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1 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CLINICA E REPRODUÇÃO ANIMAL SIMONE CARVALHO DOS SANTOS CUNHA AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE E EFETIVIDADE DA RADIOTERAPIA NO TRATAMENTO DE FELINOS PORTADORES DE CARCINOMA EPIDERMÓIDE DE FACE UTILIZANDO PROTOCOLO DE HIPOFRACIONAMENTO Niterói 2009

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1

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS

FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CLINICA E REPRODUÇÃO A NIMAL

SIMONE CARVALHO DOS SANTOS CUNHA

AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE E EFETIVIDADE DA RADIOT ERAPIA NO

TRATAMENTO DE FELINOS PORTADORES DE CARCINOMA EPIDE RMÓIDE DE

FACE UTILIZANDO PROTOCOLO DE HIPOFRACIONAMENTO

Niterói

2009

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2

SIMONE CARVALHO DOS SANTOS CUNHA

AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE E EFETIVIDADE DA RADIOT ERAPIA NO

TRATAMENTO DE FELINOS PORTADORES DE CARCINOMA EPIDE RMÓIDE DE

FACE UTILIZANDO PROTOCOLO DE HIPOFRACIONAMENTO

.

Orientação: Profa. Dra. ANA MARIA REIS FERREIRA

Co-orientação: Profa. Dra HELOISA JUSTEN MOREIRA DE SOUZA

Prof. Dr. LUIS ALFREDO VIDAL DE CARVALHO

Niterói

2009

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre. Área de concentração: Clínica e Reprodução Animal

3

SIMONE CARVALHO DOS SANTOS CUNHA

AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE E EFETIVIDADE DA RADIOT ERAPIA NO

TRATAMENTO DE FELINOS PORTADORES DE CARCINOMA EPIDE RMÓIDE DE

FACE UTILIZANDO PROTOCOLO DE HIPOFRACIONAMENTO

Aprovada em fevereiro de 2009

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________________

Profa. Dra. ANA MARIA REIS FERREIRA – Orientadora

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

_____________________________________________________________

Prof. Dr. RONALDO LUCAS

UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

______________________________________________________________

Profa. Dra MARIA CRISTINA NOBRE E CASTRO

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Niterói

2009

4

À minha família, Lucia Helena, Paulo Cesar e Marcelo, pelo apoio

incondicional, educação e incentivo na minha formação profissional.

Aos meus gatos, Léo, Nico, Thunder, Cheetara, Chicão e Lacan, por

despertarem em mim a enorme paixão pelos felinos domésticos e por me

estimularem a zelar pelo bem-estar e saúde de todos eles.

5

AGRADECIMENTOS

À Ana Maria Reis Ferreira, minha orientadora, que sempre me incentivou nas

áreas profissionais e da pesquisa científica.

À Heloisa Justen Moreira de Souza, minha co-orientadora, responsável pela

realização de um grande sonho profissional. Por ter me apoiado desde o meu

período de graduação, pela confiança e por todos os ensinamentos nestes anos de

convivência.

Ao Luis Alfredo Vidal de Carvalho, meu co-orientador, professor da COPPE e

coordenador da pesquisa, pela realização deste projeto, pelo apoio profissional, e

também por sua amizade e ensinamentos profissionais e de vida.

À Clínica Veterinária Gatos & Gatos, todas as veterinárias, estagiários e

funcionários, pelo carinho, amizade e convivência de todos os dias, por ter me

acolhido e feito nascer em mim a escolha pela medicina de felinos.

Ao Paulo Cesar Canary e Marcio Reisner, médicos radioterapêutas da UFRJ,

por abrirem as portas do hospital para este projeto, e pela dedicação, competência e

carinho dedicados aos animais.

Ao Gerson, técnico de radioterapia, pela atenção e pelos sábados dedicados

ao tratamento dos felinos do estudo.

À toda a equipe do Hospital Clementino Fraga Filho, incluindo técnicos,

médicos e funcionários, por tornar este projeto uma realidade.

Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e

FAPERJ, pelo apoio financeiro a este projeto de pesquisa.

6

SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES, p. 9

LISTA DE TABELAS, p. 12

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS, p. 14

RESUMO, p. 16

ABSTRACT, p. 18

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................19

2 Objetivos.......................................... .................................................................20

2.1 Geral ...........................................................................................................20

2.2 Específicos..................................................................................................20

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................. ...........................................22

3.1 Radioterapia................................................................................................22 3.1.1 Fracionamento radioterápico...................................................................23 3.1.2 Tempo de tratamento radioterápico.........................................................25 3.1.3 Dose total de radiação.............................................................................26 3.1.4 Volume alvo.............................................................................................27 3.1.5 Radiobiologia...........................................................................................27 3.1.6 Reação dos tecidos / Efeitos colaterais...................................................29 3.1.7 Tipos de radioterapia...............................................................................30 3.1.8 Radioproteção .........................................................................................31

3.2 Carcinoma epidermóide felino ....................................................................31 3.2.1 Anatomia e histologia da pele de felinos sadios......................................31 3.2.2 Definição de carcinoma epidermóide felino.............................................33 3.2.3 Etiopatogenia ..........................................................................................34 3.2.4 Manifestações clínicas ............................................................................35 3.2.5 Estadiamento clínico ...............................................................................37 3.2.6 Diagnóstico..............................................................................................37

3.2.6.1 Aspectos citológicos.........................................................................37 3.2.6.2 Aspectos histopatológicos................................................................38

3.2.7 Tratamento ..............................................................................................40 3.2.7.1 Exérese cirúrgica..............................................................................40 3.2.7.2 Criocirurgia .......................................................................................41 3.2.7.3 Hipertermia.......................................................................................41 3.2.7.4 Quimioterapia sistêmica ...................................................................42 3.2.7.5 Quimioterapia intralesional ...............................................................42 3.2.7.6 Terapia fotodinâmica........................................................................43 3.2.7.7 Radioterapia .....................................................................................44 3.2.7.8 Outros tratamentos...........................................................................45

3.2.8 Prevenção ...............................................................................................46

4 MATERIAL E MÉTODOS ................................. .................................................47

7

4.1 Animais .......................................................................................................47

4.2 Exame clínico..............................................................................................47

4.3 Estadiamento clínico ...................................................................................48

4.4 Protocolo radioterápico ...............................................................................49

4.5 Acompanhamento clínico dos animais........................................................51

4.6 Avaliação da resposta neoplásica, tempo de sobrevida e tempo livre da doença...................................................................................................................53

4.7 Biópsia de pele e processamento histopatológico ......................................53

4.8 Análise Estatística.......................................................................................53

5 RESULTADOS ......................................... .........................................................58

5.1 Resenha, histórico e anamnese dos animais..............................................58

5.2 Localização neoplásica facial......................................................................61

5.3 Tempo de evolução clínica .........................................................................61

5.4 Estadiamento clínico das lesões.................................................................62

5.5 Exames complementares............................................................................64

5.6 Diagnóstico .................................................................................................67 5.6.1 Análise macroscópica..............................................................................67 5.6.2 Análise histopatológica............................................................................68

5.7 Procedimento anestésico............................................................................70

5.8 Procedimento radioterápico ........................................................................70

5.9 Resposta ao tratamento radioterápico ........................................................71

5.10 Tempo de sobrevida e tempo livre da doença ............................................72

5.11 Efeitos colaterais.........................................................................................74

5.12 Análise estatística .......................................................................................80 5.12.1 Tempo de sobrevida após o tratamento radioterápico.........................81 5.12.2 Estadiamento clínico da lesão neoplásica x resposta neoplásica à radioterapia ........................................................................................................82 5.12.3 Estadiamento clínico da lesão neoplásica x cor da pelagem do animal 82 5.12.4 Cor da pelagem do felino x resposta neoplásica à radioterapia ..........83 5.12.5 Aspecto macroscópico da lesão neoplásica x resposta neoplásica à radiação 83 5.12.6 Estadiamento clínico da lesão neoplásica x reações agudas de toxicidade à radiação .........................................................................................83 5.12.7 Localização facial da lesão x resposta neoplásica à radiação.............84

6 DISCUSSÃO......................................................................................................85

7 CONCLUSÕES..................................................................................................93

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................... .........................................95

8

9 ANEXOS..........................................................................................................104

9.1 COBEA .....................................................................................................104

9.2 VALORES LABORATORIAIS DE REFERÊNCIA PARA FELINOS ..........106 9.2.1 Valores hematológicos ..........................................................................106 9.2.2 Valores bioquímicos ..............................................................................106

10 APÊNDICES ....................................................................................................107

10.1 APÊNDICE 1 – FICHA DE ATENDIMENTO CLÍNICO GERAL ................108

10.2 APÊNDICE 2- FICHA ONCOLÓGICA.......................................................109

10.3 APÊNDICE 3 – FICHA DE AUTORIZAÇÃO DO PROPRIETÁRIO...........110

10.4 APÊNDICE 4 – FICHA DE RADIOTERAPIA ............................................111

10.5 APÊNDICE 5 – FICHA ANESTÉSICA ......................................................112

10.6 APÊNDICE 6 – FICHA DE ACOMPANHAMENTO CLÍNICO....................113

10.7 APÊNDICE 7 – FICHA DE ACOMPANHAMENTO CLÍNICO....................114

10.8 APÊNDICE 8 - FICHA DE ACOMPANHAMENTO CLÍNICO ...................115

10.9 APÊNDICE 9 – FICHA DE ACOMPANHAMENTO CLÍNICO....................116

10.10 APÊNDICE 10 – FICHA DE ACOMPANHAMENTO CLÍNICO..................117

10.11 PRODUÇÃO CIENTÍFICA ........................................................................118 10.11.1 Artigos Publicados em revistas ..........................................................118

9

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1– Esquema mostrando a melhor atuação da radioterapia em determinadas

fases do ciclo celular. As células em mitose, especialmente aquelas na fase M e G2,

são mais sensíveis à radiação, enquanto aquelas na fase S e G1 são resistentes.

Durante o tratamento radioterápico fracionado, as células na fase S entram no ciclo

celular e progridem para as fases radiosensíveis (redistribuição).............................24

Figura 2: Estadiamento clínico do carcinoma epidermóide de felinos submetidos ao

tratamento radioterápico. A – Lesão neoplásica estadiada como T1, no felino N. B –

Lesão neoplásica avançada, estadiada como T4, no felino M...................................54

Figura 3: Sala de radioterapia do Hospital Clementino Fraga Filho com o acelerador

linear Clinac 2100 C. .................................................................................................55

Figura 4: Planejamento radioterápico de felinos com carcinoma epidermóide. A –

Utilização de caneta de feltro para delimitação do volume alvo a ser irradiado. B -

Esquema mostrando o volume alvo neoplásico (PTV)..............................................55

Figura 5: Posicionamento do paciente G, portador de carcinoma epidermóide nasal,

para o tratamento radioterápico. O animal anestesiado foi posicionado em decúbito

esternal, um suporte foi colocado embaixo da cabeça, e um abridor de bocas foi

utilizado para permitir a correta posição do campo a ser irradiado. O bolus, que

consistiu de um bloco de 10 mm de gazes umedecidas, foi utilizado para

superficializar a radiação...........................................................................................56

Figura 6: Material do setor de radioterapia do Hospital Clementino Fraga Filho da

UFRJ, utilizado para o tratamento radioterápico de felinos portadores de carcinoma

epidermóide. A – Bolus, camada de material de densidade semelhante aos tecidos

do organismo, que tem por objetivo permitir que parte da dose seja absorvida mais

superficialmente na pele. B – Colimadores. ..............................................................56

Figura 7: Sistema de monitoramento do setor de radioterapia do Hospital Clementino

Fraga Filho da UFRJ. Esse sistema inclui câmeras, terminais de vídeos, alto-falantes

e microfones, e permite o monitoramento do paciente durante o tratamento

radioterápico..............................................................................................................57

Figura 8: Distribuição dos quinze felinos portadores de carcinoma epidermóide facial

submetidos ao tratamento radioterápico segundo a cor da pelagem. .......................59

10

Figura 9: Distribuição dos quinze felinos portadores de carcinoma epidermóide facial

submetidos ao tratamento radioterápico segundo a localização da lesão neoplásica.

..................................................................................................................................61

Figura 10: Distribuição dos quinze felinos portadores de carcinoma epidermóide

facial submetidos ao tratamento radioterápico segundo o estadiamento clínico para

tumores epidermais de felinos da Organização Mundial de Saúde, adaptado por

Owen (OWEN, 1980). ...............................................................................................62

Figura 11: Distribuição das vinte e cinco lesões neoplásicas dos felinos portadores

de carcinoma epidermóide facial submetidos ao tratamento radioterápico, de acordo

com a resposta neoplásica à radioterapia.................................................................72

Figura 12: Aspectos macroscópicos do carcinoma epidermóide em felinos

submetidos à radioterapia, antes do início do tratamento. A – Ulceração do plano

nasal no felino A. B - Ulceração grave, invasão e necrose no pavilhão auricular do

felino M. C – Nódulo no plano nasal do felino O. D – Eritema e crostas no plano

nasal do felino L. .......................................................................................................76

Figura 13 – Fotos das lâminas de histopatologia das lesões neoplásicas faciais de

felinos portadores de carcinoma epidermóide. A – Hiperceratose, acantose da

epiderme, com formações trabeculares de células epiteliais neoplásicas e formação

de pérola córnea (asterisco), B – Acantose da epiderme, formações trabeculares

(seta) e ilhas de células epiteliais neoplásicas. C – Figuras de mitose típicas (seta

branca) e atípicas (setas pretas), D – Células epiteliais neoplásicas com

pleomorfismo celular acentuado, hipercromatismo nuclear, nucléolos evidentes e

áreas de anaplasia (HE, 100x A e B; 400x C; 200x D - original). .............................77

Figura 14: Evolução das lesões neoplásicas de carcinoma epidermóide em alguns

dos felinos tratados através de radioterapia. A e B – Lesão neoplásica (9) antes e

após tratamento radioterápico, evidenciando remissão completa. C e D – Lesão

neoplásica (10) antes e após tratamento radioterápico, evidenciando remissão

completa. E e F – Lesão neoplásica (1) antes e após tratamento radioterápico,

evidenciando remissão completa. .............................................................................78

Figura 15: Evolução das lesões neoplásicas de carcinoma epidermóide em alguns

dos felinos tratados através de radioterapia. A e B – Lesão neoplásica (3) antes e

após tratamento radioterápico, evidenciando ausência de resposta. C e D – Lesão

neoplásica (4) antes e após tratamento radioterápico, evidenciando remissão parcial.

..................................................................................................................................79

11

Figura 16: Reações agudas de toxicidade ao tratamento radioterápico observadas

nos animais portadores de carcinoma epidermóide facial. A – Conjuntivite no animal

H. B – Eritema no animal C. C – Epilação no animal J. D – Ulceração no animal E. 80

Figura 17: Gráfico de Kaplan-Meier, elaborado a partir da tábua de sobrevida de

quinze felinos portadores de carcinoma epidermóide facial submetidos ao tratamento

radioterápico..............................................................................................................82

12

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Tabela de estadiamento clínico de neoplasias epidermais dos felinos

segundo a Organização Mundial de Saúde e adaptado por Owen (OWEN, 1980)...49

Tabela 2: Tabela de critérios de toxicidade aguda à radiação da VRTOG modificada

(LADUE; KLEIN, 2001)..............................................................................................52

Tabela 3: Resultados da resenha, procedência e tratamentos prévios dos quinze

felinos portadores de carcinoma epidermóide facial submetidos ao tratamento

radioterápico..............................................................................................................60

Tabela 4: Localização neoplásica, estadiamento clínico e tempo de evolução das

vinte e cinco lesões neoplásicas de carcinoma epidermóide dos quinze felinos

submetidos ao tratamento radioterápico. ..................................................................63

Tabela 5 – Resultados dos exames hematológicos dos quinze felinos portadores de

carcinoma epidermóide facial submetidos ao tratamento radioterápico....................65

Tabela 6 – Resultados da dosagem bioquímica sérica e de outros exames dos

quinze felinos portadores de carcinoma epidermóide facial submetidos ao tratamento

radioterápico..............................................................................................................66

Tabela 7: Doenças sistêmicas concomitantes dos felinos portadores de carcinoma

epidermóide facial submetidos ao tratamento radioterápico. ....................................67

Tabela 8: Exame histopatológico das vinte e cinco lesões neoplásicas de carcinoma

epidermóide em quinze felinos submetidos ao tratamento radioterápico..................69

Tabela 9: Dose total de radiação, energia utilizada, resposta neoplásica, tempo de

sobrevida, tempo livre da doença e evolução dos quinze felinos portadores de

carcinoma epidermóide facial submetidos ao tratamento radioterápico....................73

Tabela 10: Reações agudas de toxicidade à radiação observadas nas vinte e cinco

lesões neoplásicas faciais de carcinoma epidermóide de quinze felinos submetidos

ao tratamento radioterápico hipofracionado, de acordo com a tabela de critérios de

toxicidade da VRTOG (LADUE; KLEIN, 2001). .........................................................75

Tabela 11: Tábua de sobrevida dos quinze felinos portadores de carcinoma

epidermóide facial submetidos ao tratamento radioterápico. ....................................81

13

Tabela 12: Correlação entre o aspecto macroscópico da lesão e a resposta

neoplásica à radioterapia em vinte e cinco lesões neoplásicas de carcinoma

epidermóide da face de quinze felinos submetidos ao tratamento radioterápico. .....83

Tabela 13: Correlação entre o estadiamento clínico da lesão neoplásica e as

reações agudas de toxicidade à radioterapia em vinte e cinco lesões neoplásicas de

carcinoma epidermóide da face de quinze felinos submetidos ao tratamento

radioterápico..............................................................................................................84

Tabela 14: Correlação entre a localização facial da lesão e a resposta neoplásica à

radioterapia em vinte e cinco lesões neoplásicas de carcinoma epidermóide da face

de quinze felinos submetidos ao tratamento radioterápico. ......................................84

14

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

BNCT .........................................................................Boron Nêutron Capture Therapy

CE ...........................................................................................Carcinoma Epidermóide

cm ...............................................................................................................Centímetro

cm2...............................................................................................Centímetro Quadrado

COBEA .................................................Colégio Brasileiro de Experimentação Animal

CTV ...........................................................................................Clinical Target Volume

dL ......................................................................................................................Decilitro

DNA ......................................................................................Ácido Desoxirribonucléico

DTPA ................................................................ Diethylene Triamine Pentaacetic Acid

dx....................................................................Números de mortes até o mês marcado

EtNBS .......................5-ethylamino -9-diethylaminobenzo(a)phenothiazinium chloride

EV ........................................................................................................Via endovenosa

FeLV .....................................................................................Vírus da Leucemia Felina

FiV .............................................................................Vírus da Imunodeficiência Felina

GTV ...........................................................................................Gross Tumour Volume

Gy ..........................................................................................................................Gray

HPPH-23............................................................. Pyropheophorbide-alpha-hexyl-ether

H+ ................................................................................................................ Hidrogênio

IM .......................................................................................................Via Intramuscular

J ............................................................................................................................Joule

kg ..................................................................................................................Kilograma

kV ......................................................................................................................Kilovolt

LED .............................................................................................. Light-emitting Diode

mEq …………………………………………………………….……………. Miliequivalente

MeV ..........................................................................................Milhão de elétrons-volt

mg ................................................................................................................ Miligrama

mm ..................................................................................................................Milímetro

mV ......................................................................................................................Milivolt

mW ...................................................................................................................Miliwatt

m2 .........................................................................................................Metro quadrado

Nd:Yag ..............................Neodymium-doped yttrium aluminium garnet; Nd:Y3Al5O12

15

nm ............................................................................................................... Nanômetro

OH- ..................................................................................................................Hidroxila

Ox..........................................................Número de sobreviventes até o mês marcado

p…………………………………………………………………………………………p-valor

PPT ......................................................................................Proteína Plasmática Total

PTV .........................................................................................Planned Target Volume

px …….…………………………………Probabilidade de se estar vivo no mês marcado

Px ……..………………Probabilidade acumulada de se estar vivo até o mês marcado

rs………….………………………………………Coeficiente de correlação de Spearman

TFD .............................................................................................Terapia Fotodinâmica

UFRJ ..............................................................Universidade Federal do Rio de Janeiro

UI ................................................................................................Unidade Internacional

UV ................................................................................................................Ultravioleta

VG .......................................................................................................Volume Globular

VRTOG ................................................Veterinary Radiation Therapy Oncology Group

WHO ..............................World Health Organization (Organização Mundial de Saúde)

wx....................... Número de animais que permaneceram vivos após o mês marcado

60Co ............................................................................................................Cobalto-60

µL ...................................................................................................................Microlitro.

16

RESUMO

A radioterapia é uma das modalidades de tratamento do câncer. O seu objetivo é a morte das células neoplásicas, evitando atingir as células sadias vizinhas. O tratamento radioterápico preconizado para o carcinoma epidermóide felino em outros países consiste de frações frequentes, muitas vezes diárias. Os felinos devem ser submetidos à anestesia geral em cada sessão, o que se torna uma desvantagem, já que os felinos com carcinoma epidermóide são em sua maioria, geriátricos e portadores de outras enfermidades. Um protocolo semanal de radioterapia (hipofracionamento) pode ser interessante por sua maior praticidade, menor custo e menor frequência de anestesias gerais. Este trabalho teve como objetivo avaliar a eficácia do protocolo radioterápico hipofracionado no tratamento de felinos portadores de carcinoma epidermóide facial. Vinte e cinco lesões neoplásicas de carcinoma epidermóide, confirmadas por histopatologia, da face de quinze felinos (Felis catus) foram tratadas através de um protocolo hipofracionado de radioterapia. O protocolo utilizado consistiu de uma fração semanal de 7,6 a 10gy durante quatro semanas, e o aparelho utilizado para a aplicação da radioterapia foi um acelerador linear (Clinac 2100) com energia de 4 a 6 MeV, com bolus de 5 a 10 mm de espessura. O estadiamento clínico dos animais foi realizado de acordo com o sistema WHO (Organização Mundial de Saúde) de estadiamento clínico para tumores epidermais de felinos. Dos quinze felinos estudados, nenhum tinha raça definida, sendo apenas um macho e o restante fêmeas, e a idade dos animais variou entre 7 e 17 anos, com média de 11 anos. Todos os animais tinham pelagem total ou parcialmente branca, e a neoplasia surgiu em áreas despigmentadas e com poucos pêlos, com apenas uma exceção. A região dos pavilhões auriculares foi a mais acometida, seguida pelo plano nasal, palpebral e temporal. De acordo com o sistema WHO de estadiamento clínico para tumores epidermais de felinos, 44% das lesões foram classificadas como T4, 16% como T3, 8% como T2 e 32% como T1. Dez (40%) das vinte e cinco lesões irradiadas apresentaram remissão completa, três (12%) apresentaram remissão parcial e doze (48%) não apresentaram resposta ao tratamento. As neoplasias de estadiamento T1 tiveram 62,5% de remissão completa. O tempo de sobrevida médio dos animais do experimento com o tratamento radioterápico foi de 224 dias, e os animais que não responderam ao tratamento foram eutanasiados por desejo dos proprietários. O tempo livre da doença teve média de 271 dias. Os efeitos colaterais do tratamento hipofracionado de radioterapia foram leves/moderados e reversíveis em todos os casos, e incluíram eritema cutâneo, epilação, ulceração, rinite e conjuntivite. A taxa de resposta encontrada nessa pesquisa foi inferior aos de outros trabalhos provavelmente devido

17

à inclusão de muitas lesões extremamente avançadas (T3 e T4) e diferenças na técnica radioterápica, como por exemplo, esquema de fracionamento, tipo de energia, espessura do bolus e profundidade de penetração. Porém, o protocolo de hipofracionamento radioterápico foi um tratamento seguro para felinos com carcinoma epidermóide facial, levando a efeitos colaterais leves/moderados, e pode representar uma boa opção terapêutica. Palavras-chave: gatos, neoplasia, radioterapia, hipofracionamento, carcinoma epidermóide.

18

ABSTRACT

Radiation therapy is a cancer treatment modality. Its main goal is the death of neoplastic cells sparing the healthy adjacent tissue. Radiation protocols accepted for feline squamous cell carcinoma include frequent treatment fractions. The cat must be submitted to general anesthesia in each fraction, which can be considered a disadvantage in geriatric feline patients. A weekly radiation protocol (hypofractionated) seems interesting due to lower financial costs, greater convenience and fewer anesthesia procedures needed. The objective of this paper was to evaluate the efficacy of hypofractionated radiation protocol for feline facial squamous cell carcinoma. Twenty five histologically confirmed squamous cell carcinomas of 15 cats were treated with a hypofractionated radiation protocol. The protocol used was four fractions of 7,6-10 gy each, with one week intervals, and the equipment used was a linear accelerator (Clinac 2100) delivering 4 or 6 MeV. Clinical staging was done according to WHO (World Health Organization) feline tumors of epidermal origin. Of the cats, none had pure breed, and there was only one male. Age ranged from 7 to 17 years, with mean age of 11 years. All lesions, except one, were located at non pigmented and poor haired sites of total or partial white cats. The pinna was most affected, followed by nasal planum, eyelids and temporal region. Of the lesions, 44% were staged as T4, 16% as T3, 8% as T2 and 32% as T1. Of the irradiated lesions, ten (40 %) had complete remission, three (12%) partial response and twelve (48%) showed no response to the treatment. T1 tumors had 62,5% of complete remission. Mean overall survival time was 224 days. Cats with no response to radiation treament were asked to be euthanized by owners. Mean disease-free time was 271 days. Few side effects to this protocol were observed, including skin erythema, epilation, ulceration, rhinitis and conjunctivitis. Response rates found in this study were lower when compared to other protocols, probably due to the high number of advanced lesions (T3 and T4) included, and technique differences, such as fractionation schedule, bolus thickness and energy penetration depth. However, hypofractionated radiation protocol was considered safe for feline facial squamous cell carcinoma, and can be considered as a viable treatment. Key words: Cats, neoplasia, radiation therapy, hypofractionation, squamous cell carcinoma.

19

1 INTRODUÇÃO

A medicina veterinária vem apresentando avanços significativos nos últimos

anos no Brasil e no mundo. A oncologia veterinária é uma das áreas de grande

destaque, pelo fato de ser uma das principais causas de morte natural em animais

geriátricos.

O carcinoma epidermóide (CE) é a principal neoplasia de pele de felinos, e

está intimamente ligado à exposição aos raios solares. É mais comum na face, nas

áreas despigmentadas e com poucos pêlos, incluindo plano nasal, pavilhões

auriculares, pálpebras e têmporas. Esta neoplasia tem caráter altamente infiltrativo,

porém apresenta baixas taxas de metástases, sendo uma boa opção para o

tratamento radioterápico.

Os protocolos radioterápicos que são comprovadamente eficazes na cura de

neoplasias requerem tratamentos constantes, às vezes diários, com pequenas

doses de radiação. No tratamento do carcinoma epidermóide preconizado em outros

países, o animal é submetido à radioterapia 3 a 5 vezes por semana, sendo

anestesiado em cada sessão, o que se torna uma desvantagem já que a os

pacientes com câncer, em geral, são geriátricos e portadores de outras

enfermidades.

Protocolos que utilizam aplicações semanais de radioterapia

(hipofracionamento) são interessantes porque se tornam mais práticos, requerem

menor número de anestesias gerais e têm menor custo. No entanto, há poucos

estudos em nossa área sobre sua eficácia e segurança. Este projeto tem como

objetivo pesquisar um protocolo radioterápico prático, viável e seguro para os felinos

portadores de carcinoma epidermóide de face.

20

2 OBJETIVOS

2.1 Geral Avaliar a aplicabilidade e efetividade do protocolo radioterápico

hipofracionado no tratamento de felinos portadores de carcinoma epidermóide facial.

2.2 Específicos

Analisar as características do comportamento biológico dos carcinomas

epidermóides em felinos domésticos, analisando os aspectos macroscópicos e

microscópicos, através do exame clínico e análise histopatológica.

Analisar os fatores de risco relacionados ao carcinoma epidermóide felino,

através do histórico geral e anamnese, incluindo idade, raça, pelagem, exposição a

raios solares e procedência do animal.

Analisar os principais fatores envolvidos no prognóstico do carcinoma

epidermóide felino, incluindo estadiamento clínico, tempo de evolução, tamanho da

lesão e a rapidez do seu desenvolvimento, localização facial, invasão tumoral, e

evidências de metástases locais e distantes.

21

Testar protocolo radioterápico de hipofracionamento (quatro sessões de 7,6 a

10 gy cada, realizadas em aplicações semanais, totalizando 30,4 a 40 gy).

Analisar possíveis efeitos colaterais nos animais submetidos ao tratamento

radioterápico.

22

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A medicina veterinária vem apresentando avanços significativos nos últimos

anos no Brasil e no mundo. A oncologia veterinária é uma das áreas de grande

destaque, pelo fato de ser uma das principais causas de morte natural em animais

geriátricos, e portanto, de grande preocupação para os proprietários de animais

(MOORE; OGILVIE, 2001).

Atualmente, há preocupação por parte dos proprietários em garantir não

apenas quantidade, mas também qualidade de vida para seus animais de estimação

(LARUE; GILLETTE, 2007; MOORE; OGILVIE, 2001). A radioterapia foi se

desenvolvendo e aperfeiçoando ao longo dos anos, e cada vez melhores resultados

são obtidos (GILLETTE, 1997; MOORE; OGILVIE, 2001).

3.1 Radioterapia

A radioterapia é uma das modalidades de tratamento do câncer. Seu principal

objetivo é a morte das células neoplásicas, evitando atingir as células sadias

vizinhas. Portanto, é indicada para o tratamento da neoplasia primária e localizada, e

não da doença sistêmica (KENT, 2006). Normalmente, é utilizada em conjunto com

outras modalidades, como quimioterapia ou cirurgia, mas é também indicada como

tratamento único (neoplasias nasais) ou paliativo (neoplasias ósseas) (KENT, 2006).

O principio básico da radioterapia é o efeito da radiação ionizante sobre as

células, levando-as à morte (CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH, 1987;

COLLEEN; MAYER, 2006; LARUE; GILLETTE, 2007; MCNIEL; LARUE, 1998;

MOORE, 2002). A radiação ionizante penetra na célula e deposita sua energia

23

dentro do núcleo, interrompendo a síntese de DNA e impedindo a proliferação

celular (CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; LARUE; GILLETTE, 2007;

MCNIEL; LARUE, 1998).

Todas as células em proliferação, tanto normais quanto neoplásicas, são

afetadas pela radiação (CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; LARUE;

GILLETTE, 2007; MCNIEL; LARUE, 1998). Portanto, o tecido normal adjacente à

neoplasia limita a dose da radiação que pode ser utilizada, e é um dos fatores de

preocupação no planejamento do tratamento radioterápico (CARPENTER;

ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; COLLEEN; MAYER, 2006; LARUE; GILLETTE,

2007; MCNIEL; LARUE, 1998). A melhor atuação e minimização dos efeitos

colaterais da radioterapia ocorrem quando a dose total de radiação é dividida em

pequenas frações administradas em um período de tempo, em um processo

conhecido como fracionamento (CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH, 1987;

LARUE; GILLETTE, 2007).

3.1.1 Fracionamento radioterápico O fracionamento é importante por uma série de motivos. Os efeitos da

radioterapia dependem de no mínimo quatro fatores que afetam as células

irradiadas, sendo estes a redistribuição, reoxigenação, reparo e repopulação,

denominados “4 R´s da radioterapia” (LARUE; GILLETTE, 2007; MOORE, 2002;

RUSLANDER, 2006).

As células dos tecidos normais e neoplásicos se multiplicam através da

mitose. O ciclo celular é a sequência de eventos que ocorrem em uma célula viva

entre duas divisões celulares. Esse ciclo é dividido em quatro fases: G1, S, G2 e M.

O G1 é o período anterior à duplicação ou síntese de DNA no núcleo, e pode ser

indistinguível da fase G0, em que as células estão funcionais, mas não estão

programadas para a mitose. A fase S é o período em que o DNA nuclear é

sintetizado e os cromossomos são duplicados. A fase G2 se inicia quando a síntese

do DNA está completa e se estende até o início da divisão celular, e a fase M

corresponde à divisão celular. (LARUE; GILLETTE, 2007; GIORDANO, 2004).

A presença de células nessas diversas fases do ciclo celular (M, S, G1, G2,

G0) é um fator importante na sensibilidade destas à radiação (LARUE; GILLETTE,

24

2007; MOORE, 2002; GIORDANO, 2004; RUDOLTZ; KAO; BLANK, 1996;

RUSLANDER, 2006). As células na fase S e G1 são mais resistentes, e aquelas nas

fases M e G2 se tornam mais sensíveis à radiação (LARUE; GILLETTE, 2007;

MOORE; OGILVIE, 2001; MOORE, 2002; RUSLANDER, 2006). Durante o intervalo

entre frações, as células na fase S progridem para as fases radiosensíveis, em um

processo conhecido como redistribuição (LARUE; GILLETTE, 2007; MOORE, 2002;

RUSLANDER, 2006). Portanto, o fracionamento do tratamento é de extrema

importância para que a radiação atinja o maior numero possível de células nas fases

radiosensíveis (LARUE; GILLETTE, 2007; MOORE; OGILVIE, 2001; MOORE, 2002;

RUSLANDER, 2006).

G1

SG2

MMitose

RADIOTERAPIA

G0

Síntese de proteínas e

RNA

Síntese de DNA -

Duplicação de cromossomos

Síntese de DNA completa

Fase Quiescente

Figura 1– Esquema mostrando a melhor atuação da radioterapia em determinadas fases do ciclo celular. As células em mitose, especialmente aquelas na fase M e G2, são mais sensíveis à radiação, enquanto aquelas na fase S e G1 são resistentes. Durante o tratamento radioterápico fracionado, as células na fase S entram no ciclo celular e progridem para as fases radiosensíveis (redistribuição).

Devido ao ritmo acelerado e descontrolado de crescimento, e conseqüente

vascularização deficiente, muitas neoplasias têm células em hipóxia (LARUE;

GILLETTE, 2007; MOORE, 2002; RUSLANDER, 2006). A falta de oxigênio resulta

em menores danos ao DNA da célula irradiada. Felizmente, durante o intervalo

entre frações, muitas células em hipóxia entram em aerobiose, e se tornam,

25

portanto, mais sensíveis à radiação. Este processo é conhecido como reoxigenação

(LARUE; GILLETTE, 2007; MOORE, 2002; RUSLANDER, 2006).

A reparação do dano subletal ocorre tanto nas células neoplásicas quanto

nas células normais poucas horas após a radiação (LARUE; GILLETTE, 2007;

MOORE; OGILVIE, 2001). A reparação dos tecidos sadios é benéfica durante o

fracionamento radioterápico. Este fenômeno é dependente de oxigênio, e devido ao

fato de parte das células neoplásicas estarem em hipóxia, a reparação é deficiente

nas células neoplásicas, o que é favorável ao tratamento. Assim, o fracionamento

ajuda na reparação do tecido normal adjacente à neoplasia, porém prejudica as

células neoplásicas (LARUE; GILLETTE, 2007; GIORDANO, 2004).

A repopulação envolve a reposição de células mortas pela radiação através

da multiplicação das células sobreviventes, sejam normais ou neoplásicas. Apenas a

repopulação dos tecidos normais é favorável. Este processo depende do tecido de

origem, o que explica por que algumas neoplasias são mais radiosensíveis do que

outros (HAND; KIM; WALDOW, 2004).

3.1.2 Tempo de tratamento radioterápico

O período de tempo total do tratamento radioterápico é importante devido ao

fenômeno de repopulação de células neoplásicas e sadias, principalmente aquelas

de proliferação rápida, como mucosas e pele (LARUE; GILLETTE, 2007). As células

neoplásicas irradiadas que não foram destruídas se replicam mais rapidamente em

um fenômeno conhecido como repopulação acelerada (BESE; HENDRY; JEREMIC,

2007; LARUE; GILLETTE, 2007; WANG; LI, 2005). Embora ainda não totalmente

esclarecido, alguns pesquisadores sugerem que, após quatro semanas de

tratamento, as células neoplásicas “aprendem” a se multiplicar mais rápido, devido à

redução no tempo do ciclo celular, aumento do número de células que entram em

divisão celular, e redução do número de células que normalmente morrem (fator de

perda celular) (BESE; HENDRY; JEREMIC, 2007; LARUE; GILLETTE, 2007; WANG;

LI, 2005). Portanto, quando o período de tratamento radioterápico é superior a

quatro semanas, este fenômeno pode interferir nos resultados.

Por outro lado, quando a dose total é entregue em um período muito curto de

tempo, o que significa doses maiores em cada fração, reações agudas mais graves

26

são observadas, principalmente nos tecidos de alta proliferação. No entanto, apesar

de causarem desconforto ao paciente, tais efeitos são geralmente auto-limitantes e

são facilmente controlados com tratamento de suporte (CARPENTER; ANDREWS;

HOLZWORTH, 1987; COLLEEN; MAYER, 2006; LARUE; GILLETTE, 2007; MELEO,

1997; MOORE, 2002; RUSLANDER, 2006).

O intervalo entre frações é um fator importante. Os protocolos em que

múltiplas frações diárias são aplicadas em um curto período de tempo previnem a

repopulação e minimizam os efeitos agudos (BESE; HENDRY; JEREMIC, 2007;

HAND, 2004; LARUE; GILLETTE, 2007; MOORE, 2002; WANG; LI, 2005). As

frações devem ter no mínimo 6 horas de intervalo entre si para permitirem o reparo

do DNA dos tecidos normais (GIORDANO, 2004).

3.1.3 Dose total de radiação A dose de radiação é mensurada através da energia absorvida por unidade

de massa. A unidade universalmente utilizada é o Gray (Gy), que é equivalente a 1

Joule/kg. Outra unidade mais antiga, mas ainda utilizada, é o rad, que é equivalente

a 0,1 gy (LARUE; GILLETTE, 2007; MCNIEL; LARUE, 1998; MOORE, 2002).

A dose total administrada a um paciente deve ter baixa probabilidade de

provocar reações teciduais tardias na região irradiada. Entretanto, como mencionado

acima, a resposta dos tecidos depende da dose de cada fração (LARUE; GILLETTE,

2007; WANG; LI, 2005). Protocolos que utilizam pequenas doses por fração

permitem que uma alta dose total seja administrada sem aumentar a probabilidade

de reações teciduais tardias. No entanto, um período de tratamento muito longo

também tem desvantagens, pois permite a repopulação neoplásica (BESE;

HENDRY; JEREMIC, 2007; LARUE; GILLETTE, 2007; WANG; LI, 2005).

Não há protocolo radioterápico perfeito, e todos os protocolos utilizados na

medicina humana e veterinária apresentam vantagens e desvantagens (LARUE;

GILLETTE, 2007; GIORDANO, 2004).

27

3.1.4 Volume alvo A localização exata da neoplasia e a delimitação do campo a ser irradiado são

fatores importantes em um tratamento radioterápico. O volume alvo neoplásico

pode ser delimitado através de palpação, ou técnicas de diagnóstico por imagem,

como ultra-sonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética

(CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; MCENTEE, 2001; MOORE,

2002).

O campo a ser irradiado deve ser determinado antes do início do tratamento

através de utilização de canetas especiais. A imobilização e posicionamento

perfeitos do paciente e do campo a ser irradiado, através da utilização de apoios e

suportes, também são essenciais (MCENTEE, 2001; MOORE, 2002). O volume

neoplásico (Gross tumour volume – GTV) é a neoplasia evidenciada clinicamente ou

através de técnicas de imagem. O volume alvo (Clinical target volume – CTV)

adiciona uma margem ao GTV, considerando a existência de uma extensão

microscópica da neoplasia. Já o volume alvo planejado (Planned target volume –

PTV) considera uma margem além do CTV, já que o paciente se move devido à

respiração, e corresponde ao volume final irradiado (MOORE, 2002).

Blocos de chumbo são posicionados entre o colimador do aparelho e o

paciente, com o objetivo de garantir que a dose atinja a neoplasia poupando as

estruturas normais (LARUE; GILLETTE, 2007; SCHARBELE; SILVA, 2000).

3.1.5 Radiobiologia

A radiobiologia é definida como o estudo da seqüência de eventos que

ocorrem na célula após a absorção de energia da radiação ionizante, os

mecanismos compensatórios e os danos causados ao organismo (HAND; KIM;

WALDOW, 2004; MOORE, 2002).

A resposta de uma célula viva à radiação ionizante pode acontecer de

inúmeras maneiras. Podem ocorrer o atraso mitótico, morte celular direta,

incapacidade de divisão celular ou divisão anômala, apoptose ou ausência de

28

resposta à radiação (COLEMAN, 1996; HAND; KIM; WALDOW, 2004; MOORE,

2002).

No atraso mitótico, as células que estão em interfase no momento da

radiação se atrasam para a fase G2. Consequentemente, menos células daquela

população entrarão em mitose para se dividirem, e menos células serão produzidas.

A magnitude deste fenômeno é dose-dependente, sendo que quanto maior a dose

da radiação, maior será o atraso mitótico (COLEMAN, 1996; HAND; KIM; WALDOW,

2004).

A radioterapia durante as fases G1, S ou G2 pode resultar em morte celular

direta antes de estas células atingirem a mitose. Este tipo de resposta pode ocorrer

tanto em células que não se dividem, como células nervosas, quanto naquelas com

divisões mitóticas frequentes (COLEMAN, 1996; HAND; KIM; WALDOW, 2004).

A resposta mais frequente à radiação é a incapacidade reprodutiva das

células irradiadas, também conhecida como morte mitótica. Ela é definida como a

diminuição da integridade reprodutiva celular, que diminui a habilidade das células

de se dividirem após a irradiação (COLEMAN, 1996; HAND; KIM; WALDOW, 2004).

Embora sem relação com a mitose, a apoptose (morte celular programada)

também tem sido associada aos efeitos da radiação. A célula em apoptose sofre

fragmentação nuclear, lise celular, e fagocitose pelas células vizinhas (COLEMAN,

1996; HAND; KIM; WALDOW, 2004).

Quando a radiação ionizante penetra na célula, ela provoca basicamente dois

tipos de danos. O efeito direto consiste na abertura das fitas de DNA através da

quebra das pontes dissulfeto, levando a morte celular (HAND; KIM; WALDOW, 2004;

RUSLANDER, 2006). No entanto, caso a dose de radiação seja insuficiente, a célula

é capaz de se reparar e continuar dentro do ciclo celular (HAND; KIM; WALDOW,

2004; LARUE; GILLETTE, 2007; MOORE; OGILVIE, 2001). O efeito indireto é a

dissociação da água do citoplasma em íons H+ e OH-, que gera danos à célula

gerando sua morte (HAND; KIM; WALDOW, 2004; RUSLANDER, 2006). Outras

estruturas na célula que sofrem danos com a radiação são as membranas celulares,

mitocondriais e lisossômicas (que têm sua permeabilidade alterada), e componentes

celulares (proteínas, enzimas, carboidratos e lipídios) (HAND; KIM; WALDOW, 2004;

RUSLANDER, 2006).

29

3.1.6 Reação dos tecidos / Efeitos colaterais

As reações do tecido normal irradiado se desenvolvem quando a taxa de

morte celular é superior à taxa de repopulação celular (CARPENTER; ANDREWS;

HOLZWORTH, 1987; MOORE, 2002). A tabela de critérios de toxicidade da

“Veterinary Radiation Therapy Oncology Group - VRTOG” foi criada em 2001 com a

finalidade de padronizar a classificação das reações agudas e tardias dos animais

ao tratamento radioterápico (LADUE; KLEIN, 2001).

As mucosas nasal, oral e ocular desenvolvem reações agudas que incluem

rinite, estomatite, glossite e conjuntivite (CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH,

1987; COLLEEN; MAYER, 2006; MELEO, 1997; MOORE, 2002; RUSLANDER,

2006). As manifestações clínicas cutâneas progridem desde eritema até

descamação (seca ou úmida) e epilação (CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH,

1987; COLLEEN; MAYER, 2006; MCNIEL; LARUE, 1998; MELEO, 1997; MOORE,

2002; RUSLANDER, 2006). O dano tecidual máximo ocorre em sete a catorze dias

após o tratamento. Neste período, deve-se evitar a automutilação gerada pelo

prurido dos locais afetados (CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH, 1987;

COLLEEN; MAYER, 2006; MCNIEL; LARUE, 1998; MELEO, 1997). O tratamento

das reações agudas geralmente é sintomático (CARPENTER; ANDREWS;

HOLZWORTH, 1987).

As reações tardias da radiação ocorrem meses ou anos após o tratamento

radioterápico, e suas manifestações clínicas incluem despigmentação, alopecia,

fibrose, necrose, formação de fistulas, baixa resistência a infecções, conjuntivite

crônica, catarata, ceratoconjuntivite seca, estomatite crônica, cáries dentarias,

formação de cálculo dentário, e halitose (estas últimas em casos de irradiação das

glândulas salivares) (CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; COLLEEN;

MAYER, 2006; MCNIEL; LARUE, 1998; MELEO, 1997; MOORE, 2002;

RUSLANDER, 2006).

30

3.1.7 Tipos de radioterapia

Em geral, a radioterapia utiliza uma fonte de fótons, que são ondas de

energia. As fontes conhecidas de fótons incluem isótopos radioativos, como por

exemplo, o cobalto (60Co), que liberam um fóton do núcleo do átomo, conhecido

como raio gama (LEAVER; ALFRED, 2004; MCNIEL; LARUE, 1998; MOORE, 2002).

Outras fontes de fótons são máquinas que aceleram elétrons em campos

magnéticos ou elétricos. A interação entre os elétrons e o alvo produz raios-x, fótons

que se originam fora do núcleo atômico (LEAVER; ALFRED, 2004; MCNIEL;

LARUE, 1998).

A radiação ionizante pode ser administrada por uma fonte externa

(teleterapia), através do implante local de isótopos (braquiterapia), ou pela

administração sistêmica de radioisótopos (terapia sistêmica) (CARPENTER;

ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; LARUE; GILLETTE, 2007; LEAVER; ALFRED,

2004; MCENTEE, 2001; MCNIEL; LARUE, 1998; MOORE; OGILVIE, 2001).

A teleterapia é o método mais comum de radioterapia na medicina veterinária

(CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; LARUE; GILLETTE, 2007;

MCNIEL; LARUE, 1998; MOORE;OGILVIE, 2001). Há quatro tipos equipamentos de

teleterapia em uso no mundo: (1) Máquina de ortovoltagem; (2) Máquina de Cobalto

60; (3) Máquina de Césio 137; e (4) acelerador linear (CARPENTER; ANDREWS;

HOLZWORTH, 1987; LARUE; GILLETTE, 2007; LEAVER; ALFRED, 2004;

MCENTEE, 2001; MCNIEL; LARUE, 1998; MOORE; OGILVIE, 2001). As máquinas

de ortovoltagem produzem raios-x com energia de 150 a 500 kV (CARPENTER;

ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; LARUE; GILLETTE, 2007; LEAVER; ALFRED,

2004; MCENTEE, 2001; MCNIEL; LARUE, 1998; MOORE; OGILVIE, 2001). Já os

aparelhos de megavoltagem (Máquinas de cobalto, césio e aceleradores lineares)

emitem fótons de energia superior a um milhão de volts (1 mV), e vêm sendo cada

vez mais utilizados (LARUE; GILLETTE, 2007; MOORE; OGILVIE, 2001; MCNIEL;

LARUE, 1998).

A diferença mais importante entre máquinas de megavoltagem e ortovoltagem

é a energia de fótons produzida. Os fótons de baixa energia da máquina de

ortovoltagem depositam a dose de radiação na superfície da pele, não atingindo

tumores mais profundos. Os fótons de alta energia da megavoltagem depositam

uma maior quantidade de energia abaixo da superfície da pele, podendo ser

31

utilizados para tumores profundos (LARUE; GILLETTE, 2007; MCENTEE, 2001;

MCNIEL; LARUE, 1998; MOORE, 2002).

Dentre as máquinas de megavoltagem, os aceleradores lineares têm

vantagens em relação às máquinas de cobalto, pois utilizam feixe de elétrons além

de fótons (LEAVER; ALFRED, 2004; MCENTEE, 2001; MCNIEL; LARUE, 1998).

Quando a neoplasia envolve a pele, a megavoltagem pode ser utilizada com

sucesso colocando-se uma camada de material de densidade semelhante aos

tecidos do organismo, denominado bolus, sobre a lesão neoplásica. Isto permite que

parte da dose seja absorvida antes de alcançar a pele, sendo assim a dose máxima

de radiação depositada muito mais superficialmente (COLEMAN, 1996; LARUE;

GILLETTE, 2007).

3.1.8 Radioproteção

A radiação ionizante provoca danos ao DNA, podendo induzir a mutações

genéticas ou carcinogênese. Os efeitos nocivos da radiação ionizante podem ser

minimizados através de procedimentos de proteção radiológica ou de radioproteção

(BLINICK; QUATE, 2004; HARDING, 1998; HEAD, 2002; WIDMER; SHAW;

THRALL, 1996).

Existem normas específicas de radioproteção estipuladas para um serviço de

radioterapia. O plano de radioproteção de cada instituição é elaborado por um físico

responsável, e inclui diversas medidas (BLINICK; QUATE, 2004; HARDING, 1998;

HEAD, 2002; SCHARBELE; SILVA, 2000).

3.2 Carcinoma epidermóide felino

3.2.1 Anatomia e histologia da pele de felinos sadios

A pele normal dos felinos apresenta porções cobertas de pêlos (hirsutas) e

desprovidas de pêlos (glabras) (HARGIS, 1995). A espessura da pele do gato pode

variar de 0,4 mm a 2,0 mm, de acordo com a região do corpo, sendo mais espessa

32

nas regiões dorsal, lombar e sacral e nas superfícies laterais dos membros, e menos

espessa na região ventral e nas superfícies mediais dos membros (CALHOUN;

STINSON, 1982; MORIELLO, 1994).

A epiderme é a camada externa do corpo, e é composta por diferentes

estratos. Há quatro tipos distintos celulares nessa camada: ceratinócitos

(correspondem a 85% das células), melanócitos (cerca de 5%), células de

Langerhans (3 a 8%) e células de Merkel, associadas aos coxins (SCOTT; MILLER;

GRIFFIN, 1996). A epiderme dos gatos é fina nas áreas com pêlos, variando de 0,1

a 0,5 mm em espessura. A epiderme mais espessa é encontrada nos coxins e no

plano nasal, onde pode medir 1,5 mm (SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 1996).

A camada basal (mais interna) é a camada germinativa formada por uma

única camada de células cúbicas ou cilíndricas (BANKS, 1991; HARGIS, 1995). Os

ceratinócitos se reproduzem e empurram as células epidérmicas acima, até se

tornarem células córneas mortas (SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 1996). Os

melanócitos, células de Langerhans e células de Merkel estão presentes na camada

de células basais. Grânulos melanocíticos, transferidos aos ceratinócitos e dispostos

sob a forma de capuz por sobre o núcleo, ajudam a protegê-los da luz ultravioleta

(HARGIS, 1995). Essa melanina, nos animais, é responsável pela coloração da pele

e dos pêlos, fotoproteção e inativação de radicais livres (GREEN et al., 1999;

SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 1996). As células de Langerhans são células

epidérmicas claras, e atuam na modulação e mediação de respostas imunológicas

(HARGIS, 1995; SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 1996). As células de Merkel funcionam

como mecanorreceptores e regulam a função das estruturas da epiderme e das

estruturas anexais adjacentes através de sua ação parácrina (HARGIS, 1995;

SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 1996).

A camada espinhosa é formada por células poliédricas unidas por

desmossomos. Na pele com pêlos, esta camada possui uma ou duas células de

espessura, mas torna-se muito mais espessa nos coxins, plano nasal e junções

mucocutâneas. As células variam de basofílicas a eosinofílicas, e mudam

gradualmente seu formato de poliédricas a pavimentosas (BANKS, 1991; SCOTT;

MILLER; GRIFFIN, 1996).

A camada granulosa é formada por células achatadas rombóides ou

pavimentosas que possuem grânulos de ceratohialina e ricos em histidina, e formam

a substância interfibrilar da ceratina mole (BANKS, 1991).

33

A camada lúcida é formada por uma fina camada de células compactadas e

completamente ceratinizadas. Esta zona restringe-se às regiões epidérmicas muito

espessas do corpo, como coxins, plano nasal e plano nasolabial (BANKS, 1991;

HARGIS, 1995; SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 1996).

A camada córnea é a camada mais externa, completamente ceratinizada, e

consiste de células achatadas, anucleadas e eosinófilicas. É mais espessa em áreas

com poucos pêlos. A ceratina, que reveste o tegumento, é o produto da

transformação da diferenciação das células basais, e consiste de uma mistura de

microfibrilas (proteínas de baixo teor de enxofre) à uma matriz amorfa rica em

proteínas de alto teor de enxofre (BANKS, 1991; HARGIS, 1995; SCOTT; MILLER;

GRIFFIN, 1996).

A derme é constituída por fibras colágenas e poucas elásticas imersas em

uma matriz de sustentação, formada por glicosaminoglicanos. É responsável pela

sustentação dos folículos pilosos, glândulas, vasos e nervos. Nesta região, há duas

zonas: papilar e reticular (HARGIS, 1995).

A zona papilar é composta de uma malha de fibras colágenas finas e

elásticas, fibroblastos, macrófagos, plasmócitos e mastócitos (CALHOUN;

STINSON, 1982; HARGIS, 1995). A zona reticular, bem mais grossa e densa, é

constituída por tecido conjuntivo frouxo, cujas fibras formam um retículo (BANKS,

1991; CALHOUN; STINSON, 1982; MORIELLO, 1994).

3.2.2 Definição de carcinoma epidermóide felino O carcinoma epidermóide é uma neoplasia maligna, oriunda de ceratinócitos.

É a segunda neoplasia mais comum em felinos, perdendo apenas para o linfoma, e

é a neoplasia cutânea mais freqüente nesta espécie. É uma neoplasia localmente

agressiva, porém com baixas taxas de metástases (MOORE; OGILVIE, 2001;

MORIELLO, 1994; PETERSON; COUTO, 2000).

34

3.2.3 Etiopatogenia

A dermatite solar e o CE têm sido associados à exposição aos raios

ultravioleta (DORN; TAYLOR; SCNEIDER, 1971; CARPENTER; ANDREWS;

HOLZWORTH, 1987; MOORE; OGILVIE, 2001; MORIELLO, 1994; PETERSON;

COUTO, 2000). As lesões actínicas resultam de queimaduras solares repetidas

decorrentes da exposição à luz ultravioleta solar, na faixa de 3000 angstrons. Essa

faixa de luz não é filtrada pelas nuvens, de modo que esta enfermidade ocorre

principalmente em lugares de clima quente e ensolarado (MULLER; KIRK; SCOTT,

1985).

A radiação ultravioleta (A e B) tem a capacidade de ser oncogênica e

localmente imunossupressora, diminuindo a capacidade local da vigilância imune

(TOWNSEND; GORRELL; MAYER, 1997). A luz UV interfere nas células de

langerhans, as quais são apresentadoras de antígenos na epiderme e muito

importantes para o sistema imune. Townsend, Gorrell e Mayer (1997) estudaram a

distribuição das células de Langerhans em epitélio normal, acantótico e neoplásico

de ovinos. Na pele normal, estas células estavam regularmente distribuídas. Na

dermatite actínica, elas se apresentavam em menor número, irregulares, com

distribuição mais suprabasal, e ocasionalmente intumescidas e indistintas. No CE,

estas células estavam concentradas em áreas periféricas do epitélio neoplásico,

deformadas e com poucos grânulos específicos (TOWNSEND; GORRELL; MAYER,

1997).

Hargis (1995) sugeriu que o mecanismo envolvido no aparecimento do CE é

multifatorial. Quando a luz UV é absorvida, uma lesão tissular ocorre, resultando na

geração de radicais livres que podem lesionar os ácidos nucléicos e proteínas. A

lesão pode ocorrer em núcleos, membranas ou organelas, podendo alterar enzimas,

causar mutações ou levar ao desenvolvimento neoplásico. Uma das mais

importantes alterações é a formação de dímeros de timina entre as bases

pirimidínicas do ácido desoxirribonucléico (DNA). Se a célula entre em mitose sem

se reparar, há uma lacuna no DNA, o que pode conduzir a mutações e neoplasia.

O aparecimento dos carcinomas cutâneos, oftálmicos e orais tem sido

associado à inativação do p53 pela radiação ultravioleta. O gene p53 codifica para a

fosfoproteína nuclear 53 kd que tem como função regular o crescimento e

proliferação celular. Se o DNA é prejudicado, a concentração da proteína p53

35

aumenta no núcleo, encerrando a replicação das células presas no ciclo G1

permitindo um tempo maior para reparo do DNA. Células que contem p53 mutante

ou faltando p53 são incapazes de manter o ciclo celular. Elas então não param no

ciclo G1, mas continuam a fase S depois do reparo do DNA estar completo. Elas

acumulam mutações em uma taxa crescente liderando uma rápida formação de

clones neoplásicos e desenvolvimento do tecido neoplásico. Entretanto, se o dano

genético for excessivo, acontece a apoptose que também é regulada pelo p53

(MAYR et al, 2000; SNYDER; BERTONE, 2004).

A cor da pelagem e a falta de pigmentação da pele em determinadas áreas do

corpo, especialmente naquelas com poucos pêlos, são fatores de riscos para o

desenvolvimento do carcinoma (CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH, 1987;

COX, 1991; MOORE; OGILVIE, 2001; MORIELLO, 1994; PETERSON; COUTO,

2000; RUSLANDER, 2006). O primeiro dano é a fotoxicidade, que surge como

eritema, pode persistir durante meses ou anos e progredir lentamente como lesões

hiperceratóticas, eritematosas e descamativas. À medida que evoluem, pode haver

prurido e contrações espasmódicas dos pavilhões auriculares, crostas hemorrágicas

e sangramento por traumatismo. A necrose de ceratinócitos pode conduzir a lesões

ulcerativas e a exposição contínua à mutagênese, displasia e neoplasias cutâneas

(MOORE; OGILVIE, 2001; MORIELLO, 1994; PETERSON; COUTO, 2000).

3.2.4 Manifestações clínicas

O carcinoma epidermóide é mais comum na face, sendo o plano nasal a

região mais afetada, seguida pelos pavilhões auriculares e pálpebras, e raramente,

dígitos, cauda e períneo (CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; COX,

1991; LANA et al.,1997; MILLER et al, 1991; MOORE; OGILVIE, 2001; MORIELLO,

1994; PETERSON; COUTO, 2000). Geralmente, animais geriátricos são os mais

acometidos, já que a carcinogênese actínica é de evolução lenta (CARPENTER;

ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; MILLER et al, 1991; MOORE; OGILVIE, 2001).

Não há predisposição sexual, e animais da raça siamesa são menos afetados,

devido à sua pigmentação (MILLER et al, 1991; MOORE; OGILVIE, 2001). Gatos

brancos apresentam maior propensão do que gatos de outras cores (CARPENTER;

ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; MILLER et al, 1991; MOORE; OGILVIE, 2001;

36

MORIELLO, 1994; PETERSON; COUTO, 2000), e não há correlação da doença com

os vírus da Leucemia e Aids felinas (CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH,

1987; MOORE; OGILVIE, 2001; THEON et al., 1995).

A lesão pode se iniciar como uma displasia epidermal, e progredir para o

carcinoma “in situ”, até a forma invasiva. Nos dois primeiros estágios, a lesão se

apresenta como uma área eritematosa, levemente ulcerada e exsudativa, que não

sangra. Em casos avançados, há destruição do tecido normal pela neoplasia

(CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; MILLER et al, 1991; MOORE;

OGILVIE, 2001; MORIELLO, 1994; PETERSON; COUTO, 2000). O CE pode ser

ulcerativo ou proliferativo. Os tipos proliferativos são massas papilares, que se

assemelham a couve-flor, e com superfície ulcerada. Os tipos ulcerativos aparecem

inicialmente como úlceras rasas e crostosas, que se tornam mais tarde úlceras

tenebrantes (CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; MILLER et al, 1991;

MOORE; OGILVIE, 2001; MORIELLO, 1994; PETERSON; COUTO, 2000).

A evolução é lenta, podendo durar de meses a anos (MOORE; OGILVIE,

2001). Esta neoplasia tem caráter altamente invasivo, mas sua metástase é

incomum, podendo ocorrer nos estágios mais avançados para os linfonodos

submandibulares, e mais raramente pulmão (CARPENTER; ANDREWS;

HOLZWORTH, 1987; MILLER et al, 1991; MOORE; OGILVIE, 2001; MORIELLO,

1994; PETERSON; COUTO, 2000).

O termo “carcinoma in situ” se refere à lesão neoplásica superficial, que se

restringe à epiderme. A Doença de Bowen em humanos se refere ao CE in situ. O

mesmo termo é utilizado em felinos para a doença multifocal na pele pigmentada

com exposição ao sol (MILLER et al.,1992). Nos gatos, ela pode progredir de

maneira mais invasiva que o CE, e ocorre predominantemente em felinos sem raça

definida, fêmeas de pêlo curto de diversas colorações, e com idade variando entre

11,5 e 12 anos (MILLER et al.,1992). A neoplasia é encontrada em regiões com pele

e pêlos pigmentados no tronco, membros, face e região cervical expostos ao sol

(BAER; HELTON, 1993; MILLER et al.,1992). As lesões são bem circunscritas,

melanóticas, formam pápulas e placas hiperqueratosas com 0,5 a 3 cm de diâmetro.

Com a evolução, elas se tornam grossas, crostosas, formando placas ulceradas que

sangram com facilidade (MILLER et al.,1992).

O Papilomavírus foi isolado em muitas dessas lesões pelo método de

imunohistoquímica, o que sugere que a doença de Bowen pode surgir de uma

37

transformação maligna dos papilomas virais (MILLER et al.,1992; MUNDAY et al.,

2007; WILHELM et al., 2006).

Guaguere e colaboradores (1999) estudaram cinco felinos com doença de

Bowen, e identificaram o ácaro Demodex cati e seus ovos em amostras de biópsia

de felinos com Doença de Bowen. Os autores citam a hipótese de que o

papilomavírus e o CE desenvolvem uma imunodeficiência local permitindo que a

demodécica se multiplique de maneira excessiva, ou que a infecção por FiV

associada à imunodeficiência local gerada pelo CE predispõe ao desenvolvimento

do papilomavírus e Demodex cati.

3.2.5 Estadiamento clínico

O estadiamento é realizado de acordo com o sistema WHO (Organização

Mundial de Saúde) para tumores epidermais de felinos, onde o tamanho e grau de

invasão correspondem à categoria T, o acometimento dos linfonodos à categoria N,

e as metástases distantes à categoria M (OWEN, 1980).

As metástases, apesar de raras, não devem ser negligenciadas. A citologia

por punção aspirativa ou biópsia dos linfonodos é recomendada caso haja aumento

dos mesmos (MOORE; OGILVIE, 2001).

3.2.6 Diagnóstico O diagnóstico diferencial do CE inclui a esporotricose, criptococose,

hipersensibilidade alimentar, atopia e complexo pênfigo. A biópsia da lesão é

necessária para confirmação do diagnóstico (MOORE; OGILVIE, 2001; MORIELLO,

1994).

3.2.6.1 Aspectos citológicos

A citologia pode ser realizada nas lesões suspeitas de CE, porém é na

maioria das vezes inconclusiva. Tem um maior valor diagnóstico quando utilizada na

38

avaliação de metástase em linfonodos, coletando-se o material por aspirado com

agulha fina. No exame citológico, são observadas células epiteliais agrupadas,

poligonais, com citoplasma basofílico e núcleo picnótico, além de infiltrado

inflamatório (PETERSON; COUTO, 2000).

3.2.6.2 Aspectos histopatológicos Nos estágios iniciais da dermatose solar, há presença de células

disceratóticas na epiderme, além de edema intercelular, vacuolização de

queratinócitos e perda da camada das células granulares. A hiperceratose,

paraqueratose e acantose também ocorrem. Com o avanço das lesões, há dermatite

perivascular superficial (esponjosa e hiperplásica) e em alguns animais, há

degeneração basofílica do colágeno dérmico superficial, denominada “elastose

solar” (HARGIS, 1995; MULLER; KIRK; SCOTT, 1985).

Segundo a literatura, o carcinoma epidermóide pode se apresentar

histopatologicamente de várias formas, dependendo do grau de diferenciação

celular: bem diferenciado, moderadamente diferenciado e mal diferenciado

(GOLDSCHMIDT; SHOFER, 1992). As neoplasias mal diferenciadas ainda

apresentam variantes, como a forma acantolítica e o carcinoma de células

fusiformes (WALDER, 1995).

No carcinoma epidermóide bem diferenciado, a superfície da epiderme torna-

se ulcerada, e há invasão de células neoplásicas originárias da epiderme para o

interior da derme, através de formações trabeculares e de ilhas celulares. Seus

núcleos variam moderadamente em tamanho, e tem nucléolos proeminentes. A

atividade mitótica é baixa a moderada. Estas células podem estar circundadas por

tecido conjuntivo, além de linfócitos, plasmócitos, macrófagos e neutrófilos. As

“pérolas córneas”, estruturas em que células queratinizadas formam uma ilha e

acumulam queratina em seu interior, são frequentes. (CARPENTER; ANDREWS;

HOLZWORTH, 1987; MULLER; KIRK; SCOTT, 1985, WALDER, 1995). A elastose

solar, muito frequente no CE em humanos, não é muito observada em felinos

(WALDER, 1995).

No carcinoma epidermóide mal diferenciado, a arquitetura do tecido é similar

às formas bem diferenciadas. No entanto, as estruturas epiteliais tendem a ser

39

menores, e os cordões irregulares de células prevalecem às grandes ilhas. As

células neoplásicas apresentam citoplasma anfofílico (róseo-azulado), núcleos

hipercromáticos, nucléolos proeminentes e muitas vezes múltiplos. A atividade

mitótica é alta e há atipias mitóticas. As pérolas córneas não são observadas, e sim

células disceratóticas individuais ou grupos de células parcialmente queratinizadas

(WALDER, 1995). A identificação desta forma como um carcinoma epidermóide

pode ser difícil, e muitas vezes só é possível através da imunohistoquímica

(WALDER, 1995).

A forma acantolítica, ou pseudoglandular, é uma variante rara de carcinoma

epidermóide em cães e gatos. As estruturas pseudoglandulares se formam através

de células parcialmente queratinizadas do centro das ilhas celulares epiteliais e das

formações trabeculares. Células acantolíticas estão presentes no pseudolúmen

individuais ou agrupadas. Na região mais superficial da neoplasia, áreas de células

epiteliais bem diferenciadas podem ser observadas. A diferenciação entre o

carcinoma epidermóide acantolítico e outras neoplasias glandulares pode ser difícil,

e a imunohistoquímica pode ser utilizada (WALDER, 1995).

O carcinoma epidermóide de células fusiformes é uma variante rara do

carcinoma epidermóide mal diferenciado, e é encontrado principalmente nos

pavilhões auriculares de felinos. Há células poligonais e fusiformes grandes e

pleomórficas, que têm citoplasma abundante, claro ou anfofílico. Áreas de

transformação maligna da epiderme têm perda da membrana basal, e células

fusiformes atípicas invadem a derme. Os núcleos são grandes e vesiculares, com

nucléolos proeminentes. O índice mitótico é alto. A diferenciação entre esta variante

e as neoplasias mesenquimais é difícil, e a imunohistoquímica pode ser utilizada

(WALDER, 1995).

A doença de Bowen histopatologicamente se caracteriza por áreas bem

circunscritas de epiderme irregular, onde hiperplasia e displasia folicular são

observadas. O tamanho e aparência dos queratinócitos são variáveis, e figuras

mitóticas celulares são frequentes. Hiperqueratose (ortoqueratose e paraqueratose)

com hipermelanose também podem estar presentes, além de infiltrado inflamatório

(MILLER et al., 1992; WILHELM et al., 2006, WALDER, 1995).

40

3.2.7 Tratamento Várias modalidades de tratamento têm sido utilizadas no tratamento do CE. A

escolha é feita de acordo com o estadiamento da lesão neoplásica e a opção do

proprietário (LANA et al., 1997; MOORE; OGILVIE, 2001; MORIELLO, 1994;

PETERSON; COUTO, 2000).

3.2.7.1 Exérese cirúrgica

A cirurgia é o tratamento mais freqüente em felinos portadores do carcinoma

epidermóide em estágios T1 e T2 (LANA et al., 1997). A ressecção cirúrgica

completa e com amplas margens (1 a 2 cm) leva às melhores taxas de cura

(MORIELLO, 1994; PETERSON; COUTO, 2000; THOMSON, 2007). Porém, esta

modalidade de tratamento não é bem aceita pelos proprietários dos animais, por

questões estéticas (CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; MOORE;

OGILVIE, 2001).

As lesões localizadas no pavilhão auricular devem ser incisadas com margens

de 1 a 2 cm no mínimo, na tentativa de manter as bordas sem a presença de células

neoplásicas. Em um estudo realizado por Atwater e colaboradores (1991), 15 gatos

tratados com conchectomia permaneceram livres de recidivas em um intervalo

médio de 19 meses. A doença recidivou em todos os gatos que sofreram ressecção

incompleta e em 23% dos gatos que tiveram ressecção completa.

Em neoplasias situadas na face, a sutura é dificultada pela grande perda de

pele, o que gera a necessidade de cicatrização por segunda intenção e indesejável

efeito cosmético e funcional. O uso do flap auricular padrão caudal foi recentemente

descrito em gatos, permitindo a correção de grandes áreas cirúrgicas (ALLEN;

MILLER; HAAS, 1997).

Em geral, os gatos toleram bem o procedimento cirúrgico e se recuperam

rapidamente. Em um estudo realizado por Withrow e Straw (1990) em oito gatos com

CE, observou-se a re-epitelização da margem da pele e turbinados após a remoção

cirúrgica completa do plano nasal. Três animais apresentaram recidiva com um, dois

41

e cinco meses. O restante permaneceu sem ocorrência com o período de

observação que variou de oito a 27 meses.

Os felinos portadores de lesões neoplásicas nas pálpebras também podem

ser submetidos ao procedimento cirúrgico. Hunt (2006) utilizou uma técnica cirúrgica

de flap em seis felinos com ótimos resultados cosméticos e funcionais. Schmidt e

colaboradores (2005) também utilizaram uma nova técnica de blefaroplastia em

cinco felinos com CE palpebral.

3.2.7.2 Criocirurgia

A criocirurgia consiste na aplicação de nitrogênio liquido na lesão neoplásica

provocando o congelamento dos tecidos biológicos e consequente morte celular

(CLARKE, 1991; LUCAS; LARSSON, 2006; WITHROW; STRAW, 1996). Ela tem

sido indicada para neoplasias superficiais não invasivas com menos de 0,5 cm de

diâmetro, ou quando a cirurgia não pode ser realizada, seja por limitações

anatômicas ou pela não concordância do proprietário.

Em um estudo com 163 lesões de CE em 102 gatos, a criocirurgia com

nitrogênio líquido resultou em uma taxa de 83% de remissão. Pavilhões auriculares

e lesões nos olhos foram resolvidos com apenas um tratamento. Lesões nasais

foram as únicas no estudo a ter recorrência. No total, 84% dos gatos se mantiveram

livres da neoplasia após 12 meses e 81% ficaram livres por 36 meses (CLARKE,

1991).

Apesar de a criocirurgia ter sido utilizada ao longo dos últimos anos apenas

para neoplasias superficiais, um estudo recente obteve excelentes resultados em 50

felinos com CE de diferentes estágios, inclusive naqueles extremamente avançados,

alcançando 80% de remissão completa (LUCAS; LARSSON, 2006).

3.2.7.3 Hipertermia

A hipertermia se baseia na aplicação de calor no tecido para provocar a morte

celular (CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; MOORE; OGILVIE, 2001).

Kabay e Jones (1983) aplicaram um calor de 50 graus por 60 segundos em

42

lesões neoplásicas da face de felinos, e obtiveram remissão completa em 69% dos

casos. No entanto, estas lesões eram extremamente superficiais e tinham cerca de 5

mm de tamanho.

Laser (Nd:Yag) já foi utilizado em felinos com CE nasal avançado, resultando

em melhora no efeito cosmético e aumento da sobrevida. Este tipo de tratamento,

que provoca fotoevaporização do tecido, utiliza o cristal de ítrio, alumínio e íons de

neodímio, em um feixe infravermelho com espectro próximo a 1060 nm

(PANJEHPOUR et al., 1991; SHELLEY et al., 1992).

3.2.7.4 Quimioterapia sistêmica A quimioterapia sistêmica parece não ser eficaz no tratamento do CE, e é

raramente utilizada (MOORE; OGILVIE, 2001; MORIELLO, 1994). Dois dos

fármacos mais efetivos em humanos e cães não são considerados seguros em

gatos. A Cisplatina pode causar edema pulmonar agudo fatal e o 5-fluourouacil induz

à neurotoxicidade (HARVEY; MACEWEN; HAYES, 1977; KNAPP; RICHARDSON;

DENICOLA, 1987; THEILEN, 1987). A bleomicina foi empregada por via subcutânea

ou intravenosa em quatro gatos com CE, com resposta parcial transitória em três

deles (BUHLES; THEILEN, 1973). Além disso, uma combinação de doxorrubicina e

bleomicina promoveu a remissão em apenas um de quatro gatos tratados

(THOMPSON, 1995).

3.2.7.5 Quimioterapia intralesional

A quimioterapia intralesional com carboplatina foi utilizada por Théon (1996)

em 23 gatos com estágios iniciais de carcinoma epidermóide, e os resultados foram

bons, levando a cerca de 70% de remissão. Vos e colaboradores (2004) também

utilizaram a quimioterapia intralesional com carboplatina em associação com a

radioterapia de feixe externo em lesões de CE avançadas de felinos e obteve

excelentes resultados, com 94% de remissão completa.

Recentemente, um estudo associou a quimioterapia intralesional com

bleomicina a pulsos elétricos permeabilizantes no tratamento do CE felino avançado,

43

em um processo conhecido como eletroquimioterapia. O estudo obteve resultados

excelentes, com 77,7% de remissão completa duradoura (SPUGNINI et al, 2009).

3.2.7.6 Terapia fotodinâmica

A terapia fotodinâmica (TFD) induz à citotoxicidade das células proliferativas

através de uma fonte de luz, sendo necessários um agente fotossensibilizador, luz

de comprimento de onda adequado e oxigênio molecular (MERKEL; BIEL, 2001).

Durante a TFD, o fotossensibilizador ligado à lesão neoplásica é ativado na

presença da luz, e através de uma série de reações teciduais, radicais livres são

formados, levando à morte celular (DANIELL; HILL, 1991; DOUGHERTY et al., 1998;

MACHADO, 2000).

O agente fotossensível tende a se concentrar no tecido lesado, mas o

mecanismo não está totalmente esclarecido. Embora o fotossensibilizador seja

rapidamente removido do soro, pode haver retenção na pele por várias semanas

(DOUGHERTY et al., 1998; MACHADO, 2000; MERKEL; BIEL, 2001). Desta forma,

o animal deve ser mantido na ausência da luz solar por no mínimo duas semanas.

Podem ocorrer também edema facial, eritema e necrose secundária no local de

aplicação, mas que regride com o tempo.

Recentemente, Emilio e Dagli (2006) utilizaram uma pomada à base de metil-

aminolevulínico e DTPA, quatro horas antes da irradiação, em seis gatos com CE.

Utilizaram após um protótipo composto por um arranjo de 30 LEDs com potência de

180 mW, intensidade de 5 mW/cm2 e comprimento de onda de 630 nm. A dose

utilizada foi de 12 J/cm2, com o tempo de irradiação de 40 minutos. Todos

apresentaram resposta ao tratamento no período de 90 dias, sendo que em três a

resposta foi completa e em três a resposta foi parcial.

Em um estudo realizado por Hahn e Panjehpour (1998), houve conclusão de

que uma potência de 200 J/cm2 é bem tolerada e efetiva para o tratamento de gatos

com estágios avançados de CE. Eles utilizaram a TFD associada ao tetrasulfonato

de fitalocianina.

Em outro trabalho, 61 gatos diagnosticados com CE receberam a

administração de pyropheophorbide-alpha-exyl-ether (HPPH-23) 24 horas antes da

exposição ao fotossensibilizador. A resposta completa ocorreu em 100% dos felinos

44

com neoplasias menores que 1,5 cm de diâmetro e não invasivas, 51% das

neoplasias menores que 1,5 cm e invasivas e 18% das neoplasias maiores que 1,5 e

invasivas. Não houve toxicidade nos animais tratados (MAGNE; RODRIGUES,

1997).

Em outro estudo, seis gatos com CE facial foram tratados com zı-rıthylamino-

ı-diethyIaminobenzo[a]phenothiazinium chloride (EtNBS), resultando em quatro

remissões completas e duas remissões parciais (FRIMBERGER et al., 1998).

3.2.7.7 Radioterapia

O princípio básico da radioterapia é a morte celular por radiação ionizante

(CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; COX, 1991; KENT, 2006;

MOORE; OGILVIE, 2001; MORIELLO, 1994; PETERSON; COUTO, 2000).

Cox (1991) tratou, por meio de radioterapia, 13 gatos com carcinoma de células

escamosas do plano nasal, utilizando 6 a 10 frações de 3,75-4,4 gy em um esquema

segunda-quarta-sexta. Todos os gatos tiveram remissão inicial, porém houve

recorrência da neoplasia. A taxa de sobrevivência foi de 61,5% no período de um

ano, 23% em dois anos e 15% em três anos.

Théon e colaboradores (1995) utilizaram a radioterapia de ortovoltagem em 90

gatos com CE do plano nasal. A dose de radiação aplicada foi de 40 Gy,

administrada em 10 frações de 4 Gy durante três semanas e meia, em um esquema

segunda-quarta-sexta. A taxa de sobrevivência livre de progressão foi de 60,1%

para um ano e de 10,3% para cinco anos.

Radiação de megavoltagem com feixe de prótons foi aplicada por Fidel e

colaboradores (2001) em 15 felinos com CE no plano nasal, e estes tiveram uma

média de sobrevivência de 946 dias. Os resultados obtidos foram 60% de resposta

completa, 33% de resposta parcial e 6,6% sem nenhuma resposta à terapia. Os

efeitos colaterais observados foram mínimos.

Vos, Burm e Focker (2004) utilizaram a radioterapia em associação com

quimioterapia intralesional em seis gatos com CE nasal avançado. O protocolo

radioterápico consistiu de 12 frações de 4 gy em um esquema de segunda-quarta-

sexta durante 4 semanas, em um total de 48 gy, e o protocolo quimioterápico

consistiu de aplicações peri e intralesionais de carboplatina uma vez por semana por

45

quatro semanas, concomitantemente com o tratamento radioterápico. Nesse estudo,

100% das lesões tiveram remissão completa.

Melzer e colaboradores (2006) utilizaram um protocolo acelerado de

radioterapia com feixe de elétrons (10 frações de 4,8 gy durante 5 dias consecutivos)

em 17 felinos com CE nasal e periocular, e teve excelentes resultados, com 94% de

remissão completa. Constatou ainda que neoplasias com alta reatividade do Ki67,

um antígeno marcador de proliferação celular, respondem melhor à radioterapia do

que aqueles que expressam baixa reatividade.

Rao e colaboradores (2004) utilizaram uma modalidade de radioterapia

denominada “Boron Nêutron Capture Therapy (BNCT)”, em dois felinos com

carcinoma epidermóide nasal. Esta técnica inovadora utiliza o isótopo bóron-10, que

se concentra apenas nas células neoplásicas, e radiação com feixe de nêutrons de

baixa energia, que destrói apenas as células com o bóron-10. A grande vantagem

desta técnica é a destruição do tecido neoplásico sem afetar os tecidos sadios

vizinhos. Um novo estudo, em 2008, também utilizou esta técnica em três felinos

com CE nasal avançado, alcançando remissão parcial e melhora do estado clínico

dos animais (TRIVILLIN et al., 2008).

A plesioterapia, um método de radioterapia em que uma fonte radioativa é

aplicada diretamente no tecido neoplásico, também foi utilizada em um estudo.

Quinze gatos com carcinoma epidermóide nasal superficial foram tratados com

estrôncio-90, através de protocolo que consistiu de 5 frações durante 10 dias, com

dose total de 50 gy. Dos quinze animais tratados, onze tiveram remissão completa

(GOODFELLOW; HAYES; MURPHY, 2006).

3.2.7.8 Outros tratamentos

A terapia com carotenóides já foi empregada no tratamento da dermatite

solar. Betacaroteno e cantaxantina (na dose de 10 a 15 mg por via oral diariamente,

com redução gradual até 4 a 5 mg) foram utilizados em 12 felinos com dermatite

solar, causando melhora clínica em nove. Porém, o tratamento não teve resposta em

felinos com CE (IRVING; DAZ; EALES, 1982).

A isotretinoína, um análogo da Vitamina A, foi utilizada no carcinoma

epidermóide felino, na dose de 3 mg/kg/dia, e apesar de ineficiente, estabeleceu que

46

retinóides sintéticos podem ser usados com segurança (EVANS; MADEWELL;

STANNARD, 1985).

O interferon recombinante felino tem demonstrado um bom efeito

antineoplásico contra o CE in vitro, mas este ainda não é disponível comercialmente

(TATEYAMA et al., 1995).

A interleucina-2 vem sendo estudada na terapia contra neoplasias em

humanos e animais domésticos (OTTER et al., 2008; STEWART et al., 2005).

Recentemente, um estudo utilizou interleucina-2 e interleucina-12 no tratamento do

CE ocular bovino, isoladamente ou em combinação, e obteve remissão superior a

60% quando a IL-2 foi utilizada isoladamente (STEWART et al., 2005).

3.2.8 Prevenção

A prevenção é fator importante no carcinoma epidermóide e os proprietários

de gatos suscetíveis devem ser orientados a limitar ao máximo a exposição dos

animais à luz solar nas horas mais quentes do dia (9:00 as 16:00 horas). Para os

gatos que apresentam o hábito de se manter em frente a janelas, pode-se aplicar

filme protetor ultravioleta nos vidros. Cremes bloqueadores solares também podem

ser aplicados nos pavilhões auriculares e plano nasal para auxiliar na proteção,

embora eles sejam rapidamente removidos pelo gato (MOORE; OGILVIE, 2001).

47

4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Animais

Neste trabalho, foram irradiadas 25 lesões neoplásicas da face de 15 animais

da espécie felina (Felis catus) portadores de lesões neoplásicas únicas ou múltiplas,

especificamente carcinoma epidermóide. A análise histopatológica foi utilizada para

confirmação do diagnóstico. Os animais eram provenientes da cidade do Rio de

Janeiro, e foram avaliados no período de março de 2006 a março de 2008. O único

critério de seleção foi a presença de lesões neoplásicas de carcinoma epidermóide

na face, independente de raça, sexo, idade ou presença de outras enfermidades.

Durante a execução do experimento, foram observadas as normas descritas

pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA), lei 6.638, de 8 de Maio

de 1979 para a garantia do bem estar animal (Anexo 9.1). Este trabalho foi

submetido e aprovado pelo comitê de Bioética da Universidade Federal Fluminense

(Protocolo número 0017-08)

4.2 Exame clínico Todos os animais foram submetidos a uma avaliação clínica completa e

detalhada (apêndice 10.1), bem como foram registradas as informações fornecidas

pelo proprietário através da anamnese geral e oncológica especifica (apêndice 10.2).

Foram obtidas informações sobre a vida pregressa dos animais através de

questionário elaborado para obter informações como: resenha do animal (nome,

48

registro, idade, pelagem e raça), procedência (animais de rua, abrigo, apartamento

ou casa), e histórico (exposição a raios solares).

O carcinoma epidermóide foi mensurado através de paquímetro, e medidas

de largura e comprimento foram anotadas para melhor acompanhamento da lesão

durante o decorrer da radioterapia. Foi questionado ao proprietário o tempo de

evolução da lesão e a rapidez de seu desenvolvimento, e a referência de tempo aqui

estabelecida consistiu de: desenvolvimento lento (quando correspondente a mais de

um mês), desenvolvimento moderado (relativo entre uma semana e um mês), e

desenvolvimento rápido (quando correspondente a menos de uma semana).

Foram realizados exames laboratoriais, como hemograma, uréia e creatinina

séricas, e outros exames julgados necessários para a avaliação pré-anestésica.

Ao proprietário, foi requerida a autorização, firmada através do preenchimento

do termo de consentimento, a fim de que o paciente fosse submetido à intervenção

anestésica para o procedimento de radioterapia (apêndice 10.3)

4.3 Estadiamento clínico

O estadiamento clínico dos animais foi realizado de acordo com o sistema da

Organização Mundial de Saúde de estadiamento clínico para felinos, adaptado por

Owen (OWEN, 1980). Visou essencialmente à avaliação das características da

lesão neoplásica primária e linfonodos regionais (submandibulares), e à identificação

de metástases. Os dados mais importantes anotados incluíram o número de lesões

neoplásicas, tamanho, localização e evidência clínica de invasão (invasão de tecido

subcutâneo, muscular ou ósseo), que correspondem à categoria “T” (Figura 2). Os

linfonodos regionais foram cuidadosamente examinados macroscopicamente, e caso

houvesse suspeita de metástase, foi realizada análise citológica, que levam à

categoria “N”. Quaisquer sinais da presença de metástases distantes levam à

categoria “M”, incluindo os pulmões (Tabela 1).

Para a pesquisa de metástases pulmonares, foram realizadas radiografias

torácicas nas posições ventro-dorsal e lateral.

49

Tabela 1: Tabela de estadiamento clínico de neoplasias epidermais dos felinos segundo a Organização Mundial de Saúde e adaptado por Owen (OWEN, 1980). Localização Estágio Definição

Tis Carcinoma in situ (pré invasivo) T0 Sem evidência de tumor T1 Neoplasia < 2 cm de diâmetro, superficial

T2 Neoplasia entre 2 e 5 cm de diâmetro ou com mínima

invasão do tecido subcutâneo

T3 Neoplasia > 5 cm de diâmetro ou com invasão do tecido

subcutâneo

Neoplasia Primária

T4 Neoplasia invadindo outras estruturas, como fáscia,

músculo, cartilagem ou osso N0 Sem evidência de acometimento de linfonodos Linfonodos

Regionais N1 Acometimento de linfonodos M0 Sem evidência de metástases Metástases

Distantes M1 Evidência de metástases

4.4 Protocolo radioterápico

Neste estudo, foi utilizada a teleterapia (em que a radiação ionizante é

administrada por uma fonte externa), e a máquina utilizada para a aplicação da

radioterapia foi um acelerador linear do modelo Clinac 2100 C (Figura 3). Para o

procedimento, os animais foram levados ao Setor de Radioterapia do Hospital

Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ aos sábados, horário em que o

hospital estava fechado para o tratamento de pacientes humanos.

O planejamento da radioterapia foi realizado em conjunto com médicos

oncologistas radioterapeutas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

(Apêndice 10.4).

O volume neoplásico (GTV) foi considerado a lesão neoplásica evidenciada

clinicamente. Para a determinação do volume alvo planejado (PTV), foi dada uma

margem de cerca de um cm ao redor da lesão (Figura 4). Uma caneta de feltro foi

utilizada para a delimitação do campo a ser irradiado, e fotografias digitais foram

utilizadas pra registrar essa delimitação, já que os felinos retiravam a marcação da

caneta através de lambedura ao longo das sessões.

50

A intervenção anestesiológica utilizada consistiu de medicação pré-anestésica

(Acepromazina1 0,03 mg/kg e meperidina2 3 mg/kg por via intramuscular), e indução

anestésica (Ketamina3 2 a 4 mg/kg e diazepam4 0,2 mg/kg por via endovenosa)

quinze minutos após a medicação pré anestésica, a fim de permitir completa

imobilização e posicionamento correto do felino para receber a radiação por poucos

minutos (apêndice 10.5). Repiques de Ketamina foram necessários em vários casos,

utilizando o critério de dose-efeito. O tempo de tratamento de cada animal variou

com o número de campos (lesões) a serem irradiadas, levando em média cinco a

sete minutos por campo, incluindo o posicionamento do animal e a irradiação

propriamente dita.

Um kit com material de emergência que incluía cilindro de oxigênio, tubo

endotraqueal, laringoscópio e ambu, foi sempre colocado dentro da sala de

radioterapia antes do início de cada sessão radioterápica, para ser utilizado em caso

de parada respiratória.

O protocolo utilizado para o tratamento do carcinoma epidermóide de face foi

de hipofracionamento, que consistiu de uma aplicação semanal de 7,6 a 10 gy

durante quatro semanas.

A energia utilizada variou com a profundidade da lesão neoplásica. Na

maioria das lesões, foi utilizado quatro MeV. No entanto, nas lesões mais avançadas

e profundas, a energia de seis MeV foi utilizada. A distância foco-pele foi de 100 cm.

O decúbito e o posicionamento de cada animal variaram com a localização da

lesão neoplásica. Felinos com lesões nasais foram posicionados em decúbito

esternal, e um suporte, como por exemplo uma toalha dobrada, foi colocado

embaixo da cabeça do animal. Em alguns casos, um abridor de bocas foi utilizado

para um melhor posicionamento (Figura 5). Felinos com lesões nas têmporas ou

pavilhões auriculares foram colocados em decúbito lateral, e em alguns casos (como

lesões na ponta dos pavilhões auriculares), uma fita adesiva foi utilizada para fixar o

pavilhão na posição correta.

Em todos os animais, um bolus (camada de material de densidade

semelhante aos tecidos do organismo) foi utilizado sobre a neoplasia, com a

1 Acepram 1% - Univet AS – São Paulo/SP 2 Dolosal 50 mg/mL – Cristalia – São Paulo/SP 3 Ketamin S+ 50 mg/mL – Cristália – São Paulo/SP 4 Valium 10 mg/2 mL – Roche – Rio de Janeiro/RJ

51

finalidade de permitir que parte da dose fosse absorvida antes de alcançar a pele,

mais superficialmente. Este bolus consistia de um material próprio (Figura 6) ou de

um bloco de gazes umedecidas, e variou de 5 a 10 mm de espessura. Colimadores,

feitos de chumbo, foram utilizados para proteger as estruturas normais, como por

exemplo, os olhos (Figura 6).

Durante o tratamento radioterápico propriamente dito (administração da

radiação ionizante pelo equipamento), toda a equipe de técnicos e veterinários era

obrigada a sair da sala, podendo apenas o paciente receber a radiação. O

monitoramento do felino durante a sessão era possível devido a um sistema de

câmeras, terminais de vídeos, alto-falantes e microfones. A respiração e posição do

paciente eram observadas através de um monitor localizado fora da sala de

radioterapia, e caso houvesse necessidade, o tratamento podia ser interrompido a

qualquer momento (Figura 7).

Após a sessão, os animais foram colocados em colchão térmico e

monitorados quanto à temperatura corporal, freqüências respiratória e cardíaca.

Estes só eram liberados em estado de alerta.

4.5 Acompanhamento clínico dos animais Todos os animais submetidos à radioterapia foram acompanhados

semanalmente durante o tratamento radioterápico, sendo a lesão neoplásica

mensurada com paquímetro, e avaliada quanto ao seu aspecto, e presença de

efeitos colaterais agudos. O registro das lesões foi realizado através de fotografias

digitais. Os animais foram reavaliados 30 e 60 dias após o término do tratamento

radioterápico (apêndices 10.6, 10.7, 10.8, 10.9 e 10.10). Após este período, alguns

felinos foram acompanhados somente através de anamnese dos proprietários

através de telefonemas ou correspondência eletrônica, nos casos de impossibilidade

de transporte do animal para a clínica.

Os efeitos colaterais do tratamento foram avaliados através de anamnese do

proprietário e exame clínico do animal, realizados antes de cada sessão de

radioterapia e 30 e 60 dias após o termino do tratamento. Foi utilizada como

referência a tabela (Tabela 2) de critérios de toxicidade do “Veterinary Radiation

Therapy Oncology Group” - VRTOG (LADUE; KLEIN, 2001).

52

Tabela 2: Tabela de critérios de toxicidade aguda à radiação da VRTOG modificada (LADUE; KLEIN, 2001).

Tecido 0 1 2 3

Pele/Pêlos -Sem

alterações

-Eritema;

-Descamação

seca

-Epilação

-Descamação

úmida

-Descamação

úmida (com edema)

-Ulceração

-Necrose

-Hemorragia

Cavidade

oral

-Sem

alterações -Hiperemia

-Mucosite (sem dor

aparente)

-Mucosite fibrinosa

-Ulceração oral

-Hemorragia

-Necrose

Olho -Sem

alterações

-Conjuntivite leve

-Esclera

hiperêmica

-Ceratoconjuntivite

seca

-Conjuntivite

moderada

-Irite

-Ceratite severa

-Ulceração de

córnea

-Perda de visão

-Glaucoma

Conduto

auditivo

-Sem

alterações

-Otite externa

leve

-Eritema

-Prurido

-Descamação

seca

-Otite externa

moderada

Otite externa severa

com descamação

úmida e secreção

Os felinos cujas lesões não regrediram após o término do tratamento foram

eutanasiados por desejo dos proprietários. Os procedimentos de eutanásia

decorreram sob estrita obediência às prescrições científicas (BEAVER et al., 2001).

Utilizou-se um barbiturato, o tiopental sódico, na dosagem de 20 mg/kg ao efeito, por

via intravenosa, para se obter o estado anestésico profundo. Em seguida, após os

animais estarem totalmente anestesiados e inconscientes, foi aplicado cloreto de

potássio, na dosagem de 2,0 mEq/kg, por via intravenosa rápida, para promover a

parada cardíaca. Posteriormente, o óbito foi confirmado através de ausculta cardíaca

e respiratória.

53

4.6 Avaliação da resposta neoplásica, tempo de sobr evida e tempo livre da doença

A resposta clínica à radiação foi classificada como resposta completa (RC)

quando houve regressão completa da neoplasia, resposta parcial (RP) quando

houve regressão superior a 50% da neoplasia, e ausência de resposta (SR) quando

houve regressão menor de 50% da neoplasia, ou houve progressão.

O tempo de sobrevida foi calculado utilizando como parâmetro inicial o dia de

início do tratamento até o momento da morte, eutanásia ou final do estudo.

O tempo livre da doença foi calculado a partir do último dia de tratamento até

a visualização do retorno da lesão neoplásica, nos casos de recidiva neoplásica.

4.7 Biópsia de pele e processamento histopatológico

Os felinos portadores de lesões neoplásicas localizados na face foram

submetidos à biópsia das lesões para a realização de análise histopatológica. Para

este procedimento, os animais foram anestesiados com acepromazina 0,03 mg/kg

com meperidina 3 mg/kg por via intramuscular, e Ketamina 2 a 4 mg/kg com

diazepam 0,2 mg/kg por via endovenosa. Uma incisão foi realizada na lesão

neoplásica com uma lâmina de bisturi n.24, e um pequeno fragmento foi retirado e

imediatamente imerso em solução tamponada de formol a 10% por um período de

24-48 h. As amostras foram enviadas para o Diagnovet - Diagnóstico

Anatomopatológico, e lá foram clivados, desidratados, diafanizados, processados e

incluídos em parafina. Os cortes foram então corados pela hematoxilina-eosina

(H.E).

4.8 Análise Estatística

Após a crítica interna e externa dos dados, os mesmos foram categorizados e

tabulados de acordo com as variáveis clínicas do estudo, valendo-se de gráficos e

tabelas descritivas para a sua apresentação. Para análise da sobrevida dos felinos

54

após o tratamento, foi utilizado o Método Kaplan-Meier e montada a tábua de

sobrevida. Para a verificação da existência de correlação entre as demais variáveis

de estudo, foi realizado o Teste de Correlação de Spearman. O nível de significância

adotado a priori foi de α=0,05.

Na tábua de sobrevida, o número de felinos sobreviventes até o mês marcado

foi demarcado pela sigla Ox. O número de animais mortos ou eutanasiados foi

demarcado pela sigla dx. A sigla wx se referiu ao número de animais que

permaneceram vivos após o mês marcado. A sigla px se referiu à probabilidade de

um felino estar vivo naquele mês. A sigla Px se referiu à probabilidade acumulada de

um felino estar vivo até aquele mês marcado. O mês limite marcado para a análise

dos dados foi setembro de 2008.

O coeficiente de correlação de Spearman, representado pela sigla RS, varia

de 0 (sem correlação) até 1 (máxima correlação), e varia de acordo com o número

de variáveis utilizadas e a associação das variáveis analisadas.

O p-valor, representado pela sigla p, significa o quanto os dados analisados

são significativos, e qual a probabilidade de não se cometer o erro tipo 1.

Figura 2: Estadiamento clínico do carcinoma epidermóide de felinos submetidos ao tratamento radioterápico. A – Lesão neoplásica estadiada como T1, no felino N. B – Lesão neoplásica avançada, estadiada como T4, no felino M.

B A

Cunha, S.C.S. Cunha, S.C.S.

55

Figura 3: Sala de radioterapia do Hospital Clementino Fraga Filho com o acelerador linear Clinac 2100 C.

Figura 4: Planejamento radioterápico de felinos com carcinoma epidermóide. A – Utilização de caneta de feltro para delimitação do volume alvo a ser irradiado. B - Esquema mostrando o volume alvo neoplásico (PTV).

GTV

CTV

PTV

A B

Cunha, S.C.S.

Cunha, S.C.S. Cunha, S.C.S.

56

Figura 5: Posicionamento do paciente G, portador de carcinoma epidermóide nasal, para o tratamento radioterápico. O animal anestesiado foi posicionado em decúbito esternal, um suporte foi colocado embaixo da cabeça, e um abridor de bocas foi utilizado para permitir a correta posição do campo a ser irradiado. O bolus, que consistiu de um bloco de 10 mm de gazes umedecidas, foi utilizado para superficializar a radiação.

Figura 6: Material do setor de radioterapia do Hospital Clementino Fraga Filho da UFRJ, utilizado para o tratamento radioterápico de felinos portadores de carcinoma epidermóide. A – Bolus, camada de material de densidade semelhante aos tecidos do organismo, que tem por objetivo permitir que parte da dose seja absorvida mais superficialmente na pele. B – Colimadores.

A B

Cunha, S.C.S.

Cunha, S.C.S. Cunha, S.C.S.

57

Figura 7: Sistema de monitoramento do setor de radioterapia do Hospital Clementino Fraga Filho da UFRJ. Esse sistema inclui câmeras, terminais de vídeos, alto-falantes e microfones, e permite o monitoramento do paciente durante o tratamento radioterápico.

Cunha, S.C.S. Cunha, S.C.S.

58

5 RESULTADOS

5.1 Resenha, histórico e anamnese dos animais Dos quinze felinos estudados, todos (100%) eram SRD, ou seja, não tinham

raça definida. A idade dos animais com carcinoma epidermóide facial variou entre 7

e 17 anos, com média de 11 anos. Apenas um felino do estudo era macho, sendo

todo o restante (n=14) composto por fêmeas.

Quanto à pelagem, todos os animais tinham pelagem total ou parcialmente

branca. Oito (53,3%) felinos tinham pelagem branca, três (20%) tinham pelagem

tricolor, dois (13,3%) pelagem preta e branca e dois (13,3%) pelagem tigrada e

branca (Figura 8).

59

Pelagem

54%

20%

13%

13%

PelagemBranca

PelagemTricolor

PelagemPreta/Branca

PelagemTigrada/Branca

Figura 8: Distribuição dos quinze felinos portadores de carcinoma epidermóide facial submetidos ao tratamento radioterápico segundo a cor da pelagem.

A maioria (11/15 – 73,3%) dos felinos do estudo tinha como moradia uma

casa com acesso a quintal e/ou rua, sendo apenas um (1/15 – 6,6%) de

apartamento, e três (3/15 – 20%) de um abrigo de animais ou de rua.

Lesões submetidas a outros tipos de tratamentos prévios que não obtiveram

sucesso foram incluídas no projeto, totalizando nove lesões. Os tratamentos

anteriores incluíram a exérese cirúrgica em cinco (55%) das lesões, bastão de

nitrato de prata em três (33%), e criocirurgia em uma (11%) das lesões neoplásicas.

Os resultados da raça, pelagem, idade, sexo, procedência e tratamentos

prévios dos animais do estudo estão dispostos na Tabela 3.

60

Tabela 3: Resultados da resenha, procedência e tratamentos prévios dos quinze felinos portadores de carcinoma epidermóide facial submetidos ao tratamento radioterápico.

Animal Lesão Pelagem Sexo Idade Origem Tratamento anterior

A 1 N 2

Tricolor Fêmea Desconhecida Abrigo N

B 3 Preta e Branca

Fêmea Desconhecida Rua N

C 4 Branca Fêmea 7 anos Casa N D 5 N 6

Branca Macho 8 anos Casa N

E 7 Branca Fêmea Desconhecida Casa N

F 8 Branca Fêmea 17 anos Casa N

G 9 Preta e Branca

Fêmea 9 anos Apartamento N

H 10 N 11 N 12

Tigrada e Branca Fêmea Desconhecida Abrigo

N I 13 N 14

Branca Fêmea Desconhecida Casa N

J 15 Cirurgia

16 Cirurgia

17

Branca Fêmea 11 anos Casa

Cirurgia K 18 N 19

Tricolor Fêmea 16 anos Casa Cirurgia

L 20 Nitrato de prata

21 Nitrato de prata

22

Branca Fêmea 11 anos Casa

Nitrato de prata

M 23 Branca Fêmea Desconhecida Casa Cirurgia

N 24 Tigrada e Branca

Fêmea Desconhecida Casa N

O 25 Tricolor Fêmea 10 anos Casa Criocirurgia Legenda: N (Nenhum).

61

5.2 Localização neoplásica facial

A região dos pavilhões auriculares foi a mais acometida entre os felinos do

estudo, correspondendo a 40% (10/25) das lesões, seguida pelo plano nasal (32% -

8/25), palpebral (16% - 4/25) e temporal (12% - 3/25) (Figura 9 e Tabela 4).

0

2

4

6

8

10

Número

Local

Localização das lesões

PavilhõesauricularesPlano nasal

Têmporas

Pálpebras

Figura 9: Distribuição dos quinze felinos portadores de carcinoma epidermóide facial submetidos ao tratamento radioterápico segundo a localização da lesão neoplásica.

A maioria das lesões (24/25) se apresentou nas áreas despigmentadas

(brancas) dos animais, sendo apenas uma lesão (Lesão 18) presente em área

pigmentada.

5.3 Tempo de evolução clínica

O tempo de evolução da lesão, questionado ao proprietário, foi considerado

rápido em sete lesões, moderado em quatro lesões, lento em oito lesões e

desconhecido em seis lesões (Tabela 4).

62

5.4 Estadiamento clínico das lesões

De acordo com o sistema de estadiamento clínico para neoplasias epidermais

de felinos da Organização Mundial de Saúde (OWEN, 1980), 44% (11/25) das

lesões foram classificadas como T4, 16% (4/25) como T3, 8% (2/25) como T2 e 32%

(8/25) como T1 (Figura 10 e Tabela 4).

No exame inicial, nenhum animal apresentou evidências de metástases nos

linfonodos submandibulares ou pulmões. Um felino do estudo (D) foi eutanasiado na

terceira sessão, antes do término do tratamento, pois apresentou dispnéia e foi

diagnosticado com metástase pulmonar através de radiografia torácica e posterior

necrópsia.

Estadiamento clínico

T132%

T28%T3

16%

T444%

Figura 10: Distribuição dos quinze felinos portadores de carcinoma epidermóide facial submetidos ao tratamento radioterápico segundo o estadiamento clínico para tumores epidermais de felinos da Organização Mundial de Saúde, adaptado por Owen (OWEN, 1980).

63

Tabela 4: Localização neoplásica, estadiamento clínico e tempo de evolução das vinte e cinco lesões neoplásicas de carcinoma epidermóide dos quinze felinos submetidos ao tratamento radioterápico.

Animal Lesão Localização

Tamanho da lesão (aprox.) em cm

Localização (área branca

ou pigmentada do corpo)

Estadiamento clínico

Tempo de evolução

Aspecto clínico da

lesão

Metástase inicial

Metástase após

tratamento

A 1 Nasal 3 cm x 1,5 cm

Branco T3N0M0 Desconhecido Crostas, ulceração - -

A 2 Pálpebra esquerda

0,2 cm x 0,1 cm Branco T1N0M0 Desconhecido Crostas - -

B 3 Nasal 1,5 cm x 2,5 cm

Branco T4N0M0 Desconhecido Ulceração, invasão, necrose

- -

C 4 Têmpora direita

2,6 cm x 2,2 cm

Branco T3N0M0 Lento Eritema, crostas -

D 5 Pálpebra direita

0,1 cm x 0,3 cm

Branco T1N0M0 Rápido Eritema -

D 6 Têmpora esquerda

10 cm x 13 cm

Branco T4N0M0 Rápido Ulceração - Pulmão

E 7 Nasal 3 cm x 2,5 cm

Branco T2N0M0 Lento Eritema - -

F 8 Pavilhão auricular direito

6 cm x 5 cm Branco T4N0M0 Rápido Ulceração - -

G 9 Nasal 10 cm x 11 cm

Branco T4N0M0 Rápido Ulceração, invasão - -

H 10 Nasal 3,5 cm x 3 cm

Branco T4N0M0 Desconhecido Ulceração, invasão, crostas

- -

H 11 Pálpebra direita

0,2 cm x 0,1 cm

Branco T1N0M0 Desconhecido Crostas - -

H 12 Pálpebra esquerda

0,5 cm x 0,5 cm Branco T1N0M0 Desconhecido Ulceração - -

I 13 Pavilhão auricular esquerdo

10 cm x 10 cm

Branco T4N0M0 Rápido Ulceração, necrose, invasão

- -

I 14 Pavilhão auricular direito

8 cm x 7 cm

Branco T4N0M0 Rápido Ulceração, necrose, invasão

- -

J 15 Nasal 3 cm x 2,5 cm

Branco T4N0M0 Moderado Ulceração, crostas - -

J 16 Pavilhão auricular direito

2 cm x 2,2 cm Branco T2N0M0 lento Crostas - -

J 17 Pavilhão auricular esquerdo

0,7 cm x 0,4 cm Branco T3N0M0 lento Crostas - -

K 18 Têmpora direita

9 cm x 5 cm Pigmentado T4N0M0 moderado Crostas =

placa - -

K 19 Pavilhão auricular esquerdo

1 cm x 0,5 cm

Branco T1N0M0 moderado Crostas - -

L 20 Nasal 1,5 cm x 1,3 cm

Branco T3N0M0 lento Crostas - -

L 21 Pavilhão auricular esquerdo

0,1 cm x 0,2 cm Branco T1N0M0 lento Eritema,

crostas - -

L 22 Pavilhão auricular direito

0,1 cm x 0,1 cm Branco T1N0M0 lento Eritema,

crostas - -

M 23 Pavilhão auricular direito

8cm x 12 cm Branco T4N0M0 rápido

Ulceração, invasão, necrose

- -

N 24 Pavilhão auricular

direto

0,2 cm x 0,1 cm Branco T1N0M0 lento Crostas - -

O 25 nasal 2,5 cm x 2 cm

Branco T4N0M0 Moderado Nódulo - -

64

5.5 Exames complementares Todos os animais foram submetidos a exames básicos como hemograma e

dosagem bioquímica sérica (uréia e creatinina), além de radiografias torácicas. De

acordo com o exame clínico, exames adicionais foram realizados, conforme

necessário.

O volume globular e a leucometria global se apresentaram dentro da

normalidade em todos os felinos do estudo. O leucograma evidenciou na maioria

das vezes quadro inflamatório, incluindo DNNE leve (2/15), neutrofilia (4/15),

linfopenia (10/15), monocitose (5/15), monocitopenia (2/15) e eosinopenia (2/15). A

hiperproteinemia também foi um achado frequente, encontrada em 7 dos 15 animais.

(Tabela 5).

Quatro animais apresentavam doenças sistêmicas concomitantes além do

carcinoma epidermóide. Dois animais apresentavam insuficiência renal crônica,

evidenciada pelo aumento dos valores séricos da uréia e creatinina (Tabela 6). Em

um desses animais, exames adicionais para avaliar a função renal, como urinálise e

fósforo, foram realizados. Na urinálise, a densidade urinária estava baixa (1, 012), e

havia piúria e bacteriúria, revelando infecção urinária e isostenúria. O fósforo sérico

se apresentou dentro dos limites de normalidade. Ainda, este mesmo animal era

portador de cardiomiopatia hipertrófica, evidenciada através de ecocardiografia.

Apenas quatro animais fizeram sorologia para os vírus da Imunodeficiência e

Leucemia felinas, sendo um positivo para FeLV (vírus da leucemia felina), dois

positivos para FiV (vírus da imunodeficiência felina), e um negativo para ambos

(Tabela 7).

A tabela com os valores laboratoriais de referência estão dispostos no anexo

12.2.

65

Tabela 5 – Resultados dos exames hematológicos dos quinze felinos portadores de carcinoma epidermóide facial submetidos ao tratamento radioterápico.

Animal VG

(%)

PPT

(g/dL)

Leucometria

Global (/µL)

Bastonetes

(/µL)

Segmentados

(/µL)

Linfócitos

(/µL)

Monócitos

(/µL)

Eosinófilos

(/µL)

A 28 7,6 6200 0 4526 930 558 186

B 27 7,4 10000 0 7200 2300 300 200

C 41 8,2 11300 0 9040 1469 339 452

D 39 7,6 18600 372 14880 930 1674 744

E 26 7,8 6200 0 4650 1426 62 62

F 29 7,0 12000 240 8640 2160 240 720

G 31 9,4 17400 0 15486 0 1392 522

H 28 8,2 18000 0 13320 1980 1620 1080

I 37 8,0 17600 176 15840 704 352 702

J 45 8,4 9400 376 4700 2820 564 940

K 25 7,8 5800 0 2900 2494 290 116

L 33 7,2 7200 0 5616 720 432 432

M 24 8,2 5800 0 4756 870 58 58

N 33 7,8 9600 0 6912 1056 1344 288

O 35 8,2 11300 113 9492 339 904 565

Legenda: VG (Volume Globular); PPT (Proteína plasmática total).

66

Tabela 6 – Resultados da dosagem bioquímica sérica e de outros exames dos quinze felinos portadores de carcinoma epidermóide facial submetidos ao tratamento radioterápico.

Animal Uréia

(mg/dL)

Creatinina

(mg/dL) ALT (UI/L)

Sorologia

FiV/FeLV Outros exames

A 105,0 3,2 37,2 FeLV+

FiV -

Urinálise

Ecocardiografia

Fósforo 6,1 mg/dL

B 52,0 1,2 - - -

C 44,0 0,7 31,0 - -

D 42,0 1,5 - - -

E 55,0 1,8 - FeLV –

FiV+ -

F 54,5 1,6 - - -

G 38,0 1,0 - FeLV-

FiV- -

H 44,0 1,3 - - -

I 122,0 3,4 - - -

J 48,7 1,1 - - -

K 55,0 1,6 - FeLV –

FiV + -

L 38,0 1,2 - - -

M 40,0 1,1 - - -

N 37,0 1,8 - - -

O 45,0 1,6 - - -

67

Tabela 7: Doenças sistêmicas concomitantes dos felinos portadores de carcinoma epidermóide facial submetidos ao tratamento radioterápico.

Animal Doenças Concomitantes

A Cardiomiopatia hipertrófica Insuficiência renal crônica

FeLV B - C - D - E FiV F - G - H -

I Insuficiência renal crônica

J - K FiV

L -

M -

N -

O - Legenda: FiV (Vírus da Imunodeficiência felina); FeLV (Vírus da Leucemia felina).

5.6 Diagnóstico

5.6.1 Análise macroscópica

Dentre os 15 animais estudados, oito (53%) apresentaram lesão neoplásica

única, enquanto o restante (47%) apresentou duas ou mais lesões neoplásicas

faciais em regiões distintas da face.

A maioria das lesões (16/25) consistia de uma área ulcerada na pele do

animal, com crostas escuras. Alguns animais (5/25) apresentavam apenas eritema e

68

crostas, sem ulceração. As lesões mais avançadas apresentavam, além da

ulceração, necrose intensa e grande invasão dos tecidos subjacentes (3/25). Apenas

uma lesão (1/25) se apresentava através de um nódulo de consistência endurecida,

com pequena área ulcerada (Figura 12).

O tamanho das neoplasias variou de 0,1 cm a 13,0 cm de comprimento e/ou

largura, com média de 3,84 cm (Tabela 4).

5.6.2 Análise histopatológica A análise histopatológica foi conclusiva para carcinoma epidermóide

(espinocelular) em todos os casos. Os achados mais frequentes incluíram

espessamento do revestimento epitelial (acantose), com projeções digitiformes da

epiderme em direção à derme, hiperceratose, erosão e ulceração, com necrose,

hemorragia e restos celulares. Havia proliferação de células neoplásicas epiteliais

originadas da epiderme que se organizavam em formações trabeculares e ilhas,

formando ora estruturas com células queratinizadas na região central, formando

pérolas córneas, ora sem queratinização. Estas células neoplásicas apresentavam

pleomorfismo celular moderado a acentuado, hipercromatismo nuclear, núcleos

bizarros, nucléolos evidentes, algumas células com mais de um nucléolo, e mitoses

típicas e atípicas. Havia infiltrado inflamatório, formado por neutrófilos, linfócitos,

plasmócitos, macrófagos, mastócitos ou eosinófilos. Outros aspectos observados

foram neovascularização, congestão e hiperplasia glandular. Em algumas lesões,

havia áreas de anaplasia (Tabela 8).

69

Tabela 8: Exame histopatológico das vinte e cinco lesões neoplásicas de carcinoma epidermóide em quinze felinos submetidos ao tratamento radioterápico.

Lesão Exame histopatológico

1 Epiderme com discretas projeções digitiformes para a derme e área com ulceração. Organização das células epiteliais em ilhas sem queratinização, apresentando pleomorfismo celular discreto a moderado, hipercromatismo nuclear, nucléolos evidentes e às vezes múltiplos. Fibroblastos, hemorragia, focos de necrose e infiltrado inflamatório de polimorfonucleares.

2 Tecido conjuntivo de sustentação, estrutura glandular com luz dilatada e hemorragia. Agrupamento de células epiteliais com pleomorfismo discreto a moderado, hipercromatismo nuclear, nucléolos evidentes, e área de necrose com restos celulares e células inflamatórias.

3 Células epiteliais escamosas com pleomorfismo moderado a acentuado, nucléolos evidentes e por vezes duplos, mitoses, agrupamentos em ilhas com centro queratinizado. Invasão das células neoplásicas ao tecido conjuntivo adjacente, congestão, hemorragia e necrose. Pigmento de melanina entre as células neoplásicas na superfície da derme.

4 Epiderme com hiperplasia e projeções digitiformes para a derme, hiperqueratose e crostas hemorrágicas. Formações trabeculares e em ilhas de células escamosas originadas da epiderme se estendendo para o interior da derme superficial, com projeções digitiformes periféricas. Organização ora em estruturas com células queratinizadas na região central, formando pérolas córneas, ora sem queratinização, envolvendo algumas glândulas sebáceas. Pleomorfismo celular moderado, hipercromatismo nuclear, nucléolos evidentes e às vezes múltiplos, e mitoses. Infiltrado inflamatório de mastócitos, linfócitos e plasmócitos.

5 Epiderme com hiperplasia e áreas de necrose, hiperqueratose, projeções digitiformes para a derme. Proliferação de células escamosas da epiderme se estendendo para o interior da derme superficial, formações trabeculares e ilhas. Pleomorfismo celular moderado, hipercromatismo nuclear, nucléolos evidentes e às vezes múltiplos, e mitoses. Organização ora em estruturas com células queratinizadas na região central, formando pérolas córneas, ora sem queratinização. Infiltrado inflamatório misto composto por neutrófilos, linfócitos e plasmócitos e macrófagos. Hemorragia e neovascularização.

6 Epiderme fina e anexos cutâneos característicos. Formações trabeculares e em ilhas de células escamosas da epiderme se estendendo para o interior da derme superficial, com projeções digitiformes periféricas. Pleomorfismo celular moderado e nucléolos evidentes. Organização ora em estruturas com células queratinizadas na região central, formando pérolas córneas, ora sem queratinização. Infiltrado inflamatório misto composto por neutrófilos, linfócitos e plasmócitos. Hemácias, restos celulares e necrose.

7 Epiderme com hiperplasia e projeções digitiformes para a derme, hiperqueratose, crostas hemorrágicas e região ulcerada. Na junção dermo-epidérmica, havia proliferação de células escamosas da epiderme se estendendo para o interior da derme superficial, formações trabeculares e ilhas. Organização ora em estruturas com células queratinizadas na região central, formando pérolas córneas, ora sem queratinização. Pleomorfismo celular moderado, hipercromatismo nuclear, nucléolos evidentes e às vezes múltiplos, e mitoses. Infiltrado inflamatório de mastócitos, linfócitos, plasmócitos, neutrófilos e eosinófilos.

8 Epiderme espessada com projeções digitiformes em direção à derme, hiperqueratose e crostas hemorrágicas, erosão e ulceração. Anexos cutâneos normais. Derme com formações em ilhas de células escamosas com pleomorfismo celular moderado, hipercromatismo nuclear, nucléolos evidentes e às vezes múltiplos, e mitoses. Organização ora em estruturas com células queratinizadas na região central, formando pérolas córneas, ora sem queratinização, ora com área central composta por material eosinofílico e restos celulares. Infiltrado inflamatório linfoplasmocitário difuso. Cartilagem normal adjacente às ilhas neoplásicas.

9 Epiderme espessada com projeções digitiformes para a derme e anexos cutâneos normais. Derme com formações em ilhas de células escamosas com pleomorfismo celular moderado a acentuado, hipercromatismo nuclear, núcleos bizarros, nucléolos evidentes e às vezes múltiplos, e mitoses típicas e atípicas. Organização ora em estruturas com células queratinizadas na região central, formando pérolas córneas, ora sem queratinização. Infiltrado inflamatório misto composto por neutrófilos, linfócitos e plasmócitos. Congestão, hemorragia e necrose.

10 Células escamosas queratinizadas, dispostas em aglomerados e isoladas. Raras células com atipia nuclear, pleomorfismo celular discreto, binucleações. Infiltrado inflamatório e hemácias frequentes.

11 Células escamosas queratinizadas, dispostas em aglomerados e isoladas. Raras células com atipia nuclear, pleomorfismo celular discreto, binucleações. Infiltrado inflamatório e hemácias frequentes.

12 Células escamosas queratinizadas, dispostas em aglomerados e isoladas. Raras células com atipia nuclear, pleomorfismo celular discreto, binucleações. Infiltrado inflamatório e hemácias frequentes.

13 Células escamosas neoplásicas em formações trabeculares e em ilhas. Pleomorfismo celular moderado a acentuado, áreas de anaplasia, hipercromatismo nuclear, núcleos bizarros, nucléolos evidentes e às vezes múltiplos, e muitas mitoses típicas e atípicas. Organização ora em estruturas com ora sem queratinização.

14 Células escamosas neoplásicas em formações trabeculares e em ilhas. Pleomorfismo celular moderado a acentuado, áreas de anaplasia, hipercromatismo nuclear, núcleos bizarros, nucléolos evidentes e às vezes múltiplos, e muitas mitoses típicas e atípicas. Organização ora em estruturas com ora sem queratinização.

15 Não disponibilizado

16 Não disponibilizado

17 Não disponibilizado

18 Não disponibilizado

19 Não disponibilizado

20 Epiderme espessada. Derme com ilhas sem queratinização central de células epiteliais. Pleomorfismo discreto, núcleo grande, nucléolo único e evidente. Infiltrado inflamatório rico em neutrófilos íntegros e degenerados, hemácias e necrose.

21 Epiderme espessada. Derme com ilhas sem queratinização central de células epiteliais. Pleomorfismo discreto, núcleo grande, nucléolo único e evidente. Infiltrado inflamatório rico em neutrófilos íntegros e degenerados, hemácias e necrose.

22 Epiderme espessada. Derme com ilhas sem queratinização central de células epiteliais. Pleomorfismo discreto, núcleo grande, nucléolo único e evidente. Infiltrado inflamatório rico em neutrófilos íntegros e degenerados, hemácias e necrose.

23 Epiderme com hiperplasia e hiperqueratose, com projeções digitiformes para a derme. Ulceração, restos celulares, necrose e infiltrado inflamatório misto de macrófagos, linfócitos, neutrófilos íntegros e degenerados. Organização ora em estruturas com células queratinizadas na região central, formando pérolas córneas, ora sem queratinização. Pleomorfismo celular moderado, hipercromatismo nuclear, nucléolos evidentes e às vezes múltiplos, e mitoses. Glândulas sebáceas normais adjacentes ao processo neoplásico, congestão e tecido muscular invadido pelas células neoplásicas.

24 Epiderme espessada. Derme com ilhas sem queratinização central de células epiteliais. Pleomorfismo discreto, núcleo grande, nucléolo único e evidente. Infiltrado inflamatório rico em neutrófilos.

25 Células escamosas dispostas ora individualizadas ora agrupadas. Pleomorfismo celular moderado. Cromatina nuclear de aspecto variável com único nucléolo evidente, e relação núcleo:citoplasma variável. “Halo” perinuclear e pequenos vacúolos perinucleares em algumas células. Infiltrado inflamatório de neutrófilos. Hemácias.

70

5.7 Procedimento anestésico O protocolo anestésico utilizado, que consistiu de acepromazina (0,03 mg/kg

IM), meperidina (2-4 mg/kg IM), ketamina (2-4 mg/kg EV) e diazepam (0,2 mg/kg EV)

foi bem tolerado por catorze dos quinze felinos tratados, levando a perfeita

imobilização dos animais durante a administração da radioterapia. Quando havia

mais de um campo a ser irradiado, eram necessários repiques de ketamina, em um

esquema de dose-efeito. Após o procedimento, todos os animais apresentavam

rápido retorno da consciência (cerca de 15 a 30 minutos) e normotermia.

Apenas um animal (felino E) apresentou resistência à ketamina, com efeitos

excitatórios ao invés de sedativos, e necessitou altas doses de ketamina na primeira

sessão radioterápica. Nas sessões seguintes, o protocolo anestésico foi mudado

para acepromazina (0,03 mg/kg IM), meperidina (3 mg/kg IM), tiletamina /

zolazepam5 (3 mg/kg EV), com ótimos resultados. O retorno da consciência também

foi rápido (cerca de 20 minutos).

Um felino (H) precisou de sedação para a manipulação e administração da

medicação pré-anestésica, devido ao temperamento agressivo. Neste caso, foi

utilizado ketamina (10 mg/kg) por via oral. Após cinco minutos, o animal já sedado

foi manipulado utilizando-se uma toalha ao redor da face.

5.8 Procedimento radioterápico

Nenhum animal do experimento apresentou complicações durante o

procedimento radioterápico. Quando houve movimentação do campo radioterápico

durante a administração da radiação, o tratamento era interrompido e repiques de

ketamina eram realizados até que o animal ficasse imóvel novamente. O

procedimento radioterápico em si (entrega da radiação) durou cerca de 3 a 5

minutos para cada campo irradiado.

5Zoletil 50 – Virbac, Jurubatuba, SP

71

A energia de 4 MeV foi utilizada em 17 lesões, sendo 6 MeV utilizada em oito

lesões. A espessura do bolus variou com a profundidade desejada de radiação, e

teve 5 mm em 14 lesões e 10 mm em 11 lesões neoplásicas. Estes dados estão

dispostos na Tabela 9.

5.9 Resposta ao tratamento radioterápico Ao término do tratamento radioterápico, dez (40%) das lesões irradiadas

apresentaram remissão completa, três (12%) remissão parcial e doze (48%) não

apresentaram resposta ao tratamento (Figura 15 e Tabela 9).

As neoplasias em estágios T1 e T2 apresentaram 55,5% de remissão

completa enquanto as neoplasias avançadas, em estágios T3 e T4, tiveram 31,25%

de resposta completa (Figura 11).

De acordo com o estadiamento clínico, as lesões classificadas como T1

apresentaram taxa de remissão completa de 62,5%, enquanto as lesões estadiadas

como T4 apresentaram 18,1% de remissão.

72

0

2

4

6

8

10

12

Número

Resposta

Resposta Tumoral

RemissãoCompleta

RemissãoParcial

Ausência deResposta

Figura 11: Distribuição das vinte e cinco lesões neoplásicas dos felinos portadores de carcinoma epidermóide facial submetidos ao tratamento radioterápico, de acordo com a resposta neoplásica à radioterapia.

Três lesões que obtiveram remissão completa (3/10) não apresentaram

recorrência até a data limite do experimento (Tabela 9). As sete lesões restantes

retornaram.

As lesões que apresentaram remissão parcial apresentaram melhora clínica

temporária, porém houve piora e consequente crescimento da neoplasia, e esses

animais foram então submetidos à eutanásia.

5.10 Tempo de sobrevida e tempo livre da doença

O tempo de sobrevida dos animais do experimento com o tratamento

radioterápico variou de 16 a 750 dias, com média de 224 dias.

O tempo livre da doença variou entre 64 e 720 dias, e teve média de 271 dias.

A curva de sobrevida foi realizada pelo método de Kaplan-Meier, a partir da

tábua de sobrevida (Figura 17).

73

Tabela 9: Dose total de radiação, energia utilizada, resposta neoplásica, tempo de sobrevida, tempo livre da doença e evolução dos quinze felinos portadores de carcinoma epidermóide facial submetidos ao tratamento radioterápico.

Animal Lesão Dose/ Energia Bolus Resposta

Tempo de sobrevida

(dias)

Tempo livre da doença (dias) Evolução

A 1 30,4 gy/4 MeV 5 mm RC 750* 720 Ainda em remissão

completa

A 2 30,4 gy/4 MeV

5 mm RC 750* 720 Ainda em remissão completa

B 3 30,4 gy/6 MeV 10 mm SR 163 0 Eutanásia

C 4 30,4 gy/4 MeV

5 mm RP 280 0 Eutanásia

D 5 30,4 gy/6 MeV 10 mm SR 16 0 Eutanásia

D 6 30,4 gy/6 MeV

10 mm RP 16 0 Eutanásia

E 7 30,4 gy/4 MeV 10 mm SR 140 0 Eutanásia

F 8 40 gy/6 MeV 10 mm SR 39 0 Eutanásia

G 9 40 gy/6 MeV 10 mm RC 260* 230 Vive com a neoplasia

H 10 40 gy/4 MeV 5 mm RC 205 64 Eutanásia

H 11 40 gy/4 MeV 5 mm SR 205 64 Eutanásia

H 12 40 gy/4 MeV 5 mm RC 205* 0 Eutanásia

I 13 40 gy/6 MeV 5 mm SR 40 0 Eutanásia

I 14 40 gy/4 MeV 5 mm SR 40 0 Eutanásia

J 15 40 gy/6 MeV 10 mm SR 420* 0 Vive com a neoplasia

J 16 40 gy/4 MeV 10 mm SR 420* 0 Vive com a neoplasia

J 17 40 gy/4 MeV 10 mm RC 420* 390 Vive com a neoplasia

K 18 40 gy/4 MeV 5 mm SR 72 0 Eutanásia

K 19 40 gy/4 MeV 5 mm SR 72 0 Eutanásia

L 20 40 gy/4 MeV 5 mm RC 215* 185 Vive com a neoplasia

L 21 40 gy/4 MeV 5 mm RC 215* 185 Vive com a neoplasia

L 22 40 gy/4 MeV 5 mm RC 215* 185 Vive com a neoplasia

M 23 40 gy/6 MeV 10 mm RP 97 0 Eutanásia

N 24 40 gy/4 MeV 10 mm RC 240* 210 Ainda em remissão completa

O 25 40 gy/4 MeV 5 mm SR 420* 0 Vive com a neoplasia

Legenda: RC (Remissão completa); RP (Remissão parcial); SR (Sem resposta); * (animal vivo até a data limite do experimento).

74

5.11 Efeitos colaterais Os efeitos colaterais ao tratamento radioterápico foram classificados de

acordo com a tabela de critérios de toxicidade da “Veterinary Radiation Therapy

Oncology Group - VRTOG” (LADUE; KLEIN, 2001).

O protocolo hipofracionado levou a reações agudas consideradas

leves/moderadas e reversíveis em todos os casos. Estes ocorreram em 12 lesões

(48%), e as manifestações clínicas incluíram eritema cutâneo, epilação, ulceração,

rinite e conjuntivite (Figura 16). Dessas reações, dez foram consideradas como grau

1, e duas consideradas como grau 3. Apenas um caso de conjuntivite foi tratado

com medicação antiinflamatória e antibiótica tópica, além do uso de colar

elisabetano para evitar a auto-mutilação. O restante das lesões não necessitou

tratamento, e foi auto-limitante. A ulceração (classificada como grau 3) ocorreu

apenas nos dois animais positivos para Imunodeficiência felina (Fiv), e teve início na

segunda semana de tratamento (Tabela 10).

Reações tardias ao tratamento, como ceratoconjuntivite seca e catarata, por

exemplo, não foram observadas nos animais vivos até a data limite do experimento.

75

Tabela 10: Reações agudas de toxicidade à radiação observadas nas vinte e cinco lesões neoplásicas faciais de carcinoma epidermóide de quinze felinos submetidos ao tratamento radioterápico hipofracionado, de acordo com a tabela de critérios de toxicidade da VRTOG (LADUE; KLEIN, 2001).

Animal Lesão Efeitos colaterais Grau (VRTOG)

A 1 - 0

A 2 Conjuntivite 1

B 3 - 0 C 4 Eritema, epilação 1 D 5 Conjuntivite 1 D 6 - 0 E 7 Ulceração, eritema 3 F 8 - 0 G 9 Rinite 1 H 10 - 0 H 11 Conjuntivite 1 H 12 Conjuntivite 1

I 13 - 0

I 14 - 0

J 15 - 0

J 16 Epilação 1

J 17 Epilação 1 K 18 Ulceração 3 K 19 - 0

L 20 - 0

L 21 Eritema, epilação 1

L 22 Eritema, epilação 1

M 23 - 0

N 24 - 0

O 25 - 0

76

Figura 12: Aspectos macroscópicos do carcinoma epidermóide em felinos submetidos à radioterapia, antes do início do tratamento. A – Ulceração do plano nasal no felino A. B - Ulceração grave, invasão e necrose no pavilhão auricular do felino M. C – Nódulo no plano nasal do felino O. D – Eritema e crostas no plano nasal do felino L.

A B

C D

Cunha, S.C.S. Cunha, S.C.S.

Cunha, S.C.S. Cunha, S.C.S.

77

Figura 13 – Fotos das lâminas de histopatologia das lesões neoplásicas faciais de felinos portadores de carcinoma epidermóide. A – Hiperceratose, acantose da epiderme, com formações trabeculares de células epiteliais neoplásicas e formação de pérola córnea (asterisco), B – Acantose da epiderme, formações trabeculares (seta) e ilhas de células epiteliais neoplásicas. C – Figuras de mitose típicas (seta branca) e atípicas (setas pretas), D – Células epiteliais neoplásicas com pleomorfismo celular acentuado, hipercromatismo nuclear, nucléolos evidentes e áreas de anaplasia (HE, 100x A e B; 400x C; 200x D - original).

A B

C D

*

78

Figura 14: Evolução das lesões neoplásicas de carcinoma epidermóide em alguns dos felinos tratados através de radioterapia. A e B – Lesão neoplásica (9) antes e após tratamento radioterápico, evidenciando remissão completa. C e D – Lesão neoplásica (10) antes e após tratamento radioterápico, evidenciando remissão completa. E e F – Lesão neoplásica (1) antes e após tratamento radioterápico, evidenciando remissão completa.

B

C D

E F

A

Cunha, S.C.S. Cunha, S.C.S.

Cunha, S.C.S. Cunha, S.C.S.

Cunha, S.C.S. Cunha, S.C.S.

79

Figura 15: Evolução das lesões neoplásicas de carcinoma epidermóide em alguns dos felinos tratados através de radioterapia. A e B – Lesão neoplásica (3) antes e após tratamento radioterápico, evidenciando ausência de resposta. C e D – Lesão neoplásica (4) antes e após tratamento radioterápico, evidenciando remissão parcial.

A B

D C

Cunha, S.C.S. Cunha, S.C.S.

Cunha, S.C.S. Cunha, S.C.S.

80

Figura 16: Reações agudas de toxicidade ao tratamento radioterápico observadas nos animais portadores de carcinoma epidermóide facial. A – Conjuntivite no animal H. B – Eritema no animal C. C – Epilação no animal J. D – Ulceração no animal E.

5.12 Análise estatística

Os resultados da análise estatística estão dispostos na Tabela 11, Tabela 12,

Tabela 13 e Tabela 14.

A A B

C D

Cunha, S.C.S. Cunha, S.C.S.

Cunha, S.C.S. Cunha, S.C.S.

81

5.12.1 Tempo de sobrevida após o tratamento radioterápico

Tabela 11: Tábua de sobrevida dos quinze felinos portadores de carcinoma epidermóide facial submetidos ao tratamento radioterápico.

Meses Ox dx wx px Px

1 15 1 0 0,933 0,933 2 14 2 0 0,857 0,800 3 12 1 0 0,917 0,733 4 11 1 0 0,909 0,667 5 10 1 0 0,900 0,600 6 9 1 0 0,889 0,533 7 8 1 0 0,875 0,467 8 7 0 2 1,000 0,467 9 5 0 1 1,000 0,467

10 4 1 0 0,750 0,350 14 3 0 2 1,000 0,350 25 1 0 1 1,000 0,350

Legenda: Ox (número de sobreviventes até o mês marcado); dx

(números de mortos); wx (número de animais que permaneceram

vivos após o mês marcado); px (probabilidade de se estar vivo

naquele mês); Px (probabilidade acumulada de se estar vivo até

aquele mês). O nível de significância adotado foi de α=0,05.

De acordo com a tábua de sobrevida, observa-se que a probabilidade de um

felino portador de CE submetido ao tratamento radioterápico apresenta 53,3% de

probabilidade de sobreviver 6 meses, e 35% de probabilidade de sobreviver 10

meses.

82

Figura 17: Gráfico de Kaplan-Meier, elaborado a partir da tábua de sobrevida de quinze felinos portadores de carcinoma epidermóide facial submetidos ao tratamento radioterápico.

5.12.2 Estadiamento clínico da lesão neoplásica x resposta neoplásica à radioterapia

O Teste de Correlação de Spearman denotou a inexistência de correlação

entre o estadiamento clínico da lesão com a resposta da neoplasia à radioterapia

(rs= - 0,341; p=0,096). Assim, o fato de uma lesão neoplásica de CE ser estadiada

como T1, T2, T3 ou T4 não interferiu na resposta desta lesão ao tratamento

radioterápico hipofracionado.

5.12.3 Estadiamento clínico da lesão neoplásica x cor da pelagem do animal

O Teste de Correlação de Spearman denotou a inexistência de correlação

entre estadiamento clínico da lesão e a cor da pelagem do felino (rs= - 0,089;

p=0,336). Ou seja, felinos de determinadas pelagens (total ou parcialmente brancas)

não apresentam risco de desenvolverem neoplasias de menor ou maior gravidade.

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 14 25 Meses

Px

83

5.12.4 Cor da pelagem do felino x resposta neoplásica à radioterapia

O Teste de Correlação de Spearman denotou a inexistência de correlação

entre a cor da pelagem do felino e a resposta da neoplasia à radioterapia (rs= -

0,094; p=0,327). Assim, o tipo de pelagem não interferiu na resposta do felino ao

tratamento radioterápico.

5.12.5 Aspecto macroscópico da lesão neoplásica x resposta neoplásica à radiação

O Teste de Correlação de Spearman denotou a inexistência de correlação

entre o aspecto clínico da lesão e a resposta neoplásica. Assim, lesões crostosas,

ulceradas, necróticas ou nodulares não interferem na resposta ao tratamento

radioterápico.

Tabela 12: Correlação entre o aspecto macroscópico da lesão e a resposta neoplásica à radioterapia em vinte e cinco lesões neoplásicas de carcinoma epidermóide da face de quinze felinos submetidos ao tratamento radioterápico.

Resposta neoplásica

Ulceração Crostas Eritema Invasão Necrose

rs 1,000 -0,006 0,351 0,046 -0,050 -0,308 Resposta neoplásica p - 0,977 0,086 0,828 0,812 0,134

Legenda: rs (coeficiente de correlação de spearman); p (p-valor).

5.12.6 Estadiamento clínico da lesão neoplásica x reações agudas de toxicidade à radiação

O Teste de Correlação de Spearman denotou a inexistência de correlação

entre o estadiamento clínico e os efeitos colaterais à radioterapia. Assim, o

estadiamento clínico (T1, T2, T3 ou T4) não predispõe ao aparecimento de reações

agudas à radiação mais ou menos graves.

84

Tabela 13: Correlação entre o estadiamento clínico da lesão neoplásica e as reações agudas de toxicidade à radioterapia em vinte e cinco lesões neoplásicas de carcinoma epidermóide da face de quinze felinos submetidos ao tratamento radioterápico.

Estadiamento Conjuntivite Eritema Epilação Ulceração Rinite

rs 1,000 -,0579* -0,378 -0,361 0,054 0,211 Estadiamento p - 0,002 0,063 0,076 0,797 0,312

Legenda: rs (coeficiente de correlação de spearman); p (p-valor).

5.12.7 Localização facial da lesão x resposta neoplásica à radiação

O Teste de Correlação de Spearman denotou a inexistência de correlação

entre a localização da lesão e a resposta neoplásica. Assim, as diferentes

localizações neoplásicas na face não afetam a resposta ao tratamento radioterápico.

Tabela 14: Correlação entre a localização facial da lesão e a resposta neoplásica à radioterapia em vinte e cinco lesões neoplásicas de carcinoma epidermóide da face de quinze felinos submetidos ao tratamento radioterápico.

Resposta neoplásica

Nasal Pavilhão auricular

Pálpebra Têmpora

rs 1,000 0,052 -0,019 0,160 -0,124 Resposta neoplásica p - 0,804 0,929 0,446 0,555

Legenda: rs (coeficiente de correlação de Spearman); p (p-valor).

85

6 DISCUSSÃO

Em relação à resenha dos animais com carcinoma epidermóide facial,

nenhum felino tinha raça definida (SRD), e todos apresentavam pelagem totalmente

ou parcialmente branca. Também, a maioria dos animais era proveniente de locais

com alta exposição à luz solar, como casas com quintal, abrigos e rua, confirmando

o fato de que a carcinogênese está envolvida com a radiação solar e animais de

pelagem branca são mais propensos do que os de outras cores (CARPENTER;

ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; COX, 1991; LANA et al., 1997; MILLER et al.,

1991; MOORE; OGILVIE, 2001; MORIELLO, 1994; PETERSON; COUTO, 2000).

As fêmeas representaram a maioria (14/15) dos felinos com carcinoma

epidermóide facial, o que poderia levar à suposição de que estas são mais

propensas a desenvolver o carcinoma epidermóide cutâneo do que os machos. No

entanto, não há indícios de predisposição sexual em outros trabalhos

(CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH, 1987; COX, 1991; LANA et al., 1997;

MILLER et al., 1991; MOORE; OGILVIE, 2001; MORIELLO, 1994; PETERSON;

COUTO, 2000) e devido ao número limitado de animais neste estudo, esta

suposição não deve ser considerada.

A idade dos animais variou de 7 a 17 anos, com média de 11 anos. Esta

média se assemelha aos achados anteriores, e confirma que gatos idosos são mais

propensos ao CE. A explicação para isso é que a carcinogênese actínica é lenta,

podendo durar anos (LANA et al., 1997; MILLER et al., 1991).

Vinte e quatro das 25 lesões neoplásicas estavam localizadas em áreas

despigmentadas (na parte branca da pelagem) e com poucos pêlos. A região dos

pavilhões auriculares foi a mais acometida, correspondendo a 40% (10/25) das

86

lesões, seguida pelo plano nasal (32% - 8/25), palpebral (16% - 4/25) e temporal

(12% - 3/25). Os estudos anteriores concordam que a face é o local mais freqüente

para o CE, porém há estudos em que o plano nasal foi a região mais acometida,

seguido pelos pavilhões auriculares e pálpebras (LANA et al., 1997; LUCAS;

LARSSON, 2006). Porém, em determinados trabalhos, os pavilhões auriculares

foram os mais frequentemente acometidos (MILLER et al., 1991).

A apresentação macroscópica das lesões neoplásicas, na maioria dos casos,

foi de uma área ulcerada na pele, ou apenas eritema com crostas escuras, o que

confere com os estudos anteriores (CARPENTER; ANDREWS; HOLZWORTH,

1987; LANA et al., 1997; MILLER et al., 1991; MOORE; OGILVIE, 2001; WALDER,

1995).

Na análise histopatológica dos fragmentos neoplásicos, os achados mais

frequentes foram acantose, hiperceratose, erosão e ulceração da epiderme, com

necrose, hemorragia e restos celulares. Havia projeções digitiformes da epiderme

em direção à derme, e proliferação de células neoplásicas epiteliais originadas da

epiderme que se organizavam em formações trabeculares e ilhas, formando ora

estruturas com células queratinizadas na região central (pérolas córneas), ou sem

queratinização. As células neoplásicas apresentavam diversos critérios de

malignidade, como pleomorfismo celular, hipercromatismo nuclear, núcleos bizarros,

nucléolos evidentes, algumas células com mais de um nucléolo, e mitoses típicas e

atípicas. Também foi frequente a presença de infiltrado inflamatório, formado por

neutrófilos, linfócitos, plasmócitos, macrófagos, mastócitos ou eosinófilos. Todos

esses achados são compatíveis com a literatura anterior (CARPENTER; ANDREWS;

HOLZWORTH, 1987; GOLDSCHMIDT; SHOFER, 1992; MULLER; KIRK; SCOTT,

1985, WALDER, 1995). As neoplasias desse estudo apresentavam diferentes graus

de diferenciação, variando de áreas bem diferenciadas até áreas de anaplasia.

Algumas neoplasias eram mais queratinizadas do que outras, e havia lesões com

completa ausência de queratinização (lesões 1, 2, 20, 21, 22, 24 e 25). O

pleomorfismo celular variou de discreto a acentuado e o índice mitótico variou de

ausente até frequente, com casos de atipias mitóticas.

O protocolo anestésico escolhido para este experimento foi baseado em

diversos aspectos. O animal precisa receber um anestésico para ficar imóvel

durante cerca de 5-10 minutos. Em outros países, os protocolos de escolha são

Medetomidina/Butorfanol/Glicopirrolato (GRIMM, J.; LORIMIER; GRIMM, K., 2004), e

87

Propofol (BLEY et al., 2007). O propofol pode levar a formação de corpúsculos de

heinz em felinos anestesiados repetidamente, e por isso foi evitado. A

medetomidina, apesar de ter sido considerada extremamente segura (GRIMM, J.;

LORIMIER; GRIMM, K., 2004), foi descartada pelo seu alto custo. O protocolo

acepromazina/meperidina/ketamina/diazepam foi utilizado em virtude da rotina

adquirida com estas drogas em felinos, e da boa aceitação desses animais a este

protocolo. O retorno da consciência é extremamente rápido, não há hipotermia após

o procedimento, e o custo do tratamento é baixo. Esta associação de anestésicos

foi utilizada até mesmo em um felino portador de cardiomiopatia hipertrófica, sem

complicações. A maioria dos felinos aceitou muito bem o protocolo, exceto um, que

teve excitação com a Ketamina e foi submetida então à indução com

tiletamina/zolazepam nas sessões seguintes.

O tempo de sobrevida médio dos animais com o tratamento radioterápico foi

de 224 dias. No entanto, diferentemente dos outros trabalhos, os animais deste

experimento cujas lesões não responderam ao tratamento ou houve retorno da

neoplasia foram eutanasiados por desejo dos proprietários, e não morreram

espontaneamente pela doença. Portanto, este dado não pode ser comparado aos

demais estudos.

O tempo livre da doença teve média de 271 dias. Três lesões que obtiveram

remissão completa (3/10) não apresentaram recorrência até a data limite do

experimento. As sete lesões restantes retornaram.

Dez das 25 lesões aqui irradiadas apresentaram remissão completa com o

tratamento hipofracionado de radioterapia, o que corresponde a 40% das lesões. A

taxa de resposta (remissão completa + remissão parcial) correspondeu a 52%. Esta

taxa é inferior a outros trabalhos que utilizaram outros protocolos de radioterapia

externa (CARLISLE; GOULD, 1982; COX, 1991; FIDEL et al. 2001; KINZEL; HEIN;

KOCH, 2003; MELZER et al., 2006). Vários fatores podem ter interferido nessa

resposta. Em todos os trabalhos que utilizaram a radioterapia em felinos portadores

de carcinoma epidermóide facial, o tipo de energia (fótons, elétrons, prótons), sua

intensidade e protocolo de fracionamento variaram muito.

Cox (1991) utilizou radioterapia de ortovoltagem e megavoltagem com

cobalto-60, em 11 gatos com CE do plano nasal. O protocolo utilizado foi de 6 a 10

frações de 3,75 a 4,4 gy, três vezes por semana. Houve remissão inicial em todos,

mas houve recorrência da neoplasia após o tratamento em nove dos animais. O

88

tempo médio de sobrevida após o tratamento radioterápico foi de 17,7 meses, sendo

que 61,5% dos animais sobreviveu 1 ano, 23% sobreviveu 2 anos e 15% sobreviveu

3 anos. O trabalho não faz referência à taxa de resposta e nem ao tempo livre da

doença.

Já Théon e colaboradores (1995) utilizaram a ortovoltagem em 90 gatos com

CE, utilizando um protocolo de 10 frações de 4 gy, três vezes por semana. O seu

objetivo era determinar a eficácia deste protocolo no tratamento do CE felino, e

também analisar os fatores prognósticos que influenciam à resposta destas lesões

neoplásicas à radioterapia. A taxa estimada de remissão completa foi calculada

apenas para estágios T1 (56%), porém a taxa de resposta geral não foi mencionada.

A porcentagem de felinos que sobreviveram um ano após o tratamento foi de 74,3%.

Vários fatores prognósticos estudados também foram analisados, sendo o mais

importante o fato de que neoplasias iniciais (T1) apresentaram maior taxa de

resposta do que aquelas avançadas (T4).

Fidel e colaboradores (2001) utilizaram um protocolo acelerado com feixe de

prótons com energia de 72 MeV e com dose total de 40.4 CGE a 44,8 CGE. Este

protocolo foi escolhido pelo autor devido à hipótese de que tumores em estágios

avançados responderam menos à radioterapia nos estudos anteriores devido à

pequena profundidade que a radiação com fótons alcançou, e também pela

repopulação que um fracionamento padrão (três vezes por semana) permitiria.

Assim, os prótons, que atingem maior profundidade do que os fótons, seriam mais

adequados para tumores invasivos. E também, um protocolo acelerado, que

consistiu de oito frações com intervalo mínimo de 6 horas entre si durante quatro

dias consecutivos, impediria a repopulação tumoral. Com este protocolo, uma taxa

de 60% de remissão completa duradoura e 33% de remissão parcial foi obtida nos

15 gatos portadores de CE tratados. Efeitos colaterais mínimos foram observados.

No entanto, a grande desvantagem deste protocolo é o seu alto custo e

indisponibilidade do equipamento necessário.

. Vos, Burm e Focker (2004) utilizaram a ortovoltagem de 50kv, com um

protocolo de 12 frações de 4 gy, três vezes por semana, em seis felinos com CE

avançado, porém em associação à administração intralesional de carboplatina. O

estadiamento clínico foi realizado através da tabela da Organização mundial de

Saúde adaptada por Owen (OWEN, 1980), onde uma lesão (1/6) era T2, duas (2/6)

era T3 e três (3/6) era T4. A carboplatina era injetada dentro da lesão neoplásica

89

aproximadamente trinta minutos antes de cada sessão radioterápica, com o objetivo

de atuar como um agente citotóxico e radiopotencializador. O estudo obteve 100%

de remissão completa, sendo que apenas um animal apresentou recorrência da

lesão 174 dias após o tratamento. Provavelmente, este resultado foi beneficiado pela

utilização da carboplatina intralesional, um medicamento sabidamente

radiopotencializador. No entanto, o número de lesões irradiadas foi muito pequeno, o

que não permite conclusões estatísticas.

Finalmente, Melzer e colaboradores (2006) utilizaram um protocolo acelerado

de elétrons, de 10 frações de 4,8 gy durante cinco dias consecutivos (com intervalo

mínimo entre frações de 6 horas), em 17 gatos com CE. O aparelho utilizado foi um

acelerador linear, e a intensidade da energia de elétrons foi de 5 a 16 MeV, com

bolus de 2 a 4 mm de espessura. O estadiamento clínico foi realizado através da

tabela da Organização Mundial de saúde para tumores epidermais de felinos

modificada por Magne e colaboradores (MAGNE ET al, 1997), onde 6 gatos tinham

lesões T1a e T1b, e 11 gatos tinham lesões avançadas, T2a e T2b. O estudo

obteve 94% de resposta completa, e destas, apenas 37,5% apresentaram

recorrência da lesão, ficando o restante sem recorrência até a data limite do estudo.

Assim, pode-se observar que o tipo de energia (fótons, prótons e elétrons), o

tipo de equipamento (megavoltagem e ortovoltagem), a intensidade da energia e o

protocolo de fracionamento variaram muito na literatura em questão. Apenas um

trabalho (MELZER et al., 2006) utilizou o mesmo tipo de energia (elétrons) deste

presente estudo, porém com um protocolo de fracionamento (acelerado)

completamente diferente. Este tipo de protocolo tem a vantagem de evitar a

repopulação tumoral, porém tem como desvantagens a maior freqüência de

anestesias gerais (duas por dia) e também aparecimento de maiores efeitos

colaterais. O hipofracionamento, ou seja, a administração de uma dose alta uma vez

por semana, teoricamente atinge menos células nas fases radiosensíveis do que

outros protocolos. As células na fase S e G1 são mais resistentes, e aquelas nas

fases M e G2 se tornam mais sensíveis à radiação. Durante o intervalo entre

frações, as células na fase S entram no ciclo celular e se dividem (LARUE;

GILLETTE, 2007; MOORE, 2002; MOORE; OGILVIE, 2001; RUSLANDER, 2006). É

fácil imaginar que a radiação atinja apenas poucas células nas fases sensíveis, e

quando estas células sobreviventes (radioresistentes) progredirem no ciclo (algumas

horas/dias depois), elas precisariam ser irradiadas novamente. Ao se esperar uma

90

semana para a próxima fração, as células neoplásicas sobreviventes se dividem e o

tecido neoplásico então se repopula. Portanto, o hipofracionamento, apesar de mais

prático, em teoria apresenta menores chances de remissão do que protocolos mais

fracionados.

Outra diferença importante entre o presente estudo e o estudo de Melzer e

colaboradores (2006) foi a profundidade da energia utilizada. Em um tratamento

radioterápico com elétrons, a intensidade da energia e a espessura do bolus

determinam a profundidade que a radiação irá atingir no tecido neoplásico. Melzer e

colaboradores (2006) utilizaram energia de 5 a 16 MeV, com bolus de 2 a 4 mm,

dependendo da profundidade da lesão. Assim, neoplasias mais profundas podem ter

apresentado maior resposta ao tratamento radioterápico devido a este fato. No

presente estudo, foi utilizado energia de 4 ou 6 MeV, com bolus de 5 ou 10 mm de

espessura. Talvez, esta profundidade de energia não tenha sido suficiente para

atingir células neoplásicas abaixo da pele.

Os demais trabalhos (CARLISLE; GOULD, 1982; COX, 1991; FIDEL et al.

2001; VOS; BURM; FOCKER, 2004) se tornam de difícil análise para comparação, já

que várias diferenças na técnica radioterápica existiram em relação ao presente

experimento, incluindo protocolo de fracionamento, equipamento utilizado e tipo de

energia utilizado.

As lesões muito avançadas, em estágios T3 e T4, corresponderam a 60% do

total de lesões tratadas neste experimento. Apesar de a análise estatística do

presente estudo não ter evidenciado correlação entre o estadiamento clínico da

lesão neoplásica e a resposta da neoplasia ao tratamento radioterápico, na literatura

é descrito que lesões avançadas têm menor sucesso ao tratamento radioterápico do

que lesões em fases iniciais (FIDEL et al., 2001; THEON et al., 1995). Theon e

colaboradores (1995) analisaram o prognóstico de 90 lesões de CE felino tratadas

através de radioterapia, e chegaram à conclusão de que neoplasias estadiadas

como T1 tiveram uma melhor resposta do que as neoplasias estadiadas como T4. A

admissão de lesões em fases tão avançadas provavelmente interferiu nas taxas de

resposta ao protocolo de hipofracionamento radioterápico. Esta interferência talvez

exista devido à menor resposta dessas lesões ao tratamento, e também na

diminuição do tempo de sobrevida dos animais, visto que a radioterapia era tida

como última tentativa de tratamento nesses gatos e caso não houvesse sucesso, os

animais eram eutanasiados.

91

Se houvesse uma divisão em grupos das lesões de carcinoma epidermóide

tratadas neste experimento de acordo com o estadiamento clínico, seria possível

observar que a taxa de resposta aumenta à medida que o estadiamento clínico

decresce. Assim, o grupo de lesões neoplásicas em estágios T1 e T2 apresentariam

55,5% de remissão completa enquanto as lesões avançadas, em estágios T3 e T4,

teriam apenas 31,25%. Se apenas as lesões T1 fossem irradiadas, a taxa de

remissão completa seria de 62,5%, o que seria um resultado mais próximo das taxas

de resposta de outras modalidades de tratamento, como a quimioterapia

intralesional, terapia fotodinâmica e a criocirurgia. Por outro lado, se apenas lesões

estadiadas como T4 tivessem sido irradiadas, a taxa de remissão completa seria de

18,1%. Isso prova que o estadiamento clínico tem sim influência na resposta ao

tratamento radioterápico.

Apesar de a dose por fração ser extremamente alta quando comparada a de

outros protocolos utilizados nesta neoplasia em animais e humanos, o que poderia

levar reações teciduais agudas mais graves, os felinos tratados neste experimento

apresentaram reações leves/moderadas e reversíveis ao tratamento, mostrando que

felinos toleram muito bem o tratamento radioterápico. Mesmo quando o campo

radioterápico incluía áreas sensíveis, como globo ocular e cavidade oral, as reações

foram leves e não levaram a conseqüências que prejudicassem o apetite e bem

estar dos animais. Todos os gatos permaneceram ativos, e normofágicos durante o

mês de tratamento. Apenas um felino necessitou de tratamento tópico nas

conjuntivas com pomadas oftálmicas anti-inflamatória e antibiótica, além de colar

elisabetano para evitar a auto-mutilação.

Os efeitos aqui observados variaram com o campo radioterápico e incluíram

eritema cutâneo, epilação, ulceração, rinite e conjuntivite, todos reversíveis e

limitados ao campo. Estes achados são compatíveis com estudos anteriores. A

ulceração ocorreu apenas nos dois animais positivos para Imunodeficiência felina

(Fiv). Théon e colaboradores (1995) observaram que gatos positivos para

Imunodeficiência felina apresentaram maior probabilidade de desenvolver ulceração

após o tratamento radioterápico do que os testados negativos. No entanto, neste

experimento, a grande maioria dos animais não foi submetida ao exame sorológico

para os vírus da Aids e Leucemia felina, e este dado não pôde ser confirmado.

A ausência de reações tardias ao tratamento nos animais deste estudo

provavelmente se deve ao pouco tempo de acompanhamento destes felinos, já que

92

na literatura é relatado que essas alterações podem aparecer meses ou anos após o

tratamento radioterápico. Portanto, é possível que essas reações ainda ocorram no

futuro.

Este experimento é inédito na Medicina veterinária do Brasil e está realizando

a radioterapia pela primeira vez em felinos com carcinoma epidermóide em nosso

país. Portanto, ainda não se sabe ao certo qual a melhor técnica, incluindo tipo de

radiação e tipo de energia, tampouco sua penetração e dose, e ao longo do tempo,

esses parâmetros precisam ser reajustados para se obter os melhores resultados

possíveis. O protocolo de hipofracionamento foi escolhido por ser uma alternativa

mais prática, de menor custo e menor frequência de anestesias para os animais.

Várias informações importantes foram geradas com este trabalho. A primeira é que a

radioterapia veterinária, ainda em fase inicial em nosso país, pode ser uma

alternativa no tratamento do CE em felinos. Também, os felinos se mostraram

extremamente tolerantes ao tratamento, e a ausência de complicações durante e

após o tratamento, e a observação de efeitos colaterais leves/moderados e

reversíveis nas lesões neoplásicas prova que a radioterapia é considerada segura

nesta espécie. Este trabalho deve servir como base para pesquisas futuras, onde o

protocolo, técnica radioterápica, dose e profundidade de penetração da radiação

deverão ser revisados e aprimorados para a obtenção de resultados melhores.

93

7 CONCLUSÕES

1) O protocolo de hipofracionamento radioterápico levou 40% das lesões de

carcinoma epidermóide cutâneo a remissão completa, e 12%% das lesões à

remissão parcial, em uma taxa de resposta de 52%.

2) O carcinoma epidermóide se apresentou como uma área eritematosa e/ou

ulcerada e com crostas na maioria dos casos.

3) Os principais achados histopatológicos do carcinoma epidermóide foram a

acantose, hiperceratose, erosão e ulceração, com infiltrado inflamatório e

proliferação de células neoplásicas epiteliais originadas da epiderme que se

organizavam em formações trabeculares e ilhas, formando estruturas com

células queratinizadas na região central (pérolas córneas), ou sem

queratinização.

4) Gatos de pelagem totalmente ou parcialmente branca, provenientes de casas

ou abrigos de animais com exposição frequente à radiação solar foram os

mais afetados pelo carcinoma epidermóide cutâneo.

5) A idade média dos animais com carcinoma epidermóide foi de 11 anos,

variando entre 7 e 17 anos.

6) A localização neoplásica facial mais freqüente neste estudo foi o pavilhão

auricular, seguida pelos planos nasal, palpebral e temporal.

7) A maioria das lesões (60%) de carcinoma epidermóide foram classificadas

como T3 e T4, de acordo com o sistema de estadiamento clínico para

neoplasias epidermais de felinos da Organização Mundial de Saúde adaptado

por Owen.

94

8) O estadiamento clínico, localização facial e aspecto clínico do carcinoma

epidermóide não apresentaram correlação com a resposta neoplásica ao

tratamento radioterápico hipofracionado.

9) Os felinos toleraram bem o tratamento radioterápico hipofracionado,

apresentando efeitos colaterais leves/moderados e reversíveis.

95

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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104

9 ANEXOS

9.1 COBEA

Lei n.º 6.638 , de 08 de Maio de 1979.

Estabelece normas para a prática Didático-Científico da vivissecção de animais e

determina outras providência.

ART. 1º - Fica permitida, em todo o território nacional, a vivissecção de animais,

nos termos desta Lei.

ART. 2º - Os biotérios e os centros de experiências e demonstrações com

animais vivos deverão ser registrados em Órgão competente e por ele autorizados a

funcionar.

ART. 3º - A vivissecção não será permitida:

1. Sem o emprego de anestesia;

2. Em centros de pesquisas e estudos não registrados em órgão competente;

3. Sem a supervisão de técnico especializado;

4. Com animais que não tenham permanecido mais de quinze dias em biotérios

legalmente autorizados;

5. Em estabelecimento de ensino de primeiro e segundo graus e em quaisquer

locais freqüentados por menores de idade.

105

ART. 4º - O animal só poderá ser submetido às intervenções recomendadas nos

protocolos das experiências que constituem a pesquisa ou os programas de

aprendizado cirúrgico quando, durante ou após a vivissecção, receber cuidados

especiais.

1. Quando houver indicação, o animal poderá ser sacrificado sob estrita

obediência às prescrições científicas.

2. Caso não sejam sacrificados, os animais utilizados em experiência ou

demonstrações somente poderão sair do biotério trinta dias após a

intervenção, desde que destinados a pessoas ou entidades idôneas que por

eles queiram responsabilizar-se.

ART. 5º - Os infratores estão sujeitos:

1. Às penalidades cominadas no artigo 64, caput, do Decreto Lei nº 3.688 de

03.10.1941, no caso de ser a primeira infração;

2. À interdição e cancelamento do registro do biotério ou do centro de pesquisa,

no caso de reincidência.

ART. 6º - O poder Executivo, no prazo de noventa dias, regulamentará a presente

Lei, especificando:

1. O órgão competente para o registro e a expedição de autorização dos

biotérios e centros de experiências e demonstração com animais vivos;

2. As condições gerais exigiveis para o registro e o funcionamento dos biotérios;

III - Órgão e autoridades competentes para a fiscalização dos biotérios e

centros mencionados no inciso I.

ART. 7º - Esta Lei entrará em vigor na data publicada.

ART. 8º - Revogam-se as disposições em contrário.

106

9.2 VALORES LABORATORIAIS DE REFERÊNCIA PARA FELINO S

9.2.1 Valores hematológicos

Hemácias (x10 6/µL) 5,00-10,00 Leucometria global (/µL) 5.500-19.500

Hemoglobina (g/dL) 8,00-15,00 Mielócitos (/µL) 0

Volume Globular (%) 24-45 Metamielócitos (/µL) 0

VGM (fL) 39,00-55,00 Bastonetes (/µL) 0-300

HGM - Segmentados (/µL) 2.500-12.500

CHGM (%) 30-36 Linfócitos (/µL) 1.500-7.000

Proteína plasmática (g/dL) 5,8-8,0 Eosinófilos (/µL) 100-1.500

Basófilos (/µL) 0-100

Monócitos (/µL) 100-850

9.2.2 Valores bioquímicos

Uréia (mg/dL) 30,0-60,0 Proteína total (soro) (g/dL) 5,4-7,8

Creatinina (mg/dL) 0,5-1,9 Albumina (g/dL) 2,1-3,3 ALT (UI/L) 5,0-60,0 Globulina (g/dL) 2,6-5,1 AST (UI/L) <50,0 Bilirrubina total (mg/dL) 0,05-1,0

Fosfatase Alcalina (UI/L) <90,0 Bilirrubina direta

(mg/dL) <0,15

GGT (UI/L) <10,0 Bilirrubina indireta (mg/dL) 0,01-0,5

Fósforo (mg/dL) 4,5-6,1

107

10 APÊNDICES

108

10.1 APÊNDICE 1 – FICHA DE ATENDIMENTO CLÍNICO GERAL

Universidade Federal Fluminense

Dissertação de Mestrado: Avaliação da Aplicação da Radioterapia no Tratamento de Felinos

Portadores de Carcinoma Epidermóide de Face Utilizando Protocolo de Hipofracionamento

Simone Carvalho dos Santos Cunha

Ficha de identificação do animal:

Registro: _____________________________________ Data:________________________________

Nome: _____________________________________ Idade:_______________________________

Pelagem: ____________________________________ Peso:_______________________________

Proprietário:_________________________________________________________________________

Telefone: ___________________________________________________________________________

Ficha de exame clínico:

Estado corporal: □ magro □normal □obeso

Comportamento: □ Ativo □ Prostrado

Mucosas: □ Normocoradas □ Hipocoradas □ Ictéricas □ Cianóticas

Estado de hidratação: □ Hidratado □ Desidratado: ____ %

Freqüência respiratória: ___________ mpm □ Dispnéia □ Taquipnéia

Freqüência cardíaca: __________ bpm □ Sopro □ Arritmia □ Taquicardia

Histórico :

Moradia: □ Casa □ Abrigo de animais □ Rua □ Apartamento

Exposição a raios solares: ( )freqüente ( )moderada ( ) Rara

Observações:________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________

109

10.2 APÊNDICE 2- FICHA ONCOLÓGICA

Universidade Federal Fluminense

Dissertação de Mestrado: Avaliação da Aplicação da Radioterapia no Tratamento de Felinos

Portadores de Carcinoma Epidermóide de Face Utilizando Protocolo de Hipofracionamento

Simone Carvalho dos Santos Cunha

DADOS DO ANIMAL:

Nome do felino: _____________________________________ Registro: _________________

Localização da lesão: (Desenhar) Pavilhão auricular E/D ( ) Nariz ( ) Pálpebras E/D( )

Têmporas E/D ( )

Tempo de evolução da lesão: ( ) Lento ( ) Moderado ( ) Rápido _Tempo:_______________

NEOPLASIA:

Aspecto clínico da lesão:_______________________________________________________________

Tamanho: _______________________________________ Estágio: □T1 □T2 □T3 □T4

Metástase regional? _______________________________ Metástase distante?__________________

Tratamentos prévios:___________________________________________________________

Medicação em uso:____________________________________________________________

_______________________________________________________________________

110

10.3 APÊNDICE 3 – FICHA DE AUTORIZAÇÃO DO PROPRIETÁ RIO Universidade Federal Fluminense

Dissertação de Mestrado: Avaliação da Aplicação da Radioterapia no Tratamento de Felinos

Portadores de Carcinoma Epidermóide de Face Utilizando Protocolo de Hipofracionamento

Simone Carvalho dos Santos Cunha

Eu,____________________________________________________________________,

proprietário do felino ___________________, autorizo que meu animal seja submetido a

anestesia geral para procedimento radioterápico, como parte do Projeto “Aplicação de

radioterapia em felinos portadores de carcinoma epidermóide de face utilizando um protocolo

de Hipofracionamento”, da mestranda Simone Carvalho dos Santos Cunha, estando ciente dos

riscos anestésicos e efeitos colaterais da radioterapia.

______/______/______ ___________________________________________

Data Assinatura do Proprietário

111

10.4 APÊNDICE 4 – FICHA DE RADIOTERAPIA

Universidade Federal Fluminense

Dissertação de Mestrado: Avaliação da Aplicação da Radioterapia no Tratamento de Felinos

Portadores de Carcinoma Epidermóide de Face Utilizando Protocolo de Hipofracionamento

Simone Carvalho dos Santos Cunha

NOME DO PACIENTE:____________________________________________ REGISTRO:__________

PLANEJAMENTO MÉDICO:

Número do

campo

Tamanho

do

campo

Localização

anatômica

Dose

tumor

total

Dose

tumor

diária

Número de

aplicações Energia Bólus

DATA APLICAÇÃO TÉCNICO U MONITOR

COMENTÁRIOS MÉDICOS:___________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

DATA:_____/______/_______ MÉDICO RESPONSÁVEL:______ _____________________________

112

10.5 APÊNDICE 5 – FICHA ANESTÉSICA Universidade Federal Fluminense

Dissertação de Mestrado: Avaliação da Aplicação da Radioterapia no Tratamento de Felinos

Portadores de Carcinoma Epidermóide de Face Utilizando Protocolo de Hipofracionamento

Simone Carvalho dos Santos Cunha

Nome: _________________________ Registro: _____________________ Sexo: __________

RAÇA: ___________________ IDADE: _______________________ PESO: ______________

.MEDICAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA

( ) Acepromazina ( _____,_____ mg/kg): ____________ mg; __________ ml; via ___________

( ) Meperidina ( _____,______ mg/kg): _____________ mg; ___________ ml; via __________

( ) Diazepam( _____,______ mg/kg): ______________ mg; ___________ ml; via __________

( ) Ketamina ( _____,______ mg/kg): ____________ mg; ___________ ml; via ____________

( ) _____________________ ( ___,___ mg/kg): __________ mg; ________ ml; via _________

INDUÇÃO ANESTÉSICA ( ) Tionembutal ( _____,______ mg/kg)____________ mg; ____________ ml; via __________

( ) Propofol ( ______,_______ mg/kg): ______________ mg; ____________ ml; via ________

( ) Ketamina ( ______,_______ mg/kg): ______________ mg; ____________ ml; via ________

( ) Diazepam( _____,______mg/kg): _____________ mg; __________ ml; via ______________

( )Medetomidina(______,_______ mg/kg): ___________ mg; ____________ ml; via ________

( ) __________________________ ( ___,___ mg/kg): _________ mg; ________ ml; via _____

INTERCORRÊNCIAS: _________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

113

10.6 APÊNDICE 6 – FICHA DE ACOMPANHAMENTO CLÍNICO Universidade Federal Fluminense

Dissertação de Mestrado: Avaliação da Aplicação da Radioterapia no Tratamento de Felinos

Portadores de Carcinoma Epidermóide de Face Utilizando Protocolo de Hipofracionamento

Simone Carvalho dos Santos Cunha

QUESTIONÁRIO SEGUNDA SESSÃO DE RADIOTERAPIA:

Data: __/__/____

Houve diminuição da lesão em relação à ultima sessão? □ Sim □ Não

Tamanho da lesão___________________________________________________________________

Houve melhora do aspecto clínico da lesão em relação à última sessão? □ Sim □ Não

Aspecto clínico da lesão:_______________________________________________________

O gato está comendo? □ Sim □ Não O gato está ativo? □ Sim □ Não

EFEITOS COLATERAIS :

Dermatite? □ Sim □ Não

Alopecia / epilação? □ Sim □ Não

Há secreção na lesão? □ Sim □ Não Qual? □ Serosa □ Mucosa □ Purulenta □ sanguinolenta

Outros efeitos colaterais observados:

OLHO: □ Conjuntivite □ Ceratite □ Catarata Outros:____________________

PLANO NASAL: □ Rinite □ Ulceração nasal Outros:__________________________

PELE: ______________________________________________________________________

CAVIDADE ORAL: □ Estomatite Outros:)_________________________________________

Tratamento prescrito:___________________________________________________________

____________________________________________________________________________

114

10.7 APÊNDICE 7 – FICHA DE ACOMPANHAMENTO CLÍNICO Universidade Federal Fluminense

Dissertação de Mestrado: Avaliação da Aplicação da Radioterapia no Tratamento de Felinos

Portadores de Carcinoma Epidermóide de Face Utilizando Protocolo de Hipofracionamento

Simone Carvalho dos Santos Cunha

QUESTIONÁRIO TERCEIRA SESSÃO DE RADIOTERAPIA:

Data: __/__/____

Houve diminuição da lesão em relação à ultima sessão? □ Sim □ Não

Tamanho da lesão___________________________________________________________________

Houve melhora do aspecto clínico da lesão em relação à última sessão? □ Sim □ Não

Aspecto clínico da lesão:_______________________________________________________

O gato está comendo? □ Sim □ Não O gato está ativo? □ Sim □ Não

EFEITOS COLATERAIS :

Dermatite? □ Sim □ Não

Alopecia / epilação? □ Sim □ Não

Há secreção na lesão? □ Sim □ Não Qual? □ Serosa □ Mucosa □ Purulenta □ sanguinolenta

Outros efeitos colaterais observados:

OLHO: □ Conjuntivite □ Ceratite □ Catarata Outros:____________________

PLANO NASAL: □ Rinite □ Ulceração nasal Outros:__________________________

PELE: ______________________________________________________________________

CAVIDADE ORAL: □ Estomatite Outros:)_________________________________________

Tratamento prescrito:___________________________________________________________

____________________________________________________________________________

115

10.8 APÊNDICE 8 - FICHA DE ACOMPANHAMENTO CLÍNICO

Universidade Federal Fluminense

Dissertação de Mestrado: Avaliação da Aplicação da Radioterapia no Tratamento de Felinos Portadores de Carcinoma Epidermóide de Face Utilizando Protocolo de Hipofracionamento

Simone Carvalho dos Santos Cunha

QUESTIONÁRIO QUARTA SESSÃO DE RADIOTERAPIA:

Data: __/__/____

Houve diminuição da lesão em relação à ultima sessão? □ Sim □ Não

Tamanho da lesão____________________________________________________________

Houve melhora do aspecto clínico da lesão em relação à última sessão? □ Sim □ Não

Aspecto clínico da lesão:_______________________________________________________

O gato está comendo? □ Sim □ Não O gato está ativo? □ Sim □ Não

EFEITOS COLATERAIS :

Dermatite? □ Sim □ Não

Alopecia / epilação? □ Sim □ Não

Há secreção na lesão? □ Sim □ Não Qual? □ Serosa □ Mucosa □ Purulenta □sanguinolenta

Outros efeitos colaterais observados:

OLHO: □ Conjuntivite □ Ceratite □ Catarata Outros:______________________

PLANO NASAL: □ Rinite □ Ulceração nasal Outros:_________________________

PELE: _____________________________________________________________________

CAVIDADE ORAL: □ Estomatite Outros:)_________________________________________

Tratamento prescrito:___________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________

116

10.9 APÊNDICE 9 – FICHA DE ACOMPANHAMENTO CLÍNICO Universidade Federal Fluminense

Dissertação de Mestrado: Avaliação da Aplicação da Radioterapia no Tratamento de Felinos

Portadores de Carcinoma Epidermóide de Face Utilizando Protocolo de Hipofracionamento

Simone Carvalho dos Santos Cunha

QUESTIONÁRIO 30 DIAS APÓS RADIOTERAPIA:

Data: __/__/____

Qual a resposta tumoral da lesão?

□ Resposta completa □ Resposta Completa □ Ausência de resposta

Tamanho da lesão____________________________________________________________________

Houve melhora do aspecto clínico da lesão? □ Sim □ Não

Aspecto clínico da lesão:________________________________________________________

O gato está comendo? □ Sim □ Não O gato está ativo? □ Sim □ Não

EFEITOS COLATERAIS :

Dermatite? □ Sim □ Não

Alopecia / epilação? □ Sim □ Não

Há secreção na lesão? □ Sim □ Não Qual? □ Serosa □ Mucosa □ Purulenta

□ sanguinolenta

Outros efeitos colaterais observados:

OLHO: □ Conjuntivite □ Ceratite □ Catarata Outros:____________________

PLANO NASAL: □ Rinite □ Ulceração nasal Outros:__________________________

PELE: ______________________________________________________________________

CAVIDADE ORAL: □ Estomatite Outros:__________________________________________

Tratamento prescrito:___________________________________________________________

117

10.10 APÊNDICE 10 – FICHA DE ACOMPANHAMENTO CLÍNICO Universidade Federal Fluminense

Dissertação de Mestrado: Avaliação da Aplicação da Radioterapia no Tratamento de Felinos

Portadores de Carcinoma Epidermóide de Face Utilizando Protocolo de Hipofracionamento

Simone Carvalho dos Santos Cunha

QUESTIONÁRIO 60 DIAS APÓS RADIOTERAPIA:

Data: __/__/____

Qual a resposta tumoral da lesão?

□ Resposta completa □ Resposta Completa □ Ausência de resposta

Tamanho da lesão___________________________________________________________________

O gato está comendo? □ Sim □ Não O gato está ativo? □ Sim □ Não

EFEITOS COLATERAIS :

Dermatite? □ Sim □ Não

Alopecia / epilação? □ Sim □ Não

Há secreção na lesão? □ Sim □ Não Qual? □ Serosa □ Mucosa □ Purulenta □ sanguinolenta

Outros efeitos colaterais observados:

OLHO: □ Conjuntivite □ Ceratite □ Catarata Outros:____________________

PLANO NASAL: □ Rinite □ Ulceração nasal Outros:__________________________

PELE: ______________________________________________________________________

CAVIDADE ORAL: □ Estomatite Outros:__________________________________________

Laudo da biópsia:______________________________________________________________

____________________________________________________________________________

118

10.11 PRODUÇÃO CIENTÍFICA

10.11.1 Artigos Publicados em revistas

CUNHA, S. C. S., CARVALHO, L. A. V., CANARY, P. C., REISNER, M., PEREIRA,

A.N., CORGOZINHO, K.B., SOUZA, H. J. M., FERREIRA, A. M. R. Aplicação da

Radioterapia em Felino Portador de Carcinoma Epidermóide Nasal e Palpebral

Utilizando Protocolo de Hipofracionamento. Acta Scientiae Veterinariae. , v.35, P.239

- 243, 2007.

PINHEIRO, I. M., CUNHA, S. C. S., CORGOZINHO, K.B., SOUZA, H. J. M., MELLO,

M.F.V., FERREIRA, A. M. R. Aspectos clínicos do carcinoma epidermóide em

felinos. Ciência Animal Brasileira – suplemento n. 1, p.239-241, nov. 2008.

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