130404 stj resp 1168547 rj (direito internacional)

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RECURSO ESPECIAL N 1.168.547 - RJ (2007/0252908-3)

RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMO

RECORRENTE : WORLD COMPANY DANCE SHOW LTDA

ADVOGADO : SRGIO REYNALDO ALLEVATO E OUTRO(S)

RECORRIDO : PATRCIA CHLIDA DE LIMA SANTOS

ADVOGADO : ANNA PAULA DE LIMA LEMOS

EMENTA

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AO DE INDENIZAO POR UTILIZAO INDEVIDA DE IMAGEM EM STIO ELETRNICO. PRESTAO DE SERVIO PARA EMPRESA ESPANHOLA. CONTRATO COM CLUSULA DE ELEIO DE FORO NO EXTERIOR.

1. A evoluo dos sistemas relacionados informtica proporciona a internacionalizao das relaes humanas, relativiza as distncias geogrficas e enseja mltiplas e instantneas interaes entre indivduos.

2. Entretanto, a intangibilidade e mobilidade das informaes armazenadas e transmitidas na rede mundial de computadores, a fugacidade e instantaneidade com que as conexes so estabelecidas e encerradas, a possibilidade de no exposio fsica do usurio, o alcance global da rede, constituem-se em algumas peculiaridades inerentes a esta nova tecnologia, abrindo ensejo prtica de possveis condutas indevidas.

3. O caso em julgamento traz baila a controvertida situao do impacto da internet sobre o direito e as relaes jurdico-sociais, em um ambiente at o momento desprovido de regulamentao estatal. A origem da internet , alm de seu posterior desenvolvimento, ocorre em um ambiente com caractersticas de auto-regulao, pois os padres e as regras do sistema no emanam, necessariamente, de rgos estatais, mas de entidades e usurios que assumem o desafio de expandir a rede globalmente.

4. A questo principal relaciona-se possibilidade de pessoa fsica, com domiclio no Brasil, invocar a jurisdio brasileira, em caso envolvendo contrato de prestao de servio contendo clusula de foro na Espanha. A autora, percebendo que sua imagem est sendo utilizada indevidamente por intermdio de stio eletrnico veiculado no exterior, mas acessvel pela rede mundial de computadores, ajuza ao pleiteando ressarcimento por danos material e moral.

5. Os artigos 100, inciso IV, alneas "b" e "c" c/c art. 12, incisos VII e VIII, ambos do CPC, devem receber interpretao extensiva, pois quando a legislao menciona a perspectiva de citao de pessoa jurdica estabelecida por meio de agncia, filial ou sucursal, est se referindo existncia de estabelecimento de pessoa jurdica estrangeira no Brasil, qualquer que seja o nome e a situao jurdica desse estabelecimento.

6. Aplica-se a teoria da aparncia para reconhecer a validade de citao via postal com "aviso de recebimento-AR", efetivada no endereo do estabelecimento e recebida por pessoa que, ainda que sem poderes expressos, assina o documento sem fazer qualquer objeo imediata. Precedentes.

7. O exerccio da jurisdio, funo estatal que busca composio de conflitos de interesse, deve observar certos princpios, decorrentes da prpria organizao do Estado moderno, que se constituem em elementos essenciais para a concretude do exerccio jurisdicional, sendo que dentre eles avultam: inevitabilidade, investidura, indelegabilidade, inrcia, unicidade, inafastabilidade e aderncia. No tocante ao princpio da aderncia, especificamente, este pressupe que, para que a jurisdio seja exercida, deve haver correlao com um territrio. Assim, para as leses a direitos ocorridos no mbito do territrio brasileiro, em linha de princpio, a autoridade judiciria nacional detm competncia para processar e julgar o litgio.

8. O Art. 88 do CPC, mitigando o princpio da aderncia, cuida das hipteses de jurisdio concorrente (cumulativa), sendo que a jurisdio do Poder Judicirio Brasileiro no exclui a de outro Estado, competente a justia brasileira apenas por razes de viabilidade e efetividade da prestao jurisdicional, estas corroboradas pelo princpio da inafastabilidade da jurisdio, que imprime ao Estado a obrigao de solucionar as lides que lhe so apresentadas, com vistas consecuo da paz social.

9. A comunicao global via computadores pulverizou as fronteiras territoriais e criou um novo mecanismo de comunicao humana, porm no subverteu a possibilidade e a credibilidade da aplicao da lei baseada nas fronteiras geogrficas, motivo pelo qual a inexistncia de legislao internacional que regulamente a jurisdio no ciberespao abre a possibilidade de admisso da jurisdio do domiclio dos usurios da internet para a anlise e processamento de demandas envolvendo eventuais condutas indevidas realizadas no espao virtual.

10. Com o desenvolvimento da tecnologia, passa a existir um novo conceito de privacidade, sendo o consentimento do interessado o ponto de referncia de todo o sistema de tutela da privacidade, direito que toda pessoa tem de dispor com exclusividade sobre as prprias informaes, nelas incluindo o direito imagem.

11. reiterado o entendimento da preponderncia da regra especfica do art. 100, inciso V, alnea "a", do CPC sobre as normas genricas dos arts. 94 e 100, inciso IV, alnea "a" do CPC, permitindo que a ao indenizatria por danos morais e materiais seja promovida no foro do local onde ocorreu o ato ou fato, ainda que a r seja pessoa jurdica, com sede em outro lugar, pois na localidade em que reside e trabalha a pessoa prejudicada que o evento negativo ter maior repercusso. Precedentes.

12. A clusula de eleio de foro existente em contrato de prestao de servios no exterior, portanto, no afasta a jurisdio brasileira.

13. Ademais, a imputao de utilizao indevida da imagem da autora um "posterius" em relao ao contato de prestao de servio, ou seja, o direito de resguardo imagem e intimidade autnomo em relao ao pacto firmado, no sendo dele decorrente. A ao de indenizao movida pela autora no baseada, portanto, no contrato em si, mas em fotografias e imagens utilizadas pela r, sem seu consentimento, razo pela qual no h se falar em foro de eleio contratual.

14. Quando a alegada atividade ilcita tiver sido praticada pela internet, independentemente de foro previsto no contrato de prestao de servio, ainda que no exterior, competente a autoridade judiciria brasileira caso acionada para dirimir o conflito, pois aqui tem domiclio a autora e o local onde houve acesso ao stio eletrnico onde a informao foi veiculada, interpretando-se como ato praticado no Brasil, aplicando-se

hiptese o disposto no artigo 88, III, do CPC.

15. Recurso especial a que se nega provimento.

ACRDO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da QUARTA TURMA

do Superior Tribunal de Justia acordam, na conformidade dos votos e das notas taquigrficas, prosseguindo no julgamento, aps o voto-vista do Sr. Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP), negar provimento ao recurso especial, acompanhando os votos dos Srs. Ministros Luis Felipe Salomo, Relator, e Fernando Gonalves, e os votos dos Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior e Joo Otvio de Noronha, no mesmo sentido., a Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP), Aldir Passarinho Junior e

Joo Otvio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.

Braslia, 11 de maio de 2010(data do julgamento)

RELATRIO

O EXMO. SR. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMO (Relator):

1. Cuida-se de recurso especial interposto por World Company Dance Show Ltda com fundamento no artigo 105, inciso III, alnea "a" da Constituio Federal, em autos de ao de reparao civil por danos materiais e morais proposta por Patrcia Chlida de Lima Santos.

Sustenta a autora, na inicial, que formalizou com a empresa World Company Dance Show Ltda. contrato temporrio (03 meses, de 17.06 a 17.09.2004) para prestar servios como danarina e assistente de direo em show tpico brasileiro, com apresentaes nos continentes europeu e africano.

Aduz que, meses aps o trmino do contrato, visitou por meio da internet o endereo eletrnico da empresa contratante (www.brasilcarnaval.2000.com) e constatou que a pgina continha montagens de imagens suas, recortadas de vrias fotografias dos shows nos quais havia trabalhado; alm de outras utilizadas para propaganda.

Alega que, de acordo com a clusula oitava do contrato entabulado, h vedao expressa para a utilizao de imagens, sem prvia autorizao, para qualquer fim diverso do objeto contratado.

Citada a r e contestada a demanda, a sentena de fls. 66-68 julgou extinto o processo sem resoluo do mrito, por entender o magistrado no ser a justia brasileira competente para examinar e julgar o feito, nos termos do artigo 88 do CPC.

Inconformada, apelou a autora (fls. 70-77), tendo o acrdo (fls. 88-92) recebido a seguinte ementa:

"DIREITO PROCESSUAL CIVIL. COMPETNCIA. UTILIZAO DE IMAGEM

INDEVIDA EM SITE NA INTERNET.

1. Se a imagem da apelante est sendo veiculada atravs do site da empresa

r na internet, o qual normalmente acessado e mostrado atravs de

computadores instalados em nosso pas, considera-se que tal ato praticado

no Brasil.

2. Consoante dispe o artigo 88, inciso III, do CPC, a Justia Brasileira competente para julgar o feito quando a ao se refere a fato ocorrido ou a ato praticado no Brasil.

3. Provimento do recurso."

Opostos embargos de declarao pela empresa (fls. 94-96), foram estes rejeitados pelo acrdo de fls. 97-99.

Nas razes do especial (fls. 101-108), sustenta violao ao artigo 88, inciso III, do Cdigo de Processo Civil, por entender que, embora o stio eletrnico mantido pela recorrente seja acessado no territrio brasileiro, a justia espanhola que seria competente para julgar o caso em questo, pois:

a) o contrato de trabalho firmado entre as partes se deu na Espanha, sob a gide da legislao espanhola (R.D. 1.435/85);

b) a empresa contratante espanhola e no possui sede ou filial no Brasil;

c) o stio eletrnico www.brasilcarnaval2000.com, onde as reclamadas imagens/fotografias da autora esto veiculadas, espanhol;

d) os shows onde as fotografias/imagens foram obtidas, realizaram-se na Espanha e em outros pases da Europa;

e) se a causa de pedir da indenizao o uso indevido da imagem da autora em stio eletrnico da empresa recorrente, imprescindvel se faz a anlise do contrato;

f) o fato de um internauta poder acessar do Brasil o contedo de um stio estrangeiro no tem o condo de fixar a competncia da jurisdio brasileira. Informa que todas as fotografias so dos bailarinos como profissionais e que somente foram utilizadas conforme previsto no contrato, para a exposio dos servios anunciados pela empresa, qual seja, espetculo de samba.

Sustenta que no contrato firmado entre as partes foi fixado como foro de eleio a cidade de Mlaga, na Espanha, para a soluo de quaisquer controvrsia oriundas do contrato de prestao de servios: "Los conflictos que surjan entre ls artistas em espectculos Y las Empresas, como consecuencia del contrato de trabajo, sern competncia de los Jueces y Tribunal del orden jurisdiccional social ".VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMO (Relator):

2. A questo principal saber se a jurisdio brasileira pode ser invocada em caso de contrato de prestao de servio que contm clusula de foro na Espanha, envolvendo uma pessoa fsica com domiclio no Brasil, percebendo que sua imagem est sendo utilizada indevidamente, segundo alega, por intermdio de stio eletrnico veiculado no exterior, mas acessvel pela rede mundial de computadores, acarretando-lhe danos material e moral.

3. Inicialmente, importante realar que a evoluo dos sistemas relacionados informtica proporcionou a internacionalizao das relaes humanas em suas diversas vertentes, relativizando distncias geogrficas, ensejando mltipla e instantnea interao entre indivduos, com acesso amplo da informao. Por outro lado, contudo, a intangibilidade e mobilidade das informaes armazenadas e transmitidas na rede mundial de computadores, a fugacidade e instantaneidade com que as conexes so estabelecidas, mantidas, encerradas, a possibilidade de no exposio fsica do usurio, o alcance global da rede, constituem-se em algumas peculiaridades inerentes a esta nova tecnologia que permitem a prtica de possveis condutas indevidas.

A origem da internet, alm de seu posterior desenvolvimento, ocorre em um ambiente com caractersticas de auto-regulao, pois os padres e as regras do sistema no emanam, necessariamente, de rgos estatais, mas de entidades e usurios que assumem o desafio de expandir a rede globalmente. Certamente, o tratamento jurdico das questes que envolvem a internet e o ciberespao tornam-se um desafio dos tempos modernos, uma vez que os progressivos avanos tecnolgicos tm levado flexibilizao e alterao de alguns conceitos jurdicos at ento sedimentados, como exemplo: liberdade, espao territorial, tempo, matria, conceitos que refletem diretamente na aplicao do direito.

3.1 neste contexto que se encaixa o presente caso, que traz baila a controvertida situao do impacto da internet sobre o direito e as relaes jurdico-sociais em um ambiente desprovido, at o momento, de regulamentao estatal.

A empresa recorrente World Company Dance Show Ltda. formalizou com a

autora contrato temporrio e sem vnculo empregatcio, de prestao de servios de danarina e assistente de direo em shows brasileiros a serem realizados nos continentes europeu e africano.

Aps o trmino do contrato, a autora visitou, por meio da internet , o endereo eletrnico da empresa contratante (www.brasilcarnaval.2000.com) e constatou que a pgina do stio continha montagens de imagens suas (recortadas de vrios shows nos quais havia trabalhado), bem como fotografias utilizadas indevidamente para propaganda.

4. A alegao da recorrente de que uma empresa espanhola e no possui

sede ou filial no Brasil, no impede que seja aqui processada (art. 100, inciso IV, alneas "b" e "c" c/c art. 12, incisos VII e VIII, ambos do CPC).

O processualista Nelson Nery Jnior elucida que: "quando a lei fala em agncia, filial ou sucursal, est se referindo existncia de estabelecimento de pessoa jurdica estrangeira no Brasil, seja qual for o nome que se d a esse estabelecimento". (In: Cdigo de processo civil comentado e legislao extravagante. 10. ed.- So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 326)Na mesma esteira, Arruda Alvim preleciona que esta competncia da autoridade judiciria nacional existir mesmo nos casos de se tratar de agncia, filial ou sucursal irregulares, pois a irregularidade no poder beneficiar a pessoa jurdica.(ALVIM, Arruda. Manual de Direito Processual Civil. So Paulo: RT, 2001).

Ademais, depreende-se dos autos que a recorrente foi devidamente citada no endereo constante de folhas 49, tendo apresentado contestao (fls. 51-64) e se insurgido contra a demanda at esta Corte Superior.

O STJ tem entendimento firmado no sentido de que aplica-se a teoria da aparncia para reconhecer a validade da citao realizada com "aviso de recebimento", efetivada no endereo de estabelecimento e recebida por pessoa, ainda que sem poderes expressos para o ato, que assina o documento sem fazer qualquer objeo imediata.

Nesse sentido, confiram-se:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. PESSOA JURDICA. CITAO. TEORIA DA APARNCIA.

1. Aplica-se a teoria da aparncia para reconhecer a validade da citao via postal com AR, efetivada no endereo da pessoa jurdica e recebida por pessoa que, ainda que sem poder expresso para tanto, a assina sem fazer qualquer objeo imediata.

2. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg nos EDcl no Ag 958.237/RS, Rel. Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/AP), QUARTA TURMA, julgado em 15/12/2009, DJe 02/02/2010)

AGRAVO REGIMENTAL - AO MONITRIA -PESSOA JURDICA - CITAO - TEORIA DA APARNCIA -POSSIBILIDADE - PRECEDENTES - RECURSO IMPROVIDO.

1. Este Superior Tribunal de Justia admite que a citao da pessoa jurdica se realize validamente na pessoa daquele que, mesmo sem ter poderes de representao, se apresente como tal, mormente se no h a imediata oposio. Precedentes.

2. Recurso improvido.(AgRg no Ag 989.921/SP, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/08/2008, DJe 05/09/2008)

5. Tampouco afasta a jurisdio brasileira a circunstncia de que o stio eletrnico www.brasilcarnaval2000.com seja espanhol e que as fotografias nele veiculadas tenham sido obtidas durante shows realizados na Espanha e em outros pases da Europa, pois o stio eletrnico pode ser acessado pela rede mundial de computadores, indistintamente, em todos os pases do mundo, nele incluindo o Brasil.

Alm disso, em ao indenizatria por danos morais e materiais, reiterado o entendimento da preponderncia da regra especfica do art. 100, inciso V, alnea "a", do CPC sobre as normas genricas dos arts. 94 e 100, inciso IV, alnea "a" do CPC.

Assim, a demanda pode ser promovida no foro do local onde ocorreu o ato ou fato, ainda que a r seja pessoa jurdica, com sede em outro lugar, pois na localidade em que reside e trabalha a pessoa prejudicada que o evento negativo ter maior repercusso.

Nesse sentido: confiram-se:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AO DE INDENIZAO. DANOS MORAIS E MATERIAIS. COMPETNCIA. NORMA DE CARTER ESPECFICO, ART. 100, V, "a", QUE PREVALECE SOBRE A GENRICA, ARTS. 94 E 100, IV, "a". LUGAR DO ATO OU FATO.

1. A ao indenizatria por danos morais e materiais tem por foro o local onde ocorreu o ato ou o fato, ainda que a demandada seja pessoa jurdica, com sede em outro lugar. Precedentes.

2. Prevalncia da regra especfica do art. 100, inc. V, letra "a", do CPC, sobre as normas genricas dos artigos 94 e 100, IV, "a", do mesmo diploma.

3. Recurso no conhecido. (REsp 533556/SP, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, julgado em 02/12/2004, DJ 17/12/2004 p. 556)

PROCESSUAL CIVIL. AO INDENIZATRIA. PUBLICAO DE MATRIA JORNALSTICA. DANO MORAL. COMPETNCIA. FORO DO LUGAR DO ATO OU FATO. CPC, ART. 100, V, LETRA "A".

I. No caso de ao de indenizao por danos morais causados pela veiculao de matria jornalstica em revista de circulao nacional, considera-se "lugar do ato ou fato", para efeito de aplicao da regra especial e, portanto, preponderante, do art. 100, V, letra "a", do CPC, a localidade em que residem e trabalham as pessoas prejudicadas, pois na comunidade onde vivem que o evento negativo ter maior repercusso para si e suas famlias.

II. Inaplicabilidade tanto do inciso IV, letra "a" do mesmo dispositivo processual, por ser mera regra geral, no extensvel s excees legais, como a do art. 42 da Lei de Imprensa, eis que dirige-se esta ao processo penal.

III. Recurso no conhecido, confirmada a competncia da Justia do Distrito Federal.

(REsp 191169/DF, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 06/04/2000, DJ 26/06/2000 p. 178)

6. A questo principal, de fato, saber se a clusula de eleio de foro, prevista em contrato de prestao de servios que deveriam ser realizados no exterior, seria suficiente para afastar a jurisdio brasileira, especialmente quando a ao onde se pleiteia danos materiais e morais proposta por autora domiciliada no Rio de Janeiro, sendo que a demanda se originou de fato/ato consistente na veiculao de imagens em stio eletrnico tambm acessado no Brasil.

6.1 Releva notar, de incio, que a fixao da jurisdio quando a ao decorre de utilizao de imagem divulgada pela web desafia, primeiro, compreender o principal fenmeno gerado pelo desenvolvimento das tecnologias da informao.

"(...) A discusso sobre jurisdio na Internet envolve, em primeiro plano, a questo de se saber se o cyberspace, nome que se d ao ambiente das redes eletrnicas onde feito o intercmbio de informaes, deve ser visto como um lugar, como meios de comunicao ou, ainda, como um simples estado tecnolgico da mente. Em outras palavras, o que se discute se o ato de uma pessoa conectar-se rede mundial transporta-a para um novo local, mesmo que esse passo em direo a esse novo lugar seja resultado de um estado mental produzido pela tecnologia, ou se, de outro modo, isso reflete simplesmente o uso de diferentes meios de comunicao, semelhana do que ocorre quando se utiliza um telefone, um aparelho de fax ou uma ligao por satlite. Dependendo de como se convencione trat-lo, isso vai resultar em importantes conseqncias quanto lei (ou conjunto de leis) a ser aplicado e quanto autoridade que detm competncia para regulament-lo e fazer impor seu poder coercitivo (...)" (REINALDO FILHO, Demcrito (cord.). Direito da Informtica Temas Polmicos. So Paulo: Edipro, 2002)

Certamente, a comunicao global via computadores pulverizou as fronteiras territoriais e criou um novo mecanismo de comunicao humana, porm no subverteu a possibilidade e a credibilidade da aplicao da lei baseada nas fronteiras geogrficas.

6.2 Como se sabe, jurisdio a funo do Estado visando compor conflitos de interesse, aplicando a lei ao caso concreto.

Os doutrinadores Cintra, Grinover e Dinamarco a definem como sendo uma das funes do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificao do conflito que os envolve, com justia.

Em outras palavras, apregoam os autores que:

atravs do exerccio da funo jurisdicional, o que busca o Estado fazer com que se atinjam, em cada caso concreto, os objetivos das normas de direito substancial. (CINTRA, A.; GRINOVER, A., DINAMARCO, C. Teoria geral do processo. So Paulo: Malheiros, 19 ed., 2003, p. 131-133).

O exerccio da jurisdio deve observar alguns princpios, decorrentes da prpria organizao do Estado moderno. Os princpios da jurisdio, doutrinariamente, tm carter universal e constituem-se de elementos essenciais para a concretude do exerccio jurisdicional, sendo que dentre eles avultam: inevitabilidade, investidura, indelegabilidade, inrcia, unicidade, inafastabilidade e aderncia.

No tocante ao princpio da aderncia, especificamente, este pressupe que, para que a jurisdio seja exercida, deve haver correlao com um territrio.

Ada Pellegrini e Cndido Rangel Dinamarco, esclarecem:

"No princpio da aderncia ao territrio manifesta-se, em primeiro lugar, a limitao da prpria soberania nacional ao territrio do pas: assim como os rgos do Poder Executivo ou Legislativo, tambm os magistrados s tm autoridade nos limites territoriais do Estado." (Teoria Geral do Processo. 9 Edio. Malheiros. So Paulo, 1992, p. 118).

Vale dizer, portanto, que para as leses a direitos ocorridos no mbito do territrio brasileiro, em linha de princpio, a autoridade judiciria nacional detm competncia para processar e julgar o litgio.

6.3 No sendo assim, poder-se-ia colher a sensao incmoda de que a internet um refgio, uma zona franca, por meio da qual tudo seria permitido sem que daqueles atos adviessem responsabilidades.

Contudo, com o desenvolvimento da tecnologia passamos a ter um novo conceito de privacidade que corresponde ao direito que toda pessoa tem de dispor com exclusividade sobre as prprias informaes, ou seja, o consentimento do interessado o ponto de referncia de todo o sistema de tutela da privacidade. (PAESANI, Liliana Minardi - Direito e internet: liberdade de informao, privacidade e responsabilidade civil, 3 ed. So Paulo: Atlas, 2006, p. 36-60)

7. Com efeito, impende salientar que "casos existem nos quais a Justia Brasileira se considera competente para julgar uma demanda, mas no exclui a possibilidade de a dita causa ser julgada por Justia estrangeira". (CARNEIRO, Athos Gusmo. Jurisdio e competncia. 16. ed. - So Paulo: Saraiva, 2009, p. 78)

O artigo 88 do CPC, inserido sob o ttulo "competncia internacional", cuida das hipteses de jurisdio concorrente (cumulativa), em que a competncia do Poder Judicirio Brasileiro no afasta a de outro Estado.

Dispe o preceito em comento:

"Art. 88. competente a autoridade judiciria brasileira quando:

I - o ru, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;

II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigao;

III - a ao se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil.

Pargrafo nico: Para o fim do disposto no n I, reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa jurdica estrangeira que aqui tiver agncia, filial ou sucursal."

Tem-se, pois, que o juiz brasileiro somente atua relativamente s causas de algum modo vinculadas a pas estrangeiro se houver possibilidade de tornar efetiva, de realmente fazer cumprir sua sentena, de molde a justificar como razovel o exerccio da soberania estatal.

Conveniente esclarecer que a denominao competncia internacional no se justifica relativamente a algum carter pretensamente internacional da autoridade judiciria brasileira que a exerce, mas em razo das relaes jurdicas que so objeto do litgio; ou em razo dos elementos de estraneidade que compem o litgio. (MORI, Celso Cintra e NASCIMENTO. Edson Bueno. A Competncia Geral Internacional do Brasil: Competncia Legislativa e Competncia Judiciria no Direito Brasileiro. Revista de Processo, n 73, abril/maro 1996)

Assim, eventual ao que envolva uma das trs hipteses previstas no artigo em comento, pode ser proposta perante a justia brasileira, ou de outro pas, desde que tambm seja competente para analis-la.

Nesses casos, h uma mitigao do princpio da aderncia, tornando-se competente a justia brasileira apenas por razes de viabilidade e efetividade da prestao jurisdicional.

Enquanto o princpio da aderncia condiciona o exerccio da jurisdio ao territrio no qual o Estado exerce sua soberania, restando afastada a rede mundial de computadores de qualquer interveno estatal (pois no se encontra circunscrita a nenhum territrio especfico), o princpio da inafastabilidade da jurisdio imprime ao Estado a obrigao de resolver as lides que lhes so apresentadas, com vistas consecuo da paz social.

8. Como se sabe, inexiste, at o presente momento, uma legislao internacional que regulamente a atuao no ciberespao.

Por esta razo, os cidados afetados pelas informaes contidas em stios eletrnicos ou por relaes mantidas no ambiente virtual no podem ser tolhidos do direito de acesso justia para a anlise de eventuais danos ou ameaas de leses decorrentes de direitos de privacidade, intimidade, consumidor, dentre outros.

Certamente, a legitimidade de usurios da internet em buscar as medidas judiciais protetivas nos tribunais locais, alm de concretizar a jurisdio do domiclio dos usurios, coincide com o local em que os possveis prejuzos decorrentes da violao tenham sido sentidos com maior intensidade.

Desta forma, admissvel a jurisdio brasileira para tratar da questo, embora, eventualmente, seja necessrio o exame do contrato de prestao de servios para aferir a existncia de clusula autorizativa da publicao de fotografias e imagens da autora, tal anlise facultada ao magistrado de origem.

9. Ademais, a clusula de eleio de foro existente no contrato de prestao

de servios no exterior, embora admitida pelo sistema jurdico brasileiro, no impede que a ao seja proposta no Brasil, ainda que se trate de competncia concorrente.

Assim j decidiu o Superior Tribunal de Justia, oportunidade na qual ficou

assentado que: a competncia concorrente do juiz brasileiro no pode ser afastada pela vontade das partes; vlida a eleio de um foro estrangeiro, permanece a concorrncia, isto , a autoridade brasileira no estar impedida de apreciar a matria (REsp 251438/RJ, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em 08/08/2000, DJ 02/10/2000 p. 173)

E ainda que no fosse assim, a clusula de eleio no poderia ser aplicada.

que, ao que se dessume da inicial, a imputao de utilizao indevida da imagem da autora um "posterius" em relao ao contato de prestao de servio. Ou seja, o direito de resguardo imagem e intimidade autnomo em relao ao pacto firmado, no sendo dele decorrente.

A ao de indenizao movida pela autora no baseada, portanto, no contrato em si, mas em fotografias e imagens utilizadas pela r, sem seu consentimento.

Por isso que no h se falar em foro de eleio contratual.

10. Em suma, quando a alegada atividade ilcita tiver sido praticada pela internet, independentemente de foro previsto no contrato de prestao de servio, ainda que no exterior, competente a autoridade judiciria brasileira caso acionada para dirimir o conflito, pois aqui tambm houve acesso ao stio eletrnico onde a informao foi veiculada, interpretando-se como ato praticado no Brasil, aplicando-se hiptese o disposto no artigo 88, III, do CPC.

11. Diante do exposto, nego provimento ao recurso especial.

como voto.

RECURSO ESPECIAL N 1.168.547 - RJ (2007/0252908-3)

VOTO-ANTECIPADO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONALVES: Srs. Ministros, acompanho o voto do Sr. Ministro Relator, no sentido de no conhecer do recurso especial.

CERTIDO DE JULGAMENTO

QUARTA TURMA

Nmero Registro: 2007/0252908-3 REsp 1168547 / RJ

Nmeros Origem: 158372007 200700115837 200713508781 200713710383 87812007

PAUTA: 06/04/2010 JULGADO: 06/04/2010

Relator

Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMO

Presidente da Sesso

Exmo. Sr. Ministro FERNANDO GONALVES

Subprocurador-Geral da Repblica

Exmo. Sr. Dr. ANTNIO CARLOS FONSECA DA SILVA

Secretria

Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAO

RECORRENTE : WORLD COMPANY DANCE SHOW LTDA

ADVOGADO : SRGIO REYNALDO ALLEVATO E OUTRO(S)

RECORRIDO : PATRCIA CHLIDA DE LIMA SANTOS

ADVOGADO : ANNA PAULA DE LIMA LEMOS

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil

CERTIDO

Certifico que a egrgia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epgrafe na sesso realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso:

Aps o voto do Sr. Ministro Luis Felipe Salomo, Relator, no conhecendo do recurso especial, no que foi acompanhado pelo Sr. Ministro Fernando Gonalves, PEDIU VISTA o Sr. Ministro Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP). Aguardam os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior e Joo Otvio de Noronha.

Braslia, 06 de abril de 2010

TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

Secretria

RECURSO ESPECIAL N 1.168.547 - RJ (2007/0252908-3)

RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMO

RECORRENTE : WORLD COMPANY DANCE SHOW LTDA

ADVOGADO : SRGIO REYNALDO ALLEVATO E OUTRO(S)

RECORRIDO : PATRCIA CHLIDA DE LIMA SANTOS

ADVOGADO : ANNA PAULA DE LIMA LEMOS

VOTO-VISTA

O EXMO. SR. MINISTRO HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO

(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/AP):

Sr. Presidente, Patrcia Chlida de Lima Santos e World Company Dance Show Ltda. entabularam, em lngua estrangeira, contrato temporrio de prestao de servio, cujo foro de eleio para eventual soluo de controvrsia seria a cidade de Mlaga, Espanha. Os servios contratados de danarina e assistente de direo de shows brasileiros seriam executados nos continentes Europeu e Africano.

O contrato, no tocante aos servios prestados e remunerao, fora devidamente adimplido.

Todavia, ao retornar ao seu pas de origem, no caso, o Brasil, Patrcia constatou, meses depois, em visita ao stio eletrnico hospedado na Espanha (www.brasilcarnaval.2000.com), que montagens contendo suas fotos naqueles shows foram inseridas sem sua prvia autorizao. Alega que o contrato veda a divulgao de sua imagem para fins diversos queles avenados.

Com a propositura da ao em face da empresa espanhola World Company Dance Show Ltda., a autora Patrcia Chlida requer ao Poder Judicirio brasileiro a reparao civil por danos materiais e morais que alega ter sofrido.

A empresa, em defesa, sustenta a incompetncia da Justia brasileira, pois alm do stio eletrnico estar hospedado na Espanha, o contrato elegeu o foro de Mlaga para soluo de conflitos dele decorrente.

O juiz de primeiro grau, acolhendo a tese de incompetncia da

Justia brasileira, julgou extinto o processo. O Eg. Tribunal a quo, no entanto, reformou a sentena, afirmando que a competncia da Justia brasileira porque o ato considerado praticado no Brasil, vez que a imagem divulgada pela internet pode ser acessada de qualquer computador instalado neste pas.

Invoca a aplicabilidade do art. 88, III, do CPC.

Os embargos declaratrios foram rejeitados.

Inconformada, a empresa interpe recurso especial com supedneo no art. 105, III, alnea "a" da Constituio Federal. Sustenta violao ao art. 88, III, do CPC.

O recurso extremo no foi admitido na origem, tendo sido interposto Agravo de Instrumento. O eminente relator, Ministro Luis Felipe Salomo, por fora da deciso de f. 152, converteu o agravo em recurso especial (art. 544, 2, CPC).

m substancioso voto, o eminente relator define a jurisdio da Justia brasileira para julgar a causa, assentando, em resumo:

a) que embora a empresa alegue que no possua sede ou filial no Brasil, comprova-se sua citao no endereo de f. 49, tanto que apresentou contestao s fs. 51/64. Refora-se o regular trmite processual pela sua conduta de interpor recursos at esta Eg. Corte Superior;

b) a preponderncia da regra especfica do art. 100, inciso V, alnea "a" do CPC sobre as normas genricas dos artigos 94 e 100, inciso IV, alnea "a" do CPC. Destaca que na localidade em que reside e trabalha a pessoa prejudicada que o evento negativo ter maior repercusso;

c) que as trs hipteses previstas nos incisos do art. 88, do CPC, no excluem a jurisdio estrangeira, porquanto trata-se de competncia concorrente. Considera-se o ato praticado no Brasil, uma vez que acesso ao stio eletrnico ocorreu neste pas e foi acionada a autoridade judiciria brasileira. Ademais, a clusula de eleio de foro no prevalece porque o contrato foi devidamente cumprido. A utilizao da imagem da autora posterior ao encerramento do contrato.

Aps o voto do eminente relator, pedi vistas para melhor analisar a matria.

, no essencial, a sntese dos fatos.

Examino os autos, e adianto que comungo do judicioso voto do eminente ministro Luis Felipe Salomo.

H, neste caso concreto, um direito fundamental que prevalece sobre qualquer outro direito: a dignidade da pessoa humana (art. 5, X, da CF/88), porque este alberga o direito imagem da autora.

Com efeito, a Conveno Americana de Direitos Humanos de 1969 (Pacto de San Jos da Costa Rica), reconhece que "os direitos essenciais da pessoa humana no derivam do fato de ser ela nacional de determinado Estado, mas sim do fato de ter como fundamento os atributos da pessoa humana, razo porque justificam uma proteo internacional, de natureza convencional, coadjuvante ou complementar da que oferece o direito interno dos Estados americanos " (prembulo).

No mais, em seu art. 11, relativamente Proteo da honra e da dignidade, a Conveno Americana dispe:

"Art. 11.

1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade.

2. Ningum pode ser objeto de ingerncia arbitrrias ou abusivas em sua vida privada, na de sua famlia, em seu domcilio ou em sua correspondncia, nem de ofensas ilegais sua honra ou reputao.

3. Toda pessoa tem direito proteo da lei contra tais ingerncias ou tais ofensas."

Invoco a proteo constitucional dignidade da pessoa humana porque a ausncia de previso sobre normas de "ciberespao" no pode gerar um 'buraco negro' na aplicao do direito.

Na espcie, uma pessoa brasileira, residente no Brasil, alegando que a empresa estrangeira violou direito sua imagem no pode ficar merc de exclusiva jurisdio estrangeira to-somente porque, no passado, as partes celebraram contrato de prestao de servios em outro pas. O contrato, como se extrai dos autos, foi devidamente cumprido em todos os seus termos. No se pretende exigir o seu adimplemento.

O ato de divulgar a imagem (por montagem de foto) de pessoa presidente neste pas pela internet independente, isolado, traduzindo-se num ilcito, e como tal, deve ser combatido pela Justia brasileira, porque provocada.

A hospedagem do stio eletrnico indiferente para fins de definio de competncia, critrio esse, alis, sem suporte legal.

Correta , a meu ver, no caso concreto, a aplicabilidade de regras do art. 88 e incisos do CPC, porquanto prev as hipteses de competncia concorrente, e porque a autora reside no Brasil.

A ao indenizatria, tal como posta, pode ser demandada tanto na Justia brasileira como na estrangeira. Esta ltima jurisdio no se exclui.

V-se, portanto, o enquadramento da definio de competncia concorrente do Brasil, prevista no art. 88, inciso III, do CPC ("a ao se originar de fato ocorrido ou de ato no praticado no Brasil"), porquanto, como bem explicitado pelo eminente ministro relator, o acesso ao stio eletrnico ocorreu pela prpria autora dentro dos limites do Brasil.

Ademais, e reforando a violao de direito fundamental, a divulgao da imagem gerou um suposto dano em pessoa aqui residente, repercutindo negativamente com maior intensidade na localidade em que a pessoa reside e trabalha (Brasil), independentemente do local em que esteja a pessoa jurdica (exterior).

Dessa forma, os precedentes citados pelo eminente ministro relator bem definem a hiptese sub examine .

Com esses fundamentos, acompanho integralmente o eminente relator, para conhecer do recurso especial, mas negar-lhe provimento.

como voto.

RECURSO ESPECIAL N 1.168.547 - RJ (2007/0252908-3)

VOTO

EXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR: Sr.

Presidente, prefiro acompanhar o voto do Sr. Ministro Luis Felipe Salomo, com ressalvas.

Acompanho o voto do Sr. Ministro Luis Felipe Salomo, mas exclusivamente pela circunstncia de o domiclio da parte ser no Brasil, apenas por esse fundamento; e afasto, decididamente, o fundamento de que o local de onde se fez o acesso ao site da internet que firma a competncia. No acolho, com a mxima vnia, esse fundamento.

CERTIDO DE JULGAMENTO

QUARTA TURMA

Nmero Registro: 2007/0252908-3 REsp 1168547 / RJ

Nmeros Origem: 158372007 200700115837 200713508781 200713710383 87812007

PAUTA: 11/05/2010 JULGADO: 11/05/2010

Relator

Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMO

Presidente da Sesso

Exmo. Sr. Ministro JOO OTVIO DE NORONHA

Subprocurador-Geral da Repblica

Exmo. Sr. Dr. FERNANDO HENRIQUE OLIVEIRA DE MACEDO

Secretria

Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAO

RECORRENTE : WORLD COMPANY DANCE SHOW LTDA

ADVOGADO : SRGIO REYNALDO ALLEVATO E OUTRO(S)

RECORRIDO : PATRCIA CHLIDA DE LIMA SANTOS

ADVOGADO : ANNA PAULA DE LIMA LEMOS

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil

CERTIDO

Certifico que a egrgia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epgrafe na sesso

realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso:

Prosseguindo no julgamento, aps o voto-vista do Sr. Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP), negando provimento ao recurso especial, acompanhando os votos dos Srs. Ministros Luis Felipe Salomo, Relator, e Fernando Gonalves, e os votos dos Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior e Joo Otvio de Noronha, no mesmo sentido, a Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP), Aldir Passarinho Junior e Joo Otvio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.

Braslia, 11 de maio de 2010

TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

Secretria