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10. Inflação e Planos de Estabilização 10.2. Planos de estabilização – Brasil Lopes&Rossetti (2009: cap. 6) Modenesi (2005: cap.4.3, 5.2.2 e 5.3) 22/06/2018 1

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Planos heterodoxos de estabilização

10. Inflação e Planos de Estabilização

10.2. Planos de estabilização – Brasil

Lopes&Rossetti (2009: cap. 6)Modenesi (2005: cap.4.3, 5.2.2 e 5.3)

22/06/2018 1

Planos heterodoxos de estabilização

Histórico

Até o advento do Real, a história econômica do Brasil é marcadapor longos períodos de elevada taxa de inflação.

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Histórico de Inflação (1980-1994)

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Planos heterodoxos de estabilização

Planos de Estabilização

• Plano Cruzado (02/1986 a 02/1987)

o Cruzadinho (07/1986)

o Cruzado II (11/1986)

• Plano Bresser (1987)

o “Política do Feijão com Arroz” (1988)

• Plano Verão (01/1989)

• Plano Collor I (03/1990)

• Plano Collor II (02/1991)

• Plano Real (06/1994)

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Planos heterodoxos de estabilização

Plano Cruzado

Quadro de estagflação

• Choque ortodoxo:

Causa central seria expansão monetária excessiva associada aodesequilíbrio crônico dos orçamentos públicos e proposição de cortenos gastos públicos e aumento de impostos, com desindexação daeconomia e liberalização de preços.

• Choque Heterodoxo: Francisco Lopes, PUC-Rio

Enfatizavam a estrutura oligopolista, conflito distributivo e osmecanismos inerciais de indexação, propondo extinção da correçãomonetária por meio do congelamento geral de preços.

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Planos heterodoxos de estabilização

Debate teórico

Quadro de estagflação

• Moeda Indexada - André Lara Resende e Pérsio Arida (PUC-Rio)

Dever-se-ia desindexar a economia através da introdução deuma moeda indexada que circularia paralelamente à moedaoficial (Real) x congelamento que “engessava” a economia,eliminando o mecanismo de autorregulação dos mercados viapreços e causando distorções alocativas.

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Planos heterodoxos de estabilização

Plano Cruzado

Medidas:

• Extinção do cruzeiro e introdução do cruzado, com paridadede Cz$ 1 = Cr$ 1000 e conversão diária ajustada pelo prazo deum ano.

• Extinção da correção monetária generalizada, permanecendoindexados apenas depósitos em poupança.

• Congelamento total de tarifas e preços públicos e privados

• Câmbio fixo

• Correção dos salários sincronizados pela perda do poderaquisitivo médio dos últimos seis meses.

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Planos heterodoxos de estabilização

Plano Cruzado

Resultados: deterioração das condições econômicas

• Desaceleração ainda maior do crescimento com focos dedesempregos setoriais

• Desabastecimento interno

• Acentuação do processo inflacionário

• Deterioração das contas externas, conduzindo à moratóriados juros da dívida externa a credores privados

• Piora na distribuição de renda.

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Planos heterodoxos de estabilização

Plano Cruzado

Causas

• Expansão excessiva da demanda agregada (monetizaçãoacompanhada da expansão da oferta de moeda, diferimento daarrecadação fiscal e alongamento do congelamento)

• Desarticulação dos suprimentos intersetoriais (congelamentoexcessivamente longo sem negociações interindustriais).

• Manutenção do déficit público (congelamento de preços etarifas públicas, manutenção da estrutura de receitas edespesas) e sua monetização.

• Reintrodução da espiral salários-preços (gatilho salarial)

• Comprometimento da liquidez internacional (câmbio fixo portempo excessivo, piora na BC, diminuição das reservas emoratória nos juros).

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Planos heterodoxos de estabilização

Plano Bresser

Objetivava promover choque deflacionário combatendo inflaçãoinercial e de demanda – plano híbrido com elementos ortodoxose heterodoxos.

• (H) Congelamento total de preços e salários no nível vigentepor 3 meses, flexibilização e descongelamento subsequente.

• (O) Política fiscal e monetária rigorosas: elevação dos jurosreais para contrair o consumo e evitar especulação comestoques e redução do déficit público através de aumentos detarifas, eliminação de subsídios e redução dos gastoscorrentes e investimentos.

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Planos heterodoxos de estabilização

Plano Bresser

Resultados

Houve uma majoração defensiva diante da expectativa do novocongelamento e aumentos nos preços administrados e tarifas públicas.

As perdas salariais levaram a reajustes antecipados, com acordos dereposição salarial inclusive dentro do próprio governo.

A inflação registrada durante o congelamento não podia ser atribuídaa pressões de demanda (houve perdas salariais e elevação dos jurosreais), e sim a um conflito distributivo de rendas no setor privado eentre os setores privado e público.

Melhor resultado foi das contas externas com a flexibilização docâmbio. O desaquecimento da demanda interna e o restabelecimentoda confiança na política cambial, após a reinstituição dasminidesvalorizações diárias, deram novo impulso às exportações. Abalança comercial voltou a ser superavitária.

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Planos heterodoxos de estabilização

Plano Verão

Insucesso do gradualismo no combate à inflação levou àradicalização das propostas de desindexação – programa híbrido:

(O) Contração da demanda agregada por meio de taxas de jurosreais elevadas, restrição de crédito, redução de despesas decusteio, reforma administrativa, redução das despesas depessoal, redução do setor produtivo estatal (privatizações),limitações a emissões de títulos pelo governo.

(H) Congelamento de preços e salários aos níveis de 15 dejaneiro de 1989 por tempo indeterminado. Anunciaram-se navéspera, contudo, aumentos para os preços públicos eadministrados. A base do IPC foi deslocada para 15 de janeiro.

Mudança na unidade monetária (Cruzado Novo): Cz$1000 =NCz$ 1 = US$ 1

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Planos heterodoxos de estabilização

Plano Verão

Resultados

Ano de eleições presidenciais, o ajuste fiscal, na prática, nãoocorreu. Para compensar, governo manteve jurosexcessivamente elevados, o que agravou desequilíbrio fiscal.

Elevados juros foram incapazes de conter o movimento deantecipação do consumo movido pelo temor do fim docongelamento e pela elevação da renda das aplicaçõesfinanceiras.

Trabalhadores começaram a reivindicar reposições salariais paracompensar sucessivas perdas geradas pelas mudanças deíndices, com intensificação dos movimentos grevistas.

A inflação baixou no primeiro mês (fevereiro), mas já em marçoentrou em rota ascendente.

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Planos heterodoxos de estabilização

Choques de estabilização

Os choques de estabilização se mostraram perversos:

• os congelamentos perdem eficácia (menos abrangentes emais curtos);

• diante da ameaça de uma nova escalada inflacionária, osagentes praticam reajustes mais freqüentes para defendersuas participações na renda;

• as bruscas variações da inflação nos ciclos“congelamento/flexibilização” provocam redistribuições derenda e

• com o aumento da incerteza, têm reflexos negativos sobre osinvestimentos.

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Planos heterodoxos de estabilização

Plano Collor I

Componentes ortodoxos e heterodoxos pautados em ajustesfiscal e monetário.

• Fiscal: incremento da tributação, redução do investimentopúblico, corte de subsídios, reforma administrativa pararedução de gastos de custeio e reforma patrimonial comprivatizações.

• Monetário: compressão da oferta de moeda, sequestro deativos financeiros, reduzindo a liquidez da economia, eelevação dos juros.

Reaceleração da inflação: correção de preços públicosdefasados, repasse de custo por pressão de cartéis, choques deoferta (conflito Golfo Pérsico), exacerbação dos conflitosdistributivos internos, inércia inflacionária.

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Planos heterodoxos de estabilização

Plano Collor II

Componentes mistos, mas conteúdo heterodoxo mais pronunciado.

• Congelamento de preços, com clausula de flexibilizaçãomediante análise de estrutura de custo

• Conversão dos salários à média real dos últimos doze meses

• Extinção dos indexadores oficiais

• Criação dos Fundos de Aplicação Financeira com objetivo dealongar as aplicações de curto prazo.

• Deflacionamento de dívidas contraídas nos cinco mesesanteriores

• Ajuste fiscal com revogação de subsídios e ajuste de tarifaspúblicas, corte de custeio e controle orçamentário das estatais eaprofundamento do programa de privatização.

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Planos heterodoxos de estabilização

Plano Collor II

Resultados efêmeros em função depois de cinco planos em seisanos levou a sociedade a desenvolver mecanismos de respostaaos congelamentos, contingenciamentos e tabelamentoscoercitivos, combinado ao enfraquecimento da estruturaburocrática do governo para controle dos preços.

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Planos heterodoxos de estabilização

Plano Real

• Criação da URV: separação da função de unidade de conta,exercida pela Unidade Real de Valor, da função de meio depagamento, exercida pela moeda corrente, o cruzeiro real, CR$,enquanto a função de reserva de valor permanecia por meio deindexação com correção diária pela URV corrigida por umacomposição de índices de preços.

• Arquitetura conceitual: progressiva conversão dos preços à novamoeda de conta por meio de adesão voluntária, manutenção deequilíbrio entre débitos e haveres, coordenação decisória.

• Processo de estabilização: substituição do meio circulante,controle da oferta de moeda (recomposição do CMN), restriçãoà liquidez, sustentação do câmbio e abertura da economia,acompanhado de processo de ajuste fiscal.

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Planos heterodoxos de estabilização

Plano Real - Desindexação

Partiu-se do princípio de que para acabar com a inflação erapreciso zerar a memória inflacionária. Mas, em vez da utilização decongelamento de preços, a desindexação seria feita de formavoluntária, através de uma quase moeda.

Assim, a URV começou a vigorar a partir do dia 1º de março de1994. Entre 1º de março e 30 de junho, o Banco Central fixoudiariamente a paridade entre o cruzeiro real e a URV, tendo porbase a perda do poder aquisitivo do cruzeiro real.

Para evitar que ocorresse a fuga da “moeda velha” para a “nova”,estipulou-se que, simplesmente, não existiria uma “nova moeda”,mas apenas uma nova unidade de conta.

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Planos heterodoxos de estabilização

Plano Real - Desindexação

No momento da transação convertia-se o preço da mercadoria expressoem URV em CR$ pela cotação do dia da URV. Com isso, a inflação persistiana moeda em circulação (CR$), mas não na unidade de conta, cujo valorera corrigido pela própria inflação da moeda ruim.

As correções dos valores das mercadorias em URV (para cima ou parabaixo) refletiam o processo de disputa dos agentes pela participação narenda, ou seja, o processo de ajustamento dos preços relativos, quecorrespondia justamente ao objetivo dessa fase, para evitar choquesposteriores. O voluntarismo na adesão à urverização dos contratosreforçava a ideia de que o Plano Real respeitava, ao máximo, osmecanismos de mercado.

Quando praticamente todos os preços estavam expressos em URV, ogoverno introduziu a nova moeda, o Real (R$), em 1º de julho, cujo valorera igual ao da URV do dia: CR$ 2.750,00. Todos os preços em CR$ eramconvertidos em R$, dividindo-se pelo valor da URV do “dia D”.

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Planos heterodoxos de estabilização

Plano Real – Nova Moeda

Originalmente, previa-se concessão de poder liberatório à unidadede conta e estabelecimento das regras de emissão e lastreamentoda nova moeda (real) de forma a garantir a sua estabilidade.

Com o controle da demanda e da expansão monetária, limitar-se-iaa capacidade dos agentes de repassar custos para preços – âncoramonetária. No entanto, as metas monetárias foram ultrapassadas,por motivos como a remonetização da economia e entrada dedivisas, que elevou demasiadamente a demanda por moeda.

Em contexto de liquidez abundante, a estabilização acabou sendofeita por meio do uso dos juros elevado e do câmbio valorizadocomo âncora para os preços – âncora cambial.

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Planos heterodoxos de estabilização

Histórico

• 1995-2003

Pós-Plano Real: entre 1995 e 1998 a inflação recuou, mas foipressionada pelo ajuste do câmbio em 1999, quando foiintroduzido o Regime de Metas de Inflação.

Em 2002, o câmbio volta a subir devido a instabilidade políticainterna, pressionando a inflação, mas a combinação de umapolítica monetária restritiva com o arrefecimento das tensõespolíticas conseguiram manter a inflação sob controle.

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