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ENTECA 2013 IX Encontro Tecnológico da Engenharia Civil e Arquitetura 1 a 3 de outubro de 2013 A QUESTÃO DO TRANSPORTE DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM ÁREAS URBANAS: Legislações e Propostas Nivaldo Gerôncio da Silva Filho 1 Archimedes Azevedo Raia Junior 2 Cintia Isabel de Campos 3 RESUMO A questão do transporte de resíduos sólidos em áreas urbanas é um dos grandes problemas em discussão em pequenas, médias e grandes cidades brasileiras, no que diz respeito à gestão municipal e que está ligado, entre outras circunstâncias, à produção final das ações antrópicas no ambiente natural. Não obstante, observa-se que esse transporte, com raras exceções, é executado de maneira precária e, de alguma forma, perigosa. Essa maneira precária de deslocamento traz um ônus muito elevado em várias situações, como, por exemplo, maior gasto com combustíveis, maior tempo de trabalho, depreciação do equipamento, dentre outros. Por outro lado, a forma perigosa está condicionada ao tipo e trajeto do equipamento, quando motorizado, e ao produto conduzido, quando não motorizado. De modo que, não há um padrão de equipamento transportador nem regras definidas que possa de fato ser executada de maneira prática. No bojo da discussão, o que se evidencia é a falta de uma legislação mais severa e uma fiscalização que possa ser eficiente. Este trabalho, de maneira exploratória, ou seja, através de pesquisa sobre o estado da arte busca refletir, de forma geral, essa problemática e, de forma mais específica, apontar às implicações desse modelo de transporte para o espaço urbano. Palavras-chave: Transporte. Espaço Urbano. Legislação. Resíduos Sólidos 1 Doutorando, Universidade Federal de São Carlos-UFSCar, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana-PPGEU, [email protected] 2 Professor Associado, Doutor, Universidade Federal de São Carlos-UFSCar, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana-PPGEU, [email protected] 3 Mestranda, Universidade Federal de São Carlos-UFSCar, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana-PPGEU, [email protected]

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ENTECA 2013 IX Encontro Tecnológico da Engenharia Civil e Arquitetura 1 a 3 de outubro de 2013

A QUESTÃO DO TRANSPORTE DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM ÁREAS

URBANAS: Legislações e Propostas

Nivaldo Gerôncio da Silva Filho1

Archimedes Azevedo Raia Junior2

Cintia Isabel de Campos3 RESUMO A questão do transporte de resíduos sólidos em áreas urbanas é um dos grandes problemas em discussão em pequenas, médias e grandes cidades brasileiras, no que diz respeito à gestão municipal e que está ligado, entre outras circunstâncias, à produção final das ações antrópicas no ambiente natural. Não obstante, observa-se que esse transporte, com raras exceções, é executado de maneira precária e, de alguma forma, perigosa. Essa maneira precária de deslocamento traz um ônus muito elevado em várias situações, como, por exemplo, maior gasto com combustíveis, maior tempo de trabalho, depreciação do equipamento, dentre outros. Por outro lado, a forma perigosa está condicionada ao tipo e trajeto do equipamento, quando motorizado, e ao produto conduzido, quando não motorizado. De modo que, não há um padrão de equipamento transportador nem regras definidas que possa de fato ser executada de maneira prática. No bojo da discussão, o que se evidencia é a falta de uma legislação mais severa e uma fiscalização que possa ser eficiente. Este trabalho, de maneira exploratória, ou seja, através de pesquisa sobre o estado da arte busca refletir, de forma geral, essa problemática e, de forma mais específica, apontar às implicações desse modelo de transporte para o espaço urbano. Palavras-chave: Transporte. Espaço Urbano. Legislação. Resíduos Sólidos

1 Doutorando, Universidade Federal de São Carlos-UFSCar, Programa de Pós-Graduação em Engenharia

Urbana-PPGEU, [email protected] 2 Professor Associado, Doutor, Universidade Federal de São Carlos-UFSCar, Programa de Pós-Graduação

em Engenharia Urbana-PPGEU, [email protected] 3 Mestranda, Universidade Federal de São Carlos-UFSCar, Programa de Pós-Graduação em Engenharia

Urbana-PPGEU, [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Em geral, um sistema de gestão de resíduos sólidos eficaz deve incluir uma ou mais das seguintes opções: coleta e transporte de resíduos, reaproveitamento de materiais por meio de processamento de resíduos, o transporte de resíduos, sem reaproveitamento, isto é, a redução do volume, toxicidade, ou propriedades físico/químicas dos resíduos para torná-lo adequado para a disposição final, e deposição em aterros, ou seja, eliminação ambientalmente segura e sustentável em aterros (GHOSE, DIKSHIT, SHARMA, 2006).

Do ponto de vista ambiental, os resíduos sólidos tornaram-se um grande problema, principalmente nas medias e grandes cidades brasileiras. Atrelado a esse problema está a responsabilidade do gerador e as políticas de gestão por parte do governo, sobretudo o municipal. Nas últimas décadas, o crescimento das cidades, ocorrido de forma desordenada e dispersa, acentuou o problema. Destaca-se que esse crescimento pode ser considerado como uma circunstância agravante para o transporte dos resíduos por aumentar as distâncias e, do ponto de vista jurídico, acirrou em muitos municípios um entrave sobre a destinação final. O debate sobre o tratamento e a disposição de resíduos sólidos urbanos ainda é negligenciado pelo Poder Público. Assim observa-se que

Com o aumento desenfreado da geração de resíduos sólidos, dado o aumento populacional e ao manejo inadequado destes, os problemas ambientais e de saúde pública têm aumentado. No atual cenário, o lixo é um “curioso” indicador de desenvolvimento socioeconômico de uma nação, isto é, quanto mais pujante for a economia, maior será o volume de lixo produzido. Porém, o lado trágico desse cenário é consequência do modelo de gestão implementado, pois dependendo do caso, o lixo pode representar um problema, e ao mesmo tempo pode significar a fonte de solução dos problemas que causa (MOREJON; LIMA; ROCHA, 2011).

As Políticas Nacional (Lei 12.305/2010) e Estadual (Lei 12.300/06) de Resíduos Sólidos

incentivam a cooperação intermunicipal e a formação de consórcios para gerir os resíduos sólidos urbanos. Em geral, os serviços de limpeza absorvem entre 7% e 15% dos recursos do orçamento municipal, dos quais cerca de 50% são destinados à coleta e ao transporte de lixo. Ressalta-se o fato de que um bom gerenciamento desses serviços, que estão entre os de maior visibilidade, representa boa aceitação da administração municipal por parte da população. Adicionalmente, a sua otimização pode levar a uma economia significativa dos recursos públicos (CARVALHO, 2001). Nessa perspectiva, as operações compartilhadas entre municípios podem contribuir significativamente para minimizar os custos desse gerenciamento. Nesse sentido, pode-se definir que

O processo de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos consiste nas atividades desde o recolhimento do lixo acondicionado por quem o produz para encaminhá-lo, mediante transporte adequado, a uma possível estação de transferência, a um eventual tratamento e à disposição final. A coleta e o transporte dos resíduos domiciliares produzidos em imóveis residenciais, em estabelecimentos públicos e no comércio pequeno são, em geral, efetuados pelo órgão municipal encarregado da limpeza urbana (MONTEIRO, 2001).

A gestão de resíduos sólidos pode ser dividida em cinco componentes principais, segundo

Harvey, Bagghri, Reed (2002): geração, armazenagem, coleta, transporte e disposição. Neste artigo, de maneira particular, estar-se-á tratando do componente transporte. 2. TRANSPORTE DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Este é o estágio quando o resíduo sólido é transportado para o sítio de deposição final. Há

vários modos de transportes que podem ser adotados e o método escolhido depende, sobretudo, da

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disponibilidade local e o volume de resíduos a ser transportado. Os tipos de transportes podem ser divididos em três categorias, segundo Harvey, Bagghri, Reed (2002):

• Tração humana - carrinho aberto, carrinho com carroceria, carrinho de mão e triciclo;

• Tração animal – carroça puxada por animal; e

• Motorizado – trator e carreta, caminhão padrão e caminhão basculante.

O termo transporte de resíduos sólidos no Brasil, sobretudo a partir da década de 1980, vem sendo caracterizado de forma muito controversa. As questões ambientais tem tido um peso muito significativo para a definição do termo, visto que ele pode ser conceituado segundo vários prismas. De forma geral, o transporte de resíduos sólidos pode ser feito pelo modo motorizado ou não motorizado ou, ainda, através de uma empresa pública ou privada, dependendo de cada município. Em alguns municípios a prefeitura tem seus próprios veículos, enquanto que em outros o serviço é terceirizado. Contudo, observa-se que o padrão de crescimento das cidades, o que alguns autores chamam de cidade dispersa, em oposição à cidade compacta, tem uma influência muito significativa no processo de operação desse tipo transporte. Nesse sentido, destaca-se que

A avaliação de um sistema de gestão de resíduos sólidos urbanos é feita com base em indicadores de desempenho ambientais, sociais e econômicos. Os dados ambientais e econômicos podem ser analisados, estudados e conjugados de modo a permitir averiguar a sustentabilidade dos sistemas de gestão de RSU e a viabilidade e o potencial da sua optimização. Em particular, os custos associados aos sistemas de recolha e de transporte de resíduos representam, em termos de orçamentais, 40% a 70% do custo total de um sistema de gestão de RSU (Martinho e Gonçalves, 2000), o que leva a crer que as melhorias realizadas neste campo podem permitir obter reduções significativas nos custos energéticos e no custo total operacional do sistema. Por outro lado, existem alterações benéficas ao nível das emissões de poluentes dos veículos dotados de motores de combustão interna, que efetuam a recolha e o transporte, apensas à optimização das rotas estabelecidas neste tipo de sistema (BEIJOCO, 2011).

Ainda nesse sentido, Schalch (1984) destaca que os gastos com o lixo tornam-se cada vez

maiores, pois, com o passar dos anos, a quantidade de resíduos produzidos nas cidades aumenta; consequentemente, os custos das operações envolvidas com a coleta, tratamento e disposição final dos resíduos também se elevam. É importante ressaltar que a maioria das cidades brasileiras descarta seus resíduos em locais inadequados. Dados da pesquisa do Panorama Nacional de Resíduos Sólidos (2010) mostram que, em 2000, apesar da declaração da existência de locais para a disposição final de resíduos nos municípios, a adequação desses mesmos lugares se torna inconsistentes a partir da presença, não só de pessoas como também de moradias, que não se limitam a estarem situadas próximas as áreas de descarte, mas dentro das mesmas. Já, a pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – ABRELP, em 2006, demonstrou uma evolução na disposição de resíduos em aterros sanitários que, em 2005, era de 58% e, em 2006, chegou a pouco mais de 62%. As Figuras 1 e 2 mostram, de forma mais clara, o distinto padrão de crescimento de duas regiões metropolitanas brasileiras (Campinas e Belo Horizonte), que servem como exemplo de realidade que pode ser encontrada em tantas outras cidades. Estas distintas formas (espraiada e compacta) têm impactos diretos no transporte dos resíduos, devido às suas configurações.

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Figura 1 - Vista aérea da Região Metropolitana de Campinas

Fonte: Autores (2010)

Figura 2 - Vista aérea da Região Metropolitana de Belo Horizonte

Fonte: Autores (2010)

3. MODELO IDEAL: CONCEITOS, ROTAS E EQUIPAMENTOS TRANSPORTADORES

Existem várias definições para resíduos, mas pode-se afirmar que uma das definições que se enquadra no enfoque aqui tratado é que são “resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades da comunidade de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, e serviços de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face de melhor tecnologia disponível” (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 1993).

Para se obter um bom desempenho nas atividades de transporte dos resíduos, é importante definir ou mesmo elaborar algumas estratégias, tais como a rota e o veículo a ser utilizado. Nesta perspectiva, salienta-se que se trata de um conjunto de alternativas e propostas, constituindo-se, portanto, de elementos que justificam a necessidade e viabilidade do transporte. Assim, pode-se elencar uma série de condições:

• Dados gerais do local a ser atendido - a partir desses dados é possível viabilizar o tipo e

material de transporte, entendendo-se que as condições socioeconômicas tem um rebatimento direto na composição final do resíduo;

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• Localização geográfica e tipologia da rota/terreno - também estão ligadas à escolha do veículo ideal, ou seja, às características da malha urbana do local, especialmente as condições de pavimentação, topografia, densidade demográfica, infraestrutura de transportes, locais públicos (praças, mercados, feiras);

• Abrangência do sistema - informar se além da sede municipal existe coleta em outros núcleos urbanos do município, estrutura organizacional e administrativa do sistema de limpeza pública;

• Descrição da estrutura organizacional do serviço - informar a forma de organização existente: serviço, departamento ou seção e o seu funcionamento. Em alguns municípios, principalmente de médio e grande portes, é comum a existência de serviços terceirizados, devendo, tais serviços serem informados;

• Equipe envolvida com serviços de limpeza urbana - deverá ser informado o número de pessoas envolvidas com a ação de limpeza urbana no município, inclusive de gerência, e a sua distribuição por atividade ou serviço desempenhado. No caso de haver terceirização de parte dos serviços, deverá também ser informado o quantitativo de pessoal dos prestadores e a sua distribuição;

• Tipos de serviços prestados - enumerar os diversos serviços existentes a cargo do sistema de limpeza pública e resíduos sólidos, tais como: remoção de entulho de construções, de capinação/limpeza de terrenos baldios, podas de árvores, limpeza de bocas de lobo, limpeza de praias, remoção e coleta de resíduos de fontes industriais e agroindustriais, coleta e tratamento de resíduos de estabelecimentos de saúde, dentre outros;

• Acondicionamento na fonte - descrever como ocorre o acondicionamento na fonte dos resíduos, enumerando os principais tipos de recipientes e vasilhames utilizados pela população, materiais utilizados, capacidade, bem como estado de conservação e condição sanitária dos mesmos (existência de tampas, condições de vedação, etc.). Enumerar ainda os recipientes públicos existentes em praças, mercados e feiras;

• Sistema de coleta existente - relatar o sistema de coleta existente, enumerando a cobertura dos serviços, a frequência e a periodicidade de coleta por bairros, produção e produtividade, o número de pessoas envolvidas, os equipamentos utilizados, e as coletas de resíduos de estabelecimentos comerciais, de feiras, mercados;

• Limpeza pública - descrever o sistema de limpeza pública, enfocando, principalmente, varrição de ruas e sua frequência, pessoal envolvido na atividade de limpeza de praças e logradouros, poda e capinação de árvores, varrição de feiras e de locais de eventos esportivos e religiosos, enumerando produção e produtividade;

• É importante observar - que em municípios de pequeno porte é comum o uso múltiplo de veículos e equipamentos por diversos serviços da administração municipal. Caso exista tal situação, informar quais os equipamentos utilizados em finalidades múltiplas e as atividades desenvolvidas pelos mesmos;

• Tratamento e disposição final - descrever o sistema de tratamento (se houver), as condições de disposição final, os prováveis impactos sobre a saúde pública e o meio ambiente, bem como as condições de funcionamento;

• Resíduos de estabelecimentos de saúde - retratar a situação de resíduos dos estabelecimentos de saúde no município (centros e postos de saúde, hospitais, farmácias, laboratórios, etc.), enumerando o acondicionamento na fonte, sistema e frequência de coleta, equipamentos e veículos utilizados, tratamento e disposição final.

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4. DISCUSSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS No tocante ao equipamento específico de transporte deve-se levar em consideração as

seguintes características: o veículo ou equipamento transportador devem ser descritos segundo seus modelos, tipos e características físicas, levando-se em conta sua objetividade, ou seja, a que tipo de serviço tal equipamento vai ser utilizado. Convencionalmente, existem maneiras para testar a viabilidade do equipamento; um dessas maneiras seria observar o seguinte raciocínio. Primeiramente, fazer a caracterização quantitativa do lixo, verificando, sobretudo, o peso específico

médio do lixo (PEML). Depois, o peso líquido da amostra (PLA) e, por fim, o volume total da

amostra (VTA), em (m3). Essas orientações são de fundamental importância para o dimensionamento dos veículos e

equipamentos a serem utilizados e das unidades de tratamento e disposição final. No caso de municípios de grande porte, recomenda-se a avaliação por bairros ou setores do perímetro urbano. Posteriormente, tem-se a composição gravimétrica, que consiste na obtenção dos percentuais, em peso, dos principais componentes do lixo, tais como papel, papelão, plástico, vidro, matéria orgânica, metais ferrosos, metais não ferrosos, etc.

Essa análise é indispensável, principalmente, para a definição da solução de tratamento e disposição final. Uma observação que deve ser levada em consideração é que, para cidades de médio e grande portes, a utilização dessa avaliação deve ser realizada por setor ou bairro, uma vez que tal informação é indispensável para a viabilização ou não de um plano de coleta seletiva e/ou compostagem. Adicionalmente, devem ser elaborados estudos das áreas disponíveis para implantação das unidades de tratamento e disposição final. Dessa forma, é possível, além de justificar a necessidade de aquisição de veículos, material e equipamento para acondicionamento, ter-se uma programação detalhada, de forma a atender à coleta tradicional ou seletiva.

Um plano básico de transporte, que contemple uma estrutura mínima, deve ter uma estrutura de conhecimento sobre a população urbana (residente e flutuante); renda/padrão de consumo; hábitos, fatores demográficos e urbanos (clima; topografia; sistema viário); tamanho da cidade; adensamento urbano; zoneamento da ocupação do solo; densidade demográfica média (habitantes/hectare) da área de projeto (ano) e no alcance do projeto (ano); disponibilidade de áreas para destino final; condições topográficas e o sistema viário urbano, registrados em mapas, devendo caracterizar o tipo de pavimentação das vias, declividade, sentido e intensidade de tráfego; percurso, distância percorrida em cada setor ao efetuar a coleta, percurso e distância percorrida para o transporte do lixo dos locais de coleta aos locais de disposição final; a tecnologia que deve ser empregada; recursos humanos e financeiros do órgão prestador do serviço de limpeza urbana com mecanismos de cobrança; cobrança pelos serviços.

As Figuras 3 a 8 mostram alguns exemplos, negativos e positivos, de transporte e manuseio de resíduos sólidos. As Figuras 3 e 4 mostram uma forma equivocada de realizar esta coleta, tanto no tocante ao veículo inadequado, quanto no manejo de forma manual, praticada pelos coletores. Na Figura 4, há ainda um agravante, pelo fato de se misturar resíduos de poda de árvores e resíduos de outras naturezas.

Em contraposição, as Figuras 5 a 8 mostram bons exemplos de transportes de resíduos sólidos hospitalares, tanto na sua forma motorizada como manual, além da forma adequada de disposição final desse material. Mais precisamente, nas Figuras 5, 6 e 7, tem-se exemplos de transporte de resíduos hospitalares de forma correta, tanto no que diz respeito ao tipo de veículo, quanto na forma de manejo do material. Isto assegura a ausência de risco à saúde dos colaboradores desse serviço. Na Figura 8, observa-se a otimização do transporte na medida em que há o transbordo desse resíduo para outro veículo apropriado, de maior tamanho e capacidade, com destino à sua destinação final, visando não só a eficiência do transporte, mas também à diminuição dos custos.

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Figura 3 – Transporte e manipulação equivocada de resíduo em São Paulo

Figura 4 - Transporte inadequado de resíduo em São Paulo

Fonte: Carvalho (2009) Fonte: Carvalho (2009)

Figura 5 - Van para transporte de resíduos

hospitalares Figura 6 - Caminhão ¾ para transporte de

material em maior volume Fonte: ECOPAV (2012) Fonte: ECOPAV (2012)

Figura 7 - Forma correta de transporte do material na modalidade não motorizada

Figura 8 - Descarte do material para área de transferência

Fonte: ECOPAV (2012) Fonte: ECOPAV (2012)

O não recolhimento do lixo é visível à população que, por sua vez, pode ser prejudicada de alguma forma. Ao mesmo tempo, essa mesma população tem um papel de extrema importância na disposição dos resíduos para que a coleta seja executada de maneira desejada. A observação dos dias e do horário da coleta e o correto acondicionamento melhoram a eficiência e a qualidade da coleta. A Figura 9 mostra a deposição de diversos tipos de resíduos sólidos em caçambas, geralmente, destinadas à coleta de resíduos de construção. O exemplo retrata de maneira inequívoca da falta de conscientização por parte da sociedade, ao mesmo tempo coloca em evidência o que acontece na maioria das cidades, ou seja, a mistura de tipos diferentes de resíduos, incidindo diretamente na eficiência da coleta e dos transportes.

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Figura - 9 Mistura de tipos diferentes de resíduos em caçamba em São Carlos-SP

Fonte: Autores (2013)

A coleta e o transporte dos resíduos domiciliares, públicos e de pequeno comércio são, em geral, de responsabilidade do órgão municipal gestor da limpeza pública. Em algumas cidades pequenas quantidades de resíduos da construção civil são realizadas pela prefeitura. Volumes maiores devem ser coletados e destinados pelo seu gerador. A coleta e o transporte dos resíduos de outros tipos de grandes geradores, como indústrias, comércios e categorias específicas, por exemplo, portos, aeroporto e atividades agrícolas, são de responsabilidade do gerador (PwC, 2012).

Para a coleta de resíduos sólidos devem ser observadas as suas classificações e outras disposições na NBR 13.463/95 (ABNT, 1995); para o transporte terrestre de resíduos sólidos, deve-se observar a NBR 13.221/10 (ABNT, 2010). Para execução dos serviços de coleta e transporte, os municípios podem optar pela prestação direta do serviço ou pela contratação de terceiros especializados e/ ou sistemas mistos (PwC, 2012).

São variáveis para determinação do modelo de coleta, segundo PwC (2012): horários da coleta; itinerário e traçado percorrido; veículos e equipamentos; peso gerado; níveis de eficiência; e economia de escala.

A coleta de resíduos de saúde deve ser realizada separadamente dos demais resíduos e em veículos especiais, pois o resíduo de serviços de saúde é considerado de risco biológico e de tratamento específico. Entre a coleta, o tratamento e a destinação final, seria ideal que fossem utilizadas estações de transbordo ou de transferência. Essas unidades são instaladas próximas ao centro de massa da geração para que os caminhões de coleta descarreguem os resíduos e retornem à coleta (PwC, 2012). Nesses locais os resíduos podem ser imediatamente descarregados em caminhões maiores (transporte de grande volume), como na Figura 8 ou acumulados para posteriormente seguirem para a destinação final.

A implantação das estações de transbordo tem como objetivo melhorar a eficiência no processo de transporte dos resíduos, reduzindo o tempo de coleta e os custos de transporte e aumentando a produtividade dos caminhões de coleta, que são veículos especiais e de custos elevados. A Figura 10 detalha um exemplo de estação de transbordo. Nela, procura-se ilustrar uma operação come resíduos sólidos domiciliares (RSD), resíduos recicláveis( RR); e resíduos da construção civil (RCC).

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Figura - 10 Esquema gráfico de uma estação de transbordo

Fonte: Lima; Ignacio e Rutkowski (2011) 3. CONCLUSÃO

A coleta dos resíduos é uma etapa essencial na limpeza urbana municipal e é caracterizada pela remoção regular do lixo acondicionado, coletado, transportado, tratado e encaminhado para a disposição final. A execução desse serviço evita a proliferação de vetores causadores de doenças, como ratos, baratas e moscas, problemas sanitários para a população e mau cheiro, além de prevenir o entupimento e o assoreamento do sistema de drenagem em áreas de manancial.

Todavia, é necessário elaborar um estudo para avaliar a viabilidade econômica e os ganhos que trará a qualidade do sistema de gestão de resíduos. Em geral, as estações de transferência são implantadas quando a distância entre o centro de massa de coleta e o aterro sanitário está de 30 km a 50 km (ida e volta) ou quando condições de tráfego rodoviário tornam extremamente lento o deslocamento. O controle do tempo com os horários de entrada e saída dos veículos por tarefa e o controle da carga do veículo coletor e da execução dos serviços é de extrema importância para alcançar o nível do serviço desejado.

Portanto, este trabalho não tem a pretensão de esgotar o assunto, pelo contrário, é necessário que haja uma discussão mais aprofundada, sobretudo por parte dos órgãos gestores públicos e privados, com o objetivo de que as normas e regras estabelecidas para o transporte de resíduos sólidos sejam de fato executadas na sua forma prática. Adicionalmente, é preciso que haja consciência por parte de toda a sociedade no sentido de contribuir para o bem estar do espaço natural e construído da cidade.

AGRADECIMENTOS

Agradecimento a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsa de doutorado.

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REFERÊNCIAS ABNT. NBR 13.463/95. Coleta de resíduos sólidos. Associação Brasileira de Normas Técnicas. 1995. ABNT. NBR 13.221/10. Transporte terrestre de resíduos sólidos. Associação Brasileira de Normas Técnicas. 2010. ABRELPE. Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Disponível em: http://www.wtert.com.br/home2010/arquivo/noticias_eventos/Panorama2010.pdf. Acesso em 13 de novembro de 2012. BEIJOCO, A. F. P. Optimização de um Sistema de Recolha e Transporte de Resíduos Sólidos Urbanos Implicações ambientais e financeiras da optimização da recolha e transporte de resíduos sólidos urbanos no Barreiro. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica). Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa, 2011. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução Conama no 5, de 5 de agosto de 1993. Dispõe sobre definição de normas mínimas para tratamento de resíduos oriundos de serviços de saúde, portos e aeroportos e terminais ferroviários e rodoviários. BRASIL. República Federativa. Lei 12.305/2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. CARVALHO, L. E. X. Desenvolvimento de Solução Integrada de Sistemas de Limpeza Urbana em Ambiente SIG. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Transportes) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2001. GHOSE, M. K.; DIKSHIT, A. K.; SHARMA, S. K. A GIS based transportation model for solid waste disposal – A case study on Asansol municipality. Waste Management, 26 (11), p. 1287-1293, 2006. HARVEY, P.; BAGGHRI, S.; REED, B. Emergency Sanitation: assessment and programme design. Water, Engineering and Development Centre, Loughboroug University, Leicestershire, United Kingdom, 2002. LIMA, J. C. F; IGNACIO P. S. A; RUTKOWSKI. E. W. Rede de transporte de resíduos sólidos urbanos: um estudo de localização para estação de transferência. Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, 2011. MONTEIRO, J. H. P. Manual de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos. Rio de Janeiro: IBAM, 2001. MOREJON C. F. M; LIMA J. F; ROCHA W. F. Proposta de Novo Modelo de Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos. In: 3rd INTERNATIONAL WORKSHOP ADVANCES IN CLEANER PRODUCTION. Proceedings...Cleaner Production Initiatives and Challenges for a Sustainable World. São Paulo, 2011. PwC. Guia de orientação para adequação à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). PricewaterhouseCoopers, Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana no Estado de São Paulo (SELUR) e a Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP), 2012. SÃO PAULO. Estado. Lei 12.300, de 16 de março de 2006. Institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos. SCHALCH, V. Produção e características do chorume em processo de decomposição de lixo urbano. 103 f. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2007.