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1 HOGRAMA DE RECREAÇÃO NA UNIDADE PEDIÁTRICA DO ItO PITAL UNIVERSITÁRIO WAL TER CANT'-DIO - UFC: UMA EXPERIENCIA DE INTEGRAÇÃO ENSINO-SERViÇO, MARIA DO SOCORRO MENDONÇA SHERLOCK * RESUMO o presente estudo trata da implantação de um programa de Re- creação Infantil com crianças enfermas, internadas numa unidade pediátrica. Tem como objetivo eliminar ou atenuar os danos pslco- emocionais conseqüentes da hospitalização e melhorar a qualidade da assistência de enfermagem pediátrica hospitalar, utilizando a re- creação como recurso auxiliar dessa assistência. Tal recurso é consi- derado imprescindível numa enfermaria pediátrica, uma vez que a atividade recreativa possibilita à criança expressar seus medos, angús- tias, incertezas e aliviar o sofrimento causado pela hospitalização. 1 CREATION PROGRAM AT THE PEDIATRlê UNITV OF UNIVERSITV HOSPITAL WALTER CANTfDIO - UFC: AN XPERIENCE OF INTEGRATION BETWEEN WORKING ANO TEACHING ABSTRACT The present research considers the implantation of a program for children recreation who are sick and placed in a pediatric ward. Its aim is an atternpt to eliminate or to soften any psicho-ernotional damage due to hospitalization, and tho improve the quality of pe- diatr lc-nurse assistance in the hospital, turning to recration as a parallel aid of such an assistance. We believe that a pediatric ward cannot do without the recreative activitv because it enables the children to express their fear, distress, and doubts; and thereby, rni- nimize the suffering caused by hospitalization. 'I 111 rmeira. Especialista eT'QEnfermagem Pediátrica - Escola Paulista de Medicina. Profes- ", I Adjunto do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. II"VI Ia de Psicologia, Fortaleza, V_ 6 (2):47 -50, Jul.jDez_, 1988 47

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1 HOGRAMA DE RECREAÇÃO NA UNIDADE PEDIÁTRICA DOItO PITAL UNIVERSITÁRIO WAL TER CANT'-DIO - UFC: UMA

EXPERIENCIA DE INTEGRAÇÃO ENSINO-SERViÇO,

MARIA DO SOCORRO MENDONÇA SHERLOCK *

RESUMO

o presente estudo trata da implantação de um programa de Re-creação Infantil com crianças enfermas, internadas numa unidadepediátrica. Tem como objetivo eliminar ou atenuar os danos pslco-emocionais conseqüentes da hospitalização e melhorar a qualidadeda assistência de enfermagem pediátrica hospitalar, utilizando a re-creação como recurso auxiliar dessa assistência. Tal recurso é consi-derado imprescindível numa enfermaria pediátrica, uma vez que aatividade recreativa possibilita à criança expressar seus medos, angús-tias, incertezas e aliviar o sofrimento causado pela hospitalização.

1 CREATION PROGRAM AT THE PEDIATRlê UNITV OFUNIVERSITV HOSPITAL WALTER CANTfDIO - UFC: AN

XPERIENCE OF INTEGRATION BETWEEN WORKING ANOTEACHING

ABSTRACT

The present research considers the implantation of a programfor children recreation who are sick and placed in a pediatric ward.Its aim is an atternpt to eliminate or to soften any psicho-ernotionaldamage due to hospitalization, and tho improve the quality of pe-diatr lc-nurse assistance in the hospital, turning to recration as aparallel aid of such an assistance. We believe that a pediatric wardcannot do without the recreative activitv because it enables thechildren to express their fear, distress, and doubts; and thereby, rni-nimize the suffering caused by hospitalization.

'I 111 rmeira. Especialista eT'QEnfermagem Pediátrica - Escola Paulista de Medicina. Profes-", I Adjunto do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará.

II"VI Ia de Psicologia, Fortaleza, V_ 6 (2):47 -50, Jul.jDez_, 1988 47

1. INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA

A hospitalização representa para a saúde mental da criança um fator deter-minante de transtornos emocionais e de conduta, entre outros problemas, umavez que 'a criança é separada do seu meio ambiente e colocada em outro meio to-talmente diferente, composto de pessoas estranhas, além de ser submetida a umarotina não habitual.

Além dessa problemática, a realidade nos mostra que ao aspecto biológicoainda é dado maior relevância, razão porque as ações dirigidas à criança resu-mem-se na cura da doença, passando por experiências dolorosas e traumatizantesque, dependendo da idade, natureza, e grau da doença repercutirão em maior oumenor grau no seu desenvolvimento.

Felizmente percebe-se que as práticas nos hospitais pediátricos vêm mudan-do gradativamente, tornando-se mais flexível o sistema de visitas; alguns hospi-tais vêm adotando o sistema de internação conjunta mãe-filho, permitindo a suapresença junto ao filho desde a admissão até a alta hospitalar. Além disso nota-seuma certa mudança de atitude de alguns profissionais quanto à assistência diretaà criança, encarando-a como um ser dotado de necessidades que deverão ser aten-didas e respeitadas, nos aspectos bio-Hsico-afetivo e social.

Com vista à manutenção e preservação da saúde Hsica e mental da criançahospitalizada é que a Disciplina Enfermagem Materno-Infantil vem desenvolven-do na Unidade Pediátrica do Hospital Universitário Walter Cantídio há três anos,o Projeto Recreação Infantil Hospitalar, visando a minimizar os dados psico-erno-cionais conseqüentes da hospitalização.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEORICAHá um consenso entre os estudiosos da área da criança ao indicar o brinque-

do, não só como principal recurso pelo qual a criança investigará e aprenderá so-bre o mundo ao seu redor, mas também como objeto por onde ela expressará seussentimentos de amor, raiva, ansiedade e frustração decorrentes da hospitalização.ANGELO' apud Brooks refere que o brinquedo é o trabalho da criança. Comele, ela aprende como ocupar a maior parte do seu tempo. O br inquedo lhe pro-porciona atividade Hsica, estímulo intelectual, socialização, além de servir comovazão para suas emoções.

De acordo com PETRILLO & SANGER3, "o brinquedo no hospital devol-ve, em parte, aspectos normais da vida diária e previne maiores perturbações.Além disso proporciona à criança a oportunidade de reorqanizar sua vida, dimi-nuindo assim sua ansiedade e dando-lhe um sentido de perspectiva".

Para SANTOS4 entre os fatores que podem facilitar o processo de adaptaçãodo hospital, estão os objetos familiares: o brinquedo predileto da criança tem umefeito terapêutico e preserva o seu ego em formação. Por isso, deve-se incentivaros tamlllares trazer ao hospital alguns brinquedos.

GALVÃO considera que as seqüelas permanentes do hospitalismo estão emfunção de três fatores: idade da criança; duração da hospitalização; e do regime

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I' tivo que se submete a criança. A referida autora esclarece que a RecreaçãoInfantil Hospitalar pode atuar sobre o terceiro fator, servindo como válvulaelt escape para a criança descarregar seu medo, suas angústias, e assim atingir umecrto equilíbrio emocional. Com isso, verifica-se que o brinquedo no hospital,116mda função recreativa e educacional, tem também valor terapêutico.

Alguns aspectos deverão ser levados em consideração na prática da Recrea-c,..io Infantil Hospitalar: "conhecer a criança descobrindo sua preferência; dar im-portância às necessidades da criança: gravidade da sua doença e do seu estado ge-c 11:seu interesse; limitação: recursos disponíveis; valor da atividade recreativa".

Todos os aspectos levantados nos indicam a importância da necessidade deum serviço de Recreação Infantil, sistemático, em uma Unidade Pediátrica, visan-do a eliminar ou atenuar os agravos decorrentes da hospitalização.

~.DESCRiÇÃO DA EXPERIENCIA

O trabalho vem sendo realizado desde 1986, na Unidade Pediátrica do Hos-petal Universitário Walter Cantídio.

A Unidade de Pediatria possui um sistema de permanência conjunta mãe-fi-lho, em função do qual a equipe procura manter a integridade psico-afetiva dae r lança e promover educação para a saúde, visando a proporcionar à criança e à111. e uma assistência integral.

O trabalho de Recreação tem como população alvo crianças de 03 a 07 anos1ft idade e mães que acompanham seus filhos durante a hospitalização na referidaumdade, A escolha da faixa etária de 03 a 07 anos deve-se ao fato de que nessepc r íodo a criança torna-se sociável e a recreação possibilita enriquecer o seu de-envolvimento social, emocional e de linguagem, proporcionando aquisição de

eonhecimento, capacidade de atenção e aperfeiçoamento de coordenação motora.O programa tem como executora uma docente da disciplina Enfermagem

M Iterno-Infantil; uma aluna bolsista habilitada para tal; a enfermeira lotada nalJnidade Pediátrica do Hospital e as mães.

Em nosso programa de Recreação, proporcionamos atividades como: histó-I ius de curta duração dramatizadas e acompanhadas pelas crianças; rodas canta-di; confecção de trabalhos com sementes e sucatas; recortes e colagens; jogos emodelaqern,

O planejamento das atividades é bastante flexível, tendo em vista os fatoresuu intervêm e que impedem um plano pré-fixado. Por isso ele é feito quase queIndividualmente, atendendo a idade da criança, sua doença e suas necessidades.

. CONSIDERAÇOES FINAIS

Ao longo de dois anos, registramos várias dificuldades que foram, no decor-I r dos tempos, ultrapassados e outras que ainda estão sendo vivenciadas:

Apesar de ainda não ter uma avaliação mais criteriosa do programa, pode-mo observar uma diferença sensível no comportamento das crianças. Elas de-monstram tranqüilidade, alegria, aceitação melhor dos procedimentos dolorosos., m-se mostrado mais ativas e um crescente interesse em participar das ativida-

'("vc~ta de Psicologia, Fortaleza, V. 6 (2);47-50, Jul./Dez., 1988 49

des em grupo. O isolamente e a apatia própria de criança hospitalizada tem sidocada vez menos freqüente entre as crianças;

- O envolvimento das mães no programa de recreação tem contribuídopara, entre outras vantagens, proporcionar mais segurança à criança, valorizarmais a sua presença no hospital ao lado do filho, ajudá-Ia a compreender que oscuidados psico-ffsico-sociais à criança são tão importantes quanto os cuidadosfísicos;

- Apesar de não termos uma área física destinada à Recreação, este fatonunca constitui impedimento ou ameaça à continuidade do programa (Tentativasjá foram realizadas para desapropriação de uma sala, mais até o presente nada deconcreto foi obtido).

5. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 ANGELO, M. Brinquedo: um caminho para a compreensão da criança hospitalizada. Rev.Enf. USP, São Paulo, 19(3): 213·223, 1985.

2 GALVÃO, T.R.F. Recreação Terapêutica em Pediatria: considerações Gerais. Revista doHCPA. 4(1): 99-103, jun/1984.

3 PETRILLO, M. & SANGER, S; JUEGO en el hospital. In: Cuidado emocional dei ninohospitalizado; México, La Prensa Medica Mexicana, 1972, p. 11149.

4 SANTOS, M.E.R. O impacto emocional da hospitalização da criança. Jornal de Pediatria.5-6 (5): 341-344,1984.

6. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BARBOSA, L.T. Aspectos psico-sociais da assistência à criança. Nestlê Serviço de Informa-ção Científica. 30 p. (Temas de Pediatria), (9).

CARVALHO O. Atividade Lúdica Infantil: Nova Teoria e Base Comum de Todas as Formasde Pslcoterapla. J. Pediat, 39 (9/10),270-1,1974.

FERREIRAS, I.L. & CALDAS, S.P.S. Atividades na Pré-escola 5. Ed., São Paulo. Saraiva,1982.

GALVÃO, T.R.F. Recreação Infantil Hospitalar - Organização e Montagem de um ServiçoHCPA. 4( 1): 97-92, jun/1984. .

JOLL Y H. apud LISBOA, A.M.J. Programa de Hospitalização Conjunta Mãe-filho. J. Pediat.38 (7/8): 191-4, 1973. '

LISBOA, A.M.J. Programa de Hospitalização Conjunta Mãe-filho. J. Pediat., 38(7/8): 191-4,1983.

NOLAN, M. Hospitalization of infants and pre-schoolers observations and reflexitions of bya live - in mother; Lamp Sidney, 38(8): 29-35 avg, 1981.

PEREIRA, P. R. & SUCUPIRA, A.C.S.L. Brinquedos. J. Pediat. São Paulo, 3: 120-30,1981.PÃ~:ESCO·LAR. Plano de Unidade de Ensino. 1.0 Estágio - 3 a 4 anos. São Paulo. EDIPE.

s.d. 103p. (Revista Pedagógica Brasileira Técnicas de Ensino).

50 Revista de Psicologia, Fortaleza, V. 6 (2): 46-50, Jul.jDez., 1988

ONSIDERAÇÕES CRfTlCAS ACERCA DA ORIENTAÇÃOVOCACIONAL

ANTONIO CAUBI RIBEIRO TUPINAMBÁ ( *)

RESUMO

O artigo constitui-se de uma reflexão teórica sobre a orientaçãovocacional a partir da literatura considerada sobre o assunto, levandotambém em conta a atuação do autor nesta área.

Procura traçar princípios teóricos que norte iam a ação deorientar, criticando certos modelos de orientação bem como suqerln-do estratégias alternativas àquelas tradicionalmente presentes na llte-ratura específica.

Sugere áreas de estudo que devem fazer parte das preocupaçõesdaqueles que teorizam e praticam a orientação vocacional.

HE QUESTION OF "CHOICE" IN VOCATlONAL GUIDANCE

ABSTRACT

This article analises the different conceptions of vocationalguidance in the specific literature, as well as presents the author'sown experience in the field.

It tries to contribute to the theory that supports the practiceof vocational guidance. Some of its models are criticized and otheralternative models are suggested.

The article presents some crucial theoretical questions whichshould be considered by writters and practioners in this field ofknowledçernent.

"A espera não é uma esperança vazia. Possui a certeza interiorde alcançar o seu objetivo. Só essa certeza confere a luz única queconduz ao suecesso. Isso leva à perseverança que traz boa fortuna eprovê a força para atravessar a grande água.

Alguém se encontra diante de um período que deve ser supera-do. Fraqueza e impaciência nada conseguirão. Só o forte pode en-

li, ,f, sor Assistente do Departamento de Psicologia da U.F.C.

li' rlt' Psicologia, Fortaleza, V. 6 (2):51-{i3,Jul.jDez., 1988 51