10º boletim informativo por outras palavras novembro 2012

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POR OUTRAS PALAVRAS Boletim Informativo N.º 10, Novembro 2012 POR OUTRAS PALAVRAS? No dia 16 e 17 de Outubro de 2012 decorreu, em Almeria, a 4ª Reunião de Parceria e a Conferência Final do Projeto In Other Words, que tratou o tema da: “Discriminação na imprensa do século XXI: o desafio dos media”. Esta conferência, além da apresentação dos principais resultados das Unidades Locais de Análise nos vários países do projecto, contou com a presença de diversos especialistas na área dos media e da discriminação, tais como: Ruby Ortiz, Conselheira da ONU para a Diversidade Cul- tural, Elena Gijón, Directora de Notícias da Radio Onda Cero, Mayte Carrasco, dos Jornalistas sem Fronteiras e Marcos Cam- pos, Produtor Cinematográfico. Boletim Informativo n.º 10Novembro de 2012 Monitorização: De 28 de Setembro a 31 de Outubro de 2012, foram monitorizados diariamente 10 jornais de referência: 3 de âmbito regional (Campeão das Províncias, Diário As Beiras e Diário de Coimbra) e 7 de âmbito nacional (Diário de Notícias, Jornal I, Jornal de Notícias, O Expresso, O Público, Primeiro de Janeiro e Sol). Nesta edição: 1 - Editorial 2 e 3 - Pela Positiva 4 - Pela positiva 5 - Visibilidade, Visibilidade 6 - Racismo 7 - Racismo, Xenofobia 8 e 9 - Xenofobia, Xenofobia 10 - Xenofobia e Estereótipos 11 - Estereótipos 12—Formação SOS Racismo IN OTHER WORDS é um projecto financiado com o apoio da Comissão Europeia. A informação contida nesta publicação (comunicação) vincula exclusivamente o autor, não sendo a Comissão responsável pela utilização que dela possa ser feita.

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10º Boletim Informativo POR OUTRAS PALAVRAS Novembro 2012

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Page 1: 10º Boletim Informativo POR OUTRAS PALAVRAS Novembro 2012

POR OUTRAS PALAVRAS

Boletim Informativo N.º 10, Novembro 2012

POR OUTRAS PALAVRAS?

No dia 16 e 17 de Outubro de 2012 decorreu, em Almeria, a 4ª

Reunião de Parceria e a Conferência Final do Projeto In Other

Words, que tratou o tema da: “Discriminação na imprensa do

século XXI: o desafio dos media”. Esta conferência, além da

apresentação dos principais resultados das Unidades Locais de

Análise nos vários países do projecto, contou com a presença de

diversos especialistas na área dos media e da discriminação, tais

como: Ruby Ortiz, Conselheira da ONU para a Diversidade Cul-

tural, Elena Gijón, Directora de Notícias da Radio Onda Cero,

Mayte Carrasco, dos Jornalistas sem Fronteiras e Marcos Cam-

pos, Produtor Cinematográfico.

Boletim Informativo n.º 10—Novembro de 2012

Monitorização: De 28 de Setembro a 31 de Outubro de

2012, foram monitorizados diariamente 10 jornais de

referência: 3 de âmbito regional (Campeão das Províncias,

Diário As Beiras e Diário de Coimbra) e 7 de âmbito

nacional (Diário de Notícias, Jornal I, Jornal de Notícias,

O Expresso, O Público, Primeiro de Janeiro e Sol).

Nesta edição:

1 - Editorial

2 e 3 - Pela Positiva

4 - Pela positiva

5 - Visibilidade, Visibilidade

6 - Racismo

7 - Racismo, Xenofobia

8 e 9 - Xenofobia, Xenofobia

10 - Xenofobia e Estereótipos

11 - Estereótipos

12—Formação SOS Racismo

IN OTHER WORDS é um projecto financiado com o apoio da Comissão Europeia. A informação contida nesta publicação (comunicação)

vincula exclusivamente o autor, não sendo a Comissão responsável pela utilização que dela possa ser feita.

Page 2: 10º Boletim Informativo POR OUTRAS PALAVRAS Novembro 2012

Visita ao parceiro da Estónia, Tallinn University

Página 2 POR OUTRAS PALAVRAS

pela positiva A notícia ‘Memorial ao Holocausto dos ciganos já existe mas discriminação continua’ pretende

relatar a edificação e inauguração de um monumento em homenagem aos ciganos e às ciganas

vítimas do holocausto nazi. Esta notícia, que dá visibilidade e consequentemente reconhecimento

às atrocidades cometidas contra as

populações ciganas durante o nazis-

mo, é destacada pela positiva, não só

pela visibilidade mas também pela

relação que estabelece entre passado

e presente, entre história e legado,

traçando uma linha de continuidade e

trazendo para o debate a discrimina-

ção racial, particularmente, contra as

populações ciganas, como um proble-

ma central das sociedades contempo-

râneas europeias. A abertura deste

debate é conseguida através de uma

descrição consequente dos aconteci-

mentos históricos, espelhando o racis-

mo larvar que os determinou: ‘o geno-

cídio dos ciganos nos campos de mor-

te nazis teve as mesmas motivações

racistas e desejo de extermínio que

moveram os nazis contra os

judeus’ (sic). Neste sentido, há ima-

gem do que aconteceu há muito com as populações judaicas, é essencial que a memorialização do

holocausto passe pelo reconhecimento das atrocidades cometidas contra as populações ciganas no

sentido de acabar com um silêncio histórico prolongado – argumenta-se que a visibilização de

determinados acontecimentos históricos permite discutir os seus legados e as suas consequências

no presente. Deste modo, o artigo chega mesmo a ser provocador quando evidencia que este não-

reconhecimento (dos factos até ao momento) não pode ser visto ou justificado enquanto um reflexo

da pouca quantidade de população cigana na Europa - dado que estes são a maior minoria da

Europa - insinuando, de certa forma, que tal se pode relacionar mais com o facto de serem a mino-

ria mais pobre e amplamente discriminada actualmente no espaço geopolítico europeu.

(Continua na página seguinte…)

in O Público, 25/10/2012

Page 3: 10º Boletim Informativo POR OUTRAS PALAVRAS Novembro 2012

N.º 10, Novembro 2012 Página 3

(Continuação)

O artigo é claro na explicitação de que há uma relação, entre o passado e o presente, uma linha,

um legado racista enquanto fenómeno histórico que perpassa diferentes espaços e instituições

até ao presente: emprego, habitação, mobilidade, entre outras. Simultaneamente, espelha bem a

contradição entre o discurso (designadamente o de Angela Merkel na inauguração do memorial -

‘A homenagem às vítimas pressupõe também uma promessa, a de proteger uma minoria, um

dever de hoje e de amanhã’ (sic) e a prática, uma vez que ‘A Alemanha, a braços com uma enor-

me vaga de pedidos de asilo de cidadãos dos Balcãs - a maioria deles ciganos, não só recusa a

maior parte, como é dos países da UE que está a tentar repor a obrigatoriedade de vistos para

entrar na zona Schengen aos naturais dos países balcânicos’ (sic). Enfatize-se que, no entanto,

após relacionar ‘o crescimento do racismo em relação aos ciganos’ (sic) com a crise, o artigo acaba

por apontar alguns países como o principal foco do problema, o que se avizinha pouco interessan-

te e mesmo complicado, uma vez que o racismo deve ser entendido e problematizado enquanto

fenómeno político e estrutural, transversal a todas às sociedades contemporâneas para poder ser

combatido como tal.

pela positiva

Alega-se que este conjunto de notícias se deve

considerar no sentido em que ambas visibilizam

de forma bastante positiva a questão da homo-

parentalidade, contribuindo para a proliferação

de um debate informado e anti-homofóbico na

sociedade portuguesa, numa altura em que os

casais viram já concedido o seu direito a casar

mas não à adopção de crianças. Dado que este

debate é muitas vezes impugnado utilizando o ‘interesse da criança’, enfatiza-se que em ambas as

notícias o melhor interesse da criança, é relevado. Este interesse da criança que se alia aqui à

adopção por parte do casal, é ainda legitimado, num dos casos, pelo psicólogo Daniel Sampaio uma

vez que este afere que não há nenhum estudo científico que afira que a orientação sexual dos edu-

cadores tenha uma influência negativa na criança. E, neste sentido, naturaliza-se a adopção de

crianças independentemente da orientação sexual dos pais. Destaque-se, igualmente, que os dois

artigos ponderam a opinião de activistas, académicos e associações, desenhando um quadro com-

pleto e complexo do tema em discussão e permitindo uma discussão informada sobre o tema.

(Continua na página seguinte…)

pela positiva

in Jornal de Notícias, 12/10/2012

Page 4: 10º Boletim Informativo POR OUTRAS PALAVRAS Novembro 2012

Página 4 POR OUTRAS PALAVRAS

pela positiva (Continuação)

Cada uma das contribuições

contribuiu para alargar o argu-

mento e conferir importância ao

acontecimento. Em relação às

imagens que ilustram os artigos

argumenta-se que o Jornal de

Notícias se revela bastante ade-

quada na medida em que apre-

senta o casal em contexto de

homoparentalidade. Pelo con-

trário, a imagem do Público

revela-se bastante descontex-

tualizada e não acrescenta nada

à discussão.

Destaque-se ainda que no Público, embora se evoque

a ideia de que esta decisão só aconteceu porque

‘caiu’(sic) nas mãos de um juiz que já veio expressar

a público a sua opinião favorável à adopção, a notí-

cia mostra bem as contradições latentes na opinião

publica de várias figuras quando denota que ‘Na

reportagem da SIC, uma deputada do PSD que diz

ter votado contra a adopção por casais homosse-

xuais, afirma que ‘neste caso concreto’, que conhece

de perto, por ser amiga de Eduardo Beauté, não tem

dúvidas em aplaudir a decisão do juíz’ (sic).

in Jornal de Notícias, 12/10/2012

in O Público, 12/10/2012

Page 5: 10º Boletim Informativo POR OUTRAS PALAVRAS Novembro 2012

N.º 10, Novembro 2012 Página 5

visibilidade

Esta notícia foi seleccionada para a secção de visibilidade no sentido

em que expressa a falta de vontade política em fixar cotas para

mulheres em lugares de relevo em grandes empresas na União

Europeia. A linguagem utilizada realça a ideia de esforço e de impe-

dimento de concretização dos objectivos da proposta: ‘foi forçada’,

‘obrigará a’ (sic), dando a ideia de que este processo de instauração

de cotas se afigura como um campo de batalha, denotando não só a

presença de um sexismo estrutural ao nível das instancias mais

altas de poder, demonstrando que se trata de uma questão política e

ideológica, de perpetuação e protecção da ordem vigente. Deixa

igualmente claro qual a função das quotas explicando que, caso con-

trário a relativa equidade entre mulheres e homens não acontecerá

nas próximas décadas. Destaque-se também o recurso ao argumento

dos benefícios que a contratação de mulheres significa para as

empresas - ‘demonstraram que a nomeação de mulheres para cargos

executivos é altamente benéfica para as respectivas empresas’ - que

se acredita não ser o mais adequado, uma vez que os direitos devem

ser atribuídos independentemente dos ditames do mercado.

Esta notícia está em des-

taque pelo facto de que

assinala o carácter

excepcional de um acon-

tecimento como estes,

reiterando a existência

de uma discriminação estrutural no contexto sociopolítico

brasileiro. No mesmo lance, ilustra bem a confrontação

entre dois discursos: mérito e discriminação. Enquanto

que o jornalista enfatiza o mérito do sujeito, o sujeito

enfatiza a transversalidade e a persistência da discrimi-

nação estrutural e o seu impacto na esfera social de opor-

tunidades.

visibilidade

in O Público, 24/10/2012

in O Público, 12/10/2012

Page 6: 10º Boletim Informativo POR OUTRAS PALAVRAS Novembro 2012

Página 6 POR OUTRAS PALAVRAS

Este conjunto de notícias procura reportar, em ambos os casos, acusações a dois astrólogos. Ora, a

primeira notícia - ‘Professor Bambo Acusado de Extorquir em Consultas’ - é destacada numa secção

do jornal denominada ‘Segurança’ e procura descrever ao detalhe toda a situação, enfatizando um

conjunto de dados sobre a vida do alegado arguido, o espaço e o ambiente em que tinham lugar as

consultas de astrologia, bem como as pessoas que trabalham com o professor Bambo. Denote-se que

as pessoas são des-

critas como ‘dois

indivíduos de raça

negra e de forte

constituição para

além de uma fun-

cionária (...)’ (sic),

o que impele ques-

tionar a ênfase

dada aos atributos

físicos dos ‘dois

indivíduos’, ques-

tionando o porquê

da relevância da

descrição dos indi-

víduos para a

situação em causa.

Acrescente-se que a notícia - publicada três dias depois - ‘‘Astrólogo’ burlou mulher a quem prome-

teu ‘expulsar os demónios’’ opta por descrever o astrólogo como ‘jovem africano’. Assim, não deixa de

ser questionável o porquê da menção da cor da pele (no primeiro caso), do continente de origem (no

segundo caso), o que parece conduzir à tentativa de estabelecer uma ideia de perfil ‘racial’. Acres-

cente-se também a falta de precisão de ambas as descrições, designadamente, através do uso do

conceito de ‘raça’ – dado tratar-se de um termo obsoleto -, e de África ser um continente com 54

estados independentes reconhecidos, 2 estados que auto-declararam independência mas não são

totalmente reconhecidos, dois territórios com dependência externa e sete territórios administrados

por países não africanos.

(Continua na página seguinte…)

racismo

in Jornal de Notícias, 15/10/2012

Page 7: 10º Boletim Informativo POR OUTRAS PALAVRAS Novembro 2012

Página 7 POR OUTRAS PALAVRAS

(Continuação)

Se admitirmos ainda as diversidades sociais, culturais, linguísticas, económicas e políticas de cada

um dos estados, denota-se que as caracterizações produzidas são de cariz essencialista e consequen-

temente perigoso. Deste modo, argumenta-se que afirmar que ‘(...) um africano de 23 anos, usou um

estratagema muito

comum neste tipo de bur-

las, prometendo solucio-

nar problemas a troco de

elevadas quantias.’ (sic)

contribui para traçar

uma gramática racista

que relaciona africanos,

negros e astrologia a

‘burla’ - o que se afigura

bastante problemático

num quadro mediático que (re)constrói sistematicamente a figura do estrangeiro como criminoso e

que constrói o espaço português como cultural e ‘racialmente’ homogéneo, excluindo a diversidade

que o constituiu e permitindo o traçar de um conjunto de falácias na forma de entender o espaço

geográfico, político e social.

racismo

xenofobia No quadro das notícias publicadas no decorrer do mês de Outubro, resolveu-se elaborar uma análise

de conjunto sobre a menção da nacionalidade ou da etnia dos sujeitos envolvidos nos acontecimen-

tos noticiados, problematizando a relação que se estabelece com a ideia de grupo relacionado. De

modo geral, as notícias que se seguem contribuem para a (re)criação da ideia de que existem redes

mafiosas ligadas ao fenó-

meno da imigração e que

actuam na Europa de for-

ma sistemática, reiteran-

do a narrativa que insiste

em re-imaginar a ligação

entre imigração e crime.

(Continua na página seguinte…)

in Diário de notícias, 20/10/2012

in Expresso, 23/10/2012

Page 8: 10º Boletim Informativo POR OUTRAS PALAVRAS Novembro 2012

Página 8 POR OUTRAS PALAVRAS

A primeira notícia, ‘Hamidovic, o clã dos miúdos que roubam a Europa’ privilegia - sobretudo na

escolha do título - um determinado recorte no assunto noticiado que nos parece bastante discutível

já que decide enfatizar que estas crianças são carteiristas - ‘(...) há um

clã de miúdos que rouba a Europa (...)’-, como se se tratasse de uma

opção das criança, omitindo inicialmente que estas crianças são parte

de uma rede de exploração e de tráfico humano’: ‘Esta organização cri-

minosa assenta no tráfico e ‘distribuição’ de várias centenas de meno-

res dos Balcãs, a esmagadora maioria raparigas entre os 12 e os 16

anos, por vários países europeus onde são obrigados a roubar carteiras

em locais turísticos criteriosamente escolhidos’ (sic). Além do mais, a

notícia enfatiza a ideia de que a Europa – construída, uma

vez mais, como espaço homogéneo - está constantemente sob

ameaça de estrangeiros que ‘roubam a Europa’ (sic) de forma

organizada e sistemática, ‘ao estilo mafioso’ (sic). Afere-se

ainda que a menção da nacionalidade e da ‘etnia’ das crian-

ças é criticável uma vez que contribui para uma operação

mental e política racista que relaciona ciganos (rom), imi-

grantes e crime, reafirmada também pela ideia de ‘clã’ e de

‘linhagem’ que, de alguma forma, reconduz o leitor a uma

ideia de familiaridade entre os ‘membros’, e contribui para a

construção de um ‘outro’

que se opõe ao ‘nós’. Na

mesma linha da anterior,

a segunda notícia corrobo-

ra e reforça o imaginário

da anterior já que apresen-

ta a ideia de uma ‘rede de

máfia chinesa em Portugal’ (sic). A narrativa que estabelece a relação entre imigração e criminali-

dade continua na notícia ‘Romenos assassinos vão ser julgados no Tribunal de Mira’ através da

referencia (desnecessária) e do destaque dado à nacionalidade dos indivíduos, numa situação em

que a mandatária do crime. A notícia ‘Taxar imigrantes aumenta riscos’, embora inicialmente pre-

tenda alertar para o direito á saúde, acaba por reiterar a ideia de que as doenças são o principal

problema dos imigrantes, designadamente as infecciosas: ‘Doenças infecciosas como o VIH, tubercu-

lose e sexualmente transmissíveis são alguns dos principais problemas das populações imigran-

tes’ (sic). (Continua na página seguinte…)

xenofobia

in Expresso, 23/10/2012

in Diário de Notícias, 15/10/2012

in Diário de Coimbra, 06/10/2012

Page 9: 10º Boletim Informativo POR OUTRAS PALAVRAS Novembro 2012

Página 9 POR OUTRAS PALAVRAS

(Continuação)

Este texto pode contribuir para acordar o fantasma que associa doenças e ‘estrangeiro’ - constituin-

do o ‘imigrante’ como um potencial perigo (viral), espalhado por vários pontos da Europa, relacio-

nando o aumento de infecções em alguns países com a imigração (sic), o que se considera bastante

problemático. Além do mais, deve notar-se que uma das causas nomeadas em alguns estudos sobre

esta questão apontam para o facto de que, alguns casos de doença, se relacionarem com a exclusão

social e a pobreza em que algumas pessoas vivem, devendo portanto ser discutidas no âmbito da

discriminação institucional perpetrada, em grande parte pelos próprios estados.

Por sua vez a notícia ‘Os chineses que se

cuidem com ele’, afigura-se como proble-

mática no sentido em que o título - des-

cendente de declarações de José Castelo

Branco na apresentação da intenção de

se candidatar à Câmara Municipal de

Sintra - elabora uma argumentação

xenófoba que pretende ‘acabar com as

lojas de chineses’ (sic). Ora, é duvidosa

por um lado a visibilidade dada ao caso

mas também o facto de toda a notícia se

encontrar na secção artes & vidas e utili-

zar um tom jocoso que tende banalizar e

a despolitizar um conjunto de afirmações

xenófobas, que deveriam ser discutidas

de outra forma. Argumenta-se que estas

declarações nada têm de humorístico ou

irónico, não cabendo aos media naturali-

zá-las, acabando por veiculá-las.

Por fim, acredita-se que este conjunto de notícias elabora um quadro amplo das representações

mediáticas sobre a imigração na imprensa escrita e que contribuem para uma visibilização negativa

da imigração. Acredita-se que os media - principais oradores do discurso público - devem apurar um

sentido de responsabilidade maior face a um conjunto de pessoas que migrou, nasceu e colabora na

construção diária do espaço social, cultural, geográfico e económico em que vivemos e que devem ser

respeitadas.

xenofobia

in Jornal de Notícias, 25/10/2012

Page 10: 10º Boletim Informativo POR OUTRAS PALAVRAS Novembro 2012

Página 10 POR OUTRAS PALAVRAS

Esta notícia é produzida no sentido de assi-

nalar a promulgação das alterações à Lei da

Imigração em vigor, em Portugal. Estas alte-

rações, já discutidas em boletins informati-

vos anteriores, são alterações amplamente

criticadas por um conjunto de instituições

nacionais e internacionais, uma vez que con-

tribuem para criminalizar a imigração e deli-

mitar uma mobilidade que se afigura cada

vez mais reduzida e controlada. O que se

releva discutível nesta notícia é o tipo de

recorte que a corporaliza, no sentido em que

a mesma reproduz a ligação entre criminali-

dade e imigração, excepto quando menciona ‘imigrantes qualificados laboralmente’ (sic), criando a

ilusão de que a lei penaliza somente a criminalidade no geral e que não se trata de uma lei crimina-

lizadora e discriminatória que penaliza imigrantes e todos/as aqueles/as que os/as auxiliarem.

Argumenta-se que é responsabilidade dos media, se a tal se propuserem, sintetizarem a totalidade

das realidades de um facto e não uma mera perspectiva sobre o mesmo, no sentido de permitir a

formação de uma opinião pública consciente.

estereótipos

xenofobia A notícia que se segue reporta, através de um comunicado do SEF, o

‘resultado de uma fiscalização em conjunto com a PSP feita (...) aos passagei-

ros dos comboios nas estações do Rossio e Campolide, em Lisboa. O SEF iden-

tificou 531 passageiros e notificou 12 estrangeiros para comparecerem no ser-

viço [de Estrangeiros e Fronteiras]’ (sic). A existência desta notícia revela não

só a proximidade dos media na difusão de acções policiais a partir da perspec-

tiva da polícia (os seus comunicados), como, acima de tudo, deixa por questio-

nar os métodos utilizados pela polícia (SEF e PSP) durante estas operações de

identificação, em particular, a hipótese de estas identificações se basearem no

prefilamento racial (racial profiling) - uma prática conhecida de discriminação

racial (dado que se trata de um método de identificação altamente discrimina-

tório) contestado por um conjunto de movimentos sociais. in O Primeiro de Janeiro,

in O Público, 08/10/2012

Page 11: 10º Boletim Informativo POR OUTRAS PALAVRAS Novembro 2012

Página 11 N.º 10, Novembro 2012

Página 11 POR OUTRAS PALAVRAS

estereótipos Esta notícia dá conta da variação dos índices de criminalidade violenta no país, com especial desta-

que para a cidade de Lisboa. No entanto, o que se procurará problematizar aqui não é tanto o texto

da notícia mas sim a imagem que a acompanha. Na imagem podemos vislumbrar a presença da

polícia de intervenção num bairro que a legenda traduz como o Bairro do Casal da Mira, na Amado-

ra.

Ora, o que fica por explicar é a escolha desta imagem para ilustrar a notícia, uma vez que noutras

publicações sobre o mesmo tema em que são referidos os territórios, não consta nenhum bairro da

Amadora. Considera-se que esta escolha contribui para a perpetuação da construção de representa-

ções mediáticas negativas sobre determinados espaços, sistematicamente associados à violência e à

criminalidade pelos media e, consequentemente, pelas audiências. Como resultado, as acções vio-

lentas levadas a cabo pela polícia nestes espaços - tal como aquela que se testemunha na imagem -

são facilmente legitimadas perante a opinião pública, o que é preocupante.

in Diário de Notícias 26/10/2012

Page 12: 10º Boletim Informativo POR OUTRAS PALAVRAS Novembro 2012

com António Guterres; no dia 6

(sábado) “Antirracismo, entre

dimensão cromática e estratégia

política: que alianças e o exemplo

dos “Black Panthers”, dinamizada

por Mamadou Ba, Jackilson Perei-

ra e LBC, “Criminalização da imi-

gração”, com Nuno Silva, Ana Car-

la Ferreira e Mónica Catarino e,

finalmente, “Memória”, com

Manuel Loff, Miguel Cardina e

Nuno Dominguos. No dia 7, reali-

zou-se a Assembleia Geral do SOS

Racismo, em que, para além do

debate de várias questões ligadas

à actividade, nacional e internacio-

nal desta associação, foram eleitos

os novos corpos gerentes.

Espera-se que a forma muito posi-

tiva como decorreram as sessões,

sempre com uma intensa troca de

informações e um debate muito

vivo, tenha resultados significati-

vos da acção do SOS Racismo, na

medida em que os seus activistas

ficarão mais apetrechados para

intervirem na realidade social con-

tra as diversas discriminações,

que, infelizmente, têm vindo a tor-

nar-se cada vez mais agressivas

para os cidadãos e famílias em

maior situação de fragilidade: imi-

grantes, moradores em bairros

sociais, entre outros.

Mais informações em:

http://sosracis.wordpress.com

Nos passados dias 5, 6 e 7 de

Outubro, realizaram-se as jorna-

das anuais de formação do SOS

Racismo, na Quinta da Fonte

Quente, na Tocha.

Como vem sendo habitual, conver-

giram naquele local algumas deze-

nas de activistas das causas anti-

discriminatórias, provenientes

principalmente de Lisboa, Porto,

Aveiro e Coimbra. Foram tratados

diversos temas nas seis sessões

previstas no programa: no dia 5,

6.ª feira, “Os Media e as discrimi-

nações”, apresentada por Carla

Duarte, do IEBA e dinamizadora

do projeto Europeu ‘In Other

Words’ em que o SOS Racismo

participa e por Carla Cerqueira,

da Universidade do Minho e da

UMAR, “Os ciganos e a escola”,

com Luís Braga e Ana Cruz e “A

intervenção social nos bairros’,

sugestões de leitura

Página 12 N.º 10, Novembro 2012

- SOS Racismo (org.) (2001), Ciganos: números, abordagens e realidades, Lisboa: SOS Racismo.

- Filme - Cabral, Bruno (2010), “20 ANOS A QUEBRAR TABUS”. Lisboa: SOS Racismo.

- SOS Racismo (org.) (2005), IMIGRAÇÃO E ETNICIDADE: VIVÊNCIAS E TRAJECTÓRIAS DE MULHERES EM PORTUGAL, Lisboa:

SOS Racismo.

na internet

Visite o website do projecto IN OTHER WORDS em: http://www.inotherwords-project.eu/

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Conheça a política e actividades da Comissão Europeia na área da Justiça em: http://ec.europa.eu/justice/index_en.htm

créditos Edição: IEBA Centro de Iniciativas Empresariais e Sociais, Novembro 2012

Revisão: ULAI Unidade Local de Análise de Imprensa - APPACDM Coimbra, APAV, GRAAL, NÂO TE PRIVES, SOS RACISMO

Contactos: IEBA Parque Industrial Manuel Lourenço Ferreira, Lote 12 - Apartado 38, 3450-232 Mortágua, [email protected]

Formação SOS Racismo 5, 6 e 7 de Outubro - Tocha