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Imagine tudo o que está acontecendo agora, neste segundo. Você acaba de piscar o olho. Uma moeda afunda na água da Fontana di Trevi, em Roma. Mick Jagger escova os dentes. O Sol se põe num vale de Marte. Alguma forma de vida de uma galáxia muito, muito distante, acorda para ir trabalhar. Só dá um desconto: pode ignorar que você não tem como saber se tudo isso está acontecendo mesmo. Só pense nessas imagens como um retrato do Universo inteiro neste momento. Agora vou pedir que um leitor de uma galáxia muito, muito distante faça o mesmo exercício. Na ideia de agora que ele faz do Cosmos vai estar você piscando o olho, a moeda e tudo o mais? Vai. Mas aí o leitor da outra galáxia fica com sede e se levanta para tomar um copo de arsênico. Agora que ele está na cozinha eu peço que ele faça outro retrato mental do Universo. Neste momento muda tudo. Na nova imagem dele, feita só 10 segundos depois, a Terra estará no ano de 2100. Isso acontece porque a forma como os indivíduos percebem a passagem do tempo muda conforme eles se movimentam. Foi o que Einstein descobriu: quando a sua velocidade aumenta, você corre em direção ao futuro mais rápido do que quem está parado. Se você vai de bicicleta até a padaria, chega lá mais no futuro do que se tivesse ido a pé. Uma fração de quatrilhonésimo de segundo no futuro, mas chega. Se a bicicleta andasse a 1,07 bilhão de quilômetros por hora (quase à velocidade da luz), você sairia de casa em janeiro de 2011 e compraria seu pão no século 22. Sob as velocidades do dia a dia, o efeito temporal é minúsculo. Mas existe. Só que a história muda quando entram distâncias muito grandes na jogada. A geometria da coisa é complexa demais para entrar neste texto. Mas, resumindo, é o seguinte: distâncias intergaláticas, de bilhões de anosluz, amplificam o efeito da velocidade. Por isso que no exemplo do leitor de outra galáxia bastou uma caminhada até a cozinha a menos de 10 km/h para dar aquele salto de 100 anos. Esse exemplo, criado pelo físico Brian Greene, da Universidade Columbia,

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Imagine tudo o que está acontecendo agora, neste segundo. Você acaba depiscar o olho. Uma moeda afunda na água da Fontana di Trevi, em Roma.Mick Jagger escova os dentes. O Sol se põe num vale de Marte. Algumaforma de vida de uma galáxia muito, muito distante, acorda para irtrabalhar. Só dá um desconto: pode ignorar que você não tem como saberse tudo isso está acontecendo mesmo. Só pense nessas imagens como umretrato do Universo inteiro neste momento.

Agora vou pedir que um leitor de uma galáxia muito, muito distante faça omesmo exercício. Na ideia de agora que ele faz do Cosmos vai estar vocêpiscando o olho, a moeda e tudo o mais? Vai. 

Mas aí o leitor da outra galáxia fica com sede e se levanta para tomar umcopo de arsênico. Agora que ele está na cozinha eu peço que ele faça outroretrato mental do Universo. Neste momento muda tudo. Na nova imagemdele, feita só 10 segundos depois, a Terra estará no ano de 2100. Issoacontece porque a forma como os indivíduos percebem a passagem dotempo muda conforme eles se movimentam. Foi o que Einstein descobriu:quando a sua velocidade aumenta, você corre em direção ao futuro maisrápido do que quem está parado. Se você vai de bicicleta até a padaria,chega lá mais no futuro do que se tivesse ido a pé. Uma fração dequatrilhonésimo de segundo no futuro, mas chega. Se a bicicleta andasse a1,07 bilhão de quilômetros por hora (quase à velocidade da luz), vocêsairia de casa em janeiro de 2011 e compraria seu pão no século 22. Sob asvelocidades do dia a dia, o efeito temporal é minúsculo. Mas existe.

Só que a história muda quando entram distâncias muito grandes najogada. A geometria da coisa é complexa demais para entrar neste texto.Mas, resumindo, é o seguinte: distâncias intergaláticas, de bilhões deanos­luz, amplificam o efeito da velocidade. Por isso que no exemplo doleitor de outra galáxia bastou uma caminhada até a cozinha a menos de 10km/h para dar aquele salto de 100 anos.

Esse exemplo, criado pelo físico Brian Greene, da Universidade Columbia,

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entrou aqui para deixar claro um postulado da física: o de que todos ospontos de vista são válidos, mesmo o de um personagem hipotético, comoo nosso. Se ele existisse, sua noção de agora, as coisas que o personagemimagina como reais no presente dele, poderiam incluir fatos que para nósainda não foram resolvidos ­ como quem será o presidente da Repúblicaem 2100. Naquilo que para ele é um passado remoto, estaria o dia e acausa exata da sua morte. E você não tem como mudar isso. Em outraspalavras: seu destino está decidido. Por isso Einstein disse que a diferençaentre passado, presente e futuro é ilusória. Na prática, tudo o que aindavai acontecer já aconteceu. 

Para enxergar isso melhor, pense no Universo como ele realmente é: umgrande rolo de filme. Cada frame ali é um instante no tempo. No primeiro,está o início de tudo, o Big Bang. No último, o fim do Universo (seja lácomo for esse momento). No meio há um frame com uma fração desegundo do dia da fundação de Roma, outro com o primeiro ensaio dosBeatles, outro com o melhor dia da sua vida, outro com a formatura do seuneto... A Teoria da Relatividade mostra que todos os momentos daexistência "acontecem" ao mesmo tempo. Mas, se o futuro já estádeterminado, não dá para saber o que tem lá na frente? Aí os físicos sãounânimes: nem a pau. "Para fazer isso, precisaríamos de uma espécie desupercomputador. Mas nada pode computar mais rápido que a próprianatureza", diz o holandês Gerard t´ Hooft, Nobel de física de 1999. Ouseja: para desvendar a natureza, as fatias do futuro, só com uma máquinamaior que a própria natureza ­ uma máquina sobrenatural...

Mas, para alguns (poucos) cientistas, esse artefato existe, sim. É você.Nosso cérebro seria capaz de sentir o futuro. Um desses pesquisadores é opsicólogo americano Daryl Bem, da Universidade Cornell, uma das maisrespeitadas dos EUA.

Daryl pesquisa a influência do futuro sobre o nosso inconsciente. Ele usaexperimentos clássicos da psicologia, como este aqui: primeiro coloca umgrupo de voluntários com telas de computador na frente. Então ele vaimostrando fotos e os voluntários têm que dizer se a imagem é "positiva"

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ou "negativa" (tem um botão para cada resposta). Básico: se aparecer umafoto feia, de vermes sobre carne podre, por exemplo, você tem que apertar"negativo". Se surgir a de um bebê ou outra coisa bonitinha, aperta"positivo". Mas tem um extra aí. Esse experimento serve para testar oefeito de mensagens subliminares. Antes de aparecer a foto da carnepodre, por exemplo, os pesquisadores fazem uma palavra negativa (tipo"nojo") piscar na tela por uma fração de segundo. Não dá tempo de ler.Mas o "nojo" fica impresso no subconsciente dos voluntários. Aí, quandoeles veem a foto da carne podre, apertam o botão de "negativo" maisrápido. É uma reação clara à mensagem subliminar. A diferença é queDaryl faz o mesmo experimento ao contrário: coloca a mensagem depoisda foto. A influência dela deveria ser zero nesse caso, óbvio. Mas não:alguns dos voluntários passam a apertar o botão com mais rapidez, comose tivessem visto a palavra antes da imagem. A conclusão de Daryl é queeles conseguem ver o futuro. Só tem um problema: os resultados sãopouco convincentes. A mensagem subliminar do futuro "faz efeito" emcoisa de 52, 53% das vezes ­ e o acaso já garantiria 50%. 

Seja como for, a verdade é que a ciência ainda não criou uma forma deconciliar livre­arbítrio com Einstein. Mas ok: ela já descobriu coisas tãosupreendentes quanto em outros campos que envolvem essa história dedestino. Principalmente nos mais fascinantes: os que explicam por que asua vida é assim, desse jeito. E a nossa reportagem sobre esse assunto écomo o futuro: já está escrita! Logo ali. 

Para saber maisO Tecido do Cosmos Brian Greene, Companhia das Letras, 2004.