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Ministério Público FederiJl I'rowrat!oria Regional Eleitoral no Estado da 8.ahia EXCELENTíSSIMO SENHOR JUIZ RELATOR PARECER Espécie: Processo nO: Recorrente(s): Recorrido(a)(s): Relator(a): Recurso Eleitoral 249-08.2012.6.05.0187 "Coligação Formosa de um jeito novo com a força do povo", Ubiraci Moreira Lisboa e Hélder Cássio Rocha Bispo; Jabes Lustosa Nogueira Júnior e Gérson José Bonfantti "Coligação Formosa de um jeito novo com a força do povo", Ubiraci Moreira Lisboa e Hélder Cássio Rocha Bispo; Jabes Lustosa Nogueira Júnior e Gérson José Bonfantli Juiz Wanderley Gomes . O Ministério Público Eleitoral, pelo Procurador Eleitoral Auxiliar, vem à presença de Vossa Excelência, nos autos em epígrafe. apresentar a manifestação abaixo delineada: 1- Relatório. 1. Cuidam os autos de recursos elejtorais interpostos: a) pelos réus Jabes Lustosa Nogueira Júnior e Gérson José 8onfanrti, com o fim de reformar sentença do Juízo da 187 8 ZE que julgou parcialmente procedente AIJE e, por consequência, cassou os seus mandatos, respectivamente, de Prefeito e Vice-prefeito do município de Formosa do Río PretolBA e decretou suas inelegibilidades; e b) pelos autores Ubiraci Moreira Lisboa e Hélder Cássio Rocha 8isoo, contra a parte da sentença que não reconheceu a ocorrência de abuso de poder econômico el~u político e deixou de conceder efeitos imedíatos a cassação dos mandatos, bem como a posse imedíata dos recorrentes. FÂ(;'''''' 1 Cf 22 M?f - Procuradoria Regional EI~itora! na !:st<ldo da 81l1ia lf Avenida do CA8, ISO, S:;)vadorlBA. CEP 41745-';01 Telefone: (71) 3373-7C 15

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Page 1: 13   aije249-parecer do pre

Ministério Público FederiJlI'rowrat!oria Regional Eleitoral no Estado da 8.ahia

EXCELENTíSSIMO SENHOR JUIZ RELATOR

PARECER

Espécie:

Processo nO:

Recorrente(s):

Recorrido(a)(s):

Relator(a):

Recurso Eleitoral

249-08.2012.6.05.0187

"Coligação Formosa de um jeito novo com a força do povo", Ubiraci Moreira

Lisboa e Hélder Cássio Rocha Bispo; Jabes Lustosa Nogueira Júnior e Gérson

José Bonfantti

"Coligação Formosa de um jeito novo com a força do povo", Ubiraci Moreira

Lisboa e Hélder Cássio Rocha Bispo; Jabes Lustosa Nogueira Júnior e

Gérson José Bonfantli

Juiz Wanderley Gomes

. O Ministério Público Eleitoral, pelo Procurador Eleitoral Auxiliar, vem à presença

de Vossa Excelência, nos autos em epígrafe. apresentar a manifestação abaixo delineada:

1- Relatório.

1. Cuidam os autos de recursos elejtorais interpostos:

a) pelos réus Jabes Lustosa Nogueira Júnior e Gérson José 8onfanrti, com o fim de

reformar sentença do Juízo da 1878 ZE que julgou parcialmente procedente AIJE e, por

consequência, cassou os seus mandatos, respectivamente, de Prefeito e Vice-prefeito

do município de Formosa do Río PretolBA e decretou suas inelegibilidades; e

b) pelos autores Ubiraci Moreira Lisboa e Hélder Cássio Rocha 8isoo, contra a parte

da sentença que não reconheceu a ocorrência de abuso de poder econômico el~u

político e deixou de conceder efeitos imedíatos a cassação dos mandatos, bem como a

posse imedíata dos recorrentes.

FÂ(;'''''' 1 Cf 22M?f - Procuradoria Regional EI~itora! na !:st<ldo da 81l1ia

lf Avenida do CA8, ISO, S:;)vadorlBA. CEP 41745-';01Telefone: (71) 3373-7C 15

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Ministério I"úblko FederalProcurEldoria Re;ional Eleitoral nl) ht3do d:a Bahia

2. Na origem, a AlJE foi manejadapela UColigacãoFormosade um jeito novo

com a força do povo~. Ubiraci Moreira LIsboa e Hélder Cássio Rocha Bispo, com supedâneo

na captação ilícita de sufrágio e abuso de poder econômico e político, supostamente

perpetrados pejo Prefeito de Formosa do Rio Preto/SA, Jabes Lustosa Nogueira Júnior, e

pejo Vice-Prefeito, Gérson José Bonfantti (candidatos eleitos em 2012), consubstanciados na

prática dos seguintes atos:

2.1 doação de um milheiro de blocos a Paulo Fernandes de Carvalho, por meio daentrega da nota de pedido com atesto de ~pago., de nO. 2686, a ser retirado noestabelecimento comerciar Cerâmica Itajuí;

2.2 doação de um milheiro de blocos a Joselane da Silva Soares, por meio daentrega da nota de pedido com atesto de "pago", de nO.2764, a ser retirado noestabelecimento comercial Cerâmica ltajui;

2.3 doação de um milheiro de blocos a Maria A. Carvalho e Francina (ouFlausinal, por meio da entrega das notas de pedido com atesto de "pago~, de nO.2669 e 2710, respectivamente, retirados do estabelecimento comercial CerâmicaItajul com a utilização gratuita de veIculo fornecido pela Prefeitura Municipal deFormosa do Rio Preto;

2.4 utilização gratuita de veículo da Prefeitura Municipal de Formosa do Rio Pretopara a entrega de blocos em comunidades carentes da referida comuna.

3. A instrução processual consistiu na juntada dos documentos de fls. 23/27, que

acompanharam a petição inicial e na oitiva das testemunhas arroladas pelas partes, com a

realização de acareações (fls. 203/228, 241/247 e 259/266).

4. Na sentença proferida na presente AIJE (fls. 312/339), o Juizo da 187" Zona

entendeu comprovada a captação ilícita de sufrágio praticada pelos demandados Jabes

Lustosa Nogueira Júnior e Gérson José Bonfantti quanto à doação de blocos aos eleitores

Paulo Fernandes de Carvalho e a Joselane da Silva Soares, Reconheceu-se, ademais, a

utilização gratuita de veículo da Prefeitura Municipal de Formosa do Rio Preto para a e1trega

de blocos em comunidades carentes da referida comuna durante o perlodo eleitoral, sem, no

entanto, dar a tal fato a configuração de abuso de poder econômico e político.

5. Foram opostos embargos de declaração pela "Coligação Formosa ce um

jeito novo com a força do povo" ás fls. 342/345, requerendo a concessão de efeitos imediatos

Telefone: (71) 3373.7015

;" P.l.G•., 2 I); 22" /MPF - Procuradoria Regional Eleitoral no Estado:o3 Bõhia"} l' Avenida do CAB. ISO, So3lvador/BA. Cf? 41"45.90 1

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Ministério Público FederalProcuradoria Regionall:laitoral no Es1'a.deda 8shia

a sentença, com vistas à cassação imediata dos investigados e â posse dos integrantes da

chapa majoritária que conquistou a segunda colocação nas eleições de 2012. Decisão

rejeitando os aclaratórios às fls. 434/435.

6. No recurso eleitoral interpostopor JabesLustosaNogueiraJúniore Gérson

José Bonfantti (fls. 393/427), os réus negaram a ocorrência de captação iHcita de votos,

requerendo a reforma da sentença. Contrarrazões às fls. 448/480.

7. O recurso interposto por Ubiraci Moreira Lisboa e Hérder Cássio Rocha Bispo

(fls. 347/355) teve os seguintes objetivos: (a) o reconhecimento da ocorrência de abuso de

poder econõmico e polftico; (b) a concessão de efeitos imediatos à sentença; e (c) a

determinação da posse imediata dos recorrentes, integrantes da chapa que alcançou o

segundo lugar nas eleições municipais de 2012. Este recurso foi ratificado à fi. 446 e foram

ofertadas contrarrazões, às fls. 483/487.

8. Às fls. 430/432, consta côpia de decisão do TRElBA, indeferindo o pedido

formulado no bojo de Ação Cautelar Inominada proposta pela "Coligação Formosa de um jeito

novo com a força do povob e por Ubiraci Moreira Lisboa e Heder Cassio da Rocha Bispo,

visando a concessão de efeito suspensivo ao sobredito Recurso Eleitoral.

9.

10.

É o que cumpre relatar.

Ante a inexistência de preliminares levantadas pelas partes, passemos

diretamente à analise do mérito.

,,- Da compra de votos das eleitoras Maria A. Carvalho e Franclna (ou Flausina)

11. Verifica-se que a sentença sob ataque absolveu os demandados no que se

refere à doação de um milheiro de blocos às eleitoras Maria A. Carvalho e Francioa (ou

Flausina), que teriam sido retirados do estabelecimento comercial Ceràmica Itajuf com a

utilização gratuita de veículo fornecido pela Prefeitura Municipal de Formosa do Rio Pret::>.

.I/ PAG'" J D! 22

./0- MPF- :='rocuradoria Regional Eleitoral no Estado n Bah~a,/ l' Avenida do CAB. ISO, Sillvador/SA, CEP4l?45-90l

Telefone: (71) 3373.7015

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Ministério Público FaderalProcuradoria Region~i Eleitoral no EstadD rla Bahia

12. Nesseparticular,registre-sequea inexistênciade provassuficientesa ensejar

a condenação dos demandados torna patente o acerto da decisão proferida pelo juízo de

primeiro grau.

13. Com efeito, verifica-se que a prova constante nos autos acerca do recebimento

dos blocos cerâmicos por parte de Maria A. Carvalho e Francina (ou Flausina) limitou-se às

notas de pedido da Cerâmica Itajuf acostadas às fls. 25 e 26, tendo em vista que as citadas

eleitoras não foram ouvidas no decorrer da instrução processual.

14. O único depoimento acerca dos fatos, prestado pelo Sr. AJisson George Silva

Batista, motorista concursado da Prefeitura de Formosa do Rio Preto/BA, apesar de ter

logrado comprovar a utilização de veiculo pertencente à Prefeitura Municipal de Formosa do

Rio Preto para entrega de blocos no periodo eJeitoral, não foi capaz de fazer prova da efetiva

entrega dos blocos especificamente às aludidas senhoras (fls. 225/226).

15. Assim, não se afigura razoâvel proceder à condenação dos demandados com

base em provas não robustas, materializadas por meras suposições, sem evidência do fato,

devendo ser mantida, no particular, a sentença.

1II - Da captação ilícita de sufrágio vinculada aos eleitores Paulo Fernandes de

Carvalho e Josalene da Silva Soares.

16. o Magistrado condenou os réus, no entanto, pela doação de um milheiro

de blocos aos eleitores Paulo Fernandes de Carvalho e Josalene da Silva Soares,

considerando idôneo o suporte probatório carreado aos autos.

17. Entende o MPE que agiu com acerto o juizo de primeiro grau, tendo em

vista que a prova colhida no decorrer da instrução processual, no que concerne aos eleitores

Paulo Fernandes de Carvalho e Joselane da Silva Soares, é robusta o suficiente para

determinar a cassação dos mandatos.

18. Analisemos os casos de forma separada.

/. Pl.G,~.4o~22",jlp'".: Procuradoria Regional IEleitoral no Estado d~ Bahia

11Avenida do CAB. 150, SalvadorlBA, Cf? 41745.901Telefone: (71) 3373.7015

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'~illlst,;rio Público Feder"jProcuradoria Regional Eleitoral no l:stado da Bahia

1lJ.1- Da compra de votos do eleitor Paulo Fernandes de Carvalho.

19. Emseu depoimentoem Juízo,o eleitorPaulo Fernandesde Carvalho aduzlU

ter procurado o candidato Jabes Júnior antes das eleições, oportunidade na qual sOlicitou que

lhe fosse doado um milheiro de bloco. Consoante informou ao Juizo, sua solicitação foi

prontamente atendida pelo candidato, o qual, após manter contato telefônico com a Cerâmica

ltajul, autorizou o eleitor a se dirigir ao citado estabelecimento comercial para fazer a retirada

do material doado.

20. Ao chegar ao local, o eleitor informou ter sido recebido por uma funcionária do

escritório da empresa, que lhe entregou uma nota de pedido no valor de R$ 330,00 (trezentos

e trinta reais), correspondente ao produto solicitado, na qual já estava aposto um carimbo de

~pago~.Acrescenta Paulo Femandes que não teria realizado a retirada dos brocas pelo fato

do produto se encontrar em falta no estoque, in verbis:

"que foi à procura de Jabes Jünior e o encontrou na casa da mãe dele,antes da eleição; que o procurou com a intençãode pedir um milheirodebloco para construir um quarto e encontrou-o pessoalmente e fez-lhe opedido, sendo atendido, ja que foi autorizado a ir até a cerâmica Itajuí elá recebeu da menina do escritório uma nota que especificava ummilheiro de blocos no valor de R$ 330,00, todavia não retirou os blocosjá que foi duas ou três vezes e. não tinha blocos prontos; (...) queprocurou Jabes Jünior porque era época de política e foi o mais fâcil deencontrar, sendo que estava precisando e que procuraria qualquer um."(grifamos)

21. Registre-se que nem mesmo a existência de depoimento em sentido contrário

prestado pela testemunha Aparecida Bezerra do Santos, funcionária da Cerâmica Itajuí que,

afirmando-se a responsável pelo preenchimento e aposição do carimbo de Mpago~na nota. .fiscal entregue a Sr. Paulo Pernandes de Carvalho, aduziu ter recebido o pagamento pelo

milheiro de bolcos diretamente do aludido eleitor, foi capaz de abalar a credibilidade das

informações por ele prestadas (f1s.227/228).

22, Com efeito, destaca-se que as informações relativas ao preenchimento e

pagamento da nota fiscal de fi. 24 somente foram trazidas à lume pela Sra. Aparecida

Telefone: (71) 3373-7015

/;,?:/ P••••,•••••S (1£ 22" MPF- Procuradoria itegional Eleitoral no S:st~dooa eahIa

11Avenida do CAB, 150. salvadorlBA. CEP41745.901

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Ministério l'úbllto FederalProcuradoria RegIonal Eleitorall'lo Estado da Bahia

Bezerra do Santos durante a acareação realizada com o Sr. Paulo Fernandes de Carvalho(fts.227/228).

23. Nas primeirasdeclaraçõesprestadasem juízo, a citada testemunhaabsteve-

se de tecer considerações acerca da referida nota de pedido, limitando-se a noticiar que o Sr.

Paulo Femandes de Carvalho já havia comprado brocos na Cerâmica Itajuí e que teria pago

pelos produtos adquiridos em questão, apesar de não se lembrar quando isso teria ocorrido, a

quantidade de mercadoria envolvida ou a forma de pagamento utilizada,

24. A postura evasiva da funcionária Aparecida Bezerra dos Santos, com

apresenta~o de lacônicas e contraditórias assertivas, tanto no depoimento de fls. 222/224,

como na acareação de fls. 227/228, foi merecedora de registro na sentença de fls. 312/339,

que chegou a transcrever trechos das suas declarações, como forma de destacar a falta

compromisso da aludida testemunha com a verdade dos fatos.

25. O depoimento da testemunha Elizete Casal 8ianchi, outra funcionária da

Cerâmica ftajuí, também não foi capaz de rechaçar a ocorrência da captação ilicita de

sufrágio pelos demandados, tendo em vista que a depoente se limitou a prestar informaçóes

genéricas acerca dos procedimentos adotados pela empresa, negando a possibilidade de

entrega de blocos mediante a autorização de terceiros (244/247).

26. No decisum, o magistrado zonaf ressaltou, ainda. fatores que concorreram

para a falta de credibilidade das informações prestadas pelas funcionárias Aparecida Bezerra

dos Santos e Elizete Casal Bianchi, notadamente o fato de ambas alegarem

desconhecimento acerca de fatos políticos notórios envolvendo os proprietários da Cerâmica

Itajui, em uma cidade de pouco mais de vinte mil habitantes.

27. De fato, verifica-se que, apesar dos seus patrões ocuparem posição de

destaque nas disputas políticas entre os grupos dominantes, as testemunhas asseveram

desconhecer, por exemplo, que um dos proprietários do referido estabelecimento, Sr. Mário

Eduardo Mignot, era o então Secretário de Meio Ambiente da comuna, bem como que o seu

genitor, Sr. Getúlio, tem amplo envolvimento com a política Jocal.

Telefone: (71) 3373.7015

/l// P,l(;<o.:6u:22. MPF - Procuradona Regional Eleitoral no Estado C~B~hli'

l' Avenida do CAB. 150, Salvador/BA. CEP41;~5-901

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Ministério Público FederalProcuradoria R~9jonal :El-eitoral no Estado da Bahia

28. De igual modo, são incongruentes as afirmações.relativas ao absoluto

descontrole sobre a forma de pagamento pelos bens adquiridos. Observa-se que Aparecida

Bezerra dos Santos afirmou em seu primeiro depoimento (fls. 222/224) que o Sr. Paulo

Fernandes teria comparecido â Cerâmica Itajuí e pago pelos blocos adquiridos. Já em sede

de acareação (fls. 227/228), alterou sua versão dos fatos, passando a afirmar que não

recebeu os valores diretamente do eleitor, mas que esse deve ter realizado o pagamento à

outra funcionária, Elizete Casal Bianchi, em virtude do procedimento padrão adotado pela

empresa, que não permite a posição do carimbo de ~pago. sem o recebimento dos valores

correspondentes.

29. Por seu turno, EJizete Casal Bianchi foi incapaz de confirmar em juízo ter

recebido o pagamento pelos blocos diretamente do eleitor Paulo Fernandes, respaldando-se

novamente no procedimento padrão adotado pela empresa para afirmar a impossibilidade de

que tais valores fossem arcados por terceira pessoa (fls. 244/247).

30. Não se afigura razoável admitir que, em uma empresa onde trabalham apenas

duas funcionárias no setor administrativo, sendo uma delas prima do eleitor Paulo Fernandes,

ambas sejam incapazes de se lembrar a quem foi feito o pagamento pela nota de pedido nO.

2686. A tese que mais se coaduna com a realidade é a de que as referidas testemunhas

prestaram declarações falsas em juízo, com o fito de proteger os proprietários da cerãmica

Itajuí e o demandado Jabes Júníor.

31. Via inversa, verificou*se que o Sr. Paulo Fernandes de Carvalho prestou

declarações sólidas e informações precisas desde a primeira oportunidade em que se

apresentou em juizo, tendo reafirmado, em sede de acareação, que recebeu a nota de pedido

constante à fi. 24 dos autos já com a aposição do carimbo de ~pago~, sem ter efetuado

qualquer pagamento relativo à mercadoria ao aludido estabelecimento comercial (fls.

227/228).

32. Na oportunidade, apesar de não ter se lembrado especificamente da pessoa

responsável pelo preenchimento da sua nota fiscal, afirmou categoricamente não ter sido a

Sra. Aparecida Bezerra dos Santos, o que se afigura bastante crIveI, tendo em visla,

!,/ r PACft,.l1;(2Z..j./' MPF- Procuradoria Regional Eleitoral no Estado da B~tJia

l' Avenida do CAB. 150. 5~lvadorlaA. CEP41745.901Telefone: 111) 3373-7015

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Mlni5tério Público FederalProcunuoria Regional Eleitoral no Estado da 3ahia

ademais, que a citada funcionária é sua prima (fato narrado em Juízo e sem contestação),

fator capaz de diferenciá-Ia das demais funcionárias do estabelecimento (fls. 2271228).

33. Acresça-se que Paulo Fernandesde Carvalho expressamentedeclarou que

somente conseguiu a nota para recebimento do milheiro de blocos após ter sido autorizado

pelo candidato Jabes Júnior. Tal circunstância, aliada às imprecisões e declarações

mentirosas das testemunhas Aparecida Bezerra dos Santos e Elizete Casal Bianchi, reforçam

a certeza de que houve a oferta de vantagem em troca de votos.

34. Resta patente, pois, que a prova produzida nos presentes autos é robusta o

suficiente para determinar a cassação dos mandatos dos investigados, a despeito da sua

tentativa de afastar a credibilidade das declarações prestadas por Paulo Fernandes em juízo.

35. Em que pese terem os investigados alegado a inexistência de pedido expresso

de voto a Paulo Fernandes, em virtude da afirmação contida em seu depoimento de ~quenem

o depoente disse que votaria em Jabes .Júnior e nem este lhe disse que era para o mesmo

votar nele" (fi. 219), observa-se que o eleitor, na mesma assentada, asseverou ~queprocurou

Jabes Júnior porque era época de política (... r, o que denota que a doação dos blocos foi

efetivamente vinculada à condição de candidato à prefeitura do investigado Jabes Júnior.

36. Nesse sentido. registre-se que a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral jâ

se firmou pela desnecessidade de pedido expresso de voto para a configuração da captação

ilícita de sufragio, in verbis:

~No que concerne à alegação de "[...} necessidade de comprovaçàodeexpresso pedido de votos ou pedido implicito de votos para justificar acassação dos mandatos (...I': (fi. ~1). a jurisprudência do TribunalSuperior Eleitoral firmou-se no sentido de que a configuracão dacaotacão ilicita de sufrágio prescinde do pedido expresso de votos. Oque se faz necessário para a sua caracterização é que o candidato: i)pratique as condutas previstas no art. 41-A da Lei no 9.504/1997, delasparticipe, ou com elas anua explicitamente: ii) e que fique evidenciadooespecial fim de agir. Nesse sentido: "Captação ilicita de sufrilgio.Configuração - Artigo 41-A da Lei no 9.504/97. Verificado um dos núcleosdo artigo 41-A da Lei no 9.504197 - doar, oferecer, prometer ou ent,egarao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza. no ~eriodocritico compreendido do registro da candidatura até o dia dael€:ção,

PAt>>t! ElI!"22!j> MPF-l'rocuracloria Regional :Eleitoral no Estado '~l3ahia

l' Avenid<: do CAB, 150, 5<llvador/6A, CfP 417;5.901Teleforle: (71) 3373-7015

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Ministério Público federalProcuradoria Regional 1:!eltoral no Estado da Sahia

inclusive, presume-se o objetivo de obter voto, sendo desnecessaria aprova visando a demonstrar tal resultado. Presume-se o quenormalmente ocorre. sendo excepcional a solidariedade no campoeconômico, a filantropia." (Acórdao no 25.146,relator designado MinistroMarço Aurélio. 7.3.2006) "[...) 2. Para caracterização da conduta ilícita édesnecessário o pedido explicito de votos, basta a anuência docandidato e a evidência do especial fim de agir. (...J," (Acórdão no 773,relator designado Ministro Carlos Velloso, 24.8.2004) "1 (grifamos)

37. Bem assim, não se afigura razoável atribuir o peso pretendidopelos

investigados às declarações prestadas por Paulo Fernandes no que conceme à entrega da

nota do milheiro de blocos ao candidato ~Bira~ (autor da AIJE). Tal circunstância,

entrementes, além de não contribuir para o deslinde dos fatos, não possui o condão de

reduzir o valor probatório das declarações relativas à captação ilícita de sufrágio prestadas

em seu depoimento, que foi sólido e detalhado.

38. In casu, também se afigura irrelevante o fato de o relato constante na inicial

conter uma informação divergente do quanto afirmado pelo eJeitor Paulo Femandes em juizo,

tendo em vista que a dissonáncia cinge-se a circunstáncia indiciária, não relacionada à

situação da captação ilícita de sufrágio em si, qual seja, o fato de quem teria sido o agente

responsável por procurar o outro para a concretização da compra de voto,

39. De fato, pouco importa que Paulo Fernandes tenha se dirigido à casa do

candidato Jabes Júnior para procurá-lo e não o inverso, já que, a par desse dado, os relatos

constantes na inicial e no depoimento do eleitor são essencialmente idênticos no tocante à

ocorrência da compra do voto por meio da doação de blocos cerâmicos, e são corroborados,

ademais, pela nota de pedido acostada á fi. 24 dos autos.

40, Ante o exposto, diante da contundente prova produzida acerca do lema,

acertado o reconhecimento, em sentença, da ocorrência da compra de voto do eleitor Paulo

Fernandes de Oliveira, com a participação direta do demandado Jabes Júnior.

Processo: MS 4272 se, Relalor(a): CÁRMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA, Julgamento: 03/12/2009Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrõnic6, Data 09/12/2009, Página J6/21

I P.t>'~9C!22.~MPF - Procuradoria R~ionar Eleitoral no Estado::a Bahia

l' Avenida do CAB, 150, salvador/BA. CEP41145090 1Telefol"e: (71) 3373-7015

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"llni,tério Público Fedar,,1Procuradoria ReglonClI Eleitoral no Estado da BahIa

IU.2- Da compra de votos da eleitQra Josalene da Silva Soares.

41. No mesmo sentido, ficou comprovadaa doação de um milheirode bloco àeleitora JosaJene da Silva Soares, feita pela pessoa conhecida como Juranda. que trabalhou

como cabo eJeitoral para a campanha do candidato Jabes Júnior.

42. Ouvida em juízo, Josalene da Silva Soares foi firme ao afirmar o seguinte:

~gue é eleitora em Formosa e votou na última eleicão (... ); que umamulher de apelido Juranda ofereceu blocos e falou do candidato JJ e lheentregou uma nota que especificava um milheiro de blocos a ser retiradona Cerãmica ftaiuf; que não se lembra em que data especifica ocorreu ofato, mas que foi antes da eleição; (... ) que foi a própria Juranda que-lheentregou a nota (..).~(grifamos)

43. A testemunha também demonstrou certeza com relação à autoria do ilbta,

rechaçando a possibilidade de ter confundido a Sra. Juranda com a sua irmã gêmea, alén de

tomar indene de dúvidas que era a Sra. Juranda quem trabalhava como cabo eleitoral josdemandados. In verbis:

"que tem conhecimento que as irmãs são gêmeas idênticas; que, ap~sarde serem parecidas, sabe identificar cada uma e que, quem faziacampanha para JJ na comunidade era Juranda; (... ) que a Sra. Juraldalhe disse que era através dela que teria contato com os candidatos .J eGerson Bonfantti (... ); que tem conhecimento de outras pessoas Juereceberam notas da Sra. Juranda para retirar blocos de cerêmica ( ..);que a população do Canadá recebeu blocos para votar em alguém. noJJ.~(grifamos)

44. Os fatos foram corroborados pela testemunha Félix Rocha dos San"QS,companheiro da Sra. Josalene da Silva, que aduziu em juízo:

~queé companheiro da $ra. JosaJene,tendo com a mesma dois filfus;que a Sra. Juranda procurou a companheira do depoente entregando-Meum pedido da Cerflmica ltajuf Uda.. constando um milheiro de blocos:!'esegunda no valor de RS 190,00 (... ); que a Sra. Juranda, no Canalã,acompanhada do Sr. Gérson Bonfantti. entregava as notas e pedia voospara o mesmo; que viu a Sra. Juranda acompanhada do Sr. GérronBonfantti; gue a companheira contou sobre a doação do pedido E acondicão do voto no candidato; que após as eleições, contlf'le

Telefone: (71) 3373.7015

P.IG'''' l) t 22MPF - Procuradoria Re9íonal Eleitoral no Estado ea B?1ia

l' Avenida do CAB, 150,Salvador/BA, CE? 417':3-'01

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Ministério Público F2deralPrccuradoria Regional Eleitoral no Estado da Bahia

detE;!rminaçaodaquela que entregou o pedido, o depoente foi aié aceramica, mas alegaram que não tinha blocos no momento_. (grifamos)

45. Sobre a condição de cabo eleitoral da Sra. Juranda na campanha dos

candidatos demandados, bem como sobre a gratuidade da benesse recebida, Félix Rocha

dos Santos asseverou:

"que a Sra. Juranda era representante polftica dos candidatos JabesJúnior e Gérson Bonfantti; que na casa da mesma tinha pintado onúmero 12; que viu a Sra. Juranda com o candidato Jabes Júnior apenasuma vez e com Gérson Bonfantti várias vezes, andando juntos pedindovotos, fazendo campanha; (... ) que a data provavelmente em querecebeu o recibo foi em alguns dias antes da eleição, bem próximo damesma; (... ) que a nota constava como pago mas o depoente nadapagou de fato e de verdade (...): (grifamos)

46. Ouvida em juizo, a Sra. Juranda, cujo nome de batismo é Ceci Batista da

Rocha, reconheceu ter apoiado o candidato Jabes Júnior nas eleições de 2012, mas negouter entregue a nota fiscal de fi. 23 dos autos à citada eleitora. In #tteris (fi. 263):

aque apoiou o candidato Jabes Júnior, inclusive colocou o número domesmo em sua casa; acompanhando-o no povoado; que falou sobrepolítica, pediu valo para o mesmo, inclusive participando de umapalestra; (... ) que diz, com o documento em mãos (referência à copia denota fiscal de fi. 23 dos autos), que não entregou o mesmo a Jcsalene( ..)"

47. Apesar da negativa acerca da entrega da nota de pedido à Sra. Josa/ene da

Slva, observa-se, da 'eitura do seu curto depoimento, que a referida testemunha foi

deliberadamente genérica e evasiva nas suas declarações em virtude do medo de se

incriminar. Com relação ao tema, chegou a declarar em juizo:

"que sabe ser crime a oferta, doação, promessa de qualquer beneficiopara que a pessoa vote ou deixe de votar; que tivesse entregue a nota aJosaJene, estaria cometendo crime; que sabe que enquanto testenunha,tem o direito de não falar algo que a incrimine, ou seja, que participou docrime (...)"

48. Ressalte-se, por derradeiro, que as mínimas contradições nos depoimen:os de

Josalene da Silva e .do seu companheiro Félix Rocha dos Santos também ~ão poss~em o

,:.j/. ?AGln.11 IX 22/ M?F - Procuradoria Region"l l:leitor,,1 no l:st"do :a Elahic

l' Avenida do CA8. 150. Salvador/BA. CE? 41'45--901Telefone: (71)3373.7015

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Ministério Público FederalProcuradoria Regional Eleitoral nlJ Estado da Bahia

cond£io de afastar a credibilidade de suas declarações, sendo cristalino que tais dados sequer

se referem às circunstancias relativas à captação ilícita de sufrágio em si considerada.

49. Com efeito, as referidas testemunhas foram firmes em declinar a forma como

se deu a compra de voto, divergindo apenas no tocante a detalhes do seu proceder diante da

tentativa de recebimento dos produtos, bem como da disponibilização da entrega da nota de

pedido para instruir a presente demanda, o que se afigura razoável diante do temor da

repercussão criminal de suas condutas, agravado por sua humilde condição social.

50. Outro elemento de prova relevante diz respeito ao depoimento do Sr. Alísson

George Silva Batista, motorista concursado da Prefeitura Municipal de Formosa do Rio

Preto/SA, que apesar de não ter feito menção especifica aos fatos aqui tratados, serviu para

corroborar a ocorrência de entrega gratuita de brocas doados pela prefeitura durante operiodo eleitoral (fls. 225/226).

51. Conforme aduziu o sobredito servidor, ele conduziu à época o veículo F-4000

da Prefeitura no transporte de blocos retirados da cerâmica Itajuí e, na oportunidade, ouvi~

um dos clientes comentar que os blocos haviam sido doados pelo candidato Jabes JLnior.

Acrescentou que, no decorrer da realização do transporte, nunca presenciou os clientes

pagarem os blocos transportados.

52. o veículo aqui citado é o mesmo que foi flagrado em vldeo enquanto reali:avêentrega de blocos a munícipes. conforme se observa da mídia digital de fl. 27 dos autos.

53. Apesar do seu depoimento, por si só, não possuir o condão de incriminE~os

investigados, é de se reconhecer que as informações prestadas pelo Sr. Alisson George SilvE

Batista reforçam a ocorrência de doaçào irregular de blocos no perfodo eleitoral, aJérr de

trazerem à lume a mençào ao nome do candidato Jabes Júnior como responsável.

54. Registre.se que o depoimento prestado pela testemunha Edimilson Tebeira

Santos, chefe do Setor de Transporte da Prefeitura â época dos fatos, não teve o condãe deabalar a credibilidade das informações prestadas pelo Sr. Alisson George Silva Batista.

Telefone: (n) 3373-7015

/1 P/oG'''''l:l! 22

MPF- Procuradoria Regional Eleitoral no Estado da :ahia11 Avenida do CAB, 150. SillviKIorl8A, CEP d174:.901

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Mln;stérl" f'úblko FederalPro<:uradorJa Regional fI<~itoral no estado da Bahia

55. Comefeito, apesar de o Se Edimilsonter afirmadoque os investigadosnão

possuíam o poder de autorizar a utilização dos veículos da prefeitura para o transporte de

blocos, bem como que esse não foi realizado durante os três meses que antecederam o preito

de 2012, verifica-se que as suas informações também serviram para trazer à lume a

fragilidade do controle de utilização dos caminhões, que se resumia a anotações apostas em

uma agenda de propriedade do próprio depoente, e cujo uso poderia ser autorizado até

mesmo verbalmente ou mediante bilhetes, sem a realização de qualquer registro documental

(fis. 265/266).

56. Bem assim, observa.se que as informações trazidas pelo depoente disseram

respeito, basicamente, ao procedimento adotado como padrão para o Setor de Transportes

da Prefeitura, não existindo informações especificas acerca dos fatos imputados aos

investigados, que foram objeto de negativa genérica ante a suposta impossibilidade de

autorização do uso dos veiculas por terceiros.

57. Via inversa, as informações trazidas a juízo pelo Sr. Alísson George Silva

Batista revestiram-se de tamanha solidez e especificidade, que merecedoras de menção na

sentença de fls. 3121349. No decisum, o magistrado chegou a qualificar o seu depoimento

como "retilíneo, sem contradições, e corajoso", atentando-se para o fato de que, apesar de

concursado, o depoente não ostentava a qualidade de servidor estável.ã época da assentada.

58. Pois bem. Ê pacífico, na jurisprudência eleitoral, que, para a condenação nas

ações que impliquem em cassação de mandato, exige.se prova contundente da prática dos

ilIcitos eleitorais. O material probatório deve ser robusto, de forma a permitir ao Juizo a plena

convicção da ocorrência do fato ilícito narrado e da responsabilidade dos imputados. No caso,

a Procuradoria Regional Eleitoral entende que a Instru'ção probatória se revelou suficiente e

aponta. com a necessária certeza, para a configuração da compra de votos.

59. Com efeito, os depoimentos dos eleitores Paulo Fernandes de Carvalho, de

Josalene da Silva e do seu companheiro Félix Rocha dos Santos, aliados às notas fiscais nO.2686 e nO. 2764, como elemento probatório adicional. afiguram.se suficientes para a

comprovação da ocorrência da captação illcita de sufrágio. Bem assim, as impressões do

Telefone: (71) 3373.7015

,,etc;~ P.IoGI""13~ 22MPF 4 Procuradoria Regional Eleitorill no Istado (la B.hia

I' Avenida do CAB. 150. salvadorfBA. CEP 4!74HOl

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;.11l1i5tério Públieo FederalJ=!roturadoria Regional Eleitorall"lo Estado da Bahia

magistrado externadas na sentença de fi. 3121339, ajudaram a identificar qual das versões

apresentadas (do autor e da defesa) é a que demonstra o que efetivamente ocorreu,

contribuindo para a solidez da prova testemunhal produzida.

60. Vale anotar ser plenamente passivel a condenação em casos de captação

ilícita de sufrágio tendo por base, como prova principal, o registro de testemunhas,

notadamente quando há outros elementos a corroborar os relatos. Nesse sentido, já decidiu o

Tribunal Superior Eleitoral, in verbis:

AÇÃO CAUTELAR. CONDENAÇÃO. CAPTAÇÃO ILlclTA DESUFRÁGIO.

1. O Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte, vaiorandoo contexto fâtico.probatório da demanda, manteve a sentençaqueentendeu comprovada a compra de votos, bem como a anuênciados candidatos ao iffcito eleitoral, conclusões que, a principio, paraserem afastadas, demandariam o reexame de fatos e provas,vedado nesta instância especial. nos termos da Súmula nO279 doSupremo Tribunal Federal.

2. A pratica dg captação i1icita de sufragio pode sercomprovada por prova testemunhal, bastando que seja elaconsistsnte no que tange à comprovação da infrélcão.(grifamos)

3. O voto condutor na Corte de origem assentou que osdepoimentos colhidos nao eram depoimentos isolados,demonstraram-se pormenorizados e consistentes nas afirrrações,bem como claros na elucidação dos fatos narrados, raz~o pelaqual não Ma plausibilidade na alegação dos autores de que talprova estaria eivada de parcialidade. Agravo regimental nãoprovido.2

61. No caso em tela, como dito, além do depoimento das testemunhês das

Telefone: (71)3373.7015

vitimas, os eleitores corrompidos Paulo Femàndes de Oliveira e Josalene da Silva, me-ecem

destaque os depoimentos prestados pelo companheiro da última, Félix da Rocha, e do

motorista concursado da prefeitura Alisson George Silva Batista, que foram robustos, sólidos

e precisos, com grande riqueza de detalhes no que conceme aos fatos em análise.

2 Processo: AgR.AC 355740 RN, Relator(a): Min. ARNALDO VERSIANl LEITE SOARES, Julgat:'!ento:25/11120 IO. Publicação: DJE • Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 028, Data 09/0212011, Página :3

/./...-.... P.<GI".14cl22

M?F - Procuradoria Regional :Eleitoral no Estado n Bahial' Avenida do CAB. 150, 5alvador/BA, CE? 41'45.901

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Ministério Público FaderalProcuradoria Regional Eleitoral no Estado da Bahia

62. A prova testemunhal produzida soma-se a existência da documentação de fls.

23126, consistente nas notas de pedido de blocos cerâmicos com a aposição do carimbo de

~pagon. Nesse mister, claro está que o fato de as referidas notas terem sido emitidas pela

Cerâmica Itajuí em nome de pessoas de baixíssimo poder aquisitivo, que sequer lograram

retirá-las após o pleito de 2012, torna extremamente factlveJ a tese da doação, mediante

compra de votos, dos produtos pelos investigados já que, caso pagas pelos eleitores, a

aludida empresa não teria postergado a entrega dos bens reiteradas vezes de maneiraclaramente furtiva.

63. Com relação ao tema, como já explicitado alhures, os depoimentos lacônicos e

contraditórios das funcionárias da Ceràmica ltajuí não foram capazes de oferecer explicação

satisfatória para origem dos recursos que justificou a aposição do carimbo de ~pago~em cada

uma das notas de pedido de fls. 23/26, servindo tão somente para comprovar que os produtos

ali descritos foram efetivamente pagos, mas, inacreditavelmente, não se sabe por quem.

64. Em contraposição â robusta prova produzida nos autos, encontram-se os

depoimentos das funcionárias da Cerâmica Itajul Aparecida Bezerra dos Santos e EHzete

Casal Bianchi, da cabo eleitoral Juranda, e do chefe do Setor de Transportes da Prefeitura

Edimilson Teixeira Santos que, permeados de informações genéricas e evasivas, em pouco

contribuíram para o deslinde do caso, não logrando intirmar a efetiva ocorrência da captação

ilícita de sufrágio.

65. Assim, claro está que, ao farto suporte probatório colhido durante a instrução

processual, soma-se a existência de provas indiciarias acerca dos fatos, não infirmados pelos

depoimentos das testemunhas arroladas pelos investigados.

66. In casu,a existência de prova indiciária capaz de corroborar as demais provas

produzidas é fator que contribui para o acerto da decisão que determinou a cassa~o dos

mandatos dos investigados, já tendo o Tribunal Superior Eleitoral decidido, in litteris;

Embargos. Omissões e contradições. Ausência.

1. O Tribunal assentou em face da farta prova documental e testenunhalcolhida na ~epresentação que ficaram sobejamente comprovc:jos a

~elefone: {n} 3373.7015

f/ PAG'N;.15 Cf 2=

~YlPF - Procuradoria Regional Eleitoral no Estado ,a Bahia-/ 1~Avenida do CAS, 150, Salvador/BA, CEP41145-90:

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Ministério Público FederalFrncuratlorla Regional Eleitoral no Esbdo da Sahla

Telefone: (71) 3373-7015

captaçã9 ilícita de sufrágio e o abuso do poder econômico, não havendofalar em fragilidade ou inidoneidade de provas aptas à condenação.

2. A anuência do candidato a senador representado ficou evidenciada pormeio de farta prova, sendo oportuno ressaltar que o aIT. 23 da LeiComplementar nO 64/90 expressamente estabelece que a conviccão dojulgador. nos feitos em que se apuram i1fçitos eleitorais, sera formada nãoapenas relevando a prova produzida. mas fatos públicos e notórios, bemcomo indícios e presunções.

3. Os embargos de declaração somente são cabíveis para sanaromissão, contradição ou obscuridade, não se prestando para arediscussão da causa. Embargos rejeitados 3

67. Em conclusão, agiu com acerto o magistrado zonal ao determinar a cassação

dos mandatos dos demandados. ante o reconhecimento da existência de prova estreme de

dúvidas para confirmação dos ilícitos.

IV • Do abuso de poder econômico e político.

68. No que conceme ao abuso de poder, em que pese o Juízo de primeiro grau ter

reconhecido a utilização de veiculo da Prefeitura Municipal de Formosa do Rio Preto para a

entrega de brocos em comunidades carentes da referida comuna durante o período eleitoral,

acertadamente, reputou tal fato inapto à configuração do abuso de poder politico eloueconômico.

69. Com efeito, a análise das provas constantes nos autos denota que, apesar de

terem os investigantes logrado comprovar a utilização de veiculo municipal para a entrega

dos produtos, não restou comprovada a prática de abuso de poder poHtico e/ou econômicopelos demandados. Vejamos.

70. Nos termos do depoimento do Sr. Alisson George Silva Batista, motorista

concursado da Prefeitura Municipal de Formosa do Rio Preto/BA (fls. 225/226):

~que trabalha principalmente com caminhão basculante e à época das'eleições no 'ano passado trabalhava nesse' veiculo e em outros; que

3 Processo; ED4RO 2098 RO , Relator(a): ARNALDO VERSlAN1 LEITE SOARES, Julgamento:03/] 1/2009, Publicação: D:JE. Diário da Justiça Eletrônico, Data 07/1212009, Página 15.

------------------,------------------; P-'G' ••• 160l'22

~, MPF • Procuradoria Regional Eleitora! no Estado da BahiaI 1. Avenida do CAB, ISO. Salvador{BA CEP 41745-901

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Ministério Público FsderalProcuradoria Raglonal EI~itorar no Estado da Bahia

conduziu o veiculo F-4000 da Prefeitura no transporte de blocos retiradosda cerâmica ltajui (... ); que ouviu um dos clientes comentar que osblocos haviam sido doados pelo candidato Jabes Júnior; que em outroscasos só retirava os blocos no veiculo da Prefeitura mas não soubequem pagava pelos mesmos; que nunca presenciou os clientes pagaremos blocos transportados: (... ) que não fez nenhuma entrega na localidadeconhecida como Canadá no periodo eleitoral; que não tem conhecimentose algum outro servidor tinha feito entrega na comunidade do Candá; quetem conhecimento que a Prefeitura Municipal tem um programa deentreaa de blocos a pessoas carentes; que o veiculo F-4000 tem ologotipo da Prefeitura Municipal; (... ) que às vezes as pessoascontempladas com doações de blocos da prefeitura também os recebemem suas residências, transportados em veiculas da prefeitura; que,quando ia efetuar o serviço de transporte, as pessoas já estavam deposse do pedido já pago, isso também fora do cerlodo eleitoral (...).M(grifamos)

71. Assim, obseNa~se que, apesar de ter afirmado a ocorrência de entrega de

blocos doados durante o periodo eleitoral, o referido servidor também noticiou ao Juízo a

existência de um suposto programa de doação e entrega de blocos a pessoas carentes,

implementado pela Prefeitura de Formosa do Rio Pretol8A, acrescentando, ademais, que

também realizava o serviço de transporte do material doado fora do periodo eleitoral.

72. O TSE conceitua o abuso de poder econômico como a utilização Mexcessiva,

antes ou durante a campanha eleitoral, de recursos materiais ou humanos, que representem.

valor econômico, buscando beneficiar candidato, partido ou coligação, afetando assim a

normalidade e a legitimidade das eleiçõesM (Recurso Especial Eleitoral nO25.906, rei. Min.

Gerardo Grossi, de 9.8.2007).

73. Sabe-se que a jurisprudência do TSE há muito havia firmado o entendimento

de que "Para a configuração do abuso do poder econômico, politico ou de autoridade, é. .necessária a demonstração da potencialidade do fato em desequilibrar o resultado do pleito''''.

74. Cediço que a inovação legislativa decorrente da promulgação da Lei 13E!2010

veio a acrescentar o inciso XVI, ao art. 22, da LC 64/90, consignando textualmente que "para

4 Posição jurisprudencial reafmnada pelo TSE no AgR-REspe - nO 353 16. Relator(a) Min. ARNALJOVERSLANI LEITE SOARES - Diário da Justiça Eletrônico,~l05/1012009, Página 58.

/ PAG,~;[7;1 22MPF- Procuradoria Regional i:leitorel no Estado :~ 3ahia

l' Avenida do CAB, 150, Salvador/BA, CEP41'4':,901Te!efone: (71) 3373-7015

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Ministério Públlro federalProcuradoria Regional El~itoral no Estado da Bahia

a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato alterar o

resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam.",

75. Neste sentido, o posicionamento já adotado pelo TRE/SE:

'ELEiÇÕES 2012. RECURSO ELEITORAL. AçAo DEINVESTIGAÇAO JUDICIAL ELEITORAL. ABUSO DO PODERPOLlTICO E DE AUTORIDADE. PROGRAMA SOCIAL.PAGAMENTO. BENEFIcIO. TRANSFERêNCIA. LOCAL. NOME.CANDIDATO. ART. 22, INCISO XVI, DA LEI COMPLEMENTARN° 64/90 INCLUiDO PELA LEI COMPLEMENTAR N0 135/2010(LEI DA FICHA LIMPA). GRAVIDADE DAS CIRCUNSTANCIASCARACTERIZAÇAo. POTENCIALIDADE LESIVA PARAALTERAR O RESULTADO DAS ELEiÇÕESPRESCINDIBILlDADE. PROVIMENTO DO RECURSO.

1. Configura-se abuso de poder quando a normalidade e alegitimidade das eleiçOes são comprometidas por condutas deagentes públicos que se vaJem da condição funcional parabeneficiar candidaturas, em manifesto desvio de finalidade.

2. Para a configuração do ato abusivo, não será consideradaa potencialidade de o fato alterar o resultado da eleição, masapenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam(art. 22, inciso XVI, da LC nO 64/90, incluído pela LC ntl135/2010).

3. A transferência de .Iocal de pagamento relativo a ProgramadeRenda Mlnima para Posto de Saúde que ostenta o nome decandidato apoiado pelo então Prefeito Municipal, após a escolhaem convenção partidária, consubstancia-se em abuso do poderpolítico, diante da ausência de justificativa plausfvel para atransferência e do evidente beneficio à candidatura com avinculação do nome de candidato à entrega do pagamento. (...)".(Anotou-se) (TRE-SE - RECURSO ELEITORAL n° 32651, Acórdáon° 39/2013 de 2710212013, Relator(a) RICARDO MUCIOSANTANA DE ABREU LIMA, Publicação: DJE - Diário de JustiçaEletrônico, Tomo 36, Data 01/0312013)

76. Assim sendo, não há mais no que se falar em potencialidade para

desequilibrar o pleito no caso do abuso do poder, devendo a análise se circunscrever à

gravidade das circunstâncias que, in casu, não restou evidente.

77. Na situação em baila, não restaram comprovadas as circunstâncias nas quais

o veículo foi utilizado para a entrega dos blocos à população carente, notadamente se houve

Telefone: (71) 3373-7015

PAe••.•18:. 22MPF- Procuradoria ilegional Eleitoral no fstado:a B3hia

11Avenida do CAB, 150, SalvadorlBA. Cf? 41145.901

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..

Nlnistérlo Público federalProcuradoria Regional Eleitoral no Estaco da 8ahla

urna reiteração do transporte durante o perfodo eleitoral apta a beneficiar um elevado número

de eleitores e tornar a situação grave o suficiente para configurar a ocorrência do abuso de

poder político elou econômico.

78. Bem assim, em que pese a existênciade indício nos autosque reforçama

anuência dos investigados com a conduta ilícita praticada, conforme asseverado pelo Sr.

Alisson que "ouviu um dos clientes comentar que os blocos haviam sido doados pelo

candidato Jabes Júnior" (fi. 225), forçoso reconhecer que tal afirmação não traduz certeza

suficiente a ensejar a condenação dos demandados peja prática de ato abusivo gravoso.

79. Ê de se reconhecer, portanto, que não obstante a violação à legislação

eleitoral, a conduta supostamente praticada pelos investigados não possui o condão de

configurar a ocorrência de abuso de poder politico elou econômico, merecendo manutenção

a sentença em análise também no que concerne a esse tópico.

v _Da concessão de efeitos imediatos à sentença.

80. Os autores da AIJE também interpuseram recurso contra a parte da sentença

em que o Juiz Eleitoral se absteve de conceder efeitos imediatos ao julgamento da AIJE,

condicionando-os ao trânsito em julgado ou à publicação da decisão proferida por órgão

colegiado (fls. 338/339).

81. Como cediço, a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, firmada a partir

do julgamento da Medida Cautelar nO. 1.049IPB, afastou a incidência da Lei Complementar

nO.64/1990 para os casos de cassação do diploma com base no art. 41-A da Lei nO.9.504/97,.

pelo que inaplicável a regra insculpida no art. 15 do citado diploma legal (na redação

anterior), que determinava que a decisão proferida somente poderá ser efetivada após seu

trânsito em julgado. Vejamos:

AGRAVO INTERNO. MEDIDA CAUTELAR. EFEITO SUSPENSIVO A. RECURSO CONTRA O INDEFERIMENTO DE LIMINAR PEDIDA PARA

DAR EFEITO SUSPENSIVO A DECISÃO EM AÇÃO DE IMPUGNAÇÃODE MANDATO ELETIVO CASSAÇÃO DE DIPLOMA. ART. 41.A DA LEIN°. 9.504/g7. EFEITO IMEDIATO. DECISÃO PELO TRIBUNAL

/, P~ •.•.•190f22::"MPF _ Procur"dllria Regional Eleitor,,1 no Estado da Bahia, 11 A••..enid" do CAB. 150. 5"lv"dllr/BA CEP 41745-901

Telefone: {7113373-7015

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~H...~ Ministério Públiro FsderalProcuradoria Regional Eleitoral no Estado da Bahia

SUPERIOR ELEITORAL ART. 216 DO CODIGO ELEITORAL.DECISAo REGIONAL JA CUMPRIDA TROCA NA CHEFIA DOEXECUTIVO MUNICIPAL SUCESSIVAS MUDANÇAS. INSTABILIDADENO MUNIClpIO. NAo RECOMENDAvEL RECURSO ESPECIAL JAADMITIDO.

São imediatos os efeitos da sentença que julga procedente ação deimpugnaçào de mandato eletivo pela prâtica da conduta descrita no art.41-A da lei n°. 9.504, de "1997,não se aplicando o art. 216 do CódigoEleitoral. São imediatos os efeitos da sentença que cassa diploma pelaprâtica da conduta descrita no art. 41-A da Lei n(l 9.504, de 1997,Jurisprudência firme do Tribunal Superior Eleitoral. Precedentes; Éadmitida a concessão de efeito suspensivo a recurso manifestado contratal decisão, se no caso concreto estiverem presentes os pressupcstosnecessários ao deferimento de medida cautelar. Conveniêncic; deevitarem-se sucessivas alterações no comando da administraçãomunicipal, que trazem incerteza e instabilidade ao município, em pre.uizoda população local. Nesse entendimento, por maioria, o Tritunalindeferiu a liminar. Vencidos os Ministros Sílvio de Figueiredo _ rela:or _,Barros Monteiro e a Mínistra Ellen Gracie.5

82. Com efeito, de acordo com a jurisprudência da Corte Superior, o sobredito

dispositivo regula hipóteses fáticas especificas, motivo pelo qual deve ser a elas aplicado :om

exclusividade, observandc-se com relação à AIJE a regra geral dos recursos eleitcrais

prevista pelo art. 257 do Código Eleitoral.e

83. Dessa forma, concede-se efeitos imediatos à decisão proferida em sede de

Telefone: (71) 3373-7015

AtJE, especialmente a fundada no art. 41-A da Lei das Eleições, permitindo sua execLÇão

tão seja publicada. Nesse sentido:

AçAO CAUTELAR. ATRIBUIÇAO DE EFEITO SUSPENSIVO ARECURSO ESPECIAL. INSTRUÇAO RETIFICADA PEDIDO DERECONSIDERAÇAo ACOLHIDO PARA CONHECER DA AÇ\OAUS~NCIA DOS PRESSUPOSTOS DA .TUTELA CAUTEL\R.PRECEDENTES. AçAO CAUTELARA QUAL SE NEGA SEGUIMEWO.LIMINAR PREJUDICADA

(...)

12. A jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral é iterativa no senidode que "as decisões fundadas no art. 41-A da Lei n. 9.504/97 merecm

5 Medida Cautelar n°.I.049IPB; redator para o acórdão o Ministro Fernando Neves, em 21.5.20026 30. TSE AgRgMC n. 1.8331MA, de 28.6.2006, DJU 22.8.2006. .

Ii7 P./oQ••• 20;0 22RPF - Procuradoria Regional :Eleitoral no Estaco d'l 6nia

11 Avenida do CAB. 150, 5alvador/BA, CEP 41745.101

---_._~~.-- - -- - - ---

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1-Jinistério Público FederalProcuradoria Regional !Eleitoral no Estado da 8ahla

Telefone: /71) 3373-7015

execuçào imediata" (AgR-MS n. 4216/RS, ReI. Min. Felix Fischer. DJe10.9.2009).

84. Em que pese existir posicionamento doutrinário em sentido contrário7, com

respaldo em julgados esparsos na jurisprudência, pela defesa do pleno exercido o mandato

eletivo enquanto não operada a coisa julgada de forma a evitar os prejufzos decorrentes

dessas sucessivas alterações para a população local, verifica.se que as condutas ilícitas

praticadas pelos Impugnadas se encontram fartamente comprovadas nos autos.

Assim sendo, as circunstáncias do caso concreto não só autorizam como

recomendam a concessão de efeitos imediatos à sentença, não havendo justificativa paraconcessão de tratamento excepcional à ArJE em apreço.

VI - Da pOsse imediata dos candidatos.

57. No seu recurso eleitoral, insurgiram-se os autores da ArJE também contra a

parte da sentença em que o Juiz Eleitoral se absteve de determinar a posse imediata dos

candidatos investigantes, que alcançaram a segunda colocação nas eleições municipais de2012 (fls. 3381339).

58. Consoante espelho de consulta extraído do sftio eletrônico do Tribunal

Superior Eleitoral - TSE, relativo à eleição de 2012 em Formosa do Rio Preto/SA, os

investigados obtiveram 5.150 (cinco mil e cento e cinquenta) votos válidos, que equivale a

37,79 % de um total de 13.627 (treze mil, seiscentos e vinte e sete) votos vâlidos

59. Assim sendo, caso mantida a sentença, merece guarida o pleito formulado

pelos recorrentes, tendo. em vista que.eventual decretação de nulidade 'dos votos recebidos

pelos investigados não atingirá mais da metade dos votos válidos obtidos no referido pleito,sendo essa a inteligência do Tribunal Superior Eleitoral, in verbis:

"Recurso especial. Cassação de diploma. Art. 41-A da lei n° 9.504/97.. Eleições municipais. Prefeito e vice-prefeito. f .. .} 'Anulação dos votosvalidos. Não-inclusão dos votos nulos. [...J. 3. Votos nulos não se

7 Nesse sentido, veja Pedro Henrique Távora Niess e JoeJ José Cândido.,

J . P,I,(;r'A21 C~21;,ÍPF- j:'rocuradoria Regional Eleitoral no Estado da Bahia.' 1~ Avenida do CAB, 150. Salvador/BA. CEP 41745-901

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Ministério Público FederalProt:uradona Regional Eleitoral ,no Estado da Bahia

confundem com votos anuláveis._ Estes são reconhecidos a priori comoválidos, mas dados a candidato que praticou captação Hicita ou abuso dopoder político e econômico durante o processo eleitoral. 4. Ajurisprudência deste Tribunal consagrou como válidos, mas suscetfveísde anulação posterior, decorrente da aplicação do art 41.A da lei nO9.504/97, os votos obtidos por candidato infrator, por refletirem umavontade orientada â escolha de um mandatário pofiticQ. Não se somam aestes, para fins de novas eleições, os votos nulos decorrentes demanifestação apofítica do eleitor, no momento do escruUnio, seja eladeliberada ou decorrente de erro. [' ..J. 5. Anulados menos de 50% dosvotos válidos, impõe-se a passe do candidato segundo colocado, e não aaplicação do comando posto no art. 224 do Código Eleitoral. 6. Recursoespecial eleitoral parcialmente conhecido e não provido,"B(grifamos)

VII - Da conclusão.

86. DO EXPOSTO, manifesta-se o Ministério Público Eleitoral;

a) pera desprovimento do recurso interposto pelos investigados JABES

LUSTOSA NOGUEIRA JÚNIOR e GÉRSON JOSÉ BONFANTTI, devendo ser

mantida integralmente a sentença quanto à parte que julgou procedente a

demanda e cassou seus mandatos pela captação ilicita de sufrágio;

b) pelo provimento parcial do recurso interposto por UBlRACr MOREIRA

LISBOA e HÉLDER cASSIO ROCHA BISPO, para o fim de ser executada de

imediato a sentença proferida, bem como para determinar a posse imediata

dos candidatos que alcançaram a segunda colocação no pleito de 2012 em

Formosa do Rio Preto/BA, sem necessidade de nova eleição.

Salvador/BA, 10 de junho de 2Or~ ;' ~/ ;i<!--/

/./'fRUY NESTOfVBASTOS MELLO

PROCURADOR ELEITORAL AUXILIAR1//

8 Ac. de 17.8.2006 no REspe nO 25.937, rejo Min. José Delgado.

Telefone: (71) 3373-7015

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P,,"u JJ ll! 22MflF ~ Procuradoria Regional Eleitoral no Estado da Bahia

11Avenida do CAB. 150, Salvador/BA, Cf? 41745.901