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1º Consenso de Cirurgia de Glaucoma Apoio Marcelo Palis Ventura Carlos Akira Omi Emílio Rintaro Suzuki Jr. Ivan Maynart Tavares Luiz Alberto Soares de Melo Jr.

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1º Consenso de Cirurgia de Glaucoma

Apoio

Marcelo Palis Ventura

Carlos Akira Omi

Emílio Rintaro Suzuki Jr.

Ivan Maynart Tavares

Luiz Alberto Soares de Melo Jr.

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Marcelo Palis Ventura

Carlos Akira Omi

Emílio Rintaro Suzuki Jr.

Ivan Maynart Tavares

Luiz Alberto Soares de Melo Junior.

1° CONSENSO DE CIRURGIA DE GLAUCOMA

2017

1ª EDIÇÃO

São Paulo

Maio/2017

Ipsis Gráfica e Editora

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Índice Apresentação .................................................................................................4

Prefácio ..........................................................................................................5

Agradecimentos..............................................................................................6

Participantes...................................................................................................7

Gestão SBG e Comissão Organizadora ..........................................................19

Sobre o Consenso: Metodologia e Organização ...........................................20

Cap. 1 – Iridotomia/Iridectomia a Laser.........................................................22

Cap. 2 – Trabeculoplastia a Laser ..................................................................28

Cap. 3 – Trabeculectomia.............................................................................. 37

Cap. 4 – Cirurgias Não Penetrantes ...............................................................48

Cap. 5 – Implantes de Drenagem ...................................................................55

Cap. 6 – Trabeculotomia e Goniotomia..........................................................65

Cap. 7 – Cirurgias para Glaucoma Minimamente Invasivas (MIGS) ...............77

Cap. 8 – Extração de Cristalino e Glaucoma ...................................................85

Cap. 9 – Cirurgia combinada: Catarata e Glaucoma....................................... 95

Cap. 10 – Procedimentos Ciclodestrutivos.....................................................105

Cap. 11 – Cicatrização Conjuntival e Reoperações.........................................113

Conclusão.......................................................................................................123

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Apresentação

Em linha com o compromisso de promover a divulgação e ampliação do

conhecimento e aprimoramento técnico/científico na área da oftalmologia

brasileira, com enfoque em doença glaucomatosa, a Sociedade Brasileira de

Glaucoma realizou, em 8 de abril de 2017

1º Consenso de

Cirurgia de Glaucoma

Para a execução de tão grandioso evento, foram despendidas horas de

dedicação, estudo, preparo e intensas discussões nos temas apresentados por

todos os participantes. Materiais bibliográficos somados à vasta experiência do

grupo permitiram um evento dinâmico e produtivo, que retorna à sociedade

com a divulgação deste rico conteúdo aqui presente.

Ressalva-se já, neste ponto, que o material aqui exposto não estabelece norma

de conduta obrigatória, e sim um compêndio de opiniões, experiências e

orientações discutidas pelo grupo de participantes em tal evento, de forma que

não se deve, sob nenhuma circunstância, utilizar-se deste como julgamento de

condutas médicas diversas no âmbito do manejo cirúrgico de glaucoma.

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Prefácio A Sociedade Brasileira de Glaucoma teve o privilégio de conduzir, mais uma vez,

um grande projeto educacional no Brasil – o 1º Consenso de Cirurgia de

Glaucoma.

Os mais ilustres professores, especialistas, pesquisadores e renomados

cirurgiões de glaucoma brasileiros participaram com afinco e dedicação de um

processo minucioso, porém com objetivos claros de mostrar a atual tendência

brasileira no tratamento cirúrgico de glaucoma.

Este trabalho em plataforma inédita de acolhimento das informações e

discussões, totalmente via internet, mostrou ser possível simplificar um tema

tão obtuso e difícil em um único encontro presencial. Alguns ajustes mais

polêmicos foram abertos à discussão quando necessário, na tentativa de

exaurir quaisquer dúvidas sobre determinado tema antes da votação final. O

objetivo de toda esta logística, a despeito de muitas votações repetitivas, era

tornar o mais objetivo possível algumas posições cirúrgicas atualmente

controversas.

Este Consenso expressa o que a maioria dos participantes, ao longo de suas

experiências e atualizações científicas, apontam como pontos consensuais no

momento. Certamente, os próximos consensos serão diferentes, com pontos

consensuais diferentes, pois inovações aparecerão, próprio do dinamismo da

medicina.

Esperamos que este belo trabalho sirva como um apoio a mais para nossa

incansável tarefa de combater a cegueira por glaucoma.

“Uma mudança deixa sempre patamares

para uma nova mudança. ” N. Maquiavel

Editores

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Agradecimentos

Terminado este nosso 1º Consenso de Cirurgia de

Glaucoma gostaria de agradecer em nome da

Sociedade Brasileira de Glaucoma a todos os

participantes que ao longo de várias semanas se

dedicaram a estudar e discutir este tema tão

fascinante que é a cirurgia de glaucoma. Este

esforço gerou um rico conjunto de informações

que será difundido aos colegas oftalmologistas do

Brasil favorecendo o tratamento cirúrgico

adequado de glaucoma.

Este Consenso teve o apoio incondicional da Glaukos que procurou, de modo

ético e competente, proporcionar as condições ideais para o desenvolvimento

deste projeto.

Agradeço de modo especial aos colegas Carlos Akira Omi, Emilio Rintaro Suzuki

Jr., Ivan Maynart Tavares e Luiz Alberto Soares de Melo Jr., editores do Consenso,

que não mediram esforços para que chegássemos a um resultado tão satisfatório,

rico em conhecimento e informações relevantes.

Por último, mas não menos importante agradeço a Sra. Bete Fruchi, secretária

da SBG que, não só neste Consenso, mas também ao longo dos anos, tem se

dedicado à nossa Sociedade com esmero e competência.

Espero que todos apreciem este novo trabalho da SBG.

Abraços,

Marcelo Palis Ventura

Presidente

Sociedade Brasileira de

Glaucoma

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Participantes Alberto Diniz Filho

Doutor em Oftalmologia pela Universidade Federal de Minas Gerais

(UFMG).

Pós-Doutorado em Glaucoma pela Universidade da Califórnia, San

Diego (UCSD), Estados Unidos.

Médico do Serviço de Glaucoma do Hospital São Geraldo.

Alberto Jorge Betinjane

Professor-Associado e Livre-Docente da USP

Alexandre Soares Castro Reis

Assistente do Setor de Glaucoma, UNICAMP

Doutor em Ciências Médicas pela USP

Ana Carolina Pasquini Raiza

Doutora em Medicina pela Universidade Estadual Paulista,

especializada em oftalmologia pela Universidade de São Paulo (USP)

Especialista pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia

Médica colaboradora do serviço de residência médica do Hospital das

Clínicas.

Ana Claudia Alves Pereira

Mestre e Doutor em Oftalmologia pela UNIFESP.

Professor Adjunto da UEMS e UFMS- Campo Grande/ MS.

Chefe do Setor de Glaucoma do Hospital de Olhos MS.

André Luiz de Freitas

Especialista em glaucoma pela UNIFESP.

Diretor do serviço de Oftalmologia do Hospital do Servidor Público

Estadual – HSPE.

Médico-colaborador do setor de glaucoma da UNIFESP.

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Andrea Kara José Cotait Senra

Doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

Colaboradora do setor de Glaucoma da UNIFESP

Fellowship em Glaucoma e Córnea pela UNIFESP e pela Northwestern

University - Chicago, EUA

Augusto Paranhos Jr.

Professor Adjunto Livre Docente da Escola Paulista de Medicina

Bruno Pimentel de Figueiredo

Doutor em Oftalmologia pela UFMG

Médico assistente do serviço de Glaucoma e Catarata da Santa Casa de

Belo Horizonte

Camila Fonseca Netto

Chefe do Setor de Glaucoma Infantil - Unifesp/EPM

Pos-Doctoral Fellowship New York Eye and Ear Infirmary- NYC/ USA

Doutoranda em Oftalmologia Unifesp-EPM

Carlos Akira Omi

Presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma na Gestão 2007-2009,

Mestre e Doutor em Oftalmologia pela Universidade Federal de São

Paulo (UNIFESP-EPM)

Carlos Rubens Lucas de Figueiredo

Professor colaborador curso de pós-graduação da Santa Casa de Belo

Horizonte. Pos graduação em Glaucoma na Universidade de Londres

Carmo Mandia Jr

Professor Doutor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de

São Paulo

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Christiana Rebello Hilgert

Mestre em Ciências pela UNIFESP - Escola Paulista de Medicina

Preceptora do Serviço de Residência Médica da Santa Casa de Campo

Grande - MS

Chefe do Departamento de Glaucoma do Instituto da Visão de MS

Christiane Rolim de Moura

Professora Afiliada do Departamento de Oftalmologia e Ciências

Visuais da UNIFESP

Doutora em Ciências,

Mestre em Oftalmologia

Clarice Freire Dayrell de Souza

Associada ao Departamento de Glaucoma do Centro Oftalmológico de

Minas Gerais

Professora de Oftalmologia da PUC MINAS

Mentora do curso de Especialização Médica do Centro Oftalmológico

de Minas Gerais

Claudia Galvão Brochado Silva

Especialista em Glaucoma pela Unifesp EPM

Especialista em Ultrassonografia pela Unifesp EPM

Vice-presidente da Associação Baiana de Medicina.

Cristiano Caixeta Umbelino

Prof Assistente do Departamento de Oftalmologia da Santa Casa de

São Paulo

Mestre em Medicina pelo Departamento de Medicina Molecular da

Santa Casa de São Paulo

Emilio Rintaro Suzuki Jr.

Professor Oftalmologia PUC -MG

Associado do departamento de Glaucoma do Centro Oftalmológico de

Minas Gerais

Associado do departamento de glaucoma da Oftalmoclínica Curitiba

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Fabio Nishimura Kanadani

Chefe da Oftalmologia do Instituto de Olhos Ciências Médicas

Professor Titular da Oftalmologia da Faculdade Ciências Médicas de

Belo Horizonte

Doutor pela UNIFESP

Felício Aristóteles da Silva

Doutor em Medicina e Pós-doutorado em Glaucoma na Universidade

Julius Maximiliam, Würzburg, Alemanha

Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma

Oftalmologista Associado do Centro de Oftalmologia Avançada (COA),

Belo Horizonte, MG

Francisco Eduardo Lopes de Lima

Doutor em Medicina pela USP

Professor Afiliado UFG

Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma

Geraldo Vicente de Almeida

Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de

São Paulo

Colaborador do Setor de Glaucoma da UNIFESP/EPM

Giovanni Nicola Umberto Italiano Colombini

Mestre em Oftalmologia pela UFRJ

Doutor em Oftalmologia pela UFMG

Professor Associado 4 pela UNIRIO

Responsável pela Disciplina de Oftalmologia da Escola de Medicina e

Cirurgia da UNIRIO

Heloisa Andrade Maestrini

Doutorado em Oftalmologia pela UFMG

Chefe do Serviço de Glaucoma do Hospital de Oftalmologia Oculares

em Belo Horizonte.

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Heloisa Helena Abil Russ Giacometti

Mestre em Oftalmologia -Unicamp

Doutorado em Oftalmologia -USP

Pós-doutorado -UNIFESP

Homero Gusmão de Almeida

Professor Adjunto da Faculdade de Medicina da UFMG

Chefe dos Departamentos de Glaucoma e de Catarata do Instituto de

Olhos de Belo Horizonte

Italo Mundialino Marcon

Mestre e Doutor em Oftalmologia pela UNIFESP

Livre Docente em Oftalmologia pela UFCSPA

Supervisor da Residência Medica em Oftalmologia da UFCSPA

Ivan Maynart Tavares

Professor Adjunto de Oftalmologia da EPM/UNIFESP. Doutorado e Pós-

Doutorado em Cirurgia Oftalmológica pela EPM/UNIFESP. Pós-

Doutorado, Clinical-Research Fellowship e Visiting Professorship em

Glaucoma pela University of California, San Diego (EUA).

Jair Giampani Jr.

Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP- SP)

Professor Adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Chefe do Serviço de Oftalmologia da Universidade Federal de Mato

Grosso (UFMT)

José Garone Gonçalves Lopes Filho

Doutorado em Medicina pela USP e Médico Assistente do Hosp do

Servidor Público Estadual de São Paulo

José Paulo Cabral de Vasconcellos

Professor Doutor MS3 pela Faculdade de Ciências Médicas da

UNICAMP

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Juscelino Kubstichek de Oliveira

Mestre Doutor pela Universidade Autônoma De Barcelona

CBV - Centro Brasileiro Da Visão - Brasília DF

Leopoldo Magacho dos Santos Silva

Doutor em Ciências Médicas (Oftalmologia) pela UNICAMP

Chefe do Setor de Glaucoma do Centro de Referência em Oftalmologia

da Universidade Federal de Goiás (CEROF-UFG)

Professor Afiliado e da Pós-Graduação da UFG

Lineu Oto Shiroma

Médico setor de glaucoma do Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem.

Fellow de glaucoma University of Florida - EUA

Fellow de glaucoma Unicamp - SP.

Lisandro Massanori Sakata

Chefe Servico de Glaucoma HC-UFPR

Doutor em Ciências HC-FMUSP

Especialização em Glaucoma - HC-FMUSP, University Alabama at

Birmingham, Singapore Eye Research Institute.

Luiz Alberto Soares de Melo Jr.

Doutor em Ciências pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP.

Chefe do Setor de Glaucoma do Departamento de Oftalmologia e

Ciências Visuais da Escola Paulista de Medicina - UNIFESP.

Marcelo Hatanaka

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da USP

Chefe do Serviço de Glaucoma da Clínica Oftalmológica do Hospital das

Clínicas da FMUSP

Marcelo Jordão Lopes da Silva

Doutor em Ciências Médicas UNICAMP

Doutor em Ciências Medicas FMRP - USP

MBA em Gestão da Saúde INEPAD - USP

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Marcelo Mendonça do Nascimento

Especialista em Glaucoma e Catarata pela UNIFESP e HARVARD

MEDICAL SCHOOL.

Fundador e Presidente da CLINICA GLAUKOS São José do Rio Preto -

São Paulo.

Marcelo Palis Ventura

Professor Associado da Faculdade de Medicina da Universidade

Federal Fluminense

Pós-Doutor pela McGill University, Montreal, Canadá

Presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma

Mauricio Della Paolera

Mestre e Doutor. Professor assistente do Departamento de

Oftalmologia Da Santa Casa de São Paulo

Nikias Alves da Silva

Doutor em Ciências Aplicadas à Cirurgia e à Oftalmologia pela UFMG

Chefe do Departamento de Glaucoma do Hospital Evangélico de BH

Membro do corpo clínico do Centro de Oftalmologia Avançada (COA)

Niro Kasahara

Médico chefe do setor de glaucoma da Irmandade da Santa Casa de

Misericórdia de São Paulo

Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de

São Paulo

Núbia Vanessa dos Anjos Lima Henrique de Faria

Doutora em Oftalmologia pela UFMG

Supervisora da Residência Oftalmologia HUB-CVB

Professora voluntária da FM- UnB

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Paulo Afonso Batista dos Santos

Doutor pela USP - Ribeirão Preto

Professor Associado IV da Fameb - UFBa

Chefe do setor de Glaucoma do C-HUPES - UFBa.

Paulo Augusto de Arruda Mello

Professor Titular de Oftalmologia da UNIFESP - EPM

Ex-presidente da Sociedade Brasileira, da Sociedade Pan Americana e

da Sociedade Latino Americana de Glaucoma

Presidente do Conselho Brasileiro do Oftalmologia na gestão 2009 /

2011

Paulo Eduardo Casarin Comegno

Ex Fellow Mass Eye and Ear Infirmary

Diretor da Clínica de Olhos Jund Eye, Jundiaí/SP

Ralph Cohen

Professor Adjunto FCM Santa Casa de SP

Doutor em Oftalmologia EPM - UNIFESP

Regina Cele Silveira

Médica voluntaria do setor de Glaucoma da UNIFESP

Sócia diretora do HCLOE

MBA em administração oftalmológica pela UNIFESP

Remo Susanna Jr

Professor titular FMUSP

Ex presidente sociedade Mundial de Glaucoma

Renato Klingelfus Pinheiro

Doutor em Ciências Medicas pela Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo

Especialista em glaucoma pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa

Casa de São Paulo

Medico voluntário do setor de Óptica Cirúrgica da UNIFESP

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Ricardo Augusto Paletta Guedes

Doutor em Saúde (Universidade Federal de Juiz de Fora)

Mestre em Saúde Pública (Universidade Federal de Juiz de Fora)

Especialista em Glaucoma (Universidade de Paris)

Ricardo Suzuki

Formação, residência e doutorado pela Faculdade de Medicina da USP

Fellowship em glaucoma no Glaucoma Research and Education Group,

San Francisco - California - EUA

Membro do grupo de glaucoma do Hospital de Olhos Sadalla Amin

Ghanem, Joinville SC

Roberto Lauande Pimentel

Doutor em Oftalmologia - USP

Especialista em Glaucoma Unicamp/Moorfields Eye Hospital, UK

Roberto Murad Vessani

Chefe de Ambulatório do Setor de Glaucoma/ Departamento de

Oftalmologia da EPM-UNIFESP

Pós- Doutorando no Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista

de Medicina/UNIFESP

Doutor em Ciências pelo Departamento de Oftalmologia da Faculdade

de Medicina da USP

Roberto Pedrosa Galvão Filho

Doutor em Medicina pela FMUSP

Chefe do Setor de Glaucoma do Instituto de Olhos do Recife (IOR)

Coordenador da Residência Médica do IOR

Rodrigo Antônio Brant Fernandes

Médico colaborador voluntário departamento de oftalmologia e

ciências visuais -UNIFESP EPM

Diretor setores de glaucoma e retina - Ophthal hospital especializado

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Rogério João de Almeida Torres

Chefe do serviço de glaucoma da residência médica do Hospital

Angelina Caron;

Mestrado em cirurgia pela Faculdade Evangélica do Paraná

Rui Barroso Schimiti

Médico Assistente Do Setor De Glaucoma Da Unicamp;

Doutor Em Ciências Médicas Concentração Em Oftalmologia Unicamp

Chefe Do Setor De Glaucoma Do Hoftalon (Hospital De Olhos De

Londrina-PR)

Ruiz Simonato Alonso

Mestre pela Universidade Federal Fluminense (UFF-Niterói)

Pós-Graduando Nível Doutorado, pela Departamento de Oftalmologia

da Universidade Federal Fluminense (UFF-Niterói)

Professor Assistente da Universidade Federal Fluminense (UFF-Niterói

Sebastião Cronenberger Sobrinho

Professor Titular de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da UFMG

Sergio Henrique Teixeira

Doutorado e especialista em glaucoma pela EPM - UNIFESP

Membro do setor de glaucoma da escola paulista de medicina -

UNIFESP

Tiago dos Santos Prata

Professor Afiliado e da Pós-Graduação | Depto de Oftalmologia |

UNIFESP/EPM

Doutorado e Pós-Doutorado em Oftalmologia pela UNIFESP/EPM

Professor Orientador do Setor de Glaucoma | Hospital Oftalmológico

de Sorocaba | BOS

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Vanessa Maria Paletta Guedes

Chefe do Serviço de Oftalmologia da Santa Casa de Juiz de Fora;

Especialista em Glaucoma pela Universidade de Paris;

Diretora clínica do Instituto de Olhos Paletta Guedes

Vital Paulino Costa

Professor Associado da Faculdade de Medicina da UNICAMP

Chefe do Setor de Glaucoma da UNICAMP

Professor Livre-Docente pela USP

Wagner Duarte Batista

Coordenador Médico da Clínica Oftalmológica da Santa Casa De BH.

Chefe do Setor de Glaucoma E Catarata da Santa Casa De BH.

Walter Gomes Amorin

Mestre Oftalmologia e

Doutor em Medicina UNIFESP

Wilma Lelis Barboza

Doutorado em Medicina (oftalmologia) pela FMUSP

Coordenadora da Residência Médica da Universidade de Taubaté

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Gestão SBG Biênio 2015 - 2017

Diretoria Executiva

Presidente

Marcelo Palis Ventura (Rio de Janeiro, RJ)

Vice-Presidente

Wilma Lelis Barboza (Taubaté, SP)

Secretário Geral

Emilio Rintaro Suzuki Jr (Belo Horizonte, MG)

Secretário Adjunto

Ruiz Simonato Alonso (Rio de Janeiro, RJ)

Tesoureiro

Tiago dos Santos Prata (São Paulo, SP)

Tesoureiro Adjunto

Rodrigo Brazuna (Rio de Janeiro, RJ)

Comissão Especial para o 1º Consenso de Cirurgia

de Glaucoma Carlos Akira Omi (São Paulo, SP)

Emílio Rintaro Suzuki Jr. (Belo Horizonte, MG) Ivan Maynart Tavares (São Paulo, SP)

Luis Alberto Soares de Melo Jr. (São Paulo, SP) Marcelo Palis Ventura (Rio de Janeiro, RJ)

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Sobre o Consenso: Métodos e Organização Os participantes Foram convidados para participação deste Consenso os 75 nomes da

oftalmologia brasileira focada em glaucoma, membros da sociedade

organizadora, oriundos das mais diversas regiões do Brasil. Destes, pudemos ter

a confirmação de participação de 69. Os participantes, além de 5 editores, foram

distribuídos em 11 grupos temáticos pré-estabelecidos.

Os temas e as questões Para cada grupo, foram selecionados 2 coordenadores que tinham como função

elaborar um texto referência para o tema designado e aproximadamente 10

afirmações para discussão. Tais afirmações foram disponibilizadas em um portal

interativo online que permitisse o debate dos demais participantes do grupo.

Após 15 dias de discussões virtuais, o fórum fora interrompido e os

coordenadores selecionaram de 5 a 8 questões por tema para votação durante

evento presencial, sendo àquelas de maior polêmica seriam colocadas em

discussão aberta.

O evento

O Consenso, realizado na cidade de São Paulo (SP) em 08 de abril de 2017,

contou com a participação de 69 participantes e fora mediado pelo presidente

Marcelo Palis Ventura de acordo com a seguinte estrutura:

Parte I: Votação interativa das afirmações menos polêmicas.

Parte II: Discussão aberta das questões mais polêmicas seguida de

votação.

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A votação permitia que o participante concordasse ou discordasse da afirmação

apresentada com base em suas experiências pessoais práticas e/ou acadêmicas.

Aquelas postas em discussão permitiam ajustes na frase exposta para que

melhor se adequasse em termos de sintaxe, conteúdo e profundidade abrangida.

A votação e os resultados

O objetivo da votação, como exposto anteriormente, era refletir a opinião de

especialistas brasileiros de renome no âmbito de glaucoma e nunca de

estabelecer uma norma rígida de atuação. Tendo isso em vista, optou-se por não

apresentar os resultados da votação limitados por um valor fixo percentual que

determinasse “consenso”, e sim apresentar os valores percentuais tais como

obtidos durante a votação interativa.

Abstenção

Foi permitido a abstenção da votação para quando o participante preferisse não

manifestar sua opinião frente a uma afirmação, seja por não familiaridade com

tema ou por não ter uma opinião formada. Contudo, aquelas que o percentual

de abstenções se mostrou superior a 20% do quórum foram abertas para

votação novamente no intuito de garantir que a ausência de respostas se dava

por livre opção dos participantes e não por descuido ou desatenção no momento

da votação. Se ainda assim a

taxa de abstenção se

mantivesse elevada, assumiu-

se o resultado como real

expressão do grupo e seguia a

diante com a próxima questão.

Dr. Marcelo Palis Ventura e Dr. Emilio R. Suzuki Jr.

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Capítulo 1

IRIDOTOMIA/IRIDECTOMIA A

LASER E IRIDOPLASTIA A LASER Coordenadores: Maurício Della Paolera e Niro Kasahara

Auxiliares: Wilma Lellis Barboza, Renato Klingelfus Pinheiro, Alberto Diniz Filho

e Ruiz Simonato Alonso

Introdução Iridotomia/Iridectomia a laser

A iridotomia/iridectomia a laser consiste na criação de pertuito que comunica a

câmara anterior com a câmara posterior e objetiva igualar a diferença de pressão

entre as duas câmaras aliviando o bloqueio pupilar relativo. A técnica consiste

na aplicação do Nd:YAG laser com 4 a 6 mJ de energia, um a três pulsos em cripta

na região superior da íris (preferencialmente entre 10 e 12 h). A aplicação é feita

com auxílio da lente de Abraham. A instilação de pilocarpina 1% estica a íris e

facilita a penetração do laser; a brimonidina 0,2% (uma gota antes ou após o

laser) previne o pico de pressão após o procedimento. Os anti-inflamatórios

tópicos devem ser prescritos por 7 a 10 dias.

As principais indicações são:

Profilaxia de glaucoma agudo (fechamento angular agudo) em pacientes

com ângulo oclusível;1

Imediatamente após a resolução clínica de uma crise de glaucoma agudo;2

Nos casos de glaucoma primário de ângulo fechado crônico, a

Iridotomia/Iridectomia a laser é realizada para eliminar o bloqueio pupilar

relativo e a formação de goniossinéquias;2

Nos pacientes com síndrome de dispersão pigmentar e glaucoma

pigmentar para eliminar o bloqueio pupilar reverso.3

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Evidências quanto à eficácia da iridotomia/iridectomia a laser na prevenção de

glaucoma de ângulo fechado são poucas. Aung et al observaram que 58% dos

olhos que foram submetidos a iridotomia/iridectomia a laser após a crise de

glaucoma agudo apresentaram elevação da pressão intraocular em longo prazo.4

Similarmente, evidências quanto à eficácia da iridotomia/iridectomia a laser a

laser no glaucoma pigmentar e na síndrome de dispersão pigmentar são

insuficientes. Michelessi e Lindsley analisaram cinco ensaios clínicos aleatórios

(260 olhos de 195 pacientes) que compararam os efeitos da

iridotomia/iridectomia a laser. Embora os efeitos adversos do procedimento

sejam mínimos, os efeitos em longo prazo sobre a função visual ainda não são

conhecidos.3

Iridoplastia a laser

A iridoplastia ou gonioplastia é a técnica que objetiva reduzir o contato

iridocorneal. A aplicação do laser provoca contração periférica da íris,

aumentando a profundidade da câmara anterior. Uma gota de pilocarpina 2% e

brimonidina 0,2% são instiladas antes do procedimento. O laser de argônio é

aplicado com auxílio de lente de Abraham com mira de 500 µ e 0,5 a 0,7 s; a

energia inicial é 250 mW e incrementada até se observar a contração do tecido.

Seis aplicações são feitas em cada quadrante. Os anti-inflamatórios tópicos

devem ser prescritos por 7 a 10 dias.

A iridoplastia é indicada em:

1. Olhos de pacientes com síndrome da íris em plateau ou com íris em

configuração de plateau (fechamento aposicional com iridotomia/iridectomia a

laser);2

2. Como tratamento inicial de pacientes com glaucoma agudo (fechamento

angular agudo);5

3. Outras condições mais raras como nanoftalmos e cisto de íris.²

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24

Referências Bibliográficas

1. Schwartz LW, Moster MR, Spaeth GL, et al. Neodymium-YAG laser iridectomies in glaucoma associated with closed or occludable angles. Am J Ophthalmol 1986; 102: 41-4.

2. Sun X, Dai Y, Chen Y, et al. Primary angle closure glaucoma: What we know and what we don't know. Prog Retin Eye Res 2016 Dec 28. pii: S1350-9462(16)30051-9.

3. Michelessi M, Lindsley K. Peripheral iridotomy for pigmentary glaucoma. Cochrane Database Syst Rev 2016.

4. Aung T, Ang LP, Chan SP, Chew PT. Acute primary angle-closure: longterm intraocular pressure outcome in Asian eyes. Am J Ophthalmol 2001;131:7-12.

5. Lam DS, Lai JS, Tham CC, et al. Immediate argon laser peripheral iridoplasty as treatment for acute attack of primary angle-closure glaucoma: a preliminary study. Ophthalmol 1998; 105: 2231-6.

Imagem cedida por Dr. Carlos Akira Omi

Iridotomia/Iridectomia com YAG laser

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25

5%

95%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

1. A conduta inicial no tratamentode uma crise de fechamento angular

primário agudo deve ser ainstituição de tratamento clínicoclássico e iridotomia/iridectomia

periférica a laser assim que possível.

17%

83%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

2. A iridotomia/iridectomiaperiférica a laser está recomendada

em casos que apresentem ângulooclusível, mesmo que o paciente

não tenha apresentado fechamentoangular agudo.

28%

72%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

3. A iridotomia/iridectomiaperiférica a laser é recomendada

como o procedimento primário emolhos com glaucoma primário de

ângulo fechado.

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26

30%

70%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

4. Iridoplastia a laser pode sereficaz nas crises de fechamento

angular primário agudo e deve serconsiderada se o episódio não for

revertido por outros meios.

8%

92%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

5. A iridotomia/iridectomiaperiférica a laser deve ser realizada

logo que factível no olho comfechamento angular primário

agudo, e deve ser realizada o maisrapidamente possível no olho

contralateral.

63%

37%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

6. Íris em configuração em plateaucom iridotomia/iridectomia pérviaestá indicada a iridoplastia o mais

breve possível.

97%

3%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

7. Iridoplastia está indicada comotratamento inicial do fechamento

angular primário agudo.

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27

Obs: Exemplos que já são empregados em tabelas SUS,

Tabela SUS: 0405050194 iridotomia a laser. 0405050178 iridectomia cirúrgica. Tabela TUSS ANS: 30310083 IRIDECTOMIA (LASER /CIRURGICA)

23%

77%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

8. Na síndrome da dispersãopigmentar/glaucoma pigmentar

podemos realizariridotomia/iridectomia pararemover o bloqueio reverso.

63%

31%

6%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Iridotomia a laser

Iridectomia a laser

Iridotomia/Iridectomia a laser

Na nona questão, permitiu-se a votação direta do termo mais apropriado.

Assim, os percentuais indicam a preferência entre as três opções oferecidas,

não sendo, portanto, uma questão binária como as demais.

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28

Capítulo 2

TRABECULOPLASTIA A LASER

Coordenadores: Christiane Rolim de Moura e Felício Aristóteles Silva

Auxiliares: Carlos Rubens Lucas Figueiredo, Paulo Afonso Batista dos Santos,

Ralph Cohen, Tiago dos Santos Prata e Walter Gomes Amorim

Introdução Conceito

A trabeculoplastia a laser consiste na aplicação de laser na malha trabecular com

o propósito de reduzir a pressão intraocular.

Tipos de laser

Os tipos de laser para este fim podem variar de acordo com o espectro luminoso

utilizado, o tempo de exposição, a intensidade, o tamanho da mira e a forma de

aplicação (luz pulsada ou contínua).

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29

Indicações

Primariamente, a trabeculoplastia está indicada nos olhos com glaucoma de

ângulo aberto, incluindo a forma primária, associada à esfoliação capsular, à

dispersão pigmentária ou outras situações (glaucoma secundários) nas quais

seja possível a visão da porção funcionante do trabeculado.

Contraindicações

A trabeculoplastia a laser está contraindicada na presença de processos

inflamatórios agudos, na ICE síndrome, no glaucoma congênito, nas

goniodisgenesias, no glaucoma neovascular ou quando a visão da porção

funcionante do trabeculado é inadequada.

Mecanismos de funcionamento

Num primeiro momento, início da década de 80, acreditava-se que o laser

faria puncturas na malha trabecular.¹ Contudo, estudos ultraestruturais

mostraram que este não é o mecanismo de ação da trabeculoplastia a laser,

apesar de certa desorganização estrutural poder ser vista, em especial

quando o laser contínuo é usado (fotodisrupção). No entanto, o exato

mecanismo de ação da trabeculoplastia a laser na redução da pressão

intraocular ainda não é totalmente conhecido.

Pode haver um incremento na divisão e repopulação do trabeculado por

células trabeculares (teoria celular) ou, ainda, liberação de inúmeros fatores

bioquímicos, tais como interleucina 1, fator de necrose tumoral, os quais

podem estar envolvidos no processo de aumento da facilidade de

escoamento do humor aquoso (teoria bioquímica).2-4

Resultados

Glaucoma Primário de Angulo Aberto e Hipertensão Ocular:

A maioria dos estudos realizados com trabeculoplastia incluiu pacientes com

glaucoma primário de ângulo aberto e hipertensos oculares já em

tratamento clínico. Há uma enorme variabilidade nos resultados dos estudos

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30

dependendo dos critérios de sucesso utilizados. Observam-se estudos com as

diferentes técnicas de laser referindo reduções médias da pressão intraocular

entre 3 e 8 mmHg, no primeiro ano de seguimento e de 25% ou mais em até 75%

dos indivíduos tratados. 5-8 A redução da eficácia ao longo do tempo é notória e

há equivalência em relação à redução da pressão intraocular nos diferentes tipos

de laser. Há evidências sugerindo que a trabeculoplastia possa reduzir a

flutuação diária da pressão intraocular.9-10

Glaucoma de pressão normal

Esparsos dados na literatura mostram que o sucesso no controle da pressão

intraocular no glaucoma de pressão normal com a trabeculoplastia é limitado,

pois apenas 11% atingem, em um ano, reduções maiores que 20% sem

medicação. Porém, os valores da pressão intraocular foram 22% menores que os

pré-laser sem medicação, sugerindo que, talvez, possa haver um efeito aditivo à

medicação num seguimento de seis meses. 11-12

Glaucoma pseudoesfoliativo e Glaucoma pigmentar

Nestas duas situações, há aumento da quantidade de pigmento na malha

trabecular, o que parece contribuir para a eficácia da trabeculoplastia com laser

de argônio, porém, nos estudos com a trabeculoplastia seletiva (SLT), este efeito

positivo não tem sido evidente. Nestes casos, a quantidade de energia deve ser

ajustada para evitar picos hipertensivos após o tratamento.

Complicações

A complicação mais frequente da trabeculoplastia a laser é o desenvolvimento

de picos hipertensivos precoces, que podem ser acima de 5 mmHg em 34% dos

olhos com trabeculoplastia com laser de argônio sem tratamento profilático

antes da aplicação; porém, com o tratamento profilático, esta incidência gira em

torno de 4% para todos os tipos de laser.

Outras complicações podem ser: uveíte, formação de goniossinéquias, hifema,

dependendo dos critérios de sucesso utilizados.5

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31

Retratamento

O retratamento da malha trabecular pela mesma técnica, com laser de argônio,

parece um contrassenso, desde que há fotodisrupção da malha trabecular,

apesar de estudos mostrarem alguma eficácia neste procedimento.

Já o retratamento pela SLT de casos previamente tratados com trabeculoplastia

com laser de argônio parece ser efetivo em 57% dos casos. Da mesma forma,

retratar a malha trabecular com a SLT, após prévio tratamento pela mesma

tecnologia, parece promover redução clinicamente significativa, porém inferior

ao primeiro tratamento.13-15

Trabeculoplastia a laser como terapia primária

Alguns ensaios clínicos têm comparado a eficácia da trabeculoplastia com o uso

de medicações hipotensoras oculares nos casos de glaucoma de ângulo aberto.

Na década de 80, a trabeculoplastia realizada com laser continuo de argônio foi

comparada com o regime terapêutico vigente na época. Aparentemente, a

trabeculoplastia mostrou-se ligeiramente superior em relação ao controle da

pressão intraocular quando comparada às drogas hipotensoras oculares após 24

meses. A principal crítica a este trabalho seria que os medicamentos atualmente

disponíveis têm eficácia e tolerabilidade superiores aos daquela época.5

Outros ensaios clínicos mais atuais sugerem que a trabeculoplastia seletiva pode

promover um controle pressóricos comparável a uma única droga hipotensora

(latanoprosta) no primeiro ano de

acompanhamento. 7-10

Há também evidências mostrando

que o início do tratamento com

trabeculoplastia pode ser custo-efetivo

quando um modelo de 25 anos de

tratamento é aplicado e ao considerar na

análise a baixa aderência ao tratamento

com medicação tópica ocular. Esses

dados parecem promissores e novos estudos

possivelmente demonstrarão se a técnica, além de ser

Imagem cedida por Dr Carlos Akira Omi

Mira da trabeculoplastia seletiva

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custo-efetiva, impacta positivamente na qualidade de vida do paciente com

glaucoma ao longo do seu tratamento. 16-18

Referências Bibliográficas

1. Krasnov MM. Laseropuncture of anterior chamber angle in glaucoma. American journal of ophthalmology. 1973; 75 (4):674-8.

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33

10. Nagar M, Luhishi E, Shah N. Intraocular pressure control and fluctuation: the effect of treatment with selective laser trabeculoplasty. The British journal of ophthalmology. 2009; 93(4):497-501.

11. Lee JW, Ho WL, Chan JC, Lai JS. Efficacy of selective laser trabeculoplasty for normal tension glaucoma: 1-year results. BMC ophthalmology. 2015; 15:1.

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34

36%

64%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

1. A aplicação da trabeculoplastiaseletiva em 360° é mais eficaz do

que em 90° ou 180°.

27%

73%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

2. O tratamento anti-inflamatórioprescrito após a trabeculoplastia

seletiva não tem influência na suaeficácia.

27%

73%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

3. Quando indicada, érecomendável fazer a

trabeculoplastia inicialmente emapenas um dos olhos. A aplicação

no olho contralateral deve serreconsiderada quando o

tratamento do primeiro olho foiineficaz.

24%

76%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

4. A trabeculoplastia tem umimpacto positivo sobre a flutuação

da pressão intraocular

Abstenção: 29%

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35

19%

81%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

5. A trabeculoplastia pode serutilizada como tratamento inicial

para reduzir a pressão intraocular, equando aplicada em 360°, após umano, pode apresentar uma eficáciacomparável àquela observada com

o uso da latanoprosta.

3%

97%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

6. A trabeculoplastia seletiva podeser repetida em olhos que

apresentaram boa resposta aotratamento anterior pela mesma

tecnologia.

33%

67%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

7. A trabeculoplastia parece seruma alternativa de melhor

custo/benefício para redução dapressão intraocular do que a

simples observação ou o uso deanálogos das prostaglandinas,

quando se considerarealisticamente a adesão ao

tratamento clínico.

Abstenção: 22%

Abstenção: 33%

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36

9%

91%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

8 - Em termos de reduçãopressórica, os resultados da

trabeculoplastia com laser não-seletivo são similares àqueles

obtidos com a trabeculoplastiaseletiva.

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Capítulo 3

TRABECULECTOMIA

Coordenadores: Augusto Paranhos Jr. e Paulo Augusto de Arruda Mello

Auxiliares: André Luiz de Freitas, Cláudia Galvão Brochado Silva, Luiz Alberto

Soares de Melo Jr., Roberto Murad Vessani e Sérgio Henrique Teixeira

Introdução Conceito

A trabeculectomia é uma modalidade de cirurgia antiglaucomatosa em que é

criada uma via alternativa ao escoamento do humor aquoso para a circulação

sistêmica possibilitando sua absorção pelos vasos sanguíneos subconjuntivais,

veias aquosas e vasos linfáticos. A cirurgia consiste na realização de uma fístula,

que comunica a câmara anterior, na região do seio camerular, com o espaço

subtenoniano, sendo protegida por retalho escleral, que oferece resistência e

impede o livre escoamento do humor aquoso, sem o qual poderia haver atalamia

e/ou hipotonia acentuada com graves consequências potenciais para o olho.

Indicações

Olhos com evidência de progressão de dano glaucomatoso (disco óptico,

campo visual ou camada de fibras nervosas) na vigência de medicação

máxima tolerada.

Olhos com pressão intraocular significativamente superior à pressão

desejável na vigência de medicação máxima tolerada.

Pacientes sem condição de manter o tratamento medicamentoso, seja

devido aos efeitos colaterais ou outros motivos.

O cirurgião deve ainda avaliar os riscos potenciais da cirurgia frente à perda

visual estimada que pode ocorrer, caso o paciente seja mantido sem o controle

desejado da pressão intraocular.

Cuidados no pré-operatório

O paciente deve estar ciente do motivo da indicação da cirurgia e que a mesma

não tem o objetivo de restabelecer a visão, mas sim o controle da pressão

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intraocular que não foi conseguido com o tratamento clínico. Deve ser orientado

também que a visão ficará borrada ou embaçada no período de algumas

semanas no pós-operatório. A escolha do procedimento deve levar em

consideração a segurança, eficácia e possibilidade de preservar a visão do

paciente.

Avaliação pré-operatória adequada pode evidenciar, por exemplo, hipertensão

arterial sistêmica ou problemas na coagulação sanguínea, o que pode aumentar

o risco de complicações durante o procedimento. Blefarite e dacriocistite devem

ser tratadas previamente à cirurgia.

Técnica cirúrgica

É de fundamental importância o conhecimento detalhado da anatomia do limbo

cirúrgico, assim como o domínio da técnica cirúrgica. Erros técnicos podem

colocar em risco o êxito do procedimento.

A anestesia poderá ser local ou geral. O cirurgião experiente pode optar ainda

pela injeção subtenoniana de anestésico associada a sedação.

A instilação de iodopovidona 5% (diluição específica para uso ocular) no saco

conjuntival é uma medida eficaz na prevenção de infecção em qualquer cirurgia

intraocular. Deve ser usado durante o bloqueio ou indução anestésica.

A confecção do retalho conjuntival é um passo crítico da cirurgia, devendo-se

tomar cuidado para causar o menor dano tecidual possível e evitar sangramento.

O máximo cuidado deve ser tomado neste passo cirúrgico para não provocar furo

na conjuntiva.

Preparo do retalho escleral

Imagens cedidas por Dr. Homero G. Almeida

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39

A localização do retalho deve ser sempre nos quadrantes superiores

(centralizado, nasal-superior ou temporal-superior), pois nos quadrantes

inferiores o risco de endoftalmite é significativamente maior. Na impossibilidade

de realização da trabeculectomia nos quadrantes superiores, outra modalidade

de cirurgia antiglaucomatosa deverá ser proposta.

Pode-se optar por retalho de base fórnice ou base límbica. O tipo mais usado é

o retalho base fórnice, em que a abertura da conjuntiva é limbar, com ampla

visualização do limbo cirúrgico. O retalho de base fórnice possibilita a aplicação

de antimetabólito mais posteriormente (no fórnice), diminuindo a chance de

ampolas avasculares sobre o retalho escleral no pós-operatório.

A cauterização do leito escleral é realizada em seguida, com cuidado para não

haver lesão do tecido conjuntival, o que pode levar a vazamento no pós-

operatório).

Em seguida, se houver indicação, realiza-se a aplicação de agente

antiproliferativo (mitomicina C ou 5-fluorouracil) posicionado sob a cápsula de

Tenon e tomando-se cuidado especial para não entrar em contato com a ferida

operatória da conjuntiva. Tanto o tempo de aplicação do agente antiproliferativo

(1 a 3 minutos, na maioria dos casos), quanto sua concentração (0,2 a 0,5mg/ml

de Mitomicina C; 25 ou 50mg/ml de Fluorouracil) variam de acordo com a

experiência do cirurgião. Outras formas de aplicação além das esponjas

embebidas são a injeção via subtenoniana e até via transconjuntival.

Aplicação de mitomicina-C

Imagens cedidas por Dr. Homero G. Almeida

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40

A confecção do retalho escleral pode ser realizada antes ou depois da aplicação

da substância antiproliferativa. Deve ter de 1/2 a 2/3 da espessura escleral e seu

formato e dimensões variam de acordo com a técnica de cada cirurgião.

Uma paracentese deve ser realizada para

que haja a descompressão controlada da

câmara anterior, bem como para refazer e

para controlar a profundidade da câmara

anterior. Também é possível a instalação

de uma cânula de infusão de segmento

anterior através da paracentese, para

manter a pressão e profundidade da

câmara anterior.

A trabeculectomia, que é a fístula

propriamente dita, pode ser realizada com

bisturi (lâmina no. 11 ou 15 graus) ou punch,

tomando-se cuidado especial para que haja excisão de espessura completa do

tecido córneo-escleral.

O próximo passo é a iridectomia periférica, que deve ser extensa em sua base

evitando-se a extensão radial (em direção à pupila) para que não haja diplopia

monocular. O principal objetivo é a prevenção da obstrução interna da fístula e

do bloqueio pupilar no pós-operatório.

A seguir, o retalho escleral é reposicionado e suturado com fio mononylon 10-0.

O número de suturas deverá ser suficiente para manter a câmara anterior

estável e também discreto vazamento de humor aquoso. No mínimo 2 suturas

deverão ser realizadas e os nós sepultados. Os pontos podem ser simples,

ajustáveis ou removíveis.

A conjuntiva e a cápsula de Tenon são suturadas de maneiras diferentes nos

retalhos base fórnice e base límbica. No primeiro, o fechamento do retalho pode

ser feito com suturas separadas utilizando-se fio mononylon 10-0. Todos os

pontos devem ter os nós sepultados na córnea. No caso da base límbica, o

fechamento deverá ser em 2 planos, ou seja, sutura da cápsula de Tenon e, a

seguir, da conjuntiva, através de sutura contínua com fio absorvível (Vicryl® 8-0,

Trabeculectomia com Punch tipo Crozafon

Imagem cedida por Dr. Emilio R. Suzuki Jr.

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41

por exemplo). É extremamente importante observar que não haja vazamento na

linha de sutura conjuntival para garantir a formação da bolha filtrante.

Em seguida, deve-se preencher a câmara anterior com solução salina

balanceada, através da paracentese, para avaliação da drenagem pela fístula e

formação da bolha filtrante e também identificar possíveis vazamentos que

deverão ser prontamente corrigidos.

Ao final da cirurgia realiza-se injeção subconjuntival de antibiótico e

corticosteroide a cerca de 180 graus do sítio cirúrgico. No caso de anestesia

subconjuntival, a injeção é substituída por colírio antibiótico tópico (amplo

espectro) imediatamente após o término do procedimento. A instilação de

atropina (colírio) promove o relaxamento do músculo ciliar, com consequente

aprofundamento da câmara anterior e prevenção de glaucoma por bloqueio

ciliar, além de ajudar na estabilização da barreira hemato-aquosa, prevenção

de sinéquias posteriores e alívio da dor.

Recentemente, substâncias antiangiogênicas e outros agentes tem sido

descrito na tentativa de reduzir as complicações inerentes aos agentes

antifibróticos tradicionais.

Considerações

O uso de mitomicina-C aumenta significativamente a taxa de sucesso da

trabeculectomia evitando a falência devido à cicatrização subconjuntival e

melhorando o controle da pressão intraocular a longo prazo. No entanto, o uso

de mitomicina-C pode predispor a complicações, tais como: bolha avascular,

vazamento na bolha, hipotonia, sintomas de desconforto com a bolha, maior

risco de infecção.

O sucesso da trabeculectomia e as taxas de complicação melhoraram bastante

nos últimos 15 a 20 anos, devido a maior compreensão dos componentes

Sutura do retalho escleral

Imagens cedidas por Dr. Homero G. Almeida

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42

funcionais da cirurgia - com mudança de detalhes importantes na técnica

cirúrgica, bem como no tratamento da cicatrização de feridas, sobretudo após

a difusão do sistema de cirurgia segura do Moorfields – MSSS

Cuidados no pós-operatório:

Todos os colírios hipotensores devem ser suspensos no olho operado, bem como

a acetazolamida via oral.

Corticosteroide tópico é importante para modular a resposta cicatricial no

período pós-operatório inicial. A dosagem inicial deverá ser 1 gota a cada 1 ou 2

horas nas primeiras 2 semanas. Em seguida, procede-se a redução gradual de

acordo com a resposta inflamatória individual.

Antibiótico tópico profilático de amplo espectro deve ser mantido nas primeiras

2 semanas.

Atropina ou cicloplégico pode ser mantido na primeira semana.

Corticosteroide oral pode ser indicado em algumas situações, como no glaucoma

uveítico, levando-se em consideração os riscos potenciais de efeitos colaterais.

A terapia pode ser iniciada antes da cirurgia.

Caso surjam sinais de falência iminente da bolha filtrante, existe a possibilidade

do uso de agente antiproliferativo (5-Fluorouracil) na forma de injeções

subconjuntivais. Os sinais de falência são: aumento da vascularização,

espessamento da conjuntiva e cápsula de Tenon, redução do tamanho e altura

da bolha, elevação progressiva da pressão intraocular.

Complicações pós-operatórias

Diversas complicações podem ocorrer no período pós-operatório e não são

necessariamente resultado da técnica utilizada na cirurgia. De maneira geral, a

pronta identificação da complicação e rápida correção, permitem resultado

favorável. Ainda assim, complicações graves como infecção, descolamento

hemorrágico de coroide, glaucoma por bloqueio angular, entre outras, podem

ter resultado desfavorável independente da ação do cirurgião. Para a pronta

identificação das possíveis complicações e sua condução, é fundamental que o

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paciente esteja bem esclarecido, que tenha acesso fácil ao atendimento médico

e que as visitas pós-operatórias sejam frequentes.

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Referências Bibliográficas 1. Shields’ Textbook of Glaucoma. R. Rand Allingham. Fifth edition 2. Trabeculectomy – The Moorfields Safe Surgery System. Peng Tee Khaw,

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Br J Ophthalmol. 2002;86(7):710-711. 5. Mello PAA, Mandia C JR: 2o. Consenso Brasileiro de Glaucoma

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46

5%

95%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

1. Injeções subconjuntivais deantifibróticos como o

5-fluorouracil podem ser utilizadasno manejo pós-operatório para

controle da cicatrização da fístula.

0%

100%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

2. A aplicação de mitomicina-C noper-operatório diminui a

possibilidade do insucessocirúrgico da trabeculectomia.

0%

100%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

3. Câmara anterior rasa ouatalamia no pós-operatório da

trabeculectomia pode ocorrer emcaso de hipo- ou hipertensão

intraocular.

2%

98%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

4. Para decidirmos qual a melhorconduta para recuperar uma

trabeculectomia é fundamental oexame gonioscópico.

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47

56%

44%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

5. A falência precoce datrabeculectomia deve ser abordada

cirurgicamente (agulhamento ourevisão cirúrgica).

31%

69%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

6. Quanto as opções de tratamentocirúrgico, a trabeculectomia é o

procedimento incisional de escolhaem olhos não operados.

11%

89%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

7. Em glaucomas corticogênicoscom indicação cirúrgica, o uso

mitomicina-C é facultativo.

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Capítulo 4

CIRURGIAS NÃO PENETRANTES

Coordenadores: Italo Mundialino Marcon e Ricardo Augusto Paletta Guedes

Auxiliares: Ana Cláudia Pereira Alves, Christiana R. Hilgert, Marcelo Jordão

Lopes da Silva e Vanessa Maria Paletta Guedes

Introdução Indicações

As indicações da cirurgia não penetrante na literatura são numerosas e

correspondem aos glaucomas primários ou secundários de ângulo aberto.1-8

Contraindicações

A cirurgia não penetrante está contraindicada para os glaucomas de ângulo

fechado e o glaucoma neovascular. Também não deve ser realizada em olhos

com conjuntiva superior fibrosada.

A técnica cirúrgica

A técnica mais utilizada é a

esclerectomia profunda não

penetrante. Nesta técnica, um

retalho profundo córneo-escleral é

retirado abaixo de um retalho

escleral superficial, removendo, assim, a

parede externa do canal de

Schlemm. A parede interna do

canal, juntamente com as camadas

trabeculares mais externas são

também retiradas, através da

excisão da membrana trabecular

externa. Com isto, há uma

diminuição da resistência ao

escoamento, fazendo com que o

Visão Gonioscópica

Imagens cedidas por Dr. Homero G. Almeida

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humor aquoso passe através da fina camada trabecular residual. O uso de

adjuvantes (implantes ou antimetabólitos) durante a cirurgia aumenta sua

eficácia.

Pós-operatório

O acompanhamento pós-operatório da cirurgia não penetrante é semelhante

àquele realizado após uma trabeculectomia.

Como relação à resposta cicatricial do paciente, o seguimento pós-operatório é

parecido ao de uma cirurgia de trabeculectomia, procurando se observar,

especialmente, sinais de inflamação ou de fibrose conjuntival precoce,

necessitando de um tratamento apropriado.

Medicações de rotina usadas no pós-operatório imediato da cirurgia não

penetrante são as mesmas da trabeculectomia e incluem antibióticos na

primeira semana e corticosteroides por, no mínimo, 4 a 6 semanas. Não há

necessidade da utilização de cicloplégicos no pós-operatório. Ao contrário da

trabeculectomia, onde a massagem tem um papel importante na recuperação

de bolhas caminhando para falência, ela deve ser evitada no pós-operatório da

cirurgia não penetrante.

A goniopuntura a laser pode ser realizada em qualquer estágio do pós-

operatório, quando a pressão intraocular se eleva a níveis acima daquela

definida como pressão intraocular alvo.

Imagens cedidas por Dr. Carlos Akira Omi

Abertura do canal de Schlemm Retirada da membrana trabecular

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Complicações

As taxas de complicações per e pós-operatórias desta modalidade cirúrgica são

menores quando a comparação é feita com a trabeculectomia clássica.9 A

presença de uma membrana residual evita uma descompressão brusca do globo

ocular e limita os efeitos danosos de uma hipotonia severa, com as complicações

conhecidas no seguimento pós-operatório das trabeculectomias clássicas.10

A principal complicação per-operatória (intraoperatória) é a perfuração da

membrana trabecular residual. Se a perfuração para câmara anterior é grande e

gera uma hérnia de íris irredutível, deve-se promover a conversão em

trabeculectomia. Se a perfuração é pequena, ou seja, uma microperfuração sem

presença de íris no local perfurado, o procedimento pode seguir normalmente

sem conversão e sem atrapalhar o prognóstico. Quando isto acontece, deve-se

suturar o retalho e testar a filtração intraoperatória.

Apesar da aparente segurança, o cirurgião deve estar atento à existência de

complicações pós-operatórias e saber lidar com elas.

Globalmente, os resultados da esclerectomia profunda não penetrante relatados

na literatura mostram sucesso pressórico comparável ao obtido após

trabeculectomia, no entanto com menor índice de complicações e recuperação

visual mais rápida. O índice de sucesso varia de 57 a 93% para uma pressão

intraocular menor que 21 mmHg sem tratamento. 11-23

Uma meta-análise recente de estudos comparativos entre a Esclerectomia

Profunda Não Penetrante com mitomicina-C e a trabeculectomia com

mitomicina-C mostra que não há diferença estatística nos índices de sucesso,

porém com menor taxa de complicações para a Esclerectomia Profunda Não

Penetrante com mitomicina-C. 24

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Referências Bibliográficas 1. Guedes RAP, Guedes VMP. Cirurgia não penetrante: conceito, técnicas e

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of uncontrolled uveitic glaucoma: preliminary data. Klin Monatsbl Augenheilkd. 2004; 221: 339-42.

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14. Lachkar Y, Neverauskiene J, Jeanteur-Lunel MN, Gracies H, Berkani M, Ecoffet M, Kopel J, Kretz G, Lavat P, Lehrer M, Valtot F, Demailly P. Nonpenetrating deep sclerectomy: a 6-year retrospective study. Eur J Ophthalmol. 2004; 14(1): 26-36.

15. Bas JM, Goethals MJH. Sclérectomie profonde non perforante, résultats préliminaires. Bull Soc Belge Ophthalmol 1999 ; 272 : 55-9.

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21. Cheng JW, Ma XY, Wei RL. Efficacy of non-penetrating trabecular surgery for open angle glaucoma: a meta-analysis. Chin Med J (Engl). 2004; 117(7): 1006-10.

22. Paletta Guedes RA, Paletta Guedes VM, Gonçalves Leite IC, Chaoubah A. Comment on the article entitled "Nonpenetrating glaucoma surgery: meta-analysis of recent studies" by Hondur A, Onol M, Hasanreisoglu B, published in J Glaucoma. 2008;17: 139-46. J Glaucoma. 2008; 17(7): 603-4.

23. Hondur A, Onol M, Hasanreisoglu B. Non-penetrating glaucoma surgery. J Glaucoma. 2008; 17(2): 139-46.

24. Rulli E, Bigioli E, Riva I et al. Efficay and safety of trabeculectomy vs nonpenetrating surgical procedures: a systematic review and metaanalysis. JAMA Ophthalmol. 2013. 131(12): 1573-82.

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53

2%

98%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

1 - O uso de adjuvantes(mitomicina-C e 5-fluorouracil) é

fundamental na técnica deEsclerectomia Profunda Não

Penetrante.

2%

98%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

2. A goniopunctura com ND:YagLASER é considerada um passosequencial importante após aEsclerectomia Profunda Não

Penetrante e deve ser realizadasempre que necessário para mantera pressão intra-ocular sob controle

adequado.

0%

100%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

3 - A retirada da membranatrabecular externa é um passo

fundamental para a técnica.

Abstenção: 35%

Abstenção: 29%

Abstenção: 43,5%

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54

16%

84%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

4 - Apesar do menor número decomplicações no período pós-

operatório, a técnica cirúrgica dascirurgias não penetrantes é

considerada mais complexa edesafiadora que a trabeculectomia

clássica.

25%

75%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

5. A Esclerectomia Profunda NãoPenetrante proporciona resultados

tensionais comparáveis àtrabeculectomia.

18%

82%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

6 - A cirurgia não penetrante podeser indicada em casos de glaucomade ângulo aberto, seja primário ou

secundário.

Abstenção: 36%

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Capítulo 5

IMPLANTES DE DRENAGEM

Coordenadores: Marcelo Hatanaka e Remo Susanna Jr.

Auxiliares: Ana Carolina Pasquini Raiza, Jair Giampani Jr., Ricardo Suzuki e

Rogério João Almeida Torres

Introdução Os implantes de drenagem para glaucoma são dispositivos compostos por um

longo tubo de silicone posicionado tipicamente na câmara anterior (em casos

específicos, no sulco ciliar ou cavidade vítrea), com extensão até um prato distal.

Os diferentes modelos de implantes apresentam pratos com formato e área

distintos. O controle pressórico está relacionado à capacidade de drenagem do

humor aquoso, que, por sua vez, resulta de uma relação entre resistência ao

fluxo do líquido pelo tubo, resistência da cápsula fibrosa que se forma ao redor

do prato e área do prato.

Indicações

As indicações clássicas para o uso dos implantes são:

• Falência de trabeculectomia;

• Fibrose conjuntival extensa;

• Glaucoma neovascular;

• Situações em que a trabeculectomia tem grande chance de falência.

O uso dos implantes de drenagem para glaucoma, como opção cirúrgica primária,

tem aumentado, sob a justificativa de menor frequência de complicações

precoces, pós-operatório imediato menos trabalhoso e maior facilidade

técnica.1-4 Convém ressaltar, contudo, que a manipulação cirúrgica da conjuntiva

para a colocação do dispositivo de drenagem pode inviabilizar a realização de

uma trabeculectomia a posteriori, no caso de falência do implante. Além disso,

no caso de falência da trabeculectomia, a despeito da tentativa de recuperá-la

com laser goniopuntura5 ou agulhamento, outra trabeculectomia pode ser

tentada, e a colocação do implante ainda é viável

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Tipos de implante de drenagem para glaucoma:

Os implantes podem ser classificados em valvulados e não valvulados. Os

valvulados (Ahmed FP-7, de silicone, e Ahmed S2, de polipropileno), permitem

filtração imediata para o espaço subconjuntival, com imediata redução da

pressão intraocular, ao contrário dos não-valvulados, que necessitam de sutura

para restrição ao fluxo.

Desvantagens dos modelos valvulados incluem:

- Mal funcionamento da válvula, ora causando hipotonia, ora não abrindo o

suficiente com consequente manutenção de pressões elevadas;

- Fusão tardia das lâminas que compõem a válvula e consequente

comprometimento da filtração;

- Prato mais espesso e com irregularidades em sua superfície, o que dificulta a

colocação em olhos com pouca conjuntiva disponível e excessiva tensão

conjuntival com maior risco de extrusão do implante;

- Espessamento da cápsula ao redor do implante, com consequente redução da

filtração, em decorrência da passagem de elevados níveis de substâncias pró-

inflamatórias para o prato.6,7

Os implantes não valvulados evitam que elevados níveis de TGβ e PGE2,

substâncias pró-inflamatórias associadas a maior espessamento da cápsula ao

redor do implante,6,7 atinjam a placa precocemente, por necessitarem de sutura

para restrição do fluxo com fio absorvível. A pressão intraocular, contudo, tende

a permanecer elevada até a absorção deste fio, o que pode ser minimizado

através de uma fenestração do tubo com agulha do fio de nylon 10-0 ou do vicryl

7-0, anterior à sutura, por onde haverá escoamento do aquoso até que o fio seja

absorvido (ao redor de 5 semanas), e o fluxo de aquoso atinja a placa.

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57

Existem, no mercado brasileiro, 3 implantes comercialmente disponíveis, com as

seguintes características:

A despeito de diferentes critérios de sucesso e tempo de seguimento, as taxas

de sucesso descritas na literatura são semelhantes para os três modelos.6-12

As complicações, de forma geral, encontradas em diferentes estudos

envolvendo implantes de Ahmed e Baerveldt incluem: efusão ou hemorragia

subcoroidea, problemas de motilidade ocular extrínseca, descompensação

corenana, endoftalmite. O implante de Susanna tem apenas um estudo

realizado,12 sendo as seguintes principais complicações descritas: 2 casos (3.44%)

erosão sub conjuntival e 2 casos de hipotonia tardia (3.44%).

Susanna Ahmed Baerveldt

*Os implantes de drenagem aqui descritos e ilustrados apresentam registro

perante a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

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58

Potenciais vantagens do implante de Susanna sobre os dispositivos de Ahmed e

Baerveldt incluem: possibilidade de ser posicionado dobrado, através de menor

abertura conjuntival, menor manipulação conjuntival com consequente redução

de reação inflamatória, fixação a 5-6 mm do limbo, túnel escleral confeccionado

com agulha mais delicada (26,5G), menor probabilidade de extrusão do tubo e

placa (tubo com 530 micra de diâmetro e prato com 0,5 mm de espessura),

menor chance de toque no endotélio, íris e cristalino, prato pode ser

customizado (cortado) de acordo com espaço subconjuntival disponível,

incluindo pacientes com explantes esclerais e conjuntivas fibróticas, sem

necessidade de preenchimento da

câmara anterior com substancias

viscoelásticas ou ar.

Técnica cirúrgica

Realiza-se uma abertura conjuntival

suficiente para a exposição do leito

onde será fixado o implante. O

implante de Baerveldt, pelo seu

formato, deve ser colocado sob

os músculos retos, enquanto que

os de Ahmed e Susanna devem

ser fixados entre os músculos. Os

três implantes deverão ser

colocados preferencialmente no

quadrante temporal superior,

abaixo do tenon e conjuntiva. Os

quadrantes inferiores podem ser

considerados, na ausência de

condições técnicas para o

posicionamento superior e, neste caso,

preferencialmente o nasal inferior por

ser esteticamente mais aceitável e

devido à menor chance de interferir

com o musculo obliquo inferior.

Cirurgia de implante de drenagem

Imagens cedidas por Dr. Homero G. Almeida

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Todos implantes devem ser inspecionados antes de implantados. O dispositivo

de drenagem de Ahmed deve ter válvula aberta através da canalização do tubo

com agulha de insulina ou com cânula 30 G e irrigação forçada de BSS (prime). A

mesma técnica deve ser realizada em implantes não valvulados, com o intuito

de verificar se o lúmen dos mesmos não apresenta oclusões.

O prato do implante é fixado à esclera através de orifícios próprios localizados a

aproximadamente 5mm a 6 mm do limbo no caso do implante de Susanna (por

apresentar "pés" para fixação que avançam 4 mm em extensão anterior) a 8-10

mm do limbo no caso dos implantes de Ahmed e Baerveldt. Assim, o corpo do

implante vai se situar entre 8mm e 10mm do limbo.

O tubo é cortado de forma biselada de forma que 2mm a 3mm do mesmo fique

dentro da câmara anterior. O bisel deve ficar voltado anteriormente, com ângulo

aproximado de 30 graus. É feito um túnel escleral de aproximadamente 1,5mm

a 3mm com uma agulha 26,5 G no caso do implante de Susanna (por ter um tubo

mais fino) ou com agulha 23G nos demais modelos. Esta tunelização deve ser

feita com a penetração da agulha paralela e mais próxima à íris, a fim de se

reduzir o risco de descompensação corneana por perda endotelial crônica.

O tubo será inserido na câmara anterior através deste túnel escleral. Nos casos

dos implantes Ahmed ou Baerveldt, que têm um tubo com maior diâmetro (com

consequente maior saída de líquido da câmara anterior), recomenda-se

preenchimento da câmara com ar, BSS ou substância viscoelástica. Recomenda-

se que o tubo seja recoberto com manchão de esclera preservada ao longo de

todo o seu trajeto.

Nos implantes não valvulados, o fluxo do aquoso através do tubo deve ser

inicialmente restrito através de uma oclusão completa do tubo, feita com uma

sutura com fio absorvível (Vicryl 7-0) próximo à borda anterior do prato.

Fenestrações anteriores a esta sutura podem ser realizadas com as agulhas já

mencionadas para permitir saída do humor aquoso até que ocorra a absorção e

abertura espontânea desta sutura de contenção. Esta sutura deve ser

posicionada de forma a ficar visível para eventual necessidade de lise com laser

de argônio ao longo do acompanhamento pósoperatório. Nestes casos é útil a

utilização da lente Blumenthal.

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60

Após fixação do tubo com nylon 9-0 ou seda 8-zeros e cobertura do manchão de

esclera, fixado com vicryl 7-0, a conjuntiva é reposicionada e suturada de forma

a cobrir todo o implante de drenagem.

No período pós-operatório, colírios hipotensores deverão ser mantidos de

acordo com o nível pressórico obtido. Além disso, alguns estudos sugerem que

o uso de supressores de humor aquoso no pós-operatório precoce levar a melhor

filtração do aquoso em longo prazo por reduzir mediadores inflamatórios ao

redor do prato, bem como diminuir a pressão hidrostática exercida sobre a

cápsula fibrótica.13-15

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61

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.

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63

73%

27%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

1. Implantes não valvulados, comsutura temporária de restrição, têm

menor concentração de fatorespró-inflamatórios, o que

proporciona uma cápsula mais finae permeável.

7%

93%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

2. O tratamento precoce da fasehipertensiva do dispositivo de

drenagem valvulado tipo Ahmedpode melhorar o resultado emtermos de redução da pressão

intraocular, taxa de sucesso e fasehipertensiva.

25%

75%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

3. A restrição temporária ao fluxo énecessária nos implantes não

valvulados, e pode ser necessáriatambém nos implantes valvulados.

Abstenção: 36%

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64

42%

58%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

5. A eficácia dos implantes dedrenagem, valvulados ou não, é

semelhante.

13%

87%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

4. Não há indicação para o uso deantimetabólitos na cirurgia dos

implantes de drenagem.

Abstenção: 20%

16%

84%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

6. Os implantes de drenagem paraglaucoma podem ser utilizados

como opção primária em casos deglaucoma com pressão não

controlada clinicamente.

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65

Capítulo 6

TRABECULOTOMIA E

GONIOTOMIA Coordenadores: Alberto Jorge Betinjane e Geraldo Vicente de Almeida

Auxiliares: Camila Fonseca Netto, Regina Cele Silveira, Sérgio Henrique

Sampaio Meirelles e Wagner Duarte Batista

Introdução O glaucoma congênito é uma doença rara, e é considerada uma das maiores

causas de cegueira da infância. Entre os tipos de glaucoma da infância, o mais

comum é o glaucoma congênito primário. O tratamento de glaucoma congênito

primário é essencialmente cirúrgico e se constitui, muitas vezes, em verdadeiro

desafio para o médico especialista. O glaucoma congênito pode se manifestar

clinicamente, de várias formas, algumas mais graves outras menos graves, e isto

resulta na necessidade de diferentes formas de abordagem de tratamento,

visando a melhor indicação cirúrgica como primeiro procedimento. Com certa

frequência, múltiplas intervenções cirúrgicas são necessárias para o controle da

doença, e mesmo assim, nem sempre isso ocorre, de maneira plena,

necessitando de complementação de tratamento clínico, ou seja, uso de colírios

hipotensores.

Convém referir que os procedimentos cirúrgicos devem somente serem

realizados por cirurgiões, habilitados e familiarizados com as anomalias

anatômicas comumente observadas no glaucoma congênito (mais

particularmente nos olhos buftálmicos), uma vez que a possibilidade de

complicações é maior em relação às cirurgias usadas para o tratamento de

glaucoma do adulto. Outra questão importante diz respeito ao fato de que a

escolha da primeira cirurgia a ser realizada é de fundamental importância, uma

vez que o seu sucesso se traduz na maior chance de se conseguir o controle da

doença a longo prazo.

O glaucoma congênito primário é a forma mais comum de glaucoma da infância.

Ele ocorre devido a uma anormalidade de desenvolvimento do ângulo da

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câmara-anterior e da malha trabecular, e não está associado a outras alterações

oculares ou sistêmicas. No final da gestação ocorre normalmente uma

reabsorção do tecido mesodérmico (ligamento pectíneo) que preenche a região

do angulo da câmara-anterior. Caso isso não aconteça no devido momento do

desenvolvimento da criança, ocorrerá uma obstrução ao escoamento do humor

aquoso com consequente aumento da pressão intraocular, e consequentemente

o desenvolvimento de glaucoma congênito. 1,2

Em 1938, Otto Barkan, um oftalmologista norte-americano, idealizou a

goniotomia, usada inicialmente para o tratamento de glaucoma primário de

ângulo aberto do adulto tendo referido, na época, taxa de sucesso em torno de

30%. Posteriormente, esta técnica foi reservada para crianças portadoras de

glaucoma congênito primário.

Após alguns anos, em 1960, foi introduzida a trabeculotomia, usada nos casos

de glaucoma congênito onde o edema corneano impossibilitava o uso da técnica

de goniotomia.

Ambos os procedimentos cirúrgicos descritos (conhecidos atualmente como

cirurgias angulares), melhoraram o prognóstico da visão dos pacientes com

glaucoma na infância, a partir do momento que começaram a ser empregados

no tratamento da doença.1-4. As cirurgias angulares são consideradas como as de

primeira escolha para o tratamento de glaucoma congênito primário.1-4. Para

decidirmos qual o procedimento mais indicado para um determinado caso de

glaucoma infantil, deve-se levar em conta alguns fatores, entre eles a idade da

criança, a transparência corneana, o comprimento axial, as características do

defeito anatômico e as eventuais síndromes sistêmicas coexistentes. O diâmetro

corneano e o comprimento axial podem refletir a severidade de glaucoma.1-3

Nas técnicas de cirurgias angulares é necessário ter um profundo conhecimento

do limbo cirúrgico e suas variações comumente observadas no glaucoma

congênito. A goniotomia e trabeculotomia visam a retirada de tecido

mesodérmico, principal local de resistência da drenagem do humor aquoso. Na

literatura são referidas altas taxas de sucesso e baixos índices de complicações,

similares para ambas as cirurgias no tratamento de glaucoma congênito primário,

sendo os melhores resultados aqueles observados em crianças com idade

inferior a 3 anos. 1-5

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Goniotomia:

O procedimento visa seccionar o tecido mesodérmico persistente (pectíneo),

que causa uma obstrução pré-trabecular ao escoamento do humor aquoso. Cria-

se assim uma comunicação da câmara anterior com o canal de Schlemm.1-4

Para a realização da cirurgia convencional se faz necessária transparência

corneana e microscópio cirúrgico, para que se possa ter visão direta do ângulo

da câmara-anterior utilizando-se uma goniolente.

Há vários modelos, de goniolentes, entre elas as lentes de Barkan, Worst, Hill e

Swan-Jacobs, permitindo magnificação da imagem, e contribuindo para a

execução da excisão ab-interno do tecido persistente. Sugere-se o uso de colírio

miótico no pré-operatório, para proteção do cristalino durante o procedimento. 1-4

Em olhos com transparência da córnea diminuída por presença de edema

epitelial pode-se melhorar a visualização da câmara-anterior através do

debridamento do epitélio utilizando-se álcool absoluto imediatamente antes da

cirurgia. Outra maneira de melhorar a transparência da córnea, em olhos com

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edema superficial é através do uso de colírio de glicerina ou cloreto de sódio a

5%, embora geralmente sejam menos eficientes.

Convém referir ainda que, em olhos com transparência da córnea muito

diminuída, a goniotomia poderá eventualmente ser realizada utilizando-se o

auxílio de método endoscópico, através de instrumental adequado para

procedimento.

O goniótomo (geralmente faca de Worst ou Barraquer), ou ainda uma agulha

23G ou 25G, adaptada a uma seringa de viscoelástico, terá acesso ao ângulo da

câmara anterior por uma incisão limbar auto-selante, realizada no setor

temporal da córnea periférica, a 1 mm do limbo. O instrumento atravessa a

câmara-anterior, em direção à região oposta do ângulo, tomando o cuidado para

não lesar a íris, até alcançar o tecido mesodérmico persistente que preenche o

ângulo no setor oposto (região nasal), e então proceder de maneira delicada a

incisão do mesmo.

A sutura da incisão corneana deve ou não ser feita, caso julgarmos necessário. A

conjuntiva é totalmente preservada, protegendo-a para eventuais futuras

cirurgias fistulizantes. É de suma importância que a posição da cabeça do

paciente antes do início da cirurgia esteja ligeiramente rodado a 45 graus,

possibilitando uma maior visualização das estruturas. 1-4

A estabilidade da manutenção da câmara anterior durante o procedimento pode

ser obtida através de um sistema irrigador contínuo com solução balanceada

conectado ao instrumento de corte, ou por viscoelástico pesado que mantém o

instrumental longe do diafragma cristaliniano. 1-4

Logo após a excisão do tecido mesodérmico pela goniotomia, observamos um

aprofundamento da câmara anterior e o esporão escleral torna-se visível,

ocorrendo um movimento de posteriorização da íris. No momento de excisão, é

fundamental observar o aprofundamento na parede escleral, para que não haja

perfuração e também lesão iriana ou ciclodiálise. Em alguns casos, pode ocorrer

goniossinéquias. 1-5

No pós-operatório deve-se usar colírio de corticoide e antibiótico. Em alguns

casos, se faz necessário uso de midriático, para controle de eventual reação

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inflamatória observada na câmara-anterior (irite). Pode ocorrer, no pós-

operatório, presença de hifema, leve a moderado, que geralmente tem

resolução em alguns poucos dias.

A taxa de sucesso da goniotomia em pacientes com glaucoma congênito

primário pode variar de 80 – 90 %, após um ou dois procedimentos em crianças

de 3 meses a 01 ano de vida. 1-8Em pacientes recém natos ou maiores de 01 ano,

após um ou dois procedimentos, a taxa de sucesso é reduzida em

aproximadamente entre 30-50%.

Procedimento de Goniotomia

Imagens cedidas por Dr. Alberto Betinjane

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Trabeculotomia:

A trabeculotomia, assim como a goniotomia, tem por objetivo a secção do tecido

mesodérmico persistente que dificulta o acesso do humor aquoso para as vias

de drenagens naturais do olho. A diferença principal, em relação à goniotomia,

é que a trabeculotomia pode ser realizada em olhos com opacidade importante

da córnea (edema acentuado e leucoma). Faz-se a dissecção, de forma ab-

externa, da parede interna do canal de Schlemm e da malha trabecular, criando

uma passagem livre entre a câmara anterior e o canal de Schlemm. 3-7Pelo fato

de apresentar alguns tempos cirúrgicos semelhantes ao da trabeculectomia

(início e final da cirurgia), a curva de aprendizado pode parecer ser um pouco

menor em relação ao da goniotomia.4No entanto, com certa frequência, alguns

tempos cirúrgicos são extremamente difíceis de serem bem realizados, mesmo

por cirurgiões experientes e familiarizados com olhos buftálmicos, o que torna

difícil o aprendizado.

O trabeculótomo é o instrumento essencial para execução do procedimento,

havendo vários modelos, sendo o mais utilizado o trabeculótomo de Harms.

O procedimento consta de uma peritomia conjuntival de base límbica ou fórnix.

Delamina-se um flap escleral com metade da espessura escleral, com base

límbica, podendo ser triangular ou retangular a critério da experiência de cada

cirurgião. A hemostasia deve ser realizada com cautela, pois pode causar

retração dos tecidos

Em olhos buftálmicos, a espessura escleral é bem mais fina que o normal, o que

poderá resultar em dificuldades e cuidados adicionais na execução do retalho

escleral.3-6

Em olhos buftálmicos a anatomia da região do limbo comumente encontra-se

alterada pela distensão da esclera resultante do aumento do globo ocular e deve

ser bem identificada para a realização do procedimento, o que nem sempre é

fácil, mesmo para os cirurgiões mais experientes. Assim, muitas vezes é difícil se

determinar com exatidão o local do limbo cirúrgico, ou o exato local da junção

córneo escleral.

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Após a realização do retalho conjunctival (de base límbica ou fornix), e do retalho

escleral, processa-se uma incisão radial na região do limbo, visando a localização

do canal de Schlemm. A localização correta do canal de Schlemm é de extrema

importância para o sucesso da cirurgia. Considera-se como ponto de referência

a junção entre a banda trabecular e a esclera. Inicia-se a incisão radial na zona

cinzenta imediatamente à frente do limbo, direcionando-se o corte

posteriormente e aprofundando-se lentamente a incisão, ao mesmo tempo que

vai se alargando de maneira delicada as bordas laterais da incisão até a

aparecerem os sinais da provável localização do canal. Este comumente se

encontra localizado aproximadamente entre 2,0 e 2,5 mm atrás do limbo

cirúrgico, e a exata localização e incisão de sua parede externa é seguida de um

discreto refluxo de humor aquoso ou leve sangramento.

Deve-se tomar cuidado para não perfurar a parede interna do canal, o que

resultaria em entrar inadvertidamente na câmara-anterior. Após a sua

identificação, introduz-se o a haste do trabeculótomo em um dos lados do canal

de Schlemm e roda-se a ponta do mesmo em direção à câmara-anterior. Em

seguida, o mesmo procedimento é realizado para o lado oposto.

Se houver resistência no procedimento da introdução do trabeculótomo no CS

ou na rotação do mesmo para a câmara-anterior é sinal de provável ocorrência

de falsa via, devendo-se a proceder a complementação da incisão radial até a

completa dissecção da parede externa do canal. Assim, a certeza de introdução

correta da ponta do trabeculótomo é determinada pela introdução e rotação da

ponta do mesmo, sem observarmos qualquer resistência.

Caso contrário, poderá estar ocorrendo introdução inadvertida na espessura da

córnea ou, em caso da raiz da íris se movimentar, a sonda do trabeculótomo

poderá estar na câmara-anterior. Por outro lado, se a sonda se movimentar sem

resistência em direção posterior é provável que tenha se direcionada para o

espaço supra-coroidel. No caso em que o CS não seja identificado, o

procedimento pode ser abortado e convertido para, trabeculectomia desde que

o local da cirurgia seja no setor superior.

A realização de punção da câmara-anterior no início da cirurgia é conveniente

visando a manutenção da câmara-anterior durante a cirurgia. Outra maneira de

se manter formada a câmara-anterior durante o procedimento, e assim proteger

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melhor o cristalino, é através de injeção de ar, ou viscoelástico na câmara

anterior previamente à introdução do trabeculótomo. Caso ocorra pequeno

hifema logo em seguida à rotação do trabeculótomo, geralmente ele é

transitório, já não mais se observando a presença do mesmo no primeiro dia de

pós-operatório. Em seguida, o flap escleral é suturado com mononylon 10-0 e a

conjuntiva com fio absorvível, geralmente vicryl 8-0. Em caso de ter sido feito

paracentese previa, esta deverá ser suturada ao final da cirurgia. O pós-

operatório deverá ser conduzido com uso colírio de antibiótico e cortisona

durante alguns poucos dias.

Existem alguns procedimentos cirúrgicos alternativos à trabeculotomia

convencional, entre eles a trabeculotomia 360º.

Na trabeculotomia 360°, ou trabeculotomia circunferencial, ao contrário da

trabeculotomia convencional que resulta no máximo em incisão de 1/3 do canal

de Schlemm, o procedimento permite que todo o ângulo seja tratado em uma

única sessão. Isto é conseguido com a introdução no canal de Schlemm de um

fio de prolene 6-0 ou um dispositivo de canaloplastia iluminado através do canal

de Schlemm. Nesta manobra, o fio de prolene, ou o cateter iluminado, podem

encontrar resistência durante a introdução no canal de Schlemm e dificultar a

complementação do procedimento em 360°. Nesta manobra, algumas possíveis

complicações podem ocorrer, entre elas, o direcionamento inadvertido do fio

para o espaço supra coroideo causando consequentemente hipotonia ocular.

Em um estudo retrospectivo, comparando a goniotomia e a trabeculotomia de

360°, demonstrou-se que 92% dos pacientes com glaucoma congênito primário

submetidos a trabeculotomia tiveram pressão intraocular controlada abaixo de

22 mmHg com um único procedimento, enquanto apenas 57,5% dos pacientes

submetidos à goniotomia tiveram sucesso no controle da pressão. O tratamento

de 360° pode também resultar em período mais longo de controle de pressão

intraocular. 8,9

Em relação à trabecultomia convencional, a maioria das complicações se

relacionam à manipulação da sonda do trabeculótomo. O posicionamento

incorreto da sonda no canal pode resultar, entre outras complicações, em

ruptura da membrana de Descemt, iridodiálise, lesão do cristalino, ciclodiálise,

sangramento abundante etc.

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73

A trabeculotomia comumente é

realizada na região do limbo superior.

Nesta região, em caso de necessidade

ela pode ser convertida em

trabeculectomia. Se necessário a

trabeculotomia pode ser repetida em

outros setores, inclusive temporal e

mesmo inferior. O índice de sucesso da

trabeculotomia convencional, inclusive

considerando cirurgias repetidas, é

semelhante ao da goniotomia. 8,9

Em literatura verifica-se citações de baixa incidência de complicações pós-

operatórias com o procedimento, entre eles a ocorrência de catarata. 4-8 Até o

momento não parece haver nenhum estudo prospectivo randomizado que

compare simultaneamente os resultados pressóricos da trabeculotomia versus

a goniotomia para confirmarmos a eficácia de um procedimento sobre o outro.

Vale ressaltar que o planejamento e a execução da cirurgia devem ser

conduzidos por cirurgião experiente pois, isso trará consequências diretas no ato

operatório e no resultado do procedimento a longo prazo. 3-8

Imagens cedidas por Dr. Alberto Betinjane

Imagens cedidas por Dr. Alberto Betinjane

Imagem gonioscópica pós trabeculotomia

Trabeculotomia + UBM (antes e após procedimento)

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75

9%

91%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

1. No tratamento do glaucomacongênito primário, a taxa de

sucesso da goniotomia é similar ada trabeculotomia.

0%

100%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

2. A severidade do quadro clínicoe a idade interferem no

prognóstico das cirurgiasangulares em olhos com

glaucoma congênito primário. Oprognóstico é pior em olhos com

acentuadas anomalias anatômicasda doença logo ao nascimento, ou

nos primeiros meses

3%

97%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

3. A goniotomia geralmente émais eficiente quando realizada

no primeiro ano de vida dacriança, e pode ser repetida mais

uma vez, em outro setor, senecessário.

Abstenção: 22%

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76

20%

80%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

4. A trabeculotomia , com certafreqüência, necessita ser repetidapara o devido controle da pressão

intra-ocular podendo, nestes casos,ser realizada nos setores temporal

ou inferior do olho.

2%

98%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

5. A trabeculotomia pode serconvertida em trabeculectomia nocaso de não se conseguir identificara localização do canal de Schlemm,

desde que o local de acessocirúrgico seja o setor superior.

0%

100%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

6 - A goniotomia e atrabeculotomia são as cirurgias

mais comumente usadas noglaucoma congênito primário.

Podem também ser realizadas emalguns outros tipos de glaucoma

infantil secundário, embora, nestescasos, o índice de sucesso seja

menor.

Abstenção: 35%

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77

Capítulo 7

CIRURGIAS MINIMAMENTE

INVASIVAS PARA GLAUCOMA Coordenadores: Lineu Oto Shiroma e Vital Paulino Costa

Auxiliares: Carlos Akira Omi, Emílio Rintaro Suzuki Jr, José Paulo Cabral de

Vasconcelos e Rui Barroso Schimiti

Introdução Há décadas, oftalmologistas vêm buscando melhorar os resultados da cirurgia

de glaucoma. Mesmo com variações nas diversas técnicas empregadas, a relação

sucesso/segurança ainda é inadequada. O padrão ouro da cirurgia

antiglaucomatosa continua sendo a trabeculectomia, apesar das complicações

não raro presenciadas: hipotonia, hiperfiltração, atalamia, infecção tardia,

excesso de cicatrização. Apesar de variações na técnica cirúrgica, a essência do

procedimento não mudou: cria-se uma fístula protegida para drenar o humor

aquoso da câmara anterior para o espaço subconjuntival superior.

Em 2009, o canadense Ike Ahmed criou o termo MIGS (minimally invasive

glaucoma surgery, depois alterado para microinvasive glaucoma surgery).

Inicialmente, o conceito de MIGS seria de uma cirurgia ab interno, com uso de

material biocompatível, mínimo dano estrutural e fisiológico, baixo risco, eficaz

na redução da pressão intraocular e de rápida recuperação pós-operatória.

Várias vias de escoamento do humor aquoso podem ser estimuladas com esses

procedimentos. Podemos explorar as vias naturais de escoamento (canal de

Schlemm e canais coletores), evitando a formação de uma vesícula filtrante e as

complicações dela decorrentes. Desse grupo fazem parte implantes como o

iStent e o Hydrus, e procedimentos como o Trabectome e o Kahook dual blade.

São procedimentos rápidos, associados a poucas complicações precoces e

tardias, mas limitadas a pressões finais nunca menores que a pressão dos canais

coletores/veias episclerais

De fato, as publicações existentes revelam que o implante de um iStent em

procedimento isolado (não associado à facoemulsificação) promove redução de

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78

22% pressão intraocular após 18 meses de seguimento, associado a uma redução

média de 1,2 do número de medicações antiglaucomatosas. O implante de 2

iStents resulta na redução de 30% da pressão intraocular após 6 meses, além de

redução média de 1,45 de medicações.1

Quando comparado com a facectomia isolada, o iStent combinado com a cirurgia

de catarata apresenta resultados melhores da redução da pressão intraocular

abaixo de 20% ou com valores inferiores a 21 mmHg.2-3 Os pacientes submetidos

ao iStent além de apresentarem a melhor redução da pressão intraocular,

também apresentaram redução no número de medicações anti-glaucomatosa

quando comparados a facectomia isolada. 4-6

Samuelson et al.3 sugerem que o implante de um único iStent combinado com

cirurgia de catarata apresenta redução sustentável da pressão intraocular em

casos de glaucoma inicial a moderado. Alguns autores também sugerem que

para casos de glaucoma mais avançados, o implante de 2 ou 3 implantes pode

apresentar resultados significativos.7 O uso isolado do Stent (sem cirurgia de

catarata) é possível. Vold e colaboradores mostraram que nestes pacientes,

houve redução da pressão intraocular abaixo de 18 mmHg em 89,2% após 1 ano

e 91% após 3 anos, apresentado eficácia semelhante aos análogos de

prostaglandinas (travoprosta) nas mesmas condições.8

O implante de Hydrus foi avaliado em associação com cirurgia de catarata no

estudo de Pfeiffer et al.9 Cem olhos de 100 pacientes com catarata e glaucoma

primário de ângulo aberto foram randomizados para cirurgia de catarata isolada

ou em associação com Hydrus. A proporção de pacientes com pelo menos 20%

de redução da pressão intraocular sem uso de medicação foi de 80% no grupo

com Hydrus versus 46% nos pacientes submetidos apenas à facectomia

(P=0,0008). A pressão intraocular média após o procedimento foi de 16,9mmHg

para Hydrus, versus 19,2mmHg para o grupo controle (P=0,0093).

Trabectome ainda não apresenta qualquer estudo prospectivo e randomizado

publicado. Conforme revisão e metaanálise de Kaplowitz,10 pacientes com

pressão intraocular pré-operatória média de 26.71±1.34 mmHg apresentaram

redução de 10.5±1.9 mmHg (39%), com redução do número de medicações de

0.99±0.54. A taxa de sucesso após 2 anos de seguimento foi de 46±34%, para um

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critério de pressão intraocular ≤ 21 mmHg e 20% de redução da pressão

intraocular, sem necessidade de reoperação.

Estudos que avaliam o KDB (Kahook dual blade) mostram que, em associação

com facoemulsificação, pode-se obter 33% de redução da pressão intraocular

após 3 meses de seguimento, com 69% dos pacientes diminuindo pelo menos 1

medicação em uso.11

O sucesso das MIGS que atuam na área trabecular (iStent, Hydrus, Trabectome,

KDB) depende da região a ser abordada, da técnica correta e do conhecimento

aprimorado da anatomia do seio camerular. Isto porque a maior parte dos canais

coletores se encontra no quadrante nasal, local de escolha para uso de MIGS.

Outros aparatos promovem o aumento do escoamento pela via úveo-escleral,

através de implantes que comunicam a câmara anterior ao espaço supraciliar

(Cypass, iStent Supra). Os resultados dos estudos publicados com o Cypass

revelam reduções da pressão intraocular na ordem de 34,7% após 12 meses do

procedimento, com redução no número de medicações de 2,2 ± 1,1 para 1,4 ±

1,3 medicações.12

Recentemente, o termo MIGS “plus” foi criado para classificar o implante Xen,

que cria uma bolha filtrante e requer o uso de mitomicina-C, porém sem

manipulação conjuntival, graças à utilização de pequeno tubo de material

biocompatível (gelatina derivada do colágeno). Ainda não há estudos publicados

com resultados deste implante, mas dados preliminares mostram redução de

37% da pressão intraocular após 12 meses de seguimento, com redução do

número de medicações de 2,7 ± 1 para 0,9 ± 1,1 (P<0,001).13

Outra técnica que resulta na formação de uma bolha filtrante, mas com

abordagem externa, é o InnFocus MicroShunt® Glaucoma Drainage System,

previamente chamado de MIDI Arrow, que, na nossa opinião, não deve ser

considerada uma cirurgia minimamente invasiva devido à necessidade de

manipular a conjuntiva.

Com essas novas invenções, aumentamos significativamente o nosso arsenal

cirúrgico, possibilitando novas combinações e gerando novas indicações. É

importante lembrar que os pacientes que podem se beneficiar dessas técnicas

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80

são os portadores de glaucoma de ângulo aberto leve e moderado e que os

pacientes com glaucoma de ângulo fechado ou glaucoma secundário não são

bons candidatos a esses procedimentos.

No entanto, com exceção do iStent e do Trabectome, muitas dessas novas

modalidades cirúrgicas ainda estão em fase inicial de utilização ou de

investigação. É fundamental que se ganhe experiência com essas novas técnicas

para que possamos identificar de forma precisa sua melhor indicação. Estudos

prospectivos, com maior número de pacientes e maior tempo de seguimento são

necessários para confirmar a eficácia, segurança e papel desses novos

procedimentos no manejo de glaucoma.

Imagens cedidas por Glaukos®

*O iStent aqui descrito e ilustrado apresenta registro perante a Agência Nacional

de Vigilância Sanitária (ANVISA)

iStent Trabecular Micro-Bypass

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Referências Bibliográficas

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2. Craven ER, Katz LJ, Wells JM, Giamporcaro JE. Cataract surgery with trabecular microbypass stent implantation in patients with mild-to-moderate open-angle glaucoma and cataract: Two-year follow-up. J Cataract Refract Surg 2012; 38:1339-1345.

3. Samuelson TW, Katz, LJ, et al. Randomized Evaluation of the Trabecular Micro-Bypass Stent with Phacoemulsification in Patients with Glaucoma and Cataract, Ophthalmology 2011 March; 118 (3), 459-467

4. Fea AM, Consolandi G, Zola M, Pignata G, et al. Micro-Bypass implantation for primary open-angle glaucoma combined with phacoemulsification: 4-year follow-up. Journal of Ophthalmology Volume 2015;

5. Fea AM, Consolandi G, Zola M, Pignata G, et al. Micro-Bypass implantation for primary open-angle glaucoma combined with phacoemulsification: 4-year follow-up. Journal of Ophthalmology Volume 2015

6. Fernández-Barrientos Y, Garcia-Feijoó J, Martinez de la Casa JM, et al. Fluorophotometric study of the effect of the Glaukos trabecular micro-bypass stent on aqueous humor dynamics. Invest Ophthalmol Vis Sci 2010; 51:3327-3332.

7. Belovay GW, Naqi A, Chan BJ, Rateb M, Ahmed II. Using multiple trabecular micro-bypass stents in cataract patients to treat open-angle glaucoma. J Cataract Refract Surg 2012; 38(11):1911-1917.

8. Vold SD, Voskanyan L, Tetz M, Auffarth G, Masood I, Au L, Ahmed IIK and Saheb H. Newly Diagnosed Primary Open-Angle Glaucoma Randomized to 2 Trabecular Bypass Stents or Prostaglandin: Outcomes Through 36 Months. Ophthalmol Ther. 2016 Sep 12

9. Pfeiffer N, Garcia-Feijoo J, Martinez-de-la-Casa JM, et al.A Randomized Trial of a Schlemm's Canal Microstent with Phacoemulsification for Reducing Intraocular Pressure in Open-Angle Glaucoma. Ophthalmology. 2015 Jul;122(7):1283-93.

10. Kaplowitz K, Bussel II, Honkanen R, et al. Review and meta-analysis of ab-interno trabeculectomy outcomes. Br J Ophthalmol. 2016 May;100(5):594-600.

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82

11. Abdullah S, Jasek MC, Radcliffe NM, et al. A novel dual blade device for goniotomy: initial clinical experience. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2016;57(12):6522.

12. García-Feijoo J, Rau M, Grisanti S, et al. Supraciliary Micro-stent Implantation for Open-Angle Glaucoma Failing Topical Therapy: 1-Year Results of a Multicenter Study.Am J Ophthalmol. 2015 Jun; 159(6):1075-1081.

13. Sheybani A, Ahmed IK. Ab interno gelatin stent with mitomycin-C combined with cataract surgery for treatment of open-angle glaucoma: 1-year results. In: Presented at ASCRS 2015

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83

0%

100%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

1. As MIGS são procedimentosdesenvolvidos recentemente,

portanto o auxílio no controle alongo prazo da pressão intraocularassim como eventuais associações

com outros procedimentoscirúrgicos já utilizados, aindaprecisam ser estabelecidos.

26%

74%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

2. As cirurgias antiglaucomatosasminimamente invasivas (MIGS) são

indicadas em casos de pacientesportadores de glaucoma de ângulo

aberto leve a moderado.

16%

84%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

3. As cirurgias antiglaucomatosasminimamente invasivas podem serrealizadas combinadas ou não com

a cirurgia de catarata.

Abstenção: 22%

Abstenção: 20%

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84

13%

87%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

5. As MIGS podem atuar através devários mecanismos (criando

comunicação direta com canal deSchlemm, espaço supraciliar ou

espaço subconjuntival). A decisãode qual das técnicas de MIGS éindicada, depende da seleçãocuidadosa do paciente, tipo e…

50%

50%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

4. As MIGS se caracterizam pormanipulação conjuntival e

intraocular mínimas, poucascomplicações per- e pós-

operatórias, redução da pressãointraocular de 20-35% e redução

significativa do número demedicações antiglaucomatosas.

21%

79%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

6. As cirurgias antiglaucomatosasminimamente invasivas (MIGS) nãosubstituem a trabeculectomia e os

implantes de drenagem, maspotencialmente apresentam menor

indice de complicações.

5. As MIGS podem atuar através de vários mecanismos (criando comunicação direta com canal de Schlemm, espaço supraciliar ou espaço subconjuntival). A decisão de qual das técnicas de MIGS é indicada, depende da seleção cuidadosa do paciente, tipo e estágio de glaucoma, e se combinada ou não a facoemulsificação.

Abstenção: 30%

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85

Capítulo 8

EXTRAÇÃO DO CRISTALINO E

GLAUCOMA Coordenadores: Lisandro Massanori Sakata e Marcelo Palis Ventura

Auxiliares: Bruno Pimentel de Figueiredo, Nikias Alves da Silva, Nubia Vanessa

dos Anjos Lima Henrique de Faria e Roberto Lauande Pimentel

Introdução O glaucoma secundário relacionado com alterações do cristalino podem ser

resultado de mudança no seu formato (glaucoma facomórfico), de luxações ou

subluxações, saída de proteínas do cristalino (glaucoma facolítico), e reações

imunológicas secundarias a proteínas do cristalino (glaucoma facoanafilático). O

tratamento destas formas da doença envolve procedimentos cirúrgicos.

Mas, de uma maneira muito mais comum, assim como todos os indivíduos, o

cristalino dos pacientes com glaucoma primário também irá desenvolver a

catarata com o tempo. E em olhos anatomicamente predispostos, este processo

pode corroborar com o desenvolvimento do processo de fechamento angular.

As condutas frente a esses casos devem levar em consideração inúmeros fatores,

que norteiam a indicação cirúrgica através da facoemulsificação: do grau de

opacidade, do momento correto da intervenção, e da eventual associação com

procedimentos anti-glaucomatosos.

A gonioscopia diferencia casos de glaucoma de ângulo aberto dos de ângulo

estreito ou fechado, e fornece informação essencial para decisão da conduta,

como por exemplo determinar a extensão do contato aposicional/sinequial da

íris com o trabeculado.

Nos casos de glaucoma de angulo aberto, a facoemulsificação deve ser indicada

primariamente quando existe catarata visualmente debilitante.

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Argumentos para o procedimento com objetivos de faco-refrativa podem ser

discutidos com os pacientes. Entretanto, não existem evidências científicas

apropriadas para a indicação da facoemulsificação como um tratamento efetivo

para a redução da pressão intraocular.

A Academia Americana de Oftalmologia realizou uma revisão de estudos que

avaliaram os efeitos da facoemulsificação em pacientes com glaucoma primário

de ângulo aberto controlados com 1 ou 2 medicações. Os autores observaram

que a facoemulsificação leva a uma redução pressórica pequena, ao redor de

13%, mas que aproximadamente 26% dos pacientes apresentam uma piora no

controle da pressão intraocular pós-facoemulsificação. Nesta revisão constatou-

se também que mais estudos são necessários para avaliar o efeito da

facoemulsificação em olhos com glaucoma avançado e olhos com níveis de

pressão intraocular pré-operatória elevados.¹

Os autores deste estudo sugerem que, em pacientes com glaucoma de angulo

aberto, a facoemulsificação resulte em: uma diminuição da pressão intraocular

em aproximadamente 1/3 dos casos; um aumento em 1/3 dos casos, e que a

pressão intraocular se mantenha semelhante em 1/3 dos casos.

Um dos aspectos complexos sobre o manejo destes pacientes envolve a decisão

sobre a indicação de facoemulsificação isolada, cirurgia anti-glaucomatosa

isolada, ou cirurgia combinada frente aos diferentes graus de opacidade do

cristalino e de controle da pressão intraocular/estabilidade de glaucoma. A

conduta ideal deve ter como objetivo a obtenção da melhor acuidade visual pelo

maior tempo possível, de preferência até o final da vida do paciente. Para tanto,

um balanço entre o controle da doença (neuropatia ótica glaucomatosa como

uma lesão irreversível e de tratamento crônico) e a resolução da opacidade do

cristalino (parte da senescência e de resolução definitiva) deve ser adequado

frente a cada caso. Casos com glaucoma avançado e/ou níveis pressóricos

elevados mesmo sob tratamento clinico máximo representam o extremo de

possíveis situações onde e evidente que o tratamento de glaucoma deve ser

priorizado, de maneira isolada ou associada a resolução da catarata.

O desenvolvimento da catarata faz parte do envelhecimento de todos os

indivíduos, mas em alguns olhos anatomicamente predispostos, a evolução para

a catarata pode contribuir para o processo de fechamento angular.

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O procedimento da facoemulsificação resulta num aumento global da câmara

anterior ao implantar uma lente intraocular que apresenta um tamanho muito

menor quando comparado ao cristalino, e a maioria dos estudos demonstram

uma melhora do controle pressórico dos casos com glaucoma de ângulo fechado

após este procedimento cirúrgico. A remoção do cristalino abre o ângulo,

quando este se encontrava fechado inicialmente, eliminando o contato

aposicional da íris com o trabeculado na grande maioria dos casos.

Assim, o benefício de operar cataratas visualmente debilitantes tem o potencial

de contemplar o melhor controle de glaucoma de ângulo fechado associado a

melhora da acuidade visual obtida pela remoção da catarata. Entretanto, é

importante lembrar que mesmo na presença de catarata visualmente debilitante,

a avaliação individual completa, particularmente da severidade da doença e do

controle pressórico, pode resultar numa indicação de cirurgia combinada –

catarata e glaucoma. Em casos onde a facoemulsificação isolada não obtém um

controle adequado da pressão intraocular, e a evolução de uma lesão

glaucomatosa avançada pode ter consequências graves e irreversíveis para a

visão do paciente. A extensão de sinequias anteriores periféricas representa uma

variável importante, pois até que se prove o contrário, a facoemulsificação não

quebra as goniossinequias, e estas usualmente refletem o grau de

comprometimento da função do trabeculado.2

Dois estudos clínicos randomizados demonstraram que a extração do cristalino

transparente melhoram o controle pressórico em olhos com fechamento angular.

Em um deles, que avaliou casos de glaucoma de ângulo fechado avançado com

extensas áreas de sinequias anteriores periféricas, os autores observaram que a

facoemulsificação isolada obteve redução da pressão intraocular semelhante a

trabeculectomia isolada, mas, como esperado, as custas de mais medicações no

grupo da facoemulsificação.

Em 24 meses de seguimento, 12% dos olhos do grupo da facoemulsificação

necessitou realizar trabeculectomia, enquanto que 33% dos olhos submetidos a

trabeculectomia desenvolveram catarata. Nenhuma informação foi reportada

sobre o ângulo irido-corneano e extensão das sinequias pós-facoemulsificação o.

Assim, apesar de ser um estudo clinico randomizado, é importante que novos

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estudos confirmem estes achados, dado as possíveis consequências da indicação

isolada da facoemulsificação em olhos com glaucoma avançado. Estes novos

estudos permitirão uma melhor caracterização dos olhos que se beneficiarão de

um ou outro procedimento, ou dos dois combinados.3,4

No outro estudo, observou-se que a facoemulsificação isolada obteve melhor

controle pressórico, e também melhores índices de qualidade de vida quando

comparado a iridotomia a laser em olhos com glaucoma de ângulo fechado e

fechamento angular primário. Como conclusão, os autores reportam uma forte

frase de que a iridotomia como tratamento primário deve ser repensado.

Entretanto, o estudo selecionou e uma população bem especifica de pacientes:

olhos com glaucoma de angulo fechado inicial a moderado, e olhos com

fechamento angular primário – com pressão intraocular acima de 30 mmHg.

Assim, o presente estudo falha em comparar as duas intervenções, por exemplo,

em pacientes em fases de fechamento angular menos avançadas (angulo

oclusível – suspeito de fechamento angular). A hipótese levantada pelos autores

sobre alterar o tratamento de referência para o fechamento angular, portanto,

deve se restringir a indivíduos com características semelhantes dos que foram

incluídos no estudo.5

Dentro da população avaliada no estudo, alguns comentários se fazem

pertinentes. O uso de medicações anti-glaucomatosas foi permitido em ambos

os grupos, e a quantidade de drogas foi maior no grupo da iridotomia. Observou-

se que a diferença da pressão intraocular nos dois grupos, apesar de

estatisticamente significante, foi pequena (1.18mmHg). Pacientes de origem

chinesa parece ter sido mais beneficiada pela facoemulsificação no que diz

respeito ao melhor controle da pressão intraocular.

Observou-se uma frequência relativamente alta de progressão funcional em 36

meses de seguimento nos dois grupos (11.5% [24/208] no grupo

facoemulsificação, e 14.2% [30/211] no grupo da iridotomia. E informações

sobre a gonioscopia (extensão do contato aposicional e sinequial) após as

intervenções não foram apropriadamente avaliadas e reportadas. Por fim, o

tempo de seguimento de 3 anos pode ser considerado relativamente curto. 6,7

Em resumo, a facoemulsificação apresenta benefícios no tratamento de

pacientes com glaucoma de angulo fechado, ganhando espaço na câmara

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anterior e obtendo melhora no controle pressórico. Entretanto, mais estudos

são claramente necessários, particularmente nos dois extremos da doença: para

determinar quais os pacientes com fechamento angular que necessitam de fato

desta intervenção, e quais pacientes com glaucoma de angulo fechado podem

ser submetidos a facoemulsificação isolada com segurança.

De fato, até o presente momento, não existem evidencias sobre a relação risco/

benefício da facoemulsificação sobre a iridotomia em indivíduos com suspeita

de fechamento angular e fechamento angular primário com níveis de pressão

intraocular abaixo de 30 mmHg. Dado as taxas de prevalência da doença no

mundo (Glaucoma primário de ângulo fechado – 0.50%, 95% IC 0.11-1.36), e das

relativas baixas taxas de progressão de suspeito de fechamento angular para

fechamento angular primário, e de fechamento angular primário para glaucoma

de ângulo fechado, a indicação de facoemulsificação de cristalino transparente

como tratamento primário parece ser prematuro e desnecessário em uma

grande parcela dos pacientes do ponto de vista da evolução para glaucoma de

angulo fechado. A obtenção do conhecimento sobre estes assuntos encontra-se

em andamento, e o tempo ira esclarecer essas dúvidas.

Referências Bibliográficas 1. Chen PP, Lin SC, Junk AK, Radhakrishnan S, Singh K, Chen TC. The Effect of

Phacoemulsification on Intraocular Pressure in Glaucoma Patients: A Report by the American Academy of Ophthalmology. Ophthalmology. 2015; 122(7):1294-307.

Cristalino intumescente

Imagem cedida por Dr. Carlos Akira Omi.

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90

2. Tham YC, Li X, Wong TY, Quigley HA, Aung T, Cheng CY. Global prevalence of glaucoma and projections of glaucoma burden through 2040: a systematic review and meta-analysis. Ophthalmology 2014;121(11):2081-90.

3. Slabaugh MA, Bojikian KD, Moore DB, Chen PP. The effect of phacoemulsification on intraocular pressure in medically controlled open-angle glaucoma patients. Am J Ophthalmol. 2014 Jan;157(1):26-31.

4. Tham CC, Kwong YY, Baig N, Leung DY, Li FC, Lam DS. Phacoemulsification versus trabeculectomy in medically uncontrolled chronic angle-closure glaucoma without cataract. Ophthalmology 2013;120(1):62-7.

5. Azuara-Blanco A, Burr J, Ramsay C, Cooper D, Foster PJ, Friedman DS, Scotland G, Javanbakht M, Cochrane C, Norrie J; EAGLE study group. Effectiveness of early lens extraction for the treatment of primary angle-closure glaucoma (EAGLE): a randomised controlled trial. Lancet. 2016;388(10052):1389-1397.

6. Thomas R, George R, Parikh R, Muliyil J, Jacob A. Five year risk of progression of primary angle closure suspects to primary angle closure: a population based study. Br J Ophthalmol. 2003 Apr;87(4):450-4.

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91

5%

95%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

1.No cristalino luxado ou sub-luxado, o tratamento cirúrgico

recomendado envolve a remoçãodo cristalino, associado a

vitrectomia, ao uso de aneisexpansores de saco capsular e

suturas de LIO, quandonecessários.

3%

97%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

2. O tratamento cirúrgico primáriodo glaucoma facolítico é a

remoção do cristalino e dasproteínas corticais que se

difundem para a câmara anterior eobstruem o trabeculado.

3%

97%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

3. A gonioscopia é fundamentalpara escolha da melhor condutaterapêutica frente a indivíduos

com glaucoma e catarata.

Abstenção: 20%

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92

7%

98%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

5. Tanto no glaucoma primário deângulo aberto como no de ângulo

fechado, a escolha entreprocedimentos cirúrgicos isoladosou combinados deve considerar a

análise de todas as seguintesvariáveis, assim como a interação

entre elas: severidade doglaucoma,

8%

92%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

4. No glaucoma de ângulo fechadoavançado associado ou não a

pressão intraocular descontrolada,a facoemulsificação isolada pode

não controlar a doença, e aindicação da cirurgia combinada

deve ser considerada.

5. Tanto no glaucoma primário de ângulo aberto como no de ângulo fechado, a escolha entre procedimentos cirúrgicos isolados ou combinados deve considerar a análise de todas as seguintes variáveis, assim como a interação entre elas: severidade de glaucoma, do controle da pressão intraocular vs. número de medicações, da estabilidade/progressão de glaucoma, da avaliação da extensão do contato aposicional/sinequial, e do grau de opacidade do cristalino.

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93

0%

100%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

6. No glaucoma de ângulo aberto, afacoemulsificação deve ser indicada

exclusivamente para melhorar avisão quando ha catarata; e a

diminuição da pressão intraocularNÃO deve ser utilizada como

argumento para a realização desteprocedimento.

2%

98%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

8. No glaucoma facogênico, levandoa um fechamento angular

secundário e aumento da pressãointraocular, a retirada do cristalino

é o tratamento principal parareverter o quadro.

2%

98%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

7. A extração do cristalino,transparente ou não, tem o

potencial de abrir áreas de contatoirido-trabeculado aposicional e

melhorar o controle pressórico emolhos que apresentam fechamentoangular primário ou glaucoma deângulo fechado com iridectomia

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94

3%

97%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

9. Na presença de catarata emolhos com glaucoma primário de

ângulo fechado inicial e moderadobem controlados com até duas

drogas, a facoemulsificação isoladapode ser considerada.

4%

96%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

10. A cirurgia de catarata não deveser indicada para controle

pressórico do glaucoma primáriode angulo aberto

Abstenção:20%

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95

Capítulo 9

CIRURGIAS COMBINADAS

GLAUCOMA E CATARATA Coordenadores: Homero Gusmão de Almeida e Sebastião Cronemberger

Sobrinho

Auxiliares: Cristiano Caixeta Umbelino, Fabio Nishimura Kanadani, José Garone

Lopes Filho, Juscelino Kubitschek de Oliveira, Marcelo Mendonça do

Nascimento e Roberto Pedrosa Galvão Filho.

Introdução Com o progressivo aumento da expectativa de vida, a ocorrência simultânea de

glaucoma e catarata, duas entidades relacionadas com o processo de

envelhecimento, é cada vez mais frequente. Frente a um paciente glaucomatoso

que tem a sua visão adicionalmente comprometida pelo aparecimento de

catarata, existem quatro caminhos a percorrer:

Operar apenas a catarata.

Operar a catarata e o glaucoma simultaneamente.

Operar primeiro a catarata e depois o glaucoma.

Operar primeiro o glaucoma e depois a catarata.

Operar apenas a Catarata

Alguns autores proclamam que, muitas vezes, é possível obter queda

significativa da pressão intraocular em olhos glaucomatosos, apenas com a

facectomia

O resultado tensional dos pacientes glaucomatosos submetidos à facectomia

com implante de lente intraocular parece ser satisfatório. No entanto, há sempre

a possibilidade de agravamento do grau de controle da pressão intraocular em

um número não desprezível de olhos.

Hoje, com a descoberta de novas drogas, ampliando o arsenal terapêutico de

glaucoma e o aperfeiçoamento da técnica de extração da catarata, há maior

tendência a se operar apenas a catarata. A facoemulsificação com incisão em

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96

córnea clara mantém intocada a conjuntiva, favorecendo o sucesso de uma

cirurgia filtrante que eventualmente venha a ser necessária.

Operar o glaucoma e a catarata simultaneamente

Dois avanços significativos forjaram o atual estádio de desenvolvimento técnico

da cirurgia combinada no tratamento da catarata e de glaucoma. Primeiro, a

trabeculectomia, que se tornou a cirurgia filtrante de escolha no tratamento de

glaucoma, com baixa incidência de complicações. Mesmo quando é realizada

simultaneamente com a extração da catarata, é excepcional a ocorrência de

atalamia, que seria desastrosa na presença de uma lente intraocular. Segundo,

o desenvolvimento atual da facoemulsificação, que substituiu a técnica

extracapsular para a extração de catarata, e as incisões pequenas são um avanço

significativo e definitivo.

Diversos trabalhos de facoemulsificação associada à trabeculectomia têm sido

publicados, e alguns sugerem que o grau de controle tensional é melhor com as

técnicas que utilizam incisões pequenas. É indiscutível também que a

recuperação visual é mais rápida, e a incidência de complicações menor.

Existe alguma controvérsia,

mas parece não haver dúvida

de que o controle da pressão

intraocular é mais pobre nas

cirurgias combinadas que na

trabeculectomia isolada. Com a

utilização de mitomicina C nas

cirurgias combinadas parece ocorrer

substancial melhora no controle da

pressão intraocular. Jampel e cols.,

em minuciosa revisão baseada em

evidência da literatura, concluem

que a utilização de mitomicina, e

não de 5-fluorouracil, oferece melhor controle da pressão intraocular nas

cirurgias combinadas de facoemulsificação e trabeculectomia

Imagem 20

Imagem cedida por Dr. Carlos Akira Omi

Cirurgia combinada de implante de válvula de Ahmed e fixação de lente intraocular

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97

A técnica de preferência para facotrabeculectomia incorpora todos os avanços

recentes que ocorreram na técnica cirúrgica da extração de catarata e utiliza a

mitomicina-C para modular a cicatrização da filtração: facoemulsificação

associada à trabeculectomia em incisões separadas.

O pós-operatório requer especial atenção para administrar-se o funcionamento

da fístula, já desde o primeiro dia. Se não há nenhum sinal de drenagem pela

trabeculectomia pode-se realizar leve massagem digital. Na grande maioria dos

casos esta manobra estimula a formação da fístula e formação da bolsa

conjuntival. Se o olho resiste à massagem, deve-se realizar a gonioscopia para

avaliar-se as causas da obstrução à drenagem. Se a abertura interna da

trabeculectomia apresenta-se livre e não há drenagem espontânea, já no quarto

ou quinto dia pode-se pensar em liberação do ponto do retalho escleral com

laser de argônio.

O resultado pressórico da técnica de facoemulsificação e trabeculectomia com

incisões separadas parece ser superior à facotrabeculectomia em incisão única.

Vemos várias vantagens na utilização de incisões separadas. Primeiro, a incisão

em córnea clara oferece mais vantagens técnicas na facoemulsificação: menor

tempo cirúrgico, melhor acesso à câmara anterior etc.

Os resultados de estudos prospectivos comparando a facoemulsificação

associada à esclerectomia profunda e associada à trabeculectomia mostram

índices de sucessos semelhantes.

Trabeculectomia é a técnica preferida para a fistulação nas cirurgias combinadas.

No entanto, publicações recentes têm explorado novas alternativas como a

viscocanalostomia e a esclerectomia profunda não penetrante. Diversos

modelos de MIGS tem sido associados à facoemulsificação para o tratamento

combinado de catarata e glaucoma.

A indicação de cirurgia combinada é nítida quando a baixa visual pela catarata é

significativa e a pressão intraocular não está em níveis adequados, apesar da

medicação máxima tolerada pelo paciente. Em outras circunstâncias, a cirurgia

combinada pode ser ditada primariamente ou pela catarata, ou pelo glaucoma.

Num certo momento, há indicação para a cirurgia de catarata (por exemplo:

acuidade visual de 20/40 ou pior), mas a pressão intraocular está controlada.

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98

Pode-se optar apenas pela facectomia com implante de lente intraocular se a

pressão intraocular exibe fácil controle com apenas um tipo de colírio. Mas se a

medicação já é a máxima tolerada pelo paciente, apenas a extração da catarata

com implante pode agravar o grau de controle da pressão e, então, a melhor

opção será acrescentar-se a trabeculectomia à técnica cirúrgica. Também, se o

glaucoma é muito avançado pode-se optar pela cirurgia combinada, mesmo que

a pressão esteja bem controlada.

Em outro momento, a indicação de cirurgia é nítida para o glaucoma, pela

ausência de controle tensional. Pode-se, nesta circunstância, optar pelo

procedimento combinado mesmo quando o comprometimento da acuidade

visual pela catarata ainda não é grande (por exemplo: 20/25), pois sabe-se que

haverá, na maioria dos casos, agravamento da catarata após a cirurgia filtrante.

Estratégia geral de decisão

Fluxograma cedido por Dr. Homero G. Almeida

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99

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100

externo versus phacomulsification alone in primary open-angle glaucoma. J. Cataract Refract. Surg., 21:653-660, 1995.

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3%

97%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

1. A cirurgia combinada(facotrabeculectomia) está

indicada quando a baixa visualpela catarata é significativa e a

pressão intraocular não está emníveis adequados, apesar da

medicação máxima tolerada pelopaciente.

0%

100%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

2. Se o glaucoma é muitoavançado, pode-se optar pela

cirurgia combinada, mesmo que apressão intraocular esteja bem

controlada pelo tratamento…

7%

93%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

3. Pode-se optar apenas pelafacectomia com implante de lenteintraocular se o glaucoma não foravançado e a pressão intraocular

exibir fácil controle com otratamento clínico.

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2%

98%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

4. A utilização de mitomicina-C nacirurgia combinada melhora

substancialmente o controle dapressão intraocular.

27%

73%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

5. O resultado pressórico datécnica de facoemulsificação etrabeculectomia com incisões

separadas parece ser superior àfacotrabeculectomia em incisão

única.

3%

97%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

6. Deve-se ter em mente quemesmo os olhos submetidos à

cirurgia combinada podem exibirpicos hipertensivos no período

pós-operatório imediato e aquelescom glaucoma mais avançado

devem ser estreitamentemonitorados.

17%

83%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

7. Na cirurgia combinada, a incisãoem córnea clara oferece mais

vantagens técnicas nafacoemulsificação: melhor acessoà câmara anterior e menor tempo

cirúrgico.

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2%

98%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

8. Para a cirurgia combinada podetambém ser considerada a

associação da facoemulsificaçãocom implantação de dispositivos de

drenagem.

24%

76%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

9. Se há indicação de cirurgia para oglaucoma, pode-se optar pelo

procedimento combinado mesmoquando o comprometimento da

acuidade visual pela catarata aindaé discreto , pois sabe-se que haverá,

na maioria dos casos, aceleração…

9. Se há indicação de cirurgia para o glaucoma, pode-se optar pelo procedimento combinado mesmo quando o comprometimento da acuidade visual pela catarata ainda é discreto, pois sabe-se que haverá, na maioria dos casos, aceleração da progressão da catarata após a cirurgia filtrante.

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Capítulo 10

PROCEDIMENTOS

CICLODESTRUTIVOS Coordenadores: Francisco Eduardo Lopes de Lima e Leopoldo Magacho dos

Santos

Auxiliares: Clarice Freire Dayrell de Souza, Giovanni Nicola Umberto Italiano

Colombini, Paulo Eduardo Casarin Comegno e Rodrigo Antonio Brant Fernandes

Introdução Os procedimentos ciclodestrutivos reduzem a pressão intraocular (PIO) pela

diminuição da produção do humor aquoso ao realizar a ablação definitiva dos

processos ciliares.

Apesar de tradicionalmente indicados nos casos de glaucomas refratários e com

prognóstico visual reservado, estudos recentes tem demonstrado eficácia em

olhos com boa acuidade visual e no uso como procedimento primário. Estudos

recentes indicam um aumento no emprego das técnicas de ciclofotocoagulação, 1,2 principalmente aquelas associadas à facoemulsificação. 3,4

Ciclocrioterapia

A ciclocrioterapia ainda é ocasionalmente utilizada, principalmente devido ao

menor custo em relação à ciclofotocoagulação. É indicada para olhos com baixa

visão e refratários a terapia clínica máxima e/ou outros procedimentos cirúrgicos,

além de olhos dolorosos sem percepção luminosa.

As principais complicações são iridociclite, hifema, hipotonia, phthisis bulbi e

redução da acuidade visual, principalmente devido inflamação e/ou edema

macular cistóide.

Ciclofotocoagulação transescleral

Pode ser realizada com Nd:YAG laser ou com laser diodo, e indicada em olhos

com reservado prognóstico visual, e também com bom potencial visual onde a

cirurgia fistulizante não é indicada.

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O Nd:YAG laser atravessa a esclera por dispersão, com absorção relativamente

baixa, podendo ser liberado por sistema de não contato com lâmpada de fenda

ou sonda de contato com fibra óptica. Já o laser diodo, tem menor transmissão

escleral, mas possui maior absorção pela melanina uveal, permitindo o uso de

50% menos energia que o Nd: YAG laser, sendo o laser mais utilizado no nosso

meio. Estudos comparando a CFT com a crioterapia, indicam melhor preservação

da visão com o laser diodo.

Na CFT com semicondutor de laser

diodo, é utilizada sonda específica G-

probe, com tratamento em três

quadrantes (270°) no máximo.

Deve-se poupar as regiões de 3 e 9

horas evitando atingir os artérias e

nervos ciliares longos. Em pacientes

com bom prognóstico visual ou no

tratamento primário, pode ser feita

aplicação em menos de 270°.

Os procedimentos pós-operatórios e as

complicações são os mesmos da

ciclocrioterapia, embora geralmente

com menor incidência e severidade.

Ciclofotocoagulação endoscópica com laser diodo

Realizada com observação direta dos processos ciliares em monitor de vídeo,

através de um semicondutor de laser de diodo acoplado a um microendoscópio.

Pode ser realizada em combinação com a facoemulsificação por meio do saco

capsular ou através da pars plana em olhos pseudofácicos.

Posicionamento da G-Probe durante

a Ciclofotocoagulação transescleral

Imagens cedidas por Dr. Francisco Lima

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O laser é aplicado de modo contínuo até produzir o branqueamento e

encolhimento dos processos ciliares. São tratados cerca de 200° a 240° contínuos

do corpo ciliar e uma depressão escleral auxilia na execução do procedimento.

Estudos sobre Ciclofotocoagulação endoscópica com laser diodo em glaucomas

refratários relatam eficácia semelhante aos implantes de drenagem, entretanto,

com menos complicações. 5,6

Imagem 21

Sonda de endoscopia ocular e

microendoscópio

Imagens cedidas por Dr. Francisco Lima

Processos ciliares antes e após a Ciclofotocoagulação transescleral

Imagens cedidas por Dr. Francisco Lima

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Ciclofotocoagulação transescleral micro pulsada

O feixe contínuo de laser diodo é aplicado com uma sonda de contato específica,

ciclofotocoagulação transescleral micro pulsada, repartido por pequenos

intervalos em uma série de pulsos de baixa energia, o que permite que o tecido

atingido resfrie entre os pulsos. Os ciclos são de 0,5 ms funcionando e 1,1 ms em

repouso. Isso, além de minimizar o dano termal causado aos tecidos adjacentes

aos processos ciliares, possivelmente aumenta os espaços intercelulares na

região supra coroidal, com consequente aumento do fluxo úveo-escleral.

Resultados iniciais indicam redução da pressão intraocular semelhante à técnica

tradicional de laser contínuo (30%-40%), mas com menor taxa de complicações,

até ausência de hipotonia prolongada. 7

Aparentemente é passível de repetição, além de ser uma opção para olhos em

fases mais iniciais ou como tratamento primário de glaucoma.

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109

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110

21%

79%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

2. A ciclofotocoagulaçãotransescleral com laser micro-

pulsado é uma técnica promissoradevido promover menor dano

tecidual do que aciclofotocoagulação transescleral

com laser em modo contínuo.

68%

32%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

3. As taxas de perda de visão,hipotonia e phitisis são menores

com o uso da ciclofotocoagulaçãoendoscópica em relação à

ciclofotocoagulação transescleral.

Abstenção: 43%

Abstenção: 36%

23,0%

77,1%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

1. Dos procedimentosciclodestrutivos, a ciclocrioterapiaapresenta a menor seletividade,

devendo ser utilizada após afalência de outros procedimentosciclodestrutivos mais seletivos, ouquando da impossibilidade do uso

destes.

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111

29%

71%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

4. Geralmente, os procedimentosciclodestrutivos resultam em níveisde pressão intraocular superiores

àqueles alcançados com atrabeculectomia, e sua indicação

para pacientes com glaucomaavançado deve ser cuidadosamente

avaliada.

48%

52%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

5. A ciclofotocoagulaçãotransescleral e a

ciclofotocoagulação endoscópicapodem ser empregadas em olhos

com bom prognóstico visual.

5%

95%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

6. A ciclofotocoagulaçãoendoscópica pode ser realizava

pela via limbo quando associada àcirurgia de catarata (incisão clearcornea) e em olhos afácicos, ou

por via pars plana (esclerotomia a3,5/4 mm posterior ao limbo) empacientes pseudofácicos, nunca

6. A ciclofotocoagulação endoscópica pode ser realizava pela via limbo quando associada à cirurgia de catarata (incisão clear cornea) e em olhos afácicos, ou por via pars plana (esclerotomia a 3,5/4 mm posterior ao limbo) em pacientes pseudofácicos, nunca em pacientes fácicos.

Abstenção: 35%

Abstenção: 42%

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112

17%

83%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

7. Há a possibilidade do empregoda ciclofotocoagulacao em casos

selecionados como alternativacirúrgica primária para otratamento do glaucoma.

2%

98%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

8. Nos pacientes com glaucomaneovascular com qualquer visão emeios transparentes, a indicação

de procedimentos ciclodestrutivose panfotocoagulação retiniana,

pode ser acompanhada de injeçãointra-vítrea de anti-VEGF.

Abstenção: 22%

Abstenção: 27%

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Capítulo 11

CICATRIZAÇÃO CONJUNTIVAL E

REOPERAÇÕES Coordenadores: Carmo Mandia Jr. e Heloisa Andrade Maestrini

Auxiliares: Alexandre Soares Castro Reis, Andrea Kara José e Heloisa Helena

Abil Russ Giacometti e Ivan Maynart Tavares

Introdução Cicatrização conjuntival

O princípio das cirurgias anti-glaucomatosas tradicionais como a

trabeculectomia, esclerectomia profunda não penetrante, e os implantes de

drenagem, é a criação de uma fístula para comunicar a câmara anterior com o

espaço subconjuntival. O maior desafio destas cirurgias é a cicatrização

conjuntival, principal fator de insucesso1, obstruindo a passagem do humor

aquoso.

Para reduzir a cicatrização conjuntival, tanto na trabeculectomia quanto na

esclerectomia profunda não penetrante, são utilizados antimetabólitos. A

substância mais utilizada é a mitomicina-C, na concentração de 0,2 a 0,5 mg/ml.

Há duas formas de aplicação durante a cirurgia: por meio de esponjas embebidas

da droga e colocadas por 1 a 5 minutos sob a Tenon, lavando-se o sítio após a

remoção das esponjas, ou como injeção subtenoniana (0,1 ml) no início da

cirurgia, antes da abertura da conjuntiva.2 Outro antimetabólito é o 5-

fluorouracil, na concentração de 25 a 50 mg/ml, pouco usado atualmente por

ser menos eficaz do que a mitomicina-C. Apesar da mitomicina-C aumentar a

eficácia da trabeculectomia e da esclerectomia profunda não penetrante, ela

aumenta o risco de complicações³, tais como hipotonia, formação de bolsas finas

e avasculares, levando a vazamentos e infecções (blebite e endoftalmite).

A mitomicina-C também é tóxica para o endotélio corneano, e todo cuidado deve

ser tomado para evitar sua entrada na câmara anterior. Devido a estes riscos,

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outras substâncias têm sido pesquisadas e utilizadas, como o bevacizumabe4,5

(anti-angiogênico) e o Ologen®6 (esponja de colágeno biodegradável), mas,

apesar de reduzirem a cicatrização, sua eficácia ainda é menor do que a da

mitomicina-C. Já nos implantes de drenagem, os estudos mostram que a

mitomicina-c não aumenta a taxa de sucesso7, portanto, não se usam

antimetabólitos nessas cirurgias.

Os corticoides tópicos são importantes adjuvantes no controle da cicatrização.

As drogas mais utilizadas são a dexametasona e a prednisolona. O uso pré-

operatório pode melhorar os resultados das cirurgias fistulizantes8, se prescritos

por 1 a 2 semanas antes da cirurgia, 3 a 4X ao dia. O uso pós-operatório é

essencial, principalmente nas primeiras semanas, iniciando-se com doses mais

elevadas (a cada 2 ou 3 horas) e reduzindo-se a dose gradativamente ao longo

das semanas seguintes. Em pacientes fácicos, o uso não deve ultrapassar 2 ou 3

meses, enquanto que, em pacientes pseudofácicos, seu uso pode ser mais

prolongado e a redução mais lenta. Por outro lado, nem o uso oral de

corticóides9 nem o uso de triancinolona subtenoniana ou intracameral

mostraram benefícios10. Alguns cirurgiões suspendem alguns colírios

hipotensores, especialmente os análogos de prostaglandinas, 1 ou 2 semanas

antes da cirurgia, para reduzir a reação inflamatória da conjuntiva e melhorar o

resultado cirúrgico.

Reoperações

A taxa de falência da trabeculectomia e da esclerectomia profunda não

penetrante é de cerca de 20% após um ano, mas aumenta para até 50% após 4

ou 5 anos11. Diante da falência de uma primeira trabeculectomia, desde que o

óstio interno da cirurgia esteja livre, pode ser realizado o agulhamento. Este é

um procedimento no qual se usa o bisel de uma agulha para romper as

aderências ao longo do trajeto da fístula, restabelecendo-se o fluxo do humor

aquoso. Ele pode ser realizado em qualquer momento do pós-operatório, desde

poucas semanas até muitos anos após a cirurgia12.

Recomenda-se que seja feito no bloco cirúrgico, que propicia melhores

condições de antissepsia, maior segurança anestésica e maior conforto para o

paciente. No entanto, pode ser realizado também na lâmpada de fenda.13 O

agulhamento sempre deve ser realizado com algum antimetabólito, sendo a

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mitomicina-C a substância mais utilizada, 12-14 na dose de 10 a 40 μg (0,1 ml na

concentração de 0,1 a 0,4 mg/ml). 5-fluorouracil pode ser usado, na dose de 5

mg, mas é menos eficaz do que a MITOMICINA-C15 e geralmente necessita de

reaplicações no pós-operatório. A taxa de sucesso do agulhamento sem

antimetabólito é muito baixa (7%),16 enquanto que com mitomicina-C é de cerca

de 80% após 1 ano12,14 e 70% após 4 anos.14 Há alguns estudos sobre o uso do

bevacizumabe no agulhamento,17 mas a eficácia é menor do que com a

mitomicina-C.

Como a principal causa da falência da trabeculectomia e da esclerectomia

profunda não penetrante é a cicatrização da conjuntiva sobre o retalho escleral,1

o agulhamento consegue recuperar grande parte das cirurgias quando realizado

neste nível. Às vezes, é necessário introduzir a agulha sob o retalho escleral ou

na câmara anterior, tomando-se o cuidado de não lesar estruturas intraoculares,

principalmente em pacientes fácicos. A presença do Ex-Press® não impede o

agulhamento,18 tomando-se o cuidado para não deslocar o dispositivo durante

o procedimento.

Caso a fístula volte a se fechar, o agulhamento pode ser repetido. Não há um

limite para o número de vezes que ele pode ser realizado em um mesmo sítio,

mas, na maioria das publicações, não passa de três vezes.12,14

A esclerectomia profunda não penetrante também pode ser recuperada através

do agulhamento19, porém, com frequência, o procedimento precisa ser

precedido ou seguido da goniopuntura com Nd:YAG-laser da membrana

trabeculo-Descemet, que é deixada intacta nessa técnica. Evita-se romper a

membrana durante o agulhamento, para evitar o tamponamento da fístula pela

íris, já que não existe uma iridectomia preventiva. No entanto, pode-se realizar

a iridectomia, através de incisão em córnea clara, durante o procedimento.

Caso o agulhamento seja ineficaz, desde que a conjuntiva permita, uma nova

trabeculectomia pode ser realizada em um sítio adjacente à primeira, podendo-

se aumentar a dose, a concentração ou o tempo de exposição à mitomicina-C.

Essa segunda cirurgia também pode ser recuperada pelo agulhamento, se

necessário. Alguns cirurgiões não realizam uma segunda trabeculectomia e

preferem já indicar um implante de drenagem. O TVT Study20 comparou a

eficácia de uma segunda trabeculectomia com o tubo de Baerveldt e mostrou

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boa eficácia para as duas opções, com resultados discretamente melhores com

o tubo.

A taxa de falência dos implantes de drenagem varia de 4 a 23% após 1 ano e de

30 a 41% após 5 anos, 7,20 sendo que a principal causa é a formação de uma densa

cápsula fibrosa sobre o prato, que impede a passagem do humor aquoso. Há

poucos trabalhos sobre o agulhamento dos implantes,21 com limitadas

evidências de sucesso. Após a falência de um primeiro tubo, um segundo tubo

pode ser implantado em outro quadrante, mas as chances de falência são

elevadas. Por essa razão, muitos cirurgiões optam por indicar os procedimentos

ciclodestrutivos nesses casos.

A ciclofotocoagulação transescleral ou endoscópica geralmente é indicada após

a falência dos procedimentos fistulizantes (ao menos uma trabeculectomia e um

tubo), apesar do risco de edema macular crônico, atrofia ocular e outras

complicações. Recentemente, com o advento da via endoscópica e do laser

pulsado transescleral, que permitem um melhor controle do procedimento e

menores riscos, essa ordem tem se modificado e as indicações têm se

ampliado.22,23 Alguns cirurgiões já indicam os procedimentos ciclodestrutivos

antes do implante de drenagem ou mesmo da trabeculectomia, principalmente

quando os riscos de uma fístula são elevados (nanoftalmo) ou quando a

realização de uma fístula é difícil ou impossível (presença de óleo de silicone,

explantes de cirurgia vítreo-retiniana ou extensa fibrose conjuntival).

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Recuperação da trabeculectomia com o agulhamento. Aspecto pré-

operatório de paciente com duas trabeculectomias falidas realizadas há

mais de 10 anos, bolsas planas e pressão intraocular 33 mmHg.

Aspecto 1 dia após o agulhamento, com bolsa filtrante

elevada e pressão intraocular 10 mmHg.

Imagens cedidas por

Dra. Heloísa Maestrini

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10%

90%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

1. O preparo da conjuntiva no pré-operatório da trabeculectomiaatravés da suspensão de alguns

colírios hipotensores ou através douso de corticoide tópico pode

melhorar o resultado cirúrgico.

3%

97%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

2. Na falência total ou parcial datrabeculectomia, em que o óstio

interno esteja livre, o agulhamentocom antimetabólito pode ser

tentado antes de uma reoperação.

25%

75%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

3. Deve-se considerar o aumento dadose, da concentração ou do tempo

de aplicação da mitomicina-C emcasos de segunda trabeculectomia.

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5%

95%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

4. Após a falência de uma primeiratrabeculectomia, tanto uma

segunda trabeculectomia quanto oimplante de drenagem são boas

opções cirúrgicas.

20%

80%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

5.Diante da falência de um implantede drenagem, tanto o agulhamentoquanto a revisão cirúrgica do prato

do implante oferecem poucosbenefícios.

19%

81%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

6. Diante da falência de umimplante de drenagem, sugere-seproceder a um segundo implanteou procedimento ciclodestrutivo.

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5%

95%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

7. Os antimetabólitos,principalmente a mitomicina-C, sãofundamentais na trabeculectomia,

na esclerectomia profunda nãopenetrante e no agulhamento. Noentanto, não estão indicados nas

cirurgias de implante de drenagem,pois, nestes casos, além de não au

2%

98%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

8. Os antimetabólitos estãofrequentemente indicados nascirurgias fistulizantes primárias

como a trabeculectomia e não háevidências de que os

antiangiogênicos possam substituí-los ou potencializá-los.

7. Os antimetabólitos, principalmente a mitomicina-C,

são fundamentais na trabeculectomia, na esclerectomia

profunda não penetrante e no agulhamento. No entanto, não estão indicados nas cirurgias de

implante de drenagem, pois, nestes casos, além de não

aumentarem a taxa de sucesso, podem aumentar as complicações

pós-operatórias.

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CONCLUSÃO Conforme exposto anteriormente, o objetivo deste Consenso não fora de se estabelecer uma norma rígida de conduta para as determinadas situações e práticas do manejo cirúrgico de glaucoma. Dessa forma, o material aqui apresentado cumpre a tarefa de expor a opinião de especialistas justamente em pontos onde a evidência literarária pode ser complementada pela vivência médica. Este material deve ser entendido como uma ferramenta de auxílio do oftalmologista na tomada de decisão, sem se esquecer que cada paciente é único e o médico que o assiste tem sempre a autonomia de definir a melhor conduta para cada caso. É importante também que algumas limitações sejam clarificadas. Questões muito abrangentes e generalistas podem ter permitido o registro de opniões consequentemente com pouca especificidade. Em outras palavras, na tentativa de simplificar e sintetizar algumas das frases expostas, se perde detalhes de quadros clínicos que poderiam ser impactantes para uma opinião divergente. Isso reforça ainda mais o exposto de que cada paciente é único e deve se tratado considerando todas as particularidades do seu quadro. Outro ponto importante é que as opiniões registradas não se limitaram apenas àqueles participantes que apresentavam especializações e experiência prática em cada subtema. Fora permitida a opinião de todos os presentes em todas as questões apresentadas para se garantir assim uma amostra significativa e generalista da opinião dos oftalmologistas participantes deste Consenso, seja esta baseada em conhecimento literário, discussão de casos com colegas ou relato de experiência da prática própria. E por fim, não se diferenciou, dentro das abstenções, aquelas decorridas da livre opção de não manifestação da opinião, seja por desconhecimento ou inexperiência, daquelas abstenções, por exemplo, por falha técnica, distração ou ausência momentanea da sala de votação.

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