100 dicas para escrever ficção

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100 dicas para escrever ficção Dica 1: Crie o hábito de organizar ideias em narrativas. Por Diego Schutt A não ser que você tenha descoberto uma fonte de iluminação divina, inspiração infinita ou técnicas infalíveis, não existe outra forma de melhorar seus textos a não ser praticando regularmente. Deixe de lado a pressão que você coloca sobre si para escrever histórias fantásticas que vão mudar o mundo. Comece simplesmente transcrevendo a ideia ou impulso que inspirou você a escrever. Pode ser o começo, meio ou fim de uma história, os pensamentos do protagonista, uma descrição do cenário, um diálogo entre personagens, uma cena de ação, ou mesmo divagações sobre um tema que você deseja explorar. Não se preocupe com lógica, coerência, ortografia ou gramática. Plante ideias na página em branco e, aos poucos, você verá que elas naturalmente começarão a apontar para uma determinada direção. A medida que as palavras forem se acumulando na página, identifique a principal ideia e emoção que você está tentando comunicar ao leitor com seu texto. Use isso como base para investigar esse universo de ficção e desenvolver essa narrativa. Dica 2: Decida os gêneros que você quer escrever. Ainda que você se interesse por diversos gêneros, decida em quais você deseja se especializar. Escolha aqueles com os quais você mais se identifica, e invista no aperfeiçoamento de suas habilidades nesses gêneros. Se você quer escrever romances policiais, leia todos os que encontrar pela frente. Pesquise obsessivamente a rotina do

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100 Dicas Para Escrever Ficção

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Page 1: 100 Dicas Para Escrever Ficção

100 dicas para escrever ficção

Dica 1: Crie o hábito de organizar ideias em narrativas.

Por Diego Schutt

A não ser que você tenha descoberto uma fonte de iluminação divina, inspiração infinita ou técnicas infalíveis, não existe outra forma de melhorar seus textos a não ser praticando regularmente. Deixe de lado a pressão que você coloca sobre si para escrever histórias fantásticas que vão mudar o mundo. Comece simplesmente transcrevendo a ideia ou impulso que inspirou você a escrever.

Pode ser o começo, meio ou fim de uma história, os pensamentos do protagonista, uma descrição do cenário, um diálogo entre personagens, uma cena de ação, ou mesmo divagações sobre um tema que você deseja explorar. Não se preocupe com lógica, coerência, ortografia ou gramática. Plante ideias na página em branco e, aos poucos, você verá que elas naturalmente começarão a apontar para uma determinada direção.

A medida que as palavras forem se acumulando na página, identifique a principal ideia e emoção que você está tentando comunicar ao leitor com seu texto. Use isso como base para investigar esse universo de ficção e desenvolver essa narrativa.

Dica 2: Decida os gêneros que você quer escrever.

Ainda que você se interesse por diversos gêneros, decida em quais você deseja se especializar. Escolha aqueles com os quais você mais se identifica, e invista no aperfeiçoamento de suas habilidades nesses gêneros.

Se você quer escrever romances policiais, leia todos os que encontrar pela frente. Pesquise obsessivamente a rotina do trabalho da polícia, conheça os procedimentos específicos na investigação de crimes, estude leis e direitos civis.

Se você quer escrever comédias românticas, leia uma atrás da outra. Estude a psicologia das relações, encontre regularmente seus amigos com problemas emocionais, leia o perfil de centenas de pessoas em sites de relacionamentos.

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Entenda as convenções de qualquer que seja o tipo de história que você quer escrever. Ler textos de diferentes gêneros enriquece seu repertório linguístico e técnico, mas não se desespere achando que um escritor deve saber escrever todo tipo de história.

Dica 3: Estude os textos dos seus

escritores favoritos.

Releia histórias dos seus escritores favoritos regularmente. Pense porque

essas narrativas despertaram sua curiosidade para iniciar a leitura, e

prenderam sua atenção até o final da história. Procure analisar como

eles organizaram suas ideias ao longo dos textos.

Entenda o que especificamente você admira no estilo desses escritores e

por quê. É a forma como ele descreve o mundo em que a história se

passa? São os personagens misteriosos que mexem com sua

imaginação? É o ritmo envolvente da narrativa? É a forma como os

eventos do enredo se encaixam?

Desconstrua suas histórias favoritas capítulo por capítulo, página por

página, parágrafo por parágrafo, linha por linha, palavra por palavra.

Entenda a função de cada um desses elementos na construção das

histórias. Esse exercício vai ajudar você a espiar dentro da mente dos

seus escritores favoritos, e entender melhor a forma como eles

constroem suas narrativas.

Dica 4: Inspire-se antes de começar a

escrever.

Antes de mergulhar de cabeça em um texto, estimule seu instinto

criativo com atividades que mexem com suas emoções.

Descubra suas maiores fontes de inspiração e motivação para criar

histórias. Use-as como combustível para dar início ao seu processo de

criação.

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Assista a um filme que faz você morrer de rir. Leia um dos seus contos

favoritos. Recite uma poesia que faz você se arrepiar. Escute uma

música que faz você chorar. Converse com amigos que forçam você a

explorar suas ideias e opiniões a fundo. Estude técnicas de escrita que

façam você se sentir desafiado a testá-las na prática.

Dica 5: Elimine a autocrítica no início do seu processo de criação.

Nos primeiros estágios de desenvolvimento das suas histórias de ficção, você precisa de liberdade criativa para explorar todas as possibilidades de desenvolvimento de uma ideia. Enquanto você ainda está trabalhando no primeiro rascunho de um texto, não avalie qualidade do que está produzindo, nem se preocupe com detalhes sobre a estrutura da narrativa.

Ignore aquela voz insistente que julga suas ideias antes mesmo de você ter a oportunidade de desenvolvê-las. Pare de criticar suas habilidades de escritor enquanto você ainda está descobrindo e explorando o universo de ficção da sua história.

É perda de tempo tentar escrever um texto acabado de primeira. Escrever é reescrever. Edições e reajustes fazem parte do processo de criação, mas são etapas que vem mais tarde, quando você já tiver claro qual é a sua história e o que está tentando comunicar ao leitor.

Dica 6: Evite que perfeccionismo afete

sua produtividade.

Perfeccionismo pode ser um defeito ou uma qualidade. Depende do

quanto você permite que ele afete sua produtividade. Quando em doses

moderadas, perfeccionismo serve de incentivo para refinamento e

aperfeiçoamento dos seus textos. Quando em doses exageradas, ele traz

pensamentos negativos, desorienta e paralisa.

Se seu perfeccionismo vem diminuindo sua produtividade, está na hora

de reavaliar a forma como você se relaciona com as histórias que

escreve. Ao invés de se apegar a algumas poucas ideias e tentar refiná-

las ao extremo, aspire por escrever uma grande quantidade de textos.

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Produzir uma grande quantidade de histórias boas vai aperfeiçoar suas

habilidades de escritor mais do que produzir uma pequena quantidade

de histórias “perfeitas”.

Dica 7: Monitore sua produtividade e motivação para escrever.

Concentração e foco são fundamentais para escrever. Evite o abuso de práticas contra-produtivas, procrastinação e queda de motivação estabelecendo um período de tempo determinado para suas sessões de escrita entre 25 e 35 minutos.

Use um cronômetro com alarme para lhe indicar o final de cada sessão. Então avalie se você está focado, ou se você está distraído com atividades paralelas.

As ideias estão fluindo com facilidade? Você está concentrado nos seus pensamentos? O tempo parece ter voado? Então dispare o cronômetro novamente e inicie uma segunda sessão.

Sua mente segue interrompendo você com assuntos aleatórios? Você já checou o seu email e Facebook mais de duas vezes? Está tentando consertar a mesma frase há 10 minutos? Nesse caso, pare de escrever e procure um outro momento do dia em que você estiver menos distraído.

Dica 8: Aprenda a provocar emoções com palavras.

Emoções são a matéria-prima das histórias de ficção. Elas determinam a forma como o leitor vai interpretar os comportamentos dos personagens e empatizar com seus dramas.

Para provocar emoções com suas palavras:

1. Ajude o leitor a enxergar e sentir o mesmo que o personagem

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Emoções são subjetivas. Cada pessoa, incluindo seus personagens, sente o mundo de um jeito particular. Para demonstrar o que seus personagens estão sentindo, traduza suas emoções em reações físicas e comportamentos observáveis. Descreva detalhes específicos ao invés de generalidades. Ao invés de “Ana estava nervosa no seu primeiro dia de aula”, experimente “Os joelhos de Ana afrouxaram quando ela entrou na sala de aula escoltada pelo olhar dos colegas. A testa suada, formigas na barriga, e a voz da mãe ecoando nos ouvidos, mandando ela parar de frescura e descer do carro.”

2. Apresente informações sobre os personagens na ordem certa

Emoções não existem fora de um contexto. Ao escrever cada cena de sua história de ficção, certifique-se que você incluiu informações suficientes para que o leitor reaja da forma que você deseja aos acontecimentos do enredo. Se, por exemplo, você quer que o leitor tema pela vida do seu protagonista na cena onde seu escritório pega fogo, desperte identificação e empatia com o personagem em cenas anteriores, nos dando motivos para nos importar com ele (Ele tem uma mãe doente? Uma esposa grávida? Um filho deficiente que depende dele?)

Dica 9: Teste suas ideias de história.

Quando você decide transformar uma ideia em história, algumas vezes você se decepciona com o resultado. Isso acontece porque dentro da cabeça, muitas das suas ideias só fazem sentido porque estão interconectadas com seus conhecimentos e experiências. Sem essas associações pessoais, elas não sobrevivem a viagem da sua mente para o papel.

É comum que escritores se apaixonem por uma ideia de história e descubram mais tarde, depois de meses ou até anos de trabalho, que elas não fazem sentido, ou não parecem interessantes para mais ninguém.

Se você está escrevendo para ser lido, antes de investir todo o seu tempo e energia em um projeto, compartilhe a ideia central da sua história com algumas pessoas. É uma oportunidade para você considerar como pode torná-la ainda mais envolvente.

Dica 10: Entenda o papel de cada peça que compõe uma história.

Por Diego Schutt em 19/08/2010 em dicas 5 17

Antes de tentar escrever uma série, aprenda a escrever um livro.

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Antes de tentar escrever um livro, aprenda a escrever um capítulo.

Antes de tentar escrever um capítulo, aprenda a escrever uma cena.

Antes de tentar escrever uma cena, aprenda a escrever um parágrafo.

Antes de tentar escrever um parágrafo, aprenda a escrever uma frase.

Antes de tentar escrever uma frase, aprenda a transformar uma sensação em uma imagem.

Antes de transformar uma sensação em uma imagem, aprenda a identificar sua intenção para escrever.

Entender o papel de cada uma das peças que compõe uma história vai permitir a você criar enredos mais elaborados e envolventes.

Dica 11: Decida se você quer escrever livros ou ser um escritor.

Sim, existe uma diferença entre um desejo e outro.

Se você quer escrever livros, você deseja ser um autor.

Você acredita que tem ideias que podem resultar em boas histórias. Você acredita que algumas dessas histórias tem o potencial de despertar o interesse de um público grande o suficiente para atrair o interesse de uma editora. Sua maior meta é desenvolver a habilidade de manter o leitor interessado no seu texto, da primeira linha até o último ponto final. Palavras são ferramentas para transmitir suas ideias e pensamentos.

Se você quer ser escritor, você deseja ser um pensador.

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Você acredita que tem uma visão única sobre o mundo que pode resultar em histórias que vão tocar a vida de outras pessoas. Você acredita que algumas dessas histórias têm o potencial de despertar mudanças reais na forma como outros veem o mundo. Sua maior meta é desenvolver a habilidade de fazer o leitor sentir na pele o drama dos seus personagens, da primeira linha até o último ponto final. Palavras são aliadas nos seus incansáveis esforços de dar sentido as suas experiências.

Dica 12: Evite comparar suas histórias as dos seus ídolos.

Se você está recém iniciando sua caminhada no mundo da ficção, não compare suas histórias as dos seus ídolos. Seria como comparar as habilidades de um jogador de futebol profissional às de alguém que está recém começando. Isso só faz você criar expectativas irrealistas sobre seus textos, e desqualificar seus esforços criativos.

As histórias que você escreveu no passado são as melhores referências para avaliar seu progresso. Compare o texto que você escreveu esta semana ao que você escreveu no mês passado. Isso é um bom indicador da sua evolução como escritor.

Seus ídolos não devem ser referencial de qualidade para o que você escreve no início da sua carreira, mas sim fontes de inspiração e incentivo para você escrever cada vez mais e aperfeiçoar suas habilidades de escrita.

Dica 13: Tente responder perguntas que intrigam você.

Você já percebeu quantos livros preenchem as prateleiras das livrarias? Quantos textos estão disponíveis na Internet? A infinidade de revistas e jornais nas bancas? O número de seriados e novelas passando na tv? A variedade de filmes e peças de teatro em cartaz? Suas histórias estão competindo por atenção com tudo isso.

Para ter uma chance de se sobressair nesse mar de informação, escreva sobre temas pelos quais você tem interesse genuíno. Procure encontrar respostas para perguntas que provocam sua imaginação. Tente encontrar soluções para problemas que você está enfrentando na sua vida pessoal. Se você está passando por isso, talvez outras pessoas também estejam.

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Vasculhe suas inseguranças, pense sobre seus desejos, crie formas de superar obstáculos que impedem você de conseguir o que quer. Use o que você encontrar como matéria-prima para escrever suas histórias. Se o texto não resultar em uma boa narrativa, pelo menos você terá investido seu tempo se conhecendo melhor.

Dica 14: Aceite o convite das histórias que se oferecerem a você.

Estes são alguns dos sinais que você recebe quando uma história escolheu você como escritor: de repente, você imagina um personagem qualquer em uma situação inusitada, você escuta um diálogo que provoca risos altos, você pensa em uma frase que desafia preconceitos sobre um assunto, você visualiza um cenário fantástico que desperta sua imaginação.

Ignorar esses pedaços de narrativa que se oferecem o tempo todo é abandonar uma história que está convidando você para escrevê-la. Sempre que uma ideia ficar rondando sua cabeça por mais segundos do que o normal, anota ela em um caderno.

Mais tarde, revisite essas ideias e use uma delas como inspiração para escrever uma história de ficção.

Dica 15: Não tente agradar a todos com suas histórias.

Ao escrever certos gêneros e decidir por explorar certos temas em seus textos, você está automaticamente delimitando o alcance da sua história a um determinado grupo de pessoas.

Se você está escrevendo um épico de fantasia sobre as relações de poder na era medieval, você está automaticamente excluindo da sua lista de leitores em potencial todas as pessoas que não se interessam por épicos, por fantasia, e por histórias ambientadas em passados distantes.

Suas histórias nunca vão agradar 100% dos leitores. Se nem mesmo os livros que são considerados obras primas da literatura mundial tem aprovação unânime, certamente seus textos não são e nunca serão exceções. Existe apenas uma única pessoa que deve sempre gostar de absolutamente todas as suas histórias: você.

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Dica 16: Diagrame suas histórias de forma profissional.

A forma como você apresenta suas histórias na página tem o poder de despertar interesse na leitura ou desincentivá-la. Um texto bem diagramado é convidativo e permite que o leitor se concentre no que importa: na história.

Uma fonte elaborada demais, pequena demais, grande demais, colorida demais, ou impressa sob um fundo que não oferece bom contraste, não só dificulta a leitura, mas também influencia na percepção do leitor em relação ao conteúdo e profissionalismo do escritor.

Muito cuidado na escolha da tipografia, do tamanho da fonte, das cores, do alinhamento, das margens, do espaçamento entre linhas, letras e parágrafos. Use como referência para diagramar suas histórias os livros impressos por grandes editoras ou, se você publica seus textos online, as páginas dos grandes portais de notícias.

Dica 17: Confie na sua intuição ao escrever histórias.

Estude teorias, pratique técnicas e leia muitas histórias, mas confie que sua intuição fará a sua parte quando você começar a escrever. Na sua primeira tentativa de colocar uma história no papel, simplesmente escolha um tópico como ponto de partida e escreva o que vier a sua mente o mais rápido possível.

Não tente consertar, editar ou melhorar o texto neste primeiro momento. Não teorize, racionalize ou analise sua produção. Concentre-se em fazer seus dedos se moverem mais rápido que seus pensamentos. Dessa forma, você permite que sua intuição tome conta do processo e o lado mais espontâneo da sua personalidade venha à tona. Quando você abre espaço para o inconsciente participar do processo de criação dos seus textos, você passa a escrever com mais autenticidade.

Suas decisões espontâneas não são tão aleatórias quanto parecem. Elas tem como base seus conhecimentos e experiências. Ainda que você não tenha consciência da exata origem do que você escreve, entenda que sua intuição é sua maior fonte de ideias originais.

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Dica 18: Divulgue e distribua suas histórias.

Depois de investir tanta energia desenvolvendo suas histórias, seria um desperdício deixá-las mofando em uma pasta escondida do seu computador.

Existem diversas formas simples de divulgar e distribuir seus textos. Envie por e-mail para seus amigos, publique em um blog, participe de concursos literários, imprima cópias e deixe nos bancos do ônibus, compartilhe em redes sociais.

Só considere uma história finalizada depois que você promover o que escreveu entre alguns, mesmo que poucos, leitores. Não tenha vergonha de convidar pessoas para ler seus textos

Dica 19: Empreste sua mente para todos os seus personagens.

Se você não quer que todas as suas histórias sejam sobre a sua vida, e todos os seus personagens sejam versões mal acabadas de você, aprenda a:

Compreender um conflito de diferentes perspectivas

Se colocar no lugar de alguém com quem você discorda

Ver pessoas e situações além das aparências

Ler nas entrelinhas do que os outros falam

Para escrever histórias originais, você precisa aprender a emprestar sua mente para todos os tipos de personagens, mesmo aqueles que assustam ou intimidam você.

Entenda as motivações mais profundas dos habitantes da sua história para sentir, pensar e agir. Tente entendê-los a partir das experiências individuais que constituíram suas personalidades e visões de mundo.

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Dica 20: Revise suas histórias com os ouvidos.

Suas palavras soam diferente dentro e fora da sua cabeça. Ao revisar e editar suas histórias, leia seus textos em voz alta para verificar o ritmo da narrativa, a estrutura de frases e encadeamento das ideias.

Se você não consegue se distanciar do que escreveu dessa forma, peça que outra pessoa leia o texto em voz alta para você. Feche os olhos e preste atenção à história como se fosse a primeira vez que você estivesse tomando contado com ela.

Outra opção é usar softwares “text to speech” que transformam texto em áudio e fazem o computador ler em voz alta para você. Esses programas são ótimos aliados os processos de edição e revisão, e ajudam na melhora da qualidade final das suas histórias.

Dica 21: Escreva várias histórias simultaneamente.

Ao investir toda sua energia para escrever uma única história, você está se colocando sob enorme pressão. Se a narrativa não se desenvolver como você esperava, frustração e descontentamento poderão desincentivar projetos futuros.

Ao invés de concentrar todos os seus esforços em uma única história, desenvolva várias ideias ao mesmo tempo. Assim, você evita o tédio e monotonia que surgem em todo projeto de longo prazo.

Intercale entre uma história e outra a cada semana ou mês. Só tome cuidado para não usar essa técnica como uma forma de procrastinação.

Dica 22: Respeite suas habilidades e suas histórias.

Humildade é uma qualidade fundamental que todo escritor deve cultivar. Você precisa reconhecer suas limitações para saber que habilidades precisa aperfeiçoar.

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Se você está constantemente se parabenizando pela genialidade das suas ideias e histórias, não se surpreenda se sua escrita não evoluir ao longo do tempo. Mas tenha o mesmo cuidado para não fazer o contrário. Questionar o valor do que você sabe o tempo todo não é modéstia, é masoquismo.

Tenha humildade ao escrever. Não olhe para os seus textos como um ditador, cujo papel é impor palavras e apontar direções. Cada história tem uma vida própria. O seu papel como escritor é usar todas as habilidades que você tem hoje para registrar os dramas dos personagens, como um fotógrafo que captura emoções com imagens.

Dica 23: Evite a síndrome do escritor incompreendido.

Se você já mostrou seus textos para diversas pessoas e ninguém mostrou muito entusiasmo por eles, pare de pensar que o problema é a falta de sensibilidade dos outros em ver a beleza da sua prosa nas entrelinhas.

Considere a possibilidade de que talvez você não esteja se expressando com clareza, os temas das suas histórias não despertam o interesse dos leitores, ou suas narrativas não têm nada de original.

Ao invés de se revoltar contra o mundo e assumir a postura do escritor incompreendido, que sofre com a estupidez e falta de bom gosto alheia, escute abertamente as críticas de outras pessoas, e tente descobrir como você pode melhorar.

Dica 24: Escreva com liberdade e edite com disciplina.

Você não precisa saber tudo o que vai acontecer na sua história antes de começar a escrever. Os primeiros rascunhos servem justamente para testar possibilidades e explorar a ideia que o inspirou. Nesse primeiro momento, escreva sem se preocupar em definir cada detalhe da história. Deixe a sua intuição tomar conta do processo.

Reserve seu senso crítico e pensamento analítico para quando já tiver definido a estrutura do texto e o que você deseja comunicar com a história. Só então use suas habilidades técnicas

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para consertar as cenas que não funcionam, os diálogos que parecem sem vida, os eventos do enredo que prejudicam o ritmo da história. Substitua todas as palavras que não expressarem exatamente o que você deseja comunicar, todas as frases que soarem fora do lugar, e todos os parágrafos que parecerem irrelevantes.

Aprenda a separar as fases de criação e edição. Dessa forma, a história se beneficiará tanto da espontaneidade da sua intuição, quanto das suas habilidades técnicas.

Dica 25: Seja específico em suas descrições.

Palavras fazem parte do nosso vocabulário racional. Imagens fazem parte do nosso vocabulário emocional. Palavras permitem que você traduza suas ideias de forma organizada e compreensível. Imagens permitem que você ilustre suas emoções através de sensações.

Descrições genéricas entregam ao leitor a responsabilidade de transformar suas palavras em imagens. É um convite a elaboração de detalhes da história que você, escritor, poderia usar para dar mais intensidade ao drama da narrativa, e expressar sua visão artística com mais fidelidade.

“Sentado na sala de espera do hospital, avistei o médico no fundo do corredor caminhando na minha direção com a expressão de quem tinha notícias ruins. Fizemos tudo que era possível, ele afirmou friamente.”

Ao descrever as emoções de personagens, use palavras que criem imagens na mente do leitor. Seu objetivo é dar a eles referências concretas para clarificar o que você está tentando dizer. Evite usar frases e expressões com significados vagos ou literais.

“Eu flutuava na sala de espera do hospital, até que as palavras do médico me jogaram contra a parede. Fizemos tudo que era possível, ele cuspiu as palavras na minha cara.”

Seja específico em suas descrições, faça comparações, ofereça referências. Use linguagem simbólica para pintar imagens vívidas que façam as emoções dos personagens encontrarem as dos leitores.

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Dica 26: Acredite no que você escreve.

O enredo da sua história deve contextualizar, discutir e justificar sua opinião sobre o tema central abordado no texto. Cada cena é como um argumento que reforça ou questiona a teoria sobre a vida que você está tentando provar.

Se você escreve uma história sobre um policial que testemunha seu filho atropelando um mendigo e fugindo, o tema central da narrativa poderia ser “assumir responsabilidades”. O enredo, nesse caso, poderia levantar discussões sobre o que é mais importante: proteger um membro da família ou fazer justiça. Se ao final da história, o policial denuncia o filho, você está passando a ideia de que leis sociais são mais importantes do que relações pessoais.

Para convencer o leitor sobre as visões de mundo que você compartilha em seus textos, você precisa acreditar nas verdades que suas histórias se propõe a provar. Tenha claro o que você pensa sobre o tema central da narrativa. Organize suas cenas alternando pontos contra e a favor de sua teoria sobre a vida, dramatizando seus argumentos através das ações e reações dos personagens.

Dica 27: Não se preocupe com a extensão da sua história.

Não existem regras quanto à extensão que uma história deve ter. A decisão de quantas páginas você deve escrever está relacionada ao tipo de história que você quer contar, e quanto tempo você precisa para contextualizar a narrativa, desenvolver os personagens, apresentar e resolver os conflitos do enredo.

Uma história só nos parece longa demais quando é desinteressante. Boas histórias envolvem nosso intelecto e nossas emoções, nos fazendo esquecer do tempo.

Escreva tanto quanto você considerar necessário para expressar sua visão de mundo sobre o tema da narrativa. Ao revisar seu texto, reavalie o objetivo e a importância de cada frase, e decida se o que elas acrescentam à história justifica sua presença. Escrever simplesmente para preencher a página é um desrespeito ao leitor.

Dica 28: Recompense o tempo do leitor.

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Quem lê histórias de ficção procura uma experiência emocional. Faça seu leitor rir, chorar, se surpreender, se indignar, se aterrorizar. Faça ele sentir alguma coisa, porque no momento que ele ficar indiferente ao que você escreve, seu texto será abandonado.

Toda história propõe uma transação. O leitor lhe dá seu tempo e atenção e, em retorno, você o entretém. Edite seus textos julgando cada frase com o olhar de quem não tem tempo, é impaciente, não acredita que um escritor iniciante vai produzir nada que preste.

Recompense o tempo que o leitor está investindo na sua história em cada frase. Faça isso e tenha certeza de que seus textos terão muito mais chances de serem lidos.

Dica 29: Tempere suas histórias com drama e comédia.

Drama e comédia provocam emoções opostas: tensão e angústia versus relaxamento e diversão, respectivamente. Sua história sempre vai explorar com mais intensidade um gênero ou outro, mas uma combinação assimétrica dos dois resultará em uma aventura emocional mais interessante para o leitor.

Se você está escrevendo um drama, inclua alguns momentos engraçados para quebrar a tensão. Se sua história é uma comédia, permita que os personagens, em algum momento, revelem algo mais profundo e dramático sobre suas personalidades.

Esse contraste entre risos e emoções tornarão mais vívidas as cores do gênero que você está escrevendo.

Dica 30: Respeite as regras que você criar para sua história.

Você tem completa liberdade para inventar cada detalhe do universo de ficção da sua história. Mas isso não significa que suas decisões podem ser completamente aleatórias. Sua história precisa ser consistente e coerente para envolver o leitor.

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A narrativa deve ser construída e sustentada dentro de uma lógica, ainda que essa lógica seja completa invenção da sua cabeça. Se no final da história, seu protagonista estiver no último andar de um prédio em chamas sem saber o que fazer, você não pode simplesmente dar a ele a habilidade de voar, a não ser que você tenha estabelecido em algum ponto no início do enredo que isso é possível nesse universo de ficção.

Defina as regras da sua história nas primeiras páginas e capítulos, e certifique-se de que você as está respeitando da primeira frase até o último ponto final.

Dica 31: Domine a estrutura narrativa clássica.

A estrutura clássica de um história de ficção é construída com base na tentativa de um personagem de resolver os conflitos que o impede de atingir um determinado objetivo, e na transformação que ele sofre durante esse processo.

Essa estrutura existe há séculos, e foi desenvolvida com base na forma como nossa mente encara a vida: uma batalha constante contra os obstáculos que impedem a realização dos nossos desejos mais básicos aos mais complexos.

Os altos e baixos, os amores e desamores, os amigos e inimigos, as justiças e injustiças, os sucessos e fracassos, os choros e risadas, são os extremos que delimitam onde nossas vidas acontecem. O significado que damos para nossas experiências é a forma que encontramos para dar sentido ao caos e aleatoriedade da nossa passagem pelo mundo. Histórias são metáforas da vida.

Todos os experimentalismos que ignoram essas convenções devem ser escolhas conscientes, que tenham como objetivo alcançar um certo efeito ou reação. Mas tenha em mente que quanto mais você se afasta da estrutura clássica, menor será o seu público.

Dica 32: Valorize disciplina mais do que talento.

Você pode desenvolver seu talento através de disciplina, mas não pode desenvolver disciplina através do seu talento.

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Não importa se você tem facilidade de criar ideias originais para histórias de ficção. Se você não investe tempo no desenvolvimento e refinamento dessas ideias, elas nunca vão existir fora da sua cabeça. É o exercício constante de transformar seus pensamentos em palavras que abrirá as portas para o seu talento desabrochar.

Se você não se considera um escritor muito talentoso, compense sendo um escritor extremamente disciplinado. Se você se considera um escritor talentoso, estabeleça uma rotina de escrita para permitir que suas ideias não sejam desperdiçadas.

Dica 33: Aprenda a observar pessoas como um escritor.

Durante grande parte do dia, sua atenção está voltada para seus próprios pensamentos e sentimentos. Enquanto você está ocupado bajulando o seu ego, está desperdiçando uma quantidade enorme de material original praticamente pronto para ser incorporado as suas histórias.

Esqueça estereótipos e comece a observar pessoas como um escritor. Preste atenção detalhada aos comportamentos, reações, movimentos e diálogos que acontecem ao seu redor. Faça isso regularmente e você vai perceber que começará a criar personagens mais verossímeis e empáticos para suas histórias.

Deixe de lado suas opiniões e preconceitos. Observe sem fazer juízo de valor qualquer pessoa que atraia seu olhar.

Dica 34: Decida quando usar narração ou diálogo.

A diferença básica entre narração e diálogo está na forma como o escritor deseja que o leitor tenha contato com os personagens. Diálogos permitem que o escritor dê vida aos habitantes de suas histórias, já que possibilitam ao leitor observar em primeira mão a forma como eles se comportam, se expressam, e se relacionam. Em narração, o escritor seleciona, edita, descreve e analisa os comportamentos do personagem a partir do seu ponto de vista.

Se você quer caracterizar uma professora de português, por exemplo, pode descrever o método militar como ela conduz as aulas, o tom impessoal com que ela trata os alunos, a forma correta e artificial como ela usa o português mesmo em situações informais. A outra

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opção é demonstrar isso através de diálogos entre a professora e outros personagens, permitindo que o leitor reconheça essas características sem que o escritor precise descrevê-las.

É preciso ter em mente que isso expõe a personagem. Ela não mais estará sendo observada somente através da perspectiva do narrador. Ela está agora em frente ao leitor, sujeito às interpretações diretas de suas falas e comportamentos. Avalie em que momentos você precisa usar narração ou diálogo de acordo com o objetivo de cada cena.

Dica 35: Desconfie dos seus momentos de inspiração.

Quando você está muito envolvido e entusiasmado com uma ideia, produz páginas e mais páginas com uma facilidade assustadora. A história parece estar se escrevendo sozinha, os personagens parecem ter vida própria, e você se sente um poço de criatividade sem fim.

Quando estiver procurando por ideias para escrever, sempre desconfie daquelas que se oferecem rápido demais. Todo processo criativo é angustiante. Nosso primeiro impulso é procurar por uma solução o mais rápido possível para aliviar a tensão inerente a qualquer esforço de criação artística.

Essas ideias que vem com muita facilidade convivem muito próximas das histórias que você leu em livros, assistiu em filmes ou em seriados de televisão. Avalie se sua ideia é realmente original, ou se você acidentalmente se deixou levar pelo seu primeiro impulso criativo.

Dica 36: Permita que o leitor tire suas próprias conclusões.

O principal objetivo de qualquer história é entreter. No momento em que você tenta explicar o que o leitor deve sentir ou pensar sobre o que está acontecendo em uma cena, você deixa de entreter e passa a educar.

Resista à tentação de tentar catequizar ou informar o leitor sobre o que você pensa a sobre o tema da história. Deixe seus argumentos e teorias para seus textos de não-ficção. Você mostra seu ponto de vista com destino que dá para cada personagem. O escritor não deve explicar suas opiniões nas suas histórias, mas sim dramatizá-las.

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Concentre-se em mostrar as reações dos seus personagens às situações em que eles se encontram. Deixe que o leitor tire suas próprias conclusões sobre o que a história significa ou representa.

Dica 37: Encontre um equilíbrio entre razão e emoção.

O processo de criação de uma história envolve tanto o lado racional quanto o lado emocional do seu cérebro. Escrever puramente baseado no que você sente resultará em uma narrativa enfadonha e subjetiva. Por outro lado, escrever simplesmente sobre o que você pensa tornará seu texto um mero exercício intelectual.

Use lógica para dar coerência e criar uma estrutura narrativa consistente para suas histórias. Use sua intuição para expressar artisticamente como você se sente em relação aos dramas, ações e decisões dos personagens ao longo do enredo.

Encontre um equilíbrio entre razão e emoção para desenvolver um estilo de escrever que faça bom uso da sua inteligência racional e emocional.

Dica 38: Não reproduza a realidade nas suas histórias.

Ao narrar uma experiência pessoal, é comum que você inclua, exclua ou até mesmo altere certos acontecimentos e detalhes que ocorreram. Você faz isso porque quer se certificar que seus ouvintes reagirão a sua história da forma que você deseja. É o famoso “quem conta um conto aumenta um ponto”.

Ao escrever histórias de ficção, você deve fazer exatamente isso: narrar acontecimentos tendo como principal objetivo provocar no leitor as reações que você deseja. Não tente reproduzir com fidelidade nos seus textos como os eventos aconteceriam de verdade.

O mundo real está cheio de momentos repetitivos e sem sentido, que não acrescentam nada ao mundo ficcional. Histórias são espaços para escritores construírem as suas próprias verdades, não meras imitações da realidade.

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Dica 39: Entenda o que o leitor quer sentir ao ler suas histórias.

Cada gênero de história têm correspondência direta com a reação que o escritor quer provocar nas pessoas. Do ponto de vista do leitor, a escolha do gênero reflete o que ele quer sentir ao entrar no mundo da história.

Conheça as convenções dos gêneros que você escreve, e tenha em mente que expectativas os leitores têm sobre cada um deles. Ao desenvolver sua história, inclua momentos que provoquem as reações que as pessoas desejam ter ao ler os tipos de texto que você escreve.

Quem procura por comédias, quer relaxar e se divertir com situações engraçadas. Quem procura por dramas, quer refletir e se emocionar com os conflitos dos personagens. Quem procura por suspense, quer tentar desvendar os mistérios a partir das pistas deixadas ao longo do enredo. Quem procura por fantasia, quer conhecer em detalhes universos paralelos. E assim por diante.

Dica 40: Escreva independentemente do seu humor.

Escrever somente quando você se sente inspirado limita sua criatividade. Cada estado de espírito é uma oportunidade única para você desenvolver um aspecto diferente da sua história, e introduzir mais emoção e complexidade emocional aos seus personagens.

Quando estiver irritado, use sua raiva para escrever um diálogo eletrizante. Quando se sentir preocupado, se imagine como um personagem e escreva uma cena onde você encontra uma solução para suas ansiedades. Quando estiver melancólico, descreva em minúcias as causas da sua tristeza.

Aprenda a explorar sua energia emocional de uma forma mais criativa e produtiva. Procure por personagens nas suas histórias que possam se beneficiar do que você está sentindo.

Dica 41: Teste diferentes pontos de vista para sua história.

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Antes de começar a escrever, considere como sua história se desenvolveria se fosse narrada a partir do ponto de vista de cada um dos personagens principais.

Imagine as vantagens e desvantagens de escolher um narrador ou outro, avaliando qual deles tem mais potencial de atrair o interesse do leitor. Considere que personagem, sozinho ou acompanhado, tem o potencial de narrar a história com mais honestidade, e oferecer aos leitores algo de verdadeiro, novo e inusitado sobre o tema.

Esse exercício também ajudará você a entender melhor os dramas e conflitos centrais da sua narrativa a partir de diferentes pontos de vista, dando a você uma visão mais global da história.

Dica 42: Use lápis e papel para desenvolver suas ideias.

Se você sempre inicia o seu processo de criação no computador, está limitando suas ideias a se manifestarem em forma de palavras. Além disso, você está a um clique de desviar sua atenção do que está escrevendo para o paraíso hedonista da Internet.

Pelo menos nos primeiros estágios de desenvolvimento de uma história, use lápis e papel. Rabisque, desenhe, esquematize. Permita que suas ideias e pensamentos se manifestem da forma como bem entenderem.

Não se limite a escrever apenas onde seu computador está ou onde você pode levá-lo. Cadeiras em praças de alimentação, mesas nos cantinhos de restaurantes, e banheiros na casa de parentes chatos também são ótimos lugares para desenvolver suas ideias de história.

O editor de texto é apenas uma ferramenta para formatar e editar seus textos. Só use o computador depois de investigar suas ideias com lápis e papel.

Dica 43: Faça parte de uma comunidade de escritores.

Escrever é uma atividade solitária que exige grandes doses de introspecção e isolamento, mas isso não significa que você precisa se afastar do resto do mundo.

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Comunidades de escritores são ótimos espaços para você trocar experiências. Seus medos, ansiedades, dúvidas e inquietações vão encontrar companhia, e você vai perceber que muitas das suas dificuldades são comuns a todos que escrevem histórias.

Procure em sua cidade por grupos de escritores que se encontram regularmente para compartilhar textos e ideias. Se você não encontrar nenhum, crie você uma comunidade. Outra opção é procurar por grupos em redes sociais, tais como Facebook e Google Plus.

Participe da comunidade do Ficção em Tópicos no Facebook. Já somos mais de 3400 pessoas ao redor do mundo unidas pela paixão por histórias.

Dica 44: Participe de concursos literários.

Concursos tiram você da sua zona de conforto e ajudam a avaliar o impacto das suas histórias fora da sua cabeça. Você pratica disciplina para escrever (já que deve obedecer ao prazo de entrega), tem uma motivação concreta (vários concursos oferecem prêmios aos vencedores), ganha um grande incentivo para continuar (se ganhar), e aprende a lidar com rejeição (se sua história não for premiada).

Concursos também oferecem a oportunidade de ter a qualidade das suas histórias avaliada em comparação com a de outros escritores. Existe ainda a chance de algum editor ou agente literário tomar contato com seu trabalho e lhe fazer uma proposta profissional.

A participação em concursos literários poderá trazer novas perspectivas sobre suas histórias, e novas oportunidades em sua carreira de escritor.

Dica 45: Faça um curso de criação de histórias.

Na viagem entre os pensamentos e a página em branco, é comum que uma ideia de história perca força e coerência. Quando isso acontece, nosso primeiro impulso é abandonar o texto, e se render aos encantos de uma nova ideia.

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Se você não quer ser um daqueles escritores com milhões de textos começados e nenhum finalizado, você precisa aprender a analisar suas histórias com imparcialidade. Consciente de cada escolha que você faz para estruturar suas narrativas, você ganha controle sobre seus textos.

Cursos, workshops e oficinas de criação despertam seu senso crítico para avaliar suas ideias e a estrutura das suas histórias em profundidade, além de equipar você com técnicas para torná-las mais envolventes.

Dica 46: Pare de tentar escrever melhor.

Quando você tenta fazer alguma coisa, está querendo alcançar um objetivo específico. Se você ama música e decide tentar ser um pianista, por exemplo, você pode simplesmente apertar as teclas do instrumento na esperança de criar uma melodia que agrade seus ouvidos. Talvez você tenha sorte e consiga produzir algumas passagens harmoniosas. Talvez não. Tentativas são sempre bem ou mal sucedidas. Você alcança seu objetivo ou não.

Quando você treina para fazer alguma coisa, está exercitando as habilidades necessárias para alcançar seu objetivo. Se você decide treinar para ser um pianista, vai estudar teoria musical, vai se familiarizar com as figuras rítmicas, vai praticar melodias e harmonias. Treinamentos permitem que você aprenda tendo consciência dos seus erros e acertos. O processo torna você melhor, independentemente de você ter alcançado seu objetivo final ou não.

Se você está cansado de tentar escrever melhor e quer começar a treinar suas habilidades de escrita:

Conheça a estrutura, os elementos e os princípios básicos das narrativas de ficção.

Desconstrua boas histórias e entenda porque elas funcionam.

Reconheça os pontos fortes e fracos dos seus textos

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Dica 47: Use adjetivos com moderação.

Adjetivos são usados para modificar o significado de substantivos. Você pode utilizá-los para atribuir uma característica (o carro vermelho), uma qualidade (a menina linda) ou um julgamento (o rapaz idiota) a uma pessoa, objeto ou situação.

Adjetivos são os recursos descritivos mais básicos que um escritor pode utilizar. Seu significado é totalmente dependente dos conhecimentos e opiniões do leitor. Se você escreve “a professora estava cansada”, está dando ao leitor a possibilidade de associar à personagem quaisquer imagens e sensações que o adjetivo “cansada” lhes evoca. Se ao invés disso, você escreve “a professora parecia estar carregando um elefante em suas costas”, está oferecendo uma imagem mais específica e original do que na versão com o adjetivo.

São esses detalhes que tornam sua voz de escritor única e que dão mais vida as suas histórias. Quanto melhor você escolher verbos e substantivos, menos adjetivos serão necessários para ilustrar as ideias e sensações que você quer transmitir para o leitor.

Dica 48: Estimule sua criatividade com exercícios físicos.

Atividades intelectuais não são a única forma de estimular sua criatividade. Sua mente precisa de descanso e seu corpo precisa de movimento. Portanto, não use todo o seu tempo livre para escrever. Invista pelo menos algumas horas toda a semana em alguma atividade que movimente o seu corpo.

Exercícios físicos tem um efeito profundo na química do cérebro e na habilidade da mente de conectar ideias. Isso afeta não apenas sua capacidade de pensar e criar, mas também influencia no seu humor e produtividade. Sua criatividade está mais ligada aos seus instintos do que ao seu intelecto.

Por isso, as melhores ideias só aparecem quando a mente fica menos pensativa. Nada melhor do que desafiar os limites do seu corpo para esvaziar a cabeça. Exercite-se regularmente. Tanto sua saúde quanto suas histórias serão beneficiadas.

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Dica 49: Manipule as expectativas do leitor.

Para escrever histórias que entretenham e surpreendam, o escritor precisa conhecer as expectativas e preconceitos da sua audiência em relação aos temas abordados na narrativa.

Um rápido exemplo: “Acabei de descobrir que meu marido fugiu com minha psicóloga. Não sei o que será da minha vida sem ela.” Essa frase surpreende porque subverte o que é senso comum no tema casamento: o marido é mais importante que a psicóloga.

Se você tem consciência do que sua audiência pensa sobre algo que está para acontecer em sua história, você pode surpreender as pessoas apresentando algo diferente do que elas esperavam. Envolva seu leitor no enredo da narrativa manipulando suas expectativas, e conduzindo a história por caminhos inesperados.

Dica 50: Questione todas as dicas anteriores.

Nenhuma das dicas anteriores são universais, infalíveis e aplicáveis a toda e qualquer história. Cabe a você avaliar e questionar quais podem contribuir para desenvolver detalhes do seu universo de ficção e tornar você um escritor mais produtivo.

Não se contente em tentar aplicar as técnicas apresentadas nessa série. Procure desenvolver um método próprio de escrever, um que leve em consideração suas habilidades e motivações, e que expresse com clareza e força todas as qualidades da sua voz de escritor.

Domine a estrutura narrativa clássica, coloque em prática as técnicas que facilitarem seu processo de criação, mas mantenha a mente aberta para experimentar e testar abordagens diferentes.

Dica 51: Comece suas histórias com impacto.

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As primeiras linhas, os primeiros parágrafos, as primeiras páginas e os primeiros capítulos são definitivos no processo de decisão de leitura de um texto, e devem deixar claras as respostas para duas perguntas: qual é a história que você vai contar e como você vai fazer isso.

Imagine que você tem diante de si uma infinidade de portas fechadas. Começar a ler uma história é como abrir uma dessas portas. No início, você está espiando pela frestinha aberta, procurando por algo que lhe ajude a decidir se vale a pena entrar e explorar esse espaço.

Você ouve os diálogos, observa os personagens, analisa a locação e, acima de tudo, procura entender o sentido do que está acontecendo. O objetivo de todo escritor é deixar quem abre uma de suas portas inquieto, curioso, inspirado, entusiasmado com o que virá pela frente.

Nesse primeiro momento, o leitor está tentando entender a forma como você organizou a narrativa. Ele está a procura de uma moldura que o ajude a avaliar se o tema e o tom em que a história será contada são do seu interesse. São informações essenciais: quem é o protagonista e qual o conflito central da história. A partir dessas informações, o leitor avalia se prosseguirá na leitura do restante do texto.

Dica 52: Entenda a diferença entre escrever bem e escrever ficção.

Se você acredita que escreve bem, isso não significa que você tem as habilidades necessárias para escrever ficção. Se você tem facilidade para criar ideias de histórias originais, isso não significa que você escreve bem.

Para desenvolver qualquer uma dessas habilidades, você precisa primeiro entender a diferença entre elas.

Escrever bem é saber expressar seus pensamentos com clareza, coerência e originalidade através da palavra escrita.

Escrever bem ficção é saber transformar ideias de histórias em enredos que provoquem empatia e curiosidade para acompanhar os personagens de uma narrativa.

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Dica 53: Defina o conflito central da história.

Diante de um conflito, podemos não agir e simplesmente aceitar as consequências dessa decisão, ou podemos fazer o que for preciso para resolver esse problema, enfrentando quaisquer obstáculos que aparecerem ao longo do caminho. Ao assumir responsabilidade e lutar para alcançar o que deseja, você sempre sai transformado e enriquecido pela experiência.

Esse mesmo raciocínio se aplica aos personagens que você cria. Conflito é o eixo central de toda a história porque abre espaço para transformação. E é exatamente isso o que buscamos em narrativas de ficção: uma oportunidade para repensar e, possivelmente, mudar nossa visão sobre o mundo e sobre nós mesmos.

Defina o conflito central da sua história com base no desejo do protagonista despertado por um conflito que se impôs em sua vida. Desenvolva o enredo pensando nos obstáculos que ele encontrará ao longo do caminho para alcançar o que deseja.

Dica 54: Invista mais tempo vivendo do que escrevendo.

Escrever é uma atividade que exige introspecção. Você se fecha no seu mundinho e fica lá brincando com seus pensamentos. Se você passar tempo demais sozinho dentro da sua cabeça, vai limitar sua perspectiva sobre a vida.

Investir todo o seu tempo livre na frente do computador inventando histórias não vai tornar você um escritor melhor. A matéria-prima das suas histórias são suas experiências e a forma como você as interpreta. Portanto, invista mais tempo vivendo do que escrevendo.

Saia da sua zona de conforto constantemente, busque novas experiências, e depois escreva sobre o que sentiu. Faça da sua vida uma aventura vívida e suas palavras vão pular da página e fazer diferença na vida dos seus leitores.

Dica 55: Analise tudo o que você sente e pensa.

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Analisar tudo o que se sente e pensa é um exercício narcisista e paranóico, mas é uma forma intensa de desenvolver sua voz de escritor.

Experimente investigar os cantos obscuros da sua personalidade e procure entender porque você é do jeito que é. Desligue seus mecanismos de defesa, e se observe da forma mais imparcial possível. Não deixe nenhuma sensação, pensamento ou emoção novos passarem desapercebidos.

Essa habilidade de interpretar as origens e motivações dos seus comportamentos pode ser aplicada para a criação de personagens mais autênticos e verossímeis, que provoquem identificação com seus leitores.

Dica 56: Escolha a roupa certa para escrever.

Ao vestir terno e gravata (ou o equivalente para as mulheres), você se sente sério e formal. Quando você veste jeans e camiseta, se sente casual e informal. Ao colocar seu pijama, você se sente descansado e relaxado.

Associamos certos trajes a determinadas sensações e atividades. Por isso, a forma como você se veste influencia no seu comportamento e estado de espírito.

Decida qual a roupa mais adequada para o tipo de história que você está escrevendo. Esse pequeno detalhe pode afetar sua produtividade e capacidade de concentração.

Dica 57: Procure por ideias originais em lugares inusitados.

Ideias originais são excêntricas e introvertidas. Elas não gostam de estar no centro das atenções. Já reparou como elas raramente aparecem quando você está esperando com o processador de texto aberto ou com o lápis na mão?

Se você quer encontrar ideias originais, pare de procurar em locais que elas evitam frequentar, como escrivaninhas, telas de computador e páginas em branco.

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Procure por elas em lugares inusitados, tais como em salas de espera, bares, pistas de dança, parques de diversões, galerias de arte, e festivais de música.

Dica 58: Enfrente os medos que impedem você de escrever.

Ao escrever um texto, você está compartilhando (ainda que involuntariamente) seus pensamentos, desejos, preconceitos e fantasias. Expor sua personalidade dessa forma coloca você em uma posição vulnerável. Ao publicar suas histórias, você fica sujeito a críticas e opiniões alheias. Isso muitas vezes paralisa, e faz com que certos medos atrapalhem seu processo de criação. Aprenda a reconhecer e enfrentar os disfarces que suas inseguranças vestem para tentar impedir que você escreva.

Medo de fracassar

Medo de não conseguir escrever uma boa história está geralmente associado ao medo de ser humilhado. Escritores têm dificuldade em se separar daquilo que criam. O medo de ser ridicularizado por um texto que você escreveu paralisa porque ninguém gosta de testar sua auto-estima em público.

Erros são suas maiores fontes de aprendizado. Erre da forma mais errada possível, escreva a pior história imaginável, e você só tem a melhorar.

Medo do sucesso

Medo de escrever histórias fantásticas que o tornem um escritor reconhecido é geralmente medo das mudanças e da ansiedade que isso inevitavelmente traz, como por exemplo de não conseguir corresponder às expectativas que ser bem sucedido vai criar nos outros. Sucesso coloca você no centro das atenções, e nem todos estão preparados para lidar com isso.

Mudanças são inevitáveis, quer você seja bem sucedido ou não. Experimente o sucesso e decida se você gosta do que ele traz para sua vida.

Medo de rejeição

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Medo de que algumas pessoas não vão gostar das histórias que você escreveu é geralmente medo de descobrir que existem pessoas que não vão gostar de você. Ainda que se tenha uma legião de fãs, nem todos sabem lidar bem com a ideia de que suas histórias não serão apreciadas por todos.

Ninguém é unanimidade. Encontre seu público e preocupe-se apenas com o que ele pensa. Aprenda a aceitar que mesmo alguns dos seus fãs podem não gostar de algumas histórias que você escreve, e não há nada de errado nisso.

Medo de ser medíocre

Medo de que o que se escreve nunca está bom o suficiente é geralmente medo de prejudicar sua imagem diante de outras pessoas. Esse medo vem geralmente disfarçado de perfeccionismo. Ele acaba por impedir que você atinja qualquer coisa porque você sempre tem a sensação de que ainda pode fazer melhor.

Você pode reescrever a mesma história eternamente tentando atingir perfeição. Mas é melhor colocar uma história “imperfeita” no mundo do que deixá-la em uma pasta escondida do seu computador.

Medo de arriscar

Medo de pisar em terrenos desconhecidos é geralmente medo de perder a autoconfiança tão arduamente adquirida. É mais fácil e confortável escrever sempre no mesmo estilo e sobre os mesmos temas. Experimentar algo novo requer humildade e coragem, mas há quem não conheça o real significado dessas duas palavras.

Qual é a pior coisa que pode acontecer se você arriscar escrever uma história fora da sua zona de conforto? Se sua resposta é extremamente subjetiva, pare de inventar desculpas e permita-se explorar o desconhecido.

Dica 59: Considere que cenas a história precisa.

Toda história de ficção é como um quebra-cabeça sem a caixa para mostrar qual será a imagem final. Cada cena é como uma peça desse quebra-cabeça que dá pistas da figura que será formada. No decorrer da narrativa, o leitor procura encontrar padrões no formato e no conteúdo de cada peça e, aos poucos, dar sentido para o que o escritor está mostrando.

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Para avaliar que cenas são necessárias e quais são dispensáveis, é importante que o escritor tenha em mente a imagem final que deseja criar com sua história. Isso não precisa necessariamente ser definido antes de você começar a escrever. Essas decisões podem ser tomadas durante o processo de edição e revisão.

Lembre-se que leitor não tem acesso a todas as peças do quebra-cabeça no início da história. É você quem deve orientá-lo, entregando peça por peça, de forma a criar um processo de descoberta interessante e estimulante.

Dica 60: Procure por conflitos para encontrar ideias de histórias.

O ponto de partida para se criar uma história de ficção é uma possibilidade de mudança positiva ou negativa que se impõem na vida de um personagem. O motivo é simples: mudanças provocam conflitos, e conflitos pedem resoluções.

Quando um personagem se confronta com um dilema, problema ou desafio, o leitor imagina o que faria naquela situação. Os conflitos da história criam oportunidades para ele pensar sobre seu próprio comportamento e experimentar, através do personagem, possíveis soluções para conflitos similares que ele enfrenta em sua vida.

Para encontrar uma ideia de história, pense em situações de conflito que exijam uma atitude imediata do protagonista. Construa o enredo ao redor das tentativas frustradas e bem sucedidas do personagem principal de lidar com as consequências das suas escolhas. Coloque-o em situações que o obrigue a mudar a forma como ele pensa, se relaciona, e se comporta.

Dica 61: Entenda que boas ideias não garantem boas histórias.

Não há nada mais frustrante do que encontrar uma boa ideia que, quando desenvolvida, não resulta em uma boa história.

Lembre-se que ideias são apenas possibilidades. A forma como você desenvolve suas ideias (conteúdo) e seu estilo de narrar (forma) é o que determina a qualidade do texto.

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Se ao começar a escrever, você sentir uma pressão angustiante para tentar fazer uma ideia funcionar, considere as seguintes possibilidades:

Sua ideia não faz sentido fora da sua cabeça.

A ideia é boa, mas só funciona como um conceito abstrato.

Você ainda não tem domínio técnico suficiente para desenvolver essa ideia da forma como gostaria.

Dica 62: Crie o hábito de desenvolver suas ideias.

Na viagem entre os pensamentos e a página em branco, é comum que uma ideia de história perca força e coerência. Quando isso acontece, nosso primeiro impulso é abandonar o texto, e se render aos encantos de uma nova ideia. Fazemos isso porque:

Nos convencemos de que a ideia não era tão boa quanto imaginávamos.

Acreditamos ter perdido controle sobre a direção que a história estava tomando.

Não sabemos o que é preciso mudar para tornar a narrativa mais envolvente.

A criação de novas ideias pode facilmente se tornar um vício e uma forma de procrastinação. Sem disciplina, isso pode virar um hábito improdutivo que resultará em dezenas de histórias começadas e nenhuma terminada. Procure criar o hábito de desenvolver suas ideias.

Dica 63: Escreva cenas para os 5 sentidos.

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Suas palavras são os olhos, os ouvidos, o nariz, a boca e a pele do leitor. Ao escrever cenas para suas histórias de ficção, coloque-o no mesmo contexto sensorial em que seus personagens se encontram.

Chegue mais perto, escute os sons, repare nos detalhes, sinta os cheiros, sabores e texturas presentes no cenário. Ofereça percepções que enriqueçam a narrativa, e contribuam na construção de cada atmosfera da cena.

Se o personagem foi para cama, coloque seu leitor embaixo das cobertas e faça-os sentir a maciez do travesseiro e o aroma do incenso. Se ele está no topo de uma montanha, ajude-o a apreciar a vista da floresta, a escutar o som dos pássaros, e a saborear a maçã colhida durante a caminhada. Envolva os cincos sentidos do leitor para tornar sua história uma experiência vívida.

Dica 64: Registre todas as suas ideias durante um brainstorming.

Durante uma sessão de brainstorming – técnica usada para gerar ideias – normalmente registramos apenas o que julgamos ter algum potencial de inspirar novas histórias. Isso limita sua criatividade.

Registre absolutamente tudo o que vier a mente, ainda que seus pensamentos não sejam claros, completos ou originais a primeira vista. Originalidade não é resultado da criação de ideias totalmente inéditas, mas sim da combinação inesperada de duas ideias que aparentemente não tem nada em comum.

Existe um vasto universo de criação a ser explorado na simples fusão inusitada entre ideias clichê. Portanto, não jogue nenhuma ideia fora no lixo comum. Todas elas podem ser recicladas.

Dica 65: Evite interrupções enquanto estiver escrevendo.

Escrever é uma atividade que exige foco e disciplina. Somos todos muito criativos ao inventar desculpas para deixar para outro dia. Quando finalmente você conseguir vencer todas as suas resistências, não permita que nada interrompa sua concentração.

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Estabeleça um período de tempo (20 minutos, que seja) onde você vai dedicar cem por cento da sua atenção para trabalhar na sua história. Você vai perceber que alguns poucos minutos de concentração absoluta serão mais produtivos do que horas de escrita cheia de interrupções.

Desligue o telefone e o wifi do computador, e peça para sua família, amigos, colegas de trabalho, marido ou esposa, que não o interrompam durante esse período de tempo que você reservou para escrever.

Dica 66: Caracterize todos os personagens principais.

O processo de caracterização consiste em imaginar os detalhes peculiares dos personagens da sua história para que eles ganhem vida na página.

Para cada personagem principal, responda as seguintes perguntas:

Quem é esse personagem?

Considere aspectos físicos (cor dos olhos, cabelo, pele, estatura, peso, porte), psicológicos (traumas, medos, segredos, atitude, personalidade, experiências) e culturais (roupas, hábitos, costumes, crenças).

O que ele deseja alcançar durante a história?

Qual é o seu objetivo? Ele quer resolver um crime? Matar um monstro? Salvar o filho? Encontrar a cura para uma doença? Ganhar a guerra? Conquistar uma mulher? Evitar que o planeta terra seja destruído? Viajar o mundo? Virar um cantor? Sobreviver a adolescência? Entender seu sofrimento?

Qual é sua principal motivação?

Quais são as emoções que movem o personagem? Qual é a origem do seu objetivo? Que verdade sobre o personagem tal objetivo revela? O que ele quer alcançar internamente? Que sensações? Que sentimentos? Quais são suas maiores aspirações? Que impressão ele quer causar nos outros? Que sentido ele dá para a vida?

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Dica 67: Dê um dilema para o protagonista.

Um dilema é uma situação onde um personagem precisa fazer uma escolha definitiva. Não se trata simplesmente de uma situação difícil ou complicada. Seja qual for sua decisão, ela trará consequêcias irreversíveis e em perdas inevitáveis, dando grande peso emocional para essa escolha.

Se um ônibus está prestes a explodir e um personagem só tem tempo de salvar uma criança, ela salva seu sobrinho ou sua sobrinha? Se uma personagem radicalmente contra aborto fica grávida ao ser estuprada, ela tem a criança ou não?

Nada cria mais drama, suspense e excitação em uma história do que um protagonista enfrentando um dilema moralmente ambíguo que precisa ser resolvido o mais rápido possível. Esse tipo de situação inevitavelmente coloca o personagem em uma posição onde sua escolha revela e testa seus valores morais, enquanto envolve o leitor provocando um debate na sua mente sobre qual é a escolha certa, e o que ele faria se estivesse naquela posição.

Dica 68: Compartilhe uma verdade humana na sua história.

As pessoas dedicarão infinitas horas de atenção as suas histórias contanto que, em troca, você lhes mostre uma verdade. Não uma verdade jornalística, fatual, que tenha acontecido a uma pessoa, em um determinado dia, lugar e horário. O que as pessoas buscam em histórias de ficção é uma verdade humana.

A verdade humana que buscamos em histórias de ficção é o sentido que o protagonista deu a uma experiência, e como sua interpretação sobre essa experiência moldou a forma como ele vê o mundo, outras pessoas e a si mesmo. É assim que estabelecemos as verdades que guiam nossas vidas: interpretando tudo o que nos acontece.

Por esse motivo, quando entendemos o sentido que um personagem deu para uma experiência de vida, reconhecemos nele nossa humanidade, nossa capacidade de interpretar o que sentimos. E não há nada que nos pareça mais verdadeiro do que uma conclusão racional que é confirmada por nossas emoções.

Dica 69: Use o cenário para caracterizar os personagens.

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Muitas vezes, o leitor precisa conhecer alguns eventos do passado de um personagem ou algum aspecto específico de sua personalidade para entender certas cenas da história. Ao invés de interromper o enredo com descrições e flashbacks, use o cenário para caracterizar seus personagens.

Mostre algum detalhe de onde ele mora ou trabalha que dê pistas sobre o seu passado e sua personalidade. Para caracterizar um personagem como alguém que detesta cozinhar, por exemplo, você pode criar uma cena mostrando que ele usa seu fogão para guardar sapatos.

É uma forma mais sutil e concisa de apresentar o passado do personagem, sem que você precise quebrar o ritmo da narrativa, incluir cenas redundantes, e desnecessariamente levar os leitores para longe de onde a ação está acontecendo.

Dica 70: Limite sua total liberdade de criação.

Associamos criatividade com total liberdade de pensamento e ausência de estruturas ou regras. A verdade é que, sem um objetivo claro, nossa mente opera de forma desconexa e desfocada.

Muitas pessoas se perguntam como os profissionais de criação das agências de publicidade têm ideias originais todos os dias. O segredo está exatamente na limitação da total liberdade de criação. Nossa mente precisa de desafios claros e de estrutura para ser original.

Para os publicitários, fatores como o perfil do cliente, a verba disponível e o posicionamento no mercado são alguns dos pontos que limitam e, ao mesmo tempo, orientam os criativos a buscarem soluções originais e pertinentes.

Para os escritores, estabelecer certas restrições antes de começar a escrever uma história de ficção força a mente a fazer associações inusitadas e originais.

Dica 71: Conheça sua história antes de começar a escrever.

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Assim que você encontrar o rumo que quer dar para sua história, organize-se antes de escrever como se estivesse se preparando para uma viagem. Planeje o suficiente para não perder tempo com praticalidades, mas deixe espaço para espontaneidade.

Antes de partir, decida:

ONDE você vai = Qual o cenário da história.

QUEM vai com você = Quais os personagens da história.

O QUE você quer conhecer e explorar = Qual é o tema da história.

QUANDO você vai e volta = Qual é o período da história?

COMO você vai organizar sua visita = Qual é o enredo da história.

POR QUE você escolheu esse destino = Qual o significado da história.

Em projetos de longo prazo (tais como livros, filmes e séries de televisão), quanto mais detalhes você conhece sobre cada modo de narração, mais focada e produtiva serão suas sessões de escrita. Ao invés de investir seu tempo tomando decisões sobre a estrutura do enredo durante suas sessões de escrita, você pode deixar sua intuição tomar conta do processo.

Dica 72: Seja específico ao pedir opiniões sobre suas histórias.

Compartilhe seus textos apenas quando você estiver minimamente satisfeito com o que escreveu. Pedir a opinião de outras pessoas para aliviar a sensação de insegurança e ansiedade inerente ao processo de criação só vai atrapalhar você. Se você não tem uma opinião sobre o que escreveu, as sugestões e percepções de outras pessoas só vão atrapalhar você.

Quando você decidir compartilhar seu texto com alguns leitores, evite fazer perguntas genéricas, tais como “o que você achou”, “onde posso melhorar”, “o que devo mudar”. Seja o mais específico possível e saiba que reações você espera provocar com sua história.

Depois que a pessoa ler o texto, compartilhe como gostaria que ela enxergasse seus personagens, como gostaria que ela se sentisse ao final de uma cena, o que gostaria que ela pensasse no final da história. Só então pergunte ao seu crítico o que no texto está ajudando e o que está impedindo você de provocar essas reações.

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Seu objetivo não é chegar a um acordo sobre o que deve ser alterado na sua história, mas sim ganhar perspectiva sobre o impacto das suas ideias fora da sua cabeça. Não perca tempo explicando e defendendo suas escolhas. Você sempre pode ignorar as críticas que não considerar pertinentes.

Dica 73: Use técnicas de escrita com moderação.

Não é preciso encontrar uma justificativa técnica para sua expressão artística. Você destrói a beleza e quebra o encanto de uma ideia quando tenta analisá-la ao extremo. Escrever é uma arte. Se você racionalizar demais o seu processo de criação, vai acabar transformando suas histórias em meros exercícios de lógica.

Use técnicas de escrita somente quando se sentir bloqueado, ou quando sentir que sua história não está expressando aquilo que você deseja.

Técnicas servem para inspirar, ajudar na organização de ideias e canalizar a criatividade, não para deixar você preocupado se está escrevendo da maneira certa ou errada.

Dica 74: Não economize palavras ao escrever histórias.

Em escrita criativa, eficiência não está associada ao percentual entre o que foi produzido e o que foi incluído no texto final.

Um escritor produtivo é aquele que não economiza palavras na procura pela melhor estrutura e pelas melhores ideias para escrever suas histórias.

Isso demanda tempo, dedicação, paciência, e páginas e mais páginas de escrita. Ainda que nem tudo que você escreve vá fazer parte das suas histórias, o simples exercício de dar vida às ideias que povoam a sua mente é uma arte em si só.

Dica 75: Entenda que é o leitor quem dá significado as suas histórias.

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Cada leitor inevitavelmente traz todo o seu conhecimento e sua experiência de vida para a leitura de qualquer texto. Isso têm grande influência na forma como as pessoas reagem às histórias de ficção que você escreve.

Ainda que todos compreendam o enredo de uma narrativa de forma semelhante, cada leitor encontra um significado pessoal nos dramas dos personagens, baseado nas sua visão de mundo.

A imaginação dos leitores é o elemento catalisador que dá vida às palavras que você escreve. Os eventos de uma narrativa são apenas tão impactantes e emocionantes quanto a sensibilidade de cada leitor para lhes dar significado.

Dica 76: Exponha os pontos fracos do protagonista.

Muitos escritores atribuem somente características positivas aos protagonistas das suas histórias de ficção porque acreditam estar criando personagens mais atraentes e, como consequência, tornando a narrativa mais envolvente.

Mas um personagem sem defeitos, que tem todas as habilidades para conseguir tudo o que deseja, se torna previsível. Se o protagonista parece pronto para encarar e superar qualquer conflito, não há tensão, excitação ou drama no enredo. Sem esses três elementos, sua audiência vai se desinteressar da história.

Exponha falhas de caráter e comportamentos contraditórios do protagonista. Isso o humaniza e o torna mais verossímil, permitindo que o leitor reconheça no personagem suas próprias dificuldades e limitações.

Dica 77: Deixe claro o que está em jogo na história.

Grande parte da excitação de uma história vem da ansiedade causada pela possibilidade do personagem principal falhar em conseguir o que deseja. Enredos envolventes deixam o leitor angustiado com as possíveis consequências associadas a não resolução do conflito central da narrativa.

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Estabeleça no início da história o que está em jogo na vida do protagonista. Mostre aos leitores cedo e claramente o que o personagem tem a perder. O amor da sua vida, seu emprego, seu status social, sua autoestima, sua sanidade, sua liberdade?

Se sua história parece morna e sem graça, avalie se você definiu claramente o que está em jogo na vida do protagonista, e se os riscos de fracasso parecem importantes o suficiente para o leitor.

Dica 78: Julgue suas ideias a partir do objetivo principal da história.

Nossas ideias são representações da nossa personalidade e dos nossos valores. Isso explica porque nos ofendemos tanto quando alguém não gosta de algo que criamos. Se você não lida bem com críticas, provavelmente julga suas ideias como boas e ruins tomando como parâmetro de avaliação como elas representam você.

“Essa ideia é boa porque me faz parecer inteligente. Essa ideia é ruim porque dá a impressão de que sou preconceituoso.” Ao invés de avaliar suas ideias como boas ou ruins, procure julgá-las tendo em mente o objetivo principal da história.

Não decida com base no que os leitores vão pensar sobre você, mas sim preocupando-se com a ideia central que você quer transmitir, e como ela precisa ser desenvolvida para provocar as emoções e reações que você deseja.

Dica 79: Coloque a sua história em ordem.

Estruturar uma história é organizar o enredo em uma sequência de eventos que permita ao leitor acompanhar, entender e manter interesse na trajetória dos personagens. Defina onde sua história começa, como ela se desenvolve e porque ela termina, seguindo o fluxo de toda a experiência humana.

Circunstâncias

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Mostre o cotidiano do protagonista, e dê pistas sobre sua personalidade e relações sociais. Introduza um incidente que perturbe sua vida, deixe claro o que o personagem precisa fazer para restabelecer ordem na sua vida, e evidencie os riscos que ele correrá durante essa trajetória.

Decisões

Intensifique o conflito inicial profundamente e amplamente, e faça com que as primeiras tentativas do protagonista para resolver o conflito e restabelecer ordem na sua vida se provem inadequadas e insuficientes. Cada decisão do protagonista deve aprofundar a história e complexificar o personagem.

Consequências

A situação chega em um ponto crítico, e força o protagonista a tomar uma decisão irreversível. Eventos atingem um clímax inevitável e uma resolução se apresenta, com consequências favoráveis ou não ao personagem principal.

Dica 80: Crie uma entrada memorável para o protagonista.

Julgamos outras pessoas a partir dos primeiros segundos em que temos contato com elas. Instantaneamente, tentamos classificar quem não conhecemos usando um catálogo de adjetivos que começamos a criar na nossa cabeça desde criança. Gordo, magro, alto, baixo, bonito, feio, bem vestido, mal vestido, simpático, antipático, transparente, misterioso, burro, inteligente, perigoso, amigável. Nosso cérebro cria rótulos para nos ajudar a associar a imagem de cada pessoa que conhecemos a suas principais características.

Ao apresentar o protagonista da sua história, mostre seus traços peculiares e reconhecíveis já na primeira cena em que ele aparece. Esse primeiro contato com o leitor vai emoldurar a forma como ele verá o personagem dali para frente.

Você pode começar a história mostrando o protagonista em sua casa, alegremente esfregando o chão do banheiro. Ou você pode mostrá-lo em uma igreja, assustado com o discurso do padre. Como escritor, você deve entender a diferença que iniciar de uma forma ou de outra fará na sua história. A primeira impressão não é necessariamente a que fica, mas ela definitivamente comunica.

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Dica 81: Escolha objetos e roupas que revelem os personagens.

Todo objeto que passa pelas mãos de um personagem de uma história (incluindo as roupas que eles vestem) informam sobre seu passado e sua personalidade.

Imagine-se em frente a um hospital, onde você vê uma mulher vestindo um casaco de estampa florida rasgado retirando um maço de cigarros da sua bolsa de vinil amarela. Se, ao invés disso, essa mesma mulher estivesse vestindo um macacão de jeans e retirasse do bolso seu celular, você teria outra percepção sobre a ela.

A escolha cuidadosa de cada detalhe presente nas cenas das suas histórias ajuda na caracterização dos personagens. Nós julgamos pessoas pelas suas aparências e pertences. Use isso para revelar certas características e associar certas qualidades aos seus personagens.

Dica 82: Aprenda a informar, entreter e inspirar.

A leitura de qualquer tipo de texto é uma busca por informação (para entendermos melhor um assunto), entretenimento (busca por prazer intelectual) ou inspiração (para entendermos melhor o mundo e a nós mesmos).

Histórias de ficção nos fascinam porque podem nos oferecer tudo isso ao mesmo tempo. Quando estiver escrevendo, procure:

Selecionar informações relevantes e interessantes sobre os personagens e o universo da história para contextualizar a narrativa.

Entreter estruturando o enredo de forma a provocar tensão e excitação ao redor dos conflitos dos personagens.

Inspirar o leitor desenvolvendo de forma original um tema e uma ideia-chave para sua história.

Dica 83: Entenda a diferença entre enredo, história, narrativa e tema.

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Enredo

Enredo é a sequência de acontecimentos de uma história de ficção. Ele está relacionado à linha de ação e às ações e reações do protagonista a esses acontecimentos. O enredo é físico, concreto, objetivo, baseado nos comportamentos do personagem.

História

História é como o personagem principal se sente em relação ao que acontece no enredo. Ela está relacionada à reação emocional do protagonista aos conflitos e obstáculos da narrativa. A história é mental, abstrata, subjetiva, baseada nas emoções do personagem.

Narrativa

Narrativa é como o escritor conecta e organiza os eventos do enredo e as reações do protagonista em uma ordem particular. Ela está relacionada à forma como essas informações serão apresentadas ao longo do texto. As decisões sobre a forma de organizar a narrativa são baseadas na experiência emocional que o escritor deseja criar para o leitor ao longo da história.

Tema

Tema é a pergunta principal que o escritor se propõe a responder com a história. Essa pergunta foca a narrativa em acontecimentos que ilustram diferentes pontos de vista sobre o conflito do protagonista. A decisão sobre que tema desenvolver em uma história é baseada na intenção do escritor para escrever tal texto, no que ele deseja expressar.

Dica 84: Use o Flickr para criar descrições vívidas e originais.

Se palavras são os olhos dos leitores em uma história, uma metáfora é o brilho que surge nos seus olhos quando o escritor expressa vividamente uma imagem ou sensação.

Ao invés de seguir o caminho preguiçoso dos adjetivos, use o Flickr ou o Google Images como suporte para criar descrições originais usando apenas substantivos e verbos. Inspire-se nas imagens que aparecerem nos resultados da busca para criar metáforas que ajudem o leitor a entender as sensações que você está descrevendo.

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Por exemplo, para descrever a raiva que um personagem sentiu quando conheceu o novo marido da ex-mulher, digitei “raiva” no campo de buscas e me deparei com a foto de um lutador de boxe. Na minha descrição, escrevi “Eu senti a fúria que os boxeadores sentem antes de uma luta, uma raiva que não era pessoal, mas circunstancial.”

Dica 85: Copie a estrutura das suas histórias favoritas.

Todo aprendizado começa com cópia. Aprendemos a escrever copiando o alfabeto. Aprendemos a falar copiando os adultos. Quer aprender a escrever como um profissional? Estruture sua narrativa copiando a forma como seus escritores favoritos organizam suas histórias.

Copiar personagens, diálogos, ou cenas dos seus escritores favoritos é plágio, e não vai ajudar você a aperfeiçoar sua técnica. Copiar a estrutura das histórias que eles escrevem, no entanto, é a melhor forma de desenvolver sua voz de escritor.

Seu objetivo não deve ser escrever como seus ídolos, mas sim ver o mundo como eles. No seu inevitável fracasso em reproduzir a genialidade das suas histórias favoritas, você vai aos poucos encontrando o seu próprio estilo de escrever.

Dica 86: Dê tempo para sua história amadurecer.

Algumas histórias nascem prontas. Uma ideia inspira você a começar a desenvolvê-la imediatamente e as palavras fluem com uma facilidade incrível, como se alguém estivesse ditando cada frase que você deve escrever. Uma experiência quase mediúnica. Ainda que o texto precise de ajustes, a história já nasce praticamente estruturada.

Outras histórias precisam de mais tempo para amadurecer. Você tem uma ideia, mas ao começar a escrever, sente que a narrativa não está se desenvolvendo da forma como tinha imaginado. Quando isso acontecer, pergunte-se: Já encontrou o conflito central da narrativa? Já sabe quem é o personagem principal? Já entendeu o que ele quer e por quê? Se você ainda não consegue responder a essas perguntas, entregue o trabalho novamente para sua intuição e escreva livremente.

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Use a mesma ideia que inspirou você a escrever, mas experimente desenvolve-la a partir do ponto de vista de um outro personagem, ou mudando o cenário da história, ou alterando a idade do protagonista, ou iniciando o enredo em um outro momento da vida do personagem. Faça isso até que você esteja satisfeito com as palavras que começarem a aparecer na página

Dica 87: Torne a estrutura da história invisível.

As primeiras páginas e capítulos da sua história ajudam o leitor a se familiarizar com o seu estilo de escrever, e estabelecem as “regras” do universo de ficção que você está criando. Quando você altera qualquer aspecto essencial na estrutura da narrativa (mudando o ponto de vista, o tom do narrador, o tempo narrativo, o foco principal do enredo), você coloca o leitor no mesmo estado de incerteza do início da leitura.

Isso tira o foco dos personagens, torna a estrutura da história visível, e desperta o instinto racional dos leitores em tentar compreender o porquê dessa mudança. Ao alterar as regras no meio do jogo, você abre uma janela para o leitor abandonar sua história.

Quando você considerar fazer uma mudança na estrutura da sua narrativa, pense em como isso poderá afetar a experiência de leitura. Comece se perguntando: Porque você quer introduzir essa mudança? Que diferença isso vai fazer em como o leitor vai receber a história? Avalie se essa alteração é realmente essencial para alcançar o efeito que você deseja.

Dica 88: Trate o cenário da história como um personagem.

A escolha do local onde cada cena da sua história acontece influencia na reação do leitor. Os cenários por onde os personagens se movimentam contribuem para dar o tom da narrativa. Eles ajudam a intensificar a sensação que você quer passar para o leitor em cada momento do enredo.

Uma cena romântica na chuva tem um clima diferente se ela acontecer em um dia de sol. Um assassinato em um shopping center provoca reações diferentes se ele acontecer em um beco escuro de um bairro perigoso. Uma briga entre mãe e filha que acontece dentro de casa terá implicações diferentes se acontecer durante um casamento.

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Trate o cenário da sua história como um personagem. Pense em como ele pode facilitar ou dificultar a vida do protagonista. Considere como uma mudança de locação pode intensificar o drama na sua história. Imagine como a iluminação, a temperatura, a geografia, a arquitetura, os objetos e os “figurantes” presentes no local podem contribuir para adicionar mais complexidade e dar mais significado para cada cena.

Dica 89: Cuidado com o excesso de originalidade em suas histórias.

Uma boa história pode surgir a partir de uma ideia clássica estruturada em um formato de enredo original, ou a partir de uma ideia original estruturada em um formato de enredo clássico.

Você pode, por exemplo, escrever a história de dois jovens que se apaixonam e tem que viver seu amor às escondidas porque suas famílias são inimigas (ideia clássica imortalizada por Romeu e Julieta), a partir dos pontos de vista dos porteiros dos prédios onde os jovens moram (uma forma original de estruturar o enredo desse modelo de história).

Ou você pode escrever a história de dois idosos que se apaixonam e tem que viver seu amor as escondidas porque suas enfermeiras são inimigas (uma ideia incomum), organizando a narrativa de uma forma parecida com a história de Romeu e Julieta (um formato clássico de estruturar uma história de amor).

Mas cuidado ao escrever histórias baseadas em uma ideia incomum e estruturar a narrativa de uma forma pouco usual. Encontre um equilíbrio entre originalidade e convenções. O leitor precisa de pontos de referência que lhe sejam familiares, ou ele terá trabalho dobrado para entender a mecânica e o conteúdo da sua história.

Dica 90: Use suspense para manter interesse na história.

Existe uma técnica simples para criar suspense que é usada por premiados roteiristas de cinema e tv, escritores de best-sellers, e redatores publicitários das melhores agências de propaganda. Essa técnica apela para nosso instinto de sobrevivência, que quando opera em modo automático, está constantemente tentando se certificar que estamos fora de perigo. Como não vivemos mais na selva, tendo que nos defender de ataques de elefantes e leões, esse instinto se readaptou aos perigos da vida urbana, que são mais complexos e subjetivos.

Nosso interesse em histórias de ficção reside na possibilidade de adicionar ao nosso banco de experiências, sem riscos ou perigos, novas formas de resolução de conflito. Acreditamos que,

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ao observar a forma como personagens lidam com suas dificuldades e dão sentido para seus problemas, poderemos repensar o significado que demos para nossas experiências passadas, ou nos preparar para, futuramente, enfrentar problemas parecidos.

Esse é o papel principal do nosso instinto de sobrevivência nos dias de hoje: reunir informações que nos ajudem a evitar a recorrência de problemas que tivemos no passado, e enfrentar conflitos que antevemos que acontecerão no futuro. Por isso, quando uma história desperta curiosidade sobre como um personagem resolverá um problema que relacionamos a nossas vidas, nos sentimos compelidos a acompanhar a trajetória do personagem até o final.

Qual é a técnica para manter o interesse em suas histórias usando suspense? Simplesmente levante perguntas intrigantes na mente das pessoas e faça elas esperarem pelas respostas. Assim como eu acabei de fazer com você.

Dica 91: Decida a melhor abordagem para desenvolver suas ideias.

Ao escrever um primeiro rascunho para explorar uma ideia de história, você pode escolher entre duas abordagens: espontânea ou racional.

Na abordagem espontânea, você permite sua imaginação tomar conta do processo. É uma forma de começar a explorar diferentes possibilidades criativas, usando uma inspiração qualquer como ponto de partida. Essa abordagem abre caminho para um melhor entendimento de quem é o personagem principal e qual é o foco da história.

Não importa se as frases não fazem sentido, se estão mal construídas, se têm erros grosseiros de gramática. O objetivo aqui é explorar emoções e sensações que você associa livremente a ideia que o inspirou a escrever, e deixar que sua intuição guie a primeira etapa de desenvolvimento da história.

Na abordagem racional, você permite seu intelecto tomar conta do processo. Funciona melhor quando você já tem definidos os personagens principais e o foco da história, antes de começar a escrever. Sua criatividade, neste caso, está focada tanto em desenvolver os detalhes da história, quanto em encontrar a melhor forma de expressar artisticamente o conteúdo de cada cena.

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Ao invés de simplesmente escrever o que vier a mente como na abordagem espontânea, você toma decisões estéticas a medida em que vai desenvolvendo a narrativa. Sua intenção aqui é lapidar a história a medida em que você a desenvolve.

A abordagem racional permite que você concentre sua atenção em filtrar as ideias a medida que elas aparecem, tendo como base suas decisões prévias sobre os principais elementos da narrativa (personagens e enredo).

Dica 92: Descubra qual a melhor mídia para sua história.

Livros, filmes, seriados de televisão e peças de teatro têm características e linguagens diferentes. Descubra qual a melhor mídia para o tipo de história que você quer contar.

Livros

Um livro conta uma história a partir do ponto de vista de um ou mais narradores. É a mídia ideal se você quer explorar em detalhe o mundo interior dos personagens, focar a narrativa em conflitos mentais, ou deixar que a imaginação das pessoas participe do processo de criação do seu mundo de ficção.

Filmes

Um filme conta uma história através da criação de um mundo ficcional visível. É a mídia ideal se você quer explorar conflitos pessoais ou sociais, se a história que você quer contar é rica em detalhes visuais específicos (vestimentas, cenários, aparência física dos personagens, etc), e é importante que as pessoas vejam esses detalhes exatamente como você os imaginou.

Séries de Televisão

Uma série de televisão desenvolve uma ideia em diversas mini histórias. É a mídia ideal se você quer explorar toda a complexidade de conflitos pessoais e sociais, se você quer desenvolver diversos personagens simultaneamente, e se o tema central da série pode ser dramatizado em diversas situações diferentes.

Peças de Teatro

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Uma peça conta uma história através de um monólogo ou diálogo entre personagens. É a mídia ideal se você quer explorar conflitos mentais ou pessoais que podem ser dramatizados com poucos atores e cenários.

Dica 93: Encontre o ritmo certo para a história.

Uma história é constituída por uma sequência de eventos e informações que tem como objetivo despertar certas sensações e emoções no leitor. Para provocar as reações desejadas, o escritor precisa conduzir o enredo como uma viagem de carro. Ele deve saber em que momentos acelerar a narrativa para chegar logo à próxima cena, diminuir a velocidade para que o leitor possa apreciar certas passagens, e parar completamente para chamar a atenção a certos detalhes. Essas escolhas resultarão no ritmo da história.

O ritmo não é uma decisão consciente tomada pelo escritor antes ou durante o processo de escrita. Ele é resultado da forma como o enredo é organizado. Você percebe que o ritmo da sua história pode ser melhorado quando relê o texto, e encontra trechos que parecem superficiais demais ou detalhados demais. Em ambos os casos, você precisa retrabalhar essas passagens, incluindo ou mantendo apenas o que for necessário para fazer o leitor reagir da forma desejada.

Se o problema não estiver na forma como você organiza e apresenta a história, preste atenção à extensão das frases, ao uso de pontos e vírgulas, e à forma como você organiza os parágrafos. Esses elementos também influenciam no ritmo de leitura

Dica 94: Entenda as motivações dos personagens.

Em histórias de ficção, nada acontece por acaso. Tudo o que um personagem pensa, diz ou faz tem origem em suas experiências passadas. Todas as informações reveladas sobre ele estão diretamente relacionadas ao objetivo do escritor em fazer o leitor associar certas percepções à personalidade desse personagem.

Ainda que as razões que justificam certos comportamentos não apareçam explicitamente no texto, é importante que você as conheça para que todos os participantes da história ajam de forma coerente durante a narrativa.

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As motivações dos personagens, sejam conscientes ou inconscientes, são a chave para você desenvolver conflito no enredo e resolvê-los de forma satisfatória. Para entender as motivações mais profundas do seu protagonista, procure entender que desejo o conflito central da história provocou nele, e que experiências passadas ou planos futuros justificam esse desejo.

Dica 95: Aproveite enquanto você ainda não foi “descoberto”.

O desejo de todo escritor que está começando é, eventualmente, ser “descoberto”. Nada mais natural, afinal de contas, se você investe tanto tempo e energia trabalhando em seus textos, é porque acredita que tem algo importante a dizer para o mundo. Mas no início da sua carreira, quando você ainda está descobrindo como transformar ideias em histórias, não há nada melhor do que o anonimato.

Se você é desconhecido, a única pressão que você sofre é aquela que coloca sobre si mesmo. Você não precisa se preocupar com editores, jornalistas, críticos, contratos, marketing, etc. Aproveite essa liberdade para experimentar, cometer erros, e se concentrar unicamente em se tornar um escritor mais competente.

O melhor momento para ser descoberto é quando você se sentir mais confortável com os resultados da sua produção. E a partir do momento em que suas histórias começarem a chamar a atenção de um número grande de pessoas, você vai sentir falta da liberdade de criação que só o anonimato podia lhe oferecer.

Dica 96: Defina o tema central da história.

Depois de definir quem são os personagens principais, seus desejos, e os conflitos da narrativa, procure ter claro qual é o tema central da sua história. O tema é o assunto principal que o escritor se propõe a explorar no enredo.

Se sua história é sobre um ator hollywoodiano famoso que perdeu sua filha em um acidente de carro, e o enredo vai explorar as dificuldades do protagonista em lidar com essa dura realidade diante da mídia, o tema central poderia ser “Qual é o preço da fama?”. Nesse caso, o foco da narrativa poderia estar na discussão dos limites entre vida privada e vida pública, da parte nada glamourosa de se tornar uma celebridade, de como a mídia explora os dramas pessoais dos famosos para ganhar audiência.

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Essa mesma história poderia ser base para explorar um outro tema, como por exemplo “Qual é a relação entre sofrimento e arte?”. Nesse caso, o foco da narrativa poderia estar na mudança de carreira do ator, que antes apenas fazia comédias e, depois da morte da filha, começou a trabalhar em filmes de drama. O enredo poderia explorar como essa perda influenciou na melhora das suas habilidades dramáticas, e questionar se é possível sofrer na ficção se nunca se sofreu de verdade.

Perceba como usamos o mesmo ponto de partida (cenário, personagem e conflito), e dependendo do tema central que desejamos explorar, podemos escrever histórias completamente diferentes. Para que sua narrativa seja consistente e bem estruturada, defina qual é o assunto principal que sua história vai desenvolver

Dica 97: Estabeleça a crença central que define o protagonista.

Premissa é uma afirmação que serve de base para a construção de uma teoria. Uma história é, basicamente, uma teoria sobre um determinado tema, dramatizada nos acontecimentos do enredo. O escritor defende sua visão sobre um assunto através das ações e reações dos personagens ao longo do enredo. Portanto, toda narrativa é construída a partir de uma afirmação que serve de base para o desenvolvimento da história: a crença central que define o protagonista.

Estabeleça a crença que representa o valor moral, social ou ético que o personagem principal considera mais importante na sua vida. Desenvolva o conflito central da narrativa de forma a testar essa crença.

Por exemplo, se a crença central do protagonista é “minha carreira de cirurgião é o que tenho de mais importante na vida”, você pode desenvolver uma história que coloque o personagem em uma situação que o desafie a provar o quanto ele acredita nessa afirmação. O que aconteceria se ele perdesse o emprego? E se ele perdesse uma das suas mãos em um acidente? Ou se seus trinta últimos pacientes morressem nas sua mesa de cirurgia? Como ele reagiria? Que decisões tomaria? Quais mudanças seriam impostas na sua vida?

Se a crença central do protagonista, no entanto, é “minha família é o que tenho de mais importante na vida”, o que aconteceria se ele descobrisse que sua mulher tem um amante e seu filho é fruto desta traição? E se sua mulher tentasse envenená-lo com a ajuda do seu filho? Ou se os dois repentinamente morressem em uma acidente de carro?

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Para caracterizar o protagonista e responder a essas perguntas, investigue a origem da sua crença central. Procure determinar o que levou o personagem a valorizar aquela opinião, valor moral ou comportamento. Investigue o que está por trás de suas decisões, e teste os limites das suas convicções ao longo do enredo.

Dica 98: Tenha consciência da ideia-chave da história.

Toda narrativa ficcional vende um modo de ver o mundo, um sistema de ideias que procura reforçar certos valores e opiniões. Você pode não estar consciente da ideologia que permeia as entrelinhas dos seus textos, mas ela está presente em tudo que você escreve.

Talvez você não tenha consciência do que está tentando comunicar com suas histórias, mas seus textos inevitavelmente trazem uma mensagem carregada de valores morais relacionados ao tema central das suas narrativas.

A ideia-chave está relacionada à origem do conflito central da história, e ao significado que o escritor dá para o destino do personagem. Ela pode ser formulada a partir da crença que define o protagonista, acompanhada de uma explicação sobre o que ele vai aprender sobre si, as pessoas ou o mundo. É a famosa “moral da história”. Sua moral está relacionada ao que você considera certo e errado, o que considera aceitável e inaceitável. O destino que você dá para cada um dos personagens ao longo do enredo demonstra exatamente isso.

Digamos que você quer escrever uma história sobre o uso de drogas recreacionais, e isso é algo que você considera errado. Seu protagonista poderia ser um usuário regular que tenta convencer a nova namorada a experimentar cocaína. Se depois de muito insistir ela aceita, se vicia, morre no final da história, convencendo o personagem a parar de usar, você está expondo o que considera ser um dos riscos e consequências do uso de drogas. A ideia-chave aqui poderia ser “drogas podem ser divertidas, mas os riscos relacionados ao uso não valem a pena”.

Quanto mais consciência você tiver da ideologia que permeia as entrelinhas do seu texto, melhor preparado estará para revisar e editar seu texto, encontrando formas de dramatizar os argumentos que sustentam a lógica da sua ideia-chave e, consequentemente, expressando com mais intensidade sua visão sobre o tema central da história.

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Dica 99: Resuma sua história em uma frase.

Existem basicamente duas formas de desenvolver suas ideias de história: pensando sobre sua estrutura antes ou depois de começar a escrever. Algumas pessoas preferem explorar ideias iniciando a partir de um impulso criativo. Outras preferem definir pelo menos alguns dos elementos básicos da narrativa antes de começar a escrever.

Se a página em branco costuma deixar você ansioso e paralisado, crie um resumo da sua história para usar como guia durante suas sessões de escrita. Em até 250 palavras, descreva brevemente o protagonista, o conflito central, e os principais acontecimentos do enredo.

A ideia é estabelecer uma visão global da narrativa, que oriente suas escolhas e decisões quando você estiver escrevendo. Comece tentando resumir sua história em uma única frase. Por exemplo, eis a essência do filme Toy Story: Um boneco cowboy chamado Woddy – que acredita ter status inabalável de brinquedo preferido – passa a se sentir rejeitado pelos outros brinquedos e por seu dono Andy quando este ganha de aniversário o boneco astronauta Buzz Lightyear.

Veja como, em uma frase, estabelecemos o protagonista (Woddy), a crença central que o define (ele será para sempre o brinquedo preferido), o conflito central que desafia essa crença (ciúmes de Buzz Lightyear), sugerimos o desejo central do personagem principal (voltar a ser o boneco preferido de Andy), e a linha de ação da história (fazer o que for preciso para reconquistar seu status).

A partir dessa frase, fica mais fácil começar a expandir o resumo da história, definindo os principais acontecimentos da linha de ação, que deverá se concentrar nas atitudes de Woddy para alcançar seu desejo, nas consequências de suas ações e no impacto que essas consequências terão sobre o personagem.

Quando começar a escrever a história, sinta-se livre para seguir caminhos diferentes dos que você estabeleceu no resumo, mas faça isso consciente dos resultados que você pretende alcançar com tais mudanças. Ao fazer alterações na estrutura da história, rescreva o resumo para certificar-se de que a linha de ação ainda faz sentido.

Dica 100: Estabeleça a linha de ação da história.

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Enredo é a sucessão de ações e reações do protagonista, em suas diversas tentativas de resolver o conflito ao longo da narrativa. A linha de ação é a espinha dorsal do enredo, que estabelece os eventos mais importantes da história.

No filme Toy Story, por exemplo, o desejo do protagonista Woddy é voltar a ser o boneco preferido de Andy. Portanto, a linha de ação é construída com base nas decisões e atitudes do personagem para alcançar esse desejo, assim como nas consequências resultado de suas ações.

Para desenvolver o enredo da sua história, imagine situações que forcem o protagonista a tomar decisões, e pense nas consequências concretas de cada comportamento do personagem. Veja como isso funciona em Toy Story: Um boneco cowboy chamado Woddy – que acredita ter status inabalável de brinquedo preferido – passa a se sentir rejeitado pelos outros brinquedos e por seu dono Andy, quando este ganha de aniversário o boneco astronauta Buzz Lightyear.

Um dia, Woddy DECIDE se livrar de Buzz empurrando ele para atrás da escrivaninha. Como CONSEQUÊNCIA, Buzz acidentalmente cai da janela, fazendo os outros brinquedos questionarem a índole de Woddy. Ele, então, DECIDE ir a procura de Buzz. Como CONSEQUÊNCIA, os dois se perdem e são capturados por Sid, um garoto que desmonta e explode brinquedos por diversão. E assim por diante.

Para definir a linha de ação da sua história, estabeleça uma sequência lógica de acontecimentos, onde cada ação/decisão do protagonista resulte em uma consequência, exigindo outra ação/decisão que resulte em outra consequência, exigindo outra ação/decisão que resulte em outra consequência. Siga esta cadeia de eventos, aumentando progressivamente a tensão até o clímax da história, quando o protagonista será obrigado a tomar uma decisão definitiva sobre a situação.