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Carcinoma tubular simples de glândula apócrina em cão – relato de caso Nathália Marques de Oliveira Lemos, Médico Veterinário Residente do Serviço de Cardiologia e Doenças Respiratória do Hospital Veterinário de Pequenos Animais – UFRRJ, Email: [email protected], RG: 213674765, CPF: 11019493763, Rua Manoel Fontenele, 38, Cep. 21051520- Higienópolis- Rio de Janeiro, Tel: 2122701753 / 21987038586. Jonimar Pereira Paiva, Professor Doutor Adjunto do Departamento de Medicina e Cirurgia Veterinária –UFRRJ, Email: [email protected], RG: 086820362, CPF: 023431727-22, Estrada Caetano Monteiro, 391.Bloco 5 Apto 308. Cep. 24320-570. Badu-Niterói-RJ, Tel: (21) 999731726 / (21) 26168114. Bruno Ricardo Soares Alberigi da Silva, Discente de Doutorado do Programa de Pós Graduação em Medicina Veterinária – Patologia e Ciências Clínicas-UFRRJ, Email: [email protected], RG: 20354975-3, CPF: 11515223760 , Rua Padre Mando, 37. Casa 11 – 21310-260 – Madureira – Rio de Janeiro, Tel: (21) 971907977. Mario dos Santos Filho, Discente de Mestrado do Programa de Pós Graduação em Medicina Veterinária – Patologia e Ciências Clínicas-UFRRJ, Email: [email protected], RG: 215198854, CPF: 11622799747, Rua Barão de Cotegipe, 419 - Apto 904 - Cep 20560-080 - Vila Isabel-Rio de Janeiro, Tel: (21) 995421438. Fernando Fernandes Sayeg, Médico Veterinário Residente do Serviço de Oncologia do Hospital Veterinário de Pequenos Animais – UFRRJ, Email: [email protected], RG: 113299655, CPF: 11589089707, Av. Prefeito Dulcídio Cardoso, 2500. Bloco 2.Apto. 203. Rio de Janeiro- Cep 22631903, Tel: (21) 993324554. Yasmin Daoualibi Vianna Siqueira, Médico Veterinário Residente do Serviço de Patologia Animal. Setor de Anatomia Patológica. Instituto de Veterinária. Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública – UFRRJ, Email: [email protected], RG: 217621804, CPF: 11840665742, Rua Caçapava, 17. Apto 302. Cep. 20541-350. Grajaú. Rio de Janeiro, Tel: (21) 969912087 / 22426118. Julio Israel Fernandes, Doutor Adjunto do Departamento de Medicina e Cirurgia Veterinária – UFRRJ, Email: [email protected], RG: CRMV-RJ 6787, CPF: 08210018760, Rua Major Almeida, 8 Cep.26600-000 Paracambi-RJ, Tel: 21 98936-1430. Mariana Correia Oliveira, Discente de Mestrado do Programa de Pós Graduação em Medicina Veterinária – Patologia e Ciências Clínicas-UFRRJ, Email: [email protected], RG: 205510241, CPF: 11635656796, Estrada Urucânia, 1170 Cep.23580-140- Santa Cruz-RJ, Tel: (21) 972062743 / (21) 3314-8413. Resumo O carcinoma tubular simples de glândula apócrina é uma neoplasia maligna rara em animais de companhia, apresentando prevalência de 2% dos tumores cutâneos. A literatura é escassa e controversa em relação ao seu comportamento clínico, tratamento, achados citopatológicos e prognóstico. Seu estadiamento, assim como em outros tumores, é realizado pelo método TNM e o diagnóstico é histopatológico. É uma neoplasia localmente infiltrativa, com baixa taxa de metástase e prognóstico reservado. O tratamento de escolha é a remoção cirúrgica. O trabalho em questão tem como objetivo relatar um caso de carcinoma tubular simples de glândula apócrina em cão com comportamento clínico e metastático incomuns, relevantes na sintomatologia clínica, indicando que sua baixa prevalência o torna um importante alvo de estudo. Palavras chave: canino, neoplasia cutânea, metástase Abstract Simple tubular carcinoma of apocrine gland is a rare malignant tumor in small animal practice, with 2% of prevalence among cutaneous tumors. The literature is scarce and controversial regarding its clinical behavior, treatment, cytopathologic findings and prognosis. Its staging, as in other tumors, is performed by the TNM method and the diagnosis is histopathological. It is a locally infiltrative neoplasm, with low metastasis rate and reserved prognosis. The treatment of choice is surgical removal.The present study aims to report a case of simple tubular carcinoma of apocrine gland in a dog with unusual clinical and metastatic behavior, and with relevant clinical signs, indicating that its low prevalence makes it an important target of study. Key Words: Canine, cutaneous neoplasm, metastasis

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Carcinoma tubular simples de glândula apócrina em cão – relato de caso Nathália Marques de Oliveira Lemos, Médico Veterinário Residente do Serviço de Cardiologia e Doenças Respiratória do Hospital Veterinário de Pequenos Animais – UFRRJ, Email: [email protected], RG: 213674765, CPF: 11019493763, Rua Manoel Fontenele, 38, Cep. 21051520- Higienópolis- Rio de Janeiro, Tel: 2122701753 / 21987038586. Jonimar Pereira Paiva, Professor Doutor Adjunto do Departamento de Medicina e Cirurgia Veterinária –UFRRJ, Email: [email protected], RG: 086820362, CPF: 023431727-22, Estrada Caetano Monteiro, 391.Bloco 5 Apto 308. Cep. 24320-570. Badu-Niterói-RJ, Tel: (21) 999731726 / (21) 26168114. Bruno Ricardo Soares Alberigi da Silva, Discente de Doutorado do Programa de Pós Graduação em Medicina Veterinária – Patologia e Ciências Clínicas-UFRRJ, Email: [email protected], RG: 20354975-3, CPF: 11515223760 , Rua Padre Mando, 37. Casa 11 – 21310-260 – Madureira – Rio de Janeiro, Tel: (21) 971907977. Mario dos Santos Filho, Discente de Mestrado do Programa de Pós Graduação em Medicina Veterinária – Patologia e Ciências Clínicas-UFRRJ, Email: [email protected], RG: 215198854, CPF: 11622799747, Rua Barão de Cotegipe, 419 - Apto 904 - Cep 20560-080 - Vila Isabel-Rio de Janeiro, Tel: (21) 995421438. Fernando Fernandes Sayeg, Médico Veterinário Residente do Serviço de Oncologia do Hospital Veterinário de Pequenos Animais – UFRRJ, Email: [email protected], RG: 113299655, CPF: 11589089707, Av. Prefeito Dulcídio Cardoso, 2500. Bloco 2.Apto. 203. Rio de Janeiro- Cep 22631903, Tel: (21) 993324554. Yasmin Daoualibi Vianna Siqueira, Médico Veterinário Residente do Serviço de Patologia Animal. Setor de Anatomia Patológica. Instituto de Veterinária. Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública – UFRRJ, Email: [email protected], RG: 217621804, CPF: 11840665742, Rua Caçapava, 17. Apto 302. Cep. 20541-350. Grajaú. Rio de Janeiro, Tel: (21) 969912087 / 22426118. Julio Israel Fernandes, Doutor Adjunto do Departamento de Medicina e Cirurgia Veterinária –UFRRJ, Email: [email protected], RG: CRMV-RJ 6787, CPF: 08210018760, Rua Major Almeida, 8 Cep.26600-000 Paracambi-RJ, Tel: 21 98936-1430. Mariana Correia Oliveira, Discente de Mestrado do Programa de Pós Graduação em Medicina Veterinária – Patologia e Ciências Clínicas-UFRRJ, Email: [email protected], RG: 205510241, CPF: 11635656796, Estrada Urucânia, 1170 Cep.23580-140- Santa Cruz-RJ, Tel: (21) 972062743 / (21) 3314-8413. Resumo O carcinoma tubular simples de glândula apócrina é uma neoplasia maligna rara em animais de companhia, apresentando prevalência de 2% dos tumores cutâneos. A literatura é escassa e controversa em relação ao seu comportamento clínico, tratamento, achados citopatológicos e prognóstico. Seu estadiamento, assim como em outros tumores, é realizado pelo método TNM e o diagnóstico é histopatológico. É uma neoplasia localmente infiltrativa, com baixa taxa de metástase e prognóstico reservado. O tratamento de escolha é a remoção cirúrgica. O trabalho em questão tem como objetivo relatar um caso de carcinoma tubular simples de glândula apócrina em cão com comportamento clínico e metastático incomuns, relevantes na sintomatologia clínica, indicando que sua baixa prevalência o torna um importante alvo de estudo. Palavras chave: canino, neoplasia cutânea, metástase Abstract Simple tubular carcinoma of apocrine gland is a rare malignant tumor in small animal practice, with 2% of prevalence among cutaneous tumors. The literature is scarce and controversial regarding its clinical behavior, treatment, cytopathologic findings and prognosis. Its staging, as in other tumors, is performed by the TNM method and the diagnosis is histopathological. It is a locally infiltrative neoplasm, with low metastasis rate and reserved prognosis. The treatment of choice is surgical removal.The present study aims to report a case of simple tubular carcinoma of apocrine gland in a dog with unusual clinical and metastatic behavior, and with relevant clinical signs, indicating that its low prevalence makes it an important target of study. Key Words: Canine, cutaneous neoplasm, metastasis

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Resumen El carcinoma tubular simple de glándula apócrina es una neoplasia maligna rara en animales de compañía, presentando una prevalencia del 2% de los tumores cutáneos. La literatura es escasa y controvertida en relación a su comportamiento clínico, tratamiento, hallazgos citopatológicos y pronóstico. Su estadificación, así como en otros tumores, es realizada por el método TNM y el diagnóstico es histopatológico. Es una migración localmente infiltrativa, con baja tasa de metástasis y pronóstico reservado. El tratamiento de elección es la remoción quirúrgica. El trabajo en cuestión tiene como objetivo relatar un caso de carcinoma tubular simple de glándula apócrina en perro con comportamiento clínico y metastásico inusual, y relevantes en la sintomatología clínica, indicando que su baja prevalencia lo convierte en un importante objetivo de estudio. Palabras clave: canino, neoplasia cutánea, metástasis Introdução As glândulas sudoríparas são classificadas em écrinas e apócrinas, sendo compostas por unidades secretórias e ductal. As glândulas écrinas, também denominadas atriquiais e merócrinas, localizam-se na derme profunda e no subcutâneo dos coxins. Já as glândulas apócrinas, também denominadas de glândulas epitriquiais, são morfologicamente tubulares e espiraladas, abrindo-se no infundíbulo folicular, sendo as principais glândulas sudoríparas em cães e gatos1. Dos tumores cutâneos em animais de companhia, as neoplasias de glândulas sudoríparas écrinas representam 3,6% e o de glândulas apócrinas 2%. O carcinoma tubular de glândula apócrina é uma neoplasia maligna incomum, apresentando uma prevalência de 0,6 a 2,2% dos tumores cutâneos em cães e de 2,5 a 3,6% em felinos. Acometem preferencialmente indivíduos idosos, não havendo predileção sexual. As raças Golden Retriever, Elkhond Noroeguês, Chow Chow, Shih Tzu e English Sheepdog são as mais acometidas2. Os dados sobre o comportamento clinico deste tumor são variáveis entre os estudos, manifestando-se geralmente como nódulos solitários, circunscritos, com diâmetro em felinos de até 3 cm e em cães de até 10 cm. Em função da presença de tecido cartilaginoso ou ósseo, podem ser flutuantes ou firmes, podendo estar presentes áreas alopécicas e ulcerações,sendo em cães mais prevalentes nos membros e em felinos na região da cabeça, principalmente em lábio inferior e queixo, entretanto pode acometer, também, membros e abdômen. Apresentam característica de infiltração local e em menor escala invasão de vasos linfáticos da derme, sendo a taxa de metástase baixa, podendo ocorrer nos linfonodos regionais e nos pulmões2. Seu estadiamento é feito pelo método TNM, é o método mais utilizado e padronizado pela união internacional contra o câncer. Publicado pela primeira vez em 1968, sendo revisado a cada seis a oito anos, atualmente está na sétima edição, publicada em 2009. Este sistema classifica os tumores prioritariamente pela extensão anatômica, sendo baseado em três componentes: T: extensão e característica do tumor primário; N: Ausência ou presença de metástases em linfonodos regionais; e M: Ausência ou presença de metástase à distância1. Há ainda poucos dados em literatura em relação ao seu comportamento, apresentação clínica, tratamento e prognóstico3. As principais manifestações clinicas são: perda de peso, anorexia ou hiporexia, êmese ou hematêmese, hematúria, melena ou hematoquesia e ascite. O diagnóstico é realizado através da anamnese, exame físico e laboratorial, além de métodos de diagnóstico por imagem, citologia e histopatologia1. Em relação à citopatologia, a literatura é escassa e controversa. Geralmente revela células arredondadas agrupadas ou isoladas, núcleos excêntricos e citoplasma pálido. A diferenciação entre neoplasias apócrinas benignas e malignas não é simples, principalmente nas de baixo grau de malignidade. O carcinoma tubular simples de glândula apócrina apresenta como sinais de malignidade o pleomorfismo, índice mitótico elevado, figuras de mitose atípicas, invasão estromal e/ou linfática e/ou capsular. Nos tumores com localização ventral como diagnóstico diferencial temos os carcinossarcomas mamários, carcinomas anaplásicos, carcinomas complexos e carcinomas em tumores mistos. Os carcinomas de glândula apócrina apresentam diferenças significativas nos valores de área e diâmetro nuclear, logo a morfometria nuclear pode ser utilizada no diagnóstico diferencial entre a variante benigna e maligna4. Os principais marcadores imuno-histoquímicos no diagnóstico das neoplasias apócrinas são: AE1/AE3, CAM 5.2 (CK7/8), MNF116, LP34, CK5/6, CK8, CK18, CK13, CK14, p63, a-SMA1. O tratamento de escolha é a remoção cirúrgica.

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O prognóstico difere quanto ao grau de diferenciação celular, sendo reservado no caso dos carcinomas de glândula apócrina, em função da possibilidade de recidiva após a cirurgia e ocorrência de metástase a distância em até 20% dos casos1. Relato de caso Foi atendido no setor de pequenos animais do hospital veterinário da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (HVPA-UFRRJ), um canino, sem raça definida, macho, com onze anos de idade, inteiro, pesando 6,450 Kg, com queixa principal de presença de nódulo cutâneo no prepúcio. Segundo relatos do tutor, o paciente há cerca de 30 dias havia sido submetido a procedimento cirúrgico para exérese de três nódulos cutâneos no dorso e um do prepúcio, sem a realização de exames histopatológicos. Além da queixa da recidiva do nódulo em prepúcio, também foi relatado emagrecimento progressivo, inapetência, vômito e prostração. Ao exame físico constatou-se mucosas hipocoradas, linfonodos submandibulares e poplíteos aumentados, caquexia, sopro holossistólico grau III/VI em foco mitral, ruído expiratório aumentado, desidratação de 6% e presença de nódulo ulcerado em pele na região do prepúcio. Realizou-se exames complementares, como: hemograma, eletrólitos, bioquímica sérica, urinálise, ultrassonografia abdominal, radiografia torácica, eletrocardiograma, ecodopplercardiograma e citologia do nódulo. A radiografia torácica evidenciou discreta efusão pleural, além de padrão intersticial não estruturado e bronquial sugerindo broncopneumonia (Figura 1). No ecodopplercardiograma diagnosticou-se a doença valvar degenerativa crônica de mitral (DVDCM), com remodelamento de átrio esquerdo e o eletrocardiograma evidenciou bloqueio átrio ventricular de primeiro grau. A citologia do nódulo do prepúcio foi sugestiva de carcinoma ou adenocarcinoma. Foi recomendada fluidoterapia com tratamento de suporte, mas por questões particulares o tutor não autorizou, sendo então prescrito tratamento por via oral: amoxicilina com ácido clavulânico na dose de 25mg/kg a cada doze horas, em função da broncopneumonia; omeprazol 1mg/kg a cada vinte e quatro horas e ondasetrona 0,1 mg/kg a cada doze horas em função do vômito; ômega 3 e cloridrato de benazepril 0,25mg/kg a cada vinte e quatro horas em função da DVDCM; nutralife intensive® como suporte nutricional e cloridrato de ciproheptadina 0,3mg/kg a cada doze horas, como estimulante do apetite, sendosolicitado revisão em uma semana. Ao retornar o animal apresentava piora do quadro clínico com dispnéia restritiva; ruídos pulmonares e cardíacos abafados e pulso fraco. Diante do quadro clínico foi solicitado avaliação ultrassonográfica torácica, que revelou a presença de efusão pleural drenável (Figura 2), além de efusão pericárdica com tamponamento cardíaco. O paciente encontrava-se hipotenso e foi encaminhado para o setor de emergência para tentativa de estabilização do quadro clínico, entretanto os tutores optaram pela eutanásia. Após o consentimento dos tutores o corpo dopaciente foi encaminhado para o setor de anatomia patológica do HVPA-UFRRJ para necropsia e histopatologia, cujo resultado foi carcinoma tubular simples de glândula apócrina, moderadamente diferenciado com metástase em adrenal, linfonodos, coração e mandíbula (Figuras 3 e 4).

Figura1.Incidêncialateraldireitatorácicaevidenciandomoderadoaacentuadopadrãointersticialebronquialdifuso,eáreaderadiopacidadefluidoadjacenteaosloboscraniais,indicandoapresençadeefusãopleural(seta).

 

Figura 2. Ultrassonografia torácica evidenciando área de acúmulo se conteúdo anecóico compatível com efusão pleural (seta)

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Discussão O presente relato apresenta a ocorrência de um carcinoma de glândula apócrina em cão idoso, que, segundo a literatura, tem ocorrência de 2% dentre as neoplasias de pele, acometendo principalmente animais entre 8 e 12 anos de idade5,6. Este tipo de tumor, geralmente se manifesta como nódulos subcutâneos sólidos, pouco circunscritos, e em alguns casos ulcerados, tendendo a ocorrer em cabeça, pescoço, zona dorsal do tronco e membros7. Entretanto o caso evidenciou nódulo ulcerado na região do prepúcio. A sintomatologia descrita no presente relato como, emagrecimento progressivo, inapetência, vômito e prostração, correspondem a algumas das principais sintomatologias descritas na literatura2. A caquexia é a forma mais comum de síndrome paraneoplásica em cães, o hipercatabolismo e os fatores de necrose tumoral, liberados por macrófagos ou células tumorais elevam o catabolismo no tecido muscular e adiposo. A caquexia resulta em hipoproteinemia e diminuição da pressão oncótica que podem predispor à ocorrência deefusão pleural1. A inapetência no presente relato pode estar associada à presença de metástase em mandíbula, cujos principais significados clínicos são: o inchaço e a dor6. As principais causas de efusão pericárdica em caninos são de origem neoplásica8. No relato a observação de hipotensão, pulso fraco e ausculta cardíaca abafada está relacionada ao tamponamento cardíaco, ou seja, comprometimento hemodinâmico consequente da efusão pericárdica6. O bloqueio átrio ventricular de primeiro grau (BAV 1º) evidenciado no eletrocardiograma do paciente em questão, pode estar relacionado a infiltração neoplásica cardíaca que ocasiona necrose das fibras miocárdicas e baixa condutibilidade 6. A liberação de citocinas pela neoplasia, também, pode gerar arritmias, por causarem alterações na estrutura de condução elétrica do miocárdio 9,10. Há na literatura controvérsia com relação ao seu comportamento. Alguns autores relatam que o carcinoma de glândula apócrina pode acarretar em metástase a distância3, conforme evidenciado no presente relato, todavia é extremamente raro, uma vez que a maioria dos estudos não evidenciaram este fenômeno8, confirmando a baixa taxa de metástase desta neoplasiaquando comparada a outros carcinomas2,11. Entretanto o presente relato evidenciou metástase em: adrenal, linfonodos, coração e mandíbula.As metástases cardíacas mais comuns citadas são oriundas de melanomas; carcinomas mamário ou bronquial e hemangiossarcomas12, 13, 14, 15. Contudo há relatos de metástase desse tipo de tumor próximo ao átrio esquerdo3. Conclusão O presente relato apresenta o carcinoma de glândulas apócrinas em comportamento clínico e metastático incomuns e relevantes na progressão da sintomatologia clínica, indicando que sua baixa prevalência o torna uma neoplasia ainda desconhecida.

Figura 3. Fotomicrografia de corte histológico do miocárdio evidenciando invasão do miocárdio por neoplasma, inflamação mononucleare fibrose compatível com metástase cardíaca de carcinoma. Coloração HE, 400X.

 

Figura 4. Fotomicrografia de corte histológico de lesão no prepúcio evidenciando proliferação de células organizadas em túbulos inseridos no estroma de tecido conjuntivo colagenoso compatível com carcinoma de glândula apócrina. Coloração HE, 400X.

 

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