stj resp 1.010.834-go (cdc e sua aplicação entre empresas aplica)

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Superior Tribunal de JustiaRECURSO ESPECIAL N 1.010.834 - GO (2007/0283503-8) RELATORA RECORRENTE ADVOGADO RECORRIDO ADVOGADO : : : : : MINISTRA NANCY ANDRIGHI MARBOR MQUINAS LTDA JOSE ROBERTO CAMASMIE ASSAD E OUTRO(S) SHEILA DE SOUZA LIMA VALRIA DE BESSA CASTANHEIRA LEO E OUTRO(S) EMENTA

PROCESSO CIVIL E CONSUMIDOR. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE MQUINA DE BORDAR. FABRICANTE. ADQUIRENTE. VULNERABILIDADE. RELAO DE CONSUMO. NULIDADE DE CLUSULA ELETIVA DE FORO. 1. A Segunda Seo do STJ, ao julgar o REsp 541.867/BA, Rel. Min. Pdua Ribeiro, Rel. p/ Acrdo o Min. Barros Monteiro, DJ de 16/05/2005, optou pela concepo subjetiva ou finalista de consumidor. 2. Todavia, deve-se abrandar a teoria finalista, admitindo a aplicao das normas do CDC a determinados consumidores profissionais, desde que seja demonstrada a vulnerabilidade tcnica, jurdica ou econmica. 3. Nos presentes autos, o que se verifica o conflito entre uma empresa fabricante de mquinas e fornecedora de softwares, suprimentos, peas e acessrios para a atividade confeccionista e uma pessoa fsica que adquire uma mquina de bordar em prol da sua sobrevivncia e de sua famlia, ficando evidenciada a sua vulnerabilidade econmica. 4. Nesta hiptese, est justificada a aplicao das regras de proteo ao consumidor, notadamente a nulidade da clusula eletiva de foro. 5. Negado provimento ao recurso especial.

ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justia, na conformidade dos votos e das notas taquigrficas constantes dos autos Prosseguindo no julgamento, aps o voto-vista do Sr. Ministro Massami Uyeda, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Massami Uyeda, Sidnei Beneti, Vasco Della Giustina e Paulo Furtado votaram com a Sra. Ministra Relatora. Braslia (DF), 03 de agosto de 2010(Data do Julgamento).

MINISTRA NANCY ANDRIGHI Relatora

Documento: 957385 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/10/2010

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Superior Tribunal de JustiaRECURSO ESPECIAL N 1.010.834 - GO (2007/0283503-8) RECORRENTE ADVOGADO RECORRIDO ADVOGADO : : : : MARBOR MQUINAS LTDA JOSE ROBERTO CAMASMIE ASSAD E OUTRO(S) SHEILA DE SOUZA LIMA VALRIA DE BESSA CASTANHEIRA LEO E OUTRO(S)

RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHI RELATRIO Cuida-se de recurso especial, interposto por MARBOR MQUINAS LTDA, com fundamento nas alneas a e c do permissivo constitucional. Ao: declaratria de nulidade de clusulas contratuais, ajuizada por SHEILA DE SOUZA LIMA, em face da recorrente. Na inicial, a recorrida alegou que firmara com a recorrente contrato de compra e venda de mquina de bordar, dividido em 20 (vinte) prestaes mensais e que esse contrato possuia clusulas abusivas. Requereu o reconhecimento da nulidade de clusulas contratuais e a repetio do indbito. A recorrente arguiu exceo de incompetncia do Juzo da 3 Vara Cvel da Comarca de Goinia/GO, pois, no contrato firmado entre as partes, foi eleito o foro da Comarca de So Paulo/SP, para dirimir eventuais controvrsias oriundas da relao contratual. Deciso interlocutria: acolheu a exceo de incompetncia e determinou a remessa dos autos a uma das varas cveis da Comarca de So Paulo/SP. Acrdo: deu provimento ao agravo de instrumento interposto pela recorrida, nos termos da seguinte ementa:Agravo de Instrumento. Exceo de Incompetncia. Ao de Reviso de Contrato. Relao de Consumo. Configurao. Cdigo de Defesa do Consumidor. Aplicabilidade. Foro de eleio.Documento: 957385 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/10/2010 Pgina 2 de 16

Superior Tribunal de JustiaClusula Abusiva. 1- Configura-se relao de consumo quando o destinatrio final ftico adquire o bem ou servio para utiliz-lo no exerccio de profisso. 2- Constitui contrato de adeso aquele pr-redigido, em que o estipulante se outorga todas as facilidades em detrimento do aderente, de quem so retiradas as vantagens e a quem so carreados todos os nus derivados do contrato, sem prvia discusso sobre o contedo. 3- O foro de eleio, nos contratos de adeso, no pode prevalecer se configurar verdadeiro entrave de acesso ao Poder Judicirio pela parte aderente, devendo assim, a clusula que o institui ser considerada abusiva e declarada nula. Agravo conhecido e provido, unanimidade de votos.. (fl. 88)

Embargos de declarao: foram rejeitados (fls. 111/120). Recurso especial: aponta dissdio jurisprudencial e negativa de vigncia: (i) dos arts. 2, 3 e 54, do CDC, pois no se configura a relao de consumo quando o destinatrio final adquire o bem para utiliz-lo no exerccio da profisso; (ii) dos arts. 94, 100 e 111 do CPC, porque a ao deve ser julgada no foro eleito pelas partes, previsto em clusula contratual. Prvio juzo de admissibilidade: aps a apresentao das contrarrazes do recorrido (fls. 168/177), foi o recurso especial inadmitido na origem (fls. 179/180). Interposto agravo de instrumento pela recorrente, dei-lhe provimento e determinei a subida do presente recurso especial. o relatrio.

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Superior Tribunal de JustiaRECURSO ESPECIAL N 1.010.834 - GO (2007/0283503-8) RELATORA RECORRENTE ADVOGADO RECORRIDO ADVOGADO : : : : : MINISTRA NANCY ANDRIGHI MARBOR MQUINAS LTDA JOSE ROBERTO CAMASMIE ASSAD E OUTRO(S) SHEILA DE SOUZA LIMA VALRIA DE BESSA CASTANHEIRA LEO E OUTRO(S)

RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHI VOTO Trata-se de recurso especial cuja lide diz respeito amplitude do conceito de consumidor para o fim de se declarar a nulidade da clusula de eleio de foro.

I Do conceito de consumidor (violao dos arts. 2, 3 e 54, do CDC, e dissdio jurisprudencial). Especificamente, a hiptese versa sobre pessoa fsica que adquiriu mquina de bordar para desenvolver atividade profissional. A Segunda Seo do STJ, ao julgar o REsp 541.867/BA, Rel. Min. Pdua Ribeiro, Rel. p/ Acrdo o Min. Barros Monteiro, DJ de 16/05/2005, optou pela concepo subjetiva ou finalista de consumidor, sedimentando seu entendimento nos termos da seguinte ementa:COMPETNCIA. RELAO DE CONSUMO. UTILIZAO DE EQUIPAMENTO E DE SERVIOS DE CRDITO PRESTADO POR EMPRESA ADMINISTRADORA DE CARTO DE CRDITO. DESTINAO FINAL INEXISTENTE. - A aquisio de bens ou a utilizao de servios, por pessoa natural ou jurdica, com o escopo de implementar ou incrementar a sua atividade negocial, no se reputa como relao de consumo e, sim, como uma atividade de consumo intermediria. Recurso especial conhecido e provido para reconhecer aDocumento: 957385 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/10/2010 Pgina 4 de 16

Superior Tribunal de Justiaincompetncia absoluta da Vara Especializada de Defesa do Consumidor, para decretar a nulidade dos atos praticados e, por conseguinte, para determinar a remessa do feito a uma das Varas Cveis da Comarca.

Nesse julgamento, eu e os Ministros Pdua Ribeiro, Humberto Gomes de Barros e Castro Filho manifestamos expressa predileo pela teoria maximalista ou objetiva, sendo que a tese vencedora recebeu apenas cinco dos nove votos. De acordo com esse julgado, o conceito de consumidor ficou restrito, alcanando apenas a pessoa fsica ou jurdica que adquire o produto no mercado a fim de consumi-lo. Em outras palavras, o consumidor foi conceituado como o destinatrio final no sentido econmico, ou seja, aquele que consome o bem ou o servio sem destin-lo revenda ou ao insumo de atividade econmica. Evoluindo sobre o tema, analisando hiptese anloga ao presente processo, a jurisprudncia do STJ, no julgamento do REsp 1.080.719/MG, de minha relatoria, 3 Turma, DJe 17/08/2009, flexibilizou o entendimento anterior para considerar destinatrio final quem usa o bem em benefcio prprio, independentemente de servir diretamente a uma atividade profissional:Processo civil e Consumidor. Resciso contratual cumulada com indenizao. Fabricante. Adquirente. Freteiro. Hipossuficincia. Relao de consumo. Vulnerabilidade. Inverso do nus probatrio. - Consumidor a pessoa fsica ou jurdica que adquire produto como destinatrio final econmico, usufruindo do produto ou do servio em beneficio prprio. - Excepcionalmente, o profissional freteiro, adquirente de caminho zero quilmetro, que assevera conter defeito, tambm poder ser considerado consumidor, quando a vulnerabilidade estiver caracterizada por alguma hipossuficincia quer ftica, tcnica ou econmica. - Nesta hiptese esta justificada a aplicao das regras de proteo ao consumidor, notadamente a concesso do benefcio processualDocumento: 957385 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/10/2010 Pgina 5 de 16

Superior Tribunal de Justiada inverso do nus da prova. Recurso especial provido.

No obstante a Segunda Seo tenha balizado o conceito de consumidor, novos julgados voltaram a aplicar a tendncia maximalista, agregando novos argumentos a favor de um conceito de consumidor mais amplo e justo. Entre eles, consigne-se:RESPONSABILIDADE CIVIL. CONCESSIONRIA DE TELEFONIA. SERVIO PBLICO. INTERRUPO. INCNDIO NO CRIMINOSO. DANOS MATERIAIS. EMPRESA PROVEDORA DE ACESSO INTERNET. CONSUMIDORA INTERMEDIRIA. INEXISTNCIA DE RELAO DE CONSUMO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA CONFIGURADA. CASO FORTUITO. EXCLUDENTE NO CARACTERIZADA. ESCOPO DE PACIFICAO SOCIAL DO PROCESSO. RECURSO NO CONHECIDO. 1. No que tange definio de consumidor, a Segunda Seo desta Corte, ao julgar, aos 10.11.2004, o REsp n 541.867/BA, perfilhou-se orientao doutrinria finalista ou subjetiva, de sorte que, de regra, o consumidor intermedirio, por adquirir produto ou usufruir de servio com o fim de, direta ou indiretamente, dinamizar ou instrumentalizar seu prprio negcio lucrativo, no se enquadra na definio constante no art. 2 do CDC. Denota-se, todavia, certo abrandamento na interpretao finalista, na medida em que se admite, excepcionalmente, a aplicao das normas do CDC a determinados consumidores profissionais, desde que demonstrada, in concreto, a vulnerabilidade tcnica, jurdica ou econmica. (...). 7. Recurso Especial no conhecido. (REsp 660026/RJ, Rel. Min. Jorge Scartezzini, 4 Turma, DJ de 27/06/2005) DIREITO DO CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. CONCEITO DE CONSUMIDOR. PESSOA JURDICA. EXCEPCIONALIDADE. NO CONSTATAO NA HIPTESE DOS AUTOS. FORO DE ELEIO. EXCEO DE INCOMPETNCIA. REJEIO. A jurisprudncia do STJ tem evoludo no sentido de somente admitir a aplicao do CDC pessoa jurdica empresria excepcionalmente, quando evidenciada a sua vulnerabilidade noDocumento: 957385 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/10/2010 Pgina 6 de 16

Superior Tribunal de Justiacaso concreto; ou por equiparao, nas situaes previstas pelos arts. 17 e 29 do CDC. (...) Recurso especial no conhecido. (REsp 684.613-SP, de minha relatoria, 3 Turma, DJ de 01/07/2005)

Com esse novo entendimento, houve um significativo passo para o reconhecimento de no ser o critrio do destinatrio final econmico o determinante para a caracterizao de relao de consumo ou do conceito de consumidor. Ainda que o adquirente do bem no seja o seu destinatrio final econmico, poder ser considerado consumidor, desde que seja constatada a sua hipossuficincia, na relao jurdica, perante o fornecedor. No processo em exame, o que se verifica o conflito entre uma empresa fabricante de mquinas e fornecedora de softwares, suprimentos, peas e acessrios para a atividade confeccionista e uma pessoa fsica que adquire uma mquina de bordar em prol da sua sobrevivncia e de sua famlia, ficando evidenciada a sua vulnerabilidade econmica. Dessarte, reconhecida a possibilidade de abrandamento da teoria finalista, admitindo a aplicao das normas do CDC a determinados consumidores profissionais, desde que seja demonstrada a vulnerabilidade tcnica, jurdica ou econmica, de se enquadrar a recorrida na definio constante do art. 2 do CDC.

II Da nulidade da clusula de eleio de foro (violao dos arts. 94, 100 e 111 do CPC e dissdio jurisprudencial). Em decorrncia da ampliao do conceito de consumidor para a hiptese dos autos, passa-se a analisar a validade da clusula de eleio de foro luz da legislao consumerista.Documento: 957385 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/10/2010 Pgina 7 de 16

Superior Tribunal de JustiaUma vez adotado o sistema de proteo ao consumidor, reputam-se nulas no apenas as clusulas contratuais que impossibilitem, mas as que simplesmente dificultem ou deixem de facilitar o livre acesso do hipossuficiente ao Judicirio. Dessa feita, nula a clusula de eleio de foro que ocasiona prejuzo parte hipossuficiente da relao jurdica, deixando de facilitar o seu acesso ao Poder Judicirio. Nesse sentido, registre-se o REsp 669.990/CE, Rel. Min. Jorge Scartezzini, 4 Turma, DJ de 11/09/2006, e o CC 48.647/RS, Rel. Min. Fernando Gonalves, 2 Seo, DJ de 05/12/2005, este assim ementado:CONFLITO DE COMPETNCIA. CIVIL. CARTA PRECATRIA. AO DE BUSCA E APREENSO. ALIENAO FIDUCIRIA. CLUSULA DE ELEIO DE FORO. ABUSIVIDADE. INCIDNCIA DO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. COMPETNCIA ABSOLUTA. RECONHECIMENTO DE OFCIO. PRECEDENTES. 1. Em se tratando de relao de consumo, tendo em vista o princpio da facilitao de defesa do consumidor, no prevalece o foro contratual de eleio, por ser considerada clusula abusiva, devendo a ao ser proposta no domiclio do ru, podendo o juiz reconhecer a sua incompetncia ex officio. 2. Pode o juiz deprecado, sendo absolutamente competente para o conhecimento e julgamento da causa, recusar o cumprimento de carta precatria em defesa de sua prpria competncia. 3. Conflito conhecido e declarado competente o Juzo de Direito da Vara Cvel de Cruz Alta - RS, o suscitante.

Dessarte, caracterizada, neste processo, a hipossuficincia da recorrida, est plenamente justificada a aplicao das regras de proteo ao consumidor, notadamente a nulidade da clusula eletiva de foro.

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Superior Tribunal de JustiaForte nessas razes, CONHEO do recurso especial e NEGO-LHE PROVIMENTO. como voto.

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Superior Tribunal de JustiaCERTIDO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA

Nmero Registro: 2007/0283503-8

REsp 1010834 / GO

Nmeros Origem: 186074272 200201171370 200300571725 200500662023 200701089851 200701239834 441303180 PAUTA: 16/03/2010 JULGADO: 23/03/2010

Relatora Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Presidente da Sesso Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA Subprocurador-Geral da Repblica Exmo. Sr. Dr. JUAREZ ESTEVAM XAVIER TAVARES Secretria Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA AUTUAORECORRENTE ADVOGADO RECORRIDO ADVOGADO : : : : MARBOR MQUINAS LTDA JOSE ROBERTO CAMASMIE ASSAD E OUTRO(S) SHEILA DE SOUZA LIMA VALRIA DE BESSA CASTANHEIRA LEO E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigaes - Espcies de Contratos - Compra e Venda

CERTIDO Certifico que a egrgia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epgrafe na sesso realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso: Aps o voto da Sra. Ministra Nancy Andrighi, negando provimento ao recurso especial, pediu vista o Sr. Ministro Massami Uyeda. Aguardam os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS) e Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA). Braslia, 23 de maro de 2010

MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA Secretria

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Superior Tribunal de JustiaCERTIDO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA

Nmero Registro: 2007/0283503-8

REsp 1.010.834 / GO

Nmeros Origem: 186074272 200201171370 200300571725 200500662023 200701089851 200701239834 441303180 PAUTA: 03/08/2010 JULGADO: 03/08/2010

Relatora Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Presidente da Sesso Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA Subprocurador-Geral da Repblica Exmo. Sr. Dr. MAURCIO DE PAULA CARDOSO Secretria Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA AUTUAORECORRENTE ADVOGADO RECORRIDO ADVOGADO : : : : MARBOR MQUINAS LTDA JOSE ROBERTO CAMASMIE ASSAD E OUTRO(S) SHEILA DE SOUZA LIMA VALRIA DE BESSA CASTANHEIRA LEO E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigaes - Espcies de Contratos - Compra e Venda

CERTIDO Certifico que a egrgia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epgrafe na sesso realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso: Prosseguindo no julgamento, aps o voto-vista do Sr. Ministro Massami Uyeda, a Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Massami Uyeda, Sidnei Beneti, Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS) e Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA) votaram com a Sra. Ministra Relatora. Braslia, 03 de agosto de 2010

MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA Secretria

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Superior Tribunal de JustiaRECURSO ESPECIAL N 1.010.834 - GO (2007/0283503-8) RELATORA RECORRENTE ADVOGADO RECORRIDO ADVOGADO : : : : : MINISTRA NANCY ANDRIGHI MARBOR MQUINAS LTDA JOSE ROBERTO CAMASMIE ASSAD E OUTRO(S) SHEILA DE SOUZA LIMA VALRIA DE BESSA CASTANHEIRA LEO E OUTRO(S) VOTO-VISTA O EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA: Ao relatrio da eminente Ministra-Relatora, elaborado com grande esmero, acrescenta-se que o feito foi levado a julgamento pela egrgia Terceira Turma, em 23/03/2010, ocasio em que, aps a prolao do voto da ilustre Ministra-Relatora Nancy Andrighi, no sentido de negar provimento ao recurso especial, pediu-se vista dos autos, para melhor anlise da matria. A demanda subjacente ao presente recurso especial diz respeito a ao declaratria de nulidade cumulada com pedido revisional de clusulas contratuais, ajuizada por SHEILA DE SOUZA LIMA em face de MARBOR MQUINAS LTDA., tendo por base contratos de compra e venda mercantil com reserva de domnio e de compra e venda, representao, instalao e assistncia tcnica de mquina de bordar, adquirida por SHEILA para ser utilizada em seu estabelecimento comercial "para a execuo de servios de bordados industriais em peas de vesturio fabricadas por terceiros ou por si prpria" (fls. 23/31). Na inicial, a autora, ora recorrida SHEILA, sustentou, em sntese, a abusividade das clusulas contratuais, requerendo o reconhecimento de sua nulidade, bem como a reviso dos valores devidos e a repetio do indbito das quantias pagas a maior (fls. 39/50). Citada, a MARBOR MQUINAS LTDA. argiu exceo de incompetncia do r. Juzo de Direito da 3 Vara Cvel da Comarca de Goinia/GO (foro do domiclio de SHEILA), afirmando que, no contrato de compra e venda, foi eleito livremente pelas partes o foro da Comarca de So Paulo/SP para dirimir eventuais controvrsias decorrentes do pactuado (fls. 32/38). O r. Juzo de Direito da 3 Vara Cvel da Comarca de Goinia/GO acolheu a exceo de incompetncia argida pela MARBOR, determinando que oDocumento: 957385 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/10/2010 Pgina 1 2 de 16

Superior Tribunal de Justiaprocesso seguisse seus trmites em uma das varas cveis da Comarca de So Paulo/SP (fls. 13/18). Em face do r. decisum , SHEILA interps agravo de instrumento, que foi conhecido e provido pelo egrgio Tribunal de Justia do Estado de Gois, conforme assim ementado: "EMENTA: Agravo de Instrumento. Exceo de Incompetncia. Ao de Reviso de Contrato. Relao de Consumo. Configurao. Cdigo de Defesa do Consumidor. Aplicabilidade. Foro de eleio. Clusula Abusiva. Configura-se relao de consumo quando o destinatrio final ftico adquire o bem ou servio para utiliz-lo no exerccio de profisso. 2- Constitui contrato de adeso aquele pr-redigido, em que o estipulante se outorga todas as facilidades em detrimento do aderente, de quem so retiradas as vantagens e a quem so carreados todos os nus derivados do contrato, sem prvia discusso sobre o contedo. 3- O foro de eleio, nos contratos de adeso, no pode prevalecer se configurar verdadeiro entrave de acesso ao Poder Judicirio pela parte aderente, devendo assim, a clusula que o institui ser considerada abusiva e declarada nula. Agravo conhecido e provido, unanimidade de votos" (fl. 88). Opostos embargos de declarao por MARBOR, foram eles rejeitados (fls. 111/120). No presente recurso especial, interposto por MARBOR com fundamento no art. 105, inciso III, alneas "a" e "c", da Constituio Federal de 1988, em que se alega violao dos arts. 2, 3 e 54 do Cdigo de Defesa do Consumidor; e 94, 100 e 111 do Cdigo de Processo Civil, alm de dissdio jurisprudencial, busca a recorrente a reforma do r. decisum , sustentando, em sntese, a inaplicabilidade do CDC hiptese dos autos, porquanto no haveria relao de consumo quando o destinatrio do bem ou do servio o adquire no exerccio de sua profisso, com o escopo de implementar ou incrementar a sua atividade negocial. Conclui, assim, que o foro competente para o julgamento da ao declaratria de nulidade de clusulas contratuais deve ser aquele eleito pela partes, no caso, o r. Juzo de Direito da Comarca de So Paulo/SP (fls. 130/150).Documento: 957385 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/10/2010 Pgina 1 3 de 16

Superior Tribunal de JustiaA recorrida SHEILA apresentou contra-razes, requerendo, em sntese, a manuteno do julgado recorrido (fls. 168/177). A Presidncia do egrgio Tribunal de Justia de Gois negou seguimento ao apelo nobre (fls. 179/180), deciso objeto de agravo de instrumento a este Superior Tribunal de Justia, o qual foi provido pela eminente Ministra Relatora, que determinou a subida do recurso especial. Acompanha-se integralmente o voto da eminente Ministra Relatora Nancy Andrighi. Com efeito. No se olvida que, segundo a jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia, a aquisio de equipamento, por pessoa fsica (empresrio individual) ou jurdica (sociedade empresria), com o objetivo de melhoria da atividade empresarial, por constituir uma atividade de consumo intermediria, em regra, afasta a incidncia do Cdigo de Defesa do Consumidor. Nesse sentido: REsp n. 541.867/BA, relator para o acrdo o eminente Ministro Barros Monteiro, Segunda Seo, DJ de 16/05/2005. Contudo, certo que a teoria finalista do conceito de consumidor sofreu abrandamento ao longo dos anos, passando a jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia a admitir, excepcionalmente, a aplicao das disposies do Cdigo de Defesa do Consumidor a determinados consumidores profissionais, desde que demonstrada, no caso concreto, a sua vulnerabilidade tcnica, jurdica ou econmica. A propsito, confira-se o seguinte precedente: "RESPONSABILIDADE TELEFONIA. CIVIL. CONCESSIONRIA DE

SERVIO PBLICO. INTERRUPO.

INCNDIO

NO CRIMINOSO. DANOS MATERIAIS. EMPRESA PROVEDORA DE ACESSO INTERNET. CONSUMIDORA INEXISTNCIA DE RELAO OBJETIVA DE INTERMEDIRIA. CONSUMO. CASO

RESPONSABILIDADE

CONFIGURADA.

FORTUITO. EXCLUDENTE NO CARACTERIZADA. ESCOPO DE PACIFICAO SOCIAL DO PROCESSO. RECURSO NO

CONHECIDO. 1. No que tange definio de consumidor, aDocumento: 957385 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/10/2010 Pgina 1 4 de 16

Superior Tribunal de JustiaSegunda Seo desta Corte, ao julgar, aos 10.11.2004, o REsp n 541.867/BA, perfilhou-se orientao doutrinria finalista ou

subjetiva, de sorte que, de regra, o consumidor intermedirio, por adquirir produto ou usufruir de servio com o fim de, direta ou indiretamente, dinamizar ou instrumentalizar seu prprio negcio lucrativo, no se enquadra na definio constante no art. 2 do CDC. Denota-se, todavia, certo abrandamento na interpretao finalista, na medida em que se admite, excepcionalmente, aplicao das normas do CDC a determinados a

consumidores

profissionais, desde que demonstrada, in concreto, a vulnerabilidade tcnica, jurdica ou econmica. (...) 7. Recurso Especial no conhecido." (ut REsp 660.026/RJ, relator Ministro Jorge Scartezzini, DJ 27.06.2005) Assim, a interpretao que deve se dar ao art. 2 do Cdigo de Defesa do Consumidor, luz da doutrina finalista, no sentido de que h presuno relativa de vulnerabilidade do consumidor, inclusive pessoa jurdica, mormente na hiptese de se cuidar de microempresas ou empresrios individuais litigando contra sociedades empresrias de considervel porte econmico (ut REsp 575.469/RJ, relator Ministro Jorge Scartezzini, DJ 06.12.2004 e Ag 555.510/SP, relator Ministro Vasco Della Giustina, DJ de 27/10/2009). In casu, incontroverso nos autos que a recorrida SHEILA, empresria individual, adquiriu da recorrente MARBOR, pessoa jurdica de considervel porte econmico, uma mquina de bordar eletrnica, no valor de R$26.000,00 (vinte e seis mil reais), no ano de 1999, a ser utilizada em seu estabelecimento comercial para a execuo de servios de bordados industriais e de peas de vesturio (ut cpia do contrato particular de compromisso de compra e venda, representao, instalao e assistncia tcnica de mquinas, fl. 23). Portanto, h que se considerar a posio da recorrida SHEILA como parte presumivelmente mais fraca na relao jurdica, o que caracteriza a hipossuficincia a que alude do Cdigo de Defesa do Consumidor e, assim, pode-se considerar como subsumvel a aplicao da proteo consumeirista na hiptese dos autos.Documento: 957385 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 13/10/2010 Pgina 1 5 de 16

Superior Tribunal de JustiaAssim sendo, acompanha-se o voto da eminente Ministra Relatora, no sentido de negar provimento ao recurso especial. o voto.

Ministro MASSAMI UYEDA

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