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10ANOSDA ZONAEURO BALANÇO E PERSPECTIVAS

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10 ANOS DA ZONA EUROBALANÇO E PERSPECTIVAS

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EDITORIAL

10 ANOS DA ZONA EURO: BALANÇO E PERSPECTIVAS

A história económica tem sido marcada por uma contínua disputa entre devedores e credores quanto à natureza do dinheiro enquanto medida de valor económico. Enquanto os devedores têm consistentemente professado a criação de mais dinheiro com vista a desinflacionar o valor real das suas dívidas, os credores têm pretendido uma restrição no fluxo monetário para assim preservar o valor real dos seus créditos. Com vista a aliviar as tensões decorrentes desta divergência de interesses, os países têm criado limites à criação de moeda, estabelecendo bancos centrais independentes e pré-definindo objectivos para o nível de inflação.

Historicamente, mudanças no sistema monetário têm coincidido com crises económicas de relevo. Mais recentemente, o fim do padrão ouro-dólar nos anos 70 alterou a natureza da moeda dado que o papel do dólar, enquanto medida de valor, tornou-se crescentemente menos claro. A resultante diminuição das restrições à dívida levou a um enorme crescimento desta, acumulando, assim, o mundo, mais reivindicações a riqueza do que a riqueza disponível.

Nos Estados Unidos, anos de dinheiro fácil resultante da política monetária expansionista da Reserva Federal norte-americana criaram um ambiente de crédito barato e taxas de juro reais negativas que, por sua vez, deram lugar a que tanto credores como devedores corressem riscos excessivos, o que resultou num crescimento descontrolado dos níveis de dívida.

Na China, a ausência de um mercado internacional aberto para o Renminbi impediu esta moeda de se valorizar como seria noutras circunstâncias consequência do enorme crescimento das exportações do país. Como resultado, o ciclo de exportação foi artificialmente prolongado, o que levou não só a inflação mas, também, à acumulação de enormes reservas

de capitais estrangeiros. Estas reservas foram, em grande medida, investidas em títulos de dívida norte-americanos, reduzindo artificialmente o rendimento destas e exacerbando, assim, o ambiente de crédito fácil vivido nos Estados Unidos.

Na Europa, a maioria dos especialistas concorda que o quadro legal do Euro parece ter-se apresentado defeituoso desde o primeiro momento. Os Estados Membros da Zona Euro passaram a partilhar a mesma moeda e a mesma política monetária supervisionada pelo BCE, mantendo, porém, cada país, uma política fiscal própria. Os países da periferia europeia, passaram, assim, a ter acesso a dinheiro emprestado a taxas equivalentes àquelas praticadas em relação à Alemanha e iniciaram um incontrolável processo de crescente recurso a empréstimos, tornando-se, em consequência, sucessivamente menos competitivos, sobretudo devido ao facto do crescimento da despesa não ser acompanhado por um crescimento da produção.

A Europa encontra-se actualmente perante sérias dificuldades financeiras, tendo as maiores economias imposto austeridade fiscal às economias periféricas como contrapartida a pacotes de ajuda financeira, causando, assim, um abrandamento no crescimento económico e, em alguns casos ,potenciais recessões económicas. A maior parte dos especialistas concorda que a relutância do Banco Central Europeu (BCE) em agir nos primórdios da crise, resistindo a compensar a política de austeridade fiscal com uma política monetária próxima do modelo norte-americano de alívio quantitativo e optando, ao invés, por subir taxas de juro duas vezes enquanto diminuiu o seu balanço, pode ter agravado a crise da dívida. Mais tarde o BCE alterou o rumo da sua política, decidindo-se por uma descida da taxa de juro e uma expansão do seu balanço através da compra de títulos de dívida de países periféricos.

Ricardo OliveiraSócio Coordenador da

Área de Prática de Direito Europeu e da Concorrência

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10 ANOS DA ZONA EURO: BALANÇO E PERSPECTIVAS

Apesar das recentes medidas do BCE terem ajudado a estabilizar os mercados financeiros, uma recuperação definitiva da confiança exige soluções estruturais de longo prazo. Várias sugestões têm sido apresentadas por analistas e especialistas em mercados financeiros, parecendo ter-se formado um consenso em redor de uma solução que passe por um modelo que combine um esquema de responsabilidade solidária pela dívida com as medidas necessariamente a ele associadas (por exemplo, a criação de um sistema de receitas fiscais comum, a coordenação de políticas económicas e a emissão de dívida conjunta). Tal pode, porém, não ser realizável a curto prazo, tendo em conta as condicionantes políticas existentes na Europa. Acresce que a criação de títulos de dívida “federal” europeus pode não ser suficiente para eliminar o fosso entre as economias do centro da Europa e as economias periféricas em termos de competitividade. Uma vez que as economias periféricas não podem simplesmente desvalorizar a sua moeda e, assim, diminuir o valor real das suas dívidas através do recurso à inflação, as únicas alternativas disponíveis parecem ser o crescimento ou o incumprimento. O crescimento parece improvável no curto prazo, visto que fazer regressar os países periféricos a níveis competitivos exigiria medidas como um corte

substancial de salários reais que seriam negativas não só para os cidadãos destes países como para as economias de onde estes importam bens e serviços. Por seu turno, o incumprimento não é uma opção realista para os já excessivamente alavancados bancos europeus. Assim, ambas as soluções apresentam-se de difícil aceitação e tanto um crescimento a curto prazo como um aumento suficiente de competitividade nos países periféricos serão um desafio díficil. Ao passo que a criação de inflação parece ser a solução mais atraente e popular nas economias periféricas, não é de crer que as economias credoras, sobretudo a alemã, possam apoiar tal solução. Analistas financeiros têm sugerido, recentemente, que o BCE poderia inverter a situação presente comprometendo-se com a compra ilimitada de títulos da dívida dos países periféricos. A maior parte dos especialistas entende, porém, que tal estratégia dificilmente será opção para o BCE. A periferia europeia pode, assim, estar a dirigir-se para um doloroso processo de cura deflacionária que pode demorar anos a produzir resultados suficientes.

Em resumo, a crise da dívida na Zona Euro encontra-se longe do fim. Ao invés, pode estar apenas agora a começar.

“Sociedade de Advogados Portuguesa do Ano” Chambers European Excellence Awards, 2009; Shortlisted 2010, 2011/ Who s Who Legal Awards, 2006, 2008, 2009, 2010, 2011/The Lawyer European Awards-Shortlisted,2010, 2011

“Melhor Sociedade de Advogados no Serviço ao Cliente”Clients Choice Award - International Law Office, 2008, 2010

“5ª Sociedade de Advogados mais Inovadora da Europa”Financial Times – Innovative Lawyers Awards, 2011

“Melhor Sociedade de Advocacia de negócios da Europa do Sul”ACQ Finance Magazine, 2009

“Melhor Departamento Fiscal do Ano”International Tax Review - Tax Awards 2006, 2008

Prémio Mind Leaders Awards TM

Human Resources Suppliers 2007

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A CRISE DA ZONA EURO EXPLICADA

10 ANOS DA ZONA EURO: BALANÇO E PERSPECTIVAS

Celebraram-se no mês passado dez anos sobre a data em que o Euro foi introduzido como moeda nos (na altura) onze Estados Membros da Zona Euro. O advento do Euro tinha já sido antecipado com a sua introdução, enquanto conceito monetário, em 1999. Com a entrada da Grécia na Zona Euro em 2001 e a adesão posterior de outros Estados Membros da UE, o projecto foi considerado, à época, um sucesso.

Decorridos dez anos, a Zona Euro, com os seus actuais dezassete membros, encontra-se perante importantes perturbações políticas e financeiras. A recente “tragédia grega” quase levou ao colapso da Zona Euro e actualmente Itália e Espanha vacilam, juntando-se, assim, a Portugal e à Irlanda. Os últimos meses foram marcados por um frenesim de reuniões entre líderes políticos europeus focadas na crise da Zona Euro. Em que ponto nos encontramos, então, no momento actual?

A CRISE DA ZONA EURO GIRA EM TORNO DE DOIS PROBLEMAS FUNDAMENTAIS:

1. DÍVIDA

A Europa tem acumulado um grande montante de dívida nos sectores público e privado que agora tem dificuldade em reembolsar. A referida dívida é principalmente detida pelos bancos da UE e, cada vez mais, também pelo BCE, que a compra num esforço para estabilizar a Zona Euro. Esta situação resultou numa perda de confiança dos investidores no sistema bancário europeu.

Países altamente endividados como Espanha. Grécia, Irlanda, Itália e Portugal precisam de ajuda para gerir as respectivas situações financeiras. 281 mil milhões de Euros já foram concedidos em resgates e empréstimos de emergência, podendo mais vir a ser necessário para evitar que a crise fique fora de controlo.

O maior receio de políticos e investidores é o de um agravamento da situação na Grécia, Itália ou em qualquer um dos outros Estados-Membros com situações orçamentais delicadas poder vir a desencadear um efeito de dominó na Zona Euro, levando ao seu colapso e, potencialmente, provocando uma nova crise financeira global. O decorrente potencial efeito negativo para a economia global é a razão pela qual países terceiros como os EUA e a China se encontram igualmente preocupados com a solução da crise.

A Alemanha, actualmente a economia mais forte da Zona Euro, tem suportado, até ao momento, a maior fatia dos resgates financeiros concedidos. Tem um grande interesse em manter a Zona Euro, a qual é muito favorável, em particular, aos seus sectores exportadores. Mas a capacidade financiadora alemã não é ilimitada. Países terceiros, como a China, têm sido convidados a intervir mas, até que haja estabilidade na Zona Euro, continuam relutantes em fazê-lo.

2. CRESCIMENTO ECONÓMICO

A economia da UE está prestes a entrar novamente em recessão, com a economia em contracção de 1% no último trimestre de 2011 e de 0,4% no primeiro trimestre deste ano1. Tal pode criar um impacto negativo em países que, estando a implementar medidas de austeridade num esforço de gestão da sua dívida, deveriam, atendendo ao clima económico actual, na verdade, adoptar políticas de estímulo à economia. A fim de evitar uma severa recessão – ou, possivelmente, até mesmo uma depressão – nos países periféricos, uma série de analistas têm sugerido que a Alemanha e outros países do centro da Zona Euro com mais margem de manobra orçamental procedam a uma reflacção agressiva das respectivas economias. No entanto, tal parece improvável tendo em consideração a postura política actualmente adoptada pela Alemanha.

A EUROPA TEM ACUMULADO UM GRANDE MONTANTE DE DÍVIDA NOS SECTORES PÚBLICO E PRIVADO QUE AGORA TEM DIFICULDADE EM REEMBOLSAR.

1 OECD Economic Outlook, Volume 2011/2 OECD 2011 Preliminary Version

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ENTÃO, O QUE FOI DECIDIDO ATÉ AGORA?

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CIMEIRA DA UE DE 26 DE OUTUBRO DE 2011

Esta foi a primeira de três reuniões europeias realizadas no terceiro trimestre de 2011, focadas predominantemente na situação da Grécia e nos efeitos potenciais desta na restante Zona Euro.

A Cimeira da UE de 26 de Outubro de 2011 resultou numa deliberação dos líderes da UE no sentido de se atacar a crise da Zona Euro de três ângulos:

Os bancos detentores de dívida grega concordam em assumir uma perda de 50% sobre o valor facial dos seus títulos, reduzindo a dívida da Grécia a 120% do seu PIB em 2020. De outro modo, esta cresceria de forma insusceptível de controlo;

O fundo de resgate da Zona Euro precisa de ser reforçado de 440 mil milhões de Euros para 1 bilião de Euros; e

Os bancos serão obrigados a realizar um aumento de capital de cerca de 160 mil milhões de Euros para os proteger contra um potencial incumprimento soberano.

A Grécia deixou entretanto cair uma bomba a 27 de Outubro último, com o então Primeiro-Ministro grego Papandreou a anunciar a intenção de realizar um referendo sobre as medidas a aplicar na Grécia, deixando o povo grego efectivamente decidir se queria, ou não, permanecer na Zona Euro. Existia uma forte preocupação entre os líderes da UE de que uma eventual saída da Grécia da Zona Euro poderia resultar no início do fim do Euro, com outros países financeiramente débeis a ter que seguir, provavelmente, o mesmo caminho, à medida que a confiança no sistema bancário da UE fosse diminuindo ainda mais. A Grécia retirou posteriormente a realização de um referendo dos seus planos, mas rapidamente se viu em crise política, na medida em que o então Primeiro-Ministro começou a perder a confiança do seu governo.

CIMEIRA DA UE DE 26 DE OUTUBRO

http://www.consilium.europa.eu/uedocs/cms_data/docs/pressdata/pt/ec/125635.pdf

CIMEIRA DO G20 – 3 E 4 DE NOVEMBRO DE 2011

http://www.g20-g8.com/g8-g20/g20/english/for-the-press/news-releases/g20-leaders-summit-final-communique.1554.html

CIMEIRA DO G20 – 3 E 4 DE NOVEMBRO DE 2011

A Cimeira do G20, em Cannes, teve lugar durante, talvez, alguns dos dias mais turbulentos da crise da Zona Euro. Apesar de não ter sido, obviamente, realizada com a intenção específica de lidar com a crise da Zone Euro, devido à especulação crescente de que a Grécia poderia deixar a Zona Euro, o que potencialmente resultaria num colapso desta, não foi nenhuma surpresa que a Cimeira estivesse principalmente focada na situação financeira da Zona Euro e no seu impacto potencial no resto das economias mundiais.

Os líderes do G20 apresentaram as suas declarações finais, a 4 de Novembro de 2011, que incluíram os seguintes pontos. O G20:

Compromete-se a caminhar «mais rapidamente» no sentido de uma maior flexibilidade cambial, sem se mencionar especificamente a China;

Concorda em apoiar o FMI e em dar-lhe mais dinheiro se necessário (embora os detalhes do «apoio» tenham que ser definidos numa reunião autónoma em Fevereiro de 2012);

Aplaude o convite da Itália ao FMI para que este monitorize as suas reformas económicas;

Apela aos países com fortes finanças públicas para que tomem medidas no sentido de impulsionar a procura nacional;

Acolhe positivamente os planos da Zona Euro para restaurar a confiança e a estabilidade financeira; e

Cria um grupo de trabalho para o emprego dos jovens.

O «Plano de Acção de Cannes» tem sido criticado pelos mercados por não ser suficientemente detalhado e por não conter compromissos e metas suficientemente exigentes.

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10 ANOS DA ZONA EURO: BALANÇO E PERSPECTIVAS

CIMEIRA DA UE DE 8 E 9 DE DEZEMBRO

http://www.consilium.europa.eu/uedocs/cms_data/docs/pressdata/pt/ec/126672.pdf

CIMEIRA DA UE DE 8 E 9 DE DEZEMBRO DE 2011

Na Cimeira da UE realizada a 8 e 9 de Dezembro, que coincidiu com o 20.º aniversário do Tratado de Maastricht, 26 dos 27 países presentes aprovaram um plano-quadro para um “pacto fiscal”, tendo o Reino Unido vetado as mudanças ao tratado devido à “insuficiência de ressalvas para o seu sector financeiro”. Os países da “Zona Euro Plus” comprometeram-se a forjar um acordo internacional até Março, em vez de alterar o Tratado da UE. Alguns dos pontos-chave deste plano quadro incluem compromissos sobre:

Equilíbrio orçamental: o deficit estrutural anual não pode exceder os 0,5% do PIB;

Inclusão na legislação nacional de regras constitucionais ou de força semelhante na hierarquia das leis relativas à limitação do défice orçamental;

Consequências automáticas em caso de violação do limite de 3% do défice;

Implementação acelerada do Mecanismo de Estabilidade Europeu (MEE), o fundo de resgate permanente da Zona Euro, que se pretende que entre em vigor em Julho; o Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira (MEEF) permanecerá activo até meados de 2013. O limite máximo global de 500 mil milhões de Euros do MEEF/MEE será revisto em Março;

Os países da Zona Euro e outros países da UE confirmarão dentro de 10 dias a entrega de fundos ao FMI de até 200 mil milhões de Euros na forma de empréstimos bilaterais para ajudar a lidar com a crise;

As regras de votação no MEE serão alteradas para permitir a tomada de decisões com uma maioria qualificada de 85% em casos de emergência, embora tal ainda dependa de aprovação pelo parlamento finlandês.

A decisão do Reino Unido de não ser parte em nenhum acordo dos países da Zona Euro foi acolhida com opiniões contraditórias na imprensa e na cena política. Com todos os outros países da UE (mesmo que um pequeno número tenha feito a sua aprovação depender da aprovação do seu parlamento nacional) dispostos a negociar, têm sido expressas preocupações de que esta decisão pode dividir a UE numa união a “duas velocidades”.

O acordo da Zona Euro é recebido de forma fria pelos mercados e é criticado por continuar a ser muito vago. É visto por muitos como irremediavelmente tardio. O BCE elogia-o como um passo em frente no caminho certo, mas adverte que não será, para já, mais dinâmico na compra de dívida. O FMI também concorda que este passo é um sinal de progresso, mas é inequívoco na afirmação de que esta solução não é suficiente.

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CIMEIRA DA UE DE 30 DE JANEIRO DE 2012

http://www.consilium.europa.eu/uedocs/cms_Data/docs/pressdata/pt/ec/127624.pdf

CIMEIRA DA UE DE 30 DE JANEIRO DE 2012

Os líderes dos Estados-membros reúnem-se em Bruxelas para discutir, entre outros assuntos, o pacto fiscal acordado durante a cimeira de 8 e 9 Dezembro de 2011. Os líderes europeus definem uma primeira versão do Tratado sobre a Estabilidade, a Coordenação e a Governação na União Económica e Monetária.

O Tratado, composto por 16 artigos, apresenta como pontos-chave:

A introdução de uma exigência de equilíbrio orçamental, significando, na prática, uma obrigação de que os orçamentos nacionais se encontrem em equilíbrio ou em excedente; considerar-se-á esta obrigação respeitada se o défice estrutural anual não exceder os 0,5% do PIB;

A referida exigência de equilíbrio orçamental deverá ser introduzida na legislação constitucional de cada Estado-membro;

O Tribunal de Justiça da União Europeia deverá sancionar os Estados-membros que não transponham, correctamente e dentro do prazo definido, para a sua legislação, as regras de equilíbrio orçamental, com uma coima que poderá atingir um valor de 0,1% do PIB;

Um mecanismo de correcção automática entrará automaticamente em funcionamento caso um Estado viole as regras de equilíbrio orçamental;

Define-se um sistema de votação qualificada no que se refere à decisão de início de procedimento contra um Estado-membro por défice excessivo; e;

O tratado inclui igualmente normas relativas à coordenação e convergência das políticas económicas dos diferentes Estados-membros e à governação da Zona Euro. Com especial importância, define-se que as Cimeiras Europeias terão uma periodicidade mínima bianual.

25 dos 27 membros da União acordaram o novo tratado, não tendo, porém, o Reino Unido aceite vincular-se a este. A República Checa, que não pertencendo à Zona Euro se encontra, tal como muitos dos novos membros da União, empenhada em aderir, confirmou que também não aceitaria vincular-se ao tratado, citando, para este efeito, “razões constitucionais”.

O Euro sobreviverá? A UE vai manter-se intacta? Irão Portugal, Espanha, Itália ou algum dos outros países em dificuldades financeiras incumprir? Irão necessitar de novas ajudas? O pacto fiscal vai resultar? Terá o Reino Unido perdido a sua influência na UE? A confiança dos mercados será restaurada? Talvez os acontecimentos dos últimos dois meses nos tenham deixado com mais perguntas do que respostas. Só uma coisa é certa: nada é certo.

VERSÃO PROVISÓRIA DO TRATADO SOBRE A ESTABILIDADE, A COORDENAÇÃO E A GOVERNAÇÃO NA UNIÃO ECONÓMICA E MONETÁRIA

http://www.european-council.europa.eu/media/579087/treaty.pdf

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CRONOLOGIA

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1999 – E-Day: O Euro é introduzido em 11 países, incluindo Portugal, Espanha, Itália e Irlanda. A Grécia não fazia, inicialmente, parte da Zona Euro.

2001 – A Grécia adere à Zona Euro. Aproveitando o Euro, começa a financiar-se para fazer face a despesas públicas que não consegue suportar com o seu rendimento.

2002 – As notas e moedas são introduzidas.

2008 –O Lehman Brothers cai – Tem início a crise financeira global.Os líderes da UE acordam num plano de estímulo de 200 mil milhões de Euros para ajudar a impulsionar o crescimento económico.

2009 Abril – França, Espanha, Irlanda

e Grécia são obrigadas pela UE a reduzir o seu défice.

Outubro – Na Grécia, o partido de Papandreou ganha as eleições gerais de emergência, convocadas devido à insatisfação relativamente à corrupção e ao excesso de gastos do Governo anterior.

Novembro – A dívida de alguns Estados Membros da UE começa a crescer como resultado da crise da dívida soberana do Dubai, causando preocupação.

Dezembro – Por ora, a Grécia tem uma dívida de 300 mil milhões de Euros, a maior da história moderna - os líderes da UE continuam convencidos de que a questão, embora problemática, deve ser resolvida internamente. A Grécia insiste que não vai falhar no pagamento da sua dívida.

2010 Janeiro – São descobertas pela

UE «irregularidades graves» nos procedimentos contabilísticos da Grécia. O défice orçamental da Grécia é revisto em alta, subindo de 3,7% para 12,7% – mais de 4 vezes o nível máximo admitido pela UE.

Fevereiro – A Grécia propõe medidas de austeridade. Mas estas medidas não são consideradas suficientemente exigentes pela UE, que exige maiores cortes na despesa. O plano de austeridade é muito impopular entre o povo grego, o que gera distúrbios.

Abril – É anunciado que o défice grego é ainda maior do que se pensava, rondando os 13,6% do PIB.

Maio – Os membros da Zona Euro e do FMI acordam num resgate de 110 mil milhões de Euros para a Grécia.O Euro continua a cair e os outros países endividados são vistos com preocupação. A Irlanda começa a falhar.

Novembro – Os membros da Zona Euro e do FMI acordam num resgate de 85 mil milhões de Euros para a Irlanda. A UE nega que Portugal seja o próximo.

2011 – A Estónia junta-se ao grupo de países da Zona Euro, que vem crescendo em número desde 1999, elevando o número total de membros para 17.

Fevereiro – É criado, pelos ministros das Finanças da UE, um fundo de resgate permanente denominado Mecanismo Europeu de Estabilidade, com um valor em torno de 500 mil milhões de Euros.

O EURO FOI CRIADO PARA REDUZIR CUSTOS NAS TRANSACÇÕES INTERNAS, IMPULSIONAR O TURISMO E ESTABILIZAR A ECONOMIA.

ENTÃO, O QUE ACONTECEU? VEJA A NOSSA CRONOLOGIA PARA UM OLHAR MAIS DETALHADO SOBRE OS EVENTOS QUE LEVARAM À ACTUAL CRISE DA ZONA EURO.

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Abril – Portugal pede ajuda financeira à UE para lidar com sua situação financeira.

Maio – Os membros da Zona Euro e do FMI acordam num resgate de 78 mil milhões de Euros para Portugal.

Julho – A Grécia adopta uma nova onda de medidas de austeridade, sob pressão dos ministros das Finanças da UE, entre especulações de que a Grécia pode ser o primeiro país a ter de deixar a Zona Euro. Um segundo resgate para a Grécia é acordado. Trata-se de um pacote de resgate de 109 mil milhões de Euros, destinado a resolver os seus problemas e evitar a sua propagação a outros países da Zona Euro.

Agosto – Avisos do Presidente da Comissão Europeia de que a crise da dívida da Zona Euro se está a espalhar para além das suas fronteiras. O BCE confirma que vai comprar títulos de divida pública aos Governos italiano e espanhol para diminuir os custos de empréstimos destes, numa tentativa de conter a propagação da crise do Euro.

Setembro – A Itália aprova um orçamento de austeridade de 50 mil milhões de Euros. Em face da forte oposição pública, algumas medidas são suavizadas e cresce a preocupação de que estas medidas não sejam suficientes. A Comissão Europeia prevê uma «paralisação virtual» de crescimento económico de apenas 0,1% para o quarto trimestre de 2011 (perspectiva revista pela OCDE em Novembro para uma contracção de 1%). A inflação tende a permanecer elevada, em cerca de 3%. Até o sector privado da Zona Euro contrai pela primeira vez em 2 anos.

Outubro – Os líderes da UE, do FMI e do resto do mundo apelam à tomada de medidas urgentes, enquanto a crise da Zona Euro piora.

21 de Outubro – É aprovado o pagamento à Grécia de uma tranche do primeiro pacote de resgate no valor de 8 mil milhões de Euros pelos ministros das finanças da Zona Euro. Prosseguem os planos para um segundo pacote de resgate para a Grécia.

26 de Outubro - Cimeira da UE: São acordadas entre os líderes Europeus três frentes no combate ao aumento da dívida pública:

- Os Bancos que tenham dívida grega serão reembolsados em apenas 50% da mesma, o que reduzirá a dívida grega para 120% do seu PIB em 2020. Caso contrário, a mesma cresceria de forma insusceptível de controlo;

- O fundo de resgate da Zona Euro será aumentado de 440 mil milhões de Euros para 1 bilião de Euros; e

- Os Bancos serão obrigados realizar um aumento de capital de cerca de 160 mil milhões de Euros para os ajudar a proteger contra um potencial incumprimento.

A Grécia tem a receber um montante adicional de 130 mil milhões de Euros pela execução de medidas de austeridade mais impopulares.

27 de Outubro – A Grécia ameaça o plano do Euro ao preparar-se para convocar um referendo sobre o acordo de resgate. O referendo é retirado, mas a Grécia começa a afundar-se numa crise política.

3 e 4 de Novembro – Cimeira do G20 em Cannes. Os países da Zona Euro reafirmam a sua intenção de apoiar o Euro. Os líderes mundiais acordam que os fundos do FMI devem ser direccionados ao apoio à Zona Euro e à estabilização da economia. A China concorda em auxiliar indirectamente e a Itália pede

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ajuda ao FMI no acompanhamento da execução dos seus compromissos de redução da dívida. A taxa de juro a ser paga pelo governo Italiano sobe de 6,37% para o máximo histórico na Era-Euro de 6,64%, com um crescente receio de instabilidade política em Roma.

3 a 9 de Novembro– No meio da turbulência política causada pela falhada proposta de referendo, o Primeiro-Ministro Grego George Papandreou demite-se.

10 de Novembro– A União Europeia reduz a sua previsão de crescimento para a Zona Euro em 2012, de uns inicialmente previstos 1,8% para 0,5%, confirmando a existência de um risco de nova recessão.

11 de Novembro– Lucas Papademos, um antigo vice-presidente do Banco Central Europeu, que não é um deputado eleito, torna-se no novo Primeiro-Ministro Grego e a coligação de “salvação nacional” toma posse. Forma-se um governo “tecnocrático”, de especialistas em vez de políticos, que permanecerá no poder pelo menos até as eleições, que provavelmente terão lugar no início deste ano.

12 de Novembro– O Primeiro-Ministro Berlusconi renuncia formalmente ao cargo, depois de ter perdido a confiança do seu Governo. As medidas de austeridade exigidas pela UE para restaurar a confiança do mercado na economia italiana são aprovadas por ambas as câmaras do parlamento.

17 de Novembro – O novo Primeiro-Ministro italiano e antigo Comissário da UE Mario Monti e o seu governo “tecnocrata” de proeminentes economistas e outros especialistas, ganham um voto de confiança. A sua missão é tirar a Itália da crise económica.

23 de Novembro– A Alemanha regista aquele que é, provavelmente, o seu pior leilão de títulos de sempre. Mais de um terço dos títulos ficam por vender num leilão de 6 mil milhões de títulos de dívida a 10 anos. Os analistas receiam que a venda “extremamente pobre” significa que a Alemanha está a ser arrastada para a crise. Perante a oposição alemã, o Presidente da Comissão Europeia anuncia planos para os “Eurobonds”. A Alemanha prefere pressionar para uma reforma política e fiscal ao nível da UE que poderia obrigar os países da Zona Euro a enviaros seus orçamentos nacionais para Bruxelas.

25 de Novembro – A Itália é obrigada a pagar taxas de juro recorde num leilão de 10 mil milhões de Euros de títulos do Tesouro. A taxa de juro aplicável às novas dívidas, pagas a 6 meses, é de 6.504%, em comparação com os 3.535% da última venda comparável, a 26 de Outubro. A taxa para empréstimos a dois anos é de 7.814%, contra os 4.628% do leilão anterior.

28 de Novembro– A OCDE alerta para a recessão Europeia, prevendo que a economia Europeia deverá contrair 1% no 4.º trimestre de 2011 e 0,4% no 1.º trimestre de 20122.

29 de Novembro– Os Ministros da Zona Euro acertam o aumento do fundo de resgate, mas dizem que será difícil alcançar o objectivo de 1 trilião de Euros definido em Outubro.

30 de Novembro – O BCE, juntamente com outros 5 bancos centrais, incluindo a Reserva Federal dos EUA, o Banco de Inglaterra e o Banco do Japão, anuncia uma acção conjunta para reduzir as taxas de juro sobre os swaps de liquidez do dólar.

2 Ver, supra, nota 1

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10 ANOS DA ZONA EURO: BALANÇO E PERSPECTIVAS

5 de Dezembro – Nicolas Sarkozy e Angela Merkel encontram-se no Palácio do Eliseu, em Paris, para uma semana de reuniões envolvendo líderes Europeus, o BCE e o Secretário do Tesouro Norte-Americano Timothy Geithner, culminando em Bruxelas com uma Cimeira da UE. A agência de rating “Standard and Poor’s” coloca quase todos os países da Zona Euro, incluindo a Alemanha e a França, em “credit watch”, em função dos receios da crise da dívida. Tal significa que Alemanha, França, Áustria, Holanda, Finlândia, e Luxemburgo, todos com rating AAA, têm 50% de hipóteses de ver os seus ratings reduzidos nos 90 dias seguintes. A Irlanda e a Itália propõem medidas ainda mais austeras.

7 de Dezembro – O relatório intercalar do Sr. Van Rompuy (datado de 6 de Dezembro de 2011) para a Cimeira da UE é tornado público. IncluiInclui as seguintes sugestões de medidas:

- Revisão do Protocolo n.º123 e inclusão de uma regra de equilíbrio orçamental na legislação nacional;

- A dívida nacional deverá ser reduzida para menos de 60%;

- Maior integração com vista a um “pacto fiscal”;

- Reforço do papel das instituições da UE, com maiores poderes de intervenção em caso de falta de implementação;

- Deixar em aberto a hipótese da emissão de dívida comum;

- Permitir que o MEE recapitalize directamente as instituições bancárias; e

- Levantar a limitação da consolidação do MEE e do aumento da ajuda do FSE aos países da Zona Euro.

A França e a Alemanha enviam uma carta ao Sr. Van Rompuy com a sua proposta para o “Euro Plus Pact”, a qual inclui:

- Quadro jurídico comum para:. regulação financeira;. mercado de trabalho;. imposto sobre as sociedades

e sobre as transacções financeiras;

. políticas de apoio ao crescimento; e

. melhor uso dos fundos Europeus dentro da Zona Euro;

- Uma União Estável e em Crescimento;

- Procedimentos para corrigir violações do limite do déficedeficit de 3% do PIB;

- Procedimentos para a diminuiçãoresolução da dívida dos países da Zona Euro com uma dívida superior a 60% do PIB.

8 de Dezembro– O Banco Central Europeu reduz as taxas de juro para um mínimo histórico de 1%.

9 de Dezembro– Depois de mais de 24 horas de conversações na Cimeira da UE, 26 dos 27 países acordam nos seguintes pontos-chave para um novo “pacto fiscal” para enfrentar a crise da dívida da Zona Euro:

- Coordenação significativamente mais forte das políticas económicas em áreas de interesse comum;

- Os orçamentos dos Estados da Zona Euro devem ser equilibrados ou excedentários; este princípio considerar-se-á respeitado se, como regra, o déficedeficit estrutural anual não exceder os 0,5% do PIB;

2 O Protocolo 12 define as regras relativas ao procedimento por deficit excessivo previsto no artigo 126 do Tratado da União Europeia.

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- Uma regra semelhante também será introduzida nos sistemas legais nacionais dos Estados-Membros da Zona Euro; os mesmos devem anunciar com antecedência os planos nacionais de emissão de dívida;

- Assim que um Estado-Membro da Zona Euro viole o limite de 3% do deficit, existirão consequências automáticas, incluindo possíveis sanções, a menos que uma maioria qualificada dos Estados-Membros a isso se oponha;

- Pretende-se que o Mecanismo de Estabilidade Europeu (MEE), o fundo de resgaste permanente da Zona Euro, entre em vigor em Julho de 2012; o já existente Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira (MEEF) permanecerá activo até meados de 2013. O limite máximo global de 500 mil milhões de Euros do MEEF/MEE será revisto em Março de 2012;

- Os países da Zona Euro e outros países da UE confirmarão dentro de 10 dias a entrega de fundos ao FMI de até 200 mil milhões de Euros na forma de empréstimos bilaterais, para ajudar a lidar com a crise;

- As regras de votação no MEE serão alteradas para permitir a tomada de decisões com uma maioria qualificada de 85% em casos de emergência, embora isso ainda dependa de aprovação pelo parlamento Finlandês.

Com base na “insuficiência de ressalvas para o seu sector financeiro”, o Reino Unido exerce o seu direito de veto para impedir as alterações aos tratados da UE, que exigem acordo dos 27 países. Os países da Zona Euro Plus comprometem-se a concluir, em Março de 2012, um tratado intergovernamental baseado nos

pontos já acordados. Os mercados mostram a sua falta de confiança no novo plano da União Europeia, com o Euro a cair em relação ao dólar na semana em que o plano é revelado.

Entretanto, as negociações entre a Grécia e os bancos sobre a redução em 50% da dívida detida por privados, requerida nos termos do segundo pacote de ajuda financeira, chegaram a um impasse, existindo rumores de que a percentagem de perda para investidores privados exigida pelo Governo grego se encontre já próxima dos 80%. As perspectivas económicas apresentam-se sombrias e as nuvens negras da recessão crescem no horizonte.

18 de Dezembro– A agência de notação Fitch realiza uma revisão em baixa relativamente à perspectiva do rating da República Francesa de “estável” para “negativo”. Mantém, porém, para já, a sua notação de triplo A. Fitch conclui que, na sua opinião, “uma solução abrangente para a crise da Zona Euro está técnica e politicamente fora de alcance.”

20 de Dezembro– A União Europa falha a angariação dos 200 mil milhões de Euros acordados no plano de 9 de Dezembro. A União Europeia apenas consegue angariar 150 mil milhões de Euros após o Reino Unido ter declinado contribuir.

21 de Dezembro– O BCE coloca à disposição empréstimos a três anos a baixo custo, emprestando 489 mil milhões de Euros aos bancos da Zona Euro, que se apressam a aceitar os empréstimos oferecidos. O BCE espera que os bancos da Zona Euro usem o capital adicional para comprar títulos de dívida soberana.

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27 de Dezembro– O BCE recebe depósitos de capitais no valor record de 412 mil milhões de Euros, reflectindo a falta de confiança dos bancos europeus uns nos outros. Os Bancos pagam, aproximadamente, 1% de juros nos empréstimos recebidos do banco central, enquanto o BCE remunera os depósitos que recebe em apenas 0,25%, registando, portanto, os bancos, uma perda efectiva.

29 de Dezembro– Os juros de empréstimo pagos pela República Italiana mantêm-se em valores elevados, a saber 6,98% em títulos de dívida a dez anos, enquanto o primeiro-ministro italiano Mário Monti pede uma “resposta unida” à crise. A Itália encontra-se a preparar um pacote de medidas de apoio à economia italiana.

20129 de Janeiro – Num leilão de

títulos de dívida sem precedentes, investidores pagam para emprestar capital à Alemanha, vendendo, esta, 3,9 mil milhões de títulos da dívida a seis meses com um rendimento médio de -0,0122%. Tal é visto pelos analistas como um sinal claro da falta de confiança nos outros países da Zona Euro. Aumentam as preocupações relativamente aos 14 mil milhões de Euros de dívida grega que deverão ser pagos aos credores em Março. Sem os fundos do segundo pacote de resgate, a Grécia será incapaz de proceder a tal pagamento e entrará em incumprimento. A chanceler alemã Angela Merkel afirma que “um acordo com os titulares dos títulos da dívida grega terá de surgir rapidamente para a Grécia receber o vital segundo pacote de ajuda financeira.”

13 de Janeiro – As conversações entre as autoridades gregas e os seus credores do sector privado relativamente a uma redução do valor da dívida em 50% chegam a um impasse. As bolsas de valor europeias descem perante rumores de que a França e outros Estados verão a sua notação soberana revista em baixa no curto prazo.

14 de Janeiro – A S&P revê em baixa o rating de Portugal, França, Itália, Espanha, Chipre, Áustria e outros Estados. Como consequência, sobretudo do corte de rating à República Francesa, a avaliação de crédito do FEEF é também revisto em baixa, facto que os analistas consideram um duro golpe no plano de recuperação da Zona Euro. A decisão de revisão em baixa é recebida com frustração pelos governos da Zona Euro. O comissário europeu dos assuntos económicos Olli Rehn afirma que a decisão é “inconsistente” e que a Zona Euro estava a tomar “acções determinadas” para controlar a crise da dívida.

18 de Janeiro – O Banco Mundial adverte o mundo em vias de desenvolvimento relativamente a um abrandamento do crescimento económico global. A organização revê em baixa as perspectivas de crescimento, prevendo uma contracção, na Zona Euro, de 0,3% em 2012.Retomam-se as conversações relativamente à redução do valor da dívida grega.

20 de Janeiro – É atingido um acordo inicial entre o governo grego e os seus credores no sector privado.A Itália aprova medidas de reforma com vista a estimular a sua economia.

24 de Janeiro – Os ministros das finanças da União Europeia rejeitam o acordo de redução do valor da dívida grega, considerando que o juro de 4% reclamado pelos credores privados continua a ser excessivamente elevado para ser sustentável. As negociações entre a Grécia e os seus credores continuam de forma intermitente, enquanto as partes procuram um acordo mutuamente satisfatório.

25 – 27 de Janeiro – Fórum Económico Mundial de Davos: A crise na Zona Euro é um tópico que, naturalmente, se apresenta incontornável no Fórum Económico Mundial de Davos. Apesar de um ambiente sombrio, os líderes europeus mantêm-se optimistas.

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O presente Guia destina-se a ser distribuído entre Clientes e Colegas e a informação nele contida é prestada de forma geral e abstracta, não devendo servir de base para qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso concreto. O conteúdo deste Guia não pode ser reproduzido, no seu todo ou em parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais sobre este assunto contacte Ricardo Oliveira ([email protected] ), Hugo Rosa Ferreira ([email protected]) ou Jodie Lazell ([email protected]).

30 de Janeiro – Cimeira Europeia: Os líderes europeus encontram-se para negociar, entre outros assuntos, o projecto de Tratado sobre a Estabilidade, a Coordenação e a Governação na União Económica e Monetária. Os pontos-chave do tratado são:

- A introdução de uma exigência de equilíbrio orçamental, significando, na prática, uma obrigação de que os orçamentos nacionais se encontrem em equilíbrio ou em excedente; considerar-se-á esta obrigação respeitada se o défice estrutural anual não exceder os 0,5% do PIB;

- A referida exigência de equilíbrio orçamental deverá ser introduzida na legislação constitucional de cada Estado-membro;

- O Tribunal de Justiça da União Europeia deverá sancionar os Estados-membros que não transponham, correctamente e dentro do prazo definido, para a sua legislação, as regras de equilíbrio orçamental, com uma coima que poderá atingir um valor de 0,1% do PIB;

- Um mecanismo de correcção automática entrará automaticamente em funcionamento caso um Estado viole as regras de equilíbrio orçamental;

- Define-se um sistema de votação qualificada no que se refere à decisão de início de procedimento contra um Estado-membro por deficit excessivo; e

- O tratado inclui igualmente normas relativamente à coordenação e convergência das políticas económicas dos diferentes Estados-membros e à governação da Zona Euro. Com especial importância, define-se que as Cimeiras Europeias terão lugar com uma periodicidade mínima bianual. 25 dos 27 membros da União acordam com a assinatura do Tratado, tendo, porém, o Reino Unido e a República Checa recusado vincular-se a este.

Fevereiro – Continuam as discussões relativas à dívida grega, não só com os credores privados, mas, igualmente, com a Troika, composta pelo FMI, o BCE e a União Europeia, que insiste em cortes orçamentais mais elevados antes de disponibilizar os fundos de que a Grécia desesperadamente necessita para cumprir com os seus compromissos, no valor de 14,5 mil milhões de Euros, que se vencem em Março de 2012.

2 de Fevereiro – O novo Tratado relativo à criação do MEE é assinado.

O mundo aguarda expectante. A Grécia terá de chegar a um acordo aceitável com os seus credores privados e com a Troika para receber os fundos do segundo pacote de ajuda financeira necessários ao pagamento de 14,5 mil milhões de Euros cuja maturidade se atinge Março. Os mercados, liderados pelas agências de rating, mantêm a falta de confiança no presente clima financeiro. Instituições financeiras globais como o FMI e o Banco Mundial continuam a advertir a economia mundial para se preparar para os próximos acontecimentos.

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