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Religião JudaicaTRANSCRIPT
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RHEMA, v. 15, n. 48/49/50, p. 135-148, jan./dez. 2011 Edio Unificada 135
O ALVORECER DE UMA NOVA ESPERANA:
A ASCENSO DO IMPRIO PERSA E A LIBERTAO DE ISRAEL
Mariana Aparecida Venncio
Geraldo Dondici Vieira
RESUMO
O presente estudo discorre sobre a situao de Israel nos anos finais do exlio na Babilnia e no perodo inicial da dominao persa. A ascenso da Prsia e a forma como Ciro, o Grande, conquistou a Babilnia, contriburam para que Israel o reconhecesse como um libertador enviado por YHWH. A vitria dos persas sobre os babilnios pde concretizar-se no s devido ao poderio militar do imprio ascendente, mas tambm porque sucessivos problemas internos na Babilnia prejudicaram sua unidade. luz dos textos bblicos do Dutero-Isaas, obra de um profeta annimo cuja atividade situa-se nos anos finais do exlio, possvel compreender este tempo significativo para a Histria de Israel. Comparada ao fim do cativeiro do Egito, a sada da Babilnia pode ser compreendida como um Novo xodo. A poltica de tolerncia religiosa adotada pela Prsia possibilitou o retorno dos judeus sua terra e a tentativa de reconstruo de sua religio. Tais eventos, situados no sculo VI a.C., so de grande importncia para a compreenso da tradio judaica e para a consolidao do Judasmo como a religio que hoje se pode conhecer. Palavras-chave: Judasmo. Exlio. Dutero-Isaas. Ciro. Prsia. INTRODUO
A minha justia eu a trouxe para perto, ela no est longe;
a minha salvao no h de tardar. (Is 46,13)1
O sculo VI a.C. marcado na histria pela ascenso do primeiro maior Imprio
mundial: o Imprio Persa. Sob o comando de Ciro, o Grande, a Prsia, que antes era uma
pequena tribo subordinada ao poderio da Mdia, tornou-se rapidamente uma grande
Graduanda em Teologia pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF). E-mail: [email protected] Mestre em Cincias Bblicas (Pontifcio Instituto Bblico de Roma). Doutor em Teologia Bblica (Instituto Santo Incio de Belo Horizonte). Docente do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. E-mail: [email protected] 1 Para as citaes bblicas, escolhemos utilizar a traduo da Bblia de Jerusalm: BBLIA. Portugus. Bblia de Jerusalm. Nova edio rev. e ampl. So Paulo: Paulus, 2002.
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potncia, atravs de sucessivas conquistas territoriais na regio do Oriente Prximo,
sempre marcadas pela benevolncia de seu soberano, que prezava pela liberdade dos povos
dominados. A notcia da expanso persa chegou Babilnia junto certeza da conquista
que no tardaria a acontecer com a chegada de Ciro e seu exrcito. No entanto, o que
significou runa para Nabnides, Rei da Babilnia desde 556, foi motivo de esperana de
libertao para um povo h muito submetido ao jugo do exlio e da escravido, e ao qual o
vislumbre da liberdade e do retorno ptria j quase se extinguia. Israel reconheceu em
Ciro a possibilidade do retorno sua terra, da reconstruo de seu Templo e do
reestabelecimento de seu trono, depositando nele a confiana advinda da f em um
Messias, um enviado de YHWH2 para libertar e salvar.
O objetivo do presente estudo destacar a importncia do perodo persa para a
histria de Israel e para o Judasmo, uma vez que, por vezes, na anlise do conjunto dos
escritos hebraicos, tal poca recebe pouca ateno por parte de muitos leitores e estudiosos
bblicos. A organizao da Bblia Hebraica se d de forma que a centralidade teolgica dos
escritos esteja na figura de Moiss e no evento da sada do Egito. O episdio do xodo
esteve desde a origem de Israel entranhado em sua tradio, guardado na memria das
diversas geraes, transmitidos pela tradio oral e depois escrita, permanecendo ainda
hoje, tanto para o Judasmo como para o Cristianismo, como um dos episdios principais
da Aliana de Deus com seu povo. Citado e relembrado nos diversos livros da Bblia
Hebraica, o evento xodo por vezes desvia a ateno de outro evento, tambm muito
importante na histria de Israel, que pode ser identificado como um Novo xodo: a
libertao do cativeiro da Babilnia. O Dutero-Isaas releu, luz do antigo, este novo
cativeiro, relacionando a sada do Egito ao xodo da Babilnia e identificando Ciro como
um novo libertador.
Erhard Gerstenberger, na obra Israel no tempo dos Persas (2014), pondera o
seguinte:
Os dois sculos nos quais o mundo antigo entre o Egito e a ndia estava sob o domnio dos grandes reis persas (539-331 a.C.) foram decisivos em muitos aspectos para o povo de Israel, ou melhor, para o judasmo nascente. (...) E os conhecimentos ento sedimentados, os valores ento vividos, as formas litrgicas e comunitrias ento construdas influenciaram fortemente o judasmo rabnico posterior, os movimentos cristos que dele surgiram e o Isl (GERSTENBERGER, 2014, p. 15).
O Pentateuco e a obra histrica deuteronomista, de redao contempornea aos
anos finais do exlio babilnico no mencionam os persas. Isto se deve, provavelmente, ao
interesse de fixar principalmente suas tradies antigas para motivar e orientar o presente.
2 Neste artigo, sero grafadas apenas as iniciais do nome divino.
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Restaram assim, poucos livros da Bblia, posteriores a estes ltimos, dispostos a contar o
perodo determinante para Israel que foi o tempo da dominao persa. Apenas 5,39% da
Bblia Hebraica dedica-se a este tempo que se revela to decisivo e central para a religio
judaica. Dentre tais escritos, podemos citar Esdras, Neemias, Ageu, Zacarias e,
principalmente, o Dutero-Isaas, ao qual este estudo dedicar maior ateno.
CIRO, O REI DA PRSIA
Suscitei-o do Norte e ele veio,
desde o Oriente foi chamado pelo seu nome. (Is 41,25)
A maior ameaa Babilnia no incio do sculo VI a.C. era a Mdia, liderada por
Astages. Uma pequena alegria irrompeu para Nabnides, rei da Babilnia, quando
recebeu a notcia de uma revolta que ameaava o trono medo. Ciro, o persa, filho de
Cambises, havia chegado ao trono de Anshan, terra persa-elamita submetida ao poderio de
Astages, por volta de 557, por ocasio da morte de seu pai. J em 553 se tinham notcias
da batalha empreendida contra a Mdia, que, segundo as fontes histricas, teve xito a
partir de uma desestabilidade interna no estado medo, da qual Ciro se aproveitou. Ciro
ento, tomou a cidade de Ecbtana, levou todas as suas riquezas para Anshan e destronou
Astages, tomando o vasto territrio medo.3
Ao perceber o triunfo de Ciro aps sua campanha bem sucedida contra a Mdia,
Nabnides, na esperana de proteger seu reinado e seu territrio, fez algumas alianas com
Amasis, fara do Egito e com Creso, rei da Ldia. No entanto, suas tentativas foram falhas,
pois logo Ciro empreendeu uma srie de campanhas que consolidariam a Prsia como o
primeiro Imprio mundial. Avanou contra a Ldia em 546 e contra todas as cidades gregas
do litoral, anexando ao seu poderio todos estes territrios at 540. Tambm tomou toda a
Alta Mesopotmia e tinha sob seu domnio a maior parte da sia Menor at o mar Egeu.
Concomitante a estes eventos, a fama de Ciro se espalhava por toda a regio, por um
lado, como ameaa aos tronos ainda no submetidos, por outro lado, comunicando a fama
que havia construdo como rei forte, poderoso, bem sucedido e tambm bondoso,
compassivo e tolerante. Seu reinado foi conhecido principalmente pela tolerncia
religiosa, mas tambm pela benevolncia para com os povos conquistados: no mantinha
3 Maiores esclarecimentos sobre a histria do Imprio Persa podem ser encontrados em: BRIGHT, John. Histria de Israel. 9. ed. So Paulo: Paulus, 2003. STEINMANN, J. O livro da consolao de Israel e os profetas da volta do Exlio. So Paulo: Edies Paulinas, 1976.
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escravos e poupava o maior nmero possvel de vidas at mesmo Astages foi tratado
com dignidade. Jean Steinmann, na obra O livro da Consolao de Israel e os profetas da
volta do Exlio (1976), assinala:
Ciro no somente respeita os vencidos, sua lngua, suas instituies, sua religio e seus bens, mas, embora estabelecendo solidamente seu poder, quer que este aparea liberal e libertador. Evita os massacres, os incndios e as deportaes. Poltica de anexao que contrasta absolutamente com a crueldade das conquistas assrias e mesmo babilnicas. Xenofonte se engana, narrando a morte do rei mpio; confunde Baltazar com Nabonide. A figura, porm, que ele retrata de Ciro, em Babilnia exata: um general que gosta de rir, diante do qual seus velhos companheiros conservam sua liberdade de falar, um chefe que, de sua lealdade, sabe fazer sua melhor astcia (STEINMANN, 1976, p.56).
Assim, medida que o Imprio Persa tomava grandes propores, crescia tambm a
fama de Ciro, agregando a si, histrias e lendas sobre a origem de sua bravura. Tom
Holland, no livro Fogo Persa (2008), narra a lenda por detrs do nascimento de Ciro.
Segundo a antiga histria, Astages, rei da Mdia, havia tido um sonho, interpretado por
seus magos como o pressgio de que um de seus netos poderia vir a tomar seu trono, e
colocar em risco o poderio medo. Assim, quando sua filha Mandane deu luz, Astages
mandou que seu neto fosse assassinado. Como esperado, sua ordem foi desobedecida e o
menino foi abandonado na encosta de uma montanha. Ciro ento sobreviveu, cresceu e
prosperou. Um detalhe importante que compe a histria que Harpago, o encarregado do
assassinato de Ciro que salvou-lhe a vida, severamente castigado por Astages quando da
descoberta do acontecido, foi o protagonista da traio interna que levou derrota de
Astages e sua entrega a Ciro. Para alm da lenda extravagante, o fato que da natureza
de um grande homem atrair histrias prodigiosas (HOLLAND, 2008, 36) e isso
certamente se aplicou a Ciro, o Grande.
Com a vastido do domnio persa, Babilnia estava claramente indefesa e sua
aliana com o Egito se dissolveu. Alm disso, desde Nabucodonosor, a instabilidade
babilnica crescia com uma sucesso de reis que ficavam pouco tempo no poder, at
Nabnides (556-539). Seu reinado foi marcado por discrdias religiosas, e os sacerdotes de
Marduk j no mais o apoiavam. isso o que assinala John Bright, em sua Histria de
Israel (2003):
Adorando a deusa da luz Sin, como sua me, ele favoreceu o culto desta deusa, reconstruiu seu templo em Har (destrudo em 610) e procurou abertamente elevar Sin suprema posio no panteo babilnico (...). Tais inovaes atraram sobre ele a inimizade de muitos, particularmente dos sacerdotes de Marduk, que o consideravam mpio (BRIGHT, 2003, p. 423).
Assim, a Babilnia encontrava-se dividida internamente e mal preparada para
enfrentar a ameaa persa que apresentava-se como j vitoriosa.
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O NOVO XODO
As primeiras coisas j se realizaram,
agora vos anuncio outras, novas. (Is 42,9)
O EXLIO NA BABILNIA
Nabucodonosor marchou contra Jud em 597. Com o exlio do rei Joaquim, a
destruio da cidade de Jerusalm e as sucessivas deportaes dos anos seguintes, a
histria de Israel foi marcada definitivamente. Cerca de 15.000 judeus foram exilados e
viviam numa situao de escravido na Babilnia. Embora nos anos inicias do cativeiro,
eles vivessem em comunidades, com suas tradies familiares, trabalhando para o prprio
sustento e preservando suas prticas religiosas, medida que os anos se passaram, a
opresso aumentou e a esperana do retorno sua terra foi aos poucos diminuindo. Jlio
Zabatiero destaca em Servos do Imprio (1988) qual era a situao dos exilados na
Babilnia aps algum tempo no cativeiro:
(...) (1) vrios deles haviam conseguido se tornar escravos/senhores, chegando a formar fortuna, e a fazer parte da elite econmica na Babilnia; (2) a f em Jav j no era to importante. Afinal, os deuses da Babilnia haviam derrotado a Jav, e este no fora capaz de reverter a sua situao. Comparados s grandes festas religiosas dos deuses babilnicos, os cultos dos judeus eram insignificantes; (3) de fato, muitos judeus j no mais queriam a Jav como o seu Deus. Jav lhes parecia impotente diante dos deuses babilnios, os quais, por sua vez, haviam promovido bom nmero de judeus a uma condio econmica privilegiada; (4) estes privilegiados j no tinham muito interesse em retornar a Jerusalm, uma capital em runas, de uma nao inexistente. No lhes interessava recomear suas vidas, em condies adversas; (5) os judeus nascidos no exlio pouco sabiam acerca de Jav. Provavelmente, tambm pouco se interessavam por um deus derrotado, cujo culto resumia-se a reunies insignificantes. Tambm no sabiam se valeria a pena sair da Babilnia, ir para uma terra desconhecida e arrasada (ZABATIERO, 1988, p. 39).
Para alm de todo o distanciamento religioso de YHWH que o exlio babilnico
provocou, importante salientar que para o judeu exilado em Babilnia, o Deus de Israel
ainda no era o Deus libertador, o Deus dos pobres compreenso que se dar apenas no
contexto do processo de libertao , mas sim o YHWH dos Exrcitos, o guardio de
Jerusalm que agora havia sido derrotado. O povo exilado no havia conhecido o Deus dos
oprimidos, e por isso, no soube resistir opresso que sofria, perdera o motivo de sua
esperana e de sua segurana. A sua tradio cantava as glrias de um Deus poderoso e
vingativo, e proclamava Israel como o povo escolhido e eleito, sobre o qual no poderia cair
nenhuma maldio. Nisto est uma importante temtica do discurso de muitos profetas
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anteriores ao exlio, como Ams, Osias e mesmo o Primeiro Isaas: denunciavam a falsa
segurana de Israel, que sob o ttulo de povo eleito, distanciavam-se de seu Deus sem
preocupar-se com as consequncias. Com o choque do exlio, Israel sentiu-se abandonado
pelo Senhor, como lembrar o Dutero-Isaas: Sio dizia: Iahweh me abandonou; o
Senhor se esqueceu de mim (Is 49, 14). Noli Bernardo Hahn, em Vozes profticas em
Dutero-Isaas (2009), assinala outro importante detalhe: toda a situao de sofrimento e
falta de esperana era ainda agravada pelo fato de que estas pessoas se encontram
marcadas por um sentimento de culpa motivado por uma compreenso retributiva:
estamos vivendo esta situao no presente, porque fizemos aquilo no passado! (HAHN,
2009, p. 31).
medida que chegam Babilnia as notcias sobre a ascenso do Imprio Persa e
sobre como as naes sucumbem ao seu poder, um profeta surge entre os exilados,
anunciando uma nova esperana de libertao. YHWH se lembrou novamente de seu povo,
e o retirar do cativeiro atravs de seu enviado: Ciro, rei da Prsia.
O PROFETA DA ESPERANA: O DUTERO-ISAAS
O livro de Isaas, durante muito tempo, foi entendido pelos pesquisadores bblicos
como sendo obra de um nico autor, apesar das diferenas histricas, teolgicas e literrias
significativas que apresenta. Somente no ano de 1788 h a primeira tentativa de dividir a
obra reunida sob o nome de Isaas, um primeiro sinal do reconhecimento dos traos que
caracterizam e distinguem de forma clara a composio do livro pelas mos de vrios
profetas de pocas e contextos histricos diferentes. Jos Lus Sicre, em Profetismo em
Israel (2008) descreve a histria desta discusso:
Na investigao crtica do livro de Isaas h duas datas-chave: 1788, quando Dderlein comea a falar do Dutero-Isaas, profeta annimo do exlio, ao qual atribui os c. 40-66, e 1892, ano em que Duhm publica seu comentrio ao livro de Isaas e rompe a suposta unidade dos c. 40-66, atribuindo-os a dois autores diferentes: 40-55 ao Dutero-Isaas, 56-66 ao Trito-Isaas. Desde ento, habitual dividir o livro em trs grandes blocos: Proto-Isaas ou Isaas I (c. 1-39), Dutero-Isaas ou Isaas II (c. 40-55), Trito-Isaas ou Isaas III (c. 56-66) (SICRE, 2008, p. 183).
De acordo com seus traos teolgicos, histricos e literrios, pode-se afirmar que o
livro de Dutero-Isaas (cc. 40-55) tem sua origem nos anos finais do exlio na Babilnia.
Estes captulos retratam, alm da falta de esperana do povo, que sente-se abandonado e
esquecido por seu Deus, tambm o chamado a uma nova esperana e o anseio pela
libertao. Tudo isso motivado pelas notcias sobre o advento de Ciro e a derrota iminente
de Nabnides. O Dutero-Isaas, portanto, foi obra de um profeta cujo nome no se
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conhece, mas que levantou-se em meio desesperana de seu povo para anunciar a
libertao e a consolao (naam) para Israel. Nada do que se tem dito a respeito de sua
biografia totalmente seguro, mas provvel que tenha nascido na Babilnia e estado na
corte do rei Ciro.
Esta segunda parte do livro de Isaas tambm conhecida como Livro da
Consolao de Israel, pelas suas palavras iniciais (cf. Is 40,1) e tambm pelo fato de que o
tema da consolao voltar a ressoar dentre os demais orculos do profeta. Reconhecido
como um dos maiores poetas dentre o conjunto proftico da Bblia Hebraica, sua
mensagem proclamou a glria de um rei estrangeiro enquanto seu povo ainda era escravo
na Babilnia opressora. Por isso, seus escritos ocultaram no somente a identidade do
profeta, como tambm o nome de Ciro, o libertador. Desta forma, seus textos e sua
mensagem circularam livremente entre os judeus sob os olhos dos guardas de Nabnides.
Segundo os pesquisadores, os folhetos de Dutero-Isaas foram comuns por cerca de 7
anos entre os judeus exilados, sem serem percebidos pelo governo babilnico. Assim, nos
cc. 40-43, Ciro permanece annimo, e somente em 44,28 e 45,1, quando provavelmente, j
havia chegado Babilnia, que poder ser nomeado, caracterizado como o enviado de
YHWH para libertar e salvar do cativeiro. Neste contexto, a figura de Ciro merece especial
ateno. Esperado como libertador do povo, ele torna-se o maior no judeu reverenciado
pelos profetas. O nico a receber o ttulo de mesha, termo que na Bblia Hebraica fora
utilizado no s para designar reis e sacerdotes, ungidos e escolhidos para governar o povo,
que eram muitas vezes considerados salvadores histricos, como tambm para indicar o
Messias, o libertador universal e escatolgico.
S VSPERAS DA LIBERTAO: O ANNCIO DO NOVO XODO
Para a tradio de Israel, rememorar o passado fundamental para que se tenha
fora para enfrentar os desafios presentes e futuros. Neste contexto, o Dutero-Isaas
retomar o episdio do xodo do Egito para demonstrar que, em outros tempos, quando a
nao de YHWH fora feita escrava no Egito, Ele esteve ao seu lado com mo forte e brao
estendido, e a retirou da escravido por entre prodgios e sinais, para que, uma vez liberta
da opresso, pudesse caminhar pelo deserto e consolidar com o Senhor uma aliana
indissolvel. O profeta, em nome de YHWH, recordar ao povo sofredor do Exlio esta
aliana, mostrando que Deus, fiel e compassivo, a honrar, resgatando seu povo mais uma
vez e o reconduzindo sua terra.
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Embora a ascenso de Ciro e a derrota iminente da Babilnia tenham sido o
momento oportuno para que Dutero-Isaas assumisse essa releitura do passado, Bright
destaca que toda a mensagem do profeta depende da ideia que ele mesmo faz de Deus:
Foi ele, realmente, quem deu ao monotesmo sempre implcito na religio de Israel sua expresso mais clara e mais consistente. Ele retratou Iahweh como um Deus de incomparvel poder: criador de todas as coisas sem auxlio ou intermdio, senhor das hostes celestes e das foras da natureza, nenhum poder terrestre lhe poderia resistir e nenhuma semelhana poderia represent-lo (40,12-26). Ele tambm satirizou com ironia selvagem os deuses pagos (44,9-20), chamando-lhes pedaos de madeira e de metal (40,19ss; 46,5-7), que nada podiam fazer na histria porque nada eram (41,21-24). Iahweh o primeiro e o ltimo, o nico Deus, ao lado do qual nenhum outro existe (44,6; 45,18.22; 46,9) (BRIGHT, 2010, p. 425).
Desta forma, o profeta do Dutero-Isaas contribuiu para a consolidao da f
monotesta de Israel. O poder de YHWH ilimitado e universal, ele tem controle absoluto
sobre tudo. Neste contexto, Ciro s pode ser concebido como um instrumento inconsciente
da vontade de YHWH, pois o Senhor mesmo quem libertar. Nisto est a resposta a um
problema teolgico surgido nesta poca.
Diante de toda a esperana depositada em Ciro, acontece um impasse. Quando
Babilnia cair sob o domnio persa e Israel for liberto, a quem se dever atribuir tal
triunfo? A YHWH, que segundo os orculos profticos havia suscitado a liderana de Ciro,
ou a Marduk, deus babilnico a quem ele mesmo prestava culto? De fato, um texto antigo
encontrado num cilindro de argila, atesta a reverncia com a qual Ciro se dirigia a Marduk,
atribuindo a ele sua vitria:
Ele [Marduk] o fez entrar em Babilnia sem batalha nem combate; ele livrou sua cidade de Babilnia da opresso, entregou em suas mos Nabnides, rei que no o temia (...). Eu, Ciro, rei do universo (...) quando entrei pacificamente em Babilnia, estabeleci na alegria e no jbilo a sede da soberania no palcio do prncipe. Em mim, Marduk, o grande senhor, adquiriu um corao largo que ama Babilnia (...). Quanto aos cidados de Babilnia... que, contrariamente vontade divina, tinham sido submetidos a um jugo que no era para eles, eu os fiz repousar de sua fadiga e mandei tirar suas amarras de carregadores. (...) Restitu aos seus lugares os deuses que neles tinham habitado e fiz esses deuses residir em moradas perptuas; reuni todos os seus seguidores e os reenviei para seus lugares (VV. AA., 1985, p. 91).
No entanto, a vitria apresentada pelo Dutero-Isaas de YHWH, no de Ciro. Isso
porque o Senhor quem conduz a histria e utilizou-se de Ciro como mero instrumento.
Da mesma forma como no xodo do Egito, quando Moiss foi instrumento e Deus o autor
da faanha. O profeta em resposta, alm de exaltar a glria de YHWH, tambm levanta a
voz contra os dolos e deuses pagos (cf. 40,12-26; 41,21-29; 44,5-20; 46,1-7). A libertao
que o Senhor prepara uma libertao autntica e universal, que ultrapassa a libertao
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histrica do cativeiro. Como afirma Alonso Schkel e Jos Lus Sicre Diaz, em Profetas I
(2004):
A sua profecia transborda os fatos limitados, porque exprime em smbolos esplndidos a glria do novo xodo; os smbolos acolhem a realidade prxima, ultrapassando-a; porque apontam para uma realidade superior, suprema, que ser a libertao autntica, libertao que as outras apenas preparam e prefiguram (SCHKEL, 2004, p. 272).
Particularmente nos trechos correspondentes aos cnticos do servo (a saber 42,1-9;
49,1-7; 50,4-11; 52,13-53,12), o livro de Isaas traz uma novidade teolgica sem precedentes
na Bblia Hebraica, que o valor dado ao sofrimento. Israel no reconhecia positivamente
nenhum sentido religioso no sofrimento da forma como hoje o Cristianismo concebe.
Talvez porque, como j assinalado, a tradio israelita no tenha conhecido, at a poca do
exlio babilnico, um Deus dos pobres, dos oprimidos, um Deus libertador.
Nestes cnticos atingimos um dos auges teolgicos do Antigo Testamento. Nunca at ento se havia falado to claramente do valor redentor do sofrimento. Admitiam-se as dificuldades e contrariedades da vida encontrando nelas um sentido educativo, pedaggico, tencionado por Deus. Mas no se podia imaginar que o sofrimento tivesse um valor redentor em si mesmo. O Dutero-Isaas proclama pela primeira vez que se o gro de trigo cair na terra e morrer, produz muito fruto. No h nada de estranho em a Igreja primeva conceder to grande valor a estes poemas e ver antecipados neles a existncia e o destino de Jesus (SICRE, 2008, p. 313).
A partir deste momento, no entanto, Israel entender o valor redentor do
sofrimento, fato que se atesta pelos cnticos do Servo em Dutero-Isaas, que muito
provavelmente identificam o povo a este Servo Sofredor. Tal compreenso no alcanar,
no entanto, o patamar que alcanou no Cristianismo, que reconheceu no sofrimento e na
paixo de Jesus Cristo a redeno de toda a humanidade, possibilitando uma releitura
cristolgica destes cnticos hebraicos.
O FIM DO EXLIO NA BABILNIA
Cobertos de vergonha recuaro, aqueles que confiam em dolos,
que dizem s suas imagens fundidas: vs sois os nossos deuses. (Is 42,17)
Quando as tropas de Ciro chegaram ao territrio babilnico, no encontraram
grande resistncia. Nabnides foi derrotado com facilidade. A vitria parecia j evidente
para todos, inclusive para o Dutero-Isaas. Como assinalado, as terras ao norte e leste da
Babilnia haviam cado sob o domnio persa, Ciro havia conquistado no somente terras,
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mas tambm aliados e Nabnides j no era mais apoiado por grande parte de seu povo
por questes internas. Houve uma batalha decisiva em Opis, na regio do Tigre, na qual o
exrcito babilnico foi duramente derrotado pelos persas. Gobrias, governador da
provncia de Elam que havia se tornado aliado de Ciro, foi quem tomou a Babilnia sem
qualquer resistncia, aps a batalha em Opis. Em 539, Ciro entrou triunfalmente na
Babilnia, recebido por todos como libertador, o que se atesta no s nas narrativas persas,
mas tambm babilnicas. E como a marca de seu governo, Ciro procedeu da mesma forma
como nas demais naes conquistadas: com tolerncia religiosa. Bright, neste sentido,
destaca:
Nem a Babilnia nem nenhuma outra cidade foram danificadas. Os soldados persas receberam ordens de respeitar a sensibilidade religiosa da populao e evitar aterrorizar as pessoas. As condies opressivas foram melhoradas. Os deuses levados para a capital por Nabnides foram devolvidos a seus santurios e as duvidosas inovaes daquele rei foram abolidas. A adorao de Marduk continuou e o prprio Ciro dela participava publicamente. Apertando a mo de Marduk, Ciro estava realmente proclamando que reinava como rei legtimo da Babilnia, por designao divina. E colocou seu filho Cambises como seu representante pessoal na Babilnia (BRIGHT, 2003, p. 432).
O triunfo de Ciro, que j havia sido predito, de forma velada, pelos folhetos de
Dutero-Isaas que circulavam entre os judeus, foi motivo de alegria pela libertao
iminente e tambm de converso para os que se mantiveram infiis a YHWH durante o
exlio. Steinmann destaca que, a partir de agora, finalmente, o profeta vai poder tirar a
mscara e nomear Ciro, num orculo suntuoso (STEINMANN, 1976, p. 162). Assim, o
orculo de Is 44,24-28 o primeiro a apresentar o nome de Ciro dentre os escritos desta
segunda parte de Isaas, destacando que YHWH o verdadeiro Senhor em vrios mbitos:
no cosmos, na histria e tambm na palavra, cumprindo promessas e dando ordens
eficazes.
Esdras contar em dois relatos (1,2-4 e 6,3-5) o decreto que Ciro publicou no
decorrer de seu primeiro ano como rei da Babilnia, ordenando a reconstruo do Templo
de Jerusalm e a restituio de todos os tesouros dele saqueados pela ocasio da tomada
da cidade por Nabucodonosor. O mesmo decreto foi encontrado nos arquivos de Ecbtana
num pergaminho escrito em aramaico, atestando a veracidade de tal relato. Com o decreto,
estava consolidado o fim do exlio e a terica liberdade de Israel.
O apoio e o interesse de Ciro pela reconstruo de Jerusalm a partir do Templo so
apenas mais um retrato da poltica persa. No se sabe, no entanto, como o caso dos judeus
tornou-se para ele conhecido e importante to rapidamente. Fato que Ciro agia
exatamente de acordo com seus princpios.
Ciro foi um dos governantes realmente de viso dos tempos antigos. Em vez de esmagar o sentimento nacional com brutalidade e deportaes, como faziam os assrios, seu intento era permitir que os povos sujeitados, tanto quanto possvel, gozassem de autonomia
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cultural dentro da estrutura do imprio. Embora ele e seus sucessores mantivessem um firme controle por meio de uma complexa burocracia a maior parte dos oficiais eram persas ou medos , de seu exrcito e de um eficiente sistema de comunicaes, o seu governo no era violento. Pelo contrrio, eles preferiam respeitar os costumes de seus sditos, protegendo e promovendo seus cultos tradicionais e, quando possvel, dando responsabilidades aos prncipes nativos. A atitude de Ciro diante da Babilnia seguiu exatamente essa orientao (BRIGHT, 2003, p. 433).
Assim, Ciro ganhava o apoio da populao Israel sonhava com a reconstruo de sua
terra, com o retorno de sua religio e com o restabelecimento da linhagem davdica, e essa
seria sua vantagem no acordo com os persas. O interesse na aliana com a Prsia, no
entanto, no era somente por parte dos judeus. Como afirma Mercedes Lopes em Jud sob
o domnio Persa (2008):
Diferentes expectativas e perspectivas podem ser encontradas nesta aliana: da parte do Imprio Persa, h um interesse estratgico de que a nova provncia funcione como guarda-fronteiras e, ao mesmo tempo, como caminho aberto para o Egito; da parte do povo judata, visualiza-se um sonho de continuar fazendo histria, resgatando a dinastia davdica (LOPES, 2008, p. 109).
Com Jud sob seu domnio e com os judeus aliados a Ciro, a Prsia podia contar
com a garantia do pagamento de tributos e tambm com um territrio estratgico para o
ataque aos egpcios e tambm de proteo contra as tentativas de invaso destes ltimos.
O processo de reconstruo de Jud no foi simples, pelo contrrio. O acordo com a
Prsia foi rompido e retomado, os interesses divergiam, os problemas com os samaritanos
interrompiam a construo e aos poucos, Israel se percebeu sob um novo dominador,
agora, o Imprio Persa4. Norman Gottwald, em sua Introduo Socioliterria Bblia
Hebraica (1988), afirma que
evidente que a restaurao colonial de Jud prosseguia de maneira vagarosa e por aumentos, em parte porque os persas estavam envolvidos em projetos sobre o vasto imprio e em parte porque confiavam na liderana de Jud para a restaurao da comunidade. Embora os persas proporcionassem segurana militar global e recursos fsicos em certa quantidade, levou muito tempo para reconstruir a estrutura socioeconmica enfraquecida de Jud. (...) As alternativas religioso-culturais concorrentes do javismo samaritano e judata entrelaavam-se, por sua vez, com rivalidades socioeconmicas e polticas (GOTTWALD, 1988, p. 403).
Em contraste com a glria de Ciro no Dutero-Isaas, Ageu e Zacarias levantaro a
voz mais tarde, contra o imprio persa, cujo domnio se estendeu at os anos finais de sua
glria, quando em 332, Alexandre, o Grande, dominou a Palestina e submeteu o Imprio
Persa, dando incio ao poderio grego sobre aquela regio.
4 Este perodo no objeto deste estudo, no entanto, um esclarecimento sobre a situao de Israel neste tempo de submisso ao Imprio Persa pode ser encontrada com riqueza de detalhes em: GERSTENBERGER, Erhard S. Israel no tempo dos persas: sculos V e IV antes de Cristo. So Paulo: Edies Loyola, 2014.
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CONCLUSO
cus, dai gritos de alegria, terra, regozija-te, os montes rompam em alegres cantos,
pois YHWH consolou o seu povo, ele se compadece dos seus aflitos. (Is 49,13)
A Prsia constituiu-se como o primeiro grande Imprio que a histria mundial
conheceu. Sua extenso pode ser estimada em mais de cinco mil quilmetros de leste a
oeste, e entre mil e trs mil quilmetros de norte a sul. Cerca de 30% da populao
mundial habitava regies de domnio persa. O auge de sua hegemonia se deu sob o reinado
de Ciro, o Grande, rei tolerante, de uma viso poltica expansionista sem precedentes, que
soube fazer-se aclamado pelos povos que conquistava. Quando Ciro morreu por volta de
530 a.C., a Prsia havia anexado vrios territrios, dominado vrias naes, executado
diversas construes e j contava com trs importantes capitais: Susa, Ecbtana e
Babilnia. Ciro foi sepultado na cidade de Pasrgada, de onde vinha a tribo que lhe deu
origem, num tmulo quase sem adornos, que conserva-se at os tempos atuais e espelha
traos de sua personalidade: imponncia, poder e simplicidade.
Pode-se concluir, a partir das indicaes deste estudo, o valor do perodo persa para
a histria de Israel como povo e tambm para a consolidao do Judasmo como a religio
praticada hoje. Por um lado, a partir do incentivo financeiro e do apoio persa que foi
possvel restaurar a religio, o culto e a cidade de Jerusalm aps o retorno do exlio
babilnico, ainda que, como se sabe, por motivos diversos, no tenha sido possvel
restaur-la por inteiro, da forma como era praticada pelos israelitas, antes da tomada de
Jerusalm por Nabucodonosor, em 597. Tambm neste perodo foi possvel concluir as
redaes dos diversos livros iniciados no exlio, ou mesmo j na Palestina, registrando a
memria e a tradio do povo judeu e possibilitando a perpetuao de sua cultura atravs
das geraes. Organizados pouco a pouco, os livros a partir de ento redigidos, originaram
o conjunto da Bblia Hebraica. Tambm o perodo da dominao persa possibilitou o
contato desta cultura com o Judasmo, que, nascente como religio sistematizada, acabou
incorporando s suas concepes, muitos dos ideais persas, como sua demonologia e suas
ideias escatolgicas5.
A poca do exlio babilnico e da sua libertao constituiu um marco para o povo
judeu, paralelo ao episdio do xodo do Egito. O fim do cativeiro foi um perodo de forte
releitura do passado e de redescoberta da verdadeira face libertadora de YHWH. Do ponto
de vista teolgico, este um dos pontos chave na Bblia Hebraica para a compreenso da
5 Um maior detalhamento do assunto pode-se encontrar em: SOARES, Dionsio Oliveira. As influncias persas no chamado judasmo ps-exlico. Revista Theos, Campinas, v. 5, n. 2, dez. 2009.
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origem da valorizao do sofrimento como situao de encontro com Deus, que ouve o
clamor de seu povo, que jamais se esquece de sua aliana, que v a opresso e que vem
salvar e libertar. Tambm o Cristianismo deve importncia a este tempo, pois nele esto
contextualizados os principais escritos hebraicos nos quais hoje, numa linha de
interpretao cristolgica dos Profetas, possvel identificar a prefigurao das
caractersticas de Cristo, numa aproximao de Jesus ao Servo de YHWH que descrito
pelo Dutero-Isaas.
ABSTRACT The present study discusses about Israel situation on final years of Babylon exile and the initial period of Persian domination. The Persia rise and the way how Cyrus, the Great, conquered Babylon, contributed to Israels recognition of him as an envoy of YHWH. The victory of the Persians over the Babylonians could be achieved not only due to the military power of the rising empire, but also because consecutive internal problems in Babylon damaged the unit. In the light of the biblical texts of the Deutero-Isaiah, the work of an anonymous prophet whose activity is located in the final years of exile, we can understand this significant time for the Israel history. Compared to the end of the Egypt captivity, the leaving from Babylon can be understood as a new Exodus. The religious tolerance policy adopted by Persia allowed the return of the Jews to their land and the attempt to rebuild their religion. Such events, located in VI B.C, are of great importance for the understanding of Jewish tradition and the consolidation of Judaism as the religion that today can be known. Key words: Judaism. Exile. Deutero-Isaiah. Cyrus. Persia.
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