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Exercício 1. Dentre as sugestões que Bilac extraiu dos parnasianos franceses, destaca-se o princípio da objetividade constru- tiva, que implica a idéia de que a poesia resulta antes do esforço de composição do que da inspiração. Esse esforço pressupõe a tentativa de aplicar à poesia certos princípios da pintura e da arquitetura, tal como se observa no soneto “A Um Poeta”, de Tarde, editado em 1919, logo após a morte do poeta. Assinale a melhor alternativa sobre o seu sentido. Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua, Rica mas sóbria, como um templo grego. Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E, natural, o efeito agrade, Sem lembrar os andaimes do edifício: Porque a Beleza, gêmea da Verdade, Arte pura, inimiga do artifício, É a força e a graça na simplicidade. a) Texto sobre desenho: o frade Beneditino deve desenhar com equilíbrio e perfeição, tal como fizeram os gregos, que atingiram a Beleza e a Verdade em seus edifícios. b) Texto metalingüístico: o objetivo da arte é a Beleza e a Verdade, que são efeitos produzidos pelo texto eficiente, aquele que esconde o esforço técnico do artista (= arti- fício). ALFA-5 850750509 149 ANGLO VESTIBULARES Aula 35 PARNASIANISMO E SIMBOLISMO setor 1522 15220509 15220509-SP PARNASIANISMO CARACTERÍSTICAS OLAVO BILAC (1865-1918) Oposição ao Romantismo: objetividade OBRA POÉTICA impassibilidade Poesias, 1888 • Descritivismo Tarde, 1919 • Plasticidade: poesia-pintura TEMÁTICA poesia-escultura A poesia: metalinguagem Linguagem elegante e esmerada A mulher e o amor (erotismo) Formalismo: rigor e perfeição formal Assuntos greco-romanos Esteticismo: Arte pela Arte Assuntos cívicos e patrióticos • Universalismo: Tradição clássica (forma e conteúdo) Exotismo (orientalismo) ESTILO Face ortodoxa: Parnasianismo Face heterodoxa: forma parnasiana conteúdo neo-romântico Alberto de Oliveira Raimundo Correia

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Page 1: PORT 1522 - CD 5 (1)

Exercício1. Dentre as sugestões que Bilac extraiu dos parnasianos

franceses, destaca-se o princípio da objetividade constru-tiva, que implica a idéia de que a poesia resulta antes doesforço de composição do que da inspiração. Esse esforçopressupõe a tentativa de aplicar à poesia certos princípios dapintura e da arquitetura, tal como se observa no soneto “AUm Poeta”, de Tarde, editado em 1919, logo após a mortedo poeta. Assinale a melhor alternativa sobre o seu sentido.

Longe do estéril turbilhão da rua,Beneditino, escreve! No aconchegoDo claustro, na paciência e no sossego,Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o empregoDo esforço; e a trama viva se construa

De tal modo, que a imagem fique nua,Rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplícioDo mestre. E, natural, o efeito agrade,Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade,Arte pura, inimiga do artifício,É a força e a graça na simplicidade.

a) Texto sobre desenho: o frade Beneditino deve desenharcom equilíbrio e perfeição, tal como fizeram os gregos,que atingiram a Beleza e a Verdade em seus edifícios.

b) Texto metalingüístico: o objetivo da arte é a Beleza e aVerdade, que são efeitos produzidos pelo texto eficiente,aquele que esconde o esforço técnico do artista (= arti-fício).

ALFA-5 ★ 850750509 149 ANGLO VESTIBULARES

Aula 35PARNASIANISMO E SIMBOLISMO

setor 152215220509

15220509-SP

PARNASIANISMO

CARACTERÍSTICAS OLAVO BILAC (1865-1918)• Oposição ao Romantismo:

✓ objetividade OBRA POÉTICA✓ impassibilidade • Poesias, 1888

• Descritivismo • Tarde, 1919• Plasticidade:

✓ poesia-pintura TEMÁTICA✓ poesia-escultura • A poesia: metalinguagem

• Linguagem elegante e esmerada • A mulher e o amor (erotismo)• Formalismo: rigor e perfeição formal • Assuntos greco-romanos• Esteticismo: Arte pela Arte • Assuntos cívicos e patrióticos• Universalismo:

✓ Tradição clássica (forma e conteúdo)✓ Exotismo (orientalismo)

ESTILO• Face ortodoxa: Parnasianismo• Face heterodoxa:

✓ forma parnasiana

✓ conteúdo neo-romântico

Alberto de Oliveira Raimundo Correia

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c) Metalinguagem: ao falar do templo grego, o poeta pretende insinuar que a Beleza e a Verdade decorrem da simplicidade deinspiração (= inimiga do artifício), de onde nasce a força universal dos clássicos.

d) Texto metalingüístico: proposta de volta aos padrões clássicos de Beleza, que se assemelham à crença de um frade Beneditinoem seu esforço religioso.

e) Metalinguagem: fusão de literatura, arte plástica e liturgia (= frade Beneditino), todas dependem do esforço para aobtenção da Beleza, que é gêmea da verdade e inimiga do artifício.

ALFA-5 ★ 850750509 150 ANGLO VESTIBULARES

SIMBOLISMO

NOÇÕES FUNDAMENTAIS• Arte = sugestão• Palavra = símbolo das coisas• Coisas = mistério• Poesia = expressão do mistério = dizer o indizível• Senso de efemeridade: ser é não-ser

ATITUDES GERAIS• Anseio de Absoluto: espiritualismo• Escapismo: sonho; loucura; morte• Ilogismo

ESTILO• Expressões vagas e insólitas• Versos nominais• Reticências• Iniciais maiúsculas (universalismo)• Parataxe (sintaxe de coordenação)• Sensorialismo:

✓ Musicalidade (aliterações e assonâncias)✓ Cromatismo✓ Sinestesias (mistura de sensações)

PORTUGAL• Eugênio de Castro: Oaristos, 1890• Antônio Nobre: Só, 1892• Camilo Pessanha: Clepsidra, 1920

BRASIL• Cruz e Sousa (1861-1898)

✓ Missal e Broquéis, 1893✓ Faróis, 1900✓ Últimos sonetos, 1905

• Alphonsus de Guimaraens (1870-1921)✓ Dona mística, 1899✓ Setenário das dores de Nossa Senhora, 1899✓ Kyriale, 1902✓ Pastoral aos crentes do amor e da morte, 1923

Cruz e Souza

Exercícios2. Leia as seguintes estrofes de “Antífona”, de Cruz e Sousa,

observe as asserções e assinale a alternativa correta:Ó Formas alvas, brancas, Formas clarasDe luares, de neves, de neblinas!...Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...Incensos dos turíbulos das aras. [...]Indefiníveis músicas supremas,Harmonias da Cor e do Perfume...Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...[...]Infinitos espíritos dispersos,Inefáveis, edênicos, aéreos,Fecundai o Mistério destes versosCom a chama ideal de todos os mistérios.

Tudo! Vivo e nervoso e quente e forte,Nos turbilhões quiméricos do Sonho,Passe, cantando, ante o perfil medonhoE o tropel cabalístico da Morte...

I. O poema propõe uma poesia baseada na sugestão, namusicalidade e na abstração. Ao abandonar a precisão re-ferencial do Parnasianismo, a poética simbolista volta-separa o ideal da insinuação, da alusão onírica de realidadesmais próprias do sujeito que do objeto. Mallarmé dirá,em franca oposição à prática parnasiana: “sugerir, eis osonho”.

II. A poética simbolista implica o culto do mistério, do sonhoe da crença nas forças inconscientes da imaginação,representadas no signo verbal por meio da musicalidade,que se obtém por rigorosa construção de poemas quedesencadeiam efeitos de sensorialidade musical, como sepercebe no verso “Horas do Ocaso, trêmulas, extremas”.

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III. “Antífona” está para o Simbolismo brasileiro assim co-mo “Profissão de Fé” está para o Parnasianismo, poisambos os poemas funcionam como manifestos dasrespectivas estéticas. “Antífona”, sendo uma propostaliterária, está no primeiro livro simbolista de Cruz eSousa: Faróis.

a) Todas estão corretas.b) Todas estão incorretas.c) Somente I e III estão corretas.d) Somente I e II estão corretas.e) Somente II e III estão corretas.

3. Observe o verso de Alphonsus de Guimaraens: “Ó sonoraaudição colorida do aroma”. Nele, observa-se um procedi-mento típico do Simbolismo, que consiste na fusão dossentidos por meio de uma só expressão verbal. O procedi-mento ocorre também no verso “Harmonias da Cor e doPerfume”, lido em “Antífona”. Trata-se de:

a) Sinestesia. d) Eco.b) Assonância. e) Metonímia.c) Aliteração.

• Faça os exercícios 1 a 10, série 9.

• Faça os exercícios 1 a 5, 15 a 20, série 10.

• Leia o capítulo 9, Parnasianismo.

• Leia o capítulo 10, Simbolismo.

• Faça os exercícios 11 a 19, série 9.

• Faça os exercícios 6 a 14, 21 a 30, série 10.

Tarefa Complementar

Tarefa Mínima

� Livro 3Caderno de Exercícios — Unidade III

ORIENTAÇÃO DE ESTUDO

ALFA-5 ★ 850750509 151 ANGLO VESTIBULARES

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PRÉ-MODERNISMO (1902-1922)

SITUAÇÃO HISTÓRICA

• República Velha• Revoltas populares• “Belle Époque”• I Grande Guerra• Revolução Bolchevique

CARACTERÍSTICAS

• Materialismo cientificista• Visão crítica da realidade brasileira

ESTILO

• Prosa: permanência do Realismo e do Naturalismo• Poesia: mescla de Parnasianismo e Simbolismo• Experiências precursoras da linguagem modernista na poesia e na prosa.

EUCLIDES DA CUNHA (1866-1909)

OS SERTÕES, 1902EEssttrruuttuurraa ddeetteerrmmiinniissttaa::

• 1ª- parte: “A Terra” — meio• 2ª- parte: “O Homem” — raça• 3ª- parte: “A Luta” — momento

TTeemmááttiiccaa::• Os dois Brasis (litoral e sertão)• A Guerra de Canudos

Estilo: “Barroco científico”

LIMA BARRETO (1881-1922)TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, 1915• A vida suburbana

• O parasitismo da burocracia

• Incompetência, corrupção e hipocrisia depolíticos e do governo

• Mediocridade e autoritarismo dos militares

• Quixotismo patriótico

• Coloquialismo

ALFA-5 ★ 850750509 152 ANGLO VESTIBULARES

Aulas 36 a 38PRÉ-MODERNISMO: EUCLIDES DA CUNHA, LIMA BARRETO, MONTEIRO LOBATO E AUGUSTO DOS ANJOS

Os sertões (1902)Euclides da Cunha

Canaã (1902)Graça Aranha

Antônio Conselheiro

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Exercícios1. Leia o seguinte trecho de Os Sertões, observe as asserções

e assinale a alternativa correta.

Os menores vinham às costas dos soldados agarradosàs grenhas despenteadas há três meses daqueles valentesque havia meia hora ainda jogavam a vida nas trincheiras eali estavam, agora, resolvendo desastradamente, canhestrasamas-secas, o problema difícil de carregar uma criança. Umamegera1 assustadora, bruxa rebarbativa2 e magra — a ve-lha mais hedionda3 talvez destes sertões — a única que ale-vantava a cabeça espalhando sobre os espectadores, comofaúlhas4, olhares ameaçadores; e nervosa e agitante5, ágilapesar da idade, tendo sobre as espáduas de todo despidas,emaranhados, os cabelos brancos e cheios de terra, — rom-pia, em andar sacudido, pelos grupos miserandos, atraindo aatenção geral. Tinha nos braços finos uma menina, neta,bisneta, tataraneta talvez. E essa criança horrorizava. A suaface esquerda fora arrancada, havia tempos, por um esti-lhaço de granada; de sorte que os ossos dos maxilares sedestacavam alvíssimos, entre os bordos6 vermelhos da feri-da já cicatrizada... A face direita sorria. E era apavoranteaquele riso incompleto e dolorosíssimo aformoseando7 umaface e extinguindo-se repentinamente na outra, no vácuo deum gilvaz8.

Aquela velha carregava a criação mais monstruosa dacampanha9. Lá se foi com o seu andar agitante, de atáxica10,seguindo a extensa fila de infelizes...

Notas: 1. Mulher cruel, feia, imunda. 2. Que parece ter duas barbas, exces-sivo, repugnante. 3. Imunda, asquerosa. 4. Faísca, centelha. 5. Que agita, per-turbador. 6. Lado, face, borda. 7. Embelezando. 8. Golpe ou cicatriz no rosto.9. Guerra, expedição. 10. Sem coordenação motora.

I. Pelo contexto, trata-se de fragmento da terceira parte:“A Luta”, em que se narra propriamente a Guerra deCanudos. O trecho pertence aos momentos finais dolivro, em que desfilam os derrotados.

II. Em Os Sertões, há passagens dominadas por termostécnico-científicos, passagens com acúmulos de vocá-bulos do português erudito e passagens jornalísticas, emque a linguagem é bastante direta e não muito difícilpara os padrões da época. O trecho lido exemplifica essaterceira hipótese.

III. Ao acentuar os aspectos desagradáveis de uma vítimada guerra, o autor pretende denunciar os horrores dacampanha da República contra os sertanejos, e nãoapenas exibir vocação para o grotesco.

a) Todas estão corretas.b) Todas estão erradas.c) Somente I está correta.d) Somente II está correta.e) Somente I e III estão corretas.

ALFA-5 ★ 850750509 153 ANGLO VESTIBULARES

MONTEIRO LOBATO (1882-1948)

URUPÊS (1918), CIDADES MORTAS (1919)E NEGRINHA (1920)• Regionalismo• Decadência do Vale do Paraíba• O caipira (Jeca Tatu) e a vida cabocla• Cultura e crendices populares (folclore)• Humor/Ironia• Coloquialismo/Purismo lingüístico

AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914)EU, (1912)• Virtuosismo e experimentalismo• Expressionismo (o grotesco e o bizarro)• Materialismo e ateísmo• Temática metafísica e escatológica• Cientificismo• Pessimismo• Niilismo

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2. Leia o seguinte trecho de Triste Fim de Policarpo Quaresma,observe as asserções e assinale a alternativa correta.

Os militares estavam contentes, especialmente os pe-quenos, os alferes, os tenentes e os capitães. Para a maioriaa satisfação vinha da convicção de que iam estender a suaautoridade sobre o pelotão e a companhia, a todo esse re-banho de civis; mas, em outros muitos havia sentimentomais puro, desinteresse e sinceridade. Eram os adeptos des-se nefasto1 e hipócrita positivismo, um pedantismo tirânico,limitado e estreito, que justificava todas as violências, todosos assassínios, todas as ferocidades em nome da manuten-ção da ordem, condição necessária, lá diz ele, ao progresso etambém ao advento do regime normal, religião da humani-dade, a adoração do grão-fetiche2, com fanhosas músicas decornetins e versos detestáveis, o paraíso, enfim, com inscri-ções em escritura fonética e eleitos calçados com sapatos desola de borracha!...

Os positivistas discutiam e citavam teoremas de mecâ-nica para justificar as suas idéias de governo, em tudo seme-lhantes aos canatos3 e emirados4 orientais.

A matemática do positivismo foi sempre um puro fala-tório que, naqueles tempos, amedrontava toda a gente. Ha-via mesmo quem estivesse convencido que a matemáticatinha sido feita e criada para o positivismo, como se a Bíbliativesse sido criada unicamente para a Igreja Católica e nãotambém para a Anglicana. O prestígio dele era, portanto,enorme.

Notas: 1. Que causa mau, trágico, funesto, danoso. 2. Objeto ao qual seatribui poder sobrenatural; alusão a Augusto Comte, criador do positivismo,ou a seus representantes nas igrejas positivistas, a quem se prestava obediên-cia cega. 3. Território que pertence à jurisdição de um Khan, entre os tár-taros. 4. Território dirigido por um emir, entre os árabes.

I. O texto exemplifica a franqueza com que Lima Barretose confundia com seus narradores, expondo suas idéiassobre cultura, sociedade e política. Pode ser consideradouma interpolação panfletária na ficção propriamentedita, o que era incomum em seus romances.

II. Trata-se de uma sátira contra o exército, que fundavaseus princípios no positivismo. Havia nessa instituiçãoos aproveitadores do regime de exceção política (o au-toritarismo de Floriano Peixoto na época da Revoltada Armada), mas havia também os autênticos, que re-presentavam a facção respeitável do exército.

III. O texto alude com respeito à inscrição da bandeiranacional brasileira, desvinculando-a de sua origempositivista, mas não poupa o aspecto pseudo-científicodo positivismo.

a) Todas estão corretas.b) Todas estão incorretas.c) Somente I está correta.d) Somente I e III estão corretas.e) Somente I e II estão corretas.

Texto para a questão 3

UM HOMEM DE CONSCIÊNCIAChamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto

dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito

apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para JoãoTeodoro, a coisa de menos importância no mundo era JoãoTeodoro.

Nunca fora nada na vida nem admitia a hipótese de vir a seralguma coisa. E por muito tempo não quis nem sequer o quetodos ali queriam: mudar-se para terra melhor.

Mas João Teodoro acompanhava com aperto de coração odeperecimento visível de sua Itaoca.

Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve trêsmédicos bem bons — agora só um e bem ruinzote. Já teveseis advogados e hoje mal dá serviço para um rábula ordináriocomo o Tenório. Nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. Agente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, aminha Itaoca está se acabando…

João Teodoro entrou a incubar a idéia de também mudar-se, mas para isso necessitava dum fato qualquer que oconvencesse de maneira absoluta de que Itaoca não tinha maisconserto ou arranjo possível.

— É isso, deliberou lá por dentro. Quando eu verificarque tudo está perdido, que Itaoca não vale mais nada de nadade nada, então eu arrumo a trouxa e boto-me fora daqui.

Um dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de JoãoTeodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia comose fosse uma porretada no crânio. Delegado ele! Ele que nãoera nada, nunca fora nada, não queria ser nada, não se julgavacapaz de nada…

Ser delegado numa cidadezinha daquelas é coisa serís-sima. Não há cargo mais importante. É homem que prende osoutros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falarcom o governo. Uma coisa colossal ser delegado — e estavaele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!…

João Teodoro caiu em meditação profunda. Passou anoite em claro, pensando e arrumando as malas. Pela madru-gada botou-os num burro, montou no seu cavalo magro epartiu.

— Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assimde armas e bagagens?

— Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei queItaoca chegou mesmo ao fim.

— Mas, como? Agora que você está delegado?— Justamente por isso. Terra em que João Teodoro che-

ga a delegado, eu não moro. Adeus.E sumiu.

(Lobato, Monteiro. Cidades Mortas. São Paulo, Editora Brasiliense, 2004, 26ª- edição, pp. 167-8)

3. (Ibmec) Este texto de Lobato é legítimo representante doPré-Modernismo brasileiro por:a) ir ao encontro das idéias parnasianas, principalmente

no que se refere à estrutura formal e temática, daí tre-chos descritivos tão intensos.

b) trazer, nas entrelinhas, a denúncia do escândalo do pe-tróleo junto às cidades do norte do Vale do Paraíba.

c) trabalhar uma linguagem subjetiva, carregada de figu-ras estilísticas que forçam a interpretação do leitor embusca das mensagens subliminares.

ALFA-5 ★ 850750509 154 ANGLO VESTIBULARES

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d) ser uma denúncia clara da realidade brasileira e do des-caso das autoridades em relação às cidades do nortepaulista do Vale do Paraíba que o autor assim caracte-riza: “onde tudo foi e nada é. Não se conjugam verbosno presente. Tudo é pretérito. (…) cidades moribun-das arrastam um viver decrépito, gasto em chorar namesquinhez de hoje as saudosas grandezas de dantes”.

e) apresentar diálogos objetivos que obedecem à normaculta da língua portuguesa e reforçam a criação detipos humanos marginalizados — já que João Teodoro,mudando de cidade, passa a ser Jeca Tatu.

4. Leia o soneto de Augusto dos Anjos, observe as asserçõese assinale a alternativa correta.

Psicologia de um Vencido

Eu, filho do carbono1 e do amoníaco2,Monstro de escuridão e rutilância3,Sofro, desde a epigênesis4 da infância,A influência má dos signos do zodíaco5.

Profundissimamente hipocondríaco6,Este ambiente me causa repugnância...Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsiaQue se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —Que o sangue podre das carnificinas7

Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,E há de deixar-me apenas os cabelos,Na frialdade inorgânica da terra.

Notas: 1. Um dos principais constituintes da matéria orgânica. 2. Gás que seencontra nas matérias em decomposição. 3. Brilho. 4. Teoria da geração dosseres por estágios graduais. No texto, pode significar apenas origem. 5. Zonada esfera celeste dividida ao meio pela elíptica e que contém as dozeconstelações, representadas por animais, que o Sol parece percorrer duranteum ano. Conjunto dos signos que compõe uma carta astrológica. 6. Melan-cólico, doentio. 7. Grande quantidade de corpos mortos; matança.

I. O poema contém os elementos centrais da poética deAugusto dos Anjos, que, basicamente, se funda naadoção pessoal do vocabulário científico para produziro efeito poético de angústia existencial diante da ine-xorabilidade das leis da natureza.

II. Os quartetos caracterizam-se pela adoção de vocábulosdominantemente coloquiais, em contraste evidente comos tercetos, em que se acentua a preferência por termostécnico-científicos.

III. No segundo quarteto, demonstra-se o princípio de queum verso decassílabo necessariamente requer diversosvocábulos, processo em que o poeta demonstra grandevirtuosismo técnico.

a) Todas estão corretas.b) Todas estão incorretas.c) Somente I e II estão corretas. d) Somente I está correta.e) Somente I e III estão corretas.

• Leia o capítulo 11 — Pré-Modernismo —, do início até os itensrelativos a Lima Barreto.

• Resolva os exercícios 1, 2, 3, 14, 17, 18 e 19, série 11.

• Leia, no capítulo 11, os itens relativos a Monteiro Lobato e Augustodos Anjos.

• Resolva os exercícios 5 a 11, série 11.

• Resolva os exercícios 12, 13, 16, 20 a 23, série 11.

• Resolva os exercícios 24 a 26, 32 a 34, série 11.

• Resolva os exercícios 27 a 30, 38 a 40, série 11.

• Resolva os exercícios 4, 15, 31, 35 a 37, série 11.

AULA 38

AULA 37

AULA 36

Tarefa Complementar

AULA 38

AULA 37

AULA 36

Tarefa Mínima

� Livro 3Caderno de Exercícios — Unidade III

ORIENTAÇÃO DE ESTUDO

ALFA-5 ★ 850750509 155 ANGLO VESTIBULARES

Page 8: PORT 1522 - CD 5 (1)

VANGUARDAS ARTÍSTICAS EUROPÉIAS

MODERNIDADE CUBISMO FUTURISMO

• Sociedade industrial

• Velocidade

• Fragmentação

• Simultaneísmo

• Pluriperspectivismo

• Primitivismo

• Irracionalismo (o inconsciente)

• Arte = deformação da realidade

EXPRESSIONISMO DADAÍSMO SURREALISMO

MODERNISMO EM PORTUGAL

• 1915, marco inicial do Modernismo lusitano: publicação da revista Orpheu. Daí deriva o vo-cábulo “orfismo”, com o significado de movimento modernista português.

• “Sensacionismo”, “paulismo” e “interseccionismo” são nomes que designam correntes desse movi-mento literário.

• Polêmica contra o saudosismo de Teixeira de Pascoaes, que predominava na literatura portu-guesa do início do século XX.

• Introdução de idéias e práticas artísticas das vanguardas, especialmente do futurismo: versolivre, coloquialismo, prosaísmo, paródia e demais noções associadas à idéia de modernidade.

• Autores e obras de destaque:✓ Fernando Pessoa (1888-1935): Obra completa.✓ Mário de Sá-Carneiro (1890-1916): Dispersão, 1914; A confissão de Lúcio, 1914; Céu em

fogo, 1915.✓ Almada Negreiros (1893-1970): Nome de guerra, 1938.

SEGUNDA GERAÇÃO TERCEIRA GERAÇÃO• 1927: Revista Presença • 1940: Neo-Realismo• Autor e obra destacados: • Autor e obra destacados:

✓ José Régio (1901-1969): Poemas de Deus e do Diabo, 1925 ✓ Alves Redol (1911-1969): Gaibéus, 1940

ALFA-5 ★ 850750509 156 ANGLO VESTIBULARES

Aula 39VANGUARDAS ARTÍSTICAS EUROPÉIAS E MODERNISMO EM PORTUGAL

Senhoritas de Avignon, Picasso Trem Armado, Severini

O Grito, Munch Fonte, Duchamp A Reprodução Proibida,Magritte

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Exercícios1. (ENEM-adaptada)

a) O autor da tira utilizou os princípios de composição de umconhecido movimento artístico para representar a ne-cessidade de um mesmo observador aprender a consi-derar, simultaneamente, diferentes pontos de vista. Iden-tifique esse movimento e cite os nomes de seus principaisrepresentantes.

No primeiro quadrinho da tira, Calvin começa a “ver osdois lados da questão” em tudo. No segundo, ele anun-cia que o “tradicional único ponto de vista foi aban-donado! A perspectiva foi fraturada”. Essas conside-rações associam-se ao Cubismo, vanguarda artística européia, surgida em 1907. As principais propostasdesse movimento eram o abandono da mimesis aristo-télica, a ruptura com a perspectiva tradicional, o uso deformas geométricas que corresponderiam à decom-posição e à fratura da realidade. Dentre os artistasmais importantes do movimento, estão Pablo Picasso, Georges Braque, Marcel Duchamp, G. Appolinaire. Den-tre os brasileiros que praticaram livremente as propos-tas do Cubismo, contam-se Vicente do Rego Monteiro, Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade, além de outros.

b) Das obras reproduzidas, todas de autoria do pintor espa-nhol Pablo Picasso, aponte aquela em cuja composição foiadotado um procedimento semelhante.

Texto para as questões 2 e 3

Ah, poder exprimir-me todo como ummotor se exprime!

Ser completo como uma máquina!Poder ir na vida triunfante como um

automóvel último modelo!(Fernando Pessoa, Álvaro de Campos.)

2. Assinale a alternativa correta a respeito do texto:a) A oralidade, o versilibrismo e a exaltação da máquina

não bastam para caracterizar o texto como mani-festação da vanguarda européia do início do século XX.

b) O traço tipicamente vanguardista do texto decorre daimagem contida no verso final, em que se reflete sobrea necessidade da velocidade na vida cotidiana.

c) O texto pode ser entendido como manifestação davanguarda do início do século XX, sobretudo por causada idéia de que o poeta deve ser expressivo e autên-tico.

d) O principal traço vanguardista do texto resulta da ado-ção do verso livre e da identidade da voz poética com amáquina.

e) O tema da máquina aproxima o texto das vanguardasdo início do século XX, mas sua configuração verbalimpossibilita verdadeira identidade entre ambos.

3. Na apóstrofe contida nos versos de Álvaro de Campos, avoz lírica toma a máquina como parâmetro de excelênciaexistencial, sugerindo que a tecnologia acabou por pro-duzir a totalidade que faltava ao homem moderno. Res-ponda:

Os pobresna praia

(C)

Marie-Thérèseapoiada no

cotovelo

(E)

Retrato deFrançoise

(B)

Os doissaltimbancos

(D)

Os amantes

(A)

TUDO COMEÇOU QUANDO CALVINPARTICIPOU DE UM PEQUENODEBATE COM O SEU PAI! LOGOCALVIN PODIA VER OS DOISLADOS DA QUESTÃO! ENTÃO OPOBRE CALVIN COMEÇOU A VEROS DOIS LADOS DE TUDO!

O TRADICIONAL ÚNICO PONTODE VISTA FOI ABANDONADO!A PERSPECTIVA FOI FRATURADA!

Adaptado de WATTERSON, Bill. Os dez anos de Calvin e Haroldo. V.2,São Paulo: Best News, 1996.

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a) Essa visão das coisas aproxima o texto de uma cor-rente específica da vanguarda européia do início do sé-culo XX. De que corrente se trata? Qual seria um traçoformal do texto que justifica essa aproximação?

Trata-se do Futurismo. O traço formal típico dessa corrente presente no texto é a adoção do verso livre. Outro traço formal importante é a ênfase da elo- cução, indicada pelos sinais de exclamação no final de cada verso.

b) Observe os quadros de Picasso apresentados no pri-meiro exercício desta aula. Assim como o fragmento deÁlvaro de Campos recusa os dispositivos tradicionais damétrica e da rima, a pintura de Picasso abandona a no-ção de perspectiva. Qual seria uma razão possível paraessa ruptura?

De fato, é possível traçar um paralelo entre a recusa da métrica e da rima em literatura com o abandono da perspectiva nas artes plásticas. Um e outro podem ser interpretados como um passo em favor da autenticidade das vanguardas. Prende-se a isso a idéia de desautomatização inerente ao conceito de arte moderna.

c) Como se sabe, o tipo de ruptura abordada nos itens an-teriores iniciou-se no Brasil por meio da Semana de ArteModerna. Quando e por meio de que veículo teve inícioem Portugal? Além de Fernando Pessoa, mencione doisoutros autores que se envolveram nesse processo.

As rupturas de vanguarda foram introduzidas em Portugal por meio da revista Orpheu, editada em Lisboa, em 1915. Além de Fernando Pessoa, parti-ciparam dela Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros,entre outros.

• Leia, no capítulo 12, os itens “Apresentação”, “Panorama histórico-literário”, “Vanguardas artísticas européias” e “O modernismo emPortugal”.

• Resolva os exercícios 1, 21 a 24 e 27, série 12.

Tarefa Complementar

Tarefa Mínima

� Livro 3Caderno de Exercícios — Unidade III

ORIENTAÇÃO DE ESTUDO

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ExercíciosTexto para os exercícios 1 e 2

Os Avisos Terceiro

Escrevo meu livro à beira-mágoa. Meu coração não tem que ter. Tenho meus olhos quentes de água. Só tu, Senhor, me dás viver.

Só te sentir e te pensar Meus dias vácuos enche e doura. Mas quando quererás voltar? Quando é o Rei? Quando é a Hora?

Quando virás a ser o Cristo De a quem morreu o falso Deus, E a despertar do mal que existo A Nova Terra e os Novos Céus?

Quando virás, ó Encoberto, Sonho das eras português, Tornar-me mais que o sopro incerto De um grande anseio que Deus fez?

Ah, quando quererás, voltando, Fazer minha esperança amor? Da névoa e da saudade quando? Quando, meu Sonho e meu Senhor?

(Fernando Pessoa. Mensagem. “O Encoberto”, 3ª- parte.)

1. Identifique a figura de pensamento contida no verso “Só tu,Senhor, me dás viver.”Esse verso contém a figura de pensamento chama-da apóstrofe, por meio da qual o eu lírico interpela,direta e veementemente, um suposto interlocutor. No caso, uma figura histórica transformada em personagem mítica.

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Aula 40FERNANDO PESSOA ELE-MESMO (POESIA ORTÔNIMA)

FERNANDO PESSOA (1888-1935)

POESIA ORTÔNIMA: FERNANDO PESSOA ELE-MESMOI. ÉPICA: MENSAGEM, 1934• Partes:

✓ 1ª- “Brasão”✓ 2ª- “Mar Português”✓ 3ª- “O Encoberto”

• Estrutura fragmentária:44 poemas = 1 poema

• Fusão de gêneros (épico e lírico)

• Celebração de mitos, heróis e grandesfeitos lusitanos

• Simbologia esotérica: hermetismo

• Nacionalismo místico:✓ Sebastianismo (mito português)✓ Quinto Império (mito bíblico associa-

do ao sebastianismo)

• Intertextualidade/Paródia(Os Lusíadas)

• Linguagem clássica

• Formas tradicionais e formas livres

II. LÍRICA• Anti-sentimentalismo

• Racionalismo: análise de emoções

• Neo-Simbolismo: musicalidade sugestiva(influência de Camilo Pessanha)

• Metalinguagem

• Coloquialismo

• Formas tradicionais:✓ Estrofes rimadas (quadras ou quinti-

lhas)✓ Metros curtos ou versos decassílabos

• Formas livres (Modernismo)✓ Versos livres✓ Prosaísmo

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2. Identifique o interlocutor evocado e explique sua funçãono poema.Trata-se de D. Sebastião, rei português desapareci-do, em 1578, na batalha de Alcácer-Quibir. Sua fun-ção no poema é a de um messias muito desejado, cujo regresso ao mundo viria inaugurar uma nova era de grandeza para Portugal.

Texto para o exercício 3 Liberdade

Ai que prazer Não cumprir um dever. Ter um livro para ler E não o fazer! Ler é maçada, Estudar é nada. O sol doira Sem literatura. O rio corre, bem ou mal, Sem edição original. E a brisa, essa, De tão naturalmente matinal, Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta. Estudar é uma coisa em que está indistinta A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma, Esperar por D. Sebastião, Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças, Flores, música, o luar, e o sol, que peca Só quando, em vez de criar, seca.

O mais que isto É Jesus Cristo, Que não sabia nada de finanças Nem consta que tivesse biblioteca.

(Fernando Pessoa ele-mesmo. Cancioneiro.)

3. Nas primeiras estrofes, o eu lírico faz uma crítica aos li-vros e à literatura, de modo geral. Essa crítica envolve apoesia? Justifique sua resposta. Não, porque o próprio eu lírico faz, na quarta estrofe,uma ressalva: “Grande é a poesia, a bondade e asdanças...”. Diante da natureza, considera a literaturaornato inútil (“O sol doira / Sem literatura.”). Mas apoesia, sendo natural, terá razão de ser e de existir.

• Leia, no capítulo 12 — Modernismo em Portugal —, os tópicos rela-tivos a Fernando Pessoa, até “Poesia lírica: Cancioneiro” e seu res-pectivo item de Leitura.

• Resolva os exercícios 4, 6, 14, 19, 30, 31, 33 e 35, série 12.

Tarefa Complementar

Tarefa Mínima

� Livro 3Caderno de Exercícios — Unidade III

ORIENTAÇÃO DE ESTUDO

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