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Março de 2018 — N.º 549 FUNDADOR: Dr. Antonio Marcello da Silva - 15/01/1958 Diretores – Antonio Marcello da Silva (*1931). Pascoal Andreta (*1916 – +1982). Ugo Labegalini (*1931 – + 2012). A Capital Nacional da Moda Tricô Monte Sião é um município que fica no sul de Minas Gerais, na divisa com o estado de São Paulo. Pela estimativa do IBGE em 2017, conta com 23 247 habitantes. Sua área é de 292 km² e a altitude é de 850m. Monte-sionense é o gentílico para quem nasce em Monte Sião. ZÉ ANTONIO O dia 29 de Março de 1849 é considerado a data de fundação de Monte Sião. Neste dia foi emitido o primeiro documento oficial que menciona o lugarejo então conhe- cido como Jaboticabal – que, cerca de três anos mais tarde passaria a ser chamado de Monte Sião – e autoriza o Major Antonio Bernardes de Souza e seus companheiros a nele edificar uma capela. O documento em questão foi emitido pela Diocese de São Paulo e é tido como uma espécie de certidão de nascimento de Monte Sião. Diz ele (com a gra- fia atualizada para nossos dias): “Lourenço Justiniano Ferreira, Professo na Ordem de Cristo, Cavaleiro da Ordem da Rosa, Chantre da Catedral desta Imperial Cidade de São Paulo, Delegado do Capelão Mor do Exército por Sua Majestade o Imperador e Vigá- rio Capitular pelo Ilustríssimo e Reverendíssimo Cabildo, Sede Vacante, etc. Aos que esta Provisão virem, saúde e paz para sempre no Senhor. Faço saber que, atendendo o que por sua petição me apresentaram Antonio Bernardes de Souza, Joaquim Vaz de Lima, Francisco Nogueira Bastos e outros moradores do bairro do Eleutério da Freguesia de Ouro Fino, hei por bem pela presente conceder-lhes facul- dade para que possam, no lugar chamado Jaboticabal, fun- dar e erigir e edificar uma capela com a invocação de Nossa Senhora da Conceição da Medalha Milagrosa, contanto que seja em lugar decente, alto, livre de umidades, desviado o quanto possa de lugares imundos e sórdidos e de casas par - ticulares, não sendo porém em lugar ermo e despovoado, e que nesta capela tenha âmbito em roda para poderem an- dar procissões. Esta [provisão] será registrada no livro do Tombo da Matriz para todo o tempo constar e depois de concluída [a capela] nela não se poderá celebrar missa sem licença, para a qual procederá informação do lugar, decên- cia e capacidade da dita capela. Dada em Câmara Capitular de São Paulo sob meu sinal e selo da Mesa Capitular, aos 29 de Março de 1849. Eu, o Padre Maximino José Correa da Silva, Escrivão Ajudante da Câmara Capitular, a subscrevi. Lourenço Justiniano Ferreira”. 169 ANOS Jornal virtual Você também poderá ler este jornal através do site: www.fundacaopascoalandreta.com.br Minha cidade, meu quintal JAIME GOTTARDELLO Queria alçar voo do meu quintal nas costas de Pégaso, acompanhado por centenas de pardais que lá habitam. Como se olhasse feito uma mãe amo- rosa, do alto glorificaria minha cidade simples. Meu berço de alegrias e bênçãos. Voaria ao lado da lua fres- ca, sede de meus desejos. Voa- ria até rever suas matas, a mar - gem de seus rios e o templo, que com a fé simples de um menino, rezei. Queria sobrevoar minha cidade para agradecer e re- verenciar os antigos que aqui construíram sua história. Os italianos, que há mais de cem anos aqui chegaram com espe- ranças e receios de uma terra estranha. Sua arte, bravura e trabalho fincaram raízes aqui. Trazemos seus traços, seus costumes e a alegria de lutar pela vida. Grazie mille a tutti! Voaria ainda para me curvar em respeito à pequena colônia japonesa que por aqui também veio se juntar para contribuir, a seu modo calado e honrado, com a nossa história. Pequenos em número, mas gigantes em caráter, honra e trabalho. Dou- mo arigatou gozaimasu! Minha cidade é rica fonte de felicidade. Melodias har - moniosas chegam até mim enquanto vejo a tarde chegar suave. É quando sinto que a tristeza não cabe no meu quin- tal, na minha cidade. Como a mãe que transborda de amor, minha cidade abre os braços e acolhe quem busca seu refú- gio. Acendo o meu último ci- garro soprando a fumaça como um beijo de boa noite. Penso que eu nunca entregaria meu quintal, minha cidade, minhas estrelas e nem nada daqui. Nem os pardais... A Provisão foi emitida pela Diocese de São Paulo, pois, naquela época, a área de atuação daquela Diocese com- preendia os atuais Estados de São Paulo, Paraná, Santa Ca- tarina e todo o Sul de Minas. A área era ainda maior no ano anterior ao da emissão da Provisão: em 1848, foi criada a Diocese de Porto Alegre e a área do atual Estado do Rio Grande do Sul foi desmembrada da Diocese de São Paulo. Em 1892, foi criada a Diocese de Curitiba, que abrangeu as áreas dos estados do Paraná e de Santa Catarina. O Sul de Minas só deixaria de subordinar-se eclesiasticamente à Diocese de São Paulo em 1900, quando foi criada a Dio- cese de Pouso Alegre. Esta, por sua vez, perderia parte de sua área de atuação em 1907, quando foi criada a Diocese de Campanha. Antes das reformas promovidas pela Igreja Católica na segunda metade do século XX, cada Diocese tinha um grupo de padres, chamados de cônegos, que auxiliavam o bispo na administração da Diocese. Um desses cônegos, o Padre Maximino José Correa da Silva, na qualidade de Escrivão Ajudante, redigiu e assinou a provisão que auto- rizou a construção da capela. Outro cônego, o Padre Lou- renço Justiniano Ferreira, que encabeça e também assina a Provisão, tem o título de Chantre da Catedral de São Pau- lo. Chantre é uma palavra antiga que significa “cantor”. O Chantre de uma Catedral era o responsável pelo coro que acompanhava as missas. Nesta função, é de se esperar que o Chantre fosse capaz de ler e interpretar uma partitura e tivesse um bom ouvido musical. É possível que o Padre Lourenço Justiniano Ferreira tenha sido recrutado para o grupo de cônegos da Catedral de São Paulo por seus dotes musicais; é possível também que ele regesse e ensaiasse o coro da Catedral, embora não haja indicações que confir - mem estas possibilidades. Mas ele, certamente, escolhia as músicas que seriam cantadas e aprovava ou não o desem- penho do coro nas músicas escolhidas. O grupo de cônegos de uma Diocese formava uma congregação chamada de Cabildo, que nos documentos eclesiásticos de então é sempre precedido por adjetivos no superlativo, como “Ilustríssimo” e “Reverendíssimo”. Ou- tro adjetivo geralmente aplicado ao Cabildo é “Colendo”, que significa respeitável. Quando o bispo de uma Diocese morria ou era transferido, o Cabildo se reunia e indicava um dos cônegos para responder pela administração da Diocese até que um novo bispo fosse nomeado para o cargo. Ou seja, enquanto a “Sede” estivesse “Vacante”, conforme consta da Provisão. O cônego assim eleito recebia o título de Vigário Capitular e foi ocupando esta função que o Padre Lourenço Justiniano Ferreira assinou a Provisão. Nos dias de hoje, cada Diocese tem um bispo auxiliar que a administra até que outro bispo seja indicado para o lugar daquele que morreu ou foi transferido. Os padres que auxiliam o bispo na administração da Diocese não são mais chamados de cônegos. Cônego e monsenhor são agora títu- los honorários e não indicam a posse de nenhum cargo na Igreja Católica. Na maioria das Dioceses o Cabildo foi ex- tinto ou nem chegou a ser criado. Algumas Dioceses ainda mantêm seus Cabildos, mas, nestas, eles têm apenas o papel de assessorar o bispo em suas decisões e não têm mais a função de indicar um de seus membros para substituir pro- visoriamente o bispo da Diocese. E também não mais fazem juz aos adjetivos tronituantes que precediam sua menção. Em 1849, quando a Provisão autorizando a construção de uma capela no povoado de Jaboticabal foi emitida, a Sede de São Paulo estava vacante porque seu bispo, o português Dom Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, havia mor - rido cerca de dois anos antes, em 1847. Até então, todos os bispos nomeados para o cargo no Brasil eram portugueses, mas o governo brasileiro pressionou o Vaticano, exigindo que fosse nomeado um padre brasileiro para a Diocese de São Paulo. Somente em 1851 a Diocese de São Paulo teria seu bispo nomeado: ele era Dom Antonio Joaquim de Melo, o primeiro brasileiro a alcançar tal distinção. Nos dez anos seguintes, até sua morte em 1861, o bispo Dom Antonio Joaquim de Melo visitou todas as paróquias de sua vasta Diocese. Visitou até a capela de Monte Sião, que nem paró- quia era, em 1857, e ficou dois dias hospedado na casa do Major Antonio Bernardes de Souza. Fundação Cultural anuncia os vencedores do XVI Concurso “Fritz Teixeira de Salles” de poesia Categoria Ensino Fundamental II e Ensino Mé- dio – Monte Sião – 03 melhores trabalhos: Cintia Pizzi Carvalho – Poesia “Ciúmes”; 6ª série / 7º ano Fundamental II Escola Municipal Padre Reinaldo; Diellen Omara da Silva Pereira – Poesia “O Gari” 8ª série / 9º ano Fundamental II Escola Municipal Padre Reinaldo; Mirella Souza Silva – Poesia “Almejo o dia”; 7ª série / 8º ano Fundamental II Escola Municipal Padre Reinaldo Categoria Monte Sião 1º lugar - Aroldo Comune – Poesia “A criadora de gatos”; 2º lugar - André Costa Pereira Grossi – Poesia “O silêncio de Deus”; 3º lugar - Sílvio Assis Lobato – Poesia “Ela se foi”. Categoria Geral – Poeta Mais Jovem Mariana Borges Marcuz – 06/10/2009 – Poesia “As borbo- letinhas” São Paulo - SP Categoria Geral 1º lugar - Rodolfo Elias Minari – Poesia “Nove espadas” – Rio Branco - AC 2º lugar - Guilherme Kubiszeski – Poesia “Soneto a Arthur Schopenhauer”- Brasília -DF 3º lugar - Thiago Luz – Poesia “Confraria dos Mortos”- Rio de Janeiro - RJ Categoria Geral – Menções honrosas Camila Rizzo Luiz – Poesia “Minha solidão engendra multi- dões”-São Paulo -SP Cleia Leoni Dröse – Poesia “As mulheres que me habitam”- São Lourenço do Sul – RS Arturo – Poesia “Casa Vazia”- Brasília – DF José Antonio Martino – Poesia “Aranhas”- Atibaia – SP Sophia Scalvi – Poesia “Âmago”- Borda da Mata – MG A entrega dos prêmios será realizada no dia 7 de abril, sá- bado, às 19,30 horas, no auditório do Colégio Monte-sionense (Avenida das Fontes, 645) onde também estarão instaladas ex- posições de J.Claudio Faraco (fotos), Vera Lúcia Pires (sacolas de material reciclável) e Mônica Zucato Robert (artesanato), além de Noite de Autógrafos com Matheus Zucato Robert apresentando sua primeira obra “Os dois fazendeiros”. Música com Lucas Jaconi Gottardello. Durante o evento Lindberg Gottardello será homenageado por sua contribuição à cultura local; a professora Irma Rielli Guarini dará as boas-vindas aos poetas em nome do ensino de Monte Sião. A participação às solenidades é aberta ao público.

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Page 1: 169 anos - irp-cdn.multiscreensite.com · Tombo da Matriz para todo o tempo constar e depois de concluída [a capela] nela não se poderá celebrar missa sem licença, para a qual

Março de 2018 — N.º 549FUNDADOR: Dr. Antonio Marcello da Silva - 15/01/1958Diretores – Antonio Marcello da Silva (*1931). Pascoal Andreta (*1916 – +1982). Ugo Labegalini (*1931 – + 2012).

A Capital Nacional da Moda TricôMonte Sião é um município que fica no sul de Minas Gerais, na divisa com o estado de São Paulo. Pela estimativa do IBGE em 2017, conta com 23 247 habitantes. Sua área é de 292 km² e a altitude é de 850m.

Monte-sionense é o gentílico para quem nasce em Monte Sião.

ZÉ ANTONIO

O dia 29 de Março de 1849 é considerado a data de fundação de Monte Sião. Neste dia foi emitido o primeiro documento oficial que menciona o lugarejo então conhe-cido como Jaboticabal – que, cerca de três anos mais tarde passaria a ser chamado de Monte Sião – e autoriza o Major Antonio Bernardes de Souza e seus companheiros a nele edificar uma capela. O documento em questão foi emitido pela Diocese de São Paulo e é tido como uma espécie de certidão de nascimento de Monte Sião. Diz ele (com a gra-fia atualizada para nossos dias):

“Lourenço Justiniano Ferreira, Professo na Ordem de Cristo, Cavaleiro da Ordem da Rosa, Chantre da Catedral desta Imperial Cidade de São Paulo, Delegado do Capelão Mor do Exército por Sua Majestade o Imperador e Vigá-rio Capitular pelo Ilustríssimo e Reverendíssimo Cabildo, Sede Vacante, etc. Aos que esta Provisão virem, saúde e paz para sempre no Senhor. Faço saber que, atendendo o que por sua petição me apresentaram Antonio Bernardes de Souza, Joaquim Vaz de Lima, Francisco Nogueira Bastos e outros moradores do bairro do Eleutério da Freguesia de Ouro Fino, hei por bem pela presente conceder-lhes facul-dade para que possam, no lugar chamado Jaboticabal, fun-dar e erigir e edificar uma capela com a invocação de Nossa Senhora da Conceição da Medalha Milagrosa, contanto que seja em lugar decente, alto, livre de umidades, desviado o quanto possa de lugares imundos e sórdidos e de casas par-ticulares, não sendo porém em lugar ermo e despovoado, e que nesta capela tenha âmbito em roda para poderem an-dar procissões. Esta [provisão] será registrada no livro do Tombo da Matriz para todo o tempo constar e depois de concluída [a capela] nela não se poderá celebrar missa sem licença, para a qual procederá informação do lugar, decên-cia e capacidade da dita capela. Dada em Câmara Capitular de São Paulo sob meu sinal e selo da Mesa Capitular, aos 29 de Março de 1849. Eu, o Padre Maximino José Correa da Silva, Escrivão Ajudante da Câmara Capitular, a subscrevi. Lourenço Justiniano Ferreira”.

169 anos

Jornal virtualVocê também poderá ler este jornal

através do site:www.fundacaopascoalandreta.com.br

Minha cidade, meu quintalJAIME GOTTARDELLO

Queria alçar voo do meu quintal nas costas de Pégaso, acompanhado por centenas de pardais que lá habitam. Como se olhasse feito uma mãe amo-rosa, do alto glorificaria minha cidade simples. Meu berço de alegrias e bênçãos.

Voaria ao lado da lua fres-ca, sede de meus desejos. Voa-ria até rever suas matas, a mar-gem de seus rios e o templo, que com a fé simples de um menino, rezei.

Queria sobrevoar minha cidade para agradecer e re-

verenciar os antigos que aqui construíram sua história. Os italianos, que há mais de cem anos aqui chegaram com espe-ranças e receios de uma terra estranha. Sua arte, bravura e trabalho fincaram raízes aqui. Trazemos seus traços, seus costumes e a alegria de lutar pela vida. Grazie mille a tutti!

Voaria ainda para me curvar em respeito à pequena colônia japonesa que por aqui também veio se juntar para contribuir, a seu modo calado e honrado, com a nossa história. Pequenos em número, mas gigantes em caráter, honra e trabalho. Dou-mo arigatou gozaimasu!

Minha cidade é rica fonte de felicidade. Melodias har-moniosas chegam até mim enquanto vejo a tarde chegar suave. É quando sinto que a tristeza não cabe no meu quin-tal, na minha cidade. Como a mãe que transborda de amor, minha cidade abre os braços e acolhe quem busca seu refú-gio.

Acendo o meu último ci-garro soprando a fumaça como um beijo de boa noite. Penso que eu nunca entregaria meu quintal, minha cidade, minhas estrelas e nem nada daqui. Nem os pardais...

A Provisão foi emitida pela Diocese de São Paulo, pois, naquela época, a área de atuação daquela Diocese com-preendia os atuais Estados de São Paulo, Paraná, Santa Ca-tarina e todo o Sul de Minas. A área era ainda maior no ano anterior ao da emissão da Provisão: em 1848, foi criada a Diocese de Porto Alegre e a área do atual Estado do Rio Grande do Sul foi desmembrada da Diocese de São Paulo. Em 1892, foi criada a Diocese de Curitiba, que abrangeu as áreas dos estados do Paraná e de Santa Catarina. O Sul de Minas só deixaria de subordinar-se eclesiasticamente à Diocese de São Paulo em 1900, quando foi criada a Dio-cese de Pouso Alegre. Esta, por sua vez, perderia parte de sua área de atuação em 1907, quando foi criada a Diocese de Campanha.

Antes das reformas promovidas pela Igreja Católica na segunda metade do século XX, cada Diocese tinha um grupo de padres, chamados de cônegos, que auxiliavam o bispo na administração da Diocese. Um desses cônegos, o Padre Maximino José Correa da Silva, na qualidade de Escrivão Ajudante, redigiu e assinou a provisão que auto-rizou a construção da capela. Outro cônego, o Padre Lou-renço Justiniano Ferreira, que encabeça e também assina a Provisão, tem o título de Chantre da Catedral de São Pau-lo. Chantre é uma palavra antiga que significa “cantor”. O Chantre de uma Catedral era o responsável pelo coro que acompanhava as missas. Nesta função, é de se esperar que o Chantre fosse capaz de ler e interpretar uma partitura e tivesse um bom ouvido musical. É possível que o Padre Lourenço Justiniano Ferreira tenha sido recrutado para o grupo de cônegos da Catedral de São Paulo por seus dotes musicais; é possível também que ele regesse e ensaiasse o coro da Catedral, embora não haja indicações que confir-mem estas possibilidades. Mas ele, certamente, escolhia as músicas que seriam cantadas e aprovava ou não o desem-penho do coro nas músicas escolhidas.

O grupo de cônegos de uma Diocese formava uma congregação chamada de Cabildo, que nos documentos eclesiásticos de então é sempre precedido por adjetivos no superlativo, como “Ilustríssimo” e “Reverendíssimo”. Ou-

tro adjetivo geralmente aplicado ao Cabildo é “Colendo”, que significa respeitável. Quando o bispo de uma Diocese morria ou era transferido, o Cabildo se reunia e indicava um dos cônegos para responder pela administração da Diocese até que um novo bispo fosse nomeado para o cargo. Ou seja, enquanto a “Sede” estivesse “Vacante”, conforme consta da Provisão. O cônego assim eleito recebia o título de Vigário Capitular e foi ocupando esta função que o Padre Lourenço Justiniano Ferreira assinou a Provisão.

Nos dias de hoje, cada Diocese tem um bispo auxiliar que a administra até que outro bispo seja indicado para o lugar daquele que morreu ou foi transferido. Os padres que auxiliam o bispo na administração da Diocese não são mais chamados de cônegos. Cônego e monsenhor são agora títu-los honorários e não indicam a posse de nenhum cargo na Igreja Católica. Na maioria das Dioceses o Cabildo foi ex-tinto ou nem chegou a ser criado. Algumas Dioceses ainda mantêm seus Cabildos, mas, nestas, eles têm apenas o papel de assessorar o bispo em suas decisões e não têm mais a função de indicar um de seus membros para substituir pro-visoriamente o bispo da Diocese. E também não mais fazem juz aos adjetivos tronituantes que precediam sua menção.

Em 1849, quando a Provisão autorizando a construção de uma capela no povoado de Jaboticabal foi emitida, a Sede de São Paulo estava vacante porque seu bispo, o português Dom Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, havia mor-rido cerca de dois anos antes, em 1847. Até então, todos os bispos nomeados para o cargo no Brasil eram portugueses, mas o governo brasileiro pressionou o Vaticano, exigindo que fosse nomeado um padre brasileiro para a Diocese de São Paulo. Somente em 1851 a Diocese de São Paulo teria seu bispo nomeado: ele era Dom Antonio Joaquim de Melo, o primeiro brasileiro a alcançar tal distinção. Nos dez anos seguintes, até sua morte em 1861, o bispo Dom Antonio Joaquim de Melo visitou todas as paróquias de sua vasta Diocese. Visitou até a capela de Monte Sião, que nem paró-quia era, em 1857, e ficou dois dias hospedado na casa do Major Antonio Bernardes de Souza.

Fundação Cultural anuncia os vencedores do XVI Concurso “Fritz Teixeira de salles” de poesia

Categoria Ensino Fundamental II e Ensino Mé-dio – Monte Sião – 03 melhores trabalhos:

Cintia Pizzi Carvalho – Poesia “Ciúmes”; 6ª série / 7º ano Fundamental II Escola Municipal Padre Reinaldo;

Diellen Omara da Silva Pereira – Poesia “O Gari” 8ª série / 9º ano Fundamental II Escola Municipal Padre Reinaldo;

Mirella Souza Silva – Poesia “Almejo o dia”; 7ª série / 8º ano Fundamental II Escola Municipal Padre Reinaldo

Categoria Monte Sião

1º lugar - Aroldo Comune – Poesia “A criadora de gatos”; 2º lugar - André Costa Pereira Grossi – Poesia “O silêncio

de Deus”; 3º lugar - Sílvio Assis Lobato – Poesia “Ela se foi”.

Categoria Geral – Poeta Mais Jovem

Mariana Borges Marcuz – 06/10/2009 – Poesia “As borbo-letinhas”

São Paulo - SP

Categoria Geral

1º lugar - Rodolfo Elias Minari – Poesia “Nove espadas” – Rio Branco - AC

2º lugar - Guilherme Kubiszeski – Poesia “Soneto a Arthur Schopenhauer”- Brasília -DF

3º lugar - Thiago Luz – Poesia “Confraria dos Mortos”- Rio de Janeiro - RJ

Categoria Geral – Menções honrosas

Camila Rizzo Luiz – Poesia “Minha solidão engendra multi-dões”-São Paulo -SP

Cleia Leoni Dröse – Poesia “As mulheres que me habitam”- São Lourenço do Sul – RS

Arturo – Poesia “Casa Vazia”- Brasília – DF José Antonio Martino – Poesia “Aranhas”- Atibaia – SP Sophia Scalvi – Poesia “Âmago”- Borda da Mata – MG

A entrega dos prêmios será realizada no dia 7 de abril, sá-bado, às 19,30 horas, no auditório do Colégio Monte-sionense (Avenida das Fontes, 645) onde também estarão instaladas ex-posições de J.Claudio Faraco (fotos), Vera Lúcia Pires (sacolas de material reciclável) e Mônica Zucato Robert (artesanato), além de Noite de Autógrafos com Matheus Zucato Robert apresentando sua primeira obra “Os dois fazendeiros”. Música com Lucas Jaconi Gottardello.

Durante o evento Lindberg Gottardello será homenageado por sua contribuição à cultura local; a professora Irma Rielli Guarini dará as boas-vindas aos poetas em nome do ensino de Monte Sião. A participação às solenidades é aberta ao público.

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PÁGINA 2 MARÇO | 2018

ENTIDADE MANTENEDORA: Fundação Cultural Pascoal Andreta

Conselho Administrativo – Bernardo de Oliveira Bernardi, Carlos Caetano Monteiro, Ivan Mariano Silva e José Cláudio Faraco.

Diagramação – Luis Tucci - MTb 18938/MGFotografia – José Cláudio Faraco Direção financeira – Anderson Labegalini e Diogo Labegalini de CastroSecretário de Redação – Carlos Caetano MonteiroJornalista responsável – Simone Travagin Labegalini (MTb 3304 – PR)

Colaboradores – Ariovaldo Guireli, Antonio Edmar Guireli, Antonio Marcello da Silva, Bernardo de Oliveira Bernardi, Carlos Caetano Monteiro, Celso Grossi, Eraldo Monteiro, Fábio Magioli Cadan, Hermes Bernardi, Hudson Guireli (Uxo), Ilson João Mariano Silva, Ivan Mariano Silva, Jaime Gotardelo, José Alaércio Zamuner, José Antonio Andreta, José Antonio Zechin, José Ayrton Labegalini, José Carlos Grossi, José Cláudio Faraco, Luis Tucci, Luiz Antonio Genghini, Romildo Labegalini, Tais Godoi Faraco, Waldemar Gotardelo, Zeza Amaral.

Colaborações ocasionais serão apreciadas pelo Conselho Administrativo do jornal que julgará a conveniência da sua publicação. O texto deverá vir assinado e acompanhado do RG, endereço e telefone do autor, para eventual contato. Cartas enviadas à redação, para que sejam publicadas, deverão seguir as mesmas normas.

Toda matéria deverá ser enviada até o dia 20 do mês (se possível através de e-mail) data em que o jornal é fechado.

Redação: Rua Juscelino Kubitschek de Oliveira, 738 – Fone (35) 3465-1196

[email protected]

ManIFEsToTAÍS GODOI FARACO

Aqui estou eu, Taís, com 26 anos. Sou cria de Monte Sião. Corri dentro dos túneis de arbusto da praça, que já não existem mais, deixei meu nome escrito em alguma das dezenas de camadas de tinta do coreto da praça; vi minha vida passar ao lado do carri-nho do Zé Pipoqueiro. Deixei a marca de meus pés em cada canto dessa cidade.

Falávamos sempre: “Monte Sião não tem nada!”. Naquela ânsia de querer co-nhecer novas coisas e ter o que fazer quando quisésse-mos botar nosso espírito jo-vem nas ruas. Antes de cada um terminar o colegial e se-guir seu rumo pra faculdade em algum canto do mundo, Monte Sião era o universo que conhecíamos. Falo de 13 anos atrás. Achávamos que não tínhamos nada, mas a verdade é que nós fizemos alguma coisa naquela época. Talvez não tivéssemos – e continuamos não tendo – es-paços culturais e incentivos em arte e cultura, lugares onde pudéssemos ir pra viver experiências em conjunto; falar de arte, dança, teatro, cinema, música, esportes,

se apropriar do nosso espa-ço urbano e construir uma identidade cultural. Não tí-nhamos. Mas fizemos. Nas minhas memórias, lembro de uma Monte Sião com bastan-te presença dos jovens. Aos finais de semana, as praças se enchiam de gente. Tínha-mos o Festival de Música do Provedor, e então víamos nossos colegas e amigos, que estudavam conosco todas as manhãs, tocando rock and roll em cima de um palco, recebendo aplausos, felizes feito loucos. Os Saraus no Objetivo. A ONG Expressão Livre movimentando ativi-dades culturais. O Ensaio Geral na praça, no improviso de ligar fios e amplificadores e deixar o microfone aberto, tocar o que quisesse; guitarra, bateria, e mais rock no centro à noite. Os amigos espalha-dos pelos bancos, comendo cachorro-quente da esquina. Os skatistas que andavam em bando numa rampa improvi-sada na “prainha”, antes de existir a Praça do Magioli. Algumas (poucas) peças de teatro na época. Uma de-las do Alexandre Zampieri, o “Morcego”, uma peça só dele. Dominava o palco. A Exposição Cultural de pintu-

ras sobre Monte Sião. Houve um tempo em que aos sába-dos a praça principal acorda-va de manhã com palhaços e brinquedos para crianças. Pernas de pau à vontade pra quem quisesse aprender. Eu acordava com os gritos de crianças correndo por ali.

Algo acontecia. Não era muito. Queríamos mais. Mas lembro que estávamos rodea-dos de pessoas e não nos sen-tíamos tão sós.

--------------------

Monte Sião, cidade co-mercial. O comércio indo de vento em popa. Também já viu dias melhores. Mas per-gunte aos jovens que estão agora sentados nas carteiras escolares, “o que você quer da sua cidade?” Quantos res-ponderão que querem mais lojas?

Como você vive a cida-de? O que você faz por ela? O que ela faz por você?

Em um texto falei sobre presente, nesse, falo de passa-do. Mas reivindico o futuro. Onde estão as cabeças pen-santes? Onde estão os jovens com a preciosa insatisfação, prontos pra querer mudar o mundo? Nós podemos. O

momento hoje é nosso. Não precisamos esperar que os que hoje estão com cabelos brancos façam por nós o que nós sabemos que podemos fazer. Porque eles já fizeram, no passado, e podem conti-nuar fazendo pra manter o movimento das coisas, mas a urgência é nossa. Pois Monte Sião está escondida, acuada num canto entre eternos la-mentos, imóvel no caminho da evolução. Entre buracos nas ruas, espaços abando-nados, abismos culturais e apatia geral, existe gente que-rendo mais. Gente a fim de mudar, os de vinte anos, os de trinta, os mais novos, os que hoje voltaram da facul-dade e de outras cidades, tra-zendo na bagagem um novo olhar sobre a vida. Querendo mudar a realidade, expandir, abrir novos caminhos.

Paremos de resistir à mu-dança, ao crescimento, à li-berdade.

O que queremos? Que-remos uma cidade que não esteja deserta todos os dias. Uma cidade que promova o encontro entre as pessoas, seja de qual classe for, para que a segregação não seja vista como algo normal. Queremos espaços culturais,

queremos que entendam que o anseio por ter o que fazer na cidade não diz respeito a encontrar um comércio aber-to à noite, comer algo e ir embora. A nossa lógica não é comercial. Nossa diversão não tem que acontecer ape-nas de sábado e domingo. Queremos que incentivem os nossos talentos. Deixem-nos mostrar o que sabemos fazer. Dê-nos espaço para respi-rar nossa liberdade criativa, artística, nossa vontade de fazer diferente e não aceitar mais do mesmo, porque es-tamos sufocando. Deixe-nos saber que não estamos indo à escola apenas pra passar no vestibular, que é importante nossa educação como cida-dãos, nossa interação com a diversidade, que é necessária a construção do nosso respei-to, e a manifestação da nossa cultura. Queremos que vejam que a gente existe, que ouçam a nossa voz.

Plugar os equipamentos de som na tomada, batalhar autorizações na prefeitura, imprimir jornais nas escolas, botar as bicicletas nas ruas, incentivar as iniciativas que já existem, promover reuniões e encontros, fazer eventos na raça e na coragem se for pre-

ciso. O que for preciso. O que for. Para que a nossa voz não seja nunca calada.

Mas para isso precisamos sair das tocas, tirar nossas mãos dos teclados e nossos olhos do virtual. Voltarmos à realidade, enxergá-la, tocá-la. E olharmos uns aos outros, porque não estamos sozi-nhos.

No mês de aniversário de Monte Sião, desejo coragem à todas as crias dessa cidade.

-------------Eu não sei onde estão

os jovens hoje. Não os vejo mais na rua. Talvez os leito-res desse jornal, hoje, sejam também os mais velhos. Por isso peço a vocês: mostre esses textos aos seus filhos, quando sentarem na mesa para jantar. Porque somos cidadãos do mundo, e pre-cisamos construir o presente que queremos viver. Isso vale para todos nós.

Quem quiser conversar, saber o que anda aconte-cendo hoje na cidade, trocar informações, angústias ou o que for, será ótimo falar com vocês. Mandem-me um e-mail: [email protected] -

Monte sião de hoje e alguns quintais de antigamenteTONINHO GUIRELLI

Nossos quintais eram grandes e abrigavam várias espécies de árvores frutífe-ras. As goiabas, quando pe-quenas, ninguém ligava pra elas; claro que, se a goiaba fosse comida verde, causava uma dor de barriga terrível, e aí a pessoa se preocupa-va, sim. Quando adultas, porém, já passando da cor verde-escuro para o amare-lo, elas despertavam a nossa procura e o nosso apetite. As frondosas jabuticabeiras, cheias de flores/frutinhas milimetricamente alinhadas nos troncos das árvores pela mãe natureza, é que delicia-vam a criançada, e os mar-manjos também!

Em Monte Sião, antiga-mente havia a casa e o quin-tal, sendo este geralmente bem grande. Hoje, o quintal cedeu bastante seu espaço, ou mesmo quase todo ele. Não havia essa correria da-nada – e até desenfreada – que hoje vemos, face ao de-senvolvimento das malhas (tricô?). A vida das famílias era bem mais simples e tran-

quila; as ruas, quase todas eram de terra, algumas com paralelepípedos, e não se co-gitava ainda o asfaltamento delas. E parece que até hoje, e talvez até pelo preço do asfalto, alguns prefeitos re-lutam nesse particular. Real-mente as ruas ficam bem mais bonitas, se asfaltadas, claro! Ainda chegaremos lá!

O perigo passava longe, e assim a molecada podia se divertir à vontade, brin-cando pra todo lado. As fa-mílias eram numerosas, e os pais liberavam seus rebentos para as brincadeiras de rua. E a molecada brincava de esconde-esconde, bolinha de gude, roda, passa-anel, pega-pega, e outras brinca-deiras.

Nem aparelho de televi-são ainda existia na cidade, exceto a do famoso Bar do Choque, que ficava sem-pre ligada, para a alegria do povo. E havia uma TV também na casa do Nicoli-no Faraco. E aí, se não me engano, o danado do Clau-dinho Faraco cobrava “um sorvete” de cada amigo que ia assistir a algum programa.

Ele chupava sorvete na se-mana inteira! E aos domin-gos, quando havia jogo do “Palestra” na TV, aí já pa-recia haver um certo abuso, pois o Claudinho já cobrava Cr$1,00 (um cruzeiro) para ver o jogo, mas com direito a uma limonada no interva-lo. Que danado, sô!

Mas voltando ao assunto dos quintais, eu me lembro que eram enormes, e cada proprietário de imóvel, fa-zia plantações de frutas (abacate, jabuticaba, uva, banana, goiaba, mamão, manga, café, pera, laranja) e de hortaliças (alface, almei-rão, couve, tomate, pepino, chuchu, chicória, pimentão, abobrinha, salsinha, cebo-linha), e as colheitas eram sempre bem proveitosas, e até os vizinhos (que não ti-nham horta, e nem quintal) desfrutavam disso, e ganha-vam algumas frutas e verdu-ras.

No quintal da casa do Geraldo Mariano/Dona Mercedes, havia um pé de jabuticaba que era uma sen-sação. O tamanho da jabu-ticaba era o mesmo de uma bola de sinuca. Era grande e parecia mesmo uma “bola 7”. No quintal da casa do Fanin, e no da casa da Tia Lourdes Glória, havia pés de jabuticaba bastante altos, e que produziam excelentes frutos. A Tia Lourdes fazia

um licor de jabuticaba, que era uma delícia! Dona Cân-dida (mãe do Neno, Nenê, Ico Bernardi), morava na Rua Direita e tinha em seu quintal umas parreiras de uvas sensacionais. Mas só depois que levava na igreja um “cachinho de uvas”, que anualmente ela prometia ao “santo”, acho que São Se-bastião, é que ela deixava que os netos aproveitas-sem as frutas. Coitadinhos dos filhos da Dirce/Ico, que faziam fundos com a casa da vó: Chico, Ditinho, Ana Maria, Cidinha, Rita, Geral-do, Tadeu e Paulinho; eles tinham que esperar! Às ve-zes, esses meninos ficavam ao lado das parreiras, “ad-mirando-as”. Dava até dó! E um dia o Paulinho criou coragem e resolveu pedir uma uva à nonna. Ele estava até “azul” de vontade e dis-se a ela: Nonna, posso pegar uma uva? Só um grãozi-nho! Não, cachorrinho sem vergonha! Primeiro é para o santo! Mas o santo não come, disse ele! E ela pegou logo uma varinha de mar-melo, e foi pro lado dele, que sumiu logo!

E as bonitas laranjas baianas dos quintais do Zé Massa, e do Afonso Guari-ni? Que maravilha! E eles nos deixavam entrar no pomar, de vez em quando, e até aproveitar alguma la-

ranja. E aí a molecada se deliciava; e passava a dizer que o Zé Massa não era pão duro, não! E no quintal do Tio Bastião Guireli, dava gosto ficar embaixo da enor-me amoreira, saboreando as frutinhas. Lá estava o Ilson Mariano, Luiz Vivaldo Fa-raco, Armandinho Zucato, Norberto Comuni e eu, que depois nadávamos no rio-zinho que passava ao lado. Que tempo bom, gente!

Hoje, no entanto, os quintais foram bastante re-duzidos, visto que suas áreas foram aproveitadas para a construção de depósitos de lãs, colocação de máqui-nas para malharia, produtos acabados, etc. Também para garagens, piscinas e apare-lhos de ginástica, claro! Ou seja, não existe mais espaço livre no terreno, e assim, di-ficilmente hoje existe um pé de mamão, banana, goiaba, jabuticaba, manga, pera, etc. É o desenvolvimento indus-trial? É o aumento acentua-do da produção de peças confeccionadas? Sim, tudo isso! E o que é bom para um lado, é ruim para o ou-tro, pois quem tinha árvores frutíferas em seu quintal (hoje poucos têm), já cons-truiu pequenos prédios para abrigar suas máquinas, esto-ques, linhas e lãs, para que assim possa acompanhar o movimento acelerado dessa

atividade industrial. Frutas? Só no supermercado!

Tenho ido a Monte Sião, regularmente, e tenho obser-vado a “correria” de alguns amigos, que mal podem pa-rar por um minuto, para um simples cumprimento, pois isso pode comprometer a produção, se ele parar para conversar um pouco. Vou sugerir a alguns desses ami-gos, que comandam as má-quinas industriais, que con-tratem mais funcionários e assim dediquem algum tempo a um pouco de la-zer, importantíssimo que é, para que parem um pouqui-nho para plantar uma árvo-re, para colher um fruto no quintal (se houver espaço), para conversar um pouco com um amigo, para dar um beijinho na esposa, ou na-morada, ou seja, para viver um pouco melhor nesta vida que Deus lhe deu. Trabalhe sim, mas viva também!

Nossa Monte Sião está bem bonita, e nossa Praça Prefeito Mário Zucato está maravilhosa. Mas seria ain-da muito bom se algum ve-reador sugerisse o plantio de árvores ornamentais, ou mesmo frutíferas (de peque-no porte), em algumas ruas da cidade. Isso agradaria o povo, e embelezaria ainda mais nossa Monte Sião.

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MARÇO | 2018 PÁGINA 3

Ruas envergonhadasZEZA AMARAL

A quaresmeira sumiu do jardim de uma casa da Rua José de Alencar e ninguém sabe quando e nem por que se deu tal sumiço, visto ser ela uma árvore de poucas pretensões expansionistas, recolhida atrás de um muro baixo, desses que os jovens sempre encontram para des-cansar e namorar. Mais tar-de, o muro foi derrubado e em seu lugar puseram uma grade de lanças romanas e ameaçadoras, que em vão a flor-de-lis tentou disfarçar. Mas a quaresmeira pareceu não se importar e continuou a sina de florescer e anunciar os tempos quaresmeiros aos meus olhos agnósticos, com as suas belas flores roxas e fartas, que, vista do alto do prédio, onde então morava a namorada, amenizava a seara de paralelepípedos, e telhas vãs que forravam o solo das

casas e ruas vizinhas. Mudou a moça de apartamento, mu-dei eu de caminho. Tempos atrás, passei pela rua e não vi mais a quaresmeira, nem a grade de lança e tampouco o jardim e a casa. Apenas res-tos demolidos de muitas qua-resmas, se bem me explico ao raro leitor.

Da Costa Aguiar até a Aquidabã, a quaresmeira segue sendo a única árvore da rua plantada em jardim. Aliás, não há também nenhu-ma árvore nas estreitas calça-das. Só postes deselegantes e orelhões que são um estorvo para quem passa por lá. E muitas placas de sinalização, que proíbem tantas coisas que ninguém respeita.

Uma rua triste virou a José de Alencar — escrivão de boa pena e histórias.

Gostava de caminhar por essa rua e pouco me inco-modavam os transtornos da calçada abarrotada de postes

e buracos. Lá em cima, qua-se esquina com a Aquidabã, a quaresmeira me esperava com as suas emblemáticas flores a lamentar as dores dos santos homens, e, agora, florescendo as minhas penas pela sua ausência. Dela só ficou um toco no que restou de um pequeno jardim, ren-te à terra estéril, onde não se vê um pé que seja de tiririca. Tudo ladrilhado e esmaltado.

A quaresmeira não era e nem pretendia ser árvore de dar sombra e água fresca aos passantes. Mas costumava nos tempos santos oferecer suas pétalas aos caminhos dos que por lá passavam, a maioria formada por jovens que seguiam para a Junta de Alistamento Militar, que ficava do outro lado da ave-nida, todos eles cansados e perdidos, enfim, sem saber que a Rua José de Alencar seguia adiante. Derrubaram a quaresmeira, e ninguém a

quem perguntei na redonde-za soube me dizer quando e o motivo. Alguns moradores próximos chegaram mesmo a falar que nunca tinham visto quaresmeira nenhuma por ali. Mas tinha, ora essa! Não era robusta de encher os olhos, vista assim de perto, mas era uma legítima Tibouchina granulosa da família Melas-tomataceae enfim; uma viva quaresmeira de recatados ga-lhos e folhas, é certo, mas que enfeitava um pouco uma rua que ficou ainda mais triste. Pardais costumavam farrear por lá e certa tarde ajudei um garoto a desenroscar o ma-ranhão de um de seus curtos galhos. Mais por falta de jeito do vento, é bom dizer, visto que ele virou de repente, e não deu chance para a qua-resmeira evitar o enrosco da linha. Foi o que me disse o menino pipeiro.

O menino poderia me di-zer o que houve com a qua-

NOTíCIAS DO MEU LATIFUNDIO

resmeira, pensei, mas a pen-são onde ele morava com a sua avó foi demolida para vi-rar mais um estacionamento. Outro para guardar os carros e os olhos de moradores as-sustadiços e sempre apressa-dos.

Muito triste está a Rua José de Alencar. E mais fi-cará pelas próximas quares-mas...

Aos empresários que construíram um tal parklet defronte a um renomado bar do Cambuí, o Cenário (cujos donos nada têm a ver com isso — foi iniciativa de alguns afoitos clientes), que eles troquem suas violentas

bordunas pelo plantio ami-gável de floreiras pelos qua-tro cantos da cidade. Sugiro o plantio de rosas, margari-das e, quem sabe? de gerâ-nios caipiras. Tenho a mais absoluta das certezas que o fotógrafo Carlos Souza Ra-mos teria o maior prazer em fotografa-las, assim como já fotografou a fachada do bar toda encoberta por um verde caudaloso de paz e paixão.

E mais não digo por que tudo isso é muito triste e, muito além disso, envergo-nha todas as ruas da nossa cidade. Bom dia.

IVAN

Tudo tem limite. Minha galinha Poulet (do francês poule, galinha), como ela gosta de ser chamada no di-minutivo, apesar de tratada com toda deferência, alimen-tada com ração balanceada, folhas tenras de alface mi-mosa e crespa, dessedentada (eta, nóis!) com água mineral gasosa (adora arrotar), bro-tos recém-nascidos de chu-chu e pepino,mesmo assim, ingrata, passou três dias em branco, sem botar um úni-co ovo, indiferente ao meu olhar indagador. Ao entrar no galinheiro onde ela tranqui-lamente tricotava almofada de talos de capim para seu ninho, sem se dar conta da minha preocupação, apenas ergueu uma sobrancelha, com que perguntando “posso aju-

dar?”, voltando a seguir para o seu assento. Indignei-me desferindo-lhe poucas e boas, citei meus cuidados com ela, da promessa em presentear-lhe com um galo no Natal (embora as poedeiras dispen-sem “este incômodo”, como ela classifica um marido), da alface plantada para ela, da água adquirida do depósito de bebidas da dona Lazinha e gás da Bolívia e, mesmo as-sim, fica no bem-bom, omis-sa, sem cumprir com seus deveres de ovípara. De bico calado, deixou as agulhas, dirigiu-se ao ninho, conster-nada.

No dia seguinte, também consternado e ar-rependido pelo meu proce-dimento, antes mesmo de acionar o interfone do gali-nheiro, me aparecem Poulet e Genô (de Genoveva), asas

abertas, sambando, a primei-ra trazendo na cabeça, como Carmem Miranda, uma penca de ovos, a segunda agitando uma bandeira branca, pedin-do paz. Entreguei os pontos, comovido. “Expeli, botei, excluí, pus, exonerei, demi-ti, ponha-se daqui para fora, tudo fiz em troca do perdão do senhor, entre as 16 horas e duas da manhã”. Eram 14 ovos amarrados em penca, ainda mornos. Senti pena de Poulet, ainda mais quando a levei ao doutor José Apareci-do Machado para suturar-lhe o períneo destroçado. Dei-lhe licença-natalidade, dois dias para cada ovo da penca. Chorou lágrimas sentidas, com clara e gema, porém sem casca. Sua postura voltou a ser normal; nada como uma rebordosa bem aplicada.

Siá Uva, minha formiga

cortadeira, contratada para podar as árvores do pomar, pediu por escrito, com cali-grafia cursiva de saúva, novas lâminas para acoplar (eta!) em seu ferrões, alegando des-gaste e perda do fio, depois de haver podado uma cega-ma-chado, cujo tronco enfrenta até motosserra. Deferi o pe-dido. Querubim, meu Secre-tário Executivo para Assuntos Financeiros encomendou as lâminas na Siderúrgica de Volta Redonda. De aço. Ino-xidável.

“Para incutir-lhes inveja” – com diria o Carlão da Epo-nina – assevero (ara, seja) que resplandeceu em meu Jardim uma rosa Príncipe Negro, tão altiva, tão cheia de si, tão es-trela que, do alto de sua haste esguia, necessita olhar para baixo onde julga estarem as demais flores de menor im-

portância. Ao inclinar-se, de suas pétalas desprendem-se, veludo abaixo, gotas orva-lhadas como diamantes ful-gurantes, brilhantes resplan-decentes, gemas em chispas, joias refulgentes. No chão, explodem, costurando saias de balé ao contrário, revira-das para cima, fazendo do jardim um caleidoscópio gra-cioso e festivo. Nota – ao pro-ferir “incutir-lhes”, refiro-me aos meus dois caridosos lei-tores. Agora, se alguém mais desejar sentir inveja, que o faça sem maiores problemas.

Desconfio ser, o lagarto que ronda meu quintal, um grandissíssimo pirata: tem um olho coberto por um tapa, conduz uma bandeira tatua-da na perna onde está uma caveira atravessada por dois ossos em xis. Por ser reco-nhecidamente oófago (olha

o Carlão, de novo), penso estar mal intencionado com meu galinheiro. Sei, não... Qualquer atitude suspeita que tiver, irei acusá-lo de la-trocínio, pois, além do roubo, mata um pintinho.

Sempre é bom repetir: o Latifúndio de que vos falo deita sobre infindáveis dois alqueires e lá vai pedrada, onde convivem em completa harmonia Genô, Poulet, meu cavalo Camões (in memo-riam), a rosa, a sabiá, o mandi sem um ferrão, o cuitelinho, o joão-de-barro, o tucano (que sendo meu é eucano) e mais você, ilustre companheiro que, chegando à tardinha, po-derá usufruir do olor da dama da noite (dame de la nuit, quando embalado na cerve-ja). Venha conferir.

os dançarinosCELSO GROSSI

Na minha juventude, eu e meus amigos da época, que gostavam de dançar, partici-pávamos dos bailes realiza-dos pelos clubes das cidades vizinhas. Certa vez, fomos convidados para um baile que haveria no Clube Mon-tanhês, da cidade de Ouro Fino. Nós, eu, Ivan Mariano, Fernando Zucato, Lôndolo Danielo e Toninho do Peri, alugamos o “fordinho” do Flávio para levar e nos tra-zer de volta na madrugada do dia seguinte. Marcamos o horário da saída, 21 h, no bar do Ciro (meu pai), com o Egidio Glória: o motoris-ta. Quando a noite chegou, chegou com ela uma forte chuva, ornamentada com raios e trovões. Ficamos apavorados porque a estrada de Monte Sião a Ouro Fino estava sendo preparada para ser asfaltada e, os trechos de terraplanagem da obra, com aquela chuva, teria vi-rado um verdadeiro atoleiro. Todos nós, “produzidos”, vestindo as nossas melhores roupas, estávamos incon-formados com a mudança repentina do tempo. Nessa altura dos acontecimentos, o Egídio sentenciou: ”Va-

mos embora, gente! Para o meu “fordeco” não tem tempo ruim, não é qualquer chuvinha que vai impedir sua corrida!” Acreditamos a imposição e lá fomos, todos felizes, imaginando a gran-de noitada que teríamos. A um quilometro, mais ou menos, antes da Mococa, numa baixada, o ‘fordinho’ sumiu no meio da lama que invadiu a parte interna, a dos passageiros, enlameando nossos sapatos. Estávamos inconsolados com que havia acontecido. Um de nós, po-rém, não me lembro quem, assumiu o comando e deter-minou: “ Temos que sair da-qui, temos que tirar nossas roupas e empurrar essa dro-ga!” Falou, tava falado. Só de cueca, descemos do carro e afundamos até a cintura no barro e, em seguida, empur-ramos o fordinho até encon-trar terra firme. O Egídio as-sumiu o volante novamente e, seminus e imundos, em pé no estribo, fomos curtin-do o vento que nos castiga-va, até a venda do Luiz Ve-ríssimo. O Luiz, atendendo nosso pedido, providenciou uma bacia bem grande e um balde, e, ali mesmo, no terreiro da venda, com um ajudando o outro, tomamos

banho e vestimos de novo nossas roupas. O Sr. Luiz não acreditava no que es-tava vendo, mas o que via era real. Enquanto isso, o Egídio caprichava na lim-peza do veículo. Depois, com as aparências reno-vadas e o carro limpo, deu-se continuidade à viagem

. Chegamos a Ouro Fino, fomos recebidos por nossos amigos e amigas e, como se nada houvesse acontecido, participamos do baile até al-tas horas, com muita alegria , porém, sem cuecas.

Juventude é juventude, vá poder com ela!

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PÁGINA 4 MARÇO | 2018

CRônICa do PoMaR do sEu MIngo dEsERó! JOSÉ ALAÉRCIO ZAMUNER

Diz que é de Cantare mas nunca foi ao pomar do Seu Mongo Deseró! Então não é.

Sempre me chamam para contar ou colher estórias: Histórias, estórias antigas, soturnas, cósmicas, crônicas, contos de fada... Daí pego-me a matutar, por que que gosta-mos tanto das estórias? Per-cebo que quando contamos ou ouvimos uma estória, de qualquer naipe, sempre tem alguém querendo um narrar paralelo, uma interferência na estória, que em muitos casos alguém deixa a estória inacabada, pedindo um outro contar mais à frente. É. A es-tória sempre pede um contar diferente, sempre pede um narrador inventivo.

Há um desejo nisso tudo, há que se esclarecer, muitos fatos estão grávidos de es-tórias. Deve ser porque não aguentamos muito um dia-a-

dia danado. Escutamos fre-quentemente alguém falar “Não aguento mais isso, largo tudo e vou-me embo-ra”. Mas só consegue largar tudo quem admite o tempo das estórias, quem enxerga ou percebe sem ver os even-tos saltarem da dura reali-dade na tarefa de virarem estória. Acho que acontece assim: aquele dia-a-dia te-dioso vem à tona, bravo, aos olhos do real, fuça, refuça, desfigura fatos e tempo em plástico modelável, que só a alma sabe lidar, só a alma pode moldar tudo em estó-ria, daí, depois, essa estória moldada; renascida, pra fortalecer-se de vida e saú-de, exige um narrador que tenha a cabeça nas nuvens, que entenda de plasticida-de, pretendendo só eterna existência mutável: naquele tempo; não foi bem assim; sei contar deste jeito, “As armas e os barões assinala-dos”...

Não se encontra clara-mente a nascente das estó-rias, elas de repente nascem no meio do povo, dos bi-chos, das plantas, no meio dos dias, sorrateira e em qualquer lugar, qualquer lu-gar, sem ninguém perceber. Não há um endereço, uma classe, um gênero: sendo de homens, animais, plantas. Não dá pra mandar uma car-ta para a estória. (e quando nasce, ninguém é dono dela). Todos buscam ser uma estó-ria, virar uma estória, porque os seres precisam, querem, clamam ser estórias, senão morrem de só apodrecer. O instante dos dias e do tempo reais é duro demais para uma só existência: pois neste ins-tante real não há riso, não há afeto, não há céu, só nuvens pesadas que passam sobre nossas cabeças: sem ne-nhum canto, nem saudação, devoção. E a alma da vida gosta tanto de estória que quando alguém a conta esta

sempre inventa e reconta a si própria; estica, diminui, e quanto mais enredada tanto mais floreada e bonita fica a vida, em aliança os narra-dores são a alma da estória, a estória, a alma da vida: A vida tem de (existir) ser uma estória bem contada. Então...

...um caso aconteceu (conte, conte-me pro seu povo!...). Foi quando todos viviam normal um dia-a-dia de sem graça, e o povo, só por si admirou o pomar do Seu Mingo Deseró. Plantas além da medida, além dos tempos, esgarçando o real, parece que declarando trans-cendência. Todos os anos era um exagero de frutas narran-do insistência, muito além do que conseguia outras todas roças. Ano inteiro, as frutas brotavam intensas, o chei-ro de fruta resplandecia pro céu do Grotão. Um despro-pósito deste tempo diferente que Seu Mingo fez (dizem que foi chamado) intensão

de convidar os passarinhos, os bichos que se alimentas-se daquelas frutas, e mais ainda, chamou todos as pes-soas: que se alimentassem daquelas frutas. Tudo real, exatos nas falas de qualquer alguém, eu, menino, vi, eu, menino, vivi, que espantava a gente. E os seres de pes-soas e bichos e plantas vi-nham em bando para se far-tarem das frutas do pomar do Seu Mingo Deseró. Naquele tempo, então, povo e bichos sentiram que Deus era vida ali, entre as fruteiras, e se ali-mentava dessa sua criação, por isso Deus proveu mais ainda a existência do pomar em abundância de frutas. E essa estória brotou do chão como uma fruta para cada um contar e se fartar no or-gulho de ser seu bom nar-rador de vida: Diz que é de Cantare mas nunca foi ao pomar de Mongo Deseró! Então não é... Vá lá, o mun-do de alimento de todos os

deuses está lá, porque Deus é alimento, é estória, Deus é o pomar de Mingo Deseró, onde todos têm o dever de ir; peregrinar só para sentir-se no centro do pomar que é Deus: prove, alimente-se, conte, seja cosmos!

Meu Deus, por que faltou pomar do Seu Mingo De-seró no resto do mundo?...

Tanta falta que levaram Seu Mingo, levaram para cultivar outros pomares em outros planetas, outras estre-las: nave espacial baixou lá no Grotão! Dizem isso. Mas o mundo de Cantare precisa tanto do pomar do Seu Min-go Deseró.

Brigado pelas uvas, la-ranjas, jabuticaba, figo, goia-ba..., Seu Mingo. Vou pro mundo afora espalhar pro resto do povo que fui ao Seu pomar e agora sou o narra-dor dessa estória e conto o que aprendi: quando o real vira estória, é porque já é sa-grado, é cosmos.

o teimosoPASCOAL ANDRETA

Juca era um caboclo rijo, de vontade férrea e opinião inabalável. Quer dizer: era teimoso. Não arredava pé nas suas decisões nem por Santa Maria.

– Home tem que sê home! Vivia namorando uma

fértil nesga de terra, encrava-da no bairro da Guardinha, onde o vento sul arrepiava o sapé de cobertura de uma pe-quena choça e onde borbota-vam as águas de farta nascen-te. A choça o encantava, mas aquele simples olho d’água, que lapidava diamantes e faiscava ouro ao lado do ran-cho, o enfeitiçava muito mais do que dois feiticeiros olhos de mulher.

– Terrenão! Sentado no cabeçalho do

carro de bois, Juca fita distraí-do o céu riscado de vermelho, sem enxergar o maravilhoso fundo novo da paisagem ve-lha. Talvez sonhasse. Os bois arrastam o carro pelo trilho que margeava o terreno co-biçado pelo caboclo. Juca deixa, imediatamente, o vasto mundo dos sonhos, para ad-mirar, demoradamente, o pe-queno mundo dos seus olhos. E num ímpeto de entusiasmo incontrolado, sentencia:

– Eu ainda compro essa pinga com capilé!

A decisão fora tomada e o objetivo seria alcançado de qualquer modo. Arregaçou incontinente as mangas. Bri-gou como galo de briga, dan-çou na corda bamba, pescou em águas turvas, deu murros em ponta de facas, comeu o que o diabo enjeitou, trucou em falso, remou contra a maré, trabucou! Mas a pro-messa foi cumprida.

– Comigo não tem café coado!

Plantou sua rocinha de milho. Rocinha para qualquer sitiante, mas um roção para os

olhos apaixonados do dono. Passava os dias limpando, com um capricho doentio, os rebentos mal nascidos. À noite, estendido no seu jirau, ficava parafusando, calcu-lando, sonhando:

– Vinte carro de milho e do de primêra, no mínimo! Já é um bom começo! De ano em ano vou colhendo minha plantinha e alargan-do a gleba, até desalojá essa italianada toda! Não sei lê, mais sê trelê, o que é muito mió de bão!

Rezava um pai-nosso a seu padrinho São Benedito, voltava-se para o canto e dormia com um sorriso de bem aventurança nos lábios.

Mas o diabo é que nem sempre o ovo pica. Um sol ardente, de estalar cabeça de negro, ameaçava torrar o milharal emperrado no meio do crescimento. Isso botava angústia no coração do Juca:

– Hoje eu vou conver-sar com São Benedito de perto! Preciso de chuva! O negócio assim não tá bão! Não tô nada contente! Ele é meu padrinho e tem que me ajudá!

Á tardinha, depois do batidão do dia, o caboclo se apresenta na capelinha do bairro, com uma vela e uma braçada de flores. Aproxi-ma-se da imagem de São Benedito com uma cara de sexta-feira da paixão:

– Sabença, padrinho! Acende a vela, estende

as flores pelo altar, limpa a carapinha empoeirada da imagem do santo, ajoelha-se com um descomedido sinal da cruz e entra jeitosamente com peditório:

– Tenho andado ocupa-do pra burro, meu padrinho! Trabaiado que nem escravo! Nem tempo pra lhe fazê uma visita tem sobrado! Passo o dia montado no cabo da en-xada pra podê trazê em orde

o meu roçado! Depois do jogo de corpo,

entra firme na bola: – O sol tá acabando com

minha roça e o negócio tá indo de mal a pió! Arranje, por favor, aí com seu compa-dre São Pedro, uns diazinhos de chuva pra nóis! Mas não se demore, que o caso é ur-gente!

Levanta-se, beija com puxa-saquismo seboso os pés do santo e se despede:

– Té outro dia! Sabença! À noite, uma lua bonita,

repimpada, vestida de luz, passeia pelo céu limpo de nuvens.

– Tô vendo que São Be-nedito se esqueceu do meu recado...

O dia amanhece limpo, o sol vara o dia limpo e se deita sem se banhar. O caboclo foi reclamar de seu protetor:

– Como é, padrinho? E o meu pedido? São Pedro vai fazê chovê ou não vai? Não gosto de falá duas veiz, mais vô tolerá desta feita e dá mais treis dia de prazo... Se não

chovê... Não choveu. O decidido caboclo pas-

sa então a mão no laço e se dirige novamente à capeli-nha. Desta vez não toma a costumeira bênção ao padri-nho. Para em frente do bem aventurado Benedito e expe-rimenta a resistência dos ten-tos entrelaçados. Dá um nó de carrasco na extremidade mais grossa e arma a laça-da. Passa o laço em torno do pescoço do padrinho inope-rante e atira a ponta do laço por sobre a trave do telhado. Só então é que se dirige ao santo:

– São Benedito, São Be-nedito! Eu te respeito como santo e como padrinho... Mas não me abuse não! Que-ro chuva pra hoje, ouviu? Se-não...

E fez um gesto significa-tivo, assim de quem tira água do poço.

Mas as chuvas não che-garam.

No dia seguinte, madru-gada ainda, o caboclo investe

contra a entrada da capeli-nha. Põe a porta abaixo com um bicudo do sapatão. Entra pisando duro, acintosamen-te. Acerca-se da extremidade oscilante do laço. Crava os olhos fuzilantes nos olhos de boi manso de São Bene-dito. Aperta os lábios, range os dentes, agarra a ponta do laço, desce os braços e alça o santo. Amarra a ponta do laço no pé do altar e deixa o bem aventurado Benedito balouçando brandamente no meio da capelinha.

– Comigo é assim! Es-creveu e não leu, pau comeu!

À noite o tempo muda por completo! Um vento si-bilante, em rondas farristas, açoita as ramagens tranqui-las dos arvoredos. Os relâm-pagos coriscam luminosida-des apavorantes no espaço negro. Os trovões rolam ba-rulhos enlatados pela abóbo-da do céu. A chuva cai, com estrondo.

Mal clareia o dia, o Juca corre desesperado à capeli-nha, em socorro do enforca-

do. Entra ofegante, apreensi-vo, temeroso. Tira o santo da laçada cruel, acaricia-lhe o pescoço esfolado e o coloca novamente no altar. Beija-lhe as mãos, os pés, as ves-tes. Ajoelha-se:

– Perdão, meu padrinho! Perdão! Me perdoe, porque não tive outro remédio! A situação tava de arrancá ca-pité! Agora a coisa mudou! Com sua amizade, com sua proteção! Muito obrigado!

Levanta-se: – Té amanhã, padrinho!

Sabença! Já ia saindo, mas re-

solve parar. Volta a cabeça sem mover o corpo. Encara a imagem de São Benedito demoradamente e expressa ao santo de sua devoção toda sua admiração cabocla:

– Mas vancê é duro, não é, São Benedito? Ô home teimoso!

Nota: esta crônica faz parte do livro “Monte Sião de Outras Eras”.

ainda sobre o dia das mulheresCLARA CASTAGNA

Vocês acharam que eu não ia abrir a minha boca né?

Acharam errado. Mais um ano, e o Dia das

Mulheres permanece sendo um dia de luta. E enquanto ele for necessário, enquanto mu-lheres forem mortas, humilha-das, oprimidas, violentadas e abusadas eu vou abrir a minha boca.

O dia de hoje é uma evi-dência de uma tradição his-tórica. A sociedade de hoje se sustenta, vive, existe, em cima de pilares que desmerecem e mataram as mulheres todos os dias, seja direta ou indireta-mente.

Eu, como mulher, não que-

ro seus parabéns. Eu quero o teu respeito. Eu, como mulher, quero poder andar na rua livre-mente e poder me expressar da maneira que me fizer feliz. Quero poder amar e ser amada, seja por quem for, por conta de minhas características que vão além do tangível. Quero poder ser amada por ter coragem, por ter força de vontade, pela minha inteligência. Não quero ser resumida à minha aparên-cia, nem à maternidade, nem aos cuidados domésticos. Não quero ser interrompida quando falo sobre algo que estudei, algo que é de meu conheci-mento, e depois ser corrigida, como se minhas observações, meu estudo e minha dedicação não valessem a pena.

As rosas são lindas, mas elas são cobertas de espinhos. As rosas machucam. A tua rosa, a tua cantada, o teu do-mínio, camuflam a tua infinita necessidade de me apagar e de apagar a luta que é nossa, que nos mantém vivas.

No Dia Internacional das Mulheres, eu desejo a todas as mulheres união, amor, força, paz e toda a sororidade que posso oferecer. Desejo que to-das as mulheres se enxerguem como irmãs, como parte de algo muito complexo que nos conjuga todos os dias diante da sociedade. Eu quero que to-das as mulheres possam dizer que não têm medo de andar livremente e de se manifesta-rem como a paz interior delas

assim deseja. Quero que feli-cidade, apoio, saúde pública, respeito e oportunidades nos sejam dadas durante todos os 365 dias (e alguns quebrados, desculpa professores de Geo-grafia, eu não me lembro) do ano, mas nunca uma ilusão de um dia “feliz”, mas que mas-cara o sofrimento que é viver em um mundo em que todos os outros dias não são nossos.

O amor, e não a rosa, vai te trazer libertação. Lembre-se, mulher: não se nasce mu-lher, torna-se. E a cada dia 8 de março, eu espero que este conceito seja cada vez mais definido por nós, e não por convenções que nos definam.

Eu amo todas vocês. A luta é nossa.

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MARÇO | 2018 PÁGINA 5

REDES SOCIAIS, UM MUNDO DE NINGUÉMJOSÉ ANTONIO ZECHIN

Acho que consegui um fato inédito: desagradar a duas pessoas com a mesma fra-se. Fui mal interpretado por ambas e recebi puxões de orelha. Entre triste e enver-gonhado, pensei: ou aprendo a escrever melhor ou desisto das redes sociais!Quando a televisão surgiu, lá por 1950, a telinha ilumi-nada no centro da sala unia os familiares depois do jan-tar. Depois separou, cada um no seu quarto, com sua pro-gramação preferida. O que a tecnologia uniu, o próprio homem separou. A internet,

um estágio mais avançado, já chegou dividindo mes-mo, cada um no seu canto, seja em casa, no restaurante, na escola ou qualquer lugar, incluindo velórios. Todos juntos, mas todos separados. Todo mundo falando com todo mundo e ninguém fa-lando com ninguém. Quase impossível entender, mas é isso mesmo. Dizem que ninguém mais (pelo menos a maioria) vive sem a Internet. É possível. Incluindo suas consequên-cias, ainda desconhecidas, mas já emitindo sinais evi-dentes. Pesquisas revelam que há mais de um bilhão de pessoas, na maioria jovens,

com problemas de surdez por causa dos fones de ouvido. Também de visão por causa da intensa luz dos monitores dos celulares e computado-res. Uns já enfrentam pro-blemas na coluna, devido a posição do pescoço quando cutucando o aparelhinho. Enfim, uma realidade física visível inegável. Para o bem ou para o mal, o problema existe, e pronto!Pior que problemas físicos, são os psicológicos. Ainda invisíveis, mas já dando si-nais. Todo mundo sabe dos inocentes “joguinhos” Baleia Azul e Fadinha Rosa, que le-varam muitos jovens ao sui-cídio e deixaram pais preocu-

pados com suas vulneráveis crianças. Recentemente sur-giu o aplicativo Sararah, que em árabe (onde foi lançado) pode ser traduzido por hones-tidade ou franqueza. Ou seja, um espaço livre na Internet para fazer declarações anôni-mas, boas ou ruins, a respeito de alguém (que você conhe-ce ou não). Assim, você pode dizer que ama ou odeia aque-la pessoa, elogiar ou criticar o nariz, a cor da pele ou os cabelos, tudo no mais absolu-to anonimato. Pergunto: que graça tem amar alguém e não dizer isso diretamente a ela? Mesmo que dê com a cara no chão, pelo menos teve cora-gem de confessar seu amor.

Por outro lado, se não gosta de alguém e pode xingá-lo anonimamente, isso não pas-sa de covardia. Se é valente mesmo, vá lá e fale na cara do sujeito! Enfim, mais um desses aplicativos moderni-nhos que não entendo.Segundo estudos da empre-sa Comunica que Muda, os internautas brasileiros são intolerantes e preconceituo-sos em suas postagens nas di-versas mídias sociais: blogs, sites, Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp, Messen-ger e outros. As palavras mais usadas (encontradas na pes-quisa) foram: cabelo ruim, gordo, vagabundo, retardado mental, boiola, malcomida,

golpista, homofóbico, entre outras – revelando todo tipo de intransigência em relação a aparência, condição social, preferência política, idade, raça, religião e outros aspec-tos. Lembrei de Sérgio Buarque de Holanda que disse: “o brasileiro é um povo cor-dial, movido por impulsos do coração, emoção, afetos”. Pensei com meus estupefa-tos botões: imagine se não fosse... A internet brasileira seria proibida para menores de 18 anos!

MATEUS MARTINS (CODó MARANHãO)

Sobre a morte: muito se busca uma definição e uma forma. Eu, particularmente, desisti dessa busca. Passei a imaginar o cheiro. Sim, o cheiro da morte. Sempre associei odores às coisas, e nem sempre isso tem exata-mente a ver com essa coisa e com a morte não poderia ser diferente. Antes que chegue à conclusão de que eu esteja sendo fúnebre de-mais irei explicar. Imaginar o cheiro muito mais que sua aparência, é de certa forma mais útil porque a morte pode adotar inúmeras for-mas, mas acredito que o cheiro seria o mesmo e as-sim se tornaria mais fácil sentir sua aproximação.

Não nos precipitemos. Nada de tropeçar no óbvio.

A resposta poderia ser fa-cilmente: a morte tem um cheiro ruim, recende a ma-téria decomposta. Claro, a morte é horrenda, então seu cheiro consiste no mesmo, né? Bom, eu não estaria tão certo disso.

Muitas vezes nos de-paramos com casos onde pessoas que, até então, se amavam acabam parando nos jornais mais populares do país porque um dos en-volvidos por algum motivo matou o outro. E aonde eu quero chegar com isso? No perfume. O que garante que no momento em que tirou a vida, ele (a) não estava usando o mesmo perfume de um encontro especial? E, para ser ainda mais cruel, podendo ser o mesmo per-fume que se ganhou de pre-sente no primeiro aniversá-rio de namoro.

Nesse caso, o último cheiro a ser sentido seria bizarramente agradável. O cheiro da morte.

Não é à toa que a linha de pensamento me ocorre com mais realidade ago-ra. O cheiro da morte para mim se apresenta com mui-tas nuances. Cegaram meus olhos, danificaram minha língua. Imobilizaram meus braços e pernas. E por qual razão? Ainda não sei. É frustrante de um jeito tedio-so ser odiado aparentemen-te por nada.

Como se não bastasse, minha audição é obstruída por grandes fones de ouvi-do, onde uma playlist ber-rante e sem fim sacode meu cérebro de pop a rock. O ol-fato se tornando assim, meu inseparável aliado. Meu elo com o mundo.

Tento imaginar a figura

quase animalesca que eu sou agora, perdendo aos poucos a humanidade, pelo menos fisicamente. Minha sanidade parece se esvair aos poucos, tenho procu-rado manter pelo menos o suficiente. Tento me lem-brar da última vez que eu fui alguém, alguém livre e com uma rotina normal. Pa-rece que anos se passaram, quando na verdade estou assim há o que? 3 semanas? Há pouco desisti de me si-tuar no tempo.

Certo dia, alguém desli-gou a música. Com um sus-piro longo e pesado tirou tão devagar os fones de ouvido que eu imaginei a morte ali mesmo, mais iminente do que nunca. A tal pessoa não parecia ter pressa. Pelo si-lêncio e, por sentir a presen-ça dela ainda ali, imaginei que pudesse estar me ava-

liando. Talvez até sentindo um pouco de compaixão ou algo perto disso.

Se aproximando, a Pes-soa encostou um copo de água nos meus lábios no que bebi tão desesperada-mente como se fosse sumir, engasgando no processo. Em seguida, pareceu me dar algo semelhante a pão. Naquela altura, poderia ser até um pedaço de papelão, a fome era tamanha que tor-naria qualquer gosto ruim o mais tragável possível.

Eu sentia falta de ou-vir a voz de alguém, a voz de alguém além do que eu ouvia na música incessan-te. Uma voz direcionada a mim, nem que fosse gritan-do em tom ameaçador - é incrível o que se pode de-sejar quando você é alguém preso nessa situação - Eu só queria sentir alguém além

de mim mesmo.Para minha surpresa,

a Pessoa aproximou seus lábios do meu ouvido e sussurrou de modo cons-piratório, como se estives-se infringindo alguma lei, como se sua vida estivesse em jogo diante daquele sim-ples gesto:

-Os detalhes. Nada é em vão. - um arrepio gélido percorreu meu corpo ape-sar do calor que fazia. Mais pelo efeito das palavras em si do que pelo modo abafa-do que a voz soou tão próxi-ma do meu ouvido. Mesmo com o aparente esforço de se manter o mais anônima possível, eu sabia que a Pes-soa era uma mulher.

E, desde então, não re-cebi mais sua visita. Passei a imaginar se o cheiro da morte não teria chegado para ela.

smell´s death - conto em andamento

Você sabia?J. CLÁUDIO FARACO

Que a Tailândia, país do sudeste asiático um pouco menor do que estado de Mi-nas, era conhecida desde o ano de 1350 como Reino do Sião e, somente em 1939, foi adotado o nome atual de Tai-lândia?

Como dissemos na edição de janeiro deste Jornal, a lín-gua portuguesa é mais falada do que imaginamos. Hoje ela está entre as 10 mais utilizadas no mundo ocupando o sexto lugar o que, convenhamos, é uma ótima posição. Fal-tou dizer que a nossa língua, além dos países relacionados na edição passada, é também falada em vários pequenos

locais como Macau (China); Goa (um dos 28 estados da índia); Diu e Damão (dois pe-quenos territórios localizados na índia e que pertenceram a Portugal); Malaca (Malásia) e na região da Galícia, noroeste da Espanha, onde é utilizada uma variante do português, o galego-português.

Os dois países mais po-pulosos do mundo, China, com 1 bilhão, 394 milhões, 959 mil habitantes e índia, 1 bilhão, 355 milhões, 043 mil habitantes estão com números populacionais bem próximos um do outro, mas previsões indicam que a índia em breve superará a rival em números absolutos da população.

Dá para guardar na ca-

beça: países ou regiões lo-calizadas em altas latitudes possuem climas muito frios, enquanto os localizados em baixas latitudes são quentes. Explicação: alta latitude sig-nifica estar muito próximo do Polo Sul ou do Polo Nor-te, portanto regiões geladas. Quanto mais baixa a latitude mais quente fica, pois estamos muito próximo da Linha do Equador esta que, juntamen-te com os Trópicos de Capri-córnio e de Câncer, delimita a grande e quente faixa central que envolve todo o planeta Terra.

Para relembrar: após o fi-nal da Segunda Guerra Mun-dial a Alemanha derrotada foi dividida em quatro setores: o

americano, francês, inglês e o soviético, os chamados “ven-cedores” da guerra. Inicia-se, então, a “Guerra Fria”, ou seja, ameaças, disputas e pro-pagandas constantes entre o mundo ocidental predominan-temente capitalista liderado pelos EUA e o oriental, de re-gime socialista, sob a tutela da União Soviética. Em 1961 na também dividida Berlim entre os mesmos setores acima es-pecificados, a União Soviéti-ca decide construir um muro separando a Berlim Oriental da Berlim Ocidental com 66 quilômetros de gradeamento metálico, 302 torres de ob-servação, 127 redes metálicas eletrificadas e outros aparatos anti-fugas. O mundo ociden-

tal ficou estarrecido, chocado, envergonhado com a separa-ção de famílias imposta pela Alemanha Oriental/União So-viética, e o obstáculo passou a ser conhecido mundialmente como Muro da Vergonha, este que acabou sendo derrubado em 1989/1990 pondo fim não só ao muro como também à chamada Guerra Fria.

Ano de 2017, Século XXI: através de enorme insistência de seu presidente, a maior na-ção democrática do mundo quer porque quer construir um muro separando seu país do México. Parece ficção cien-tífica de mau gosto, pois os EUA foram os maiores e mais incisivos críticos do “Muro da Vergonha” de Berlim! Além

disso, há ainda o fato de eles criticarem duramente outros países na questão da bomba atômica, mas se esquecem de que eles próprios, os EUA, até hoje são o único país a usar duas dessas poderosas armas com alto poder de destruição para atacar cruel-mente duas cidades matando milhares de civis, mulheres, crianças, velhos e doentes. Claro que a maior parte do planeta civilizado não aceita e não deseja essa conversa de “bombas atômicas” nas mãos de nenhuma nação seja ela qual for, mas depois de tudo o que presenciamos no dia a dia, como entender esse ina-creditável e ambíguo mundo?

IVAN

Depois de quinze dias internado em clínica de de-sintoxicação, voltou ao bar para rever os companheiros de pingaiada. Uma saraiva-

da de perguntas – melho-rou, ainda tem vontade de beber, o quê que o médico falou? – não lhe dava tem-po para se lembrar da sau-dosa cachaça. O dono do bar deixou o balcão, enxu-

gando as mãos:— Então, conta o que

você tem.Baixou a cabeça para

puxar a memória, lutou com os termos usados pelo médico.

— Bom, pra dizer bem a verdade, e pelo que en-tendi – e foi pouco – estou com deslocamento de ór-gão.

Os companheiros olha-ram-se em desentendimen-

to coletivo, à procura de quem explicasse o diag-nóstico esquisito.

— Mas, o que você quer dizer com “desloca-mento de órgão”?

Os olhares voltaram-se para o presumível abstê-mio, no aguardo de res-posta esclarecedora.

— Bom, acho que é deslocamento de órgão o que eu tenho porque, de tudo o que o doutor falou,

só entendi mesmo quando ele, demonstrando muito desânimo, com a mão do consolo no meu ombro, disse: “infelizmente, meu caro, o seu fígado foi pro saco”.

— Só pode ser desloca-mento de órgão, né?

Diagnóstico

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PÁGINA 6 MARÇO | 2018

N.º 549Março de 2018

DoaçãoO Museu local recebeu de Vicente de Paulo Andreta, o Paulinho da Ceda, documento da Companhia Nacional para Favorecer a Economia, denomi-nado “Prudencia Capitalização”, refe-rente ao Título ao Portador, no valor de Cr$10.000,00 (dez mil cruzeiros), datado em 1º de agosto de 1945. A Fundação Cultural “Pascoal Andreta”, mantenedora da entidade, agradece.

Pescaria do GodinhoRio Tapirapé, Mato Grosso. E não é que o Godinho fisga um baita de um botoa-do, espécie de cascudo, enorme, com carapaça e tudo. Instalou o monstro num aquário e ensinou o peixe escamoso a desenroscar anzol, remover tranqueira do fundo do rio, sondar onde há cardume escondido e erguer troncos onde a pira-rara se amarra. O botoado foi um aluno tão aplicado, exerceu suas atividades com tanta competência que o Godinho tacou-lhe o nome de peixe-guincho, em homenagem à sua profissão de transpor-te de veículos, máquinas e apetrechos de acampamento de pescaria, além do mais que for solicitado. Agora, na plataforma do seu guincho, leva o aquário com o botoa-do se refrescando. No Tapirapé, coloca a coleira no peixe e vai à pesca sem medo de enroscos, paus, pedras, galhos: o bo-toado arranca tudo, traz o anzol limpinho para o patrão e, de recompensa, pede um peixinho para tira-gosto. O Godinho sempre tem um tambiú para atender. E, mais: no Natal deu-lhe coleira nova, com uma plaquinha de metal, com a letra G gravada, que tanto serve para Guincho como para Godinho. Eta, sujeitinho capri-choso e amoroso.

CorreioA Fundação Cultural enviou pelo Correio local correspondência a Campinas (SP), que dista 120 km de Monte Sião. Posta-da no dia 20 de fevereiro, apenas chegou ao destino no dia 28. Na atual situação de precariedade dos correios do Brasil, a demora até que não foi exagerada. Mas, há um fato de muita relevância: a correspondência foi enviada através de SEDEX, o mesmo SEDEX que proclama sua rapidez e eficiência, que chega no dia seguinte ou dentro de três e, dependendo do valor do pagamento, depois de 10 ho-ras. Os Correios estão a imagem do país: cheiram mal. Estão uma piada de mau gosto.

AgradecimentoNa edição número 14 de fevereiro deste ano, o “Informativo Acims” publicou, na página 2, matéria assinada por seu presi-dente João Tadeu Dorta Machado, onde faz comentários elogiosos a este jornal, seus colaboradores, ao fundador doutor Antonio Marcello da Silva e à Fundação Cultural “Pascoal Andreta”, mantenedora deste órgão literário, salientando o papel que exercemos na propagação da cultu-ra da cidade, não só na prosa e poesias, como também na criação e manutenção do Museu Histórico e Geográfico e diver-sas outras entidades e várias atividades artísticas. O presidente da Fundação – José Ayrton Labegalini – agradece ao Ta-deu pela lembrança oportuna e que mui-to o lisonjeia, já que procede de pessoa também dedicada ao desenvolvimento cultural de nossa gente.

A triste verdadeO neto moderninho, ao avô ultrapassado, porém com algum resquício de bom-hu-mor:— Vô, com é fazer sexo aos 82 anos?O avô, desolado, cabisbaixo, muito triste:— É o mesmo que jogar sinuca com um pedaço de corda.

A fama do NeymarTem-se falado tanto da fratura do 5º me-tatarso (*) do Neymar que a exaustão, exasperação, o engulho e a brotoeja oca-sionados aí estão a fim de provar o exa-gero dos comentários. Em decorrência,

se o Neymar, com toda a genialidade que Deus lhe deu, adquirir uma unha encra-vada ou um simples furúnculo ainda nes-te ano, a fama do seu osso ultrapassará a do seu talento, podendo até conceder-lhe a Bola de Ouro e o título de Melhor do Mundo em 2018. A não ser que não dê tempo de jogar na Copa.

(*) Metatarso foi o 5º rei da Turquia – também cha-mado Osso Duro de Roer – que, casando com Gota, filha de Perônio, rei da Macedônia, gerou os filhos Tarso (não confundir com Paulo de Tarso, o apóstolo) e Artelho, além da filha Osteoporose, fi-sicamente fraca, descalcificada e desclassificada. Quebrou o reino em suas andanças pelo mundo, esvaindo a fortuna do pai através dos poros. Seu irmão Tarso, como o Neymar, também jogou fute-bol, só que no gol, defendendo a meta (para honrar o nome do pai) do Fêmur F.C de Atenas, Grécia.

Pequenos serviços, grandes resulta-dosJosé Carlos de Oliveira, mais conhecido como Querubim, em decorrência de suas obras angelicais, marceneiro de pon-ta, trabalha em madeira e faz cadeiras, gangorras, balanços, bancos de jardim, caramanchões, jiraus, móveis de parque infantil, cabo de vassoura ou qualquer ou-tro cabo (tão bons que alguns já são te-nentes), mesas (inclusive para crianças, com cadeiras), gavetas e demais apetre-chos solicitados pelo gentil freguês. Tam-bém instala batentes e portas (tanto as de entrada com as de saída), edifica tulhas, jardineiras com quatro pernas para plan-tio de cheiro verde, exclusiva para pes-soas de abdômen avolumado (para não ferir os barrigudos), sem que seja preciso agachar-se, evitando esforço desneces-sário. Sendo o distinto freguês saudosis-ta, Querubim pode fazer “moleque” para coador de café, porrete para malhar Ju-das no Sábado de Aleluia e, tratando-se de enfermeiro, também torneia cacete de amansar louco. Em casos especiais, e com pedido por escrito, monta muletas e as entrega domesticadas, mansas de sovaco.Pode acontecer – tudo é possível na vida – de o senhor estar muito triste no dia em que receber o serviço. Não se afobe nem se apoquente (eta!). O Querubim pode cantar para o senhor uma modinha bem alegre, desopilante hepática, esperta fei-to “porva”, trazendo sua alegria de volta. ABRIL DE 2018

Dia 01Bruna Zucato CétoloAdriano Ap. da Costa

Joselene FariaMaria Clara R. Zucato

Dia 2Giovana Gottardello Fonseca

Marcos V. de Godoy SilvaRobson José Jaconi

Dia 3Daiane Coli de Souza,

Gatinha do Jornal - Jan/2012Anildes Monteiro Novelli

Guilherme Vilela de SouzaRafael de Araújo Resende

Cristina Fonseca Vilas BoasLuiz Nelzio Franco

José Norberto RodriguesDia 4

Bruna Prado JaconiAna Beatriz Castro Fonseca

Júlia Francisco MagioliDia 5

Wilson C. Ferreira, Maringá/PRDouglas M. Otaviano Miranda

Aline Priscila GuariniRita Ignês Comune S. Oliveira,

Americana/SPDia 6

Carla Diane Dias da Silva,Gatinha do Jornal - Abr/2010

Luana Armelin PitelleMário Sérgio Moreira

Vanessa Durante PennacchiPatrícia Beatriz Alves

Maria Emília Leite AraújoAndradas/MG

Isabel Rosana BenattiDia 7

Karina Domingues Bertolucci, SP/SPMichel Zucato

Dia 8Sebastião Labegalini, Kaloré/PRKarina G. Zechin, Campínas/SP

Dia 9Danilo D. Pereira de Lima

Marília Franco BuenoDia 10

Alessandra M. Silva Martins, Cláudia Labegalini, SP/SP

Antonio Campos FreireDia 11

Sebastião Teodoro AraújoLilian Maria Leite Araújo, Andradas/MG

Dia 12Bernardo Oliveira Bernardi,

nosso colaboradorAmauri Pereira PintoJúlia Moraes Cardoso

Érica GlóriaPriscila Aparecida Fávero

Dia 13Cirlene Aparecida Gonçalves,

Gatinha do Mês - Abr/2006Rafael Comune

Rosângela Comune LázariJoão Carlos Barbosa

Mitsuo IzumiDia 14

Marina \Morais de OliveiraAndré Luís Machado

Pollyanna Figueiredo, BH/MGAlexandre Labegalini,

Apucarana/PRMarilene F. Godoi Bueno, BH/MG

Dia 15José Carlos Grossi,

colaborador deste Jornal

Renato Parreira JúniorMaria de L. Ribeiro Labegalini

Antonio Tadeu S. VidalDia 16

Felipe Franco BuenoAlcides Domingos Batista

Dia 17Isabela C. Labegalini, Maringá/PR

Henrique Comune DaldossoMaria Lúcia Gottardello

Dia 18Rovilson Tavares da SilvaPedro Borges Figueiredo

Maria de Paula GottardelloDia 19

Bruneli RigheteBruna Mariane Lino

Carlos CaroliRafael Dias e Silva

Rosana Artuso RibeiroDia 20

Silvana R. PennacchiÉrica Faraco

Massaki ShinoharaJoice Monteiro ReginatoMaria Gonçalves da Silva

Dia 21Benjamim Labegalini, Kaloré/PR

Paola PennacchiLucas Lino

Charles CétoloKatsuhiko Takahashi

Dia 22Hélida Giasiani C. Loura,Murilio Zucato de Oliveira

Dia 23Amilton Fernandes Magioli

Evair ComuneMaria Otília Gomes PereiraLuiz Antonio M. de GodoiRenata Tavares da Silva

Thayná W.G. BenattiVicente de Paula Faria

Dia 24Francisco Carlos Bernardi, Valinhos/SP

Marli S. Bueno ParreiraJanaína Corsi

Pascoal Norberto ComuneAndressa MonteiroFelipe Labegalini

Dia 25Sebastião Gonçalo RigheteCatarina Comune DaldossoMárcia de Cássia F. Godoi

Thais Ribeiro Jacomassi, RJ/RJDia 26

Rogério BuenoMariane de Cássia F. Godoi

Carlos Roberto MonteiroTelma Labegalini

Maria Ap. Moraes SouzaDia 27

Maria Marta T. BarbosaValdirene da Costa

Vitor Humberto MonteiroJosé Airton Zucato

Dia 28Adriana Maria Grossi

Maria de Lourdes G. MoraesMalvina G. Zechin, Serra Negra/SP

Dia 29Michele Basaglia

Vilma Pilon DaldossoErnestina Gottardello Zancheta

Dia 30Bruno Monteiro Guinesi.Ryan Canela Brandão

Popo de Sião

Km 6 da Rod. M.Sião - O.Fino -(35)3465 1355 – 9 9114 9447

RESTAURANTE DA LICINHA

Programe sua festa - nós temos o local!

Espaço para 250 pessoas

ando cheio só de mim

Me esvazio

e me enchosó de mim

Vem então

o fantasmaque por fim

tece medecirze rima

e acontece

um poemaem mim.

Na varanda

Sem cachê ou Couvert Artístico. De gra-ça. Anote seu telefone – (35)9 9238 6366.

LivrariaRoberto Carlos Bueno continua “abrin-do” sua Biblioteca Comunitária todos os domingos na feira do agricultor situada na praça do Magioli. Basta escolher o li-vro de sua preferência e depois de lido, devolvê-lo, sem cadastro nenhum. Pas-sa lá e escolha seu livro.

FalecimentoFaleceu no dia 7 de março, aos 78 anos de idade, Lucila Gema de Araújo Lobão. Lucila era filha de Antonio Teodoro de Araújo e Maria Aparecida Guireli de Araú-jo. À família enlutada enviamos nossas condolências.

Almoço beneficente O doutor Raimundo Esteves, continuan-do com suas atividades filantrópicas, ofe-receu as dependências de sua proprie-dade rural e o restaurante ali instalado para a realização de almoço beneficente em favor de pessoa gravemente adoen-tada e sem recursos para seu tratamen-to. Com diversos auxiliares trabalhando, conseguiu reunir cerca de 420 pessoas dispostas a ajudar a um semelhan-te carente, conseguindo, com a união, R$11800,00 (onze mil e oitocentos reais) que foram levadas à família necessitada. Como o próprio doutor Raimundo disse “continuo com as obras humanitárias não só por mim, mas, e principalmente, pela esposa Licinha, falecida há quase dois anos, que dedicou parte de sua vida aos desprovidos de bens materiais”.

ConviteNo dia 7 de abril, às 19,30 horas, no Co-légio Monte-sionense (Avenida das Fon-tes, 645) serão entregues os prêmios aos poetas classificados no XVI Concurso Fritz Teixeira de Salles de Poesia. Foram enviadas à Fundação Cultural Pascoal Andreta 2048 poesias, das quais apenas nove foram escolhidas para as diversas categorias e mais cinco Menções Honro-sas. Você está convidado, pois só tere-mos craques na celebração.

1 Bakhtin, filósofo e analista da linguagem, era russo, e com base em discursos cotidianos enxergou a linguagem como um constan-te processo de interação medida pelo diálogo e não apenas como

um sistema autônomo.Dizia: “A língua materna, seu vocabulário e sua estrutura gramatical,

não conhecemos por meio de dicionários ou manuais de gramática, mas graças aos enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos na comuni-cação efetiva com as pessoas que nos rodeiam”.

O nosso homenageado escreve artigos satíricos, cheios de humor, con-trapõe ao vício da linguagem decadente, restaura as falas e os trejeitos das personagens em cada conto. A cultura de nossa cidade deve-lhe e deverá por muito tempo pela sua conduta honesta, sincera e benfazeja sempre em prol do outro.

Nele e principalmente em seus escritos está a representação da voz na figura dos homens que falam, discutem ideias e procuram posicionar-se no mundo.

O livro “Glossário Monte-sionês da Língua Portuguesa” é seu legado histórico. Dos artigos publicados destacamos: “O Dono do Remo”. E que ficou eternizado na voz magnífica de Moacir Ramos Calhelha.

Estamos escrevendo sobre IVAN MARIANO SILVA.

2- Fragmentos: “O cemitério, pelo menos abriga os mortos. A ven-da deles, ele e ela, donos, não tinha uma única viv’alma pra fazer chorar um cego. Na distância de uma trovoada, quando muito, e

querendo Deus, passava por ali um vivente mascate, mal de vida, com a mala cheia por vender. Em dia de descanso marcado na folhinha – porque os demais eram de ócio – achegava um raro compadre para tomar uma branquinha, levar no fundo do picuá fumo, rapadura e farinha, uma caixa de fósforos pro querosene, tudo remontado na compra anterior para se pa-gar depois da colheita minguada.” (Solidão) “Monte Sião” julho de 2014.

“Sabiá – como a lambari, sabiá é substantivo feminino, por dois moti-vos e, não, regras: como seu canto tão bonito, só poderia ser mulher e, 2º, tudo o que, por aqui, termina em A é feminino. Acrescente-se: o que Monte Sião proclama, é regra e lei. Cumpra-se”.

“Puxa, Brasir! – interjeição que indica surpresa ou contrariedade: “Puxa, Brasir, como você demorou a chegar”.

“Tirar farinha – atrever-se, vangloriar-se, contar vantagem. Geralmente usado na forma negativa : “Comigo ninguém tira farinha”, ninguém terá vantagem ou proveito”.

(Glossário Monte-sionês da Língua portuguesa).

3- Frase do mês:“Quem não pode com o tempo não inventa moda”. (D.P.)

LiterÁrio LXV

Kuaia

59Me desinventeNão sou o quê souCavaleiro que a donzela nunca amou nem fez parte das lendas cantadas nas fogueiras...

Criatura da noitecom seus pesadelos e delírios...Que sonhavacom bosques e fadasgnomos e bruxas...

O que restava a ouvir os silvos da matae o trovoar das tempestades...Também me desintendaque não digo o quê sintona perturbada alma poética

Contudo me amequando olho seus olhose afago suas mãos...E me abrace frescacomo fosse a brisadas manhãs...

Toda a verdade éinventada