2-a uc como fator de sustentabilidade rial

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ANGELA DE FÁTIMA MARQUEZ A UNIVERSIDADE CORPORATIVA COMO FATOR DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. AVALIAÇÃO DA PRÁTICA EMPRESARIAL BRASILEIRA E PROPOSTA PARA A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL Dissertação apresentada ao Corpo Docente do Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil. Área de Concentração: Engenharia Civil. Orientador: Prof º.: OSVALDO LUÍS GONÇALVES QUELHAS, D. SC. Niterói / RJ 2003

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ANGELA DE FÁTIMA MARQUEZ

A UNIVERSIDADE CORPORATIVA COMO FATOR DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. AVALIAÇÃO DA PRÁTICA EMPRESARIAL BRASILEIRA E PROPOSTA PARA A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Dissertação apresentada ao Corpo Docente do

Programa de Pós Graduação em Engenharia

Civil da Universidade Federal Fluminense como

requisito parcial para obtenção do Grau de

Mestre em Engenharia Civil. Área de

Concentração: Engenharia Civil.

Orientador: Prof º.: OSVALDO LUÍS GONÇALVES QUELHAS, D. SC.

Niterói / RJ

2003

Page 2: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

ANGELA DE FÁTIMA MARQUEZ

A UNIVERSIDADE CORPORATIVA

COMO FATOR DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL. AVALIAÇÃO DA PRÁTICA EMPRESARIAL BRASILEIRA E PROPOSTA PARA A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL.

Aprovado em 31 de julho de 2003.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Osvaldo Luis Gonçalves Quelhas, D. Sc. – Orientador Universidade Federal Fluminense - UFF

Prof. Mara Telles Salles, D. Sc. Universidade Federal Fluminense - UFF

Prof. Leonardo Junqueira Lustosa, D. Sc. Pontifícia Universidade Católica - PUC

Niterói 2003.

Page 3: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

Aos meus familiares, por acreditarem em mim, ensinarem -me a

trabalhar duro e proporcionarem-me o tipo de apoio, que só a família pode dar.

Aos mestres por compartilharem seus conhecimentos.

Aos colegas e amigos, pela paciência infinita e incentivo constante, pela

disposição de servirem como críticos em horas impróprias, proporcionarem apoio

moral e torcerem por meu sucesso.

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AGRADECIMENTOS

Ao prof. Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas – meu orientador - pelo apoio e reflexões críticas; pela liberdade que me proporcionou na pesquisa, pela orientação segura e competente, cujos ensinamentos e atitudes serviram de referência para as minhas próprias escolhas.

Aos professores e funcionários do mestrado que me auxiliaram, dando-me atenção, apoio e incentivo.

Page 5: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

As empresas são cada vez mais escolas

e as escolas cada vez mais empresas.

Page 6: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT 1 INTRODUÇÃO, p.12. 1.1 O PROBLEMA, p.12. 1.2 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA, p.16. 1.3 OBJETIVOS, p.16. 1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO, p.17. 1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO, p.17. 1.5.1Organização do Estudo, p.20 2 REVISÃO DA LITERATURA, p.21. 2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS, p. 21. 2.2 A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL, p.23. 2.2.1 Um panorama da Construção Civil, p.23. 2.2.2 Divisões do setor da Construção Civil, p.26. 2.2.3 Produtividade do Setor da Construção Civil, p.29. 2.3 UM BREVE HISTÓRICO DO TREINAMENTO, p.30. 2.4 A GESTÃO DO CONHECIMENTO E AS ORGANIZAÇÕES, p.32. 2.4.1 Conceitos Básicos de Gestão do Conhecimento, p.32. 2.4.2 O Processo de Gestão do Conhecimento, p.36. 2.5 AS UNIVERSIDADES CORPORATIVAS, p.46. 2.5.1 A Justificativa paraa a Criação de uma Universidade Corporativa, p. 46. 2.5.2 Bases Conceituais, p.48. 2.5.3 Breve Histórico das Universidades Corporativas, p.50. 2.5.4 O que é uma Universidade Corporativa, p. 52. 2.5.5 O Modelo de uma Universidade Corporativa, p.56. 2.5.6 Modelos de Aprendizagem na Universidade Corporativa, p.61. 3 METODOLOGIA, p.73. 4 A IMPLANTAÇÃO DE UMA UNIVERSIDADE CORPORATIVA: A

EXPERIÊNCIA EM 3 EMPRESAS BRASILEIRAS, p.77. 4.1 EMPRESA AMIL, p.78. 4.1.1 AMIL Universidade Corporativa, p.79 4.2 EMPRESA TELEMAR, p.85 4.2.1 Universidade Telemar - UNITE, p.86. 4.3 BANK BOSTON, p.92. 4.3.1 BostonSchool, p.93. 4.4. ANÁLISE DOS CASOS, p.100. 4.5. PROPOSTA DE UMA UNIVERSIDADE CORPORATIVA PARA A

CONSTRUÇÃO CIVIL, p.105.

Page 7: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

4.5.1 A Experiência Existente, p.105. 5 PROPOSTA DE CRITÉRIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM

MODELO DE UMA UNIVERSIDADE CORPORATIVA PARA A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL, p.109.

5.1 INTRODUÇÃO, p.109. 5.2 CENÁRIO, p.109. 5.2.1 Cenário para a Década 2003 – 2013, p.110. 5.3 MODELAGEM CONCEITUAL DA PROPOSTA, p.114. 5.3.1 Considerações Iniciais, p. 114. 5.3.2 Os Critérios Componentes de uma Universidade Corporativa para a Indústria

da Construção Civil, p.115. 6 CONCLUSÃO, p.124. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, p.128.

Page 8: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 Participação do setor da construção na economia 24

Quadro 2 Produtividade da mão de obra e emprego por setor econômico 25

Quadro 3 Divisões da construção civil 26

Quadro 4 Parcelas de participação dos segmentos 26

Quadro 5 Segmento edificações - % do emprego total 28

Tabela 1 Pesquisa de padrão de vida - PPV 30

Quadro 6 Mudança de paradigma de T&D para Universidade Corporativa 54

Figura 1 Dez componentes fundamentais do projeto de uma Universidade Corporativa

59

Figura 2 Modelo de educação guiado pelo mercado 70

Quadro 7 Características das empresas estudadas 77

Figura 3 Estrutura da Amil Universidade Corporativa 80

Figura 4 Processo de Estruturação da Amil Universidade Corporativa 85

Figura 5 Posição da Universidade Corporativa no organograma da Telemar

87

Quadro 8 Divisão das categorias que compõem a área de treinamento da UNITE

89

Figura 6 Processo de Estruturação da UNITE 92

Tabela 2 As estrelas ou como os empregados vêem o BKB 93

Quadro 9 Resumo da Estrutura de Aprendizagem da BostonSchool 96

Tabela 3 Ações de treinamento 97

Figura 7 Processo de implantação da BostonSchool 100

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES (CONT.)

Quadro 10 Resumo das características das empresas estudadas 104

Quadro 11 Cenários futuros para a próxima década 2003 - 2013 112

Quadro 12 Análise da prospecção da cadeia produtiva da construção civil 113

Figura 8 Sistema de controle de uma universidade corporativa na construção civil

116

Figura 9 Centralização X descentralização 118

Quadro 13 Indicadores de desempenho para a universidade corporativa 122

Page 10: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

RESUMO

As empresas competitivas vêm percebendo que investir na capacitação de

seus funcionários, seja por questões gerenciais ou por pressões provenientes das

necessidades do mercado profissional, produzem resultados positivos. Nesse

sentido, este trabalho tem a finalidade de avaliar a prática da Educação Corporativa

em empresas brasileiras em relação aos conceitos de uma universidade corporativa

propostos por Meister (1999) e formular uma proposta de critérios para

desenvolvimento de um modelo de uma universidade corporativa para a Indústria da

Construção Civil. Tomou-se por base um estudo de caso em três empresas atuantes

no mercado brasileiro nos setores de assistência médica, de telecomunicações e no

setor financeiro. Como resultado tem-se que mesmo com algumas limitações e que

o retorno de sua atuação ainda não esteja efetivamente aferido, é inegável que a

ótica proposta para existência das universidades corporativas valoriza, provoca um

enriquecimento e uma evolução às funções do antigo setor de treinamento. O

desenvolvimento de pessoas nas organizações passa a ter caráter contínuo,

permanente e vinculado aos objetivos do negócio. Com a adoção de uma

universidade para o setor da construção civil, a educação/formação profissional

atrela-se e torna-se efetivamente considerada nas estratégias do setor de forma

nacional.

Palavra-chave: Universidades Corporativas; Gestão do Conhecimento; Educação à

Distância, Gerenciamento.

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ABSTRACT The competitive companies are noticing that to invest in their employees' training it is

for managerial subjects or for coming pressures of the needs of the professional

market, he/she brings positive results. In that sense, this work has the purpose of

evaluating the practice of the Corporate Education in Brazilian companies in relation

to the concepts of a corporate university, proposed by Meister (1999), and to propose

criteria for developing of a model of corporate university for the Civil Construction

Industry. At the basis of the research is a case study in three companies acting in the

Brazilian market of medical care, of telecommunications services and of financial

services. As result is had that even with some limitations and that the return of his/her

performance is not still indeed checked, it is undeniable that the optics proposal for

existence of the corporate universities values, it provokes an enrichment and an

evolution to the functions of the old training section. The personal development in the

organizations acquires a continuous and permanent character more linked to the

objectives of the business. With the adoption of a university for the Civil Construction

Industry, the education and professional training is harnessed and becomes effecting

considered nation-wide in the strategies of the industry.

Key word: Corporate Universities; Administration Knowledge; Distance Education

Administration.

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12

1 INTRODUÇÃO

1.1 O PROBLEMA

A Indústria da Construção Civil tem sido classificada como um setor

conservador, de atitudes perdulárias e tecnologicamente atrasada. Alguns autores a

vêem como um modo arcaico de produção, outros, como um modo original de

industrialização e outros a entendem como um setor em transição localizado entre a

produção tradicional e a mecanizada. Em função desse convívio - mecanização

parcial com as atividades de base artesanal - esta indústria é considerada pela

Fundação João Pinheiro (1992) como sendo híbrida onde o processo produtivo

permanece dependente das habilidades técnicas dos trabalhadores, o que

determina características específicas para sua formação.

Apesar de desempenhar um papel relevante no processo de desenvolvimento

do país, o setor da construção civil manteve-se durante muito tempo à margem das

mudanças de ordens tecnológicas e organizacionais que ocorreram nos demais

setores econômicos.

A integração do país ao mercado mundial (globalização), a implantação do

Código de Defesa do Consumidor e o movimento internacional pela Qualidade,

apoiado no desenvolvimento e difusão das normas da série ISO 9000, fizeram com

que o setor, para se adaptar a este cenário, desenvolvesse estratégias de mudanças

concentradas em algumas categorias como: Gestão da Qualidade, Gestão da

Produção, Inovação Tecnológica, Sub-Contratação e Terceirização entre outras.

Entretanto aspectos fundamentais do mundo atual contribuem para dificultar

quaisquer previsões acerca do futuro: o ritmo acelerado de mudanças sociais e

tecnológicas e a importância crescente do conhecimento como fator de sucesso nos

Page 13: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

13

negócios. A partir dessas constatações básicas é possível deduzir que uma

característica essencial das empresas do futuro é que o sucesso em longo prazo nos

negócios não pode ser assegurado pelo domínio de recursos específicos como:

capital, recursos naturais ou competências tecnológicas. A competência fundamental

para assegurar a continuidade e prosperidade das empresas em longo prazo é a

capacidade de aprender.

Aprender, no caso, não significa ser capaz de reproduzir comportamentos ou

memorizar conteúdos pré-fixados. (Depresbiteres, 2001). Aprender, no sentido

sistêmico e abrangente do termo, significa ser capaz de transformar-se, de modo a

modificar a própria estrutura de comportamento, tornando-a mais eficaz no sentido

de perseguir os valores essenciais da própria pessoa, grupo social ou comunidade.

Tal abordagem sistêmica coincide com o modelo onde se posicionava o estado da

arte da gestão das organizações que é o de gerenciar e alcançar excelência no

desempenho, a partir de princípios múltiplos - segurança do trabalho, meio

ambiente, qualidade total e responsabilidade social.

Atualmente está se presenciando um salto na capacidade de inovação devido

à disponibilidade de um conjunto de tecnologias de aprendizagem em grupo, que

está sendo usado pelas empresas como fator estratégico para competir no mercado

globalizado. Com isso está surgindo um novo perfil de empresa: "A Empresa que

Aprende" ("Learning Organization") (Senge, 1998). A aprendizagem nas

organizações depende da interação autêntica entre as pessoas, que de modo geral

é desestimulada em nossa cultura. A própria educação, apesar de realizada em

grupo, enfatiza o desempenho individual e a competição entre os indivíduos. Em

tempos de globalização, no qual a competitividade das empresas é impulsionada

pela capacidade de gerar resultados inovadores, as competências estão em alta.

O termo competência tem recebido vários significados ao longo do tempo e,

segundo Depresbiteres (2001), quase sempre as definições dependem dos autores

em que foram baseadas e das metodologias de análise das atividades do trabalho.

Porém, apesar das diferenças de abrangência, alguns aspectos são comuns

destacando-se:

O conceito de competência é indissociável do conceito de

desenvolvimento;

Page 14: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

14

O conceito de competência está relacionado ao indivíduo e não a

empresa;

O conceito de competência está intrinsecamente relacionado ao de

formação contínua.

Necessidade da empresa, interesse do trabalhador e da própria sociedade, a

qualificação para o trabalho exige estratégia integrada, construída mediante

articulação e parceria entre os vários atores sociais – governos, empresas,

trabalhadores, educadores – de modo a beneficiar não apenas setores modernos da

economia, mas também toda a sociedade.

Segundo Stewart (1998), no modelo taylorista da Era Industrial, o trabalhador

formado para o mercado -praticamente não precisava lidar com modificações no

posto de trabalho ou na estrutura da empresa, sendo maior a padronização dos

cargos e tarefas. Entretanto, na denominada Era da Informação, a política do pleno

emprego estável e seguro vem sendo substituída pelo conceito do emprego por

habilidades, conhecimento, o que resulta em tarefas mais complexas e freqüentes

mudanças na estrutura de como elas serão realizadas.

Esta situação faz com que a procura por profissionais capacitados seja mais

intensa por parte das organizações ou então, acaba obrigando as empresas a

investirem constantemente em seus recursos humanos de forma que estes estejam

preparados para desempenharem suas funções. Uma das estratégias mais

conhecidas para a formação são programas de educação profissional que podem

ser oferecidos por instituições públicas ou privadas.

A necessidade da educação profissional nas empresas vem aumentando

devido ao fato de que, muitas vezes, a razão de alguns empreendimentos não

gerarem resultados positivos, é a baixa escolaridade da mão-de-obra. A educação

profissional pode contribuir para uma maior capacitação funcional, de forma a

aumentar o moral, a eficiência, a produtividade e a melhoria do ambiente de trabalho

visto que a falta de elementos motivacionais tende a acarretar prejuízos para as

empresas tais como: acidentes no trabalho, desperdício de material, máquinas e

equipamentos danificados, conflitos e desentendimento com colegas e chefes,

produtos ou serviços de baixa qualidade, quantidade insuficiente de produção,

custos altos, reclamações variadas.

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15

Modificações velozes nos negócios das organizações não são conseqüências

diretas de revoluções em tecnologia da informação. Acrescentam-se, neste contexto,

outros importantes fatores: a globalização e a gestão do conhecimento. Obviamente

admitindo-se que um é exatamente a conseqüência do outro. Se a globalização

proporcionou mercados abertos e uma economia mundial, há de esperar também

que entremos na chamada era do conhecimento, isto posto que, o conhecimento,

como será abordado no referencial teórico, pode ser tomado como algo intangível,

incontrolável, intransferível e ao mesmo tempo extremamente perecível. Hoje, a

informação de ontem, já não vale absolutamente mais nada.

Nesse cenário, a obtenção e seleção adequada de informações, bem como

sua aplicação, pode representar o diferencial competitivo necessário para determinar

a melhor estratégia a ser seguida por determinada organização. Outrossim, a

agregação de informações selecionadas serve de base para a geração de

conhecimento. O conhecimento está, portanto, se transformando no recurso que

mais agrega valor a uma organização, e por conseqüência, à nova economia, ou

ainda, a economia da sociedade em rede. Com isso, as empresas terão,

obrigatoriamente, que reagir quebrando paradigmas tradicionais e trazendo para si a

responsabilidade da coordenação do aprendizado e da educação de seus Seres

Humanos, procurando suprir as deficiências e o timing de correção do sistema

educacional tradicional, seja para atrair e reter talentos, seja para atender à gestão

do seu capital intelectual.

É da necessidade que as organizações têm de gerenciar esse capital que

surgem as universidades corporativas conceituadas como: “Um guarda-chuva

estratégico para desenvolver e educar funcionários, clientes, fornecedores e

comunidade, a fim de cumprir as estratégias empresariais da organização” (Meister,

1999, p.29).

O conceito da universidade corporativa emerge, com força total, como uma

forte evolução qualitativa da tradicional área de treinamento e desenvolvimento a

qual, longe de caracterizar um rótulo, uma embalagem redesenhada, ou muito

menos um modismo, representa um poderoso instrumento viabilizador de uma base

humana que sustente o desenvolvimento estratégico das organizações. Portanto

universidade corporativa é um tema que tem estado no centro das atenções das

organizações.

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16

No milênio que se inicia tem-se verificado a ênfase no aprendizado como

forma de organizações e pessoas manterem-se atualizadas face as constantes e

rápidas mudanças do mundo globalizado. A universidade corporativa, então passa a

ser vista como ação estratégica que as organizações vêm implementando para

desenvolver as competências de seus funcionários e as suas próprias por

conseqüência. Para tanto, pode-se apresentar as possíveis vantagens existentes

através da implantação das chamadas universidades corporativas: ganhos com

qualidade, aumento da produtividade, alta sintonia com os avanços científicos e

tecnológicos, aumento de motivação, diminuição de conflitos internos mediante

maior conhecimento dos problemas organizacionais, redução na rotatividade de

pessoal.

Assim, as universidades corporativas apresentam-se como uma tentativa das

organizações de envidar esforços para que o processo de desenvolvimento das

pessoas tenha caráter contínuo e alinhamento estratégico. Elas contribuem para

acumulação, difusão e desenvolvimento do conhecimento nas organizações. Por

meio dessas universidades as organizações tentam superar o modelo estático e

reativo de treinamento e desenvolvimento, adotando amplo sistema educacional

corporativo de modo a contribuir para o alcance dos objetivos da organização.

1.2 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA Como se trata de um conceito recente, existem poucos estudos ou evidências

concretas de que o modelo de UC seja de fato uma solução. Diante dessas

considerações iniciais o presente estudo propõe a criação de um modelo de

proposta de critérios para implantação de uma universidade corporativa no setor da

construção civil, a partir do estudo da implantação de uma UC em três empresas

brasileiras.

1.3 OBJETIVOS • Avaliar a prática das UC no Brasil, tomando-se por base três empresas,

que atuam em diferentes áreas, em relação aos conceitos ideais de

uma universidade corporativa.

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17

• Estabelecer uma comparação entre as universidades corporativas

estudadas identificando suas características básicas, dentro do

proposto por Jeanne Meister.

• estabelecer uma proposta de critérios para desenvolvimento de um

modelo para uma universidade corporativa para a indústria da

construção civil, onde a implantação ou a ideação mostre os possíveis

caminhos para eficiência de uma universidade no setor.

1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO O presente estudo aborda, à luz da teoria de renomados autores acerca do

tema universidade corporativa, o processo de mudança organizacional ocorrido na

década de 90. Para tanto, fixar-se-á atenção no estabelecimento da configuração

que determina as características essenciais de uma universidade corporativa, antes

e depois da criação e sua implementação, bem como as conseqüências

organizacionais a partir das relações processuais.

O objeto de estudo se restringiu às relações existentes nas organizações

apresentadas como estudo de caso e seus modelos de universidade corporativa,

bem como suas relações internas, que formam um subsistema de dinâmica própria

que, no entanto, depende das interações com os sistemas.

Pretende-se buscar a extrapolação na aplicação dos conceitos estudados

para a Indústria da Construção Civil (ICC).

1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

A indústria da construção, civil como todo o setor produtivo brasileiro, viveu

até o início da década de 90, um período de protecionismo em que o mercado

nacional era preservado da concorrência em que não havia disputa direta com

empresas internacionais caracterizadas por possuírem modernos sistemas de

gestão voltados para seus clientes (internos e externos), alto grau de produtividade e

primazia pela qualidade de seus produtos e serviços. Isso impôs um atraso no

desenvolvimento do sistema tecnológico e de gestão das empresas nacionais.

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18

Para Souza (1995) o país tem sofrido transformações de forma acelerada em

seu cenário produtivo e econômico. A redução nos preços das obras públicas,

residenciais, comerciais e industriais é uma das conseqüências da abertura do

mercado nacional, da criação do Mercosul, da concessão de serviços públicos entre

outras.

Com isso, delineiam-se desafios importantes para as empresas da construção

civil destacando-se o da sua sobrevivência em um mercado exigente e competitivo.

A fim de assegurar essa sobrevivência, no futuro, as organizações estão,

cada vez mais, se conscientizado da necessidade de atuarem no setor de educação.

Muitas empresas testemunharam uma redução radical no prazo de validade do

conhecimento e começaram a perceber que não mais podiam depender das

instituições de ensino superior para desenvolver sua força de trabalho.

Decidiram então repensar a questão da educação no que se refere ao

ambiente corporativo, surgindo com isso as universidades corporativas, objetivando

obter um controle mais rígido sobre o processo de aprendizagem, vinculando de

maneira mais estreita os programas de aprendizagem a metas e resultados

estratégicos reais da empresa.

Investimento em treinamento nas empresas é recurso diferencial competitivo

frente ao mercado. As organizações modernas estão se conscientizando que a

educação corporativa constitui fator de sobrevivência em um mundo que se

transforma a cada instante. É importante investir neste setor visando não somente a

sobrevivência da empresa, mas também a expansão futura da mesma.

Já existe a consciência por parte das organizações da importância das

relações humanas para o alcance dos objetivos organizacionais. Entretanto, no

domínio da aprendizagem já é do consenso dos especialistas que não há um ponto

terminal para o aprendizado. A educação apresenta-se atualmente como um

processo continuado, constantemente se atualizando e se renovando frente às

novas incitações criadas pelo meio ambiente.

Para que a universidade corporativa venha a atingir os resultados que dela se

espera, impõe-se adequar a área de ensino às novas teorias que vigem no domínio

pedagógico. O processo de ensino-aprendizagem renova-se dentro da concepção

de educação permanente.

Desde que surgiram as primeiras organizações, discute-se de que maneira

poderiam ser aperfeiçoados os relacionamentos, processos e resultados do

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19

trabalho. Entretanto, para que estas mudanças se tornem viáveis, faz-se necessário

começar pelo compromisso entre as pessoas de uma organização em rever sua

própria visão do mundo. É necessário também dirigir o foco para os principais

sistemas e estruturas organizacionais que bloqueiam o alcance dos objetivos

traçados.

Impõe-se proporcionar recursos necessários para a criação de organizações

que aprendam. É preciso refletir sobre o processo de aprendizado, e de sua

organização, de uma maneira inteiramente nova e eficaz, de modo a compartilhar da

crença de que a maneira mais eficaz de enfrentar a mudança é ajudar a criá-la.

Em um mundo que se transforma a cada instante é fundamental se estar

atento a estas transformações. Através do processo de ensino-aprendizagem são

incorporadas ao conhecimento estas novas mudanças. As organizações

esclerosadas, assim como as pessoas, temem quaisquer tipos de mudança.

Entretanto, não se deve temer os procedimentos metamórficos, eles fazem parte do

viver, visto que existir é submeter-se a um constante processo de transformações.

É conceito entre os autores que estudam a educação corporativa que a

universidade tradicional estava presa ao saber imobilizado, que não é renovado. A

Universidade corporativa é aquela em que o conhecimento não é mais algo de

estático que não pode ser questionado nem contestado. Pelo contrário, dentro de

uma cisão dialética do mundo, o saber é criado a todo o momento pelo educando. O

educador representa o fator catalítico da aprendizagem e o aluno é o verdadeiro

agente na criação de um saber novo e que se renova a cada instante.

Conhecimento e educação são aspectos que não se pode descuidar tratando-

se de medidas que objetivem o sucesso e garantia futura das organizações. Vive-se

em um mundo de constantes transformações. Não há mais o imobilismo que

caracterizava o conhecimento antigo. Nesta cadeia praticamente infindável surge

uma nova forma de cultura – midiática, que aceleradamente está substituindo a

tradicional cultura alfabética (Argyris apud Howard, 2000).

A organização assim como o indivíduo tem de se adaptar à celeridade

informativa do mundo moderno e isto impõe que nela funcione constantemente uma

instituição voltada à educação corporativa.

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20

1.5.1 Organização do Estudo

O presente estudo tem a seguinte estrutura:

Neste primeiro capítulo são apresentados os objetivos da pesquisa;

No capitulo 2 é situada através da revisão da literatura aspectos da

construção civil, da capacitação profissional e as características do

processo de criação de uma universidade corporativa;

O capítulo 3 apresenta a metodologia adotada;

No quarto capítulo é apresentado o estudo de caso com a análise das

universidades implantadas em três empresas;

O capítulo 5 dedica-se a consecução do objeto desse trabalho com

apresentação e análise da modelagem proposta para a universidade

da construção civil;

No capítulo 6 são relatadas as conclusões relativas ao trabalho, e

apresentando algumas proposições para o prosseguimento do estudo

sobre o tema.

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21

2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O processo construtivo da indústria construção civil possui como

característica a descentralização e a descontinuidade das atividades, o caráter não

homogêneo e não seriado do produto, a imobilidade do produto, a mobilidade da

unidade produtiva, o período longo de produção, a possibilidade apenas parcial de

mecanização entre outras.

A atividade da construção impacta a economia brasileira de forma bem mais

ampla do que aquela diretamente visualizada através de um produto imobiliário ou

de uma obra de construção pesada como uma estrada, por exemplo. Na verdade, a

importância e o impacto desta atividade sobre o ambiente econômico, se estabelece

a partir do padrão de articulação intersetorial que se forma através da cadeia

produtiva que liga desde fornecedores de matérias-primas, insumos diversos e

equipamentos (que estão para trás na cadeia), até aquelas atividades de serviços

aluguéis, hotéis, (consultorias etc), que estão à frente.

O macrossetor da construção é composto pelas atividades de construção civil,

somadas a todas as operações industriais e serviços a ela ligados e que integram

sua cadeia produtiva. Sua importância social e o peso econômico podem ser

avaliados a partir da sua participação no Produto Interno Bruto do País onde cerca

de 19,6% do total de riquezas produzidas em território nacional são por ele gerados

(FGV, 2002).

Segundo Luiz Nelson Porto Araújo, diretor da Trevisan Consultores, durante o

3o Seminário da Indústria Brasileira da Construção - promovido pela Comissão da

Indústria da Construção – ICC - “poucas atividades econômicas têm o peso do

Page 22: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

22

Construbusiness (nome dado à cadeia produtiva do setor da construção) com tão

forte impacto na produção, investimento, inflação, balança comercial e emprego”.

A participação das atividades econômicas mais importantes que agregam o

produto gerado pelo macrossetor é o seguinte (FGV, 2002):

-atividade da construção 73,45% do macrossetor

-indústria associada à construção 20,34% do macrossetor

-serviços associados à construção 6,21% do macrossetor

Através da identificação das inter-relações entre os elos da cadeia, é possível

dimensionar o macrossetor de forma completa e assim, pode-se avaliar o impacto

resultante do seu efeito multiplicador sobre a economia em termos da geração de

produto, renda, emprego, impostos etc.

A construção civil além do que representa diretamente a sua atividade

econômica, destaca-se pelo seu papel social, oferecendo uma contribuição

significativa para o desenvolvimento global da sociedade, em decorrência de sua

elevada absorção de mão de obra, seu efeito multiplicador de emprego, e a

importância social de seu produto - vista através do aumento da infraestrutura social

- pois é um setor que dá suporte a todas as demais atividades industriais, através da

edificação e montagem das unidades produtivas e materialização da infra-estrutura

para o desenvolvimento urbano e regional do país.

Apesar disso, o setor caracteriza-se de modo geral por más condições de

trabalho e por indicadores sociais negativos, como os elevados índices de acidentes

e os baixos padrões salariais, justificados pelas empresas como decorrentes do

despreparo e baixa produtividade do trabalhador, assim como rotatividade e

absenteísmo elevados, justificados pelo trabalhador como conseqüência da

insalubridade, níveis salariais insuficientes e organização do trabalho inadequada.

Outra característica do setor é o grande número de pessoas com pouco ou

nenhum preparo e qualificação profissional (em geral com baixo grau de instrução),

com capacidade de iniciativa reprimida e por vezes com massa crítica pouco

desenvolvida, barreiras naturais à assimilação dos conceitos relativos à qualidade,

formando um ciclo vicioso. O ciclo gerado representa uma grande dificuldade à

adesão dos trabalhadores a programas de qualidade, tendendo a dificultar sua

própria implementação e, com isso, provocando altos índices de desperdício e

Page 23: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

23

retrabalho.

2.2 A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL 2.2.1 Um Panorama da Construção Civil

A Indústria da Construção Civil-ICC agrega um conjunto de atividades cujos

processos produtivos e de trabalho mantêm elevado grau de originalidade e se

vinculam a diferentes tipos de demanda, sendo substancialmente diferenciados da

maioria dos processos industriais contemporâneo. A ICC possui um caráter

provisório e nômade conforme definição de Meseguer (1991). Entre suas

características pode-se citar a descentralização e a descontinuidade das atividades

produtivas. Além disso, é grande a variabilidade do produto final a mecanização é

reduzida e conseqüentemente é intensa a utilização de mão de obra.

Assim, estudar o setor de construção impõe desafios para mensurar os

resultados sobre produtividade. Poucas empresas dispõem de dados sobre a

produtividade da mão-de-obra e grande parte do setor ainda caracteriza-se pela

informalidade.

No estudo elaborado pela empresa McKinsey Global Institute (1998), que

envolveu macro-análises e estudos de casos detalhados, buscou-se compreender a

evolução passada, a situação atual em relação a outros países e as possibilidade de

evolução da produtividade do trabalho no Brasil. E, além disso, o enfoque desse

estudo no setor da Construção Civil. Alguns dos pontos destacados e conclusões

foram as seguintes:

Entre 1960 e 1995, a taxa de crescimento do PIB per capita brasileiro

foi de 2,6% (4,5% entre 1960 e 1980 e 0,0% entre 1980 e 1995),

enquanto, no mesmo período, as taxas obtidas pelo Japão e Coréia

foram, respectivamente, 4,8% e 6,8%.

O baixo PIB per capita brasileiro (equivale a 23% do americano medido

em poder de paridade de compra) é resultado tanto da baixa

produtividade da mão de obra (22% da americana), como do baixo

estoque de capital (14% do americano). O quadro 1 apresenta a

Page 24: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

24

comparação da participação do Setor da Construção Civil nos EUA,

Brasil e Coréia.

3,6

8,0

14,1

6,1 6,1

9,3

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

14,0

16,0

EUA BRASIL CORÉIA

PIBEMPREGO

Quadro 1: % da participação do setor da construção na economia - 1995 Fonte: McKinsey Global Institute –1998

Os setores intensivos em mão de obra são os que apresentam níveis

mais baixos de produtividade. Vários setores têm apresentado

elevadas taxas de crescimento da produtividade nos anos 90.

O quadro 2 apresenta a comparação da produtividade do trabalho no Brasil e

nos EUA em 1995, sendo usado como índice EUA=100%, e crescimento anual da

produtividade entre 1991 e 1995, em setores selecionados.

Page 25: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

25

68

47 4540

35

18 14

4

9 31010 11

120

1020304050607080

SID

ER

UR

GIA

TRA

NS

PO

RTE

RE

O

TELE

CO

MU

NIC

ÕE

S

BA

NC

OS

DE

VA

RE

JO

CO

NS

TRU

ÇÃ

OR

ES

IDE

NC

IAL

ALI

ME

NTO

SP

RO

CE

SS

AD

OS

VA

RE

JO D

EA

LIM

EN

TOS

PRODUTIVIDADE RELATIVA NO BRASIL EM 1995

CRESCIMENTO ANUAL DA PRODUTIVIDADEENTRE 1991 E 1995

Quadro 2: Produtividade da mão de obra e emprego por setor econômico - 1995 Fonte: McKinsey Global Institute –1998.

Na análise do quadro percebe-se que o setor de construção residencial foi o

que apresentou o menor índice de crescimento de produtividade dentre os setores

econômicos analisados.

Mesmo sofrendo forte impacto da instabilidade econômica, que tem trazido

uma redução no número de empreendimentos, o setor da construção ainda

apresenta-se como um importante componente na economia brasileira. Conforme

McKinsey Global Institute (1998), baseado em dados do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística – IBGE, de 1986 a 1995 o PIB da construção aumentou 2,8%

ao ano e o emprego no setor 1,3% ao ano.

A principal conclusão do estudo foi a seguinte:

No Brasil, os atuais hiatos de produtividade nas empresas ocorrem, principalmente, por conta da ausência de práticas organizacionais avançadas e de poucos investimentos em tecnologia. Essas deficiências são causadas por uma combinação de fatores, como a instabilidade macroeconômica da década de 80 e início da de 90, e as distorções decorrentes da regulamentação nos mercados de produtos e capitais, que reduziram a pressão competitiva. Contudo, a remoção de barreiras nos mercados de produtos e capitais no início da década de 90 e a estabilização macroeconômica a partir de 1994 têm contribuído para um rápido aumento da produtividade em muitas indústrias “. (págs 5 e 6).

Page 26: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

26

2.2.2 Divisões do Setor da Construção Civil

A Construção Civil é um ramo industrial que pode ser decomposto, para fins

de análise em diferentes setores. No Diagnóstico Nacional da Indústria da

Construção (Fundação João Pinheiro, 1984) foi proposta a seguinte classificação

desse segmento econômico, a saber: Edificações, Construção Pesada e Montagem

Industrial.

EDIFICAÇÕES CONSTRUÇÃO PESADA MONTAGEM INDUSTRIAL Residenciais

Comerciais

Institucionais

Industriais

Partes das edificações

Serviços complementares à edificação

Infra-estrutura viária, urbana e industrial

Obras de arte

Obras de saneamento

Barragens hidroelétricas

Usinas atômicas

Montagem de estruturas para instalações industriais

Sistemas de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica.

Sistemas de telecomunicações

Sistemas de exploração de recursos naturais

Quadro 3: DIVISÕES DA CONSTRUÇÃO CIVIL Fonte: Fundação João Pinheiro - 1984

Dentre os três segmentos o segmento edificações residenciais é o de maior

representatividade no PIB e emprego e conforme demonstra o quadro 4.

1,4

0,8

5,8

0,5 0,4

5,2

0

1

2

3

4

5

6

7

PESADA COMERCIAL RESIDENCIAL

%

% do PIB% emprego

Quadro 4 – Parcelas de Participação dos Segmentos Fonte: Produtividade: A chave do crescimento acelerado no Brasil, McKinsey Global Institute –1998.

Page 27: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

27

O segmento Edificações que é marcado pela heterogeneidade no porte e na

capacidade tecnológica e empresarial de suas empresas apresenta particularidades,

que o diferencia da indústria de transformação e criam obstáculos para que se

processe uma introdução mais agressiva de máquinas e equipamentos nos canteiros

de obras. Nele, atuam empresas de grande porte, com estruturas administrativas

bastante complexas e sofisticadas, concorrendo com médias, pequenas e

microempresas muitas vezes sem qualquer organização empresarial mais acurada.

Um segmento das empresas deste subsetor dedica-se à construção de moradias e

outras edificações de caráter comercial, institucional ou mesmo industrial, enquanto

um outro se especializou em construir fundações, estruturas e instalações, e um

terceiro executa serviços tais como reformas de imóveis.

Dentre as características do segmento edificações pode-se destacar: o

caráter não homogêneo e não seriado de produção devido à singularidade do

produto, feito sob encomenda; a dependência de fatores climáticos no processo

construtivo, o período de construção relativamente longo; a complexa rede de

interferências dos participantes (usuários, clientes, projetistas, financiadores,

construtores); uma ampla segmentação da produção em etapas ou fases que

imprime um dinamismo centrado no princípio de sucessão e não de simultaneidade;

o parcelamento da responsabilidade entre várias empresas, onde o processo de

subcontratação é comum; a significativa mobilidade da força de trabalho; além do

nomadismo do setor (tanto em relação aos produtos finais como ao processo de

produção); o caráter semi-artesanal (manufatureiro) do processo construtivo.

2.2.3 Produtividade no Setor da Construção Civil

A informalidade é um fator muito importante na análise do setor de construção

residencial, pois representa uma parcela estimada de 70% do total dos empregos.

As empresas informais do setor caracterizam-se pela utilização de processos de

produção ultrapassados, que resultam em baixa produtividade. Em parte, essas

empresas conseguem atuar no mercado porque compensam a baixa produtividade

sonegando impostos e benefícios sociais.

É importante salientar que empresas formais que adotam melhores práticas

Page 28: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

28

adaptadas ao contexto brasileiro são competitivas, em termos de custos, em relação

ao setor informal. No entanto, o salto de produtividade que elas precisam realizar

para atingir esse nível de competitividade é significativo, já que têm de compensar o

pagamento de substanciais encargos fiscais e trabalhistas. Isso pode atrasar o

processo de modernização do setor. Até hoje, poucas empresas formais seguiram

os exemplos dos líderes do mercado, que conseguiram triplicar a produtividade

buscando as melhores práticas internacionais.

1,7

3,7

0,4

3,1 3,2

5,2

0

1

2

3

4

5

6

EUA Coréia Brasil

comercialresidencial

Quadro 5: Segmento Edificações - % do emprego total (1995) Fonte: Produtividade: A chave do crescimento acelerado no Brasil, McKinsey Global Institute –1998.

Segundo McKinsey Global Institute (1998), a informalidade é um fator muito

importante para se entender o setor de construção residencial, pois representa uma

grande parte do total de empregos. No estudo realizado, foi medida a dimensão do

número total de empregados reportados como autônomos, empregados sem carteira

de trabalho assinada ou, não remunerados no setor, chegando-se a cerca de 80%

do total. Esta última característica, que parece vir ao encontro de nossa análise, tem

como marcas: a nítida separação entre concepção e execução; não objetivação

completa do trabalho; trabalhador que detém controle sobre gestos e movimentos

inerentes ao trabalho que exige elevados níveis de destreza e habilidade;

atrelamento do trabalhador a tarefas específicas numa ampla divisão técnica do

Page 29: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

29

trabalho, o que o leva a perder a percepção do processo global de produção;

hierarquia de funções como mecanismo de controle; presença de tarefas que não

puderam ser substituídas pela máquina tendo como conseqüência, na dinâmica da

produção, a importância da mão-de-obra que determina o ritmo deste trabalho.

Para Oliveira (1996), o processo produtivo da construção civil caracteriza-se

um estágio manufatureiro, um dos três estágios da divisão capitalista do trabalho,

onde o fundamento da atividade produtiva construtiva continua sendo a habilidade

dos trabalhadores. Para ele, as empresas ainda não conseguiram formalizar o

processo de transmissão do “saber fazer”, e o aprendizado é estabelecido na

relação direta entre o oficial e o ajudante (on the job training).

Segundo McKinsey Global Institute (1998) a escolaridade média no Brasil

cresceu entre 1960 e 1995, passando de 2,2 anos para 5,3 anos; enquanto que na

Coréia, no mesmo período o crescimento, foi de 6,2 anos para 12,3 anos.

No estudo constatou-se que o setor da construção civil é o que mais emprega

trabalhadores sem registro e a maioria das empresas é pequena, sem capacidade

de investir em tecnologia e, por conseguinte em treinamento. Tomando por base a

comparação entre o índice de produtividade brasileiro e o dos americanos o

resultado apresentado foi que:

• um operário de São Paulo constrói 35 m2 a cada 1000 horas de trabalho

• um operário em Houston constrói 130 m2 em 1000 horas de trabalho

Essas comparações foram feitas usando construções semelhantes (conjuntos

habitacionais de baixa renda) e mão de obra parecida. No canteiro americano

trabalhavam operários mexicanos que mal falavam inglês e tinham escolaridade

parecida com os operários brasileiros. A diferença é que os mexicanos recebiam

melhor orientação de seus engenheiros e trabalhavam num projeto bem elaborado

que não deixava margem a erros. Além disso, usavam uma quantidade enorme de

materiais pré-fabricados e se especializavam em algumas funções. No Brasil, os

operários fazem quase tudo no canteiro de obras e poucos são especializados.

Para FARAH (1993) as más condições de trabalho e os baixos salários, ao

desestimularem a permanência dos trabalhadores neste ramo de atividade, reforçam

a rotatividade no setor levando à interrupção da continuidade que o processo de

formação no âmbito da estrutura de ofícios pressupõe.

Page 30: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

30

De acordo com a Pesquisa de Padrão de Vida – PPV, realizada entre março

de 1996 e março de 1997, pelo IBGE, pode-se verificar que existe uma grande

correlação entre nível de escolaridade, taxa de ocupação e rendimento financeiro do

trabalho. O que é demonstrado no Quadro a seguir.

Tabela 1: Pesquisa de Padrão de Vida – PPV.

ANOS DE ESTUDO TAXA DE OCUPAÇÃO RENDIMENTO POR HORA (R$)

sem instrução 50,08% 0,94 1 a 3 anos 44,50% 1,37 4 a 7 anos 48,12% 2,46 8 a 10 anos 56,66% 3,02

11 anos 68,51% 5,11 12 anos ou mais 77,62% 14,11

Fonte: IBGE, 1997.

2.3 UM BREVE HISTÓRICO DO TREINAMENTO

Historicamente, pode-se considerar o treinamento como uma ação que

contribui para a sobrevivência do ser humano. Na medida em foram inventadas as

ferramentas, as armas, as roupas e a linguagem; a necessidade do treinamento

tornou-se um ingrediente essencial no processo civilizatório. O processo de

aprendizagem iniciou-se no Paleolítico: através do exemplo, pelos sinais e pelas

palavras. Nas sociedades primitivas treinar era o ato de transmitir a outros seus

conhecimentos sobre como realizar tarefas indispensáveis à vida. Nesse sistema,

atividades como agricultura, criação e artesanato foram transmitidas de geração em

geração unicamente por meio da instrução direta e, também a medicina, a

astronomia e o direito tiveram neste veículo sua principal forma de transmissão.

(Benévolo, 1999).

Na Europa da Idade Média foram formadas as corporações de oficio. Estas

eram compostas por três tipos de membros: os mestres, os artesãos e os

aprendizes. Os mestres eram experientes profissionais que dirigiam os trabalhos nas

corporações e detinham a propriedade das matérias-primas e ferramentas utilizadas.

Já os artesãos haviam passado pelo estágio de aprendizes, mas não eram tão

qualificados quanto os mestres. Os aprendizes medievais serviam a um mestre por

determinado período, freqüentemente vivendo em sua casa como se fossem

Page 31: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

31

membros da família, seu treinamento era realizado individualmente e terminava, em

média aos 12 anos de idade, o individuo tinha obtido todo o conhecimento que

precisava para a vida profissional (Heilbroner, 1980). Estas corporações

sobreviveram por oito séculos e adaptaram-se à produção em pequena escala

atuando também em projetos suntuosos como os das construções das catedrais

medievais.

Na Revolução Industrial, século XVIII, as relações de trabalho na fábricas

apresentavam condições precárias, baixos salários, longas jornadas e nenhum

treinamento. Entretanto, as técnicas industriais começaram a ganhar espaço na

educação formal, havendo a preocupação de formar profissionais de nível superior

no âmbito das novas tecnologias oriundas da Revolução Industrial. No Brasil, a

Escola Politécnica no Rio de Janeiro, fundada em 1874, e a Escola de Minas em

Ouro Preto de 1876 revelam esta tendência. (Tickner, 1966).

No início do século XX, com o advento do movimento de Administração

Científica, a tendência de preparação dos trabalhadores na própria empresa ganhou

força. Porém, o treinamento limitava-se a desenvolver a destreza no manuseio de

ferramentas e dos materiais, e o conhecimento das máquinas e operações (Fontes,

1977).

Entretanto, a rápida evolução tecnológica ocorrida ao longo deste século, com

impactos intensos no ambiente organizacional, provocou grandes transformações

nos modos de trabalhar exigindo maior qualificação dos empregados. Uma nova

concepção sobre o treinamento e desenvolvimento passou a ganhar forma a partir

das mudanças no cenário empresarial mundial nos anos 80. Segundo Wood (1995)

as principais características da mudança são:

- os consumidores tornam-se mais exigentes;

- um número cada vez maior de competidores chega a cada dia ao mercado;

- o ciclo de vida dos produtos reduz-se;

- a força de trabalho requer novo tipo de tratamento;

- a velocidade toma-se fundamental, empresas reestruturam-se ou passam por

profundas mudanças.

Com isso, as empresas passaram a buscar propostas inovadoras para melhor

alavancar o capital intelectual e, através dele, empreender negócios inovadores e

rentáveis.

As mudanças apontam para o surgimento de novos paradigmas do processo

Page 32: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

32

de gestão do conhecimento nas empresas, pois se tem considerado que o

conhecimento desempenha um papel ainda mais importante para a sobrevivência

das organizações. Assim, a função treinamento e desenvolvimento deixou de ser

uma necessidade acessória ao desempenho organizacional para assumir uma

importância estratégica.

2.4 A GESTÃO DO CONHECIMENTO E AS ORGANIZAÇÕES

O tema Gestão do Conhecimento faz fronteira com as diversas áreas de

conhecimento das organizações, sendo multidisciplinar por excelência, pois o grau

de conhecimento das organizações considera o conjunto de competências das

diversas áreas que as compõem, tais como Planejamento, Mercadologia,

Operações, Finanças e Gestão do Capital Humano, dentre outras, as quais, no seu

conjunto, quando devidamente aplicadas, deverão permitir que as organizações

estejam em condições de obter vantagens competitivas.

O conceito de Gestão do Conhecimento surgiu no início da década de 90 e,

segundo Schein (apud Senge, 2000, p.16), “a Gestão do Conhecimento não é mais

uma moda de eficiência operacional. Faz parte da estratégia empresarial”.

2.4.1 Conceitos Básicos de Gestão do Conhecimento

Para compreender Gestão do Conhecimento, deve-se iniciar descrevendo os

conceitos de dado, informação, conhecimento, chegando por fim, ao processo de

Gestão do Conhecimento.

Segundo Davenport & Prusak (2000, p.89), dado pode ter significados

distintos, dependendo do contexto no qual a palavra é utilizada. Para uma

organização, dado é o registro estruturado de transações. Genericamente, pode ser

definido como um “conjunto de fatos distintos e objetivos, relativos a eventos”.

É informação bruta, descrição exata de algo ou de algum evento. Os dados

em si não são dotados de relevância, propósitos e significados, mas são importantes

porque são as matérias-primas essenciais para a criação da informação.

Para Drucker (apud Howard 2000):

Page 33: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

33

Informação é uma mensagem com dados que fazem diferença, podendo ser audível ou visível, e onde existe um emitente e um receptor. É o insumo mais importante da produção humana. “São dados interpretados, dotados de relevância e propósito”. (Drucker, apud Howard, 2000, p.22)

Para Stano & Leite (2001):

É um fluxo de mensagens, um produto capaz de gerar conhecimento. É um meio ou material necessário para extrair e construir o conhecimento. Afeta o conhecimento acrescentando-lhe algo ou reestruturando. (Stano &Leite, 2001, p.5).

O conhecimento deriva da informação assim como esta, dos dados. O

conhecimento não é puro nem simples, mas é uma mistura de elementos; é fluido e

formalmente estruturado; é intuitivo e, portanto, difícil de ser colocado em palavras

ou de ser plenamente entendido em termos lógicos. Ele existe dentro das pessoas e

por isso é complexo e imprevisível.

Segundo Davenport & Prusak (2000, p.31) “o conhecimento pode ser

comparado a um sistema vivo, que cresce e se modifica à medida que interage com

o meio ambiente”. Os valores e as crenças integram o conhecimento, pois,

determinam em grande parte, o que o conhecedor vê, absorve e conclui a partir das

suas observações. Nonaka & Takeushi (apud Starkey, 1992) observam que o

conhecimento, diferentemente da informação, refere-se a crenças e compromisso.

Estes autores classificaram o conhecimento humano em dois tipos: conhecimento

tácito e conhecimento explícito.

Conhecimento explícito é o que pode ser articulado na linguagem formal,

inclusive em afirmações gramaticais, expressões matemáticas, especificações,

manuais etc., facilmente transmitido, sistematizado e comunicado. Ele pode ser

transmitido formal e facilmente entre os indivíduos. Esse foi o modo dominante de

conhecimento na tradição filosófica ocidental.

O conhecimento tácito é difícil de ser articulado na linguagem formal, é um

tipo de conhecimento mais importante. É o conhecimento pessoal incorporado à

experiência individual e envolve fatores intangíveis como, por exemplo, crenças

pessoais, perspectivas, sistema de valor, insights, intuições, emoções, habilidades É

considerado como uma fonte importante de competitividade entre as organizações.

Só pode ser avaliado por meio da ação.

Page 34: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

34

Os conhecimentos tácito e explícito são unidades estruturais básicas que se

complementam e a interação entre eles é a principal dinâmica da criação do

conhecimento na organização de negócios.

Segundo Nonaka e Takeuchi (2000), para se tornar uma empresa que gera

conhecimento (knowledge creating company) a organização deve completar uma

espiral do conhecimento, espiral esta que vai de tácito para tácito, de explícito a

explícito, de tácito a explícito, e finalmente, de explícito a tácito. Logo, o

conhecimento deve ser articulado e então internalizado para tornar-se parte da base

de conhecimento de cada pessoa. A espiral começa novamente depois de ter sido

completada, porém em patamares cada vez mais elevados, ampliando assim a

aplicação do conhecimento em outras áreas da organização.

Socialização é o compartilhamento do conhecimento tácito, por meio da

observação, imitação ou prática (tácito para tácito). Articulação / externalização é a

conversão do conhecimento tácito em explícito e sua comunicação ao grupo (tácito

para explícito). Combinação – padronização do conhecimento, é juntá-lo em um

manual ou guia de trabalho e incorporá-lo a um produto (explícito para explícito)

Internalização é quando novos conhecimentos explícitos são compartilhados na

organização e outras pessoas começam a internalizá-los e os utilizam para

aumentar, estender e reenquadrar seu próprio conhecimento tácito (explícito para

tácito).

Gestão do Conhecimento é, portanto, o processo sistemático de identificação,

criação, renovação e aplicação dos conhecimentos que são estratégicos na vida de

uma organização. É a administração dos ativos de conhecimento das organizações.

Permite à organização saber o que ela sabe.

A gestão do conhecimento leva as organizações a mensurar com mais

segurança a sua eficiência, tomar decisões acertadas com relação à melhor

estratégia a ser adotada em relação aos seus clientes, concorrentes, canais de

distribuição e ciclos de vida de produtos e serviços, saber identificar as fontes de

informações, saber administrar dados e informações, saber gerenciar seus

conhecimentos. Trata-se da prática de agregar valor à informação e de distribuí-la.

Há alguns desafios a vencer na Gestão do Conhecimento: influenciar o

comportamento do trabalhador, considerado o maior deles; fazer com que as

lideranças da organização comprem a idéia e, por fim, determinar como classificar o

conhecimento.

Page 35: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

35

Para desenvolver os sistemas de conhecimento é necessário ter foco externo

(benchmarking da concorrência), tecnologias facilitadoras (groupware), gestão de

performance (mensuração, recomendação, recompensas para equipes, obrigações

contratuais) e gestão de pessoas (equipes virtuais, comunidade de prática,

coordenadores de conhecimento, busca do perfil do disseminador do conhecimento).

Há quatro décadas atrás, Drucker (apud Howard, 2000) já alertava para o fato

de que o trabalho se tornava cada vez mais baseado no conhecimento.

Somente a organização pode oferecer a continuidade básica de que os trabalhadores do conhecimento precisam para ser eficazes. Apenas a organização pode transformar o conhecimento especializado do trabalhador do conhecimento em desempenho. (Drucker apud Howard, 2000, p.120)

Apesar disso, avançou-se muito pouco sobre como se deveria gerenciar os

trabalhadores do conhecimento ou knowledge workers.

No Brasil, para se transformar as empresas em "empresas que aprendem"

serão necessárias profundas revisões nos valores das lideranças empresariais

nacionais. Esse é o primeiro passo, e talvez o mais importante.

Os knowledge workers, segundo Terra (2000), têm algumas questões e

desafios a vencer:

a) como mapear o conhecimento (competências individuais) existentes nas

empresas?

b) onde se encontram as expertises e habilidades centrais da empresa

relacionadas às core competences?

c) como facilitar e estimular a explicitação do conhecimento tácito dos

trabalhadores?

d) como atrair, selecionar e reter pessoas com as requeridas competências,

habilidades e atitudes?

e) como manter o equilíbrio entre o trabalho em equipe e o trabalho

individual e entre o trabalho multidisciplinar e a requerida especialização

individual?

f) como utilizar os investimentos em informática e em tecnologia de

comunicação para aumentar o conhecimento da empresa e não

apenas acelerar o fluxo de informações?

Page 36: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

36

g) quais sistemas, políticas e processos devem ser implementados para

moldar comportamentos relacionados ao estímulo à criatividade e ao

aprendizado?

h) como incentivar e premiar o knowledge sharing (compartilhamento de

conhecimento) e desencorajar o knowledge holding (que as pessoas

guardem o conhecimento para si próprias)?

i) como tornar a empresa aberta ao conhecimento externo? Como

ampliar e capturar o fluxo de conhecimentos, insights e idéias

provenientes de clientes, parceiros, fornecedores e da comunidade em

geral?

Para que a gestão do conhecimento produza efeitos práticos nas empresas,

deve estar plenamente ancorada pelas decisões e compromissos da alta

administração a respeito das iniciativas necessárias em termos de desenvolvimento

estratégico e organizacional, investimento em infra-estrutura tecnológica e cultura

organizacional, que celebre o trabalho em conjunto e o compartilhamento.

A gestão do conhecimento, ainda segundo Terra (2000), tem um "caráter

universal", ou seja, aplica-se a empresas de todos os portes e nacionalidades e a

sua efetividade requer a criação de novos modelos organizacionais (estruturas,

processos, sistemas gerenciais), novas posições quanto ao papel da capacidade

intelectual de cada funcionário e uma efetiva liderança, disposta a enfrentar,

ativamente, as barreiras existentes ao processo de transformação.

2.4.2 O Processo de Gestão do Conhecimento

A gestão do conhecimento é um processo corporativo, focado na estratégia

empresarial e que envolve a gestão das competências, a gestão do capital

intelectual, a aprendizagem organizacional, a inteligência empresarial e a educação

corporativa.

Page 37: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

37

2.4.2.1 Gestão das competências.

Competência engloba o conhecimento real, a habilidade, a experiência, os

julgamentos de valor e redes sociais. É o elo entre conhecimento e estratégia. Não

pode ser copiada com exatidão, é transferida pela prática.

Competência, ainda, é a capacidade de gerar resultados observáveis,

necessários ao alcance dos objetivos (de negócios e culturais) definidos no

posicionamento estratégico da empresa e no propósito de manutenção e

desenvolvimento de sua ideologia essencial. É um conceito pelo qual se definem

quais são as atitudes, as habilidades e os conhecimentos necessários para alcançar

resultados diferenciados, o conjunto de qualificações que a pessoa tem para

executar um trabalho com um nível superior de performance. (Nonaka & Takeuchi,

2000).

A competência está associada às realizações das pessoas, àquilo que elas

produzem e/ou entregam. Assim considerada, a competência não é um estado ou

um conhecimento que se tem e nem é resultado de treinamento. Competência é, na

verdade, colocar em prática o que se sabe em um determinado contexto. Há

competência apenas quando há competência em ação. Do ponto de vista

empresarial, é a prática que interessa: é o conhecimento aplicado que gera

capacidade de produzir resultados, ou seja, competência.

A gestão de recursos humanos está passando por um amplo processo de

transformação. Sistemas tradicionalmente utilizados como referencial - centrados em

cargos - vêm mostrando sua fragilidade em articular sistemicamente as várias ações

da gestão da organização e, por conseguinte, comprometem o reconhecimento do

seu valor.

A abordagem de gestão de pessoas que tem no seu núcleo o conceito de

competência apresenta imensas possibilidades de articular as relações entre as

diferentes ações de gestão de recursos humanos, como por exemplo, a conjugação

de desempenho, desenvolvimento e potencial, aumentando em conseqüência a

sinergia do sistema.

Page 38: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

38

2.4.2.2 Gestão do capital intelectual

Capital Intelectual é a soma do conhecimento de todos em uma organização,

o que lhe proporciona vantagens competitivas; é a capacidade mental coletiva, a

capacidade de criar continuamente e proporcionar valor de qualidade superior. Para

Nonaka & Takeuchi (2000), criado a partir do intercâmbio entre:

a) Capital Humano - capacidade organizacional que uma empresa possui

de suprir as exigências do mercado. Está nas habilidades dos

funcionários, em seus conhecimentos tácitos e nos obtidos nas suas

informações profissionais, na busca permanente de atualização de

saber, nas informações alcançáveis, nas informações documentadas

sobre clientes, concorrentes, parceiros e fornecedores.

Essencialmente diz respeito às pessoas, seu intelecto, seus

conhecimentos e experiências;

b) Capital Estrutural - soma das patentes, processos, manuais, marcas,

conceitos, sistemas administrativos, bancos de dados disponibilizados,

tecnologia, estruturas organizacionais;

c) Capital de Clientes - é o valor dos relacionamentos de uma empresa

com as pessoas com as quais faz negócios.

Segundo Terra (2000), envolve também:

1. Capital Organizacional - competência sistematizada e em pacotes,

além de sistemas de alavancagem dos pontos fortes inovadores da

empresa e do capital organizacional de criar valor;

2. Capital de Inovação - força de renovação de uma empresa, expressa

como propriedade intelectual, que é protegida por direitos comerciais,

e outros ativos e valores intangíveis, como conhecimentos, receita e

segredos de negócios; e

3. Capital de Processo – processos combinados de criação de valor e de

não criação de valor.

Além disso, para Terra (2000) o Capital Intelectual se encontra em três formas

e em três lugares distintos:

a) na forma de conhecimento dentro da cabeça de cada pessoa.

b) na forma de conhecimento adicional que é gerado quando as pessoas

se relacionam e compartilham o seu conhecimento.

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39

c) na forma de conhecimento armazenado em livros, revistas, jornais,

fotografias, desenhos, fitas, discos, CD, CD – Rom, Bases de Dados

etc.

Considera ainda a introdução do conceito de capital digital – o capital

intelectual digitalizado – conseqüência do uso da Internet que permite que as

pessoas se contatem, se relacionem e compartilhem seu conhecimento (capital

intelectual individual) independentemente da distância e armazenem e

disponibilizem na Internet boa parte do conhecimento de que dispõem. O

conhecimento que as pessoas produzem e a que têm acesso, uma vez digitalizado e

disponibilizado na Internet, aumenta exponencialmente, produz uma explosão de

novas idéias, fundamentando uma nova forma de gerar riqueza.

Muitas organizações já estão utilizando tecnologias facilitadoras para a

aprendizagem coletiva e o compartilhamento de conhecimentos, como, por exemplo,

a Intranet, como suporte tecnológico a aprendizagem organizacional.

O tema central da Gestão do Conhecimento é aproveitar os recursos que já

existem na organização para que as pessoas procurem, encontrem e empreguem as

melhores práticas em vez de tentar criar algo que já havia sido criado. Cuida de

agregar valor às informações, filtrando, resumindo e sintetizando as informações e,

dessa forma, desenvolvendo um perfil de utilização pessoal que ajuda a chegar ao

tipo de informação necessário para passar à ação.

Através da aprendizagem contínua, a organização exercita a sua competência

e inteligência coletiva para responder ao seu ambiente interno (objetivos, metas,

resultados) e externo (estratégia).

Segundo Senge (1998):

(...) nas organizações que aprendem as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar resultados que elas realmente desejam, onde maneiras novas e expansivas de pensar são encorajadas, onde a aspiração coletiva é livre, e onde as pessoas estão constantemente aprendendo a aprender coletivamente. (Senge, 1998, p.85).

A organização que aprende possui a capacidade de, continuamente, criar o

futuro que realmente deseja. Para isto, reflete sobre o desempenho atual e sobre os

fatores que o geram, pensa sobre os diversos futuros possíveis e qual entre eles é o

desejado, planeja e implementa as ações para se mover da situação atual para a

desejada.

Page 40: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

40

De forma personalizada e flexível, mede seus resultados a partir de um

conjunto consistente de indicadores e medidas de aprendizagem organizacional. À

medida que se olham os fatores de tomada de decisão e se reflete sobre os seus

resultados, pode-se notar os erros e acertos, e tomar decisões mais acertadas,

deixando o processo mais transparente para os envolvidos com as ações de

aprendizagem da organização.

Nestas organizações, as habilidades mínimas serão substituídas por

habilidades pessoais e interpessoais. As “organizações que aprendem” ou

“organizações baseadas no conhecimento” são mais flexíveis, adaptáveis e mais

capazes de se reinventarem (Terra, 2000).

A aprendizagem organizacional é, portanto, o processo contínuo de detectar e

corrigir erros. Errar significa aprender, envolvendo a autocrítica, a avaliação de

riscos, a tolerância ao fracasso e a correção de rumo, até alcançar os objetivos. É a

capacidade das organizações em criar, adquirir e transferir conhecimentos e em

modificar seus comportamentos para refletir estes novos conhecimentos e insights.

Isso implementa um mecanismo pelo qual os trabalhadores contribuem para o

desempenho da empresa por meio da aplicação dos seus conhecimentos e

habilidades em resolver problemas e de inovar constantemente. Cria-se a

organização que aprende e que gera conhecimento.

No entanto, nenhuma mudança organizacional significativa pode ser realizada

sem que se efetuem profundas mudanças nas formas de pensar e interagir das

pessoas. A base de idéias que sustenta as “organizações que aprendem” (Senge,

1998) estabelece o pensamento sistêmico, os modelos mentais, o domínio pessoal,

a visão compartilhada, a aprendizagem em grupo e o diálogo como elementos

inevitáveis do seu desenvolvimento, cada um proporcionando uma dimensão vital na

construção de organizações realmente capazes de “aprender”, de ampliar

continuamente sua capacidade de realizar suas mais altas aspirações.

Pensamento sistêmico é o pensamento voltado para o todo, onde

nenhuma ação é empreendida sem se considerar seu impacto em outras

áreas da organização e da sociedade. É o quadro de referência conceitual,

o conjunto de conhecimentos e ferramentas desenvolvidos para esclarecer

os padrões como um todo e ajudar a ver como modificá-los efetivamente.

Domínio pessoal é a disciplina de, continuamente, esclarecer e aprofundar

a visão pessoal, de concentrar as energias, de desenvolver paciência e de

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41

ver a realidade objetivamente. É a participação por escolha própria, de

compartilhamento livre de informações e conhecimentos.

Modelos mentais são pressupostos profundamente arraigados,

generalizações ou mesmo imagens que influenciam nossa forma de ver o

mundo e de agir. São as imagens internas do mundo. Podem ser simples

generalizações ou teorias complexas. São ativos, pois modelam o modo

de agir e influenciam o que se vê.

Visão compartilhada (objetivo comum) é o interesse das pessoas em

compartilhar conhecimento, envolvidas para uma visão comum. Pode ser

inspirado por uma idéia, mas assim que ganha impulso, deixa de ser uma

abstração, transformando-se em algo concreto. É a resposta a pergunta:

“O que queremos criar?” Proporciona o foco e a energia para o

aprendizado. Envolve as habilidades de descobrir “imagens de futuro”

compartilhadas que estimulem o compromisso genérico e o envolvimento

em lugar da mera aceitação.

Aprendizagem em grupo (ou em equipe): é o processo de alinhamento

(grupo de pessoas atuando como um todo) e de desenvolvimento da

capacidade de um grupo criar os resultados que seus membros realmente

desejam. Começa pelo “diálogo”, capacidade dos membros de deixarem

de lado as idéias preconcebidas e participarem de um verdadeiro “pensar

em conjunto”.

Os principais resultados advindos da adoção de práticas voltadas para a

aprendizagem organizacional são:

a) um incremento da qualidade do planejamento operacional e estratégico;

b) agilização do processo de tomada de decisões;

c) maior eficiência na previsão de mudanças e nas ações evitando-se

surpresas;

d) encorajamento de inovações e incremento na qualidade dos produtos;

e) eliminação da obtenção e processamento da mesma informação em

duplicidade;

f) incremento do compartilhamento da informação entre toda a organização;

g) aprendizado abrangendo toda a organização, inclusive a administração;

h) aumento da competitividade e melhoria dos resultados.

Page 42: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

42

Aprendizagem é, então, o resultado de um processo que começa com a

coleta de dados. Esses dados são organizados e transformados em informação que,

depois de analisada e contextualizada, se transforma em conhecimento – ou

inteligência. Essa, por sua vez, quando aplicada a processos de decisão gera

vantagem competitiva para a organização.

Preferiu-se neste trabalho monográfico conceituar “inteligência” como

“sabedoria”, segundo a hierarquia do conhecimento – dados, informação,

conhecimento explícito, conhecimento tácito, sabedoria – inteligência.

A adoção de uma ferramenta que viabilize, de forma sistematizada, a coleta,

análise e disseminação (ou compartilhamento) do conhecimento torna-se

fundamental para que os usuários possam tomar ações a partir dele. Deve

contemplar informações sobre funcionários, concorrentes, clientes, fornecedores,

terceiros e alianças estratégicas e incluir eventos econômicos, reguladores e

políticos que tenham impacto sobre os negócios da empresa.

2.4.2.3 Inteligência empresarial.

McGarry (1999) definiu Inteligência Empresarial como sendo:

Um processo analítico que transforma informações públicas desagregadas em conhecimento estratégico relevante, acurado e utilizável, sobre concorrentes, sua posição no mercado, performance, capacidades e intenções, ou ainda, que a Inteligência Empresarial é um programa sistemático para coleta e análise de informações sobre as atividades de concorrentes e tendências dos negócios a fim de alcançar os objetivos da organização, dito de outra forma, é uma coleção de peças de informação que são filtradas, destiladas e analisadas e que constituem o que os dirigentes realmente necessitam para a tomada de decisão. (McGarry, 1999, p.135).

As organizações modernas são fortemente dependentes das informações que

utilizam com vistas ao desenvolvimento de suas ações estratégicas. Neste sentido

pode-se dizer que a inteligência empresarial consiste na criação de meios para

sistematização dos processos de coleta, tratamento e análise de informações sobre

diferentes aspectos do ambiente externo das organizações tais como: concorrentes,

tecnologia, futuros parceiros ou aliados, fornecedores, clientes, órgãos

normatizadores etc., tendo como objetivo permitir que os tomadores de decisão na

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43

empresa se antecipem às tendências dos mercados de interesse e o

desenvolvimento da concorrência, de modo a detectar e avaliar oportunidades e

ameaças bem como as ações decorrentes consubstanciadas na estratégia

empresarial anteriormente definidas.

Segundo McGarry (1999), são várias as finalidades da aplicação prática do

conceito de Inteligência Empresarial, dentre as quais se destacam a sua

importância na formulação estratégica para as organizações e o seu aspecto

contributivo ao processo de tomada de decisão.

Em se tratando da formulação estratégica, pode-se dizer que a qualidade e

pertinência desta são função direta das informações disponíveis, portanto a

utilização de um conjunto de conceitos, ferramentas, metodologias e práticas que

permitam o estabelecimento de relações de causalidade no seio da dinâmica

econômica é fundamental para o desempenho e a adequada planificação das

organizações, uma vez que o ambiente externo se mostra cada vez mais complexo,

com interações de distintas naturezas onde se destaca o papel exercido pela

concorrência, pelos consumidores além de outros fatores macroambientais como

mudanças de ordem demográfica, socioculturais, políticas, econômicas e

tecnológicas. Este aspecto reflete especialmente a relação da empresa com seu

entorno, com seu ambiente externo.

No que se refere a condição de facilitadora no processo de tomada de

decisão empresarial, a Inteligência Empresarial volta-se internamente à organização,

buscando encontrar a melhor maneira de fazer com que o fluxo de informação seja o

mais transparente, livre de interferências que possam redundar em decisões

equivocadas.

De acordo com McGarry (1999), cinco são os fatores que determinam o

sucesso dos programas de Inteligência Empresarial: definição das necessidades

informacionais, motivação do pessoal, modelagem das informações, correto

arquivamento dos dados e fácil acesso, pela existência de canais de comunicação

ativos e eficazes.

Ainda segundo McGarry (1999), pode-se dizer, também, que a estrutura de

um sistema de Inteligência Empresarial, favorecendo a tomada de decisão

estratégica nas organizações, é constituída por três categorias funcionais distintas,

ou seja, (a) observadores, (b) analistas e (c) decisores.

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44

O grupo de observadores atua como uma antena, captando "sinais" das mais

diferentes fontes (formais ou informais, estruturadas ou não), aportando conteúdo

informacional a ser analisado.

A equipe de analistas (experts) atua como um elemento decodificador,

transformando a informação em "inteligência", ao levantar possibilidades de

introdução de inovações e percepção de tendências, ameaças ou oportunidades. A

finalidade destas equipes de analistas é gerar produtos de informação que permitam

o posicionamento, a tomada de decisão estratégica por parte dos decisores frente às

oportunidades e ameaças vindas do ambiente externo à organização.

Pode-se ainda mencionar o fato de que a Inteligência Empresarial está

diretamente relacionada com a gestão da inovação nas organizações. Segundo

McGarry (1999) o mercado é a última e decisiva instância da inovação, pois pode

aceitar e recusar o que lhe é oferecido, assim como pode manifestar necessidades

não atendidas. Vale lembrar que esta manifestação é na maioria das vezes muito

sutil, sendo perceptível somente aos “olhos e ouvidos” sensíveis das metodologias

de Inteligência Empresarial.

A informação configura-se como um componente essencial a todos os

processos organizacionais. Ela deve ser na medida da necessidade constante,

atualizada, precisa, capaz de ser difundida e utilizada por aqueles que tomam

decisões na organização. A qualidade da informação influenciará a qualidade da

ação que dela é fruto. Devido a este fato é mister que se leve em conta as fontes, os

meios com que foram coletadas e também a precisão da metodologia de tratamento

de tais informações.

Quando são colocadas todas estas informações em um único sistema,

responsável pelo seu metabolismo, as mesmas são transformadas em inteligência,

detectando possibilidades de inovação, ameaças ou oportunidades. Para seu êxito

faz-se necessário que as organizações estruturem metodologias eficazes de

monitoramento ambiental, de modo a gerar produtos de informação que suportem os

seus diferentes processos de negócio, sejam eles internos, ou voltados ao ambiente

externo.

Esta vigilância ambiental deve ser permanente e atenta ao extremo, sendo

capaz de captar indícios que permitam à antecipação (atitude pró-ativa) face às

ameaças e oportunidades que o ambiente oferece. É fundamental e vital que as

empresas conheçam o ambiente no qual estão inseridas.

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45

Por fim pode-se concluir, a partir do que foi apresentado até agora nesta

revisão de literatura, que as organizações enfrentam dificuldades na velocidade de

sua adaptação à nova realidade. O desconhecimento do futuro, a permanência de

traços da cultura anterior, momentos de dificuldades empresariais, a descrença em

uma visão compartilhada de futuro, a falta de capacitação para os novos papéis e a

"falta de tempo" são alguns dos fenômenos que (às vezes sintomas, às vezes

causas) fazem parte das dificuldades percebidas.

Esse novo contexto empresarial redefine o perfil do trabalhador da era do

conhecimento. Precisam-se de profissionais que aprendam de forma não

convencional e que saibam trabalhar cooperativamente para gerar soluções

inovadoras. É necessária uma nova abordagem na formação, agora

necessariamente continuada, para que as pessoas permaneçam produtivas, em

condições de acompanhar as mudanças e otimizando seu tempo. Além disso, a

tecnologia vem permitindo desenvolver experiências para treinar mais pessoas com

maior economia.

As empresas começam a perceber a necessidade de transferir o foco dos

esforços de treinamento e educação de eventos em sala de aula, cujo objetivo é

desenvolver qualificações isoladas, para a criação de uma cultura de aprendizagem

contínua, em que os empregados aprendem uns com os outros e compartilham

inovações e melhores práticas visando solucionar problemas organizacionais reais.

O foco do treinamento vai além do empregado isoladamente para o desenvolvimento

da capacidade de aprendizado da organização, criando situações que permitam a

discussão de problemas comuns e soluções por meio da aprendizagem coletiva.

Os ambientes de aprendizagem passam a ser reestruturados de forma a

tornarem-se proativos, centralizados, determinados e estratégicos e o resultado

esperado é o “aprender fazendo”, desenvolvendo a capacidade de aprender e dar

continuidade a esse processo na volta ao trabalho.

Segundo Meister (1999), uma mudança bastante significativa é que a

responsabilidade pelo processo de aprendizagem sai do departamento de

treinamento para chegar aos gerentes.

O modelo passa a ser baseado em competências, vinculando a aprendizagem

às necessidades estratégicas da empresa. Desta forma, a aprendizagem deve estar

disponível sempre que solicitada, em qualquer hora ou local, deve desenvolver

competências básicas do ambiente de negócios, em um processo contínuo de

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46

aprendizagem onde se aprende agindo, objetivando melhorar o desempenho no

trabalho e não só o desenvolvimento de qualificações para isso se faz emergente

mais do que nunca a implantação de Universidades corporativas nas empresas

nacionais.

2.5 AS UNIVERSIDADES CORPORATIVAS 2.5.1 A Justificativa para a Criação de uma Universidade Corporativa

“As empresas precisam desesperadamente de gente de primeira para

sobreviver e prosperar“ (Blecher, 1998, p.105). Nada é tão vital nas agendas das

empresas hoje quanto o talento.

Um dos principais argumentos corporativos é aquele, segundo o qual, as

universidades tradicionais não acompanham e, muito menos, antecipam-se à

velocidade das mudanças no ambiente dos negócios e das inovações tecnológicas.

Demoram na disseminação das informações, muitas vezes defasadas. Não

preparam o estudante para o dia-a-dia da empresa.

A realidade é que vivemos a era do conhecimento. Trabalhos que exigem

baixa qualificação serão reservados a poucos. Assim, o aprendizado contínuo das

pessoas, aquele atento ao que vem ocorrendo aqui-e-agora, torna-se estratégico

para a sobrevivência e o desenvolvimento das empresas. Estas precisam de

pessoas capazes de reverter a obsolescência da informação, cada vez mais veloz,

de tomar decisões e agir em processos descentralizados, de trabalhar em equipe, de

resolver problemas, de superar dificuldades, de compreender como as empresas

operam e de usar as mais recentes tecnologias para conectar-se com quem

precisar, em qualquer parte do mundo.

As empresas necessitam da teoria e da prática integradas, de forma rápida e

permanente. A finalização de um curso universitário não garante ao formando a

competência para lidar com as mudanças. Assim, é mister o aprendizado contínuo,

capaz de qualificar o aprendiz para estratégias arrojadas e pró-ativas, para a

realização de seu potencial criativo, para dominar certas habilidades e informações,

para ter oportunidades de alocação no mercado de trabalho e realocação às vezes

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47

na mesma empresa. Por outro lado, justificam, é preciso, também, desenvolver as

pessoas que compõem sua cadeia de valor clientes e fornecedores.

Segundo Meister (1999),

Para compreender a importância dessas universidades corporativas tanto como padrão e modelo de estado da arte para a educação superior quanto, um sentido muito mais amplo, como instrumento-chave de mudança cultural, é necessário compreender as forças que sustentam esse fenômeno. Em essência são cinco: a emergência da organização não hierárquica, enxuta e flexível; o advento e a consolidação da “economia do conhecimento”; a redução do prazo de validade do conhecimento; o novo foco na capacidade de empregabilidade/ocupacionalidade para a vida toda em lugar do emprego para a vida toda; e uma mudança fundamental no mercado da educação global. Essas tendências abrangentes apontam para um novo e importante veículo para a criação de uma vantagem competitiva sustentável – o comprometimento da empresa com a educação e o desenvolvimento dos funcionários. (Meister, 1999, p.1).

Como já se teve a oportunidade de escrever em linhas anteriores, a educação

não mais termina quando o estudante se forma na escola tradicional. Na antiga

economia, a vida de um indivíduo era dividida em duas etapas: aquela em que ele

estava na escola e a posterior a sua formatura, na qual ele começava a trabalhar.

De acordo com Meister (1999): Agora, espera-se que os trabalhadores construam sua base de conhecimento ao longo da vida. Por um momento, pense no seu próprio trabalho e nas novas qualificações que você precisou adquirir nos últimos anos. Trabalho e aprendizagem sobrepõem-se em indústrias tão diversas quanto software para computadores, saúde, serviços públicos, telecomunicações e até mesmo treinamento e desenvolvimento. Isto significa que não existe realmente aquilo que se chama de graduação. Nossos conhecimentos e nossas qualificações só são adequados durante um período que pode ir de 12 a 18 meses, depois do qual precisamos reabastecê-los para competir na economia global do conhecimento. (Meister, 1999, p.11).

Assim sendo, algumas empresas mais visionárias encontram-se vencendo o

desafio de criar uma infra-estrutura que garanta o aprendizado continuado. Estas

empresas estão transformando suas salas de aula corporativas em infra-estrutura de

aprendizagem corporativa, na qual o objetivo é desenvolver meios de alavancar

novas oportunidades, entrar em novos mercados globais, criar relacionamentos mais

profundos com os clientes e impulsionar a organização para um novo futuro.

Mais da metade das universidades corporativas pesquisadas por Meister

(1999), recebem recursos diretos de unidades de negócio em vez de serem

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48

financiadas totalmente por alocações da organização. As empresas com

universidades corporativas empregam, como escreve Meister (1999) “o modelo de

universidade para organizar suas experiências de aprendizagem e desenvolvimento

formando um todo coeso e determinado”.

É ainda Meister (1999) que esclarece que, muito embora, as universidades

sejam diferentes em muitos aspectos superficiais, “elas tendem a organizar-se em

torno de princípios e objetivos semelhantes, em busca do objetivo fundamental –

tornar-se uma instituição em que o aprendizado seja permanente”. Desta maneira a

educação corporativa é a educação permanente em forma universitária estruturada

nas organizações empresariais na atualidade.

2.5.2 Bases Conceituais

A concorrência no mercado globalizado provoca inúmeras redefinições no

ambiente organizacional, onde se destaca a educação e o desenvolvimento dos

funcionários como um fator importante para a criação ou a manutenção de

vantagens competitivas. Diante dessa nova configuração da gestão de empresas,

Malvezzi (apud Boog, 1995) aponta que o desenvolvimento de pessoas assume

características como:

- reproduzir o mais fielmente possível o ambiente de trabalho no qual o

treinando operará, porque, além do aprender o know-how, ele precisará

saber o maior número possível de razões pelas quais algo pode ou deve

ser feito. Por isso, o treinamento on-the-job está tornando-se cada vez

mais popular e necessário.

- reconceituação da capacitação profissional como algo que vai além de

aquisição de informações, mudanças de atitudes e desenvolvimento de

habilidades, para incluir a reelaboração de significados e revisão dos

referenciais de ação.

- ensinar os indivíduos a pensar, a fazer autocrítica e a aprender a

aprender.

Para Ulrich (1998), num ambiente empresarial global, variável e exigente

tecnicamente, encontrar, desenvolver e manter pessoas talentosas será o campo de

batalha das empresas. Ratificando esse desafio, Meister (1999), analisa que as

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49

mudanças no ambiente de negócios indicam cinco forças que impulsionam a

tendência do desenvolvimento de pessoas assumir um papel estratégico. São elas:

a emergência da organização não hierárquica, enxuta e flexível: a

reengenharia tomou as empresas mais enxutas, mais planas e menos

hierárquicas, o que as distingue de maneira clara das corporações

pesadas e hierarquizadas anteriores à década de 90. A valorização de

equipes de trabalho e um processo decisório descentralizado são

características dessas empresas que competem em ambientes turbulentos

e de mudanças rápidas. Conseqüentemente, o conceito de trabalho muda.

Meister (1999) assim analisa-o: Nela (a organização enxuta e flexível), trabalho e aprendizagem são essencialmente a mesma coisa, com ênfase no desenvolvimento da capacidade do indivíduo de aprender. Para prosperar nesse ambiente global em constante transformação é necessário um novo tipo de organização, em que um modo de pensar compartilhado por todos os funcionários é vital para o sucesso no longo prazo. (Meister, 1999, p.3).

A economia do conhecimento — da força muscular para o cérebro: A

qualificação mental é hoje essencial para que um trabalhador encontre

uma posição no mercado de trabalho. Stewart (1998) e Meister (1999)

apontam que as economias mundiais estão transformando-se de maneira

acelerada para o que se convencionou chamar de Economia ou Era do

Conhecimento. Neste caso, o principal aspecto a ser ressaltado é o fato de

que o setor da economia que mais cresce hoje é aquele que envolve

conhecimento. Os trabalhos manuais e aqueles que exigiam baixa

qualificação estão em franco declínio. Segundo Drucker (apud Howard,

2000) os profissionais do conhecimento já somam pelo menos um terço e,

mais provavelmente, dois quintos de toda a força de trabalho dos Estados

Unidos. Já Argyris (apud Howard, 2000) indica que os empregos, não

importa com que títulos, estão assumindo contornos de um “trabalho de

conhecimento”, apresentando-se cada vez mais como uma combinação de

especialização técnica com capacidade de trabalhar em equipe e reflexão

crítica de suas práticas, orientando-as para as necessidades dos clientes e

para a mudança.

redução do prazo de validade do conhecimento: a era do conhecimento

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50

caracteriza-se por um intenso avanço da ciência e uma disseminação

acelerada das informações. Neste cenário, os conhecimentos que urna

pessoa dispõe têm vida curta e são substituídos por novos avanços em

pouco tempo. Isso faz com que a atenção com a aprendizagem contínua

seja essencial para empresas e indivíduos que desejam manter-se

atualizados.

empregabilidade/ocupacionalidade vitalícia: é o foco no mercado de

trabalho: o antigo contrato social implícito — “você trabalha bastante e terá

emprego durante o tempo que quiser” — não existe mais. A segurança no

emprego não é mais uma decorrência do trabalho em uma única empresa,

mas da manutenção de uma carteira de qualificações relacionadas ao

emprego (Meister, 1999).

mudança no mercado de educação global: a base de conhecimentos de

um indivíduo deve ser reciclada periodicamente como conseqüência da

redução do prazo de validade do conhecimento. Afirma-se hoje que a

educação não mais termina quando o aluno forma-se na escola tradicional

como no passado. O desafio da permanente atualização é assumido pelas

organizações que devem tornar-se entidades educadoras se quiserem

manter-se competitivas.

Há, portanto, nos últimos anos, uma marcante tendência à valorização do

desenvolvimento e educação das pessoas. Nos trabalhos mais recentes de vários

autores (Drucker, apud Howard, 2000; Meister, 1999; Stewart, 1998; Ulrich, 1998,

entre outros) há preocupação com a educação continuada das pessoas nas

organizações, assumindo o nível de vantagem competitiva. Em função desta

tendência surgem mudanças substanciais nas atividades de treinamento e

desenvolvimento nas organizações, correspondendo à disseminação do conceito de

universidade corporativa.

2.5.3 Breve Histórico das Universidades Corporativas

O conceito de universidade corporativa surgiu nos Estados Unidos da

América na década de 50. Segundo o estudo “Diretrizes Futuras da Universidade

Corporativa 1999” publicado pela empresa de consultoria americana Corporate

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51

University Xchange, Inc.(CUX), em 1988 existiam 400 universidades corporativas

nos Estados Unidos. Atualmente já somam mais de 2 mil. Estima-se que em 2010

elas vão superar o número de universidades tradicionais nos EUA – cerca de 4 mil.

(Meister, 1999). Isto denota que apesar do conceito ser antigo, pois tem mais de 45

anos, seu crescimento é recente, tendo sido nos últimos 15 anos do século XX que

ocorreu um surto de criação de universidades corporativas, entre elas as de

empresas corno a Disney, McDonald’s, General Motors, Arthur Andersen, Motorola e

General Electric.

A primeira universidade corporativa foi formada na empresa General Electric

nos Estados Unidos no ano de 1955. O General Electric Management Development

Institute, cujo campus situa-se em Crotonville, estado de Nova York, concentrou-se

inicialmente na preparação de executivos de alto potencial para assumir cargos

estratégicos da empresa. O primeiro programa desta universidade corporativa foi um

curso de 13 semanas de desenvolvimento de executivos. Hoje, o Crotonville Institute

é uma universidade corporativa de atuação mundial, veículo do comprometimento da

empresa com a educação e o desenvolvimento dos seus funcionários,

proporcionando cursos a funcionários de todos os níveis hierárquicos. (Meister,

1999).

Em 1989, foi criada a Universidade Motorola que adotou urna nova

abordagem ao processo de aprendizado naquela empresa. Antes dela, a ação de

treinamento e desenvolvimento tinha resultados insatisfatórios, os programas não

eram contínuos e a transformação do conhecimento em mudança organizacional era

muito lenta. Desde seu início, a Universidade Motorola caracterizou-se pelo

comprometimento da alta administração com o conhecimento e mudança, e a

aprendizagem passou a ser um investimento contínuo da empresa e seus

empregados. (Meister, 1999).

Na Europa também se tem verificado a implantação de universidades

corporativas. Na França, empresas como o Carrefour e Thomson constituíram

recentemente suas universidades corporativas. Na Alemanha, como relatam Irmer &

Andresen (2000), entre 1989 e 1999 cerca de uma dúzia de grandes empresas

estabeleceu suas universidades corporativas. Dentre elas, grandes conglomerados

que atuam em escala global, como a DaimlerChrysler, Deustche Bank e Lufthansa.

Em sua pesquisa os autores concluem que as empresas vêem a educação

corporativa como uma necessidade estratégica e que o principal objetivo delas ao

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52

implantar a universidade corporativa é coordenar e consolidar seus programas de

treinamento, desenvolvimento e educação na forma de uma consistente arquitetura

de aprendizagem.

No Brasil, as primeiras universidades corporativas surgiram na década de 90.

As estatísticas sobre o número de empresas brasileiras que contam com

universidades corporativas não são ainda precisas. Segundo Junqueira & Vianna

(apud Boog, 1999), cerca de 60 empresas estão desenvolvendo o projeto ou já

implantaram sua universidade corporativa. Éboli (1999) apresenta 13 empresas que

delas dispõem no Brasil1.

A universidade corporativa pioneira entre as empresas brasileiras é a Amil

Universidade Corporativa (antiga Escola Amil) do Grupo Amil que atua no ramo de

assistência médica, criada em 1987. Em seguida foram criadas a Academia —

Universidade de Serviços, em 1992, na empresa Accor Brasil, conglomerado que

atua nos ramos de hotelaria, projeto e gestão de benefícios de alimentação e a

Universidade Brahma, da indústria de bebidas Brahma, criada em 1995. A partir da

segunda metade da década de 90 um número maior de empresas criou sua

universidade corporativa. Entre elas podem-se citar: Algar, BankBoston, McDonald’s,

Telemar, Datasul, Petrobrás e Motorola.

2.5.4 0 Que é uma Universidade Corporativa Meister (1999) realizou um estudo em 50 empresas, em sua grande maioria

norte-americanas, que estão usando o modelo de universidade corporativa para

gerenciar seus investimentos em educação de seus funcionários. A partir deste

estudo Meister conceitua universidades corporativas “como sendo essencialmente

as dependências internas de educação e treinamento que surgiram nas empresas

por causa, de um lado da frustração com a qualidade e o conteúdo da educação

pós-secundária e, do outro, da necessidade de um aprendizado permanente”.

(Meister, 1999, p.29). Em muitas empresas o campo de atuação das universidades

corporativas expande-se para fora das fronteiras da organização, oferecendo seus

programas para a cadeia de valor da empresa: parceiros, fornecedores, clientes e,

até mesmo a comunidade.

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53

Sabe-se que, tradicionalmente, os departamentos de treinamento e

desenvolvimento ocuparam o papel de centro de difusão de conhecimentos e

habilidades nas organizações. Porém, percebe-se uma gradativa desilusão com os

resultados da atuação desses setores por parte dos executivos e acadêmicos.

Meister (1999) aponta as principais críticas feitas a eles:

os departamentos de treinamento e desenvolvimento enfocam,

prioritariamente, a atualização de qualificações técnicas para o nível

gerencial da empresa, supondo que por meio de eficientes metodologias

de ensino em sala de aula eles adquiram novas qualificações para realizar

um trabalho melhor.

Os departamentos de treinamento e desenvolvimento operam

relativamente — os clientes apresentam pedidos de treinamento e o

departamento de treinamento localiza ou cria cursos para atender esses

pedidos; há interação pequena em relação aos resultados.

Os departamentos de treinamento e desenvolvimento estiveram organizados,

historicamente, dentro dos pilares da organização taylorista que, em um mundo com

estabilidade relativa maior do que o atual, a mera reprodução do trabalho e

conhecimento era suficiente para garantir a sobrevivência da empresa. Apenas os

dirigentes dos níveis hierárquicos mais elevados tomavam decisões, implementavam

estratégias e difundiam para toda a organização a linha de atuação a seguir e

tarefas a executar. No âmbito desta perspectiva formaram-se os departamentos de

treinamento e desenvolvimento das organizações, meros fornecedores de cursos

aos funcionários, oferecendo programas cujo objetivo principal era desenvolver

habilidades especificas, enfatizando necessidades individuais, e sempre atuando no

nível tático (Éboli, 1999).

As universidades corporativas distinguem-se dos tradicionais departamentos de

treinamento e desenvolvimento, pois estes atuam, de maneira geral, reativamente e

sem interação com as metas estratégicas da empresa. Nas universidades

corporativas os programas de aprendizagem são proativos, centralizados e

estratégicos. Além disso, a dinâmica de aprendizagem nas universidades

corporativas enfatiza a importância da continuidade em face de rápida obsolescência

do conhecimento e a necessidade das empresas desenvolverem e assimilarem

1 A autora desse trabalho informa que outros autores podem apresentar números diferentes,

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54

novas informações. O resultado das experiências de desenvolvimento numa

universidade corporativa não é meramente um conjunto e habilidades como no

treinamento tradicional, mas a capacidade de aplicá-las, ou seja, os funcionários

adquirem novas competências.

O quadro 6 sintetiza esquematicamente as diferenças entre os departamentos

de treinamento e desenvolvimento e as universidades corporativas.

T&D Universidade Corporativa

Espaço real LUGAR Espaço real e virtual

Presencial MÉTODO Presencial e virtual

Pontual FREQUÊNCIA Contínua

Individual META Negócios

Habilidades CONTEÚDO Competências

Interno PÚBLICO Interno e externo

Reativo FOCO Pró-ativo

Descentralizada ORGANIZAÇÃO Centralizada

Tático ALCANCE Estratégico

Setor de treinamento RESPONSABILIDADE Unidade de negócio

Segmentada ESTRUTURA Integrada

Aumento de habilidades RESULTADO Aumento de desempenho

Quadro 6 – Mudança de paradigma de T&D para universidade corporativa Fonte: baseado em Meister (1999).

A missão da universidade corporativa consiste em formar e desenvolver os

talentos humanos na gestão de negócios, promovendo a gestão do conhecimento

organizacional (geração, assimilação, difusão e aplicação), por meio da

aprendizagem contínua e ativa, de modo a garantir a sustentabilidade das

organizações.

Para que isso seja feito com sucesso, tem-se mostrado fundamental a

utilização de tecnologia de ponta acoplada a uma nova metodologia de trabalho que

permita a todos dentro da empresa não só utilizarem as informações disponíveis,

entretanto não há nenhuma pesquisa confiável que defina o número real.

Page 55: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

55

mas também atuarem como fornecedores de novas informações, alimentando todo o

sistema (Éboli, 1999).

A apropriação do termo universidade é uma opção das empresas para colocar

num nível mais elevado a unidade de treinamento, desenvolvimento e educação da

empresa. Éboli (1999) diz, a esse respeito, que o termo tem um forte impacto

mercadológico. Por sua vez Meister (1999) aponta que a metáfora da universidade

cria a imagem da sua grande finalidade: a promoção da filosofia de aprendizagem

permanece na empresa. Apesar da nomenclatura de universidade, no Brasil os

programas instituídos por elas não fornecem diplomas universitários, a menos que

haja uma parceria com uma instituição de ensino superior credenciada oficialmente

(Alperstedt, 2001). Outra característica importante das universidades corporativas é

o fato de que, muitas delas, sequer têm sede física utilizam-se amplamente das

redes informatizadas para a disseminação dos seus programas educacionais.

As universidades corporativas organizam-se em torno de certos princípios

para que o aprendizado seja permanente e que a contribuição aos objetivos da

empresa seja consistente. Sendo assim Meister (1999, p.30) sintetiza dez princípios:

1. Oferecer oportunidades de aprendizagem que dêem sustentação às

questões empresariais mais importantes da organização.

2. Considerar o modelo da universidade corporativa um processo e não um

espaço físico destinado à aprendizagem.

3. Elaborar um currículo que incorpore os três Cs: Cidadania Corporativa,

Estrutura Contextual e Competências Básicas.

4. Treinar a cadeia de valor e parceiros, inclusive clientes, distribuidores,

fornecedores de produtos terceirizados, assim como universidades que

possam fornecer os trabalhadores de amanhã.

5. Passar o treinamento conduzido pelo instrutor para vários formatos de

apresentação dos programas educacionais.

6. Encorajar e facilitar o envolvimento dos líderes com o aprendizado.

7. Passar o modelo de financiamento corporativo por alocação para o

autofinanciamento pelas unidades de negócio. As universidades

corporativas tendem a ser operadas como um centro de resultados, como

um negócio em si e auto-suficiente.

Page 56: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

56

8. Assumir um foco global no desenvolvimento de soluções de

aprendizagem.

9. Criar um sistema de avaliação dos resultados e também dos

investimentos.

10. Utilizar a universidade corporativa para obter vantagem competitiva e

entrar em novos mercados.

A criação de uma universidade corporativa é precedida, na maior parte dos

casos, de fatores como aumento da competição no ramo de negócio que a empresa

atua, conseqüência de uma reengenharia, reestruturação de toda a indústria (como

no caso brasileiro das telecomunicações) e nova cúpula administrativa

(Meister,1999). Em todos os casos, como afirma aquela autora, o objetivo é sempre

o mesmo: aumentar a produtividade da força de trabalho e criar uma vantagem

competitiva no mercado. A universidade corporativa pode ser considerada como

fonte de vantagem competitiva, adotando-se a perspectiva de que a performance

superior tenha como origem características internas da organização. Segundo Éboli

(1999), as razões para uma empresa criar a sua universidade corporativa originam-

se em:

1. Valores: algumas empresas acreditam que o conhecimento é a base da

vantagem competitiva.

2. Imagem Externa: a universidade corporativa funcionaria como um

elemento diferencial de marketing para a empresa.

3. Imagem Interna: a universidade corporativa dá um novo prestígio à

função treinamento e desenvolvimento na empresa.

2.5.5 O Modelo de uma Universidade Corporativa.

Sempre presente como uma das razões para a criação de uma universidade

corporativa, a questão da criação da vantagem competitiva e sua sustentação ao

longo do tempo tem se tornado um grande desafio para as organizações em todo o

mundo. Vários autores analisam e debatem esta questão. Mintzberg et al (2000)

ensina que se pode enfocar a estratégia empresarial sob a ótica de um processo de

configuração e reconfiguração da organização. Pode-se estabelecer uma conexão

disto com a criação das universidades corporativas que correspondem a um

Page 57: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

57

momento de reconfiguração da função treinamento, desenvolvimento e educação

nas organizações. O panorama atual do mundo de negócios em que as empresas

estão sob forte pressão competitiva num ambiente de inovações tecnológicas

aceleradas, o desenvolvimento do seu capital intelectual é um desafio à

sobrevivência organizacional. A Era do Conhecimento impõe um imperativo vital

para as empresas: aprender mais rápido que a concorrência sob pena de não

sobreviver.

Numa outra perspectiva, adotando o conceito de modelos mentais, urna das

cinco disciplinas da organização de aprendizagem proposta por Senge (1998), que

são idéias profundamente arraigadas, generalizações, ou mesmo, imagens que

influenciam nosso modo de encarar o mundo e nossas atitudes, pode-se afirmar que

a criação de uma universidade corporativa equivale ao rompimento do modelo

mental tradicional de estruturação do treinamento e desenvolvimento nas

organizações. Acelerar o aprendizado organizacional, superando o modelo mental

que se apresenta sob a forma dos tradicionais departamentos de treinamento e

desenvolvimento, é o desafio das universidades corporativas.

As pesquisas de Meister (1999) apontam que, em média, do projeto ao

lançamento da universidade corporativa, 18 meses de gestação são necessários. A

autora aponta também 10 componentes desta etapa de planejamento, a saber: criar

um órgão controlador, elaborar uma visão, recomendar alcance e a estratégia das

fontes de receitas, criar uma organização, identificar os interessados e suas

necessidades, desenvolver produtos e serviços, selecionar parceiros de

aprendizagem, esboçar uma estratégia de tecnologia, instituir um sistema de

avaliação e comunicar a visão, os produtos e o programa por toda a organização e

fora dela.

Uma grande ênfase é dada ao papel do presidente da empresa e da cúpula

administrativa como principais líderes da universidade corporativa.

Segundo Meister (1999):

Esses altos executivos quase sempre começam com uma série de perguntas. Que qualificações nossos funcionários precisam para nos permitir atingir nossas metas no século vinte e um? Como estamos treinando nossos funcionários? Quais são as qualificações e competências de que as principais famílias de cargos precisam neste momento e precisarão no futuro, considerando-se novas tecnologias, novos concorrentes, nova legislação e modificações nas necessidades dos clientes? A cúpula precisa criar uma noção de urgência para que o esforço

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58

não perca o ímpeto. Para pesquisar o assunto, montar uma força-tarefa multifuncional e recomendar como empreender uma reengenharia no departamento de educação é preciso o apoio da cúpula. (Meister, 1999, p.7)

Um dos primeiros passos do projeto é a criação de uma visão, urna imagem

mental do estado futuro da universidade corporativa. Klober (apud Éboli, 1999 p.207)

apresenta a visão da Universidade Datasul como “melhorar a performance humana

oferecendo para colaboradores, clientes, parceiros e comunidade, soluções de

aprendizagem com relevância estratégica”.

Outro aspecto de fundamental importância para o projeto da universidade

corporativa é a definição dos objetivos de sua atuação. Além de oferecer programas

educacionais aos empregados, é possível oferecê-los aos clientes, fornecedores e

parceiros, visando assim ao desenvolvimento de pessoas em toda a cadeia de valor.

Na medida em que as organizações formam, no atual cenário de negócios,

complexas redes de alianças e parcerias, surge a necessidade desse

desenvolvimento integrado de pessoas em empresas diferentes ligadas ao mesmo

objetivo de negócio.

Meister (1999) aponta dois importantes objetivos da universidade corporativa:

tornar-se um agente de mudanças na organização e desenvolver qualificações

baseadas nas competências. No primeiro objetivo, a universidade corporativa é um

veículo de disseminação da visão corporativa e da criação de urna nova cultura. No

segundo objetivo, a ênfase é dada ao desenvolvimento das qualificações,

conhecimentos e competências. Embora não excludentes, os objetivos têm

independência, o que implica uma definição prévia de prioridade e foco de atuação,

o que determinará o conteúdo dos programas a serem oferecidos.

A estruturação organizacional da universidade corporativa depende da

definição de urna estratégia da tecnologia educacional a ser empregada. As

universidades corporativas hoje concebidas nascem sob a tendência da

aprendizagem multimídia com grande utilização da tecnologia da informação em

detrimento do treinamento presencial em sala de aula. Isto se tem tornado um forte

elemento de marketing para o lançamento das universidades corporativas. Meister

(1999) indica que nesta etapa final do projeto, o lançamento da universidade

corporativa, deve-se utilizar veículos marcantes de comunicação para que todos

compreendam e apóiem o empreendimento.

Ao lançarem uma universidade corporativa as empresas esperam o

Page 59: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

59

fortalecimento da capacidade de aprendizagem dos seus empregados, em termos

de sua capacidade de agregar valor. Para isso, segundo (Meister, 1999), dez

componentes fundamentais são necessários para o sucesso na construção dessa

universidade.

A figura 1 resume os dez componentes fundamentais necessários para o

sucesso na construção de uma universidade corporativa:

Comunicação constante Controle

CONTEXTO

Avaliação Visão/missão

Tecnologia Fontes de receita

VALORES

COMPARTILHADOS

Parceiros de aprendizagem Organização

Produtos/ serviços

EMPRESARIAL Partes interessadas

Figura 1: Dez componentes fundamentais do projeto de uma UC Fonte: adaptado de Meister, Educação Corporativa, (1999, p.63).

Os componentes estão definidos como:

1 Controle: criar um comitê implantador que inclua o principal executivo e

também outros gerentes seniores, definindo seu papel e

responsabilidades.

2 Projetar uma visão/missão é fundamental para a imagem do grupo

estabelecer uma visão clara da direção e do ponto ao qual deseja chegar.

3 Definir as fontes de receita como serão obtidos os recursos, alocação

corporativa ou cobrança de serviços prestados às unidades de negócio.

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60

4 Definir a forma de organização da UC

5 Identificar interessados: segundo Meister (1999), esse é um dos divisores

de água fundamental entre o T&D e a UC:

(...) [Um dos] muitos aspectos que distinguem uma universidade corporativa do departamento tradicional de treinamento é a amplitude do público-alvo que ela atende; inclui toda a cadeia de valor — não apenas funcionários, mas também fornecedores em um extremo e clientes no outro, passando por todo seu grupamento de parceiros “. (Meister,1999, p.74)”.

6 Desenvolver um modelo de soluções de aprendizagem. Depois de

mapeados os conhecimentos e as competências que a organização

necessitará no futuro, o próximo passo é desenvolver programas,

produtos e serviços. Não apenas treinamentos básicos, mas também

soluções abrangentes e integradas às estratégicas da organização. Além

disso, deve-se criar um ambiente que facilite o aprendizado.

7 Selecionar e estabelecer parcerias, construindo um leque de

fornecedores de treinamento que inclua consultores e instituições de

ensino superior, inclusive empresas de educação. Meister (1999, p.77)

reconhece que “as universidades corporativas estão juntando forças com

as universidades convencionais e com os mais diferentes parceiros para

integrar as metas de cada funcionário”

8 Selecionar a tecnologia e os meios de aprendizagem para que esta seja

distribuída em toda a organização. Determinar como a tecnologia será

utilizada; como serão combinadas diferentes tecnologias no treinamento e

com que freqüência, bem como quais economias e quais resultados

serão proporcionados. Uso de tecnologias que proporcionem adequação

ao ritmo requerido pelo aluno. Por exemplo, aprendizagem no

computador de mesa usando a Intranet, aprendizagem à distância,

laboratórios, vídeos, teleconferências, soluções on-line e em sala de aula,

entre outros.

9 Desenvolver sistemas de avaliação que permitam medir se a

universidade corporativa está proporcionando impacto nos negócios.

Quanto a esse componente, uma reclamação persistente dos dirigentes

das empresas para a área de T&D é o subjetivismo dos indicadores de

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61

treinamento, quanto ao resultado obtido para a empresa com o

investimento aplicado. Esperava-se que Meister (1999) formulasse novos

enfoques para a solução desse problema e, em especial, para a

avaliação do impacto das ações das universidades corporativas. Porém,

os exemplos pela autora citados se situam na avaliação à reação, na

avaliação do aprendizado, na avaliação do comportamento ou da

percepção, entre outros. Em suma, formas tradicionais de avaliação

largamente utilizados pelos departamentos de T&D.

10 Estabelecer uma estratégia de divulgação da UC, de forma a canalizar

esforços para divulgar o que ela é e qual seu papel dentro da

organização.

Segundo Meister (1999), nem todas as organizações enfatizam igualmente

esses componentes. Porém, no entender dessa autora, é melhor investir tempo e

recursos em cada etapa do que colocar em risco o projeto. 2.5.6 Modelos de Aprendizagem na Universidade Corporativa

O cerne do modelo da universidade corporativa é a aprendizagem contínua,

imperativa para a inserção competitiva das empresas no mercado global. Embora

não se possa afirmar que a aprendizagem organizacional seja o somatório da

aprendizagem de seus funcionários, pode-se considerar que esta última é de

fundamental importância para que a primeira ocorra. Portanto, programas

estruturados de aprendizagem são os pilares de uma universidade corporativa.

Como já citado anteriormente, como sendo um dos dez princípios, Meister

(1999) identifica um conjunto de três áreas em que os programas de aprendizagem

desenvolvem-se nas universidades corporativas: cidadania corporativa, estrutura

contextual e competências básicas do ambiente de negócios. A autora, conforme se

mencionou, também anteriormente, denomina-os como os 3 C’s do currículo básico

de uma universidade corporativa. A seguir serão definidos esses três campos:

a) Cidadania Corporativa:

Para Meister (1999, p.91), os programas de aprendizagem de cidadania

corporativa “incute em todos os níveis da empresa a cultura, os valores, as tradições

e a visão da empresa”. A cidadania corporativa implica uma forte identificação do

Page 62: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

62

funcionário com a empresa em que trabalha e seus valores centrais. Meister (1999)

prossegue afirmando que;

As empresas progressistas querem; cultivar em seus funcionários urna noção de vínculo e orgulho. Para tanto, estão treinando seus funcionários formalmente nos valores, cultura e tradições que só aquela organização possui e nos comportamentos específicos que os funcionários precisam demonstrar para viver de acordo com aqueles valores no emprego. (Meister, 1999, p. 91)

Papel fundamental para a criação da cidadania corporativa desempenham os

programas de orientação ou ambientação. A atenção ao treinamento de socialização

de novos empregados é motivada pela necessidade de desenvolver um modo de

pensar compartilhado, desde o momento que o funcionário entra na empresa.

Embora este tipo de programa não seja uma inovação das universidades

corporativas, nelas ele renova-se, pois há uma ênfase na criação de um vínculo de

orgulho entre a organização e seus novos funcionários.

Para Fischer (apud Éboli, 1999), a cidadania organizacional assume outras

perspectivas além do processo de socialização e aculturação apresentados por

Meister. A autora aponta que a cidadania organizacional e uma pré-condição para o

desenvolvimento da organização. Segundo ela, as organizações que. conseguiram

superar imprevistos nas relações mercadológicas, ou absorver, com agilidade,

inovações tecnológicas, ou responder, com sensibilidade, às mudanças da

percepção social, são aquelas que sempre estiveram voltadas para ações de

gerenciamento e assimilação do conhecimento. E isto só é possível com satisfatórios

padrões de relacionamento interno, canais de participação que proporcionem fluir as

contribuições das pessoas gerando, assim, um sentimento positivo de pertencer a

uma organização. Entendida desta forma, a cidadania organizacional não se limita a

um programa de treinamento, ela é urna política de gestão de pessoas visando à

melhoria de relações entre empresa e indivíduos e incremento do patrimônio de

conhecimento da organização. Neste sentido, cidadania organizacional e

conhecimento entrelaçam-se. O estabelecimento de redes de conhecimento e

aprendizado torna-se uma das condições da cidadania organizacional que, por sua

vez, está assentada no constante diálogo entre os integrantes da organização.

b) Estrutura Contextual

Os programas de aprendizagem sobre estrutura contextual oferecidos pelas

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63

universidades corporativas visam desenvolver conhecimentos sobre a empresa, ou

setor, seus clientes, fornecedores e concorrentes Para Ulrich (1998). um dos atuais

desafios empresariais é a criação e operação de organizações que sejam mais

sensíveis ao consumidor, desafio este que se reflete nas áreas de gestão de

pessoas que vêem–se impelidas a dar contribuições mais efetivas para o alcance

dos objetivos empresariais. O desenvolvimento de conhecimentos sobre a estrutura

contextual proporciona aos empregados possibilidades de melhoria de seus

desempenhos atendendo às exigências dos clientes e do mercado.

c) Competências Essenciais

Para Prahalad & Hamel (1990) o conceito de competências essenciais tornou-

se um referencial central para a estratégia empresarial. No artigo, os autores fazem

duras criticas aos modelos tradicionais de estratégia e propõem que o elemento

básico da estratégia empresarial seja a sua “competência essencial” (core

competence). Uma competência essencial á a combinação de tecnologias

individuais e habilidades de produção que servem como base a uma infinidade de

linhas de produtos de uma empresa e que lhe conferem urna vantagem competitiva

em relação aos concorrentes. A identificação e o desenvolvimento de competências

essenciais tornou-se um objetivo estratégico das organizações desde então.

Este conceito influencia as ações de desenvolvimento de pessoas que passam

a ser concebidas em torno das competências essenciais Dutra ( apud Éboli, 1999)

aponta que, assim como a organização pode possuir um conjunto de competências,

as pessoas também podem tê-las e estas podem, ou não, estar em sendo

aproveitadas. O autor define as competências individuais como a capacidade da

pessoa agregar valor ao patrimônio de conhecimento que permite à organização

manter suas vantagens competitivas no tempo.

Às universidades corporativas, atentas ao imperativo da competência

estabelecem programas de aprendizagem de competências que visam a uma troca

sinérgica de competências entre indivíduos, ou grupos de trabalho, e a organização.

A organização transfere seus conhecimentos para as pessoas e estas agregam valor

ao patrimônio de conhecimentos da organização (Dutra, apud Éboli, 1999).

Pesquisas de Meister (1999) com reitores de universidades corporativas, assim

chamados seus principais executivos, apontam sete áreas em que as competências

individuais são consideradas essenciais: aprender a aprender, comunicação e

colaboração, raciocínio criativo e solução de problemas, conhecimento tecnológico,

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64

conhecimento de negócios globais, desenvolvimento de liderança e

autogerenciamento de carreira. Impõe-se, então, um desafio de criar um modelo de

identificação das necessidades de desenvolvimento nessas e em outras

competências.

Segundo Dutra (apud Éboli, 1999), os programas individuais de

desenvolvimento de competências podem ser identificados a partir da compreensão

de: competências organizacionais ou do negócio, processos críticos da organização

e caracterização dos grupos ou carreiras profissionais da organização. Para esse

autor, a partir do levantamento destas características podem ser implementadas

ações de desenvolvimento de pessoas para cada competência e conseqüente

acompanhamento destas ações, verificando sua efetividade.

Nos últimos anos o conceito de competência individual extrapolou as ações

de desenvolvimento de pessoas e é utilizado, também, nas áreas de remuneração,

seleção e desempenho, configurando, assim, um sistema de gestão de

competências. As ações de desenvolvimento de competências têm intensificando-se

com a adoção de novas tecnologias de treinamento e desenvolvimento e

transferência de conhecimentos, tema do próximo segmento.

2.5.6.1 As tecnologias de aprendizagem nas universidades corporativas

No Brasil, o surgimento das universidades corporativas deu-se na década de

90, quando o treinamento não oferecia nada mais além do que algumas

qualificações. A Universidade preocupa-se não somente com o fator “qualificar”, mas

também com a apresentação de uma maneira totalmente nova de pensar e

trabalhar, para que os colaboradores, das organizações possam desempenhar

papéis muito mais amplos no seu ambiente de trabalho.

Reflexões sobre a terminalidade dos conteúdos do saber acabaram por criar

um ramo novo da educação conhecido como “educação permanente”. De acordo

com este novo conceito da educação, todo e qualquer ramo do conhecimento por

estar sempre se renovando, impõe aos indivíduos, mesmo depois de formados, a

sua constante atualização no assunto. O processo de ensino, chamado também de

aprendizagem, passa a ser muito mais contínuo, planejado, conforme as

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65

necessidades das pessoas. A Educação preocupa-se em integrar, produtivamente o

homem à sociedade, preparando-o para seu desenvolvimento.

Existem várias causas que levam o treinamento a uma abordagem

permanente, contínua. A princípio, se relata o panorama atual das organizações. O

momento de alta concorrência, em que se tem equilíbrio nos padrões de serviços,

nos preços, na agilidade de negociações, nas ofertas. O momento atual de

instabilidade mundial, através da globalização, em que se tem uma grande abertura

de informações e mercado. É através desse contexto que as organizações de

sucesso sabem que precisam apresentar vantagens competitivas para que no final

os resultados sejam satisfatórios.

As revoluções ocorridas nas áreas de Comunicações e Informática trouxeram

uma nova concepção para o domínio do saber. A grande inovação pedagógica que

se caracteriza pela produção do conhecimento por parte do educando, evidencia

que o mesmo não tem limites e há sempre a necessidade de se voltar a ele à

procura de novos enfoques e relacionamentos decorrentes de novos dados e

informações. O saber é, neste sentido, algo de essencialmente vivo e que se renova

permanentemente.

A situação estática no saber é uma ilusão. Aquele que acredita ter parado

depois de se formar, na verdade está regredindo, se atrasando e quando volta a se

inteirar sobre o assunto em que se formou descobre, para sua surpresa, o quanto

está atrás no conhecimento da mesma.

Dependendo das características de cada organização, as Universidades

corporativas têm utilizado dois processos de ensino: o presencial e o virtual ou à

distância.

a) Educação Presencial

A educação presencial tem como característica ser, em relação aos alunos,

homogênea quanto à idade, qualificação e nível de escolaridade. Geralmente a

educação presencial tem o professor como elemento controlador do processo, o que

pode resultar em uma aprendizagem dependente por parte do aluno.

Conforme salientado por Boog (1980), a educação presencial utiliza uma

única metodologia para alcançar diferentes objetivos. Nesse sentido, podemos

ressaltar ainda outras características da educação presencial:

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66

Os docentes são considerados como a fonte do conhecimento,

basicamente vistos como educadores/ensinantes, onde suas

habilidades e competências são muito difundidas;

A comunicação existente é face a face, ou seja, de forma direta entre

professor e alunos. Geralmente, há um uso limitado de meios

tecnológicos para melhorar as aulas ministradas e tais tecnologias

podem ser encontradas em oficinas ou laboratórios próprios da

instituição de ensino;

• A estrutura dos cursos presenciais possibilita o surgimento de

problemas administrativos de horário e espaço físico, fator este que

pode fazer com que a instituição recuse alunos. Geralmente há vários

cursos sendo oferecidos, porém, com poucos alunos em cada um.

Em virtude da necessidade de rápidas atualizações de vários trabalhadores

ao mesmo tempo, associada à dificuldade física existente no atendimento destes

profissionais sem a divisão dos mesmos em turmas ou classes, várias críticas ao

sistema presencial vêm sendo realizadas, quanto ao atendimento às crescentes e

complexas necessidades de formação que as empresas vêm apresentando.

A educação presencial, como uma atividade fundamental para o exercício de

novas habilidades cognitivas, já não parece garantir resultados tão significativos em

todos os casos. Tal afirmativa pode ser baseada nos comentários de Wick & Leon

(1997, p.98) onde “…devido às sérias deficiências de conceito e de implementação,

o treinamento em sala de aula e o desenvolvimento com o apoio de um mentor são

responsáveis por uma parcela surpreendentemente pequena do aprendizado que

efetivamente ocorre no trabalho”.

Com o aumento do número de anos e períodos que os alunos precisam

permanecer estudando para competirem no mercado de trabalho, é difícil supor que

a estrutura de educação presencial esteja apta a atender a todos que buscarem

seus serviços.

Num contexto empresarial em que aprender é vital, mas o tempo disponível

para isso é escasso, tecnologias que possibilitem acesso mais flexível dão

extraordinária contribuição à criação do ambiente de aprendizagem nas

organizações. A tecnologia trouxe também para a educação algumas reformulações,

as formas de treinamento diferenciadas, pela Internet como o e-learning e o

treinamento à distância, a videoconferência e via satélite. Todas com propósito de

Page 67: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

67

incentivar a busca da reeducação2. Por isso, o computador, a Internet, a intranet, a

televisão via satélite e os recursos multimídia estão assumindo papel importante,

pois oferecem ao indivíduo a possibilidade de estudar a qualquer hora e em

qualquer lugar, acelerando seu aprendizado. Meister (1999) chega a apontar que as

universidades corporativas configuram-se como laboratórios de aprendizagem nos

quais diferentes maneiras de disseminar o conhecimento são implementadas.

Castro (apud Éboli, 1999) analisa que, embora as empresas reconheçam que

necessitam de mais treinamento, elas têm dificuldades em realizá-lo, pois seus

produtos e serviços têm ciclos de vida cada vez mais curtos, os programas de

treinamento têm custo elevado e há uma redução do quadro de profissionais que

atuam na área de desenvolvimento de pessoas nas empresas.

O compartilhamento do conhecimento para além das fronteiras de tempo,

espaço e função é, na análise de Ulrich (1998), o maior desafio da criação do

ambiente de aprendizagem continua nas organizações. A criação de sistemas que

transmitam conhecimento por toda organização confere a possibilidade de formar

capital intelectual e humano e assim aprender mais depressa e responder mais

rápido às condições do mercado. O uso da tecnologia para a transferência de

conhecimento impõe a necessidade de um trabalho conjunto dos profissionais da

UC com os profissionais da informática, com o intuito de criar redes que

compartilhem a informação.(Ulrich, 1998).

Profissionais das universidades corporativas defrontam-se, portanto, com o

desafio de tornar a tecnologia, parte viável e produtiva do ambiente de aprendizado.

Nesse sentido, pode-se apontar a Educação a Distância como uma alternativa viável

para a melhoria quantitativa e qualitativa no atendimento de novas demandas

educacionais.

b) Educação à distância (EAD)

A Educação a Distância (EAD) apresenta características de flexibilidade de

espaço e tempo que podem se adaptar às diversas demandas. É considerada uma

metodologia voltada para atender adultos com compromissos familiares e

profissionais, pois permite a continuação dos estudos sem o abandono de outras

atividades.

2 É reeducação, pois está fora dos padrões normais de aprendizagem.

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68

De acordo com o Moore (apud Nonaka & Takeuchi, 2000), o grande

diferencial da EAD está em proporcionar ao aluno a opção de escolher o próprio

local e horário de estudo. A possibilidade de se gerar produtos personalizados,

ajustados e adaptados às necessidades dos clientes, possibilitam ganhos em tempo

e adequação no atendimento a demandas específicas, que não estejam

contempladas a contento em estruturas educacionais tradicionais. A grande

vantagem da EAD em relação à educação presencial está na economia. Ao se

deslocar um grande grupo de funcionários para participar de aulas presenciais em

outras localidades, tem-se na substituição destes profissionais, bem como, no

pagamento dos salários dos mesmos sem que eles estejam efetivamente

trabalhando, um considerável aumento de custos fixos.

Porém, as empresas que desejarem implementar programas de educação

profissional à distância, dependendo do tipo de curso e mídia a ser utilizada, terão

inicialmente custos consideravelmente elevados em virtude da aquisição de

equipamentos e com o desenvolvimento de metodologias e materiais que irão

auxiliar a aprendizagem. Entretanto, tais custos poderão ser diluídos à medida que a

quantidade de alunos aumentar, bem como, a empresa desejar oferecer outros tipos

de cursos.

Wick & Leon (1997) comenta que, no atual mundo dos negócios, o foco do

aprendizado está se deslocando do ensino em sala de aula para o aprendizado no

próprio local de trabalho e, este é um dos aspectos que tem se mostrado mais

atraente para a iniciativa privada. A possibilidade de se ministrar conhecimentos

próprios ou construídos de acordo com a cultura organizacional, voltados para o

cenário vivenciado pelas organizações, serve como atrativo para as empresas

criarem os seus próprios centros de excelência. É por este motivo que o conceito de

universidades corporativas vem se expandindo no Brasil.

Entretanto, é necessário examinar-se criticamente se as novas tecnologias

educacionais estão produzindo realmente seres autônomos, independentes

intelectualmente e preocupados com a transformação do ambiente em que estão

inseridos. Freire (1997) ensina que a motivação para aprender é criada pelo

interesse do individuo e a troca de informações sobre experiências, o aprendizado

colaborativo, é fundamental para a construção coletiva do conhecimento e para o

compartilhamento do conhecimento tácito. Outro aspecto a ser questionado é o fato

de que o excesso de informações disponíveis com as novas tecnologias

Page 69: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

69

educacionais pode criar estresse e sensação de impotência do indivíduo diante do

seu volume monumental. Assim sendo, a tecnologia não pode ser considerada um

remédio eficaz para solucionar todas as questões.

2.5.6.2 A universidade corporativa e sistema de valor

As alianças entre empresas tomaram-se uma importante estratégia das

organizações com o objetivo de manter sua competitividade. Neste tipo de parceria

as empresas estabelecem um relacionamento formal com o propósito de buscar

objetivos comuns em conjunto. O pressuposto básico das alianças é o fato de que

esforços para a melhoria de seus produtos e serviços devem considerar o sistema

(fornecedores, revendedores e concorrentes) como um todo e não apenas a ação

isolada da empresa.

As universidades corporativas estão parecendo provar ser um local eficaz

para a formação de parcerias da empresa com seus fornecedores, clientes,

revendedores e atacadistas (Meister, 1999). A universidade corporativa apresenta-se

como um veículo de aproximação quando a empresa oferece seus cursos a seus

parceiros, possibilitando relacionamentos mais próximos. Além disso, fazer com que

seu sistema de valor - funcionários, clientes e fornecedores - desenvolva a

qualificação e o conhecimento necessário torna-se um fator primordial da

competitividade. Temas como qualidade, confiabilidade, serviços ao cliente e ciclos

de vida de produtos unem interesses de toda a cadeia de valor e possibilitam

aprendizado mútuo. Por outro lado, ao oferecer seus programas para clientes

externos a universidade corporativa caminha no sentido de uma maior

independência e reconhecimento de seus serviços e incrementa suas receitas por

esta via.

2.5.6.3 A universidade tradicional e a universidade corporativa

O mundo acadêmico está tendo que se adequar a um novo modelo de

educação. As universidades enfrentam o desafio de deixar para trás um modelo no

campus universitário e centrado no professor para adotar um modelo centrado no

aluno, em que a ênfase é oferecer aos estudantes ferramentas e recursos para que

Page 70: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

70

eles se responsabilizem por sua própria aprendizagem. Essa não é uma

transformação fácil.

A figura 2 apresenta um modelo de educação guiado pelo mercado, que

mostra a ascensão do aluno não tradicional como consumidor de educação, rápido

avanço da tecnologia, necessidade de aprendizagem permanente e mais

experiências com a educação à distância. (MEISTER, 1999).

Modelo de Educação Tradicional

Forças de mudança Novo Modelo de Educação

2 a 4 anos em universidades e faculdades de curta duração

Alunos de 18 a 24 anos estudando em período integral.

Os campi exigem alto investimento de capital

Alunos não tradicionais (adultos profissionais)

Rápido avanço da tecnologia

Necessidade de aprendizado contínuo

Educação pela Internet/ à

distância

Universidade virtual

Consórcios

Universidades corporativas com foco externo

Empresa de educação com fins lucrativos

Figura 2 – Modelo de educação guiado pelo mercado Fonte: adaptado de Meister (1999 p.209).

Para Meister (1999) essas tendências estão pressionando o sistema de

educação tradicional para que ele altere sua forma de atuação. Com isso está

surgindo um novo panorama para a educação superior, onde o setor privado está

superando o setor público como educador, na preferência do aluno, profissional e

não tradicional.

Nas pesquisas de Meister (1999) com os reitores de universidades

corporativas americanas, verificou-se que uma das razões para a criação de uma

universidade corporativa é a insatisfação das empresas com a formação pós-

secundária oferecida nos Estados Unidos. Neste sentido, as universidades

corporativas têm o papel de complementar uma insatisfatória formação profissional.

No Brasil, mesmo sem pesquisas conhecidas, são constatadas evidências no

discurso de executivos, profissionais e, mesmo estudantes, que a situação aqui é

similar. Com isso estariam as universidades ultrapassadas como modelo de

educação profissional: As universidades corporativas assumiriam este papel?

Na análise de Meister (1999), a universidade corporativa afigura-se como uma

ameaça às universidades, caso estas não modifiquem sua forma de atuação e

Page 71: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

71

sintetiza a polêmica apontando que a empresa vê na universidade conservadorismo,

defasagem e burocracia e a universidade vê nas empresas comportamentos que

viabilizam um capitalismo excludente.

Embora a relação universidade corporativa/empresa e universidade seja

objeto de debates e polêmicas as parcerias são possíveis, viáveis e desejáveis por

ambos os lados. Já existe entendimento de que as universidades por disporem de

pessoas que têm a capacidade de pensamento abstrato e conceitual podem ajudar

significativamente as universidades corporativas que correm o risco de voltar-se

excessivamente para suas necessidades e perder a capacidade de inovação.

A tarefa de atualizar continuamente os conhecimentos dos funcionários é

viabilizada com a parceria entre a universidade e a empresa. Meister (1999) aponta

que esta parceria dá-se, hoje, em novas bases. Segundo a autora, no passado a

empresa apresentava uma lista de exigências de suas necessidades e a

universidade desenvolvia os programas. Agora, “as empresas detalham quais as

qualificações competências e conhecimentos necessários para o sucesso na

indústria e tomam-se parceiras no desenvolvimento de programas de formação”

(Meister 1999, p.116).

Meister identificou ainda quatro tipos de parcerias entre organização e escola:

Desenvolvimento de programas personalizados de educação executiva;

Criação de programas personalizados de graduação;

Formação de um consórcio de aprendizagem;

Credenciamento da universidade corporativa;

Éboli (1999) propõe que a universidade corporativa adote certas práticas da

universidade como: pesquisa, professores visitantes, extensão, serviços à

comunidade e estágios. Segundo a autora, por meio da incorporação destas idéias

pode-se impregnar a empresa de uma cultura realmente voltada para a inovação e a

aprendizagem.

Concluindo, deduz-se que a questão não é responder se as universidades

tradicionais estão ultrapassadas como modelo de educação profissional, ensejando

às universidades corporativas assumirem esse papel. Tanto uma quanto outra têm

contribuições relevantes a dar, logo, o melhor é falar em parceria.

Page 72: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

72

2.5.6.4 O gerenciamento da universidade corporativa

A aplicação dos conceitos genéricos à construção de um sistema de

indicadores para monitoramento das Universidades Corporativas, está baseado no

pressuposto de que o gerenciamento estratégico deve ser olhado além da dimensão

financeira, pois ela é predominantemente orientada ao passado e muito pouco

diagnosticada.

Na adoção dos indicadores busca-se um equilíbrio de objetivos e medidas de

curto e longo prazo, financeiras e não financeiras, em 4 dimensões – aprendizagem

e crescimento, processos internos, clientes e financeira. Deve-se explicitar as

relações (hipóteses) entre os objetivos e os indicadores nestas diversas

perspectivas, possibilitando o gerenciamento da estratégia. Todo indicador deve ser

um elemento de uma cadeia de relações de causa e efeito que comunique o

significado da estratégia da empresa.

Neste capítulo buscou-se mostrar a evolução do treinamento ao longo do

tempo, a gestão do conhecimento e o modelo de universidade corporativa

desdobrando-o no seu surgimento e evolução, principais conceitos, desenvolvimento

do projeto, execução dos programas, abordagens relativa à aprendizagem,

implementação de parcerias e sua relação com as universidades tradicionais.

Page 73: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

73

3 METODOLOGIA

Para serem obtidas respostas à questão formuladat no presente trabalho,

realizou-se uma pesquisa exploratória. Buscou-se através da apresentação de

alguns exemplos considerados ilustrativos quanto ao que vem sendo relacionado à

gestão do conhecimento, através da implementação de universidades corporativas,

ressaltar a relevância da questão proposta, bem como subsidiar a elaboração de

algumas considerações que têm por objetivo contribuir para compreensão do

contexto em que emerge o conceito de universidade corporativa.

Para Roesch (1999), Estudo de Caso é uma estratégia de pesquisa que

busca examinar um fenômeno contemporâneo e recente dentro de seu contexto.

Difere do método histórico, por se referir ao presente. Pode trabalhar com evidência

tanto quantitativa como qualitativa e não requer um modo único de coleta de dados.

É mais apropriado classificá-lo como de abordagem qualitativa, porque com

freqüência inicia com um esquema conceitual fraco.

A falta de um esquema conceitual rígido indica maior flexibilidade na análise

dos resultados. O Estudo de Caso como estratégia de pesquisa pode ser utilizado

de modo exploratório, com o objetivo de levantar questões e hipóteses para futuros

estudos.

O estudo abrangeu a experiência com universidades corporativas nas

empresas: Amil, Telemar e BankBoston. A escolha teve como critério a

acessibilidade e ficou circunscrita às empresas do eixo Rio de Janeiro – São Paulo.

Buscou-se escolher empresas de ramos de negócios diferentes, com significativa

parcela de mercado e, preferencialmente com atuação em escala nacional.

A escolha dessas empresas foi feita de forma não probabilística, ou seja, sem

fazer uso de formas aleatórias de seleção, mas seguindo os preceitos da

Page 74: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

74

amostragem do tipo intencional, em que “o pesquisador está interessado na opinião

(ação, intenção etc) de determinados elementos da população, que são

representativos da mesma.”(Marconi, 1982. p.35).

A coleta de dados baseou-se em fontes documentais e materiais institucionais

(fornecido pelas empresas) e entrevistas semidirigidas.

As entrevistas semidirigidas foram realizadas pessoalmente, no caso da AMIL

e Telemar, e via Internet, no caso do BankBoston. Os entrevistados foram, então

selecionados a partir de um requisito fundamental: ser responsável pelas UC, ou

seja, pessoas atuantes na questão da implantação, manutenção e operacionalização

das universidades corporativas.

A partir do material cedido pelas empresas e disponibilizado em seus sites e

em entrevistas com executivos das universidades corporativas estudadas buscou-se:

- identificar casos significativos de universidades corporativas em empresas

brasileiras visando entender a razão para a criação da universidade

corporativa e com que objetivos, bem como as principais contribuições que

estas podem gerar as organizações;

- relatar como se estruturou as universidades corporativas das três empresas

estudadas e suas maiores dificuldades da implantação à operação, e como as

empresas as estão superando.

Além disso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica em livros, periódicos

especializados, teses e artigos. Utilizou-se também a internet, na consulta de sites

que abordam este tema. A pesquisa bibliográfica teve como objetivo estabelecer um

quadro de referência sobre a produção teórica acerca das universidades

corporativas.

Em sua maioria a bibliografia está baseada na produção de estudos no Brasil

sobre o tema universidade corporativa e a abordagem da educação dos recursos

humanos para a Indústria da Construção Civil.

Sobre universidades corporativas existem poucas obras publicadas no país

sobre o tema, sendo uma delas traduzida. Utilizou-se para complementar os estudos

teses, dissertações e artigos publicados acerca do assunto. Em relação a construção

civil existem alguns estudos que abordam o tema da capacitação dos recursos

humanos na ICC.

Page 75: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

75

Durante a fase de pesquisa, constatou-se que a principal dificuldade

encontrada para o desenvolvimento deste estudo foi a escassez de dados sobre o

assunto.

Abaixo é apresentado um esquema que busca resumir a metodologia de

pesquisa.

Esquema da Pesquisa

Definição do Objeto da Pesquisa

Definição da Metodologia

CASOS Modelo Proposto

AMIL

Bibliotecas

TELEMAR

Entrevisatas/ Pesquisa Bibliográfica

Artigos

BANKBOSTON

Internet

Caracterização e

Elaboração do Contexto da Pesquisa

Cenário da ICC

Análise dos Resultados

Conclusão

Buscou-se com o estudo sobre a implantação de universidades corporativas

em três empresas fazer uma projeção para o estabelecimento de uma universidade

corporativa na Indústria da Construção Civil, através do estabelecimento de

comparações entre os casos e a verificação se existiam similaridades entre eles.

Porém, houve dificuldade de se estabelecer generalizações para a ICC a partir dos

Page 76: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

76

casos estudados. Entretanto, devido a ausência de trabalhos anteriores, considera-

se esta contribuição como primordial para início de uma linha de pesquisa sobre

universidades corporativas na Indústria da Construção Civil.

Page 77: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

4 A IMPLANTAÇÃO DE UMA UNIVERSIDADE CORPORATIVA: A EXPERIÊNCIA EM 3 EMPRESAS BRASILEIRAS

Dentre as diversas empresas brasileiras que já implantaram a sua

universidade corporativa foram escolhidas três empresas de capital privado, que

atuam em setores diferentes da economia (quadro 7). Buscou-se através da

apresentação da experiência dessas empresas identificar os fatores críticos na

criação, implementação e operação das universidades corporativas. Além disso,

ressaltar a relevância da questão proposta quanto ao que vem sendo relacionado à

gestão do conhecimento, através da criação das universidades corporativas.

Para este estudo foram consultados sites da internet, revistas especializadas,

seminários, divulgação institucional das empresas e consultas a profissionais das

universidades Corporativas.

AMIL TELEMAR BANKBOSTON

Setor em que atua Assistência Médica Telecomunicações Banco Múltiplo

Controle acionário Brasileiro Brasileiro Americano

Sede da matriz Rio de Janeiro Rio de Janeiro São Paulo

Área de atuação Nacional e internacional

Nacional e internacional

Nacional e internacional

2000 1610 360 120

(entre os bancos) Posição entre as maiores empresas do

Brasil 2001 1750 30 120

(entre os bancos) Quadro 7 – Características da empresa estudadas Fonte: Revista Exame - As 500 Maiores Empresas do Brasil.

Page 78: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

78

4.1 EMPRESA AMIL

A holding Amil Assistência Médica, composta por 12 empresas, foi originada

numa clínica médica em Duque de Caxias – Rio de Janeiro, tendo como fundador e,

ainda, seu presidente o médico cirurgião Edson de Godoy Bueno.

O Grupo Amil emprega mais de 6 mil pessoas e tem cerca de 850 mil

associados nos planos individual e empresa, conta com mais de 8500 consultórios

credenciados, de 1400 serviços auxiliares de diagnóstico e tratamento, de 500

hospitais e 650 centros médicos. Possui estruturas próprias em várias regiões do

país e em outras regiões sua presença se faz através de franchising, iniciado em

1994. A rede internacional abrange mais de 200 países, incluindo os mais

renomados hospitais americanos como: Johns Hopkins, Mayo Clinic e

Massachusetts General Hospital.

Mesmo com uma competição intensa no setor em que atua, no ano de 2002,

o Grupo Amil faturou R$ 1,6 bilhão, registrando mais de 4,2 milhões de consultas,

8,5 milhões de exames, 100 mil internações e 7 mil partos. Além disso, a

lucratividade do grupo tem se mantido no patamar de 5% nos últimos anos.

Segundo seus executivos, a Amil se caracteriza como uma empresa pioneira

que está sempre criando inovações em seus produtos e serviços e com isso tem

servido como referencial para o mercado brasileiro de planos de saúde.

Desde o início de sua fundação a missão da Amil é “garantir o acesso à

medicina de alto padrão a uma grande parcela da população”.

Hoje sua visão é “ser a melhor, a maior e a mais feliz das empresas”.

Observa-se que, parte do Presidente, a preocupação com o desenvolvimento e

retenção de talentos, sendo objetivo da empresa ter uma política de gestão de

pessoas que se caracterize por possibilitar o crescimento de seus profissionais.

Pode-se perceber o comprometimento da liderança, quando esta expressa que a

manutenção do capital humano é um dos motivos da sobrevivência da empresa, o

que pode ser notado através da seguinte declaração do Presidente:

Quem tem pessoas melhores treinadas, no longo prazo tem que vencer a guerra. O segredo é treiná-las e mantê-las. Porque na hora que você as tem, todo mundo quer roubar. E nós temos conseguido fazer isso. No corpo gerencial nosso turnover é próximo de zero. (Bueno, 2000, p.6).

Page 79: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

79

A trajetória da empresa no desenvolvimento de pessoas teve início em 1987

com a criação do Centro de Treinamento – CETREN. Cinco anos depois, em 1992,

foi criada a Escola Amil de Administração que, em 2000 foi rebatizada como AMIL

Universidade Corporativa. 4.1.1 AMIL Universidade Corporativa

Uma das pioneiras no Brasil, a Amil universidade corporativa teve em seu

Presidente Edson de Godoy Bueno foi seu grande incentivador. Ao fazer um curso

na Universidade de Harvard, o dr Edson, após fazer um benchmarking junto as

universidades corporativas da Disney e da Federal Express, empenhou-se

pessoalmente na implantação de uma UC na AMIL.

“A missão da Amil Universidade Corporativa é parte da filosofia definida e

compartilhada que acompanha a missão da empresa”, afirma Claudia Danniene

Marchi, Coordenadora da UC. Pressupostos de qualidade, agregação de valor,

respeito ao ser humano, crença na tecnologia e na possibilidade de contribuir para

um futuro melhor, são os balizadores das ações desenvolvidas na UC.

A filosofia de aprendizagem contínua disseminada na empresa tem

proporcionado à organização pessoal preparado para enfrentar os desafios do

negócio. Há mais de uma década, a Amil UC vem oferecendo seus programas –

gratuitamente - à sociedade e aos seus parceiros de negócio contribuindo assim

para o seu desenvolvimento. Conforme declaração da gerente Cláudia Marchi:

Nossa visão maior é compartilhar conhecimento de forma a qualificar o maior número possível de pessoas. A educação é percebida como um grande diferencial competitivo. Todos funcionários e parceiros são elegíveis. Os pré-requisitos para qualquer treinamento são estar motivados a aprender, ter compromisso com o autodesenvolvimento e do próximo e a ética. Não comercializamos produtos de T&D, nossas ações visam agregar valor, portanto maiores pré-requisitos.

A estrutura da Amil UC está apresentada na figura 3:

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80

Diretoria de Recursos

Humanos e Qualidade

AMIL

UNIVERSIDADE

CORPORATIVA

TREINAMENTO E

DESENVOLVIMENTO

PESQUISA E

E QUALIDADE

NÚCLEO DE

CONHECIMENTO

Figura 3: Estrutura da Amil Universidade Corporativa Fonte: Coordenação da Amil UC

As três áreas de atuação que formam a estrutura da UC atuam de maneira

distinta:

Treinamento e Desenvolvimento: Nesta área são estruturados,

desenvolvidos e implementados todos os programas ligados a parte

motivacional, de endomarketing, de formação, de desenvolvimento e de

responsabilidade social.

Pesquisa e Qualidade: Tem seu foco de atuação nos colaboradores

internos e externos.

Núcleo de Conhecimento: É um espaço específico para e-learning. Nesta

área está localizada a biblioteca da UC, que além do acervo físico - livros,

material de pesquisa, revistas - disponibiliza todas as ferramentas

necessárias para o desenvolvimento do conhecimento compartilhado

digital. Neste espaço estão localizados os computadores e laptops de

última geração conectados por satélite, o que permite o acesso a base

mundial de conhecimento científico.

O planejamento estratégico da empresa é base para identificação das

necessidades de treinamento. Trimestralmente é realizado um evento (programa

Page 81: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

81

Amil 20203) que reúne os principais executivos de todo o Grupo Amil, cerca de 150

pessoas, onde o objetivo é falar sobre as estratégias do negócio, como está a visão,

os programas que podem ser implementados, etc. Anualmente além dos executivos,

este evento é estendido a todos os colaboradores (8000 pessoas) - Amil 2020 para

os colaboradores. Estes dois eventos precedem o planejamento estratégico – onde

todos os executivos e gerentes se reúnem para traçar as estratégias do grupo. A

partir daí, são determinadas as metas de longo prazo da empresa e, depois, são

diagnosticadas as possíveis ações da universidade corporativa para contribuir na

consecução das metas. Nas palavras de sua coordenadora,

A Amil UC está perfeitamente alinhada com o planejamento estratégico da empresa. A vantagem da UC não pode ser vista como modismo. A importância da UC é ser um Centro de Inteligência no sentido de que se temos uma visão e uma meta a alcançar, como podemos incrementar processos que possibilitem alavancar resultados?

Além disso, percebe-se um papel proativo nesse processo, pois, como explica

a Coordenadora da UC, na cultura da empresa não há um processo formal de

avaliação de desempenho. A liderança é preparada para atuar como coach e estar

sempre avaliando a performance de seus colaboradores que recebem feedbacks

pontuais, sempre que necessário. As necessidades individuais de treinamento são

canalizadas pelos gerentes diretamente à universidade corporativa que encaminha

essas demandas de programas de treinamento e desenvolvimento para serem

analisadas pelos líderes da empresa.

Destaca-se, também, que universidade corporativa, além de desenvolver os

programas de educação corporativa, também é responsável pelo processo de

Qualidade e Responsabilidade Social da empresa. Nesse intento, segundo

informações da coordenadora, são realizadas pesquisas periódicas de satisfação

com os funcionários e parceiros do negócio (como médicos, hospitais e clientes),

através da área de pesquisa e qualidade da empresa, para verificar a satisfação em

relação à atuação da empresa, de modo a monitorar, aperfeiçoar e ter o follow up

das ações empreendidas.

3 2020- vinte vinte dentro da terminologia médica uma visão 2020 é considerada a visão perfeita. Assim ao batizarem o evento como Amil 2020 foram feitas duas analogias, uma com a busca da excelência e outra com a questão temporal, em que estão pensando anos a frente.

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82

Contando com um orçamento anual variando entorno de 1 e 3% do

faturamento da empresa, a Amil UC tem programas de desenvolvimento oferecidos

aos seus funcionários e convidados, especialmente entre os parceiros do negócio.

Os principais programas oferecidos são:

Treinamento Experimental ao Ar Livre – TEAL;

Seminários Amil

Programa Jovem VIP – Visão, Inspiração e Positividade;

Programa Saúde nota 1000;

Os dois últimos programas estão voltados para adolescentes entre 13 e 18

anos o Jovem VIP e 12 e 14 anos o Saúde Nota 1000.

Para promover o aperfeiçoamento dos profissionais que compõem a rede

credenciada, a Amil UC criou o Programa de Apoio Científico. As ações de

treinamento que integram o programa são:

Congresso Amil de Medicina;

Prêmio Amil de Medicina;

Study Tour Amil;

Conhecimento Compartilhado;

Educação Médica Continuada;

Aperfeiçoamento Individual;

Amil Business Administration – ABA;

Projeto Saber;

Amil Service Excellence

Programa de Integração

Os programas que, em sua maioria, são elaborados pelos 16 integrantes da

Universidade, são realizados, predominantemente, no formato presencial. Esse

método de ensino está em sintonia com o objetivo do negócio em que a qualidade

do relacionamento interpessoal é valorizada como um fator decisivo para a

satisfação do cliente. O ensino a distância e, em particular, o e-learning são

considerados pela empresa como muito impessoais não conduzindo ao

desenvolvimento das habilidades de relacionamento e, por isso, tem uma utilização

limitada a alguns programas técnicos e de vendas.

Segundo a Coordenadora da UC :

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83

“Acreditamos que o ensino presencial e o virtual se completam Não existe uma regra cartesiana em que um é excludente do outro. Valorizamos mais o presencial, com grande ressalva que o e-learning é adotado e reconhecido internamente como uma ferramenta importante, porém cada caso deve ser estudado visando o resultado que desejamos alcançar, sempre mesclando a abordagem.”

A coordenadora informou que a UC mantém uma assinatura virtual de base

biomédica científica que permite aos colaboradores e médicos credenciados o

acesso na íntegra às técnicas mais recentes desenvolvidas no mundo. Além disso,

através de uma parceria com a HSM Management, está disponível um curso de pós-

graduação virtual, e-ABA. Este curso é feito em módulos e para cada módulo existe

a explanação de um executivo da Amil fazendo a abordagem presencial. Este curso

tem duração de 8 meses de aulas virtuais, porém com aulas presenciais para que

exista o contato entre instrutor e aluno. Cabe ressaltar que este mix – virtual /

presencial – é parte da cultura da Amil, como explicado pela coordenadora da UC.

Os programas são avaliados exclusivamente pelos treinandos em duas

formas. Na primeira delas, é realizada uma avaliação de reação na qual, logo após o

programa, o treinando faz a avaliação em relação ao conteúdo programático e ao

instrutor. Na Segunda forma, realizada após alguns meses, o funcionário avalia seu

desempenho em relação aos conhecimentos obtidos no programa (avaliação de

performance).

Em termos gerais os índices de treinamento dos funcionários da Amil estão

acima dos índices pesquisados pela American Society of Training and Development

– ASTD (Faquim, 2001). Os funcionários administrativos e operacionais têm em

média 70 horas anuais de treinamento e no nível executivo a média alcança 120

horas anuais.

Qualquer funcionário que realiza um programa tem a obrigação de repassar

aos companheiros as informações obtidas. Essa prática permanece desde os

primeiros anos da empresa. Para isso, a UC Amil proporciona apoio pedagógico e

operacional para a multiplicação de conhecimentos pela empresa. Os funcionários

podem obter os meios e técnicas para suas apresentações com os especialistas da

universidade corporativa. Além disso, há, também, uma biblioteca mantida pela Amil

UC com livre acesso a todos os empregados da empresa. Segundo Cláudia Marchi,

essa filosofia do compromisso de multiplicar a informação está disseminada entre os

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84

funcionários da empresa, não existindo a visão de conhecimento tolhido de que

“quem tem a informação tem o poder”.

A executiva informou que, a Amil UC utiliza-se de parcerias para seus

programas de educação corporativa. Instituições acadêmicas como a

COPPEAD/UFRJ, Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais – IBMEC e a

consultoria Dinsmore Associates são os mais freqüentes parceiros. Visão

compartilhada e prestígio são os fatores mais importantes para o estabelecimento de

programas em conjunto.

Não há um processo formal de avaliação dos resultados da Amil UC. Apenas

um julgamento por parte dos executivos sobre sua atuação. No entanto, até hoje não

houve um corte de pessoas e de orçamento significativo, o que sugere uma

avaliação positiva por parte da empresa.

Constata-se que um cenário de importância crescente dos programas de

desenvolvimento é vislumbrado pelos executivos da Amil UC.

A Amil afirma ser uma empresa visionária que mesmo antes da propagação

dos conceitos de aprendizagem organizacional, já os praticava, o que contribuiu

decisivamente para o bom desempenho da empresa ao longo dos anos.

Em relação aos resultados quantitativos da UC durante o ano de 2002, foi

informado pela coordenadora: que “foram realizadas aproximadamente 32 ações

motivacionais, técnico-comportamentais, de formação, de marketing e de

responsabilidade social. Foram atendidos 8000 colaborados do grupo, mais

parceiros e “prospects”, com diferentes níveis hierárquicos e “background.”

Cabe destacar que a Amil UC tem como benchmark universidades mundiais

americanas e européias e poucas no Brasil. Foram citadas as universidades

DISNEY INSTITUTE, MOTOROLA UNIVERSITY, INSEAD REBOK UNIVERSITY e

MC DONALD’S UNIVERSITY.

Para representar o processo de implantação da Amil Universidade

Corporativa, a autora deste trabalho, elaborou a figura 4.

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85

INPUTS OUTPUTS

AMIL UNIVERSIDADE CORPORATIVA

LIDERANÇA

POLÍTICA DE RH

CONVÊNIOS DE PARCERIA

TECNOLOGIA

RECURSOS

RESPONSABILIDADESOCIAL

BENCHMARKING

COMPETÊNCIAS

VISÃO DE FUTURO

AVALIAÇÃO NÃO FORMALIZADA

DISSEMINAÇÃO DA TECNOLOGIA

MULTIPLICADORES

DESENVOLVIMENTOPROFISSIONAL CONTINUADO

RETROAÇÃO / FEEDBACK Figura 4 – Processo de Estruturação da Amil Universidade Corporativa Fonte: Elaborado pela autora a partir da documentação consultada 4.2 EMPRESA TELEMAR

A Telemar é hoje uma das maiores empresas de telecomunicações do Brasil

em faturamento e em número de telefones instalados. Com larga experiência em

serviços de telefonia fixa local e de longa distância, a empresa disponibiliza também

serviços para Internet, transmissão de dados e imagens e videoconferência, entre

outros.

Na documentação consultada, a empresa declara que seu maior objetivo é

oferecer o que há de mais moderno em telecomunicações, superando os níveis de

exigência dos clientes e do mercado. Para isso, investe fortemente no

desenvolvimento de novas tecnologias e no treinamento de seus funcionários, a fim

de proporcionar o melhor atendimento aos seus consumidores.

Em 1998, após a privatização do sistema TELEBRÁS, foi criada a Tele Norte

Leste, transformada na holding Telemar em abril de 1999. Atuando em 16 estados

brasileiros, que abrangem o sudeste e o norte, a empresa incorporou a telefonia fixa

de cada estado. Sua área de atuação abrange 64% do território nacional. Além

Page 86: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

86

disso, geram mais de US$ 300 bilhões do Produto Interno Bruto (PIB) e abrigam 87

milhões de pessoas, mais da metade da população brasileira.

A Telemar é o fruto da fusão de 16 empresas, antigas operadoras do antigo

sistema TELEBRÁS, com processos organizacionais, culturas e valores

completamente diferentes. O grande desafio para os executivos da nova empresa foi

consolidar essas diferenças em uma única e nova cultura, em tudo diferente das

anteriores.

4.2.1 Universidade Telemar - UNITE

A Universidade Corporativa da Telemar - UNITE surgiu com o objetivo de

atuar na valorização do indivíduo e do conhecimento. Segundo André Pinto (2002),

do Departamento de Relações Institucionais:

“…o maior propósito da UNITE é ser a consciência crítica da Organização, constituída através da capacidade de criar e doar conhecimento porque entende que o resultado Telemar está totalmente vinculado a crença que só pessoas de sucesso podem construir e manter uma empresa de sucesso.”

Além disso, a UNITE serviu como um veículo fundamental para construção e

consolidação da cultura Telemar que, segundo os acionistas, deveria ser totalmente

diferente das antigas culturas das 16 empresas.

Na mesma data em que a Telemar comemorava um ano da existência de sua

marca - 10 de abril de 2000 - o Projeto Universidade Telemar – UNITE tornou-se

realidade. Na concepção de seus idealizadores, foi criada para diferenciar o

desempenho dos colaboradores, atuando efetivamente na gestão do conhecimento,

na identificação das competências, dos valores da Organização, na formação de

uma massa crítica e de um time classe mundial.

O projeto de criação da UNITE teve origem na Presidência da empresa tendo

sido desenvolvido em nove meses por um comitê constituído por membros da

Diretoria de Recursos Humanos e outras áreas da empresa juntamente com uma

consultoria contratada para mapear as competências organizacionais.

Page 87: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

87

Desde o início do projeto até o lançamento oficial, a UNITE consumiu R$ 1,6

milhões, incluindo viagens de benchmarking dos executivos às universidades

corporativas no Brasil e no exterior e cursos internacionais sobre o tema.

A UNITE tem como missão: “Ser o sistema de educação contínua, atuando

de forma presente e efetiva na gestão do conhecimento, na disseminação e

consolidação das Crenças e Valores Telemar, aumentando o Valor de Mercado da

empresa através do aumento do valor dos colaboradores”.

DIRETORIA DE

RECURSOS HUMANOS

GERÊNCIA DE

DESENVOLVIMENTO

GERÊNCIA DE COMUNICAÇÃO

INTERNA

GERÊNCIA DE

REMUNERAÇÃO

Figura 5: Posição da Universidade Corporativa no Organograma da Telemar Fonte: Entrevista (dezembro de 2002).

Na Telemar a Universidade corporativa faz parte da diretoria de RH (figura 5)

e está alocada à Gerência de Desenvolvimento. Em cada regional da empresa,

existe um líder UNITE que é o catalisador das necessidades, dos conhecimentos da

cultura, o que permite o desenvolvimento de programas adaptados a cada cultura

regional. A Gerência de Comunicação Interna é responsável pelo marketing e pela

intranet.

O antigo modelo de treinamento e desenvolvimento existente anteriormente

nas 16 empresas foi extinto por ter sido considerado limitado, reativo e inadaptado à

nova realidade da empresa.

As resistências por parte das equipes de treinamento e desenvolvimento ao

novo modelo, buscaram ser evitadas, partindo-se para um processo de

convencimento e integração de todos os membros das gerências regionais da área

ao projeto da UNITE. Mínimos problemas ocorreram em função de desconfiança dos

membros das equipes de treinamento e desenvolvimento espalhadas pelo país.

Page 88: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

88

A UNITE opera como um processo virtual de aprendizagem contínua. Há

grande ênfase nos meios da tecnologia da informação (intranet, cd-rom, recursos

multimídia, entre outros) como instrumento de aprendizagem. A empresa acredita

que o e-learning é a maneira mais eficaz de atingir todos os 33.000 funcionários da

empresa de forma rápida e a custo acessível.

Por conta da extensão da área de atuação da empresa e do grande número

de empregados a força da UC Telemar está no ensino à distância, explica um de

seus executivos. Esse tipo de aprendizado atende ao fato de que 60% de seus

funcionários trabalham diariamente com micro-computadores, o que possibilita

acesso fácil aos programas da UNITE. Para os funcionários que não trabalham com

computadores, o acesso aos programas é feito por meio de salas equipadas com

computadores, destinados exclusivamente à aprendizagem, instalados na maioria de

suas unidades. Os programas presenciais são também oferecidos, sobretudo nos

cursos de desenvolvimento de habilidades gerenciais. Os programas são oferecidos

a todos os funcionários e são agrupados em cinco categorias, denominadas de

colleges ou áreas de treinamento.

A UNITE é dividida em cinco áreas de treinamento, conforme descrito no

quadro 8.

Page 89: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

89

ÁREAS DE TREINAMENTO

OBJETIVO PÚBLICO - ALVO

RESULTADOS

Crenças e ValoresPromover a divulgação das

crenças e a preservação dos valores da empresa.

Todos os empregados.

Desenvolver a Cultura Organizacional

Promover a integração entre as 16 antigas empresas.

Formação:

Promover cursos de ensino fundamental e médio e

oferecer bolsas de estudos para cursos de graduação e pós-graduação de 70% do

valor da mensalidade. Também são oferecidos

diversos programas técnicos de treinamento.

Todos os empregados.

Gerar Vantagem competitiva,

Atendimento ao Cliente

Promover programas de treinamento em excelência

no atendimento aos clientes.

Todos os níveis hierárquicos e

principalmente os que trabalham no contato

direto com os clientes. Exemplo: assistência técnica e call-centers.

Funcionários de empresas que

prestam serviços a TELEMAR, cerca de

8000 pessoas.

Ter a Certificação na ISO 9000 em Qualidade no

Atendimento aos clientes.

Desenvolvimento Gerencial e Liderança

Objetiva o desenvolvimento de líderes. Destacam-se os

programas de pós-graduação em gestão empresarial.

Nível gerencial.

Desenvolver as competências gerenciais. No

ano de 2001, sete cursos foram realizados: dois de

nível corporativo, denominados MBA Telemar

e cinco nas regionais, denominados Master

Telemar Administration – MTA.

Programas Especiais

Oferecer programas ligados à qualidade (green belts),

cursos de idiomas, programas de segurança no

trabalho e a universidade virtual com o seu portal de

informações.

Todos os níveis hierárquicos

Promover o desenvolvimento profissional continuado.

Quadro 8: Divisão das Categorias que compõem a área de treinamento da UNITE Fonte:adaptado de material pesquisado da empresa. (dezembro de 2002)

Page 90: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

90

Conforme pode ser observado na documentação disponível, a UNITE tem

papel preponderante na gestão do conhecimento da empresa. A universidade virtual

configura-se como o meio em que o conhecimento flui na empresa, no qual os

funcionários podem encontrar informações sobre diversos temas relativos ao

negócio como telefonia móvel, gestão e satélites. Para isso, há diversos cursos que

podem ser realizados on-line, sites de troca de informações sobre experiências,

apresentação de casos de sucesso e insucesso, vídeos on-line com especialistas

em diversas áreas e uma biblioteca virtual. Com isso, pode-se perceber que objetivo

da universidade virtual é fazer com que o conhecimento circule, potencializando o

desenvolvimento dos funcionários.

Como os programas da universidade virtual não são obrigatórios e dependem

da iniciativa de autodesenvolvimento do funcionário, a empresa estabeleceu uma

espécie de “programa de milhagem” para incentivar sua utilização e evitar que os

programas não sejam concluídos. Ao alcançar algumas metas, por exemplo, a

conclusão de um curso on-line, o funcionário ganha prêmios educacionais como

assinatura de uma revista técnica, cursos externos ou visitas de benchmarking.

Este conselho estabelece as estratégias de atuação da universidade e avalia

seu desempenho. Operacionalmente, a UNITE está subordinada à Diretoria de

Recursos Humanos e conta com uma equipe composta por uma gerente e oito

analistas para realizar seus projetos.

Além das indicações do Conselho Curador, há uma identificação das

necessidades de treinamento e desenvolvimento por meio de uma avaliação das

estratégias corporativas, o que permite propor uma série de programas.

Necessidades individuais de treinamento são canalizadas à UNITE pelos gerentes,

constituindo-se, assim, num outro meio de identificação dos programas a serem

realizados.

O Conselho Curador da UNITE é responsável pelo estabelecimento do

orçamento anual que financia todas as suas atividades. Nos seus dois primeiros

anos de atividade 2000 e 2001, foram destinados, respectivamente, R$ 13 milhões e

R$ 17 milhões.

Não obstante a elaboração dos programas valorize o conhecimento interno da

companhia, uma especial importância é dada às parcerias de aprendizagem com

consultorias e universidades. A UNITE tem como política ter poucos parceiros de

aprendizagem escolhidos segundo os critérios de prestígio e competência, visão

Page 91: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

91

compartilhada e flexibilidade na confecção dos projetos. As instituições universitárias

parceiras da UNITE são a COPPEAD/UFRJ, a Universidade de São Paulo – USP, a

Universidade Federal da Bahia e a Fundação Dom Cabral.

No seu primeiro ano de atividades passaram 91.000 treinandos pelos 9.000

programas da UNITE. Em média, cada funcionário da empresa freqüentou 4,3

programas por ano. Os hits de acesso à universidade virtual alcançaram 53 milhões

de 10 de abril de 2000 até o mês de julho de 2001.

Em 2002, a UNITE levou seus programas à casa de cada funcionário de nível

gerencial via Internet. Desta forma, o objetivo de aprendizagem a qualquer hora e

em qualquer lugar poderá ser alcançado. Outro projeto realizado este ano foi a

integração de seus programas ao sistema de gestão por competências em

implantação na empresa. Já foram mapeadas e avaliadas as competências

organizacionais e até o final do primeiro semestre de 2003 estarão sendo mapeadas

e avaliadas as competências gerenciais, funcionais e técnicas.

Em pouco mais de dois anos de atividades a UNITE, já pode ser considerada

uma universidade corporativa de referência. Além disso, a avaliação do Conselho

Curador tem reconhecido que a UNITE tem dado contribuição decisiva para a

empresa alcançar o objetivo de antecipação das metas da Anatel, o que

proporcionou a entrada da Telemar em novos negócios como a telefonia móvel,

neste ano.

A fim de se compreender como foi o processo de implantação da UNITE a

autora deste trabalho elaborou a figura 6, apresentada a seguir.

Page 92: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

92

INPUTS OUTPUTS

UNITE

LIDERANÇA

CULTURA ORGANIZACIONAL DE VALORES DEFINIDOS

FOCO NAS ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS

TECNOLOGIA

CONHECIMENTO

COMPARTILHADO

EXCELÊNCIA NO ATENDIMENTO A CLIENTES

VANTAGENS COMPETITIVAS

INTEGRAÇÃO

RETROAÇÃO / FEEDBACK Figura 6 – Processo de estruturação da UNITE Fonte: Elaborado pela autora a partir de material pesquisado.

4.3 EMPRESA BANK BOSTON

O BankBoston (BKB), um dos maiores bancos americanos, foi fundado em

1784, Opera em mais de vinte países, com uma rede de 1.700 agências, 250 delas

na América Latina. No Brasil atua desde 1947 – 63 agências/pessoa física e 32

plataformas de negócio/Boston Empresa - sendo um dos maiores bancos de capital

estrangeiro no país. Em 2000 sua atuação no Brasil representou 4% do resultado

global sendo que em 2001 esse valor representou 30% desse mesmo resultado.

Este banco foi incluído pela quinta vez consecutiva entre as “100 melhores

empresas para se trabalhar”, pesquisa da revista Exame (2002). Além disso, figura

como o 12o maior banco atuando no Brasil, de acordo com o Guia das 500 Maiores

Empresas do Brasil (2002) – suplemento da revista Exame.

Na tabela 1 são apresentados os números do banco publicados na revista

Exame, relativos ao ano de 2001.

A tabela a seguir representa a resposta dos empregados do banco a pesquisa

realizada pela revista Exame para a edição do Guia EXAME – As 100 Melhores

Empresas Para Você Trabalhar. Os dados, apresentados na forma de número de

Page 93: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

93

estrelas, são o resultado de um amplo levantamento sobre o clima organizacional na

empresa. “O objetivo das estrelas é possibilitar um raio X da organização”, escreve o

jornalista da revista Exame Mauro Silveira. Através de oito quesitos pode-se

conhecer as características mais marcantes da empresa e com isso perceber quais

das empresas para se trabalhar.

Tabela 2 – As Estrelas ou Como os empregados vêem o BKB Remuneração * * * * Benefícios * * * Oportunidades de carreira e treinamento * * * Segurança e confiança na gestão * * * * Orgulho do trabalho e da empresa * * * Clareza e abertura na comunicação interna * * *

Camaradagem no ambiente de trabalho * * * Responsabilidade social * * * * *

Fonte: Revista Guia Exame – As 100 Melhores Empresas para Você Trabalhar.

Na percepção dos empregados a maior vantagem para trabalhar na empresa

é o diferencial no currículo. Sendo que como a maior desvantagem foi apontada a

não padronização da política de benefícios (há diferença entre os níveis).

Percebe-se que o item Oportunidades de Carreira e Treinamento não foi

percebido pelos empregados do banco como uma vantagem, recebeu três estrelas

num máximo de cinco.

Entretanto o departamento de treinamento do banco já atuava a 12 anos

antes da criação da BostonSchool. O objetivo principal desse departamento não era

formalizado, mas havia o conceito claro de capacitação sobre demandas focadas

nas necessidades do dia-a-dia solicitadas pelas áreas, sendo sua atuação

totalmente reativa.

4.3.1 Boston School

A BostonSchool foi inaugurada em 28 de abril de 1999, no Dia Mundial da

Educação. A intenção partiu do presidente do BankBoston. Seu objetivo inicial foi

fazer algo diferente que agregasse valor, provocasse efetivamente o

desenvolvimento dos recursos humanos e deixasse de ser reativo o tempo todo e

vinculando-se de fato ao negócio da organização. Conforme declara a empresa:

Page 94: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

94

A crença que nos norteava era a do capital humano, de que a organização só se diferenciaria e alcançaria os resultados almejados se conseguisse que as pessoas tivessem conhecimentos, habilidades e competências diferenciados dos concorrentes.

Segundo a executiva entrevistada, o objetivo principal da Boston School é

atuar como uma universidade corporativa, um centro de excelência educacional que

reúne funcionários, familiares, clientes e fornecedores, interagindo com o mundo

acadêmico nacional e internacional e estando próximo das fontes de inovação do

pensamento.

A missão e o foco estratégico definido para a UC, segundo a entrevistada,

são:

Ser um centro de desenvolvimento profissional e pessoal baseado

nas competências organizacionais;

Ser um canal de propagação dos princípios e valores

organizacionais;

Ampliar nossa atuação social.

A Boston School está localizada dentro da Fundação BankBoston. É

considerado o espaço educacional da Fundação e tem por objetivo apoiar projetos

sociais no tema educação e para que pudesse viabilizar financiamento aos

participantes em até 24 meses sem juros, por uma questão de apoio aos

funcionários. A estrutura da UC é independente em relação a estrutura da

organização. Internamente sua estrutura é composta por uma diretoria, um corpo

técnico, estagiários e corpo de apoio logístico.

A universidade corporativa não tem receitas próprias, a Fundação antecipa os

recursos que são ressarcidos mensalmente pela BankBoston. As diretrizes da UC

são determinadas pelo departamento de Recursos Humanos do BankBoston, mas

todos os serviços são prestados e contratados pela fundação, pois juridicamente, a

universidade funciona como um departamento e tem como prestador de serviços a

Fundação BankBoston.

A Universidade ocupa um espaço de 1.157 m2 no térreo do Edifício New

BankBoston, no centro de São Paulo (SP). Tem capacidade para receber

simultaneamente 340 pessoas, e todo seu espaço está interligado por modernos

equipamentos de vídeo e audioconferência.

Page 95: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

95

Sua estrutura geral física e tecnológica é composta de: Auditório para 150

pessoas, com tradução simultânea e pontos para instalação de notebooks; Anfiteatro

para 48 pessoas, com laptops individuais, emprestados pela própria Boston School

ao participante, quando de sua utilização no evento; 3 salas de aula para 25

participantes cada uma, uma sala de aula para 16 pessoas, 2 salas de apoio; um

Centro de Autodesenvolvimento (Centro de Auto-instrução e biblioteca); sala de

multimídia com 11 computadores; um Centro de Convivência (coffee-shop e self

service de revistas); acesso a Internet e bibliotecas nacionais e internacionais. Nas

demais cidades onde o Banco tem agências, não existem estruturas de apoio, e o

treinamento é realizado em espaços alugados, preferencialmente em hotéis, com

exceção do Rio de Janeiro, onde há uma sala de aula em uma das agências.

Há planos para, no médio prazo, ofertar programas de treinamento para

clientes do Banco. A meta é obter 20% da receita da venda externa, e todos os

ingressos serão repassados à Fundação.

O aporte financeiro (budget) para sustento da UC é definido junto ao board do

banco em Boston, sendo os seguintes os valores investidos anualmente na

Universidade corporativa:4

ANO VALOR

U$ 1,5 milhões em infra-estrutura 1999

R$ 3,7 milhões em treinamento

2000 R$ 4,0 milhões em treinamento

2001 R$ 4,0 milhões em treinamento

2002 R$ 4,5 milhões em treinamento

O funcionamento da BostonSchool se baseia em: programação diversificada;

diferentes formas de aprendizagem; inclusão de familiares no público-alvo;

instrumento de viabilização do autodesenvolvimento do funcionário; recursos

avançados de auto-instrução; acervo para consultas e estudos (livros, multimídia,

vídeos, cd-roms, Internet, etc.).

A Estrutura de Aprendizagem da BostonSchool (quadro 9) segue três grandes

linhas:

4 Fonte: Dossiê BostonSchool – 12/06/2002.

Page 96: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

96

Programas Estruturados – aprendizagem em sala de aula, num espaço

físico definido, onde se conta com a orientação de um facilitador /

instrutor para atender os objetivos de desempenho propostos pelo

treinamento;

Autodesenvolvimento – centro de auto- instrução e biblioteca

Conhecimento Compartilhado – multiplicação do conhecimento e

grupos de estudo via intranet e Internet.

Todas as formas de treinamento são utilizadas visando atingir cada vez um

maior público com a maior qualidade possível. Em 2001 a proporção entre

programas presenciais e programas a distância foi de 85% presenciais e 15% à

distância. Todos os programas de Educação funcional são realizados durante o

expediente de trabalho, pois são inerentes à função bancária, dessa forma consegui-

se uma forma de não entrar em conflito com o sindicato, por razões de legislação

trabalhista. Os demais programas podem ser realizados á noite ou aos sábados por

que são realizados através de auto-inscrição e o funcionário não necessita destes

programas diretamente para o desempenho de suas funções.

Existe uma opção clara pelas metodologias virtuais no intuito de aumentar o

acesso a toda base territorial onde atua o banco, porém empresa afirma que, apesar

da acessibilidade e dos baixos custos, os recursos de EAD devem ser utilizados

como metodologias e não em substituição a sala de aula.

Estrutura de Aprendizagem da BostonSchool Educação Funcional

Educação Geral

Educação Complementar

Desenvolvimento Gerencial

Desenvolvimento Executivo

Desenvolvimento Comportamental

PROGRAMAS ESTRUTURADOS

Programas Externos

Centro de Auto-instrução AUTO

DESENVOLVIMENTO Biblioteca

Multiplicação do conhecimento CONHECIMENTO COMPARTILHADO

Grupos de estudo Quadro 9: Resumo da Estrutura de aprendizagem do BankBoston. Fonte: Dossiê da BostonSchool, (12/06/2002).

Page 97: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

97

Quanto ao desempenho da UC, a empresa declara que não trabalha com o

conceito de funcionários treinados e sim de ações de treinamento (participações)

realizadas no ano. A tabela 3, a seguir, apresenta os resultados entre 1999 até

2001, num total de 36.090 participações.

Tabela 3: Ações de Treinamento

Programas Estruturados (sala de aula)

Autodesenvolvimento

ANO Número de

participantes

Média de ações por

funcionários Auto-estudo

horas Biblioteca

atendimentos

1999 7.500 1,93 8.223 14.747

2000 13.580 3,57 14.452 14.707

2001 15.010 4,07 17.389 11.560 Fonte: Dossiê BostonSchool (12/06/2002)

Processos estruturados para compartilhar conhecimentos e trocar

experiências são adotados na organização, afirma a entrevistada. Funcionários do

Banco são convocados para falar sobre temas de interesse de determinado grupo.

Existem também grupos de estudo (grupo de pessoas afins) que desejam debater

e/ou trocar informações sobre determinados assuntos de interesse comum. Uma

dessas modalidades é o VOE com o Presidente (ou Vice-presidentes) que acontece

a cada dois meses cujo objetivo maior é a disseminação da cultura organizacional

Quando o funcionário realiza algum treinamento no mercado, portanto aberto, é

exigido que, ao retornar, multiplique-o internamente. Mas isso não é uma prática que

faça parte da cultura do banco. Muitas vezes ocorre de candidatos desistirem do

treinamento, alegando que terão dificuldades de comunicação ao repassar aos

demais seu aprendizado, ao serem informados que terão de fazê-lo.Existe uma

escala de penalidades para evitar que os funcionários faltem aos cursos oferecidos

pelos programas da UC.

Programas estruturados de auto-inscrição o funcionário que falta ao

treinamento arca com o valor integral da inscrição. Nos programas

estruturados funcionais, o custo da falta é repassado à área solicitante.

Autodesenvolvimento:

Page 98: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

98

o Auto-inscrição: Na terceira falta, automaticamente o funcionário perde

a preferência do horário escolhido.

o Biblioteca: Atraso na devolução do material emprestado são

penalizados com a doação de um mantimento “não perecível” ou de

higiene que é destinado a entidades designadas anualmente pela

Fundação BankBoston.

A Biblioteca tem parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Harvard

Business School. No MBA Interno todo o corpo docente é composto por profissionais

da USP, FGV, IBMEC e Columbia University. Além disso, a maioria dos Consultores

é, em grande parte, professores de renome no mercado.

As principais mudanças que foram percebidas, atualmente, na atuação da

Universidade corporativa em relação ao antigo departamento de T&D se referem,

por exemplo, a verba para treinamento, que para este ano de 2002, foi de R$ 4,5

milhões. Desse valor, 70% foram estratégicos. Os programas estratégicos são

compulsórios. Nos outros 30%, a BostonSchool tem liberdade de ação. Neste

sentido a Universidade corporativa deixa de ter uma atitude reativa para ter uma

atitude proativa. Quando era T&D, todo o treinamento era decidido pelo gestor. Hoje,

em alguns programas, não é mais feito com o processo que havia no T&D. A

BostonSchool não depende mais da definição do recursos humanos para 30% do

orçamento. Aquilo que é geral e complementar, a Universidade corporativa tem

autonomia para criar e oferecer.

Quanto à estrutura e ao perfil dos funcionários, a UC passou a atender

focados nos segmentos. Então os Analistas passarão a atender na BostonSchool de

forma segmentada por área: Private, Marketing, Corporate e Capital, Mercado de

Capitais. Não é mais T&D; hoje está muito presente em todas as ações o aspecto

estratégico da organização. Este passou a ser grande foco.

Foram estabelecidos alguns indicadores para avaliar o desempenho da

UC:

• Indicadores quantitativos.

o Indicadores orçamentários: monitoramento e acompanhamento da

verba anual de R$ 4.500.000 em 2002.

o Indicadores de participação: nº de participantes, nº de familiares

participantes.

Page 99: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

99

o Indicadores por atendimento: no sentido de migrar cada vez mais de

programas estruturados para o autodesenvolvimento.

Indicadores qualitativos.

o Indicadores de qualidade: manter o percentual de 97% dos programas

atendendo ou superando as expectativas dos participantes

o Manter nota 5 na avaliação de treinamento da pesquisa de clima –

“Best Place to work” revista Exame

A empresa considera que a BostonSchool apresenta vantagem competitiva

para o Banco, uma vez que agrega mais valor à organização. Além disso, o

BankBoston tem figurado como uma das melhores para se trabalhar no mercado

há quatro anos consecutivos. Paralelo a isso considera também, que a UC é fator

de atração para recrutamento externo e retenção de funcionários na organização.

Como conquistas adicionais são computados os seguintes indicadores:

Qualitativos

o Cultura de aprendizagem contínua;

o Imagem e clima organizacional;

o Retenção e atração de clientes

o 100 Melhores Empresas para se trabalhar – Revista Exame de 1998 a

2002.

Quantitativas (financeiras) período 1998 a 2001

o Crescimento do orçamento anual em 30% no período

o Diminuição do custo por ação de treinamento em 35%

o Aumento no número de participações em treinamento em 75%.

A fim de se compreender como foi o processo de implantação da UNITE a

autora deste trabalho elaborou a figura 7, apresentada a seguir.

Page 100: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

100

INPUTS OUTPUTS

BOSTON SCHOOL

LIDERANÇA

POLÍTICA DE RH

ESTRATÉGIA DE AÇÀO

DE DESNVOLVIMENTO

DA EMPRESA

QUALIFICAR SEUS RECURSOS HUMANOS

SUSTENTAÇÃO DE SEUS NEGÓCIOS

MUDAR A CULTURA EM RELAÇÃO AO PROCESSO EDUCACIONAL

RETROAÇÃO / FEEDBACK Figura 7 – Processo de implantação da BostonSchool Fonte: Elaborado pela autora a partir de material fornecido pela organização. 4.4 ANÁLISE DOS CASOS

Da avaliação do material pesquisado e das entrevistas com executivos das

universidades corporativas, a autora verificou que a principal razão da criação das

universidades foi a crença de que programas contínuos de educação corporativa

podem conduzir a melhores desempenhos de indivíduos e organizações. As

empresas estudadas vêem, claramente, a universidade corporativa como um

importante elemento de transmissão de sua cultura, valores e visão o que pode

contribuir para melhorar a competitividade da empresa.

Verificou-se um elo direto entre os programas realizados e as estratégias das

empresas, onde as ações a serem desenvolvidas pelas universidades corporativas

são identificadas a partir do processo de desenvolvimento da estratégia empresarial.

Além disso, as linhas de ação das universidades corporativas são discutidas e

referendadas por um comitê formado pelos principais executivos de diversas áreas

das organizações. Demonstra-se assim, a decisiva dimensão da importância

estratégica da universidade corporativa e configurando suas ações no campo da

estratégia empresarial.

Page 101: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

101

Diferentemente do modelo anterior de treinamento e desenvolvimento – T&D

foi identificado que a UC permite de maneira democrática que os colaboradores se

autodesenvolvam. Por outro lado, possibilita às organizações fazerem da gestão do

conhecimento um diferencial competitivo, associando sofisticadas soluções

tecnológicas a metodologias criativas, simples e práticas.

Os objetivos e formas de atuação das universidades corporativas são

similares. Os programas são oferecidos a todos os níveis hierárquicos e a cadeia de

valor da empresa - existindo um mix entre o método presencial e o virtual. Além

disso, que a tecnologia do e-learning é estratégica, mas deve estar associada a

outros recursos, gerando a aplicação de uma metodologia mista. Na Amil em

particular, esta tecnologia não se adapta à filosofia de aprendizagem da empresa e,

apesar se ser adotada em seus programas de capacitação, está sempre apoiada no

método presencial.

Quanto às instalações físicas próprias para a realização de programas,

verifica-se que Amil UC e a BostonSchool dispõem delas. A UNITE privilegia o

campus virtual para a realização de seus programas. A alocação de recursos por

parte da empresa é a principal fonte de financiamento das atividades das

universidades corporativas, ou seja, as universidades corporativas não operam como

centros de lucro.

Os temas específicos do negócio e de gestão empresarial, com especial

atenção ao desenvolvimento de comportamentos dos empregados alinhados com a

cultura da empresa têm predominância nos conteúdos programáticos das três

universidades estudadas. A avaliação dos programas apresenta similaridade em

relação a tradicional da área de treinamento e desenvolvimento.

Nos casos estudados verificou-se uma integração da atuação da universidade

corporativa com as práticas de gestão por competências e gestão do conhecimento.

A Telemar e o BBK estão implantando o sistema de gestão por competências e

verifica-se neste momento um processo de integração da universidade corporativa

com suas práticas. Segundo os executivos entrevistados, a implantação desse

sistema permitirá a identificação das necessidades individuais e organizacionais de

treinamento.

Quanto à gestão do conhecimento, na UNITE e na Amil UC há uma

integração da universidade corporativa com a gestão do conhecimento. Em ambos

os casos a operação de sites de troca de informações é a mais marcante

Page 102: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

102

contribuição das universidades corporativas. Nas três empresas estudadas a gestão

do conhecimento não é considerada uma ferramenta gerencial. Porém, as

universidades corporativas têm papel importante quanto à criação e disseminação

do conhecimento explícito.

As parcerias de aprendizagem estão presentes em todas as empresas

estudadas. Embora em todas as empresas haja uma valorização do conhecimento

interno na elaboração e execução dos programas, são feitas associações com

consultores e universidades para temas onde não há expertise nos quadros da

empresa. As universidades tradicionais têm papel importante nas parcerias,

confeccionando programas em conjunto com as universidades corporativas,

sobretudo nos tradicionais programas de especialização em gestão empresarial, do

tipo MBA. Embora este tipo de parceria seja muito antigo, verifica-se uma

modificação desta associação no que diz respeito ao conteúdo dos programas.

Observa-se que as empresas não desejam comprar “pacotes” prontos, como no

passado, desejam desenvolver em conjunto os programas com os parceiros de

aprendizagem.

Após a análise das três universidades corporativas percebe-se que a

avaliação é positiva e que existe uma evolução, em diferentes níveis de

desenvolvimento, em relação a um departamento de T&D. As organizações

continuam investindo e cada vez mais colaboradores têm usufruído seus programas.

Além disso, houve uma mudança no contexto de aprendizagem, cujos objetivos são,

dentre outros:

desenvolver competências essenciais,

ter como foco o desenvolvimento da cultura organizacional,

ter como público –alvo além dos colaboradores internos, os clientes,

fornecedores etc, ou seja, todo o público que compõe a cadeia de

produção;

formar multiplicadores de conhecimento dentro das organizações;

estimular o autodesenvolvimento;

contribuir para o alcance dos objetivos da empresa.

O quadro 10 apresenta um resumo das principais características verificadas

nas universidades estudadas.

Aspectos como privatização, regulamentação ou desregulamentação

governamental, entrada de novos competidores, exposição à competição global e

Page 103: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

103

desbravamento de novos negócios estão presentes nos casos estudados. Em

função disso, a sobrevivência das organizações tem forçado as empresas a

significativas mudanças no seu ambiente de negócios fazendo com que a

reorganização contínua desse ambiente seja uma característica de nosso tempo.

Essas mudanças solicitam a criação e a disseminação de novos conhecimentos e

desenvolvimento de novas competências, pois de outra maneira a organização

estaria ameaçada.

As organizações pesquisadas criaram suas universidades corporativas

acreditando nas possibilidades desse modelo, que deixa para trás o treinamento e

desenvolvimento - concebido como evento isolado e com pouco foco nos objetivos

estratégicos e implementaram um processo de aprendizagem contínua e

permanente relacionada às necessidades do negócio.

Nos casos estudados há uma constante preocupação das empresas em

oferecer programas de educação corporativa aos seus funcionários e ao seu sistema

de valor. As empresas pesquisadas apresentam estatísticas de destaque em termos

de média anual de horas de treinamento por funcionário e número médio de cursos

freqüentados por funcionário.

Importantes possibilidades de atuação das UC abrem-se quanto à

contribuição com os sistemas de gestão por competências. A pesquisa revelou que

estes sistemas estão em fase de implantação nas empresas e que as UC são

solicitadas em certos casos a gerenciar esses processos.

Relevantes dificuldades de aceitação da implantação das UC não foram

percebidas e nem relatadas nas entrevistas.

Outro aspecto importante é a parceria entre empresas e universidades oficiais

ou formais, que tendem a se intensificar. Observou-se, neste estudo através da

pesquisa efetuada, que as UC’s, geralmente, têm parceria com as melhores

faculdades, ou seja, as empresas estão buscando a sinergia entre o conhecimento

acadêmico e as práticas de gestão.

A ótica proposta para existência das universidades corporativas valoriza,

provoca um enriquecimento e uma evolução às funções da área de T&D. Com isso,

a área de recursos humanos ou de gestão de pessoas atrela-se e torna-se

efetivamente considerada nas estratégias da organização, tendo maior relevância no

escopo da estratégia organizacional.

Page 104: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

104

CARACTERÍSTICAS da U.C.

AMIL TELEMAR BANKBOSTON

NOME Amil Universidade Corporativa UNITE Boston School

ANO DE INÍCIO 1987 2000 1998

RAZÃO DA CRIAÇÃO

Ter por filosofia o conceito da necessidade de capacitação contínua.

Gestão do conhecimento como fator de competitividade

Crença que o autodesenvolvimento e o conhecimento são diferenciais competitivos

OBJETIVO PRINCIPAL Melhorar o desempenho por meio da aprendizagem continua

Valorização do indivíduo e do conhecimento

Desenvolver as competências essenciais

DIFICULDADES PERCEBIDAS

Necessidade de criar uma cultura de EAD.

Necessidade de criar uma cultura de e-learning. Acentuada diversidade cultural Elevado número de colaboradores Grande dispersão geográfica

Necessidade de criar uma cultura de autodesenvolvimento

FACILIDADES PERCEBIDAS

Comprometimento do Presidente. Filosofia de multiplicar conhecimentos Visão global

Entendimento do próprio negócio Desenvolvimento da cultura do e-learning Integração Comprometimento da alta direção Informação X conhecimento

Comprometimento da alta direção. Autodesenvolvimento Integração

FOCO DO APRENDIZADO

Coletivo e compartilhado Coletivo e compartilhado Coletivo e

compartilhado

CONTEÚDO DOS PROGRAMAS

Específico do negócio, gestão empresarial e cultura geral.

Específico do negócio, gestão empresarial

Específico do negócio, gestão empresarial e cultura geral.

TIPOS DE PROGRAMAS Presencial e virtual Virtual e presencial Presencial e virtual

PARCERIAS COM ENTIDADES DE

ENSINO

COPPEAD/UFRJ, IBEMEC, Dinsmore Associates

COPPEAD/UFRJ, USP, UFBa, Fundação Dom Cabral

USP/FIPECAFI, Instituições de ensino e consultorias estrangeiras.

Quadro 10: Resumo do das características das empresas estudadas. Fonte:material coletado nas pesquisas feitas junto as organizações estudadas

Page 105: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

105

4.5 PROPOSTA DE UMA UNIVERSIDADE CORPORATIVA PARA A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL

4.5.1 A Experiência Existente

No Brasil, somam-se as imposições globais, certas características estruturais

de sua economia e de sua sociedade, que tornam mais necessária a criação de

políticas de capacitação profissional de diversos tipos e de abrangências

diferenciadas.

A retomada do desenvolvimento é condição fundamental e indispensável. No

potencial crescimento econômico e social de uma população de mais de 170 milhões

de habitantes carentes da necessária construção da infra-estrutura básica:

saneamento, habitação, estradas, transporte, energia, telecomunicações, portos,

etc., são necessárias políticas de qualificação profissional, que atendam ao setor

que irá viabilizar essa retomada do desenvolvimento, a Indústria da Construção Civil

– ICC.

Disponibilizar de maneira ampla a possibilidade de educação e de

desenvolvimento profissional, numa dimensão de grande magnitude, irá suprir

carências básicas e viabilizar por decorrência novas e amplas possibilidades de

emprego no setor. A educação do trabalhador é um investimento válido que significa

um passo decisivo para que a ICC se torne mais produtiva e qualificada.

A modernidade tecnológica exige equipes socializadas, pensantes e

participantes, que possam assimilar novas técnicas aceitando avanços nas já

existentes. Hoje, além da prolongada crise econômica que o setor da construção civil

enfrenta, tornou-se premente a necessidade de vencer as dificuldades culturais

internas como o analfabetismo, a ignorância, o desperdício, fatores que oneram as

obras. É a célebre a afirmativa de ser a indústria que mais emprega mão de obra

desqualificada… Este é o círculo vicioso que precisa ser interrompido, sendo que a

educação é a porta que se abre para a mudança cultural capaz de reverter este

panorama.

Os diversos Sindicatos da Construção Civil – SINDUSCON, em vários

estados do Brasil, mantém parcerias com entidades institucionais e entidades

técnicas para promover e oferecer programas de capacitação profissional,

empresarial e de gestão da tecnologia a várias empresas da cadeia produtiva da

construção.

Page 106: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

106

Estas parcerias buscam fomentar ações de qualificação e requalificação

profissional, em três linhas:

habilidades básicas, entendidas como o domínio funcional da leitura, escrita e

cálculo, no contexto do cotidiano pessoal e profissional, além de outros

aspectos cognitivos e relacionais - como raciocínio, capacidade de abstração,

relacionamento, comunicação;

• habilidades específicas, definidas como atitudes, conhecimentos técnicos e

competências demandadas por ocupações do mercado de trabalho na

construção civil, especialmente tendo em vista os processos de

reestruturação produtiva que atingem tanto empresas de ponta como as de

pequeno porte;

• habilidades de gestão, compreendidas como competências de autogestão,

associativas e de empreendimento.

Entretanto, o desenvolvimento desses programas deve se orientar pelos

princípios da educação permanente que leve em conta os pré-requisitos e interesses

tanto dos treinandos quanto dos empregadores no sentido de atenderem as

necessidades projetadas pelo cenário prospectado para o setor.

Algumas experiências podem ser citadas como exemplo:

SINDUSCON – RJ

- Criado em dezembro de 1994, através de um convênio com o SENAI – Centro

de Formação Profissional- Construção Civil, o Clube da Qualidade na

Construção é um modelo de associação entre empresas e instituições de

pesquisa, apoiado pelos seus organizadores, que visa a desenvolver ações e

projetos para a melhoria da Qualidade e da Produtividade na Construção

Civil.

- Em 1990, em parceria com o SESI foi lançado o Alfabetizar é Construir. O

objetivo do programa é criar escolas nos canteiros de obras destinados a

educação do trabalhador, com o intuito de reduzir o analfabetismo presente

no setor. A meta do programa é possibilitar aos trabalhadores um nível

satisfatório de leitura, escrita e cálculo que lhes permita atingir melhores

estágios de qualificação para os serviços específicos das obras, levando-os a

buscar algum tipo de especialização que os prepare para várias tarefas,

abrindo seus horizontes profissionais.

Page 107: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

107

SINDUSCON - MG

- Inaugurado em 1998, o Centro de treinamento SINDUSCON –MG, tem por

objetivo ser um pólo gerador de conhecimento específico para o setor da

construção civil, visando favorecer o alcance da excelência na capacitação e

treinamento profissional para atuar neste ramo industrial. O público-alvo é os

profissionais do setor, empresas associadas ou não, empresários, e

estudantes.

SINDUSCON – RS

- Projeto de Apoio Tecnológico e Gerencial a Empresas de Construção Civil de

Pequeno Porte, em parceria, desde 1992, com SEBRAE-RS, Universidade

Federal do Rio Grande do Sul –UFRGS e a Fundação de Ciência e

Tecnologia – CIENTEC. Um dos objetivos desse programa foi a implantação

de sistemas de Gestão da Qualidade nas empresas participantes.

SINDUSCON – CE

- Alfabetizar é Construir, em parceria com SESI.

SINDUSCON – DF

- O Centro de Treinamento Salvador Aversa – CTSA, construído pelo

SINDUSCON, funciona em parceria com o SENAI-DF, o SECONCI-DF, o

SESI-DF, o Sindicato dos Trabalhadores e as Secretarias de Trabalho e

Educação, para atuar no treinamento e na qualificação de trabalhadores do

setor. O Centro já treinou desde 1991, cerca de 8300 profissionais.

Baseada nas experiências existentes de capacitação profissional do setor e o

estudo das três universidades corporativas a autora desse trabalho propõe um

modelo de critérios para a implantação de uma universidade para o setor da

Construção Civil.

Esta universidade teria como missão promover o crescimento e o

desenvolvimento da força de trabalho envolvida no setor através de um modelo de

excelência em gestão de educação continuada, baseados em um planejamento

estratégico. Seus objetivos seriam:

Page 108: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

108

Propiciar a empregabilidade, ou seja, capacitar a força de trabalho para

as novas necessidades que surgirão e com isso favorecer a criação e

retenção de novos talentos;

Formar profissionais com qualificação diferenciada no mercado, ou

seja, com habilidades e competências necessárias à melhoria contínua

de processos e inovações tecnológicas do setor da construção civil;

Estimular que todos os que fazem parte da cadeia produtiva que

constitui o setor da construção civil se envolvam com a aprendizagem,

tornando-se co-responsáveis pela captação e transmissão do processo

de educação e desenvolvimento.

Propiciar aumento da produtividade e qualidade dos empreendimentos,

otimizando a sua lucratividade e a redução do custo do produto final ao

consumidor.

Inserir a cadeia produtiva da construção civil nas demandas do mundo

contemporâneo no que diz respeito a Gestão do Conhecimento e da

Tecnologia da Informação.

Page 109: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

109

5 PROPOSTA DE CRITÉRIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM MODELO DE UMA UNIVERSIDADE CORPORATIVA PARA A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL

5 . 1 I N T R O D U Ç Ã O As empresas que atuam na Indústria da Construção Civil estão se

transformando em empresas de multifunções - capazes de desempenhar e agregar

diversas atividades. Esta mudança de postura na busca por um diferencial de

mercado é função não só do aumento da concorrência no setor mais também de

diversas tecnologias terem se tornado mais acessíveis para grandes e médias

construtoras.

Essa Indústria sofre influência do cenário mundial atual, de sua rápida

transformação, e dos desdobramentos que estão se delineando na área econômica,

tecnológica, mercadológica e social, entre outros. Estes fatores deverão induzir

grandes mudanças na área da engenharia, e conseqüentemente na formação dos

profissionais que atuam nas empresas do setor, num novo cenário que se esboça

para o século XXI.

5 . 2 C E N Á R I O Nesse início de século muitos são os prognósticos elaborados sobre como

será e se comportará o mundo nas próximas décadas. O cenário projetado pela 8ª

Assembléia Geral da Word Fortune Society (WFS), realizada em 1996, e reportada

por Nassif (1996), é o seguinte:

Até o ano de 2030, o Brasil será o 11º país mais competitivo do mundo;

Page 110: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

110

Entre 1996 e 2020, o mundo produzirá dez vezes mais mudanças que

entre 1980 e 1995;

Atualmente a quantidade de conhecimento dobra a cada dois anos,

nas próximas décadas deverá duplicar a cada 80 dias, isso reduz a previsibilidade;

A população mundial saltará de 5,4 bilhões para 8,4 bilhões até 2025;

Muda completamente o conceito de liderança. Crescerá a figura do

líder dos líderes, pessoa com capacidade para coordenar o chamado capital

intelectual.

Dentre essas projeções uma tem grande possibilidade de ocorrer, o aumento

populacional. “Como abrigar 8 bilhões de pessoas até o ano de 2025?” questão já

levantada pela Folha de São Paulo em junho de 1996, quando da Conferência

Habitat 2.

As previsões para o Brasil são de uma população de 230 milhões de

habitantes vivendo em mega-cidades como São Paulo, que deverá abrigar mais de

20 milhões de pessoas.

5.2.1 Cenário Para a Década 2003 - 2013.

As mudanças econômicas e tecnológicas introduzem atualmente tantas não-

linearidades no horizonte de ação das empresas, dos governos e da grande maioria

dos indivíduos, que é necessário a previsão tão segura quanto possível, do sentido

das mudanças de ambiente em que atuam. Ao projetar um cenário, visa-se agregar

os elementos de informação que aumentem o potencial competitivo dos atores

econômicos, com atenção aos seus elos mais fracos.

A competitividade é fator de sobrevivência para qualquer organização e a

inovação tecnológica se apresenta como fator chave para diferenciação e a

conquista do mercado. Porém não basta inovar concomitantemente com a

concorrência, é necessário se antecipar a ela, sendo fundamental para tanto se

visualizar novas possibilidades tecnológicas, nem sempre identificáveis nas

tendências atuais.

O presente trabalho adotou como cenário o resultado apresentado no relatório

final do Estudo Prospectivo da Cadeia Produtiva da Construção Civil (2003). Este

trabalho compõe o Programa Brasileiro de Prospectiva Tecnológica Industrial que é

Page 111: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

111

articulado com o Programa Fórum de Competitividade, fazendo parte do “Brasil

Classe Mundial”, sob coordenação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior – MDIC, com gerenciamento da Secretaria de Desenvolvimento

da Produção.

Este programa visa atuar sobre a capacidade competitiva do setor produtivo

brasileiro, através da interação entre empresários, trabalhadores e governo, na

busca de soluções de problemas das cadeias produtivas e estabelecimento de

metas, configurando uma política para desenvolvimento do setor produtivo. O

programa tem os seguintes objetivos:

- geração de emprego, ocupação e renda;

- desenvolvimento produtivo nacional;

- capacitação tecnológica;

- aumento das exportações;

- competição com as importações;

- competição com serviços internacionais.

Para a cadeia produtiva da construção civil foi identificado pelo Fórum de

Competitividade da Cadeia que, para que esta se torne ainda mais competitiva é

fundamental investir em qualificação, inovação tecnológica e organizacional focada

em:

- aumento significativo da produtividade de todos os elos;

- eliminação de fatores de aumento de custo e diminuição de qualidade;

- adequação às necessidades do usuário.

A partir desse enfoque foi projetado o Estudo Prospectivo da Cadeia

Produtiva da Construção Civil - relativamente a produção habitacional - cujo objetivo

é formular um futuro para essa cadeia, dentro do horizonte 2003-2013, segundo o

cenário econômico apresentado nos quadros 11 e 12.

Page 112: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

112

VARIÁVEIS Cenário 1

Tendencial (avanços e recuos)

Cenário 2 Otimista

(recuperação acelerada e sustentada)

Cenário 3 Pessimista

(aprofundamento da crise econômica e

social) SOCIAIS

Distribuição de renda Manutenção Melhora significativa Aumenta a concentração de renda

Mercado de trabalho Pequeno crescimento do mercado de trabalho

Expansão com redução do desemprego e trabalho informal

Redução do consumo e aumento do desemprego e do trabalho informal

ECONÔMICAS

Inflação Manutenção dos níveis atuais Inflação controlada e em níveis baixos Retorno da inflação

Taxa de juros da economia Manutenção dos níveis atuais

Queda contínua e consistente permitindo retomada do investimento produtivo

Elevação das taxas de juros, aumento das dívidas interna e externa, restrição de gasto público, crédito e consumo interno.

Crescimento do PIB Manutenção do crescimento médio verificado nas duas últimas décadas (2,5% ao ano)

Crescimento médio anual entre 5 e 7%

Estagnação ou crescimento abaixo do crescimento populacional

Renda per capita Pequena elevação passando dos atuais US$ 3700,00 para US$ 4500,00

Elevação significativa, atingindo no final da década o dobro do patamar atual

Diminuição em relação aos níveis atuais

Inserção na economia mundial

Aumento moderado o superávit comercial, mas manutenção da dependência de financiamento externo

Crescimento das exportações, com redução da necessidade de financiamento externo.

Balança de pagamento deficitária. Prolongada recessão internacional, com fechamento dos mercados e dificuldade de financiamento.

TECNOLÓGICAS

Avanço tecnológico

Prosseguimento do processo de modernização do parque produtivo, com melhorias discretas mais contínuas de qualidade e produtividade. Há melhorias do sistema educacional e pequeno aumento do investimento em pesquisas.

Intensificação do processo de modernização do parque produtivo, com ganhos significativos qualidade e produtividade., além de incremento de valor agregado dos produtos brasileiros. Aumento do investimento em educação e pesquisas.

Estagnação do parque produtivo e perda de competitividade por parte dos produtos brasileiros. Redução dos investimentos em educação e pesquisa.

POLÍTICAS-INSTITUCIONAIS

Instituições e organização social

Prosseguimento do processo de consolidação da democracia e das suas instâncias de representação, com aumento pequeno, mas paulatino da organização e da participação da sociedade civil.

A democracia está consolidada, com crescente organização e participação da sociedade civil.

A piora da situação econômica acarreta crescente insatisfação e perda de apoio político por parte do governo, com aumento de protestos e manifestações públicas de descontentamento.

Organização do estado Melhoria em ritmo lento na organização e modernização do estado

Intensificação do processo de organização e modernização do aparelho do estado

Piora no funcionamento do aparelho do estado e aumento de escândalos e denúncias de corrupção.

Prioridades do estado

Manutenção da subordinação das políticas públicas à estabilidade macro econômica, sem atacar os problemas estruturais do país e sem criar as condições para um desenvolvimento mais sustentado.

Atendimento crescente das demandas sociais básicas, com equacionamento de reformas estruturais, criando as bases para um ciclo mais duradouro e sustentado de crescimento.

Dificuldade de controle da situação econômica combinada com impossibilidade de atendimento de demandas sociais e de crescimento.

Quadro 11: Cenários futuros para a próxima década 2003-2013. Fonte:Estudo Prospectivo da Cadeia Produtiva da Construção Civil – Questionário Delphi, (2003).

Page 113: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

113

Fator Crítico Resultado da análise da Prospecção da Cadeia Produtiva da Construção Civil

ACESSIBILIDADE À HABITAÇÃO

Acessibilidade Muito ligada a economia. Deve crescer independente do cenário, mas cresce mais no cenário otimista.

Amplitude do financiamento público e privado

Forte dependência do crescimento econômico da taxa de juros. Deverá permanecer baixa no cenário tendencial, passar a média e alta no cenário otimista e muito baixa no pessimista.

Fontes de financiamento

Tendência de diminuição das fontes públicas e de aumento das fontes privadas, em qualquer cenário.

Disponibilidade de terrenos e infraestrutura

Ë possível que tenha maior disponibilidade no futuro em função das tendências de crescimento da rede urbana brasileira, principalmente as que apontam crescimento dos aglomerados urbanos e cidades médias em relação às regiões metropolitanas.

Incidência de produção informal Deverá diminuir, mas deverá permanecer alta mesmo no cenário otimista.

Apoio a autoconstrução No caso de renda mais alta deverá se ampliar.

Déficit habitacional No cenário otimista deverá cair 30% em relação aos níveis atuais e no pessimista aumenta 33% em relação ao número atual. Porém em números absolutos tende a permanecer elevado , mesmo no cenário otimista.

QUALIDADE

Qualidade da habitação

É satisfatória no padrão alto, média no padrão médio e insatisfatória no padrão baixo. A tendência é aumentar passando a plenamente satisfatório/satisfatório para os padrões alto e médio e regular para o popular. O requisito pior avaliado é a eficiência ambiental e o melhor avaliado a segurança estrutural. Porém o primeiro deverá apresentar maior avanço no futuro.

Normalização técnica

A tendência é de melhora e no cenário pessimista não piora. Há percepção de que a normalização formal evoluirá positivamente, em função da modernização do setor e do aumento das exigências legais. As dificuldades maiores estão na efetiva aplicação.

Apoio organizacional e institucional à qualidade

Houve aumento nos últimos 10 anos e a tendência é de aumento, sendo que os cenários apenas alteram a velocidade. São apontadas dificuldades ligadas às desigualdades regionais. Na área da qualidade, são apontadas necessidades de efetiva aplicação e avaliação de resultados dos programas implementados.

Conhecimento das necessidades do consumidor

Tende a aumentar independentemente dos cenários econômicos. Há disparidades regionais importantes: nos grandes centros já há práticas de pesquisa de mercado, ao contrário de outras regiões.

Conformidade de componentes e materiais

Tendência é de aumentar, ainda que deva ser considerada diferenciação nos produtos e nas regiões do país.

TECNOLOGIA E GESTÃO

Processo de projeto Tendência de melhoria no futuro. Uma tendência que pode se transformar em estratégia é a concentração de esforços para disseminar os avanços já obtidos, para o conjunto das empresas.

Avanço tecnológico Os fatores mais atrasados são: ampliação do mercado de componentes pré-fabricados, grau de formalidade da mão de obra e modernização dos códigos de obra. Estes fatores tendem avançar passando a avançado no cenário otimista.

Produtividade Aumenta 8% no cenário tendencial, 23% no cenário otimista e mantém-se constante no cenário pessimista, em relação aos níveis atuais.

Custo da construção Tendência de manutenção ou aumento pequeno no custo global e nos seus componentes: material e mão de obra. A incidência de mão de obra/custo global tende a cair um pouco.

Pesquisa tecnológica Tende a aumentar. Quanto as áreas de pesquisa prospectadas, todas são consideradas de importância estratégica.

Quadro 12: Análise da Prospecção da Cadeia Produtiva da Construção Civil. Fonte: Estudo Prospectivo da Cadeia Produtiva da Construção Civil – Relatório Final, (2003)

Page 114: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

114

5.3 MODELAGEM CONCEITUAL DA PROPOSTA 5.3.1 Considerações Iniciais

A política para desenvolvimento do setor da construção civil para a próxima

década indica a necessidade de se investir em tecnologia, gestão e capacitação,

quaisquer que sejam os cenários adotados. Assim sendo, após analisar a estrutura

de três universidades corporativas é possível apresentar uma proposta de um

modelo para implantação de uma universidade para o setor da construção civil.

Na criação de uma universidade corporativa têm – se como objetivo aumentar

a produtividade da força de trabalho e criar uma vantagem competitiva no mercado.

Uma universidade corporativa é um núcleo de formação e aperfeiçoamento contínuo

patrocinado por uma organização e destinado a satisfazer as necessidades de

desenvolvimento profissional de seus colaboradores, bem como de fornecedores,

representantes, pessoal de assistência técnica e, até mesmo, clientes. Esta se

constitui em um forte pólo de irradiação e consolidação da cultura empresarial.

Tornar – se uma instituição em que o aprendizado seja permanente é um dos

objetivos fundamentais das empresas que possuem uma universidade corporativa.

No caso da construção civil essa universidade teria como objetivo levantar as

necessidades de treinamento e desenvolvimento de pessoal, bem como as de

pesquisa para buscar e/ou desenvolver, interna e externamente, os cursos e as

informações necessárias à satisfação dessas necessidades. Além disso, é também

objetivo identificar tendências para o mercado construtor em termos de gestão,

tecnologia, serviços, marketing, etc.

No modelo de Meister (1999) a universidade corporativa é vista como um

órgão que oferece aos seus participantes um ambiente moderno, sistematizando e

agilizando seus esforços de aprendizagem e desenvolvimento. Funciona como uma

empresa cuja responsabilidade é operar como uma unidade de negócio,

desenvolvendo idéias - orientadas para o negócio - vinculadas às questões

estratégicas da empresa. Os resultados podem ser mensurados através dos

produtos e serviços oferecidos pela universidade, tanto no âmbito de processo

quanto de resultado.

Page 115: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

115

A criação de uma estrutura de aprendizagem, ou seja, o lançamento de uma

universidade corporativa gera um processo que passa por várias fases. Todas as

etapas são fundamentais para o seu desenvolvimento e englobam dez componentes

fundamentais como já exposto no capítulo 2 deste trabalho.

5.3.2 Os Critérios Componentes de uma Universidade Corporativa para a Indústria

da Construção Civil

No Brasil, país de dimensões continentais, não se pode pensar em buscar

soluções para o problema de propiciar capacitação profissional a uma grande massa

de trabalhadores sem inovar. A retomada do crescimento está associada à

educação, isto é infundir valores éticos, morais, erradicar o analfabetismo e ainda

criar as condições de uma ampla e variada possibilidade de qualificação profissional

a sua força de trabalho e, em especial a da construção civil de tão significativa

participação no PIB nacional.

Para tanto, apresenta-se um projeto de modelagem da proposta de uma UC

para esse setor, a partir dos dez componentes fundamentais, preconizados por

Meister (1999), para o estabelecimento de um projeto de uma universidade

corporativa.

1) Controle

Para dar início ao projeto há necessidade de se formar um sistema de

controle. Caberá a este órgão a responsabilidade de definir a política de

aprendizagem da organização.

Seu primeiro papel é o de identificar e priorizar as necessidades de

aprendizagem vinculando os treinamentos às necessidades estratégicas do setor.

Cabe também a este órgão orientar o desenvolvimento de uma filosofia de

aprendizagem, desde o projeto até as avaliações dos resultados.

No modelo proposto em virtude das experiências existentes na atuação como

parceiros ou promotores de desenvolvimento e/ou capacitação de pessoas5 o

5 Projeto de Apoio Tecnológico e Gerencial a Empresas de Construção Civil de Pequeno Porte – parceria entre o SINDUSCON-RS, o SEBRAE-RS, A UFRGS e a Fundação de Ciência e Tecnologia – CIENTEC

Page 116: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

116

contexto empresarial, ou órgão controlador, propõe-se que seja exercido de forma

colegiada pelas instituições representativas em nível federal tanto patronais como

dos empregados.

O funcionamento desse Colegiado foi estruturado como uma federação, figura

8, o que permite uma descentralização na oferta de treinamento. Nesse cenário o

Colegiado centraliza a administração e a avaliação da aprendizagem dos

participantes, porém regionaliza a apresentação dos programas de aprendizado.

Para ser membro do colegiado há necessidade de atender aos seguintes

critérios:

1. possuir uma ampla perspectiva das necessidades futuras do setor da

construção civil, para orientar quanto à criação de um mapa de aprendizagem e

desenvolvimento para a comunidade envolvida.

2. ser respeitado pela comunidade técnica.

3. ter capacidade de comunicar e divulgar o programa para a comunidade

envolvida.

Cabe ainda a esse Colegiado fazer a conexão da universidade com os

especialistas das áreas afins para discutir determinados tópicos que possam a vir a

ser incluídos no currículo da universidade

Políticas de aprendizagem

Seleção e gerenciamento de fornecedores

Avaliação de desempenho

Treinamento específico

Figura 8: Sistema de Controle da Universidade Corporativa da Construção Civil

Projeto Alfabetizar é Construir – SINDUSCON-RJ Clube da Qualidade – SINDUSCON e SENAI-RJ.

COLEGIADO

REGIONALA REGIONAL

B

REGIONALC

Page 117: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

117

2) Visão/Missão

A criação de uma visão/missão é fundamental para a imagem de grupo. O

efeito dessa visão é o de clarear a direção na qual a universidade deve caminhar. A

visão não deve envolver somente o presente, mas também a evolução. Ela deve

sinalizar o compromisso de não apenas oferecer educação de primeira linha, mas

também de estar ativamente envolvida na transferência da aprendizagem para toda

a cadeia produtiva.

3) Definir Alcance das Operações e da Estratégia de Obtenção de Recursos

De início a universidade corporativa precisa definir o alcance de suas

operações, ou seja, o leque de pessoas atendidas e os programas oferecidos a

cadeia produtiva da construção civil.

Existem duas áreas em que podem ser agrupados os objetivos de uma

universidade corporativa que são: a de agente de mudanças culturais e de

desenvolvimento de qualificações baseadas em competências. No caso desse

modelo a prioridade está na segunda área, sem, entretanto, desconsiderar a

primeira.

Depois de estabelecer a área de abrangência das operações da universidade

é necessário definir as fontes de receita. Linhas de financiamento governamentais - ,

como o Fundo de Amparo ao Trabalhador-FAT - específicos para capacitação

profissional podem ser solicitadas para subsidiar um programa de qualificação de

profissionais nas regiões abrangidas pela universidade. Outra fonte é a cobrança de

serviços prestados às empresas que fazem parte da cadeia produtiva, que podem

solicitar treinamentos específicos para o seu quadro funcional, reduzindo os custos

envolvidos. Este tipo de treinamento foi utilizado pelo SINDUSCON – RJ para

implantação do Programa Brasileiro de Qualidade Habitacional PBQH.

4) Criação de uma Organização

A organização de uma universidade corporativa envolve alguns aspectos de

centralização e descentralização. As funções estratégicas devem ser centralizadas e

a responsabilidade pela apresentação para cada local e/ou região descentralizadas.

Page 118: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

118

A figura 9 apresenta um exemplo das funções que são mais bem desempenhadas

quando centralizadas e das que funcionam assim quando descentralizadas.

CENTRALIZAÇÃO DESCENTRALIZAÇÃO

Centralização das Funções de e Aprendizagem Desenvolvimento

Descentralização das Funções de Aprendizagem e Desenvolvimento

Conselho consultivo de treinamento

Filosofia de aprendizagem

Processos e procedimentos comuns de aprendizagem

Seleção e gerenciamento de fornecedores Identificação de necessidades

futuras de aprendizagem Aprovação de mapas para

famílias de cargos

Sua Função de Aprendizagem na

Corporação

Tradução da filosofia de aprendizagem para programas locais

Recomendação dos parceiros locais de aprendizagem

Apresentação no local

Fóruns para compartilhamento das melhores práticas/comunidades de prática

Figura 9: Centralização X descentralização Fonte: Baseado em Meister, (1999).

5) Partes Interessadas

O modelo proposto inclui toda a cadeia produtiva, ou seja, todos os

profissionais que atuam no sistema que compõe a Indústria da Construção Civil e os

que desejarem ingressar no setor. Nesse público estão incluídos os trabalhadores

que atuam de maneira formal ou informal no setor, e principalmente os que são

dispensados ao fim das obras. No caso da dispensa, estes cursos teriam como

objetivo aumentar a empregabilidade do trabalhador e seriam patrocinados pelos

empregadores que os dispensou.

Uma vez definido o público-alvo identifica-se as necessidades dessa clientela

focando os problemas empresariais e as lacunas existentes entre as qualificações,

competências e conhecimento atuais e futuros, necessários para cumprimento das

metas estabelecidas para o desenvolvimento.

Page 119: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

119

6) Criar Produtos como Solução de Aprendizagem

Estando claro quais são as qualificações, o conhecimento e as competências

que serão necessárias para atender o cenário projetado para a construção civil,

deve-se desenvolver um modelo de soluções de aprendizagem que incluam não

apenas cursos técnicos, mas também soluções de desempenho abrangentes e

integradas.

7) Selecionar Parceiros de Aprendizagem

Com o modelo de aprendizagem desenvolvido passa-se a seleção dos

parceiros que vão desde fornecedores de treinamento, consultores, instituições de

ensino superior, além de instituições de ensino profissional como SENAI, SENAC

SEBRAE etc

Meister (1999) desenvolveu um roteiro para articular os critérios específicos

que determinam a escolha de um parceiro de aprendizagem. Alguns podem ser

adotados pelo modelo proposto, são eles:

Compartilhamento da visão segundo a qual o serviço aos clientes, a

inovação e a melhoria contínua são essenciais ao sucesso;

Expectativas claras quanto à definição dos objetivos do aprendizado e

desenvolvimento de cursos;

Flexibilidade e receptividade na formação da aliança empresa/escola.

Isso pode incluir aulas no próprio ambiente de negócios, compartilhar bibliotecas,

laboratórios ou equipamentos etc;

Necessidades e metas complementares;

Reputação e prestígio da instituição educacional;

Capacidade de desenvolver uma trajetória de estudo que leve a um

“novo” programa reconhecido;

Mente aberta a experiências com tecnologias para acelerar a

aprendizagem;

Posse de direitos de propriedade intelectual claramente delineados

desde o início da parceria;

Recursos e rede de educação globais;

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120

Compromisso com o diálogo aberto e com a renovação contínua da

parceria através da atualização das idéias.

8) Esboçar uma Estratégia de Tecnologia

No aspecto global, a competitividade, a concorrência, a entrada de novas

informações estão permitindo a penetração também da tecnologia na aprendizagem.

Os treinamentos em sua maioria ainda são exercidos dentro do formato

presencial, entretanto, a utilização de alguns recursos já faz parte desse contexto há

algum tempo. Mas, a aprendizagem baseada na tecnologia vem ganhando espaço

em conseqüência desses avanços tecnológicos.

Alguns dos caminhos da tecnologia que podem ser utilizados para a

aprendizagem são:

TECNOLOGIA BENEFÍCIO

Via Satélite (televisão)

Permite treinar um grande número de pessoas

em um período menor.

Reduz custos de viagem e o tempo de

afastamento do empregado.

Permite interação em tempo real.

Aprendizagem

multimídia (Intranet)

Acesso rápido a informação.

Horário flexível

Agrega animação, vídeo e áudio.

Via Internet Cria um banco de dados de conhecimento

Permite compartilhamento de informações

Via Web

Horário flexível

Permite personalizar experiências de

aprendizagem

Campus Virtual Os programa são oferecidos via Internet, mas

são desenvolvidos de forma personalizada.

Page 121: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

121

Pelas características dos clientes que compõem a cadeia produtiva da

construção civil cujo perfil, em sua maioria, é de baixa escolaridade os cursos

presenciais deverão ter prioridade num primeiro momento. Não podemos, entretanto,

prescindir da tecnologia da informação que viabiliza o ensino à distância, levando

esta universidade corporativa a qualquer região do país com a utilização de satélites

e da televisão. Esta é uma tecnologia democrática que faculta fácil acesso a

qualquer hora, através desse poderoso veículo de comunicação social. Porém, se

analisarmos a variedade de tecnologias existentes, o uso de uma combinação de

tecnologias para distribuir a aprendizagem com acesso em suas organizações via

computador pessoal usando a intranet ou um sistema eletrônico de desempenho – o

que compreende a aprendizagem na estação de trabalho; aprendizagem a distância

- via Internet ou via televisão - e até mesmo laboratórios centralizados de

aprendizagem onde as pessoas podem estudar no computador no horário de almoço

ou após o trabalho. São soluções que viabilização a proposta.

9) Criar um Sistema de Avaliação

O principal objetivo do lançamento de uma universidade corporativa é

institucionalizar uma cultura de aprendizagem contínua, vinculada às estratégias

empresariais. Para isso é necessário desenvolver um sistema de avaliação que

permita medir se a universidade corporativa está proporcionando impacto nos

negócios.

O quadro 13 apresenta uma proposta de indicadores que têm a função de auxiliar o

processo de avaliação da UC. Buscou-se com esses indicadores criar um conjunto

de dados - que possibilite uma análise de forma integrada - que poderão ser

utilizados nos processos de capacitação implementados pelas universidades a fim

de avaliar sua eficiência e eficácia e os impactos nos resultados alcançados pelas

empresas.

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122

Indicadores para a UC

CRITÉRIOS INDICADORES CÁLCULO

Índice de horas de treinamento

Horas de treinamento/número de participantes

Índice de autodesenvolvimento

Número de horas de treinamento/ número de acessos diferenciados

Índice de assiduidade dos alunos

Número de alunos presentes/número total de participantes

Aprendizado/ Crescimento

Capacidade do setor de melhorar e se preparar

para o futuro

Índice de participação por empresas

Publico efetivo/público estimado

Processo

Em quais processos o setor precisa de

excelência

Índice de desenvolvimento de novos projetos

Projetos apresentados/projetos implementados

Índice de satisfação dos clientes

Número de reclamações/número de atendimentos

Índice conquista de novos clientes

Número de novos clientes/número total de clientes

Clientes

Como a empresa é vista pelos clientes e como

pode atendê-los melhor Índice de avaliação da imagem da universidade

Citações positivas/número de citações

Índice de redução de custos

Custo-hora de treinamento/ média de mercado

P L A N E J A M E N T O E S T R A T E G I C O

C O P E T Ê N C I A S N E C E S S Á R I A S

Financeiro

Como a empresa é vista pelos acionistas e

proprietários Índice de capital alocado a UC

R$ destinado a UC/resultados da universidade

Quadro: 13 - Indicadores de desempenho para a universidade corporativa.

Page 123: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

123

10) Comunicar

O último passo do projeto é a comunicação. Considerar a universidade como

se fosse um produto, para a comunicação é imprescindível. Devem ser criados

veículos marcantes de comunicação, desenvolvendo na mente de sua clientela um

benefício motivador que só ela é capaz de proporcionar.

Além de fazer propaganda, é fundamental a divulgação do sucesso da

universidade, com o intuito de mostrar o que está sendo feito e como isso está

influenciando o desempenho do trabalho na cadeia produtiva.

Ao analisar o modelo desenvolvido para implantação de uma UC em

organizações empresariais e, a partir dessa análise buscar uma adaptação

conceitual e propor sua implantação em um setor produtivo, onde o universo deixa

de ser uma empresa, mas um conjunto de empresas como as do setor da

construção civil, busca-se consolidar a proposta de educação continuada, baseada

em um planejamento globalizado para o setor.

Atualmente as empresas através dos SINDUSCON’s já atuam de forma

conjunta para qualificação de seus empregados. Porém, uma grande parcela da

massa de trabalhadores da construção não tem acesso a essa qualificação. Isto se

reflete nos índices de produtividade, baixa qualificação do setor e nos custos dos

empreendimentos.

Ao propor o modelo busca-se uma política de educação/formação profissional

planejada e baseada em necessidades para atendimento do cenário de

desenvolvimento nacional.

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124

6 CONCLUSÃO Neste capítulo constata-se se as suposições iniciais de pesquisa foram ou

não confirmadas e são apresentadas as respostas à indagação central do trabalho.

As conclusões partem das reflexões feitas com relação ao confronto da

prática observada no estudo de caso das três empresas enfocadas neste trabalho:

Amil, Telemar e BankBoston e a proposta de critérios para criação de uma

universidade corporativa para a construção civil.

Aspectos como privatização, regulamentação ou desregulamentação

governamental, entrada de novos competidores, exposição à competição global e

desbravamento de novos negócios estão presentes nos casos estudados. Em

função disso, a sobrevivência das organizações tem forçado as empresas a

significativas mudanças no seu ambiente de negócios fazendo com que a

reorganização contínua desse ambiente seja uma característica de nosso tempo.

Essas mudanças solicitam a criação e a disseminação de novos conhecimentos e

desenvolvimento de novas competências pois, de outra maneira a organização

estaria ameaçada.

Analisando a prática das 3 empresas pesquisadas percebe-se que todas

seguiram o mesmo roteiro de implantação e implementação, ou seja, o proposto por

Meister (1999).

As organizações pesquisadas criaram suas universidades corporativas

acreditando nas possibilidades desse modelo e implementaram um processo de

aprendizagem contínua e permanente relacionada às necessidades do negócio,

deixando para trás o treinamento e desenvolvimento concebido como evento isolado

e com pouco foco nos objetivos estratégicos.

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125

Nos casos estudados há uma constante preocupação das empresas em

oferecer programas de educação corporativa aos seus funcionários e ao seu sistema

de valor. As empresas pesquisadas apresentam estatísticas de destaque em termos

de média anual de horas de treinamento por funcionário e número médio de cursos

freqüentados por funcionário

Entretanto as metodologias educacionais não podem ser consideradas

inovadoras. O método de ensino presencial é dominante e prioritário dentre elas. O

e-learning, que tem despontado como grande inovação neste campo, apesar de

adotado em todas não se configura como prática dominante. Mesmo na UNITE, que

procura ter o ensino à distância como base, essa metodologia ainda não foi

plenamente absorvida pelos empregados, requerendo um trabalho adicional na

cultura da organização.

Importantes possibilidades de atuação das UC abrem-se quanto à

contribuição aos sistemas de gestão por competências. A pesquisa revelou que

estes sistemas estão em fase de implantação nas empresas e que as UC são

solicitadas em certos casos a gerenciar esses processos. Relevantes dificuldades de

aceitação da implantação das UC não foram percebidas e nem relatadas nas

entrevistas.

Outro aspecto importante é a parceria entre empresas e universidades oficiais

ou formais, que tendem a se intensificar. Observou-se, neste estudo através da

pesquisa efetuada, que as UC’s têm parceria com as melhores faculdades, ou seja,

as empresas estão buscando a sinergia entre o conhecimento acadêmico e as

práticas de gestão.

Pode-se dizer que as principais possibilidades que uma empresa encontra ao

estabelecer uma UC são:

o desenvolvimento de pessoas nas organizações passa a ter caráter

contínuo e permanente e vincula-se aos objetivos do negócio;

• os parceiros do negócio são incluídos no processo de aprendizagem

contínua das UC, o que possibilita reforçar as alianças estratégicas;

Entretanto, nas empresas estudadas existem algumas limitações, que são:

Page 126: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

126

possível resistência ao compartilhamento de conhecimentos entre os

colaboradores;

dificuldade de adaptação às novas tecnologias de ensino;

cultura do autodesenvolvimento ainda não é prática comum entre os

empregados;

inexistência de uma avaliação da UC enquanto unidade de negócio, que

possibilite determinar sua eficiência e eficácia;

falta de indicadores que permitam medir sua influência nos resultados da

empresa – sejam eles positivos ou não.

Respondendo a questão que suscitou o trabalho aqui consolidado -

estabelecer uma proposta de critérios para desenvolvimento de um modelo para

uma universidade corporativa para a indústria da construção civil, onde a

implantação ou a ideação mostre os possíveis caminhos para eficiência de uma

universidade no setor - pode-se dizer que apesar de já terem sido implantadas em

várias empresas, e, não existirem indicadores dos resultados alcançados com a

adoção das universidades corporativas que possam aferir o retorno de sua atuação,

é inegável que a ótica proposta para existência das universidades corporativas

valoriza, provoca um enriquecimento e uma evolução às funções da área de T&D.

A educação profissional passa a receber uma maior atenção do alto escalão

das organizações e, com isso, a área de recursos humanos ou de gestão de

pessoas atrela-se e torna-se efetivamente considerada nas estratégias da

organização, tendo maior relevância no escopo da estratégia organizacional.

No caso da construção civil apesar de existirem experiências de atuação na

área de capacitação profissional, em diversos sindicatos da construção espalhados

pelo país, há necessidade de uma diretriz comum para que, com a participação

dessa importante cadeia produtiva, o país consolide seu desenvolvimento e atenda

ao cenário delineado no Estudo Prospectivo da Cadeia Produtiva da Construção

Civil (2003).

Para tanto, há necessidade de serem estabelecidos planos nacionais para o

setor para que possa ser revertido o costume de se ofertarem cursos disponíveis na

praça repetidos a cada ano, que não atendem necessariamente às necessidades e

realidades demandadas.

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127

Baseado em cenários desenvolvidos no Programa Brasileiro de Prospectiva

Tecnológica Industrial é necessário o estabelecimento de um planejamento

estratégico global para o setor da construção civil.

Sob a coordenação das entidades sindicais, tais como os das categorias

empresariais e dos trabalhadores, em conjunto com órgãos governamentais como as

do trabalho e desenvolvimento, deverão ser firmados convênios, termos de

cooperação técnica, protocolos de intenções, com toda rede de ensino profissional

do país; que dará o suporte às ações de qualificação profissional.

A universidade corporativa é, numa adaptação a definição de Meister (1999),

“o guarda –chuva estratégico para o desenvolvimento e educação de pessoas que

compõem uma cadeia produtiva, com o objetivo de atender às metas e estratégias

necessárias para o setor”.

A proposta aqui apresentada é o esboço de um modelo que visou adaptar a

utilização dos critérios preconizados para implantação de uma universidade

corporativa de um horizonte empresarial para o de um setor produtivo.

Além disso, sugere-se que se aprofundem os estudos quanto aos indicadores

para avaliação das universidades corporativas. Estes estudos deverão focar a

filosofia de que estas funcionam como uma prestadora de serviço para a

organização e precisam ser avaliadas quanto à sua produtividade e retorno, como

qualquer unidade de negócio.

Finalizando, o conceito básico e fundamental que permeia a proposta como

um todo é propiciar as condições para que as pessoas envolvidas com o setor da

construção civil, se capacitem profissionalmente e se qualifiquem para participar da

mudança do setor, através da absorção dos conhecimentos que facultarão o

aumento da qualidade, da produtividade e da redução de custos de que este setor

produtivo e o país tanto precisam.

Vale ressaltar que as conclusões aqui expostas estão referidas aos casos

estudados, o que não permite generalizações.

Page 128: 2-A Uc Como Fator de Sustentabilidade rial

128

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134

GLOSSÁRIO

Educação Corporativa: processo integrado de treinamento, desenvolvimento e

educação de pessoas, aplicado a toda uma organização, visando o desenvolvimento

de seus empregados e da organização.

Universidade Corporativa: entidade educacional de uma organização que promove a

educação corporativa com o objetivo de atender às suas estratégias. Podem ser

denominadas, também, de academia corporativa, instituto de aprendizagem,

faculdade ou escola empresarial.

Gestão do Conhecimento: é o processo sistemático de identificação, criação,

renovação e aplicação dos conhecimentos que são estratégicos na vida de uma

organização. É a administração dos ativos de conhecimento das organizações.

Permite à organização saber o que ela sabe.

Eficiência: medida do rendimento individual dos componentes do sistema. É fazer

certo o que está sendo feito. Refere-se à otimização dos recursos para obtenção dos

resultados. Eficácia: medida do rendimento global do sistema. É fazer o que é preciso ser feito.

Refere-se à contribuição dos resultados obtidos para alcance dos objetivos globais

da empresa.

Ensino à Distância - EAD: é uma metodologia de ensino que apresenta

características de flexibilidade de espaço e tempo que podem se adaptar às diversas

demandas. É considerada uma metodologia voltada para atender adultos com

compromissos familiares e profissionais, pois permite a continuação dos estudos

sem o abandono de outras atividades.