCapital de Giro no CurCapital de Giro no CurCapital de Giro no Curto Prazoto Prazoto Prazoto Prazoto Prazo

SALDO EM DEZ/SALDO EM DEZ/SALDO EM DEZ/SALDO EM DEZ/SALDO EM DEZ/2006 (R$)2006 (R$)2006 (R$)2006 (R$)2006 (R$)

Empréstimo: 10 parcelas deR$4.536,25

Empréstimo: 10 parcelas deR$5.403,87

Cheque Especial

Empréstimo: 11 parcelas deR$2.972,45

Cheque Especial

BANCO REAL

28.980,28

148.418,54

BRADESCO

BRADESCO

2.165,53

27.272,73

TTTTTotalotalotalotalotal

O valor da conta de R$ 160.126,41 (cento e sessenta mil, centoe vinte e seis reais e quarenta e um centavos) não foi ajustado parao valor acima apresentado, tendo em vista que a ABI ainda não foinotificada pela Ação de Execução Fiscal 2006.51.01.527985-1, emcurso na 5a. Vara Federal de Execução Fiscal do Rio de Janeiro movidapelo INSS, podendo existir possibilidade de questionamento dos valoresda multa e juros.

15. EXIGÍVEL A LONGO PRAZO - CEDAEA ABI renegociou a dívida junto à Cedae em 80 (oitenta) parcelas

de R$ 2.901,85 (dois mil, novecentos e um reais e oitenta e cincocentavos). O montante da dívida de 144.649,5751 UFIR, em outubrode 2005, totalizava R$ 232.148,00 (duzentos e trinta e dois mil, centoe quarenta e oito reais). A ABI começou a efetuar o pagamento emnovembro de 2005 e o término previsto no contrato é junho de 2012.Foi procedida uma melhor classificação em 2006, transferindo o saldoda conta no valor de R$ 179.038,00(cento e setenta e nove mil e trintae oito reais), para o EXIGÍVEL A LONGO PRAZO.

16. REALIZÁVEL A LONGO PRAZO – C/C ABI-RJO valor da conta representa os recursos recebidos da ABI-RJ que

estão em poder da Representação da ABI-São Paulo para custear ofuncionamento operacional.

17. PATRIMÔNIO SOCIALFoi realizado o ajuste do Déficit do Exercício com a conta Superávit

Acumulado e os resultados superavitários acumulados vêm sendoreinvestidos na entidade, conforme determina o Estatuto Social.

OSCAR MAURÍCIODE LIMA AZEDO

PresidentePresidentePresidentePresidentePresidente

SERGIO CORREIA BARBOSAContadorContadorContadorContadorContador

C.R.C. – RJ - 073957

13. OBRIGAÇÕES COM EMPREGADOSAs diferenças salariais não pagas por gestões anteriores, referentes

aos Acordos Coletivos no valor de R$100.542,10 (cem mil, quinhen-tos e quarenta e dois reais e dez centavos), continuam em processode negociação com o Sindicato da categoria.

14. EXIGÍVEL A LONGO PRAZO– JUROS E MULTA A PAGAREsta conta foi objeto de mudança do título e transferência dos valores

da conta 221.04.002-1 – Credores Diversos, após conciliação, análisee melhoria dos controles internos. Assim os valores das obrigações comjuros e multas estão assim representados:

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA

ITEM

INSS Empregado

PIS (Paex)

IRF(Parcelamento)

Total

MULTA (R$)

115.005,76

1.409,45

10.574,84

126.990,05

JUROS (R$)

88.239,42

3.819,47

7.553,42

99.6012,31

TOTAL (R$)

203.245,18

5.228,92

18.128,26

226.602,36

desta conta o valor da dívida da Cedae para uma melhor classifi-cação em 2006, transferindo o valor apurado na conta no valor deR$ 179.038,00(cento e setenta e nove mil e trinta e oito reais),para o EXIGÍVEL A LONGO PRAZO.

12. EMPRÉSTIMOSConforme citado na Nota 3, letra h, item 5, a ABI encerrou o exercício

com as seguintes obrigações com instituições financeiras:

A Brasil Telecom está com a culturaem todos os seus movimentos.

A cultura merece o aplauso da Brasil Telecom, que, por meio da parceria

com as artes, demonstra o seu compromisso com a sociedade e com

a valorização da diversidade cultural brasileira. Desde 1999, a Brasil Telecom

já apoiou mais de 600 projetos culturais entre cinema, teatro, música, dança

e literatura. Todas essas manifestações artísticas tiveram palco e os aplausos

de nosso respeitável público. Porque na Brasil Telecom é assim: você encontra

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