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    Civitas Porto Alegre v. 14 n. 2 p. 359-382 maio-ago. 2014

    Dossi: Narrativas

    Narrativas e pesquisa biogrfca nasociologia brasileira

    Reviso e perspectivas

    Narratives and biographical research in

    Brazilian sociology

    Review and perspectives

    Hermlio SantosPatricia Oliveira

    Priscila Susin*

    Resumo: Este artigo discute as diferentes formas em que relatos orais biogrficos tmsido utilizados na literatura sociolgica brasileira. Para isso, apresentada uma breve

    reviso das diversas abordagens desde a dcada de 1950 at os dias atuais, apontandoalguns estudos e instituies de destaque para o uso e desenvolvimento do mtodo eminvestigaes empricas no contexto nacional. Alm disso, destacamos o dilogo dosestudos brasileiros com algumas das ramificaes de estudos biogrficos no cenriointernacional, em especial na sociologia alem.Palavras-chave: Biografia. Histria de vida. Narrativa.

    Abstract:This paper discusses the different ways in which biographical oral historieshave been used in the Brazilian sociological literature. A brief review of the widevariety of approaches are presented, since 1950 to the present days, emphasizingsome important studies and prominent institutions for the use and development of the

    biographical method in empirical investigations in the national context. Furthermore,we highlight the dialogue between Brazilian studies and some of the ramifications of

    biographical studies in the international scenario, especially in the German sociology.Keywords:Biography. Life history. Narrative.

    * Hermlio Santos doutor pela Freie Universitt Berlin (Alemanha), coordenador do Centrode Anlises Econmicas e Sociais (Caes-Pucrs), professor do PPG em Cincias Sociais daPucrs em Porto Alegre, RS, Brasil. O artigo foi nalizado durante perodo como bolsista deps-doutorado (Capes) no Centro de Mtodos em Cincias Sociais da Universitt Gttingen,Alemanha . Patricia Oliveira doutora em Sociologia pela UniversittFrankfurt (Alemanha), trabalha atualmente na Secretaria de Assuntos Estratgicos daPresidncia da Repblica em Braslia, DF, Brasil . Priscila Susin doutoranda em Cincias Sociais na Pucrs .

    A matria publicada neste peridico licenciada sob forma de umaLicena Creative Commons - Atribuio 4.0 Internacional.

    http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    Nas cincias sociais brasileiras, as variantes da pesquisa qualitativacentradas em relatos orais vm sendo utilizadas pelo menos desde a dcada de

    1940, ainda que mantenham uma posio relativamente marginal na produosociolgica brasileira. Nesse artigo, ser atualizada uma reviso da literaturasobre o uso de relatos de histria de vida, sobretudo na literatura sociolgica

    brasileira. Buscaremos esclarecer as diferentes maneiras em que relatos oraisbiogrficos tm sido utilizados na sociologia, abordando, entre outros, atradio pioneira da histria oral e tendncias mais recentes associadas aoque se convencionou chamar de virada narrativa, assim como o que podemoschamar de virada do sujeito. A reviso que faremos a seguir no pretende

    ser nem exaustiva, nem ir considerar o uso de material biogrfico em outrasdisciplinas, como histria, servio social, psicologia, educao e antropologia,apenas para mencionar algumas disciplinas que nas ltimas dcadas vmfazendo uso de material biogrfico em suas pesquisas empricas. Antes, deverse restringir, tanto quanto possvel, abordagem de relatos de histria de vidana sociologia.

    Uso de histrias de vida nas cincias sociais brasileiras:1950-1980

    O primeiro trabalho emprico na sociologia que se valeu extensamentede material biogrfico foi produzido na Escola de Chicago, por Isaac Thomase Florian Znaniecki, em um livro publicado em cinco volumes, entre 1918 e1920 (Rosenthal, 2004, p. 35). No Brasil, o uso pela sociologia de relatos oraise, mais especificamente, de histrias de vida, pode ser observado em diferentesfases (Pereira, 1991). Em 1945, Florestan Fernandes, com o interesse deinvestigar a marginalizao da populao indgena, analisou a biografia deum ndio do centro-oeste brasileiro.1Posteriormente, na dcada de 1950, outro

    projeto de pesquisa, apoiado pela Unesco e sob orientao de Roger Bastide,investigou as relaes raciais na sociedade brasileira, considerada pocacomo um exemplo de democracia racial. Nesta pesquisa, foi utilizada umagrande variedade de instrumentos, incluindo histrias de vida como formacomplementar a outros mtodos.

    Neste mesmo perodo, crescia o interesse de pesquisa sobre gruposdesfavorecidos, muitas vezes acompanhado pela metodologia de histria devida. Entretanto, este uso de biografias estava muito mais interessado em

    dar voz a representantes destes grupos, mantendo ainda a anlise centrada na

    1 Sobre as contribuies de Florestan Fernandes para a pesquisa biogrfica, ver Fernandes(2007), Martins (1996) e Alvarez (2007).

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    reproduo de seus discursos. Essa nfase temtica estaria relacionada como processo de modernizao brasileira e com indagaes de cientistas sociais

    sobre a identidade social e poltica das camadas subalternas. Segundo Ramiro(2006), ao estudarem favelas e bairros perifricos no incio dos anos 1960,muitos socilogos buscavam compreender por que a populao de excludosno produzia a revolta esperada.

    A partir de meados da dcada de 1960, a criao de grupos de pesquisafoi essencial para o desenvolvimento de metodologias de pesquisa socialfocadas no relato individual. Contudo, estas experincias iniciais de socilogos

    brasileiros com histrias de vida como instrumento e abordagem na anlise

    sociolgica logo perde importncia, cedendo lugar a abordagens quantitativas,que prometiam maisobjetividade atividade da pesquisa sociolgica (Pereira,1991, p. 110). O objetivo principal parecia ser o de descontaminar a pesquisasociolgica da subjetividade do ator, substituindo-a pela suposta objetividadedos instrumentos utilizados pelo pesquisador.

    Nesse contexto, Maria Isaura Pereira de Queiroz, tambm anteriormenteorientanda de Roger Bastide, ao resistir completa converso s abordagensquantitativas, torna-se, desde ento, destacada proponente do uso dehistrias de vida, que visa captar o grupo, a sociedade de que ela parte;

    busca encontrar a coletividade a partir do indivduo (Queiroz, 1988, p. 24).Essa sociloga figura chave na criao, em 1964, do Centro de EstudosRurais, posteriormente Centro de Estudos Rurais e Urbanos (Ceru), junto USP. Esse centro de estudos se mostrou fundamental na difuso do mtodode histria oral, j que iniciativas como essa ofereciam, atravs do uso demtodos qualitativos como instrumento sociolgico, importante contraste emrelao ao ento crescente uso das abordagens quantitativas (Queiroz, 1991).

    Nesse contexto, Camargo v no desenvolvimento da histria oral no Brasil

    um progressivo deslocamento do papel de tcnica de pesquisa para o de fontelegtima para a reconstruo de mudanas histricas em sociedades inteiras,

    para alm da perspectiva individual (Camargo, 1987, p. 9).Outra instituio de extrema relevncia para o fortalecimento de

    metodologias centradas em relatos individuais o CPDoc (Centro de Pesquisae Documentao de Histria Contempornea do Brasil) da Fundao GetlioVargas, criado em 1973. Os primeiros arquivos de seu acervo foram os deGetlio Vargas e Oswaldo Aranha, concomitante com o interesse de pesquisa

    centrado em lderes polticos da sociedade brasileira que estavam envolvidosna revoluo de 1930 e nos acontecimentos posteriores (ver Camargo, 1987).

    Neste perodo, os modelos mais importantes de pesquisa com histrias devida eram autobiografias (de lderes polticos, intelectuais etc.), e entrevistas

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    biogrficas com a participao de um pesquisador. O interesse de pes-quisa com o qual o programa de histria oral do CPDoc se inicia estava

    relacionado em coletar o testemunho de figuras-chave dos eventos histricosrecentes,2o que levaria a entender os rumos que a histria poltica brasileirahavia tomado. Esse tipo de abordagem, ou seja, que procura investigarcaractersticas de relaes sociais em perodos histricos especficos tendocomo ponto de partida a biografia de algumas personalidadesaquelas quemereciam ser ouvidas , ainda hoje, bastante difundida na produosociolgica brasileira. As entrevistas se davam principalmente com membrosda elite poltica, o que foi alvo de muitas crticas e questionamentos por,

    aparentemente, privilegiar a viso das classes dominantes, como apontaFerreira (1998, p. 22).Esta abordagem da pesquisa, apesar das crticas, tornou-se bastante

    difundida nos anos 1970 e 1980. Alberti (2004, p. 47) refuta as crticasquanto ao foco em elites polticas e argumenta que a histria oral procuratrazer a perspectiva do maior nmero possvel de atores sociais, incluindonecessariamente o esforo de entender os detentores de poder. Refere-se, paratal, a possveis paralelos com pesquisas biogrficas na Alemanha em que,tambm a partir da dcada de 1970, preocupavam-se em ouvir testemunhase participantes de processos polticos para entender os rumos tomados peloseventos histricos no pas. No caso citado das pesquisas na Alemanha, Alberti(1996) destaca, entre outros, a pesquisa de Gabriele Rosenthal com ex-integrantes do partido e juventude nacional-socialista, na qual as entrevistase anlises so conduzidas de acordo com o mtodo biogrfico. As pesquisascoordenadas ou orientadas por Rosenthal sobre o perodo nazista incluiriamtambm, entre os entrevistados, geraes de famlias que no haviam tidoenvolvimento institucionalizado com o regime nazista, ou seja, que no

    estavam filiados a agremiaes que davam suporte ao governo (ver Rosenthal,1998 e Vlter, 2003).

    Durante o perodo inicial de divulgao da histria oral no Brasil, oentendimento sobre a funo e escopo adequados desse mtodo perante ascircunstncias polticas e sociais, a partir da dcada de 1970, mostrava-sefragmentado, a julgar por anlises mais recentes desses desenvolvimentos.Enquanto alguns associam o foco nas histrias de vida das elites com restriesdevido ao regime militar, outros autores consideravam a pesquisa com

    operrios, agricultores e populaes reprimidas como terreno privilegiado da

    2 Esse intuito nem sempre era buscado atravs de histrias de vida, privilegiando, muitas vezes,o formato do dilogo (ver Camargo et al., 1984).

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    histria oral (Alberti, 1997, p. 214).3Nesse contexto se inserem as histriasde vida de exilados polticos brasileiros: narrativas de exilados residentes

    no exterior foram reunidas na obra Memrias do exlio: muitos caminhos(Cavalcanti et al., 1976), e no registro subsequenteMemrias das mulheres noexlio(Costa et al., 1980). Nota-se, no entanto, que, a partir da dcada de 1980,os estudos de histria oral e de vida se tornam cada vez mais multifacetados,tanto em relao aos temas abordados quanto em relao orientao terica emetodolgica dos pesquisadores.4Muitos outros estudos, listados por Camargoet al. (1983), enfocaram problemas sociais em que os entrevistados erampessoas comuns e no testemunhas privilegiadas de episdios histricos.

    Aqui, o pesquisador estava interessado em uma compreenso aprofundadada realidade e em elucidar questes no respondidas satisfatoriamente ementrevistas temticas.

    A pesquisa sobre histrias de vida de homens e mulheres do campo,comunidades de pescadores, operrios e migrantes compe, assim, emuma vertente sociolgica reconhecida. Nessa linha de pesquisa, podem-semencionar os estudos de Eunice Durham (1966; 1973), que desde os anos 1960utilizava o mtodo de histria de vida, tendo iniciado com uma anlise do relatooral de um imigrante italiano e posteriormente com estudossobre migrantesnordestinos em So Paulo. Dentro dessa tradio, segundo comentadores dahistria oral, pode-se detectar uma mudana de foco em relao aos primeirosestudos das dcadas de 1950 e 1960: Muda-se o foco das condies devida e das prticas poltico-institucionais da classe operria para as prticascotidianas e as representaes, resgatando assim, a heterogeneidade social

    3 No que se refere a biografias de pessoas que obtiveram destaque ao longo da histria, o autorde um estudo sobre a histria de vida de Raul Seixas, Souza discute o problema da leitura-

    escrita que se faz do biografado, cujo corpo representado se encontra estilhaado emfragmentos mltiplos, impondo uma eleio e organizao de resduos biogrficos capazesde dar corpo a uma forma narrativa que represente, de maneira coerente, o sentido projetadosobre o indivduo biografado (Souza, 2011, p. 81). O recurso a materiais escritos deixadospelo biografado era amplamente utilizado nas biograas da elite, o que se contrapunha ao focomaior no relato oral dos grupos desfavorecidos, como ressalta Alberti (2004).

    4 Demais centros de pesquisa de destaque so o Laboratrio de Histria Oral e Iconograa,da Universidade Federal Fluminense, e o Centro de Documentao Iconogrca, daPontifcia Universidade Catlica de So Paulo, ambos de 1982. Outro centro de estudo quetem incentivado a pesquisa atravs de histrias orais, no caso referentes, prioritariamente,a Campinas e regio, Centro de Memria Unicamp, fundado em 1987. Cabe mencionarainda outros centros que tm se dedicado de alguma maneira histria oral, como a Casa de

    Oswaldo Cruz/Fiocruz, Fundao Carlos Chagas (Meihy, 2000), o Centro de Estudos Mineiros,que realizou um esforo de reconstruo da histria de Minas com base em biograas depersonagens das elites, por exemplo Hugo Antnio Avelar e Slvia Barata de Paula Brito sobreo projeto Memria poltica de Minas Gerais, Luclia de A. Neves Delgado, da PUC-MG, quefoi presidente da Associao Brasileira de Histria Oral e publicouHistria oral memria,tempo e identidades.

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    e tambm histrica da formao das classes sociais brasileiras (Ramiro,2006, p. 21).

    Um exemplo dessa abordagem pode ser visto na obra de Eunice Durham(1973). Para Durham, fenmenos sociais so de interesse na medida em quese reetem em transformaes em nvel de comportamentos individuais; ou

    seja, alteraes na ordem estrutural se reetiriam em modificaes dos padres

    comportamentais e de relacionamentos sociais dos sujeitos. Uma perspectivasemelhante, que parte de relatos individuais para compreender mudanashistricas e sociais, bem como as possveis mudanas devido a fenmenossociais,est presente no importante trabalho feito na rea de psicologia social

    por Ecla Bosi (1979) sobre a memria de idosos. Esse estudo figura, nesseperodo, como uma obra bastante relevante, sendo reconhecido como inunciapara diversos estudos subsequentes. Nessa obra, um perodo da histria de SoPaulo retratado a partir da histria de vida de idosos.

    Entretanto, mesmo que a dcada de 1970 tenha sido marcada pelointeresse em histrias de vida, no possvel identificar um esforo paraclarificar ou para estabelecer um procedimento metodolgico que pudesseser reconhecido pela comunidade sociolgica, tendo em vista que as histriasde vida coletadas eram assumidas como relatos e testemunhos relativamentefidedignos do perodo ou fenmeno analisado. Com isso, no se pode afirmarque os trabalhos produzidos nesse perodo coincidiam com os esforos que,no mesmo perodo, estavam sendo realizados na comunidade sociolgicada Europa para oferecer uma fundamentao terica e epistemolgica parao procedimento de anlise de relatos biogrficos, notadamente a partir dasociologia compreensiva ou mesmo fenomenolgica, como se verificava, porexemplo, na Alemanha.

    Diversificao do campo nos anos 1980 e declnio do uso dehistrias orais nas cincias sociais a partir dos anos 1990

    As histrias de vida de mulheres tambm passaram a receber maisateno no meio acadmico a partir da dcada de 1980. Nesse perodo,Daphne Patai, professora de Lngua, Literatura e Cultura na Universidadede Massachusetts, nos Estados Unidos, conduziu diversas entrevistas commulheres de diferentes grupos sociais e culturais no Nordeste brasileiro eno Rio de Janeiro, com declarado intuito de dar voz s mulheres (Patai,

    1985). Segundo Cubas (2012), essa obra trouxe vrias indagaes sobre asimplicaes do engajamento feminista e de questes ticas relacionadas conotao poltica da prtica da histria oral, como proposta por Patai. Meihy(2000) aponta esse estudo como precursor da modalidade de histria oral que

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    viria a se tornar mais popular no Brasil: a histria de vida.5Essa seria marcadapela recriao da histria de vida a partir do relato oral do entrevistado, mas

    com alteraes feitas pelo pesquisador para adequar tal relato lngua escrita.Continuando nessa tradio, Boschilia (2000) recorre a entrevistas e pesquisade arquivos para reconstruir as histrias de vida e condies de trabalho demulheres operrias em Curitiba durante as dcadas de 1940 a 1960. Meihy(1994), enfocando em apenas uma histria, apresenta a biografia de Carolinade Jesus, nascida em Minas Gerais, e moradora de uma favela de So Paulodesde 1947, que veio a ser uma escritora de sucesso.

    Segundo Ferreira (1998, p. 25), na dcada de 1980, a maioria dos

    pesquisadores que trabalhavam com histria oral no Brasil eram cientistassociais, o que teria se modificado nos anos 1990. Para Meihy (2000), a crescentepopularizao do mtodo de histria oral na Histriaestaria relacionada com adivulgao desta rea como uma alternativa a partir da dcada de 1990. Assim,houve uma maior formalizao da histria oral nesse perodo, diferentementeda ocasio do primeiro encontro de histria oral, ocorrido em Salvador em1983. Uma dcada depois, o Primeiro Congresso Nacional de Histria Oralfoi realizado na Universidade de So Paulo e, no ano seguinte, por ocasio doSegundo Encontro Nacional, no CPDoc,6ocorreria a fundao da AssociaoBrasileira de Histria Oral, em 1994.7Nessa ocasio, 51% dos participanteseram historiadores, ficando os cientistas sociais em segundo lugar com 34%(Ferreira, 1994, p. 8).

    A partir da dcada de 1990, novos temas passaram a receber atenode pesquisadores adeptos da histria de vida, ao mesmo tempo em que temastradicionalmente pesquisados com esses mtodos qualitativos mantiveram seudestaque. Autores como Meihy (2000) e Ferreira (1998), ao reverem a literaturados anos anteriores, apontam como frequentes as pesquisas de histria de vida

    5 Uma definio corrente diferencia entre histria oral, que incluiria todo tipo de relato oral,seja histria de algum, de um grupo, histria real ou mtica. A histria de vida seria orelato feito pelo sujeito sobre os eventos e maneira como sua vida transcorreu (Queiroz,1988).

    6 Os encontros nacionais de histria oral tm atrado forte ateno acadmica desde seu incio:nos trs primeiros anos, mais de quinhentos trabalhos foram inscritos para apresentao(Alberti, 1997). Vrias coletneas tm sido publicadas com os trabalhos apresentadosnos encontros nacionais de histria oral, por exemplo Ferreira (1994) com as principais pa-lestras proferidas no II Encontro Nacional, Simson (1997) com textos do III EncontroNacional, realizado em Campinas, e Montenegro e Fernandes (2001), com trabalhosapresentados no IV Encontro Nacional de Histria Oral em Recife. Nesse ltimo foramapresentados trabalhos sobre memria de operrias, trabalhadores fabris, seringueirosamaznicos, migrao de camponeses, educao de mulheres, histrias de vidas de presidirios,entre muitos outros.

    7 A ABHO publica, desde 1997, aRevista Histria Oral, com duas edies ao ano.

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    de trabalhadores sem-terra e famlias em assentamentos de reforma agrria(ver Menezes, 1996; Menezes et al., 2011; Silva, 1999; Antuniassi, 1995),

    algumas delas enfocadas em uma perspectiva de gnero e de meninos derua. Dentro desse ltimo tema, merece destaque a importante pesquisa deAtade (1993). Em sua obra, os relatos de diversos meninos de rua de Salvadorso reconstrudos a partir de interaes e entrevistas e apresentados comonarrativas completas, mesmo que no produzidas de tal maneira pelos sujeitosde pesquisa.

    Mesmo que os anos 1970 e 1980 tenham sido marcados por um forteinteresse por esse mtodo, nas cincias sociais brasileiras o uso das histrias

    de vida e biografias como material de anlise sociolgica diminuiu nasdcadas seguintes.8 O debate metodolgico sobre a histria oral e uso derelatos de vida, assim, passa a ser enfatizado em outras disciplinas, causandoum empobrecimento, no Brasil, da discusso sociolgica sobre essa tradiode pesquisa que apenas parcialmente compensado pela emergncia denovos mtodos qualitativos na pesquisa sociolgica. Na dcada de 1990, porexemplo, foram publicados importantes manuais sobre a prtica de pesquisada histria oral (Alberti, 1990).

    Cabe ressaltar que, apesar da grande variedade metodolgica no usode histria de vida, um procedimento recorrente a apresentao inalteradade relatos biogrficos (Lang, 1996), sem que esses sejam analisados oudesconstrudos enquanto texto, sujeitos apenas a uma transcriao9(Meihy,1991). Tal procedimento, pode-se argumentar, corresponderia a uma ideologiade dar a voz aos sujeitos oprimidos (Santhiago, 2010). Neste sentido, algunsquestionamentos poderiam ser suscitados quanto ao papel do pesquisador,

    j que ao ofuscar o papel deste presente na construo do relato oral desdeo momento da entrevista a anlise de fenmenos sociais sofreria uma

    limitao injustificvel. Ademais, a no utilizao de procedimentos de anliseabrangentes e claramente compreensveis para o leitor teria como possvelconsequncia a dificuldade de se reconstruir, e, portanto, de compreender, o

    processo de obteno de resultados e concluses de pesquisa.

    8 Mesmo que socilogos brasileiros tenham desempenhado um papel fundamental na criao doComit de Pesquisa 38, Biografia e Sociedade, da Associao Internacional de Sociologia, nofinal dos anos 1970, a participao de brasileiros nesse comit parece ter sido limitada a partirdos anos 1990.

    9 Transcriao seria a ltima fase da recriao da histria de vida, depois da transcrio etextualizao, no qual se recriaria a atmosfera da entrevista e de situao de interao entreentrevistado e entrevistador: procura-se trazer ao leitor o mundo de sensaes provocadaspelo contato, e como evidente, isso no ocorreria reproduzindo-se o que foi dito palavra porpalavra (Meihy, 1991, p. 30).

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    De maneira semelhante, podem-se constatar os mesmos riscos para aanlise sociolgica no caso em que as possveis contradies e ambivalncias

    das histrias de vida deixem de ser abordadas a partir de procedimentosanalticos claros e sistemticos, o quepoderia reduzir consideravelmente oescopo da anlise sociolgica. Finalmente, um ltimo risco metodolgicocorresponde a que as histrias de vida sejam interpretadas como apenasreexos de estruturas sociais. Silva (2002) aponta o que denomina aspecto

    conituoso de mtodos das cincias sociais para anlise das histrias de vida,

    no qual haveria um entendimento de que as biografias individuais podem serentendidas como uma reconstruo fiel do pesquisador do meio social em que

    o biografado viveu. Para Silva (2002), isso corresponderia a uma crena de quea sociedade explica o indivduo, ao invs da alternativa potencialmente maisrica de que o indivduo seja o fio condutor que levar ao social. Poderamosdizer que uma perspectiva importante aqui seria aquela em que se admite haver,ao contrrio, uma relao dialtica entre indivduo e o patrimnio culturalde uma dada sociedade, com seus constrangimentos morais e conhecimentossocialmente difundidos.

    Trajetrias, biografias e narrativas: multiplicidade de

    orientaes no uso de histrias de vida nos anos 2000

    No que toca s pesquisas mais recentes na rea de histria de vidae de biografia, deve-se destacar que essas tm crescentemente adotadoum referencial terico e metodolgico que ressalta a construo social naconfigurao de histrias de vida e biografias. Ao mesmo tempo, no referencialmetodolgico, o interesse em produzir um entendimento coerente de eventos

    passados permanece bastante relevante.A virada narrativa nas cincias humanas nas ltimas dcadas trouxe uma

    priorizao de vises construtivistas sobre a narrativa como prtica social ecriadora de sentido. Tais referenciais tericos sobre a construo social dehistrias de vida passam, necessariamente, pela discusso dos mecanismosde construo e reconstruo da memria. Pode-se destacar, aqui, o trabalhorecente de Negro, que escreve sobre as histrias de vida de egressas de umasilo catlico para rfs, fundado em 1890 em Campinas. Nesse estudo, aconstruo biogrfica individual ressaltada em sua complexidade, comoconstruo sempre mutvel do passado: a memria se transmuda em

    histria de vida com as repercusses em seus destinos (Negro, 2009,p. 98). Especial nfase dada relao entre seleo de memrias a seremnarradas e o momento presente das entrevistadas, bem como s fronteirasda memria em relao ao que dito e ao que silenciado. Na anlise dos

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    resultados, so explicitadas as condies institucionais em que as biografiasestavam enquadradas; a instituio em questo vista, tambm, como

    parte de contextos socioeconmicos mais amplos. Em relao s biografiasindividuais, destacada a conexo de experincias narradas com contextossocioeconmicos, bem como com diferenciaes raciais e de gnero maisamplos.

    Apesar da produo recente de pesquisas em torno a biografias ter setornado mais diversificada nas cincias sociais, o mtodo de histria oralcontinua sendo amplamente aplicado nessas disciplinas, principalmente peloscentros de estudos mencionados anteriormente. No Ceru destacam-se, entre

    outros, projeto sobre famlias em So Paulo, centrado nas especificidadesestruturais e conjunturais da mediao indivduo e sociedade. Esse projetoenglobava pesquisa sobre a vida familiar de diferentes grupos tnicos emSo Paulo (Demartini, 2004). Tambm no Ceru, um projeto tratava maisespecificamente das trajetrias de famlias migrantes em So Paulo, a partir do

    ps-guerra at a dcada de 1980. Nesses projetos, segundo Demartini (2004), omtodo utilizado era o das histrias de vida resumidas que, apesar de abordara totalidade das histrias de vidas dos sujeitos de pesquisa, aprofundava anarrativa individual em dimenses diretamente relevantes aos projetos de

    pesquisa.No CPDoc foi desenvolvido entre 2003 e 2007 o projeto de pesquisa

    Histria do movimento negro no Brasil, por Amilcar Araujo Pereira eVerena Alberti. Em consideraes metodolgicas sobre essa pesquisa,Alberti (2012) discute a situao de entrevista como um momento nico,no qual o encadeamento de eventos apresentados na construo biogrficados entrevistados no deixa de ser inuenciado pela interao com os

    entrevistadores, ao mesmo tempo emque revela a maneira como os sujeitos

    estruturam suas experincias passadas. Ela argumenta, ento, sobre apotencialidade desse mtodo para alm de produzir uma mera verso dos fatosque ocorreram ao entrevistado, j que o relato oral seria uma narrativa deexperincias de vida produzida no contexto de uma entrevista de histria oral,trazendo uma construo biogrfica coerente e substantiva dos entrevistados(Alberti, 2012, p. 165).

    Como se pode apreender das posies crescentemente crticas ediferenciadas sobre a utilizao de histrias de vida, recentemente se percebe

    que os conceitos de histria oral, histria de vida e biografia tm sido refinadose passam a ser referncias em campos de pesquisa emprica cada vez maissegmentados. Nesse contexto, o conceito de trajetria de vida desponta como

    bastante utilizado em vrias linhas de pesquisa nas cincias sociais e outras

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    disciplinas. Bastante vinculado a prticas profissionais, cabe destacar sua vastautilizao nas pesquisas que, atravs de relatos de vida, buscam reconstruir

    trajetrias profissionais.10No h, contudo, um problema especfico na sociologia brasileira que

    vem sendo objeto da pesquisa com uso de relatos orais de histrias de vida.Um dos temas que vem sendo pesquisado por meio de mtodos biogrficos o engajamento de jovens com violncia e delinquncia (por exemplo, Vieira,2011; Santos, 2012a; 2012b; Malvasi, 2011; 2012). Outro tema que tem sidoinvestigado por meio da produo de biografias pode ser encontrado notrabalho de Marilda Aparecida de Menezes (2006; 2011) sobre trabalhadores

    rurais no nordeste brasileiro e sobre membros do movimento negro (veja Goss,2010).Na rea da pesquisa voltada para as questes de gnero, o conceito

    de trajetria tem sido amplamente usado para compreender as limitaes epossibilidades de mulheres perante estruturas sociais desiguais. De formasemelhante, as trajetrias de vida de mulheres provenientes do campo tambmtm recebido considervel ateno nas cincias sociais (Bueno e Moraes,2012).

    Nas pesquisas em que gnero ocupa um lugar central, as contribuiesde Wivian Weller (2005a; 2005b) merecem destaque, sobretudo por aportar deforma sistemtica pesquisa social brasileira o mtodo documentrio tal comodesenvolvido pelo socilogo alemo Ralf Bohnsack, a partir da formulao deFritz Schtze e da fundamentao terica de Karl Mannheim. Uma distinoimportante, contudo, na abordagem em relao a vrias outras que empregamnarrativas biogrficas a preferncia, fundamentada teoricamente, por realizardiscusses em grupo. Mesmo que tambm adotem entrevistas individuais,

    prioriza-se a conduo de grupos de discusso em que as experincias de

    vida so expostas na presena daqueles com os quais compartilha um mesmoambiente social.

    Fundamentaes tericas do uso de histrias de vida nasociologia brasileira

    Em um levantamento recente dos mtodos de histria oral (Barros et al.,2007), destacada a inuncia de Bertaux entre pesquisadores brasileiros ao

    10Na educao, o uso de trajetrias de vida de professores vem se consolidando como mtodode pesquisa bastante frequente. Uma coletnea bastante representativa para o uso de biografiase histrias de vida nessa rea (Abraho, 2004) a que resultou do II Congresso Internacionalde Pesquisa (Auto) Biogrfica. Os mtodos de pesquisa biogrfica tambm tm se tornadopopulares em outras reas de conhecimento, como na enfermagem (Santos e Santos, 2008).

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    utilizarem histrias de vida. Bertaux (por exemplo, 1980) pode ser consideradoum dos autores que j anteriormenteexercia alguma inuncia na produo

    acadmica com uso de relatos orais (Pereira, 1991, p. 115; ver tambmGurios, 2011), cujos interesses estavam voltados sobretudo para as estruturassociais. Isso significava que a entrevista estava focada em obter elementosdo entrevistado que pudessem contribuir com os esforos de delinear um

    padro estrutural na configurao de relaes em um processo de produoespecfico. As trajetrias de vida eram, supunha-se, a maneira como esses

    padres emergiam.Aqui, a interpretao subjetiva do entrevistado no exercia um papel

    relevante, em oposio a outras abordagens que elegeram as estruturas eprocessos subjetivos como foco de anlise, notadamente a partir da abordagemdesenvolvida por Fritz Schtze que surge, na Alemanha, no mesmo perodoem que, na Frana, Bertaux realizava seus primeiros estudos. No apenas adificuldade com a lngua (j que parte significativa da produo de pesquisasempricas conduzidas por Schtze e colegas estavam disponveis apenas emalemo), mas sobretudo a fundamentao terica utilizada pelos socilogos daUniversidade de Bielefeld, onde Schtze se encontrava, explica a razo pelaqual a abordagem proposta por Schtze recebeu at recentemente uma ateno

    bastante modesta na sociologia brasileira. Schtze, seus colegas e assistentesmais jovens, nesse perodo, estavam de alguma maneira dando continuidade tradio da sociologia compreensiva, combinando-a com a abordagemsociolgica da chamada Escola de Chicago. Inuenciados sobretudo por

    socilogos e intelectuais franceses, combinado com o funcionalismo norte-americano (Villas-Bas, 1997), os socilogos brasileiros no estavam muitoatrados pelas tradies tericas que animavam o Grupo de Socilogos deBielefeld.

    Srubar (1984), ao delinear as distines no surgimento e posteriordesenvolvimento da sociologia na Frana e na Alemanha, permite-nos entendermelhor as preferncias epistemolgicas dos socilogos desses dois pases, que,mais recentemente, acabaram por informar abordagens distintas de uso dehistrias de vida. Os primeiros socilogos franceses partem da compreenso desociedade como sendo autnoma e os indivduos como estando subordinados aela (Srubar, 1984, p. 164), e, dessa maneira, procuram replicar as abordagens

    prprias das cincias naturais para o estudo da sociedade. Com isso, o tema

    da ao individual acaba por no encontrar lugar. Ainda que tenha sidoresponsvel por contribuies largamente reconhecidas para a compreensodas sociedades, a produo sociolgica francesa ainda hoje permanece, emalguma medida, herdeira desta tradio intelectual, que se tornou bastante

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    inuente entre parcela da elite sociolgica brasileira. Na Alemanha, durante

    o perodo inicial de constituio da sociologia como disciplina acadmica,

    historiadores, psiclogos e economistas encaram com desconfiana aspresunes acadmicas da sociologia da poca, considerada por alguns comosendo a rea de lazer da pseudocincia, ou, na melhor das hipteses, umtipo superior de jornalismo (Srubar, 1984, p. 165).

    Com isso, os intelectuais interessados em estabelecer a sociologiarealmente como disciplina acadmica na Alemanha tiveram que dar umanova fundamentao, implicando com isso um novo objeto e novos mtodos.Seria incuo atribuir nova disciplina a responsabilidade de estudar toda

    a realidade humana, pois desta j se ocupavam a histria, a economia e apsicologia. Simmel deu contribuies para uma outra possibilidade de realizaro trabalho sociolgico, ao propor a anlise das interaes sociais como objeto

    par excellence da sociologia, e, neste caso, a ao social o que deveriamerecer toda a ateno dos socilogos (Srubar, 1984, p. 166). A formulaode Simmel, assim como aquela de Weber, ensejar o surgimento de abordagenssociolgicas que tero como veremos ao tratarmos da virada do sujeitoimplicaes importantes para o uso de relatos de histria de vida, quandoestar em foco no somente a trajetria de vida, mas sobretudo a ao deindivduos vivendo determinados fenmenos ou experincias que so objetode anlise.

    Embora seja inapropriado dizer que exista uma sociologia nacionalem cada pas, no implausvel pensar que os socilogos acabem por seratrados por uma ou outra abordagem dominante. No caso do Brasil, razeshistricas vinculadas ao estabelecimento da disciplina entre ns, fortementemarcada pela presena de cientistas sociais franceses, dentre outras razes, fezcom que ao longo do tempo fosse se consolidando, na sociologia brasileira,forte inuncia na maneira de se praticar a sociologia, inclusive quanto

    possibilidade, e utilidade, de se dedicar aos estudos de histrias de vida, emsuas mais variadas vertentes.

    Algumas desconfianas difundidas na sociologia francesa podem tercontribudo para desencorajar estudos biogrficos entre socilogos brasileiros.A principal delas uma crtica bastante breve que Bourdieu dedicou aos estudos

    biogrficos, publicada originalmente em meados da dcada de 1980 e, no Brasil,em meados da dcada de 1990. Bourdieu , muito provavelmente, o principal

    autor a explicitar uma crtica incorporao de relatos biogrficos na anlisesociolgica. Em seu curto artigo intitulado A iluso biogrfica, Bourdieuargumenta que a incorporao de histria de vida na pesquisa sociolgicano passaria de uma concesso da sociologia ao senso comum (Bourdieu,

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    1986, p. 69). Trata-se de um artigo problemtico em vrios aspectos, sobretudoporque no se refere explicitamente a quais autores ou estudos sua crtica

    estaria direcionada. Com isso, acaba por demonstrar seja um desconhecimentoda diversidade de abordagens no interior das pesquisas biogrficas j pocaem que formulou sua crtica, seja pura e simples m vontade em relao a essetipo de contribuio para a compreenso da realidade social.

    Bourdieu afirma ainda, dentre outras coisas, que lidar com materialbiogrfico implicaria em admitir que vida histria, entendida como umasucesso de eventos histricos. Buscando reforar a crtica de Bourdieu,Montagner afirma que se apoiar em material biogrfico como objeto de

    anlise sociolgica implicaria em procurar uma causalidade harmnica dashistrias de vida individuais, que poderia ser explicado pela necessidade,tanto por parte dos indivduos quanto da cincia social, de atribuir um sentidode coerncia s aes humanas (Montagner, 2007, p. 252). O maior problemaaqui no se a histria de vida harmnica ou no, mas a possibilidade de queexista algo como biografia, isto , a interpretao do ator sobre sua prpriavida. Com isso, a iluso de Bourdieu foi tentar refutar uma abordagemsociolgica sem refutar simultaneamente sua fundamentao epistemolgicae metodolgica. Para que fosse exitoso e consistente em seu empreendimento,seria necessrio refutar especialmente sua fundamentao epistemolgica, oque, definitivamente, Bourdieu no foi capaz de apresentar em seu artigo.

    De fato, admitir a existncia de biografia como elemento sociologicamenterelevante implicaria em atribuir ao ator umstatusde intrprete, o que Bourdieue seus seguidores dificilmente estariam dispostos a fazer, uma vez que exigiria,entre outras coisas, uma profunda modificao da interpretao da relaoentre sujeito e habitus, por exemplo. A compreenso da relao entre habituse indivduo da maneira como sustentada por Bourdieu coerente com sua

    posio de ver a abordagem biogrfica como uma iluso. A investigaosociolgica baseada em narrativa biogrfica seria, de fato, um paradoxo, setal abordagem estivesse ancorada na teoria de habitusde Bourdieu, uma vezque pressupe a irrelevncia da interpretao empreendida pelo ator (Truc,2011, p. 162).

    A sociologia brasileira vem recebendo recentemente uma nova inuncia

    em relao ao uso de histrias de vida a partir dos trabalhos de Bernard Lahire(2004), que prefere se referir a trajetrias e no a biografias. A abordagem

    proposta por Lahire possui algumas limitaes importantes, pois ao estabelecerde antemo sobre quais os temas o entrevistado deve falar, e em que sequnciaeles devem ser introduzidos, Lahire abdica da possibilidade de obter elementos

    para a anlise da interpretao subjetiva sobre o curso de vida dos prprios

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    entrevistados, seja porque no acredita ser possvel alcanar tais elementosseja porque acredita no ser relevante para a pesquisa sociolgica.

    Procedimentos metodolgicos como este proposto por Lahire criam umproblema que podemos denominar de colonizao do sistema de relevncia(Schtz, 2004) do entrevistado pelo sistema de relevncia do cientista social.Esse problema ocorre quando o ponto de vista do entrevistado se tornasignificativamente atrelado ao que seriam as expectativas do pesquisador,desconsiderando os temas que possam ser escolhidos e as formas discursivasdo entrevistado como elementos-chave para a compreenso das posiesassumidas ao longo de sua vida ou em fases especficas de sua biografia.

    Esse problema pode ser minimizado caso o socilogo oferea ao entrevistadoa possibilidade de escolher os temas, assim como se o pesquisador, naanlise, ficar atento aos tipos textuais durante a narrativa do entrevistado e,evidentemente, procurar analisar as escolhas discursivas. A seguir apontamosuma perspectiva analtica que tem se mostrado promissora, por colocara perspectiva do sujeito como ponto central, a partir da qual se busca acompreenso de fenmenos sociais contemporneos.

    Sujeito e narrativa biogrfica: perspectivas para a

    pesquisa sociolgica brasileira

    A pesquisa a partir de material biogrfico produzido diretamente a partirde relatos de entrevistados , hoje, considerado um campo de pesquisa autnomona sociologia, reconhecido pela Associao Internacional de Sociologia (ISA).Desde 1984 a ISA conta com o Comit de Pesquisa Biografia e Sociedade, doqual Daniel Bertaux foi seu primeiro presidente e que contou, nesse perodo,com a sociloga brasileira Aspsia Camargo entre os membros do comitdirigente. Desde ento, a abordagem se expandiu para diversos outros pases,

    tendo sido utilizada em diversas pesquisas empricas sobre variados temas,alm deobjeto de reexes tericas e metodolgicas.

    A produo acadmica alem tem contribudo de maneira sistemticae com originalidade para o incremento do uso de material biogrfico na

    pesquisa sociolgica, explicitando a fundamentao epistemolgica sescolhas metodolgicas adotadas e desenvolvidas, tanto para a produo dosdados quanto para sua anlise. Particularmente profcua tem se mostradoa contribuio de Gabriele Rosenthal, frente do Centro de Mtodos em

    Cincias Sociais da Universidade Gttingen, sobretudo por permitir que osujeito entrevistado contribua para a formulao da sua Gestalt biogrfica,o que, por sua vez, ao contrrio de ser reificada, torna-se ela prpria parteimportante da anlise para a compreenso de fenmenos sociais os mais

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    variados. Gabriele Rosenthal exerceu a presidncia do Comit Biografia eSociedade da ISA por duas gestes, de 2002 a 2010.

    Uma das mais importantes fontes tericas na elaborao da abordagemde narrativa biogrfica proposta por Fritz Schtze (1983) e, posteriormente,desenvolvidapor Gabriele Rosenthal , entre outros, a sociologia de AlfredSchtz, especialmente sua teoria da relevncia (veja Rosenthal, 1995; Schtz,2004). Esta abordagem tem como ponto de partida o pressuposto de que qualquernarrativa uma interpretao realizada a partir de uma situao biogrficaespecfica (Schtz, 1979, p. 73), uma vez que uma biografia uma descriode processos e experincias vivenciadas pelo prprio indivduo. As bases

    tericas que fornecem sustentao abordagem tal como desenvolvida porRosenthal so modestamente difundidas na sociologia brasileira, assim comosua proposta metodolgica ainda pouco conhecida.11Sua potencialidade j foidemonstrada em anos de pesquisas empricas e reexes metodolgicas, assim

    como por meio de orientao de diversos trabalhos empricos, pelo menos nasltimas duas dcadas sobre temas os mais diversos. Sua abordagem recupera

    bastante do que j havia sido formulado por Schtze (2010), mas avana algunspassos adiante, incorporando, no processo de anlise, contribuies de AaronGurwitsch, em especial a anlise dos campos temticos em torno aos quaisse desenvolvem narrativas biogrficas, assim como a hermenutica objetivadesenvolvida por Ulrich Oevermann, sobretudo a proposta de sequencialidadeno processo de anlise dos dados e narrativas produzidas durante a entrevista(ver Rosenthal, 2004).

    A abordagem de narrativas biogrficas permite a construo de tipologiasde interpretaes do mundo da vida, considerando, neste processo, como osindivduos manuseiam seu estoque de conhecimento e, sobretudo, comomanuseiam o sistema de relevncia e tipificao, elementos-chave no processo

    interpretativo cotidiano do sujeito (Schtz, 2003; Schutz e Luckmann, 1973),tendo em vista sua importncia no processo de atribuio de sentido, assimcomo no processo de tomada de deciso no curso de ao na vida cotidiana.

    No procedimento adotado por Rosenthal, as entrevistas a serem analisadasso transcritas em sua totalidade e submetidas anlise reconstrutiva e

    sequencial. A anlise reconstrutiva significa que a entrevista no abordadacom categorias pr-definidas, nem submetida a teste de hipteses formuladasa priori, com isso, segue-se o procedimento abdutivo, proposto por Charles

    Pierce e adotado pela Grounded theory. O objetivo da reconstruo

    11 Est no prelo pela Edipucrs a sua obra metodolgica mais importante, Pesquisa socialinterpretativa, a ser publicada ainda em 2014.

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    decodificar tanto o significado da experincia biogrfica vivida no passadoquanto o significado da apresentao realizada no presente. Com isso, o

    resultado da anlise uma combinao da abordagem diacrnica com umaabordagem sincrnica.

    No processo de produo e anlise das entrevistas, o procedimentoanaltico adotado por Rosenthal deixa explcito tanto o papel interpretativodo socilogo, quanto considera os atributos interpretativos do entrevistado.Passos claramente definidos no processo de anlise permitem que ambosos componentes se explicitem. O primeiro passo concentra-se na anlisesequencial dos dados biogrficos. A nfase na sequencialidade pode ser

    percebida no apenas na utilizao em ordem cronolgica dos eventosvivenciados (mencionados na entrevista ou obtidos de outras fontes), mastambm no procedimento de buscar o desenvolvimento gradual de um possvelmodo de ao do(a) entrevisto(a). Segundo Rosenthal (1993, p. 65), essaetapa, no entanto, dedica-se apenas aos dados que podem ser vistos comorazoavelmente independentes da interpretao do entrevistado sobre sua

    prpria vida, excluindo assim relatos baseados em sentimentos e percepesdo sujeito, j que estes sero considerados de maneira sistemtica em etapassubsequentes da anlise.

    Para complementar essa primeira aproximao biografia sob anlise,dados do contexto histrico e social em questo so adicionados cronologiade vida do entrevistado. A partir dos dados biogrficos vivenciados peloentrevistado, procede-se formulao de hipteses sobre as possveisimplicaes de cada um desses acontecimentos, traando assim trajetrias

    plausveis para os entrevistados. Importante, nesse passo de anlise, vislumbrar quais opes estariam disposio dos entrevistados, considerando,evidentemente, os constrangimentos e configuraes biogrficas, alm do

    contexto em que est inserido o/a entrevistado(a). Procedendo desta maneira,evidenciam-se as escolhas possveis no horizonte do/a entrevistado/a e o

    percurso vivenciado ao longo da vida, descartando-se o pressuposto de quehaveria algum tipo de determinismo na trajetria de vida.

    Outros passos de anlise so adotados para se chegar identificaodo interesse de apresentao do entrevistado, evidenciados pelos campostemticos em torno ao qual ou aos quais se desenrola o relato da vida doentrevistado, valendo-se de recursos discursivos variados, como argumentao,

    descrio, assim como a prpria narrativa. Ao final, os pesquisadores procedem reconstruo biogrfica, distinguindo-se e confrontando o interesse deapresentao do entrevistado (vida narrada) com a interpretao do percursode vida do entrevistado (vida vivenciada), em que se explicita outras opes

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    que estariam disponveis. Amplia-se, desta maneira, as possibilidades decompreenso de como a percepo social de eventos constitutiva da

    interpretao individual da prpria biografia.Atualmente, pelo menos dois projetos de pesquisa no Brasil procuram

    adotar a abordagem de narrativa biogrfica tal como proposto por GabrieleRosenthal. Um dos projetos, intitulado Violncia e narrativas biogrficas:experincias de jovens brasileiros, vem sendo desenvolvido com ofinanciamento da Capes, CNPq e Fapergs, pelo Grupo de Pesquisa emRelaes Sociais, coordenado por Hermlio Santos, vinculado ao Programa dePs-Graduao em Cincias Sociais da Pucrs. A pesquisa busca compreender

    como meninas que se envolveram diretamente em aes violentas e atualmenteesto cumprindo medidas socioeducativas narram e interpretam suas aese sua histria de vida, assim como meninas que possuem uma experinciaapenas indireta de violncia (aes cometidas em seu contexto social imediato

    por parentes, vizinhos e amigos), sem que elas prprias tenham cometidoatos de delinquncia ou violncia. A investigao tambm conta com umasegunda etapa, onde cada entrevistada convidada a produzir uma narrativavisual atravs da gravao de um vdeo fora da instituio socioeducativa(no caso das internas nessas instituies). Pretende-se, com isso, incrementaro processo de anlise das interpretaes subjetivas, contrastando-a com anarrativa biogrfica.

    O uso de narrativas biogrficas tem trazido questionamentos relevantessobre a literatura relacionada ao envolvimento de mulheres jovens em atosdelituosos e em aes violentas de maneira mais ampla. Um dos pontosque vem chamando a ateno nos resultados preliminares da pesquisa anecessidade de uma reviso acerca da vinculao entre o envolvimento demulheres na criminalidade e a relao afetiva com um parceiro criminoso. Os

    resultados apontam para a ideia de que o livre arbtrio na escolha de suas linhasde ao est disponvel de uma maneira no trivial e que as mulheres no soapenas vtimas passivas de condies materiais e de socializao, nem mesmocondicionadas exclusivamente a suas relaes afetivas de subordinao figura masculina (Santos, 2010; 2012a). Isto significa dizer que so capazes defazer diferentes escolhas a despeito destes fatores, ainda que limitadas por eles.

    Outro trabalho de pesquisa, intitulado Infncia e violncia: cotidiano decrianas pequenas em favelas do Rio de Janeiro, Recife e So Paulo, sob a

    coordenao de Hermlio Santos, busca investigar a violncia nas comunidadesa partir de diversos prismas. Desenvolvido por uma equipe multidisciplinar(sociologia, economia, psicologia, cincia poltica e urbanismo) do Centro deAnlises Econmicas e Sociais da Pucrs (Caes-Pucrs), com o financiamento

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    da Fundao Bernard van Leer, a pesquisa se iniciou em agosto de 2012, comos resultados sobre as favelas do Rio de Janeiro e Recife j disponveis para

    consulta (ver www.pucrs.br/caes). Com a utilizao de um vasto arranjo deinstrumentos para a coleta de dados quantitativos e qualitativos, inclusivenarrativas biogrficas, buscou-se percorrer as mais diversas facetas da vidacotidiana de crianas em quinze comunidades, seis do Rio de Janeiro (RJ),trs do Recife (PE) e seis de So Paulo (SP), em especial as experincias deviolncia das crianas no mbito da famlia, das ruas da comunidade e daescola.

    As narrativas biogrficas nesta investigao destacam o mbito familiar

    e a questo geracional como construes privilegiadas para a compreenso dasgeneralidades e especificidades do fenmeno da violncia nas comunidades.A pesquisa aponta para importantes insights acerca das mistificaes emtorno das chamadas famlias desestruturadas e da pobreza como fontes deviolncia em si, alm de uma contundente reiterao sobre a centralidade doentendimento familiar e geracional para uma busca adequada da gnese daviolncia nas biografias e na vida cotidiana.

    Concluso

    Ainda que a produo sociolgica brasileira tenha utilizado, ao longo devrias dcadas, relatos de histrias de vida para a compreenso de fenmenossociais e perodos histricos, pode-se considerar que as diferentes abordagens

    biogrficas permanecem assumindo uma posio marginal na literatura e naproduo de pesquisas empricas. Tem-se dado ainda relativamente poucaateno a perspectivas analticas que proponham explorar as interpretaessubjetivas de atores sociais. Este tipo de anlise concebe os indivduos comoatores que interpretam os objetos com os quais est confrontado (pessoas,

    ideias etc.) a fim de localizar a si mesmos no mundo e, com isso, estabelecer seuprprio roteiro de ao e interpretao. Este pressuposto compartilhado porvrias escolas da sociologia compreensiva, como o interacionismo simblico,etnometodologia, alm da sociologia inuenciada pela fenomenologia.

    Comum a todas essas abordagens est a ideia de que o ator social noapenas internaliza normas e significados; ao contrrio, o ator tambm, comoafirma Arthur S. Parsons (1978, p. 111), um agente consciente e responsvel

    pela adoo ativa de cdigos normativos na interpretao da realidade social.

    precisamente a interpretao subjetiva da realidade ou do contexto socialque poderia oferecer boas perspectivas para o desenvolvimento da pesquisacom narrativas biogrficas na sociologia brasileira. Com isso, podemosafirmar que as diferentes abordagens que se valem de relatos de histrias

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    de vida possuem diferenas internas importantes, no apenas quanto a seusprocedimentos metodolgicos, mas sobretudo quanto s possibilidades

    de acionar a interpretao de indivduos que compartilham experinciasobjetivas comuns (por exemplo, desemprego, migrao, violncia etc.) para acompreenso desses fenmenos sociais.

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    Recebido em: 20 fev. 2014Aprovado em: 14 abr. 2014

    Autor correspondente:Hermlio SantosPPG em Cincias SociaisAv. Ipiranga, 6681, p. 590619-900 Porto Alegre, RS