ramiz latif palis neto - sistema de...

60
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA RAMIZ LATIF PALIS NETO Influência do recozimento isotérmico na resistividade elétrica e na dureza do ferro comercialmente puro Lorena 2013

Upload: phamnga

Post on 10-Dec-2018

224 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

RAMIZ LATIF PALIS NETO

Influência do recozimento isotérmico na resistividade elétrica e na dureza do ferro comercialmente puro

Lorena

2013

Page 2: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente
Page 3: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente
Page 4: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente
Page 5: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

RAMIZ LATIF PALIS NETO

Influência do recozimento isotérmico na resistividade elétrica e na dureza do ferro

comercialmente puro

Trabalho de Graduação apresentado à

Escola de Engenharia de Lorena da

Universidade de São Paulo para obtenção

do título de Engenheiro de Materiais.

Orientador: Prof. Dr. Hugo R. Z. Sandim

Lorena

2013

Page 6: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE

TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔN ICO,

PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Ficha Catalográfica Elaborada pela Biblioteca Especializada em Engenharia de Materiais

EEL USP

Palis Neto, Ramiz Latif.Influência do recozimento isotérmico na resistividade elétrica e na dureza do ferro comercialmente puro/Ramiz Latif Palis Neto; orientador Prof. Dr. Hugo Ricardo Zschommler Sandim - Lorena, 2013. 59f.: il.

Trabalho apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro de Materiais– Escola de Engenharia de Lorena - Universidade de São Paulo.

1.Ferro. 2.Microestrutura. 3.Microdureza. 4.Resistividade 5.Tamanho de grão

CDU 669.018

Page 7: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

Dedico este trabalho a minha mãe por fazer de mim quem eu sou e por nunca desistir de um

ideal e aos finados Celso Russo, Carmen Giordan, Daniel J. da Silva e Marialice Palis que

olhem por mim lá de cima.

Page 8: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente
Page 9: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

7

AGRADECIMENTOS

O Deus trino, que sempre me ilumina e caminha comigo, me protegendo de todo mal.

A minha mãe Maria José dos Santos, minha irmã Raquel Santos Palis por sempre me

apoiarem em minhas decisões e incentivo nas minhas dificuldades e ao meu irmão

Mateus Cazella Moreno pelas risadas, descontração e ajuda com o inglês.

Aos meus queridos avôs Abadia Lopez dos Santos e José Maria dos Santos, tia avó

Cacilda Lopez e tio Aroldo J. dos Santos por todo conforto, amor e confiança em minha

força de vontade.

Ao meu pai Ramiz Latif Palis Filho pela ajuda financeira, cobrança, e exemplo de vida.

Aos meus tios de coração Eliana Cazella Moreno e Evandalo Moreno por me apoiarem

no momento mais crítico desta jornada, o que nunca vou esquecer.

Ao Prof. Dr. Hugo Ricardo Zschommler Sandim pela paciência, auxílio, conhecimento,

dedicação e experiência passada durante o tempo de orientação.

Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente a bobina de fio de

ferro comercialmente puro utilizada neste estudo.

Ao DEMAR pelo fornecimento de todo o suporte necessário para a realização deste

trabalho.

A todos os docentes e servidores da Escola de Engenharia de Lorena que dividiram o

tempo seus conhecimentos para me auxiliar nesta etapa de vida.

Aos grandes amigos de republica Vitor Bellaz Marcus, Rafael M. M. El Khouri,

Matheus G. Faim, Vitor L. Pedroso, Rodrigo M. Franciscon, Gregory M. A. Lima,

Mariah Claus, pois com vocês que pude superar todos os obstáculos durantes os anos na

faculdade.

Aos amigos e companheiros da equipe de basquete da faculdade pelos momentos

intensos e conquistas que fazem parte de mim e que sem vocês não seria possível.

Aos amigos deixados em São Caetano do Sul Thiago Marquez, Saulo R. Rufato,

Guilherme S. R. Nicolas, Vinicius C. Parra, Lucas Nicolas por que a amizade realmente

fica para a vida toda.

Aos amigos ex-companheiros de escola Cauê Rodrigues, Marcio C. Sarquez, Fernando

C. Campos, Rafael G. Crespo, Vitor Maturana pela infinidade de risadas e sincera

amizade que sempre foi à marca do nosso grupo.

A Karla S. G. de M. Carvalho por me mostrar que o verdadeiro amor muda as pessoas.

Page 10: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

8

“Um homem não deve se arrepender do

que fez, mas deve se arrepender do que

deixou de fazer”

Dr. Ramiz Latif Palis

Page 11: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

9

RESUMO

PALIS, R. L. N. Influência do recozimento isotérmico na resistividade elétrica e na

dureza do ferro comercialmente puro. 2013. 58f.Monografia (Trabalho de Graduação

em Engenharia de Materiais) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São

Paulo, Lorena, 2013.

O ferro comercialmente puro é um material importante para estudos envolvendo

correlações entre microestrutura e propriedades, em particular a variação da

resistividade elétrica, já que a grande maioria dos estudos em metais puros se concentra

nos metais com estrutura CFC, em especial cobre e alumínio. O presente estudo visa

investigar a influência do recozimento isotérmico no intervalo entre 100 e 1000oC nas

propriedades elétrica e mecânicado ferro comercialmente puro a partir da sua

caracterização microestrutural. Para tanto, a caracterização microestrutural será

realizada por meio de metalografia, microscopia ótica, medidas estereológicas, medidas

de microdureza Vickers e medidas de resistividade elétrica em baixas temperaturas,

além da construção das respectivas curvas de distribuição e tamanho de grão.

Palavras-chave: 1.Ferro. 2.Microestrutural. 3.Microdureza. 4.Resistividade elétrica.

5. Tamanho de grão

Page 12: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

10

ABSTRACT

PALIS, R. L. N. Influence of isothermal annealing on electrical resistivity and

hardness of commercially-pure iron. 2013. Number of sheets 58.Monograph

(Undergraduate Work in Materials Engineering) –School of Engineering ofLorena,

University ofSãoPaulo, Lorena, 2013

Commercially-pure iron is an important material for studies of correlations between

microstructure and properties, particularly the changes in electrical resistivity, since

most studies focus on pure FCC metals, particularly copper and aluminum. This study

aims to investigate the influence of isothermal annealing between 100 and 1000oC on

the electrical and mechanical properties of commercially-pure iron and its

microstructural characterization. The microstructural characterization was performed by

using metallography, optical microscopy, stereological measurements, Vickers

microhardness and electrical resistivity measurements at low temperature as well as the

corresponding grain size distributions.

Keywords: 1.Iron. 2.Microstructure. 3.Microhardness. 4.Electrical resistivity.

5.Grain size

Page 13: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

11

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Primeira produção em batelada de lingotes de ferro ARMCO [2]............... 18

Figura 2 –Representação do ferro comercialmente puro no digrama Fe-C [4] ............. 20

Figura 3 – Curva hipotética tensão x deformação [6] ................................................... 22

Figura 4 – Modelo de migração de contornos induzido por deformação a) antes da

migração. (b) depois da migração [8] ............................................................................ 26

Figura 5 – Representação esquemática do crescimento na recristalização: (a) inicio da

recristalização. (b) 50% recristalizado. (C) recristalização completa [9] ...................... 26

Figura 6 –Dependência da resistividade do cobre em função do estado metalúrgico e da

composição química [14]............................................................................................... 29

Figura 7 – Fluxograma representativo da metodologia empregada no estudo .............. 33

Figura 8 – Ilustração esquemática do método das quatro pontas ................................. 36

Figura 9 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 100°C por 1 h: a) 200 X; b)

500 X ............................................................................................................................. 37

Figura 10 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 200°C por 1 h: a) 200X; b)

500X .............................................................................................................................. 38

Figura 11 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 300°C por 1 h: a) 200 X; b)

500 X ............................................................................................................................. 38

Figura 12 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 400°C por 1 h: a) 200 X; b)

500 X ............................................................................................................................. 39

Figura 13 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 500°C por 1 h: a) 200 X; b)

500 X ............................................................................................................................. 39

Figura 14 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 600°C por 1 h: a) 200 X; b)

500 X ............................................................................................................................. 40

Figura 15 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 650°C por 1 h: a) 200 X; b)

500 X ............................................................................................................................. 40

Figura 16 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 700°C por 1 h: a) 200 X; b)

500 X .............................................................................................................................. 41

Figura 17 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 800°C por 1 h: a) 200 X; b)

500 X ............................................................................................................................. 41

Figura 18 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 900°C por 1 h: a) 200 X; b)

500 X ............................................................................................................................. 42

Page 14: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

12

Figura 19 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 1000°C por 1 h: a) 200 X; b)

500 X ............................................................................................................................. 42

Figura 20 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 200°C por 48 h: a) 200 X; b)

500 X; c) 1000 X ........................................................................................................... 43

Figura 21 – Curva de amolecimento do ferro comercialmente puro. ............................ 45

Figura 22 – Curva de tamanho de grão para as amostras investigadas ........................ 46

Figura 23 – Distribuição do tamanho de grão no ferro comercialmente puro após

recozimento por 1 h em: a) 600°C; b) 650°C; c) 700°C; d) 800°C. .............................. 47

Figura 24 – Distribuição do tamanho de grão no ferro comercialmente puro após

recozimento por 1 h em: a) 900°C; b) 1000°C. A escala (largura do intervalo) teve que

ser ampliada em função da maior variação no tamanho de grão nestas duas

temperaturas................................................................................................................... 48

Figura 25 – Curvas de resistividade elétrica das amostras ............................................ 51

Figura 26 – Comparação entre os valores de dureza Vickers (HV-0,3) do ferro

comercialmente puro após diferentes tratamentos térmicos .......................................... 52

Page 15: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

13

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Composição química típica do ferro comercialmente puro [2] ................... 19

Tabela 2 – Principais propriedades mecânicas do ferro comercialmente puro [2] ........ 19

Tabela 3 – Resistividade elétrica de alguns materiais em temperatura ambiente [14] .. 28

Page 16: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

14

LISTA DE SIGLAS

CCC

ARMCO

CFC

HC

Tf

EDE

SI

Cúbico de corpo centrado

American Rolling Mills Company

Cúbico de face centrada

Hexagonal compacto

Temperatura de fusão absoluta

Energia de defeito de empilhamento

Sistema internacional de unidades

PPMS

ASTM

OP-S

Sistema de mediação de propriedades físicas

American Society for Testing and Materials

Suspensão oxida ativada (nome comercial)

MCID Migração de contornos induzida por deformação

Page 17: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

15

LISTA DE SÍMBOLOS

uma Unidades de massa molar

ppm-a Partes por milhão

%p Porcentagem em peso

σe Tensão de escoamento

σr Limite de resistência

ε% Alongamento porcentual

T Temperatura

ρ

J

E

R

Resistividade elétrica

Densidade de corrente

Campo elétrico

Resistência elétrica

αT Coeficiente de temperatura da resistividade (°C-1)

T0 Temperatura de referência

ρ0 Valor da resistividade na temperatura de referência

Ci Concentração em termos de fração atômica

S

ρ α

Constante função tanto do metal hospedeiro quanto da impureza

Componente de resistividade elétrica da fase alfa

ρ β

ρi

ρl

ρd

Volume da fase alfa

Componente de resistividade elétrica da fase beta

Volume de fase beta

Componente de resistividade elétrica vinda das impurezas

Componente de resistividade elétrica vinda das lacunas

Componente de resistividade elétrica vinda das discordâncias

Page 18: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

16

ρb

ρf

ρe

L

E

Int

TG

n

Componente de resistividade elétrica vinda dos defeitos bidimensionais

Componente de resistividade elétrica vinda dos fônons

Componente de resistividade elétrica vinda dos defeitos de empilhamento

Tamanho médio de grão por linha calculada

Tamanho da linha utilizada no experimento

Tamanho da escala de cada micrografia

Numero de interseções entre a linha e os contornos de grão

Tamanho de grão

Numero de campos empregados no estudo em cada micrografia de cada

amostra

Page 19: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

17

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÂO ......................................................................................................... 18

1.1 O ferro comercialmente puro ................................................................................. 18

1.2 Objetivos e justificativas ......................................................................................... 20

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 21

2.1 Deformação plastica e reações de restauração ........................................................ 21

2.1.1 Encruamento ......................................................................................................... 21

2.1.2 Recuperação.......................................................................................................... 24

2.1.3 Recristalização ...................................................................................................... 24

2.1.4 Crescimento de grão ............................................................................................. 26

2.2 Propriedades elétricas .............................................................................................. 27

2.2.1 Resistividade elétrica ............................................................................................ 27

2.3 Relação entre defeitos cristalinos e a resistividade elétrica ...................................... 28

2.3.1 Regra de Matthiessen............................................................................................. 28

3. MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................................... 33

3.1 Tratamento térmicos ................................................................................................ 33

3.2 Preparação metalográfica e microscopia ótica ........................................................ 34

3.3 Medidas de microdureza Vickers ............................................................................ 34

3.4 Metodologia para o cálculo do tamanho de grão e construção das curvas dedistri-

buição de tamanho de grão ............................................................................................ 34

3.5 Medidas de resistividade elétrica ............................................................................. 35

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 37

4.1 Caracterização microestrutural ................................................................................ 37

4.2 Resultado das medidas de microdureza Vickers ..................................................... 44

4.3 Variação do tamanho de grão com o recozimento .................................................. 45

4.4 Curvas de distribuição de tamanho de grão ............................................................. 46

4.5 Medições de resistividade elétrica ........................................................................... 49

4.6 Condição especial de recozimento .......................................................................... 51

5. CONCLUSÕES ......................................................................................................... 53

REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 54

APÊNDICE .................................................................................................................... 56

Page 20: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

18

1 INTRODUÇÃO

1.1 O ferro comercialmente puro

O ferro é um elemento historicamente importante, tendo, inclusive, marcado um

período da história, a chamada “Idade do Ferro”. O ferro permitiu a construção de

ferramentas e artefatos bélicos mais resistentes que o cobre e o bronze, substitutos de

rochas e madeira como materiais primordiais. Atualmente é utilizado de maneira

extensiva para a produção de aços, ligas metálicas para a produção de ferramentas,

máquinas, veículos de transporte (automóveis, navios, dentre outros), como elemento

estrutural na construção civil, indústria bélica, dentre outras.

É um metal de transição do grupo 8 (VIIIB) da tabela periódica, possui número

atômico 26 e massa atômica 56 uma. Sua estrutura cristalina é do tipo cúbico de corpo

centrado (CCC). É obtido na natureza sob duas formas, conhecidas como hematita e

magnetita, que passam para o estágio de ferro-gusa por meio de processos

pirometalúgicos. O ferro é também o quarto elemento mais abundante da crosta

terrestre, correspondendo a aproximadamente 5% da crosta [1].

No presente estudo iremos trabalhar com o aço de ultra-baixo carbono,

conhecido como ferro ARMCO ou como ferro comercialmente puro, que é hoje marca

registrada da “ARMCO - American Rolling Mills Company” [2], produzido pela

primeira vez na Alemanha em 1927.

Figura 1 – Primeira produção em batelada de lingotes de ferro “ARMCO” [2].

Esta liga ferrosa é caracterizada por conter cerca de 1000 ppm-a de impurezas

substitucionais e até 3000 ppm-a em elementos intersticiais [15]. O processo de

fabricação resulta em uma quase completa remoção de indesejáveis elementos

Page 21: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

19

minoritários. O ferro comercialmente puro tem uma homogênea estrutura de ferrita,

contendo, excepcionalmente, baixos níveis de carbono, oxigênio e nitrogênio,

juntamente com uma baixa incidência de inclusões não-metálicas [2].

Esse material vem sendo utilizado há muitos anos como um material de

referência para medidas de condutividade térmica, ou seja, como um "medidor de fluxo

de calor" no caso das medições de condutividade térmica comparativa com outros

materiais [3]. O ferro comercialmente puro pode ser encontrado no diagrama de fases

Fe-C (Figura 2), na região de composição máxima (0.015%p) de carbono. A

composição química típica deste material pode ser vista na Tabela 1, onde a soma das

impurezas não supera 0.10%.

As principais propriedades mecânicas do ferro comercialmente puro podem ser

vistas na Tabela 2. Outras propriedades importantes que o ferro comercialmente puro

possui são as elevadas resistências à corrosão e oxidação, alem de sua excelente

soldabilidade. Porém, as propriedades que realmente se destacam neste material são as

propriedades eletromagnéticas, onde a resistividade elétrica do ferro comercialmente

puro a 20 °C, é igual a 10,7 µΩ.cm [2], valor também encontrado no estudo realizado

por T. W. Watson, D. R. Flynn e H. E. Robinson [3].

O ferro comercialmente puro pode ser empregado principalmente nas indústrias

aeronáutica, nuclear, na forma de ímãs, gaxetas para a indústria química e petroquímica,

elementos eletrônicos, bombas, compressores, válvulas, armaduras de aquecimento,

entre outros, logo

Tabela 1 – Composição química típica do ferro comercialmente puro [2].

Elemento C Si Mn P S Porcentagem típica (%p) Max 0.015 Traços Max 0.010 Max 0.020 Max 0.015

Tabela 2 – Principais propriedades mecânicas do ferro comercialmente puro [2].

Propriedade Mecânica

Limite de escoamento

Limite de resistência

Alongamento

Estricção

Unidade (SI) MPa MPa % %

Ferro comercialmente puro laminado

180 - 230 300 - 340 36 - 44 65 - 75

Page 22: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

20

Figura 2 – Representação do ferro comercialmente puro no digrama Fe-C [4].

1.2 Objetivos e justificativas

A grande maioria dos estudos correlacionando à resistividade elétrica e a

microestrutura em metais puros se concentra nos metais com estrutura CFC,

particularmente o cobre e o alumínio. Torna-se necessária uma maior contribuição de

trabalhos envolvendo outros materiais, com propriedades iguais ou próximas as

conferidas aos metais CFC, como é o caso do ferro comercialmente puro, que possui

propriedades mecânicas e eletromagnéticas bastante atraentes.

Portanto, o presente Trabalho de Graduação tem como objetivo caracterizar e

estudar a influência do recozimento isotérmico e isócrono (1 h de patamar) das reações

que ocorrem durante o aquecimento do ferro comercialmente puro em diferentes

temperaturas no intervalo entre 100 e 1000oC, a cada 100oC. Os tratamentos de

recozimento foram realizados com a intenção de encontrar quais são os intervalos de

temperatura onde predominam a recuperação, a recristalização e o crescimento de grão,

por meio de medidas de microdureza Vickers. Estes resultados podem ser

correlacionados com aqueles obtidos nas medidas de resistividade elétrica no intervalo

de 100 até 300 K.

Page 23: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

21

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Deformação plástica e reações de restauração

A produção de aços e ligas ferrosas impressiona não apenas pela quantidade

produzida, mais de 109 t anuais, mas também pela diversidade. Estima-se que existem

atualmente cerca de 40.000 ligas metálicas ferrosas diferentes. Cerca de 90% da

produção de metais e ligas é conformada mecanicamente por numerosos processos, tais

como forjamento, laminação, extrusão e trefilação. Em muitos casos, os produtos são

comercializados na condição “como-deformado” e aplicados em temperaturas altas o

bastante para permitir a ocorrência de reações de restauração. O conhecimento de

fenômenos como encruamento, recuperação, recristalização e crescimento de grão é de

fundamental importância não só para se conformar corretamente estes materiais, mas

também para controlar sua microestrutura e aperfeiçoar suas propriedades [5].

2.1.1 Encruamento

Uma forma que os materiais possuem para aumentar sua resistência mecânica é

por meio de encruamento; um mecanismo de endurecimento reversível causado pela

aplicação de deformação plástica. Esse ganho ou aumento de resistência ocorre

proporcionalmente com o aumento da quantidade de defeitos microestruturais

(principalmente defeitos de linha – discordâncias) presentes no material. O encruamento

pode ser promovido por meio de processos de conformação plástica tais como o

forjamento, a laminação, a extrusão e trefilação.

O processo de encruamento pode ser verificado quantitativamente por meio da

quantificação das propriedades mecânicas como o limite de resistência à tração (σr) e

alongamento percentual (ε%), propriedades estas exemplificadas na curva hipotética

tensão-deformação (Figura 3).

O encruamento gera um aumento no limite de resistência à tração (σr) com

conseqüente diminuição do alongamento percentual (ε%), ou seja, o material encruado

possui alta resistência mecânica, mas uma baixa ductilidade.

Page 24: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

22

Figura 3 – Curva hipotética tensão x deformação [6].

O encruamento está diretamente ligado à deformação plástica, isto porque

quanto maior a deformação plástica sofrida pelo material, mais encruado este material

ficará. Essa deformação pode ocorrer no cristal de um material de quatro maneiras

distintas, sendo elas movimentação de discordâncias, maclação mecânica, difusão

(transporte de massa) e transformações de fase [7]. Estas formas de deformação plástica

estão relacionadas a algumas características do processo e propriedades intrínsecas que

os materiais possuem podendo ou não favorecer o encruamento. Essas características

intrínsecas são a EDE (energia de defeito de empilhamento), a estrutura cristalina do

material (CCC, CFC, HC), a composição química, o tamanho de grão e a natureza dos

processos de conformação como a temperatura e a taxa de deformação [5].

Dentre as propriedades dos materiais vistas acima, a mais importante é a EDE,

pelo fato de todas as outras propriedades estarem relacionadas a ela, influenciando em

seu valor, e, conseqüentemente, favorecendo ou não o encruamento.

Essa dependência está ligada à maior ou menor mobilidade das discordâncias

durante o processo de conformação plástica. Assim, materiais de alta EDE possuem

discordâncias com maior mobilidade do que materiais de baixa EDE, favorecendo os

processos de aniquilação e rearranjo de discordâncias que minimizam a energia livre.

Esta maior mobilidade se dá devido às discordâncias parciais estarem mais próximas

umas das outras, favorecendo a movimentação de discordâncias, o que

conseqüentemente desfavorece o encruamento.

Page 25: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

23

A estrutura cristalina tem um papel fundamental no favorecimento do

encruamento, onde um material CCC possui 48 sistemas de escorregamento, porém

pouco compactos, e um material CFC possui 12 sistemas de escorregamento, porém

mais compactos. Esta diferença de compactação entre as estruturas cristalinas CCC e

CFC gera diferentes interação entre seus planos cristalinos, onde a alta compactação da

estrutura CFC confere a ela alta capacidade de movimentação e rearranjo de

discordâncias, levando a uma menor taxa de encruamento.

A maclação mecânica é um mecanismo alternativo de deformação plástica que

ocorre pela movimentação coletiva de volumes do material que sofrem rotação para

compatibilizar a deformação. Este mecanismo está presente principalmente em

materiais com estrutura cristalina CFC e HC [7], entretanto, dependendo da taxa

deformação e da temperatura de deformação, pode-se manifestar em qualquer tipo de

estrutura cristalina, inclusive nos metais CCC.

Outro fator importante é a pureza dos materiais, uma vez que influenciam nos

valores da EDE e no reticulado cristalino. Materiais de alta pureza têm baixa distorção

de sua rede cristalina, diminuindo o numero de barreiras para a movimentação de

discordâncias, favorecendo os processos de movimentação e rearranjo de discordâncias,

minimizando o encruamento.

Outra característica importante na deformação plástica é o tamanho do grão, pois

quanto menor o tamanho de grão de um material, mais contornos de grão estarão

presentes na microestrutura do material por unidade de volume. Esses contornos de grão

agem como emissores e bloqueadores de discordâncias, favorecendo o processo de

encruamento (mecanismo de Hall-Petch).

Não podemos deixar de abordar sobre a temperatura e a taxa de deformação,

sendo duas variáveis extrínsecas ao processo de encruamento, ou seja, não são

características do material, mas sim características do processo em si. Portanto, se a taxa

de deformação for demasiado alta, a capacidade de encruamento desse corpo será

menor, tendo em vista não haver tempo razoável para acomodar a deformação imposta.

Já para um processo de conformação plástica em alta temperatura (por exemplo,

laminação a quente) o encruamento é desfavorecido, pois a temperatura acelera os

mecanismos de restauração de caráter difusional, tal como a escalada na recuperação.

Alem das condições vistas acima, outro efeito importante gerado pela alta

temperatura é a eventual transformação alotrópica, ou seja, mudança de estrutura

cristalina, que pode ou não favorecer o encruamento. Por exemplo:

Page 26: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

24

HC(antes) → CCC(depois) (Favorecimento)

CCC(antes) → CFC(depois) (Desfavorecimento)

2.1.2 Recuperação

É um processo de restauração termicamente ativado, presente em temperaturas

de aproximadamente 0,2-0,3Tf, que promove a diminuição da energia elástica

armazenada na forma de defeitos de linha num material previamente encruado sem que

ocorra a movimentação de contornos de alto ângulo.

A recuperação de um material pode ser evidência pela observação das seguintes

modificações microestruturais tais como diminuição de defeitos puntiformes,

aniquilação de discordâncias de sinais opostos, diminuição dos anéis de discordâncias,

rearranjo de discordâncias (formação de contornos de baixo ângulo).

No processo de recuperação a principal forma de relaxar as tensões internas

induzidas pelo encruamento é a aniquilação de discordâncias de sinais contrários, um

mecanismo termicamente ativado, facilitado ou não pela EDE do material. Ao final do

processo de aniquilação de discordâncias, podemos encontrar na microestrutura do

material recuperado duas subestruturas conhecidas como células (caso de recuperação

incompleta) e subgrãos (caso de recuperação completa), esta ultima sendo gerada por

um processo chamado de poligonização [5]. Paralelamente e em temperaturas mais

baixas, outro mecanismo secundário de relaxamento das tensões internas do material

ocorre via difusão, pois os defeitos puntiformes em excesso podem ser aniquilados.

Estas mudanças microestruturais ocorridas na recuperação levam a uma

restauração parcial das propriedades do material, essa restauração pode ser avaliada

através de variação nas propriedades mecânicas, resistividade elétrica, densidade e

tensões residuais [5].

2.1.3 Recristalização

A recristalização pode ser encarada como uma reação no estado sólido de caráter

irreversível, termicamente ativada, que se dá por nucleação e crescimento. Para explicar

o fenômeno da recristalização foi proposta por Volmer e Weber (1920) uma teoria,

conhecida como teoria clássica, onde embriões surgiriam na microestrutura do material

deformado e crescem atingindo um tamanho crítico. Neste momento o embrião se

Page 27: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

25

tornaria um núcleo de recristalização. A partir deste momento inicia-se o processo de

crescimento do núcleo. Esta teoria é complexa e obtêm sucesso quando aplicada a

transformações como a solidificação. Até a década de 1940 a recristalização era

encarada do ponto de vista da teoria clássica, porém surgiram dificuldades para a

aplicação desta teoria de maneira quantitativa, pois foi observado por Christian (1965)

que valores de raio crítico calculados pela teoria clássica obtinham resultados muito

altos, o que refletia em uma velocidade de nucleação muito baixa, incompatível com

resultados experimentais existentes sobre recristalização [8]. A definição atual é a de

que os núcleos de recristalização são regiões pré-existentes no estado deformado [9].

Assim, nos últimos anos a teoria clássica de nucleação é considerada inadequada

para explicar o processo de recristalização de materiais. Logo o desenvolvimento de

teorias alternativas foi necessário para tentar explicar a recristalização. A primeira delas

é a chamada recristalização por migração de contornos induzida por deformação

(MCID), que pode ser visualizada na Figura 4. Este mecanismo induz regiões

recristalizadas com orientação oriunda do grão que possui maior tamanho de grão que

invade a região de grão com menor tamanho de grão. Porem este mecanismo funciona

bem apenas para deformação abaixo de 40%, pois acima deste valor a orientação de

grão recristalizado encontrado na microestrutura é diferente das encontradas nos grãos

formadores do segmento que se move. Outra teoria proposta para explicar a

recristalização é a teoria de evolução da estrutura de contornos de baixo ângulo, por

crescimento e rotação de subgrãos, esta teoria esta baseada na idéia de que os núcleos de

recristalização estão preexistentes na microestrutura do material encruado, devido à

formação de um segmento de contorno de grão de alto ângulo que migra por

aniquilamento de discordâncias, exigindo que o comprimento deste segmento seja maior

que o tamanho médio do subgrão adiante [8, 9].

Estes segmentos podem ser chamados de paredes de alta densidade de

discordâncias (PDD), microbandas e contornos lamelares (caráter de alto ângulo),

dependendo de sua morfologia e são locais preferências para o inicio da recristalização,

pois possuem alta energia elástica armazenada na forma de defeitos, e seu consumo é a

força motriz para que ocorra a recristalização. Após a “nucleação” dos novos grãos, a

recristalização prossegue por crescimento destes “núcleos” sobre a matriz ainda não

recristalizada [10]. Este crescimento das regiões recristalizadas continua até que os

grãos recristalizados se toquem, ou seja, as frentes de reação se encontrem, sendo este

um processo irreversível. Isto pode ser mais bem visualizado na Figura 5.

Page 28: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

26

a) b)

Figura 4 – Modelo de migração de contornos induzida por deformação. (a) antes da migração. (b) depois da migração [8].

a) b) c)

Figura 5 – Representação esquemática do crescimento na recristalização: (a) inicio da recristalização. (b) 50% recristalizado. (C) recristalização completa [9].

2.1.4 Crescimento de grão

Tanto o processo de recristalização como o processo de crescimento de grão

ocorre, como visto acima, pela migração de contornos de alto ângulo. Se esta migração

ocorre de maneira exagerada, de modo uniforme ou não, em todos os lados do grão,

dizemos que esta ocorrendo crescimento de grão [5]. A diferença entre a migração dos

contornos de alto ângulo na recristalização e no crescimento de grão está no potencial

termodinâmico, que para o caso do crescimento de grão é a redução da energia

superficial associada aos contornos de grão [8, 9]. O crescimento de grão é um processo

termicamente ativado definido como o crescimento de determinados grãos à custa de

outros de modo a diminuir a área total de contornos [10].

Page 29: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

27

2.2 Propriedades elétricas

Na presente monografia de conclusão de curso, além da necessidade de se

conhecer as reações presentes no processo de recozimento, é necessário também

entender certas propriedades elétricas dos materiais, em especial a resistividade elétrica.

2.2.1 Resistividade elétrica

No momento em que existe uma movimentação de cargas elétricas no interior do

material, existirá nele o que chamamos de corrente elétrica podendo o material, então,

apresentar uma facilidade ou uma restrição à passagem da corrente elétrica [11]. Essa

restrição é chamada de resistividade elétrica (ρ), conhecida como uma grandeza

relacionada a um impedimento sofrido pelos portadores de carga, ou seja, pelos elétrons

de “caminharem” no material. É uma propriedade intrínseca dos materiais, sendo

independente das dimensões do corpo estudado e de sua microestrutura. De maneira

quantitativa, resistividade elétrica é a relação entre o campo elétrico atuante (E) e

densidade de corrente (J) gerada através do condutor, conforme a equação abaixo [12]:

(1)

Outra maneira de se interpretar a resistividade elétrica de um determinado

material é utilizando a 2° Lei de Ohm [10], que analisa a resistividade elétrica do ponto

de vista da resistência elétrica dos materiais. A 2° Lei de Ohm é dada por:

(2)

onde R é resistência do material, L é o comprimento do fio analisado e A é a área da

seção transversal desse fio.

Com o auxílio desta equação e experimentos relativamente simples é possível

obter o valor da resistividade dos materiais. Porém, nessa abordagem, leva-se em

consideração que a amostra de material em forma de fio tem comportamento de

monocristal, o que não é real, pois a maioria dos fios comerciais tem microestrutura

policristalina.

Page 30: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

28

Como regra geral, as propriedades caracterizadoras dos materiais variam com a

temperatura, esse fato também é verificado na resistividade elétrica. Definindo-se um

parâmetro chamado de coeficiente de temperatura (αT medido em °C-1) como o

coeficiente angular da curva de ρ em função de T, podemos escrever a variação da

resistividade com a temperatura T, quando esta temperatura é maior que a temperatura

de Debye, como sendo [13]:

(3)

onde T0 é a temperatura de referência, ρ0 é a resistividade e T é a temperatura absoluta.

A Tabela 3 mostra os valores da resistividade elétrica de alguns materiais (temperatura

ambiente), com ênfase no ferro comercialmente puro. A correlação entre a resistividade

dos materiais e os defeitos cristalinos é direta, permite avaliar quantitativamente a

variação da quantidade de defeitos cristalinos, especialmente quando as medidas são

realizadas em baixas temperaturas minimizando a influência da componente fonônica.

Tabela 3: Resistividade elétrica de alguns materiais em temperatura ambiente [14].

Material Resistividade (Ω.m) Prata 1,68.10-8 Cobre 1,69.10-8

Alumínio 2,75.10-8 Ferro 9,68.10-8 Platina 10,6.10-8

Manganina 48,2.10-8 Sílica 2,5.103 Vidro 1010 – 1014

2.3 Relação entre defeitos cristalinos e a resistividade elétrica

Posteriormente a verificação dos princípios básicos da deformação, reações de

recozimento dos materiais e da propriedade resistividade elétrica encontrada nos

materiais, de agora em diante podemos relacionar os defeitos cristalinos a resistividade

elétrica como forma de investigação microestrutural. Esta relação pode ser explicada

através de um tratamento qualitativo da resistividade elétrica, pela chamada regra de

Matthiessen.

Page 31: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

29

2.3.1 Regra de Matthiessen

A resistividade elétrica pode ser expressa como a soma de contribuições de

espalhamento dos elétrons responsáveis pela condução, formada pelas contribuições

vindas da vibração térmica (fonônica), das impurezas e dos defeitos cristalinos, muitos

deles severamente modificados com a aplicação de deformação plástica a frio.

Essa soma de contribuições foi demonstrada de maneira experimental e

posteriormente definida matematicamente pelo pesquisador Augustus Matthiessen em

1964, que identificou esse comportamento nos materiais condutores e postulou uma

regra para o calculo de suas resistividades, valida apenas para materiais puros. Essa

regra leva seu próprio nome e é conhecida como regra de Matthiessen (Equação 4) [15]:

(4)

Podemos constatar que os mecanismos de espalhamento elétrico existentes nos

matérias metálicos atuam de maneira independente uns dos outros. A influência das

diferentes contribuições no valor final da resistividade dos materiais metálicos pode ser

vista na Figura 6, onde temos um exemplo dos componentes que formam o valor da

resistividade final do cobre em função da temperatura.

Figura 6 – Dependência da resistividade do cobre em função do estado metalúrgico e da composição química [14].

Page 32: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

30

O espalhamento ocasionado pelas impurezas, que são os átomos intersticiais ou

substitucionais, tem correlação direta com sua concentração (Ci), em termos de fração

atômica, na microestrutura do material e pode ser definida como (Equação 5):

(5)

A constante S é independente da composição, mas é uma função tanto do metal

hospedeiro quanto daquele que forma a impureza. Uma observação importante com

relação às impurezas e a resistividade elétrica é que em soluções sólidas, ou seja,

impurezas localizadas homogeneamente por todo o material, na forma de átomos

substitucionais ou intersticiais, há uma maior interação com o componente da

resistividade elétrica total vinda das impurezas do que nos materiais com partículas de

segunda fase dispersas em sua microestrutura [14].

Vale relembrar que no presente estudo, o ferro comercialmente puro, além de ser

um material de alta pureza, os experimentos realizados não modificaram sua

composição, e o valor de sua resistividade elétrica final é pouco afetada pela

contribuição oriunda das impurezas, pois o valor deste componente é praticamente nulo

e constante em todas as amostras.

Outra componente notável é aquela procedente das vibrações térmicas da rede

cristalina, conhecida como componente fonônica. Os fônons são uma quase-

partícula que designa um quantum de vibração em um retículo cristalino rígido,

denominado modo normal de vibração, em materiais no repouso ou com movimento

constante os fônons são análogos aos fótons.

Esta componente fonônica esta essencialmente ligada à temperatura, visto que o

aumento da temperatura ocasiona um aumento na vibração da rede cristalina, por isso há

um aumento na movimentação fonônica, o que faz a componente da resistividade vinda

dos fônons aumentarem, e conseqüentemente a resistividade final do material é maior.

Esta relação entre fônons e temperatura é linear e pode ser descrita pela Equação 7 [15]:

(7)

onde ρ0 e α são constantes diferentes para cada material. Além de gerar um aumento na

vibração da rede cristalina, o aumento da temperatura faz com que defeitos do tipo

Page 33: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

31

lacunas, provenientes do processo de difusão apareçam na estrutura cristalina do

material. Essas irregularidades também contribuem para que a resistividade do material

aumente, e conseqüentemente a condutividade seja ainda mais prejudicada.

A última componente que entra no cálculo da resistividade elétrica é a parcela

referente aos defeitos cristalinos presentes no material. O primordial defeito que

acarreta um aumento na resistividade elétrica são as discordâncias, mas existem outros

defeitos que também contribuem para o espalhamento dos elétrons de condução como é

o caso dos defeitos bidimensionais (defeitos de empilhamento, contornos de grão e

contornos de macla). Partículas de segunda fase também são importantes, mas apenas

nos estágios iniciais de precipitação. Dessa forma podemos reescrever, de maneira mais

crítica, a regra de Matthiessen, com relação à componente de saturação através da

Equação 8:

(8)

onde ρ(f) é componente de resistividade elétrica vinda dos fônons. As demais

componentes estão associadas aos defeitos cristalinos e assim temos, ρ(l) sendo a

componente de resistividade elétrica vinda das lacunas, ρ(d) sendo a componente de

resistividade elétrica advinda das discordâncias, ρ(b) sendo a componente de

resistividade elétrica vinda dos defeitos bidimensionais, ρ(e) sendo a componente de

resistividade elétrica vinda dos defeitos de empilhamento e ρ(i) é a componente de

resistividade elétrica vinda das impurezas

A partir da observação da regra de Matthiessen, verificamos ser possível prever

a resistividade de um material em uma determinada temperatura e estado de

deformação. Todas as componentes da resistividade vistas acima são importantes para

se obter um valor de resistividade resultante dos materiais, entretanto, para o caso do

ferro comercialmente puro, encontra-se uma componente que é mais sensível, sendo

aquela que diz respeito aos defeitos cristalinos, ou seja, a componente de deformação.

Esse fato foi comprovado por estudos realizados por M. Braunovic e C. W. Haworth em

1968 [16] que revelaram que ligas de ferro de alta pureza (caso do ferro comercialmente

puro) são mais sensíveis a mudanças nos tamanhos de grão do que na pureza do

material. O tamanho de grão influência na resistividade, pois quanto maior o tamanho

de grão, menor serão as regiões de contornos de grão, que são os verdadeiros

Page 34: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

32

responsáveis pelo aumento da resistividade elétrica nesses materiais, em uma mesma

temperatura.

Nesse estudo o interesse está na averiguação do comportamento, do ponto de

vista da resistividade elétrica, quanto a diferentes estados de deformação, conseguido

por meio dos diferentes tratamentos térmicos que serão discutidos nos próximos tópicos.

Page 35: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

33

3. MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia experimental utilizada neste trabalho está representada na Figura

7. A partir da visualização do fluxograma representativo acima, as diferentes etapas da

concepção do estudo podem ser divididas e mais bem explicadas.

Figura 7 – Fluxograma representativo da metodologia empregada no presente estudo.

3.1 Tratamentos térmicos

O ferro comercialmente puro foi recebido na forma de um fio com diâmetro de

0,3 mm trefilado a frio. Doze amostras foram cortadas no tamanho de 50 mm e limpas

com o auxílio de ultra-som imersas em acetona para eliminação de sujidades oriundas

do processo de trefilação. Duas alíquotas de amostra foram encapsuladas em vácuo em

cápsulas de quartzo e recozidas entre 100oC e 1000oC, em intervalos de 100oC, todas

por 1 h. Uma única amostra foi recozida em 200oC por 2 dias (48 h) para avaliar a

evolução da recristalização para tempos prolongados. As cápsulas contendo amostras de

ferro comercialmente puro foram recozidas num forno tipo mufla. Antes de serem

inseridas no forno, a temperatura era conferida com um termopar tipo K.

Page 36: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

34

3.2 Preparação metalográfica e microscopia ótica

Após a realização do processo de embutimento a quente (180°C), as amostras

foram lixadas com lixas de 600 a 2400 mesh tendo com água como agente refrigerante e

polidas com uma suspensão de sílica coloidal (OP-S, Struers). As amostras foram

atacadas quimicamente para revelar a microestrutura com Nital-2%, em especial os

contornos de grão ferríticos. O ataque foi realizado por imersão das amostras em um

béquer de 50 mL contendo o regente químico por 15 a 20 s e depois enxaguadas em

água corrente e secas. Após o procedimento experimental de metalografia ter sido

realizado nas amostras, fotos de suas microestruturas foram tiradas com a ajuda do

microscópio ótico AXIOVERT 40 MHT (Zeiss) nos aumentos de 200 X, 500 X e 1000

X. Com as imagens obtidas das doze amostras, pode-se determinar as curvas de

distribuição de tamanho de grão e assim, obter os valores médios dos tamanhos de grão

para cada tratamento térmico realizado.

3.3 Medidas de microdureza Vickers

Depois da preparação metalográfica das amostras e fotos de suas micrografias

tiradas com o microscópio ótico, as doze amostras passaram por uma análise de

microdureza Vickers, para obtermos mais um dado que ateste as condições em que as

amostras estão ao final dos tratamentos térmicos. Para tanto foi utilizado o

microdurometro Micromat 2004 da Buehler nas análises com carga de 300 gf por 30 s.

3.4 Metodologia para o cálculo do tamanho de grão e construção das curvas de

distribuição de tamanho de grão

A curva de variação de tamanho de grão com a temperatura foi levantada apenas

para as amostras que apresentaram microestruturas totalmente recristalizadas. Logo

foram usadas as amostras tratadas nas temperaturas 600°C, 650°C, 700°C, 800°C,

900°C e 1000°C. A medição dos tamanhos de grão foi realizada em dez micrografias de

cada amostra num aumento de 200 X e seguiu o procedimento previsto na norma ASTM

E-112 (2004), baseado na interseção de contornos de grão com uma linha reta de

dimensão conhecida. Empregou-se a Equação 9:

Page 37: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

35

As variáveis da equação acima são respectivamente, é o tamanho médio de

grão na linha calculada, L é o tamanho da linha conhecida em centímetros, E é o

tamanho da escala conhecido em centímetros e Int é o numero de interseções entre a

linha e os contornos de grão. Logo para se obter um valor de tamanho médio de grão

correspondente aos quinze campos decorrentes de cada micrografia de cada amostra, é

necessário utilizar a Equação 10:

onde TG é o tamanho médio de grão para cada micrografia de cada amostra e n é o

numero de campos empregadas no estudo em cada micrografia de cada amostra. Por fim

para se obter uma curva de tamanho de grão, onde cada ponto representa o valor do

tamanho médio de grão em cada amostra é necessário fazer uma média aritmética dos

valores de tamanho médio de grão obtidas para os quinze campos em cada amostra.

Assim como a curva de tamanho de grão, a curva de distribuição de grão

também foi levantada apenas para as amostras que apresentaram microestrutura com

características de material já recristalizado. As medições de distribuição de grão foram

realizadas em dez micrografias de cada amostra num aumento de 200 X e seguiu o

mesmo procedimento realizado na curva de tamanho de grão. O intervalo de freqüência

usado na construção das curvas de distribuição de tamanho de grão foi de 5 µm.

No Apêndice A, encontram-se os valores individuais das respectivas faixas de

tamanho de grão que serviram de base para a construção das respectivas distribuições de

tamanho de grão em função da temperatura de recozimento.

3.5 Medidas de resistividade elétrica

As medidas de resistividade elétrica foram realizadas na segundo alíquota que cada

cápsula de amostra contava, após os tratamentos térmicos. Estas medidas foram

realizadas em um aparelho chamado “PPMS”, sigla em inglês para Sistema de mediação

de propriedades físicas (Physical Property Measurement System), desenvolvido pela

Page 38: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

36

empresa Quantum Design. Estas medidas foram realizadas levando em consideração o

método das quatro pontas, onde quatro fios de cobre de pureza eletrônica foram ligados

as amostras com tinta prata, como visualizado na Figura 8:

Figura 8 – Ilustração esquemática do método das quatro pontas.

Após preparação discutida acima, as amostras foram soldadas com um soldador

comum em um dispositivo chamado “puck”. Este porta amostra conta com três espaços

para medição podendo medir três amostras ao mesmo tempo. Este dispositivo é então

inserido dentro do PPMS e as medições iniciam.

O PPMS usado nas medições estava com a temperatura corretamente calibrada e as

medições foram feitas dentro de um intervalo de temperaturas compreendidas entre 100

e 300 K, utilizando uma corrente de 5 mA. Os resultados são gerados no formato

(extensão) .txt contento o resultado da resistência elétrica em função da temperatura.

Por meio da Equação 2 pode-se determinar a resistividade elétrica. A partir desta

equação é possível construir as curvas de resistividade elétrica em função da

temperatura.

Page 39: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

37

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Caracterização microestrutural

O presente estudo foi realizado com o intuito de verificar evolução da

microestrutura do ferro comercialmente puro, saindo da condição inicial (encruado) até

uma condição de crescimento de grão, para isto as doze amostras, depois de tratadas

termicamente, tiveram suas microestruturas fotografadas por um microscópio ótico, nos

aumentos de 200, 500 e 1000 vezes. O resultado deste trabalho pode ser visualizado nas

Figuras 9 a 20:

a) b)

Figura 9 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 100°C por 1 h: a) 200 X; b) 500 X.

Page 40: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

38

a) b)

Figura 10 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 200°C por 1 h: a) 200 X; b) 500 X.

a) b)

Figura 11 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 300°C por 1 h: a) 200 X; b) 500 X.

Page 41: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

39

a) b)

Figura 12 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 400°C/1 h: a) 200 X; b) 500 X.

a) b)

Figura 13 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 500°C por 1 h: a) 200 X; b) 500 X.

Page 42: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

40

a) b)

Figura 14 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 600°C por 1 h: a) 200 X; b) 500 X.

a) b)

Figura 15 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 650°C por 1 h: a) 200 X; b) 500 X.

Page 43: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

41

a) b)

Figura 16 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 700°C por 1 h: a) 200 X; b) 500 X.

a) b)

Figura 17 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 800°C por 1 h: a) 200 X; b) 500 X.

Page 44: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

42

a) b)

Figura 18 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 900°C por 1 h: a) 200 X; b) 500 X.

a) b)

Figura 19 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 1000°C por 1 h: a) 200 X; b) 500 X.

Page 45: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

43

a) b)

Figura 20 – Micrografias da amostra de ferro recozida em 200°C por 48 h: a) 200 X; b) 500 X.

A partir das micrografias visualizadas acima é possível perceber a alteração na

morfologia dos grãos, saindo da condição de grãos com elevada razão de aspecto

(alongados) até cerca de 400oC (Figuras 9-12), típica de materiais onde predomina a

recuperação estática, para uma condição de grão equiaxiais nas micrografias dos

tratamentos térmicos de 600°C, 650°C, 700°C e 800°C (características de

microestrutura recristalizada). O início desta alteração microestrutural pode ser

visualizado na amostra recozida em 500°C (Figura 13), onde os primeiros grãos com

morfologia equiaxial surgem na microestrutura.

Considerando que a recristalização termina quando as frentes de reação se

encontram e que a partir deste instante os grãos apenas crescem à custa de outros,

podemos verificar que para as temperaturas acima de 600°C temos apenas o fenômeno

de crescimento de grão atuando na microestrutura das amostras, gerando grãos cada vez

maiores. Porém, para as micrografias referentes aos tratamentos térmicos em 900°C e

1000°C encontramos uma microestrutura de grãos com morfologia mais distante da

equiaxial. Como mostram as Figuras 18 e 19, de 900oC para 1000oC o tamanho médio

de grão diminui pela transformação α→γ no aquecimento e posteriormente γ→α no

resfriamento, uma vez que os contornos de grão da austenita são sítios preferenciais

para a nucleação de ferrita mais refinada, no resfriamento [17]. Por fim, é possível

visualizar na Figura 20 que longos tempos de recozimento, mesmo em temperaturas

consideradas baixas para o ferro (200oC, ou seja, 0,26Tm), é possível notar o início da

recristalização. Isso ocorre porque o tempo de incubação nesta temperatura é bastante

Page 46: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

44

longo. Infelizmente, não se conhece o histórico de processamento termomecânico do

material, o que dificulta estimar a deformação total a frio sofrida na trefilação.

4.2 Resultados das medidas de microdureza Vickers

As amostras de ferro comercialmente puro, tiveram suas microestruturas

expostas ao ensaio de microdureza Vikers, onde sete medições distintas foram

realizadas. Na Figura 21, pode-se visualizar o resultado destas medidas.

A importância desta análise é para confirmar as condições induzidas pelos

tratamentos térmicos, onde a propriedade dureza é diretamente proporcional a

quantidade de defeitos presentes na microestrutura do material, ou seja, espera-se

encontrar um maior valor de dureza para as amostras com maior numero de defeitos

cristalinos presentes em sua microestrutura.

Logo, ao observar a curva de amolecimento, é possível visualizar duas regiões

distintas, a primeira referente às amostras de 100 a 400°C com valores de dureza

Vickers entre 190 e 210 HV-0,3 e a segunda referente às amostras de 600 a 800°C, com

valores de dureza Vickers entre 120 e 130 HV-0,3. Esta diferenciação de regiões

realmente confirma o que já foi discutido sobre as microestruturas vistas no item

anterior, pois em temperaturas de tratamento térmico compreendias entre 100 e 400°C

encontramos microestruturas com morfologia de grãos alongados, caracterizando,

assim, estado de encruamento, que como tal possui uma alta concentração de defeitos.

Esta alta concentração de defeitos leva ao aumento das propriedades mecânicas do

material, como neste caso acontece com a dureza Vickers.

Já para as amostras recozidas em temperaturas compreendias entre 600 e 800°C

encontramos em suas microestruturas grãos com morfologia equiaxial (recristalizados),

isentos de defeitos, fazendo com que as propriedades mecânicas, como a dureza

Vickers, tenha seu valor diminuído. Assim, podemos dizer que para a primeira região há

um predomínio de amostras encruadas (recuperadas) e na segunda região há um

predomínio de amostras já recristalizadas.

Outro fator que a análise de microdureza Vickers pode confirmar é com relação

ao refino de grão, pois o valor médio de dureza Vickers da amostra de 1000°C é maior

do que o valor médio de dureza Vickers da amostra de 900°C, onde a microestrutura

presente na amostra de 1000°C possui maior área de contornos de grão por unidade de

Page 47: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

45

volume que, conseqüentemente, aumenta dureza em função do clássico mecanismo de

Hall-Petch.

100 200 300 400 500 600 700 800 900 100080

100

120

140

160

180

200

220

Fe puroR2 = 0,98873D

urez

a V

icke

rs (

HV

-0,3

)

Temperatura (°C)

Figura 21 – Curva de amolecimento do ferro comercialmente puro.

4.3 Variação do tamanho de grão com o recozimento

Após o tratamento dos dados retirados das micrografias por meio da

metodologia explicada anteriormente, pode-se traçar a curva de tamanho de grão para as

amostras com característica de microestrutura recristalizada, o resultado desta análise

pode ser visualizado na Figura 22.

A análise de tamanho de grão foi realizada com o intuito de confirmar se o

fenômeno do crescimento de grão realmente existe entre as amostras tratadas

termicamente em temperaturas acima de 600°C.

A observação da Figura 22 nos leva a obter esta confirmação, pois o esperado

era que os valores de tamanho médio de grão aumentassem com o aumento da

temperatura e foi o que aconteceu, mostrando que o fenômeno de crescimento de grão

realmente agiu nas amostras. A Figura 22 também mostra que as amostras tratadas em

temperaturas de 600 a 800°C obtiveram um valor de desvio padrão baixo, o que mostra

pouca diferença na morfologia entre os grãos presentes em toda a extensão das

Page 48: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

46

amostras, já para as amostras de 900 e 1000°C, o valor do desvio padrão foi

relativamente alto, mostrando que há uma diferença significativa na morfologia dos

tamanhos de grão presentes na extensão de suas amostras.

Para se ter certeza do que está acontecendo com estas amostras, o levantamento

de curvas de distribuição de tamanho de grão se faz necessária. Assim, como no ensaio

de microdureza Vickes pela análise de tamanho de grão, pode-se evidenciar, com

clareza, o refinamento de grão que acontece na amostra tratada em temperatura de

1000°C, pois o valor médio de tamanho de grão encontrado para esta amostra é menor

que o valor médio de tamanho de grão encontrado para a amostra tratada em

temperatura de 900°C.

600 650 700 800 900 1000

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

Fe puro

Tam

anho

de

grão

(µµ µµ m

)

Temperatura (°C) Figura 22 – Curva de tamanho de grão para as amostras abordadas.

4.4 Curvas de distribuição de tamanho de grão

Assim como aconteceu para a curva de variação do tamanho de grão em função

da temperatura de recozimento, após o tratamento dos dados retirados das micrografias,

foi possível construir as curvas de distribuição de tamanho de grão para as amostras

recristalizadas e o resultado destas distribuições de tamanho de grão pode ser vistas nas

Figuras 23 e 24:

Page 49: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

47

(0-5

)

(5.1

-10)

(10.

1-15

)

(15.

1-20

)

(20.

1-25

)

(25.

1-30

)

(30.

1-35

)

(35.

1-40

)

(40.

1-45

)

(45.

1-50

)

(50.

1-55

)

(55.

1-60

)

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

600°CFr

eqüê

ncia

(%)

Faixa de tamanho de grão ( µµµµm)

(0-5

)

(5.1

-10)

(10.

1-15

)

(15.

1-20

)

(20.

1-25

)

(25.

1-30

)

(30.

1-35

)

(35.

1-40

)

(40.

1-45

)

(45.

1-50

)

(50.

1-55

)

(55.

1-60

)

0

5

10

15

20

25

30

35

40

700°C

Fre

qüên

cia

(%)

Faixa de tamanho de grão ( µµµµm)

a) c)

(0-5

)

(5.1

-10)

(10.

1-15

)

(15.

1-20

)

(20.

1-25

)

(25.

1-30

)

(30.

1-35

)

(35.

1-40

)

(40.

1-45

)

(45.

1-50

)

(50.

1-55

)

(55.

1-60

)

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

650°C

Freq

üênc

ia (

%)

Faixa de tamanho de grão ( µµµµm)

(0-5

)

(5.1

-10)

(10.

1-15

)

(15.

1-20

)

(20.

1-25

)

(25.

1-30

)

(30.

1-35

)

(35.

1-40

)

(40.

1-45

)

(45.

1-50

)

(50.

1-55

)

(55.

1-60

)

0

5

10

15

20

25

30

35

40

800°C

Freq

üênc

ia (

%)

Faixa de tamanho de grão ( µµµµm) b) d)

Figura 23 – Distribuição do tamanho de grão no ferro comercialmente puro após recozimento por 1 h em: a) 600°C; b) 650°C; c) 700°C; d) 800°C.

Page 50: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

48

(0-5

)(5

.1-1

0)(1

0.1-

15)

(15.

1-20

)(2

0.1-

25)

(25.

1-30

)(3

0.1-

35)

(35.

1-40

)(4

0.1-

45)

(45.

1-50

)

(50.

1-55

)(5

5.1-

60)

(60.

1-65

)(6

5.1-

70)

(70.

1-75

)(7

5.1-

80)

(80.

1-85

)(8

5.1-

90)

(90.

1 - 9

5)(9

5.1-

100)

(100

.1-1

05)

(105

.1-1

10)

(110

.1-1

15)

(115

.1-1

20)

(120

.1-1

25)

(125

.1-1

30)

(130

.1-1

35)

(135

.1-1

40)

(140

.1-1

45)

(145

.1-1

50)

(150

.1-1

55)

(155

.1-1

60)

(160

.1-1

65)

(165

.1-1

70)

(170

.1-1

75)

(175

.1-1

80)

0

2

4

6

8

10

12

900°C

Freq

üênc

ia (

%)

Faixa de tamanho de grão ( µµµµm)

a)

(0-5

)(5

.1-1

0)(1

0.1-

15)

(15.

1-20

)(2

0.1-

25)

(25.

1-30

)(3

0.1-

35)

(35.

1-40

)(4

0.1-

45)

(45.

1-50

)(5

0.1-

55)

(55.

1-60

)(6

0.1-

65)

(65.

1-70

)(7

0.1-

75)

(75.

1-80

)(8

0.1-

85)

(85.

1-90

)(9

0.1

- 95)

(95.

1-10

0)(1

00.1

-105

)(1

05.1

-110

)(1

10.1

-115

)(1

15.1

-120

)(1

20.1

-125

)(1

25.1

-130

)(1

30.1

-135

)(1

35.1

-140

)(1

40.1

-145

)(1

45.1

-150

)(1

50.1

-155

)(1

55.1

-160

)(1

60.1

-165

)(1

65.1

-170

)(1

70.1

-175

)(1

75.1

-180

)

0

2

4

6

8

10

12

14 1000°C

Freq

üênc

ia (%

)

Faixa de tamanho de grão ( µµµµm)

b)

Figura 24 – Distribuição do tamanho de grão no ferro após recozimento por 1 h em: a) 900°C; b) 1000°C. A escala (largura do intervalo) teve que ser ampliada em função da maior variação no tamanho de grão nestas duas temperaturas.

Page 51: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

49

O objetivo de se traçar a curva de distribuição de tamanho de grão para as

amostras já recristalizadas é para melhor explicar os resultados obtidos pela curva de

tamanho de grão, bem como verificar se as curvas formadas possuem um perfil de

distribuição normal, ou seja, se as curvas formadas seguem uma Gaussiana, atestando

que os valores encontrados seguem uma distribuição normal e, conseqüentemente,

espera-se que a maior freqüência de tamanho de grão esteja contida no intervalo que

compreende o tamanho médio de grão, encontrado na analise de tamanho de grão

realizada anteriormente.

Pela observação quantitativa dos resultados obtidos pelas curvas de distribuição

de grão, fica claro que as amostras tratadas em temperaturas de 900°C e 1000°C não

possuem distribuição uniforme de grão, ou seja, os grãos possuem uma grande

aleatoriedade de tamanhos se comparados às amostras recozidas entre 600-800°C, o que

conseqüentemente gerou curvas não normais, mostrando que o espalhamento dos

valores de tamanho de grão encontradas nestas duas amostras é bem maior que nas

temperaturas mais baixas, explicando o aumento significativo nos valores de desvio

padrão, afastando-se de uma Gaussiana. Apesar de o processo de crescimento de grão

ter um potencial termodinâmico muito baixo, acima da temperatura de transformação

alotrópica A1 a atividade difusional é intensa, promovendo crescimento de grão também

no campo austenítico. Com o resfriamento, novos grãos surgem e crescem com

mobilidades distintas, levando a um maior espalhamento dos valores do tamanho de

grão, o que se reflete nas curvas de distribuição de tamanho de grão.

4.5 Medições de resistividade elétrica

Com a organização dos dados gerados pelo PPMS e através do calculo

matemático utilizando a segunda lei de Ohm, e sabendo que o diametro das amostra é

fixo com valor de 0,3 mm e que o comprimento varia para cada amostra, foi possível

traçar uma curva comparativa contendo as 8 curvas de resistividade elétrica encontradas

para cada valor de temperatura de tratamento térmico. Assim, é possível identificar,

com maior facilidade, o comportamento da resistividade elétrica do ferro

comercialmente puro comparada com a quantidade de defeitos presentes na

microsestruturas das amostras. As curvas de resistividade elétrica gerada para as

amostras podem ser visualizadas na Figura 25.

Page 52: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

50

O ensaio de resistividade elétrica é outra maneira de verificar o comportamento

das amostras no que diz respeito às reações de recozimento. Assim, sabendo que à baixa

temperatura, as únicas contribuições para o valor da resistividade elétrica são as

componentes vindas da deformação plástica e da pureza, pois a baixa temperatura, a

componente vinda dos fônons pode ser descartada devido à diminuição expressiva da

vibração da rede cristalina, e, lembrando que no presente trabalho, a pureza do ferro

comercialmente puro não foi alterada, o esperado seria encontramos uma diminuição

dos valores de resistividade elétrica conforme as temperaturas dos tratamentos térmicos

aumentassem, e, assim como aconteceu com os resultados no ensaio de microdureza

Vickers, houve uma confirmação do que se esperava, onde na amostra recozida em

200°C tivemos o maior valor de resistividade elétrica de 3,55.10-8 Ωm e para aquela

recozida em 900°C o menor valor de resistividade elétrica de 1,04.10-8 Ωm, valores

estes obtidos em 100 K.

O refinamento de grão pode ser mais uma vez observado através deste ensaio,

pois a posição da curva de resistividade elétrica, gerada para a amostra tratada

termicamente a 1000°C é superior à posição da curva de resistividade elétrica gerada

para a amostra tratada termicamente a 900°C, mostrando que a quantidade de defeitos

presentes na microestrutura da amostra tratada termicamente a 1000°C é maior que a

quantidade de defeitos presentes na microestrutura da amostra tratada termicamente a

900°C.

As amostras de 100°C, 600°C e 700°C obtiveram valores muito discrepantes se

comparado as demais amostras, nos resultados da análise de resistividade elétrica,

caracterizando erro experimental durante o processamento das amostras e por isso

tiveram suas curvas descartadas do resultado.

Page 53: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

51

100 150 200 250 3000.00E+000

2.00E-008

4.00E-008

6.00E-008

8.00E-008

1.00E-007

1.20E-007

1.40E-007

1.60E-007

1.80E-007R

esis

tivid

ade

elét

rica

(ΩΩ ΩΩ

.m)

Temperatura (K)

200°C 300°C 400°C 500°C 650°C 800°C 900°C 1000°C

Figura 25 – Curva de resistividade elétrica das amostras.

4.6 Condição especial de recozimento

Outra análise realizada compara valores de dureza Vickers encontrados para as

amostras de 200°C por 1 h, 500°C por 1 h, 200°C por 48 h e 900°C por 1 h e pode ser

visualizada na curva comparativa Figura 26.

As discussões feitas, até então, estão todas focadas unicamente nas diferenças

dos resultados das propriedades do ferro comercialmente puro, encontradas nos

diferentes ensaios aplicados, devido unicamente as diferentes temperaturas de

recozimento, evidenciando a correlação entre a temperatura e as reações de restauração.

Porém, para a amostra tratada em temperatura de 200°C por 48 h (Figura 20) pode-se

observar uma significativa alteração microestrutural advinda da recristalização, que não

se manifestou para tempos mais curtos, levando-se em conta que apenas microscopia

ótica foi utilizada. Nota-se que a dureza atingida é bem próxima da observada na

microestrutura da amostra tratada em temperatura de 500°C por 1 h, evidenciando que

as reações de restauração são influenciadas tanto pelo tempo como pela temperatura,

sendo a temperatura preponderante.

Page 54: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

52

200°C / 1h 500°C / 1h 200°C / 48h 900°C/1h0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

Val

ores

de

mic

rodu

reza

Vic

kers

HV-0,3

Figura 26 – Comparação entre os valores de dureza Vickers (HV-0,3) do ferro após diferentes tratamentos térmicos.

Page 55: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

53

5. CONCLUSÕES

Os resultados apresentados neste trabalho confirmam a ocorrência de

importantes alterações microestruturais, na resistividade elétrica e na dureza Vickers do

ferro comercialmente puro em função do recozimento isotérmico entre 100 e 1000oC.

As principais reações de restauração microestrutural (recuperação, recristalização e

crescimento normal de grão) foram acompanhadas neste intervalo.

Além do conhecimento prático adquirido na interpretação de fenômenos

clássicos em metalurgias física e de transformação, os resultados são importantes pelo

seu caráter exploratório, uma vez que permitem delinear trabalhos futuros (definição de

faixas de temperatura e de tempo), em especial aqueles que abordam a avaliação das

cinéticas de recristalização e de crescimento de grão num material ainda pouco estudado

apesar de sua importância, o ferro comercialmente puro.

Outro importante ponto foi avaliar a influência do tempo de recozimento, uma

vez que houve alteração microestrutural significativa com o aumento do tempo de

patamar na amostra recozida em 200oC de 1 h para 48 h.

Page 56: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

54

REFERÊNCIAS

[1] - J. E. Brady, G. E. Humiston, Química Geral, Vol 1, 2ª ed. Editora LTC, 1995

[2] - História do Ferro ARMCO – AK Steel – Genova - Itália

[3] - T. W. Watson, D. R. Flynn, H. E. Robinson, “Thermal Conductivity and.;

Electrical Resistivity of Armco Iron”, J. Appl. Phys., v. 40, p. 285-291, 1969.

[4] - <http://www.substech.com/dokuwiki/doku.php?id=iron-carbon_phase_diagram>.

Acesso em 26 nov. 2013.

[5] - A. F. Padilha, F. Siciliano Jr., Encruamento, Recristalização, Crescimento de

Grão e Textura, 3ª ed. Editora ABM, 2005.

[6] - <http://www.estruturas.ufpr.br>. Acesso em 26 nov. 2013.

[7] - H.R.Z. Sandim, Textura e Relações de Orientação, Cap. 2 – Heterogeneidades de

deformação – uma visão microscópica, 2ª ed. Editora Fapesp, 2003, p. 20-31.

[8] - I. G. S. Falleiros, M. F. de Campos, Textura e Relações de Orientação, Cap. 4 –

Nucleação da recristalização, 2ª ed. Editora Fapesp, 2003, p. 55-70.

[9] - R.D. Doherty, D.A. Hughes, F.J. Humphreys, J.J. Jonas, D. Juul Jensen, M.E.

Kassner, W.E. King, T.R. McNelley, H.J. McQueen, A.D. Rollett, “Current issues in

recrystallization”, Materials Science and Engineering - Elsevier Science S.A., v. 238,

p. 219-274, 1997

[10] - A. F. Padilha, F. Siciliano Jr., Textura e Relações de Orientação, Cap. 5 –

Crescimento das regiões recristalizadas, 2ª ed. Editora Fapesp, 2003, p. 71-84.

[11] - D. Halliday, R. Resnick, K. S. Krane, Fisica 3, 5ª ed. Editora LTD, 2004, p.110.

[12] - Jewett, Jr. John W.; Serway, Raymond A., Principios da Fisica, Vol 3, Editora

Thomson, 2004

[13] - Sérgio M. Rezende, Materiais e Dispositivos Eletrônicos, 2° Ed. Editora

Livraria de Física, 2004

[14] - Willian D. Callister, Jr, Ciência e engenharia de materiais – Uma introdução,

7°Ed. Editora LTC, 2007

[15] - A. F. Padilha, Materiais de engenharia, Editora Hemus, 2000

[16] - M. Braunovic , C. W. Haworth, “ Grain boundary contribution to the electrical

resistivity of iron” J. Appl. Phys. , v.40, p. 3459-3464, 1969.

[17] - Robert E. Reed Hill, Princípios da metalurgia física, 2° Ed. Editora Guanabara

Dois S.A., 1982.

Page 57: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

55

[18] - A. Martínez-de-Guerenu, K. Gurruchaga, F. Arizti, “Nondestructive

characterization of recovery and recrystallization in cold rolled low carbon steel by

magnetic hysteresis loops”, Journal of Magnetism and Magnetic materials, v. 316, p.

842-845, 2007.

[19] - A. Martínez-de-Guerenu, M. Oyarzabal, F. Arizti1, I. Gutiérrez , “ Application

of coercive field measurements to the evaluation of recovery and recrystallization in

cold rolled interstitial free (IF) steel ”, Mater. Sci. Forum, v. 500-501, p. 647-654,

2005.

[20] - W. F. Barrett, “On the increase of electrical resistivity caused by alloying iron

with various elements, and the specific heat of those elements”, Proceedings of the

Royal Society of London, v.69, p. 480-485, 1901-1902.

[21] - F. C. Schwerer, J. W. Conroy, Sigurds Arajs, “Matthiessen’s rule and the

electrical resistivity of iron-silicon solid solutions”, J. Phys. Chem. Solids v. 30, p.

1513- 1525, 1969.

[22] - F. E. Fujita, A. C. Damask, “Kinetics of Carbon Precipitation in Irradiated Iron-II:

Elecrical Resistivity Measurements”, Acta Metall. v.12, p. 331-339, 1964.

[23] - Sérgio Augusto de Souza Perez, Ensaios mecânicos de materiais metálicos, 5°

Ed. Editora Edgard Bluche, 1982.

[24] - E. N. da C. Andrade, B. Chalmers, “ The resistivity of polycrystalline wires in

relation to plastic deformation, and the mechanism of plastic flow ”, Proceedings of

the Royal Society of London. Series A, v. 138, p. 348-374, 1932.

[25] - A. F. Padilha, F. Ambrosio Filho, Técnicas de análise microestrutural, 1ª ed.

Editora Hemus, 2004.

Page 58: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

56

Apêndice A. Valores individuais das faixas de tamanho de grão geradoras das distribuições de grão vistas no texto principal. (média = X e desvio-padrão = σ) Tabela I – Dados geradores da curva de distribuição de grão para a amostra tratada a

600°C.

Freqüência X σ

(0-5) 697 28.4

(5.1-10) 1398 25.5

(10.1-15) 2120 4.1

(15.1-20) 603 7.5

(20.1-25) 285 3.8

(25.1-30) 33 2.1

(30.1-35) 9 1.0

(35.1-40) 2 0.4

(40.1-45) 0 0.0

(45.1-50) 2 0.4

(50.1-55) 0 0.0

(55.1-60) 0 0.0

Tabela II – Dados geradores da curva de distribuição de grão para a amostra tratada a

650°C.

Freqüência X σ

(0-5) 849 38.3

(5.1-10) 1321 28.0

(10.1-15) 2145 15.6

(15.1-20) 703 10.8

(20.1-25) 85 7.2

(25.1-30) 33 2.1

(30.1-35) 9 2.1

(35.1-40) 2 0.4

(40.1-45) 0 0.0

(45.1-50) 2 0.4

(50.1-55) 0 0.0

(55.1-60) 0 0.0

Page 59: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

57

Tabela III – Dados geradores da curva de distribuição de grão para a amostra tratada a

700°C.

Freqüência X σ

(0-5) 845 14.5

(5.1-10) 1021 14.4

(10.1-15) 1675 17.3

(15.1-20) 615 6.3

(20.1-25) 210 5.9

(25.1-30) 98 2.4

(30.1-35) 45 3.4

(35.1-40) 9 1.2

(40.1-45) 1 0.3

(45.1-50) 2 0.4

(50.1-55) 0 0.0

(55.1-60) 0 0.0

Tabela IV – Dados geradores da curva de distribuição de grão para a amostra tratada a

800°C.

Freqüência X σ

(0-5) 514 19.8

(5.1-10) 1198 21.1

(10.1-15) 1665 14.3

(15.1-20) 738 9.9

(20.1-25) 330 4.8

(25.1-30) 159 8.3

(30.1-35) 38 0.9

(35.1-40) 6 0.7

(40.1-45) 3 0.5

(45.1-50) 0 0.0

(50.1-55) 0 0.0

(55.1-60) 0 0.0

Page 60: RAMIZ LATIF PALIS NETO - Sistema de Autenticaçãosistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEM13009.pdf · Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha que proporcionou gentilmente

58

Tabela V – Dados geradores da curva de distribuição de grão para a amostra tratada a

900°C.

Freqüência X σ Freqüência X σ

(0-5) 99 26.97 (90.1 - 95) 16 4.64

(5.1-10) 162 44.96 (95.1-100) 12 3.31

(10.1-15) 128 34.92 (100.1-105) 6 1.81

(15.1-20) 162 44.04 (105.1-110) 5 1.51

(20.1-25) 101 27.49 (110.1-115) 2 0.67

(25.1-30) 112 30.62 (115.1-120) 4 1.19

(30.1-35) 111 30.19 (120.1-125) 6 1.70

(35.1-40) 84 22.93 (125.1-130) 1 0.40

(40.1-45) 72 19.71 (130.1-135) 1 0.40

(45.1-50) 98 26.72 (135.1-140) 0 0.00

(50.1-55) 52 14.28 (140.1-145) 4 1.35

(55.1-60) 30 8.20 (145.1-150) 1 0.40

(60.1-65) 47 13.07 (150.1-155) 2 0.67

(65.1-70) 26 7.17 (155.1-160) 0 0.00

(70.1-75) 18 5.06 (160.1-165) 0 0.00

(75.1-80) 27 7.53 (165.1-170) 0 0.00

(80.1-85) 21 6.00 (170.1-175) 1 0.40

(85.1-90) 12 3.52 (175.1-180) 1 0.40

Tabela VI – Dados geradores da curva de distribuição de grão para a amostra tratada a

1000°C.

Freqüência X σ Freqüência X σ

(0-5) 133 36.39 (90.1 - 95) 8 2.38

(5.1-10) 245 66.82 (95.1-100) 5 1.51

(10.1-15) 258 70.47 (100.1-105) 0 0.00

(15.1-20) 282 76.75 (105.1-110) 2 0.67

(20.1-25) 223 60.69 (110.1-115) 0 0.00

(25.1-30) 155 42.44 (115.1-120) 0 0.00

(30.1-35) 214 58.17 (120.1-125) 1 0.40

(35.1-40) 95 26.05 (125.1-130) 0 0.00

(40.1-45) 77 20.96 (130.1-135) 0 0.00

(45.1-50) 104 28.38 (135.1-140) 0 0.00

(50.1-55) 51 14.19 (140.1-145) 0 0.00

(55.1-60) 35 9.69 (145.1-150) 0 0.00

(60.1-65) 39 10.79 (150.1-155) 0 0.00

(65.1-70) 17 4.78 (155.1-160) 0 0.00

(70.1-75) 12 3.49 (160.1-165) 0 0.00

(75.1-80) 9 2.50 (165.1-170) 0 0.00

(80.1-85) 9 2.54 (170.1-175) 0 0.00

(85.1-90) 3 1.04 (175.1-180) 0 0.00