100 anos de brecht

Upload: pedro-perdido-achado

Post on 04-Nov-2015

66 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

100 Anos de BrechtPor: Augusto BuonicoreEm: Debate Sindical nº27/1998

TRANSCRIPT

  • 100 anos de Brecht, o poeta dos trabalhadores Por: Augudto Buonicore

    Em: Debate Sindical n27/1998

    No dia 10 de fevereiro de 1998, os trabalhadores conscientes e socialistas de todo o mundo comemoraram o centenrio de nascimento de um dos maiores poetas e dramaturgos do sculo 20, Bertolt Brecht. Um artista que colocou toda a sua obra a servio da emancipao dos trabalhadores, na defesa do socialismo.

    Brecht nasceu na pequena cidade de Augsbrug, no sul da Alemanha. Apesar de ter vivido toda a sua infncia em um bairro operrio, ele no pertencia s classes populares, pelo contrrio, era filho de um abastado diretor de uma fbrica de papel. A condio familiar do pequeno Bertolt indicava-lhe um destino nada honroso, nascera para ocupar um lugar no mundo da produo ao lado dos exploradores. Mas Brecht, desde cedo, sentia que aquele no seria o seu destino. Em vez de produzir papis, preferia escrever sobre eles, transformando folhas em branco em poesias e a poesia em armas contra a sua prpria classe. Mais tarde escreveria: ...........................................

    Eu cresci como filho De gente abastada. Meus pais Me colocaram um colarinho, e me educaram No hbito de ser servido E me ensinaram a dar ordens. Mais tarde, olhei em torno de mim No me agradava as pessoas de minha classe, Nem de dar ordens, nem ser servido. Ento deixei a minha classe e me juntei A gente pequena. Assim criaram um traidor .....................................

    A Segunda Guerra Mundial e a Revoluo Russa marcam a juventude de Brecht

    Dois grandes acontecimentos marcaram a atribulada juventude de Brecht: a primeira grande guerra mundial e a Revoluo Socialista na Rssia. Em 1914, eclodia a guerra e toda a Alemanha foi tomada pela febre belicista. At mesmo o Partido Social-Democrata Alemo (PSDA) adere ao espirito chauvinista da grande burguesia. Apenas uma pequena frao do partido resiste e se posiciona contra a guerra e em defesa da revoluo. Esta ala, dirigida pr Karl Libieknecht e Rosa de Luxemburgo, fundaria a liga espartaquista e depois o Partido Comunista da Alemanha. pequeno Brecht tambm, a seu modo, resistiu a onda militarista.

  • Ainda no colgio, quando solicitado para que escrevesse uma redao, sob o ttulo doce e honroso morrer pela ptria , escreve a mxima de morrer pela ptria apenas uma preposio tendenciosa apenas os imbecis podem levar to longe esta verdade. Tal ousadia enfureceu os professores e quase lhe custou a expulso do colgio. Os tempos no eram bons. Apesar do pequeno Brecht, a guerra continuava, devorando milhes de homens, em especial operrios e camponeses. Mas em outubro de 1917, alguma coisa de novo parecia estar acontecendo. Na Rssia, os trabalhadores, dirigidos pelos bolcheviques, haviam tomado o poder. A Revoluo triunfava sobre a guerra, O caminho estava aberto. As boas novas vindas do leste caem como uma bomba na velha Alemanha. No fronte, os soldados se confraternizam, nas cidades comeam a eclodir grandes greves operrias e surgiam os conselhos de operrios e soldados. governo e a monarquia eram colocados em xeque pelas massas. Em 9 de novembro de 1918, irrompe a rebelio em Berlim e o prprio PSDA obrigado, pela presso dos operrios em armas, a aderir ao movimento. A revoluo vencer tambm na Alemanha e proclamada a repblica. Mas o governo dirigido pela direita social-democrata busca, atravs de todos os meios impedir que a revoluo democrtica se transformasse numa revoluo socialista, como havia ocorrido na Rssia. A luta ganhava outro patamar, a burguesia se escondia pr detrs de um partido operrio. inimigo agia com as mos da direita social-democrta. No final da grande guerra, Brecht cursava a faculdade de medicina e atendia em um hospital militar. Nesta condio, acompanharia o processo revolucionrio de 1918. Afirmaria Brecht: Eu tinha 19 anos quando ouvi falar de vossa grande revoluo, tinha 20 quando vi os reflexos deste grande incndio em minha cidade natal, Eu era ento enfermeiro num hospital militar... A velha cidade foi tomada pr uma nova populao vinda dos bairros operrios e ocorreu uma animao que estas ruas burguesas....no tinham nunca conhecido. No incio de 1919 estoura uma novo levante revolucionrio, desta vez dirigido pelos comunistas. Os operrios comunistas tomam o parlamento alemo, o Reichastag, mas so desalojados pelo exrcito. Depois de cinco dias de violentos combates, a insurreio derrotada. No dia 15 de janeiro, Rosa e Libieknecht so seqestrados e assassinados. Em silncio, sem cerimnias, homens sem rostos atiram os dois corpos nas guas frias do Canal Landwer. Era preciso no deixar provas do horrendo crime, mas as mos dos assassinos os denunciavam. Brecht escreveria no seu Epitfio 1919: ...............................................................

    A rosa vermelha tambm desapareceu Ningum sabe onde repousa seu corpo

  • Disse a verdade aos pobres E pr isso foi morta pelos ricos. .............................

    A vida bomia, o movimento expressionista e a crtica

    a todo tipo de indiferena

    As conseqncias da guerra haviam sido desastrosas para a Alemanha. A carestia de vida e o desemprego martirizavam a classe operria. A fome e a morte rondavam os bairros pobres. A revoluo havia sido derrotada, mas ainda havia esperanas de um novo despertar. Brecht apresentava em versos, a resposta operria para a crise: .......................................................................

    O nosso desemprego No ser solucionado

    Enquanto os senhores no Ficarem desempregados

    O jovem Brecht alimentava um profundo desprezo pr tudo que a burguesia representava, detestava o militarismo alemo e nutria uma simpatia, ainda que ingnua, pr todas as vitimas da sociedade capitalista: desempregados, prostitutas, pequenos meliantes, personagens de vrias de suas obras, nelas sempre buscou mostrar a intima ligao entre o submundo da sociedade capitalista e o honroso mundo oficial dos grandes negcios. Brecht, neste primeiro perodo, embora tivesse grande simpatia pelos comunistas e olhasse com bons olhos a construo do socialismo na URSS, no era um marxista. Seu socialismo era quase intuitivo, movido pelo seu dio hipocrisia burguesa. No inicio da dcada de 20, Brecht iria se aproximar, sem nunca aderir integralmente, ao movimento expressionista alemo, que neste perodo ganhava parcelas considerveis de intelectualidade progressista da Alemanha. Um movimento que se opunha a fascistizao da sociedade alem, mas possua um carter de classe pequeno burgus. Era fruto de um tempo desagregao e de incertezas, nascido da derrota da revoluo e marcado pelo avano gradual do nazismo. O prprio Brecht reconheceria mais tarde que para o expressionismo o mundo no mais existia seno como a viso de uma estranha runa, criao de almas angustiadas....tornou-se incapaz de esclarecer o mundo enquanto prtica humana. Portanto era um discurso destrutivo, quase anrquico. Neste perodo, Brecht escreve poemas e canes, que declama e canta nos bares e cafs de cada vez mais reacionria Munique. Em 1920, ainda dentro de uma perspectiva expressionista, escreve a pea Boal. Logo em seguida, escreve a pea Tambores da noite. Para Brecht, seria a primeira obra baseada na luta de classes.

  • Nela ele retrata as relaes entre as classes, o herosmo e a covardia, a neutralidade e o engajamento, numa nica noite, a noite do levante espartaquista. O autor, refletindo posteriormente sobre o contedo dessa obra dir: Os meus conhecimento no eram suficientes para que compreendesse a srio o que foi a insurreio do proletariado na Alemanha . Mas esta deficincia no invalida o conjunto da obra, como uma bela pgina da dramaturgia mundial. Em 1928, Brecht l O Capital de Marx e escreve a pea pera dos trs vintns, na qual retoma o tema das relaes existentes entre os pequenos crimes, as pequenas corrupes e os grandes e respeitveis crimes do capital, traduzido na fala de um de seus personagens: O que o assalto a um Banco comparado a fundao de um banco, O que mais indignava Brecht era a indiferena dos homens diante das injustias. O poeta se levantava contra todos aqueles que achavam que a opresso era algo natural e, portanto , eterna. Pr isso clamava um dos personagens criado pelo autor. .......................................

    Ns pedimos com insistncia: No digam nunca , isto natural! Diante dos acontecimentos de cada dia Numa poca em que reina a confuso. Em que corre sangue Em que se ordena a desordem. Em que o arbitrrio tem fora de lei; Em que a humanidade se desumaniza No digam Nunca: isso natural .........................................

    A convico trazida pela dialtica, de que nada eterno e que, portanto o mundo pode e deve ser transformado e a arte um instrumento de transformao esta presente em toda a obra brechtiniana. Mesmo nos dias mais difceis, esta grande idias jamais o abandonou e continuou a alimentar a sua prtica cultural e poltica. ......................................................

    Enquanto voc estiver vivo, nunca diga: Nunca! O regime vigente no seguro. No Imutvel... Os vencidos de hoje sero os vencedores de Amanh. E o nunca se transforma em hoje ! .....................................

    A longa noite nazista, os apelos unidade operria,

  • a perseguio e o exlio

    A direita se fortalecia, financiada pela grande burguesia, de outro lado, os operrios, nicos capazes de deter o avano do fascismo, estavam divididos e desarmados. Tudo indicava que uma tragdia se aproximava e Brecht grita a todo o pulmo contra o nazismo e pela unidade da classe operria. Era preciso responder as avano do nazismo com a unidade operria. A poltica adotada plos comunistas e pela social-democracia alem jogava contra a unidade da esquerda: uns dominados pelo esquerdismo, e outros pelo oportunismo de direita que afirmava que seria prefervel que Hitler subisse ao poder atravs de eleies que atravs de um golpe de Estado. Relembrando estes trgicos dias, escreveria: ..................................

    Ento dissemos aos camaradas da Social- Democracia Devemos aceitar que matem nossos Camaradas? Lutem conosco numa Unio antifascista!.... mal menor que ano aps ano foi usado para afast-los de Qualquer luta. Logo significar aceitar os nazistas. ......................................

    Poucos ouviram os apelos de Brecht e, em janeiro de 1933, Hitler assumia o poder. A contra revoluo venceria atravs das urnas. Prises e torturas passaram a compor o cotidiano da vida poltica e social alem. Implantaria-se o terrorismo cultural, livros seriam queimados em praas pblicas. Brecht sabia que aquilo era apenas o preldio de dias ainda piores, pois como j dizia o poeta Heine onde se queimam livros acaba-se queimando homens....e assim se deu. As fogueiras da intolerncia cultural se transformaram rapidamente em fornos crematrios. E a Alemanha de Beethoven, Kant, Goeth, Hegel, Heine e Marx, finas flores da cultura humanista europia, transformaria-se na Alemanha de Hitler, Goebbels, Rosemberg. Triste Alemanha. Brecht , j no exlio, cantaria a sua vergonha: ....................................................

    Alemanha, plida me; Como aparecer manchada Entre as naes. Entre os imundos te destacas.

    .......................................................

    Brecht encabea diversas listas negras e obrigado a abandonar a Alemanha em direo a Praga.

  • No peito do poeta ainda se alimentavam esperanas: o exlio ser breve e o nazismo ser rapidamente derrubado. A ltima palavra ainda no havia sido dada. Suas esperanas tambm se traduzem em seus poemas de exlio: ......................................................

    No ponha o prego na parede, Jogue o casaco na cadeira Pr que fazer planos para quatro dias? Amanh voc volta. .......................................................

    Mas uma longa noite desceria sobre a Europa, obrigando-o a adiar os seus planos. De Praga, segue para a ustria, depois para a Sua, depois Frana e, pr fim, Dinamarca. triste a cano do exlio: ........................................................

    Expulso do meu pas, tenho que ver agora ... Vender o que possuo. Tenho que voltar a percorrer velhos Caminhos. Para onde vou ouo: soletre o seu nome! Ah, este nome que j foi to celebre. ...........................................................

    No exlio, em 1935, escreve o clssico Terror e Misria no III Reich, um relato vivo da condio humana na Alemanha nazista, os reflexos do terror e da represso poltica no cotidiano da sociedade e da famlia alem atravs de pequenos episdios. A temtica de quase toda a sua obra no perodo poderia ser traduzida em um verso: ............................................................

    Uma rima no meu poema Me daria quase a impresso de uma Insolncia Em mim se enfrentam A exaltao quando vejo uma macieira em Flor E o horror que me causam o discurso do Pintor de paredes Mas somente o horror Me faz escrever. .................................................................................

    Em 1936, os fascistas de Franco tentam derrubar o governo da Frente Popular na Espanha e tem inicio a Guerra Civil. Brecht escreve a pea Os fuzis da Senhora Carrar com o objetivo de incentivar a luta dos povos contra o nazi-fascismo.

  • O centro do drama a discusso sobre a neutralidade e o engajamento em meio a revoluo: retomando, em certo sentido, o tema j abordado pr Gorki em sua obra A me. Em 1938, escreve um outro clssico, A vida de Galileu, na qual discute o papel do intelectual na luta contra o obscurantismo, a partir de um fato real, a abjurao de Galileu diante do Tribunal da Santa Inquisio.

    A crtica aos processos de Moscou, a defesa da URSS E o enterro sem discursos

    Brecht no olha com bons olhos os processos de Moscou e a dura represso stalinista contra a oposio e a intelectualidade russa. Vrios de seus amigos so presos e executados. O poeta, num misto de perplexidade e desconfiana, lamenta: ..................................................

    Meu mestre Este grande homem, Amigo, Foi fuzilado, Condenado Por um Tribunal Popular Como espio. Seu Nome Foi difamado. Seus livros, Destrudos. Falar dele Desperta suspeitas; Todos se Calam. E se ele era inocente? ......................................................................

    Os exrcitos de Hitler continuam a sua marcha triunfal sobre a Europa, pareciam invencveis. Na Europa continental, apenas a URSS resiste. Ali no havia mais segurana para Brecht. Em 1941, refugia-se nas URSS e com apoio sovitico parte para a Amrica, onde permaneceria at o fim da guerra e da to esperada derrota do nazismo. Em 1947, tem incio a guerra fria e Brecht convocado a se apresentar ao Comit de Atividades Antiamericanas, uma verso moderna dos tribunais da Santa Inquisio medieval, para prestar esclarecimentos sobre a sua relao com o Partido Comunista. O fascismo parecia se transferir da Europa para Amrica, triste Amrica. De volta Europa, ainda em 1947, depois de uma breve estada na Sua, transfere-se para Berlim oriental, onde passaria a residir at o fim de sua vida. Ali funda a sua prpria companhia de teatro, o Berliner Ensamble.

  • Em 1948, organiza uma campanha em favor do casal Rosemberg, condenado morte nos EUA, sob acusao de espionagem. A moderna inquisio norte-americana fazia as suas primeiras vitimas fatais. Apesar de nutrir profundas simpatias pelos partidos comunistas e pela URSS e de seu engajamento na luta pela vitria da paz e do socialismo na Alemanha e no mundo, ele no ingressou em nenhum dos partidos comunistas europeus. Mas isso no o impediu de escrever:

    ...................................................................

    Mas quem o Partido? Ele fica sentado em uma casa com Telefones? Seus pensamentos so secretos, suas Decises desconhecidas? Quem ele? Ns somos ele. Voc, eu, vocs ns todos. Ele veste a sua roupa, camarada, E pensa com a sua cabea Onde mora a casa dele, e quando Voc atacado Ele luta.

    ..........................................................................

    Em junho de 1953 eclode uma revolta em Berlim Ocidental contra o governo socialista e a URSS. Brecht se colocou ao lado do governo e contra a insurreio, mas sabia distinguir o elemento operrio na confuso dos eventos hegemonizados pela burguesia pr-imperialista. Brecht corajosamente envia uma carta a direo do Partido Comunista Alemo no qual afirma: Espero agora que os provocadores sejam isolados e que suas redes sejam destrudas; mas tambm espero que no se coloque no mesmo nvel estes provocadores e os operrios que se manifestarem para exprimir o seu justo descontentamento, a fim de no perturbar o futuro da discusso to necessria sobre os erros cometidos pelos dois lados. Dois anos depois Brecht ganharia o prmio Stalin da Paz, pelos seus servios prestados causa da paz e do socialismo no mundo. O governo da Repblica Democrtica Alem (socialista) oferece um teatro para a sua companhia. Ali passaria a desenvolver um intenso trabalho de formao cultural e poltica entre a juventude e os operrios.

  • Mas Brecht j est fraco e doente. Em 1956, j no fim da vida, escreve: se eu morrer, no quero que meu corpo seja exposto solenemente, nem que me exibam em pblico. Que no haja discurso no meu enterro. Assim foi feito. No dia 17 de agosto de 1956, trs dias aps a sua morte, era enterrado perto do tmulo de Hegel, sem pompa, sem discursos, em sua lpide apenas uma breve inscrio: Brecht.

    Augusto Buonicore, historiador, doutorado em Cincias sociais pela Unicamp/SP e membro do

    Conselho de Redao da Debate Sindical

    1926 1933

    POEMAS DE UM MANUAL PARA HABITANTES DAS CIDADES

    1 APAGUE AS PEGADAS

    Separe-se de seus amigos na estao De manh v cidade com o casaco aboroado Procure alojamento, e quando seu camarada bater: No, oh, no abra a porta Mas sim Apague as pegadas!

    Se encontrar seus pais na cidade de Hamburgo ou em outro lugar Passe por eles como um estranho, vire na esquina, no os reconhea Abaixe sobre o rosto o chapu que eles lhe deram No, oh, no mostre seu rosto

  • Mas sim Apague as pegadas!

    Coma a carne que a est. No poupe. Entre em qualquer casa quando chover, sente em

    qualquer cadeira Mas no permanea sentado. E no esquea seu chapu. Estou lhe dizendo: Apague as pegadas!

    O que voc disser, no diga duas vezes. Encontrando o seu pensamento em outra pessoa:

    negue-o. Quem no escreveu sua assinatura, quem no deixou

    retrato Quem no estava presente, quem nada falou Como podero apanh-lo? Apague as pegadas!

    Cuide, quando pensar em morrer Para que no haja sepultura revelando onde jaz Com uma clara inscrio a lhe denunciar E o ano de sua morte a lhe entregar Mais uma vez: Apague as pegadas!

    (Assim me foi ensinado.)

  • 2 A QUINTA RODA

    Estamos com voc na hora que percebe Que a quinta roda E a esperana lhe deixa. Mas ns Ainda no percebemos.

    Notamos Que voc conversa mais rapidamente Procura uma palavra com que Possa ir embora Pois a questo para voc no despertar a ateno.

    Voc se ergue no meio da frase Diz irritado que quer ir Ns dizemos: Fique! E percebemos Que voc a quinta roda. Mas voc se senta.

    E assim voc fica conosco na hora Em que percebemos que a Quinta roda. Mas voc No mais percebe.

    Deixe que lhe diga: voc A quinta roda No pense que eu, que lhe digo Sou um patife No busque um machado, busque Um copo dgua.

    Sei que voc no ouve mais Mas No diga em voz alta que o mundo ruim Diga em voz baixa.

  • Pois as quatro no so demais A quinta roda E o mundo no ruim cheio.

    (Isto voc j ouviu dizer.)

    3 A CRONOS

    No queremos sair de sua casa No queremos destruir o fogo Queremos pr a panela no fogo. Casa, fogo e panela podem permanecer E voc deve desaparecer como a fumaa no cu

  • Que ningum segura.

    Quando quiser se apegar a ns, iremos embora Quando sua mulher chorar, esconderemos o rosto

    no chapu Mas quando lhe vierem apanhar ns apontaremos

    para voc E diremos: Deve ser ele. No sabemos o que vir, e nada temos de melhor Mas no mais lhe queremos. Antes que voc se v Vamos fechar as cortinas para que no venha o amanh.

    s cidades permitido mudar Mas a voc no permitido mudar. As pedras queremos persuadir Mas a voc queremos matar No deve viver. No importa em que mentiras temos que crer: Voc no pode haver sido.

    (Assim falamos com nossos pais.)

    4

    Eu sei de que preciso. Eu simplesmente olho no espelho E vejo que devo Dormir mais; o homem Que tenho me prejudica.

    Quando me ouo cantando, digo: Hoje estou alegre; isso bom para A tez.

    Eu me esforo Em permanecer saudvel e firme, mas No me cansarei; isso

  • Produz rugas.

    Nada tenho para dar, mas Minha rao me basta. Eu como com cuidado; eu vivo Lentamente; sou Pelo caminho do meio.

    (Assim vi gente se esforar.)

    12

    Inestimvel Uma grande cabea. Ele faz aquilo que voc tambm faria. Ele faz bem menos do que o que voc supe! Ele est a par.

    Onde outros ainda vem uma sada Ele desiste. Em algo que traz dificuldades Ele no acredita. Por que Deveria algo do interesse geral Trazer dificuldades?

    Uma grande cabea reconhece-se no fato De que tem apetite para mas Quando pessoas em nmero suficiente Tm apetite para mas e H mas suficientes para todas.

    Voc uma grande cabea?

  • Ento cuide para que a cidade cresa A vida comercial floresa E a humanidade se multiplique!

    15

    Sempre que Olho para este homem Ele no bebeu e Tem a mesma risada Eu penso: as coisas melhoram. A primavera vem; vem um bom tempo O tempo que passou Retornou O amor comea novamente, breve Ser como antes.

    Sempre Aps ter conversado com ele Ele comeu e no vai embora Fala comigo e Est sem o chapu Eu penso: tudo vai ficar bom O tempo de costume terminou Pode-se falar Com um sujeito, ele ouve O amor comea novamente, breve Ser como antes.

    A chuva No volta para cima. Quando a ferida No di mais

  • Di a cicatriz.

    TREZENTOS CULES ASSASSINADOS DEPEM A UMA INTERNACIONAL

    Um telegrama de Londres diz: 300 cules, que haviam sido aprisionados pelas tropas do Exrcito Branco chins e deveriam ser transportados para Ping Chuen em vages abertos, morreram de fome e de frio durante a viagem.

    Gostaramos de ter ficado em nossas aldeias Mas isto no nos deixaram. E uma noite nos vages nos empurraram. E nem mesmo arroz pudemos trazer.

    Num vago fechado no pudemos viajar Precisavam deles para os bois, que no suportam o frio. E porque o agasalho nos fizeram tirar Sofremos bastante como o vento, no caminho.

    Muitas vezes perguntamos para qu nos queriam. Os soldados que nos guardavam, porm, nada sabiam. Disseram que soprssemos as mos para no enrijecer. Nosso destino nunca pudemos saber.

    Na ltima noite paramos frente aos portes de um forte. Ao perguntar quando entraramos, disseram: a qualquer

    momento. Era o terceiro dia. Durante a noite congelamos at a

    morte. Faz muito frio para gente pobre neste nosso tempo.

  • CANTO DAS MQUINAS

    1

    Al, queremos falar com a Amrica Atravs do Oceano Atlntico com as grandes Cidades da Amrica, al! Perguntamo-nos em que lngua Deveramos falar, para que Nos entendessem Mas agora temos juntos nossos cantores Que so compreendidos aqui na Amrica E em toda parte do mundo. Al, ouam o que nossos cantores cantam, nossos astros

    negros Al, escutem quem canta para ns...

    As mquina cantam.

    2

    Al, estes so nossos cantores, nossos astros negros Eles no cantam bonito, mas cantam no trabalho Enquanto fazem luz para vocs eles cantam Enquanto fazem roupas, foges e discos Cantam. Al, cantem mais uma vez, agora que esto aqui Sua pequena cano atravs do Oceano Atlntico Com sua voz que todos entenderam.

    As mquinas repetem seu canto.

    Isto no o vento das rvores, meu menino No uma cano para a estrela solitria o bramido selvagem da nossa labuta diria Ns o amaldioamos e o elegemos Pois a voz de nossas cidades

  • a cano que em ns cala fundo a linguagem que entendemos Em breve a lngua-me do mundo.

    O DINHEIRO

    Diante florim, criana, no tenha medo Pelo florim, criana, voc deve ansiar.

    Wedeckind

    Ao trabalho no o quero seduzir. Para o trabalho o homem no foi feito. Mas do dinheiro no se pode prescindir! Pelo dinheiro preciso Ter respeito!

  • O homem para o homem uma caa. Grande a maldade do mundo inteiro. Por isso junte bastante, mesmo com trapaa Pois ainda maio o amor ao dinheiro.

    Com dinheiro, a voc todos se apegam. to benvindo como a luz do sol. Sem dinheiro, os prprios filhos o renegam: Voc no vale mais que um caracol

    Com dinheiro no precisa baixar a cabea! Sem dinheiro mais difcil a fama. Dinheiro faz com que o melhor acontea. Dinheiro verdade. Dinheiro fama.

    O que seu bem disser, pode acreditar. Mas sem dinheiro no busque seu mel. Sem dinheiro ela ser roubada. Somente um co lhe ser fiel.

    Os homens colocam o dinheiro em grande altura Acima do filho de Deus, o Herdeiro. Querendo roubar a paz de um inimigo j na sepultura Escreva em sua laje: Aqui Jaz Dinheiro.

    ESSE DESEMPREGO!

    Meus senhores, mesmo um problema Esse desemprego! Com satisfao acolhemos Toda oportunidade De discutir a questo. Quando queiram os senhores! A todo momento! Pois o desemprego para o povo Um enfraquecimento.

    Para ns inexplicvel Tanto desemprego. Algo realmente lamentvel Que s traz desassossego. Mas no se deve na verdade Dizer que inexplicvel Pois pode ser fatal Dificilmente nos pode trazer

  • A confiana das massas Para ns imprescindvel. preciso que nos deixem valer Pois seria mais que temvel Permitir ao caos vencer Num tempo to puro esclarecido! Algo assim no se pode conceber Com esse desemprego!

    Ou qual a sua opinio? S nos pode convir Esta opinio: o problema Assim como veio, deve sumir.

    Mas a questo : nosso desemprego No ser solucionado Enquanto os senhores no Ficarem desempregados!

  • CONSELHO ATRIZ C.N.

    Refresca-te, irm, na gua Da pequena tigela de cobre com pedacinhos de gelo Abre os olhos sob a gua, lava-os Enxuga-te com a toalha spera e lana Um olhar num livro que amas. Comea assim Um dia belo e til.

    CANO DE FUNDAO DO NATIONAL DEPOSIT BANK

    Sim, fundar um banco Todos devem achar correto No podendo herdar fortuna preciso junt-la de algum jeito. Para isso as aes so melhores Do que faca ou revlver. Mas uma coisa fatal preciso capital inicial. E no havendo o dinheiro Onde obter, seno roubando? Ah, sobre isso no vamos discutir Onde o obtiveram ou outros bancos? De algum lugar ele veio De algum ele foi tirado.

  • QUEM SE DEFENDE

    Quem se defende porque lhe tiram o ar Ao lhe apertar a garganta, para este h um pargrafo Que diz: ele agiu em legtima defesa. Mas O mesmo pargrafo silencia Quando vocs se defendem porque lhes tiram o po. E no entanto morre quem no come, e quem no come

    o suficiente Morre lentamente. Durante os anos todos em que morre No lhe permitido se defender.

    QUEM NO SABE DE AJUDA

    Como pode a voz que vem das casas Ser a da justia Se nos ptios esto os desabrigados?

    Como pode no ser um embusteiro aquele que Ensina aos famintos outras coisas Que no a maneira de abolir a fome?

    Quem no d o po ao faminto Quer a violncia

    Quem na canoa no tem Lugar para os que se afogam No tem compaixo.

    Quem no sabe de ajuda Que cale.

    COM CUIDADO EXAMINO

    Com cuidado examino

  • Meu plano: ele Grande, ele Irrealizvel.

    CANO DO ESPORTE

    Vindo da habitaes cheias Das ruas escuras de cidades em conflito Vocs se encontram Para juntos lutar. E aprendem a vencer.

    Com os centavos da privao Compraram as canoas O dinheiro para o transporte Pouparam o alimento. Aprendam a vencer!

    Saindo da luta extenuante pelo necessrio Por algumas horas Vocs se encontram Para juntos lutar. Aprendam a vencer!

    A PRIMAVERA

    1

    A primavera chega. O jogo dos sexos se renova Os amantes se procuram. Um toque gentil da mo do seu amado Faz o peito da moa estremecer. Dela, um simples olhar o seduz.

  • 2

    Sob nova luz Aparece a paisagem aos amantes na primavera. Numa grande altura so vistos Os primeiros bandos de pssaros. O ar se torna clido. Os dias se tornam longos E os campos ficam claros por longo tempo.

    3

    Desmedido o crescimento Das rvores e pastagens da primavera. Incessantemente fecunda a floresta, e os prados e os jardins. A terra faz nascer o novo Sem medo.

    BALADA DA GOTA DGUA NO OCEANO

    1

    O vero chega, e o cu do vero Ilumina tambm vocs. Morna a gua, e na gua morna Tambm vocs se banham. Nos prados verdes vocs Armaram suas barracas. As ruas Ouvem os seus cantos. A floresta Acolhe vocs. Logo

    o fim da misria? H alguma melhora? Tudo d certo? Chegou ento sua hora? O mundo segue seu plano? No: s uma gota no oceano.

  • 2

    A floresta acolheu os rejeitados. O cu bonito Brilha sobre desesperanados. As barracas de vero Abrigam gente sem teto. A gente que se banha na

    gua morna No comeu. A gente Que andava na estrada apenas continuou Sua incessante busca de trabalho.

    No o fim da misria. No h melhora. Nada vai certo. No chegou sua hora. O mundo no segue seu plano: s uma gota no oceano.

    3

    Vocs se contentaro com o cu luminoso? No mais sairo da gua morna? Ficaro retidos na floresta? Estaro sendo iludidos? Sendo consolados? O mundo espera por suas exigncias. Precisa de seu descontentamento, suas sugestes. O mundo olha para vocs com um resto de esperana.

    tempo de no mais se contentarem Com essas gotas no oceano.

    ACREDITE APENAS

    Acredite apenas no que seus olhos vem e seus ouvidos ouvem!

    Tambm No acredite no que seus olhos vem e seus ouvidos ouvem!

    Saiba tambm que no crer algo significa algo crer!

  • O ABRIGO NOTURNO

    Soube que em Nova Iorque Na esquina da Rua 26 com a Broadway Todas as noites do inverno h um homem Que arranja abrigo noturno para os que ali no tm teto Fazendo pedidos aos passantes.

    O mundo No vai mudar com isso As relaes entre os homens no vo melhorar A era da explorao no vai durar menos Mas alguns homens tm um abrigo noturno Por uma noite o vento mantido longe deles A neve que cairia sobre eles cai na calada. No ponha de lado o livro, voc que me l.

    Alguns homens tm um abrigo noturno Por uma noite o vento mantido longe deles A neve que cairia sobre eles cai na calada Mas o mundo no vai mudar com isso As relaes entre os homens no vo melhorar A era da explorao no vai durar menos.

  • EU, QUE NADA MAIS AMO

    Eu, que nada mais amo Do que a insatisfao com o que se pode mudar Nada mais detesto Do que a insatisfao com o que no se pode mudar.

    SOUBE QUE VOCS NADA QUEREM APRENDER

    Soube que vocs nada querem aprender Ento devo concluir que so milionrios. Seu futuro est garantido sua frente Iluminado. Seus pais Cuidaram para que seus ps No topassem com nenhuma pedra. Neste caso Voc nada precisa aprender. Assim como Pode ficar.

    Havendo ainda dificuldades, pois os tempos Como ouvi dizer, so incertos Voc tem seus lderes, que lhe dizem exatamente O que tem a fazer, para que vocs estejam bem. Eles leram aqueles que sabem As verdades vlidas para todos os tempos E as receitas que sempre funcionam. Onde h tantos a seu favor Voc no precisa levantar um dedo. Sem dvida, se fosse diferente Voc teria que aprender.

  • DE TODAS AS OBRAS

    De todas as obras humanas, as que mais amo So as que foram usadas. Os recipientes de cobre com as bordas achatadas e com

    mossas

    Os garfos e facas cujos cabos de madeira Foram gastos por muitas mos: tais formas So para mim as mais nobres. Assim tambm as lajes Polidas por muitos ps, e entre as quais Crescem tufos de grama: estas So obras felizes.

    Admitidas no hbito de muitos Com freqncia mudadas, aperfeioam seu formato e

    tornam-se valiosas Porque delas tantos se valeram. Mesmo as esculturas quebradas Com suas mos decepadas, me so queridas. Tambm

    elas So vivas para mim. Deixaram-nas cair, mas foram

    carregadas. Embora acidentadas, jamais estiveram altas demais. As construes quase em runa Tm de novo a aparncia de incompletas Planejadas generosamente: suas belas propores J podem ser adivinhadas; ainda necessitam porm De nossa compreenso. Por outro lado Elas j serviram, sim, j foram superadas. Tudo isso Me contenta.

    SOBRE A MANEIRA DE CONSTRUIR OBRAS DOURADAS

    I

    1

  • Quanto tempo Duram as obras? Tanto quanto Ainda no esto completadas. Pois enquanto exigem trabalho No entram em decadncia.

    Convidando ao trabalho Retribuindo a participao Sua existncia dura tanto quanto Convidam e retribuem.

    As teis Requerem gente As artsticas Tm lugar para a arte As sbias Requerem sabedoria As duradouras Esto sempre para ruir As planejadas com grandeza So incompletas.

    Ainda imperfeitas Como o muro que espera pela hera (Ele foi incompleto H muito, antes de vir a hera, nu!) Ainda pouco slida Como a mquina que utilizada Mas no satisfaz Mas promessa de uma melhor Assim deve ser construda A obra para durar Como a mquina cheia de defeitos.

    2

    Assim tambm os jogos que inventamos So incompletos, esperamos; E os objetos que servem para jogar O que so eles sem as marcas De muitos dedos, aqueles lugares aparentemente

  • danificados Que produzem a nobreza da forma; E tambm as palavras cujo sentido Muitas vezes mudou Com os que as usaram.

    3

    Nunca ir adiante sem primeiro Voltar para checar a direo! Os que perguntam so aqueles A quem dars resposta, mas Os que te ouviro so aqueles Que faro as perguntas.

    Quem falar? O que ainda no falou. Quem entrar? O que ainda no entrou. Aqueles cuja posio parece insignificante Quando se olha para eles

    Estes so Os poderosos de amanh Os que necessitam de ti, esses Devero ser o poder.

    Quem dar durao s obras? Os que vivero no tempo delas. Quem escolher como construtores? Os ainda no nascidos.

    No deves perguntar: como sero eles? Mas sim Determinar.

    II

    Se deve ser dito algo que no ser compreendido imediatamente

    Se for dado um conselho cuja aplicao toma tempo Se a fraqueza dos homens temida A perseverana dos inimigos, as catstrofes que tudo

  • destrem Ento deve-se dar s obras uma longa durao.

    III

    O desejo de fazer obras de longa durao Nem sempre deve ser saudado. Quem se dirige aos no-nascidos Muitas vezes nada faz pelo nascimento. No luta e no entanto quer a vitria. No v inimigo A no ser o esquecimento.

    Por que deveria todo vento durar eternamente? Uma boa sentena pode ser lembrada Enquanto retornar a ocasio Em que foi boa. Certas experincias, transmitidas em forma perfeita Enriquecem a humanidade Mas a riqueza pode se tornar demasiada No s as experincias Tambm as lembranas envelhecem.

    Por isso o desejo de emprestar durao s obras Nem sempre deve ser saudado.

  • NO DESPERDICEM UM S PENSAMENTO

    1

    No desperdicem um s pensamento Com o que no pode mudar! No levantem um dedo Para o que no pode ser melhorado! Com o que no pode ser salvo No vertam uma lgrima! Mas O que existe distribuam aos famintos Faam realizar-se o possvel e esmaguem Esmaguem o patife egosta que lhes atrapalha os

    movimentos Quando retiram do poo seu irmo, com as cordas

    que existem em abundncia. No desperdicem um s pensamento com o que

    no muda! Mas retirem toda a humanidade sofredora do poo Com as cordas que existem em abundncia!

    2

    Que triunfo significa o que til! Mesmo o alpinista sem amarras, que nada prometeu a

    ningum, somente a si mesmo Alegra-se ao alcanar o topo e triunfar Porque sua fora lhe foi til ali, e portanto tambm

    o seria Em outro lugar. E aps ele vm os homens Arrastando seus instrumentos e suas medidas ao pico

    agora escalvel Instrumentos que avaliam o tempo para ao camponeses

  • E para os avies.

    3

    Aquele sentimento de participao e triunfo De que somos tomados ante as imagens da revolta no

    encouraado Potemkin No instante em que os marinheiros jogam seus algozes

    na gua o mesmo sentimento de participao e triunfo Ante as imagens que nos mostram o primeiro vo sobre

    o Plo Sul.

    Eu presenciei como Mesmo os exploradores foram tomados por aquele

    sentimento Diante da ao dos marinheiros revolucionrios: assim At mesmo a escria participou Da irresistvel seduo do Possvel, e das severas alegrias

    da Lgica.

    Assim como os tcnicos desejam por fim dirigir na velocidade mxima

    O carro sempre aperfeioado e construdo com tamanho esforo

    Para dele extrair tudo o que possui, e o campons deseja Retalhar a terra com o arado novo, assim como os

    construtores de ponte Querem largar a draga gigante sobre o cascalho do rio Tambm ns desejamos dirigir o mximo e levar ao fim A obra de aperfeioamento deste planeta Para toda a humanidade vivente.

    OS BOLCHEVIQUES DESCOBREM NO VERO DE 1917, NO SMOLNY, ONDE O POVO ESTAVA REPRESENTADO: NA COZINHA

  • Quando a Revoluo de Fevereiro havia terminado e o movimento das massas

    Estava parado A guerra ainda no havia chegado ao fim. Os

    camponeses Estavam sem terra, os operrios eram oprimidos e

    passavam fome. Mas os sovietes eram eleitos por todos e representavam

    alguns poucos. Quando tudo permanecia como antes e nada mudava Os bolcheviques andavam nos sovietes como criminosos Pois continuavam exigindo que as armas Fossem apontadas contra o verdadeiro inimigo do Proletariado: os dominadores. Eram tidos como traidores, considerados

    contra-revolucionrios Representantes de bandidos. O seu lder Lnin Chamado de espio mercenrio, escondia-se num celeiro. Para onde olhavam, os olhares Desviavam, silncio os recebia. Viam as massas marcharem sob outras bandeiras. Erguia-se a burguesia dos generais e comerciantes E a causa dos bolcheviques parecia perdida. Durante esse tempo eles trabalharam como de costume Sem dar ateno algazarra e sem se abater com a

    franca desero Daqueles por quem lutavam. Continuaram, sim Tomando o partido dos mais pobres Com esforos sempre renovados. E atentaram, segundo seu prprio relato, para coisas

    desse tipo: Na cantina do Smolny observaram que Quando a comida, sopa de repolho e ch, era servida O garon do Comit Executivo, um soldado Oferecia aos bolcheviques um ch mais quente e Po com mais manteiga, e ao servir Evitava olhar para eles. Ento perceberam: Simpatizava com eles e escondia isso Dos superiores, e assim tambm todo o pessoal inferior Do Smolny, guardas, mensageiros, sentinelas, Inclinava-se visivelmente a favor deles. E quando viram isso disseram: Nossa causa est ganha pela metade. Pois o menor movimento por parte dessa gente Afirmao ou olhar, mas tambm silncio e desvio

  • do olhar Era para eles importante. E por essa gente Serem considerados amigos este o seu objetivo maior.

    A INTERNACIONAL

    Camaradas relatam: Junto montanha de Pamir Encontramos uma mulher, responsvel por uma fazenda

    de coco Que tem convulses sempre que ouve A Internacional. Ela contou: Na guerra civil seu marido era Lder de um grupo de guerrilheiros. Bastante ferido Deitado em uma barraca, foi trado. Levando-o preso Gritavam os Guardas Brancos: No mais cantars A tua Internacional! E diante de seus olhos Violentaram sua mulher sobre a cama. Ento o homem comeou a cantar. E cantou a Internacional Tambm quando mataram a criana menor E parou de cantar

  • Quando lhe mataram o filho E ele parou de viver. Desde esse dia Diz a mulher, ela tem convulses Ao ouvir a Internacional. E, ela conta, foi difcil Encontrar nas Repblicas Soviticas um lugar de trabalho Onde ela no fosse cantada Pois de Moscou a Pamir No possvel hoje em dia Fugir Internacional. Mas um pouco mais raramente ouvida em Pamir. E continuamos a falar sobre seu trabalho. Ela contou que at ento o distrito Havia cumprido o Plano somente at a metade. Mas o lugar j estava inteiramente transformado Irreconhecvel, torna-se cada dia mais familiar Muita gente nova produz Trabalho novo, novo descanso E no prximo ano o plano Ser talvez ultrapassado E quando isso acontecer uma fbrica Ser construda: quando estiver construda Bem, diz ela, neste dia eu Cantarei a Internacional.

  • QUANDO O FASCISMO SE TORNAVA CADA VEZ MAIS FORTE

    Quando o fascismo se tornava cada vez mais forte na Alemanha

    E mesmo trabalhadores o apoiavam em massa Dissemos a ns mesmos: Nossa luta no9 foi correta. Pela nossa Berlim vermelha andavam em pequenos

    grupos Nazistas em novos uniformes, abatendo Nossos camaradas. Mas caiu gente nossa e gente da bandeira do Reich. Ento dissemos aos camaradas do PSD: Devemos acreditar que matem nossos camaradas? Lutem conosco numa unio anti-fascista! Recebemos como resposta: Poderamos talvez lutar ao se lado, mas nossos lderes Nos advertem para no usar terror vermelho contra

    o branco. Diariamente, dissemos, nosso jornal combateu os

    atos de terror Mas diariamente tambm escreveu que s venceremos Atravs de uma Frente Unida vermelha. Camaradas, reconheam agora que este mal menor Que ano aps ano foi usado para afast-los de

    qualquer luta Logo significar Ter que aceitar os nazistas. Mas nas fbricas e nas filas de desempregados Vimos a vontade de lutar dos proletrios. Tambm na zona leste de Berlim os social-democratas Saudaram-nos com as palavras Frente Vermelha! e j

    usavam o emblema

  • Do movimento anti-fascista. Os bares Ficavam cheios nas noites de debates. E ento nenhum nazista mais ousou Andar sozinho por nossas ruas pois as ruas pelo menos so nossas Depois que eles nos roubaram as casas. COMETEMOS UM ERRO

    Voc parece Ter dito que ns Cometemos um erro, e por isso Quer nos deixar.

    Voc parece Ter dito: se O meu olho me incomoda Eu o arranco. Com isso quis de todo modo sugerir Que se sente ligado a ns Como um homem se sente ligado A seu olho.

    Isso bonito de sua parte, camarada, mas Permita-nos chamar sua ateno para o seguinte: O homem, nessa imagem, somos ns Voc apenas o olho. E onde j se ouviu dizer que o olho Caso o homem que o possui cometa um erro Simplesmente se afaste? Onde viver ento?

    PERDA DE UM HOMEM PRECIOSO

    Voc perdeu um homem precioso. O fato de ele se afastar de voc no significa Que no seja precioso. Admita: Voc perdeu um homem precioso.

    Voc perdeu um homem precioso. Ele se afastou porque voc serve a uma boa causa E juntou-se a uma sem valor. No entanto admita: Voc perdeu um homem precioso.

    POR MUITO PROCUREI A VERDADE

  • 1

    Por muito tempo procurei a verdade sobre a vida dos homens entre si

    Esta vida muito complicada e difcil de compreender Trabalhei duramente para compreend-la. e ento Disse a verdade, como a encontrei.

    2

    Quando havia dito a verdade to difcil de encontrar Era uma verdade comum, que muitos disseram (E nem todos acham to difcil).

    3

    Pouco depois vieram pessoas em grande nmero, com pistolas distribudas

    E atiraram cegamente em todos que no tinham chapus por serem pobres

    E a todos que haviam dito a verdade sobre eles e os que os financiavam

    Expulsaram do pas no dcimo quarto ano da nossa meia-Repblica.

    4

    Tomaram-me minha pequena casa e meu carro Que eu havia ganho com muito trabalho. (Meus mveis ainda pude salvar).

    5

    Ao cruzar a fronteira pensei: Mais que de minha casa preciso da verdade. Mas preciso tambm de minha casa. E desde ento A verdade para mim como uma casa e um carro. E eles me foram tomados.

  • REALIZAR ALGO DE TIL

    Quando li que queimavam as obras Dos que procuravam escrever a verdade Mas ao tagarela George, o de fala bonita, convidaram Para abrir sua Academia, desejei mais vivamente Que chegue enfim o tempo em que o povo solicite

    a um homem desses Que num dos locais de construo dos subrbios Empurre publicamente um carrinho de mo com

    cimento, para que Ao menos uma vez um deles realize algo de til,

    com o que Poderia ento retirar-se para sempre Para cobrir o papel de letras s custas do Rico povo trabalhador.

    QUANDO ME FIZERAM DEIXAR O PAS

    Quando me fizeram deixar o pas Lia-se nos jornais do pintor Que isso acontecia porque num poema Eu havia zombado dos soldados da Primeira Guerra. Realmente, no penltimo ano da guerra Quando aquele regime, para adiar sua derrota J enviava os mutilados novamente para o fogo Ao lado dos velhos e meninos de dezessete anos Descrevi em um poema Como um soldado morto era desenterrado e Sob o jbilo de todos os enganadores do povo Sanguessugas e opressores

  • Conduzido de volta as campo de batalha. Agora que preparam uma nova Grande Guerra Resolvidos a superar inclusive as barbaridades da ltima Eles matam ou expulsam gente como eu Que denuncia Seus golpes.

    OS ESPERANOSOS

    Pelo que esperam? Que os surdos se deixem convencer E que os insaciveis Lhes devolvam algo? Os lobos os alimentaro, em vez de devor-los! Por amizade Os tigres convidaro A lhes arrancarem os dentes! por isso que esperam!

    O CAMPONS CUIDA DE SEU CAMPO

    1

    O campons cuida de seu campo Trata bem de seu gado, paga impostos Faz filhos para poupar trabalhadores E depende do preo do leite. Os da cidade falam do amor terra Da saudvel linhagem camponesa E que o campons o alicerce da nao.

    2

    Os da cidade falam do amor terra Da saudvel linhagem camponesa E que o campons o alicerce da nao. O campons cuida de seu campo Trata bem seu gado, paga impostos

  • Faz filhos para poupar trabalhadores E depende do preo do leite.

    MEU TEMPO DE RIQUEZA

    Por sete semanas de minha vida fui rico. Com os rendimentos de uma pea comprei Uma casa com um grande jardim. Eu a havia Observado durante mais tempo do que o que

    nela morei. Em diferentes horas do dia e da noite eu passava Para ver como ficavam as velhas rvores em meio relva

    ao alvorecer Ou o viveiro de carpas com musgo, numa manh

    chuvosa Para ver as sebes no pleno sol do meio-dia Os redodendros brancos tardinha, depois do

    toque do ngelus. Ento me mudei com os amigos. Meu carro Ficou sob os pinheiros. Olhamos em torno: de nenhum

    lugar Via-se os limites do jardim, os declives dos gramados E os grupos de rvores impediam que uma sebe avista

    a outra. Tambm a casa era bonita. Q escada de madeira nobre,

    tratada com percia Com degraus baixos e balaustrada de belas medidas.

    Os cmodos pintados de branco Tinham tetos de madeira lavrada. Grandes foges de

    ferro De forma graciosa, traziam imagens gravadas:

  • camponeses no trabalho. Portas macias levavam ao vestbulo ameno, com bancos

    e mesas de carvalho Suas maanetas de bronze haviam sido cuidadosamente

    escolhidas E as lajes em torno da casa de cor castanha Eram lisas, e gastas com as pisadas De antigos moradores. Que propores agradveis! Cada

    aposento diferente E cada qual o melhor. E como mudavam segundo a hora

    do dia! Mas a mudana das estaes, certamente preciosa, no

    vivemos, pois Aps sete semanas de genuna riqueza deixamos a

    propriedade; logo Fugamos atravs da fronteira.

  • AO LER MEU TEMPO DE RIQUEZA

    O prazer da posse foi forte em mim, e estou contente Por t-lo sentido. Andar por meu parque, Ter convidados Discutir planos de construo, como outros de minha

    profisso, antes de mim Tudo isso me alegrava, confesso. Mas sete semanas

    me parecem bastante. Fui embora sem lamento, ou com pouco lamento. Ao

    escrever isto J me foi difcil lembrar. Perguntando a mim mesmo Quantas mentiras estaria disposto a dizer, par

    conservar este bem Sei que no seriam muitas. Portanto, creio No foi mau Ter essa propriedade. No foi Pouco, mas existem Coisas maiores.

    NOSSOS INIMIGOS DIZEM

    Nossos inimigos dizem: A luta terminou. Mas ns dizemos: Ela comeou.

  • Nossos inimigos dizem: A verdade est liquidada. Mas ns dizemos: Ns a sabemos ainda.

    Nossos inimigos dizem: Mesmo que ainda se conhea a verdade

    Ela no pode ser mais divulgada. Mas ns a divulgamos.

    a vspera da batalha. a preparao de nossos quadros. o estudo do plano de luta. o dia antes da queda De nossos inimigos.

    EPITFIO 1919

    A Rosa Vermelha desapareceu. Para onde foi, um mistrio. Porque ao lado dos pobres combateu Os ricos a expulsaram de seu imprio.

    POEMA DO SOLDADO DESCONHECIDO SOB O ARCO DO TRIUNFO

    1

    Ns viemos das montanhas e dos sete mares Para mat-lo. Ns o prendemos com laos que iam De Moscou cidade de Marselha. Ns ajustamos canhes que o alcanavam Em qualquer ponto para onde fugisse

  • Se nos enxergasse.

    2

    Ns nos reunimos por quatro anos Abandonamos nosso trabalho e ficamos Nas cidades em runas, gritando uns aos outro Em muitas lnguas, das montanhas aos sete mares Onde ele estava. Ento o matamos no quarto ano.

    3

    Presentes estavam: Aqueles que ele havia nascido para ver sua volta na hora de sua morte: Todos ns. E presente estava Uma mulher que o havia dado luz E que silenciou quando o levamos. Que seu ventre lhe seja arrancado Amm!

    4

    E depois de t-lo matado Ns o tratamos de tal modo que perdeu o rosto Sob as marcas de nossos punhos. Assim o tornamos irreconhecvel! Para que no fosse filho de homem.

    5

    E o desenterramos de sob o ferro Levando-o para casa, em nossa cidade E o enterramos debaixo de pedra, de um arco, chamado Arco do Triunfo. Que pesa cinqenta toneladas, para que O Soldado Desconhecido de maneira nenhuma se levante no Juzo Final E irreconhecvel Embora novamente na luz

  • Caminhe diante de Deus E nos recomende, a ns, reconhecveis justia.

    CANO DO PINTOR HITLER

    1

    Hitler, o pintor de paredes Disse: Caros amigos, deixem eu dar uma mo! E com um balde de tinta fresca Pintou como nova a casa alem Nova a casa alem.

    2

    Hitler, o pintor de paredes Disse: Fica pronta num instante! E os buracos, as falhas e as fendas Ele simplesmente tapou A merda inteira tapou.

    3

    O Hitler pintor Por que no tentou ser pedreiro? Quando a chuva molha sua tinta Toda a imundcie vem abaixo Sua casa de merda vem abaixo.

  • 4

    Hitler, o pintor de paredes Nada estudou seno pintura E quando lhe deixaram dar uma mo Tudo o que fez foi um malogro E a Alemanha inteira ele logrou.

    AOS COMBATENTES NOS CAMPOS DE CONCENTRAO

    Vocs, dificilmente alcanveis Enterrados nos campos de concentrao Afastados de qualquer palavra humana Submetidos a brutalidades Espancados, mas No refutados! Desaparecidos, mas No esquecidos!

    Embora quase sem notcias de vocs, soubemos: so Incorrigveis. Indoutrinveis, dizem, to dedicados causa proletria Irremovveis, na convico de que na Alemanha

    ainda existem Dois tipos de homens: exploradores e explorados E que somente a luta de classes Pode libertar da misria as massas humanas das cidades

    e do campo. Golpes de cacete ou enforcamentos, soubemos No foram capazes de faz-los afirmar Que agora dois e dois so cinco.

    Portanto Desaparecidos, mas No esquecidos Espancados, mas No refutados Juntamente com todos os lutadores incorrigveis Indoutrinveis persistindo na verdade So, agora e sempre Os verdadeiros guias da Alemanha.

  • AO CAMARADA DIMITROFF, QUANDO LUTOU DIANTE DO TRIBUNAL FASCISTA EM LEIPZIG

    Camarada Dimitroff?

    Desde o dia em que lutas diante do tribunal fascista A voz do comunismo, cercada pelos bandos de

    matadores e bandidos da AS Atravs do rudo dos chicotes e cassetetes Fala bem alto e ntido No centro da Alemanha.

    Voz que pode ser ouvida em todas as naes da Europa Que atravs das fronteiras ouvem o que vem Do escuro, elas mesmas no escuro Mas tambm pode ser ouvida Por todos os explorados e espancados e Incorrigveis lutadores Na Alemanha. Com avareza utilizas, camarada Dimitroff, cada

    minuto Que te dado, e o pequeno lugar que Ainda pblico, utiliza-o Para ns todos.

    Mal dominando a lngua que no a tua Sempre advertido aos gritos Vrias vezes arrastado para a forca Enfraquecido com as algemas Fazes repetidamente as perguntas temidas Incrimina os criminosos e Leva-os a gritar e a te arrastar e assim Confessar que no tm razo, apenas fora E que podem te matar, mas nunca te vencer. Pois, assim como tu, resistem a essa fora Embora no to visveis Milhares de combatentes, mesmo os Ensangentados em suas celas Que podem ser abatidos Mas nunca vencido. Assim como tu, suspeitos de combater a fome

  • Acusados de revolta contra exploradores Incriminados por lutar contra a opresso Convictos Da causa mais justa.

    ELOGIO DO APRENDIZADO

    Aprenda o mais simples! Para aqueles Cuja hora chegou Nunca tarde demais! Aprenda o ABC; no basta, mas Aprenda! No desanime! Comece! preciso saber tudo! Voc tem que assumir o comando!

  • Aprenda, homem no asilo! Aprenda, homem na priso! Aprenda, mulher na cozinha! Aprenda, ancio! Voc tem que assumir o comando! Freqente a escola, voc que no tem casa! Adquira conhecimento, voc que sente frio! Voc que tem fome, agarre o livro: uma arma. Voc tem que assumir o comando.

    No se envergonhe de perguntar, camarada! No se deixe convencer Veja com seus olhos! O que no sabe por conta prpria No sabe. Verifique a conta voc que vai pagar. Ponha o dedo sobre cada item Pergunte: O que isso? Voc tem que assumir o comando.

    ELOGIO DO PARTIDO

    O indivduo tem dois olhos O Partido tem mil olhos. O Partido v sete Estados O indivduo v uma cidade. O indivduo tem sua hora Mas o Partido te muitas horas. O indivduo pode ser liquidado Mas o Partido no pode ser liquidado. Pois ele a vanguarda das massas E conduz a sua luta Com os mtodos dos Clssicos, forjados a partir Do conhecimento da realidade.

  • MAS QUEM O PARTIDO?

    Mas quem o partido? Ele fica sentado em uma casa com telefones? Seus pensamentos so secretos, suas decises

    desconhecidas? Quem ele?

    Ns somos ele. Voc, eu, vocs ns todos. Ele veste sua roupa, camarada, e pensa com a sua cabea Onde moro a casa dele, e quando voc atacado

    ele luta.

    Mostre-nos o caminho que devemos seguir, e ns O seguiremos como voc, mas No siga sem ns o caminho correto Ele sem ns O mais errado. No se afaste de ns! Podemos errar, e voc pode ter razo, portanto No se afaste de ns!

  • Que o caminho curto melhor que o longo, ningum nega

    Mas quando algum o conhece E no capaz de mostr-lo a ns, de que nos serve

    sua sabedoria? Seja sbio conosco! No se afaste de ns!

    ALEMANHA

    Que outros falem de sua vergonha, eu falo da minha

    Alemanha , plida me! Como apareces manchada Entre as naes. Entre os imundos Te destacas.

    De teus filhos o mais pobre Jaz abatido. Quando sua fome era grande Teus outros filhos Ergueram a mo contra ele. Isto ficou notrio.

    Com as mos assim erguidas Erguidas contra seu irmo Passeiam insolentes tua volta E riem na tua cara. Isto sabido.

    Em tua casa Grita-se alto a mentira Mas a verdade Tem que calar. Ento assim?

    Por que te louvam os opressores em roda, mas Os oprimidos te acusam?

  • Os explorados Te apontam com o dedo, mas Os exploradores elogiam o sistema Engenhado em tua casa!

    E nisso te vem todos Esconderes a barra do vestido, ensangentada Do sangue do teu Melhor filho.

    Ouvindo as falas que vm da tua casa, rimos. Mas quem te v, corre a pegar a faca Como vista de um facnora.

    Alemanha, plida me! Como te trataram teus filhos Que assim apareces entre os povos Um escrnio e um pavor!

    1933 1938

  • A EMIGRAO DOS POETAS

    Homero no tinha morada E Dante teve que deixar a sua. Li-Po e Tu-Fu andaram por guerras civis Que tragaram 30 milhes de pessoas Eurpides foi ameaado com processos E Shakespeare, moribundo, foi impedido de falar. No apenas a Musa, tambm a polcia Visitou Franois Villon. Conhecido como o Amado Lucrcio foi para o exlio Tambm Heine, e assim tambm Brecht, que buscou refgio Sob o teto de palha dinamarqus.

    O QUE CORROMPE

    Nos primeiros meses do domnio nacional-socialista Um trabalhador de uma pequena localidade na fronteira

    tcheca Foi condenado priso por distribuir panfletos

    comunistas Como um de seus cinco filhos havia j morrido de fome No agradava ao juiz envi-lo para a cadeia por

    muito tempo. Perguntou-lhe ento se ele no estava talvez Apenas corrompido pela propaganda comunista. No sei o que o senhor que dizer, disse ele, mas

    meu filho Foi corrompido pela fome.

    O VIZINHO

    Eu sou o vizinho. Eu o denunciei. No queremos ter aqui Nenhum agitador.

    Quando penduramos a bandeira com a sustica Ele no pendurou nenhuma bandeira. Quando lhe falamos sobre isso

  • Ele nos perguntou se no cmodo Onde vivemos com quatro crianas Ainda h lugar para um mastro de bandeira. Quando dissemos que acreditamos novamente no futuro Ele riu.

    Ns no gostamos quando o espancaram Na escada. Rasgam-lhe o avental. No era necessrio. Temos poucos aventais.

    Mas agora ele se foi, h sossego no edifcio. J temos preocupaes demais preciso ao menos haver sossego.

    Notamos que algumas pessoas Viram o rosto quando cruzam conosco. Mas Os que o levaram dizem Que agimos corretamente.

    A CRUZ DE GIZ

    Eu sou uma criada. Eu tive um romance Com um homem que era da AS. Um dia, antes de ir Ele me mostrou, sorrindo, como fazem Para pegar os insatisfeitos. Com um giz tirado do bolso do casaco Ele fez uma pequena cruz na palma da mo. Ele contou que assim, e vestido paisana Anda pelas reparties de trabalho Onde os desempregados fazem fila e xingam E xinga junto com eles, e fazendo isso Em sinal de aprovao e solidariedade D um tapinha nas costas do homem que xinga E este, marcado com a cruz branca

  • apanhado pela AS. Ns rimos com isso. Andei com ele um ano, ento descobri Que ele havia retirado dinheiro Da minha caderneta de poupana. Havia dito que a guardaria para mim Pois os tempos eram incertos. Quando lhe tomei satisfaes, ele jurou Que suas intenes eram honestas. Dizendo isso Ps a mo em meu ombro para me acalmar. Eu corri, aterrorizada. Em casa Olhei minhas costas no espelho, para ver Se no havia uma cruz branca.

    EXCLUSIVAMENTE POR CAUSA DA DESORDEM CRESCENTE

    Exclusivamente por causa da desordem crescente Em nossas cidades de luta de classes Alguns de ns decidiram agora No mais falar de cidades beira-mar, neve nos

    telhado, mulheres Cheiro de mas maduras na dispensa, as sensaes

    de carne Tudo aquilo que torna um homem redondo e humano Mas sim falar apenas da desordem E assim torna-se parcial, restrito, enredado nos negcios Da poltica e no vocabulrio indigno e seco Da economia dialtica Para que essa existncia terrvel, compacta De quedas de neve (no apenas fria, sabemos) Explorao, carne seduzida, justia de classe No produza em ns aprovao De um mundo to mltiplo, prazer Nas contradies de uma vida to sangrenta Vocs compreendem.

  • NOTCIAS DA ALEMANHA

    Soubemos que na Alemanha Nos dias da peste marrom No telhado de uma indstria de mquina, subitamente Uma bandeira vermelha tremulou no vento de

    novembro A proscrita bandeira da liberdade! Em pleno novembro cinza, do cu Caiu uma mistura de chuva e neve Mas era o dia sete: dia da Revoluo!

    E olhem: A bandeira vermelha!

    Os trabalhadores nos ptios Protegem os olhos com a mo e olham Para o telhado, em meio a chuva de neve.

    Ento passam os caminhes com tropas de choque E empurram para o muro quem est vestido como

    trabalhador E atam com cordas os punhos que tm calos E das barracas, aps o interrogatrio Saem cambaleando os espancados, ensangentados Nenhum deles revelou o nome Do homem sobre o telhado.

    E assim levam embora todos os que calam Os outros j tiveram o bastante. Mas no dia seguinte ondulou novamente

  • No telhado da indstria de mquinas A bandeira vermelha do proletariado. Novamente Ressoam pela cidade quieta Os passos das tropas de choque. Nos ptios No se avistam mais homens. H somente mulheres Com rostos de pedra: as mos protegendo os olhos Olham para o telhado, em meio chuva de neve.

    E o espancamento comea de novo. Interrogadas As mulheres dizem: Esta bandeira um lenol no qual transportamos Algum que morreu ontem. No temos culpa pela cor que ela tem. vermelha do sangue do homem assassinado, vocs

    devem saber.

  • QUANDO O CRIME ACONTECE COMO A CHUVA QUE CAI

    Como algum que chega ao balco com uma carta impor- tante aps o horrio de atendimento: o balco est fechado. Como algum que quer prevenir a cidade contra uma inun- dao, mas fala uma outra lngua: ele no compreendido. Como um mendigo que bate pela Quinta vez numa porta onde j recebeu algo quatro vezes: pela Quinta vez tem fome. Como algum cujo sangue flui de uma ferida e que espera pelo mdico: seu sangue continua saindo.

    Assim chegamos e relatamos que se cometem crimes contra ns.

    Quando pela primeira vez foi relatado que nossos amigos estavam sendo mortos, houve um grito de horror. Centenas foram mortos ento. Mas quando milhares foram mortos e a matana era sem fim, o silncio tomou conta de tudo.

    Quando o crime acontece como a chuva que cai, ningum mais grita alto!.

    Quando as maldades se multiplicam, tornam-se invisveis. Quando os sofrimentos se tornam insuportveis, no se ouvem mais os gritos. Tambm os gritos caem com a chuva de vero.

    DE QUE SERVE A BONDADE

    1

    De que serve a bondade

  • se os bons so imediatamente liquidados, ou so liquidados

    Aqueles para os quais eles so bons?

    De que serve a liberdade Se os livres tm que viver entre os no-livres?

    De que serve a razo Se somente a desrazo consegue o alimento de que

    todos necessitam?

    2

    Em vez de serem apenas bons, esforcem-se Para criar um estado de coisas que torne possvel

    a bondade Ou melhor: que a torne suprflua!

    Em vez de serem apenas livres, esforcem-se Para criar um estado de coisas que liberte a todos E tambm o amor liberdade Torne suprfluo!

    Em vez de serem apenas razoveis, esforcem-se Para criar um estado de coisas que torne a desrazo

    de um indivduo Um mau negcio!

    NO SEGUNDO ANO DA MINHA FUGA

    No segundo ano da minha fuga Li em um jornal, em lngua estrangeira Que eu havia perdido minha cidadania. No fiquei triste nem alegre Ao ver meu nome entre muitos outros Bons e maus. A sina dos que fugiam no me pareceu pior Do que a sina dos que ficavam.

  • O PASSAGEIRO

    Quando, h alguns anos Aprendi a dirigir um carro, meu instrutor Me fazia fumar um charuto; e quando Na confuso do trfego ou em curvas difceis O charuto apagava, ele me tirava o volante. Tambm contava piadas, e se eu no sorria Muito ocupado com a direo, afastava-me Do volante. Eu estava inseguro, dizia ele. Eu, o passageiro, me apavoro quando vejo O motorista muito ocupado com a direo.

    Desde ento, ao trabalhar Cuido para no ficar absorvido demais no trabalho. Dou ateno a muitas coisas em volta s vezes interrompo o trabalho para Ter uma conversa. Andar mais rpido do que o que me permite fumar algo que j no fao. Penso No passageiro.

    POR QUE DEVERIA MEU NOME SER LEMBRADO?

    1

    Outrora pensei: em tempos distantes Quando tiveram rudo as casas onde moro E apodrecido os navios em que viajei Meu nome ainda ser lembrado Juntamente com outros.

    2

    Porque louvei as coisas teis, o que No meu tempo era tido como vulgar Porque combati as religies Porque lutei contra a opresso ou Por um outro motivo.

  • 3

    Porque fui a favor dos homens e tudo Coloquei em suas mos, honrando-os assim Porque escrevi versos e enriqueci a lngua Porque ensinei o comportamento prtico ou Por qualquer outro motivo.

    4

    Por isso achei que meu nome ainda seria Lembrado, em uma pedra Estaria meu nome, retirado dos livros Seria impresso nos novos livros.

    5

    Mas hoje Concordo em que seja esquecido. Por que Perguntariam pelo padeiro, havendo po suficiente? Por que Seria louvada a neve que j derreteu Havendo outras neves para cair? Por que Deveria haver um passado, havendo Um futuro?

    6

    Por que Deveria meu nome se lembrado?

  • ANOS ATRS

    Anos atrs, quando ao estudar os procedimentos da Bolsa do Trigo de Chicago

    Compreendi subitamente como eles administravam o trigo do mundo

    E ao mesmo tempo no compreendi e abaixei o livro Logo percebi: voc Deparou com coisa ruim.

    No havia irritao em mim, e no era a injustia Que me apavorava, apenas o pensamento Assim como eles fazem no pode ser me tomou

    inteiramente.

    Essa gente, eu vi, vive do mal. Que causa aos outros, no do bem. Esta uma situao, percebi, que somente pelo crime Pode ser mantida, porque muito ruim para a maioria. Desse modo toda grande Proeza da razo, inveno ou descoberta Levar somente a uma misria ainda maior.

    Coisas assim e semelhantes pensei no momento Distante de dio ou lamento, ao abaixar o livro Com a descrio do Mercado e da Bolsa de Trigo de

    Chicago.

    Muito esforo e muito desassossego Me esperavam.

  • PARA LER DE MANH E NOITE

    Aquele que amo Disse-me Que precisa de mim.

    Por isso Cuido de mim Olho meu caminho E receio ser morta Por uma s gota de chuva.

    EM TEMPOS NEGROS

    No se dir: Quando a nogueira balanou no vento Mas sim: Quando o pintor de paredes esmagou os

    trabalhadores. No se dir: Quando o menino fez deslizar a pedra lisa

    pela superfcie da correnteza Mas sim: Quando prepararam as grandes guerras. No se dir: Quando a mulher foi para o quarto Mas sim: Quando os grandes poderes se uniram contra

    os trabalhadores. Mas no se dir: Os tempos eram negros E sim: Por que os seus poetas silenciaram?

    A DESPEDIDA

    Ns nos abraamos.

  • Eu toco em tecido rico Voc tem tecido pobre. O abrao ligeiro Voc vai para um almoo Atrs de mim esto os carrascos. Falamos do tempo e de nossa Permanente amizade. Todo o resto Seria amargo demais.

    CITAO

    O poeta Kin disse: Por que deveria eu escrever obras imortais, se no

    sou famoso? Por que deveria responder, se no sou perguntado? Por que deveria perder tempo com versos, se o tempo

    perde os versos? Escrevo minhas sugestes numa linguagem durvel Porque receio que demore at que sejam realizadas. Para que o grande seja alcanado, grandes mudanas so

    necessrias. As pequenas mudanas so inimigas das grandes

    mudanas. Eu tenho inimigos. Logo, devo ser famoso.

    O CHANCELER ABSTMIO

    Eu soube que o Chanceler no bebe No come carne e no fuma E mora em uma casa pequena. Mas tambm soube que os pobres Passam fome e morrem na misria. Bem melhor seria um Estado em que se dissesse: O Chanceler est sempre bbado nas reunies Observando a fumaa de seus cachimbos

  • Alguns iletrados mudam as leis Pobres no h.

    SOBRE A VIOLNCIA

    A corrente impetuosa chamada de violenta Mas o leito de rio que a contm Ningum chama de violento.

    A tempestade que faz dobrar as btulas tida como violenta E a tempestade que faz dobrar Os dorsos dos operrios na rua?

    SOBRE A ESTERILIDADE

    A rvore que no d frutos xingada de estril. Quem Examina o solo?

    O galho que quebra xingado de podre, mas No havia neve sobre ele?

    O CORDO PARTIDO

    P cordo partido pode ser novamente atado Ele segura novamente, mas Est roto.

  • Talvez nos encontremos de novo, mas Ali onde voc me deixou No me achar novamente.

    COMEO DA GUERRA

    Quando a Alemanha estiver armada at os dentes Uma grande injustia lhe acontecer E o tocador de tambor far sua guerra.

    Vocs, porm, defendero a Alemanha Em terras estranhas, de vocs desconhecidas E lutaro contra homens seus iguais.

    O tocador de tambor soltar disparates sobre liberdade Mas a opresso no pas ser sem igual.

    E ele poder vencer todas as batalhas Exceto a ltima.

    Quando o tocador de tambor perder sua guerra A Alemanha ganhar a sua.

  • ABLUO

    a C.N.

    Quando h alguns anos lhe mostrei Como se lavar de manh cedo Com pedacinhos de gelo na gua Da pequena tigela de cobre Submergindo o rosto, os olhos abertos Lendo as linhas difceis de seu papel Na folha presa parede, eu disse: Isto voc faz para voc mesma, faa De modo exemplar.

    Agora me dizem que voc deve estar na priso. As cartas que lhe escrevi Ficaram sem resposta. Os amigos que procurei por voc Silenciam. Nada posso fazer por voc. Como ser Sua manh? Ainda far algo para voc? Esperanosa e responsvel Com movimentos certos De modo exemplar?

  • SOBRE OS POEMAS DE DANTE A BEATRIZ

    Ainda hoje, na cripta onde jaz Aquela que ele no pde fazer sua Por mais que a seguisse pela rua Uma emoo forte seu nome nos traz.

    Pois ele cuidou de nos mant-la na memria Ao dedicar-lhe verso to sublime E no pode haver quem no se anime A acreditar inteira em sua histria.

    Ah, que mau costume ele inaugurou ento Ao cobrir de louvor arrebatado O que havia apenas visto e no provado!

    Desde que versejou a uma simples viso Tudo de aparncia bela e casta, a qualquer ensejo Cruzando uma praa, tornou-se objeto de desejo.

  • POEMAS CHINESES

    AMIGOS

    Se viesse em um coche E eu vestisse um traje de campons E nos encontrssemos um dia na rua Descerias e farias reverncia. E se vendesse gua E eu viesse montado em um cavalo E nos encontrssemos um dia na rua Desceria eu a te cumprimentar.

    Poeta desconhecido (ca. 100 A.C.)

    A GRANDE COBERTA

    O governador, perguntado por mim sobre o que seria necessrio

    Para socorrer os que tm frio em nossa cidade Respondeu: Uma coberta, comprida de dez mil ps Que cubra simplesmente todo o subrbio.

    Po Chu-yi (772-846)

    O MERCADO DE FLORES

    Na Capital Imperial a primavera est quase no fim Quando as ruas se enchem de coches e cavaleiros:

    chegou

  • O tempo das penias. E ns nos misturamos Ao povo que aflui ao mercado de flores.

    Aproximem-se! Escolham suas flores deste ano. Preos diversos. Quanto mais botes, naturalmente, mais alto o preo. Essas brancas cinco peas de seda. Essas vermelhas vinte cvados de brocado. Para proteger do sol um sombreiro Contra a geada a cesta de algodo. Salpicadas de gua e as razes cobertas de lama Transplantadas conservaro a beleza. Sem pensar, cada famlia segue o caro costume. Um velho agricultor, vindo cidade para Ir a duas ou trs reparties, ouvimos suspirar Balanando a cabea. Ele pensava talvez: Um buqu dessas flores Pagaria os impostos de dez cidades pobres.

    Po Chu-yi

    O DRAGO DA LAGOA NEGRA

    Profundas so as guas da lagoa negra E cor de chumbo. Dizem que um drago sagrado Mora aqui. Olhos humanos Jamais o viram, mas prximo lagoa Construiu-se um santurio, e as autoridades Organizaram um ritual. Um drago Pode continuar drago, mas os homens Podem fazer dele um deus. Os habitantes da aldeia Vem boas e ms colheitas Nuvens de gafanhotos e comisses do governo Impostos e pestes como desgnios do drago sagrado. Todos sacrificam a ele Pequenos leites e jarras de vinho, segundo os conselhos

  • De um deles, que possui poderes. Ele determina tambm as oraes da manh E os hinos do fim da tarde.

    Salve, Drago de muitas ddivas! Bem-aventurados sejas, Vencedor Salvador da ptria, s Eleito entre os drages, e eleito Entre todos os vinhos o vinho do sacrifcio.

    H pedaos de carne nas pedras em volta da lagoa. A grama diante do santurio est manchada de vinho. No sei quanto de suas ddivas O drago come. Mas os ratos dos arbustos E as raposas dos montes esto sempre bbados e fartos. Por que esto assim felizes as raposas? Que fizeram os pequenos leites Para que sejam mortos ano aps ano, somente Para agradar s raposas? O drago sagrado Na profundeza mil vezes escura de sua lagoa Sabe ele que as raposas o roubam, e comem seus

    pequenos leites? Ou no sabe?

    Po Chu-yi UM PROTESTO NO SEXTO ANO DE CHIEN FU

    Os rios e morros da plancie Transformais em vosso campo de batalha. Como, pensais, o povo que aqui vive Poder se abastecer de madeira e feno? Poupai-me por favor vosso palavreado De nomeaes e ttulos. A reputao de um nico general Significa: dez mil cadveres.

    Tsao Sung (870-920)

  • NOTCIA SOBRE UM NUFRAGO

    Quando o nufrago pisou em nossa ilha Chegou como algum que alcanou seu destino. Quase acredito que ao nos ver A ns que havamos corrido a ajud-lo Ele imediatamente sentiu compaixo. J desde o incio Ocupou-se apenas de nossas coisas. Com a experincia do seu naufrgio Ensinou-nos a velejar. Mesmo coragem Ele nos instilou. Das guas tempestuosas Falava com grande respeito, talvez Por terem vencido um homem como ele. Sem dvida Haviam assim revelado muitos de seus truques. Este conhecimento faria de ns, alunos dele Homens melhores. Sentindo falta de certas comidas Ele melhorou nossa cozinha. Embora visivelmente insatisfeito consigo Jamais se deixou ficar satisfeito com o estado de coisas Em torno dele e de ns. Nunca, porm Durante todo o tempo em que passou conosco Ouvimo-lo queixar-se de outro algum que no

    ele mesmo. Morreu de uma velha ferida. J no leito Experimentou um novo n para nossas redes. Assim Morreu aprendendo.

  • SOBRE A DECADNCIA DO AMOR

    Suas mes deram luz com dor, mas suas mulheres Concebem com dor.

    O ato do amor No mais vingar. O ajuntamento ainda ocorre, mas O abrao um abrao de lutadores. As mulheres Ergueram o brao em defesa, enquanto So cingidas por seus possuidores.

    A rstica ordenhadora, conhecida Por sua capacidade de no abrao Sentir prazer, olha com desprezo Suas infelizes irms vestidas em peles Que recebem por cada meneio do traseiro bem-cuidado.

    A fonte paciente Que deu de beber a tantas geraes V com horror como a ltima Lhe bebe a poro com expresso amarga.

    Todo animal sabe faz-lo. Entre esses tido como uma arte.

  • ELOGIO DO ESQUECIMENTO

    Bom esquecimento! Seno como se afastaria o filho Da me que o amamentou? Que lhe deu a fora dos membros E o impede de experiment-la.

    Ou como deixaria o aluno O professor que lhe deu o saber? Quando o saber est dado O aluno tem que se pr a caminho.

    Para a velha casa Mudam-se os novos moradores. Se os que a construram ainda l vivessem A casa seria pequena demais.

    O forno esquenta. J no se sabe Quem foi o oleiro. O plantador No reconhece o po.

    Como se levantaria pela manh o homem Sem o deslembrar da noite que desfaz o rastro? Como se ergueria pela stima vez Aquele derrubado seis vezes Para lavrar o cho pedroso, voar O cu perigoso?

    A fraqueza da memria D fora ao homem.

    DOS POEMAS DE SVENDBORG

    No abrigo desse teto de palha dinamarqus, amigos

    Eu sigo sua luta. Mando-lhes aqui Como vez e outra no passado, estes versos

  • despertados Por vises sangrentas, vindas sobre o mar e atravs

    da folhagem. O que lhes chegar, usem com cautela. Livros envelhecidos, fragmentos de relatos So minhas fontes Vendo-nos novamente Com prazer quero voltar a aprender.

    Svendborg, 1939

    CARTILHA DE GUERRA ALEM

    O PINTOR FALA DA GRANDE POCA POR VIR As florestas ainda crescem. Os campos ainda produzem. As cidades ainda existem. Os homens ainda respiram.

    QUANDO O PINTOR FALA SOBRE A PAZ ATRAVS DOS ALTO-FALANTES Os trabalhadores de construo olham para As auto-estradas e vem

  • Cimento profundo, prprio Para tanques pesados.

    O pintor fala de paz. Aprumando as costas doloridas As mos grossas em cubos de canhes Os fundidores o escutam.

    Os pilotos dos bombardeiros Desaceleram os motores e ouvem O pintor falar de paz.

    Os madeireiros param no silncio dos bosques Os camponeses deixam de lado o arado e colocam a mo

    atrs do ouvido As mulheres que levam a comida para o campo se

    detm: No terreno revolvido h um carro com amplificador.

    De l se ouve O pintor pedir paz.

    OS DE CIMA DIZEM: GUERRA E PAZ So de substncia diferente. Mas a sua guerra e a sua paz So como tempestade e vento.

    A guerra nasce da sua paz Como a criana da me Ela tem Os mesmos traos terrveis.

    A sua guerra mata O que sua paz Deixou de resto.

    NO MURO ESTAVA ESCRITO COM GIZ: Eles querem a guerra. Quem escreveu J caiu.

  • OS DE CIMA Juntaram-se em uma reunio. Homem da rua Deixa de esperana.

    Os governos Assinaram pactos de no-agresso. Homem da rua Assina teu testamento.

    QUANDO OS DE CIMA FALAM DE PAZ A gente pequena Sabe que haver guerra.

    Quando os de cima amaldioam a guerra As ordens de alistamento j esto preenchidas. A GUERRA QUE VIR No a primeira. Antes dela Houve outras guerras. Quando a ltima terminou Havia vencedores e vencidos. Entre os vencidos o povo mido Sofria fome. Entre os vencedores Sofria fome o povo mido.

    OS DE CIMA DIZEM QUE NO EXRCITO Reina fraternidade. A verdade disso se percebe Na cozinha. Nos coraes deve haver O mesmo nimo. Mas nos pratos H dois tipos de comida.

    NO MOMENTO DE MARCHAR, MUITOS NO SABEM Que seu inimigo marcha sua frente. A voz que comanda a voz de seu inimigo. Aquele que fala do inimigo ele mesmo o inimigo.

  • GENERAL, TEU TANQUE UM CARRO PODEROSO Ele derruba uma floresta e esmaga cem homens. Mas tem um defeito: Precisa de um motorista.

    General, teu bombardeiro poderoso. Ele voa mais veloz que um vendaval e carrega

    mais carga que um elefante. Mas tem um defeito: Precisa de um engenheiro.

    General, o homem muito til. Ele pode voar e pode matar. Mas tem um defeito: Pode pensar.

    QUANDO A GUERRA COMEAR Seus irmos se transformaro talvez De modo que seus rostos no sero reconhecveis. Mas vocs devem permanecer os mesmos.

    Eles iro guerra, mas No como uma matana, e sim Como a um trabalho srio. Tudo Tero esquecido. Mas vocs Nada devero Ter esquecido.

    Vocs recebero aguardente na garganta Como todos os outros. Mas devero permanecer sbrios.

  • BALADA DA PROSTITUTA DE JUDEUS MARIE SANDERS

    1

    Uma lei fizeram em Nuremberg Que fez chorar muitas mulheres Que deitavam com o homem errado.

    A carne sobe nas cidades Os tambores batem com fora Deus do Cu, se planejam fazer algo Ser esta noite.

    2

    Marie Sanders, teu namorado Tem o cabelo negro demais. Melhor no ires hoje com ele Como fosse ontem.

    A carne sobe na cidades Os tambores batem com fora Deus do Cu, se planejam fazer algo Ser esta noite.

    3

    Me, me d a chave No pode ser to ruim. A lua brilha como sempre.

    A carne sobe nas cidades Os tambores batem com fora Deus do Cu, se planejam fazer algo Ser esta noite.

    4

    Uma manh, s nove horas

  • Levaram-na pela cidade Em camisola, um cartaz sobre o peito, cabea raspada. A rua urrava. Ela Olhava friamente.

    A carne sobe nas cidades Streicher fala hoje noite. Deus meu, tivssemos ouvidos para ouvir Saberamos o que faro conosco.

    CANES INFANTIS

    O ALFAIATE DE ULM (Ulm, 1592)

    Bispo, eu sei voar Disse ao bispo o alfaiate. Olhe como eu fao, veja! E com um par de coisas Que bem pareciam asas Subiu ao grande telhado da igreja.

    O bispo no ligou. Isso um disparate Voar para os pssaros O homem nunca voou Disse o bispo ao alfaiate.

    O alfaiate faleceu Disseram ao bispo as pessoas. Era tudo uma farsa. Sua asa partiu E ele se destruiu Sobre o duro cho das praa.

    Faam tocar os sinos Aquilo foi inveno Voar s para os pssaros Disse o bispo aos meninos Os homens nunca voaro.

    O MENINO QUE NO QUERIA TOMAR BANHO

  • Era uma vez um menino Que no queria tomar banho E quando lhe davam banho, ele rapidinho Ia se lambuzar na lama.

    Um dia veio o Soberano Subindo pela longa escada. A me correu a passar o pano No menino de cara enlameada.

    Mas no havia pano nem toalha. O Imperador partiu E o menino no o viu Por essa ele no esperava!

    A AMEIXEIRA

    No pomar tem uma ameixeira To pequena, que ningum faz f. Em volta dela h uma cerca Que pra ningum botar o p.

    A pequenina no pode crescer Pois crescer ela queria bem Mas a nada se pode fazer To pouco sol que ela tem.

    Nessa ameixeira ningum faz f Porque nunca deu uma ameixinha. Mas que uma ameixeira, isso : Pelas folhas a gente advinha!

  • PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE L

    Quem construiu a Tebas de sete portas? Nos livros esto nomes de reis. Arrastaram eles os blocos de pedra? E a Babilnia vrias vezes destruda Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas Da Lima dourada moravam os construtores? Para onde foram os pedreiros, na noite em que

    a Muralha da China ficou pronta? A grande Roma est cheia de arcos do triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem Triunfaram os Csares? A decantada Bizncio Tinha somente palcios para seus habitantes? Mesmo

    na lendria Atlntida Os que se afogavam gritaram por seus escravos Na noite em que o mar a tragou.

    O jovem Alexandre conquistou a ndia. Sozinho? Csar bateu os gauleses. No levava se quer um cozinheiro? Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada Naufragou. Ningum mais chorou?

  • Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos. Quem venceu alm dele?

    Cada pgina uma vitria. Quem cozinhava o banquete? A cada dez anos um grande homem. Quem pagava a conta?

    Tantas histrias. Tantas questes.

    A SANDLIA DE EMPDOCLES

    1

    Empdocles de Agrigento Tendo conquistado as homenagens de seus concidados Juntamente com a fraquezas da idade Resolveu morrer. Amando porm Alguns poucos, pelos quais era tambm amado No quis diante deles perecer Mas apenas desaparecer. Convidou-os a um passeio, no todos Um ou outro deixou de lado, de modo a Incluir o acaso Na escolha e na empresa. Escalaram o Etna. O esforo da escalada Fez com que calassem. Nenhum sentiu falta Das palavras sbias. Em cima Recobraram o flego, voltando ao pulso normal Ocupados com a vista, contentes em alcanar o fim. O mestre deixou-os, sorrateiro. Ao retornarem a conversa, nada Perceberam de incio, somente depois Aqui e ali faltava uma palavra, ento olharam em torno

    em busca dele. Que no entanto h muito andava para o topo No muito apressado. Por um momento Parou, e ouviu Quo longe l embaixo

  • A conversa recomeava. Palavras isoladas No mais se compreendia: o morrer tivera incio. Em p na borda da cratera Rosto voltado, no desejando saber mais O mais que no lhe concernia, o velho abaixou-se

    lentamente Desatou cuidadoso uma sandlia Lanou-a a alguns passos, de modo que no fosse Achada cedo demais, mas a tempo, isto Antes de apodrecer. Ento somente Foi para a cratera. Quando seus amigos Sem ele, buscando-o, retornaram Principiou aos poucos, por semanas e meses A sua morte, assim com a desejara. Ainda Esperavam por ele alguns, enquanto outros Davam-no por morto. Ainda alguns Guardavam as perguntas para a sua volta, enquanto

    outros Buscavam eles mesmos a soluo. Lentamente, como as

    nuvens

    Que no cu se distanciam, inalteradas, apenas diminuindo

    Retrocedendo quando no observadas, mais distantes Quando novamente procuradas, talvez j com outras

    confundidas Assim se distanciou ele dos hbitos dos homens,

    de modo habitual Nisto cresceu um boato. Ele no havia morrido, pois no era mortal, dizia-se. Mistrio o envolvia. Foi considerado possvel Que algo houvesse alm da coisa terrena, que

    o curso humano pudesse Ser mudado para o indivduo: falas assim surgiram. Mas por esse tempo foi achada a sua sandlia, a de couro A tangvel, surrada, terrena! Deixada para aqueles que Quando no vem, comeam de imediato a crer. O fim de seus dias. Era de novo natural. Ele morrera como qualquer um.

    2

    Outros, porm, descrevem o acontecido De outra maneira: esse Empdocles, dizem Tentou realmente assegurar-se honras divinas

  • E com um misterioso desvanecimento, com uma esperta No-testemunhada queda no Etna, quis instituir a lenda De no ser de espcie humana, no ser submisso s leis do declnio. A, no entanto, Sua sandlia lhe pregara a pea de cair em mos

    humanas. (Alguns afirmam mesmo que a prpria cratera, irritada Com tal ao, simplesmente vomitou A sandlia do corrompido.) Mas ns preferimos

    acreditar: Se ele no tirou realmente a sandlia, havia Esquecido nossa estupidez, no havia pensado em como

    nos apressamos Em obscurecer a escurido, e em como preferimos crer No sem-sentido a procurar a causa suficiente. E ento

    a montanha Certamente no indignada com tal negligncia ou

    mesmo acreditando Que ele nos quisesse iludir para colher honras divinas (Pois a montanha em nada cr, e conosco no se ocupa) Mas decerto vomitando fogo como sempre teria Nos lanado a sandlia, e assim, de repente, os

    discpulos J ocupados em pressentir grandes mistrios E tecer fundas metafsicas, ocupados em demasia! Seguravam aflitos a sandlia do mestre nas mos, a

    tangvel Surrada, de couro, terrena.

    VISITA AOS POETAS BANIDOS

    Quando penetrou em sonho Na cabana dos poetas banidos, vizinha cabana dos mestres banidos (de onde Ouviu briga e gargalhada), veio-lhe ao encontro Ovdio, e disse-lhe a meia-voz:

  • Melhor no sentares. Ainda no morreste. Quem sabe Ainda no retornas? E sem que nada mude Seno tu mesmo. Porm, consolo nos olhos Aproximou-se Po Chu-yi e disse sorridente: O rigor Fez por merecer todo aquele que uma s vez

    deu nome injustia. E seu amigo Tu-fu disse suave: Compreendes, o

    desterro No o lugar onde se desaprende o orgulho. Mas,

    mais terreno Interps-se o maltrapilho Villon, e perguntou: Quantas Portas tem a casa onde moras? E tomou-o Dante pelo

    brao E levando-o para o lado murmurou: Teus versos Esto cheios de erros, amigo, considera Quem est contra ti! E Voltaire berrou de l: Cuida dos tostes, seno te matam de fome! E usa gracejos! , gritou Heine. No ajuda, Esbravejou Shakespeare, quando veio Jac Tambm eu no pude mais escrever. Se houver

    processo Toma um patife como advogado!, aconselhou

    Eurpides Pois ele conhece os furos nas malhas da lei. A

    gargalhada Ainda soava, quando do canto mais escuro Veio um grito: Escuta, sabem eles tambm Os teus versos de cor? E eles que sabem Escaparo perseguio? Estes so Os esquecidos, disse Dante em voz baixa Foram-lhes destrudos no s os corpos, mas tambm

    as obras. A gargalhada cessou. Ningum ousou olhar na direo.

    O recm-chegado Empalideceu.

    PARBOLA DE BUDA SOBRE A CASA INCENDI