16 teoria geral dos títulos de crédito

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16. TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO: Conceito de Vivante. Noções de endosso, aval, aceite e protesto de títulos de crédito CC/02: Art. 903, aos títulos de crédito não se aplica o CC/02. Entretanto, para os títulos criados a partir de 2003, será aplicado, desde que previsto na lei que criá-lo. 16.1. Conceito de título de crédito : “documento necessário para o exercício de direito de crédito, literal e autônomo” (Cesare Vivante) CC/02: “Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.” Finalidade : circulação de crédito. Princípios : a)Cartularidade – só é credor do título quem detém o original do mesmo. O título de crédito, em respeito a esse princípio, deve ir para a mão do devedor após a quitação. Consequência prática: não se admite execução de título de crédito com a apresentação de fotocópia, mesmo que autenticada. b)Literalidade - é aquele segundo o qual só valem como obrigações cambiárias aquelas que estiverem escritas no próprio título. Consequência prática: aval e quitação só valem no próprio título. Não geram obrigações cambiárias aquelas celebradas fora do título. c)Autonomia (abstração) – as obrigações cambiárias são autônomas entre si e em relação ao negócio causal que lhes deu origem. O vício que macula uma operação não mancha as demais. Obs.: Negócio causal é o negócio jurídico que dá causa ao título. Já o negócio cartular tem como objeto, apenas, o título de crédito e suas obrigações decorrentes.

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16. TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO: Conceito de Vivante. Noções de endosso, aval, aceite e protesto de títulos de crédito

CC/02: Art. 903, aos títulos de crédito não se aplica o CC/02. Entretanto, para os títulos criados a partir de 2003, será aplicado, desde que previsto na lei que criá-lo.

16.1. Conceito de título de crédito: “documento necessário para o exercício de direito de crédito, literal e autônomo” (Cesare Vivante)

CC/02: “Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.”

Finalidade: circulação de crédito.

Princípios:a)Cartularidade – só é credor do título quem detém o original do mesmo. O título de crédito, em respeito a esse princípio, deve ir para a mão do devedor após a quitação.Consequência prática: não se admite execução de título de crédito com a apresentação de fotocópia, mesmo que autenticada.

b)Literalidade - é aquele segundo o qual só valem como obrigações cambiárias aquelas que estiverem escritas no próprio título.Consequência prática: aval e quitação só valem no próprio título. Não geram obrigações cambiárias aquelas celebradas fora do título.

c)Autonomia (abstração) – as obrigações cambiárias são autônomas entre si e em relação ao negócio causal que lhes deu origem. O vício que macula uma operação não mancha as demais.Obs.: Negócio causal é o negócio jurídico que dá causa ao título. Já o negócio cartular tem como objeto, apenas, o título de crédito e suas obrigações decorrentes.

c.1)Subprincípio (decorrente da autonomia) da inoponibilidade de exceções pessoais a terceiros de boa-fé: contra o credor do título não são oponíveis questões relativas ao negócio causal que lhe deu origem, desde que o título tenha circulado. Em outras palavras, terceiros, portadores do título de crédito não são atingidos por eventual defesa/recurso advindo do negócio causal.

Classificação:a)Quanto ao modelo: livre – a forma de dispor os requisitos legais é livre (ex.: nota promissória); vinculado – títulos de crédito com regramento específico (ex.: cheque – Bacen regulamenta o tamanho, conteúdo etc). b)Quanto às hipóteses de emissão: não causais – não necessita de negócio jurídico específico para ser emitido (ex.: cheque); causais – títulos emitidos para determinados negócios jurídicos específicos (duplicata mercantil – compra e venda a prazo).

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c)Quanto à estrutura: promessa de pagamento – relação bilateral (ex.: NP); ordem de pagamento – relação trilateral, A dá ordem a um 3º para que pague ao credor (ex.: cheque – emitente, beneficiário e sacado).Exceção: duplicata, apesar de ser bilateral, é uma ordem de pagamento.

16.2. NOÇÕES DE ENDOSSOEndosso faz o título circular. Emitente – Tomador (Endossante) – Endossatário.

a)Cláusula “à ordem”: implícita em todos os títulos de crédito (expressa no cheque), viabiliza o endosso.

b)Primeiro efeito do endosso: transferir a titularidade do crédito (mudar o credor).

c)Segundo efeito do endosso: constituir o endossante como co-obrigado pelo título.

d)Espécies de endosso: em branco (não identifica o endossatário – ao portador) e em preto (identifica o endossatário).

e)Proibição de endosso parcial e/ou condicional. (Cartularidade).

f)Primeiro endosso impróprio – endosso mandato (art. 18 da Lei Uniforme de Genebra): não produz os dois efeitos, transferir a titularidade e antecipar o vencimento. É o endosso no qual o endossatário é mero mandatário (representante) para efeito de cobrança. Far-se-á por meio da expressão: “bom para a cobrança”.Título de crédito é QUERABLE – pago no domicílio do devedor.

g)Segundo endosso impróprio – endosso caução (art. 19 da Lei Uniforme de Genebra): ou endosso garantia, não é transferida titularidade, o endossatário recebe o título como garantia de pagamento de uma dívida do endossante. É entregue o título ao banco, como garantia da dívida. Havendo pagamento, o título é devolvido pelo banco (também chamado de penhor, crédito pignoratício).

h)Cláusula não à ordem e cessão civil de crédito. Efeito do endosso realizado apesar da cláusula “não à ordem”: não endossável, isso não vale como endosso, vale como cessão civil de crédito. O cedente não se responsabiliza pela solvência do devedor, porém se responsabiliza pela existência do crédito (caso o título circule). Evita a circulação do título (cláusula não-endossável).

i)Endosso realizado após o protesto cambial: efeitos de cessão civil de crédito.

16.3. AVALa) Garantias fidejussórias: aval e fiança.Diferenças: 1ª)aval é instituto de direito cambiário, e fiança é um contrato de direito civil; 2ª) benefício de ordem – na fiança, há uma ordem, primeiro o

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afiançado, depois, se o afiançado não dispuser do suficiente, demanda-se o fiador, assim, com o benefício de ordem, o fiador com responsabilidade subsidiária ou, é solidária, se há renúncia ao benefício; no aval, há sempre solidariedade; 3ª) outorga uxória, fiança somente com outorga uxória (art. 1.647, CC); aval, para prestar, o casado necessita da outorga uxória (examinar à luz da autonomia).

c)Aval antecipado: é válido o aval concedido antes da constituição da obrigação do avalizado.

d)Espécies de aval: em preto (identifica o avalizado) e em branco (não identifica o avalizado, é prestado em favor do emitente).

e)Art. 987, parágrafo único – “É vedado o aval parcial”.

f)Aval simultâneo (vários avalistas em favor de um único avalizado) e aval sucessivo (um avalista avalizando outro).

16.4. ACEITEa)Apresentação para aceite: o aceite não é obrigatório.

b)Efeito do aceite: constituir o sacado como devedor principal do título. Sacado passa a ser aceitante.Obs.: 1)ninguém coloca a assinatura no título impunemente; 2)quanto mais assinaturas, mais garantias.

c)Efeito da recusa do aceite: vencimento antecipado da obrigação do emitente.Aceite parcial – é possível, ficando responsável pelo valor do aceite (devedor principal) e do restante antecipa o vencimento para o emitente.

d)Cláusula não aceitável: inverte a regra do efeito da recusa do aceite. A inserção desta cláusula tem por efeito a não produção do vencimento da obrigação do emitente com o beneficiário. Há uma cláusula que prevê que, em caso de recusa do aceite, antecipa-se o vencimento até determinado dia – é uma cláusula meio-termo.

16.5. PROTESTO DE TÍTULOS DE CRÉDITOa)O protesto cambiário tem a finalidade de provar a recusa do pagamento (protesto por falta de pagamento) e do aceite (protesto por falta de aceite).

b)O protesto facultativo (contra o devedor principal) e necessário (contra os coobrigados).

c)Tempestividade do protesto: dois dias (para a NP e a LC), sob pena de desobrigar os coobrigados.

d)O protesto por indicação da duplicata: é o próprio título de crédito. Credor manda, geralmente, para o banco uma relação com o endosso mandato.

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Art. 13 da Lei das Duplicatas – o credor envia uma correspondência ao cartório, indicando o valor do título, a quem se destina, numeração da duplicata, sendo lavrado o protesto com base nestes dados.

e)A execução da duplicata com aceite presumido: com o comprovante de entrega da mercadoria e o protesto por falta de aceite, executa-se a duplicata. Viola o princípio da literalidade, mas o art. 15, II, da Lei, assim prevê.