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artigo teologico alessandro rocha3TRANSCRIPT
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Horizonte Belo Horizonte v 8 n 19 p 114-129 outdez 2010 - ISSN 2175-584 114
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O artigo pauta o desafio que a teologia tem diante de si na tarefa continua denomear o Real numa cultura pluralista Tal desafio coloca-se sobretudo agraveteologia fundamental que se encontra diante da afirmaccedilatildeo da experiecircncia comolocus theologico Para enfrentar essa temaacutetica o artigo propotildee duas possiacuteveisposturas de aproximaccedilatildeo ao desafio de nomear o Real e logo depois partindode uma das afirmaccedilotildees enfrenta propriamente a temaacutetica da experiecircncia comolocus theologico e suas consequumlecircncias para a teologia Esta por sua vez seraacuteabordada diante do deslocamento que a leva da praacutetica da tutela agrave vocaccedilatildeo dodiscernimento Assumindo a vocaccedilatildeo do discernimento a teologia em suatarefa de nomear o Real adentra o espaccedilo epistemoloacutegico da relacionalidadeTal espaccedilo se afirma na superaccedilatildeo de aproximaccedilotildees metafiacutesicas eou
racionalistas983120983137983148983137983158983154983137983155983085983139983144983137983158983141983098 Teologia fundamental Pluralismo Experiecircncia
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The article guides the challenge that theology is faced with the task of namingthe Real remains in a pluralistic culture This challenge arises mainly to thefundamental theology which is before the affirmation of experience as a locustheologico To address this issue the article proposes two possible positions ofapproaching the challenge of naming the Real and soon after leaving one ofthe statements properly faces the issue of experience as theologico locus and itsconsequences for theology This in turn will be addressed before the shift thatleads to the practice of guardianship to the vocation discernment Assuming thediscernment of a vocation to theology in its task of naming the Real enters theepistemological space of relationality Such a space is said to overcomemetaphysical approaches and or rational983115983141983161 983159983151983154983140983155983098 Fundamental theology Pluralism Experience
Artigo recebido em 02 de Outubro de 2010 e aprovado para publicaccedilatildeo em 17 de Dezembro de 2010 Poacutes-doutorando em literatura pela PUC-Rio Doutor em teologia pela PUC-RIO pesquisador associado daCaacutetedra UNESCO de Leitura da PUC-RIO Paiacutes de origem Brasil E-mail buenomartirgmailcom
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ldquoPor favor por favorrdquoDisse um peixe do mar a um outro peixe
ldquoVocecirc que deve ter mais experiecircncia
talvez possa ajudar-me Entatildeo me digaOnde posso encontrar a coisa imensaque chamam de Oceano Em toda a parte
eu o venho buscando sem sucessordquo
ldquoMas eacute precisamente no Oceanoque vocecirc estaacute nadandordquo disse o outro
ldquoOh isto Mas eacute pura e simplesmente aacuteguardquoDisse o peixe mais jovem ldquoeu procuro
eacute o grande Oceanordquo E laacute se foi nadandomuito desapontado a buscar noutra parte
(Anthony Mello)
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Ao iniciarmos esta reflexatildeo sobre a experiecircncia nos limites da teologia faz-se
necessaacuterio precisar o que distingue a experiecircncia religiosa propriamente da experiecircncia
teoloacutegica Essa tarefa tem como propoacutesito central circunscrever aquilo que seria proacuteprio da
teologia Com isso estaacute-se dizendo que haacute uma tarefa especiacutefica que cabe inalienavelmente
agrave teologia
De forma sinteacutetica afirmamos a diferenccedila entre experiecircncia religiosa e experiecircncia
teoloacutegica eacute que esta ousa nomear o Sagrado e sua presenccedila chamando-o ldquoDeusrdquo
Essa eacute portanto uma diferenccedila substantiva A experiecircncia teoloacutegica parte do dado
colocado pela experiecircncia religiosa ldquohaacute uma presenccedila a ser experimentadardquo Contudo
natildeo para nesse dado nomeia-o mesmo que para isso tenha que ousar dizer o indiziacutevel
Ousar portanto significa que a teologia tenta nomear o inominaacutevel e o faz da uacutenica forma
possiacutevel no recurso dialeacutetico da linguagem da mediaccedilatildeo cultural
983090 983120983151983155983156983157983154983137983155 983140983141 983137983152983154983151983160983145983149983137983271983267983151 983137983151 983140983141983155983137983142983145983151 983140983141 983150983151983149983141983137983154 983108983141983157983155
A teologia ou mais especificamente o teoacutelogo eacute aquele que diante de uma presenccedila
que o interpela ousa perguntar-lhe por seu nome (cf Ecircxodo 313-15) tanto para qualificar
sua experiecircncia quanto para comunicaacute-la (Cf RICOEUR 1996 p 195) De tal ousadia
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derivam duas posturas ou estrateacutegias discursivas que determinam a proacutepria concepccedilatildeo que a
teologia teraacute de sua tarefa Por um lado pode surgir uma postura conceitual-uniacutevoca que a
partir de procedimentos especulativos arrogue para si a condiccedilatildeo de qualificar
univocamente a experiecircncia que tem da presenccedila do Sagrado Desta forma aconteceria uma
identificaccedilatildeo da experiecircncia da presenccedila com a proacutepria presenccedila A nomeaccedilatildeo dessa
presenccedila passaria a corresponder exatamente a esta em toda a sua densidade
Outra postura possiacutevel diante da emergecircncia da experiecircncia de tal presenccedila eacute a
simboacutelico-polifocircnica A teologia e o proacuteprio teoacutelogo sabem-se diante do misteacuterio
desvelado ousam nomeaacute-lo natildeo obstante reconhecem que essa eacute uma tarefa que se faz
sempre de forma inacabada fraacutegil aberta Ou seja sem sandaacutelias nos peacutes (Cf Ecircxodo 35)Nesse caso tanto a experiecircncia em si quanto sua comunicaccedilatildeo satildeo carregadas da
consciecircncia de assimetria que haacute entre a presenccedila e a possiacutevel experiecircncia com ela Se a
postura conceitual eacute geradora de univocidade discursiva a postura simboacutelica eacute francamente
aberta agrave expressividade polifocircnica
Atento para as discussotildees sobre posturas e estrateacutegias discursivas no processo de
nomeaccedilatildeo das experiecircncias teoloacutegicas judaico-cristatildes originaacuterias Paul Ricoeur em seu
artigo ldquo Entre filosofia e teologia II nomear Deusrdquo faz a seguinte observaccedilatildeo
A nominaccedilatildeo de Deus nas expressotildees originaacuterias da feacute natildeo eacute simples masmuacuteltipla Ou antes ela natildeo eacute monocoacuterdia mas polifocircnica As expressotildeesoriginaacuterias da feacute satildeo formas complexas de discurso satildeo tatildeo diversas quantonarraccedilotildees profecias legislaccedilotildees proveacuterbios preces hinos formulaslituacutergicas escritos sapienciais Essas formas de discurso nomeiam Deus todas
juntas Mas elas o nomeiam diversamente (RICOEUR 1996 p 190)
Nomear Deus a partir de uma postura discursiva simboacutelico-polifocircnica constitui
antes de tudo voltar-se agrave experiecircncia mesma da presenccedila de Deus natildeo tanto agraves palavras
fixadas que decorrem de tal experiecircncia Paul Ricoeur afirma acerca desta questatildeo que ldquoeacute
preciso dizer que nomear Deus eacute em primeiro lugar um momento de confissatildeo narrativa Eacute
na lsquocoisarsquo contada que Deus eacute nomeado Isso contra certa ecircnfase das teologias da palavra
que observam apenas acontecimentos de palavrardquo (RICOEUR 1996 p 191)
Contornando ainda mais a precedecircncia da experiecircncia no processo de nomeaccedilatildeo de Deus
Ricoeur afirma
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Um texto eacute primordialmente um anel em uma corrente comunicativa emprimeiro lugar uma experiecircncia de vida eacute levada agrave linguagem torna-sediscurso depois o discurso se diferencia em fala e em escrita [] a escritapor sua vez eacute restituiacuteda agrave fala viva por meio dos diversos atos do discursoque reatualizam o texto A leitura e a pregaccedilatildeo satildeo atualizaccedilotildees desse tipo nafala da escrita Um texto eacute sob esse ponto de vista como uma partituramusical que pede para ser executada (alguns criacuteticos reagindo contra oexcesso do texto em si chegam ateacute mesmo a dizer que eacute o ldquoleitor no textordquoque completa o seu sentido por exemplo ao completar as suas lacunasresolvendo as suas ambiguumlidades ateacute mesmo corrigindo a sua ordemnarrativa ou argumentativa) (RICOEUR 1996 p 184)
A primazia do voltar-se agrave experiecircncia de Deus no processo ousado de nomeaacute-lo
reforccedila a postura discursiva teoloacutegica simboacutelico-polifocircnica em seu estado de inacabamento
e abertura Mais uma vez Ricoeur (1996 p195) observa que ldquoO referente lsquoDeusrsquo natildeo eacute
apenas o indicador do pertencimento muacutetuo das formas originaacuterias do discurso da feacute ele
tambeacutem eacute o seu inacabamento Ele eacute a sua visada comum e o que escapa a cada uma delasrdquo
Como na epiacutegrafe de Anthony de Mello o proacuteprio da tarefa teoloacutegica frente a
possiacutevel experiecircncia da desvelada presenccedila do Real eacute dizer como o peixe mais experiente
ldquoMas eacute precisamente no Oceano que vocecirc estaacute nadandordquo (MELLO 2003 p 22) A ousadia
de nomear eacute a mais radical tarefa que se apresenta ao fazer teoloacutegico discernir junto agravecomunidade que pergunta mesmo sem as palavras precisas ldquoPor favor por favorrdquo Disse
um peixe do mar a outro peixe ldquoVocecirc que deve ter mais experiecircncia talvez possa ajudar-
me Entatildeo me diga Onde posso encontrar a coisa imensa que chamam de Oceano
(MELLO 2003 p 22)
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Tendo feito portanto uma distinccedilatildeo preliminar entre experiecircncia religiosa e
experiecircncia teoloacutegica sobretudo no sentido de afirmar o proacuteprio da experiecircncia teoloacutegica
bem como a postura ou estrateacutegia discursiva que orienta toda nossa argumentaccedilatildeo eacute preciso
avanccedilar em nossa temaacutetica Para tanto nos propomos a fazer um percurso do universal
revelado no conceito de Sagrado (proacuteprio da fenomenologia da religiatildeo) ao particular desse
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Sagrado nomeado Deus pela teologia no interior da feacute cristatilde Para tanto daremos os
seguintes passos
983137) exposiccedilatildeo da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo
983138) o aacutepice da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo expressado na
encarnaccedilatildeo bem como a expressividade relacional que episoacutedio apical oferece agrave
teologia da revelaccedilatildeo
Antes poreacutem de entrarmos diretamente na discussatildeo sobre a centralidade da
experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo faz-se necessaacuterio mostrar a iacutentima relaccedilatildeo entre apresenccedila de Deus ndash jaacute nomeado no interior da teologia cristatilde ndash e experiecircncia como
expressatildeo de cognoscibilidade humana Relaccedilatildeo esta que se realiza de forma pujante na
poacutes-modernidade Para isso consideraremos algumas contribuiccedilotildees de Andreacutes Torres
Queiruga Conforme este teoacutelogo ldquode fato Deus estaacute presente em toda a realidade aberto agrave
experiecircncia religiosamente cognoscitiva do homemrdquo (QUEIRUGA 1995 p 148) Assim
AT Queiruga sintetiza a iacutentima relaccedilatildeo que haacute entre Deus e o humano Deus eacute presenccedila e
o ser humano como ser de abertura pode fazer experiecircncia de tal presenccedila Aliaacutes ndash e essa eacute
a tese de A T Queiruga ndash humano soacute seraacute pleno em sua humanidade no acolhimento da
revelaccedilatildeo da mesma forma que tal revelaccedilatildeo soacute pode ser justamente compreendida na
dinacircmica da realizaccedilatildeo plena do humano
A perspectiva esposada por Queiruga eacute ampla e profunda Sua amplitude consiste
em dizer que Deus eacute presenccedila em ldquotoda a realidaderdquo Sobre isso ele afirma ldquoO divino eacute
sempre experimentado como lsquotranscendecircncia ativarsquo que sai ndash por proacutepria iniciativa ndash ao
encontro do homem e por isso toda a religiatildeo se considera enfim reveladardquo
(QUEIRUGA 1995 p 149) Jaacute sua profundidade jaz na proposiccedilatildeo de que Deus ldquoestaacute
aberto agrave experiecircncia humanardquo Aqui haacute uma importante questatildeo a ser trabalhada a abertura
de Deus agrave profundidade experiencial do humano presente sobretudo na vivecircncia religiosa
deixou de ser conatural e espontacircnea em funccedilatildeo da ascensatildeo do movimento criacutetico da
reflexatildeo ao estado uacuteltimo da evoluccedilatildeo da cognoscibilidade humana Aprofundou-se desta
forma a distinccedilatildeo entre o Deus da filosofia e o Deus da religiatildeo O primeiro eacute ldquoanalisado ou
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deduzido como objeto do pensamento criacuteticordquo O Segundo eacute ldquovivenciado espontaneamente
como sujeito ativordquo (QUEIRUGA 1995 149 passim)
Do ponto vista filosoacutefico e teoloacutegico judaico Martin Buber reflete essa mesma
questatildeo da seguinte forma
A religiatildeo mesmo que o ldquoIncriadordquo natildeo seja expresso com a boca nem com aalma fundamenta-se na dualidade Eu-Tu a filosofia mesmo quando o atofilosoacutefico desemboca em uma visatildeo de unidade fundamenta-se na dualidadesujeito-objeto A dualidade Eu-Tu completa-se na relaccedilatildeo religiosa adualidade sujeito-objeto eacute o que sustenta a filosofia enquanto se faz filosofia[] Eu-Tu subsistem graccedilas agrave concretude vivida e dentro dessa concretudesujeito e objeto produtos da forccedila de abstraccedilatildeo soacute duram enquanto dura aabstraccedilatildeo (BUBER 2007 p 32)
Falar de experiecircncia com a presenccedila desvelada de Deus eacute falar pois em relaccedilatildeo ao
ldquoDeus da religiatildeordquo agrave relacionalidade e concretude do Eu-Tu Queiruga explicita claramente
esse assento no experiencial-relacional-concreto da relaccedilatildeo com a revelaccedilatildeo nos seguintes
termos ldquoEnquanto o homem experimenta ndash em si mesmo como natureza ou na histoacuteria ndash a
Deus como chegando a ele como manifestando-se a ele estaacute tendo a experiecircncia radical da
revelaccedilatildeordquo (QUEIRUGA 1995 p 149) Para AT Queiruga eacute preciso assumir que ldquoDeus
estaacute realmente presente em todos os homens e se revela a eles realmente [] revela-se a
eles sobretudo nas experiecircncias mediadas por suas tradiccedilotildees religiosasrdquo (QUEIRUGA
1995 p 150-151)
Implicitamente estamos argumentando sobre o transfundo da passagem criacutetica da
razatildeo instrumental moderna agrave racionalidade-relacionalidade (raciovitallismo) poacutes-moderna
Refletindo especificamente sobre tal passagem Torres Queiruga afirma a seguinte
compreensatildeo sobre a teologia
Nesse sentido natildeo concebo a teologia senatildeo como decididamente poacutes-
ilustrada O que natildeo eacute o mesmo (devo advertir porque algumas vezes fuiinterpretado nessa direccedilatildeo) que simplesmente ldquoilustradardquo Se prestarmosatenccedilatildeo eacute justamente o contraacuterio Porque ser poacutes significa que natildeo se poderetroceder nos desafios perguntas e perspectivas abertas pelo iluminismoporeacutem bem por isso impotildeem-se para noacutes seguir adiante sendo lucidamentecriacuteticos com as soluccedilotildees iniciais em grande parte prematuras e carregadas deuma polecircmica unilateralidade (QUEIRUGA 2003 p 22-23)
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Percebendo a ldquorevoluccedilatildeo epocalrdquo ou ldquomudanccedila de paradigmardquo que representa o poacutes
para a teologia logo depois de apreciar o pensamento de Gianni Vattimo como
representante de uma ldquoevoluccedilatildeo filosoacuteficardquo AT Queiruga afirma ldquoPara um pensamento
responsaacutevel tudo isso deveria significar antes de tudo e sobretudo uma soacute coisa a
necessidade ineludiacutevel de enfrentar lucidamente a nova situaccedilatildeo buscando um equiliacutebrio
atualizadordquo (QUEIRUGA 2003 p 23-25 passim) Como desdobramento ao necessaacuterio
enfrentamento dessa ldquonova situaccedilatildeordquo Queiruga trava um contato criacutetico com a poacutes-
modernidade e tece a seguinte consideraccedilatildeo
Existe uma [] valecircncia positiva que se encontra no fato de ter (a poacutes-modernidade) propiciado a percepccedilatildeo de novos valores No acircmbito doindividual suscitou ou ao menos ativou a revalorizaccedilatildeo do pequeno atoleracircncia para com o diferente a desobstruccedilatildeo do estabelecido o novoapreccedilo do corpo a revitalizaccedilatildeo da experiecircncia (QUEIRUGA 2003 p 112)
Tornando ainda mais especiacuteficas as suas consideraccedilotildees sobre a poacutes-modernidade em
sua relaccedilatildeo com a religiatildeo sobretudo no sentido de afirmar o primado da experiecircncia AT
Queiruga afirma que a ldquopoacutes-modernidade lsquoreligiosarsquo partindo desta abertura se difrata em
muacuteltiplas formas em busca de uma vivecircncia de fraternidade que abrace todo o real e leve a
uma experiecircncia atual do Absolutordquo (QUEIRUGA 2003 p116)
Enfrentando mais propriamente o primeiro passo da relaccedilatildeo experiecircnciateologia ndash
centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo ndash partiremos de uma discussatildeo de
teologia fundamental e experiecircncia no horizonte poacutes-moderno daremos o contorno da
experiecircncia em face da revelaccedilatildeo de Deus e como passagem ao segundo passo acima
enunciado ndash encarnaccedilatildeo como aacutepice da centralidade da experiecircncia para a teologia da
revelaccedilatildeo ndash trabalharemos a dimensatildeo holiacutestica e relacional tatildeo iacutentimas do diacutestico
experiecircnciarevelaccedilatildeoldquoA crise da razatildeo eacute a consciecircncia da irracionalidade gigantesca dessa mesma razatildeordquo
(LIBANIO 2003 p 163) Assim Joatildeo Batista Libanio introduz uma interessante reflexatildeo
sobre a Teologia Fundamental1 no contexto desafiante da poacutes-modernidade Foi no interior
1 JB Libanio jaacute havia escrito uma importante obra sobre Revelaccedilatildeo soacute que em franco diaacutelogo com amodernidade Cf LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992 Nesta obra o autor destina dois capiacutetulos para refletir sobre a relaccedilatildeo experiecircnciateologia pp195-248
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da proacutepria modernidade com sua tendecircncia agrave extrema especializaccedilatildeo que o conceito de
razatildeo forte comeccedilou a ruir No lugar de tal razatildeo forte surgiu um princiacutepio de
enfraquecimento da razatildeo que elevou a experiecircncia agrave condiccedilatildeo primordial em relaccedilatildeo
teologia da revelaccedilatildeo (Cf LIBANIO 2003 p 162-163)
Neste sentido JB Libanio afirma ldquoUm caminho viaacutevel sugere partir das
experiecircncias significativas das pessoas explicitando-as para elas mesmas E de dentro delas
mostrar como a revelaccedilatildeo vem responder concretamente a elasrdquo (LIBANIO 2003 p 165)
Diante disso a teologia se vecirc frente a uma tarefa inalienaacutevel ajudar homens e mulheres no
discernimento de suas experiecircncias contribuindo para a nomeaccedilatildeo e esclarecimento de um
universo plural de sinais feacuterteis da presenccedila de Deus
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A desafiante tarefa teoloacutegica consiste portanto em contribuir no processo de
discernimento das experiecircncias efetivamente feitas por homens e mulheres dentro de seus
mais variados lugares culturais Essa contribuiccedilatildeo contudo natildeo o seraacute em toda a sua
espessura se natildeo for realizada a partir de dentro mesmo dos mundos onde habitam esses eessas que satildeo os verdadeiros protagonistas da recepccedilatildeo da presenccedila divina JB Libanio
descreve as caracteriacutesticas desses lugares culturais poacutes-modernos onde a recepccedilatildeo da
presenccedila de Deus eacute experimentada
Tanto mais pertinente parece tal caminho quanto mais se percebe quecrescem nas pessoas o interesse a sensibilidade e gosto pelos siacutembolos pelossinais pela beleza e pela esteacutetica [] A beleza e a forccedila significativa dossinais tocam mais profundamente a geraccedilatildeo poacutes-moderna Uma teologia
fundamental para tal momento cultural requer agilidade mental em que aalusatildeo a insinuaccedilatildeo o jogo simboacutelico a beleza das reflexotildees superem umaracionalidade loacutegica cada vez mais inacessiacutevel (LIBANIO 2003 p 165)
A moldura epistemoloacutegica necessaacuteria para contornar esse cenaacuterio teoloacutegico e
existencial deve compor-se de uma sensibilidade adequada a tal cenaacuterio Urge portanto
uma superaccedilatildeo de molduras que tatildeo bem enquadraram cenaacuterios passados mas que agora soacute
fazem distorcer a percepccedilatildeo do horizonte novo que se apresenta Uma nova racionalidade
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que possibilite agrave teologia ler nas experiecircncias humanas experiecircncias de Deus JB Libanio
faz uma importante consideraccedilatildeo a esse respeito Ele afirma que ldquoquando poreacutem se entra
pelo campo dos siacutembolos da esteacutetica natildeo se renuncia agrave razatildeo mas trabalha-se com outra
dimensatildeo da racionalidade cujo acesso natildeo depende dos conhecimentos racionais
sofisticados e inacessiacuteveis e sim de outra fonterdquo (LIBANIO 2003 p 166)
O lugar onde a teologia eacute pensada e proposta sofre um radical deslocamento (Cf
LIBANIO 2003 p 169) Ela e seus processos satildeo deslocados para o interior das
comunidades onde natildeo interessam tanto formulaccedilotildees teoacutericas sobre a feacute mas antes
narrativas de experiecircncias da presenccedila de Deus veiculadas por sinais e siacutembolos proacuteprios de
tais universos Narrar as proacuteprias experiecircncias Esse eacute o processo catequeacutetico proacuteprio deuma racionalidade poacutes-moderna Cabe a teologia como ldquoirmatilde mais velhardquo contribuir a
partir do depoacutesito das muitas tradiccedilotildees no discernimento de tal dinacircmica catequeacutetica afim
de que esta seja consequumlente com a feacute cristatilde em suas muacuteltiplas expressotildees
Esse novo lugar que a teologia eacute convidada a habitar tem como atmosfera proacutepria a
experiecircncia Eacute a partir e de dentro dela que se quer ousar nomear a presenccedila do Real que a
todos envolve Na experiecircncia da presenccedila do Real assumimos o risco de chamaacute-lo Deus
Tal atitude se constitui num risco porque o desafio de nomear Deus pode degenerar na
tentativa de defini-lo incorrendo dessa forma na mais radical idolatria Acerca desse risco
Paul Tillich adverte ldquoDeusrdquo eacute siacutembolo para Deus Isso significa que precisamos distinguir
dois elementos em nossa concepccedilatildeo de Deus uma vez o elemento incondicional que se
manifesta na experiecircncia imediata e em si natildeo eacute simboacutelico e por outro lado o elemento
concreto que eacute obtido de nossa experiecircncia normal e eacute simbolicamente relacionado com
Deus [] ldquodeusrdquo eacute siacutembolo de Deus Nesse sentido Deus eacute o conteuacutedo proacuteprio e
universalmente vaacutelido da feacute (Cf TILLICH 2001 p 33-34)
Neste sentido precisar um pouco mais os contornos da experiecircncia em face agravenomeaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Real se faz necessaacuterio Uma vez que jaacute estabelecemos tanto uma
conceituaccedilatildeo filosoacutefica acerca da experiecircncia quanto uma descriccedilatildeo de sua importacircncia
para a percepccedilatildeo da presenccedila do Sagrado no escopo da fenomenologia da religiatildeo cabe-nos
ainda a tarefa de tracejar os contornos da experiecircncia no interior da teologia e daquilo que
lhe eacute proacuteprio Para tanto recorreremos a discussatildeo proposta por Gerald OrsquoCollins em sua
obra Teologia Fundamental especificamente no segundo capiacutetulo intitulado A
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experiecircncia humana2
G OrsquoCollins tratando da experiecircncia em si (cf 1991 p 54-55) estabelece um
conjunto de caracteriacutesticas proacuteprias em face agrave sua relaccedilatildeo com a teologia Em primeiro
lugar toda a experiecircncia tem um significado ou seja haacute uma comunicaccedilatildeo de sentido
agravequeles que fazem uma experiecircncia de Deus Essa primeira caracteriacutestica aponta para a
profundidade que tal evento produz na existecircncia humana Ao contraacuterio do que por vezes eacute
dito a experiecircncia natildeo eacute ldquoepideacutermicardquo ou ao menos natildeo o eacute somente Por se dar em iacutentimo
contato com nossa dimensatildeo empiacuterica ela natildeo estaacute fadada agrave fugacidade Haacute efetivamente
um sentido intriacutenseca e profundamente dado numa experiecircncia de Deus
Marcando a incidecircncia profunda e espessa que a experiecircncia gera na existecircnciahumana G OrsquoCollins salienta sua natildeo reduccedilatildeo ao exclusivamente efecircmero afirmando que
ldquopodemos esperar que o mundo e nossas experiecircncias faccedilam sentido contanto que natildeo
insistamos num sentido simples e imediatordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) Nesse sentido eacute
como se a experiecircncia humana de Deus ecoa-se desde o iacutentimo daquele que a faz
reverberando sua accedilatildeo e influxo para todas as dimensotildees da existecircncia humana O sentido
de tal experiecircncia vai se afirmando e sendo percebido agrave medida que em tais dimensotildees
dessa experiecircncia vai sendo reconhecida e acolhida
Esse processo de afirmaccedilatildeo de sentido que surge de experiecircncia de Deus feita nos
contornos da existecircncia humana tem uma teleologia G OrsquoCollins identifica tal finalidade
como a segunda caracteriacutestica da experiecircncia em sua relaccedilatildeo com a teologia Ele afirma que
ldquotoda experiecircncia traz consigo um certo propoacutesito ou finalidade Leva-nos em alguma
direccedilatildeordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) No escopo da teologia da revelaccedilatildeo a finalidade de
uma experiecircncia de Deus deve ser consequumlente com o proacuteprio revelado experimentado Ou
seja a teleologia deve encontrar consonacircncia com a teologia recebendo desta os elementos
para seu discernimento G OrsquoCollins exemplifica essa segunda caracteriacutestica da seguinteforma ldquoA experiecircncia do amor genuiacuteno torna-se enriquecedor do outro e pessoalmente
enriquecedorrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55)
Experimentar o amor eacute mover-se na dinacircmica do proacuteprio amor Isso daacute o peso e
concretude da experiecircncia ajudando a corrigir possiacuteveis reduccedilotildees fugazes e epideacutermicas G
OrsquoCollins identifica nessa dimensatildeo de concretude a terceira caracteriacutestica da experiecircncia
2 OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991 p 47-70
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ldquoA experiecircncia natildeo eacute nada se natildeo for concretardquo Sua espessura e historicidade evidenciam-
se exatamente aiacute Natildeo haacute espaccedilo para abstraccedilotildees ldquopurasrdquo para racionalizaccedilotildees aprioriacutesticas
ou recursos a formulaccedilotildees axiomaacuteticas fundadas sobre recursos metafiacutesicos Uma teologia
da revelaccedilatildeo nesse acento da experiecircncia natildeo pode ser pensada em geral porque ldquonatildeo
existem experiecircncias em geralrdquo ldquoUma experiecircncia de Deus [] soacute ocorre em momentos
particulares em lugares particulares e com pessoas particularesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p
56 passim)
Em quarto lugar G OrsquoCollins menciona como importante caracteriacutestica da
experiecircncia uma abertura ao novo ao ineacutedito ao natildeo ordinaacuterio Ele menciona como os
teoacutericos que tratam dessa temaacutetica utilizam o recurso da linguagem para expressar osurpreendente que se mostra numa experiecircncia Expressotildees como ldquoexperiecircncia-aacutepicerdquo
ldquosituaccedilotildees-limiterdquo ou ldquoexperiecircncia-limiterdquo revelam que ldquoa experiecircncia sugere prontamente
algo de novo ou inesperado que deixa a sua marca no sujeito e o abre para outras
experiecircncia no futurordquo Em suma conclui G OrsquoCollins ldquoA experiecircncia genuiacutena transcende
as nossas previsotildeesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 56 passim)
Outro autor que pode ajudar na compreensatildeo da importacircncia da experiecircncia em
relaccedilatildeo agrave teologia da revelaccedilatildeo eacute Raimon Panikkar especificamente em sua obra Iacutecones do
misteacuterio3 No acircmbito da reflexatildeo sobre o risco de nomear o Real chamando-o Deus
intrinsecamente presente no ato da experiecircncia R Panikkar (2007 p 75) comeccedila por
advertir que ldquotudo o que se possa dizer com estrita racionalidade da experiecircncia de Deus eacute
idolatriardquo A experiecircncia de Deus eacute um ato do ser humano portanto natildeo estaacute para a
compreensatildeo de uma uacutenica dimensatildeo deste mesmo sendo esta a proacutepria razatildeo Ela soacute pode
ser percebida em sua espessura se colocada para a integralidade do humano inclusive para
sua dimensatildeo misteacuterica
Eacute exatamente essa amplitude da espessura do Real que nomeamos tatildeoparticularmente de Deus que possibilita-nos ser inteiramente humanos A experiecircncia de
Deus reclama nossa humanidade inteira por isso somente diante dela podemos nos afirmar
como inteiramente humanos ldquoO ser humano chega a ser plenamente humano quando faz a
experiecircncia de seu uacuteltimo lsquofundamentorsquo do que realmente eacuterdquo (PANIKKAR 2007 p 76)
3 PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas 2007
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Por ser uma experiecircncia que reclama a inteireza do humano ela eacute constitutivamente
relacional De forma bastante clara R Panikkar afirma que
sem os laccedilos que nos unem com toda a realidade natildeo podemos terexperiecircncia de Deus [] A experiecircncia de Deus eacute a raiz de toda experiecircnciaEacute a experiecircncia em profundidade de todas e cada uma das experiecircnciashumanas do amigo da palavra da conversa Eacute a experiecircncia subjacente atoda experiecircncia humana dor beleza prazer bondade anguacutestia friosubjacente a toda experiecircncia no tanto que nos descobre uma dimensatildeo deinfinito natildeo-finito in-acabado Subjacente a toda experiecircncia e portantonatildeo suscetiacutevel a ser completamente expressa em qualquer ideacuteia sensaccedilatildeo ousentimento (PANIKKAR 2007 p 77-78)
Da experiecircncia de Deus surge entatildeo a possibilidade da experiecircncia plena dohumano Nela estaacute a fonte para a relacionalidade que eacute constitutiva do humano
humanizado Conforme o autor (2007 p 79) tal processo de humanizaccedilatildeo constitui
a experiecircncia de Deus que subjaz toda experiecircncia e pela qual nos fazemoshumanos nos faz conscientes de nossa contingecircncia torna-nos humildes ecapazes de compreender Por essa experiecircncia nos damos conta de queestamos dentro de algo que abarca tudo e somos conscientes de uma dupladimensatildeo de ausecircncia e presenccedila
Mesmo jaacute tendo delineado os contornos da experiecircncia de Deus em perspectivateoloacutegica fica restando ainda uma tarefa importante no processo de especificaccedilatildeo de nossa
temaacutetica Eacute preciso perguntar pelos criteacuterios que nos possam permitir identificar com
alguma clareza as diferenccedilas entre experiecircncia teoloacutegica das demais formas de experiecircncia
do Sagrado4 Para isso eacute preciso explicitar o que ateacute aqui esteve impliacutecito ao longo de toda
exposiccedilatildeo deste toacutepico falamos de experiecircncia teoloacutegica cristatilde
O ponto apical da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo em
perspectiva cristatilde se expressa na encarnaccedilatildeo Nela a experiecircncia de Deus ganha suainalienaacutevel topografia a concretude da existecircncia de homens e mulheres situados em seus
muacuteltiplos e respectivos contextos E ainda tal experiecircncia encontra sua irredutiacutevel
expressividade relacional que em uacuteltima anaacutelise eacute quem a qualifica como experiecircncia de
4 H C de Lima Vaz faz uma importante distinccedilatildeo entre experiecircncia religiosa (experiecircncia do Sagrado) eexperiecircncia de Deus (experiecircncia de Sentido) Haacute claramente um corte uma delimitaccedilatildeo que faz daexperiecircncia de Deus uma experiecircncia com certa especificidade Cf VAZ Henrique C de Lima Escritos defilosofia Problemas de fronteira Satildeo Paulo Loyola 1986 p 248-253
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Deus (assumindo tal nomeaccedilatildeo a partir do que nos foi dado a conhecer pela vida de Jesus
de Nazareacute compreendido teologicamente como o Cristo conforme o fazem os evangelhos)
A experiecircncia cristatilde de Deus eacute tanto uma experiecircncia da encarnaccedilatildeo quanto de
encarnaccedilatildeo Isso eacute o que nos pode revelar a vida de Jesus o Cristo Sendo ele o proacuteprio
Deus encarnado vive numa condiccedilatildeo radicalmente marcada por tal encarnaccedilatildeo quer do
ponto de vista geograacutefico quer do ponto religioso cultural ou existencial Deus
encarnando-se se auto-delimita e delimita a nos apresentando o modus operandi para a
articulaccedilatildeo teoloacutegica da experiecircncia cristatilde de Deus a loacutegica da encarnaccedilatildeo Aqui se
encontra o coraccedilatildeo do Misteacuterio feito histoacuteria e a pedagogia para viver tal histoacuteria como
uacutenica e soacute histoacuteria Refletindo sobre tal especificidade da experiecircncia cristatilde de Deus L Boffafirma que
No cristianismo articulou-se a experiecircncia do Misteacuterio como histoacuteria doMisteacuterio O Sentido natildeo ficou di-fuso pro-fuso e con-fuso dentro darealidade Ele armou tenda entre noacutes e se chamou Jesus Cristo (cf Jo 114) OMisteacuterio eacute tatildeo radicalmente Misteacuterio que pode sem perder sua identidadefazer-se carne e histoacuteria Ele pode subsistir totalmente num Outro diferentedele Se assim natildeo fora natildeo mostraria sua onipotecircncia nem seu caraacuteter deMisteacuterio Entatildeo sendo vida ele pode morrer Fazendo-se morte ele podeviver Ele pode sendo impalpaacutevel fazer-se impalpaacutevel sendo invisiacutevel
fazer-se visiacutevel sendo Criador fazer-se criatura (BOFF 2002 p 106)
Essa natildeo ldquodi-fusatildeo pro-fusatildeo e con-fusatildeordquo do Misteacuterio presente em meio a noacutes se
realiza por que haacute uma existecircncia concreta que abriga tal Misteacuterio A encarnaccedilatildeo confere os
contornos a concretude da presenccedila de Deus E eacute exatamente isso que nos permite nomeaacute-
lo Se nos eacute possiacutevel falar de Deus em perspectiva cristatilde soacute podemos fazecirc-lo de forma
criacutestica Isso significa dizer que ldquoa experiecircncia cristatilde de Deus eacute uma experiecircncia da
presenccedila do Sentido radical numa existecircncia historicamente dada a existecircncia de Jesus e na
palavra da revelaccedilatildeo que eacute totalmente condicionada por essa existecircncia histoacuterica na medida
em que dela procede e a ela se refererdquo (VAZ 1986 p 253)
Da dimensatildeo de concretude legada agrave experiecircncia cristatilde de Deus surge como ldquooutra
face da moedardquo a dimensatildeo relacional Se com a primeira a experiecircncia cristatilde de Deus
ganha seu contorno com a segunda ela ganha sua profundidade Natildeo eacute possiacutevel conceber a
presenccedila de Deus em Jesus o Cristo sem que se afirme a loacutegica relacional ou
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intersubjetiva A teologia cristatilde quando se propotildee nomear o Real a partir de Jesus natildeo pode
sob pena de perder completamente decair num esquema racionalista de sujeitoobjeto Se
fizer isso a teologia trataraacute a revelaccedilatildeo somente como pauta doutrinaacuteria devendo ser
acessada exclusivamente pelas normas da razatildeo tanto nas metodologia especulativas
quanto nas apologeacuteticas Ambas poreacutem subjugadas ao mesmo princiacutepio de uma razatildeo
estreita Nesse caso o Real nomeado Deus natildeo eacute mais que um objeto descritiacutevel
Falando acerca de uma teologia cristatilde da revelaccedilatildeo como encontro entre sujeitos
Roger Haight (cf 2004 p 89-107) apresenta importantes consideraccedilotildees sobre a dimensatildeo
relacional de tal evento Ele afirma ldquoNatildeo se trata de uma operaccedilatildeo dedutiva que argumenta
com base na personalidade de Deus e sim de uma fenomenologia da experiecircncia darevelaccedilatildeo cristatilde que responde pela crenccedila segundo a qual Deus eacute pessoalrdquo (HAIGHT
2004 p 94) A encarnaccedilatildeo natildeo permite menos que isso ela eacute a radicalizaccedilatildeo da
pessoalidade de Deus Neste sentido ldquoa revelaccedilatildeo cristatilde natildeo se afigura como conhecimento
a respeito de Deus como de um objeto nem mesmo como conhecimento de uma pessoa
transcendente A revelaccedilatildeo cristatilde assume antes a forma de um encontro pessoal com um
sujeito divinordquo (HAIGHT 2004 p 94)
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A encarnaccedilatildeo reclama a relaccedilatildeo e esta por sua vez afirma a experiecircncia como
expressatildeo privilegiada O Real nomeado corajosamente pela teologia cristatilde como Deus em
sua plena revelaccedilatildeo que eacute Jesus o Cristo natildeo permite agrave teologia menos que comunicaccedilatildeo
intersubjetiva Deus natildeo estaacute para a teologia como um conceito a ser apreendido antes
como um sujeito que a desafia a uma relaccedilatildeo ldquoDeus eacute experimentado como sujeito de tal
sorte que o contato ou percepccedilatildeo humana de Deus natildeo pode ser um conhecimento acerca de
Deus como de um objetordquo ldquoNa revelaccedilatildeo cristatilde Deus eacute experimentado como eu pessoalrdquo
(HAIGHT 2004 p 95 passim)
Em termos da teologia cristatilde falar sobre experiecircncia de Deus eacute assumir os riscos de
nomeaacute-lo e isso constitui-se numa urgente compreensatildeo responsaacutevel e ampliada da
teologia da revelaccedilatildeo Tratar esta uacuteltima sem atentar para os criteacuterios criacutesticos colocados
pela encarnaccedilatildeo e a relacionalidade dela derivada significa cair na armadilha de tal
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nomeaccedilatildeo objetivaccedilatildeo do Real e consequente idolatria Falar de Deus a partir da
perspectiva cristatilde precisa ser sempre um falar situado como exige a encarnaccedilatildeo e
intersubjetivo como propotildee a radical pessoalidade do encarnado Nas palavras de R Haight
(2004 p 97) ldquoo conteuacutedo positivo da revelaccedilatildeo portanto eacute influenciado e determinado
pelo meio que medeia a experiecircncia da presenccedila e da iniciativa de Deus No caso da
revelaccedilatildeo cristatilde Jesus eacute seu meio histoacuterico centralrdquo
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BOFF Leonardo Experimentar Deus A transparecircncia de todas as coisas 3 edPetroacutepolis Vozes 2002
BUBER Martin O Eclipse de Deus Consideraccedilotildees sobre a relaccedilatildeo entre religiatildeo efilosofia Campinas Verus 2007
HAIGHT Roger Dinacircmica da teologia Satildeo Paulo Paulinas 2004
LIBANIO Joatildeo Batista Desafios da poacutes-modernidade agrave Teologia Fundamental InTRASFERETTI Joseacute GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992
MELLO Anthony O canto do paacutessaro Contemplar a Deus em todas as coisas e todas ascoisas em Deus 11 ed Satildeo Paulo Loyola 2003
MESLIN Michel A Experiecircncia Humana do Divino Fundamentos de uma antropologiareligiosa Petroacutepolis Vozes 1992
OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991
PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas2007
QUEIRUGA Andreacutes Torres Fim do cristianismo preacute-moderno Satildeo Paulo Paulus 2003
QUEIRUGA Andreacutes Torres A revelaccedilatildeo de Deus na realizaccedilatildeo humana Satildeo PauloPaulus 1995
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RICOEUR Paul Entre filosofia e teologia II nomear Deus In RICOEUR Paul Leituras3 Nas fronteiras da filosofia Satildeo Paulo Loyola 1996
RICOEUR Paul A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006
TILLICH Paul Dinacircmica da feacute 6 ed Satildeo Leopoldo Sinodal 2001
TRASFERETTI Joseacute amp GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
VAZ Henrique C de Lima Escritos de filosofia Problemas de fronteira Satildeo PauloLoyola 1986
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ldquoPor favor por favorrdquoDisse um peixe do mar a um outro peixe
ldquoVocecirc que deve ter mais experiecircncia
talvez possa ajudar-me Entatildeo me digaOnde posso encontrar a coisa imensaque chamam de Oceano Em toda a parte
eu o venho buscando sem sucessordquo
ldquoMas eacute precisamente no Oceanoque vocecirc estaacute nadandordquo disse o outro
ldquoOh isto Mas eacute pura e simplesmente aacuteguardquoDisse o peixe mais jovem ldquoeu procuro
eacute o grande Oceanordquo E laacute se foi nadandomuito desapontado a buscar noutra parte
(Anthony Mello)
983089 983113983150983156983154983151983140983157983271983267983151
Ao iniciarmos esta reflexatildeo sobre a experiecircncia nos limites da teologia faz-se
necessaacuterio precisar o que distingue a experiecircncia religiosa propriamente da experiecircncia
teoloacutegica Essa tarefa tem como propoacutesito central circunscrever aquilo que seria proacuteprio da
teologia Com isso estaacute-se dizendo que haacute uma tarefa especiacutefica que cabe inalienavelmente
agrave teologia
De forma sinteacutetica afirmamos a diferenccedila entre experiecircncia religiosa e experiecircncia
teoloacutegica eacute que esta ousa nomear o Sagrado e sua presenccedila chamando-o ldquoDeusrdquo
Essa eacute portanto uma diferenccedila substantiva A experiecircncia teoloacutegica parte do dado
colocado pela experiecircncia religiosa ldquohaacute uma presenccedila a ser experimentadardquo Contudo
natildeo para nesse dado nomeia-o mesmo que para isso tenha que ousar dizer o indiziacutevel
Ousar portanto significa que a teologia tenta nomear o inominaacutevel e o faz da uacutenica forma
possiacutevel no recurso dialeacutetico da linguagem da mediaccedilatildeo cultural
983090 983120983151983155983156983157983154983137983155 983140983141 983137983152983154983151983160983145983149983137983271983267983151 983137983151 983140983141983155983137983142983145983151 983140983141 983150983151983149983141983137983154 983108983141983157983155
A teologia ou mais especificamente o teoacutelogo eacute aquele que diante de uma presenccedila
que o interpela ousa perguntar-lhe por seu nome (cf Ecircxodo 313-15) tanto para qualificar
sua experiecircncia quanto para comunicaacute-la (Cf RICOEUR 1996 p 195) De tal ousadia
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derivam duas posturas ou estrateacutegias discursivas que determinam a proacutepria concepccedilatildeo que a
teologia teraacute de sua tarefa Por um lado pode surgir uma postura conceitual-uniacutevoca que a
partir de procedimentos especulativos arrogue para si a condiccedilatildeo de qualificar
univocamente a experiecircncia que tem da presenccedila do Sagrado Desta forma aconteceria uma
identificaccedilatildeo da experiecircncia da presenccedila com a proacutepria presenccedila A nomeaccedilatildeo dessa
presenccedila passaria a corresponder exatamente a esta em toda a sua densidade
Outra postura possiacutevel diante da emergecircncia da experiecircncia de tal presenccedila eacute a
simboacutelico-polifocircnica A teologia e o proacuteprio teoacutelogo sabem-se diante do misteacuterio
desvelado ousam nomeaacute-lo natildeo obstante reconhecem que essa eacute uma tarefa que se faz
sempre de forma inacabada fraacutegil aberta Ou seja sem sandaacutelias nos peacutes (Cf Ecircxodo 35)Nesse caso tanto a experiecircncia em si quanto sua comunicaccedilatildeo satildeo carregadas da
consciecircncia de assimetria que haacute entre a presenccedila e a possiacutevel experiecircncia com ela Se a
postura conceitual eacute geradora de univocidade discursiva a postura simboacutelica eacute francamente
aberta agrave expressividade polifocircnica
Atento para as discussotildees sobre posturas e estrateacutegias discursivas no processo de
nomeaccedilatildeo das experiecircncias teoloacutegicas judaico-cristatildes originaacuterias Paul Ricoeur em seu
artigo ldquo Entre filosofia e teologia II nomear Deusrdquo faz a seguinte observaccedilatildeo
A nominaccedilatildeo de Deus nas expressotildees originaacuterias da feacute natildeo eacute simples masmuacuteltipla Ou antes ela natildeo eacute monocoacuterdia mas polifocircnica As expressotildeesoriginaacuterias da feacute satildeo formas complexas de discurso satildeo tatildeo diversas quantonarraccedilotildees profecias legislaccedilotildees proveacuterbios preces hinos formulaslituacutergicas escritos sapienciais Essas formas de discurso nomeiam Deus todas
juntas Mas elas o nomeiam diversamente (RICOEUR 1996 p 190)
Nomear Deus a partir de uma postura discursiva simboacutelico-polifocircnica constitui
antes de tudo voltar-se agrave experiecircncia mesma da presenccedila de Deus natildeo tanto agraves palavras
fixadas que decorrem de tal experiecircncia Paul Ricoeur afirma acerca desta questatildeo que ldquoeacute
preciso dizer que nomear Deus eacute em primeiro lugar um momento de confissatildeo narrativa Eacute
na lsquocoisarsquo contada que Deus eacute nomeado Isso contra certa ecircnfase das teologias da palavra
que observam apenas acontecimentos de palavrardquo (RICOEUR 1996 p 191)
Contornando ainda mais a precedecircncia da experiecircncia no processo de nomeaccedilatildeo de Deus
Ricoeur afirma
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Um texto eacute primordialmente um anel em uma corrente comunicativa emprimeiro lugar uma experiecircncia de vida eacute levada agrave linguagem torna-sediscurso depois o discurso se diferencia em fala e em escrita [] a escritapor sua vez eacute restituiacuteda agrave fala viva por meio dos diversos atos do discursoque reatualizam o texto A leitura e a pregaccedilatildeo satildeo atualizaccedilotildees desse tipo nafala da escrita Um texto eacute sob esse ponto de vista como uma partituramusical que pede para ser executada (alguns criacuteticos reagindo contra oexcesso do texto em si chegam ateacute mesmo a dizer que eacute o ldquoleitor no textordquoque completa o seu sentido por exemplo ao completar as suas lacunasresolvendo as suas ambiguumlidades ateacute mesmo corrigindo a sua ordemnarrativa ou argumentativa) (RICOEUR 1996 p 184)
A primazia do voltar-se agrave experiecircncia de Deus no processo ousado de nomeaacute-lo
reforccedila a postura discursiva teoloacutegica simboacutelico-polifocircnica em seu estado de inacabamento
e abertura Mais uma vez Ricoeur (1996 p195) observa que ldquoO referente lsquoDeusrsquo natildeo eacute
apenas o indicador do pertencimento muacutetuo das formas originaacuterias do discurso da feacute ele
tambeacutem eacute o seu inacabamento Ele eacute a sua visada comum e o que escapa a cada uma delasrdquo
Como na epiacutegrafe de Anthony de Mello o proacuteprio da tarefa teoloacutegica frente a
possiacutevel experiecircncia da desvelada presenccedila do Real eacute dizer como o peixe mais experiente
ldquoMas eacute precisamente no Oceano que vocecirc estaacute nadandordquo (MELLO 2003 p 22) A ousadia
de nomear eacute a mais radical tarefa que se apresenta ao fazer teoloacutegico discernir junto agravecomunidade que pergunta mesmo sem as palavras precisas ldquoPor favor por favorrdquo Disse
um peixe do mar a outro peixe ldquoVocecirc que deve ter mais experiecircncia talvez possa ajudar-
me Entatildeo me diga Onde posso encontrar a coisa imensa que chamam de Oceano
(MELLO 2003 p 22)
983091 983105 983141983160983152983141983154983145983274983150983139983145983137 983139983151983149983151 983148983151983139983157983155 983156983144983141983151983148983151983143983145983139983151 983140983137 983150983151983149983141983137983271983267983151 983140983141 983108983141983157983155
Tendo feito portanto uma distinccedilatildeo preliminar entre experiecircncia religiosa e
experiecircncia teoloacutegica sobretudo no sentido de afirmar o proacuteprio da experiecircncia teoloacutegica
bem como a postura ou estrateacutegia discursiva que orienta toda nossa argumentaccedilatildeo eacute preciso
avanccedilar em nossa temaacutetica Para tanto nos propomos a fazer um percurso do universal
revelado no conceito de Sagrado (proacuteprio da fenomenologia da religiatildeo) ao particular desse
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Sagrado nomeado Deus pela teologia no interior da feacute cristatilde Para tanto daremos os
seguintes passos
983137) exposiccedilatildeo da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo
983138) o aacutepice da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo expressado na
encarnaccedilatildeo bem como a expressividade relacional que episoacutedio apical oferece agrave
teologia da revelaccedilatildeo
Antes poreacutem de entrarmos diretamente na discussatildeo sobre a centralidade da
experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo faz-se necessaacuterio mostrar a iacutentima relaccedilatildeo entre apresenccedila de Deus ndash jaacute nomeado no interior da teologia cristatilde ndash e experiecircncia como
expressatildeo de cognoscibilidade humana Relaccedilatildeo esta que se realiza de forma pujante na
poacutes-modernidade Para isso consideraremos algumas contribuiccedilotildees de Andreacutes Torres
Queiruga Conforme este teoacutelogo ldquode fato Deus estaacute presente em toda a realidade aberto agrave
experiecircncia religiosamente cognoscitiva do homemrdquo (QUEIRUGA 1995 p 148) Assim
AT Queiruga sintetiza a iacutentima relaccedilatildeo que haacute entre Deus e o humano Deus eacute presenccedila e
o ser humano como ser de abertura pode fazer experiecircncia de tal presenccedila Aliaacutes ndash e essa eacute
a tese de A T Queiruga ndash humano soacute seraacute pleno em sua humanidade no acolhimento da
revelaccedilatildeo da mesma forma que tal revelaccedilatildeo soacute pode ser justamente compreendida na
dinacircmica da realizaccedilatildeo plena do humano
A perspectiva esposada por Queiruga eacute ampla e profunda Sua amplitude consiste
em dizer que Deus eacute presenccedila em ldquotoda a realidaderdquo Sobre isso ele afirma ldquoO divino eacute
sempre experimentado como lsquotranscendecircncia ativarsquo que sai ndash por proacutepria iniciativa ndash ao
encontro do homem e por isso toda a religiatildeo se considera enfim reveladardquo
(QUEIRUGA 1995 p 149) Jaacute sua profundidade jaz na proposiccedilatildeo de que Deus ldquoestaacute
aberto agrave experiecircncia humanardquo Aqui haacute uma importante questatildeo a ser trabalhada a abertura
de Deus agrave profundidade experiencial do humano presente sobretudo na vivecircncia religiosa
deixou de ser conatural e espontacircnea em funccedilatildeo da ascensatildeo do movimento criacutetico da
reflexatildeo ao estado uacuteltimo da evoluccedilatildeo da cognoscibilidade humana Aprofundou-se desta
forma a distinccedilatildeo entre o Deus da filosofia e o Deus da religiatildeo O primeiro eacute ldquoanalisado ou
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deduzido como objeto do pensamento criacuteticordquo O Segundo eacute ldquovivenciado espontaneamente
como sujeito ativordquo (QUEIRUGA 1995 149 passim)
Do ponto vista filosoacutefico e teoloacutegico judaico Martin Buber reflete essa mesma
questatildeo da seguinte forma
A religiatildeo mesmo que o ldquoIncriadordquo natildeo seja expresso com a boca nem com aalma fundamenta-se na dualidade Eu-Tu a filosofia mesmo quando o atofilosoacutefico desemboca em uma visatildeo de unidade fundamenta-se na dualidadesujeito-objeto A dualidade Eu-Tu completa-se na relaccedilatildeo religiosa adualidade sujeito-objeto eacute o que sustenta a filosofia enquanto se faz filosofia[] Eu-Tu subsistem graccedilas agrave concretude vivida e dentro dessa concretudesujeito e objeto produtos da forccedila de abstraccedilatildeo soacute duram enquanto dura aabstraccedilatildeo (BUBER 2007 p 32)
Falar de experiecircncia com a presenccedila desvelada de Deus eacute falar pois em relaccedilatildeo ao
ldquoDeus da religiatildeordquo agrave relacionalidade e concretude do Eu-Tu Queiruga explicita claramente
esse assento no experiencial-relacional-concreto da relaccedilatildeo com a revelaccedilatildeo nos seguintes
termos ldquoEnquanto o homem experimenta ndash em si mesmo como natureza ou na histoacuteria ndash a
Deus como chegando a ele como manifestando-se a ele estaacute tendo a experiecircncia radical da
revelaccedilatildeordquo (QUEIRUGA 1995 p 149) Para AT Queiruga eacute preciso assumir que ldquoDeus
estaacute realmente presente em todos os homens e se revela a eles realmente [] revela-se a
eles sobretudo nas experiecircncias mediadas por suas tradiccedilotildees religiosasrdquo (QUEIRUGA
1995 p 150-151)
Implicitamente estamos argumentando sobre o transfundo da passagem criacutetica da
razatildeo instrumental moderna agrave racionalidade-relacionalidade (raciovitallismo) poacutes-moderna
Refletindo especificamente sobre tal passagem Torres Queiruga afirma a seguinte
compreensatildeo sobre a teologia
Nesse sentido natildeo concebo a teologia senatildeo como decididamente poacutes-
ilustrada O que natildeo eacute o mesmo (devo advertir porque algumas vezes fuiinterpretado nessa direccedilatildeo) que simplesmente ldquoilustradardquo Se prestarmosatenccedilatildeo eacute justamente o contraacuterio Porque ser poacutes significa que natildeo se poderetroceder nos desafios perguntas e perspectivas abertas pelo iluminismoporeacutem bem por isso impotildeem-se para noacutes seguir adiante sendo lucidamentecriacuteticos com as soluccedilotildees iniciais em grande parte prematuras e carregadas deuma polecircmica unilateralidade (QUEIRUGA 2003 p 22-23)
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Percebendo a ldquorevoluccedilatildeo epocalrdquo ou ldquomudanccedila de paradigmardquo que representa o poacutes
para a teologia logo depois de apreciar o pensamento de Gianni Vattimo como
representante de uma ldquoevoluccedilatildeo filosoacuteficardquo AT Queiruga afirma ldquoPara um pensamento
responsaacutevel tudo isso deveria significar antes de tudo e sobretudo uma soacute coisa a
necessidade ineludiacutevel de enfrentar lucidamente a nova situaccedilatildeo buscando um equiliacutebrio
atualizadordquo (QUEIRUGA 2003 p 23-25 passim) Como desdobramento ao necessaacuterio
enfrentamento dessa ldquonova situaccedilatildeordquo Queiruga trava um contato criacutetico com a poacutes-
modernidade e tece a seguinte consideraccedilatildeo
Existe uma [] valecircncia positiva que se encontra no fato de ter (a poacutes-modernidade) propiciado a percepccedilatildeo de novos valores No acircmbito doindividual suscitou ou ao menos ativou a revalorizaccedilatildeo do pequeno atoleracircncia para com o diferente a desobstruccedilatildeo do estabelecido o novoapreccedilo do corpo a revitalizaccedilatildeo da experiecircncia (QUEIRUGA 2003 p 112)
Tornando ainda mais especiacuteficas as suas consideraccedilotildees sobre a poacutes-modernidade em
sua relaccedilatildeo com a religiatildeo sobretudo no sentido de afirmar o primado da experiecircncia AT
Queiruga afirma que a ldquopoacutes-modernidade lsquoreligiosarsquo partindo desta abertura se difrata em
muacuteltiplas formas em busca de uma vivecircncia de fraternidade que abrace todo o real e leve a
uma experiecircncia atual do Absolutordquo (QUEIRUGA 2003 p116)
Enfrentando mais propriamente o primeiro passo da relaccedilatildeo experiecircnciateologia ndash
centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo ndash partiremos de uma discussatildeo de
teologia fundamental e experiecircncia no horizonte poacutes-moderno daremos o contorno da
experiecircncia em face da revelaccedilatildeo de Deus e como passagem ao segundo passo acima
enunciado ndash encarnaccedilatildeo como aacutepice da centralidade da experiecircncia para a teologia da
revelaccedilatildeo ndash trabalharemos a dimensatildeo holiacutestica e relacional tatildeo iacutentimas do diacutestico
experiecircnciarevelaccedilatildeoldquoA crise da razatildeo eacute a consciecircncia da irracionalidade gigantesca dessa mesma razatildeordquo
(LIBANIO 2003 p 163) Assim Joatildeo Batista Libanio introduz uma interessante reflexatildeo
sobre a Teologia Fundamental1 no contexto desafiante da poacutes-modernidade Foi no interior
1 JB Libanio jaacute havia escrito uma importante obra sobre Revelaccedilatildeo soacute que em franco diaacutelogo com amodernidade Cf LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992 Nesta obra o autor destina dois capiacutetulos para refletir sobre a relaccedilatildeo experiecircnciateologia pp195-248
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da proacutepria modernidade com sua tendecircncia agrave extrema especializaccedilatildeo que o conceito de
razatildeo forte comeccedilou a ruir No lugar de tal razatildeo forte surgiu um princiacutepio de
enfraquecimento da razatildeo que elevou a experiecircncia agrave condiccedilatildeo primordial em relaccedilatildeo
teologia da revelaccedilatildeo (Cf LIBANIO 2003 p 162-163)
Neste sentido JB Libanio afirma ldquoUm caminho viaacutevel sugere partir das
experiecircncias significativas das pessoas explicitando-as para elas mesmas E de dentro delas
mostrar como a revelaccedilatildeo vem responder concretamente a elasrdquo (LIBANIO 2003 p 165)
Diante disso a teologia se vecirc frente a uma tarefa inalienaacutevel ajudar homens e mulheres no
discernimento de suas experiecircncias contribuindo para a nomeaccedilatildeo e esclarecimento de um
universo plural de sinais feacuterteis da presenccedila de Deus
983092 983108983137 983156983157983156983141983148983137 983137983151 983140983145983155983139983141983154983150983145983149983141983150983156983151983098 983140983141983155983148983151983139983137983149983141983150983156983151983155 983140983141 983152983137983152983141983145983155 983140983137 983156983141983151983148983151983143983145983137 983142983154983141983150983156983141 983137983151
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A desafiante tarefa teoloacutegica consiste portanto em contribuir no processo de
discernimento das experiecircncias efetivamente feitas por homens e mulheres dentro de seus
mais variados lugares culturais Essa contribuiccedilatildeo contudo natildeo o seraacute em toda a sua
espessura se natildeo for realizada a partir de dentro mesmo dos mundos onde habitam esses eessas que satildeo os verdadeiros protagonistas da recepccedilatildeo da presenccedila divina JB Libanio
descreve as caracteriacutesticas desses lugares culturais poacutes-modernos onde a recepccedilatildeo da
presenccedila de Deus eacute experimentada
Tanto mais pertinente parece tal caminho quanto mais se percebe quecrescem nas pessoas o interesse a sensibilidade e gosto pelos siacutembolos pelossinais pela beleza e pela esteacutetica [] A beleza e a forccedila significativa dossinais tocam mais profundamente a geraccedilatildeo poacutes-moderna Uma teologia
fundamental para tal momento cultural requer agilidade mental em que aalusatildeo a insinuaccedilatildeo o jogo simboacutelico a beleza das reflexotildees superem umaracionalidade loacutegica cada vez mais inacessiacutevel (LIBANIO 2003 p 165)
A moldura epistemoloacutegica necessaacuteria para contornar esse cenaacuterio teoloacutegico e
existencial deve compor-se de uma sensibilidade adequada a tal cenaacuterio Urge portanto
uma superaccedilatildeo de molduras que tatildeo bem enquadraram cenaacuterios passados mas que agora soacute
fazem distorcer a percepccedilatildeo do horizonte novo que se apresenta Uma nova racionalidade
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que possibilite agrave teologia ler nas experiecircncias humanas experiecircncias de Deus JB Libanio
faz uma importante consideraccedilatildeo a esse respeito Ele afirma que ldquoquando poreacutem se entra
pelo campo dos siacutembolos da esteacutetica natildeo se renuncia agrave razatildeo mas trabalha-se com outra
dimensatildeo da racionalidade cujo acesso natildeo depende dos conhecimentos racionais
sofisticados e inacessiacuteveis e sim de outra fonterdquo (LIBANIO 2003 p 166)
O lugar onde a teologia eacute pensada e proposta sofre um radical deslocamento (Cf
LIBANIO 2003 p 169) Ela e seus processos satildeo deslocados para o interior das
comunidades onde natildeo interessam tanto formulaccedilotildees teoacutericas sobre a feacute mas antes
narrativas de experiecircncias da presenccedila de Deus veiculadas por sinais e siacutembolos proacuteprios de
tais universos Narrar as proacuteprias experiecircncias Esse eacute o processo catequeacutetico proacuteprio deuma racionalidade poacutes-moderna Cabe a teologia como ldquoirmatilde mais velhardquo contribuir a
partir do depoacutesito das muitas tradiccedilotildees no discernimento de tal dinacircmica catequeacutetica afim
de que esta seja consequumlente com a feacute cristatilde em suas muacuteltiplas expressotildees
Esse novo lugar que a teologia eacute convidada a habitar tem como atmosfera proacutepria a
experiecircncia Eacute a partir e de dentro dela que se quer ousar nomear a presenccedila do Real que a
todos envolve Na experiecircncia da presenccedila do Real assumimos o risco de chamaacute-lo Deus
Tal atitude se constitui num risco porque o desafio de nomear Deus pode degenerar na
tentativa de defini-lo incorrendo dessa forma na mais radical idolatria Acerca desse risco
Paul Tillich adverte ldquoDeusrdquo eacute siacutembolo para Deus Isso significa que precisamos distinguir
dois elementos em nossa concepccedilatildeo de Deus uma vez o elemento incondicional que se
manifesta na experiecircncia imediata e em si natildeo eacute simboacutelico e por outro lado o elemento
concreto que eacute obtido de nossa experiecircncia normal e eacute simbolicamente relacionado com
Deus [] ldquodeusrdquo eacute siacutembolo de Deus Nesse sentido Deus eacute o conteuacutedo proacuteprio e
universalmente vaacutelido da feacute (Cf TILLICH 2001 p 33-34)
Neste sentido precisar um pouco mais os contornos da experiecircncia em face agravenomeaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Real se faz necessaacuterio Uma vez que jaacute estabelecemos tanto uma
conceituaccedilatildeo filosoacutefica acerca da experiecircncia quanto uma descriccedilatildeo de sua importacircncia
para a percepccedilatildeo da presenccedila do Sagrado no escopo da fenomenologia da religiatildeo cabe-nos
ainda a tarefa de tracejar os contornos da experiecircncia no interior da teologia e daquilo que
lhe eacute proacuteprio Para tanto recorreremos a discussatildeo proposta por Gerald OrsquoCollins em sua
obra Teologia Fundamental especificamente no segundo capiacutetulo intitulado A
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experiecircncia humana2
G OrsquoCollins tratando da experiecircncia em si (cf 1991 p 54-55) estabelece um
conjunto de caracteriacutesticas proacuteprias em face agrave sua relaccedilatildeo com a teologia Em primeiro
lugar toda a experiecircncia tem um significado ou seja haacute uma comunicaccedilatildeo de sentido
agravequeles que fazem uma experiecircncia de Deus Essa primeira caracteriacutestica aponta para a
profundidade que tal evento produz na existecircncia humana Ao contraacuterio do que por vezes eacute
dito a experiecircncia natildeo eacute ldquoepideacutermicardquo ou ao menos natildeo o eacute somente Por se dar em iacutentimo
contato com nossa dimensatildeo empiacuterica ela natildeo estaacute fadada agrave fugacidade Haacute efetivamente
um sentido intriacutenseca e profundamente dado numa experiecircncia de Deus
Marcando a incidecircncia profunda e espessa que a experiecircncia gera na existecircnciahumana G OrsquoCollins salienta sua natildeo reduccedilatildeo ao exclusivamente efecircmero afirmando que
ldquopodemos esperar que o mundo e nossas experiecircncias faccedilam sentido contanto que natildeo
insistamos num sentido simples e imediatordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) Nesse sentido eacute
como se a experiecircncia humana de Deus ecoa-se desde o iacutentimo daquele que a faz
reverberando sua accedilatildeo e influxo para todas as dimensotildees da existecircncia humana O sentido
de tal experiecircncia vai se afirmando e sendo percebido agrave medida que em tais dimensotildees
dessa experiecircncia vai sendo reconhecida e acolhida
Esse processo de afirmaccedilatildeo de sentido que surge de experiecircncia de Deus feita nos
contornos da existecircncia humana tem uma teleologia G OrsquoCollins identifica tal finalidade
como a segunda caracteriacutestica da experiecircncia em sua relaccedilatildeo com a teologia Ele afirma que
ldquotoda experiecircncia traz consigo um certo propoacutesito ou finalidade Leva-nos em alguma
direccedilatildeordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) No escopo da teologia da revelaccedilatildeo a finalidade de
uma experiecircncia de Deus deve ser consequumlente com o proacuteprio revelado experimentado Ou
seja a teleologia deve encontrar consonacircncia com a teologia recebendo desta os elementos
para seu discernimento G OrsquoCollins exemplifica essa segunda caracteriacutestica da seguinteforma ldquoA experiecircncia do amor genuiacuteno torna-se enriquecedor do outro e pessoalmente
enriquecedorrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55)
Experimentar o amor eacute mover-se na dinacircmica do proacuteprio amor Isso daacute o peso e
concretude da experiecircncia ajudando a corrigir possiacuteveis reduccedilotildees fugazes e epideacutermicas G
OrsquoCollins identifica nessa dimensatildeo de concretude a terceira caracteriacutestica da experiecircncia
2 OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991 p 47-70
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ldquoA experiecircncia natildeo eacute nada se natildeo for concretardquo Sua espessura e historicidade evidenciam-
se exatamente aiacute Natildeo haacute espaccedilo para abstraccedilotildees ldquopurasrdquo para racionalizaccedilotildees aprioriacutesticas
ou recursos a formulaccedilotildees axiomaacuteticas fundadas sobre recursos metafiacutesicos Uma teologia
da revelaccedilatildeo nesse acento da experiecircncia natildeo pode ser pensada em geral porque ldquonatildeo
existem experiecircncias em geralrdquo ldquoUma experiecircncia de Deus [] soacute ocorre em momentos
particulares em lugares particulares e com pessoas particularesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p
56 passim)
Em quarto lugar G OrsquoCollins menciona como importante caracteriacutestica da
experiecircncia uma abertura ao novo ao ineacutedito ao natildeo ordinaacuterio Ele menciona como os
teoacutericos que tratam dessa temaacutetica utilizam o recurso da linguagem para expressar osurpreendente que se mostra numa experiecircncia Expressotildees como ldquoexperiecircncia-aacutepicerdquo
ldquosituaccedilotildees-limiterdquo ou ldquoexperiecircncia-limiterdquo revelam que ldquoa experiecircncia sugere prontamente
algo de novo ou inesperado que deixa a sua marca no sujeito e o abre para outras
experiecircncia no futurordquo Em suma conclui G OrsquoCollins ldquoA experiecircncia genuiacutena transcende
as nossas previsotildeesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 56 passim)
Outro autor que pode ajudar na compreensatildeo da importacircncia da experiecircncia em
relaccedilatildeo agrave teologia da revelaccedilatildeo eacute Raimon Panikkar especificamente em sua obra Iacutecones do
misteacuterio3 No acircmbito da reflexatildeo sobre o risco de nomear o Real chamando-o Deus
intrinsecamente presente no ato da experiecircncia R Panikkar (2007 p 75) comeccedila por
advertir que ldquotudo o que se possa dizer com estrita racionalidade da experiecircncia de Deus eacute
idolatriardquo A experiecircncia de Deus eacute um ato do ser humano portanto natildeo estaacute para a
compreensatildeo de uma uacutenica dimensatildeo deste mesmo sendo esta a proacutepria razatildeo Ela soacute pode
ser percebida em sua espessura se colocada para a integralidade do humano inclusive para
sua dimensatildeo misteacuterica
Eacute exatamente essa amplitude da espessura do Real que nomeamos tatildeoparticularmente de Deus que possibilita-nos ser inteiramente humanos A experiecircncia de
Deus reclama nossa humanidade inteira por isso somente diante dela podemos nos afirmar
como inteiramente humanos ldquoO ser humano chega a ser plenamente humano quando faz a
experiecircncia de seu uacuteltimo lsquofundamentorsquo do que realmente eacuterdquo (PANIKKAR 2007 p 76)
3 PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas 2007
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Por ser uma experiecircncia que reclama a inteireza do humano ela eacute constitutivamente
relacional De forma bastante clara R Panikkar afirma que
sem os laccedilos que nos unem com toda a realidade natildeo podemos terexperiecircncia de Deus [] A experiecircncia de Deus eacute a raiz de toda experiecircnciaEacute a experiecircncia em profundidade de todas e cada uma das experiecircnciashumanas do amigo da palavra da conversa Eacute a experiecircncia subjacente atoda experiecircncia humana dor beleza prazer bondade anguacutestia friosubjacente a toda experiecircncia no tanto que nos descobre uma dimensatildeo deinfinito natildeo-finito in-acabado Subjacente a toda experiecircncia e portantonatildeo suscetiacutevel a ser completamente expressa em qualquer ideacuteia sensaccedilatildeo ousentimento (PANIKKAR 2007 p 77-78)
Da experiecircncia de Deus surge entatildeo a possibilidade da experiecircncia plena dohumano Nela estaacute a fonte para a relacionalidade que eacute constitutiva do humano
humanizado Conforme o autor (2007 p 79) tal processo de humanizaccedilatildeo constitui
a experiecircncia de Deus que subjaz toda experiecircncia e pela qual nos fazemoshumanos nos faz conscientes de nossa contingecircncia torna-nos humildes ecapazes de compreender Por essa experiecircncia nos damos conta de queestamos dentro de algo que abarca tudo e somos conscientes de uma dupladimensatildeo de ausecircncia e presenccedila
Mesmo jaacute tendo delineado os contornos da experiecircncia de Deus em perspectivateoloacutegica fica restando ainda uma tarefa importante no processo de especificaccedilatildeo de nossa
temaacutetica Eacute preciso perguntar pelos criteacuterios que nos possam permitir identificar com
alguma clareza as diferenccedilas entre experiecircncia teoloacutegica das demais formas de experiecircncia
do Sagrado4 Para isso eacute preciso explicitar o que ateacute aqui esteve impliacutecito ao longo de toda
exposiccedilatildeo deste toacutepico falamos de experiecircncia teoloacutegica cristatilde
O ponto apical da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo em
perspectiva cristatilde se expressa na encarnaccedilatildeo Nela a experiecircncia de Deus ganha suainalienaacutevel topografia a concretude da existecircncia de homens e mulheres situados em seus
muacuteltiplos e respectivos contextos E ainda tal experiecircncia encontra sua irredutiacutevel
expressividade relacional que em uacuteltima anaacutelise eacute quem a qualifica como experiecircncia de
4 H C de Lima Vaz faz uma importante distinccedilatildeo entre experiecircncia religiosa (experiecircncia do Sagrado) eexperiecircncia de Deus (experiecircncia de Sentido) Haacute claramente um corte uma delimitaccedilatildeo que faz daexperiecircncia de Deus uma experiecircncia com certa especificidade Cf VAZ Henrique C de Lima Escritos defilosofia Problemas de fronteira Satildeo Paulo Loyola 1986 p 248-253
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Deus (assumindo tal nomeaccedilatildeo a partir do que nos foi dado a conhecer pela vida de Jesus
de Nazareacute compreendido teologicamente como o Cristo conforme o fazem os evangelhos)
A experiecircncia cristatilde de Deus eacute tanto uma experiecircncia da encarnaccedilatildeo quanto de
encarnaccedilatildeo Isso eacute o que nos pode revelar a vida de Jesus o Cristo Sendo ele o proacuteprio
Deus encarnado vive numa condiccedilatildeo radicalmente marcada por tal encarnaccedilatildeo quer do
ponto de vista geograacutefico quer do ponto religioso cultural ou existencial Deus
encarnando-se se auto-delimita e delimita a nos apresentando o modus operandi para a
articulaccedilatildeo teoloacutegica da experiecircncia cristatilde de Deus a loacutegica da encarnaccedilatildeo Aqui se
encontra o coraccedilatildeo do Misteacuterio feito histoacuteria e a pedagogia para viver tal histoacuteria como
uacutenica e soacute histoacuteria Refletindo sobre tal especificidade da experiecircncia cristatilde de Deus L Boffafirma que
No cristianismo articulou-se a experiecircncia do Misteacuterio como histoacuteria doMisteacuterio O Sentido natildeo ficou di-fuso pro-fuso e con-fuso dentro darealidade Ele armou tenda entre noacutes e se chamou Jesus Cristo (cf Jo 114) OMisteacuterio eacute tatildeo radicalmente Misteacuterio que pode sem perder sua identidadefazer-se carne e histoacuteria Ele pode subsistir totalmente num Outro diferentedele Se assim natildeo fora natildeo mostraria sua onipotecircncia nem seu caraacuteter deMisteacuterio Entatildeo sendo vida ele pode morrer Fazendo-se morte ele podeviver Ele pode sendo impalpaacutevel fazer-se impalpaacutevel sendo invisiacutevel
fazer-se visiacutevel sendo Criador fazer-se criatura (BOFF 2002 p 106)
Essa natildeo ldquodi-fusatildeo pro-fusatildeo e con-fusatildeordquo do Misteacuterio presente em meio a noacutes se
realiza por que haacute uma existecircncia concreta que abriga tal Misteacuterio A encarnaccedilatildeo confere os
contornos a concretude da presenccedila de Deus E eacute exatamente isso que nos permite nomeaacute-
lo Se nos eacute possiacutevel falar de Deus em perspectiva cristatilde soacute podemos fazecirc-lo de forma
criacutestica Isso significa dizer que ldquoa experiecircncia cristatilde de Deus eacute uma experiecircncia da
presenccedila do Sentido radical numa existecircncia historicamente dada a existecircncia de Jesus e na
palavra da revelaccedilatildeo que eacute totalmente condicionada por essa existecircncia histoacuterica na medida
em que dela procede e a ela se refererdquo (VAZ 1986 p 253)
Da dimensatildeo de concretude legada agrave experiecircncia cristatilde de Deus surge como ldquooutra
face da moedardquo a dimensatildeo relacional Se com a primeira a experiecircncia cristatilde de Deus
ganha seu contorno com a segunda ela ganha sua profundidade Natildeo eacute possiacutevel conceber a
presenccedila de Deus em Jesus o Cristo sem que se afirme a loacutegica relacional ou
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intersubjetiva A teologia cristatilde quando se propotildee nomear o Real a partir de Jesus natildeo pode
sob pena de perder completamente decair num esquema racionalista de sujeitoobjeto Se
fizer isso a teologia trataraacute a revelaccedilatildeo somente como pauta doutrinaacuteria devendo ser
acessada exclusivamente pelas normas da razatildeo tanto nas metodologia especulativas
quanto nas apologeacuteticas Ambas poreacutem subjugadas ao mesmo princiacutepio de uma razatildeo
estreita Nesse caso o Real nomeado Deus natildeo eacute mais que um objeto descritiacutevel
Falando acerca de uma teologia cristatilde da revelaccedilatildeo como encontro entre sujeitos
Roger Haight (cf 2004 p 89-107) apresenta importantes consideraccedilotildees sobre a dimensatildeo
relacional de tal evento Ele afirma ldquoNatildeo se trata de uma operaccedilatildeo dedutiva que argumenta
com base na personalidade de Deus e sim de uma fenomenologia da experiecircncia darevelaccedilatildeo cristatilde que responde pela crenccedila segundo a qual Deus eacute pessoalrdquo (HAIGHT
2004 p 94) A encarnaccedilatildeo natildeo permite menos que isso ela eacute a radicalizaccedilatildeo da
pessoalidade de Deus Neste sentido ldquoa revelaccedilatildeo cristatilde natildeo se afigura como conhecimento
a respeito de Deus como de um objeto nem mesmo como conhecimento de uma pessoa
transcendente A revelaccedilatildeo cristatilde assume antes a forma de um encontro pessoal com um
sujeito divinordquo (HAIGHT 2004 p 94)
983093 983107983151983150983139983148983157983145983150983140983151 983137 983152983137983154983156983145983154 983140983151 983152983154983145983150983139983277983152983145983151
A encarnaccedilatildeo reclama a relaccedilatildeo e esta por sua vez afirma a experiecircncia como
expressatildeo privilegiada O Real nomeado corajosamente pela teologia cristatilde como Deus em
sua plena revelaccedilatildeo que eacute Jesus o Cristo natildeo permite agrave teologia menos que comunicaccedilatildeo
intersubjetiva Deus natildeo estaacute para a teologia como um conceito a ser apreendido antes
como um sujeito que a desafia a uma relaccedilatildeo ldquoDeus eacute experimentado como sujeito de tal
sorte que o contato ou percepccedilatildeo humana de Deus natildeo pode ser um conhecimento acerca de
Deus como de um objetordquo ldquoNa revelaccedilatildeo cristatilde Deus eacute experimentado como eu pessoalrdquo
(HAIGHT 2004 p 95 passim)
Em termos da teologia cristatilde falar sobre experiecircncia de Deus eacute assumir os riscos de
nomeaacute-lo e isso constitui-se numa urgente compreensatildeo responsaacutevel e ampliada da
teologia da revelaccedilatildeo Tratar esta uacuteltima sem atentar para os criteacuterios criacutesticos colocados
pela encarnaccedilatildeo e a relacionalidade dela derivada significa cair na armadilha de tal
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nomeaccedilatildeo objetivaccedilatildeo do Real e consequente idolatria Falar de Deus a partir da
perspectiva cristatilde precisa ser sempre um falar situado como exige a encarnaccedilatildeo e
intersubjetivo como propotildee a radical pessoalidade do encarnado Nas palavras de R Haight
(2004 p 97) ldquoo conteuacutedo positivo da revelaccedilatildeo portanto eacute influenciado e determinado
pelo meio que medeia a experiecircncia da presenccedila e da iniciativa de Deus No caso da
revelaccedilatildeo cristatilde Jesus eacute seu meio histoacuterico centralrdquo
983122983141983142983141983154983274983150983139983145983137983155
BOFF Leonardo Experimentar Deus A transparecircncia de todas as coisas 3 edPetroacutepolis Vozes 2002
BUBER Martin O Eclipse de Deus Consideraccedilotildees sobre a relaccedilatildeo entre religiatildeo efilosofia Campinas Verus 2007
HAIGHT Roger Dinacircmica da teologia Satildeo Paulo Paulinas 2004
LIBANIO Joatildeo Batista Desafios da poacutes-modernidade agrave Teologia Fundamental InTRASFERETTI Joseacute GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992
MELLO Anthony O canto do paacutessaro Contemplar a Deus em todas as coisas e todas ascoisas em Deus 11 ed Satildeo Paulo Loyola 2003
MESLIN Michel A Experiecircncia Humana do Divino Fundamentos de uma antropologiareligiosa Petroacutepolis Vozes 1992
OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991
PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas2007
QUEIRUGA Andreacutes Torres Fim do cristianismo preacute-moderno Satildeo Paulo Paulus 2003
QUEIRUGA Andreacutes Torres A revelaccedilatildeo de Deus na realizaccedilatildeo humana Satildeo PauloPaulus 1995
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RICOEUR Paul Entre filosofia e teologia II nomear Deus In RICOEUR Paul Leituras3 Nas fronteiras da filosofia Satildeo Paulo Loyola 1996
RICOEUR Paul A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006
TILLICH Paul Dinacircmica da feacute 6 ed Satildeo Leopoldo Sinodal 2001
TRASFERETTI Joseacute amp GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
VAZ Henrique C de Lima Escritos de filosofia Problemas de fronteira Satildeo PauloLoyola 1986
![Page 3: 1522-9298-1-PB](https://reader038.vdocuments.com.br/reader038/viewer/2022100519/56d6c4a51a28ab30169c1fc5/html5/thumbnails/3.jpg)
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derivam duas posturas ou estrateacutegias discursivas que determinam a proacutepria concepccedilatildeo que a
teologia teraacute de sua tarefa Por um lado pode surgir uma postura conceitual-uniacutevoca que a
partir de procedimentos especulativos arrogue para si a condiccedilatildeo de qualificar
univocamente a experiecircncia que tem da presenccedila do Sagrado Desta forma aconteceria uma
identificaccedilatildeo da experiecircncia da presenccedila com a proacutepria presenccedila A nomeaccedilatildeo dessa
presenccedila passaria a corresponder exatamente a esta em toda a sua densidade
Outra postura possiacutevel diante da emergecircncia da experiecircncia de tal presenccedila eacute a
simboacutelico-polifocircnica A teologia e o proacuteprio teoacutelogo sabem-se diante do misteacuterio
desvelado ousam nomeaacute-lo natildeo obstante reconhecem que essa eacute uma tarefa que se faz
sempre de forma inacabada fraacutegil aberta Ou seja sem sandaacutelias nos peacutes (Cf Ecircxodo 35)Nesse caso tanto a experiecircncia em si quanto sua comunicaccedilatildeo satildeo carregadas da
consciecircncia de assimetria que haacute entre a presenccedila e a possiacutevel experiecircncia com ela Se a
postura conceitual eacute geradora de univocidade discursiva a postura simboacutelica eacute francamente
aberta agrave expressividade polifocircnica
Atento para as discussotildees sobre posturas e estrateacutegias discursivas no processo de
nomeaccedilatildeo das experiecircncias teoloacutegicas judaico-cristatildes originaacuterias Paul Ricoeur em seu
artigo ldquo Entre filosofia e teologia II nomear Deusrdquo faz a seguinte observaccedilatildeo
A nominaccedilatildeo de Deus nas expressotildees originaacuterias da feacute natildeo eacute simples masmuacuteltipla Ou antes ela natildeo eacute monocoacuterdia mas polifocircnica As expressotildeesoriginaacuterias da feacute satildeo formas complexas de discurso satildeo tatildeo diversas quantonarraccedilotildees profecias legislaccedilotildees proveacuterbios preces hinos formulaslituacutergicas escritos sapienciais Essas formas de discurso nomeiam Deus todas
juntas Mas elas o nomeiam diversamente (RICOEUR 1996 p 190)
Nomear Deus a partir de uma postura discursiva simboacutelico-polifocircnica constitui
antes de tudo voltar-se agrave experiecircncia mesma da presenccedila de Deus natildeo tanto agraves palavras
fixadas que decorrem de tal experiecircncia Paul Ricoeur afirma acerca desta questatildeo que ldquoeacute
preciso dizer que nomear Deus eacute em primeiro lugar um momento de confissatildeo narrativa Eacute
na lsquocoisarsquo contada que Deus eacute nomeado Isso contra certa ecircnfase das teologias da palavra
que observam apenas acontecimentos de palavrardquo (RICOEUR 1996 p 191)
Contornando ainda mais a precedecircncia da experiecircncia no processo de nomeaccedilatildeo de Deus
Ricoeur afirma
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Um texto eacute primordialmente um anel em uma corrente comunicativa emprimeiro lugar uma experiecircncia de vida eacute levada agrave linguagem torna-sediscurso depois o discurso se diferencia em fala e em escrita [] a escritapor sua vez eacute restituiacuteda agrave fala viva por meio dos diversos atos do discursoque reatualizam o texto A leitura e a pregaccedilatildeo satildeo atualizaccedilotildees desse tipo nafala da escrita Um texto eacute sob esse ponto de vista como uma partituramusical que pede para ser executada (alguns criacuteticos reagindo contra oexcesso do texto em si chegam ateacute mesmo a dizer que eacute o ldquoleitor no textordquoque completa o seu sentido por exemplo ao completar as suas lacunasresolvendo as suas ambiguumlidades ateacute mesmo corrigindo a sua ordemnarrativa ou argumentativa) (RICOEUR 1996 p 184)
A primazia do voltar-se agrave experiecircncia de Deus no processo ousado de nomeaacute-lo
reforccedila a postura discursiva teoloacutegica simboacutelico-polifocircnica em seu estado de inacabamento
e abertura Mais uma vez Ricoeur (1996 p195) observa que ldquoO referente lsquoDeusrsquo natildeo eacute
apenas o indicador do pertencimento muacutetuo das formas originaacuterias do discurso da feacute ele
tambeacutem eacute o seu inacabamento Ele eacute a sua visada comum e o que escapa a cada uma delasrdquo
Como na epiacutegrafe de Anthony de Mello o proacuteprio da tarefa teoloacutegica frente a
possiacutevel experiecircncia da desvelada presenccedila do Real eacute dizer como o peixe mais experiente
ldquoMas eacute precisamente no Oceano que vocecirc estaacute nadandordquo (MELLO 2003 p 22) A ousadia
de nomear eacute a mais radical tarefa que se apresenta ao fazer teoloacutegico discernir junto agravecomunidade que pergunta mesmo sem as palavras precisas ldquoPor favor por favorrdquo Disse
um peixe do mar a outro peixe ldquoVocecirc que deve ter mais experiecircncia talvez possa ajudar-
me Entatildeo me diga Onde posso encontrar a coisa imensa que chamam de Oceano
(MELLO 2003 p 22)
983091 983105 983141983160983152983141983154983145983274983150983139983145983137 983139983151983149983151 983148983151983139983157983155 983156983144983141983151983148983151983143983145983139983151 983140983137 983150983151983149983141983137983271983267983151 983140983141 983108983141983157983155
Tendo feito portanto uma distinccedilatildeo preliminar entre experiecircncia religiosa e
experiecircncia teoloacutegica sobretudo no sentido de afirmar o proacuteprio da experiecircncia teoloacutegica
bem como a postura ou estrateacutegia discursiva que orienta toda nossa argumentaccedilatildeo eacute preciso
avanccedilar em nossa temaacutetica Para tanto nos propomos a fazer um percurso do universal
revelado no conceito de Sagrado (proacuteprio da fenomenologia da religiatildeo) ao particular desse
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Sagrado nomeado Deus pela teologia no interior da feacute cristatilde Para tanto daremos os
seguintes passos
983137) exposiccedilatildeo da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo
983138) o aacutepice da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo expressado na
encarnaccedilatildeo bem como a expressividade relacional que episoacutedio apical oferece agrave
teologia da revelaccedilatildeo
Antes poreacutem de entrarmos diretamente na discussatildeo sobre a centralidade da
experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo faz-se necessaacuterio mostrar a iacutentima relaccedilatildeo entre apresenccedila de Deus ndash jaacute nomeado no interior da teologia cristatilde ndash e experiecircncia como
expressatildeo de cognoscibilidade humana Relaccedilatildeo esta que se realiza de forma pujante na
poacutes-modernidade Para isso consideraremos algumas contribuiccedilotildees de Andreacutes Torres
Queiruga Conforme este teoacutelogo ldquode fato Deus estaacute presente em toda a realidade aberto agrave
experiecircncia religiosamente cognoscitiva do homemrdquo (QUEIRUGA 1995 p 148) Assim
AT Queiruga sintetiza a iacutentima relaccedilatildeo que haacute entre Deus e o humano Deus eacute presenccedila e
o ser humano como ser de abertura pode fazer experiecircncia de tal presenccedila Aliaacutes ndash e essa eacute
a tese de A T Queiruga ndash humano soacute seraacute pleno em sua humanidade no acolhimento da
revelaccedilatildeo da mesma forma que tal revelaccedilatildeo soacute pode ser justamente compreendida na
dinacircmica da realizaccedilatildeo plena do humano
A perspectiva esposada por Queiruga eacute ampla e profunda Sua amplitude consiste
em dizer que Deus eacute presenccedila em ldquotoda a realidaderdquo Sobre isso ele afirma ldquoO divino eacute
sempre experimentado como lsquotranscendecircncia ativarsquo que sai ndash por proacutepria iniciativa ndash ao
encontro do homem e por isso toda a religiatildeo se considera enfim reveladardquo
(QUEIRUGA 1995 p 149) Jaacute sua profundidade jaz na proposiccedilatildeo de que Deus ldquoestaacute
aberto agrave experiecircncia humanardquo Aqui haacute uma importante questatildeo a ser trabalhada a abertura
de Deus agrave profundidade experiencial do humano presente sobretudo na vivecircncia religiosa
deixou de ser conatural e espontacircnea em funccedilatildeo da ascensatildeo do movimento criacutetico da
reflexatildeo ao estado uacuteltimo da evoluccedilatildeo da cognoscibilidade humana Aprofundou-se desta
forma a distinccedilatildeo entre o Deus da filosofia e o Deus da religiatildeo O primeiro eacute ldquoanalisado ou
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deduzido como objeto do pensamento criacuteticordquo O Segundo eacute ldquovivenciado espontaneamente
como sujeito ativordquo (QUEIRUGA 1995 149 passim)
Do ponto vista filosoacutefico e teoloacutegico judaico Martin Buber reflete essa mesma
questatildeo da seguinte forma
A religiatildeo mesmo que o ldquoIncriadordquo natildeo seja expresso com a boca nem com aalma fundamenta-se na dualidade Eu-Tu a filosofia mesmo quando o atofilosoacutefico desemboca em uma visatildeo de unidade fundamenta-se na dualidadesujeito-objeto A dualidade Eu-Tu completa-se na relaccedilatildeo religiosa adualidade sujeito-objeto eacute o que sustenta a filosofia enquanto se faz filosofia[] Eu-Tu subsistem graccedilas agrave concretude vivida e dentro dessa concretudesujeito e objeto produtos da forccedila de abstraccedilatildeo soacute duram enquanto dura aabstraccedilatildeo (BUBER 2007 p 32)
Falar de experiecircncia com a presenccedila desvelada de Deus eacute falar pois em relaccedilatildeo ao
ldquoDeus da religiatildeordquo agrave relacionalidade e concretude do Eu-Tu Queiruga explicita claramente
esse assento no experiencial-relacional-concreto da relaccedilatildeo com a revelaccedilatildeo nos seguintes
termos ldquoEnquanto o homem experimenta ndash em si mesmo como natureza ou na histoacuteria ndash a
Deus como chegando a ele como manifestando-se a ele estaacute tendo a experiecircncia radical da
revelaccedilatildeordquo (QUEIRUGA 1995 p 149) Para AT Queiruga eacute preciso assumir que ldquoDeus
estaacute realmente presente em todos os homens e se revela a eles realmente [] revela-se a
eles sobretudo nas experiecircncias mediadas por suas tradiccedilotildees religiosasrdquo (QUEIRUGA
1995 p 150-151)
Implicitamente estamos argumentando sobre o transfundo da passagem criacutetica da
razatildeo instrumental moderna agrave racionalidade-relacionalidade (raciovitallismo) poacutes-moderna
Refletindo especificamente sobre tal passagem Torres Queiruga afirma a seguinte
compreensatildeo sobre a teologia
Nesse sentido natildeo concebo a teologia senatildeo como decididamente poacutes-
ilustrada O que natildeo eacute o mesmo (devo advertir porque algumas vezes fuiinterpretado nessa direccedilatildeo) que simplesmente ldquoilustradardquo Se prestarmosatenccedilatildeo eacute justamente o contraacuterio Porque ser poacutes significa que natildeo se poderetroceder nos desafios perguntas e perspectivas abertas pelo iluminismoporeacutem bem por isso impotildeem-se para noacutes seguir adiante sendo lucidamentecriacuteticos com as soluccedilotildees iniciais em grande parte prematuras e carregadas deuma polecircmica unilateralidade (QUEIRUGA 2003 p 22-23)
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Percebendo a ldquorevoluccedilatildeo epocalrdquo ou ldquomudanccedila de paradigmardquo que representa o poacutes
para a teologia logo depois de apreciar o pensamento de Gianni Vattimo como
representante de uma ldquoevoluccedilatildeo filosoacuteficardquo AT Queiruga afirma ldquoPara um pensamento
responsaacutevel tudo isso deveria significar antes de tudo e sobretudo uma soacute coisa a
necessidade ineludiacutevel de enfrentar lucidamente a nova situaccedilatildeo buscando um equiliacutebrio
atualizadordquo (QUEIRUGA 2003 p 23-25 passim) Como desdobramento ao necessaacuterio
enfrentamento dessa ldquonova situaccedilatildeordquo Queiruga trava um contato criacutetico com a poacutes-
modernidade e tece a seguinte consideraccedilatildeo
Existe uma [] valecircncia positiva que se encontra no fato de ter (a poacutes-modernidade) propiciado a percepccedilatildeo de novos valores No acircmbito doindividual suscitou ou ao menos ativou a revalorizaccedilatildeo do pequeno atoleracircncia para com o diferente a desobstruccedilatildeo do estabelecido o novoapreccedilo do corpo a revitalizaccedilatildeo da experiecircncia (QUEIRUGA 2003 p 112)
Tornando ainda mais especiacuteficas as suas consideraccedilotildees sobre a poacutes-modernidade em
sua relaccedilatildeo com a religiatildeo sobretudo no sentido de afirmar o primado da experiecircncia AT
Queiruga afirma que a ldquopoacutes-modernidade lsquoreligiosarsquo partindo desta abertura se difrata em
muacuteltiplas formas em busca de uma vivecircncia de fraternidade que abrace todo o real e leve a
uma experiecircncia atual do Absolutordquo (QUEIRUGA 2003 p116)
Enfrentando mais propriamente o primeiro passo da relaccedilatildeo experiecircnciateologia ndash
centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo ndash partiremos de uma discussatildeo de
teologia fundamental e experiecircncia no horizonte poacutes-moderno daremos o contorno da
experiecircncia em face da revelaccedilatildeo de Deus e como passagem ao segundo passo acima
enunciado ndash encarnaccedilatildeo como aacutepice da centralidade da experiecircncia para a teologia da
revelaccedilatildeo ndash trabalharemos a dimensatildeo holiacutestica e relacional tatildeo iacutentimas do diacutestico
experiecircnciarevelaccedilatildeoldquoA crise da razatildeo eacute a consciecircncia da irracionalidade gigantesca dessa mesma razatildeordquo
(LIBANIO 2003 p 163) Assim Joatildeo Batista Libanio introduz uma interessante reflexatildeo
sobre a Teologia Fundamental1 no contexto desafiante da poacutes-modernidade Foi no interior
1 JB Libanio jaacute havia escrito uma importante obra sobre Revelaccedilatildeo soacute que em franco diaacutelogo com amodernidade Cf LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992 Nesta obra o autor destina dois capiacutetulos para refletir sobre a relaccedilatildeo experiecircnciateologia pp195-248
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da proacutepria modernidade com sua tendecircncia agrave extrema especializaccedilatildeo que o conceito de
razatildeo forte comeccedilou a ruir No lugar de tal razatildeo forte surgiu um princiacutepio de
enfraquecimento da razatildeo que elevou a experiecircncia agrave condiccedilatildeo primordial em relaccedilatildeo
teologia da revelaccedilatildeo (Cf LIBANIO 2003 p 162-163)
Neste sentido JB Libanio afirma ldquoUm caminho viaacutevel sugere partir das
experiecircncias significativas das pessoas explicitando-as para elas mesmas E de dentro delas
mostrar como a revelaccedilatildeo vem responder concretamente a elasrdquo (LIBANIO 2003 p 165)
Diante disso a teologia se vecirc frente a uma tarefa inalienaacutevel ajudar homens e mulheres no
discernimento de suas experiecircncias contribuindo para a nomeaccedilatildeo e esclarecimento de um
universo plural de sinais feacuterteis da presenccedila de Deus
983092 983108983137 983156983157983156983141983148983137 983137983151 983140983145983155983139983141983154983150983145983149983141983150983156983151983098 983140983141983155983148983151983139983137983149983141983150983156983151983155 983140983141 983152983137983152983141983145983155 983140983137 983156983141983151983148983151983143983145983137 983142983154983141983150983156983141 983137983151
983140983141983155983137983142983145983151 983140983141 983150983151983149983141983137983154 983108983141983157983155
A desafiante tarefa teoloacutegica consiste portanto em contribuir no processo de
discernimento das experiecircncias efetivamente feitas por homens e mulheres dentro de seus
mais variados lugares culturais Essa contribuiccedilatildeo contudo natildeo o seraacute em toda a sua
espessura se natildeo for realizada a partir de dentro mesmo dos mundos onde habitam esses eessas que satildeo os verdadeiros protagonistas da recepccedilatildeo da presenccedila divina JB Libanio
descreve as caracteriacutesticas desses lugares culturais poacutes-modernos onde a recepccedilatildeo da
presenccedila de Deus eacute experimentada
Tanto mais pertinente parece tal caminho quanto mais se percebe quecrescem nas pessoas o interesse a sensibilidade e gosto pelos siacutembolos pelossinais pela beleza e pela esteacutetica [] A beleza e a forccedila significativa dossinais tocam mais profundamente a geraccedilatildeo poacutes-moderna Uma teologia
fundamental para tal momento cultural requer agilidade mental em que aalusatildeo a insinuaccedilatildeo o jogo simboacutelico a beleza das reflexotildees superem umaracionalidade loacutegica cada vez mais inacessiacutevel (LIBANIO 2003 p 165)
A moldura epistemoloacutegica necessaacuteria para contornar esse cenaacuterio teoloacutegico e
existencial deve compor-se de uma sensibilidade adequada a tal cenaacuterio Urge portanto
uma superaccedilatildeo de molduras que tatildeo bem enquadraram cenaacuterios passados mas que agora soacute
fazem distorcer a percepccedilatildeo do horizonte novo que se apresenta Uma nova racionalidade
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que possibilite agrave teologia ler nas experiecircncias humanas experiecircncias de Deus JB Libanio
faz uma importante consideraccedilatildeo a esse respeito Ele afirma que ldquoquando poreacutem se entra
pelo campo dos siacutembolos da esteacutetica natildeo se renuncia agrave razatildeo mas trabalha-se com outra
dimensatildeo da racionalidade cujo acesso natildeo depende dos conhecimentos racionais
sofisticados e inacessiacuteveis e sim de outra fonterdquo (LIBANIO 2003 p 166)
O lugar onde a teologia eacute pensada e proposta sofre um radical deslocamento (Cf
LIBANIO 2003 p 169) Ela e seus processos satildeo deslocados para o interior das
comunidades onde natildeo interessam tanto formulaccedilotildees teoacutericas sobre a feacute mas antes
narrativas de experiecircncias da presenccedila de Deus veiculadas por sinais e siacutembolos proacuteprios de
tais universos Narrar as proacuteprias experiecircncias Esse eacute o processo catequeacutetico proacuteprio deuma racionalidade poacutes-moderna Cabe a teologia como ldquoirmatilde mais velhardquo contribuir a
partir do depoacutesito das muitas tradiccedilotildees no discernimento de tal dinacircmica catequeacutetica afim
de que esta seja consequumlente com a feacute cristatilde em suas muacuteltiplas expressotildees
Esse novo lugar que a teologia eacute convidada a habitar tem como atmosfera proacutepria a
experiecircncia Eacute a partir e de dentro dela que se quer ousar nomear a presenccedila do Real que a
todos envolve Na experiecircncia da presenccedila do Real assumimos o risco de chamaacute-lo Deus
Tal atitude se constitui num risco porque o desafio de nomear Deus pode degenerar na
tentativa de defini-lo incorrendo dessa forma na mais radical idolatria Acerca desse risco
Paul Tillich adverte ldquoDeusrdquo eacute siacutembolo para Deus Isso significa que precisamos distinguir
dois elementos em nossa concepccedilatildeo de Deus uma vez o elemento incondicional que se
manifesta na experiecircncia imediata e em si natildeo eacute simboacutelico e por outro lado o elemento
concreto que eacute obtido de nossa experiecircncia normal e eacute simbolicamente relacionado com
Deus [] ldquodeusrdquo eacute siacutembolo de Deus Nesse sentido Deus eacute o conteuacutedo proacuteprio e
universalmente vaacutelido da feacute (Cf TILLICH 2001 p 33-34)
Neste sentido precisar um pouco mais os contornos da experiecircncia em face agravenomeaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Real se faz necessaacuterio Uma vez que jaacute estabelecemos tanto uma
conceituaccedilatildeo filosoacutefica acerca da experiecircncia quanto uma descriccedilatildeo de sua importacircncia
para a percepccedilatildeo da presenccedila do Sagrado no escopo da fenomenologia da religiatildeo cabe-nos
ainda a tarefa de tracejar os contornos da experiecircncia no interior da teologia e daquilo que
lhe eacute proacuteprio Para tanto recorreremos a discussatildeo proposta por Gerald OrsquoCollins em sua
obra Teologia Fundamental especificamente no segundo capiacutetulo intitulado A
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experiecircncia humana2
G OrsquoCollins tratando da experiecircncia em si (cf 1991 p 54-55) estabelece um
conjunto de caracteriacutesticas proacuteprias em face agrave sua relaccedilatildeo com a teologia Em primeiro
lugar toda a experiecircncia tem um significado ou seja haacute uma comunicaccedilatildeo de sentido
agravequeles que fazem uma experiecircncia de Deus Essa primeira caracteriacutestica aponta para a
profundidade que tal evento produz na existecircncia humana Ao contraacuterio do que por vezes eacute
dito a experiecircncia natildeo eacute ldquoepideacutermicardquo ou ao menos natildeo o eacute somente Por se dar em iacutentimo
contato com nossa dimensatildeo empiacuterica ela natildeo estaacute fadada agrave fugacidade Haacute efetivamente
um sentido intriacutenseca e profundamente dado numa experiecircncia de Deus
Marcando a incidecircncia profunda e espessa que a experiecircncia gera na existecircnciahumana G OrsquoCollins salienta sua natildeo reduccedilatildeo ao exclusivamente efecircmero afirmando que
ldquopodemos esperar que o mundo e nossas experiecircncias faccedilam sentido contanto que natildeo
insistamos num sentido simples e imediatordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) Nesse sentido eacute
como se a experiecircncia humana de Deus ecoa-se desde o iacutentimo daquele que a faz
reverberando sua accedilatildeo e influxo para todas as dimensotildees da existecircncia humana O sentido
de tal experiecircncia vai se afirmando e sendo percebido agrave medida que em tais dimensotildees
dessa experiecircncia vai sendo reconhecida e acolhida
Esse processo de afirmaccedilatildeo de sentido que surge de experiecircncia de Deus feita nos
contornos da existecircncia humana tem uma teleologia G OrsquoCollins identifica tal finalidade
como a segunda caracteriacutestica da experiecircncia em sua relaccedilatildeo com a teologia Ele afirma que
ldquotoda experiecircncia traz consigo um certo propoacutesito ou finalidade Leva-nos em alguma
direccedilatildeordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) No escopo da teologia da revelaccedilatildeo a finalidade de
uma experiecircncia de Deus deve ser consequumlente com o proacuteprio revelado experimentado Ou
seja a teleologia deve encontrar consonacircncia com a teologia recebendo desta os elementos
para seu discernimento G OrsquoCollins exemplifica essa segunda caracteriacutestica da seguinteforma ldquoA experiecircncia do amor genuiacuteno torna-se enriquecedor do outro e pessoalmente
enriquecedorrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55)
Experimentar o amor eacute mover-se na dinacircmica do proacuteprio amor Isso daacute o peso e
concretude da experiecircncia ajudando a corrigir possiacuteveis reduccedilotildees fugazes e epideacutermicas G
OrsquoCollins identifica nessa dimensatildeo de concretude a terceira caracteriacutestica da experiecircncia
2 OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991 p 47-70
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ldquoA experiecircncia natildeo eacute nada se natildeo for concretardquo Sua espessura e historicidade evidenciam-
se exatamente aiacute Natildeo haacute espaccedilo para abstraccedilotildees ldquopurasrdquo para racionalizaccedilotildees aprioriacutesticas
ou recursos a formulaccedilotildees axiomaacuteticas fundadas sobre recursos metafiacutesicos Uma teologia
da revelaccedilatildeo nesse acento da experiecircncia natildeo pode ser pensada em geral porque ldquonatildeo
existem experiecircncias em geralrdquo ldquoUma experiecircncia de Deus [] soacute ocorre em momentos
particulares em lugares particulares e com pessoas particularesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p
56 passim)
Em quarto lugar G OrsquoCollins menciona como importante caracteriacutestica da
experiecircncia uma abertura ao novo ao ineacutedito ao natildeo ordinaacuterio Ele menciona como os
teoacutericos que tratam dessa temaacutetica utilizam o recurso da linguagem para expressar osurpreendente que se mostra numa experiecircncia Expressotildees como ldquoexperiecircncia-aacutepicerdquo
ldquosituaccedilotildees-limiterdquo ou ldquoexperiecircncia-limiterdquo revelam que ldquoa experiecircncia sugere prontamente
algo de novo ou inesperado que deixa a sua marca no sujeito e o abre para outras
experiecircncia no futurordquo Em suma conclui G OrsquoCollins ldquoA experiecircncia genuiacutena transcende
as nossas previsotildeesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 56 passim)
Outro autor que pode ajudar na compreensatildeo da importacircncia da experiecircncia em
relaccedilatildeo agrave teologia da revelaccedilatildeo eacute Raimon Panikkar especificamente em sua obra Iacutecones do
misteacuterio3 No acircmbito da reflexatildeo sobre o risco de nomear o Real chamando-o Deus
intrinsecamente presente no ato da experiecircncia R Panikkar (2007 p 75) comeccedila por
advertir que ldquotudo o que se possa dizer com estrita racionalidade da experiecircncia de Deus eacute
idolatriardquo A experiecircncia de Deus eacute um ato do ser humano portanto natildeo estaacute para a
compreensatildeo de uma uacutenica dimensatildeo deste mesmo sendo esta a proacutepria razatildeo Ela soacute pode
ser percebida em sua espessura se colocada para a integralidade do humano inclusive para
sua dimensatildeo misteacuterica
Eacute exatamente essa amplitude da espessura do Real que nomeamos tatildeoparticularmente de Deus que possibilita-nos ser inteiramente humanos A experiecircncia de
Deus reclama nossa humanidade inteira por isso somente diante dela podemos nos afirmar
como inteiramente humanos ldquoO ser humano chega a ser plenamente humano quando faz a
experiecircncia de seu uacuteltimo lsquofundamentorsquo do que realmente eacuterdquo (PANIKKAR 2007 p 76)
3 PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas 2007
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Por ser uma experiecircncia que reclama a inteireza do humano ela eacute constitutivamente
relacional De forma bastante clara R Panikkar afirma que
sem os laccedilos que nos unem com toda a realidade natildeo podemos terexperiecircncia de Deus [] A experiecircncia de Deus eacute a raiz de toda experiecircnciaEacute a experiecircncia em profundidade de todas e cada uma das experiecircnciashumanas do amigo da palavra da conversa Eacute a experiecircncia subjacente atoda experiecircncia humana dor beleza prazer bondade anguacutestia friosubjacente a toda experiecircncia no tanto que nos descobre uma dimensatildeo deinfinito natildeo-finito in-acabado Subjacente a toda experiecircncia e portantonatildeo suscetiacutevel a ser completamente expressa em qualquer ideacuteia sensaccedilatildeo ousentimento (PANIKKAR 2007 p 77-78)
Da experiecircncia de Deus surge entatildeo a possibilidade da experiecircncia plena dohumano Nela estaacute a fonte para a relacionalidade que eacute constitutiva do humano
humanizado Conforme o autor (2007 p 79) tal processo de humanizaccedilatildeo constitui
a experiecircncia de Deus que subjaz toda experiecircncia e pela qual nos fazemoshumanos nos faz conscientes de nossa contingecircncia torna-nos humildes ecapazes de compreender Por essa experiecircncia nos damos conta de queestamos dentro de algo que abarca tudo e somos conscientes de uma dupladimensatildeo de ausecircncia e presenccedila
Mesmo jaacute tendo delineado os contornos da experiecircncia de Deus em perspectivateoloacutegica fica restando ainda uma tarefa importante no processo de especificaccedilatildeo de nossa
temaacutetica Eacute preciso perguntar pelos criteacuterios que nos possam permitir identificar com
alguma clareza as diferenccedilas entre experiecircncia teoloacutegica das demais formas de experiecircncia
do Sagrado4 Para isso eacute preciso explicitar o que ateacute aqui esteve impliacutecito ao longo de toda
exposiccedilatildeo deste toacutepico falamos de experiecircncia teoloacutegica cristatilde
O ponto apical da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo em
perspectiva cristatilde se expressa na encarnaccedilatildeo Nela a experiecircncia de Deus ganha suainalienaacutevel topografia a concretude da existecircncia de homens e mulheres situados em seus
muacuteltiplos e respectivos contextos E ainda tal experiecircncia encontra sua irredutiacutevel
expressividade relacional que em uacuteltima anaacutelise eacute quem a qualifica como experiecircncia de
4 H C de Lima Vaz faz uma importante distinccedilatildeo entre experiecircncia religiosa (experiecircncia do Sagrado) eexperiecircncia de Deus (experiecircncia de Sentido) Haacute claramente um corte uma delimitaccedilatildeo que faz daexperiecircncia de Deus uma experiecircncia com certa especificidade Cf VAZ Henrique C de Lima Escritos defilosofia Problemas de fronteira Satildeo Paulo Loyola 1986 p 248-253
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Deus (assumindo tal nomeaccedilatildeo a partir do que nos foi dado a conhecer pela vida de Jesus
de Nazareacute compreendido teologicamente como o Cristo conforme o fazem os evangelhos)
A experiecircncia cristatilde de Deus eacute tanto uma experiecircncia da encarnaccedilatildeo quanto de
encarnaccedilatildeo Isso eacute o que nos pode revelar a vida de Jesus o Cristo Sendo ele o proacuteprio
Deus encarnado vive numa condiccedilatildeo radicalmente marcada por tal encarnaccedilatildeo quer do
ponto de vista geograacutefico quer do ponto religioso cultural ou existencial Deus
encarnando-se se auto-delimita e delimita a nos apresentando o modus operandi para a
articulaccedilatildeo teoloacutegica da experiecircncia cristatilde de Deus a loacutegica da encarnaccedilatildeo Aqui se
encontra o coraccedilatildeo do Misteacuterio feito histoacuteria e a pedagogia para viver tal histoacuteria como
uacutenica e soacute histoacuteria Refletindo sobre tal especificidade da experiecircncia cristatilde de Deus L Boffafirma que
No cristianismo articulou-se a experiecircncia do Misteacuterio como histoacuteria doMisteacuterio O Sentido natildeo ficou di-fuso pro-fuso e con-fuso dentro darealidade Ele armou tenda entre noacutes e se chamou Jesus Cristo (cf Jo 114) OMisteacuterio eacute tatildeo radicalmente Misteacuterio que pode sem perder sua identidadefazer-se carne e histoacuteria Ele pode subsistir totalmente num Outro diferentedele Se assim natildeo fora natildeo mostraria sua onipotecircncia nem seu caraacuteter deMisteacuterio Entatildeo sendo vida ele pode morrer Fazendo-se morte ele podeviver Ele pode sendo impalpaacutevel fazer-se impalpaacutevel sendo invisiacutevel
fazer-se visiacutevel sendo Criador fazer-se criatura (BOFF 2002 p 106)
Essa natildeo ldquodi-fusatildeo pro-fusatildeo e con-fusatildeordquo do Misteacuterio presente em meio a noacutes se
realiza por que haacute uma existecircncia concreta que abriga tal Misteacuterio A encarnaccedilatildeo confere os
contornos a concretude da presenccedila de Deus E eacute exatamente isso que nos permite nomeaacute-
lo Se nos eacute possiacutevel falar de Deus em perspectiva cristatilde soacute podemos fazecirc-lo de forma
criacutestica Isso significa dizer que ldquoa experiecircncia cristatilde de Deus eacute uma experiecircncia da
presenccedila do Sentido radical numa existecircncia historicamente dada a existecircncia de Jesus e na
palavra da revelaccedilatildeo que eacute totalmente condicionada por essa existecircncia histoacuterica na medida
em que dela procede e a ela se refererdquo (VAZ 1986 p 253)
Da dimensatildeo de concretude legada agrave experiecircncia cristatilde de Deus surge como ldquooutra
face da moedardquo a dimensatildeo relacional Se com a primeira a experiecircncia cristatilde de Deus
ganha seu contorno com a segunda ela ganha sua profundidade Natildeo eacute possiacutevel conceber a
presenccedila de Deus em Jesus o Cristo sem que se afirme a loacutegica relacional ou
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intersubjetiva A teologia cristatilde quando se propotildee nomear o Real a partir de Jesus natildeo pode
sob pena de perder completamente decair num esquema racionalista de sujeitoobjeto Se
fizer isso a teologia trataraacute a revelaccedilatildeo somente como pauta doutrinaacuteria devendo ser
acessada exclusivamente pelas normas da razatildeo tanto nas metodologia especulativas
quanto nas apologeacuteticas Ambas poreacutem subjugadas ao mesmo princiacutepio de uma razatildeo
estreita Nesse caso o Real nomeado Deus natildeo eacute mais que um objeto descritiacutevel
Falando acerca de uma teologia cristatilde da revelaccedilatildeo como encontro entre sujeitos
Roger Haight (cf 2004 p 89-107) apresenta importantes consideraccedilotildees sobre a dimensatildeo
relacional de tal evento Ele afirma ldquoNatildeo se trata de uma operaccedilatildeo dedutiva que argumenta
com base na personalidade de Deus e sim de uma fenomenologia da experiecircncia darevelaccedilatildeo cristatilde que responde pela crenccedila segundo a qual Deus eacute pessoalrdquo (HAIGHT
2004 p 94) A encarnaccedilatildeo natildeo permite menos que isso ela eacute a radicalizaccedilatildeo da
pessoalidade de Deus Neste sentido ldquoa revelaccedilatildeo cristatilde natildeo se afigura como conhecimento
a respeito de Deus como de um objeto nem mesmo como conhecimento de uma pessoa
transcendente A revelaccedilatildeo cristatilde assume antes a forma de um encontro pessoal com um
sujeito divinordquo (HAIGHT 2004 p 94)
983093 983107983151983150983139983148983157983145983150983140983151 983137 983152983137983154983156983145983154 983140983151 983152983154983145983150983139983277983152983145983151
A encarnaccedilatildeo reclama a relaccedilatildeo e esta por sua vez afirma a experiecircncia como
expressatildeo privilegiada O Real nomeado corajosamente pela teologia cristatilde como Deus em
sua plena revelaccedilatildeo que eacute Jesus o Cristo natildeo permite agrave teologia menos que comunicaccedilatildeo
intersubjetiva Deus natildeo estaacute para a teologia como um conceito a ser apreendido antes
como um sujeito que a desafia a uma relaccedilatildeo ldquoDeus eacute experimentado como sujeito de tal
sorte que o contato ou percepccedilatildeo humana de Deus natildeo pode ser um conhecimento acerca de
Deus como de um objetordquo ldquoNa revelaccedilatildeo cristatilde Deus eacute experimentado como eu pessoalrdquo
(HAIGHT 2004 p 95 passim)
Em termos da teologia cristatilde falar sobre experiecircncia de Deus eacute assumir os riscos de
nomeaacute-lo e isso constitui-se numa urgente compreensatildeo responsaacutevel e ampliada da
teologia da revelaccedilatildeo Tratar esta uacuteltima sem atentar para os criteacuterios criacutesticos colocados
pela encarnaccedilatildeo e a relacionalidade dela derivada significa cair na armadilha de tal
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nomeaccedilatildeo objetivaccedilatildeo do Real e consequente idolatria Falar de Deus a partir da
perspectiva cristatilde precisa ser sempre um falar situado como exige a encarnaccedilatildeo e
intersubjetivo como propotildee a radical pessoalidade do encarnado Nas palavras de R Haight
(2004 p 97) ldquoo conteuacutedo positivo da revelaccedilatildeo portanto eacute influenciado e determinado
pelo meio que medeia a experiecircncia da presenccedila e da iniciativa de Deus No caso da
revelaccedilatildeo cristatilde Jesus eacute seu meio histoacuterico centralrdquo
983122983141983142983141983154983274983150983139983145983137983155
BOFF Leonardo Experimentar Deus A transparecircncia de todas as coisas 3 edPetroacutepolis Vozes 2002
BUBER Martin O Eclipse de Deus Consideraccedilotildees sobre a relaccedilatildeo entre religiatildeo efilosofia Campinas Verus 2007
HAIGHT Roger Dinacircmica da teologia Satildeo Paulo Paulinas 2004
LIBANIO Joatildeo Batista Desafios da poacutes-modernidade agrave Teologia Fundamental InTRASFERETTI Joseacute GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992
MELLO Anthony O canto do paacutessaro Contemplar a Deus em todas as coisas e todas ascoisas em Deus 11 ed Satildeo Paulo Loyola 2003
MESLIN Michel A Experiecircncia Humana do Divino Fundamentos de uma antropologiareligiosa Petroacutepolis Vozes 1992
OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991
PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas2007
QUEIRUGA Andreacutes Torres Fim do cristianismo preacute-moderno Satildeo Paulo Paulus 2003
QUEIRUGA Andreacutes Torres A revelaccedilatildeo de Deus na realizaccedilatildeo humana Satildeo PauloPaulus 1995
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RICOEUR Paul Entre filosofia e teologia II nomear Deus In RICOEUR Paul Leituras3 Nas fronteiras da filosofia Satildeo Paulo Loyola 1996
RICOEUR Paul A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006
TILLICH Paul Dinacircmica da feacute 6 ed Satildeo Leopoldo Sinodal 2001
TRASFERETTI Joseacute amp GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
VAZ Henrique C de Lima Escritos de filosofia Problemas de fronteira Satildeo PauloLoyola 1986
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Um texto eacute primordialmente um anel em uma corrente comunicativa emprimeiro lugar uma experiecircncia de vida eacute levada agrave linguagem torna-sediscurso depois o discurso se diferencia em fala e em escrita [] a escritapor sua vez eacute restituiacuteda agrave fala viva por meio dos diversos atos do discursoque reatualizam o texto A leitura e a pregaccedilatildeo satildeo atualizaccedilotildees desse tipo nafala da escrita Um texto eacute sob esse ponto de vista como uma partituramusical que pede para ser executada (alguns criacuteticos reagindo contra oexcesso do texto em si chegam ateacute mesmo a dizer que eacute o ldquoleitor no textordquoque completa o seu sentido por exemplo ao completar as suas lacunasresolvendo as suas ambiguumlidades ateacute mesmo corrigindo a sua ordemnarrativa ou argumentativa) (RICOEUR 1996 p 184)
A primazia do voltar-se agrave experiecircncia de Deus no processo ousado de nomeaacute-lo
reforccedila a postura discursiva teoloacutegica simboacutelico-polifocircnica em seu estado de inacabamento
e abertura Mais uma vez Ricoeur (1996 p195) observa que ldquoO referente lsquoDeusrsquo natildeo eacute
apenas o indicador do pertencimento muacutetuo das formas originaacuterias do discurso da feacute ele
tambeacutem eacute o seu inacabamento Ele eacute a sua visada comum e o que escapa a cada uma delasrdquo
Como na epiacutegrafe de Anthony de Mello o proacuteprio da tarefa teoloacutegica frente a
possiacutevel experiecircncia da desvelada presenccedila do Real eacute dizer como o peixe mais experiente
ldquoMas eacute precisamente no Oceano que vocecirc estaacute nadandordquo (MELLO 2003 p 22) A ousadia
de nomear eacute a mais radical tarefa que se apresenta ao fazer teoloacutegico discernir junto agravecomunidade que pergunta mesmo sem as palavras precisas ldquoPor favor por favorrdquo Disse
um peixe do mar a outro peixe ldquoVocecirc que deve ter mais experiecircncia talvez possa ajudar-
me Entatildeo me diga Onde posso encontrar a coisa imensa que chamam de Oceano
(MELLO 2003 p 22)
983091 983105 983141983160983152983141983154983145983274983150983139983145983137 983139983151983149983151 983148983151983139983157983155 983156983144983141983151983148983151983143983145983139983151 983140983137 983150983151983149983141983137983271983267983151 983140983141 983108983141983157983155
Tendo feito portanto uma distinccedilatildeo preliminar entre experiecircncia religiosa e
experiecircncia teoloacutegica sobretudo no sentido de afirmar o proacuteprio da experiecircncia teoloacutegica
bem como a postura ou estrateacutegia discursiva que orienta toda nossa argumentaccedilatildeo eacute preciso
avanccedilar em nossa temaacutetica Para tanto nos propomos a fazer um percurso do universal
revelado no conceito de Sagrado (proacuteprio da fenomenologia da religiatildeo) ao particular desse
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Sagrado nomeado Deus pela teologia no interior da feacute cristatilde Para tanto daremos os
seguintes passos
983137) exposiccedilatildeo da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo
983138) o aacutepice da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo expressado na
encarnaccedilatildeo bem como a expressividade relacional que episoacutedio apical oferece agrave
teologia da revelaccedilatildeo
Antes poreacutem de entrarmos diretamente na discussatildeo sobre a centralidade da
experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo faz-se necessaacuterio mostrar a iacutentima relaccedilatildeo entre apresenccedila de Deus ndash jaacute nomeado no interior da teologia cristatilde ndash e experiecircncia como
expressatildeo de cognoscibilidade humana Relaccedilatildeo esta que se realiza de forma pujante na
poacutes-modernidade Para isso consideraremos algumas contribuiccedilotildees de Andreacutes Torres
Queiruga Conforme este teoacutelogo ldquode fato Deus estaacute presente em toda a realidade aberto agrave
experiecircncia religiosamente cognoscitiva do homemrdquo (QUEIRUGA 1995 p 148) Assim
AT Queiruga sintetiza a iacutentima relaccedilatildeo que haacute entre Deus e o humano Deus eacute presenccedila e
o ser humano como ser de abertura pode fazer experiecircncia de tal presenccedila Aliaacutes ndash e essa eacute
a tese de A T Queiruga ndash humano soacute seraacute pleno em sua humanidade no acolhimento da
revelaccedilatildeo da mesma forma que tal revelaccedilatildeo soacute pode ser justamente compreendida na
dinacircmica da realizaccedilatildeo plena do humano
A perspectiva esposada por Queiruga eacute ampla e profunda Sua amplitude consiste
em dizer que Deus eacute presenccedila em ldquotoda a realidaderdquo Sobre isso ele afirma ldquoO divino eacute
sempre experimentado como lsquotranscendecircncia ativarsquo que sai ndash por proacutepria iniciativa ndash ao
encontro do homem e por isso toda a religiatildeo se considera enfim reveladardquo
(QUEIRUGA 1995 p 149) Jaacute sua profundidade jaz na proposiccedilatildeo de que Deus ldquoestaacute
aberto agrave experiecircncia humanardquo Aqui haacute uma importante questatildeo a ser trabalhada a abertura
de Deus agrave profundidade experiencial do humano presente sobretudo na vivecircncia religiosa
deixou de ser conatural e espontacircnea em funccedilatildeo da ascensatildeo do movimento criacutetico da
reflexatildeo ao estado uacuteltimo da evoluccedilatildeo da cognoscibilidade humana Aprofundou-se desta
forma a distinccedilatildeo entre o Deus da filosofia e o Deus da religiatildeo O primeiro eacute ldquoanalisado ou
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deduzido como objeto do pensamento criacuteticordquo O Segundo eacute ldquovivenciado espontaneamente
como sujeito ativordquo (QUEIRUGA 1995 149 passim)
Do ponto vista filosoacutefico e teoloacutegico judaico Martin Buber reflete essa mesma
questatildeo da seguinte forma
A religiatildeo mesmo que o ldquoIncriadordquo natildeo seja expresso com a boca nem com aalma fundamenta-se na dualidade Eu-Tu a filosofia mesmo quando o atofilosoacutefico desemboca em uma visatildeo de unidade fundamenta-se na dualidadesujeito-objeto A dualidade Eu-Tu completa-se na relaccedilatildeo religiosa adualidade sujeito-objeto eacute o que sustenta a filosofia enquanto se faz filosofia[] Eu-Tu subsistem graccedilas agrave concretude vivida e dentro dessa concretudesujeito e objeto produtos da forccedila de abstraccedilatildeo soacute duram enquanto dura aabstraccedilatildeo (BUBER 2007 p 32)
Falar de experiecircncia com a presenccedila desvelada de Deus eacute falar pois em relaccedilatildeo ao
ldquoDeus da religiatildeordquo agrave relacionalidade e concretude do Eu-Tu Queiruga explicita claramente
esse assento no experiencial-relacional-concreto da relaccedilatildeo com a revelaccedilatildeo nos seguintes
termos ldquoEnquanto o homem experimenta ndash em si mesmo como natureza ou na histoacuteria ndash a
Deus como chegando a ele como manifestando-se a ele estaacute tendo a experiecircncia radical da
revelaccedilatildeordquo (QUEIRUGA 1995 p 149) Para AT Queiruga eacute preciso assumir que ldquoDeus
estaacute realmente presente em todos os homens e se revela a eles realmente [] revela-se a
eles sobretudo nas experiecircncias mediadas por suas tradiccedilotildees religiosasrdquo (QUEIRUGA
1995 p 150-151)
Implicitamente estamos argumentando sobre o transfundo da passagem criacutetica da
razatildeo instrumental moderna agrave racionalidade-relacionalidade (raciovitallismo) poacutes-moderna
Refletindo especificamente sobre tal passagem Torres Queiruga afirma a seguinte
compreensatildeo sobre a teologia
Nesse sentido natildeo concebo a teologia senatildeo como decididamente poacutes-
ilustrada O que natildeo eacute o mesmo (devo advertir porque algumas vezes fuiinterpretado nessa direccedilatildeo) que simplesmente ldquoilustradardquo Se prestarmosatenccedilatildeo eacute justamente o contraacuterio Porque ser poacutes significa que natildeo se poderetroceder nos desafios perguntas e perspectivas abertas pelo iluminismoporeacutem bem por isso impotildeem-se para noacutes seguir adiante sendo lucidamentecriacuteticos com as soluccedilotildees iniciais em grande parte prematuras e carregadas deuma polecircmica unilateralidade (QUEIRUGA 2003 p 22-23)
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Percebendo a ldquorevoluccedilatildeo epocalrdquo ou ldquomudanccedila de paradigmardquo que representa o poacutes
para a teologia logo depois de apreciar o pensamento de Gianni Vattimo como
representante de uma ldquoevoluccedilatildeo filosoacuteficardquo AT Queiruga afirma ldquoPara um pensamento
responsaacutevel tudo isso deveria significar antes de tudo e sobretudo uma soacute coisa a
necessidade ineludiacutevel de enfrentar lucidamente a nova situaccedilatildeo buscando um equiliacutebrio
atualizadordquo (QUEIRUGA 2003 p 23-25 passim) Como desdobramento ao necessaacuterio
enfrentamento dessa ldquonova situaccedilatildeordquo Queiruga trava um contato criacutetico com a poacutes-
modernidade e tece a seguinte consideraccedilatildeo
Existe uma [] valecircncia positiva que se encontra no fato de ter (a poacutes-modernidade) propiciado a percepccedilatildeo de novos valores No acircmbito doindividual suscitou ou ao menos ativou a revalorizaccedilatildeo do pequeno atoleracircncia para com o diferente a desobstruccedilatildeo do estabelecido o novoapreccedilo do corpo a revitalizaccedilatildeo da experiecircncia (QUEIRUGA 2003 p 112)
Tornando ainda mais especiacuteficas as suas consideraccedilotildees sobre a poacutes-modernidade em
sua relaccedilatildeo com a religiatildeo sobretudo no sentido de afirmar o primado da experiecircncia AT
Queiruga afirma que a ldquopoacutes-modernidade lsquoreligiosarsquo partindo desta abertura se difrata em
muacuteltiplas formas em busca de uma vivecircncia de fraternidade que abrace todo o real e leve a
uma experiecircncia atual do Absolutordquo (QUEIRUGA 2003 p116)
Enfrentando mais propriamente o primeiro passo da relaccedilatildeo experiecircnciateologia ndash
centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo ndash partiremos de uma discussatildeo de
teologia fundamental e experiecircncia no horizonte poacutes-moderno daremos o contorno da
experiecircncia em face da revelaccedilatildeo de Deus e como passagem ao segundo passo acima
enunciado ndash encarnaccedilatildeo como aacutepice da centralidade da experiecircncia para a teologia da
revelaccedilatildeo ndash trabalharemos a dimensatildeo holiacutestica e relacional tatildeo iacutentimas do diacutestico
experiecircnciarevelaccedilatildeoldquoA crise da razatildeo eacute a consciecircncia da irracionalidade gigantesca dessa mesma razatildeordquo
(LIBANIO 2003 p 163) Assim Joatildeo Batista Libanio introduz uma interessante reflexatildeo
sobre a Teologia Fundamental1 no contexto desafiante da poacutes-modernidade Foi no interior
1 JB Libanio jaacute havia escrito uma importante obra sobre Revelaccedilatildeo soacute que em franco diaacutelogo com amodernidade Cf LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992 Nesta obra o autor destina dois capiacutetulos para refletir sobre a relaccedilatildeo experiecircnciateologia pp195-248
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da proacutepria modernidade com sua tendecircncia agrave extrema especializaccedilatildeo que o conceito de
razatildeo forte comeccedilou a ruir No lugar de tal razatildeo forte surgiu um princiacutepio de
enfraquecimento da razatildeo que elevou a experiecircncia agrave condiccedilatildeo primordial em relaccedilatildeo
teologia da revelaccedilatildeo (Cf LIBANIO 2003 p 162-163)
Neste sentido JB Libanio afirma ldquoUm caminho viaacutevel sugere partir das
experiecircncias significativas das pessoas explicitando-as para elas mesmas E de dentro delas
mostrar como a revelaccedilatildeo vem responder concretamente a elasrdquo (LIBANIO 2003 p 165)
Diante disso a teologia se vecirc frente a uma tarefa inalienaacutevel ajudar homens e mulheres no
discernimento de suas experiecircncias contribuindo para a nomeaccedilatildeo e esclarecimento de um
universo plural de sinais feacuterteis da presenccedila de Deus
983092 983108983137 983156983157983156983141983148983137 983137983151 983140983145983155983139983141983154983150983145983149983141983150983156983151983098 983140983141983155983148983151983139983137983149983141983150983156983151983155 983140983141 983152983137983152983141983145983155 983140983137 983156983141983151983148983151983143983145983137 983142983154983141983150983156983141 983137983151
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A desafiante tarefa teoloacutegica consiste portanto em contribuir no processo de
discernimento das experiecircncias efetivamente feitas por homens e mulheres dentro de seus
mais variados lugares culturais Essa contribuiccedilatildeo contudo natildeo o seraacute em toda a sua
espessura se natildeo for realizada a partir de dentro mesmo dos mundos onde habitam esses eessas que satildeo os verdadeiros protagonistas da recepccedilatildeo da presenccedila divina JB Libanio
descreve as caracteriacutesticas desses lugares culturais poacutes-modernos onde a recepccedilatildeo da
presenccedila de Deus eacute experimentada
Tanto mais pertinente parece tal caminho quanto mais se percebe quecrescem nas pessoas o interesse a sensibilidade e gosto pelos siacutembolos pelossinais pela beleza e pela esteacutetica [] A beleza e a forccedila significativa dossinais tocam mais profundamente a geraccedilatildeo poacutes-moderna Uma teologia
fundamental para tal momento cultural requer agilidade mental em que aalusatildeo a insinuaccedilatildeo o jogo simboacutelico a beleza das reflexotildees superem umaracionalidade loacutegica cada vez mais inacessiacutevel (LIBANIO 2003 p 165)
A moldura epistemoloacutegica necessaacuteria para contornar esse cenaacuterio teoloacutegico e
existencial deve compor-se de uma sensibilidade adequada a tal cenaacuterio Urge portanto
uma superaccedilatildeo de molduras que tatildeo bem enquadraram cenaacuterios passados mas que agora soacute
fazem distorcer a percepccedilatildeo do horizonte novo que se apresenta Uma nova racionalidade
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que possibilite agrave teologia ler nas experiecircncias humanas experiecircncias de Deus JB Libanio
faz uma importante consideraccedilatildeo a esse respeito Ele afirma que ldquoquando poreacutem se entra
pelo campo dos siacutembolos da esteacutetica natildeo se renuncia agrave razatildeo mas trabalha-se com outra
dimensatildeo da racionalidade cujo acesso natildeo depende dos conhecimentos racionais
sofisticados e inacessiacuteveis e sim de outra fonterdquo (LIBANIO 2003 p 166)
O lugar onde a teologia eacute pensada e proposta sofre um radical deslocamento (Cf
LIBANIO 2003 p 169) Ela e seus processos satildeo deslocados para o interior das
comunidades onde natildeo interessam tanto formulaccedilotildees teoacutericas sobre a feacute mas antes
narrativas de experiecircncias da presenccedila de Deus veiculadas por sinais e siacutembolos proacuteprios de
tais universos Narrar as proacuteprias experiecircncias Esse eacute o processo catequeacutetico proacuteprio deuma racionalidade poacutes-moderna Cabe a teologia como ldquoirmatilde mais velhardquo contribuir a
partir do depoacutesito das muitas tradiccedilotildees no discernimento de tal dinacircmica catequeacutetica afim
de que esta seja consequumlente com a feacute cristatilde em suas muacuteltiplas expressotildees
Esse novo lugar que a teologia eacute convidada a habitar tem como atmosfera proacutepria a
experiecircncia Eacute a partir e de dentro dela que se quer ousar nomear a presenccedila do Real que a
todos envolve Na experiecircncia da presenccedila do Real assumimos o risco de chamaacute-lo Deus
Tal atitude se constitui num risco porque o desafio de nomear Deus pode degenerar na
tentativa de defini-lo incorrendo dessa forma na mais radical idolatria Acerca desse risco
Paul Tillich adverte ldquoDeusrdquo eacute siacutembolo para Deus Isso significa que precisamos distinguir
dois elementos em nossa concepccedilatildeo de Deus uma vez o elemento incondicional que se
manifesta na experiecircncia imediata e em si natildeo eacute simboacutelico e por outro lado o elemento
concreto que eacute obtido de nossa experiecircncia normal e eacute simbolicamente relacionado com
Deus [] ldquodeusrdquo eacute siacutembolo de Deus Nesse sentido Deus eacute o conteuacutedo proacuteprio e
universalmente vaacutelido da feacute (Cf TILLICH 2001 p 33-34)
Neste sentido precisar um pouco mais os contornos da experiecircncia em face agravenomeaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Real se faz necessaacuterio Uma vez que jaacute estabelecemos tanto uma
conceituaccedilatildeo filosoacutefica acerca da experiecircncia quanto uma descriccedilatildeo de sua importacircncia
para a percepccedilatildeo da presenccedila do Sagrado no escopo da fenomenologia da religiatildeo cabe-nos
ainda a tarefa de tracejar os contornos da experiecircncia no interior da teologia e daquilo que
lhe eacute proacuteprio Para tanto recorreremos a discussatildeo proposta por Gerald OrsquoCollins em sua
obra Teologia Fundamental especificamente no segundo capiacutetulo intitulado A
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experiecircncia humana2
G OrsquoCollins tratando da experiecircncia em si (cf 1991 p 54-55) estabelece um
conjunto de caracteriacutesticas proacuteprias em face agrave sua relaccedilatildeo com a teologia Em primeiro
lugar toda a experiecircncia tem um significado ou seja haacute uma comunicaccedilatildeo de sentido
agravequeles que fazem uma experiecircncia de Deus Essa primeira caracteriacutestica aponta para a
profundidade que tal evento produz na existecircncia humana Ao contraacuterio do que por vezes eacute
dito a experiecircncia natildeo eacute ldquoepideacutermicardquo ou ao menos natildeo o eacute somente Por se dar em iacutentimo
contato com nossa dimensatildeo empiacuterica ela natildeo estaacute fadada agrave fugacidade Haacute efetivamente
um sentido intriacutenseca e profundamente dado numa experiecircncia de Deus
Marcando a incidecircncia profunda e espessa que a experiecircncia gera na existecircnciahumana G OrsquoCollins salienta sua natildeo reduccedilatildeo ao exclusivamente efecircmero afirmando que
ldquopodemos esperar que o mundo e nossas experiecircncias faccedilam sentido contanto que natildeo
insistamos num sentido simples e imediatordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) Nesse sentido eacute
como se a experiecircncia humana de Deus ecoa-se desde o iacutentimo daquele que a faz
reverberando sua accedilatildeo e influxo para todas as dimensotildees da existecircncia humana O sentido
de tal experiecircncia vai se afirmando e sendo percebido agrave medida que em tais dimensotildees
dessa experiecircncia vai sendo reconhecida e acolhida
Esse processo de afirmaccedilatildeo de sentido que surge de experiecircncia de Deus feita nos
contornos da existecircncia humana tem uma teleologia G OrsquoCollins identifica tal finalidade
como a segunda caracteriacutestica da experiecircncia em sua relaccedilatildeo com a teologia Ele afirma que
ldquotoda experiecircncia traz consigo um certo propoacutesito ou finalidade Leva-nos em alguma
direccedilatildeordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) No escopo da teologia da revelaccedilatildeo a finalidade de
uma experiecircncia de Deus deve ser consequumlente com o proacuteprio revelado experimentado Ou
seja a teleologia deve encontrar consonacircncia com a teologia recebendo desta os elementos
para seu discernimento G OrsquoCollins exemplifica essa segunda caracteriacutestica da seguinteforma ldquoA experiecircncia do amor genuiacuteno torna-se enriquecedor do outro e pessoalmente
enriquecedorrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55)
Experimentar o amor eacute mover-se na dinacircmica do proacuteprio amor Isso daacute o peso e
concretude da experiecircncia ajudando a corrigir possiacuteveis reduccedilotildees fugazes e epideacutermicas G
OrsquoCollins identifica nessa dimensatildeo de concretude a terceira caracteriacutestica da experiecircncia
2 OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991 p 47-70
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ldquoA experiecircncia natildeo eacute nada se natildeo for concretardquo Sua espessura e historicidade evidenciam-
se exatamente aiacute Natildeo haacute espaccedilo para abstraccedilotildees ldquopurasrdquo para racionalizaccedilotildees aprioriacutesticas
ou recursos a formulaccedilotildees axiomaacuteticas fundadas sobre recursos metafiacutesicos Uma teologia
da revelaccedilatildeo nesse acento da experiecircncia natildeo pode ser pensada em geral porque ldquonatildeo
existem experiecircncias em geralrdquo ldquoUma experiecircncia de Deus [] soacute ocorre em momentos
particulares em lugares particulares e com pessoas particularesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p
56 passim)
Em quarto lugar G OrsquoCollins menciona como importante caracteriacutestica da
experiecircncia uma abertura ao novo ao ineacutedito ao natildeo ordinaacuterio Ele menciona como os
teoacutericos que tratam dessa temaacutetica utilizam o recurso da linguagem para expressar osurpreendente que se mostra numa experiecircncia Expressotildees como ldquoexperiecircncia-aacutepicerdquo
ldquosituaccedilotildees-limiterdquo ou ldquoexperiecircncia-limiterdquo revelam que ldquoa experiecircncia sugere prontamente
algo de novo ou inesperado que deixa a sua marca no sujeito e o abre para outras
experiecircncia no futurordquo Em suma conclui G OrsquoCollins ldquoA experiecircncia genuiacutena transcende
as nossas previsotildeesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 56 passim)
Outro autor que pode ajudar na compreensatildeo da importacircncia da experiecircncia em
relaccedilatildeo agrave teologia da revelaccedilatildeo eacute Raimon Panikkar especificamente em sua obra Iacutecones do
misteacuterio3 No acircmbito da reflexatildeo sobre o risco de nomear o Real chamando-o Deus
intrinsecamente presente no ato da experiecircncia R Panikkar (2007 p 75) comeccedila por
advertir que ldquotudo o que se possa dizer com estrita racionalidade da experiecircncia de Deus eacute
idolatriardquo A experiecircncia de Deus eacute um ato do ser humano portanto natildeo estaacute para a
compreensatildeo de uma uacutenica dimensatildeo deste mesmo sendo esta a proacutepria razatildeo Ela soacute pode
ser percebida em sua espessura se colocada para a integralidade do humano inclusive para
sua dimensatildeo misteacuterica
Eacute exatamente essa amplitude da espessura do Real que nomeamos tatildeoparticularmente de Deus que possibilita-nos ser inteiramente humanos A experiecircncia de
Deus reclama nossa humanidade inteira por isso somente diante dela podemos nos afirmar
como inteiramente humanos ldquoO ser humano chega a ser plenamente humano quando faz a
experiecircncia de seu uacuteltimo lsquofundamentorsquo do que realmente eacuterdquo (PANIKKAR 2007 p 76)
3 PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas 2007
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Por ser uma experiecircncia que reclama a inteireza do humano ela eacute constitutivamente
relacional De forma bastante clara R Panikkar afirma que
sem os laccedilos que nos unem com toda a realidade natildeo podemos terexperiecircncia de Deus [] A experiecircncia de Deus eacute a raiz de toda experiecircnciaEacute a experiecircncia em profundidade de todas e cada uma das experiecircnciashumanas do amigo da palavra da conversa Eacute a experiecircncia subjacente atoda experiecircncia humana dor beleza prazer bondade anguacutestia friosubjacente a toda experiecircncia no tanto que nos descobre uma dimensatildeo deinfinito natildeo-finito in-acabado Subjacente a toda experiecircncia e portantonatildeo suscetiacutevel a ser completamente expressa em qualquer ideacuteia sensaccedilatildeo ousentimento (PANIKKAR 2007 p 77-78)
Da experiecircncia de Deus surge entatildeo a possibilidade da experiecircncia plena dohumano Nela estaacute a fonte para a relacionalidade que eacute constitutiva do humano
humanizado Conforme o autor (2007 p 79) tal processo de humanizaccedilatildeo constitui
a experiecircncia de Deus que subjaz toda experiecircncia e pela qual nos fazemoshumanos nos faz conscientes de nossa contingecircncia torna-nos humildes ecapazes de compreender Por essa experiecircncia nos damos conta de queestamos dentro de algo que abarca tudo e somos conscientes de uma dupladimensatildeo de ausecircncia e presenccedila
Mesmo jaacute tendo delineado os contornos da experiecircncia de Deus em perspectivateoloacutegica fica restando ainda uma tarefa importante no processo de especificaccedilatildeo de nossa
temaacutetica Eacute preciso perguntar pelos criteacuterios que nos possam permitir identificar com
alguma clareza as diferenccedilas entre experiecircncia teoloacutegica das demais formas de experiecircncia
do Sagrado4 Para isso eacute preciso explicitar o que ateacute aqui esteve impliacutecito ao longo de toda
exposiccedilatildeo deste toacutepico falamos de experiecircncia teoloacutegica cristatilde
O ponto apical da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo em
perspectiva cristatilde se expressa na encarnaccedilatildeo Nela a experiecircncia de Deus ganha suainalienaacutevel topografia a concretude da existecircncia de homens e mulheres situados em seus
muacuteltiplos e respectivos contextos E ainda tal experiecircncia encontra sua irredutiacutevel
expressividade relacional que em uacuteltima anaacutelise eacute quem a qualifica como experiecircncia de
4 H C de Lima Vaz faz uma importante distinccedilatildeo entre experiecircncia religiosa (experiecircncia do Sagrado) eexperiecircncia de Deus (experiecircncia de Sentido) Haacute claramente um corte uma delimitaccedilatildeo que faz daexperiecircncia de Deus uma experiecircncia com certa especificidade Cf VAZ Henrique C de Lima Escritos defilosofia Problemas de fronteira Satildeo Paulo Loyola 1986 p 248-253
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Deus (assumindo tal nomeaccedilatildeo a partir do que nos foi dado a conhecer pela vida de Jesus
de Nazareacute compreendido teologicamente como o Cristo conforme o fazem os evangelhos)
A experiecircncia cristatilde de Deus eacute tanto uma experiecircncia da encarnaccedilatildeo quanto de
encarnaccedilatildeo Isso eacute o que nos pode revelar a vida de Jesus o Cristo Sendo ele o proacuteprio
Deus encarnado vive numa condiccedilatildeo radicalmente marcada por tal encarnaccedilatildeo quer do
ponto de vista geograacutefico quer do ponto religioso cultural ou existencial Deus
encarnando-se se auto-delimita e delimita a nos apresentando o modus operandi para a
articulaccedilatildeo teoloacutegica da experiecircncia cristatilde de Deus a loacutegica da encarnaccedilatildeo Aqui se
encontra o coraccedilatildeo do Misteacuterio feito histoacuteria e a pedagogia para viver tal histoacuteria como
uacutenica e soacute histoacuteria Refletindo sobre tal especificidade da experiecircncia cristatilde de Deus L Boffafirma que
No cristianismo articulou-se a experiecircncia do Misteacuterio como histoacuteria doMisteacuterio O Sentido natildeo ficou di-fuso pro-fuso e con-fuso dentro darealidade Ele armou tenda entre noacutes e se chamou Jesus Cristo (cf Jo 114) OMisteacuterio eacute tatildeo radicalmente Misteacuterio que pode sem perder sua identidadefazer-se carne e histoacuteria Ele pode subsistir totalmente num Outro diferentedele Se assim natildeo fora natildeo mostraria sua onipotecircncia nem seu caraacuteter deMisteacuterio Entatildeo sendo vida ele pode morrer Fazendo-se morte ele podeviver Ele pode sendo impalpaacutevel fazer-se impalpaacutevel sendo invisiacutevel
fazer-se visiacutevel sendo Criador fazer-se criatura (BOFF 2002 p 106)
Essa natildeo ldquodi-fusatildeo pro-fusatildeo e con-fusatildeordquo do Misteacuterio presente em meio a noacutes se
realiza por que haacute uma existecircncia concreta que abriga tal Misteacuterio A encarnaccedilatildeo confere os
contornos a concretude da presenccedila de Deus E eacute exatamente isso que nos permite nomeaacute-
lo Se nos eacute possiacutevel falar de Deus em perspectiva cristatilde soacute podemos fazecirc-lo de forma
criacutestica Isso significa dizer que ldquoa experiecircncia cristatilde de Deus eacute uma experiecircncia da
presenccedila do Sentido radical numa existecircncia historicamente dada a existecircncia de Jesus e na
palavra da revelaccedilatildeo que eacute totalmente condicionada por essa existecircncia histoacuterica na medida
em que dela procede e a ela se refererdquo (VAZ 1986 p 253)
Da dimensatildeo de concretude legada agrave experiecircncia cristatilde de Deus surge como ldquooutra
face da moedardquo a dimensatildeo relacional Se com a primeira a experiecircncia cristatilde de Deus
ganha seu contorno com a segunda ela ganha sua profundidade Natildeo eacute possiacutevel conceber a
presenccedila de Deus em Jesus o Cristo sem que se afirme a loacutegica relacional ou
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intersubjetiva A teologia cristatilde quando se propotildee nomear o Real a partir de Jesus natildeo pode
sob pena de perder completamente decair num esquema racionalista de sujeitoobjeto Se
fizer isso a teologia trataraacute a revelaccedilatildeo somente como pauta doutrinaacuteria devendo ser
acessada exclusivamente pelas normas da razatildeo tanto nas metodologia especulativas
quanto nas apologeacuteticas Ambas poreacutem subjugadas ao mesmo princiacutepio de uma razatildeo
estreita Nesse caso o Real nomeado Deus natildeo eacute mais que um objeto descritiacutevel
Falando acerca de uma teologia cristatilde da revelaccedilatildeo como encontro entre sujeitos
Roger Haight (cf 2004 p 89-107) apresenta importantes consideraccedilotildees sobre a dimensatildeo
relacional de tal evento Ele afirma ldquoNatildeo se trata de uma operaccedilatildeo dedutiva que argumenta
com base na personalidade de Deus e sim de uma fenomenologia da experiecircncia darevelaccedilatildeo cristatilde que responde pela crenccedila segundo a qual Deus eacute pessoalrdquo (HAIGHT
2004 p 94) A encarnaccedilatildeo natildeo permite menos que isso ela eacute a radicalizaccedilatildeo da
pessoalidade de Deus Neste sentido ldquoa revelaccedilatildeo cristatilde natildeo se afigura como conhecimento
a respeito de Deus como de um objeto nem mesmo como conhecimento de uma pessoa
transcendente A revelaccedilatildeo cristatilde assume antes a forma de um encontro pessoal com um
sujeito divinordquo (HAIGHT 2004 p 94)
983093 983107983151983150983139983148983157983145983150983140983151 983137 983152983137983154983156983145983154 983140983151 983152983154983145983150983139983277983152983145983151
A encarnaccedilatildeo reclama a relaccedilatildeo e esta por sua vez afirma a experiecircncia como
expressatildeo privilegiada O Real nomeado corajosamente pela teologia cristatilde como Deus em
sua plena revelaccedilatildeo que eacute Jesus o Cristo natildeo permite agrave teologia menos que comunicaccedilatildeo
intersubjetiva Deus natildeo estaacute para a teologia como um conceito a ser apreendido antes
como um sujeito que a desafia a uma relaccedilatildeo ldquoDeus eacute experimentado como sujeito de tal
sorte que o contato ou percepccedilatildeo humana de Deus natildeo pode ser um conhecimento acerca de
Deus como de um objetordquo ldquoNa revelaccedilatildeo cristatilde Deus eacute experimentado como eu pessoalrdquo
(HAIGHT 2004 p 95 passim)
Em termos da teologia cristatilde falar sobre experiecircncia de Deus eacute assumir os riscos de
nomeaacute-lo e isso constitui-se numa urgente compreensatildeo responsaacutevel e ampliada da
teologia da revelaccedilatildeo Tratar esta uacuteltima sem atentar para os criteacuterios criacutesticos colocados
pela encarnaccedilatildeo e a relacionalidade dela derivada significa cair na armadilha de tal
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nomeaccedilatildeo objetivaccedilatildeo do Real e consequente idolatria Falar de Deus a partir da
perspectiva cristatilde precisa ser sempre um falar situado como exige a encarnaccedilatildeo e
intersubjetivo como propotildee a radical pessoalidade do encarnado Nas palavras de R Haight
(2004 p 97) ldquoo conteuacutedo positivo da revelaccedilatildeo portanto eacute influenciado e determinado
pelo meio que medeia a experiecircncia da presenccedila e da iniciativa de Deus No caso da
revelaccedilatildeo cristatilde Jesus eacute seu meio histoacuterico centralrdquo
983122983141983142983141983154983274983150983139983145983137983155
BOFF Leonardo Experimentar Deus A transparecircncia de todas as coisas 3 edPetroacutepolis Vozes 2002
BUBER Martin O Eclipse de Deus Consideraccedilotildees sobre a relaccedilatildeo entre religiatildeo efilosofia Campinas Verus 2007
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LIBANIO Joatildeo Batista Desafios da poacutes-modernidade agrave Teologia Fundamental InTRASFERETTI Joseacute GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992
MELLO Anthony O canto do paacutessaro Contemplar a Deus em todas as coisas e todas ascoisas em Deus 11 ed Satildeo Paulo Loyola 2003
MESLIN Michel A Experiecircncia Humana do Divino Fundamentos de uma antropologiareligiosa Petroacutepolis Vozes 1992
OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991
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RICOEUR Paul Entre filosofia e teologia II nomear Deus In RICOEUR Paul Leituras3 Nas fronteiras da filosofia Satildeo Paulo Loyola 1996
RICOEUR Paul A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006
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TRASFERETTI Joseacute amp GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
VAZ Henrique C de Lima Escritos de filosofia Problemas de fronteira Satildeo PauloLoyola 1986
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Sagrado nomeado Deus pela teologia no interior da feacute cristatilde Para tanto daremos os
seguintes passos
983137) exposiccedilatildeo da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo
983138) o aacutepice da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo expressado na
encarnaccedilatildeo bem como a expressividade relacional que episoacutedio apical oferece agrave
teologia da revelaccedilatildeo
Antes poreacutem de entrarmos diretamente na discussatildeo sobre a centralidade da
experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo faz-se necessaacuterio mostrar a iacutentima relaccedilatildeo entre apresenccedila de Deus ndash jaacute nomeado no interior da teologia cristatilde ndash e experiecircncia como
expressatildeo de cognoscibilidade humana Relaccedilatildeo esta que se realiza de forma pujante na
poacutes-modernidade Para isso consideraremos algumas contribuiccedilotildees de Andreacutes Torres
Queiruga Conforme este teoacutelogo ldquode fato Deus estaacute presente em toda a realidade aberto agrave
experiecircncia religiosamente cognoscitiva do homemrdquo (QUEIRUGA 1995 p 148) Assim
AT Queiruga sintetiza a iacutentima relaccedilatildeo que haacute entre Deus e o humano Deus eacute presenccedila e
o ser humano como ser de abertura pode fazer experiecircncia de tal presenccedila Aliaacutes ndash e essa eacute
a tese de A T Queiruga ndash humano soacute seraacute pleno em sua humanidade no acolhimento da
revelaccedilatildeo da mesma forma que tal revelaccedilatildeo soacute pode ser justamente compreendida na
dinacircmica da realizaccedilatildeo plena do humano
A perspectiva esposada por Queiruga eacute ampla e profunda Sua amplitude consiste
em dizer que Deus eacute presenccedila em ldquotoda a realidaderdquo Sobre isso ele afirma ldquoO divino eacute
sempre experimentado como lsquotranscendecircncia ativarsquo que sai ndash por proacutepria iniciativa ndash ao
encontro do homem e por isso toda a religiatildeo se considera enfim reveladardquo
(QUEIRUGA 1995 p 149) Jaacute sua profundidade jaz na proposiccedilatildeo de que Deus ldquoestaacute
aberto agrave experiecircncia humanardquo Aqui haacute uma importante questatildeo a ser trabalhada a abertura
de Deus agrave profundidade experiencial do humano presente sobretudo na vivecircncia religiosa
deixou de ser conatural e espontacircnea em funccedilatildeo da ascensatildeo do movimento criacutetico da
reflexatildeo ao estado uacuteltimo da evoluccedilatildeo da cognoscibilidade humana Aprofundou-se desta
forma a distinccedilatildeo entre o Deus da filosofia e o Deus da religiatildeo O primeiro eacute ldquoanalisado ou
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deduzido como objeto do pensamento criacuteticordquo O Segundo eacute ldquovivenciado espontaneamente
como sujeito ativordquo (QUEIRUGA 1995 149 passim)
Do ponto vista filosoacutefico e teoloacutegico judaico Martin Buber reflete essa mesma
questatildeo da seguinte forma
A religiatildeo mesmo que o ldquoIncriadordquo natildeo seja expresso com a boca nem com aalma fundamenta-se na dualidade Eu-Tu a filosofia mesmo quando o atofilosoacutefico desemboca em uma visatildeo de unidade fundamenta-se na dualidadesujeito-objeto A dualidade Eu-Tu completa-se na relaccedilatildeo religiosa adualidade sujeito-objeto eacute o que sustenta a filosofia enquanto se faz filosofia[] Eu-Tu subsistem graccedilas agrave concretude vivida e dentro dessa concretudesujeito e objeto produtos da forccedila de abstraccedilatildeo soacute duram enquanto dura aabstraccedilatildeo (BUBER 2007 p 32)
Falar de experiecircncia com a presenccedila desvelada de Deus eacute falar pois em relaccedilatildeo ao
ldquoDeus da religiatildeordquo agrave relacionalidade e concretude do Eu-Tu Queiruga explicita claramente
esse assento no experiencial-relacional-concreto da relaccedilatildeo com a revelaccedilatildeo nos seguintes
termos ldquoEnquanto o homem experimenta ndash em si mesmo como natureza ou na histoacuteria ndash a
Deus como chegando a ele como manifestando-se a ele estaacute tendo a experiecircncia radical da
revelaccedilatildeordquo (QUEIRUGA 1995 p 149) Para AT Queiruga eacute preciso assumir que ldquoDeus
estaacute realmente presente em todos os homens e se revela a eles realmente [] revela-se a
eles sobretudo nas experiecircncias mediadas por suas tradiccedilotildees religiosasrdquo (QUEIRUGA
1995 p 150-151)
Implicitamente estamos argumentando sobre o transfundo da passagem criacutetica da
razatildeo instrumental moderna agrave racionalidade-relacionalidade (raciovitallismo) poacutes-moderna
Refletindo especificamente sobre tal passagem Torres Queiruga afirma a seguinte
compreensatildeo sobre a teologia
Nesse sentido natildeo concebo a teologia senatildeo como decididamente poacutes-
ilustrada O que natildeo eacute o mesmo (devo advertir porque algumas vezes fuiinterpretado nessa direccedilatildeo) que simplesmente ldquoilustradardquo Se prestarmosatenccedilatildeo eacute justamente o contraacuterio Porque ser poacutes significa que natildeo se poderetroceder nos desafios perguntas e perspectivas abertas pelo iluminismoporeacutem bem por isso impotildeem-se para noacutes seguir adiante sendo lucidamentecriacuteticos com as soluccedilotildees iniciais em grande parte prematuras e carregadas deuma polecircmica unilateralidade (QUEIRUGA 2003 p 22-23)
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Percebendo a ldquorevoluccedilatildeo epocalrdquo ou ldquomudanccedila de paradigmardquo que representa o poacutes
para a teologia logo depois de apreciar o pensamento de Gianni Vattimo como
representante de uma ldquoevoluccedilatildeo filosoacuteficardquo AT Queiruga afirma ldquoPara um pensamento
responsaacutevel tudo isso deveria significar antes de tudo e sobretudo uma soacute coisa a
necessidade ineludiacutevel de enfrentar lucidamente a nova situaccedilatildeo buscando um equiliacutebrio
atualizadordquo (QUEIRUGA 2003 p 23-25 passim) Como desdobramento ao necessaacuterio
enfrentamento dessa ldquonova situaccedilatildeordquo Queiruga trava um contato criacutetico com a poacutes-
modernidade e tece a seguinte consideraccedilatildeo
Existe uma [] valecircncia positiva que se encontra no fato de ter (a poacutes-modernidade) propiciado a percepccedilatildeo de novos valores No acircmbito doindividual suscitou ou ao menos ativou a revalorizaccedilatildeo do pequeno atoleracircncia para com o diferente a desobstruccedilatildeo do estabelecido o novoapreccedilo do corpo a revitalizaccedilatildeo da experiecircncia (QUEIRUGA 2003 p 112)
Tornando ainda mais especiacuteficas as suas consideraccedilotildees sobre a poacutes-modernidade em
sua relaccedilatildeo com a religiatildeo sobretudo no sentido de afirmar o primado da experiecircncia AT
Queiruga afirma que a ldquopoacutes-modernidade lsquoreligiosarsquo partindo desta abertura se difrata em
muacuteltiplas formas em busca de uma vivecircncia de fraternidade que abrace todo o real e leve a
uma experiecircncia atual do Absolutordquo (QUEIRUGA 2003 p116)
Enfrentando mais propriamente o primeiro passo da relaccedilatildeo experiecircnciateologia ndash
centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo ndash partiremos de uma discussatildeo de
teologia fundamental e experiecircncia no horizonte poacutes-moderno daremos o contorno da
experiecircncia em face da revelaccedilatildeo de Deus e como passagem ao segundo passo acima
enunciado ndash encarnaccedilatildeo como aacutepice da centralidade da experiecircncia para a teologia da
revelaccedilatildeo ndash trabalharemos a dimensatildeo holiacutestica e relacional tatildeo iacutentimas do diacutestico
experiecircnciarevelaccedilatildeoldquoA crise da razatildeo eacute a consciecircncia da irracionalidade gigantesca dessa mesma razatildeordquo
(LIBANIO 2003 p 163) Assim Joatildeo Batista Libanio introduz uma interessante reflexatildeo
sobre a Teologia Fundamental1 no contexto desafiante da poacutes-modernidade Foi no interior
1 JB Libanio jaacute havia escrito uma importante obra sobre Revelaccedilatildeo soacute que em franco diaacutelogo com amodernidade Cf LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992 Nesta obra o autor destina dois capiacutetulos para refletir sobre a relaccedilatildeo experiecircnciateologia pp195-248
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da proacutepria modernidade com sua tendecircncia agrave extrema especializaccedilatildeo que o conceito de
razatildeo forte comeccedilou a ruir No lugar de tal razatildeo forte surgiu um princiacutepio de
enfraquecimento da razatildeo que elevou a experiecircncia agrave condiccedilatildeo primordial em relaccedilatildeo
teologia da revelaccedilatildeo (Cf LIBANIO 2003 p 162-163)
Neste sentido JB Libanio afirma ldquoUm caminho viaacutevel sugere partir das
experiecircncias significativas das pessoas explicitando-as para elas mesmas E de dentro delas
mostrar como a revelaccedilatildeo vem responder concretamente a elasrdquo (LIBANIO 2003 p 165)
Diante disso a teologia se vecirc frente a uma tarefa inalienaacutevel ajudar homens e mulheres no
discernimento de suas experiecircncias contribuindo para a nomeaccedilatildeo e esclarecimento de um
universo plural de sinais feacuterteis da presenccedila de Deus
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A desafiante tarefa teoloacutegica consiste portanto em contribuir no processo de
discernimento das experiecircncias efetivamente feitas por homens e mulheres dentro de seus
mais variados lugares culturais Essa contribuiccedilatildeo contudo natildeo o seraacute em toda a sua
espessura se natildeo for realizada a partir de dentro mesmo dos mundos onde habitam esses eessas que satildeo os verdadeiros protagonistas da recepccedilatildeo da presenccedila divina JB Libanio
descreve as caracteriacutesticas desses lugares culturais poacutes-modernos onde a recepccedilatildeo da
presenccedila de Deus eacute experimentada
Tanto mais pertinente parece tal caminho quanto mais se percebe quecrescem nas pessoas o interesse a sensibilidade e gosto pelos siacutembolos pelossinais pela beleza e pela esteacutetica [] A beleza e a forccedila significativa dossinais tocam mais profundamente a geraccedilatildeo poacutes-moderna Uma teologia
fundamental para tal momento cultural requer agilidade mental em que aalusatildeo a insinuaccedilatildeo o jogo simboacutelico a beleza das reflexotildees superem umaracionalidade loacutegica cada vez mais inacessiacutevel (LIBANIO 2003 p 165)
A moldura epistemoloacutegica necessaacuteria para contornar esse cenaacuterio teoloacutegico e
existencial deve compor-se de uma sensibilidade adequada a tal cenaacuterio Urge portanto
uma superaccedilatildeo de molduras que tatildeo bem enquadraram cenaacuterios passados mas que agora soacute
fazem distorcer a percepccedilatildeo do horizonte novo que se apresenta Uma nova racionalidade
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que possibilite agrave teologia ler nas experiecircncias humanas experiecircncias de Deus JB Libanio
faz uma importante consideraccedilatildeo a esse respeito Ele afirma que ldquoquando poreacutem se entra
pelo campo dos siacutembolos da esteacutetica natildeo se renuncia agrave razatildeo mas trabalha-se com outra
dimensatildeo da racionalidade cujo acesso natildeo depende dos conhecimentos racionais
sofisticados e inacessiacuteveis e sim de outra fonterdquo (LIBANIO 2003 p 166)
O lugar onde a teologia eacute pensada e proposta sofre um radical deslocamento (Cf
LIBANIO 2003 p 169) Ela e seus processos satildeo deslocados para o interior das
comunidades onde natildeo interessam tanto formulaccedilotildees teoacutericas sobre a feacute mas antes
narrativas de experiecircncias da presenccedila de Deus veiculadas por sinais e siacutembolos proacuteprios de
tais universos Narrar as proacuteprias experiecircncias Esse eacute o processo catequeacutetico proacuteprio deuma racionalidade poacutes-moderna Cabe a teologia como ldquoirmatilde mais velhardquo contribuir a
partir do depoacutesito das muitas tradiccedilotildees no discernimento de tal dinacircmica catequeacutetica afim
de que esta seja consequumlente com a feacute cristatilde em suas muacuteltiplas expressotildees
Esse novo lugar que a teologia eacute convidada a habitar tem como atmosfera proacutepria a
experiecircncia Eacute a partir e de dentro dela que se quer ousar nomear a presenccedila do Real que a
todos envolve Na experiecircncia da presenccedila do Real assumimos o risco de chamaacute-lo Deus
Tal atitude se constitui num risco porque o desafio de nomear Deus pode degenerar na
tentativa de defini-lo incorrendo dessa forma na mais radical idolatria Acerca desse risco
Paul Tillich adverte ldquoDeusrdquo eacute siacutembolo para Deus Isso significa que precisamos distinguir
dois elementos em nossa concepccedilatildeo de Deus uma vez o elemento incondicional que se
manifesta na experiecircncia imediata e em si natildeo eacute simboacutelico e por outro lado o elemento
concreto que eacute obtido de nossa experiecircncia normal e eacute simbolicamente relacionado com
Deus [] ldquodeusrdquo eacute siacutembolo de Deus Nesse sentido Deus eacute o conteuacutedo proacuteprio e
universalmente vaacutelido da feacute (Cf TILLICH 2001 p 33-34)
Neste sentido precisar um pouco mais os contornos da experiecircncia em face agravenomeaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Real se faz necessaacuterio Uma vez que jaacute estabelecemos tanto uma
conceituaccedilatildeo filosoacutefica acerca da experiecircncia quanto uma descriccedilatildeo de sua importacircncia
para a percepccedilatildeo da presenccedila do Sagrado no escopo da fenomenologia da religiatildeo cabe-nos
ainda a tarefa de tracejar os contornos da experiecircncia no interior da teologia e daquilo que
lhe eacute proacuteprio Para tanto recorreremos a discussatildeo proposta por Gerald OrsquoCollins em sua
obra Teologia Fundamental especificamente no segundo capiacutetulo intitulado A
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experiecircncia humana2
G OrsquoCollins tratando da experiecircncia em si (cf 1991 p 54-55) estabelece um
conjunto de caracteriacutesticas proacuteprias em face agrave sua relaccedilatildeo com a teologia Em primeiro
lugar toda a experiecircncia tem um significado ou seja haacute uma comunicaccedilatildeo de sentido
agravequeles que fazem uma experiecircncia de Deus Essa primeira caracteriacutestica aponta para a
profundidade que tal evento produz na existecircncia humana Ao contraacuterio do que por vezes eacute
dito a experiecircncia natildeo eacute ldquoepideacutermicardquo ou ao menos natildeo o eacute somente Por se dar em iacutentimo
contato com nossa dimensatildeo empiacuterica ela natildeo estaacute fadada agrave fugacidade Haacute efetivamente
um sentido intriacutenseca e profundamente dado numa experiecircncia de Deus
Marcando a incidecircncia profunda e espessa que a experiecircncia gera na existecircnciahumana G OrsquoCollins salienta sua natildeo reduccedilatildeo ao exclusivamente efecircmero afirmando que
ldquopodemos esperar que o mundo e nossas experiecircncias faccedilam sentido contanto que natildeo
insistamos num sentido simples e imediatordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) Nesse sentido eacute
como se a experiecircncia humana de Deus ecoa-se desde o iacutentimo daquele que a faz
reverberando sua accedilatildeo e influxo para todas as dimensotildees da existecircncia humana O sentido
de tal experiecircncia vai se afirmando e sendo percebido agrave medida que em tais dimensotildees
dessa experiecircncia vai sendo reconhecida e acolhida
Esse processo de afirmaccedilatildeo de sentido que surge de experiecircncia de Deus feita nos
contornos da existecircncia humana tem uma teleologia G OrsquoCollins identifica tal finalidade
como a segunda caracteriacutestica da experiecircncia em sua relaccedilatildeo com a teologia Ele afirma que
ldquotoda experiecircncia traz consigo um certo propoacutesito ou finalidade Leva-nos em alguma
direccedilatildeordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) No escopo da teologia da revelaccedilatildeo a finalidade de
uma experiecircncia de Deus deve ser consequumlente com o proacuteprio revelado experimentado Ou
seja a teleologia deve encontrar consonacircncia com a teologia recebendo desta os elementos
para seu discernimento G OrsquoCollins exemplifica essa segunda caracteriacutestica da seguinteforma ldquoA experiecircncia do amor genuiacuteno torna-se enriquecedor do outro e pessoalmente
enriquecedorrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55)
Experimentar o amor eacute mover-se na dinacircmica do proacuteprio amor Isso daacute o peso e
concretude da experiecircncia ajudando a corrigir possiacuteveis reduccedilotildees fugazes e epideacutermicas G
OrsquoCollins identifica nessa dimensatildeo de concretude a terceira caracteriacutestica da experiecircncia
2 OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991 p 47-70
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ldquoA experiecircncia natildeo eacute nada se natildeo for concretardquo Sua espessura e historicidade evidenciam-
se exatamente aiacute Natildeo haacute espaccedilo para abstraccedilotildees ldquopurasrdquo para racionalizaccedilotildees aprioriacutesticas
ou recursos a formulaccedilotildees axiomaacuteticas fundadas sobre recursos metafiacutesicos Uma teologia
da revelaccedilatildeo nesse acento da experiecircncia natildeo pode ser pensada em geral porque ldquonatildeo
existem experiecircncias em geralrdquo ldquoUma experiecircncia de Deus [] soacute ocorre em momentos
particulares em lugares particulares e com pessoas particularesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p
56 passim)
Em quarto lugar G OrsquoCollins menciona como importante caracteriacutestica da
experiecircncia uma abertura ao novo ao ineacutedito ao natildeo ordinaacuterio Ele menciona como os
teoacutericos que tratam dessa temaacutetica utilizam o recurso da linguagem para expressar osurpreendente que se mostra numa experiecircncia Expressotildees como ldquoexperiecircncia-aacutepicerdquo
ldquosituaccedilotildees-limiterdquo ou ldquoexperiecircncia-limiterdquo revelam que ldquoa experiecircncia sugere prontamente
algo de novo ou inesperado que deixa a sua marca no sujeito e o abre para outras
experiecircncia no futurordquo Em suma conclui G OrsquoCollins ldquoA experiecircncia genuiacutena transcende
as nossas previsotildeesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 56 passim)
Outro autor que pode ajudar na compreensatildeo da importacircncia da experiecircncia em
relaccedilatildeo agrave teologia da revelaccedilatildeo eacute Raimon Panikkar especificamente em sua obra Iacutecones do
misteacuterio3 No acircmbito da reflexatildeo sobre o risco de nomear o Real chamando-o Deus
intrinsecamente presente no ato da experiecircncia R Panikkar (2007 p 75) comeccedila por
advertir que ldquotudo o que se possa dizer com estrita racionalidade da experiecircncia de Deus eacute
idolatriardquo A experiecircncia de Deus eacute um ato do ser humano portanto natildeo estaacute para a
compreensatildeo de uma uacutenica dimensatildeo deste mesmo sendo esta a proacutepria razatildeo Ela soacute pode
ser percebida em sua espessura se colocada para a integralidade do humano inclusive para
sua dimensatildeo misteacuterica
Eacute exatamente essa amplitude da espessura do Real que nomeamos tatildeoparticularmente de Deus que possibilita-nos ser inteiramente humanos A experiecircncia de
Deus reclama nossa humanidade inteira por isso somente diante dela podemos nos afirmar
como inteiramente humanos ldquoO ser humano chega a ser plenamente humano quando faz a
experiecircncia de seu uacuteltimo lsquofundamentorsquo do que realmente eacuterdquo (PANIKKAR 2007 p 76)
3 PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas 2007
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Por ser uma experiecircncia que reclama a inteireza do humano ela eacute constitutivamente
relacional De forma bastante clara R Panikkar afirma que
sem os laccedilos que nos unem com toda a realidade natildeo podemos terexperiecircncia de Deus [] A experiecircncia de Deus eacute a raiz de toda experiecircnciaEacute a experiecircncia em profundidade de todas e cada uma das experiecircnciashumanas do amigo da palavra da conversa Eacute a experiecircncia subjacente atoda experiecircncia humana dor beleza prazer bondade anguacutestia friosubjacente a toda experiecircncia no tanto que nos descobre uma dimensatildeo deinfinito natildeo-finito in-acabado Subjacente a toda experiecircncia e portantonatildeo suscetiacutevel a ser completamente expressa em qualquer ideacuteia sensaccedilatildeo ousentimento (PANIKKAR 2007 p 77-78)
Da experiecircncia de Deus surge entatildeo a possibilidade da experiecircncia plena dohumano Nela estaacute a fonte para a relacionalidade que eacute constitutiva do humano
humanizado Conforme o autor (2007 p 79) tal processo de humanizaccedilatildeo constitui
a experiecircncia de Deus que subjaz toda experiecircncia e pela qual nos fazemoshumanos nos faz conscientes de nossa contingecircncia torna-nos humildes ecapazes de compreender Por essa experiecircncia nos damos conta de queestamos dentro de algo que abarca tudo e somos conscientes de uma dupladimensatildeo de ausecircncia e presenccedila
Mesmo jaacute tendo delineado os contornos da experiecircncia de Deus em perspectivateoloacutegica fica restando ainda uma tarefa importante no processo de especificaccedilatildeo de nossa
temaacutetica Eacute preciso perguntar pelos criteacuterios que nos possam permitir identificar com
alguma clareza as diferenccedilas entre experiecircncia teoloacutegica das demais formas de experiecircncia
do Sagrado4 Para isso eacute preciso explicitar o que ateacute aqui esteve impliacutecito ao longo de toda
exposiccedilatildeo deste toacutepico falamos de experiecircncia teoloacutegica cristatilde
O ponto apical da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo em
perspectiva cristatilde se expressa na encarnaccedilatildeo Nela a experiecircncia de Deus ganha suainalienaacutevel topografia a concretude da existecircncia de homens e mulheres situados em seus
muacuteltiplos e respectivos contextos E ainda tal experiecircncia encontra sua irredutiacutevel
expressividade relacional que em uacuteltima anaacutelise eacute quem a qualifica como experiecircncia de
4 H C de Lima Vaz faz uma importante distinccedilatildeo entre experiecircncia religiosa (experiecircncia do Sagrado) eexperiecircncia de Deus (experiecircncia de Sentido) Haacute claramente um corte uma delimitaccedilatildeo que faz daexperiecircncia de Deus uma experiecircncia com certa especificidade Cf VAZ Henrique C de Lima Escritos defilosofia Problemas de fronteira Satildeo Paulo Loyola 1986 p 248-253
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Deus (assumindo tal nomeaccedilatildeo a partir do que nos foi dado a conhecer pela vida de Jesus
de Nazareacute compreendido teologicamente como o Cristo conforme o fazem os evangelhos)
A experiecircncia cristatilde de Deus eacute tanto uma experiecircncia da encarnaccedilatildeo quanto de
encarnaccedilatildeo Isso eacute o que nos pode revelar a vida de Jesus o Cristo Sendo ele o proacuteprio
Deus encarnado vive numa condiccedilatildeo radicalmente marcada por tal encarnaccedilatildeo quer do
ponto de vista geograacutefico quer do ponto religioso cultural ou existencial Deus
encarnando-se se auto-delimita e delimita a nos apresentando o modus operandi para a
articulaccedilatildeo teoloacutegica da experiecircncia cristatilde de Deus a loacutegica da encarnaccedilatildeo Aqui se
encontra o coraccedilatildeo do Misteacuterio feito histoacuteria e a pedagogia para viver tal histoacuteria como
uacutenica e soacute histoacuteria Refletindo sobre tal especificidade da experiecircncia cristatilde de Deus L Boffafirma que
No cristianismo articulou-se a experiecircncia do Misteacuterio como histoacuteria doMisteacuterio O Sentido natildeo ficou di-fuso pro-fuso e con-fuso dentro darealidade Ele armou tenda entre noacutes e se chamou Jesus Cristo (cf Jo 114) OMisteacuterio eacute tatildeo radicalmente Misteacuterio que pode sem perder sua identidadefazer-se carne e histoacuteria Ele pode subsistir totalmente num Outro diferentedele Se assim natildeo fora natildeo mostraria sua onipotecircncia nem seu caraacuteter deMisteacuterio Entatildeo sendo vida ele pode morrer Fazendo-se morte ele podeviver Ele pode sendo impalpaacutevel fazer-se impalpaacutevel sendo invisiacutevel
fazer-se visiacutevel sendo Criador fazer-se criatura (BOFF 2002 p 106)
Essa natildeo ldquodi-fusatildeo pro-fusatildeo e con-fusatildeordquo do Misteacuterio presente em meio a noacutes se
realiza por que haacute uma existecircncia concreta que abriga tal Misteacuterio A encarnaccedilatildeo confere os
contornos a concretude da presenccedila de Deus E eacute exatamente isso que nos permite nomeaacute-
lo Se nos eacute possiacutevel falar de Deus em perspectiva cristatilde soacute podemos fazecirc-lo de forma
criacutestica Isso significa dizer que ldquoa experiecircncia cristatilde de Deus eacute uma experiecircncia da
presenccedila do Sentido radical numa existecircncia historicamente dada a existecircncia de Jesus e na
palavra da revelaccedilatildeo que eacute totalmente condicionada por essa existecircncia histoacuterica na medida
em que dela procede e a ela se refererdquo (VAZ 1986 p 253)
Da dimensatildeo de concretude legada agrave experiecircncia cristatilde de Deus surge como ldquooutra
face da moedardquo a dimensatildeo relacional Se com a primeira a experiecircncia cristatilde de Deus
ganha seu contorno com a segunda ela ganha sua profundidade Natildeo eacute possiacutevel conceber a
presenccedila de Deus em Jesus o Cristo sem que se afirme a loacutegica relacional ou
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intersubjetiva A teologia cristatilde quando se propotildee nomear o Real a partir de Jesus natildeo pode
sob pena de perder completamente decair num esquema racionalista de sujeitoobjeto Se
fizer isso a teologia trataraacute a revelaccedilatildeo somente como pauta doutrinaacuteria devendo ser
acessada exclusivamente pelas normas da razatildeo tanto nas metodologia especulativas
quanto nas apologeacuteticas Ambas poreacutem subjugadas ao mesmo princiacutepio de uma razatildeo
estreita Nesse caso o Real nomeado Deus natildeo eacute mais que um objeto descritiacutevel
Falando acerca de uma teologia cristatilde da revelaccedilatildeo como encontro entre sujeitos
Roger Haight (cf 2004 p 89-107) apresenta importantes consideraccedilotildees sobre a dimensatildeo
relacional de tal evento Ele afirma ldquoNatildeo se trata de uma operaccedilatildeo dedutiva que argumenta
com base na personalidade de Deus e sim de uma fenomenologia da experiecircncia darevelaccedilatildeo cristatilde que responde pela crenccedila segundo a qual Deus eacute pessoalrdquo (HAIGHT
2004 p 94) A encarnaccedilatildeo natildeo permite menos que isso ela eacute a radicalizaccedilatildeo da
pessoalidade de Deus Neste sentido ldquoa revelaccedilatildeo cristatilde natildeo se afigura como conhecimento
a respeito de Deus como de um objeto nem mesmo como conhecimento de uma pessoa
transcendente A revelaccedilatildeo cristatilde assume antes a forma de um encontro pessoal com um
sujeito divinordquo (HAIGHT 2004 p 94)
983093 983107983151983150983139983148983157983145983150983140983151 983137 983152983137983154983156983145983154 983140983151 983152983154983145983150983139983277983152983145983151
A encarnaccedilatildeo reclama a relaccedilatildeo e esta por sua vez afirma a experiecircncia como
expressatildeo privilegiada O Real nomeado corajosamente pela teologia cristatilde como Deus em
sua plena revelaccedilatildeo que eacute Jesus o Cristo natildeo permite agrave teologia menos que comunicaccedilatildeo
intersubjetiva Deus natildeo estaacute para a teologia como um conceito a ser apreendido antes
como um sujeito que a desafia a uma relaccedilatildeo ldquoDeus eacute experimentado como sujeito de tal
sorte que o contato ou percepccedilatildeo humana de Deus natildeo pode ser um conhecimento acerca de
Deus como de um objetordquo ldquoNa revelaccedilatildeo cristatilde Deus eacute experimentado como eu pessoalrdquo
(HAIGHT 2004 p 95 passim)
Em termos da teologia cristatilde falar sobre experiecircncia de Deus eacute assumir os riscos de
nomeaacute-lo e isso constitui-se numa urgente compreensatildeo responsaacutevel e ampliada da
teologia da revelaccedilatildeo Tratar esta uacuteltima sem atentar para os criteacuterios criacutesticos colocados
pela encarnaccedilatildeo e a relacionalidade dela derivada significa cair na armadilha de tal
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nomeaccedilatildeo objetivaccedilatildeo do Real e consequente idolatria Falar de Deus a partir da
perspectiva cristatilde precisa ser sempre um falar situado como exige a encarnaccedilatildeo e
intersubjetivo como propotildee a radical pessoalidade do encarnado Nas palavras de R Haight
(2004 p 97) ldquoo conteuacutedo positivo da revelaccedilatildeo portanto eacute influenciado e determinado
pelo meio que medeia a experiecircncia da presenccedila e da iniciativa de Deus No caso da
revelaccedilatildeo cristatilde Jesus eacute seu meio histoacuterico centralrdquo
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BOFF Leonardo Experimentar Deus A transparecircncia de todas as coisas 3 edPetroacutepolis Vozes 2002
BUBER Martin O Eclipse de Deus Consideraccedilotildees sobre a relaccedilatildeo entre religiatildeo efilosofia Campinas Verus 2007
HAIGHT Roger Dinacircmica da teologia Satildeo Paulo Paulinas 2004
LIBANIO Joatildeo Batista Desafios da poacutes-modernidade agrave Teologia Fundamental InTRASFERETTI Joseacute GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992
MELLO Anthony O canto do paacutessaro Contemplar a Deus em todas as coisas e todas ascoisas em Deus 11 ed Satildeo Paulo Loyola 2003
MESLIN Michel A Experiecircncia Humana do Divino Fundamentos de uma antropologiareligiosa Petroacutepolis Vozes 1992
OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991
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QUEIRUGA Andreacutes Torres Fim do cristianismo preacute-moderno Satildeo Paulo Paulus 2003
QUEIRUGA Andreacutes Torres A revelaccedilatildeo de Deus na realizaccedilatildeo humana Satildeo PauloPaulus 1995
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RICOEUR Paul Entre filosofia e teologia II nomear Deus In RICOEUR Paul Leituras3 Nas fronteiras da filosofia Satildeo Paulo Loyola 1996
RICOEUR Paul A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006
TILLICH Paul Dinacircmica da feacute 6 ed Satildeo Leopoldo Sinodal 2001
TRASFERETTI Joseacute amp GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
VAZ Henrique C de Lima Escritos de filosofia Problemas de fronteira Satildeo PauloLoyola 1986
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deduzido como objeto do pensamento criacuteticordquo O Segundo eacute ldquovivenciado espontaneamente
como sujeito ativordquo (QUEIRUGA 1995 149 passim)
Do ponto vista filosoacutefico e teoloacutegico judaico Martin Buber reflete essa mesma
questatildeo da seguinte forma
A religiatildeo mesmo que o ldquoIncriadordquo natildeo seja expresso com a boca nem com aalma fundamenta-se na dualidade Eu-Tu a filosofia mesmo quando o atofilosoacutefico desemboca em uma visatildeo de unidade fundamenta-se na dualidadesujeito-objeto A dualidade Eu-Tu completa-se na relaccedilatildeo religiosa adualidade sujeito-objeto eacute o que sustenta a filosofia enquanto se faz filosofia[] Eu-Tu subsistem graccedilas agrave concretude vivida e dentro dessa concretudesujeito e objeto produtos da forccedila de abstraccedilatildeo soacute duram enquanto dura aabstraccedilatildeo (BUBER 2007 p 32)
Falar de experiecircncia com a presenccedila desvelada de Deus eacute falar pois em relaccedilatildeo ao
ldquoDeus da religiatildeordquo agrave relacionalidade e concretude do Eu-Tu Queiruga explicita claramente
esse assento no experiencial-relacional-concreto da relaccedilatildeo com a revelaccedilatildeo nos seguintes
termos ldquoEnquanto o homem experimenta ndash em si mesmo como natureza ou na histoacuteria ndash a
Deus como chegando a ele como manifestando-se a ele estaacute tendo a experiecircncia radical da
revelaccedilatildeordquo (QUEIRUGA 1995 p 149) Para AT Queiruga eacute preciso assumir que ldquoDeus
estaacute realmente presente em todos os homens e se revela a eles realmente [] revela-se a
eles sobretudo nas experiecircncias mediadas por suas tradiccedilotildees religiosasrdquo (QUEIRUGA
1995 p 150-151)
Implicitamente estamos argumentando sobre o transfundo da passagem criacutetica da
razatildeo instrumental moderna agrave racionalidade-relacionalidade (raciovitallismo) poacutes-moderna
Refletindo especificamente sobre tal passagem Torres Queiruga afirma a seguinte
compreensatildeo sobre a teologia
Nesse sentido natildeo concebo a teologia senatildeo como decididamente poacutes-
ilustrada O que natildeo eacute o mesmo (devo advertir porque algumas vezes fuiinterpretado nessa direccedilatildeo) que simplesmente ldquoilustradardquo Se prestarmosatenccedilatildeo eacute justamente o contraacuterio Porque ser poacutes significa que natildeo se poderetroceder nos desafios perguntas e perspectivas abertas pelo iluminismoporeacutem bem por isso impotildeem-se para noacutes seguir adiante sendo lucidamentecriacuteticos com as soluccedilotildees iniciais em grande parte prematuras e carregadas deuma polecircmica unilateralidade (QUEIRUGA 2003 p 22-23)
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Percebendo a ldquorevoluccedilatildeo epocalrdquo ou ldquomudanccedila de paradigmardquo que representa o poacutes
para a teologia logo depois de apreciar o pensamento de Gianni Vattimo como
representante de uma ldquoevoluccedilatildeo filosoacuteficardquo AT Queiruga afirma ldquoPara um pensamento
responsaacutevel tudo isso deveria significar antes de tudo e sobretudo uma soacute coisa a
necessidade ineludiacutevel de enfrentar lucidamente a nova situaccedilatildeo buscando um equiliacutebrio
atualizadordquo (QUEIRUGA 2003 p 23-25 passim) Como desdobramento ao necessaacuterio
enfrentamento dessa ldquonova situaccedilatildeordquo Queiruga trava um contato criacutetico com a poacutes-
modernidade e tece a seguinte consideraccedilatildeo
Existe uma [] valecircncia positiva que se encontra no fato de ter (a poacutes-modernidade) propiciado a percepccedilatildeo de novos valores No acircmbito doindividual suscitou ou ao menos ativou a revalorizaccedilatildeo do pequeno atoleracircncia para com o diferente a desobstruccedilatildeo do estabelecido o novoapreccedilo do corpo a revitalizaccedilatildeo da experiecircncia (QUEIRUGA 2003 p 112)
Tornando ainda mais especiacuteficas as suas consideraccedilotildees sobre a poacutes-modernidade em
sua relaccedilatildeo com a religiatildeo sobretudo no sentido de afirmar o primado da experiecircncia AT
Queiruga afirma que a ldquopoacutes-modernidade lsquoreligiosarsquo partindo desta abertura se difrata em
muacuteltiplas formas em busca de uma vivecircncia de fraternidade que abrace todo o real e leve a
uma experiecircncia atual do Absolutordquo (QUEIRUGA 2003 p116)
Enfrentando mais propriamente o primeiro passo da relaccedilatildeo experiecircnciateologia ndash
centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo ndash partiremos de uma discussatildeo de
teologia fundamental e experiecircncia no horizonte poacutes-moderno daremos o contorno da
experiecircncia em face da revelaccedilatildeo de Deus e como passagem ao segundo passo acima
enunciado ndash encarnaccedilatildeo como aacutepice da centralidade da experiecircncia para a teologia da
revelaccedilatildeo ndash trabalharemos a dimensatildeo holiacutestica e relacional tatildeo iacutentimas do diacutestico
experiecircnciarevelaccedilatildeoldquoA crise da razatildeo eacute a consciecircncia da irracionalidade gigantesca dessa mesma razatildeordquo
(LIBANIO 2003 p 163) Assim Joatildeo Batista Libanio introduz uma interessante reflexatildeo
sobre a Teologia Fundamental1 no contexto desafiante da poacutes-modernidade Foi no interior
1 JB Libanio jaacute havia escrito uma importante obra sobre Revelaccedilatildeo soacute que em franco diaacutelogo com amodernidade Cf LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992 Nesta obra o autor destina dois capiacutetulos para refletir sobre a relaccedilatildeo experiecircnciateologia pp195-248
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da proacutepria modernidade com sua tendecircncia agrave extrema especializaccedilatildeo que o conceito de
razatildeo forte comeccedilou a ruir No lugar de tal razatildeo forte surgiu um princiacutepio de
enfraquecimento da razatildeo que elevou a experiecircncia agrave condiccedilatildeo primordial em relaccedilatildeo
teologia da revelaccedilatildeo (Cf LIBANIO 2003 p 162-163)
Neste sentido JB Libanio afirma ldquoUm caminho viaacutevel sugere partir das
experiecircncias significativas das pessoas explicitando-as para elas mesmas E de dentro delas
mostrar como a revelaccedilatildeo vem responder concretamente a elasrdquo (LIBANIO 2003 p 165)
Diante disso a teologia se vecirc frente a uma tarefa inalienaacutevel ajudar homens e mulheres no
discernimento de suas experiecircncias contribuindo para a nomeaccedilatildeo e esclarecimento de um
universo plural de sinais feacuterteis da presenccedila de Deus
983092 983108983137 983156983157983156983141983148983137 983137983151 983140983145983155983139983141983154983150983145983149983141983150983156983151983098 983140983141983155983148983151983139983137983149983141983150983156983151983155 983140983141 983152983137983152983141983145983155 983140983137 983156983141983151983148983151983143983145983137 983142983154983141983150983156983141 983137983151
983140983141983155983137983142983145983151 983140983141 983150983151983149983141983137983154 983108983141983157983155
A desafiante tarefa teoloacutegica consiste portanto em contribuir no processo de
discernimento das experiecircncias efetivamente feitas por homens e mulheres dentro de seus
mais variados lugares culturais Essa contribuiccedilatildeo contudo natildeo o seraacute em toda a sua
espessura se natildeo for realizada a partir de dentro mesmo dos mundos onde habitam esses eessas que satildeo os verdadeiros protagonistas da recepccedilatildeo da presenccedila divina JB Libanio
descreve as caracteriacutesticas desses lugares culturais poacutes-modernos onde a recepccedilatildeo da
presenccedila de Deus eacute experimentada
Tanto mais pertinente parece tal caminho quanto mais se percebe quecrescem nas pessoas o interesse a sensibilidade e gosto pelos siacutembolos pelossinais pela beleza e pela esteacutetica [] A beleza e a forccedila significativa dossinais tocam mais profundamente a geraccedilatildeo poacutes-moderna Uma teologia
fundamental para tal momento cultural requer agilidade mental em que aalusatildeo a insinuaccedilatildeo o jogo simboacutelico a beleza das reflexotildees superem umaracionalidade loacutegica cada vez mais inacessiacutevel (LIBANIO 2003 p 165)
A moldura epistemoloacutegica necessaacuteria para contornar esse cenaacuterio teoloacutegico e
existencial deve compor-se de uma sensibilidade adequada a tal cenaacuterio Urge portanto
uma superaccedilatildeo de molduras que tatildeo bem enquadraram cenaacuterios passados mas que agora soacute
fazem distorcer a percepccedilatildeo do horizonte novo que se apresenta Uma nova racionalidade
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que possibilite agrave teologia ler nas experiecircncias humanas experiecircncias de Deus JB Libanio
faz uma importante consideraccedilatildeo a esse respeito Ele afirma que ldquoquando poreacutem se entra
pelo campo dos siacutembolos da esteacutetica natildeo se renuncia agrave razatildeo mas trabalha-se com outra
dimensatildeo da racionalidade cujo acesso natildeo depende dos conhecimentos racionais
sofisticados e inacessiacuteveis e sim de outra fonterdquo (LIBANIO 2003 p 166)
O lugar onde a teologia eacute pensada e proposta sofre um radical deslocamento (Cf
LIBANIO 2003 p 169) Ela e seus processos satildeo deslocados para o interior das
comunidades onde natildeo interessam tanto formulaccedilotildees teoacutericas sobre a feacute mas antes
narrativas de experiecircncias da presenccedila de Deus veiculadas por sinais e siacutembolos proacuteprios de
tais universos Narrar as proacuteprias experiecircncias Esse eacute o processo catequeacutetico proacuteprio deuma racionalidade poacutes-moderna Cabe a teologia como ldquoirmatilde mais velhardquo contribuir a
partir do depoacutesito das muitas tradiccedilotildees no discernimento de tal dinacircmica catequeacutetica afim
de que esta seja consequumlente com a feacute cristatilde em suas muacuteltiplas expressotildees
Esse novo lugar que a teologia eacute convidada a habitar tem como atmosfera proacutepria a
experiecircncia Eacute a partir e de dentro dela que se quer ousar nomear a presenccedila do Real que a
todos envolve Na experiecircncia da presenccedila do Real assumimos o risco de chamaacute-lo Deus
Tal atitude se constitui num risco porque o desafio de nomear Deus pode degenerar na
tentativa de defini-lo incorrendo dessa forma na mais radical idolatria Acerca desse risco
Paul Tillich adverte ldquoDeusrdquo eacute siacutembolo para Deus Isso significa que precisamos distinguir
dois elementos em nossa concepccedilatildeo de Deus uma vez o elemento incondicional que se
manifesta na experiecircncia imediata e em si natildeo eacute simboacutelico e por outro lado o elemento
concreto que eacute obtido de nossa experiecircncia normal e eacute simbolicamente relacionado com
Deus [] ldquodeusrdquo eacute siacutembolo de Deus Nesse sentido Deus eacute o conteuacutedo proacuteprio e
universalmente vaacutelido da feacute (Cf TILLICH 2001 p 33-34)
Neste sentido precisar um pouco mais os contornos da experiecircncia em face agravenomeaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Real se faz necessaacuterio Uma vez que jaacute estabelecemos tanto uma
conceituaccedilatildeo filosoacutefica acerca da experiecircncia quanto uma descriccedilatildeo de sua importacircncia
para a percepccedilatildeo da presenccedila do Sagrado no escopo da fenomenologia da religiatildeo cabe-nos
ainda a tarefa de tracejar os contornos da experiecircncia no interior da teologia e daquilo que
lhe eacute proacuteprio Para tanto recorreremos a discussatildeo proposta por Gerald OrsquoCollins em sua
obra Teologia Fundamental especificamente no segundo capiacutetulo intitulado A
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experiecircncia humana2
G OrsquoCollins tratando da experiecircncia em si (cf 1991 p 54-55) estabelece um
conjunto de caracteriacutesticas proacuteprias em face agrave sua relaccedilatildeo com a teologia Em primeiro
lugar toda a experiecircncia tem um significado ou seja haacute uma comunicaccedilatildeo de sentido
agravequeles que fazem uma experiecircncia de Deus Essa primeira caracteriacutestica aponta para a
profundidade que tal evento produz na existecircncia humana Ao contraacuterio do que por vezes eacute
dito a experiecircncia natildeo eacute ldquoepideacutermicardquo ou ao menos natildeo o eacute somente Por se dar em iacutentimo
contato com nossa dimensatildeo empiacuterica ela natildeo estaacute fadada agrave fugacidade Haacute efetivamente
um sentido intriacutenseca e profundamente dado numa experiecircncia de Deus
Marcando a incidecircncia profunda e espessa que a experiecircncia gera na existecircnciahumana G OrsquoCollins salienta sua natildeo reduccedilatildeo ao exclusivamente efecircmero afirmando que
ldquopodemos esperar que o mundo e nossas experiecircncias faccedilam sentido contanto que natildeo
insistamos num sentido simples e imediatordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) Nesse sentido eacute
como se a experiecircncia humana de Deus ecoa-se desde o iacutentimo daquele que a faz
reverberando sua accedilatildeo e influxo para todas as dimensotildees da existecircncia humana O sentido
de tal experiecircncia vai se afirmando e sendo percebido agrave medida que em tais dimensotildees
dessa experiecircncia vai sendo reconhecida e acolhida
Esse processo de afirmaccedilatildeo de sentido que surge de experiecircncia de Deus feita nos
contornos da existecircncia humana tem uma teleologia G OrsquoCollins identifica tal finalidade
como a segunda caracteriacutestica da experiecircncia em sua relaccedilatildeo com a teologia Ele afirma que
ldquotoda experiecircncia traz consigo um certo propoacutesito ou finalidade Leva-nos em alguma
direccedilatildeordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) No escopo da teologia da revelaccedilatildeo a finalidade de
uma experiecircncia de Deus deve ser consequumlente com o proacuteprio revelado experimentado Ou
seja a teleologia deve encontrar consonacircncia com a teologia recebendo desta os elementos
para seu discernimento G OrsquoCollins exemplifica essa segunda caracteriacutestica da seguinteforma ldquoA experiecircncia do amor genuiacuteno torna-se enriquecedor do outro e pessoalmente
enriquecedorrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55)
Experimentar o amor eacute mover-se na dinacircmica do proacuteprio amor Isso daacute o peso e
concretude da experiecircncia ajudando a corrigir possiacuteveis reduccedilotildees fugazes e epideacutermicas G
OrsquoCollins identifica nessa dimensatildeo de concretude a terceira caracteriacutestica da experiecircncia
2 OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991 p 47-70
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ldquoA experiecircncia natildeo eacute nada se natildeo for concretardquo Sua espessura e historicidade evidenciam-
se exatamente aiacute Natildeo haacute espaccedilo para abstraccedilotildees ldquopurasrdquo para racionalizaccedilotildees aprioriacutesticas
ou recursos a formulaccedilotildees axiomaacuteticas fundadas sobre recursos metafiacutesicos Uma teologia
da revelaccedilatildeo nesse acento da experiecircncia natildeo pode ser pensada em geral porque ldquonatildeo
existem experiecircncias em geralrdquo ldquoUma experiecircncia de Deus [] soacute ocorre em momentos
particulares em lugares particulares e com pessoas particularesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p
56 passim)
Em quarto lugar G OrsquoCollins menciona como importante caracteriacutestica da
experiecircncia uma abertura ao novo ao ineacutedito ao natildeo ordinaacuterio Ele menciona como os
teoacutericos que tratam dessa temaacutetica utilizam o recurso da linguagem para expressar osurpreendente que se mostra numa experiecircncia Expressotildees como ldquoexperiecircncia-aacutepicerdquo
ldquosituaccedilotildees-limiterdquo ou ldquoexperiecircncia-limiterdquo revelam que ldquoa experiecircncia sugere prontamente
algo de novo ou inesperado que deixa a sua marca no sujeito e o abre para outras
experiecircncia no futurordquo Em suma conclui G OrsquoCollins ldquoA experiecircncia genuiacutena transcende
as nossas previsotildeesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 56 passim)
Outro autor que pode ajudar na compreensatildeo da importacircncia da experiecircncia em
relaccedilatildeo agrave teologia da revelaccedilatildeo eacute Raimon Panikkar especificamente em sua obra Iacutecones do
misteacuterio3 No acircmbito da reflexatildeo sobre o risco de nomear o Real chamando-o Deus
intrinsecamente presente no ato da experiecircncia R Panikkar (2007 p 75) comeccedila por
advertir que ldquotudo o que se possa dizer com estrita racionalidade da experiecircncia de Deus eacute
idolatriardquo A experiecircncia de Deus eacute um ato do ser humano portanto natildeo estaacute para a
compreensatildeo de uma uacutenica dimensatildeo deste mesmo sendo esta a proacutepria razatildeo Ela soacute pode
ser percebida em sua espessura se colocada para a integralidade do humano inclusive para
sua dimensatildeo misteacuterica
Eacute exatamente essa amplitude da espessura do Real que nomeamos tatildeoparticularmente de Deus que possibilita-nos ser inteiramente humanos A experiecircncia de
Deus reclama nossa humanidade inteira por isso somente diante dela podemos nos afirmar
como inteiramente humanos ldquoO ser humano chega a ser plenamente humano quando faz a
experiecircncia de seu uacuteltimo lsquofundamentorsquo do que realmente eacuterdquo (PANIKKAR 2007 p 76)
3 PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas 2007
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Por ser uma experiecircncia que reclama a inteireza do humano ela eacute constitutivamente
relacional De forma bastante clara R Panikkar afirma que
sem os laccedilos que nos unem com toda a realidade natildeo podemos terexperiecircncia de Deus [] A experiecircncia de Deus eacute a raiz de toda experiecircnciaEacute a experiecircncia em profundidade de todas e cada uma das experiecircnciashumanas do amigo da palavra da conversa Eacute a experiecircncia subjacente atoda experiecircncia humana dor beleza prazer bondade anguacutestia friosubjacente a toda experiecircncia no tanto que nos descobre uma dimensatildeo deinfinito natildeo-finito in-acabado Subjacente a toda experiecircncia e portantonatildeo suscetiacutevel a ser completamente expressa em qualquer ideacuteia sensaccedilatildeo ousentimento (PANIKKAR 2007 p 77-78)
Da experiecircncia de Deus surge entatildeo a possibilidade da experiecircncia plena dohumano Nela estaacute a fonte para a relacionalidade que eacute constitutiva do humano
humanizado Conforme o autor (2007 p 79) tal processo de humanizaccedilatildeo constitui
a experiecircncia de Deus que subjaz toda experiecircncia e pela qual nos fazemoshumanos nos faz conscientes de nossa contingecircncia torna-nos humildes ecapazes de compreender Por essa experiecircncia nos damos conta de queestamos dentro de algo que abarca tudo e somos conscientes de uma dupladimensatildeo de ausecircncia e presenccedila
Mesmo jaacute tendo delineado os contornos da experiecircncia de Deus em perspectivateoloacutegica fica restando ainda uma tarefa importante no processo de especificaccedilatildeo de nossa
temaacutetica Eacute preciso perguntar pelos criteacuterios que nos possam permitir identificar com
alguma clareza as diferenccedilas entre experiecircncia teoloacutegica das demais formas de experiecircncia
do Sagrado4 Para isso eacute preciso explicitar o que ateacute aqui esteve impliacutecito ao longo de toda
exposiccedilatildeo deste toacutepico falamos de experiecircncia teoloacutegica cristatilde
O ponto apical da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo em
perspectiva cristatilde se expressa na encarnaccedilatildeo Nela a experiecircncia de Deus ganha suainalienaacutevel topografia a concretude da existecircncia de homens e mulheres situados em seus
muacuteltiplos e respectivos contextos E ainda tal experiecircncia encontra sua irredutiacutevel
expressividade relacional que em uacuteltima anaacutelise eacute quem a qualifica como experiecircncia de
4 H C de Lima Vaz faz uma importante distinccedilatildeo entre experiecircncia religiosa (experiecircncia do Sagrado) eexperiecircncia de Deus (experiecircncia de Sentido) Haacute claramente um corte uma delimitaccedilatildeo que faz daexperiecircncia de Deus uma experiecircncia com certa especificidade Cf VAZ Henrique C de Lima Escritos defilosofia Problemas de fronteira Satildeo Paulo Loyola 1986 p 248-253
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Deus (assumindo tal nomeaccedilatildeo a partir do que nos foi dado a conhecer pela vida de Jesus
de Nazareacute compreendido teologicamente como o Cristo conforme o fazem os evangelhos)
A experiecircncia cristatilde de Deus eacute tanto uma experiecircncia da encarnaccedilatildeo quanto de
encarnaccedilatildeo Isso eacute o que nos pode revelar a vida de Jesus o Cristo Sendo ele o proacuteprio
Deus encarnado vive numa condiccedilatildeo radicalmente marcada por tal encarnaccedilatildeo quer do
ponto de vista geograacutefico quer do ponto religioso cultural ou existencial Deus
encarnando-se se auto-delimita e delimita a nos apresentando o modus operandi para a
articulaccedilatildeo teoloacutegica da experiecircncia cristatilde de Deus a loacutegica da encarnaccedilatildeo Aqui se
encontra o coraccedilatildeo do Misteacuterio feito histoacuteria e a pedagogia para viver tal histoacuteria como
uacutenica e soacute histoacuteria Refletindo sobre tal especificidade da experiecircncia cristatilde de Deus L Boffafirma que
No cristianismo articulou-se a experiecircncia do Misteacuterio como histoacuteria doMisteacuterio O Sentido natildeo ficou di-fuso pro-fuso e con-fuso dentro darealidade Ele armou tenda entre noacutes e se chamou Jesus Cristo (cf Jo 114) OMisteacuterio eacute tatildeo radicalmente Misteacuterio que pode sem perder sua identidadefazer-se carne e histoacuteria Ele pode subsistir totalmente num Outro diferentedele Se assim natildeo fora natildeo mostraria sua onipotecircncia nem seu caraacuteter deMisteacuterio Entatildeo sendo vida ele pode morrer Fazendo-se morte ele podeviver Ele pode sendo impalpaacutevel fazer-se impalpaacutevel sendo invisiacutevel
fazer-se visiacutevel sendo Criador fazer-se criatura (BOFF 2002 p 106)
Essa natildeo ldquodi-fusatildeo pro-fusatildeo e con-fusatildeordquo do Misteacuterio presente em meio a noacutes se
realiza por que haacute uma existecircncia concreta que abriga tal Misteacuterio A encarnaccedilatildeo confere os
contornos a concretude da presenccedila de Deus E eacute exatamente isso que nos permite nomeaacute-
lo Se nos eacute possiacutevel falar de Deus em perspectiva cristatilde soacute podemos fazecirc-lo de forma
criacutestica Isso significa dizer que ldquoa experiecircncia cristatilde de Deus eacute uma experiecircncia da
presenccedila do Sentido radical numa existecircncia historicamente dada a existecircncia de Jesus e na
palavra da revelaccedilatildeo que eacute totalmente condicionada por essa existecircncia histoacuterica na medida
em que dela procede e a ela se refererdquo (VAZ 1986 p 253)
Da dimensatildeo de concretude legada agrave experiecircncia cristatilde de Deus surge como ldquooutra
face da moedardquo a dimensatildeo relacional Se com a primeira a experiecircncia cristatilde de Deus
ganha seu contorno com a segunda ela ganha sua profundidade Natildeo eacute possiacutevel conceber a
presenccedila de Deus em Jesus o Cristo sem que se afirme a loacutegica relacional ou
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intersubjetiva A teologia cristatilde quando se propotildee nomear o Real a partir de Jesus natildeo pode
sob pena de perder completamente decair num esquema racionalista de sujeitoobjeto Se
fizer isso a teologia trataraacute a revelaccedilatildeo somente como pauta doutrinaacuteria devendo ser
acessada exclusivamente pelas normas da razatildeo tanto nas metodologia especulativas
quanto nas apologeacuteticas Ambas poreacutem subjugadas ao mesmo princiacutepio de uma razatildeo
estreita Nesse caso o Real nomeado Deus natildeo eacute mais que um objeto descritiacutevel
Falando acerca de uma teologia cristatilde da revelaccedilatildeo como encontro entre sujeitos
Roger Haight (cf 2004 p 89-107) apresenta importantes consideraccedilotildees sobre a dimensatildeo
relacional de tal evento Ele afirma ldquoNatildeo se trata de uma operaccedilatildeo dedutiva que argumenta
com base na personalidade de Deus e sim de uma fenomenologia da experiecircncia darevelaccedilatildeo cristatilde que responde pela crenccedila segundo a qual Deus eacute pessoalrdquo (HAIGHT
2004 p 94) A encarnaccedilatildeo natildeo permite menos que isso ela eacute a radicalizaccedilatildeo da
pessoalidade de Deus Neste sentido ldquoa revelaccedilatildeo cristatilde natildeo se afigura como conhecimento
a respeito de Deus como de um objeto nem mesmo como conhecimento de uma pessoa
transcendente A revelaccedilatildeo cristatilde assume antes a forma de um encontro pessoal com um
sujeito divinordquo (HAIGHT 2004 p 94)
983093 983107983151983150983139983148983157983145983150983140983151 983137 983152983137983154983156983145983154 983140983151 983152983154983145983150983139983277983152983145983151
A encarnaccedilatildeo reclama a relaccedilatildeo e esta por sua vez afirma a experiecircncia como
expressatildeo privilegiada O Real nomeado corajosamente pela teologia cristatilde como Deus em
sua plena revelaccedilatildeo que eacute Jesus o Cristo natildeo permite agrave teologia menos que comunicaccedilatildeo
intersubjetiva Deus natildeo estaacute para a teologia como um conceito a ser apreendido antes
como um sujeito que a desafia a uma relaccedilatildeo ldquoDeus eacute experimentado como sujeito de tal
sorte que o contato ou percepccedilatildeo humana de Deus natildeo pode ser um conhecimento acerca de
Deus como de um objetordquo ldquoNa revelaccedilatildeo cristatilde Deus eacute experimentado como eu pessoalrdquo
(HAIGHT 2004 p 95 passim)
Em termos da teologia cristatilde falar sobre experiecircncia de Deus eacute assumir os riscos de
nomeaacute-lo e isso constitui-se numa urgente compreensatildeo responsaacutevel e ampliada da
teologia da revelaccedilatildeo Tratar esta uacuteltima sem atentar para os criteacuterios criacutesticos colocados
pela encarnaccedilatildeo e a relacionalidade dela derivada significa cair na armadilha de tal
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nomeaccedilatildeo objetivaccedilatildeo do Real e consequente idolatria Falar de Deus a partir da
perspectiva cristatilde precisa ser sempre um falar situado como exige a encarnaccedilatildeo e
intersubjetivo como propotildee a radical pessoalidade do encarnado Nas palavras de R Haight
(2004 p 97) ldquoo conteuacutedo positivo da revelaccedilatildeo portanto eacute influenciado e determinado
pelo meio que medeia a experiecircncia da presenccedila e da iniciativa de Deus No caso da
revelaccedilatildeo cristatilde Jesus eacute seu meio histoacuterico centralrdquo
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BOFF Leonardo Experimentar Deus A transparecircncia de todas as coisas 3 edPetroacutepolis Vozes 2002
BUBER Martin O Eclipse de Deus Consideraccedilotildees sobre a relaccedilatildeo entre religiatildeo efilosofia Campinas Verus 2007
HAIGHT Roger Dinacircmica da teologia Satildeo Paulo Paulinas 2004
LIBANIO Joatildeo Batista Desafios da poacutes-modernidade agrave Teologia Fundamental InTRASFERETTI Joseacute GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992
MELLO Anthony O canto do paacutessaro Contemplar a Deus em todas as coisas e todas ascoisas em Deus 11 ed Satildeo Paulo Loyola 2003
MESLIN Michel A Experiecircncia Humana do Divino Fundamentos de uma antropologiareligiosa Petroacutepolis Vozes 1992
OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991
PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas2007
QUEIRUGA Andreacutes Torres Fim do cristianismo preacute-moderno Satildeo Paulo Paulus 2003
QUEIRUGA Andreacutes Torres A revelaccedilatildeo de Deus na realizaccedilatildeo humana Satildeo PauloPaulus 1995
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RICOEUR Paul Entre filosofia e teologia II nomear Deus In RICOEUR Paul Leituras3 Nas fronteiras da filosofia Satildeo Paulo Loyola 1996
RICOEUR Paul A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006
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TRASFERETTI Joseacute amp GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
VAZ Henrique C de Lima Escritos de filosofia Problemas de fronteira Satildeo PauloLoyola 1986
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Percebendo a ldquorevoluccedilatildeo epocalrdquo ou ldquomudanccedila de paradigmardquo que representa o poacutes
para a teologia logo depois de apreciar o pensamento de Gianni Vattimo como
representante de uma ldquoevoluccedilatildeo filosoacuteficardquo AT Queiruga afirma ldquoPara um pensamento
responsaacutevel tudo isso deveria significar antes de tudo e sobretudo uma soacute coisa a
necessidade ineludiacutevel de enfrentar lucidamente a nova situaccedilatildeo buscando um equiliacutebrio
atualizadordquo (QUEIRUGA 2003 p 23-25 passim) Como desdobramento ao necessaacuterio
enfrentamento dessa ldquonova situaccedilatildeordquo Queiruga trava um contato criacutetico com a poacutes-
modernidade e tece a seguinte consideraccedilatildeo
Existe uma [] valecircncia positiva que se encontra no fato de ter (a poacutes-modernidade) propiciado a percepccedilatildeo de novos valores No acircmbito doindividual suscitou ou ao menos ativou a revalorizaccedilatildeo do pequeno atoleracircncia para com o diferente a desobstruccedilatildeo do estabelecido o novoapreccedilo do corpo a revitalizaccedilatildeo da experiecircncia (QUEIRUGA 2003 p 112)
Tornando ainda mais especiacuteficas as suas consideraccedilotildees sobre a poacutes-modernidade em
sua relaccedilatildeo com a religiatildeo sobretudo no sentido de afirmar o primado da experiecircncia AT
Queiruga afirma que a ldquopoacutes-modernidade lsquoreligiosarsquo partindo desta abertura se difrata em
muacuteltiplas formas em busca de uma vivecircncia de fraternidade que abrace todo o real e leve a
uma experiecircncia atual do Absolutordquo (QUEIRUGA 2003 p116)
Enfrentando mais propriamente o primeiro passo da relaccedilatildeo experiecircnciateologia ndash
centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo ndash partiremos de uma discussatildeo de
teologia fundamental e experiecircncia no horizonte poacutes-moderno daremos o contorno da
experiecircncia em face da revelaccedilatildeo de Deus e como passagem ao segundo passo acima
enunciado ndash encarnaccedilatildeo como aacutepice da centralidade da experiecircncia para a teologia da
revelaccedilatildeo ndash trabalharemos a dimensatildeo holiacutestica e relacional tatildeo iacutentimas do diacutestico
experiecircnciarevelaccedilatildeoldquoA crise da razatildeo eacute a consciecircncia da irracionalidade gigantesca dessa mesma razatildeordquo
(LIBANIO 2003 p 163) Assim Joatildeo Batista Libanio introduz uma interessante reflexatildeo
sobre a Teologia Fundamental1 no contexto desafiante da poacutes-modernidade Foi no interior
1 JB Libanio jaacute havia escrito uma importante obra sobre Revelaccedilatildeo soacute que em franco diaacutelogo com amodernidade Cf LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992 Nesta obra o autor destina dois capiacutetulos para refletir sobre a relaccedilatildeo experiecircnciateologia pp195-248
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da proacutepria modernidade com sua tendecircncia agrave extrema especializaccedilatildeo que o conceito de
razatildeo forte comeccedilou a ruir No lugar de tal razatildeo forte surgiu um princiacutepio de
enfraquecimento da razatildeo que elevou a experiecircncia agrave condiccedilatildeo primordial em relaccedilatildeo
teologia da revelaccedilatildeo (Cf LIBANIO 2003 p 162-163)
Neste sentido JB Libanio afirma ldquoUm caminho viaacutevel sugere partir das
experiecircncias significativas das pessoas explicitando-as para elas mesmas E de dentro delas
mostrar como a revelaccedilatildeo vem responder concretamente a elasrdquo (LIBANIO 2003 p 165)
Diante disso a teologia se vecirc frente a uma tarefa inalienaacutevel ajudar homens e mulheres no
discernimento de suas experiecircncias contribuindo para a nomeaccedilatildeo e esclarecimento de um
universo plural de sinais feacuterteis da presenccedila de Deus
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983140983141983155983137983142983145983151 983140983141 983150983151983149983141983137983154 983108983141983157983155
A desafiante tarefa teoloacutegica consiste portanto em contribuir no processo de
discernimento das experiecircncias efetivamente feitas por homens e mulheres dentro de seus
mais variados lugares culturais Essa contribuiccedilatildeo contudo natildeo o seraacute em toda a sua
espessura se natildeo for realizada a partir de dentro mesmo dos mundos onde habitam esses eessas que satildeo os verdadeiros protagonistas da recepccedilatildeo da presenccedila divina JB Libanio
descreve as caracteriacutesticas desses lugares culturais poacutes-modernos onde a recepccedilatildeo da
presenccedila de Deus eacute experimentada
Tanto mais pertinente parece tal caminho quanto mais se percebe quecrescem nas pessoas o interesse a sensibilidade e gosto pelos siacutembolos pelossinais pela beleza e pela esteacutetica [] A beleza e a forccedila significativa dossinais tocam mais profundamente a geraccedilatildeo poacutes-moderna Uma teologia
fundamental para tal momento cultural requer agilidade mental em que aalusatildeo a insinuaccedilatildeo o jogo simboacutelico a beleza das reflexotildees superem umaracionalidade loacutegica cada vez mais inacessiacutevel (LIBANIO 2003 p 165)
A moldura epistemoloacutegica necessaacuteria para contornar esse cenaacuterio teoloacutegico e
existencial deve compor-se de uma sensibilidade adequada a tal cenaacuterio Urge portanto
uma superaccedilatildeo de molduras que tatildeo bem enquadraram cenaacuterios passados mas que agora soacute
fazem distorcer a percepccedilatildeo do horizonte novo que se apresenta Uma nova racionalidade
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que possibilite agrave teologia ler nas experiecircncias humanas experiecircncias de Deus JB Libanio
faz uma importante consideraccedilatildeo a esse respeito Ele afirma que ldquoquando poreacutem se entra
pelo campo dos siacutembolos da esteacutetica natildeo se renuncia agrave razatildeo mas trabalha-se com outra
dimensatildeo da racionalidade cujo acesso natildeo depende dos conhecimentos racionais
sofisticados e inacessiacuteveis e sim de outra fonterdquo (LIBANIO 2003 p 166)
O lugar onde a teologia eacute pensada e proposta sofre um radical deslocamento (Cf
LIBANIO 2003 p 169) Ela e seus processos satildeo deslocados para o interior das
comunidades onde natildeo interessam tanto formulaccedilotildees teoacutericas sobre a feacute mas antes
narrativas de experiecircncias da presenccedila de Deus veiculadas por sinais e siacutembolos proacuteprios de
tais universos Narrar as proacuteprias experiecircncias Esse eacute o processo catequeacutetico proacuteprio deuma racionalidade poacutes-moderna Cabe a teologia como ldquoirmatilde mais velhardquo contribuir a
partir do depoacutesito das muitas tradiccedilotildees no discernimento de tal dinacircmica catequeacutetica afim
de que esta seja consequumlente com a feacute cristatilde em suas muacuteltiplas expressotildees
Esse novo lugar que a teologia eacute convidada a habitar tem como atmosfera proacutepria a
experiecircncia Eacute a partir e de dentro dela que se quer ousar nomear a presenccedila do Real que a
todos envolve Na experiecircncia da presenccedila do Real assumimos o risco de chamaacute-lo Deus
Tal atitude se constitui num risco porque o desafio de nomear Deus pode degenerar na
tentativa de defini-lo incorrendo dessa forma na mais radical idolatria Acerca desse risco
Paul Tillich adverte ldquoDeusrdquo eacute siacutembolo para Deus Isso significa que precisamos distinguir
dois elementos em nossa concepccedilatildeo de Deus uma vez o elemento incondicional que se
manifesta na experiecircncia imediata e em si natildeo eacute simboacutelico e por outro lado o elemento
concreto que eacute obtido de nossa experiecircncia normal e eacute simbolicamente relacionado com
Deus [] ldquodeusrdquo eacute siacutembolo de Deus Nesse sentido Deus eacute o conteuacutedo proacuteprio e
universalmente vaacutelido da feacute (Cf TILLICH 2001 p 33-34)
Neste sentido precisar um pouco mais os contornos da experiecircncia em face agravenomeaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Real se faz necessaacuterio Uma vez que jaacute estabelecemos tanto uma
conceituaccedilatildeo filosoacutefica acerca da experiecircncia quanto uma descriccedilatildeo de sua importacircncia
para a percepccedilatildeo da presenccedila do Sagrado no escopo da fenomenologia da religiatildeo cabe-nos
ainda a tarefa de tracejar os contornos da experiecircncia no interior da teologia e daquilo que
lhe eacute proacuteprio Para tanto recorreremos a discussatildeo proposta por Gerald OrsquoCollins em sua
obra Teologia Fundamental especificamente no segundo capiacutetulo intitulado A
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experiecircncia humana2
G OrsquoCollins tratando da experiecircncia em si (cf 1991 p 54-55) estabelece um
conjunto de caracteriacutesticas proacuteprias em face agrave sua relaccedilatildeo com a teologia Em primeiro
lugar toda a experiecircncia tem um significado ou seja haacute uma comunicaccedilatildeo de sentido
agravequeles que fazem uma experiecircncia de Deus Essa primeira caracteriacutestica aponta para a
profundidade que tal evento produz na existecircncia humana Ao contraacuterio do que por vezes eacute
dito a experiecircncia natildeo eacute ldquoepideacutermicardquo ou ao menos natildeo o eacute somente Por se dar em iacutentimo
contato com nossa dimensatildeo empiacuterica ela natildeo estaacute fadada agrave fugacidade Haacute efetivamente
um sentido intriacutenseca e profundamente dado numa experiecircncia de Deus
Marcando a incidecircncia profunda e espessa que a experiecircncia gera na existecircnciahumana G OrsquoCollins salienta sua natildeo reduccedilatildeo ao exclusivamente efecircmero afirmando que
ldquopodemos esperar que o mundo e nossas experiecircncias faccedilam sentido contanto que natildeo
insistamos num sentido simples e imediatordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) Nesse sentido eacute
como se a experiecircncia humana de Deus ecoa-se desde o iacutentimo daquele que a faz
reverberando sua accedilatildeo e influxo para todas as dimensotildees da existecircncia humana O sentido
de tal experiecircncia vai se afirmando e sendo percebido agrave medida que em tais dimensotildees
dessa experiecircncia vai sendo reconhecida e acolhida
Esse processo de afirmaccedilatildeo de sentido que surge de experiecircncia de Deus feita nos
contornos da existecircncia humana tem uma teleologia G OrsquoCollins identifica tal finalidade
como a segunda caracteriacutestica da experiecircncia em sua relaccedilatildeo com a teologia Ele afirma que
ldquotoda experiecircncia traz consigo um certo propoacutesito ou finalidade Leva-nos em alguma
direccedilatildeordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) No escopo da teologia da revelaccedilatildeo a finalidade de
uma experiecircncia de Deus deve ser consequumlente com o proacuteprio revelado experimentado Ou
seja a teleologia deve encontrar consonacircncia com a teologia recebendo desta os elementos
para seu discernimento G OrsquoCollins exemplifica essa segunda caracteriacutestica da seguinteforma ldquoA experiecircncia do amor genuiacuteno torna-se enriquecedor do outro e pessoalmente
enriquecedorrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55)
Experimentar o amor eacute mover-se na dinacircmica do proacuteprio amor Isso daacute o peso e
concretude da experiecircncia ajudando a corrigir possiacuteveis reduccedilotildees fugazes e epideacutermicas G
OrsquoCollins identifica nessa dimensatildeo de concretude a terceira caracteriacutestica da experiecircncia
2 OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991 p 47-70
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ldquoA experiecircncia natildeo eacute nada se natildeo for concretardquo Sua espessura e historicidade evidenciam-
se exatamente aiacute Natildeo haacute espaccedilo para abstraccedilotildees ldquopurasrdquo para racionalizaccedilotildees aprioriacutesticas
ou recursos a formulaccedilotildees axiomaacuteticas fundadas sobre recursos metafiacutesicos Uma teologia
da revelaccedilatildeo nesse acento da experiecircncia natildeo pode ser pensada em geral porque ldquonatildeo
existem experiecircncias em geralrdquo ldquoUma experiecircncia de Deus [] soacute ocorre em momentos
particulares em lugares particulares e com pessoas particularesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p
56 passim)
Em quarto lugar G OrsquoCollins menciona como importante caracteriacutestica da
experiecircncia uma abertura ao novo ao ineacutedito ao natildeo ordinaacuterio Ele menciona como os
teoacutericos que tratam dessa temaacutetica utilizam o recurso da linguagem para expressar osurpreendente que se mostra numa experiecircncia Expressotildees como ldquoexperiecircncia-aacutepicerdquo
ldquosituaccedilotildees-limiterdquo ou ldquoexperiecircncia-limiterdquo revelam que ldquoa experiecircncia sugere prontamente
algo de novo ou inesperado que deixa a sua marca no sujeito e o abre para outras
experiecircncia no futurordquo Em suma conclui G OrsquoCollins ldquoA experiecircncia genuiacutena transcende
as nossas previsotildeesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 56 passim)
Outro autor que pode ajudar na compreensatildeo da importacircncia da experiecircncia em
relaccedilatildeo agrave teologia da revelaccedilatildeo eacute Raimon Panikkar especificamente em sua obra Iacutecones do
misteacuterio3 No acircmbito da reflexatildeo sobre o risco de nomear o Real chamando-o Deus
intrinsecamente presente no ato da experiecircncia R Panikkar (2007 p 75) comeccedila por
advertir que ldquotudo o que se possa dizer com estrita racionalidade da experiecircncia de Deus eacute
idolatriardquo A experiecircncia de Deus eacute um ato do ser humano portanto natildeo estaacute para a
compreensatildeo de uma uacutenica dimensatildeo deste mesmo sendo esta a proacutepria razatildeo Ela soacute pode
ser percebida em sua espessura se colocada para a integralidade do humano inclusive para
sua dimensatildeo misteacuterica
Eacute exatamente essa amplitude da espessura do Real que nomeamos tatildeoparticularmente de Deus que possibilita-nos ser inteiramente humanos A experiecircncia de
Deus reclama nossa humanidade inteira por isso somente diante dela podemos nos afirmar
como inteiramente humanos ldquoO ser humano chega a ser plenamente humano quando faz a
experiecircncia de seu uacuteltimo lsquofundamentorsquo do que realmente eacuterdquo (PANIKKAR 2007 p 76)
3 PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas 2007
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Por ser uma experiecircncia que reclama a inteireza do humano ela eacute constitutivamente
relacional De forma bastante clara R Panikkar afirma que
sem os laccedilos que nos unem com toda a realidade natildeo podemos terexperiecircncia de Deus [] A experiecircncia de Deus eacute a raiz de toda experiecircnciaEacute a experiecircncia em profundidade de todas e cada uma das experiecircnciashumanas do amigo da palavra da conversa Eacute a experiecircncia subjacente atoda experiecircncia humana dor beleza prazer bondade anguacutestia friosubjacente a toda experiecircncia no tanto que nos descobre uma dimensatildeo deinfinito natildeo-finito in-acabado Subjacente a toda experiecircncia e portantonatildeo suscetiacutevel a ser completamente expressa em qualquer ideacuteia sensaccedilatildeo ousentimento (PANIKKAR 2007 p 77-78)
Da experiecircncia de Deus surge entatildeo a possibilidade da experiecircncia plena dohumano Nela estaacute a fonte para a relacionalidade que eacute constitutiva do humano
humanizado Conforme o autor (2007 p 79) tal processo de humanizaccedilatildeo constitui
a experiecircncia de Deus que subjaz toda experiecircncia e pela qual nos fazemoshumanos nos faz conscientes de nossa contingecircncia torna-nos humildes ecapazes de compreender Por essa experiecircncia nos damos conta de queestamos dentro de algo que abarca tudo e somos conscientes de uma dupladimensatildeo de ausecircncia e presenccedila
Mesmo jaacute tendo delineado os contornos da experiecircncia de Deus em perspectivateoloacutegica fica restando ainda uma tarefa importante no processo de especificaccedilatildeo de nossa
temaacutetica Eacute preciso perguntar pelos criteacuterios que nos possam permitir identificar com
alguma clareza as diferenccedilas entre experiecircncia teoloacutegica das demais formas de experiecircncia
do Sagrado4 Para isso eacute preciso explicitar o que ateacute aqui esteve impliacutecito ao longo de toda
exposiccedilatildeo deste toacutepico falamos de experiecircncia teoloacutegica cristatilde
O ponto apical da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo em
perspectiva cristatilde se expressa na encarnaccedilatildeo Nela a experiecircncia de Deus ganha suainalienaacutevel topografia a concretude da existecircncia de homens e mulheres situados em seus
muacuteltiplos e respectivos contextos E ainda tal experiecircncia encontra sua irredutiacutevel
expressividade relacional que em uacuteltima anaacutelise eacute quem a qualifica como experiecircncia de
4 H C de Lima Vaz faz uma importante distinccedilatildeo entre experiecircncia religiosa (experiecircncia do Sagrado) eexperiecircncia de Deus (experiecircncia de Sentido) Haacute claramente um corte uma delimitaccedilatildeo que faz daexperiecircncia de Deus uma experiecircncia com certa especificidade Cf VAZ Henrique C de Lima Escritos defilosofia Problemas de fronteira Satildeo Paulo Loyola 1986 p 248-253
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Deus (assumindo tal nomeaccedilatildeo a partir do que nos foi dado a conhecer pela vida de Jesus
de Nazareacute compreendido teologicamente como o Cristo conforme o fazem os evangelhos)
A experiecircncia cristatilde de Deus eacute tanto uma experiecircncia da encarnaccedilatildeo quanto de
encarnaccedilatildeo Isso eacute o que nos pode revelar a vida de Jesus o Cristo Sendo ele o proacuteprio
Deus encarnado vive numa condiccedilatildeo radicalmente marcada por tal encarnaccedilatildeo quer do
ponto de vista geograacutefico quer do ponto religioso cultural ou existencial Deus
encarnando-se se auto-delimita e delimita a nos apresentando o modus operandi para a
articulaccedilatildeo teoloacutegica da experiecircncia cristatilde de Deus a loacutegica da encarnaccedilatildeo Aqui se
encontra o coraccedilatildeo do Misteacuterio feito histoacuteria e a pedagogia para viver tal histoacuteria como
uacutenica e soacute histoacuteria Refletindo sobre tal especificidade da experiecircncia cristatilde de Deus L Boffafirma que
No cristianismo articulou-se a experiecircncia do Misteacuterio como histoacuteria doMisteacuterio O Sentido natildeo ficou di-fuso pro-fuso e con-fuso dentro darealidade Ele armou tenda entre noacutes e se chamou Jesus Cristo (cf Jo 114) OMisteacuterio eacute tatildeo radicalmente Misteacuterio que pode sem perder sua identidadefazer-se carne e histoacuteria Ele pode subsistir totalmente num Outro diferentedele Se assim natildeo fora natildeo mostraria sua onipotecircncia nem seu caraacuteter deMisteacuterio Entatildeo sendo vida ele pode morrer Fazendo-se morte ele podeviver Ele pode sendo impalpaacutevel fazer-se impalpaacutevel sendo invisiacutevel
fazer-se visiacutevel sendo Criador fazer-se criatura (BOFF 2002 p 106)
Essa natildeo ldquodi-fusatildeo pro-fusatildeo e con-fusatildeordquo do Misteacuterio presente em meio a noacutes se
realiza por que haacute uma existecircncia concreta que abriga tal Misteacuterio A encarnaccedilatildeo confere os
contornos a concretude da presenccedila de Deus E eacute exatamente isso que nos permite nomeaacute-
lo Se nos eacute possiacutevel falar de Deus em perspectiva cristatilde soacute podemos fazecirc-lo de forma
criacutestica Isso significa dizer que ldquoa experiecircncia cristatilde de Deus eacute uma experiecircncia da
presenccedila do Sentido radical numa existecircncia historicamente dada a existecircncia de Jesus e na
palavra da revelaccedilatildeo que eacute totalmente condicionada por essa existecircncia histoacuterica na medida
em que dela procede e a ela se refererdquo (VAZ 1986 p 253)
Da dimensatildeo de concretude legada agrave experiecircncia cristatilde de Deus surge como ldquooutra
face da moedardquo a dimensatildeo relacional Se com a primeira a experiecircncia cristatilde de Deus
ganha seu contorno com a segunda ela ganha sua profundidade Natildeo eacute possiacutevel conceber a
presenccedila de Deus em Jesus o Cristo sem que se afirme a loacutegica relacional ou
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intersubjetiva A teologia cristatilde quando se propotildee nomear o Real a partir de Jesus natildeo pode
sob pena de perder completamente decair num esquema racionalista de sujeitoobjeto Se
fizer isso a teologia trataraacute a revelaccedilatildeo somente como pauta doutrinaacuteria devendo ser
acessada exclusivamente pelas normas da razatildeo tanto nas metodologia especulativas
quanto nas apologeacuteticas Ambas poreacutem subjugadas ao mesmo princiacutepio de uma razatildeo
estreita Nesse caso o Real nomeado Deus natildeo eacute mais que um objeto descritiacutevel
Falando acerca de uma teologia cristatilde da revelaccedilatildeo como encontro entre sujeitos
Roger Haight (cf 2004 p 89-107) apresenta importantes consideraccedilotildees sobre a dimensatildeo
relacional de tal evento Ele afirma ldquoNatildeo se trata de uma operaccedilatildeo dedutiva que argumenta
com base na personalidade de Deus e sim de uma fenomenologia da experiecircncia darevelaccedilatildeo cristatilde que responde pela crenccedila segundo a qual Deus eacute pessoalrdquo (HAIGHT
2004 p 94) A encarnaccedilatildeo natildeo permite menos que isso ela eacute a radicalizaccedilatildeo da
pessoalidade de Deus Neste sentido ldquoa revelaccedilatildeo cristatilde natildeo se afigura como conhecimento
a respeito de Deus como de um objeto nem mesmo como conhecimento de uma pessoa
transcendente A revelaccedilatildeo cristatilde assume antes a forma de um encontro pessoal com um
sujeito divinordquo (HAIGHT 2004 p 94)
983093 983107983151983150983139983148983157983145983150983140983151 983137 983152983137983154983156983145983154 983140983151 983152983154983145983150983139983277983152983145983151
A encarnaccedilatildeo reclama a relaccedilatildeo e esta por sua vez afirma a experiecircncia como
expressatildeo privilegiada O Real nomeado corajosamente pela teologia cristatilde como Deus em
sua plena revelaccedilatildeo que eacute Jesus o Cristo natildeo permite agrave teologia menos que comunicaccedilatildeo
intersubjetiva Deus natildeo estaacute para a teologia como um conceito a ser apreendido antes
como um sujeito que a desafia a uma relaccedilatildeo ldquoDeus eacute experimentado como sujeito de tal
sorte que o contato ou percepccedilatildeo humana de Deus natildeo pode ser um conhecimento acerca de
Deus como de um objetordquo ldquoNa revelaccedilatildeo cristatilde Deus eacute experimentado como eu pessoalrdquo
(HAIGHT 2004 p 95 passim)
Em termos da teologia cristatilde falar sobre experiecircncia de Deus eacute assumir os riscos de
nomeaacute-lo e isso constitui-se numa urgente compreensatildeo responsaacutevel e ampliada da
teologia da revelaccedilatildeo Tratar esta uacuteltima sem atentar para os criteacuterios criacutesticos colocados
pela encarnaccedilatildeo e a relacionalidade dela derivada significa cair na armadilha de tal
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nomeaccedilatildeo objetivaccedilatildeo do Real e consequente idolatria Falar de Deus a partir da
perspectiva cristatilde precisa ser sempre um falar situado como exige a encarnaccedilatildeo e
intersubjetivo como propotildee a radical pessoalidade do encarnado Nas palavras de R Haight
(2004 p 97) ldquoo conteuacutedo positivo da revelaccedilatildeo portanto eacute influenciado e determinado
pelo meio que medeia a experiecircncia da presenccedila e da iniciativa de Deus No caso da
revelaccedilatildeo cristatilde Jesus eacute seu meio histoacuterico centralrdquo
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BOFF Leonardo Experimentar Deus A transparecircncia de todas as coisas 3 edPetroacutepolis Vozes 2002
BUBER Martin O Eclipse de Deus Consideraccedilotildees sobre a relaccedilatildeo entre religiatildeo efilosofia Campinas Verus 2007
HAIGHT Roger Dinacircmica da teologia Satildeo Paulo Paulinas 2004
LIBANIO Joatildeo Batista Desafios da poacutes-modernidade agrave Teologia Fundamental InTRASFERETTI Joseacute GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992
MELLO Anthony O canto do paacutessaro Contemplar a Deus em todas as coisas e todas ascoisas em Deus 11 ed Satildeo Paulo Loyola 2003
MESLIN Michel A Experiecircncia Humana do Divino Fundamentos de uma antropologiareligiosa Petroacutepolis Vozes 1992
OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991
PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas2007
QUEIRUGA Andreacutes Torres Fim do cristianismo preacute-moderno Satildeo Paulo Paulus 2003
QUEIRUGA Andreacutes Torres A revelaccedilatildeo de Deus na realizaccedilatildeo humana Satildeo PauloPaulus 1995
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RICOEUR Paul Entre filosofia e teologia II nomear Deus In RICOEUR Paul Leituras3 Nas fronteiras da filosofia Satildeo Paulo Loyola 1996
RICOEUR Paul A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006
TILLICH Paul Dinacircmica da feacute 6 ed Satildeo Leopoldo Sinodal 2001
TRASFERETTI Joseacute amp GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
VAZ Henrique C de Lima Escritos de filosofia Problemas de fronteira Satildeo PauloLoyola 1986
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da proacutepria modernidade com sua tendecircncia agrave extrema especializaccedilatildeo que o conceito de
razatildeo forte comeccedilou a ruir No lugar de tal razatildeo forte surgiu um princiacutepio de
enfraquecimento da razatildeo que elevou a experiecircncia agrave condiccedilatildeo primordial em relaccedilatildeo
teologia da revelaccedilatildeo (Cf LIBANIO 2003 p 162-163)
Neste sentido JB Libanio afirma ldquoUm caminho viaacutevel sugere partir das
experiecircncias significativas das pessoas explicitando-as para elas mesmas E de dentro delas
mostrar como a revelaccedilatildeo vem responder concretamente a elasrdquo (LIBANIO 2003 p 165)
Diante disso a teologia se vecirc frente a uma tarefa inalienaacutevel ajudar homens e mulheres no
discernimento de suas experiecircncias contribuindo para a nomeaccedilatildeo e esclarecimento de um
universo plural de sinais feacuterteis da presenccedila de Deus
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A desafiante tarefa teoloacutegica consiste portanto em contribuir no processo de
discernimento das experiecircncias efetivamente feitas por homens e mulheres dentro de seus
mais variados lugares culturais Essa contribuiccedilatildeo contudo natildeo o seraacute em toda a sua
espessura se natildeo for realizada a partir de dentro mesmo dos mundos onde habitam esses eessas que satildeo os verdadeiros protagonistas da recepccedilatildeo da presenccedila divina JB Libanio
descreve as caracteriacutesticas desses lugares culturais poacutes-modernos onde a recepccedilatildeo da
presenccedila de Deus eacute experimentada
Tanto mais pertinente parece tal caminho quanto mais se percebe quecrescem nas pessoas o interesse a sensibilidade e gosto pelos siacutembolos pelossinais pela beleza e pela esteacutetica [] A beleza e a forccedila significativa dossinais tocam mais profundamente a geraccedilatildeo poacutes-moderna Uma teologia
fundamental para tal momento cultural requer agilidade mental em que aalusatildeo a insinuaccedilatildeo o jogo simboacutelico a beleza das reflexotildees superem umaracionalidade loacutegica cada vez mais inacessiacutevel (LIBANIO 2003 p 165)
A moldura epistemoloacutegica necessaacuteria para contornar esse cenaacuterio teoloacutegico e
existencial deve compor-se de uma sensibilidade adequada a tal cenaacuterio Urge portanto
uma superaccedilatildeo de molduras que tatildeo bem enquadraram cenaacuterios passados mas que agora soacute
fazem distorcer a percepccedilatildeo do horizonte novo que se apresenta Uma nova racionalidade
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que possibilite agrave teologia ler nas experiecircncias humanas experiecircncias de Deus JB Libanio
faz uma importante consideraccedilatildeo a esse respeito Ele afirma que ldquoquando poreacutem se entra
pelo campo dos siacutembolos da esteacutetica natildeo se renuncia agrave razatildeo mas trabalha-se com outra
dimensatildeo da racionalidade cujo acesso natildeo depende dos conhecimentos racionais
sofisticados e inacessiacuteveis e sim de outra fonterdquo (LIBANIO 2003 p 166)
O lugar onde a teologia eacute pensada e proposta sofre um radical deslocamento (Cf
LIBANIO 2003 p 169) Ela e seus processos satildeo deslocados para o interior das
comunidades onde natildeo interessam tanto formulaccedilotildees teoacutericas sobre a feacute mas antes
narrativas de experiecircncias da presenccedila de Deus veiculadas por sinais e siacutembolos proacuteprios de
tais universos Narrar as proacuteprias experiecircncias Esse eacute o processo catequeacutetico proacuteprio deuma racionalidade poacutes-moderna Cabe a teologia como ldquoirmatilde mais velhardquo contribuir a
partir do depoacutesito das muitas tradiccedilotildees no discernimento de tal dinacircmica catequeacutetica afim
de que esta seja consequumlente com a feacute cristatilde em suas muacuteltiplas expressotildees
Esse novo lugar que a teologia eacute convidada a habitar tem como atmosfera proacutepria a
experiecircncia Eacute a partir e de dentro dela que se quer ousar nomear a presenccedila do Real que a
todos envolve Na experiecircncia da presenccedila do Real assumimos o risco de chamaacute-lo Deus
Tal atitude se constitui num risco porque o desafio de nomear Deus pode degenerar na
tentativa de defini-lo incorrendo dessa forma na mais radical idolatria Acerca desse risco
Paul Tillich adverte ldquoDeusrdquo eacute siacutembolo para Deus Isso significa que precisamos distinguir
dois elementos em nossa concepccedilatildeo de Deus uma vez o elemento incondicional que se
manifesta na experiecircncia imediata e em si natildeo eacute simboacutelico e por outro lado o elemento
concreto que eacute obtido de nossa experiecircncia normal e eacute simbolicamente relacionado com
Deus [] ldquodeusrdquo eacute siacutembolo de Deus Nesse sentido Deus eacute o conteuacutedo proacuteprio e
universalmente vaacutelido da feacute (Cf TILLICH 2001 p 33-34)
Neste sentido precisar um pouco mais os contornos da experiecircncia em face agravenomeaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Real se faz necessaacuterio Uma vez que jaacute estabelecemos tanto uma
conceituaccedilatildeo filosoacutefica acerca da experiecircncia quanto uma descriccedilatildeo de sua importacircncia
para a percepccedilatildeo da presenccedila do Sagrado no escopo da fenomenologia da religiatildeo cabe-nos
ainda a tarefa de tracejar os contornos da experiecircncia no interior da teologia e daquilo que
lhe eacute proacuteprio Para tanto recorreremos a discussatildeo proposta por Gerald OrsquoCollins em sua
obra Teologia Fundamental especificamente no segundo capiacutetulo intitulado A
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experiecircncia humana2
G OrsquoCollins tratando da experiecircncia em si (cf 1991 p 54-55) estabelece um
conjunto de caracteriacutesticas proacuteprias em face agrave sua relaccedilatildeo com a teologia Em primeiro
lugar toda a experiecircncia tem um significado ou seja haacute uma comunicaccedilatildeo de sentido
agravequeles que fazem uma experiecircncia de Deus Essa primeira caracteriacutestica aponta para a
profundidade que tal evento produz na existecircncia humana Ao contraacuterio do que por vezes eacute
dito a experiecircncia natildeo eacute ldquoepideacutermicardquo ou ao menos natildeo o eacute somente Por se dar em iacutentimo
contato com nossa dimensatildeo empiacuterica ela natildeo estaacute fadada agrave fugacidade Haacute efetivamente
um sentido intriacutenseca e profundamente dado numa experiecircncia de Deus
Marcando a incidecircncia profunda e espessa que a experiecircncia gera na existecircnciahumana G OrsquoCollins salienta sua natildeo reduccedilatildeo ao exclusivamente efecircmero afirmando que
ldquopodemos esperar que o mundo e nossas experiecircncias faccedilam sentido contanto que natildeo
insistamos num sentido simples e imediatordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) Nesse sentido eacute
como se a experiecircncia humana de Deus ecoa-se desde o iacutentimo daquele que a faz
reverberando sua accedilatildeo e influxo para todas as dimensotildees da existecircncia humana O sentido
de tal experiecircncia vai se afirmando e sendo percebido agrave medida que em tais dimensotildees
dessa experiecircncia vai sendo reconhecida e acolhida
Esse processo de afirmaccedilatildeo de sentido que surge de experiecircncia de Deus feita nos
contornos da existecircncia humana tem uma teleologia G OrsquoCollins identifica tal finalidade
como a segunda caracteriacutestica da experiecircncia em sua relaccedilatildeo com a teologia Ele afirma que
ldquotoda experiecircncia traz consigo um certo propoacutesito ou finalidade Leva-nos em alguma
direccedilatildeordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) No escopo da teologia da revelaccedilatildeo a finalidade de
uma experiecircncia de Deus deve ser consequumlente com o proacuteprio revelado experimentado Ou
seja a teleologia deve encontrar consonacircncia com a teologia recebendo desta os elementos
para seu discernimento G OrsquoCollins exemplifica essa segunda caracteriacutestica da seguinteforma ldquoA experiecircncia do amor genuiacuteno torna-se enriquecedor do outro e pessoalmente
enriquecedorrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55)
Experimentar o amor eacute mover-se na dinacircmica do proacuteprio amor Isso daacute o peso e
concretude da experiecircncia ajudando a corrigir possiacuteveis reduccedilotildees fugazes e epideacutermicas G
OrsquoCollins identifica nessa dimensatildeo de concretude a terceira caracteriacutestica da experiecircncia
2 OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991 p 47-70
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ldquoA experiecircncia natildeo eacute nada se natildeo for concretardquo Sua espessura e historicidade evidenciam-
se exatamente aiacute Natildeo haacute espaccedilo para abstraccedilotildees ldquopurasrdquo para racionalizaccedilotildees aprioriacutesticas
ou recursos a formulaccedilotildees axiomaacuteticas fundadas sobre recursos metafiacutesicos Uma teologia
da revelaccedilatildeo nesse acento da experiecircncia natildeo pode ser pensada em geral porque ldquonatildeo
existem experiecircncias em geralrdquo ldquoUma experiecircncia de Deus [] soacute ocorre em momentos
particulares em lugares particulares e com pessoas particularesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p
56 passim)
Em quarto lugar G OrsquoCollins menciona como importante caracteriacutestica da
experiecircncia uma abertura ao novo ao ineacutedito ao natildeo ordinaacuterio Ele menciona como os
teoacutericos que tratam dessa temaacutetica utilizam o recurso da linguagem para expressar osurpreendente que se mostra numa experiecircncia Expressotildees como ldquoexperiecircncia-aacutepicerdquo
ldquosituaccedilotildees-limiterdquo ou ldquoexperiecircncia-limiterdquo revelam que ldquoa experiecircncia sugere prontamente
algo de novo ou inesperado que deixa a sua marca no sujeito e o abre para outras
experiecircncia no futurordquo Em suma conclui G OrsquoCollins ldquoA experiecircncia genuiacutena transcende
as nossas previsotildeesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 56 passim)
Outro autor que pode ajudar na compreensatildeo da importacircncia da experiecircncia em
relaccedilatildeo agrave teologia da revelaccedilatildeo eacute Raimon Panikkar especificamente em sua obra Iacutecones do
misteacuterio3 No acircmbito da reflexatildeo sobre o risco de nomear o Real chamando-o Deus
intrinsecamente presente no ato da experiecircncia R Panikkar (2007 p 75) comeccedila por
advertir que ldquotudo o que se possa dizer com estrita racionalidade da experiecircncia de Deus eacute
idolatriardquo A experiecircncia de Deus eacute um ato do ser humano portanto natildeo estaacute para a
compreensatildeo de uma uacutenica dimensatildeo deste mesmo sendo esta a proacutepria razatildeo Ela soacute pode
ser percebida em sua espessura se colocada para a integralidade do humano inclusive para
sua dimensatildeo misteacuterica
Eacute exatamente essa amplitude da espessura do Real que nomeamos tatildeoparticularmente de Deus que possibilita-nos ser inteiramente humanos A experiecircncia de
Deus reclama nossa humanidade inteira por isso somente diante dela podemos nos afirmar
como inteiramente humanos ldquoO ser humano chega a ser plenamente humano quando faz a
experiecircncia de seu uacuteltimo lsquofundamentorsquo do que realmente eacuterdquo (PANIKKAR 2007 p 76)
3 PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas 2007
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Por ser uma experiecircncia que reclama a inteireza do humano ela eacute constitutivamente
relacional De forma bastante clara R Panikkar afirma que
sem os laccedilos que nos unem com toda a realidade natildeo podemos terexperiecircncia de Deus [] A experiecircncia de Deus eacute a raiz de toda experiecircnciaEacute a experiecircncia em profundidade de todas e cada uma das experiecircnciashumanas do amigo da palavra da conversa Eacute a experiecircncia subjacente atoda experiecircncia humana dor beleza prazer bondade anguacutestia friosubjacente a toda experiecircncia no tanto que nos descobre uma dimensatildeo deinfinito natildeo-finito in-acabado Subjacente a toda experiecircncia e portantonatildeo suscetiacutevel a ser completamente expressa em qualquer ideacuteia sensaccedilatildeo ousentimento (PANIKKAR 2007 p 77-78)
Da experiecircncia de Deus surge entatildeo a possibilidade da experiecircncia plena dohumano Nela estaacute a fonte para a relacionalidade que eacute constitutiva do humano
humanizado Conforme o autor (2007 p 79) tal processo de humanizaccedilatildeo constitui
a experiecircncia de Deus que subjaz toda experiecircncia e pela qual nos fazemoshumanos nos faz conscientes de nossa contingecircncia torna-nos humildes ecapazes de compreender Por essa experiecircncia nos damos conta de queestamos dentro de algo que abarca tudo e somos conscientes de uma dupladimensatildeo de ausecircncia e presenccedila
Mesmo jaacute tendo delineado os contornos da experiecircncia de Deus em perspectivateoloacutegica fica restando ainda uma tarefa importante no processo de especificaccedilatildeo de nossa
temaacutetica Eacute preciso perguntar pelos criteacuterios que nos possam permitir identificar com
alguma clareza as diferenccedilas entre experiecircncia teoloacutegica das demais formas de experiecircncia
do Sagrado4 Para isso eacute preciso explicitar o que ateacute aqui esteve impliacutecito ao longo de toda
exposiccedilatildeo deste toacutepico falamos de experiecircncia teoloacutegica cristatilde
O ponto apical da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo em
perspectiva cristatilde se expressa na encarnaccedilatildeo Nela a experiecircncia de Deus ganha suainalienaacutevel topografia a concretude da existecircncia de homens e mulheres situados em seus
muacuteltiplos e respectivos contextos E ainda tal experiecircncia encontra sua irredutiacutevel
expressividade relacional que em uacuteltima anaacutelise eacute quem a qualifica como experiecircncia de
4 H C de Lima Vaz faz uma importante distinccedilatildeo entre experiecircncia religiosa (experiecircncia do Sagrado) eexperiecircncia de Deus (experiecircncia de Sentido) Haacute claramente um corte uma delimitaccedilatildeo que faz daexperiecircncia de Deus uma experiecircncia com certa especificidade Cf VAZ Henrique C de Lima Escritos defilosofia Problemas de fronteira Satildeo Paulo Loyola 1986 p 248-253
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Deus (assumindo tal nomeaccedilatildeo a partir do que nos foi dado a conhecer pela vida de Jesus
de Nazareacute compreendido teologicamente como o Cristo conforme o fazem os evangelhos)
A experiecircncia cristatilde de Deus eacute tanto uma experiecircncia da encarnaccedilatildeo quanto de
encarnaccedilatildeo Isso eacute o que nos pode revelar a vida de Jesus o Cristo Sendo ele o proacuteprio
Deus encarnado vive numa condiccedilatildeo radicalmente marcada por tal encarnaccedilatildeo quer do
ponto de vista geograacutefico quer do ponto religioso cultural ou existencial Deus
encarnando-se se auto-delimita e delimita a nos apresentando o modus operandi para a
articulaccedilatildeo teoloacutegica da experiecircncia cristatilde de Deus a loacutegica da encarnaccedilatildeo Aqui se
encontra o coraccedilatildeo do Misteacuterio feito histoacuteria e a pedagogia para viver tal histoacuteria como
uacutenica e soacute histoacuteria Refletindo sobre tal especificidade da experiecircncia cristatilde de Deus L Boffafirma que
No cristianismo articulou-se a experiecircncia do Misteacuterio como histoacuteria doMisteacuterio O Sentido natildeo ficou di-fuso pro-fuso e con-fuso dentro darealidade Ele armou tenda entre noacutes e se chamou Jesus Cristo (cf Jo 114) OMisteacuterio eacute tatildeo radicalmente Misteacuterio que pode sem perder sua identidadefazer-se carne e histoacuteria Ele pode subsistir totalmente num Outro diferentedele Se assim natildeo fora natildeo mostraria sua onipotecircncia nem seu caraacuteter deMisteacuterio Entatildeo sendo vida ele pode morrer Fazendo-se morte ele podeviver Ele pode sendo impalpaacutevel fazer-se impalpaacutevel sendo invisiacutevel
fazer-se visiacutevel sendo Criador fazer-se criatura (BOFF 2002 p 106)
Essa natildeo ldquodi-fusatildeo pro-fusatildeo e con-fusatildeordquo do Misteacuterio presente em meio a noacutes se
realiza por que haacute uma existecircncia concreta que abriga tal Misteacuterio A encarnaccedilatildeo confere os
contornos a concretude da presenccedila de Deus E eacute exatamente isso que nos permite nomeaacute-
lo Se nos eacute possiacutevel falar de Deus em perspectiva cristatilde soacute podemos fazecirc-lo de forma
criacutestica Isso significa dizer que ldquoa experiecircncia cristatilde de Deus eacute uma experiecircncia da
presenccedila do Sentido radical numa existecircncia historicamente dada a existecircncia de Jesus e na
palavra da revelaccedilatildeo que eacute totalmente condicionada por essa existecircncia histoacuterica na medida
em que dela procede e a ela se refererdquo (VAZ 1986 p 253)
Da dimensatildeo de concretude legada agrave experiecircncia cristatilde de Deus surge como ldquooutra
face da moedardquo a dimensatildeo relacional Se com a primeira a experiecircncia cristatilde de Deus
ganha seu contorno com a segunda ela ganha sua profundidade Natildeo eacute possiacutevel conceber a
presenccedila de Deus em Jesus o Cristo sem que se afirme a loacutegica relacional ou
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intersubjetiva A teologia cristatilde quando se propotildee nomear o Real a partir de Jesus natildeo pode
sob pena de perder completamente decair num esquema racionalista de sujeitoobjeto Se
fizer isso a teologia trataraacute a revelaccedilatildeo somente como pauta doutrinaacuteria devendo ser
acessada exclusivamente pelas normas da razatildeo tanto nas metodologia especulativas
quanto nas apologeacuteticas Ambas poreacutem subjugadas ao mesmo princiacutepio de uma razatildeo
estreita Nesse caso o Real nomeado Deus natildeo eacute mais que um objeto descritiacutevel
Falando acerca de uma teologia cristatilde da revelaccedilatildeo como encontro entre sujeitos
Roger Haight (cf 2004 p 89-107) apresenta importantes consideraccedilotildees sobre a dimensatildeo
relacional de tal evento Ele afirma ldquoNatildeo se trata de uma operaccedilatildeo dedutiva que argumenta
com base na personalidade de Deus e sim de uma fenomenologia da experiecircncia darevelaccedilatildeo cristatilde que responde pela crenccedila segundo a qual Deus eacute pessoalrdquo (HAIGHT
2004 p 94) A encarnaccedilatildeo natildeo permite menos que isso ela eacute a radicalizaccedilatildeo da
pessoalidade de Deus Neste sentido ldquoa revelaccedilatildeo cristatilde natildeo se afigura como conhecimento
a respeito de Deus como de um objeto nem mesmo como conhecimento de uma pessoa
transcendente A revelaccedilatildeo cristatilde assume antes a forma de um encontro pessoal com um
sujeito divinordquo (HAIGHT 2004 p 94)
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A encarnaccedilatildeo reclama a relaccedilatildeo e esta por sua vez afirma a experiecircncia como
expressatildeo privilegiada O Real nomeado corajosamente pela teologia cristatilde como Deus em
sua plena revelaccedilatildeo que eacute Jesus o Cristo natildeo permite agrave teologia menos que comunicaccedilatildeo
intersubjetiva Deus natildeo estaacute para a teologia como um conceito a ser apreendido antes
como um sujeito que a desafia a uma relaccedilatildeo ldquoDeus eacute experimentado como sujeito de tal
sorte que o contato ou percepccedilatildeo humana de Deus natildeo pode ser um conhecimento acerca de
Deus como de um objetordquo ldquoNa revelaccedilatildeo cristatilde Deus eacute experimentado como eu pessoalrdquo
(HAIGHT 2004 p 95 passim)
Em termos da teologia cristatilde falar sobre experiecircncia de Deus eacute assumir os riscos de
nomeaacute-lo e isso constitui-se numa urgente compreensatildeo responsaacutevel e ampliada da
teologia da revelaccedilatildeo Tratar esta uacuteltima sem atentar para os criteacuterios criacutesticos colocados
pela encarnaccedilatildeo e a relacionalidade dela derivada significa cair na armadilha de tal
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nomeaccedilatildeo objetivaccedilatildeo do Real e consequente idolatria Falar de Deus a partir da
perspectiva cristatilde precisa ser sempre um falar situado como exige a encarnaccedilatildeo e
intersubjetivo como propotildee a radical pessoalidade do encarnado Nas palavras de R Haight
(2004 p 97) ldquoo conteuacutedo positivo da revelaccedilatildeo portanto eacute influenciado e determinado
pelo meio que medeia a experiecircncia da presenccedila e da iniciativa de Deus No caso da
revelaccedilatildeo cristatilde Jesus eacute seu meio histoacuterico centralrdquo
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BOFF Leonardo Experimentar Deus A transparecircncia de todas as coisas 3 edPetroacutepolis Vozes 2002
BUBER Martin O Eclipse de Deus Consideraccedilotildees sobre a relaccedilatildeo entre religiatildeo efilosofia Campinas Verus 2007
HAIGHT Roger Dinacircmica da teologia Satildeo Paulo Paulinas 2004
LIBANIO Joatildeo Batista Desafios da poacutes-modernidade agrave Teologia Fundamental InTRASFERETTI Joseacute GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992
MELLO Anthony O canto do paacutessaro Contemplar a Deus em todas as coisas e todas ascoisas em Deus 11 ed Satildeo Paulo Loyola 2003
MESLIN Michel A Experiecircncia Humana do Divino Fundamentos de uma antropologiareligiosa Petroacutepolis Vozes 1992
OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991
PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas2007
QUEIRUGA Andreacutes Torres Fim do cristianismo preacute-moderno Satildeo Paulo Paulus 2003
QUEIRUGA Andreacutes Torres A revelaccedilatildeo de Deus na realizaccedilatildeo humana Satildeo PauloPaulus 1995
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RICOEUR Paul Entre filosofia e teologia II nomear Deus In RICOEUR Paul Leituras3 Nas fronteiras da filosofia Satildeo Paulo Loyola 1996
RICOEUR Paul A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006
TILLICH Paul Dinacircmica da feacute 6 ed Satildeo Leopoldo Sinodal 2001
TRASFERETTI Joseacute amp GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
VAZ Henrique C de Lima Escritos de filosofia Problemas de fronteira Satildeo PauloLoyola 1986
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que possibilite agrave teologia ler nas experiecircncias humanas experiecircncias de Deus JB Libanio
faz uma importante consideraccedilatildeo a esse respeito Ele afirma que ldquoquando poreacutem se entra
pelo campo dos siacutembolos da esteacutetica natildeo se renuncia agrave razatildeo mas trabalha-se com outra
dimensatildeo da racionalidade cujo acesso natildeo depende dos conhecimentos racionais
sofisticados e inacessiacuteveis e sim de outra fonterdquo (LIBANIO 2003 p 166)
O lugar onde a teologia eacute pensada e proposta sofre um radical deslocamento (Cf
LIBANIO 2003 p 169) Ela e seus processos satildeo deslocados para o interior das
comunidades onde natildeo interessam tanto formulaccedilotildees teoacutericas sobre a feacute mas antes
narrativas de experiecircncias da presenccedila de Deus veiculadas por sinais e siacutembolos proacuteprios de
tais universos Narrar as proacuteprias experiecircncias Esse eacute o processo catequeacutetico proacuteprio deuma racionalidade poacutes-moderna Cabe a teologia como ldquoirmatilde mais velhardquo contribuir a
partir do depoacutesito das muitas tradiccedilotildees no discernimento de tal dinacircmica catequeacutetica afim
de que esta seja consequumlente com a feacute cristatilde em suas muacuteltiplas expressotildees
Esse novo lugar que a teologia eacute convidada a habitar tem como atmosfera proacutepria a
experiecircncia Eacute a partir e de dentro dela que se quer ousar nomear a presenccedila do Real que a
todos envolve Na experiecircncia da presenccedila do Real assumimos o risco de chamaacute-lo Deus
Tal atitude se constitui num risco porque o desafio de nomear Deus pode degenerar na
tentativa de defini-lo incorrendo dessa forma na mais radical idolatria Acerca desse risco
Paul Tillich adverte ldquoDeusrdquo eacute siacutembolo para Deus Isso significa que precisamos distinguir
dois elementos em nossa concepccedilatildeo de Deus uma vez o elemento incondicional que se
manifesta na experiecircncia imediata e em si natildeo eacute simboacutelico e por outro lado o elemento
concreto que eacute obtido de nossa experiecircncia normal e eacute simbolicamente relacionado com
Deus [] ldquodeusrdquo eacute siacutembolo de Deus Nesse sentido Deus eacute o conteuacutedo proacuteprio e
universalmente vaacutelido da feacute (Cf TILLICH 2001 p 33-34)
Neste sentido precisar um pouco mais os contornos da experiecircncia em face agravenomeaccedilatildeo da revelaccedilatildeo do Real se faz necessaacuterio Uma vez que jaacute estabelecemos tanto uma
conceituaccedilatildeo filosoacutefica acerca da experiecircncia quanto uma descriccedilatildeo de sua importacircncia
para a percepccedilatildeo da presenccedila do Sagrado no escopo da fenomenologia da religiatildeo cabe-nos
ainda a tarefa de tracejar os contornos da experiecircncia no interior da teologia e daquilo que
lhe eacute proacuteprio Para tanto recorreremos a discussatildeo proposta por Gerald OrsquoCollins em sua
obra Teologia Fundamental especificamente no segundo capiacutetulo intitulado A
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experiecircncia humana2
G OrsquoCollins tratando da experiecircncia em si (cf 1991 p 54-55) estabelece um
conjunto de caracteriacutesticas proacuteprias em face agrave sua relaccedilatildeo com a teologia Em primeiro
lugar toda a experiecircncia tem um significado ou seja haacute uma comunicaccedilatildeo de sentido
agravequeles que fazem uma experiecircncia de Deus Essa primeira caracteriacutestica aponta para a
profundidade que tal evento produz na existecircncia humana Ao contraacuterio do que por vezes eacute
dito a experiecircncia natildeo eacute ldquoepideacutermicardquo ou ao menos natildeo o eacute somente Por se dar em iacutentimo
contato com nossa dimensatildeo empiacuterica ela natildeo estaacute fadada agrave fugacidade Haacute efetivamente
um sentido intriacutenseca e profundamente dado numa experiecircncia de Deus
Marcando a incidecircncia profunda e espessa que a experiecircncia gera na existecircnciahumana G OrsquoCollins salienta sua natildeo reduccedilatildeo ao exclusivamente efecircmero afirmando que
ldquopodemos esperar que o mundo e nossas experiecircncias faccedilam sentido contanto que natildeo
insistamos num sentido simples e imediatordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) Nesse sentido eacute
como se a experiecircncia humana de Deus ecoa-se desde o iacutentimo daquele que a faz
reverberando sua accedilatildeo e influxo para todas as dimensotildees da existecircncia humana O sentido
de tal experiecircncia vai se afirmando e sendo percebido agrave medida que em tais dimensotildees
dessa experiecircncia vai sendo reconhecida e acolhida
Esse processo de afirmaccedilatildeo de sentido que surge de experiecircncia de Deus feita nos
contornos da existecircncia humana tem uma teleologia G OrsquoCollins identifica tal finalidade
como a segunda caracteriacutestica da experiecircncia em sua relaccedilatildeo com a teologia Ele afirma que
ldquotoda experiecircncia traz consigo um certo propoacutesito ou finalidade Leva-nos em alguma
direccedilatildeordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) No escopo da teologia da revelaccedilatildeo a finalidade de
uma experiecircncia de Deus deve ser consequumlente com o proacuteprio revelado experimentado Ou
seja a teleologia deve encontrar consonacircncia com a teologia recebendo desta os elementos
para seu discernimento G OrsquoCollins exemplifica essa segunda caracteriacutestica da seguinteforma ldquoA experiecircncia do amor genuiacuteno torna-se enriquecedor do outro e pessoalmente
enriquecedorrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55)
Experimentar o amor eacute mover-se na dinacircmica do proacuteprio amor Isso daacute o peso e
concretude da experiecircncia ajudando a corrigir possiacuteveis reduccedilotildees fugazes e epideacutermicas G
OrsquoCollins identifica nessa dimensatildeo de concretude a terceira caracteriacutestica da experiecircncia
2 OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991 p 47-70
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ldquoA experiecircncia natildeo eacute nada se natildeo for concretardquo Sua espessura e historicidade evidenciam-
se exatamente aiacute Natildeo haacute espaccedilo para abstraccedilotildees ldquopurasrdquo para racionalizaccedilotildees aprioriacutesticas
ou recursos a formulaccedilotildees axiomaacuteticas fundadas sobre recursos metafiacutesicos Uma teologia
da revelaccedilatildeo nesse acento da experiecircncia natildeo pode ser pensada em geral porque ldquonatildeo
existem experiecircncias em geralrdquo ldquoUma experiecircncia de Deus [] soacute ocorre em momentos
particulares em lugares particulares e com pessoas particularesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p
56 passim)
Em quarto lugar G OrsquoCollins menciona como importante caracteriacutestica da
experiecircncia uma abertura ao novo ao ineacutedito ao natildeo ordinaacuterio Ele menciona como os
teoacutericos que tratam dessa temaacutetica utilizam o recurso da linguagem para expressar osurpreendente que se mostra numa experiecircncia Expressotildees como ldquoexperiecircncia-aacutepicerdquo
ldquosituaccedilotildees-limiterdquo ou ldquoexperiecircncia-limiterdquo revelam que ldquoa experiecircncia sugere prontamente
algo de novo ou inesperado que deixa a sua marca no sujeito e o abre para outras
experiecircncia no futurordquo Em suma conclui G OrsquoCollins ldquoA experiecircncia genuiacutena transcende
as nossas previsotildeesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 56 passim)
Outro autor que pode ajudar na compreensatildeo da importacircncia da experiecircncia em
relaccedilatildeo agrave teologia da revelaccedilatildeo eacute Raimon Panikkar especificamente em sua obra Iacutecones do
misteacuterio3 No acircmbito da reflexatildeo sobre o risco de nomear o Real chamando-o Deus
intrinsecamente presente no ato da experiecircncia R Panikkar (2007 p 75) comeccedila por
advertir que ldquotudo o que se possa dizer com estrita racionalidade da experiecircncia de Deus eacute
idolatriardquo A experiecircncia de Deus eacute um ato do ser humano portanto natildeo estaacute para a
compreensatildeo de uma uacutenica dimensatildeo deste mesmo sendo esta a proacutepria razatildeo Ela soacute pode
ser percebida em sua espessura se colocada para a integralidade do humano inclusive para
sua dimensatildeo misteacuterica
Eacute exatamente essa amplitude da espessura do Real que nomeamos tatildeoparticularmente de Deus que possibilita-nos ser inteiramente humanos A experiecircncia de
Deus reclama nossa humanidade inteira por isso somente diante dela podemos nos afirmar
como inteiramente humanos ldquoO ser humano chega a ser plenamente humano quando faz a
experiecircncia de seu uacuteltimo lsquofundamentorsquo do que realmente eacuterdquo (PANIKKAR 2007 p 76)
3 PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas 2007
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Por ser uma experiecircncia que reclama a inteireza do humano ela eacute constitutivamente
relacional De forma bastante clara R Panikkar afirma que
sem os laccedilos que nos unem com toda a realidade natildeo podemos terexperiecircncia de Deus [] A experiecircncia de Deus eacute a raiz de toda experiecircnciaEacute a experiecircncia em profundidade de todas e cada uma das experiecircnciashumanas do amigo da palavra da conversa Eacute a experiecircncia subjacente atoda experiecircncia humana dor beleza prazer bondade anguacutestia friosubjacente a toda experiecircncia no tanto que nos descobre uma dimensatildeo deinfinito natildeo-finito in-acabado Subjacente a toda experiecircncia e portantonatildeo suscetiacutevel a ser completamente expressa em qualquer ideacuteia sensaccedilatildeo ousentimento (PANIKKAR 2007 p 77-78)
Da experiecircncia de Deus surge entatildeo a possibilidade da experiecircncia plena dohumano Nela estaacute a fonte para a relacionalidade que eacute constitutiva do humano
humanizado Conforme o autor (2007 p 79) tal processo de humanizaccedilatildeo constitui
a experiecircncia de Deus que subjaz toda experiecircncia e pela qual nos fazemoshumanos nos faz conscientes de nossa contingecircncia torna-nos humildes ecapazes de compreender Por essa experiecircncia nos damos conta de queestamos dentro de algo que abarca tudo e somos conscientes de uma dupladimensatildeo de ausecircncia e presenccedila
Mesmo jaacute tendo delineado os contornos da experiecircncia de Deus em perspectivateoloacutegica fica restando ainda uma tarefa importante no processo de especificaccedilatildeo de nossa
temaacutetica Eacute preciso perguntar pelos criteacuterios que nos possam permitir identificar com
alguma clareza as diferenccedilas entre experiecircncia teoloacutegica das demais formas de experiecircncia
do Sagrado4 Para isso eacute preciso explicitar o que ateacute aqui esteve impliacutecito ao longo de toda
exposiccedilatildeo deste toacutepico falamos de experiecircncia teoloacutegica cristatilde
O ponto apical da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo em
perspectiva cristatilde se expressa na encarnaccedilatildeo Nela a experiecircncia de Deus ganha suainalienaacutevel topografia a concretude da existecircncia de homens e mulheres situados em seus
muacuteltiplos e respectivos contextos E ainda tal experiecircncia encontra sua irredutiacutevel
expressividade relacional que em uacuteltima anaacutelise eacute quem a qualifica como experiecircncia de
4 H C de Lima Vaz faz uma importante distinccedilatildeo entre experiecircncia religiosa (experiecircncia do Sagrado) eexperiecircncia de Deus (experiecircncia de Sentido) Haacute claramente um corte uma delimitaccedilatildeo que faz daexperiecircncia de Deus uma experiecircncia com certa especificidade Cf VAZ Henrique C de Lima Escritos defilosofia Problemas de fronteira Satildeo Paulo Loyola 1986 p 248-253
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Deus (assumindo tal nomeaccedilatildeo a partir do que nos foi dado a conhecer pela vida de Jesus
de Nazareacute compreendido teologicamente como o Cristo conforme o fazem os evangelhos)
A experiecircncia cristatilde de Deus eacute tanto uma experiecircncia da encarnaccedilatildeo quanto de
encarnaccedilatildeo Isso eacute o que nos pode revelar a vida de Jesus o Cristo Sendo ele o proacuteprio
Deus encarnado vive numa condiccedilatildeo radicalmente marcada por tal encarnaccedilatildeo quer do
ponto de vista geograacutefico quer do ponto religioso cultural ou existencial Deus
encarnando-se se auto-delimita e delimita a nos apresentando o modus operandi para a
articulaccedilatildeo teoloacutegica da experiecircncia cristatilde de Deus a loacutegica da encarnaccedilatildeo Aqui se
encontra o coraccedilatildeo do Misteacuterio feito histoacuteria e a pedagogia para viver tal histoacuteria como
uacutenica e soacute histoacuteria Refletindo sobre tal especificidade da experiecircncia cristatilde de Deus L Boffafirma que
No cristianismo articulou-se a experiecircncia do Misteacuterio como histoacuteria doMisteacuterio O Sentido natildeo ficou di-fuso pro-fuso e con-fuso dentro darealidade Ele armou tenda entre noacutes e se chamou Jesus Cristo (cf Jo 114) OMisteacuterio eacute tatildeo radicalmente Misteacuterio que pode sem perder sua identidadefazer-se carne e histoacuteria Ele pode subsistir totalmente num Outro diferentedele Se assim natildeo fora natildeo mostraria sua onipotecircncia nem seu caraacuteter deMisteacuterio Entatildeo sendo vida ele pode morrer Fazendo-se morte ele podeviver Ele pode sendo impalpaacutevel fazer-se impalpaacutevel sendo invisiacutevel
fazer-se visiacutevel sendo Criador fazer-se criatura (BOFF 2002 p 106)
Essa natildeo ldquodi-fusatildeo pro-fusatildeo e con-fusatildeordquo do Misteacuterio presente em meio a noacutes se
realiza por que haacute uma existecircncia concreta que abriga tal Misteacuterio A encarnaccedilatildeo confere os
contornos a concretude da presenccedila de Deus E eacute exatamente isso que nos permite nomeaacute-
lo Se nos eacute possiacutevel falar de Deus em perspectiva cristatilde soacute podemos fazecirc-lo de forma
criacutestica Isso significa dizer que ldquoa experiecircncia cristatilde de Deus eacute uma experiecircncia da
presenccedila do Sentido radical numa existecircncia historicamente dada a existecircncia de Jesus e na
palavra da revelaccedilatildeo que eacute totalmente condicionada por essa existecircncia histoacuterica na medida
em que dela procede e a ela se refererdquo (VAZ 1986 p 253)
Da dimensatildeo de concretude legada agrave experiecircncia cristatilde de Deus surge como ldquooutra
face da moedardquo a dimensatildeo relacional Se com a primeira a experiecircncia cristatilde de Deus
ganha seu contorno com a segunda ela ganha sua profundidade Natildeo eacute possiacutevel conceber a
presenccedila de Deus em Jesus o Cristo sem que se afirme a loacutegica relacional ou
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intersubjetiva A teologia cristatilde quando se propotildee nomear o Real a partir de Jesus natildeo pode
sob pena de perder completamente decair num esquema racionalista de sujeitoobjeto Se
fizer isso a teologia trataraacute a revelaccedilatildeo somente como pauta doutrinaacuteria devendo ser
acessada exclusivamente pelas normas da razatildeo tanto nas metodologia especulativas
quanto nas apologeacuteticas Ambas poreacutem subjugadas ao mesmo princiacutepio de uma razatildeo
estreita Nesse caso o Real nomeado Deus natildeo eacute mais que um objeto descritiacutevel
Falando acerca de uma teologia cristatilde da revelaccedilatildeo como encontro entre sujeitos
Roger Haight (cf 2004 p 89-107) apresenta importantes consideraccedilotildees sobre a dimensatildeo
relacional de tal evento Ele afirma ldquoNatildeo se trata de uma operaccedilatildeo dedutiva que argumenta
com base na personalidade de Deus e sim de uma fenomenologia da experiecircncia darevelaccedilatildeo cristatilde que responde pela crenccedila segundo a qual Deus eacute pessoalrdquo (HAIGHT
2004 p 94) A encarnaccedilatildeo natildeo permite menos que isso ela eacute a radicalizaccedilatildeo da
pessoalidade de Deus Neste sentido ldquoa revelaccedilatildeo cristatilde natildeo se afigura como conhecimento
a respeito de Deus como de um objeto nem mesmo como conhecimento de uma pessoa
transcendente A revelaccedilatildeo cristatilde assume antes a forma de um encontro pessoal com um
sujeito divinordquo (HAIGHT 2004 p 94)
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A encarnaccedilatildeo reclama a relaccedilatildeo e esta por sua vez afirma a experiecircncia como
expressatildeo privilegiada O Real nomeado corajosamente pela teologia cristatilde como Deus em
sua plena revelaccedilatildeo que eacute Jesus o Cristo natildeo permite agrave teologia menos que comunicaccedilatildeo
intersubjetiva Deus natildeo estaacute para a teologia como um conceito a ser apreendido antes
como um sujeito que a desafia a uma relaccedilatildeo ldquoDeus eacute experimentado como sujeito de tal
sorte que o contato ou percepccedilatildeo humana de Deus natildeo pode ser um conhecimento acerca de
Deus como de um objetordquo ldquoNa revelaccedilatildeo cristatilde Deus eacute experimentado como eu pessoalrdquo
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Em termos da teologia cristatilde falar sobre experiecircncia de Deus eacute assumir os riscos de
nomeaacute-lo e isso constitui-se numa urgente compreensatildeo responsaacutevel e ampliada da
teologia da revelaccedilatildeo Tratar esta uacuteltima sem atentar para os criteacuterios criacutesticos colocados
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perspectiva cristatilde precisa ser sempre um falar situado como exige a encarnaccedilatildeo e
intersubjetivo como propotildee a radical pessoalidade do encarnado Nas palavras de R Haight
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revelaccedilatildeo cristatilde Jesus eacute seu meio histoacuterico centralrdquo
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RICOEUR Paul Entre filosofia e teologia II nomear Deus In RICOEUR Paul Leituras3 Nas fronteiras da filosofia Satildeo Paulo Loyola 1996
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TRASFERETTI Joseacute amp GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
VAZ Henrique C de Lima Escritos de filosofia Problemas de fronteira Satildeo PauloLoyola 1986
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experiecircncia humana2
G OrsquoCollins tratando da experiecircncia em si (cf 1991 p 54-55) estabelece um
conjunto de caracteriacutesticas proacuteprias em face agrave sua relaccedilatildeo com a teologia Em primeiro
lugar toda a experiecircncia tem um significado ou seja haacute uma comunicaccedilatildeo de sentido
agravequeles que fazem uma experiecircncia de Deus Essa primeira caracteriacutestica aponta para a
profundidade que tal evento produz na existecircncia humana Ao contraacuterio do que por vezes eacute
dito a experiecircncia natildeo eacute ldquoepideacutermicardquo ou ao menos natildeo o eacute somente Por se dar em iacutentimo
contato com nossa dimensatildeo empiacuterica ela natildeo estaacute fadada agrave fugacidade Haacute efetivamente
um sentido intriacutenseca e profundamente dado numa experiecircncia de Deus
Marcando a incidecircncia profunda e espessa que a experiecircncia gera na existecircnciahumana G OrsquoCollins salienta sua natildeo reduccedilatildeo ao exclusivamente efecircmero afirmando que
ldquopodemos esperar que o mundo e nossas experiecircncias faccedilam sentido contanto que natildeo
insistamos num sentido simples e imediatordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) Nesse sentido eacute
como se a experiecircncia humana de Deus ecoa-se desde o iacutentimo daquele que a faz
reverberando sua accedilatildeo e influxo para todas as dimensotildees da existecircncia humana O sentido
de tal experiecircncia vai se afirmando e sendo percebido agrave medida que em tais dimensotildees
dessa experiecircncia vai sendo reconhecida e acolhida
Esse processo de afirmaccedilatildeo de sentido que surge de experiecircncia de Deus feita nos
contornos da existecircncia humana tem uma teleologia G OrsquoCollins identifica tal finalidade
como a segunda caracteriacutestica da experiecircncia em sua relaccedilatildeo com a teologia Ele afirma que
ldquotoda experiecircncia traz consigo um certo propoacutesito ou finalidade Leva-nos em alguma
direccedilatildeordquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55) No escopo da teologia da revelaccedilatildeo a finalidade de
uma experiecircncia de Deus deve ser consequumlente com o proacuteprio revelado experimentado Ou
seja a teleologia deve encontrar consonacircncia com a teologia recebendo desta os elementos
para seu discernimento G OrsquoCollins exemplifica essa segunda caracteriacutestica da seguinteforma ldquoA experiecircncia do amor genuiacuteno torna-se enriquecedor do outro e pessoalmente
enriquecedorrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 55)
Experimentar o amor eacute mover-se na dinacircmica do proacuteprio amor Isso daacute o peso e
concretude da experiecircncia ajudando a corrigir possiacuteveis reduccedilotildees fugazes e epideacutermicas G
OrsquoCollins identifica nessa dimensatildeo de concretude a terceira caracteriacutestica da experiecircncia
2 OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991 p 47-70
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ldquoA experiecircncia natildeo eacute nada se natildeo for concretardquo Sua espessura e historicidade evidenciam-
se exatamente aiacute Natildeo haacute espaccedilo para abstraccedilotildees ldquopurasrdquo para racionalizaccedilotildees aprioriacutesticas
ou recursos a formulaccedilotildees axiomaacuteticas fundadas sobre recursos metafiacutesicos Uma teologia
da revelaccedilatildeo nesse acento da experiecircncia natildeo pode ser pensada em geral porque ldquonatildeo
existem experiecircncias em geralrdquo ldquoUma experiecircncia de Deus [] soacute ocorre em momentos
particulares em lugares particulares e com pessoas particularesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p
56 passim)
Em quarto lugar G OrsquoCollins menciona como importante caracteriacutestica da
experiecircncia uma abertura ao novo ao ineacutedito ao natildeo ordinaacuterio Ele menciona como os
teoacutericos que tratam dessa temaacutetica utilizam o recurso da linguagem para expressar osurpreendente que se mostra numa experiecircncia Expressotildees como ldquoexperiecircncia-aacutepicerdquo
ldquosituaccedilotildees-limiterdquo ou ldquoexperiecircncia-limiterdquo revelam que ldquoa experiecircncia sugere prontamente
algo de novo ou inesperado que deixa a sua marca no sujeito e o abre para outras
experiecircncia no futurordquo Em suma conclui G OrsquoCollins ldquoA experiecircncia genuiacutena transcende
as nossas previsotildeesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 56 passim)
Outro autor que pode ajudar na compreensatildeo da importacircncia da experiecircncia em
relaccedilatildeo agrave teologia da revelaccedilatildeo eacute Raimon Panikkar especificamente em sua obra Iacutecones do
misteacuterio3 No acircmbito da reflexatildeo sobre o risco de nomear o Real chamando-o Deus
intrinsecamente presente no ato da experiecircncia R Panikkar (2007 p 75) comeccedila por
advertir que ldquotudo o que se possa dizer com estrita racionalidade da experiecircncia de Deus eacute
idolatriardquo A experiecircncia de Deus eacute um ato do ser humano portanto natildeo estaacute para a
compreensatildeo de uma uacutenica dimensatildeo deste mesmo sendo esta a proacutepria razatildeo Ela soacute pode
ser percebida em sua espessura se colocada para a integralidade do humano inclusive para
sua dimensatildeo misteacuterica
Eacute exatamente essa amplitude da espessura do Real que nomeamos tatildeoparticularmente de Deus que possibilita-nos ser inteiramente humanos A experiecircncia de
Deus reclama nossa humanidade inteira por isso somente diante dela podemos nos afirmar
como inteiramente humanos ldquoO ser humano chega a ser plenamente humano quando faz a
experiecircncia de seu uacuteltimo lsquofundamentorsquo do que realmente eacuterdquo (PANIKKAR 2007 p 76)
3 PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas 2007
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Por ser uma experiecircncia que reclama a inteireza do humano ela eacute constitutivamente
relacional De forma bastante clara R Panikkar afirma que
sem os laccedilos que nos unem com toda a realidade natildeo podemos terexperiecircncia de Deus [] A experiecircncia de Deus eacute a raiz de toda experiecircnciaEacute a experiecircncia em profundidade de todas e cada uma das experiecircnciashumanas do amigo da palavra da conversa Eacute a experiecircncia subjacente atoda experiecircncia humana dor beleza prazer bondade anguacutestia friosubjacente a toda experiecircncia no tanto que nos descobre uma dimensatildeo deinfinito natildeo-finito in-acabado Subjacente a toda experiecircncia e portantonatildeo suscetiacutevel a ser completamente expressa em qualquer ideacuteia sensaccedilatildeo ousentimento (PANIKKAR 2007 p 77-78)
Da experiecircncia de Deus surge entatildeo a possibilidade da experiecircncia plena dohumano Nela estaacute a fonte para a relacionalidade que eacute constitutiva do humano
humanizado Conforme o autor (2007 p 79) tal processo de humanizaccedilatildeo constitui
a experiecircncia de Deus que subjaz toda experiecircncia e pela qual nos fazemoshumanos nos faz conscientes de nossa contingecircncia torna-nos humildes ecapazes de compreender Por essa experiecircncia nos damos conta de queestamos dentro de algo que abarca tudo e somos conscientes de uma dupladimensatildeo de ausecircncia e presenccedila
Mesmo jaacute tendo delineado os contornos da experiecircncia de Deus em perspectivateoloacutegica fica restando ainda uma tarefa importante no processo de especificaccedilatildeo de nossa
temaacutetica Eacute preciso perguntar pelos criteacuterios que nos possam permitir identificar com
alguma clareza as diferenccedilas entre experiecircncia teoloacutegica das demais formas de experiecircncia
do Sagrado4 Para isso eacute preciso explicitar o que ateacute aqui esteve impliacutecito ao longo de toda
exposiccedilatildeo deste toacutepico falamos de experiecircncia teoloacutegica cristatilde
O ponto apical da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo em
perspectiva cristatilde se expressa na encarnaccedilatildeo Nela a experiecircncia de Deus ganha suainalienaacutevel topografia a concretude da existecircncia de homens e mulheres situados em seus
muacuteltiplos e respectivos contextos E ainda tal experiecircncia encontra sua irredutiacutevel
expressividade relacional que em uacuteltima anaacutelise eacute quem a qualifica como experiecircncia de
4 H C de Lima Vaz faz uma importante distinccedilatildeo entre experiecircncia religiosa (experiecircncia do Sagrado) eexperiecircncia de Deus (experiecircncia de Sentido) Haacute claramente um corte uma delimitaccedilatildeo que faz daexperiecircncia de Deus uma experiecircncia com certa especificidade Cf VAZ Henrique C de Lima Escritos defilosofia Problemas de fronteira Satildeo Paulo Loyola 1986 p 248-253
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Deus (assumindo tal nomeaccedilatildeo a partir do que nos foi dado a conhecer pela vida de Jesus
de Nazareacute compreendido teologicamente como o Cristo conforme o fazem os evangelhos)
A experiecircncia cristatilde de Deus eacute tanto uma experiecircncia da encarnaccedilatildeo quanto de
encarnaccedilatildeo Isso eacute o que nos pode revelar a vida de Jesus o Cristo Sendo ele o proacuteprio
Deus encarnado vive numa condiccedilatildeo radicalmente marcada por tal encarnaccedilatildeo quer do
ponto de vista geograacutefico quer do ponto religioso cultural ou existencial Deus
encarnando-se se auto-delimita e delimita a nos apresentando o modus operandi para a
articulaccedilatildeo teoloacutegica da experiecircncia cristatilde de Deus a loacutegica da encarnaccedilatildeo Aqui se
encontra o coraccedilatildeo do Misteacuterio feito histoacuteria e a pedagogia para viver tal histoacuteria como
uacutenica e soacute histoacuteria Refletindo sobre tal especificidade da experiecircncia cristatilde de Deus L Boffafirma que
No cristianismo articulou-se a experiecircncia do Misteacuterio como histoacuteria doMisteacuterio O Sentido natildeo ficou di-fuso pro-fuso e con-fuso dentro darealidade Ele armou tenda entre noacutes e se chamou Jesus Cristo (cf Jo 114) OMisteacuterio eacute tatildeo radicalmente Misteacuterio que pode sem perder sua identidadefazer-se carne e histoacuteria Ele pode subsistir totalmente num Outro diferentedele Se assim natildeo fora natildeo mostraria sua onipotecircncia nem seu caraacuteter deMisteacuterio Entatildeo sendo vida ele pode morrer Fazendo-se morte ele podeviver Ele pode sendo impalpaacutevel fazer-se impalpaacutevel sendo invisiacutevel
fazer-se visiacutevel sendo Criador fazer-se criatura (BOFF 2002 p 106)
Essa natildeo ldquodi-fusatildeo pro-fusatildeo e con-fusatildeordquo do Misteacuterio presente em meio a noacutes se
realiza por que haacute uma existecircncia concreta que abriga tal Misteacuterio A encarnaccedilatildeo confere os
contornos a concretude da presenccedila de Deus E eacute exatamente isso que nos permite nomeaacute-
lo Se nos eacute possiacutevel falar de Deus em perspectiva cristatilde soacute podemos fazecirc-lo de forma
criacutestica Isso significa dizer que ldquoa experiecircncia cristatilde de Deus eacute uma experiecircncia da
presenccedila do Sentido radical numa existecircncia historicamente dada a existecircncia de Jesus e na
palavra da revelaccedilatildeo que eacute totalmente condicionada por essa existecircncia histoacuterica na medida
em que dela procede e a ela se refererdquo (VAZ 1986 p 253)
Da dimensatildeo de concretude legada agrave experiecircncia cristatilde de Deus surge como ldquooutra
face da moedardquo a dimensatildeo relacional Se com a primeira a experiecircncia cristatilde de Deus
ganha seu contorno com a segunda ela ganha sua profundidade Natildeo eacute possiacutevel conceber a
presenccedila de Deus em Jesus o Cristo sem que se afirme a loacutegica relacional ou
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intersubjetiva A teologia cristatilde quando se propotildee nomear o Real a partir de Jesus natildeo pode
sob pena de perder completamente decair num esquema racionalista de sujeitoobjeto Se
fizer isso a teologia trataraacute a revelaccedilatildeo somente como pauta doutrinaacuteria devendo ser
acessada exclusivamente pelas normas da razatildeo tanto nas metodologia especulativas
quanto nas apologeacuteticas Ambas poreacutem subjugadas ao mesmo princiacutepio de uma razatildeo
estreita Nesse caso o Real nomeado Deus natildeo eacute mais que um objeto descritiacutevel
Falando acerca de uma teologia cristatilde da revelaccedilatildeo como encontro entre sujeitos
Roger Haight (cf 2004 p 89-107) apresenta importantes consideraccedilotildees sobre a dimensatildeo
relacional de tal evento Ele afirma ldquoNatildeo se trata de uma operaccedilatildeo dedutiva que argumenta
com base na personalidade de Deus e sim de uma fenomenologia da experiecircncia darevelaccedilatildeo cristatilde que responde pela crenccedila segundo a qual Deus eacute pessoalrdquo (HAIGHT
2004 p 94) A encarnaccedilatildeo natildeo permite menos que isso ela eacute a radicalizaccedilatildeo da
pessoalidade de Deus Neste sentido ldquoa revelaccedilatildeo cristatilde natildeo se afigura como conhecimento
a respeito de Deus como de um objeto nem mesmo como conhecimento de uma pessoa
transcendente A revelaccedilatildeo cristatilde assume antes a forma de um encontro pessoal com um
sujeito divinordquo (HAIGHT 2004 p 94)
983093 983107983151983150983139983148983157983145983150983140983151 983137 983152983137983154983156983145983154 983140983151 983152983154983145983150983139983277983152983145983151
A encarnaccedilatildeo reclama a relaccedilatildeo e esta por sua vez afirma a experiecircncia como
expressatildeo privilegiada O Real nomeado corajosamente pela teologia cristatilde como Deus em
sua plena revelaccedilatildeo que eacute Jesus o Cristo natildeo permite agrave teologia menos que comunicaccedilatildeo
intersubjetiva Deus natildeo estaacute para a teologia como um conceito a ser apreendido antes
como um sujeito que a desafia a uma relaccedilatildeo ldquoDeus eacute experimentado como sujeito de tal
sorte que o contato ou percepccedilatildeo humana de Deus natildeo pode ser um conhecimento acerca de
Deus como de um objetordquo ldquoNa revelaccedilatildeo cristatilde Deus eacute experimentado como eu pessoalrdquo
(HAIGHT 2004 p 95 passim)
Em termos da teologia cristatilde falar sobre experiecircncia de Deus eacute assumir os riscos de
nomeaacute-lo e isso constitui-se numa urgente compreensatildeo responsaacutevel e ampliada da
teologia da revelaccedilatildeo Tratar esta uacuteltima sem atentar para os criteacuterios criacutesticos colocados
pela encarnaccedilatildeo e a relacionalidade dela derivada significa cair na armadilha de tal
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nomeaccedilatildeo objetivaccedilatildeo do Real e consequente idolatria Falar de Deus a partir da
perspectiva cristatilde precisa ser sempre um falar situado como exige a encarnaccedilatildeo e
intersubjetivo como propotildee a radical pessoalidade do encarnado Nas palavras de R Haight
(2004 p 97) ldquoo conteuacutedo positivo da revelaccedilatildeo portanto eacute influenciado e determinado
pelo meio que medeia a experiecircncia da presenccedila e da iniciativa de Deus No caso da
revelaccedilatildeo cristatilde Jesus eacute seu meio histoacuterico centralrdquo
983122983141983142983141983154983274983150983139983145983137983155
BOFF Leonardo Experimentar Deus A transparecircncia de todas as coisas 3 edPetroacutepolis Vozes 2002
BUBER Martin O Eclipse de Deus Consideraccedilotildees sobre a relaccedilatildeo entre religiatildeo efilosofia Campinas Verus 2007
HAIGHT Roger Dinacircmica da teologia Satildeo Paulo Paulinas 2004
LIBANIO Joatildeo Batista Desafios da poacutes-modernidade agrave Teologia Fundamental InTRASFERETTI Joseacute GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992
MELLO Anthony O canto do paacutessaro Contemplar a Deus em todas as coisas e todas ascoisas em Deus 11 ed Satildeo Paulo Loyola 2003
MESLIN Michel A Experiecircncia Humana do Divino Fundamentos de uma antropologiareligiosa Petroacutepolis Vozes 1992
OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991
PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas2007
QUEIRUGA Andreacutes Torres Fim do cristianismo preacute-moderno Satildeo Paulo Paulus 2003
QUEIRUGA Andreacutes Torres A revelaccedilatildeo de Deus na realizaccedilatildeo humana Satildeo PauloPaulus 1995
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RICOEUR Paul Entre filosofia e teologia II nomear Deus In RICOEUR Paul Leituras3 Nas fronteiras da filosofia Satildeo Paulo Loyola 1996
RICOEUR Paul A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006
TILLICH Paul Dinacircmica da feacute 6 ed Satildeo Leopoldo Sinodal 2001
TRASFERETTI Joseacute amp GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
VAZ Henrique C de Lima Escritos de filosofia Problemas de fronteira Satildeo PauloLoyola 1986
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ldquoA experiecircncia natildeo eacute nada se natildeo for concretardquo Sua espessura e historicidade evidenciam-
se exatamente aiacute Natildeo haacute espaccedilo para abstraccedilotildees ldquopurasrdquo para racionalizaccedilotildees aprioriacutesticas
ou recursos a formulaccedilotildees axiomaacuteticas fundadas sobre recursos metafiacutesicos Uma teologia
da revelaccedilatildeo nesse acento da experiecircncia natildeo pode ser pensada em geral porque ldquonatildeo
existem experiecircncias em geralrdquo ldquoUma experiecircncia de Deus [] soacute ocorre em momentos
particulares em lugares particulares e com pessoas particularesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p
56 passim)
Em quarto lugar G OrsquoCollins menciona como importante caracteriacutestica da
experiecircncia uma abertura ao novo ao ineacutedito ao natildeo ordinaacuterio Ele menciona como os
teoacutericos que tratam dessa temaacutetica utilizam o recurso da linguagem para expressar osurpreendente que se mostra numa experiecircncia Expressotildees como ldquoexperiecircncia-aacutepicerdquo
ldquosituaccedilotildees-limiterdquo ou ldquoexperiecircncia-limiterdquo revelam que ldquoa experiecircncia sugere prontamente
algo de novo ou inesperado que deixa a sua marca no sujeito e o abre para outras
experiecircncia no futurordquo Em suma conclui G OrsquoCollins ldquoA experiecircncia genuiacutena transcende
as nossas previsotildeesrdquo (OrsquoCOLLINS 1991 p 56 passim)
Outro autor que pode ajudar na compreensatildeo da importacircncia da experiecircncia em
relaccedilatildeo agrave teologia da revelaccedilatildeo eacute Raimon Panikkar especificamente em sua obra Iacutecones do
misteacuterio3 No acircmbito da reflexatildeo sobre o risco de nomear o Real chamando-o Deus
intrinsecamente presente no ato da experiecircncia R Panikkar (2007 p 75) comeccedila por
advertir que ldquotudo o que se possa dizer com estrita racionalidade da experiecircncia de Deus eacute
idolatriardquo A experiecircncia de Deus eacute um ato do ser humano portanto natildeo estaacute para a
compreensatildeo de uma uacutenica dimensatildeo deste mesmo sendo esta a proacutepria razatildeo Ela soacute pode
ser percebida em sua espessura se colocada para a integralidade do humano inclusive para
sua dimensatildeo misteacuterica
Eacute exatamente essa amplitude da espessura do Real que nomeamos tatildeoparticularmente de Deus que possibilita-nos ser inteiramente humanos A experiecircncia de
Deus reclama nossa humanidade inteira por isso somente diante dela podemos nos afirmar
como inteiramente humanos ldquoO ser humano chega a ser plenamente humano quando faz a
experiecircncia de seu uacuteltimo lsquofundamentorsquo do que realmente eacuterdquo (PANIKKAR 2007 p 76)
3 PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas 2007
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Por ser uma experiecircncia que reclama a inteireza do humano ela eacute constitutivamente
relacional De forma bastante clara R Panikkar afirma que
sem os laccedilos que nos unem com toda a realidade natildeo podemos terexperiecircncia de Deus [] A experiecircncia de Deus eacute a raiz de toda experiecircnciaEacute a experiecircncia em profundidade de todas e cada uma das experiecircnciashumanas do amigo da palavra da conversa Eacute a experiecircncia subjacente atoda experiecircncia humana dor beleza prazer bondade anguacutestia friosubjacente a toda experiecircncia no tanto que nos descobre uma dimensatildeo deinfinito natildeo-finito in-acabado Subjacente a toda experiecircncia e portantonatildeo suscetiacutevel a ser completamente expressa em qualquer ideacuteia sensaccedilatildeo ousentimento (PANIKKAR 2007 p 77-78)
Da experiecircncia de Deus surge entatildeo a possibilidade da experiecircncia plena dohumano Nela estaacute a fonte para a relacionalidade que eacute constitutiva do humano
humanizado Conforme o autor (2007 p 79) tal processo de humanizaccedilatildeo constitui
a experiecircncia de Deus que subjaz toda experiecircncia e pela qual nos fazemoshumanos nos faz conscientes de nossa contingecircncia torna-nos humildes ecapazes de compreender Por essa experiecircncia nos damos conta de queestamos dentro de algo que abarca tudo e somos conscientes de uma dupladimensatildeo de ausecircncia e presenccedila
Mesmo jaacute tendo delineado os contornos da experiecircncia de Deus em perspectivateoloacutegica fica restando ainda uma tarefa importante no processo de especificaccedilatildeo de nossa
temaacutetica Eacute preciso perguntar pelos criteacuterios que nos possam permitir identificar com
alguma clareza as diferenccedilas entre experiecircncia teoloacutegica das demais formas de experiecircncia
do Sagrado4 Para isso eacute preciso explicitar o que ateacute aqui esteve impliacutecito ao longo de toda
exposiccedilatildeo deste toacutepico falamos de experiecircncia teoloacutegica cristatilde
O ponto apical da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo em
perspectiva cristatilde se expressa na encarnaccedilatildeo Nela a experiecircncia de Deus ganha suainalienaacutevel topografia a concretude da existecircncia de homens e mulheres situados em seus
muacuteltiplos e respectivos contextos E ainda tal experiecircncia encontra sua irredutiacutevel
expressividade relacional que em uacuteltima anaacutelise eacute quem a qualifica como experiecircncia de
4 H C de Lima Vaz faz uma importante distinccedilatildeo entre experiecircncia religiosa (experiecircncia do Sagrado) eexperiecircncia de Deus (experiecircncia de Sentido) Haacute claramente um corte uma delimitaccedilatildeo que faz daexperiecircncia de Deus uma experiecircncia com certa especificidade Cf VAZ Henrique C de Lima Escritos defilosofia Problemas de fronteira Satildeo Paulo Loyola 1986 p 248-253
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Deus (assumindo tal nomeaccedilatildeo a partir do que nos foi dado a conhecer pela vida de Jesus
de Nazareacute compreendido teologicamente como o Cristo conforme o fazem os evangelhos)
A experiecircncia cristatilde de Deus eacute tanto uma experiecircncia da encarnaccedilatildeo quanto de
encarnaccedilatildeo Isso eacute o que nos pode revelar a vida de Jesus o Cristo Sendo ele o proacuteprio
Deus encarnado vive numa condiccedilatildeo radicalmente marcada por tal encarnaccedilatildeo quer do
ponto de vista geograacutefico quer do ponto religioso cultural ou existencial Deus
encarnando-se se auto-delimita e delimita a nos apresentando o modus operandi para a
articulaccedilatildeo teoloacutegica da experiecircncia cristatilde de Deus a loacutegica da encarnaccedilatildeo Aqui se
encontra o coraccedilatildeo do Misteacuterio feito histoacuteria e a pedagogia para viver tal histoacuteria como
uacutenica e soacute histoacuteria Refletindo sobre tal especificidade da experiecircncia cristatilde de Deus L Boffafirma que
No cristianismo articulou-se a experiecircncia do Misteacuterio como histoacuteria doMisteacuterio O Sentido natildeo ficou di-fuso pro-fuso e con-fuso dentro darealidade Ele armou tenda entre noacutes e se chamou Jesus Cristo (cf Jo 114) OMisteacuterio eacute tatildeo radicalmente Misteacuterio que pode sem perder sua identidadefazer-se carne e histoacuteria Ele pode subsistir totalmente num Outro diferentedele Se assim natildeo fora natildeo mostraria sua onipotecircncia nem seu caraacuteter deMisteacuterio Entatildeo sendo vida ele pode morrer Fazendo-se morte ele podeviver Ele pode sendo impalpaacutevel fazer-se impalpaacutevel sendo invisiacutevel
fazer-se visiacutevel sendo Criador fazer-se criatura (BOFF 2002 p 106)
Essa natildeo ldquodi-fusatildeo pro-fusatildeo e con-fusatildeordquo do Misteacuterio presente em meio a noacutes se
realiza por que haacute uma existecircncia concreta que abriga tal Misteacuterio A encarnaccedilatildeo confere os
contornos a concretude da presenccedila de Deus E eacute exatamente isso que nos permite nomeaacute-
lo Se nos eacute possiacutevel falar de Deus em perspectiva cristatilde soacute podemos fazecirc-lo de forma
criacutestica Isso significa dizer que ldquoa experiecircncia cristatilde de Deus eacute uma experiecircncia da
presenccedila do Sentido radical numa existecircncia historicamente dada a existecircncia de Jesus e na
palavra da revelaccedilatildeo que eacute totalmente condicionada por essa existecircncia histoacuterica na medida
em que dela procede e a ela se refererdquo (VAZ 1986 p 253)
Da dimensatildeo de concretude legada agrave experiecircncia cristatilde de Deus surge como ldquooutra
face da moedardquo a dimensatildeo relacional Se com a primeira a experiecircncia cristatilde de Deus
ganha seu contorno com a segunda ela ganha sua profundidade Natildeo eacute possiacutevel conceber a
presenccedila de Deus em Jesus o Cristo sem que se afirme a loacutegica relacional ou
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Horizonte Belo Horizonte v 8 n 19 p 114-129 outdez 2010 - ISSN 2175-5841127
intersubjetiva A teologia cristatilde quando se propotildee nomear o Real a partir de Jesus natildeo pode
sob pena de perder completamente decair num esquema racionalista de sujeitoobjeto Se
fizer isso a teologia trataraacute a revelaccedilatildeo somente como pauta doutrinaacuteria devendo ser
acessada exclusivamente pelas normas da razatildeo tanto nas metodologia especulativas
quanto nas apologeacuteticas Ambas poreacutem subjugadas ao mesmo princiacutepio de uma razatildeo
estreita Nesse caso o Real nomeado Deus natildeo eacute mais que um objeto descritiacutevel
Falando acerca de uma teologia cristatilde da revelaccedilatildeo como encontro entre sujeitos
Roger Haight (cf 2004 p 89-107) apresenta importantes consideraccedilotildees sobre a dimensatildeo
relacional de tal evento Ele afirma ldquoNatildeo se trata de uma operaccedilatildeo dedutiva que argumenta
com base na personalidade de Deus e sim de uma fenomenologia da experiecircncia darevelaccedilatildeo cristatilde que responde pela crenccedila segundo a qual Deus eacute pessoalrdquo (HAIGHT
2004 p 94) A encarnaccedilatildeo natildeo permite menos que isso ela eacute a radicalizaccedilatildeo da
pessoalidade de Deus Neste sentido ldquoa revelaccedilatildeo cristatilde natildeo se afigura como conhecimento
a respeito de Deus como de um objeto nem mesmo como conhecimento de uma pessoa
transcendente A revelaccedilatildeo cristatilde assume antes a forma de um encontro pessoal com um
sujeito divinordquo (HAIGHT 2004 p 94)
983093 983107983151983150983139983148983157983145983150983140983151 983137 983152983137983154983156983145983154 983140983151 983152983154983145983150983139983277983152983145983151
A encarnaccedilatildeo reclama a relaccedilatildeo e esta por sua vez afirma a experiecircncia como
expressatildeo privilegiada O Real nomeado corajosamente pela teologia cristatilde como Deus em
sua plena revelaccedilatildeo que eacute Jesus o Cristo natildeo permite agrave teologia menos que comunicaccedilatildeo
intersubjetiva Deus natildeo estaacute para a teologia como um conceito a ser apreendido antes
como um sujeito que a desafia a uma relaccedilatildeo ldquoDeus eacute experimentado como sujeito de tal
sorte que o contato ou percepccedilatildeo humana de Deus natildeo pode ser um conhecimento acerca de
Deus como de um objetordquo ldquoNa revelaccedilatildeo cristatilde Deus eacute experimentado como eu pessoalrdquo
(HAIGHT 2004 p 95 passim)
Em termos da teologia cristatilde falar sobre experiecircncia de Deus eacute assumir os riscos de
nomeaacute-lo e isso constitui-se numa urgente compreensatildeo responsaacutevel e ampliada da
teologia da revelaccedilatildeo Tratar esta uacuteltima sem atentar para os criteacuterios criacutesticos colocados
pela encarnaccedilatildeo e a relacionalidade dela derivada significa cair na armadilha de tal
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Temaacutetica Livre - Artigo Nomear o Real numa cultura pluralista Desafios da Teologia Fundamental diante da experiecircncia como locus theologico
Horizonte Belo Horizonte v 8 n 19 p 114-129 outdez 2010 - ISSN 2175-5841 128
nomeaccedilatildeo objetivaccedilatildeo do Real e consequente idolatria Falar de Deus a partir da
perspectiva cristatilde precisa ser sempre um falar situado como exige a encarnaccedilatildeo e
intersubjetivo como propotildee a radical pessoalidade do encarnado Nas palavras de R Haight
(2004 p 97) ldquoo conteuacutedo positivo da revelaccedilatildeo portanto eacute influenciado e determinado
pelo meio que medeia a experiecircncia da presenccedila e da iniciativa de Deus No caso da
revelaccedilatildeo cristatilde Jesus eacute seu meio histoacuterico centralrdquo
983122983141983142983141983154983274983150983139983145983137983155
BOFF Leonardo Experimentar Deus A transparecircncia de todas as coisas 3 edPetroacutepolis Vozes 2002
BUBER Martin O Eclipse de Deus Consideraccedilotildees sobre a relaccedilatildeo entre religiatildeo efilosofia Campinas Verus 2007
HAIGHT Roger Dinacircmica da teologia Satildeo Paulo Paulinas 2004
LIBANIO Joatildeo Batista Desafios da poacutes-modernidade agrave Teologia Fundamental InTRASFERETTI Joseacute GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992
MELLO Anthony O canto do paacutessaro Contemplar a Deus em todas as coisas e todas ascoisas em Deus 11 ed Satildeo Paulo Loyola 2003
MESLIN Michel A Experiecircncia Humana do Divino Fundamentos de uma antropologiareligiosa Petroacutepolis Vozes 1992
OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991
PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas2007
QUEIRUGA Andreacutes Torres Fim do cristianismo preacute-moderno Satildeo Paulo Paulus 2003
QUEIRUGA Andreacutes Torres A revelaccedilatildeo de Deus na realizaccedilatildeo humana Satildeo PauloPaulus 1995
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Alessandro Rodrigues Rocha
Horizonte Belo Horizonte v 8 n 19 p 114-129 outdez 2010 - ISSN 2175-5841129
RICOEUR Paul Entre filosofia e teologia II nomear Deus In RICOEUR Paul Leituras3 Nas fronteiras da filosofia Satildeo Paulo Loyola 1996
RICOEUR Paul A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006
TILLICH Paul Dinacircmica da feacute 6 ed Satildeo Leopoldo Sinodal 2001
TRASFERETTI Joseacute amp GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
VAZ Henrique C de Lima Escritos de filosofia Problemas de fronteira Satildeo PauloLoyola 1986
![Page 12: 1522-9298-1-PB](https://reader038.vdocuments.com.br/reader038/viewer/2022100519/56d6c4a51a28ab30169c1fc5/html5/thumbnails/12.jpg)
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Por ser uma experiecircncia que reclama a inteireza do humano ela eacute constitutivamente
relacional De forma bastante clara R Panikkar afirma que
sem os laccedilos que nos unem com toda a realidade natildeo podemos terexperiecircncia de Deus [] A experiecircncia de Deus eacute a raiz de toda experiecircnciaEacute a experiecircncia em profundidade de todas e cada uma das experiecircnciashumanas do amigo da palavra da conversa Eacute a experiecircncia subjacente atoda experiecircncia humana dor beleza prazer bondade anguacutestia friosubjacente a toda experiecircncia no tanto que nos descobre uma dimensatildeo deinfinito natildeo-finito in-acabado Subjacente a toda experiecircncia e portantonatildeo suscetiacutevel a ser completamente expressa em qualquer ideacuteia sensaccedilatildeo ousentimento (PANIKKAR 2007 p 77-78)
Da experiecircncia de Deus surge entatildeo a possibilidade da experiecircncia plena dohumano Nela estaacute a fonte para a relacionalidade que eacute constitutiva do humano
humanizado Conforme o autor (2007 p 79) tal processo de humanizaccedilatildeo constitui
a experiecircncia de Deus que subjaz toda experiecircncia e pela qual nos fazemoshumanos nos faz conscientes de nossa contingecircncia torna-nos humildes ecapazes de compreender Por essa experiecircncia nos damos conta de queestamos dentro de algo que abarca tudo e somos conscientes de uma dupladimensatildeo de ausecircncia e presenccedila
Mesmo jaacute tendo delineado os contornos da experiecircncia de Deus em perspectivateoloacutegica fica restando ainda uma tarefa importante no processo de especificaccedilatildeo de nossa
temaacutetica Eacute preciso perguntar pelos criteacuterios que nos possam permitir identificar com
alguma clareza as diferenccedilas entre experiecircncia teoloacutegica das demais formas de experiecircncia
do Sagrado4 Para isso eacute preciso explicitar o que ateacute aqui esteve impliacutecito ao longo de toda
exposiccedilatildeo deste toacutepico falamos de experiecircncia teoloacutegica cristatilde
O ponto apical da centralidade da experiecircncia para a teologia da revelaccedilatildeo em
perspectiva cristatilde se expressa na encarnaccedilatildeo Nela a experiecircncia de Deus ganha suainalienaacutevel topografia a concretude da existecircncia de homens e mulheres situados em seus
muacuteltiplos e respectivos contextos E ainda tal experiecircncia encontra sua irredutiacutevel
expressividade relacional que em uacuteltima anaacutelise eacute quem a qualifica como experiecircncia de
4 H C de Lima Vaz faz uma importante distinccedilatildeo entre experiecircncia religiosa (experiecircncia do Sagrado) eexperiecircncia de Deus (experiecircncia de Sentido) Haacute claramente um corte uma delimitaccedilatildeo que faz daexperiecircncia de Deus uma experiecircncia com certa especificidade Cf VAZ Henrique C de Lima Escritos defilosofia Problemas de fronteira Satildeo Paulo Loyola 1986 p 248-253
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Deus (assumindo tal nomeaccedilatildeo a partir do que nos foi dado a conhecer pela vida de Jesus
de Nazareacute compreendido teologicamente como o Cristo conforme o fazem os evangelhos)
A experiecircncia cristatilde de Deus eacute tanto uma experiecircncia da encarnaccedilatildeo quanto de
encarnaccedilatildeo Isso eacute o que nos pode revelar a vida de Jesus o Cristo Sendo ele o proacuteprio
Deus encarnado vive numa condiccedilatildeo radicalmente marcada por tal encarnaccedilatildeo quer do
ponto de vista geograacutefico quer do ponto religioso cultural ou existencial Deus
encarnando-se se auto-delimita e delimita a nos apresentando o modus operandi para a
articulaccedilatildeo teoloacutegica da experiecircncia cristatilde de Deus a loacutegica da encarnaccedilatildeo Aqui se
encontra o coraccedilatildeo do Misteacuterio feito histoacuteria e a pedagogia para viver tal histoacuteria como
uacutenica e soacute histoacuteria Refletindo sobre tal especificidade da experiecircncia cristatilde de Deus L Boffafirma que
No cristianismo articulou-se a experiecircncia do Misteacuterio como histoacuteria doMisteacuterio O Sentido natildeo ficou di-fuso pro-fuso e con-fuso dentro darealidade Ele armou tenda entre noacutes e se chamou Jesus Cristo (cf Jo 114) OMisteacuterio eacute tatildeo radicalmente Misteacuterio que pode sem perder sua identidadefazer-se carne e histoacuteria Ele pode subsistir totalmente num Outro diferentedele Se assim natildeo fora natildeo mostraria sua onipotecircncia nem seu caraacuteter deMisteacuterio Entatildeo sendo vida ele pode morrer Fazendo-se morte ele podeviver Ele pode sendo impalpaacutevel fazer-se impalpaacutevel sendo invisiacutevel
fazer-se visiacutevel sendo Criador fazer-se criatura (BOFF 2002 p 106)
Essa natildeo ldquodi-fusatildeo pro-fusatildeo e con-fusatildeordquo do Misteacuterio presente em meio a noacutes se
realiza por que haacute uma existecircncia concreta que abriga tal Misteacuterio A encarnaccedilatildeo confere os
contornos a concretude da presenccedila de Deus E eacute exatamente isso que nos permite nomeaacute-
lo Se nos eacute possiacutevel falar de Deus em perspectiva cristatilde soacute podemos fazecirc-lo de forma
criacutestica Isso significa dizer que ldquoa experiecircncia cristatilde de Deus eacute uma experiecircncia da
presenccedila do Sentido radical numa existecircncia historicamente dada a existecircncia de Jesus e na
palavra da revelaccedilatildeo que eacute totalmente condicionada por essa existecircncia histoacuterica na medida
em que dela procede e a ela se refererdquo (VAZ 1986 p 253)
Da dimensatildeo de concretude legada agrave experiecircncia cristatilde de Deus surge como ldquooutra
face da moedardquo a dimensatildeo relacional Se com a primeira a experiecircncia cristatilde de Deus
ganha seu contorno com a segunda ela ganha sua profundidade Natildeo eacute possiacutevel conceber a
presenccedila de Deus em Jesus o Cristo sem que se afirme a loacutegica relacional ou
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intersubjetiva A teologia cristatilde quando se propotildee nomear o Real a partir de Jesus natildeo pode
sob pena de perder completamente decair num esquema racionalista de sujeitoobjeto Se
fizer isso a teologia trataraacute a revelaccedilatildeo somente como pauta doutrinaacuteria devendo ser
acessada exclusivamente pelas normas da razatildeo tanto nas metodologia especulativas
quanto nas apologeacuteticas Ambas poreacutem subjugadas ao mesmo princiacutepio de uma razatildeo
estreita Nesse caso o Real nomeado Deus natildeo eacute mais que um objeto descritiacutevel
Falando acerca de uma teologia cristatilde da revelaccedilatildeo como encontro entre sujeitos
Roger Haight (cf 2004 p 89-107) apresenta importantes consideraccedilotildees sobre a dimensatildeo
relacional de tal evento Ele afirma ldquoNatildeo se trata de uma operaccedilatildeo dedutiva que argumenta
com base na personalidade de Deus e sim de uma fenomenologia da experiecircncia darevelaccedilatildeo cristatilde que responde pela crenccedila segundo a qual Deus eacute pessoalrdquo (HAIGHT
2004 p 94) A encarnaccedilatildeo natildeo permite menos que isso ela eacute a radicalizaccedilatildeo da
pessoalidade de Deus Neste sentido ldquoa revelaccedilatildeo cristatilde natildeo se afigura como conhecimento
a respeito de Deus como de um objeto nem mesmo como conhecimento de uma pessoa
transcendente A revelaccedilatildeo cristatilde assume antes a forma de um encontro pessoal com um
sujeito divinordquo (HAIGHT 2004 p 94)
983093 983107983151983150983139983148983157983145983150983140983151 983137 983152983137983154983156983145983154 983140983151 983152983154983145983150983139983277983152983145983151
A encarnaccedilatildeo reclama a relaccedilatildeo e esta por sua vez afirma a experiecircncia como
expressatildeo privilegiada O Real nomeado corajosamente pela teologia cristatilde como Deus em
sua plena revelaccedilatildeo que eacute Jesus o Cristo natildeo permite agrave teologia menos que comunicaccedilatildeo
intersubjetiva Deus natildeo estaacute para a teologia como um conceito a ser apreendido antes
como um sujeito que a desafia a uma relaccedilatildeo ldquoDeus eacute experimentado como sujeito de tal
sorte que o contato ou percepccedilatildeo humana de Deus natildeo pode ser um conhecimento acerca de
Deus como de um objetordquo ldquoNa revelaccedilatildeo cristatilde Deus eacute experimentado como eu pessoalrdquo
(HAIGHT 2004 p 95 passim)
Em termos da teologia cristatilde falar sobre experiecircncia de Deus eacute assumir os riscos de
nomeaacute-lo e isso constitui-se numa urgente compreensatildeo responsaacutevel e ampliada da
teologia da revelaccedilatildeo Tratar esta uacuteltima sem atentar para os criteacuterios criacutesticos colocados
pela encarnaccedilatildeo e a relacionalidade dela derivada significa cair na armadilha de tal
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nomeaccedilatildeo objetivaccedilatildeo do Real e consequente idolatria Falar de Deus a partir da
perspectiva cristatilde precisa ser sempre um falar situado como exige a encarnaccedilatildeo e
intersubjetivo como propotildee a radical pessoalidade do encarnado Nas palavras de R Haight
(2004 p 97) ldquoo conteuacutedo positivo da revelaccedilatildeo portanto eacute influenciado e determinado
pelo meio que medeia a experiecircncia da presenccedila e da iniciativa de Deus No caso da
revelaccedilatildeo cristatilde Jesus eacute seu meio histoacuterico centralrdquo
983122983141983142983141983154983274983150983139983145983137983155
BOFF Leonardo Experimentar Deus A transparecircncia de todas as coisas 3 edPetroacutepolis Vozes 2002
BUBER Martin O Eclipse de Deus Consideraccedilotildees sobre a relaccedilatildeo entre religiatildeo efilosofia Campinas Verus 2007
HAIGHT Roger Dinacircmica da teologia Satildeo Paulo Paulinas 2004
LIBANIO Joatildeo Batista Desafios da poacutes-modernidade agrave Teologia Fundamental InTRASFERETTI Joseacute GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992
MELLO Anthony O canto do paacutessaro Contemplar a Deus em todas as coisas e todas ascoisas em Deus 11 ed Satildeo Paulo Loyola 2003
MESLIN Michel A Experiecircncia Humana do Divino Fundamentos de uma antropologiareligiosa Petroacutepolis Vozes 1992
OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991
PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas2007
QUEIRUGA Andreacutes Torres Fim do cristianismo preacute-moderno Satildeo Paulo Paulus 2003
QUEIRUGA Andreacutes Torres A revelaccedilatildeo de Deus na realizaccedilatildeo humana Satildeo PauloPaulus 1995
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RICOEUR Paul Entre filosofia e teologia II nomear Deus In RICOEUR Paul Leituras3 Nas fronteiras da filosofia Satildeo Paulo Loyola 1996
RICOEUR Paul A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006
TILLICH Paul Dinacircmica da feacute 6 ed Satildeo Leopoldo Sinodal 2001
TRASFERETTI Joseacute amp GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
VAZ Henrique C de Lima Escritos de filosofia Problemas de fronteira Satildeo PauloLoyola 1986
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Deus (assumindo tal nomeaccedilatildeo a partir do que nos foi dado a conhecer pela vida de Jesus
de Nazareacute compreendido teologicamente como o Cristo conforme o fazem os evangelhos)
A experiecircncia cristatilde de Deus eacute tanto uma experiecircncia da encarnaccedilatildeo quanto de
encarnaccedilatildeo Isso eacute o que nos pode revelar a vida de Jesus o Cristo Sendo ele o proacuteprio
Deus encarnado vive numa condiccedilatildeo radicalmente marcada por tal encarnaccedilatildeo quer do
ponto de vista geograacutefico quer do ponto religioso cultural ou existencial Deus
encarnando-se se auto-delimita e delimita a nos apresentando o modus operandi para a
articulaccedilatildeo teoloacutegica da experiecircncia cristatilde de Deus a loacutegica da encarnaccedilatildeo Aqui se
encontra o coraccedilatildeo do Misteacuterio feito histoacuteria e a pedagogia para viver tal histoacuteria como
uacutenica e soacute histoacuteria Refletindo sobre tal especificidade da experiecircncia cristatilde de Deus L Boffafirma que
No cristianismo articulou-se a experiecircncia do Misteacuterio como histoacuteria doMisteacuterio O Sentido natildeo ficou di-fuso pro-fuso e con-fuso dentro darealidade Ele armou tenda entre noacutes e se chamou Jesus Cristo (cf Jo 114) OMisteacuterio eacute tatildeo radicalmente Misteacuterio que pode sem perder sua identidadefazer-se carne e histoacuteria Ele pode subsistir totalmente num Outro diferentedele Se assim natildeo fora natildeo mostraria sua onipotecircncia nem seu caraacuteter deMisteacuterio Entatildeo sendo vida ele pode morrer Fazendo-se morte ele podeviver Ele pode sendo impalpaacutevel fazer-se impalpaacutevel sendo invisiacutevel
fazer-se visiacutevel sendo Criador fazer-se criatura (BOFF 2002 p 106)
Essa natildeo ldquodi-fusatildeo pro-fusatildeo e con-fusatildeordquo do Misteacuterio presente em meio a noacutes se
realiza por que haacute uma existecircncia concreta que abriga tal Misteacuterio A encarnaccedilatildeo confere os
contornos a concretude da presenccedila de Deus E eacute exatamente isso que nos permite nomeaacute-
lo Se nos eacute possiacutevel falar de Deus em perspectiva cristatilde soacute podemos fazecirc-lo de forma
criacutestica Isso significa dizer que ldquoa experiecircncia cristatilde de Deus eacute uma experiecircncia da
presenccedila do Sentido radical numa existecircncia historicamente dada a existecircncia de Jesus e na
palavra da revelaccedilatildeo que eacute totalmente condicionada por essa existecircncia histoacuterica na medida
em que dela procede e a ela se refererdquo (VAZ 1986 p 253)
Da dimensatildeo de concretude legada agrave experiecircncia cristatilde de Deus surge como ldquooutra
face da moedardquo a dimensatildeo relacional Se com a primeira a experiecircncia cristatilde de Deus
ganha seu contorno com a segunda ela ganha sua profundidade Natildeo eacute possiacutevel conceber a
presenccedila de Deus em Jesus o Cristo sem que se afirme a loacutegica relacional ou
7212019 1522-9298-1-PB
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Horizonte Belo Horizonte v 8 n 19 p 114-129 outdez 2010 - ISSN 2175-5841127
intersubjetiva A teologia cristatilde quando se propotildee nomear o Real a partir de Jesus natildeo pode
sob pena de perder completamente decair num esquema racionalista de sujeitoobjeto Se
fizer isso a teologia trataraacute a revelaccedilatildeo somente como pauta doutrinaacuteria devendo ser
acessada exclusivamente pelas normas da razatildeo tanto nas metodologia especulativas
quanto nas apologeacuteticas Ambas poreacutem subjugadas ao mesmo princiacutepio de uma razatildeo
estreita Nesse caso o Real nomeado Deus natildeo eacute mais que um objeto descritiacutevel
Falando acerca de uma teologia cristatilde da revelaccedilatildeo como encontro entre sujeitos
Roger Haight (cf 2004 p 89-107) apresenta importantes consideraccedilotildees sobre a dimensatildeo
relacional de tal evento Ele afirma ldquoNatildeo se trata de uma operaccedilatildeo dedutiva que argumenta
com base na personalidade de Deus e sim de uma fenomenologia da experiecircncia darevelaccedilatildeo cristatilde que responde pela crenccedila segundo a qual Deus eacute pessoalrdquo (HAIGHT
2004 p 94) A encarnaccedilatildeo natildeo permite menos que isso ela eacute a radicalizaccedilatildeo da
pessoalidade de Deus Neste sentido ldquoa revelaccedilatildeo cristatilde natildeo se afigura como conhecimento
a respeito de Deus como de um objeto nem mesmo como conhecimento de uma pessoa
transcendente A revelaccedilatildeo cristatilde assume antes a forma de um encontro pessoal com um
sujeito divinordquo (HAIGHT 2004 p 94)
983093 983107983151983150983139983148983157983145983150983140983151 983137 983152983137983154983156983145983154 983140983151 983152983154983145983150983139983277983152983145983151
A encarnaccedilatildeo reclama a relaccedilatildeo e esta por sua vez afirma a experiecircncia como
expressatildeo privilegiada O Real nomeado corajosamente pela teologia cristatilde como Deus em
sua plena revelaccedilatildeo que eacute Jesus o Cristo natildeo permite agrave teologia menos que comunicaccedilatildeo
intersubjetiva Deus natildeo estaacute para a teologia como um conceito a ser apreendido antes
como um sujeito que a desafia a uma relaccedilatildeo ldquoDeus eacute experimentado como sujeito de tal
sorte que o contato ou percepccedilatildeo humana de Deus natildeo pode ser um conhecimento acerca de
Deus como de um objetordquo ldquoNa revelaccedilatildeo cristatilde Deus eacute experimentado como eu pessoalrdquo
(HAIGHT 2004 p 95 passim)
Em termos da teologia cristatilde falar sobre experiecircncia de Deus eacute assumir os riscos de
nomeaacute-lo e isso constitui-se numa urgente compreensatildeo responsaacutevel e ampliada da
teologia da revelaccedilatildeo Tratar esta uacuteltima sem atentar para os criteacuterios criacutesticos colocados
pela encarnaccedilatildeo e a relacionalidade dela derivada significa cair na armadilha de tal
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Temaacutetica Livre - Artigo Nomear o Real numa cultura pluralista Desafios da Teologia Fundamental diante da experiecircncia como locus theologico
Horizonte Belo Horizonte v 8 n 19 p 114-129 outdez 2010 - ISSN 2175-5841 128
nomeaccedilatildeo objetivaccedilatildeo do Real e consequente idolatria Falar de Deus a partir da
perspectiva cristatilde precisa ser sempre um falar situado como exige a encarnaccedilatildeo e
intersubjetivo como propotildee a radical pessoalidade do encarnado Nas palavras de R Haight
(2004 p 97) ldquoo conteuacutedo positivo da revelaccedilatildeo portanto eacute influenciado e determinado
pelo meio que medeia a experiecircncia da presenccedila e da iniciativa de Deus No caso da
revelaccedilatildeo cristatilde Jesus eacute seu meio histoacuterico centralrdquo
983122983141983142983141983154983274983150983139983145983137983155
BOFF Leonardo Experimentar Deus A transparecircncia de todas as coisas 3 edPetroacutepolis Vozes 2002
BUBER Martin O Eclipse de Deus Consideraccedilotildees sobre a relaccedilatildeo entre religiatildeo efilosofia Campinas Verus 2007
HAIGHT Roger Dinacircmica da teologia Satildeo Paulo Paulinas 2004
LIBANIO Joatildeo Batista Desafios da poacutes-modernidade agrave Teologia Fundamental InTRASFERETTI Joseacute GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992
MELLO Anthony O canto do paacutessaro Contemplar a Deus em todas as coisas e todas ascoisas em Deus 11 ed Satildeo Paulo Loyola 2003
MESLIN Michel A Experiecircncia Humana do Divino Fundamentos de uma antropologiareligiosa Petroacutepolis Vozes 1992
OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991
PANIKKAR Raimon Iacutecones do misteacuterio A experiecircncia de Deus Satildeo Paulo Paulinas2007
QUEIRUGA Andreacutes Torres Fim do cristianismo preacute-moderno Satildeo Paulo Paulus 2003
QUEIRUGA Andreacutes Torres A revelaccedilatildeo de Deus na realizaccedilatildeo humana Satildeo PauloPaulus 1995
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Alessandro Rodrigues Rocha
Horizonte Belo Horizonte v 8 n 19 p 114-129 outdez 2010 - ISSN 2175-5841129
RICOEUR Paul Entre filosofia e teologia II nomear Deus In RICOEUR Paul Leituras3 Nas fronteiras da filosofia Satildeo Paulo Loyola 1996
RICOEUR Paul A hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Loyola 2006
TILLICH Paul Dinacircmica da feacute 6 ed Satildeo Leopoldo Sinodal 2001
TRASFERETTI Joseacute amp GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
VAZ Henrique C de Lima Escritos de filosofia Problemas de fronteira Satildeo PauloLoyola 1986
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intersubjetiva A teologia cristatilde quando se propotildee nomear o Real a partir de Jesus natildeo pode
sob pena de perder completamente decair num esquema racionalista de sujeitoobjeto Se
fizer isso a teologia trataraacute a revelaccedilatildeo somente como pauta doutrinaacuteria devendo ser
acessada exclusivamente pelas normas da razatildeo tanto nas metodologia especulativas
quanto nas apologeacuteticas Ambas poreacutem subjugadas ao mesmo princiacutepio de uma razatildeo
estreita Nesse caso o Real nomeado Deus natildeo eacute mais que um objeto descritiacutevel
Falando acerca de uma teologia cristatilde da revelaccedilatildeo como encontro entre sujeitos
Roger Haight (cf 2004 p 89-107) apresenta importantes consideraccedilotildees sobre a dimensatildeo
relacional de tal evento Ele afirma ldquoNatildeo se trata de uma operaccedilatildeo dedutiva que argumenta
com base na personalidade de Deus e sim de uma fenomenologia da experiecircncia darevelaccedilatildeo cristatilde que responde pela crenccedila segundo a qual Deus eacute pessoalrdquo (HAIGHT
2004 p 94) A encarnaccedilatildeo natildeo permite menos que isso ela eacute a radicalizaccedilatildeo da
pessoalidade de Deus Neste sentido ldquoa revelaccedilatildeo cristatilde natildeo se afigura como conhecimento
a respeito de Deus como de um objeto nem mesmo como conhecimento de uma pessoa
transcendente A revelaccedilatildeo cristatilde assume antes a forma de um encontro pessoal com um
sujeito divinordquo (HAIGHT 2004 p 94)
983093 983107983151983150983139983148983157983145983150983140983151 983137 983152983137983154983156983145983154 983140983151 983152983154983145983150983139983277983152983145983151
A encarnaccedilatildeo reclama a relaccedilatildeo e esta por sua vez afirma a experiecircncia como
expressatildeo privilegiada O Real nomeado corajosamente pela teologia cristatilde como Deus em
sua plena revelaccedilatildeo que eacute Jesus o Cristo natildeo permite agrave teologia menos que comunicaccedilatildeo
intersubjetiva Deus natildeo estaacute para a teologia como um conceito a ser apreendido antes
como um sujeito que a desafia a uma relaccedilatildeo ldquoDeus eacute experimentado como sujeito de tal
sorte que o contato ou percepccedilatildeo humana de Deus natildeo pode ser um conhecimento acerca de
Deus como de um objetordquo ldquoNa revelaccedilatildeo cristatilde Deus eacute experimentado como eu pessoalrdquo
(HAIGHT 2004 p 95 passim)
Em termos da teologia cristatilde falar sobre experiecircncia de Deus eacute assumir os riscos de
nomeaacute-lo e isso constitui-se numa urgente compreensatildeo responsaacutevel e ampliada da
teologia da revelaccedilatildeo Tratar esta uacuteltima sem atentar para os criteacuterios criacutesticos colocados
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nomeaccedilatildeo objetivaccedilatildeo do Real e consequente idolatria Falar de Deus a partir da
perspectiva cristatilde precisa ser sempre um falar situado como exige a encarnaccedilatildeo e
intersubjetivo como propotildee a radical pessoalidade do encarnado Nas palavras de R Haight
(2004 p 97) ldquoo conteuacutedo positivo da revelaccedilatildeo portanto eacute influenciado e determinado
pelo meio que medeia a experiecircncia da presenccedila e da iniciativa de Deus No caso da
revelaccedilatildeo cristatilde Jesus eacute seu meio histoacuterico centralrdquo
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BOFF Leonardo Experimentar Deus A transparecircncia de todas as coisas 3 edPetroacutepolis Vozes 2002
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HAIGHT Roger Dinacircmica da teologia Satildeo Paulo Paulinas 2004
LIBANIO Joatildeo Batista Desafios da poacutes-modernidade agrave Teologia Fundamental InTRASFERETTI Joseacute GONCcedilALVES Paulo Seacutergio Teologia na Poacutes-modernidadeAbordagens epistemoloacutegica sistemaacutetica e teoacuterico-praacutetica Satildeo Paulo Paulinas 2003
LIBANIO J Batista Teologia da revelaccedilatildeo a partir da Modernidade Satildeo PauloLoyola 1992
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OrsquoCOLLINS Gerald Teologia Fundamental Satildeo Paulo Loyola 1991
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RICOEUR Paul Entre filosofia e teologia II nomear Deus In RICOEUR Paul Leituras3 Nas fronteiras da filosofia Satildeo Paulo Loyola 1996
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intersubjetivo como propotildee a radical pessoalidade do encarnado Nas palavras de R Haight
(2004 p 97) ldquoo conteuacutedo positivo da revelaccedilatildeo portanto eacute influenciado e determinado
pelo meio que medeia a experiecircncia da presenccedila e da iniciativa de Deus No caso da
revelaccedilatildeo cristatilde Jesus eacute seu meio histoacuterico centralrdquo
983122983141983142983141983154983274983150983139983145983137983155
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