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1 Edição Nº. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012. ESTATÍSTICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS NA FORMAÇÃO DO DOCENTE E NAS AULAS DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO 1 Jéssica Josiane Schmidt 2 RESUMO: O artigo aborda a estatística aplicada às Ciências Sociais como uma ferramenta didática e sugere sua utilização em aulas de Sociologia para o Ensino Médio. A linguagem visual da estatística pode facilitar a compreensão de algumas questões sociais pelos alunos, proporcionando melhora no processo de ensino e aprendizagem. No decorrer do artigo há uma breve contextualização sobre a presença da estatística nas Ciências de Sociais para ressaltar sua relevância e alertar para a quantidade reduzida de aulas de estatística nas grades curriculares dos cursos de graduação desta área. Questiona-se como algumas estatísticas aparecem em livro didático e são apresentadas algumas sugestões de fontes de dados estatísticos para serem utilizados em aulas de Sociologia. Palavras-chave: Sociologia, Estatística, Ensino Médio. INTRODUÇÃO Este artigo tem como objetivo compreender a Estatística como um instrumento didático que os professores podem utilizar nas aulas de Sociologia no Ensino Médio. Esta disciplina voltou recentemente para o currículo da Educação Básica, pois ficou determinado pelo Conselho Nacional de Educação com base na Lei 9.394/96 que a partir do segundo semestre do ano de 2007 todas as escolas têm de oferecer as disciplinas de Filosofia e de Sociologia no Ensino Médio (PARANÁ. SEED, 2008). No dia 2 de junho de 2008, o vice-presidente José Alencar, presidente em exercício na ocasião, decretou e sancionou a Lei nº 11.684 que altera o artigo 36 1 Orientadora: Renata Schlumberger Schevisbisk 2 Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina. Atualmente cursa especialização em Estatística com Ênfase em Pesquisa Quantitativa na Universidade Estadual de Londrina. Contato: [email protected]

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    Edio N. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012.

    ESTATSTICA APLICADA S CINCIAS SOCIAIS NA FORMAO DO DOCENTE E NAS AULAS DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MDIO1

    Jssica Josiane Schmidt2

    RESUMO: O artigo aborda a estatstica aplicada s Cincias Sociais como uma ferramenta didtica e sugere sua utilizao em aulas de Sociologia para o Ensino Mdio. A linguagem visual da estatstica pode facilitar a compreenso de algumas questes sociais pelos alunos, proporcionando melhora no processo de ensino e aprendizagem. No decorrer do artigo h uma breve contextualizao sobre a presena da estatstica nas Cincias de Sociais para ressaltar sua relevncia e alertar para a quantidade reduzida de aulas de estatstica nas grades curriculares dos cursos de graduao desta rea. Questiona-se como algumas estatsticas aparecem em livro didtico e so apresentadas algumas sugestes de fontes de dados estatsticos para serem utilizados em aulas de Sociologia. Palavras-chave: Sociologia, Estatstica, Ensino Mdio.

    INTRODUO

    Este artigo tem como objetivo compreender a Estatstica como um

    instrumento didtico que os professores podem utilizar nas aulas de Sociologia no

    Ensino Mdio. Esta disciplina voltou recentemente para o currculo da Educao

    Bsica, pois ficou determinado pelo Conselho Nacional de Educao com base na

    Lei 9.394/96 que a partir do segundo semestre do ano de 2007 todas as escolas tm

    de oferecer as disciplinas de Filosofia e de Sociologia no Ensino Mdio (PARAN.

    SEED, 2008). No dia 2 de junho de 2008, o vice-presidente Jos Alencar, presidente

    em exerccio na ocasio, decretou e sancionou a Lei n 11.684 que altera o artigo 36

    1 Orientadora: Renata Schlumberger Schevisbisk

    2 Licenciada em Cincias Sociais pela Universidade Estadual de Londrina. Atualmente cursa

    especializao em Estatstica com nfase em Pesquisa Quantitativa na Universidade Estadual de Londrina. Contato: [email protected]

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    Edio N. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012.

    da Lei 9.394/96 incluindo a Sociologia e a Filosofia como disciplinas obrigatrias nas

    trs sries do Ensino Mdio. Devido a estas recentes mudanas pode-se dizer que

    os alunos esto no perodo de reconhecer a nova disciplina e os professores de

    indicar para que ela veio. fato que uma aula torna-se interessante na medida em

    que os alunos percebem o sentido daquele conhecimento a ser construdo, o que

    torna fundamental os alunos identificarem a relevncia da disciplina para sua

    formao nas aulas de Sociologia. Ao incentivar o uso da Estatstica como

    instrumento didtico para tais aulas no Ensino Mdio procuramos contribuir com o

    trabalho do docente de Sociologia e auxiliar no sentido de tornar esta nova disciplina

    mais significativa aos estudantes.

    A singularidade das Cincias Sociais est na possibilidade de permitir

    reflexes acerca da realidade social, das suas caractersticas e dos seus problemas.

    Assim, a estatstica , para a Sociologia, um instrumento no s de diagnstico das

    patologias sociais, como diria mile Durkheim, mas tambm de constataes de

    diversos aspectos da realidade, possibilitando delimitao e anlises dos mesmos.

    Em sala, pode tornar as aulas de Sociologia bastante dinmicas, pois possui uma

    linguagem visual (representada em grficos ou tabelas) e, evidentemente, mais

    imediata, podendo facilitar a identificao e diagnstico das questes sociais e a

    compreenso das mesmas quando estas se somam s teorias sociolgicas.

    Constituiramos ento um movimento de olhar a realidade e uni-la teoria como

    sugere a pedagogia Histrico-Crtica.

    No decorrer do artigo veremos como a estatstica se desenvolveu e passou

    a ser utilizada pelas cincias humanas. Questionaremos sobre a presena da

    disciplina de Estatstica nos cursos de Cincias Sociais, os quais formam os

    professores de Sociologia do Ensino Mdio, com o objetivo de refletir a respeito dos

    contedos trabalhados na academia e seus efeitos nas escolas. Faremos ainda

    alguns apontamentos neste artigo a respeito do compromisso do profissional com a

    sociedade, o qual precisa corresponder s exigncias de sua poca. Percorreremos

    o livro didtico utilizado no Paran para saber se h e como as estatsticas se

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    Edio N. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012.

    apresentam. E enfim, para auxiliar o docente na utilizao da estatstica nas aulas

    de Sociologia, sero apresentadas algumas sugestes de fontes de dados.

    ESTATSTICAS E CINCIAS SOCIAIS

    A Estatstica tem duas maneiras de ser entendida, uma delas corresponde

    aos dados oficiais do Estado, da qual deriva o nome estatstica. A outra maneira

    refere-se matemtica empregada para anlise dos dados oficiais, ou seja, a

    linguagem, que tambm pode ser empregada na anlise de outros dados, no

    necessariamente do Estado, como os surveys ou pesquisas de opinio, por

    exemplo. Veremos a seguir o processo histrico do desenvolvimento deste recurso.

    Definio e Histria do Desenvolvimento das Estatsticas

    No sculo XVIII, conforme explica Olivier Martin (2001), o universitrio

    Gottfried Achenwall difundiu o termo estatstica no qual via a cincia da constituio

    do Estado, isto , a cincia dos recenseamentos de todos os constituintes de um

    Estado. Achenwall juntamente com outros estudiosos das estatsticas, como H.

    Conring, J. Zedler, A. F. Bsching, trataram de organizar os princpios de

    organizao e sntese dos dados e das crticas de fontes. Desenvolveram, portanto,

    os conhecimentos e os mtodos da chamada estatstica descritiva ou morfolgica

    (nomenclaturas, instrumentos, critrios).

    Segundo Martin (2001), h indcios de que as primeiras pesquisas

    censitrias tenham sido feitas nos grandes imprios da Antiguidade (Egito,

    Mesopotmia, China, e at entre os sumrios em 5000 a 2000 a.C.), com objetivo de

    conhecer todos os elementos que os compunham. J a estatstica como

    conhecemos hoje se define e ganha fora no sculo XIX quando torna-se uma

    febre na Europa, principalmente na Frana, Alemanha e Inglaterra. A partir do

    sculo XVII os recenseamentos da populao e dos bens ganham certa freqncia

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    na Frana como instrumento essencialmente administrativo ou militar de controle,

    neste momento a finalidade cientfica no existia ainda. Ao passar do tempo s

    necessidades administrativas somaram-se as de controle e vigilncia, pois os dados

    tambm serviram de investigaes policiais. A educao do Prncipe nas

    monarquias tambm foi um dos objetivos das pesquisas censitrias, pois ele deveria

    conhecer os nmeros de cada categoria de pessoas e coisas do reino a fim de

    administr-lo da melhor forma, pois o rei que no conhecesse esses nmeros seria

    rei pela metade.

    Na Alemanha desenvolve-se uma estatstica de natureza literria, ao

    descrever todos os traos, desde o clima at a economia, buscava-se a

    compreenso sinttica da sociedade humana. J na Inglaterra se tem a aritmtica

    poltica inglesa, que pretendia calcular os fenmenos da cidade para oferecer dados

    quantitativos aos governantes.

    Progressivamente, durante os sculos XVII e XIX, a abordagem francesa (centrada nos recenseamentos e nas descries do pas com fins administrativos e contbeis), a abordagem alem (centrada numa abordagem descritiva e analtica, raramente quantificada) e a abordagem inglesa (centrada na aritmtica e na anlise matemtica de dados quantitativos) vo se encontrar e dar nascimento estatstica tal como ns a conhecemos hoje, isto , ao mesmo tempo "cincia da contagem dos constituintes da sociedade" e "cincia do clculo em vista da anlise das contagens" 3.

    Apropriao das Estatsticas pelas Cincias Sociais

    Pouco a pouco as Estatsticas deixaram de ser instrumentos administrativos

    estatais e tornaram-se meios de informao da sociedade para sociedade. Diversas

    instituies independentes dos governos apareceram e reuniram administradores

    dos dados oficiais, estatsticos desvinculados do Estado e os pesquisadores sociais

    amadores. Foi o caso da Socit Statistique de Paris, criada em 1860 e do Institut

    3 (MARTIN, 2001).

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    International de Statistique em 1885. No sculo XIX aumentaram as pesquisas

    estatsticas sociais, sobretudo pelos chamados higienistas, grupo que estudava as

    condies econmicas e sociais buscando respostas para melhorar as condies da

    gua e do ar e, conseqentemente, a sade da populao. Os temas eram bastante

    diversificados como famlia, escolaridade, prostituio, condies psicolgicas dos

    operrios, efeitos da industrializao, entre outros. Assim a nova tarefa dos

    estatsticos era fazer obra social, identificar, para melhor administrar, os males da

    sociedade 4.

    A Estatstica enquanto cincia associa-se ao desenvolvimento das Cincias

    Humanas e Sociais que nasceram durante o sculo XIX constituindo, de acordo com

    Martin (2001), a base sobre a qual a Sociologia fixou suas razes. Nomes

    importantes marcam esta trajetria por atuarem como estatsticos e socilogos, so

    eles: Gabriel Tarde, Franois Simiand, Maurice Halbwachs, Adolfo Qutelet

    (criticado por Augusto Comte), Bertillon, Le Play e outros possivelmente5. Talvez

    pensar na maneira como alguns clssicos da Sociologia conduziram algumas de

    suas obras possam nos ajudar a compreender a dimenso em que a Sociologia

    apoia-se nas estatsticas, lembrando que as anlises qualitativas so fundamentais

    nas pesquisas sociolgicas e que a utilizao da linguagem matemtica no significa

    desconsider-las.

    O francs mile Durkheim o exemplo mais evidente. Ele considerava a

    estatstica uma cincia auxiliar da Sociologia por permitir a definio dos fatos

    sociais, isolando-os das manifestaes individuais, conforme consta na obra As

    Regras do Mtodo Sociolgico (1895). Os estudos que Durkheim desenvolveu

    estavam totalmente relacionados com os acontecimentos do seu contexto, desde os

    temas abordados at a metodologia utilizada. O tema escolhido era uma

    preocupao do momento e o uso das estatsticas j havia se tornado muito comum

    4 Idem 2.

    5 (MARTIN, 2001; e BOUDON, 1989).

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    entre os pesquisadores.A obra O Suicdio (1897) a que melhor representa seu

    mtodo, nela o autor estuda estatisticamente a taxa social de suicdio, uma vez que

    constitui uma ordem de fatos determinada e demonstra a sua permanncia e

    variao. Tal taxa permite ao socilogo compreender de que maneira o suicdio est

    afetando a coletividade, isto , no pretende averiguar de que maneira tal fenmeno

    age sobre o indivduo, mas no grupo.

    Outro clssico que poderamos citar pela utilizao das estatsticas para

    anlises sociolgicas o alemo Max Weber. Na obra A tica Protestante e o

    Esprito do Capitalismo (1904), as constataes de Weber partem de estatsticas

    ocupacionais e documentos sobre a Reforma Protestante, nos quais pde observar

    que mais protestantes do que catlicos ocupavam cargos de direo, propriedade do

    capital e funes que exigiam mo-de-obra qualificada nas modernas empresas

    alems. A ocupao desses cargos envolve tanto posse de capital, quanto educao

    e estes aspectos estariam relacionados com riquezas que passaram de uma

    gerao a outra e que tiveram base em converses ao protestantismo no sculo

    XVI. Partindo desta constatao, Weber se prope a explicar se h relao entre

    confisso religiosa e estratificao social. E se h, como se d esta relao. Procura

    tornar mais claro qual o impacto que motivos ligados religio, dentre outros,

    tiveram na formao da cultura moderna capitalista e como efetivamente a tica

    protestante se junta ao sistema de acmulo, que vai constituir o modo de produo

    capitalista.

    Feitas estas consideraes, veremos em seguida o processo de

    institucionalizao das Cincias Sociais no Brasil, que acontece com influncias

    estrangeiras em termos de metodologia, para posteriormente pensar na disciplina de

    estatstica nas licenciaturas e no quanto a utilizao de dados estatsticos nas aulas

    de Sociologia no Ensino Mdio pode auxiliar na compreenso de questes sociais

    atuais pelos alunos.

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    Edio N. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012.

    AS CINCIAS SOCIAIS NO BRASIL

    A pergunta que orientou a pesquisa sobre o tema foi: por que a disciplina de

    estatstica compe o currculo da maioria das licenciaturas em Cincias Sociais?

    Para responder a esta questo buscamos na histria da institucionalizao das

    Cincias Sociais no Brasil algumas indicaes.

    Formao dos Cursos e Demandas da poca

    A Sociologia foi institucionalizada no Brasil primeiramente na educao

    bsica e, depois, no ensino superior. Entre 1925 e 1942, com as Reformas Rocha

    Vaz e Francisco Campos, a Sociologia passou a integrar os currculos nas escolas

    normais e superiores, inclusive nos vestibulares importantes do pas. O crescimento

    da demanda ao redor das Cincias Sociais e no somente da Sociologia

    acarretou o surgimento dos primeiros cursos superiores em Cincias Sociais. Paulo

    Maksenas (1995) chama este perodo de anos dourados no ensino da Sociologia,

    pois o perodo em que a disciplina atinge as classes privilegiadas e ocorre

    popularizao da linguagem sociolgica.

    Os primeiros cursos de Cincias Sociais nas universidades brasileiras

    surgem em meados da dcada de 20 e incio da dcada de 30. Os fatores que

    teriam possibilitado-o seriam, para Miceli (2001), a organizao universitria e

    incentivos governamentais para debates acerca de temas fora do mbito do ensino

    superior. Porm nenhuma iniciativa ao desenvolvimento das Cincias Sociais estava

    dissociada das demandas polticas, dos grupos empresariais de ensino e da cultura

    ou at mesmo de organizaes religiosas, fator que ocorreu tanto no Rio de Janeiro

    e So Paulo, quanto em Minas Gerais, Bahia e Pernambuco. Arruda (2001) afirma

    que as anlises sociolgicas adquirem dimenso de indispensabilidade no

    movimento de modernizao em que o pas de encontrava e que tambm se tratava

    de um fruto de tal modernizao.

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    Edio N. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012.

    Inicialmente o trabalho acadmico em Cincias Sociais esteve voltado para

    a formao de professores secundrios e isto acabou repercutindo em toda

    orientao terico-metodolgica dos profissionais. O ensino secundrio era um

    campo de trabalho seguro e o maior mercado esta em So Paulo. Miceli (2001)

    destaca algumas caractersticas dos primeiros alunos de cincias sociais, afirmando

    que na maioria eram mulheres e que muitos descendiam de famlias imigrantes,

    padro bem distinto dos tradicionais cursos de ensino superior, como direito e

    medicina, por exemplo.

    A respeito das instituies, as pioneiras nas Cincias Sociais foram a

    Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras da Universidade de So Paulo e a Escola

    Livre de Sociologia e Poltica, tambm em So Paulo. No Rio de Janeiro, capital

    federal no momento, a primeira foi a Faculdade Nacional de Filosofia, marcada por

    disputas de poder poltico, o que influenciaria posteriormente no perfil dos

    profissionais, cuja dedicao volta-se mais para teorias desenvolvimentistas.

    Basicamente a diferena entre as duas cidades consiste em que o Rio de Janeiro

    estava para a poltica assim como So Paulo estava para a cincia 6.

    Em Minas Gerais, Bahia e Pernambuco as Cincias Sociais foram

    introduzidas em instituies que j existiam como resposta demanda que se

    estabelecia pelas posies adquiridas na imprensa, ou como docentes nas escolas

    normais e secundrias, por exemplo. Tiveram contribuio das escolas superiores

    tradicionais e dos autodidatas, visto que estavam longe dos grandes centros

    intelectuais. No caso de Minas Gerais, conforme explica Arruda (2001), as Cincias

    Sociais desenvolvem-se no interior da Faculdade de Cincias Econmicas no incio

    dos anos 50 ao se tornarem uma necessidade no contexto de polticas voltadas ao

    desenvolvimentismo regional. Inicialmente trata-se de um curso de carter

    orientado, visando formar profissionais especializados para assessorar o governo, a

    preocupao com as tcnicas de pesquisa emprica comea por volta dos anos 60.

    6 (MICELI, 2001).

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    No Paran as Cincias Sociais comeam com a criao do primeiro curso no

    estado em 1938 na Universidade Federal do Paran e do segundo na Universidade

    Catlica do Paran em 1957. Esta primeira fase marcada pelo cunho conservador

    e religioso dos pensadores sociais, isolamento em relao aos outros cursos do pas

    e predomnio da Antropologia. A partir dos anos 70, no Paran, comea a expanso

    da Cincias Sociais com a criao de mais dois cursos em Londrina e um em

    Arapongas. Da segunda metade da dcada de 80 em diante o perodo das

    Cincias Sociais consolidadas, com desativao do curso em algumas Instituies

    de Ensino Superior privadas, criao de mais dois cursos, um em Maring e outro

    em Toledo, tambm de qualificao dos docentes e criao de ps-graduaes.

    Grande parte da histria do curso de Cincias Sociais no Paran, principalmente na

    rea da Sociologia, est marcada pela falta de cientificidade, visto que os

    professores no tinham formao e qualificao suficiente para atuar nestas reas.

    As mudanas positivas vieram nos anos 60 com uma Resoluo pelo Conselho

    Federal de Educao determinando o mnimo de contedos e carga horria,

    gerando uma uniformidade nacional e adequao da IES. Outra mudana importante

    neste sentido, na mesma poca, foi o fim das ctedras. 7

    As Cincias Sociais no Brasil se desenvolvem de maneira bem distinta:

    a diferenciao curricular fornece o tom, mostrando que a organizao possivelmente resultou da formao do corpo docente. Em Minas, os brasileiros; na USP, a misso francesa; na Escola de Sociologia e Poltica, os professores americanos. provvel, portanto, que as especificidades curriculares tenham produzido profissionais com distintas formaes. Nessa linha de anlise, talvez pudssemos inferir a presena de pelo menos trs diferentes tradies do pensamento sociolgico no Brasil 8.

    7 (TOMAZI, 2006).

    8 (ARRUDA, 2001).

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    Edio N. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012.

    Embora haja esta diferena, todos os cursos citados tm a disciplina de

    estatstica no currculo9. Assim, voltando questo inicialmente colocada por que

    a disciplina de estatstica compe o currculo da maioria das licenciaturas em

    Cincias Sociais? , poderamos responder pensando na influncia dos docentes

    estrangeiros que trouxeram uma bagagem metodolgica para os cursos. Talvez

    fosse interessante pensar no apenas em um por que a disciplina de estatstica

    compe o currculo da maioria das licenciaturas em Cincias Sociais, mas, tambm,

    em um para que, pois vimos que as Cincias Sociais desenvolveram-se no Brasil

    para atender uma demanda, seja para preparao de docentes para atuar no ensino

    secundrio, ou para planejamento de polticas intervencionistas, por exemplo.

    A ESTATSTICA NO CURSO DE CINCIAS SOCIAIS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

    Conforme explica Silva (2006), o curso de Cincias Sociais foi implantado na

    Universidade Estadual de Londrina em 1973, primeiramente com objetivo

    profissionalizante e voltado para a licenciatura. A maioria dos docentes teve

    formao nas instituies paulistas, portanto possvel afirmar que os docentes da

    UEL tm formao centrada na tradio clssica e no perfil acadmico da profisso

    (SILVA, 2006, p. 133). O bacharelado s apareceu no curso em 1980, isto significa

    que o currculo at ento ficou com lacunas na formao em pesquisa.

    Desde o incio do curso a disciplina de Estatstica esteve presente, com

    exceo do perodo de 1998 a 2004. Antes de 1998 os currculos traziam ainda,

    outras disciplinas complementares, como Matemtica e Clculo de Probabilidades,

    de acordo com as grades curriculares apresentadas por Silva (2006), estas

    disciplinas eram de responsabilidade dos departamentos de Matemtica ou

    9 (MICELI, 2001; ARRUDA, 2001; SILVA, 2006; TOMAZI, 2006).

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    Edio N. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012.

    Estatstica. A partir de 2005 permaneceu no currculo apenas uma disciplina de

    estatstica, denominada Estatstica Aplicada s Cincias Sociais com carga horria

    de 68 horas tanto para a licenciatura quanto para o bacharelado. Acontece que esta

    disciplina tambm ficou sob responsabilidade do departamento de Estatstica, o que

    no garante que ela seja voltada s Cincias Sociais, inclusive alguns alunos

    relatam a falta de conexo entre o que se aprende nesta disciplina e a aplicabilidade

    nas Cincias Sociais. No quadro, a seguir, possvel ver a distribuio das

    disciplinas de Estatstica ou relacionadas ela nos diferentes currculos do curso de

    Cincias Sociais da UEL.

    Tabela 1. Distribuio das Disciplinas de Estatstica nos diferentes currculos do curso de Cincias Sociais da Universidade Estadual de Londrina entre 1973 e 2005.

    PERODO LICENCIATURA CARGA

    HORRIA (horas)

    BACHARELADO CARGA

    HORRIA (horas)

    1973 - 1979

    Matemtica I 60

    No havia Bacharelado

    -

    Matemtica II 60

    Clculo de Probabilidades

    45

    Estatstica 60

    1980 - 1991

    Matemtica I 60 Matemtica I 60

    Estatstica I 60 Estatstica I 60

    Estatstica II 90 Estatstica II 90

    1992 - 1997 Estatstica I A 68 Estatstica I A 68

    Estatstica II A 68

    1998-2004 Ausente - Ausente -

    2005 at atualmente

    Estatstica Aplicada s Cincias Sociais

    68 Estatstica Aplicada s Cincias Sociais

    68

    (Fonte: Pr-Reitoria de Graduao da UEL (SILVA, 2006).))

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    Edio N. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012.

    INCENTIVO UTILIZAO DAS ESTATSTICAS COMO RECURSO DIDTICO PARA AS AULAS DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MDIO

    O motivo de incentivar a utilizao de dados estatsticos nas aulas de

    Sociologia no Ensino Mdio parte da constatao de que os professores observados

    no estgio obrigatrio da licenciatura em Cincias Sociais da UEL, praticamente no

    os utilizam em sala de aula. As observaes que realizei foram em trs escolas

    diferentes com o mnimo de trinta horas em cada, uma em Rolndia-PR e duas em

    Londrina-PR. Das noventa aulas de Sociologia observadas apenas em uma aula, em

    Londrina, foi mostrado um grfico na TV Pen drive sobre o oramento do governo

    brasileiro (Anexo 1). Nesta aula o tema era a diferena entre os Estados Liberalistas,

    Socialistas e de Bem-Estar Social, o grfico foi mostrado para os alunos

    conhecerem a distribuio da receita arrecadada no Brasil e refletirem sobre o

    motivo da m qualidade de servios como sade, educao, segurana, etc.

    Interessante que cerca de um ms depois, em outra discusso, uma aluna comentou

    no debate com um colega de classe que o problema dos servios mencionados no

    estava apenas no desvio de dinheiro, mas no fato de que quase metade do que

    arrecadado vai para o pagamento da dvida externa. Isto demonstra que o contedo

    foi fixado.

    Os Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio (2000)10

    agrupam as disciplinas em trs partes: 1) Linguagens, Cdigos e suas Tecnologias;

    2) Cincias da Natureza, Matemtica e suas Tecnologias; e 3) Cincias Humanas e

    suas Tecnologias. Isto representa uma exigncia a respeito do conhecimento das

    tecnologias de cada cincia. A Sociologia uma das Cincias Humanas, mas quais

    seriam suas tecnologias? Aquelas que permitem a identificao e anlise de

    questes sociais e o estudo do seu objeto, ou seja, a sociedade. Poderamos citar

    como tcnicas, tecnologias ou instrumentos de estudos sociolgicos, quantitativos e

    qualitativos, a observao emprica, entrevistas, histria de vida e histria oral,

    10 Disponvel em . Acesso em 12/09/11.

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    Edio N. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012.

    levantamento e anlise de dados estatsticos, entre outros. E os professores de

    Sociologia pedem se valer de tais tecnologias para ensinar aos alunos de Ensino

    Mdio, promovendo a aprendizagem significativa. Corresponder s exigncias de

    sua poca um compromisso dos profissionais.

    Paulo Freire (1979) deixou importantes colocaes a respeito do

    compromisso do profissional com a sociedade e da necessidade de correspondncia

    s exigncias de seu contexto. Afirma que para comprometer-se necessrio ser

    capaz de agir e refletir, este ser o homem.

    Somente um ser que capaz de sair de seu contexto, de distanciar-se dele para ficar com ele; capaz de admir-lo para objetivando-o, transform-lo e transformando-o, saber-se transformado pela sua prpria criao; um ser que e que esta sendo no tempo que seu, um ser histrico, somente este capaz, por tudo isto, de comprometer-se11.

    Esta relao de comprometimento s pode existir em uma realidade

    concreta, na relao entre o homem com o mundo. So os homens que a criam,

    portanto so eles que podem transform-la. O compromisso prprio da existncia

    humana e o verdadeiro aquele com a solidariedade. O profissional, antes s-lo,

    humano, portanto deve carregar em si mesmo o compromisso. Quanto mais me

    capacito como profissional, quanto mais sistematizo minhas experincias, quanto

    mais me utilizo do patrimnio cultural, que patrimnio de todos e ao qual todos

    devem servir, mais aumenta minha responsabilidade com os homens. O

    compromisso valido quando carregado de humanismo, que s conseqente com

    fundamentao cientfica. Pensa-se, equivocadamente, que humanismo e tecnologia

    se excluem. Ora, se o meu compromisso realmente com o homem concreto, com

    a causa de sua humanizao, de sua libertao, no posso por isso mesmo

    11 (FREIRE, 1979).

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    Edio N. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012.

    prescindir da cincia, nem da tecnologia, com as quais me vou instrumentando para

    melhor lutar por esta causa 12.

    Vejamos em seguida quais contedos so trabalhados nas aulas de

    Sociologia no Ensino Mdio para posteriormente pensar nos materiais didticos. Na

    terceira parte das Diretrizes Curriculares de Sociologia para o Ensino Mdio inicia a

    orientao didtica a partir de uma sugesto para a fundamentao do ensino em

    Contedos Estruturantes.

    Estas Diretrizes Curriculares, ao delinearem o estatuto cientfico da disciplina, propem fundamentar o ensino da Sociologia em contedos estruturantes, capazes de estender cobertura explicativa a uma gama de fenmenos sociais inter-relacionados. Contedos estruturantes so, portanto, instncias conceituais que remetem reconstruo da realidade e s suas implicaes lgicas. So estruturantes os contedos que identificam grandes campos de estudos, onde as categorias conceituais bsicas da Sociologia, ao social, relao social, estrutura social e outras elegidas como unidades de anlise pelos tericos fundamentam a explicao cientfica 13.

    Para proceder aos recortes de contedos os autores mobilizam as teorias

    clssicas da Sociologia e os principais conceitos trabalhados por eles: de mile

    Durkheim o princpio da integrao social, fatos sociais, solidariedade mecnica e

    solidariedade orgnica e instituies sociais; de Max Weber o princpio da

    racionalizao social, ao social, tipos ideais, dominao e burocracia; e de Karl

    Marx o princpio da contradio social, classes sociais, trabalho, meios de produo,

    capital e ideologia. Os contedos estruturantes da disciplina propostos so: o

    processo de socializao e as instituies sociais; a cultura e a indstria cultural;

    trabalho, produo e classes sociais; poder, poltica e ideologia; direitos, cidadania e

    movimentos sociais. O objetivo destes contedos estabelecer uma ponte entre o

    12 Idem 10.

    13 (PARAN. SEED, 2008).

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    local e o global, o individual e o coletivo, a teoria e a realidade emprica, mantendo a

    idia de totalidade e das inter-relaes que constituem a sociedade.14

    Os materiais didticos mais utilizados nas aulas de Sociologia no Ensino

    Mdio conforme pude observar no estgio so: o livro didtico pblico, vdeos

    curtos, documentrios, filmes, imagens, revistas, jornais, charges e msicas. Na

    maioria dos casos os recursos so empregados para ilustrar os contedos

    estudados e algumas vezes para promover a problematizao deles. Gostaria de

    citar mais dois exemplos bem sucedidos de utilizao de estatsticas nas aulas de

    sociologia no Ensino Mdio. Um deles foi uma tabela mostrada em uma das

    regncias no estgio, cujo tema era Instituio Escolar, a tabela (Anexo 2) trazia

    dados representando a correlao entre anos de estudo e rendimento mensal. Os

    alunos fizeram a interpretao em grupo e com estes dados puderam constatar que,

    quanto mais anos de estudo, maior o rendimento. Isto impulsionou debates

    interessantes nos grupos, como por exemplo, a questo do acesso s escolas e s

    Instituies de Ensino Superior.

    O outro caso foi a experincia relatada por Luis Gustavo Patrocino, um

    colega de classe que utilizou, tambm em uma das regncias do estgio, dados do

    Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada IPEA e do Instituto Brasileiro de

    Geografia e Estatsticas IBGE. Ao trabalhar desigualdade social e a questo racial

    apresentou trs grficos (Anexo 3) que demonstram a realidade brasileira, um sobre

    os ndices de indigncia por cor, outro para comparar a renda per capita entre

    brancos e negros e o terceiro que traz a porcentagem do nmero de pessoas que

    tm onze anos de estudo ou mais por cor. Tambm usou uma dinmica de agrupar

    os alunos conforme suas caractersticas fsicas, constatando a distribuio

    percentual no total da turma, para que vivenciassem a diversidade entre eles. A aula

    foi bem participativa, o problema que a elaborao, conforme Luis relatou,

    14 Idem 12.

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    Edio N. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012.

    requereu muitas horas, e os professores geralmente no tm tempo adequado para

    preparao de suas aulas.

    A seguir veremos as estatsticas que aparecem no livro didtico de

    Sociologia disponibilizado pela Secretaria de Estado da Educao do Paran, que

    utilizado desde 2007.

    Como as Estatsticas aparecem no Livro Didtico Pblico de Sociologia da

    Secretaria de Estado da Educao do Paran

    No captulo A produo sociolgica brasileira, ao tratar das obras de

    Florestan Fernandes o autor sugere uma atividade de pesquisa:

    Primeiro faa uma pesquisa em rgos como o IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica e verifique qual a situao do negro em termos econmicos e educacionais em relao ao branco. Aps a coleta dos dados, trabalhe com seus colegas os resultados, relacionando-os com as teorias de Florestan Fernandes sobre os negros. 15

    possvel executar esta pesquisa, porm o exerccio no traz um passo a

    passo ensinando os alunos a procurar os dados e trabalha-los para possibilitar a

    comparao e a relao propostas. Para executar esta atividade, o professor

    precisaria estar capacitado para ensinar como fazer.

    No captulo sobre A Instituio Familiar so apresentados dados

    estatsticos de forma descritiva e a fonte dos dados no ficou muito clara,

    aparentemente derivam de uma pesquisa realizada por Elza Berqu:

    A famlia nuclear ainda predomina na sociedade brasileira, apesar do nmero de filhos ter diminudo consideravelmente. Se em 1940, a mdia era de 6,2 filhos por mulher, em 1991, caiu para 2,5. O nmero de divrcios e separaes aumentou, como tambm o das unies conjugais no-legalizadas. Muitos jovens hoje desejam

    15 Sociologia / vrios autores. Curitiba: SEED-PR, 2006. Pg. 59.

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    experimentar a vida de casados antes de legalizar a unio. Outros optam pela unio livre, ou viver juntos, sem a preocupao de prestar contas sociedade ou Igreja. Apesar do nmero de pessoas casadas ser majoritria no cenrio matrimonial, por outro lado tm decrescido as taxas de unies legais (em 1979 atingia 7,83, e em 1994, passou a 4,96). Outro tipo de arranjo que tem crescido nos ltimos anos o de famlias monoparentais quando um dos cnjuges vive com os filhos, com a presena ou no de outros parentes na mesma casa. Neste tipo de arranjo h um predomnio das mulheres chefes de famlia (em 1995 representavam 89,6%, em relao 10,4% de homens na mesma situao).16

    O captulo Movimentos Agrrios no Brasil escrito por Valria Pilo outro

    que apresenta dados estatsticos para fundamentar as explicaes, demonstra

    claramente a fonte, mas tambm est colocado de forma descritiva.

    H pelo menos de 4 a 6 milhes de famlias sem-terra, cerca de 1% dos proprietrios rurais possuem 46% das terras produtivas e cadastradas no Brasil (Censo do IBGE 1996). As propriedades com menos de 100 ha representam neste ltimo censo, 89,3% das propriedades, mas representam cerca de 20% das terras brasileiras. Neste mesmo Censo foram registradas 17.930.890 pessoas ocupando atividades no campo, contrapondo-se aos dados de 1985 que registram 23.394.881 trabalhadores portanto, percebe-se uma reduo do trabalho no campo em 23%. Existe um outro indicativo que contribui para destacarmos a importncia da pequena propriedade na produo agrcola no Brasil. Segundo os dados estatsticos sobre o montante da produo das pequenas e mdias propriedades produzidos pelo IBGE no Censo Agropecurio de 1996, temos que: a produo de reas com menos de 100 ha correspondem a 47% da produo nacional, os estabelecimentos entre 100 ha a 1.000 ha correspondem a 32%; j as reas com 1.000 ha a 10.000 ha correspondem a 17% da produo, e ainda, as reas acima de 10.000 ha produzem apenas 4% do valor total da produo no Brasil.17

    No h tabelas no livro e o nico grfico consta no captulo Movimentos

    Sociais escrito pela mesma autora do captulo Movimentos Agrrios no Brasil.

    16 Idem 14. Pg. 110 e 111.

    17 Idem 14. Pg. 239.

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    Edio N. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012.

    Onde Encontrar Dados Estatsticos.

    Para finalizar, gostaria de sugerir trs fontes nas quais os professores

    podero encontrar facilmente dados estatsticos para trabalhar em suas aulas de

    Sociologia no Ensino Mdio. Onde encontrar e como trabalhar com os dados

    disponibilizados estamos aprendendo no projeto Ferramentas de Informtica para

    anlise de dados em Sociologia Infosoc, coordenado pelo professor socilogo

    Ronaldo Baltar, com apoio da demgrafa e cientista poltica Cludia Siqueira Baltar,

    na UEL.

    1) Site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatsticas IBGE:

    www.ibge.gov.br. Neste endereo h inmeras informaes estatsticas

    interessantes, mas recomendo que acessem o campo Banco de Dados e, em

    seguida, SIDRA (banco de dados agregados). Ao entrar na seo Demogrfico e

    Contagem encontrar tabelas com alguns cruzamentos de variveis prontos e

    agrupados por temas. Poder escolher um tema que se encaixe temtica que

    gostaria de trabalhar, clicar na tabela e pedir para ser gerados tabelas, grficos ou

    cartogramas (neste campo tem um passo a passo de como gerar);

    2) Site do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada IPEA:

    www.ipea.gov.br. Neste site tem um campo para o IPEA DATA no qual possvel

    acessar dados estatsticos disponibilizados para uso pblico. H indicadores

    macroeconmicos, regionais e sociais, basta escolher o tema, clicar na tabela e

    pedir exibio.

    3) Site do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econmico e Social:

    www.ipardes.pr.gov.br. Neste endereo possvel acessar a Base de Dados do

    Estado (somente do Paran) na qual tambm h explicaes de como manusear os

    dados disponveis.

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    Edio N. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012.

    CONSIDERAES FINAIS

    Vimos que a Estatstica, tal como conhecemos hoje, ganhou formatao na

    Europa e foi apropriada pelas Cincias Sociais por constituir um importante

    instrumento de identificao e anlise das questes tratadas por estas cincias. No

    Brasil os cursos de Cincias Sociais incluram a Estatstica como disciplina na grade

    curricular, provavelmente pela influncia dos professores e pesquisadores

    estrangeiros, mas, tambm porque as Cincias Sociais no Brasil vieram para

    atender uma demanda. Embora o curso tenha surgido primeiramente para preparar

    profissionais para atuar no ensino secundrio, pois foi aonde a Sociologia chegou

    primeiro, em alguns casos esteve voltado s questes polticas e para pensar no

    desenvolvimento de regies e do pas.

    A disciplina de Estatstica permanece na grade curricular de vrios cursos de

    Cincias Sociais at os dias de hoje e isto favorece a preparao dos professores de

    sociologia que atuam ou iro atuar no Ensino Mdio para utilizar dados estatsticos

    em suas aulas. O motivo de incentivar que estes dados sirvam de material didtico

    para as aulas de Sociologia no Ensino Mdio vem da constatao, conforme

    colocado, que so pouco utilizados, embora representem um recurso bastante rico

    s Cincias Sociais para trabalhar as questes pertinentes a este campo.

    Estatsticas permitem delimitar um problema, visualiz-lo e analis-lo. Existe certo

    receio entre os cientistas sociais em relao a algumas tecnologias, mas preciso

    ficar atentos para que nossa cincia no fique obsoleta nem vulnervel18.

    Certamente o desafio no se restringe aos profissionais individualmente, os cursos

    de formao tambm precisam se envolver.

    Pensando na Sociologia, que voltou recentemente para o currculo da

    Educao Bsica, estamos em um momento de afirmao da importncia dos

    contedos que a disciplina traz. Assim, interessante que os professores articulem

    18 Para saber mais sobre esta questo consultar BALTAR, R.; BALTAR, C. S., 2010.

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    Edio N. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012.

    suas aulas tornado-as significativas, o que demanda utilizao de recursos didticos

    que atendam as particularidades da Sociologia.

    REFERNCIAS

    ARRUDA, Maria Arminda do Nascimento. A Modernidade Possvel: Cientistas e Cincias Sociais em Minas Gerais. In: MICELI, Srgio (org.). Histria das Cincias Sociais no Brasil. So Paulo: Editora Sumar, 2001. Vol.1. BALTAR, R. ; BALTAR, C. S. . A defasagem das cincias sociais no uso de recursos de informtica para ensino e a pesquisa no Brasil. La Educacin - Revista Digital (OEA), v. 144, p.2, 2010. BALTAR, R. ; BALTAR, C. S. . Durkheim: a sociologia como cincia. In: Vera Chaia; Simone Wolff; Lucia Bogus. (Org.). Pensamento e Teoria nas Cincias Socias: autores referenciais, dos clssicos aos contemporneos. 1 ed. So Paulo: EDUC, 2011, v. p. 100-130. BOUDON, R. Os Mtodos em Sociologia. So Paulo: tica, 1989. BRASIL. MEC. SECRETARIA DA EDUCAO BSICA. Orientaes Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio Cincias Humanas e suas Tecnologias. Conhecimentos de Sociologia. P. 100-133, 2006. FREIRE, Paulo. O Compromisso do Profissional com a Sociedade. In: ______. Educao e mudana. 21 edio. SP e RJ: Paz e Terra, 1979. LEI N 11.684, DE 2 DE JUNHO DE 2008. Disponvel em . Acesso em 13/09/2011. MARTIN, Olivier. Da estatstica poltica sociologia estatstica. Desenvolvimento e transformaes da anlise estatstica da sociedade (sculos XVII-XIX). Rev. bras. Hist., So Paulo, v. 21, n. 41, 2001. Disponvel em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882001000200002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt#N01#N01. Acesso em 24/10/11. MEKSENAS, Paulo. O Ensino de Sociologia na Escola Secundria. In: Leituras & Imagens, Grupo de Pesquisa em Sociologia da Educao. Florianpolis: Universidade do Estado de Santa Catarina-UDESC, p 67-79, 1995.

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    Edio N. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012.

    MICELI, Srgio. Condicionantes do Desenvolvimento das Cincias Sociais. In: MICELI, Srgio (org). Histria das Cincias Sociais no Brasil. So Paulo: Editora Sumar, 2001. Vol.1. MORAES, Amaury Cesar. Licenciatura em Cincias Sociais e Ensino de Sociologia: entre o balano e o relato. Tempo soc., Abr 2003, vol.15, no.1, p.5-20. ISSN 0103-2070 PARAN. SEED. SE. DEB. Diretrizes Curriculares de Sociologia para o Ensino Mdio. Curitiba: SEED-PR, 2008. SANTOS, Julio Csar Furtado dos. O Desafio de Promover a aprendizagem significativa. Disponvel em: http://www.juliofurtado.com.br/textodesafio.pdf. Acesso em 24/10/11. SILVA, Ileizi Luciana Fiorelli. A Configurao dos Sentidos do Ensino Das Cincias Sociais/Sociologia no Estado no Paran (1970-2002). XIII Congresso Brasileiro de Sociologia. UFPE, Recife (PE). 29 de maio 1 de junho de 2007. _____________. O curso de Cincias Sociais da Universidade Estadual de Londrina UEL (1973-2005). In: OLIVEIRA, Mrcio de. (org). As Cincias Sociais no Paran. Curitiba: Protexto, 2006. Sociologia / vrios autores. Curitiba: SEED-PR, 2006. TOMAZI, Nlson Dacio. Consideraes preliminares sobre a institucionalizao da sociologia no Paran, 1938-1963. In: OLIVEIRA, Mrcio de. (org). As Cincias Sociais no Paran. Curitiba: Protexto, 2006. WEBER.M. A tica protestante e o esprito do capitalismo. So Paulo: companhia das Letras, 2004.

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    Edio N. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012.

    Anexo 1. Grfico do Oramento Geral da Unio

    Oramento Geral da Unio 2010 Por funo Total = R$ 1,414 trilho

    Disponvel em: http://www.fenafim.com.br/comunicacao/artigos/795-riscos-do-projeto-de-lei-no-19922007-face-a-crise-financeira-mundial. Acesso em 02/11/11.

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    Anexo 2. Tabela sobre a correlao entre e Anos de Estudo e Rendimento utilizada

    em uma aula de Sociologia no Ensino Mdio.

    Tabela 2903 - Pessoas de 10 anos ou mais de idade por grupos de anos de estudo, sexo e classes de

    rendimento nominal mensal

    Brasil

    Varivel: Pessoas de 10 anos ou mais de idade (Percentual)

    Sexo: Total

    Ano: 2000

    Classes de rendimento nominal mensal

    Grupos de anos de estudos

    Sem instruo e menos de 1 ano

    1 a 3 anos

    4 a 7 anos

    8 a 10 anos

    11 a 14 anos

    15 anos ou mais

    Mais de 1/2 a 1 salrio mnimo; 4,05 3,45 4,33 1,66 1,00 0,05

    Mais de 1 a 2 salrios mnimos; 1,40 2,44 5,00 2,50 2,42 0,15

    Mais de 2 a 3 salrios mnimos; 0,42 0,96 2,47 1,36 1,73 0,16

    Mais de 3 a 5 salrios mnimos; 0,26 0,75 2,26 1,41 2,27 0,45

    Mais de 5 a 10 salrios mnimos; 0,11 0,40 1,41 1,10 2,49 1,16

    Mais de 10 a 15 salrios mnimos;

    0,02 0,06 0,25 0,21 0,66 0,57

    Mais de 15 a 20 salrios mnimos;

    0,01 0,03 0,11 0,10 0,37 0,46

    Mais de 20 a 30 salrios mnimos;

    0,00 0,01 0,06 0,05 0,21 0,39

    Mais de 30 salrios mnimos; 0,00 0,02 0,07 0,06 0,21 0,54

    Sem rendimento; 4,11 9,84 17,18 6,52 3,81 0,38

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    Nota:

    1 - Dados da Amostra 2 - Salrio mnimo utilizado: R$ 151,00. 3 - A categoria Sem rendimento inclui as pessoas que receberam somente em benefcios.

    Fonte: IBGE - Censo Demogrfico

    Anexo 3. Material didtico elaborado e utilizado por Luis Gustavo Patrocino em uma

    aula de Sociologia no Ensino Mdio.

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