131204_boas práticas de endomarketing aplicadas em culturas organizacionais distintas (1)
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BOAS PRÁTICAS DE ENDOMARKETING APLICADAS EM CULTURAS ORGANIZACIONAIS DISTINTAS
Carolina JaberPós-graduanda em Mestrado de Sistemas de Gestão
Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios & Meio Ambiente LATEC/UFFe-mail: [email protected] do Carmo Silva
Pós-graduanda em Mestrado de Sistemas de GestãoLaboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios & Meio Ambiente LATEC/UFF
e-mail: [email protected] Andrade
Professor do Mestrado de Sistemas de Gestão Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios & Meio Ambiente LATEC/UFF
e-mail: [email protected]
RESUMO
O presente trabalho analisa boas práticas de endomarketing aplicadas em quatro culturas
organizacionais distintas, identificadas de acordo com as características definidas por
Charles Handy em sua teoria dos deuses da administração. Para o levantamento de
dados foi utilizada a metodologia de estudo de caso, por meio da observação e da
abordagem qualitativa. Como resultados, busca-se apresentar e analisar as práticas de
endomarketing aplicadas pelos gestores nas empresas estudadas, com objetivo de
romper os extremos negativos de suas culturas organizacionais, mantendo os
colaboradores na organização produzindo, de acordo com sua estratégia corporativa,
produtos e serviços mais competitivos.
ABSTRACT
This paper examines good practices endomarketing applied in four distinct
organizational cultures, identified according to the characteristics defined by Charles
Handy in his theory of the gods of the administration. For data collection methodology
case study, through observation and the qualitative approach. As a result, we seek to
present and analyze the internal marketing practices applied by managers in the
companies studied, in order to break the negative extremes of their organizational
cultures, keeping employees in the producing organization, according to its corporate
strategy, products and services more competitive.
Palavras-chave: Cultura organizacional, Endomarketing, Estratégia corporativa,
Clima organizacional.
INTRODUÇÃO
A cultura organizacional define a forma pela qual todo o sistema vivo empresa atuará
tanto para as tomadas de decisões de estratégia corporativa quanto para seus processos
internos. Logo, identificar a cultura organizacional dominante, equilibrá-la diminuindo
seus pontos negativos, e, identificar as demais culturas organizacionais que definem as
áreas e departamentos, faz com que a máquina corporativa pulse a favor da meta
corporativa.
Contudo, toda cultura organizacional possui em seu comportamento pontos fortes e
pontos que impactam negativamente nas estratégias corporativas e nos processos
internos, e, é neste momento em que se deve analisar o tipo de cultura organizacional
dominante que está neste desequilíbrio para que ações internas na empresa retornem o
comportamento dos colaboradores para próximo do ponto de equilíbrio.
Logo, quando se trabalha o marketing interno nas empresas, chamado endomarketing, é
interessante observar a cultura organizacional dominante, e, se ela está com seus pontos
negativos dominando naquele momento na empresa, pois desta forma, se consegue
fortalecer a posicionamento de mercado com o endomarketing, e, através deste, manter
os colaboradores alinhados às tomadas de decisão da alta hierarquia.
Assim, com a cultura organizacional identificada, as ações de endomarketing podem ser
melhor aproveitadas se direcionadas da forma correta e pertinente àquele
comportamental da cultura analisada, mantendo o clima organizacional.
1 Referencial teórico
Segundo Fleury (1995) apud Moser, Bertoni, Cruz & Camargo (2012), no contexto do
mercantilismo e da expansão imperialista, “cultura” passou a ser empregada no sentido
de entendimento de costumes, línguas, crenças e mitos de povos diferentes para o
estabelecimento de relações comerciais e de relação de dominação.
Luz (2003) apud ibid, entende a cultura organizacional como o conjunto de atributos
físicos e psicossociais de uma organização que caracteriza o seu modo de ser e
determina a sua identidade. A cultura molda a identidade de uma organização, assim
como a identidade e o reconhecimento dos próprios funcionários. No mesmo contexto,
Lacerda (2011) frisa que, de acordo com Trompenaars (1994), a cultura organizacional
seria formada não apenas pela tecnologia e pelo mercado em que atua, mas também
pelos valores compartilhados por seus empregados e líderes.
Para realizar uma análise organizacional, segundo Silva, Todorov & Silva (2012), faz-se
necessário descrever as variáveis determinantes, não só do comportamento individual,
mas também de unidades coletivas, em especial da cultura organizacional.
Neste sentido, a teoria dos deuses da administração, desenvolvida por Charles Handy,
buscou simbolizar através da mitologia grega os comportamentos e as diferentes formas
de se administrar as organizações. Nesta teoria, Handy (2003) argumenta que existem
quatro tipos de culturas organizacionais com elementos e definições características,
identificadas de forma lúdica com a identidade dos deuses gregos, de forma que seus
pontos fortes e negativos transcendem ao comportamento organizacional das pessoas,
dos departamentos e das empresas, pela forma como tomam suas decisões estratégias,
como organizam seus processos internos e como se posicionam nos mercados de seus
setores econômicos.
Handy (2003) logo explica que, quando há uma crise na cultura organizacional, ela se
dá quando o fato de que o caminho escolhido para a eficiência, via concentração e
especialização, que resulta na organização em camadas múltiplas e multiestruturadas
numa cultura aonde a escala cria custos, (bem como economias, aonde aumenta-se o
escopo mas pode restringir a flexibilidade), vai contra as preferências culturais da
maioria das pessoas de que necessita para funcionar e assim, a estrutura de uma
organização pautada em um deus onde um outro deus é quem rege, ou, o lado negativo
do deus regente impera, leva ao completo caos organizacional. Russo et al (2012)
destaca que cada cultura definida por Handy (2003) não deve ser classificada como
ruim ou boa, e sim como adequada ou inadequada para o profissional ou a empresa.
Para ter uma gestão eficiente de pessoas com base na cultura organizacional pode ser
estabelecida uma relação entre a empresa e seus colaboradores através do marketing
interno ou endomarketing. Rosa, Ribas e Alves (2012) definem o endomarketing como
uma troca interna entre a organização e os indivíduos com o objetivo de tornar a
comunicação interna eficaz antes mesmo de alcançar o mercado externo. Conforme
afirma Brambilla (2005), o marketing interno focaliza os aspectos relacionados à
integração entre as ações de marketing externo e as ações de outras áreas da
organização, sobretudo a área de Recursos Humanos, estabelecendo a relação entre a
empresa e os clientes internos (colaboradores).
Ainda de acordo com Brum (2003), Paixão (2004) e Bekin (2005), citados por
Ellwanger et al (2012), o endomarketing vem se configurando como uma célula
endógena que facilita obter ou resgatar a conscientização de funcionários para a
relevância de seu apoio para que mudanças organizacionais sejam feitas de modo
satisfatório. O marketing interno então acaba por tornar o cliente interno mais próximo
da organização, ao estabelecer com este uma relação de compartilhamento de visão,
fazendo com que ambos caminhem juntos em prol de um objetivo comum.
1.1 As quatro culturas organizacionais por HANDY (2003)
1.1.1 A cultura de clube ou a cultura de Zeus
Sebben & Boas (2009) afirmam que em uma organização Zeus, a cultura de trabalho é
baseada nas funções ou produtos, sendo geralmente encontrada em pequenas
organizações empreendedoras. Nesta cultura organizacional as “linhas de contato” entre
os departamentos à medida que crescem hierarquicamente ganham força em direção ao
centro da “teia de aranha”, onde se encontra Zeus, ou seja, o presidente, o diretor-geral,
etc. As linhas da teia perdem poder à medida que se distanciam de Zeus. Logo, Handy
(2003) define a cultura de clube como uma cultura onde prevalecem as indicações e os
prestígios sociais quanto mais próximos possível de Zeus.
Apesar da base da cultura ser vaidosa, existe uma certa vantagem neste tipo de cultura
quando a necessidade do negócio precisa ser ágil e eficaz. Segundo afirmam Sebben &
Boas (2009) “neste tipo de cultura as coisas são decididas rapidamente e sem tolerância
a erros, ficando centrada a qualidade na capacidade de Zeus e no ciclo em que está a
organização”. A comunicação é eficiente, no entanto nada é escrito ou documentado.
Zeus não se importa em ir pessoalmente falar com o cliente ou enviar alguém de sua
equipe – de preferência um de seus pupilos – para fechar o negócio imediatamente.
Pelo gestor realizar uma administração baseada na confiança, este tipo de cultura ainda
possui a vantagem de possuir custos reduzidos em relação a outras. A desvantagem é
sensivelmente perceptível quando a teia se desmorona e ocorrem fusões e aquisições ou
simplesmente “desmanche” corporativo: quanto mais distante do centro da teia da
aranha, mais difícil é se manter no emprego ou ser recolocado no mercado – mesmo que
o profissional seja o ás da informática que mantem a empresa viva. Outra desvantagem
é quando Zeus se torna “velho” em seus pensamentos ou desinteressado, pois destrói
sua própria teia e a empresa cai por terra.
1.1.2 A cultura de função ou a cultura de Apolo
Esse tipo de cultura é caracterizado por Cassandre & Santos (2008) por possuir funções
bem definidas, especializadas e prescritas num conjunto de princípios racionais e
lógicos. Seu organograma é claro e bem definido, sendo o poder exercido e centrado no
topo da estrutura.
A cultura de função é analisada por Handy (2003) como aquela que geralmente vem
primeiro, no sentido de ser a primeira forma de construção de pensamento de cultura
organizacional quando se inicia uma empresa, pois é a cultura que baseia a sua
abordagem em torno da definição da função ou da tarefa a ser feita, não em torno de
personalidades. Nesta cultura, o homem em sua básica concepção é racional e deve
realizar todas as suas atividades de forma lógica. Assim, a eficiência é fazer o que tem
de ser feito, pois se algo for feito a mais como sinal de aumento de produtividade, por
exemplo, os conceitos terão de ser reavaliados e o templo cai por terra. Nesta cultura a
representação simbólica é um templo grego, pois suas bases são firmes, suas pilastras
rígidas para sustentar o domo e o topo, o frontão onde estão os líderes da corporação
que mantêm a imutabilidade dos processos internos e da empresa.
A crise nesta cultura organizacional se dá ao seu ajuste aos tempos modernos, onde as
transformações corporativas cada vez mais se baseiam nos avanços tecnológicos onde
está a revisão sistêmica e operacional a todo o momento sendo realizada, portanto, a
reação a mudanças drásticas no ambiente (por exemplo, mudanças nas preferências dos
consumidores, novas tecnologias, novas fontes de financiamento) estabelecendo
inúmeros grupos e ligação intra e inter funções cruzadas numa tentativa de preservar a
estrutura, leva a cultura de Apolo ao caos completo, pois não há comunicação e
entendimento na corporação do que as áreas e seus departamentos realizam de fato, não
existindo sinergia entre os processos, somente a obrigação em realizar as tarefas.
1.1.3 A cultura de tarefa ou a cultura de Atenas
Supostamente, a cultura de Apolo face aos tempos modernos de adaptabilidade as
transformações migra pra a cultura de Atena, onde existe uma cessão em departamentos,
produtos, funções, tarefas mas, que todavia, esta cultura preocupa-se com a melhoria
contínua em suas atividades sistêmicas e operacionais.
O problema, claro, é quando os colaboradores transpassam a fronteira das reais soluções
sistêmicas e operacionais que a empresa necessita para a fogueira das vaidades para ver
quem consegue mais verba no orçamento da empresa para sua área. Mesmo recolhendo
vários recursos de várias partes do sistema organizacional a fim de concentrá-los num
ponto ou problema em particular, mesmo quando produto em si da empresa é a solução
de algum “problema” – seja produto ou serviço –; as unidades, as áreas, os
departamentos são basicamente independentes, com responsabilidades específicas
dentro da estratégia global, e, numa cultura onde os profissionais reconhecem seu valor,
“seu preço”, e também, numa cultura onde o poder está no interstício da rede – que é
seu símbolo pela união dos diversos loci independentes constituindo a empresa – a
fragilidade da comunicação é comum, pois sempre as áreas, separadamente, tentarão
mostrar sua importância vital para a organização.
1.1.4 A cultura existencial ou a cultura de Dionísio
Enquanto que na cultura de Zeus a empresa existe porque seu líder a conduz e os
colaboradores a seguem seja por medo ou seja por reverência ao líder, na cultura de
Dionísio a organização existe para ajudar ao indivíduo a atingir seu propósito seja este
qual for. Há um agrupamento de “estrelas” individuais vagamente reunidas numa
constelação onde se reconhece não a equipe, não o produto ou o serviço e não se
reconhece a empresa, mas sim “o cara” que ali está trabalhando naquele momento. É a
típica cultura organizacional a qual se lê nas reportagens cuja primeira referência não é
a empresa e sim o nome da pessoa e suas realizações extasiantes que consagraram à
empresa naquele determinado momento.
Este tipo de cultura é a mais traiçoeira, pois leva a empresa a imperativos de destruição
em massa, pois se “o cara” sai da empresa, sai com ele alguns colaboradores
fundamentais na continuidade do produto da empresa – seja por lealdade, seja por
networking mais forte –. É uma cultura em que se o produto é o talento ou a habilidade
do indivíduo, a empresa certamente prospera se – e somente se – o indivíduo sente-se
livre para continuar seu trabalho de acordo com seu talento, sua condição individualista;
caso contrário, a claustrofobia corporativa e a homofobia corporativa o tomam e o
indivíduo desliga-se imediatamente da empresa assumindo rapidamente outro cargo em
outra empresa. É uma cultura que é perfeita para pessoas que são individualistas em
todos os aspectos e que o produto ou serviço da empresa seja derivado do talento nato
do indivíduo, porém é um desastre quando a empresa precisa reuni-los em prol de seu
único e exclusivo produto, quando precisa que alguém faça a gestão de outras pessoas.
1.2 Endomarketing
O comprometimento das pessoas é uma vantagem competitiva das organizações. De um
lado, os problemas de pessoal são frequentes: crises de motivação, insatisfações,
desinteresse pelo trabalho, absenteísmo. De outro, as inovações tecnológicas, os
programas de produtividade e de qualidade fracassam ou perdem a sua força quando a
organização não dispõe de um patrimônio humano efetivamente dedicado a seu trabalho
ou à organização. Analogamente, colaboradores fazem parte do processo de conquista,
encantamento e fidelização de clientes externos. Tudo que é feito dentro da empresa,
seja bom ou ruim, reflete no cliente externo. Por isso, é importante o endomarketing,
afinal, se o cliente interno está satisfeito, ele poderá fazer bem o seu trabalho e
encontrar o cliente externo (CERQUEIRA 1994 e SILVA 2003).
Outra questão importante ao se abordar marketing interno refere-se aos conflitos
organizacionais. Por Kotler (1998), deveria haver interatividade harmônica nas relações
interdepartamentais das empresas; no entanto, essas relações são muitas vezes marcadas
por conflitos, rivalidades e desconfianças. Como exemplo, cita o que normalmente
acontece entre a equipe de vendas e um departamento de crédito, onde os profissionais
de crédito estão interessados em não correr ou correr o menor risco possível com
clientes duvidosos, estabelecendo condições rigorosas para concessão de prazos e
financiamentos. Já a equipe de vendas prefere ter condições de crédito facilitadas e
maior liberdade de atuação.
Endomarketing é a aplicação e adaptação de técnicas e princípios de marketing, que são
voltadas para o interior das organizações. A palavra endomarketing tem sua origem na
composição do prefixo grego endon, que significa movimento para dentro, com a
palavra inglesa marketing. A palavra endomarketing importa na aplicação ou adaptação
das técnicas de marketing para dentro da empresa. Através da aplicação do marketing,
internamente, a empresa estaria se qualificando para o cliente externo. No
endomarketing, a empresa tem o cliente interno como um segmento de mercado e
adapta sua empresa para motivar e conquistar seus funcionários (CERQUEIRA 1994).
Bekin (1995 e 2004) conceitua Endomarketing como um processo cujo foco é sintonizar
e sincronizar, para implementar e operacionalizar a estrutura de Marketing da empresa
ou organização que visa ação para mercado. O objetivo é o de fortalecer as relações
entre empresa e empregados e com a função de implementar o conceito de cliente nos
processos internos, levando à melhoria na qualidade de produtos e serviços com maior
produtividade de pessoas e processos. Desta forma, o marketing deve estar presente em
todos os setores da empresa, desde a área de desenvolvimento do produto até o a equipe
de atendimento ao cliente e ao fornecedor.
Basicamente, o planejamento em Endomarketing ocorre em seis etapas. A primeira
delas caracteriza-se pela pesquisa e diagnóstico. A pesquisa de clima é destacada como
um instrumento que revela a realidade da empresa e serve como estudo de gestão. A
etapa seguinte constitui o momento de definição de meta global, onde todos possam
conhecer claramente onde a empresa quer chegar; assim, as metas podem ter relação
com produtividade, qualidade, credibilidade interna ou novos produtos no mercado
(BEKIN 1995 e CERQUEIRA 1994).
Atualmente a melhora nos relacionamentos interpessoais é considerada um fator de
competitividade e valorização do papel individual dentro das organizações, conforme
afirmam Souza & Silva (2010). Ainda segundo os autores, ações de endomarketing
podem tornar os relacionamentos mais sólidos, promover o desenvolvimento positivo da
autoestima e disseminar a prática da empatia e da afetividade. Bohnenberger & Pinheiro
(2002) afirmam que as ações de endomarketing convergem em um eixo comum: a
motivação de funcionários, comunicação, o comprometimento, os valores, os
instrumentos de marketing e a satisfação do consumidor.
Quanto à aplicabilidade do endomarketing como ferramenta, observa-se que em sua
grande maioria as empresas não possuem ferramentas adequadas para a formulação
deste para a promoção e motivação dos colaboradores, uma vez que o endomarketing,
quando aplicado, associa-se, erroneamente ao Programa 5S de qualidade utilizado pelas
empresas para superar suas necessidades de aproveitamento de recursos internos.
Geralmente, a ferramenta de endomarketing mais próxima do colaborador são as
publicidades das campanhas de qualidade; que são distintas do conceito de
endomarketing aplicado ao colaborador fazendo com que surja uma apatia coletiva e
não alcançando, portanto, resultados motivacionais.
Por isto, convém ressaltar que a ferramenta de endomarketing vai além do simples
aumento de salário, ampliações de benefícios aos familiares entre outros fatores que
limitam-se por serem aspectos de subsistência e não aspectos que de fato promoverão a
motivação coletiva ou individual; apenas, considerando o mercado de trabalho atual,
tais benefícios respondem pelo básico oferecido aos colaboradores, portanto, não são
estes observados como endomarketing. Endomarketing, na verdade, precisa ser uma
ferramenta de interação entre os colaboradores para que a motivação coletiva e
individual alcance o nível de produtividade quisto pela empresa em prol de alcançar
suas metas quanto aos seus produtos e serviços (BEKIN 1995, CERQUEIRA 2004 e
SILVA 2003).
2 Metodologia
A metodologia aplicada neste artigo é a de estudo de caso, por se identificar quatro
empresas cujas culturas organizacionais inserem-se no contexto analisado por HANDY
(2003) de forma que as boas práticas de endomarketing aplicadas levaram ao melhor
entendimento e alinhamento da estratégia corporativa e interface entre seus processos
internos.
A metodologia de estudo de caso conforme FLICK (2013) argumenta é que o principal
problema será identificar um caso que seja relevante para a questão da pesquisa e
esclarecer o que mais está ligado ao caso e que abordagens metdológicas sua
reconstrução requer.
Este artigo limita-se a análise qualitativa do estudo de caso, pois a análise é verificada
na percepção do ser humano inserido no núcleo corporativo e como sua comunicação se
transforma de forma que o ruído na empresa cesse e o clima da cultura organizacional
através das ferramentas de endomarketing aplicadas ao tipo de cultura organizacional
dominante, melhor direcione a ambição da diretoria à estratégia de posicionamento de
mercado.
3 Boas práticas de endomarketing aplicadas às culturas de HANDY (2003)
3.1 Incorporadora, Zeus e o café-da-manhã com o presidente
Em uma incorporadora de médio porte com foco em empreendimentos residenciais,
com aproximadamente 100 colaboradores, em ampla fase de ascensão de mercado no
bairro da Barra da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro, observou-se que a cultura
dominante é a cultura de Zeus, e, que uma boa prática aplicada de endomarketing para
esta empresa foi a prática do “café-da-manhã com o presidente”, e ainda, o “café-da-
manhã dos aniversariantes do mês” numa tentativa para que todos os colaboradores
mantenham contato com o líder da corporação e com os diretores. Além disto, uma copa
no escritório auxilia a manutenção da comunicação do presidente e diretores com os
demais colaboradores, pois desta forma tanto o presidente quanto os demais
colaboradores da empresa se comunicam informalmente e conversam sobre as decisões
estratégicas quanto aos novos empreendimentos lançados pela incorporadora,
reforçando a estratégia de mercado da empresa.
Assim, quando os colaboradores vão visitar ou trabalhar nos empreendimentos que
estão sendo construídos, a marca da empresa é reforçada e a estratégia corporativa da
concepção dos projetos se mantem alinhada à execução dos empreendimentos,
mantendo o valor da marca até a entrega das chaves para com o cliente final.
3.2 Administradora de shopping centers, Apolo e o job rotation no endomarketing
Com aproximadamente 300 colaboradores diretos, a administradora de shopping centers
localizada na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, em sua cultura de Apolo, teve pelo
departamento de Recursos Humanos a identificação de seu setor econômico que passa
por transformações no curto e médio prazo críveis que pode romper com paradigmas e
preconceitos corporativos; a solução de praticar para endomarketing da empresa
mantendo a estratégia corporativa de crescimento e endobranding.
Logo, job rotation se consolidou como ferramenta de endomarketing e não somente de
recursos humanos, quando os perfis mais próximos trocaram de área – obviamente para
não se sentir a diferença em skills e demais soluções na mudança de um colaborador
para uma outra área – iniciando um entendimento e compreensão das atividades que
cada departamento realiza, criando no colaborador a capacidade de melhorar a
qualidade de seus serviços prestados internamente aos demais clientes internos e assim
motivando-o a conhecer cada vez mais a empresa e a solucionar problemas que, por
exemplo, poderiam estar originando-se em sua inicial área de trabalho. O Recursos
Humanos percebeu-se de que o job rotation deve ser minuciosamente analisado de
acordo com cada perfil profissional não somente em seus conhecimentos profissionais
como também na característica pessoal do colaborador para que não ocorram choques
nos grupos de trabalho, exatamente para “demolir” o templo que cada função estrutura
ao redor deste tipo de cultura organizacional. Desta forma, a comunicação e a interação
entre os processos internos melhoraram levando ao melhor canal de comunicação aos
clientes – lojas, quiosques, estacionamentos e demais empresas que atuam em shopping
centers – como também para seus fornecedores, cujas compras sempre são em larga
escala, melhorando a barganha na ordem de compra.
3.3 Empresa de telecomunicações, Atenas e novamente o job rotation no
endomarketing
Para uma empresa de telecomunicações, de grande porte presente em todos os estados,
com sua sede no Rio de Janeiro, a identificação de que na cultura de Atenas também foi
necessário o job rotation, foi visto pelo departamento de Recursos Humanos como
estratégia de endomarketing, no sentido de que a habilidade na troca dos colaboradores
não está necessariamente em seus conhecimentos profissionais, mas sim na
aproximação de caráter e perfil pessoal aonde houve entrosamento dentro “do pedaço da
rede” (áreas, departamentos, seções etc) as quais o colaborador esteve se transferindo.
Esta cultura precisa de um releasing na rede interna corporativa para que os
departamentos se conheçam e vejam as necessidades de conexão entre eles para juntos
buscarem soluções. Os líderes, mesmo também participando do job rotation, apoiaram-
no e mantiveram os programas de contratação de novos colaboradores e estagiários para
que se a concepção das equipes de que é necessária a interatividade entre as áreas se
mantivesse, controlando o ruído entre as divisões de produtos da empresa.
Neste tipo de cultura onde as habilidades individuais superam as habilidades e
conhecimentos profissionais corriqueiros, o Recursos Humanos também promoveram
cursos de reciclagem de gestão de pessoas e dinâmicas de grupo adequadas aos perfis e
temas dos produtos vendidos pela empresa, de forma que a interação prática do
conhecimento se tornou uma constante dentro da empresa diminuindo os ruídos e os
problemas de compreensão entre os produtos das áreas, promovendo a integração de
comercialização entre eles através do maior contato entre as equipes em suas
experiências.
3.4 Consultoria, Dionísio e o coaching e o mentoring no endomarketing
Com pequeno porte de colaboradores, uma consultoria cujo nicho de mercado são
empresas de cultura familiar, em que sua proposta são projetos de mapeamento de
processos que visam melhorar suas receitas através de indicadores e processos que
façam o investimento da empresa ter retorno alinhado à meta da diretoria, a ferramenta
de endomarketing aplicada foi o coaching e o mentoring pelo dono da empresa, que é
um profissional requisitado e reconhecido no mercado, de forma que a prática de
treinamento interno dos colaboradores – de diferentes hierarquias –, agregou valor ao
serviço da empresa. Os treinamentos foram acompanhados de mentoring para com os
colaboradores levando-os a trabalharem seus perfis de foma que os projetos executados
nos clientes tivesse conhecimento alinhado e sem ruído, principalmente porque a
consultoria trabalha inserida na empresa cliente, mantendo o nome da empresa de
consultoria reforçado pelo constante coaching e mentoring praticado a cada quinze dias,
por cerca de quatro horas, com temas relevantes para os participantes dos projetos.
CONCLUSÃO
Através da análise deste trabalho, o endomarketing – limitado em sua aplicabilidade nas
quatro culturas organizacionais de HANDY (2003) – pode se configurar como a
ferramenta necessária para conter a negatividade da cultura organizacional, quando,
estes aspectos negativos imperam nas empresas em suas culturas, a ponto de sufocar o
colaborador gerando um processo improdutivo e desmotivador.
As suas aplicabilidades devem ser consonantes com o tipo de cultura organizacional,
pois a tentativa de produtividade e motivação pode falhar aumentando a inércia
colaborativa.
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