1ª parte guia ensino da língua portuguesa em cabo verde 1a fase

21
Por: Eleutério Afonso e Maria Helena P. Furtado A iniciação à leitura e à escrita Cabo Verde: da abordagem curricular por objectivos (PPO) à introdução da APC; Conceitos da abordagem curricular por competência aplicados ao ensino da língua em contextos da iniciação à leitura e à escrita; Orientações para o Patamar 1 da oralidade e da escrita, em língua portuguesa. Ensino da Língua Portuguesa em Cabo Verde, 1º e 2º Anos de escolaridade CADERNO-GUIA PEDAGÓGICO DE SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM E AVALIAÇÃO PARA PROFESSORES

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clarificação de conceitos APC e sua relação com os conteúdos de aprendizagem da leitura e escrita na infância.

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Page 1: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

Por:

Eleutério Afonso

e

Maria Helena P. Furtado

A iniciação à leitura e à escrita Cabo Verde:

da abordagem curricular por objectivos

(PPO) à introdução da APC;

Conceitos da abordagem curricular por

competência aplicados ao ensino da língua

em contextos da iniciação à leitura e à

escrita;

Orientações para o Patamar 1 da oralidade

e da escrita, em língua portuguesa.

Ensino da Língua Portuguesa em Cabo Verde,

1º e 2º Anos de escolaridade

CADERNO-GUIA PEDAGÓGICO DE SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM E

AVALIAÇÃO PARA PROFESSORES

Page 2: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

2

Língua portuguesa 1º e 2º Ano

Por

Eleutério Afonso

e Maria Helena Furtado

Page 3: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

Especial agradecimento aos professores

experimentadores da Revisão Curricular:

Escola da ribeira da Barca

Polo II de Assomada

Várzea-Praia

SOS-Praia

Veneza-São Miguel

Valentina-São Vicente

São Pedro-São Vicente

Salesianos-São Vicente

Ficha técnica

Copyright © 2015 by Eleutério Afonso e Maria Helena Furtado

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de

1990,

que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Título original

Ensino da língua portuguesa em Cabo Verde,1º e 2º ano de escolaridade

Guia pedagógico de situações de aprendizagem e avaliação para

professores

Revisão da edição portuguesa antónio Bra nco

Capa kiko far kas e adr iano guar nier i / máquina estúdio

Imagem de capa © Eleutério Afonso

Edição electrónica Eleutério Afonso

Revisão Maria Helena Furtado

Atualização ortográfica

xxxxxxxx

Page 4: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

4

Porquê um guia?

A condução das aprendizagens pontuais numa abordagem por competências contempla a

aprendizagem dos recursos e a aprendizagem da integração. Cabo Verde está a apostar no

desenvolvimento curricular numa abordagem por competências, o que exige um conjunto de materiais

essenciais:

-Programas organizados em competências de base e patamares associados a quadro dos recursos

(saberes e saber-fazer);

-Manual de aluno;

-Caderno de situações.

-Guia de integração para professores.

O caderno de situações traz as famílias de situações-tipo, associadas às competências de

base e patamares, a partir das quais o professor cria situações adaptadas à sua turma. Nela,

encontramos situações relativas aos recursos, a saber, situações de exploração situações didáticas

situações de estruturação adaptadas aos diferentes níveis de alunos em fase de compreensão do

alfabeto. Tal diversidade de situações complexas vai permitir ao professor conduzir as aprendizagens

pontuais por via da resolução de situações-problema.

Apresentamos, também, situações de integração e situações de integração parcial, já que se

trata do nível de iniciação à leitura e escrita, etapa onde encontramos uma heterogeneidade grande

de ritmos e saberes.

Partindo dessas situações, o professor faz o diagnóstico, planifica as aprendizagens pontuais,

organiza a aprendizagem da integração e, em consequência, a remediação. Aos poucos, os

professores devem construir eles mesmos, as situações, mais adaptadas a sua localidade e classe,

mas dentro dos parâmetros das competências e patamares do programa.

A bem da qualidade das aprendizagens, entendeu-se transformar esse caderno de situações,

num caderno-guia para os professores, nesta etapa do desenvolvimento do sistema educativo.

Bom trabalho a todos.

Os autores

Page 5: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

5

Índice

1. As competências do professor no desenvolvimento curricular numa abordagem por competências:

7 1.1. Planificação do processo ensino-aprendizagem em termos de integração; ................................. 8 1.2. Competência para a condução das aprendizagens pontuais: ..................................................... 10 1.3. Competência ao nível da integração das aquisições ................................................................. 14 1.4. Gerir um módulo de integração; ............................................................................................... 21 1.5. Competência ao nível da avaliação ............................................ Erro! Marcador não definido. 1.6. Competência ao nível do diagnóstico e remediação: ................. Erro! Marcador não definido. 1.7. Organizar e gerir uma remediação ............................................. Erro! Marcador não definido. 2. Implicações metodológicas da abordagem por competências no processo da alfabetização: .. Erro!

Marcador não definido. 2.1. Da família de métodos à psicogénese da leitura escrita ............. Erro! Marcador não definido. 2.2. A psicogénese da linguagem escrita : ........................................ Erro! Marcador não definido. 2.2.1. A “desmetodização” -uma necessidade ................................. Erro! Marcador não definido. 2.3. A escola e a comunidade como espaço privilegiado para a alfabetização . Erro! Marcador não

definido. 2.4. Letras móveis ............................................................................. Erro! Marcador não definido. 2.5. Considerações sobre a caligrafia................................................ Erro! Marcador não definido. 2.5.1. O que o professor pode fazer no âmbito do diagnóstico da caligrafia na infancia ?Erro! Marcador não

definido. 2.6. Planificação por temas interdisciplinares................................... Erro! Marcador não definido. 2.6.1. Uma abordagem centrada na aprendizagem das palavras e frases.Erro! Marcador não definido. 2.7. A estrutura e organização dos manuais: .................................... Erro! Marcador não definido. 3. A avaliação na pedagogia da integração ........................................ Erro! Marcador não definido. 3.1. O caso específico da iniciação à leitura e escrita. ...................... Erro! Marcador não definido. 3.1.1. Referência de indicadores para a diferenciação na avaliação de orientação de regulação.Erro!

Marcador não definido. 4. Situações de oralidade e escrita à volta dos temas relativos ao conhecimento de si, do próximo, do meio

escolar e comunitário: ............................................................................ Erro! Marcador não definido. 4.1. Avaliação diagnóstica no início do ano/trimestre. ..................... Erro! Marcador não definido. 4.2. O teste da oralidade e conhecimento do meio ........................... Erro! Marcador não definido. 4.3. O teste das concepções de escrita .............................................. Erro! Marcador não definido. 4.4. Situações de diagnóstico, exploração e orientação. ................... Erro! Marcador não definido. 5. Fase propedêutica. .......................................................................... Erro! Marcador não definido. 5.1. Acolhimento, diagnóstico e pré escrita ...................................... Erro! Marcador não definido. 5.2. As metas da fase propedeutica. .................................................. Erro! Marcador não definido. 6. Avaliação de regulação .................................................................. Erro! Marcador não definido. 6.1. Tema 1- Comunicação e expressão na escola e na família ........ Erro! Marcador não definido. 6.1.1. Diagnóstico e orientação .............................................................. Erro! Marcador não definido. 6.2. Entrevistas alargadas no âmbito da diferencacao pedagogica ... Erro! Marcador não definido. 6.3. Criação e reconstrução textual ( breve ver volume II para uma leitura mais completa) ...... Erro!

Marcador não definido. 6.4. Pedagogia dos contos ................................................................. Erro! Marcador não definido. 6.5. Jogo de interpretação de papéis ................................................. Erro! Marcador não definido. 6.6. Iniciação à literatura cabo-verdiana ........................................... Erro! Marcador não definido. 6.7. Pedagogia dos jogos na alfabetização ........................................ Erro! Marcador não definido. 6.8. Aulas exemplificativas .............................................................. Erro! Marcador não definido. 6.9. Implicações pedagógicas tendo em conta LCv .......................... Erro! Marcador não definido.

Page 6: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

6

Falam nas competências do professor para o desenvolvimento curricular em APC. Será que o que eu sabia na PPO não é mais útil?

O que é a PPO? Trabalho há vinte anos nisto e vão mudá-lo sem eu saber o que é? Devo aprender APC ou PPO para poder ensinar?

Não, professor de óculos: Não precisa abandonar a PPO, por completo. É verdade

que a pedagogia por objectivos (PPO) difere da abordagem por competências (APC), em

termos de organização e desenvolvimento curricular, embora a APC inclua a PPO. A PPO é

um paradigma de desenvolvimento curricular, onde os comportamentos eram traçados em

formatos de objectivos, segundo os critérios de uma ou várias famílias de taxonomias,

acarretando algumas obrigações:

i) A construção e a utilização de grelhas de objectivos;

ii) A planificação dos objectivos numa progressão adaptável à diversidade dos

alunos;

iii) A aplicação de estratégias de ensino que permitam a realização dos

objectivos intermédios;

iv) A construção e a utilização de instrumentos para o trabalho independente;

v) A distribuição de actividades em ensino interdisciplinar para alcançar os

objectivos transversais;

vi) A elaboração de um processo de avaliação rigoroso, que permita uma troca

regular entre os objectivos e procedimentos;

Os limites da PPO residem no facto de o mesmo ser demasiado próximo do

behaviorismo de Skinner e por pautar por uma fragmentação excessiva do saber,

privilegiando demasiadamente os resultados, independentemente dos processos pelos quais

os mesmos foram construídos.

Os professores estão com dúvidas ou eu estou a ouvir dois assuntos diferentes?

Page 7: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

7

1. As competências do professor no contexto do desenvolvimento curricular numa

abordagem por competências:

A implementação de um currículo na abordagem por competências exige, da parte do

professor, o desenvolvimento de algumas competências básicas:

1. Planificar o processo ensino aprendizagem em

termos de integração;

2. Competência no âmbito da condução das

aprendizagens pontuais:

3. Competência no âmbito da integração das

aquisições

a) Construir uma situação modelo;

b) Gerir um módulo de integração;

4. Competência no domínio da avaliação

a) Corrigir uma prova do aluno,

considerando o erro como etapa;

b) Construir uma prova de integração e a

respectiva grelha de correcção

criteriada

5. Competência no âmbito do

diagnóstico e remediação:

a) Diagnosticar as aquisições e

dificuldades dos alunos

b) Organizar e gerir uma remediação

6. Trabalhar em grupo

7. Usar as TIC no seu trabalho

e

8. Assegurar a sua autoformação

Page 8: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

8

1.1. A Planificação do processo ensino-aprendizagem em termos de integração;

Distinguimos as aprendizagens dos recursos e a aprendizagem da integração no âmbito

da construção das competências.

O modelo teórico e metodológico proposto por Roegiers e al. (2004, 2008) é o que,

predominantemente, inspirou a revisão curricular em Cabo Verde (2006-2012). Por isso a

componente avaliação do referido modelo é apresentado, de forma sintética, nos parágrafos

que se seguem. Na base dessas concepções que o professor vai programar as aprendizagens,

utilizando a ferramenta que é a planificação.

No início do ano, faz-se uma avaliação de orientação que tem por objecto as

competências adquiridas pelos/as alunos/as no ciclo anterior.

As competências referentes a uma dada disciplina desenvolvem-se em patamares

(níveis crescentes de complexidade de uma dada competência) normalmente ao longo de todo

o ano. Os recursos necessários ao desenvolvimento de cada patamar da competência serão

trabalhados durante cerca de cinco semanas no final das quais o professor pára de

ensinar/trabalhar os recursos e orienta a aprendizagem da integração convidando os alunos

a resolver situações complexas. A aprendizagem da integração poderá ser feita num primeiro

momento em pequenos grupos (3 ou 4 alunos/as) e depois individualmente. Estas duas

situações de integração são, portanto, situações de treino. Depois da aprendizagem da

integração, os/as alunos/as resolverão uma situação de integração com fins avaliativos,

seguida de remediação. A aprendizagem da integração, a avaliação em termos de integração e

a remediação poderão ocupar cerca de uma ou duas semanas. Esta (s) semana (s) reservada

(s) à integração incluem a aprendizagem da integração, a avaliação da integração e a

remediação (que deverá ser precedida por um diagnóstico das dificuldades dos/as alunos/as).

Após a remediação, poder-se-á então retomar um novo ciclo de aprendizagens

pontuais dos recursos. Este esquema repete-se até ao final do ano.

Assim, ao longo do ano far-se-á a avaliação dos saberes pontuais e dos patamares

da competência enquanto, no final do ano, se fará a avaliação da referida competência

(evidentemente, precedida como para os patamares, da aprendizagem da integração). A

avaliação ao longo do ano tem fins formativos enquanto a realizada no final do ano (num

sistema escolar organizado por anos) tem fins certificativos.

Apresenta-se abaixo um esquema da organização das aprendizagens e da avaliação

num currículo orientado para o desenvolvimento das competências. É na base desse esquema

Page 9: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

9

que o professor fará a sua planificação, contemplando momentos de diagnóstico, momentos

de instalação de saberes pontuais, momentos de integração (chamadas semanas/épocas de

integração) para a regulação, momentos de remediação, momentos de avaliação

certificativa tanto dos saberes pontuais como dos patamares e competências.

Grelha de validação de uma planificação:

A planificação se apoia no programa e textos oficiais?

A planificação leva em conta as características e níveis dos alunos? Partiu de uma avaliação diagnostica

(no caso da Língua portuguesa níveis psicogenéticos, analise dos erros ortográficos/gramaticais; qualidade

e fluidez do traço gráfico; oralidade)

As competências de base e patamares são bem identificados?

A articulação entre os saberes, saberes fazer, saber ser realiza –se de modo integrado?

A planificação indica com precisão os momentos de:

Avaliação diagnostica com função de orientação?

Condução das aprendizagens pontuais?

Avaliação formativa com função de regulação?

Remediação?

Avaliação de integração e certificação?

Sem

ana

Sem

ana

Sem

ana

Sem

ana

Sem

ana/

sem

ana

Av

alia

ção

de

reg

ula

ção

e

Ap

ren

diz

agem

da

inte

gra

ção

Sem

ana

Sem

ana

Sem

ana

Sem

ana

Sem

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sem

ana

Av

alia

ção

de

reg

ula

ção

e

Ap

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inte

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ção

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ana

Sem

ana

Sem

ana

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ana

Sem

ana/

sem

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R

emed

iaçã

o

Rem

edia

ção

Av

alia

ção

de

ori

enta

ção

Condução das

aprendizagens

pontuais por

metodologias diversas

(de preferência por

via das metodologias

activas e situações-

problemas)

Tema 1

Sem

ana

de

inte

gra

ção

tem

a 1

Condução das

aprendizagens pontuais

por metodologias

diversas (de preferência

por via das

metodologias activas e

situações-problemas)

Sem

ana

de

inte

gra

ção

tem

a 2

Condução das

aprendizagens pontuais

por metodologias

diversas (de

preferência por via das

metodologias activas e

situações-problemas)

Tema 3, etc …)

Dem

ais

tem

as

Av

alia

ção

cer

tifi

cati

va

Av

alia

ção

cer

tifi

cati

va

fin

al

Fig1. – Distribuição das actividades de aprendizagens pontuais, integração e avaliação ao longo do ano

lectivo num currículo voltado para o desenvolvimento das competências.

Decorrer do ano letivo

Page 10: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

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A planificação contempla algumas situações complexas para

Diagnostico?

Situações didácticas para instalação dos saberes pontuais?

Situações complexas para a avaliação de regulação?

Os saberes fazer/patamares/competências a serem avaliados no final da planificação são mencionadas?

A planificação e feita de maneira integrada com as demais áreas disciplinares?

(caso das fases de alfabetização-ver micro projecto curricular de turma para alfabetização por temas interdisciplinares)

1.2. Competência para a condução das aprendizagens pontuais:

No contexto da iniciação à leitura e escrita são várias as

aprendizagens que desafiam os saberes do professor: De um

lado a instalação das letras do alfabeto latino, completo,

manuscrito e impresso; as palavras; as frases; os textos; a

ortografia e a gramática. Por outro lado, a aprendizagem da integração pela via da

produção escrita que inclui os gestos de escrita cursiva, a ligação entre as letras, os

acentos, os espaços entre as palavras escritas, os sinais de pontuação, os usos das

maiúsculas em situações de comunicação e acção por parte do indivíduo. O leque de

procedimentos e estratégias de ensino-aprendizagem varia

bastante. A tradição pedagógica deixa ao professor um

manancial enorme de estratégias que podem ser agrupadas da

seguinte forma:

-Estratégias centradas na aprendizagem;

-Estratégias sociointeracionistas;

-Estratégias centradas no aluno, no mestre e na técnica. Umas convêm mais à construção de

competências, outras menos, mas todos têm o sue cabimento em algum momento do processo

ensino aprendizagem. (ver implicações da PI na alfabetização).

Page 11: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

11

Eis uma grelha com os principais saberes pontuais1 do contexto da iniciação à leitura e escrita

Saberes (conteúdos) Alguns objectivos (saber fazer)

- Letras do alfabeto latino, impressas

e manuscritas (caligrafia);

- As palavras (léxico) do âmbito

escolar e familiar (os nomes das

pessoas, animais e objectos);

Diferenciar letras, algarismos e desenhos;

Identificar o alfabeto e diferenciar os de imprensa e os manuscritos;

Desenhar as letras;

Associar as letras aos sons que representam;

Diferenciar letras, palavras e frases;

- As frases, as estruturas e

expressões de comunicação e acção

na escola, família e comunidade;

Reconhecer que a frase começa com maiúscula e termina com um

ponto;

Identificar a unidade gráfica das palavras e a necessidade do seu

espaçamento no âmbito de uma frase escrita;

- Textos diversos;

- Ortografia e a gramática

- Etc.

Reconhecer um texto;

Identificar elementos da linguagem oral e elementos

exclusivamente gráficos, num texto escrito;

Identificar as letras, as palavras e as expressões no interior de um

texto;

Respeitar as regras de ortografia e gramática

Falamos da instalação de saberes pontuais quando o professor conduz aulas, por diferentes

estratégias, visando fazendo com que os alunos alcancem, por exemplo, os objectivos acima

apontados, tendo em conta os conteúdos a que se referem.

Alguns exemplos de actividades para a instalação dos saberes pontuais:

a) Partindo de um conjunto de saberes específicos, organizados numa lógica intrínseca aos

mesmos saberes2 (para a aprendizagem das letras, se considera o conjunto das letras)

1 Alguns desses conteúdos são, na sua essência, situações complexas mas figuram nesta lista como saberes

pontuais porque os objectivos de aprendizagem a eles associados preconizam aprendizagens parciais e

pontuais. É o caso do conteúdo textos diversos. O texto é, pela sua natureza e essência, uma produção

complexa mas, neste caso, os alunos só vão alcançar alguns objectivos factuais e conceptuais que é localizar

algumas letras e frases que fazem parte do texto. Logo, trata-se de um suporte para a instalação das

aprendizagens pontuais.

2 É comum se partir das frases e palavras para a aprendizagem das letras, numa prespetiva ignotum per

ignotius. Este assunto será tratado no capítulo sobre os métodos de iniciação à leitura e à escrita. No exemplo

Page 12: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

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Saberes (conteúdos) Alguns objectivos (saber fazer)

- Letras do alfabeto

latino, no formato

impresso e manuscrito,

maiúsculas e

minúsculas.

-Identificar o alfabeto e diferenciar os de imprensa e os manuscritos;

-Desenhar as letras;

-Recitar o alfabeto, na ordem regular;

-Identificar as diferentes formas que cada letra pode assumir

(impresso manuscrito, maiúsculas e minúsculas)

Com este exercício visa-se, tão-somente a interiorização de factos e conceitos (o que são as

letras, quantas existem, quais são, quais as formas que podem assumir na escrita, e qual o

nome de cada uma delas). Em termos de processos mentais subjacentes, este saber é do tipo

conceptual. Quando o aluno aprender um dos usos da letra que é a escrita das palavras e

frases, estaremos perante um saber fazer procedimental.

da a), pretende-se que o aluno aprenda as letras e sobre as letras, tendo como suporte, o conjunto de letras do

alfabeto (o painel das letras ou abecedário).

Page 13: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

13

b) Identificação dos saberes pontuais (letras), partindo de contextos de uso, normalmente

conhecidos (painéis, letreiros, capas de livros, etc)

Saberes (conteúdos) Alguns objectivos (saber fazer)

- Letras do alfabeto

latino, impresso e

manuscrito, algarismos

e palavras escritas:

Identificar o alfabeto;

Diferenciar letras, algarismos, desenhos e palavra escrita;

Tomar consciência de que podemos ter o uso de letras fora do contexto da

palavra escrita;

Confirmar a ideia de que podemos deixar mensagens gráficas só com

desenhos.

Na actividade a), os saberes (letras) estão fora do contexto do uso, apenas organizados numa

tabela com as letras todas, seguida de uma outra com lacunas por preencher. Já, na segunda,

em b), parte-se dos contextos da vida quotidiana (letreiros, publicidades, objectos de uso

diário, situações algo complexas) para se instalar os saberes pontuais.

Page 14: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

14

c) Uma sequência didáctica, usando um suporte académico (texto, frases e palavras)3.

Saberes (conteúdos) Alguns objectivos (saber-fazer)

- Textos diversos

-Reconhecer um texto

-Identificar letras, palavras e expressões no interior de um texto

-Identificar as frases que correspondem à fala das personagens

-etc

1.3. Competência no âmbito da integração das aquisições

1.3.1. Construir situações-tipo;

Uma das competências básicas para o professor, no âmbito do desenvolvimento

curricular numa abordagem por competências, é a criação de situações de integração. Sem as

situações, o trabalho de construção das competências fica pelo caminho, pois, a aprendizagem

se divide na instalação dos saberes pontuais e na aprendizagem da integração.

Eis algumas situações que podem ser consideradas de integração4 no contexto da

iniciação à leitura e escrita:

3 Em termos de suporte de partida, o chamado método analítico-sintético pode entrar nesta categoria de

estratégias.

Page 15: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

15

a) Perante uma cena

de comunicação, produzir

uma pergunta, tendo em

conta uma resposta dada

por uma das personagens

ou

Repara a resposta do rapaz: Qual terá sido a frase da

menina?

Escreve a frase da menina no teu caderno. Se não sabes

escrever, dita ao professor e depois copia para o caderno.

Formular algumas frases

para descrever ou narrar

um acontecimento…

4 As situações que, à partida, colocam em dúvida as concepções preliminares dos alunos, são consideradas

situações-problemas para esse nível. Quando, além de serem situações-problemas, levam os alunos a

mobilizar, conscientemente, várias capacidades e vários conteúdos, (ainda que não estejam voltados para uma

tomada de decisão ou resolução de um problema socialmente útil), consideramo-las situações de integração,

para esse nível. Mas, na sua essência, podem ser situações de integração parcial porque, mais tarde, os alunos

automatizam as estratégias de resolução dessas situações e deixam de ser situações problemas. É o caso da

escrita de uma palavra, para um aluno que pensa que a escrever é a mesma coisa que desenhar; ou o caso da

leitura, para alunos que ainda não automatizaram a descodificação (alunos silábicos com valor sonoro e alunos

silábico-alfabéticos. Pode ser, também, a escrita de uma palavra ou frase, na hipótese alfabética, para alunos

silábicos).

Page 16: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

16

Identificar o nome pessoal numa lista e assinar uma folha de presenças, para alunos

que ainda dominam a leitura e a escrita ou encontrar o nome e o número de telefone de

um colega, numa folha de papel5.

b)

A menina vai telefonar a um amigo. Diz para quem é que ela vai

telefonar e aonde é que a pessoa mora;

Qual é o número de telefone do amigo?

Procura o número de telefone de um amigo teu e telefona-lhe.

c) Escrever

um recado:

O Walter está doente e quer dar ao Paulo um bilhete para entregar à

professora. Ajuda-os a escrever o bilhete, dizendo o motivo da falta

do Walter, sem esquecer a saudação e a despedida.

5 As situações da b) e c) , se forem simuladas na sala, seriam situações práticas, diferente das situações

habituais, de “papel e lápis”.

Page 17: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

17

d) A partir

de um material

escrito, tomar

uma decisão ou

resolver um

problema

A avó da Ana quer

comprar Iogurtes mas

não se lembra em que

loja comprou da

última vez nem

quanto pagou. A Ana

encontrou a factura da

última compra. Ajuda-

lhes a descobrir a data

em que compraram o

último iogurte,

quantos compraram e

quanto pagaram.

Procura o número de

telefone da loja. Assim

podem telefonar e

perguntar se há

iogurtes hoje.

e) Produzir um ato

de fala útil no

contexto de

comunicação na

escola, na família

ou na comunidade

(para dar um

conselho, exprimir

um sentimento,

dar uma

informação, fazer

uma promessa,

agradecer, pedir

licença, se

apresentar, saudar,

O Hugo saiu de casa a correr e

atravessou a estrada sem olhar.

Quase apanhou um acidente.

Dá um conselho sobre isso,

justificando porquê:

Assim como o Edmilson,

apresenta-te dizendo o teu

nome, onde moras e formula

um desejo para os colegas no

presente ano escolar. Depois,

preenche os espaços a seguir

com essas informações:

O meu nome é:____________

Page 18: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

18

despedir) _________________________

Moro em_______________ e

desejo__________________

É dia do aniversário do Paulo. Todos os colegas vieram à festa. Formula,

oralmente, uma frase para felicitar o Paulo, em nome da turma e diz

como é que ele pode responder. Escreve essas frases.

Ou, ainda

f)

Falar sobre as

características e

utilidade das coisas do

contexto escolar e

familiar, associando

uma recomendação, um

conselho ou uma

advertência sobre a sua

utilização

O pai do Hugo é sapateiro. Ele trabalha em casa, com objectos

perigosos. Indica três objectos que ele usa; fala das suas

características e utilidades. Formula três conselhos sobre a

forma como devemos lidar com esses objectos em casa.

Escreve esses conselhos.

Page 19: 1ª Parte Guia Ensino Da Língua Portuguesa Em Cabo Verde 1a Fase

19

Todos esses exemplos exigem que o aluno tenha acesso e saiba manipular vários

saberes ligados à consciência linguística (consciência fonológica, lexical, morfossintáctica e

semântica, mas também habilidades no âmbito da escrita de palavras, frases e textos). Só que

aqui esses saberes não constituem um fim em si mesmos, como em [1.2]. Nestes casos, tais

saberes assumem o papel de recursos (cognitivos e procedimentais) que serão mobilizados

pelos alunos para resolverem situações de integração. Tanto esses saberes como as

situações de integração devem ser alvo de aprendizagem, na escola. Os primeiros

(recursos), enquanto saberes pontuais, por estratégias diversas, incluindo a a utilização das

situações complexas (situações didácticas). Os últimos (situações de integração), durantes

as semanas/épocas de integração.

Uma situação de integração pode ser uma produção complexa, um raciocínio crítico

ou uma situação problema (ver implicações da PI na avaliação). A validação de uma

situação, como sendo de integração, exige a observância dos seguintes parâmetros:

Em termos formais, uma situação de integração deve contemplar:

Um título;

Um enunciado de tarefas a desenvolver

Um suporte (documentos, desenhos, vídeos etc.)

Um conjunto de instruções de aplicação para cada uma das situações (para o professor)

Critérios de avaliação com;

Uma grelha de correcção com Indicadores para cada critério de cada situação dentro da

competência/patamar.

A ortografia e sintaxe devem estar corretas;

As instruções claras;

O tempo realista para a realização da (s) tarefa (s);

Ilustrações apreciáveis ao nível estético, respeitando as proporções, contextos, etc.;

Respeito pelos valores (equilíbrio de género; respeito pelos outros e pela diversidade, cooperação,

solidariedade, respeito ao meio ambiente, etc.

Em termos de pertinência a situação deve enquadrar-se dentro de uma família e pertencer a uma

determinada competência ou patamar do programa;

Deve ser realmente situação-problema/reflexão crítica/ produção complexa levando o aluno à tomada de

decisões e resolução de problemas;

Integrar várias aprendizagens;

Ser significativa, sucedendo da vida quotidiana do aluno;

A tarefa pedida ao aluno deve estar claramente definida;

Os critérios devem ser adequados

a) À natureza da disciplina;

b) À competência/patamar;

c) Nível dos alunos.

Os indicadores de medição dos critérios devem ser relevantes e claramente identificáveis em relação no

produto da situação;

Os indicadores devem permitir uma decisão unívoca.

A nível da essência

Os critérios devem ser independentes;

Deve haver pelo menos duas ocasiões de verificar cada critério (de modo a se poder averiguar se o aluno

atingiu pelo menos 2/3 ou ¾ da cotação do critério.)

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Dos exemplos que se encontram neste caderno, os professores podem derivar outras

situações, mais contextualizadas no âmbito do projecto pedagógico da sua turma, se sentirem

necessidade.

Os exemplos acima apresentados [nas alíneas a); b); c); d); e) e f)] são genéricos.

Embora todos se enquadrem dentro do contexto da iniciação à leitura e à escrita, não trazem

especificado nem os patamares, nem as respectivas grelhas de correcção e demais parâmetros

apresentados na grelha. Segue um exemplo com a indicação do patamar e dos saberes

disciplinares em causa:

Alguém caiu da mangueira!

Observa a imagem e responde: - Qual foi a pergunta da menina nas duas situações ?

- Numa frase, diz o que aconteceu na imagem do meio.

_________________________________

_________________________________?

________________________________

_______________________________?

Esta situação cujo título é “Alguém caiu da mangueira!”, enquadra-se dentro do patamar 1

do primeiro ano que é produzir, pelo menos, 3 frases úteis ao estabelecimento de contacto

social em contexto familiar e escolar.

Quais os saberes e capacidades que os alunos mobilizam para resolver essa situação? Assinale

na lista a seguir.

Saberes (conteúdos) Alguns objectivos (saber-fazer)

- As Letras do alfabeto

latino, impresso e

manuscrito (caligrafia);

- As palavras (léxico) do

âmbito escolar e familiar (os

nomes das pessoas e

objectos);

Diferenciar letras, algarismos e desenhos;

Identificar as letras do alfabeto;

Diferenciar as letras de imprensa das manuscritas;

Desenhar as letras;

Diferenciar letras, palavras e frases;

Usar as letras para montar palavras e frases;

- As frases, estruturas e

expressões de comunicação e

acção na escola, família e

comunidade;

Reconhecer que a frase começa com maiúscula e termina com um ponto;

Identificar a unidade gráfica das palavras e o seu espaçamento na frase;

- Textos curtos;

- Ortografia e a gramática

- Etc.

Reconhecer um texto;

Identificar palavras e expressões no interior de um texto;

Respeitar as regras de ortografia e gramática.

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1.4. Gerir um módulo de integração;

A aplicação de situações-problemas aos alunos permite que os mesmos resolvam, com

autonomia, as situações complexas e demonstrem as suas dificuldades. Após a correcção das

provas, o professor deve fazer as remediações e aplicar mais uma situação complexa

visando, numa espécie de avaliação extraordinária, validar o processo de remediação

aplicado.

No contexto da iniciação escolar, não será fácil para o professor fazer todos os alunos

trabalharem com autonomia. Isso porque, muitos (mesmo sem ter necessidades educativas

especiais) não estão habituados a trabalharem sozinhos. Muitos se levantam das carteiras, e

casos há, que durante a a preparação no pré-escolar, não alcançaram os gestos básicos como

sentar-se e trabalhar com material de escrita (preensão, punção e progressão com uma caneta

ou lápis num papel). Assim, há que dar uma atenção especial a esses casos, criando estratégias

para acalmar os alunos e pô-los a trabalhar sozinhos, permitindo que aprendam a ser alunos.

(continua)