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1 | Rio Pesquisa - nº 6 - Ano II

SUMÁRIO

EXPEDIENTE

Governo do Estado do Rio de JaneiroGovernador | Sérgio Cabral

Secretaria de Estado de Ciência eTecnologiaSecretário | Alexandre Cardoso

Fundação Carlos Chagas Fi lho deAmparo à Pesquisa do Estado do Riode Janeiro – FAPERJDiretor-presidente | Ruy Garcia MarquesDiretor Científico | Jerson Lima SilvaDiretor de Tecnologia | Rex Nazaré AlvesDiretor de Administração e Finanças | CláudioFernando Mahler

3 | BIOMATERIAISBrasil investe para se tornar uma novapotência mundial em biocerâmicas. Paísjá lidera produção no campo debiomateriais na América Latina

7 | DESIGNCentroDesignRio busca inspiração nojeito de ser dos cariocas para agregarvalor ao design. Carros-chefe sãosetores de moda íntima e de praia,decoração e rochas ornamentais

10 | ECONOMIAPesquisa traça um diagnóstico daeconomia da Zona Oeste e aponta osprós e contras para o desenvolvimentode bairros da região

13 | TECNOLOGIASistema Kapta de leitura de placasautomotivas promete soluções desegurança, monitoração e controle dotráfego viário

16 | ESPORTEEstudo revela preconceito na falacotidiana de participantes de programasde esporte e lazer

18 | ACERVOPeças do acervo do Museu Nacional/UFRJ ganham réplicas com a ajuda demodernas técnicas de digitalização e demodelagem tridimensional

21 | ENTREVISTASergio Rezende: ministro da Ciência eTecnologia quer criar condições paraque o setor produtivo absorva maispesquisadores de ponta

25 | MEDICINAUm caminho mais curto entre o pacientee a cura: telemedicina e telessaúderevolucionam o atendimento médico

30 | FOMENTOEstado do Rio de Janeiro terá 20 novoscentro de pesquisa. Programa do CNPqdestina o maior volume de recursos járeunidos na história do País

33 | GOVERNOPrefeitura da capital fluminense ganhasecretaria especial voltada para ações naárea de Ciência e Tecnologia e estudacriação de fundo para a C&T nomunicípio

34 | CÉLULAS-TRONCORio avança em pesquisas com células-tronco, domina técnica de produção decélulas pluripotentes induzidas e garantenovo impulso aos estudos

38 | COMPORTAMENTOGames e cultura de Internet podemajudar a criar líderes empresariais.Estudo analisa o comportamento dejogadores e não-jogadores

41 | EDUCAÇÃO

Com novo reitor e R$ 5 milhões emrecursos adicionais para equipar ainstituição, Uezo vai ganhar mais 30salas de aula

45 | PERFILPaulo Gadelha: trajetória do novopresidente da Fiocruz confunde-se coma história da própria instituição que eleagora comanda

48 | SAÚDEPesquisa estuda novo teste para mediro risco de mulheres com secreçãonatural do mamilo de desenvolvercâncer de mama

51 | ARTIGODiretor do Museu de Astronomia eCiências Afins (Mast), AlfredoTolmasquim, discute os desafios dadivulgação científica. Confira, ainda,entrevista com a astrônoma DanielaLazzaro

54 | FAPERJIANASCapes e FAPERJ detalham acordo decooperação técnica e acadêmica queprevê investimentos de R$ 70 milhões

56 | EDITORAÇÃOConfira algumas das obras financiadaspelo programa da FAPERJ de apoio àeditoração

Rio Pesquisa. Ano II. Número 6

Coordenação editorial | Paul Jürgens

Redação | Débora Motta, Paul Jürgens, VilmaHomero, Vinicius Zepeda e Rosilene Ricardo(estagiária)

Colaboraram para esta edição | CarlaAlmeida, Flávia Machado e Juliana Lanzarini

Diagramação | Adrianne Mirabeau e MirianDias

Capas | Adrianne Mirabeau e Mirian Dias

Mala direta e distribuição | Élcio Novis eViviane Lacerda

Foto da capa| Vinicius Zepeda

Revisão | Ana Bittencourt

Gráfica | Grafitto Gráfica e Editora Ltda.

Tiragem |12 mil exemplares

Periodicidade |Trimestral

Distribuição gratuita |Proibida a venda

Avenida Erasmo Braga 118/6° andar,Centro, Rio de Janeiro, RJ - CEP 20020-000Tel.: 3231-2929 | Fax: 2533-2944

[email protected]

3 | Rio Pesquisa - nº 6 - Ano IIAno II - nº 6 - Rio Pesquisa | 2EDITORIAL

Contra a maré de previsõespouco otimistas sobre o estadoda economia em 2009, umaonda de novidades favoráveisvêm agitando a agenda de ciên-cia e tecnologia no estado do Riode Janeiro ao longo dos últimosmeses. A principal delas colocaem marcha a mais importanteparceria já realizada entre Brasíliae os governos estaduais, com oanúncio do lançamento dos Ins-titutos Nacionais de Ciência e

Tecnologia (INCTs). Por meio de uma “notávelengenharia financeira e estrutural” – como bemqualificou o presidente da Academia Brasileira deCiências (ABC), Jacob Palis –, a iniciativa garantepara a ciência fluminense a criação de 20 novos cen-tros de excelência em pesquisa.

Os novos institutos vão receber ao longo do pró-ximo triênio um investimento de cerca de R$ 74milhões – de um total de cerca de R$ 600 milhões– apenas no Rio de Janeiro, que se consolida, assim,como o estado com o segundo maior número deinstitutos. Rio Pesquisa ouviu algumas das principaislideranças da ciência fluminense sobre o impactodo programa na C&T do estado, bem como pes-quisadores que coordenam alguns dos INCTs. Oministro Sergio Rezende, nosso entrevistado nestaedição, detalha as vantagens que o programa ofere-ce ao criar um ambiente propício para a pesquisacientífica e tecnológica de ponta.

As novidades de que falamos na abertura desteeditorial, contudo, não param aí. No final de no-vembro, a Assembléia Legislativa (Alerj) sancionouprojeto de lei que autoriza o apoio, pela FAPERJ, apesquisas com células-tronco, que estava vedado àFundação desde 2002. O anúncio ocorreu poucoantes da divulgação de que uma equipe de pesqui-sadores do Rio, liderada pelo cientista StevensRehen, conseguiu, com algumas modificações, do-minar a técnica de reprogramar células do organis-mo para que elas venham a se tornar pluripotentes,

Previsões pouco otimistas para 2009? A C&Tfluminense já começa o ano com boas novidades

ou, em outras palavras, capazes de se tornar tecidode qualquer parte do corpo. A técnica abre novasperspectivas para o uso de células-tronco em apli-cações biotecnológicas e terapêuticas no futuro. Adescoberta também está na lista de assuntos abor-dados nesta edição.

À lista de novidades que merecem menção, está oCentro Universitário Estadual da Zona Oeste(Uezo). Depois de conquistar sua autonomia aodesvincular-se da Faetec, a instituição ganhou, alémde uma expressiva injeção de recursos do governoestadual, um novo reitor, com a tarefa de garantirà Zona Oeste uma oportunidade de qualificaçãoprofissional que faltava à região. Com os seus cur-sos, promete suprir a necessidade de quadros pro-fissionais de tecnólogos, com a expansão econô-mica dos bairros de Santa Cruz e Jacarepaguá, ede municípios, como Itaguaí – em região que ca-naliza um dos maiores volumes de investimentosregistrados em anos recentes no País.

Outra nova que trouxe alento à comunidade deC&T comprometida com o desenvolvimento ci-entífico e tecnológico na ex-capital da Repúblicafoi o anúncio, pelo prefeito Eduardo Paes, da cri-ação da Secretaria Municipal de Ciência eTecnologia, abrindo novas perspectivas para umacooperação mais estreita entre as diferentes instân-cias governamentais na Região Metropolitana queconcentra um grande número das instituições deensino e pesquisa de ponta do País. Rio Pesquisaconversou com o recém-nomeado secretário deC&T do município, Rubens Andrade.

Entre os demais temas abordados na presente edi-ção estão a telemedicina, o câncer de mama, o AnoInternacional da Astronomia e o avanço da pes-quisa com biocerâmicas. A tecnologia e a inovaçãoganham espaço com a apresentação de um siste-ma de monitoração e controle de tráfego viário eum processo baseado em modernas técnicas dedigitalização e de modelagem tridimensional – oescaneamento 3D a laser e a prototipagem rápida– capazes de criar réplicas do acervo do MuseuNacional. Boa leitura!

Brasil: uma novapotência mundial em

biocerâmicas?

Biocerâmicas em grânulos produzidas no Laboratório deBiomateriais do CBPF: emprego em processos deregeneração óssea

Carla Almeida

Quando o corpo humanosofre uma perda óssea, di-ferentemente do que ocor-

re com partes menos rígidas do cor-po – como a pele, a língua e o estô-mago –, as células que habitam aregião lesionada não conseguem,sozinhas, reconstituir o osso. Elasprecisam de um suporte, um apoio.É quando entram em cena osbiomateriais –utilizados para reporou auxiliar na reparação de algumaspartes do corpo. Entre esses mate-riais, as biocerâmicas se destacampela capacidade que têm de “entrar”no corpo, sem provocar qualquerreação tóxica, por sua biocom-patibilidade, e estimular a recupera-ção do osso danificado (bio-atividade). Com o aumento da ex-pectativa de vida da população e,consequentemente, das complica-ções médicas relacionadas à terceiraidade – entre elas, a perda óssea –,há uma demanda cada vez maiorpor biocerâmicas. O Brasil, com umnúmero crescente de pesquisadorese o avanço de sua infraestrutura depesquisa, já lidera o campo latino-americano de biomateriais. Mas parase tornar uma potência mundial naprodução de biocerâmicas, o Paísainda precisará enfrentar importan-tes desafios.

Há diversos tipos de materiaiscerâmicos, com diferentes aplicaçõesmédicas. Os mais utilizados em pro-cedimentos de regeneração óssea são

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BIOMATERIAIS

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os compostos de fosfato de cálcio.Embora exista em abundância nasterras brasileiras, o fosfato de cálciode origem mineral não é adequadoao uso médico por conter um altoteor de impurezas. Por isso, asbiocerâmicas disponíveis hoje nomercado são produzidas principal-mente a partir de ossos bovinos,devido a sua similaridade com a fasemineral dos ossos humanos. Uma al-ternativa que ganha cada vez maisadeptos, tanto no meio acadêmicocomo no setor privado, é o uso dofosfato de cálcio sintético, ou seja,produzido artificialmente em labo-ratório.

“A síntese em laboratório permiteprocessar biocerâmicas mais adap-tadas a aplicações clínicas específicas,sejam odontológicas ou ortopédi-cas”, explica o físico Alexandre MaltaRossi, coordenador do Laboratóriode Biomateriais do Centro Brasilei-ro de Pesquisas Físicas (CBPF).

Do laboratório para ocentro cirúrgicoA produção do fosfato de cálcio é aprimeira etapa da pesquisa con-duzida pelo grupo de Rossi, que tra-balha desde 1994 na produção debiocerâmicas para substituição e re-generação ósseas. O material é sinte-tizado em um reator, do qual a ce-râmica sai em forma de gel. Em se-guida, o material sintetizado passapor um processo de filtragem e se-cagem, transformando-se em um

pó. Por fim, esse pó é aquecido aalta temperatura e moldado na for-ma desejada.

Mas a proposta do grupo de Rossinão é ficar apenas na pesquisa bási-ca. A ideia é acompanhar todo oprocesso de produção do bio-material, que só termina, de fato,depois que ele é implantado no cor-po humano. Até chegar ao centrocirúrgico e à mesa de operação, ocaminho é longo.

Do laboratório do CBPF, asbiocerâmicas devidamente molda-das e caracterizadas são enviadas acentros de pesquisa parceiros, ondesão testadas in vitro – na presençade células ósseas – e in vivo – emanimais de pequeno e médio por-tes. Esses testes irão revelar comoo biomaterial interage com o meiobiológico, se provoca alguma rea-ção indesejada e se atua de formaeficaz nas funções de regeneraçãoóssea. Fundamentado nessas infor-mações, os pesquisadores vão aper-feiçoando o material até chegarema um produto com atividade bio-lógica satisfatória.

Uma vez aprovadas as biocerâmicas,é hora de proteger a inovação. “Àmedida que desenvolvemos novos

processos e produtos, registramos apatente. É uma norma do nossogrupo. Essa é uma área em que aconcorrência internacional é muitogrande. Se não protegermos nossainovação, ela acaba saindo do País esendo absorvida por outros gru-pos”, explica Rossi, que, só nos últi-mos três anos, solicitou ao InstitutoNacional de Propriedade Intelectual(INPI) quatro registros de patentes.

O último passo é transferir às em-presas todo o know-how envolvido noprocesso para que o material sejacertificado pelos órgãos responsá-veis pela área de saúde, passe a serproduzido em escala industrial e sejautilizado em diversos tratamentosodontológicos e ortopédicos, comoimplantes dentários, enxertos ósseose próteses ortopédicas. Embora nemsempre essa transferência ocorra empaíses como o Brasil, onde ainteração entre setor acadêmico esetor produtivo ainda carece deefetividade, Rossi e seu grupo têmmotivos para comemorar. Empre-sas do Rio de Janeiro e de São Pau-lo já demonstraram interesse emabsorver alguns dos materiais à basede fosfato de cálcio sintetizados nolaboratório do CBPF.

Um campo de pesquisaem expansão no mundo

O interesse das empresas brasileirasnas biocerâmicas reflete uma tendên-cia mundial de expansão no campodos biomateriais. Atualmente, osEstados Unidos e a Europa lideramo mercado internacional com osmateriais mais eficientes e competi-tivos. Já o Brasil concentra a maiorparte das pesquisas em biomateriaisconduzidas na América Latina. Dedez anos para cá, o País vive um cres-cimento significativo do número degrupos de pesquisa dedicados aotema, que hoje já chegam a mais deuma centena. Esses grupos estãoconcentrados principalmente em

universidades e centros de pesquisade São Paulo, Rio de Janeiro e Mi-nas Gerais. Mas também há pesqui-sadores trabalhando com bio-materiais nas regiões Nordeste, Sule Centro-Oeste.

Grupo do CBPF integrarede de parceiros

O cenário também está mudando noque se refere às especialidades envol-vidas e à interação entre os pesqui-sadores dedicados ao assunto. En-quanto os primeiros grupos eramformados basicamente por engenhei-ros, hoje eles incluem químicos, físi-cos, biólogos e profissionais da áreamédica, que trabalham em intensacolaboração. “O trabalho requer autilização de técnicas sofisticadas, depreparação, de análise, de caracteri-zação de materiais. São poucos osgrupos que dispõem de todos osequipamentos necessários. Os resul-tados têm evidenciado que se nãohouver uma cooperação ampla en-tre os grupos, não conseguiremosproduzir materiais eficientes”, dizRossi. Junto com seu grupo doCBPF, o físico integra uma rede deparceiros, que inclui engenheiros ebiólogos do Instituto Nacional deTecnologia (INT), Universidade Fe-deral do Rio de Janeiro (UFRJ),Universidade Federal Fluminense(UFF) e Instituto Militar de Enge-nharia (IME).

Os estudos com biomateriais vêmrecebendo apoio das agências fede-rais e estaduais de fomento à pes-quisa, atentas ao novo cenário, e querespondem à demanda com editaisde apoio aos projetos no setor. “Es-sas iniciativas permitiram renovar

Alexandre Rossi analisa imagens de nanofilmes de biocerâmica no Laboratório de Materiais do CBPF

Alta tecnologia: protótipo de equipamentocapaz de revestir implantes metálicos com

material biocerâmico

nossas instalações, comprar novosequipamentos e auxiliar a articulaçãoentre os grupos”, afirma Rossi, que,junto com sua rede de parceiros, teve,ao longo dos últimos dois anos, qua-tro projetos contemplados em editaisda FAPERJ.

A nova injeção de recursos no de-senvolvimento de biomateriais estápermitindo ao Brasil acompanhar osavanços mais recentes no setor. Umdeles é o desenvolvimento decompósitos, materiais compostospela associação de um ou mais tiposde cerâmicas com outros bio-materiais. O objetivo é aproveitar asmelhores características de cada umdeles. Nos laboratórios do CBPF,por exemplo, associa-se cerâmica aopolímero para a obtenção de ummaterial biocompatível menos duroe mais elástico.

Dois exemplos de biocerâmicasmacroporosas produzidas em laboratório:

trabalho requer utilização de técnicassofisticadas de preparação, análise e

caracterização de materiais

Foto: Divulgação/CBPF

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Fotos: Bernardo Esteves

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Oestilo descontraído edescomprometido do ca-rioca poderia ser definido

como o zeitgeist do Brasil, algo comoo espírito ou o clima intelectual e cul-tural que define a nossa brasilidade.Durante anos, essa mistura de sensu-alidade, cor, alegria e informalidadefoi motivo de vergonha ou atestadode subdesenvolvimento. Ótima paraestimular o turismo, mas inadequadapara quem deseja uma cidade orga-nizada e eficiente.

Foi refletindo sobre essa ideia que co-mecei a apuração desta matéria. DoGrajaú, bairro da Zona Norte do Rio,segui de ônibus até o centro da cida-

de. Mais precisamente até a Praça Mauá,um pedaço esteticamente desagradá-vel e sujo do Rio de Janeiro. De umlado, cabarés, boates e bares, onde, paramuitos cariocas, o dia de trabalho ter-mina numa boa mesa de bar cercadade amigos. Do outro, o Mosteiro deSão Bento, símbolo do barroco e mar-co da ocupação da cidade.

Logo na praça, a estátua de IrineuEvangelista de Souza, o Barão deMauá, faz-nos lembrar deste pionei-ro homem de origem simples queascendeu socialmente pelos própri-os méritos e iniciativa. Mas, ironica-mente, um dos empreendedoresmais importantes do Rio de Janeiroimperial não tinha sangue carioca.Nascera na terra dos pampas.

Caminhei, então, rumo ao número82 da Avenida Venezuela, onde fun-ciona, desde 1921, o Instituto Naci-onal de Tecnologia (INT), órgão li-gado ao Ministério da Ciência eTecnologia. Meu objetivo era enten-der – e questionar, se fosse o caso –como o estilo carioca seria útil aoRio de Janeiro e à nossa economia.Até então, ainda do lado de fora, sóenxergava uma deselegante PraçaMauá: o edifício acinzentado doINT, combinando com a feia arqui-tetura da região.

Mas ao adentrar pela lateral esquer-da do prédio e identificar-me na re-cepção, avistei uma área verde e bela,quase um oásis em se tratando dedesign. Eu havia chegado ao jeitoso e

Bebendo na fonteCentroDesignRio pesquisa jeito de viver doscariocas para agregar valor ao design

Juliana Lanzarini

Guia Design Rio: um dos projetos desenvolvidos pelo CentroDesignRio, lançado na Brasil Design Week

DESIGN

Foto: Divulgação/Novo Desenho

Outra novidade no campo é o usode biomateriais associado a terapiascelulares em tratamentos que exigematenção especial, como em casos queenvolvem idosos. Para esses pacien-tes, a implantação de um biomaterialpode não ser suficiente para estimu-lar a regeneração óssea. Hoje, no en-tanto, já é possível combinar o im-plante de uma biocerâmica com aintrodução de células retiradas damedula óssea ou da pele do pró-prio paciente, que irão acelerar oprocesso de reconstituição do osso.De acordo com o biólogo RadovanBorojevic, do Departamento deHistologia e Embriologia da UFRJ,há duas formas de unir as células aobiomaterial: “Podemos preparar ascélulas e as biocerâmicas separada-mente e introduzi-las numa lesão, nopróprio centro cirúrgico, que é o pro-cedimento mais simples”, explica opesquisador. “Outra possibilidade écombinar no laboratório a cerâmicae as células cultivadas e preparar umapeça de reposição já pronta para serimplantada no paciente, que é maiscomplexo, mas é melhor para ele.”

Em parceria com o grupo de Rossi,Borojevic estuda uma combinação dasbiocerâmicas com outros ingredientesorgânicos, como genes e proteínas

indutoras de crescimento celular, querepresenta uma nova frente nas pes-quisas com biomaterias. “A ideia é sem-pre acelerar e melhorar a integraçãoda biocerâmica com os tecidos. Ob-viamente, essa é uma vantagem para opaciente, que sofre menos, durantemenos tempo, e tem uma regenera-ção melhor”, afirma o biólogo.

Embora essas novas técnicas resul-tem em materiais mais eficientes eem tratamentos com resultados maisrápidos e menos dolorosos para opaciente, o custo para desenvolvê-las ainda é alto. Assim, a maioria des-sas técnicas permanece inacessível àgrande parte da população. “É mui-to caro. O grama de biocerâmicacusta algo entre R$ 80 e R$ 300”,explica Rossi, lembrando que umenxerto ortopédico de biocerâmicaconsome cerca de 10 gramas de ma-

terial. Para ele, um dos principais de-safios na área é tornar o processomenos dispendioso. “O que nos in-teressa mesmo é produzir materiaisque sejam transferidos à área da saú-de e que possam ser usados pela so-ciedade brasileira.”

Para Borojevic, o grande desafio é aformação de recursos humanos quali-ficados. “É preciso ter pesquisadorescompetentes para fazer esse tipo depesquisa. Não é um processo trivial.”

Apesar dos desafios, ambos acredi-tam no potencial do Brasil de se es-tabelecer como um importante póloem biomateriais no cenário interna-cional. “Felizmente, o Brasil está mui-to bem colocado na área de terapiascom células-tronco e em bioenge-nharia”, garante Borojevic. “O Paístem uma população grande, umabase industrial boa, forma muitosprofissionais por ano, por fim, temtudo para criar as condições necessári-as para se tornar uma potência mundi-al em biomateriais”, concorda Rossi.

Os biomateriais metálicos, pela sua resistência ecompatibilidade com o corpo humano, sãoamplamente utilizados em procedimentos orto-

pédicos para a substituição óssea. No entanto, há anosbuscam-se formas de melhorar a interação desses materi-ais com as células ósseas. Em 2003, o engenheiro do CBPFAlexandre Mello de Paula Silva, então estudante de dou-torado do Instituto Militar de Engenharia (IME), decidiucontribuir para essa busca. Em quatro anos, Silva desen-volveu um novo processo para produzir revestimentos àbase de plasma capaz de ‘colar’ nanofilmes – revestimen-tos com espessura muito fina, de escala nanométrica – debiocerâmica à superfície de implantes metálicos, e cons-truiu um protótipo para testá-lo. O objetivo é associar a

bioatividade do material cerâmico à excelente resistênciamecânica do material metálico, criando um implante aomesmo tempo resistente e mais aderente ao corpo. Se-gundo o físico Alexandre Rossi, que coorientou a tese deSilva, os primeiros testes in vitro com os implantes revesti-dos mostraram resultados muito positivos. A tese foi de-fendida em 2007, mas o equipamento construído por Sil-va continua a ser aprimorado, revestindo atualmente cercade 400 implantes metálicos realizados mensalmente.“Estamos tentando obter recursos para desenvolver umamáquina industrial que permita revestir, aqui no laborató-rio, de cinco a dez mil implantes por mês”, diz Rossi. Se-gundo o pesquisador, já há empresas interessadas em apoiaro projeto e absorver o know-how.

UMA TÉCNICA PROMISSORA

Pesquisadores: Alexandre Malta Rossie Radovan BorojevicInstituições: Centro Brasileiro dePesquisas Físicas (CBPF) eUniversidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ)

Trabalho requer ouso de técnicassofisticadas napreparação, análisee caracterização dosmateriais

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bem decorado prédio da Divisão deDesenho Industrial do INT. Segui parao segundo andar, onde está instalado,desde 2003, o CentroDesignRio, umaassociação civil sem fins lucrativos querecebe apoio do INT.

Eu estava ali para entrevistar um gru-po de profissionais do Centro e en-tender de que forma o “espírito docarioca” poderia servir para agregarsentido, status e valor a um de nossosprodutos que mais ganham destaqueno cenário internacional: o design.

Foi também por meio de um bate-papo descontraído que Ana PaulaFonte, a diretora executiva do Cen-tro, mostrou-me alguns dos proje-tos que sua equipe vem desenvolven-do ao longo dos anos. Não por aca-so, como me fez saber Ana Paula, aincorporação da nossa identidade aodesign produzido no Rio de Janeiro éum dos principais conceitos explo-rados e divulgados pelo Centro-DesignRio.

Junto à mesa em que nos reunimos,Daniel Kraichete, outro diretor doCentro, contribuiu vez ou outra cominformações pertinentes, e a asses-sora de imprensa, Simone Kabarite,cuidou de todos os detalhes relati-vos às minhas solicitações.

Atualmente, além de Ana Paula eDaniel, outros dois designers doCentroDesignRio, Hugo Gripa eMárcia Ribeiro, desenvolvem açõesde apoio ao design, com o auxílio daFAPERJ. “Com os recursos dispo-nibilizados pela Fundação, o Centrodesenvolve e coordena projetos deinserção do design nas Micro e Peque-nas Empresas no estado do Rio deJaneiro”, explica Ana Paula. “O apoioda Fundação ao INT é fundamentalpara dar continuidade às ações e pro-jetos do CentroDesignRio”.

Mas, afinal, o que faz e qual o obje-tivo do CentroDesignRio? A missãodo Centro, como bem enfatizou Ana

Paula, é fazer com que o design este-ja presente nas empresas flu-minenses, como fator de diferenci-ação, inovação e valorização de seusprodutos e serviços. Quando se tra-ta do mercado de exportação, en-tão, a exigência em termos de designé ainda maior, e, mais do que isso,fundamental.

Neste sentido, há melhor fator de di-ferenciação do que a valorização doverdadeiro jeito de viver do carioca?Obviamente que não, e uma série deprojetos realizados pelo Centro sãoa prova disso. Preocupada em memanter a par de todos os detalhes,Ana Paula sacou de prontidão um CDe me apresentou o portifólioinstitucional do CentroDesignRio.

tos de mobiliário de botequim cujodesign deveria refletir o jeitinho cari-oca presente nos bares da cidade:“um móvel ideal para sentar, comer,beber e jogar conversa fora entreamigos”, explica.

Desse total, 10 desenhos forampré-selecionados por um júri deprofissionais do ramo e ganharamforma, graças ao trabalho de em-presas l igadas à AssociaçãoMoveleira da Baixada, encarrega-das de fazer os protótipos. Duran-te um mês inteiro, os móveis fica-ram expostos “a céu aberto”, embares da Lapa, disponíveis a todosos cariocas que quisessem ver, sen-tar e curtir um pouquinho do esti-lo boêmio da cidade.

uma mesa com formato de um pan-deiro surgiu a partir de um brainstorm(do inglês, que significa “tempesta-de de ideias”), em pleno domingo,quando ela e a amiga Cirlei se en-contraram para conversar sobre otema do concurso. Em seguida, umarápida pesquisa na internet foi sufici-ente para escolher o modelo ideal doinstrumento e a madeira mais apro-priada. Por fim, bastou botar a mãona massa e preparar o desenho.

Feliz com a primeira colocação,Maria Helena espera, agora, que sur-jam propostas de trabalho na esteirado resultado. “Estou me preparan-do para divulgar nosso projeto e,quem sabe, com o passar da crise,comecem a aparecer os frutos. Vou

importante agregador de valor nosegmento da economia que se ocu-pa da exportação de pedras precio-sas. “Não é apenas uma questão deestética, mas também um trabalhoextremamente necessário para acompetitividade do negócio”, disse.

Centro coordena projetos

Trocando em miúdos, o trabalho doCentroDesignRio – seja na realiza-ção de eventos, seja na prestação deserviços – ajuda a movimentar a eco-nomia fluminense. Tanto que umadas tarefas mais importantes no dia-a-dia da instituição é a coordenaçãode projetos de design para pequenas emédias empresas interessadas nomercado de exportação. Tudo gra-ças ao banco de profissionais e em-presas que o Centro mantém em seusite e à parceria com o Programa deApoio Tecnológico à Exportação(Progex), em curso desde 2006.

Graças ao Progex, programa im-plementado pelos Ministérios daCiência e Tecnologia e do Desenvol-vimento, Indústria e Comércio Ex-terior, muitas empresas têm conse-guido inserir seus produtos no dis-putado mercado internacional. “Paraque uma marca de café ganhe espa-ço no mercado exterior, ela precisater um design atraente”, diz. Daí tam-bém a importância deste design darênfase à “brasilidade”.

O Centro entra em contato comuma das empresas de criação cadas-tradas no site ou diretamente com oprofissional cujas competências se-jam compatíveis com a demanda.“No caso do Progex, a remunera-ção pelos trabalhos é feita por meiode um contrato entre o programa ea empresa”, explica Ana Paula.

Márcia Albuquerque, 43 anos, doestúdio de criação Substância 4 Design,localizado no bairro do Flamengo,é uma das profissionais do ramocadastradas no site que eventualmenteé acionada pelo CentroDesignRio.Formada em Programação Visualpela UniverCidade, ela contou, portelefone, que já fez diversos proje-tos de design para o Progex. “É umimportante trabalho para ajudar asempresas a ganhar competitividade”,disse a designer.

Ao terminar a entrevista, passei pelarua Sacadura Cabral, onde umaroda de samba animava aquela ter-ça-feira no tradicional bairro daGamboa, um dos mais antigos doRio. Como havia terminado a pri-meira parte do trabalho, a apura-ção, parei para tomar um chopegelado antes de seguir meu cami-nho. Agora, contudo, convencida deque o “espírito carioca” tem de fatovantagens que nós, cariocas ou não,devemos, sim, saber aproveitar. Eda melhor forma.

Rio de Bar em BarEntre tantos projetos (a maioria dosquais realizados em parceria com oSebrae-RJ), o Rio de Bar em Bar –Design de Botequim, desenvolvido nofim de 2008, é um exemplo vivode como o “estilo carioca de ser”pode, sim, agregar valor ao produ-to nacional.

De acordo com Ana Paula, foraminscritos nada menos que 117 proje-

Passou por lá a famosa “turma dacana”, uma confraria de boêmios daAcademia Brasileira da Cachaça, que,literalmente, batizou os móveis e es-colheu os vencedores. O prêmio prin-cipal ficou com o projeto “Pandeiro”,de autoria das carioquíssimas MariaHelena Torres e Cirlei Santos, ambasprofissionais autônomas de design.

Em conversa por telefone, MariaHelena contou que a ideia de fazer

me planejar para isso”, disse a ar-quiteta que é pós-graduada em designde interiores.

Design agrega valor

Além dos setores de moda íntima,moda praia e decoração – que sãoos carros-chefe do design carioca –,o setor de rochas ornamentais tam-bém deve ganhar destaque em 2009.Para Daniel Kraichete, o design é um

Os dez finalistas dos 117 projetos inscritos no concurso Rio de Bar em Bar – Design de Botequim

Em sentido horário: Ana Paula Fonte (sentada), Daniel Kraichete, Hugo Gripa e MárciaRibeiro. Trabalho do CentroDesignRio contribui para movimentar economia fluminense

Fotos: Fábio Chieppe

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Muito se fala sobre a rápidaexpansão do setor imobi-liário na Zona Oeste da

capital fluminense, que avança a pas-sos largos, especialmente, na Barrada Tijuca e no Recreio dos Bandei-rantes. Mas o crescimento da cidadevai além desses bairros cariocas, pre-dominantemente residenciais. É oque mostra a pesquisa Desenvolvimen-to Econômico Local da Zona Oeste do Riode Janeiro e de seu Entorno, liderada pelaprofessora Renata La Rovere, doInstituto de Economia da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ). De acordo com os dadospreliminares levantados para o estu-do, as regiões administrativas deCampo Grande, Realengo, SantaCruz e Bangu, que representam cer-ca de 30% da área do município doRio de Janeiro, têm forte vocaçãoindustrial e um significativo potenci-al de desenvolvimento tecnológico.

No fim do século XIX, a Compa-nhia Progresso Industrial do Brasil,que se tornaria conhecida como Fá-brica de Tecidos Bangu, foi pioneirano processo de industrialização eurbanização da Zona Oeste, que atéentão abrigava engenhos de cana-de-açúcar. Hoje, as instalações da fábri-ca deram lugar a um shopping center,mas a tradição industrial do local –e de outros bairros da região – nãose esgotou. “A Zona Oeste foi umgrande pólo têxtil no passado”, diza economista. “E se hoje o bairro

de Bangu se destaca, principalmen-te, pelos setores de comércio e ser-viços, a região como um todo atrai,por ordem de maior absorção deempregos, principalmente as indús-trias de metalurgia e de minerais nãometálicos, além das indústrias gráfi-ca, química e farmacêutica”.

A escolha de Bangu, Campo Gran-de, Realengo e Santa Cruz comoobjeto de estudo foi pautada pelassemelhanças na atividade econômi-ca desses bairros. A Zona Oeste ébem mais ampla do que as quatro

regiões escolhidas, com 41 bairrose 10 regiões administrativas. Renataexplica que o critério para selecio-nar as áreas que entraram na pes-quisa foi o perfil econômico. “Ape-sar de também atraírem empresas,outras regiões administrativas, comoBarra da Tijuca e Jacarepaguá, têmum perfil mais residencial e por issonão foram incluídas no estudo”, diza economista. “Fomos movidos pelacuriosidade em identificar os impac-tos dos novos investimentos e dainstalação de empresas nessa região”,

conta Renata, destacando que entreas vantagens que a Zona Oeste ofe-rece para a indústria estão a proximi-dade com o Porto de Itaguaí e o ArcoMetropolitano do Rio de Janeiro, emconstrução pelo governo do estado.

Para dinamizar o processo de pes-quisa, o projeto foi concebido emetapas. “Na primeira etapa, realiza-mos um levantamento estatístico pre-liminar da economia local, com baseem pesquisas do Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE) ena Relação Anual de Informações

Sociais (Rais) do Ministério do Tra-balho, que concluiu que a Zona Oestetem uma predominância das ativi-dades comerciais e de serviços, alémde uma especialização relativa na in-dústria, quando comparada com orestante do município do Rio”, diza pesquisadora.

A segunda etapa do estudo, que con-ta com a participação da AyraConsultoria, empresa júnior daUFRJ, consistiu no envio de questi-onários a 262 empresas da ZonaOeste. “A partir das respostas, anali-samos questões básicas que caracte-rizam as empresas da região, inclu-indo quais são os produtos, as van-tagens da localização, as perspecti-vas de crescimento, a qualificação damão-de-obra, e se elas fazem ino-vação tecnológica ou contratam em-presas de fora”, lista a professora.

A terceira etapa envolveu a realizaçãode estudos qualitativos por uma equi-pe multidisciplinar de doutores emeconomia, sociologia e pedagogia, quese dedicou a diferentes aspectos dodesenvolvimento socioeconômico lo-cal, entre a ocupação e uso do solo,logística e infraestrutura, segurança,educação, comércio exterior e condi-ções de governança.

De acordo com a economista, umdos desafios para o desenvolvimen-to da indústria na Zona Oeste é aqualificação da mão-de-obra, predo-minantemente jovem e com nívelmédio de instrução. “Comparandocom o nível de instrução dos traba-lhadores de todo o município, boaparte da mão-de-obra das áreaspesquisadas na Zona Oeste concluiuo Ensino Médio. Além disso, tam-bém é, na média, mais jovem. Des-ses jovens, 45% têm o Ensino Mé-dio completo, frente a 39% da mão-

de-obra do Rio, como um todo. Masapenas 13,5% têm nível superior,quando, em todo o Rio, eles são26,1% com diploma universitário.Isso indica que a mão-de-obra lo-cal, que tem remuneração médiabaixa, de até três salários mínimos,está apta a receber cursos de treina-mento, visando ao seu melhor apro-veitamento”, aponta.

A pesquisa constatou que, apesar dademanda industrial da região, a mai-oria dos cursos técnicos oferecidosna Zona Oeste é voltada para a áreade saúde. “Há necessidade de se di-versificar a oferta de cursos técnicospara atender ao setor de indústria eserviços”, defende Renata. E pros-segue: “Existem cerca de 60 cursostécnicos nas quatro regiões adminis-trativas, sendo que 42% oferecidospor instituições públicas e 57% porinstituições privadas” (confira reportagemà pág. 41 sobre a instalação do Centro Uni-versitário Estadual da Zona Oeste).

A segurança pública é outra ques-tão crucial para o desenvolvimentoeconômico da região. “Dados mos-tram que as regiões administrativas

Pesquisa faz diagnóstico daeconomia da Zona Oeste

Estudo aponta os prós e contras para o desenvolvimentode Santa Cruz, Campo Grande, Bangu e Realengo

Débora Motta

Bangu Shopping: projetopreservou linhas arquitetônicas

da antiga Fábrica de TecidosBangu, pioneira no processo

de industrialização eurbanização da Zona Oeste

Região atrai as indústrias de metalurgia e deminerais não metálicos, além das indústrias

gráfica, química e farmacêutica

ECONOMIA

Foto: Fernanda Almeida

Foto: Divulgação/Bangu Shopping

13 | Rio Pesquisa - nº 6 - Ano IIAno II - nº 6 - Rio Pesquisa | 12

analisadas têm altos índices de ocor-rência de mortes violentas intencio-nais, como homicídios dolosos, la-trocínios, lesões corporais seguidasde morte e autos de resistência. En-tre janeiro de 2000 e agosto de 2008,foram 8.352 mortes desse tipo, querepresentam 29,4% das mortes vio-lentas do município. É um quadropreocupante”, diz a professora,alertando para os prejuízos causadospela violência. “Os empresários en-trevistados manifestaram preocupa-ção porque sabem que a falta de se-gurança afeta as atividades produti-vas. Segundo pesquisa do Institutode Segurança Pública, a Avenida Bra-sil, que atravessa os quatro bairros,foi a via com maior roubo de veí-culos da cidade, entre 2002 e 2005.Isso prejudica o acesso dos funcio-nários ao local de trabalho.”

Entre as facilidades de infraestruturada Zona Oeste estão os terrenosdestinados à atividade produtiva,conhecidos como distritos industri-ais. No entanto, a legislação para aocupação do solo é um ponto quedificulta a atração de investimentosno local. “Deveria haver umaflexibilização da legislação para per-mitir a instalação de empresas em

zonas residenciais. Essa medida per-mitiria a legalização de empresaspequenas, que muitas vezes atuamem ‘fundo de quintal’, como se diz,como fornecedoras às empresasmaiores, devido ao zoneamento ur-bano. A cidade cresce e os planosde estruturação urbana das regiões,que definem zonas de uso misto,residencial,comercial e industrial, per-manecem defasados”, avalia.

Além das dificuldades de ocupaçãoindustrial do solo, existem muitosterrenos desocupados na Zona Oes-te. “O cadastro do IPTU [ImpostoPredial e Territorial Urbano] dasquatro regiões mostra que a área to-tal dos imóveis na região é de163.866.617 m2. Destes, 92% sãoterrenos, 7% são apartamentos e ca-sas, e o resto é constituído por áreasde uso industrial”, diz Renata.

O estudo observou também a par-ticipação da Zona Oeste no comér-cio exterior da cidade. “Descobri-mos que as regiões respondem por6,7% das exportações e 5,11% dasimportações do município, em rela-ção ao número de empresas, o queainda representa uma inserção rela-tivamente pequena”, pondera. “Osprincipais setores exportadores sãoa metalurgia básica (80%), que temem Santa Cruz seu pólo principal, eo setor químico (11%).”

A última etapa da pesquisa, a serconcluída até o fim do primeiro se-mestre de 2009, será a realização deum seminário com a participaçãodas lideranças empresariais einstitucionais, quando serão discuti-dos os dados apresentados no estu-do e a possibilidade de expansão daeconomia das regiões analisadas daZona Oeste do Rio. “A ideia é inici-ar, na prática, um processo demobilização pelo desenvolvimentoda região, a partir do diagnósticoapresentado”, conclui.

Pesquisador: Renata La RovereInstituição: Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ)

La Rovere: curiosidade em identificar osimpactos dos investimentos na Zona Oeste

Instalações da Gerdau/Cosigua: região pesquisada mostrou vocação industrial e potencial de desenvolvimento tecnológico

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À captura demovimentos suspeitos

Tecnologia de leitura de placas automotivaspromete soluções de segurança,monitoração e controle de tráfego viário

Guarita de segurança do campus do Fundão, daUFRJ, no acesso à Linha Amarela: local abrigaequipamentos que monitoram quatro pistassimultaneamente

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Com tecnologia desenvolvidapor uma equipe de pesqui-sadores do Departamento

de Ciência da Computação da Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ), um projeto voltado para aleitura automática de placas auto-motivas promete sanar diferentesdemandas na segurança, moni-toração e controle de tráfego viárioem cidades e estradas do País. De-nominado de Família Kapta, o sis-tema é composto de quatro apli-cativos distintos: o Kapta Acesso, oKapta Parking e os Kapta AlertasFixo e Móvel – todos operandocom tecnologia voltada para a iden-tificação de placas de veículos.

O software usa a tecnologia de reco-nhecimento de caracteres ópticos(OCR, da sigla em inglês, OpticalCharacter Recognition), que permite aleitura de placas em diferentes con-dições ambientais, com uma taxa deacerto acima dos 90% e tempo deprocessamento de menos de 200milissegundos. De acordo com o en-genheiro eletrônico e doutor emcomputação Antonio Carlos GayThomé, que liderou a pesquisa e odesenvolvimento dos algoritmos, oSistema Kapta nada deve aos prin-cipais concorrentes disponíveis nomercado mundial. E por ser tec-nologia nacional, o custo dos pro-dutos deve tornar sua aquisição eco-nomicamente mais viável.

Existem poucos softwares de reconhe-cimento de placas com tecnologia100% nacional, em regra, nascidosigualmente em laboratórios de uni-versidades, como nos casos da Uni-versidade Federal do Rio Grande doSul (UFRGS) e da Universidade do

Vale do Rio dos Sinos (Unisinos),também no Rio Grande do Sul. Aprospecção de negócios e acomercialização dos aplicativosKapta estão sendo operacio-nalizados por duas empresas: aPégasus Informática e a KognitusAutomação e Processamento deImagens. A primeira é parceira noprojeto contemplado pelo progra-ma Rio Inovação II da FAPERJ; asegunda é uma empresa de P&D(pesquisa e desenvolvimento) emtecnologia, incubada na Incubadorada Coppe/UFRJ.

Um dos membros da família, oKapta Acesso é voltado para o con-trole da entrada e saída de veículosem áreas privadas, como condomí-nios residenciais e empresas. “O sis-tema, além de reconhecer a placa doveículo, verifica se o acesso é permi-

tido, confirma a identidade do con-dutor por meio da impressão digi-tal e controla o acionamento da can-cela ou portão de acesso”, explica opesquisador. Outra característica dosistema, de acordo com Thomé, éidentificar e alertar situações de ris-co para o condutor do veículo.

Na verdade, a segurança oferecidapelo Kapta Acesso vai além do sim-ples controle da entrada e saída decarros. Na hipótese de um moradorficar refém de bandidos dentro docarro, ao chegar ao condomínio, avítima deverá passar por um proce-dimento que inclui sua identificação.Naquele momento, em vez de pres-sionar o botão com a impressão di-gital que utiliza normalmente, colo-ca um outro dedo no leitor que faza identificação. Com isso, aciona ocódigo de “pânico”, que gera umalerta, enviado à central de seguran-ça do condomínio. A central, por suavez, pode acionar a polícia e tomaras providências previstas em casosde emergência.

O segundo membro da família, oKapta Parking, foi concebido parauso em shoppings, estacionamentospúblicos e supermercados. Além de

registrar o acesso ao sistema, cria umavinculação entre o cartão de perma-nência, retirado pelo cliente na en-trada do estacionamento, e a placado veículo. Essa vinculação tem, en-tre outras finalidades, a de coibir pos-síveis furtos, uma vez que cor-relaciona o cartão com a placa doveículo, detectando, portanto, quan-do alguém entra com um carro etenta sair com outro.

“Tal funcionalidade torna o KaptaParking único no mercado, haja vis-ta que com os sistemas atualmentedisponíveis é impossível a identifi-cação de tais situações”, explicaThomé. O sistema permite aindacontrolar o número de vagas dispo-níveis; o número e a identificação deveículos no local; os carros que per-noitaram ou que permaneceram noestacionamento por um determina-do período de tempo e aqueles queeventualmente tenham se evadidosem pagamento.

O terceiro modelo criado pela equi-pe coordenada pelo professor é oKapta Alerta Fixo. Concebido paraatender à demanda em monito-ramento e controle de tráfego viá-rio, o equipamento, instalado empontos críticos de uma via, é capazde monitorar o tráfego em tempointegral. Ao passar pelo raio de vi-são das câmeras, os veículos têm suaplaca filmada e automaticamente re-conhecida. A partir do número daplaca, o sistema consulta bases dedados para identificar a existênciade diversas restrições, tais como:carro roubado; multa não paga;IPVA atrasado; final da placa nãopermitida pelo sistema de rodízioetc. Identificada a restrição, o siste-ma gera um alerta.

Um sistema do tipo Alerta Fixo per-maneceu instalado para testes, du-rante o ano de 2005 e parte de 2006,em uma das entradas da cidade deBragança Paulista (SP). Atualmente,

há um em funcionamento nas trêsentradas do campus da Ilha do Fundãoda UFRJ (Linha Amarela, HospitalUniversitário e Prefeitura Universi-tária). “Com a instalação do sistemano campus da Cidade Universitária jáse constatou uma expressiva dimi-nuição no número de roubos de car-ro no local”, diz o engenheiro.

Uma versão móvel do mesmo equi-pamento está em desenvolvimentopela equipe comandada por Thomé.Trata-se do Kapta Alerta Móvel.Com uma câmera instalada numa vi-atura acoplada a um notebook, o sis-tema permitirá reconhecer a placa e,por meio da tecnologia GPRS (trans-missão sem fio, via antenas de rá-dio), poderá transmitir a imagem eo número da placa para fazer bus-cas em bases de dados remotas, afim de identificar e alertar qualquerpossível restrição existente sobre oveículo. “Esta versão ainda está sen-do desenvolvida para testes de cam-po, e terá como plataforma uma dasviaturas da Divisão de Segurança(Diseg) do campus da UFRJ”, infor-ma o pesquisador.

Vinicius Zepeda

Para Thomé, é cada vez mais comumna sociedade moderna o empregode novas tecnologias que ajudem oEstado e a comunidade a melhora-rem o grau e a sensação de seguran-ça, bem como a qualidade de vida,o senso de responsabilidade e de ci-dadania. “Programas de subvençãoeconômica e apoio a projetos de ino-vação, como o edital da FAPERJ, sãoinstrumentos importantes no fomen-to a empresas e grupos de pesquisanacionais capazes de inovar e gerarprodutos com alto valor agregado”,conclui o professor.

A partir de meados de 2009, quandotodos os integrantes da família Kaptaterão sido exaustivamente testados, asoportunidades de comercialização de-verão lançar o empreendimento nomundo dos negócios. A sociedadeagradece e lança um alerta: cuidado sen-hor golpista e candidato a ladrão, poiso Kapta estará de olho em você!

Sistema é compostopor 4 aplicativosdistintos: uso detecnologia paraidentificar veículos

Pesquisador: Antonio Carlos GayThoméInstituição: Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ)

Programa de captura das fotos de veículos:comunicação com câmeras instaladas em

postes e com sensores colocados no asfalto

“Novas tecnologias ajudam a melhorar o grau e a sensação de segurança”, diz Thomé

Foto: Divulgação/Coppe/UFRJ

Foto: Divulgação/Coppe/UFRJ

TECNOLOGIA

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Os brasileiros gostam de sever como pessoas cordiaise sem preconceito. Mas

para um observador mais atento,muitas vezes o discurso revela que arealidade é bem diferente, como per-cebeu o linguista e professor do Pro-grama de Pós-graduação em Educa-ção Física da Universidade Gama Fi-lho (UGF) Sebastião Josué Votre, paraquem o assunto é tema de estudo. Aopesquisar o universo das atividadesesportivas de programas sociais doestado do Rio de Janeiro, ele viu queas manifestações de discriminação sãofrequentes, embora encaradas dentroda maior naturalidade. Os exemplosse repetem, como nos casos de me-ninas que não costumam ser bem-vindas em jogos de futebol e de ape-lidos que logo rotulam o diferente,seja pela cor da pele, pela aparênciafísica ou por qualquer dificuldade nodesempenho. Rolha-de-poço, Baleia,

Zulu, Mulherzinha, os nomes sãosempre depreciativos.

“A partir dos dados coletados entreos participantes dos programas, cons-tatamos que há preconceito e discri-minação, assim como falta de cora-gem, vergonha e timidez, interferindona integração dos diferentes grupos,seja por faixa etária, gênero ou etnia.Isso acontece tanto nas comunidadespesquisadas como no corpo docen-te”, fala o professor Votre. Com suaequipe, ele viu que um dos primeirosefeitos dessas barreiras é que os parti-cipantes abandonam ou se negam atomar parte nos programas.

Os dados foram reunidos no estu-do Discriminação de Gênero, Idade e Raçaem Programa de Esporte e Lazer: subsí-dios para elaboração de políticas inclusivas,que começou em 2008 e pesquisou20 comunidades em situação de ris-co, entre elas o Morro da Mineira,Vila Aliança, Vila Kennedy, RochaMiranda e Vidigal. Esse levantamen-to permitiu que se traçasse um

têm resistência em fazer exercícios dealongamento ou a participar de ativi-dades com mulheres. Falam literalmen-te que ́ não é coisa para homem`. Tam-bém é difícil colocar jovens e idosospara jogar futebol juntos”, conta Votre.Ele lembra que meninas que queremjogar futebol também não costumamser bem vistas. “Ou são as mães quenão querem deixar que as filhas joguemou são os comentários que logo as ta-cham de pouco femininas”, acrescen-ta o pesquisador.

Quando se trata da variável etnia, opreconceito é mais velado, comoenfatiza o pesquisador: “Isso acon-tece como decorrência do processode naturalização que encobre o ra-cismo presente na vida cotidiana.Entre nós, o discurso da democra-cia racial ainda é forte. Negros e ín-dios sempre são sub-representadosna televisão, no cinema ou na litera-tura, e quando aparecem quase sem-pre são personagens pouco comple-xos, subalternos e de menor impor-tância na trama. No imaginário cole-tivo, prevalecem os estereótipos quecolocam os negros como musicais,hábeis nos esportes, de grande sensua-lidade, mas de menor capacidade in-telectual. E tudo isso é visto com natu-ralidade”, critica.

Exatamente por ser um preconceitomenos explícito, o pesquisador dedi-

cou-se pessoalmente a essa variávelda pesquisa. “Tenho especial interes-se pelo tema, já que descendo de avóindígena”, admite Votre. Seus estu-dos na área incluíram os livros didá-ticos, as novelas e as cartilhas, nosquais constatou que o percentual denegros e índios é ainda muito peque-no, algo entre os 2% e 3%. “Quandose procura identificar o brasileirocomo povo, quase sempre a imagemque se usa é a do homem, invariavel-mente branco. E a visão de mundoque se repete é quase sempre a partirdesse ponto de vista”, diz o linguista.

Ele percebeu que nas atividades es-portivas dos programas sociais, a re-alidade não é diferente. “A discrimi-nação parece ser constante. Os queestão acima do peso, por exemplo,logo ganham apelido, assim comoquase todo negro. E esses apelidossão discriminadores, depreciativos. Épreciso reeducar, remoralizar o dis-curso e a consciência das pessoas”, dizVotre. A começar pelos monitores,agentes do projeto Esporte e Lazer, osprimeiros a serem contatados pelaequipe de pesquisadores: “Porque essavisão discriminatória é geral”.

“A comunidade participa pouco epouco sabe de seus direitos”, pros-segue o professor. Ele exemplificacom uma das situações observadasnas comunidades visitadas. “Um dosmembros de nossa equipe percebeuque praticamente não havia pessoascom deficiência participando de ne-nhuma das atividades. Ao procurarentender por que isso acontecia, eledescobriu que, além da dificuldadedos acessos até o local, os próprios

Armadilhas da palavraEstudo revela preconceito na fala cotidiana departicipantes de programas de esporte e lazer

Vilma Homero

programas não tinham sido elabo-rados de forma a incluí-los”. A par-tir daí, Votre e sua equipe decidiramque a pesquisa passaria também a en-globar esse grupo.

Para orientar o trabalho daqui parafrente e também para subsidiar po-líticas públicas inclusivas, o grupo estáempenhado no desenvolvimento dematerial pedagógico. “A ideia cres-ceu e, além de um manual impresso,estamos desenvolvendo também umCD e um site para possibilitar a edu-cação a distância. No site, tambémdisponibilizaremos fontes para leitu-ras complementares, como outrossites, livros e filmes, para cada um dostemas abordados.” De acordo como pesquisador, o material será divul-gado não apenas na comunidade,como empregado em cursos de atu-alização e de formação de profes-sores. Entre algumas das formas deorientação sobre como lidar com assituações de discriminação, há suges-tões como de se fazer um controleespecial dos apelidos e diminutivosdepreciativos. Outra orientaçãosugerida é, tanto quanto for possí-vel, incentivar atividades que inte-grem os vários grupos. “Onde hou-ver resistência, como no futebol, aproposta é a formação de times se-parados, só de mulheres ou só dehomens”, sugere Votre.

“Nosso principal objetivo não é aca-bar com o preconceito, mas simamenizá-lo”, diz Luiz Felipe Figuei-redo, também membro da equipe ebolsista de IC. “Queremos fugir aopieguismo; não falamos em solidarie-dade. Preferimos ser diretos em con-frontar os preconceitos, discuti-lose propor um choque de realidade.Queremos fazer com que as pessoasreflitam e sejam capazes de refor-mular e abandonar velhas ideias.”

ESPORTE

Estudo realizado em comunidades em situação de risco revelou que a discriminação por gênero e por idade é a que se percebe mais facilmente

sociodiagnóstico da realidade des-sas áreas, sob o enfoque do precon-ceito e da discriminação, observan-do-se as variáveis de gênero, idade,etnia, raça e deficiência, a partir dodia-a-dia dos programas de espor-te e lazer que funcionam nessas co-munidades.

“Constatamos que não são somen-te os problemas com preconceito ediscriminação que levam à evasão ouà não participação das pessoas noprojeto, mas também deficiênciascomo infraestrutura precária, falta dedivulgação, deficiência na formaçãocontinuada de alguns professores,falta de controle de presença dosparticipantes, e mesmo a relação dosprofessores com a turma”, ressaltaJoão Gabriel Mello, bolsista de Ini-ciação Científica (IC) e um dos inte-grantes da equipe de Votre.

De acordo com o estudo, a discrimi-nação por gênero e por idade é a quese percebe mais facilmente. “Consta-tamos, por exemplo, que os homens

Fotos: Hélio Euclides

Votre: pesquisa em 20 comunidades

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Pesquisador: Sebastião Josué VotreInstituição: Universidade Gama Filho(UGF)

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Imagine a possibilidade dereconstituir detalhes da históriaainda desconhecidos por meio

do estudo de réplicas virtuais e físi-cas, perfeitas, de múmias e dedinossauros. Parece cena de filme deficção científica, mas não é. O pro-jeto Geração de Imagens Digitais dasColeções do Museu Nacional: estudo, pre-servação e recuperação, que recebeuapoio da Fundação por meio doedital Pensa Rio – 2007, recorre amodernas técnicas de digitalização ede modelagem tridimensional – oescaneamento 3D a laser e aprototipagem rápida – para criarréplicas do acervo do Museu Naci-onal, utilizando tecnologias nãoinvasivas, que permitem a preserva-ção das peças. O museu, que integraa Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ), possui o mais im-portante acervo de história naturalda América do Sul.

“O grande diferencial desse projetoé o fato de usar a tomografiacomputadorizada, que é uma técni-ca médica. Associada às ferramen-tas do design, como a computaçãográfica e a prototipagem rápida, elaé utilizada para o estudo de peçasbiológicas, sejam múmias humanasou fósseis de animais. A integraçãodesses três campos distintos do sa-ber traz resultados inéditos”, desta-

ca o paleontólogo e diretor do Mu-seu Nacional, Sérgio Alex Azevedo.

O uso de tecnologias não invasivaspara a obtenção de imagens virtuaisdas peças possibilita uma análise pro-funda da estrutura de múmias e fós-seis de dinossauros, sem a neces-sidade de manusear as peças, que aca-bavam danificadas durante o traba-lho de pesquisa. “A principal vanta-gem do uso da tomografia compu-tadorizada é permitir o acesso a es-truturas que antes só poderiam servistas se o pesquisador serrasse ofóssil ou abrisse o sarcófago de umamúmia. Essa aplicação já era conhe-cida na medicina, mas na paleon-tologia é novidade”, diz Azevedo.

O trabalho envolve uma parceriacom o Instituto Nacional deTecnologia (INT), único no Rio equi-pado com um laboratório de pontana área. As imagens geradas nos exa-mes médicos ou nos scanners 3D alaser são transformadas, por meiode ferramentas digitais, em arquivos

virtuais 3D. Esses dados são envia-dos, em tempo real, para equipa-mentos de prototipagem rápida doINT, que finalmente os transformaem réplicas precisas e concretas,tridimensionais, das peças analisadas.

“Depois que as peças são submetidasà tomografia computadorizada, ouescaneadas a laser, as imagens obtidassão trabalhadas em softwares e, com oauxílio de equipamentos, como aestereolitografia a laser, são transfor-madas em modelos tridimensionaisfísicos, elaborados em materiais di-versos. As peças finais vão para omuseu”, explica o coordenador doLaboratório de Modelos Tridi-mensionais do INT, Jorge Lopes,acrescentando que, no interior dosequipamentos, uma resina fotos-sensível é moldada pelos raios laser,camada por camada, e aos poucostoma a forma da peça desejada.

Lopes realiza os exames de tomo-grafia computadorizada nas peçasdo acervo do Museu Nacional em

parceria com a Clínica de Diagnósti-co por Imagem (CDPI). “A técnicapermite o acesso a informações edetalhes da estrutura das peças quedificilmente seriam encontrados aolho nu, com o uso das técnicas con-vencionais”, observa.

Um exemplo de peça de imensurávelvalor histórico reconstituída pelo pro-jeto é a estatueta de Osíris, deus egíp-cio da morte e da vegetação. “A peça,que integra a Coleção Egípcia do mu-seu, é de madeira e estava muitodanificada. No processo, ela foiescaneada e reconstruída. Depois, oegiptólogo do museu, AntonioBrancaglion Jr., fez a reconstituiçãode como ela foi um dia, há séculos”,conta Lopes.

De acordo com Brancaglion, entre aspeças arqueológicas da Coleção Egíp-

cia que foram eleitas para o projeto,devido à relevância, estão crânios demúmias humanas e de animais. “Tec-nicamente, essas peças são as mais frá-geis e raras de todo o material arque-ológico, porque o governo egípcio nãopermite mais a saída de múmias paranenhum museu do mundo”, justificao arqueólogo. “Um dos crâniosprototipados pertence à múmia deuma cantora de hinos religiosos notemplo egípcio de Amon, em Karnak,que viveu na época da primeira Olim-píada da Grécia, em 800 a.C., chama-da Sha-Amun-emsu”, acrescenta.

A reconstituição ajuda a identificaros indivíduos e a compreender aspráticas funerárias egípcias. “Duran-te o processo de reconstituição facialdas múmias, são aplicados múscu-los e peles virtuais, além de levarmos

Reconstruindo a história

Débora Motta

Acervo do Museu Nacional ganha réplicasem 3D a partir da prototipagem rápida

A partir da esq.: o original da estátua deOsíris no scanner; réplica sendo impressa em

3D; e antes e depois da reconstituiçãohistórica, quando recebeu pintura e os

prováveis adereços originais

ACERVO

Fotos: Museu Nacional/UFRJ

em conta os aspectos culturais daépoca”, diz Brancaglion. “Verificoo penteado, se a múmia usavacoque, como seria a sua maquiageme quais amuletos e adornos poderiater. Analisamos também o proces-so de mumificação, que pode reve-lar a causa da morte, a idade aproxi-mada e a crença funerária egípcia re-gistrada no corpo, que demonstrapor quais rituais ela passou. Depoisde pronta, podemos fazer animaçõesda imagem no computador”, com-pleta, sem esconder o fascínio pelasua profissão.

Em parceria com a pesquisadoraClaudia Rodrigues-Carvalho, tam-bém do Museu Nacional, Jorge

Jorge Lopes, do INT: domínio de técnica de ponta em modelagem tridimensional

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Lopes foi responsável pela “im-pressão” em 3D do crânio de Lu-zia, mulher que viveu há aproxima-damente 10 mil anos, nos arredo-res de Belo Horizonte. “A réplicado crânio de Luzia, que pertence aoacervo do museu, levou cerca de20 horas para ser finalizada. Faze-mos esse tipo de reconstrução ecaptura da superfície tridimensionalpara fins de dimensionamento daspeças”, diz ele.

Além de ser uma importante fer-ramenta para desvendar mistériosdo passado, a técnica permite queas réplicas sejam utilizadas para ointercâmbio científico. Os centrosde pesquisa muitas vezes guardampeças complementares no proces-so de construção do conhecimen-to, que se encaixam como um que-bra-cabeças. “Na área de paleon-tologia, podemos escanear umadeterminada parte óssea de umdinossauro e, se outro esqueleto si-milar estiver na Austrália, porexemplo, podemos enviar arquivosvirtuais. Com essa tecnologia, elespodem ‘imprimir’ [construir] apeça em 3D. Essa troca de infor-mações, essencial para a pesquisa,é facilitada com a prototipagemrápida”, avalia.

Para dar continuidade ao longo tra-balho de digitalização do acervo doMuseu Nacional, que envolve umaequipe multidisciplinar, o projetoimplantou no museu, com auxílio daFAPERJ, o Laboratório de Obten-ção de Imagens Tridimensionais.“Um scanner tridimensional portátil deúltima geração, utilizado para evitaro deslocamento e o possível compro-metimento das peças do acervo, foiadquirido pelo museu, que vai dar con-tinuidade à parceria com o INT”, dizJorge Lopes, adiantando que as insti-tuições pretendem organizar uma ex-posição com todas as réplicas.

Técnica é aplicada emfetos pela primeira vez

Jorge Lopes aproveitou a experiên-cia que adquiriu com o projeto e ela-borou uma aplicação inédita para aprototipagem rápida, voltada parafetos. A técnica, que permite a ela-

boração de modelos tridimensionaiscapazes de retratar o feto com pre-cisão, da forma exata em que se en-contra no útero materno no momen-to do exame médico, é tema da tesede doutorado do pesquisador noRoyal College of Art, em Londres.Com a rotina dividida entre seu tra-balho no Rio e a pesquisa na capitalbritânica, ele teve a ideia de editar olivro Tecnologias 3D – Paleontologia,Arqueologia, Fetologia (Ed. Revinter),em parceria com um dos nomes depeso da medicina fetal no país,Heron Werner Jr., da Clínica de Di-agnóstico por Imagem (CDPI).

Utilizando imagens captadas pormeio dos exames de ultrassonografiae de ressonância magnética, o méto-do tem grande chance de se popu-larizar entre as grávidas mais curio-sas, que adorariam guardar uma es-cultura em tamanho real do bebê queainda carregam na barriga. “EmLondres, estamos utilizando a técni-ca com algumas pacientes do meuorientador, o professor StuartCampbell, pioneiro no método deultrassonografia em 4D no mundo.Mas esses procedimentos, descritosem minha tese, ainda não chegaramao nível comercial”, diz o designer.“No Reino Unido, eles dão ênfaseao trabalho de mostrar aos paiscomo é o feto. Já no Brasil, o focoda pesquisa é ajudar no estudo damá formação dos fetos. Mas as duasaplicações são científicas”, esclareceJorge, que já patenteou o métodono Instituto Nacional de Proprieda-de Intelectual (INPI).

Pesquisador: Sérgio Alex Kugland deAzevedo, Antonio Brancaglion Jr. eJorge LopesInstituição: Museu Nacional/UFRJ eInstituto Nacional de Tecnologia(INT)

Antonio Brancaglion Jr.: pesquisador assina oprojeto que reconstitui peças de grande valorhistórico do acervo do Museu Nacional

Foto: Museu Nacional/UFRJ

Uso da técnicapermite que réplicassejam utilizadas emintercâmbiocientífico

Em julho de 2009, o ministroda Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, completará

tempo de serviços prestados no pri-meiro escalão do governo que equi-valem a um mandato inteiro naEsplanada dos Ministérios. Ao serconfirmado no cargo depois da ree-leição do presidente Lula, ouviu a pro-messa do chefe de que, a partir dali, aeducação de qualidade seria uma pri-oridade e que, para isso, haveria incen-tivo à pesquisa científica e ao desen-volvimento de novas tecnologias. Nosmeses que se seguiram, Rezende foidiversas vezes ao Palácio do Planaltolembrar ao presidente do compromis-so firmado, que, hoje, afirma, não caiuno vazio: “O grande programa deexpansão das universidades públicas ede criação de novos Institutos de En-sino Tecnológico (Ifets) que está sen-do executado deverá ter um impactoglobal na educação brasileira nos pró-ximos anos”, aposta.

Radicado no Recife no início dosanos 1970, o carioca Rezende teveparticipação importante na criaçãodo Departamento de Física da Uni-versidade Federal de Pernambuco(UFPE). Doutor em Física por umadas mais respeitadas instituições depesquisa do mundo, o MassachusettsInstitute of Technology (MIT), na costaLeste dos Estados Unidos, o minis-tro ocupou cargos de destaque nagestão pública pernambucana, antesde assumir, no início de 2003, a pre-sidência da Financiadora de Estudose Projetos (Finep) – importanteagência de fomento do Ministérioda Ciência e Tecnologia (MCT) des-tinada a financiar a inovação e a pes-quisa científica e tecnológica emempresas, universidades, centros depesquisa e outras instituições públi-cas ou privadas.

Foi em julho de 2005 que ele trocouo Rio – onde fica a sede da Finep –por Brasília, ao assumir a pasta deCiência e Tecnologia. Membro daAcademia Brasileira de Ciências

(ABC), Rezende, empenhado emconsolidar o trabalho que vinha sen-do feito por seus antecessores nocargo, pode ter conseguido o quemuitos, antes dele, tentaram sem su-cesso: envolver a sociedade e a co-munidade científica em ação capazde tornar os projetos para a área deC&T uma ‘política de Estado’ e nãomais apenas a ‘política de um go-verno’. “Não podemos perder devista a grande conquista, embora tar-dia, do reconhecimento de que C&Tsão, a rigor, uma questão de Estado,que transcende os governos, preci-samente porque estão no cerne dadinâmica da vida civilizada”, diz.

Confira a íntegra da entrevista:

Em 2008, o CNPq lançou o Progra-ma Institutos Nacionais de Ciênciae Tecnologia (INCT) com o maiorvolume de recursos da história doPaís, que resultou na criação demais de uma centena de novos ins-titutos de pesquisa. Só no Rio, elessão 19. Qual o significado dessa ini-ciativa para a ciência e tecnologiabrasileira?

Sergio Rezende: “O desafio é criar condições para que osetor produtivo possa absorver parte do contingente altamentequalificado de pesquisadores no qual o País investiu fortemente”

Paul Jürgens

Fotos: Ricardo Lemos

ENTREVISTA

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O Programa Institutos Nacionais deCiência e Tecnologia é parte integran-te de uma metodologia de consoli-dação do Sistema de Ciência,Tecnologia e Inovação (C,T&I) denosso País, a qual vem sendo desen-volvida por meio do Plano de Açãoem Ciência, Tecnologia e Inovaçãopara o Desenvolvimento Nacional(PACTI 2007–2010). Esse Programaé considerado uma das mais impor-tantes iniciativas das últimas décadas.Em primeiro lugar, pela articulaçãode parceria com a Coordenação deAperfeiçoamento de Pessoal de Ní-vel Superior (Capes/MEC), bemcomo as fundações de amparo àpesquisa, onde a Faperj foi uma dasprimeiras a aderir a este Programainvestindo R$ 37,4 milhões. Tambémfazem parte dessa parceria o Minis-tério da Saúde, que inventiu o equi-valente a R$ 17,5 milhões, o BancoNacional de Desenvolvimento Eco-nômico e Social (BNDES), contri-buindo com R$ 24 milhões, e aPetrobrás, com aproximadamenteR$ 21 milhões para projetos na áreade energia.O programa possui me-tas abrangentes e estimula amobilização e agregação em redesdos melhores grupos de pesquisadistribuídos em todo o País, que atu-am em áreas da fronteira da ciênciae em áreas estratégicas para o desen-volvimento do Brasil. O INCT fa-vorece a criação de um ambientepropício tanto à pesquisa científicae tecnológica de ponta como às suasaplicações. Além disso, os INCTsirão proporcionar programas des-tinados a melhorar o ensino de ci-ências e a difusão da ciência para ocidadão comum. Com o programa,foram implementados 123 institu-tos nacionais, totalizando recursosde R$ 581 milhões. Trata-se de uminstrumento que busca a excelêncianas atividades em ciência e tecnologiaem âmbito internacional, uma vigo-rosa integração do sistema de C&Tcom o sistema empresarial, a melhoria

da educação científica e a participa-ção mais equilibrada das diferentesregiões do País no esforço produti-vo com base no conhecimento.

A China, que integra, ao lado do Bra-sil, a lista de países chamados emer-gentes, acaba de ser tornar a tercei-ra maior economia do mundo, postoalcançado em período relativamentecurto de tempo, mas de crescimentoespetacular. Os investimentos emC&T certamente contribuíram paragarantir a sua ascensão. Temos liçõesa tirar da experiência chinesa?

O fenômeno econômico chinês éimpressionante. Grande parte dessesucesso decorre da determinação dogoverno em investir em P&D,focando seus esforços na criação depoderosa indústria de bens destina-dos à exportação. Os dispêndios chi-neses em P&D que eram muito mo-destos há duas décadas, em relaçãoao PIB, foram de 1,43% em 2007.No entanto, não creio que possamoscomparar a China ao Brasil. As dife-renças culturais, econômicas e políti-cas são imensas. Há várias razões parao sucesso econômico chinês e o mun-do inteiro está observando e analisan-do seu comportamento. Certamente,temos lições a tirar de seus erros eacertos. Mas o principal é a determi-nação e a concentração de esforçosque mobilizam todos as eferas deEstado e do governo federal, bemcomo amplos setores da sociedade.O Brasil construiu, de modo notável,

uma estrutura industrial complexa ediversificada, importante base para seudesenvolvimento. À semelhança dealguns países emergentes, o Brasil de-senvolveu um sistema robusto deC&T. No entanto, nosso grande de-safio é o desenvolvimento de tecno-logias compatíveis com as necessida-des internas e as relativas às condiçõesde competitividade externa do País.

Um dos principais obstáculos ao cres-cimento e ao desenvolvimento doPaís é a deficiência na educação bá-sica e na evasão escolar. É possívelfazer avançar a pesquisa científica etecnológica em um País que investepouco nos estágios iniciais de sua for-mação educacional? O que o MCTpode fazer em parceria com o MECe as FAPs para melhorar a educaçãobásica?

Certamente, é essencial para o avan-ço científico e tecnológico do País amelhoria da educação básica e, emespecial, do ensino das ciências e damatemática. Tem havido um gran-de esforço do governo Lula parasuperar as deficiências da educaçãoem todos os graus. O Plano de De-senvolvimento da Educação é umdocumento inovador e compreen-de diversas ações decisivas para queo Brasil possa alcançar, em 2021, ín-dices de educação comparáveis aosdos países desenvolvidos. É impor-tante que se perceba que devemosatuar fortemente na educação bási-ca, sempre em articulação com esta-

dos e municípios, mas que não sepode fazer isso em detrimento deoutros graus da educação. O grandeprograma de expansão das univer-sidades públicas e de criação de no-vos Institutos de Ensino Tecnológico(Ifets) que está sendo executado de-verá ter um impacto global na edu-cação brasileira nos próximos anos.A formação e a capacitação de pro-fessores para a educação básica, emnúmero suficiente e com qualidade,é um grande desafio na educaçãobrasileira. Em janeiro último, apósconsultas nacionais articuladas peloConselho Técnico Científico da Edu-cação Básica da Capes, do qual oMCT faz parte, foi assinado o De-creto nº 6.755 que institui a PolíticaNacional de Formação de Profissi-onais do Magistério da EducaçãoBásica. O MCT tem trabalhado deforma articulada com o MEC emvárias iniciativas para a melhoria daeducação e da divulgação da ciên-cia. Temos no PACTI, dentro da IVPrioridade Estratégica, a linha deação “Popularização da C,T&I emelhoria do ensino de ciências”. Te-mos promovido, desde 2005, aOlimpíada Brasileira de Matemáticadas Escolas Públicas (OBMEP), exe-cutada pelo Instituto de MatemáticaPura e Aplicada (Impa) e pela Soci-edade Brasileira de Matemática(SBM). Além disso, desenvolvemos,também em conjunto com o MEC,o Portal do Professor e fizemos umagrande chamada pública para as ins-tituições brasileiras desenvolveremconteúdos digitais educacionais. OMCT tem uma atuação grande noestímulo à criação e ao desenvolvi-mento de espaços de ensino nãoformal, como museus e centros deC&T, planetários, veículos de ciên-cia móvel etc., que exercem um pa-pel importante no apoio e no estí-mulo à renovação do ensino nas es-colas. Tais ações têm sido feitas, emgeral, via editais pelo CNPq. Um fatoimportante é que várias FAPs, como

a FAPERJ, Fapeam, Fapesp,Fapemig e outras, têm lançado pro-gramas e editais para divulgação ci-entífica e de apoio à melhoria daeducação. Um programa de êxito, eque conta também com a participa-ção dos órgãos estaduais, é o debolsas de Iniciação Científica Júniordo CNPq, que já beneficia milharesde estudantes do ensino médio. Ou-tra atividade que se reflete na cons-trução de uma cultura científica noPaís, e que estimula a aproximaçãoda comunidade científica etecnológica com o público escolar ecom a população em geral, é a Se-mana Nacional de Ciência e Tec-nologia, que em 2008, teve a sua 5a

edição com cerca de 11 mil ativida-des, em 450 municípios. A parceriado MCT com as secretarias estadu-ais e municipais de C&T e com asFAPs é um elemento essencial parauma maior descentralização e efici-ência de todas essas ações.

Em meados de 2008, o senhor disseque assistíamos à consolidação do sis-tema de C&T no País e que acredi-tava que não veríamos mais escas-sez de recursos de outros tempospara a pesquisa porque a sociedadebrasileira teria, ao longo dos próxi-mos anos, tomado consciência daimportância de se manter o fomentoa esse setor. Será que diante de umanova crise econômica, como assisti-mos agora, não veremos, mais umavez, a pasta de C&T ser uma dasprimeiras a entrar em contin-genciamento de verbas?

Em primeiro lugar, não se deve per-der de vista a grande conquista, em-bora tardia, do reconhecimento deque ciência e tecnologia são, a rigor,uma questão de Estado, que trans-cende os governos, precisamenteporque estão no cerne da dinâmicada vida civilizada. Na verdade, elasfazem parte dos instrumentos desuperação em situações de crise. Adeterminação do presidente Lula éde que devemos manter os mesmospatamares de investimentos nestaárea tão estratégica para o País como

a Ciência, Tecnologia e Inovação(C,T&I). Assim, o governo federal,sensível a essas necessidades, deverárecompor o orçamento do MCT enossa expectativa é de que supere osR$ 5 bilhões. Na primeira reuniãoministerial do ano, no dia 2 de feve-reiro, foi reafirmada a prioridadepara a área de C,T&I. Não haverácorte de bolsas de estudos de qual-quer categoria, nem do CNPq nemda Capes, conforme chegou a sercogitado. Poderá haver algumas difi-culdades para repormos determina-dos itens, mas os grandes programas,como Pronex e Institutos Nacionais,estão garantidos. Ao final, nosso or-çamento será superior ao de 2008, cujaexecução foi também muito boa.

O que poderia ser feito para dar umpouco mais de relevância à divulga-ção científica, à melhoria do ensinode ciências e às atividades de C&Tque contribuem para o desenvolvi-mento social?

Esta é uma área em que temos exce-lentes resultados a apresentar. Refiro-me particularmente a dois grandeseventos neste campo, conforme men-cionei anteriormente: a OlimpíadaBrasileira de Matemática das EscolasPúblicas-OBMEP e a Semana Naci-onal de Ciência e Tecnologia. AOBMEP estimula o estudo da mate-mática e contribui para a melhoria daqualidade da educação básica no sis-tema público de ensino do País. Nasua última edição, em 2008, partici-param 18,3 milhões de alunos matri-culados, em mais de 40 mil escolaspúblicas, de 5.493 municípios brasi-leiros. É um imenso contingente deestudantes envolvidos, corresponden-te a 10% da população brasileira. ASemana Nacional de Ciência eTecnologia é outro evento de grandepoder de mobilização, e a cada edi-ção ganha dimensão maior. Jáestamos preparando a edição desteano. Será em outubro com o tema“Ciência no Brasil”. Pesquisa reali-zada pelo MCT constatou que 85%

Rezende: atuação do ministro tem garantido espaço à C&T na agenda do governo federal

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O futuro da medicina estámais próximo. Novastecnologias de informação

e comunicação a serviço da ciênciajá permitem que médicos, pacientese pesquisadores rompam a barreirado espaço, revolucionando as práti-cas e o ensino em saúde. Atendimen-to médico a distância para pacientesem regiões remotas – sem acesso atratamentos adequados, diagnósticosprecisos e informações sobre a

prevenção das doenças – e telecon-ferências em tempo real para a for-mação dos profissionais da saúde,que trocam informações mesmoestando em locais diferentes, são al-gumas das ferramentas e serviçosutilizados pelos profissionais da saú-de com a expansão da telemedicinae da telessaúde no País.

Vamos logo esclarecer que o quediferencia a primeira da segunda sãoos campos do conhecimento emsaúde difundidos. A telemedicina éa aplicação específica das tecnologias

de informação e comunicação paraoferecer serviços de medicina, espe-cialmente nos casos em que a dis-tância é o fator crítico. “Ela envolvetoda a tramitação de dados, som eimagem que tenha a ver com ensinoa distância, pesquisa colaborativa eassistência remota na área médica”,explica o coordenador nacional daRede Universitária de Telemedicina(Rute), Luiz Ary Messina. “Já natelessaúde, o intercâmbio de infor-mações válidas para o diagnóstico,prevenção e tratamento de doenças,

Um caminho mais curtoentre o paciente e a curaAliadas às novas tecnologias, telemedicina etelessaúde revolucionam o atendimento médico

Débora Motta

Transmissão internacional: profissionais da Santa Casa de Porto Alegre compartilham ao vivo técnica de cirurgia não invasiva com médicos do Chile

Foto: Divulgação/RUTE

MEDICINA

dos brasileiros desconhecem cientis-tas e instituições de pesquisa impor-tantes no Brasil e a escolha do temacontribuirá para reverter esse quadro.Citei dois eventos de grande visibili-dade, mas há muitas outras ações naIV Prioridade Estratégica do PACTI,voltadas à melhoria do ensino de ci-ências e ao desenvolvimento social,como o caso dos programas de in-clusão digital e dos Centros Voca-cionais Tecnológicos.

O estado do Rio de Janeiro é privile-giado pela existência de vários insti-tutos vinculados diretamente ao MCT,tais como CBPF, LNCC, INT, ON,Mast etc., todos com competência in-ternacionalmente reconhecida, emsuas áreas de pesquisa. Que tipo deparceria a FAPERJ poderia desenvol-ver com essas instituições?

O Rio de Janeiro ocupa, sem dúvida,uma posição privilegiada pela presen-ça de instituições ligadas ao MCT.Além das instituições de pesquisa ci-entífica e tecnológica, localiza-se no Riotambém a Finep, a principal agênciade fomento à inovação também liga-da à pasta de Ciência e Tecnologia. ORio conta ainda com universidadespúblicas e privadas de excelência eoutras instituições de ensino e pesqui-sa de reconhecida qualidade, tais como:IME, Inmetro, Cenps e Cepel. AFAPERJ figura entre as mais atuantesfundações de amparo à pesquisa doPaís. Vem alcançando, nos últimosanos, importância crescente, aumen-tando o número de projetos apoia-dos e o montante de recursos. Comodisse anteriormente, participa ativa-mente dos Institutos Nacionais de Ci-ência e Tecnologia (INCT), bem comodo Programa de Apoio a Núcleos deExcelência (Pronex), que foi criado em1996, mas desde 2003 vem contandocom o apoio das FAPs. De nossa par-te, temos procurado fortalecer as par-cerias e hoje nossos projetos deman-dam essas contrapartidas estaduais.Sempre haverá apoio para boas idéi-as e parcerias.

Como o MCT tem analisado a parce-

ria de suas principais agências de fo-mento (Finep e CNPq) com as FAPs?Que novas parcerias seriam possíveis?

Uma ação importante realizada em2008 foi a instalação do Comitê-Executivo do Acordo de Coopera-ção entre o MCT, o Conselho Naci-onal de Secretários Estaduais paraAssuntos de C,T&I (Consecti) e oConselho Nacional das Fundaçõesde Amparo à Pesquisa (Confap), oqual conta, também, com represen-tantes da Finep e do CNPq. Essasparcerias visam à consolidaçãoinstitucional do Sistema Nacional deC,T&I, aperfeiçoando os instrumen-tos de gestão e de fomento, bemcomo o encaminhamento de deman-das regionais e nacionais. Informoque seis estados promulgaram suas

Leis de Inovação e outros nove jáelaboraram uma minuta de lei. Es-clarecendo que o desafio de se esta-belecer no País uma cultura de ino-vação está na constatação de que aprodução de conhecimento e a ino-vação tecnológica passaram a ditarcrescentemente as políticas de desen-volvimento dos países. Esse foi umavanço considerável e a participaçãodos estados tem sido de grande im-portância nos programas do MCT.No caso do Pronex, por exemplo,seus recursos foram triplicados em2008, com aproximadamente R$ 230milhões, devido ao crescimento doapoio das FAPs. Entretanto, há sem-pre espaço para parcerias, e o MCTe suas agências oferecem um lequeenorme de possibilidades e estãoabertos a analisar idéias inovadoras.É assim que atuamos no PACTI,mesmo porque os recursos são sem-pre escassos para todos os compro-

missos e, então, é preciso juntá-lospara não haver desperdício.

Ao apresentar o Plano de Ação 2007-2010-Ciência, Tecnologia e Inovaçãopara o Desenvolvimento Nacional,foi dito que, mesmo com as dificul-dades históricas, o Brasil construiu umsignificativo sistema de C&T, que hojeconta com mais de 80 mil pesquisa-dores doutores e produz cerca de1,9% dos artigos científicos publica-dos em revistas internacionais. Quaisas perspectivas para o futuro da pes-quisa no Brasil?

Uma correção: já superamos os 80mil pesquisadores doutores: hoje são107 mil ativos na pesquisa científica,além de 170 mil mestres e mais de80 mil estudantes de pós-graduaçãocadastrados na Plataforma Lattes,não esquecendo os engenheiros querealizam grandes projetos de relevân-cia para o País. Como se vê, o co-nhecimento avançou na academia,mas a capacidade de produzir ino-vações por parte das empresas nãoprogrediu na mesma proporção. Amaioria dos pesquisadores está nasuniversidades. O desafio agora é criarcondições para que o setor produti-vo possa absorver parte desse con-tingente altamente qualificado e noqual o País investiu fortemente. Comesse objetivo, nos últimos anos,criou-se um arcabouço legal paramodernizar e desburocratizar a re-lação entre as instituições públicas eo setor produtivo. Refiro-me emespecial à Lei da Inovação, à Lei doBem e à Lei da Informática. É umconjunto de leis destinadas a estimu-lar as atividades de pesquisa, desen-volvimento e inovação nas empresase favorecer a cooperação entre uni-versidade e empresa. Portanto, ocor-reu um avanço significativo no mar-co regulatório brasileiro, criando umambiente favorável aos investimentosem C,T&I. Em minha opinião, asperspectivas da pesquisa no Brasil sãomuito boas porque estão sendoconstruídas em bases sólidas.

“É essencial para oavanço da C&T noPaís a melhoria daeducação básica”

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por meio das novas tecnologias,abrange todas as áreas da saúde,como enfermagem, fisioterapia, far-mácia e odontologia, além da medi-cina”, acrescenta.

A origem da telemedicina confun-de-se com o projeto de exploraçãoespacial dos Estados Unidos, naMissão Mercury. Ela surgiu na déca-da de 1960, a partir das primeirasexperiências da Agência EspacialNorte-Americana (Nasa) com atelemetria fisiológica, isto é, o enviode dados de monitoração da saúdedos astronautas em órbita. “Nessaépoca, a telemedicina era praticadaà medida que os sinais vitais dos as-tronautas eram captados de satélitesenviados ao espaço. Era uma for-ma de fazer o diagnóstico a distân-cia”, diz Messina.

Experiências desse tipo abriram asportas para a aplicação da telemedicinana saúde, adotada pelo setor civil dediversos países ainda na década de1970. Com a rápida expansão das re-des telemáticas em todo o mundo,como a Internet, e com o desenvolvi-mento acelerado dos sistemas de tele-comunicação digital de alta velocida-de (redes de fibras ópticas) e a quedado preço dos computadores, o de-senvolvimento dos sistemas detelemedicina e telessaúde tornou-seuma tendência mundial.

Aplicações e vantagens

Ao descentralizar o atendimento, es-ses sistemas possibilitam um novoparadigma na prestação de serviçosem saúde, pautado na interatividade.“Entre as aplicações mais comuns datelemedicina e da telessaúde estão ateleconsultoria entre hospitais e cen-tros de saúde, que buscam outrasinstituições de referência para trocarinformações. Esse intercâmbio re-sulta na leitura de exames a distânciaou em uma segunda opinião médi-ca, além daquela do profissional res-

ponsável pelo paciente, o que tornao atendimento mais rápido, precisoe barato, além de contribuir comdados estatísticos para análise e pla-nejamento”, diz Messina.

Considerando as dimensões conti-nentais do País, uma das grandesvantagens do uso dessas novastecnologias em saúde é a assistênciaprimária às comunidades localizadasem regiões distantes dos grandescentros, onde a falta de profissionaisqualificados e de infraestrutura con-tribuem para o desenvolvimento dasdoenças. Messina cita o exemplo deum caso em que a tecnologia emsaúde contribuiu para superar abarreira do isolamento geográfico dopaciente. “Uma aplicação dissoocorre em postos de saúde indíge-nas no Mato Grosso, inclusive noAlto Xingu. Os médicos locais, apósenviarem imagens de pacientes datribo com doença de pele, recebe-ram orientações a distância sobrecomo proceder no tratamento.”

Outra aplicação é a formação con-tinuada a distância. Nas telecon-ferências, profissionais da saúde dediferentes locais compartilham pes-quisas em rede, estimulando a cons-trução coletiva do conhecimento e adifusão de novos tratamentos e téc-nicas cirúrgicas. “O Brasil já trans-mite cirurgias ao vivo com fins di-

dáticos. A mesma imagem que omédico vê no monitor durante aoperação é transmitida para outrosestados e países. Em 2008, a Rutetransmitiu, em parceria com a RedeClara (Cooperação Latino-America-na de Redes Avançadas), uma cirur-gia de extração de vesícula biliar re-alizada pelo cirurgião Luiz Albertode Carli, na Irmandade Santa Casade Misericórdia de Porto Alegre, queapresentou uma nova técnica cirúr-gica não invasiva, para médicos doMéxico e do Chile”, diz.

Iniciativas fluminenses

A telemedicina e a telessaúde vêmganhando espaço em instituições deensino e pesquisa no Rio. Na Uni-versidade do Estado do Rio de Ja-neiro (Uerj), o projeto Telessaúde parao Rio (Telerrio): uma ferramenta de apoiopara a promoção, educação e diagnósticoem saúde, contemplado pela FAPERJno edital Prioridade Rio, é uma dasprincipais iniciativas do Laboratóriode Telessaúde, coordenado pela ra-diologista Alexandra Monteiro. O la-boratório integra as ações do Nú-cleo de Telessaúde do Estado do Riode Janeiro, no escopo do ProjetoNacional de Telessaúde, do Ministé-rio da Saúde, que tem como objeti-vo implantar no País uma rede paraeducação permanente dos profis-

sionais da área e de teleassistência naatenção primária.

No Telerrio, médicos que compõemas Equipes da Estratégia da Saúde daFamília em municípios do estado en-viam para especialistas da Uerj dúvi-das sobre casos de difícil diagnóstico,nas áreas de radiologia, saúde do ado-lescente e pediatria. “O principalenfoque é o diagnóstico precoce datuberculose pulmonar. A meta é aten-der, por meio dos dois projetos, aos92 municípios fluminenses, até o fimde 2009”, diz a médica.

Durante a teleconsultoria, os profis-sionais de saúde da família dos mu-nicípios preenchem um formulárioeletrônico e enviam dados e imagenspara uma equipe de teleconsultoresespecializados. Equipes de saúde dafamília do interior enviam, por exem-plo, raios-X do pulmão do pacientepara uma segunda opinião. “Normal-mente, nos municípios pequenos, osresultados desses exames levam tem-po e, em alguns casos, não há o pro-fissional especialista. A intenção é queas teleconsultorias tenham respostaem, no máximo, 48 horas, podendoresultar, em médio prazo, na redu-ção dos custos do SUS pela diminui-ção da necessidade de deslocamentodos pacientes”, explica Alexandra.

O laboratório, que tem o apoio daFinanciadora de Estudos e Projetos(Finep) em um projeto de teler-radiologia, também integra a RedeRute, com conexões nacionais e in-ternacionais para pesquisacolaborativa. “As reuniões virtuaissão posteriormente disponibilizadasem uma plataforma para a tele-integração continuada entre todos osprofissionais envolvidos na rede”, diza coordenadora que, em 2006, pre-sidiu o III Congresso Brasileiro deTelemedicina e Telessaúde, evento detemática pioneira no estado.

Na Universidade Federal Fluminense(UFF), a telemedicina chegou com

o projeto Telemeduff, coordenadopelo neurocirurgião Ronaldo Pom-bo, do Hospital Universitário Antô-nio Pedro (Huap), de Niterói. “Emparceria com a Faculdade de Medi-cina e o auxílio da Rute, montamos,em novembro de 2008, estúdiospara a produção de vídeos médicoseducativos e teleconferências”, con-ta. O objetivo é atender aos municí-pios da Região Metropolitana II doRio de Janeiro, que abrange Niteróie sua vizinhança. “A UFF vai prestarteleconsultas em todas as áreas mé-dicas para discutir casos clínicos eoferecer educação continuada, pormeio dos telecursos, para os profis-sionais dos hospitais do SUS (Siste-ma Único de Saúde) localizados emmunicípios como São Gonçalo, RioBonito e Itaboraí. Já entramos em

contato com as secretarias de saúdedessas cidades e estamos fechandoos convênios”, completa.

A Universidade Federal do Estadodo Rio de Janeiro (UniRio) vai ado-tar uma ferramenta tecnológica inu-sitada no seu núcleo de telemedicina,criado em 2008: o programa de re-lacionamentos Second Life (SL). Essesoftware, que simula um mundo vir-tual em 3D, possibilita interagir comjogadores de vários locais em tem-po real, criar seus próprios objetos,negócios e até personalizar o avatarescolhido para representar o joga-dor. Longe de ser um simples jogo,o ambiente SL é disputado por em-presas do mundo real e representaum espaço que pode ser valiosopara a difusão científica. “O SL pro-

picia a comunicação convencionalpela Internet (voz e texto), mas alinguagem tridimensional é maisatrativa para a teleducação”, consi-dera o clínico geral LeonardoFrajhof, chefe do núcleo detelemedicina da UniRio, onde háprojetos em saúde da família,telepatologia e teleotorrino.

Frajhof estabeleceu uma parceriacom o professor Hugo Fuks, dodepartamento de informática daPontifícia Universidade Católica doRio de Janeiro (PUC-Rio), contem-plado pela FAPERJ no edital PensaRio para pesquisa sobre tecnologiaeducacional no SL. Juntos, destina-ram, dentro do ambiente – chama-do de Ilha, no jogo – reservado àPUC-Rio no SL, um espaço para oCentro Virtual de Medicina da Fa-mília do Hospital UniversitárioGaffrée e Guinle (HUGG). “Pro-fissionais de saúde do hospital daTijuca vão prestar consultoria virtu-al no Second Life a uma equipe de saú-de da família de um posto médicoreal, a ser indicado pela SecretariaMunicipal de Saúde do Rio”, adian-ta Leonardo. “Além dos alunos eprofissionais em saúde da UniRio,jovens bolsistas encaminhados pelaCentral Única das Favelas (Cufa) vãoparticipar do projeto como mo-nitores. Assim, a telessaúde e ateleducação vão contribuir para ainclusão social e digital”, ressalta.

A Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ) está interligando emrede suas nove unidades de saúde,com o auxílio da Rute, que forne-ceu equipamentos para a instalaçãodo Laboratório de Telemedicina doHospital Universitário ClementinoFraga Filho (HUCFF), na Ilha doFundão, e para as outras unidadesda UFRJ. A expectativa é que inicia-tivas despontem para a utilizaçãodessa infraestrutura. O coordenadorgeral da Rede de Telemedicina doComplexo Hospitalar da UFRJ,

Teleconsultores da Uerj emitem segunda opinião a distância sobre casos clínicos para equipesde saúde da família que atuam nos municípios do interior do estado do Rio de Janeiro

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Telemedicinapermite assistênciaàs comunidadesisoladas em regiõesremotas do País

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O desenvolvimento da área noBrasil está intimamente relacionado à criação da Rede Uni-

versitária de Telemedicina (Rute), inicia-tiva do Ministério da Ciência e Tecnologia(MCT) coordenada pela Rede Nacionalde Ensino e Pesquisa (RNP). “Antes daRute, só existiam ações isoladas em al-guns estados. Hoje, não se conseguiriafalar de telemedicina e telessaúde no Paísse não existisse a infraestrutura de co-municação oferecida pela Rute para in-terligar os hospitais universitários (HUs)de todas as capitais, que têm à disposi-ção uma conexão de alta velocidade provi-da pela rede Ipê, a Internet nacional aca-dêmica coordenada pela RNP”, avalia ocoordenador da Rute, Luiz Ary Messina.

A Rute também tem como meta criarunidades de telemedicina e telessaúde epromover a integração dos projetos naárea, especialmente por meio dos Gru-pos Especiais de Interesse, nos quais pro-fissionais de saúde das instituições per-tencentes à rede montam uma agendade teleconferências para debater temasespecíficos, realizar diagnósticos e pro-mover aulas a distância. “Temos sessõescolaborativas. Um desses projetos é emteledermatologia, com a Universidade deMiami e a Associação Americana deDermatologia”, diz Messina, destacan-do que a Rute reúne 57 HUs e institui-ções conectadas em todos os estados dafederação, número que vai crescer em2009. “Até o fim do ano, pelo menos mais50 instituições vão aderir à rede.”

Outro projeto que veio somar esforçospara o crescimento desse campo é o

Programa Nacional de Telessaúde, açãodo Ministério da Saúde em parceria comvárias universidades brasileiras. A iniciati-va visa usar a informática e a telecomuni-cação para integrar as equipes de saúde dafamília das diversas regiões do País comos centros universitários de referência, paramelhorar a qualidade dos serviços presta-dos em atenção primária. “O programapiloto, em curso, já implantou nove núcle-os de telessaúde nas universidades de noveestados. Ao todo, eles prestam consultoriaa distância para 900 Unidades Básicas deSaúde distribuídas nos municípios do inte-rior desses estados. São 2.960 equipes desaúde da família contempladas, o que be-neficia cerca de 11 milhões de pessoas”,diz a coordenadora geral do programa, AnaEstela Haddad.

O programa permite que profissionais dasaúde fora dos grandes centros tenham

acesso à capacitação por meio de tele-conferências e de uma segunda opinião adistância de casos clínicos em várias áreas.Os resultados são a melhoria do atendi-mento pelo SUS e a diminuição dos gastosem saúde por meio da qualificação, da re-dução de deslocamentos de pacientes e doaumento de atividades de prevenção àsdoenças. “No Rio Grande do Sul, consta-tamos que 48% dos casos de pacientes quedeveriam ser transferidos para outrosmunicípios, devido à falta de tratamentoadequado no local, foram resolvidos semesse encaminhamento”, destaca.

O trabalho da Rede Rio – backbone deacesso à Internet financiado pela FAPERJ,responsável pela conexão em rede dasprincipais instituições de ensino e pesquisano estado – foi a base utilizada pela Rutee pelo Programa Nacional de Telessaúdepara expandir a conexão fluminense com

Nelson Albuquerque de Souza e Sil-va, chefe do serviço de cardiologiado HUCFF e vice-diretor do Insti-tuto do Coração Edson Saad daUFRJ, cita uma dessas iniciativas:“Desenvolvemos um projeto paradar teleconsultoria a médicos, dequalquer especialidade, que atendampacientes nas unidades de atençãobásica ou nas Upas ou mesmo nasambulâncias do Serviço de Atendi-mento Móvel de Urgência (Samu),visando levar ao tratamento trom-bolítico para pacientes com infartoagudo do miocárdio no primeirolocal de atendimento, seja onde for”.

Esses primeiros locais de atendimen-to precisam ser equipados comeletrocardiograma e dispositivosmóveis (celular e laptops) para que,no caso de uma emergência cardía-ca, a equipe possa transmitir os da-dos para especialistas de plantão doHUCFF ou em outra unidade desaúde onde existam cardiologistas.

O Hospital dos Servidores do Es-tado (HSE) também participa doprojeto. O chefe de serviço no HSEe doutorando em cardiologia na Fa-culdade de Medicina da UFRJ, LuizMaurino, dedica-se ao ProgramaTratamento Trombolítico do InfartoAgudo do Miocárdio na Emergên-cia com Teleconsultoria (Tiet). “Otrombolítico deve ser administradoaos pacientes com infarto o quantoantes, mas nem todos os profis-sionais das unidades primárias deatendimento estão treinados paraisso. É importante acelerar o aten-dimento porque, em casos deinfarto, se esse medicamento foraplicado logo, a mortalidade cai de15% para 6%. Daí a necessidade daconsultoria a distância”, justifica.

O projeto é realizado em parceriacom o Laboratório Nacional deComputação Científica (LNCC),que desenvolve, com apoio de umdos programas de auxílio à pesqui-

sa da FAPERJ, do Ministério da Saú-de e da Secretaria de Estado de Saú-de do Rio de Janeiro, um sistema detelemedicina (AToMS) para a trans-missão dos dados cardiológicos, pormeio de prontuários eletrônicos, dasambulâncias do Samu para o HUCFF.“Temos um protótipo, ainda nãooperacional, do sistema AToMS. Elevem sendo aprimorado em coopera-ção com parceiros médicos do proje-to”, diz o tecnologista Artur Ziviani,do LNCC.

Já a maior instituição de pesquisa emsaúde pública do País, a FundaçãoOswaldo Cruz (Fiocruz), investe nadifusão da telemedicina por meio deseu Canal Saúde, que produz e vei-cula, pela rede NBR, audiovisuais so-bre saúde. “Além de disponibilizarteleconferências em nosso site(www.canal.fiocruz.br) para fins di-dáticos, em parceria com o Progra-ma Nacional de Telessaúde, vamoscriar, ainda em 2009, um programa

destinado exclusivamente ao tema”,diz a coordenadora de novastecnologias do canal, Angélica Silva,lembrando que outro projeto emdebate na área é a transmissão daprogramação de TV interativa viaInternet para os 700 postos do Sis-tema de Proteção da Amazônia(Sipam) espalhados na região ama-zônica. O conteúdo será direcionadoao desenvolvimento sustentável dascomunidades, com ênfase na quali-ficação dos profissionais do SUS.

Para onde vamos?

O desenvolvimento tecnológico e aexpansão de redes integradas deveapressar o surgimento de novas apli-cações da telemedicina e telessaúdeao longo dos próximos anos. Nocampo da computação científica, hápromessas de grandes novidadesnesta primeira metade do séculoXXI. “Ela pode contribuir para oavanço da telemedicina com a mo-

delagem computacional, o proces-samento de imagens e aplicaçõespara a prática de profissionais desaúde, além das redes de computa-dores e comunicação de dados”,explica Ziviani, coordenador doprojeto Rede de Pesquisa em MedicinaAssistida por Computação Científica doRio de Janeiro (MACC-Rio). Contem-plado pela FAPERJ no edital Pes-quisa para o SUS – Gestão Comparti-lhada em Saúde, o projeto propõeuma rede de pesquisa mul-tidisciplinar em telemedicina, envol-vendo 13 instituições fluminenses.

“Uma das propostas é desenvolvermodelos e simuladores em 3D deórgãos humanos, que deverão serempregados no treinamento e no pla-nejamento cirúrgico”, explica.

De acordo com ele, essa tecnologiapode ser uma ferramenta valiosa paraa teleconsultoria. “Diagnósticos au-xiliados por computador não neces-sariamente envolvem teleconsultoria,mas devem ser mais utilizados no fu-turo com esse objetivo”, diz Ziviani,citando o trabalho de reconstituiçãovirtual do sistema cardiovascular hu-mano em desenvolvimento no La-boratório de Modelagem em Hemo-dinâmica (HeMoLab), do LNCC. “Asimulação tridimensional do sistemacardiovascular em uma determinadaseção do aparelho circulatório per-mitirá ao médico prever asconsequências da aplicação de umstent (prótese metálica colocada no in-terior de artérias coronarianas en-tupidas por gordura)”, conclui.

Programas: integração em rede

A partir do alto: Luiz Ary Messina, da Rute;Ana Estela Haddad, do Programa Nacionalde Telessaúde; e Luís Felipe Moraes, da RedeRio de Computadores/Faperj

o resto do País. Com o projeto DWDM(Dense Wavelength Division Multiplexing),será possível expandir a taxa de trans-missão de dados no backbone da Rede Riopara até 1,96 Tera bits por segundo (1,96trilhões de bits por segundo).

A Rede Rio participa da implementaçãodo projeto Redes Comunitárias de Ensinoe Pesquisa (Redecomep), iniciativa da RNPnas 27 capitais do País, com financiamen-to do MCT. O Redecomep-Rio, que pre-vê a instalação de cerca de 240 km de ca-bos óticos no Rio até o fim de 2009, devegarantir acessos diretos, por meio de fi-bras óticas próprias, para mais de 60 pon-tos em instituições já conectadas à RedeRio. “Quando a Rede Rio foi inaugurada,a velocidade do seu backbone era de 64 milbits por segundo. Hoje, é de 1 bilhão de bitspor segundo”, comemora o coordenadorda Rede Rio, Luís Felipe Moraes.

Computação científica: reconstituição deartérias permitirá planejamento decirurgias vasculares e teleconsultoria

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O estado do Rio de Janeiroacaba de ganhar 20 centrosde excelência em pesquisa,

coordenados por pesquisadores vin-culados a instituições de ensino epesquisa sediadas em territóriofluminense. A iniciativa é resultadode um ambicioso projeto conduzi-do pelo governo federal, em parce-ria com alguns estados, parte do pro-grama Institutos Nacionais de Ciência eTecnologia (INCT). Capitaneado peloConselho Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico(CNPq), o programa, que prevê acriação de um total de 123 institutosespalhados pelas diversas regiões doPaís, destina o maior volume de re-cursos já reunidos na história à pes-quisa brasileira, cerca de R$ 600 mi-lhões. Os investimentos garantirãonovo e decisivo impulso ao SistemaNacional de Ciência e Tecnologia.

O programa, concebido pelo CNPq,uma das agências de fomento doMinistério da Ciência e Tecnologia(MCT), contou com inúmeras e im-portantes parcerias. A lista inclui oMinistério da Educação (MEC), pormeio da Coordenação de Aperfei-çoamento de Pessoal de Nível Su-perior (Capes); Ministério da Saúde(MS), por meio da Secretaria de Ci-ência, Tecnologia e Insumos Estra-

tégicos; Petrobras; Banco Nacionalde Desenvolvimento Econômico eSocial (BNDES); e diversas funda-ções estaduais de amparo à pesquisa– dos estados do Rio de Janeiro, SãoPaulo, Minas Gerais, Amazonas, Paráe Santa Catarina.

No escopo da proposta do INCT,que substitui o programa dos Insti-tutos do Milênio, está a ampliaçãoda produção das redes a partir deuma maior participação das funda-ções estaduais de amparo à pesquisa.“Os institutos são resultado de umamplo acordo no que diz respeito àciência e tecnologia. É o primeiroprograma que tem uma contribui-ção e participação tão ampla, não sódaqueles que o discutiram, mas da-queles que estão injetando recursos”,comemora o presidente do CNPq,Marco Antonio Zago.

O anúncio dos projetos contempla-dos pelo programa ocorreu durantecerimônia realizada no fim de novem-bro, na sede do CNPq, em Brasília.Na ocasião, o ministro da Ciência eTecnologia, Sergio Rezende, disse queo programa é proporcional à dimen-são da comunidade científica etecnológica do País, com seus maisde 70 mil pesquisadores com douto-rado. “Os institutos nacionais vão dartranquilidade para os pesquisadorespoderem trabalhar na fronteira doconhecimento, dedicarem seus esfor-

ços para aplicação da ciência etecnologia e não continuarem apenascorrendo atrás de recursos”, desta-cou Rezende. O desempenho de cadaINCT será acompanhado peloCNPq e pelo Comitê de Coordena-ção, integrado pelas entidades parcei-ras e por representantes da comuni-dade científica e de empresas. A ava-liação do programa será de respon-sabilidade do Centro de Gestão eEstudos Estratégicos (CGEE).

São 16 os estados do País que irãosediar os centros de pesquisa. O Su-deste foi a região que recebeu omaior número de institutos: 77, comum aporte de cerca de R$ 320 mi-lhões. Em seguida, vem o Nordes-te, com 19 institutos. O Sul apareceem terceiro lugar, com 15 novas se-des. Já o Nordeste será sede de noveinstitutos, enquanto o Centro-Oesteirá ganhar quatro.

À lista inicial de 101 INCTs, anunci-ada no final de novembro de 2008,foram acrescidos, no mês de feve-reiro, 22 novos institutos. Entre aspropostas contempladas estão pro-jetos em áreas consideradas estraté-gicas pelo Plano de Ação em Ciên-cia, Tecnologia e Inovação (PACT&I

dos, espelham a pujança da ciência emnosso estado. Ela deverá ser aindamaior daqui a três anos, quando osinstitutos serão reavaliados, e mais ain-da daqui a cinco anos, quando encer-ra-se a vigência daqueles com ótimodesempenho”, avalia.

Responsável pela coordenação doINCT que leva o título de Observató-rio das Metrópoles, o pesquisador LuizCésar de Queiroz Ribeiro afirma quea inclusão do projeto que coordenapermitirá manter o Rio de Janeirocomo líder da rede dos institutosmais bem estruturados do País noque diz respeito aos estudos urba-nos. “Por ser uma rede nacional, queenvolve equipes trabalhando de ma-neira comparativa sobre as principaismetrópoles do País, ele traz para oRio de Janeiro conhecimentos quemuito poderão nos ajudar na buscade soluções que enfrentem os pro-blemas que ameaçam deixar a me-trópole fluminense à margem doterritório na economia dinâmica emformação no Brasil”, analisa. Paraexemplificar essa ameaça, ele lembraque o estado ocupa a segunda posi-ção na hierarquia metropolitana, con-centrando 6,4% da população na-cional, 9,7%% da renda, 10,2% dacapacidade tecnológica, mas comapenas 5,8% do VTI (Valor da Trans-formação Industrial) das empresasindustriais exportadoras e inovadoras.

Pesquisa fluminenseterá 20 novos centrosde produção de C&T

Programa do CNPq destina omaior volume de recursos járeunidos na história do País

Por Ascom Faperj

– 2007-2010), como biotecnologia;nanotecnologia; tecnologias da infor-mação e comunicação; saúde;biocombustíveis; energia elétrica; hi-drogênio e fontes renováveis de ener-gia; petróleo, gás e carvão mineral;agronegócio, biodiversidade e recur-sos naturais; Amazônia, Semi-árido;mudanças climáticas; programa es-pacial; programa nuclear; segurançapública; educação; mar e Antártica; einclusão social.

Os novos institutos fluminenses vãoreceber um investimento de R$ 74milhões, ao longo do próximotriênio, o que coloca o estado emsegundo lugar na lista daqueles queirão receber recursos desse progra-ma. Desses, R$ 37 milhões serãoaportados pela FAPERJ e R$ 37 mi-lhões pelo CNPq e MS. Os recursosdisponibilizados também incluem bol-sas que serão concedidas pela Capes.

As instituições do Rio de Janeiro apre-sentaram 39 propostas ao edital doINCT, que foram analisadas por umcomitê internacional, composto porpesquisadores especializados em to-das as áreas de conhecimento. Os pro-jetos contemplados começam a serimplementados já em 2009, e terão a

duração de três anos, podendo che-gar a cinco, de acordo com o seu de-senvolvimento. Além da pesquisa, osinstitutos prevêem o desenvolvimen-to de recursos humanos e de progra-mas que contribuam para a melhoriado ensino de ciências, interface comempresas e a transferência de conhe-cimento para a sociedade.

Para o presidente da Academia Bra-sileira de Ciências, Jacob Palis, que co-ordena um dos projetos contempla-dos no programa, o Instituto Naci-onal de Matemática, a proposta re-presenta um novo marco para oavanço da C,T&I do estado do Riode Janeiro e também de todo o Bra-sil. “Por meio de uma notável enge-nharia financeira e estrutural, osINCTs contemplam os melhores gru-pos de pesquisadores atuando emredes científicas em áreas de pesqui-sa e desenvolvimento de primeiraimportância para o País, em interaçãocom o setor produtivo”, diz o diri-gente. “No caso do Rio de Janeiro,os INCTs, com temas bastante varia-

FOMENTO

País terá 123 centros de pesquisa: nanotecnologia está entre as áreas contempladas

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Jacob Palis, presidente da AcademiaBrasileira de Ciências, sobre os INCTs:

“Notável engenharia financeira e estrutural”

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Decidido a transformar oRio de Janeiro na capital daCiência e Tecnologia, o pre-

feito Eduardo Paes anunciou, poucoantes de sua posse, que a cidade pas-saria a contar com uma secretaria es-pecial para assuntos de C&T. Para essaambiciosa tarefa, escolheu RubensAndrade, empossado em janeiro coma missão de atrair recursos para a ci-dade e priorizar a implantação de pro-jetos de inclusão digital. Formado emFilosofia e professor da rede públicamunicipal, o secretário já anunciou quepretende inserir a ciência, tecnologiae inovação no debate das políticas pú-blicas municipais, especialmente nasáreas de educação, saúde, assistênciasocial, trabalho e renda, meio ambi-ente e segurança.

“O Rio de Janeiro é reconhecido, na-cional e internacionalmente, pela ca-racterística de possuir uma numero-sa e eminente comunidade científicae tecnológica”, ressalta Andrade. “Va-mos trabalhar pela constituição deum fundo municipal que viabilize,com agilidade e transparência admi-nistrativa, o financiamento de proje-tos no âmbito da ciência e tec-nologia”, adianta. De acordo como secretário, a criação do fundo pos-sibilitará, a exemplo do que fazemas fundações estaduais de amparo àpesquisa, a dinamização dos proje-tos de interesse da cidade, além daconsolidação de um sistema públi-co de C&T no município. “A Se-cretaria Especial de Ciência e Tecno-logia vem com a proposta de trans-formar o Rio de Janeiro na capitalda Ciência e Tecnologia”, afirma.

Os projetos de inclusão digital, quedevem contemplar bairros com ca-rência de lazer e informação, prome-tem ocupar parte importante daagenda de trabalho do secretário.“Com o lançamento do projeto Ca-rioca Digital, esperamos propiciar à so-ciedade um espaço público de de-mocratização do saber, contribuin-do para a diminuição da desigualda-de social e, ao mesmo tempo, fazen-do com que o acesso ao conheci-mento da informática e suas possibi-lidades não sejam mais restritos adeterminadas classes”, defendeAndrade.

Outra iniciativa em estudos pela pre-feitura é a proposta de reduzir o Im-posto sobre Serviço (ISS) cobradoao setor de Tecnologia da Informa-

A C&T chega ao municípioPrefeitura ganha secretaria especial voltadapara ações na área de Ciência e Tecnologia

Rubens Andrade: pela inserção da ciência e tecnologia no debate de políticas públicas

Foto: Rachel Barbosa

“A metrópole fluminense do pontode vista de uma expansão em longoprazo, parece ser incapaz de capturarespacialmente os ganhos do progres-so tecnológico por ela gerados inter-namente”, diz Ribeiro. “Na raiz destaquestão, estão as consequências dacombinação e do acúmulo de pro-blemas sociais, e a inexistência de insti-tuições que dotem a nossa metrópolede capacidade de governabilidade.Conhecer o que está ocorrendo emoutras metrópoles brasileiras, e mes-mo fora do País, é de vital importân-cia para o enfrentamento dos desafi-os atuais que ameaçam o nosso futu-ro”, afirma o pesquisador.

Doutora em física, professora e pes-quisadora da Pontifícia Universida-de Católica (PUC-Rio), PatríciaLustoza de Souza lidera os trabalhosrealizados pelo Instituto Nacional deNanodispositivos Semicondutores. Elaacredita que no caso da pesquisa emáreas tecnológicas, para se mantercompetitivo internacionalmente epoder inovar, há necessidade de oPaís realizar investimentos de gran-de porte, como pretende fazer oMCT em parceria com as FAPs. “Osprogramas que distribuem recursosem menor volume têm seu papel,mas não permitem a compra deequipamentos de tecnologia maisavançada. A área de nanotecnologia,objeto de pesquisa do INCT quecoordeno, lida com objetos em es-cala muito pequena e, portanto, re-

quer equipamentos sofisticadís-simos”, explica. De acordo comPatrícia, só com programas que in-vistam “pesada e continuamente”,como pretende o INCT, será possí-vel se destacar no cenário internaci-onal e eventualmente inserir no mer-cado produtos inovadores por meioda criação de pequenas empresas apartir dos centros de pesquisa. “Oprograma é oportuno porque ou-tros países estão também tentandoimplementar programas semelhan-tes. Temos que correr”, adverte. “Nocaso particular do Rio de Janeiro,iniciativas como essa permitem ain-da atrair e formar pessoal qualifica-do, que falta no estado, de forma aimpulsionar as áreas de basetecnológica”, defende a pesquisadora.

À frente do Instituto Nacional de Óleo eGás – Jazidas não Convencionais, con-templado pelo programa na listaadicional de fevereiro, o pesquisadorRené Rodrigues, professor da Uni-versidade do Estado do Rio de Ja-neiro (Uerj), acredita que a inclusãodo instituto que coordena permitiráagregar um grupo multidisciplinar decientistas, não só do estado do Rio,mas também de outros estados, vi-sando ao ensino, à pesquisa e à divul-gação em petróleo e gás relacionadosàs áreas de exploração, produção, re-fino, meio ambiente e regulação. “OINCT de Óleo e Gás consolida osesforços de pesquisa no estado quemais produz petróleo e gás no Bra-

sil”, diz. “A iniciativa dá sequência àimplementação dos estudos em Geo-logia de Petróleo na Uerj, comple-mentando os laboratórios já implan-tados com apoio da FAPERJ e deoutras instituições/agências de fomen-to à pesquisa”, completa.

O diretor-presidente da FAPERJ,Ruy Garcia Marques, vê com gran-de entusiasmo a aprovação de 20INCTs para o estado do Rio de Ja-neiro. “É indiscutível a posição dedestaque que o estado vem tendo naprodução científica e tecnológicanacional. A FAPERJ vai continuarinvestindo fortemente na recupera-ção da infraestrutura para pesquisaem nossas instituições, de modo quepossamos aumentar substancialmen-te essa nossa participação nos pró-ximos cinco anos”.

Para Marques, o programa será fun-damental para ajudar a difundir apesquisa entre a população. “É es-sencial lembrarmos que os institutoslevarão em conta característicascomo apoio à pesquisa, formaçãode recursos humanos, integração deuniversidades e de centros de pes-quisa com empresas inovadoras, nasáreas do Sistema Brasileiro deTecnologia (Sibratec) e, principal-mente, a transferência desse conhe-cimento para a sociedade. Só assimpoderemos contribuir para a dimi-nuição das enormes desigualdadessociais e regionais que ainda ocor-rem em nosso País”, ressaltou.

GOVERNO

Antártico de Pesquisa Ambientais(UFRJ); Ciência da Web (UFRJ);Biologia Estrutural e Bioimagem(UFRJ); Educação, Desenvolvi-mento Econômico e Inclusão So-cial (FGV-RIO); EntomologiaMolecular (UFRJ); Estudos em Se-gurança Pública e Justiça Criminal(UFF); Fármacos e Medicamentos

(UFRJ); Inovação em Doenças Ne-gligenciadas (FIOCRUZ); Matemá-tica (IMPA); Observatório da Me-trópoles (UFRJ); Óleo e Gás(UERJ); Políticas Públicas, Estraté-gias e Desenvolvimento (UFRJ);Reabilitação do Sistema Encosta-Planice (UFRJ); Reatores NuclearesInovadores (UFRJ); Sistemas Com-

plexos (CBPF); Medicina Assistidapor Computação Científica(LNCC); Espaço Urbano e Gestãoem Segurança Pública (UERJ);Nanodispositivos Semicondutores(PUC-RIO); Controle do Câncer(INCA); Pesquisa Translacional emSaúde e Ambiente na Região Ama-zônica (UFRJ)

Lista dos Institutos contemplados pelo programa no RJ:

ção (TI). De acordo com o secretá-rio, essa medida estratégica aumen-taria a competitividade carioca, cri-ando condições legais para que nostornemos ainda mais atraentes paraos empreendedores nacionais e in-ternacionais, somando pontos aoquesito sustentabilidade de seus pro-jetos. “Vivemos hoje um momentoímpar na história, em que trabalha-mos em conjunto nas esferas fede-ral, estadual e municipal. Dessa for-ma, reúnem-se todos os atributospara que a cidade decole nas maisvariadas direções do crescimento ci-entífico e tecnológico. É hora de ar-ticular, a favor do Rio de Janeiro, oenorme potencial de conhecimentoque concentram as instituições deensino e pesquisa sediadas no muni-cípio”, finaliza.

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Uma nova e promissora eta-pa nas pesquisas com célu-las-tronco promete trazer

muitas novidades no campo da tera-pia celular ao longo dos próximosanos. Com o apoio dos ministériosda Saúde e da Ciência e Tecnologia,o governo federal promete inaugu-rar, até 2011, oito novos laborató-rios destinados às pesquisas com cé-lulas-tronco. As novas instalações

deverão atender às normas exigidaspelas Boas Práticas de Fabricação(BPF) estabelecidas pela AgênciaNacional de Vigilância Sanitária(Anvisa). Com um expressivo nú-mero de pesquisas em andamentoem instituições fluminenses, o esta-do do Rio de Janeiro – contempla-do pela Financiadora de Estudos eProjetos (Finep/MCT) em doisprojetos que já recebem apoio daFAPERJ, nos institutos Nacional deCardiologia (INC) e de Ciências

Biomédicas (ICB/UFRJ) – disputaa liderança desse importante cam-po da ciência com os principais cen-tros de pesquisa do País.

Um dos estudos que garantem avanguarda do estado nas pesquisascom células-tronco é conduzido pelocientista Stevens Rehen, do Progra-ma de Neurociência Básica e Clínicado Instituto de Ciências Biomédicas(ICB), localizado no Centro de Ci-ências da Saúde da Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).Em janeiro, o pesquisador anunciouque sua equipe havia dominado, comalgumas modificações, a técnica ja-ponesa de reprogramar células doorganismo para que elas venham ase tornar pluripotentes, ou, em ou-tras palavras, capazes de se tornartecido de qualquer parte do corpo.A técnica abre novas perspectivaspara o uso de células-tronco emaplicações biotecnológicas e terapêu-ticas no futuro. Dois outros estudos –um deles também no ICB e outro naCoppe (Instituto Luiz Alberto Co-imbra de Pós-graduação e Pesquisa emEngenharia), que também integra aUFRJ – que contam igualmente coma participação de Rehen, prometemimportantes avanços no campo dapesquisa com células-tronco.

As células pluripotentes induzidas, ouiPS (do inglês induced pluripotent stemcells), são em tudo semelhantes àscélulas-tronco embrionárias e pode-rão atuar como tal. Embora siga oprotocolo japonês para produzir asiPS, Rehen introduziu algumas mo-dificações na técnica. Para começar,diferente do método original, queemprega fibroblastos (células dapele), o pesquisador usou células re-nais humanas para fazer a reprogra-mação. E também utilizou o ácidovalproico, reagente que facilita o pro-cesso de reorganização do DNA.“Esses resultados poderiam ter sidoobtidos já em meados de 2008, oque não ocorreu devido a problemasburocráticos para a importação. Al-gumas solicitações para aquisição dereagentes levaram mais de nove me-ses até que o produto chegasse às nos-sas mãos”, lamenta o pesquisador.

A equipe de Rehen realizou parale-lamente a experiência tanto com cé-lulas humanas como com as de ca-mundongos. O processo propria-mente dito foi realizado em etapas,tanto em um caso como no outro.Mantidas em cultura, as células rece-

beram genes embrionários em seuDNA, o que é feito por meio devírus atenuados, produzidos em la-boratório. São eles que carregam osgenes para o interior das células e osinserem em seu genoma nuclear. Umpara cada um dos quatro genes ne-cessários à transformação. Uma vezno núcleo, os genes dão início àreprogramação que faz a célularetornar a seu estado indiferenciadooriginal. Ou seja, semelhante às em-brionárias.

Células reprogramadasajudam a identifcarmedicamentosÉ aí também que reside um dosmaiores desafios à técnica. São ne-cessárias cinco cópias de cada víruspara que ocorra a reprogramação.“Começamos com milhares de cé-lulas, algo em torno de 250 mil paraconseguirmos de 40 a 50 colôniascom características das célulaspluripotentes. Dessas, selecionamosduas linhagens reprogramadas, umahumana e outra de camundongos”,explica o pesquisador.

A médio prazo, a principal aplica-ção das iPS está no auxílio à identifi-cação de medicamentos. “Podemos,por exemplo, reprogramar células dapele de um paciente para em segui-da transformá-las em células do co-ração e empregá-las para identificarnovos medicamentos com potenci-al na recuperação de cardiopatias.Assim, poderíamos avaliar a eficiên-cia específica de certas substânciaspara determinado paciente em umaplaca de cultura. É uma considerá-vel redução de riscos”, explica. Acriação das células reprogramadas sófoi possível graças a uma parceriaentre o grupo de Rehen no ICB/UFRJ e Martin Bonamino, pesqui-sador do Instituto Nacional do Cân-cer (Inca) com a participação dosestudantes de pós-graduação BrunaPaulsen e Leo Chicaybam.

Rio avança em pesquisas com

Domínio da técnicade produção de

células pluripotentesinduzidas (iPS),anunciada em

janeiro, garantenovo impulso a

estudos feitos no RJ

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País irá ganhar oito novos laboratórios destinados às pesquisas com células-tronco: Rio teve duas instituições selecionadas pelo programa

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A multiplicação dascélulas e os testes emdoença de Parkinson

Outra pesquisa em curso está na apli-cação de biorreatores para multipli-car células-tronco, sejam elas embri-onárias ou iPS. A ideia é promovera produção em larga escala, capazde alimentar os mais diversos labo-ratórios no País. “Na verdade, omodelo clássico de biorreator bus-ca a produção de substâncias secre-tadas por células (biofármacos).Nossa pesquisa apenas está adaptan-do essa tecnologia para que o pro-duto final seja a própria célula viva,no caso células-tronco”, explica.Dessa forma, pode-se chegar a umresultado 70 vezes maior do que oobtido pelo método convencional.

“Além disso, consegue-se tambémmaior rapidez, custos menores emenor possibilidade de contamina-ção”, diz. A pergunta agora é se,com a técnica, as iPS e as célulasembrionárias genuínas se multipli-cam na mesma proporção.“Estamos falando em milhões decélulas. Agora, vamos comparar sea produção em grande escala é equi-

valente nos dois casos. Esperamoster essas respostas em dois anos”,planeja. A utilização de biorreatorespara o cultivo de células-tronco éuma parceria entre o grupo de Rehenno ICB/UFRJ e Leda Castilho, pes-quisadora da Coppe/UFRJ, e contacom a participação dos alunos depós-graduação Aline Marie Fer-nandes e Paulo André Marinho.

Nesse meio tempo, paralelamente,outro trabalho está sendo desenvol-vido. Rehen e sua equipe estão tes-tando a atuação de três diferentes ti-pos de células-tronco: as embrioná-rias, as iPS (originadas da pele) e as

extraídas de polpa de dente para tra-tamento da doença de Parkinson. Ospesquisadores comparam os três ti-pos procurando identificar qual de-les será o mais eficaz para o trata-mento da doença em modelo ani-mal. “Já sabemos que células deri-vadas da polpa dentária secretamfatores que favorecem a sobrevivên-cia de células-tronco embrionáriastransplantadas”, fala o pesquisador.O desenvolvimento do modelo pré-clínico da doença de Parkinson éuma parceria entre o grupo de Rehene de Jean-Christophe Houzel,neurocientista do ICB/UFRJ. O es-tudo tem colaboração de pesquisa-dores da Universidade FederalFluminense (UFF) e do aluno de Ini-ciação Científica Fabio Conceição.

Essas células estão sendo aplicadasem modelos animais, nos quais fo-ram induzidos os sintomas da do-ença. “Nos Estados Unidos, os pri-meiros testes realizados em huma-nos com células-tronco embrionári-as começam neste mês de março. Se-rão testadas em pacientes com lesãode medula espinal. Acredito que, emcinco anos, saberemos se o potenci-al terapêutico de células-tronco em-brionárias, observado em animais, éuma realidade”, diz. Para Rehen,igualmente importante é saber quetodos esses trabalhos de cientistasbrasileiros contribuem para reduzir

No mês de dezembro, porampla maioria de votos,a Assembleia Legislativa

do Estado do Rio de Janeiro (Alerj)aprovou o projeto de Lei n.º 13/08 – que modificou a redação daLei Complementar n.º 102, de 18de março de 2002, que dispõe so-bre a área de atuação da FAPERJ –tornando possível o financiamentode pesquisas científicas com células-tronco embrionárias, o que estavavedado à Fundação desde 2002.Com a decisão, grupos de cientistasenvolvidos em terapia celular ani-mam-se com a possibilidade demais recursos para o desenvolvimen-to de seus trabalhos.

Seguindo orientação do SupremoTribunal Federal (STF), que, em maiode 2008, julgou constitucional a Leide Biossegurança, o projeto enca-minhado à Alerj foi assinado pelogovernador Sérgio Cabral, que, emsua mensagem, justificou: “Trata-sede projeto de reconhecida impor-tância para a realização de estudospara a recuperação de pessoas comanomalias ou graves incômodos ge-néticos, pois as referidas células sãocapazes de originar todos os teci-dos de um indivíduo adulto e, porisso, oferecem maiores possibilida-des de cura.”

Ao saber do resultado da votação,o secretário estadual de Ciência eTecnologia, Alexandre Cardoso,destacou a importância da decisãopara o estado. “O Rio de Janeiropassa a ficar inserido no avançotecnológico e abre a porta da espe-rança para um grupo de pacientesgraves”, afirmou.

A notícia foi recebida com entusi-asmo por pesquisadores flu-minenses, que agora poderão ter

a distância entre a pesquisa que é pro-duzida no País e a de países de Pri-meiro Mundo. “Estamos cada vezmais competitivos.”

Aplicações têmdespertado interesse decientistas

As células-tronco são encontradasem todos os organismos e se carac-terizam por sua capacidade para sediferenciar em uma vasta gama decélulas especializadas. As adultas sãoencontradas em diversos tecidos,como a medula óssea, sangue, fíga-do, cordão umbilical, placenta e ou-tros. Elas atuam como um sistemade reparo para o corpo, tornando arepovoá-lo de células especializadas.Já as embrionárias, como o nomediz, são encontradas no embriãohumano e têm a capacidade de setransformar em praticamente qual-quer célula do corpo. Devido a essacaracterística, são classificadas comopluripotentes.

Como crescem rapidamente, trans-formando-se em células espe-cializadas com características consis-tentes de vários tecidos, como mús-culos ou nervos, ossos ou sangue,sua potencial aplicação terapêutica emdoenças cardiovasculares, crônico-degenerativas e no tratamento depacientes vítimas de acidentesvasculares cerebrais, entre outras apli-cações, tem despertado o interessede cientistas em todo o mundo. Aspesquisas têm como alvo o tratamen-to de doenças que afetam um gran-de número de cidadãos, como adoença de Parkinson, o mal deAlzheimer, a diabetes mellitus, proble-mas cardíacos, doenças sanguíneas ecâncer, dentre muitas outras.

Alerj aprova PL e Fundaçãojá pode financiar pesquisascom células-tronco

projetos sobre terapia celular finan-ciados pela FAPERJ. “Foi uma de-cisão fundamental para a ciênciafluminense. Pesquisar células-tron-co embrionárias é importante nãoapenas por seu possível usoterapêutico, mas também pelos es-tudos que possibilitam, por exem-plo, compreender os fenômenosque envolvem o câncer ou o pro-cesso de envelhecimento. Células-tronco são uma área de fronteiraque se precisa estudar”, ressalta amédica Rosalia Mendez Otero, pro-fessora titular da UFRJ, com reco-nhecida experiência em neuro-ciências, com ênfase no desenvolvi-mento e plasticidade do sistemanervoso. Atualmente, Mendez Oterodesenvolve pesquisa sobre terapiacelular em doenças neurológicas e co-ordena estudo clínico com uso decélulas-tronco em vítimas de aciden-te vascular encefálico (AVE).

“Nos Estados Unidos, a proibição,em anos recentes, desse tipo de pes-quisas em alguns estados levou auma transferência em massa de gru-pos de pesquisadores para lugaresonde esses estudos eram permiti-dos, como a Califórnia. O Rio deJaneiro é pioneiro também nessaárea, com os primeiros estudos doemprego de células-tronco em pa-cientes cardíacos, assim como tam-bém foram daqui os primeiros tra-balhos publicados de que se temhistória sobre o tema”, afirmaMendez Otero.

Com a decisão da Alerj, os estudosatualmente em andamento poderãoser agilizados, com a possibilidadede novos investimentos. Para mui-tos pacientes, isso pode significar aperspectiva de um futuro com umaqualidade de vida muito melhor.

Pesquisador: Stevens RehenInstituição: Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ)

Rehen e a aluna de mestrado Priscila Brito: cientista da UFRJ trabalha em várias frentes

Colônias de células-tronco do tipo iPS geradas a partir de células renais humanas

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Fotos: Bruna Paulsen/ICB/UFRJ

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podem ajudar a criar liderançasem grandes empresas

Games e cultura de Internet

Ao longo dos últimos anos,termos como inclusão, ex-clusão, alfabetismo e analfa-

betismo, acompanhados pelo com-plemento “digital” se tornaram re-correntes na apresentação de progra-mas sociais elaborados por gover-nos, organizações não governamen-tais e entidades da sociedade civilorganizada. E razões não faltam parajustificar a preocupação com essenovo segmento da educação. Afinal,desde a década de 1980 que somos

crescimento de 31%. Foi pensandonessas questões que um grupo depesquisadores da Escola Brasileira deAdministração Pública e de Empre-sas (Ebape – FGV) resolveu elabo-rar um estudo inédito no Brasil paratentar responder a seguinte pergunta“como os jogos eletrônicos e a novacultura de comunicação gerada pelouso da Internet e computadores influ-enciam o comportamento das pesso-as dentro do mercado de trabalho?”.

Coordenado pelos professoresMoisés Balassiano e Roberto Pas-carella, o trabalho procurou analisar,a partir de um universo de 300 jo-vens voluntários, de 18 a 25 anos, ocomportamento e as reações de jo-gadores e não jogadores que estives-sem cursando pelo menos o quintoperíodo de faculdade. No primeirogrupo estavam aqueles que, até atingi-rem os 18 anos, dedicavam pelo me-nos 12 horas semanais a jogos eletrô-nicos; no segundo, os que passarammenos de 12 horas jogando.

Segundo os pesquisadores, a faixaetária escolhida se justifica pelo fatode que é a partir do quinto períodouniversitário que os jovens começamseus estágios nas empresas, destacan-do que é no ambiente de trabalhoonde os jogadores se veem em con-tato com colegas que não utilizamjogos eletrônicos de forma tão in-tensa. Assim, passam a conviver comgerações mais velhas, com outros va-lores e uma cultura menos apegadaà tecnologia. No caso específico dosgames, eles lembram que muitos edu-cadores e psicólogos têm se dedica-do à tarefa de investigar a influênciaque os jogos de violência podem vira exercer na formação do caráter dosjovens. “Há muita polêmica em tor-no do assunto. E se há uma vasta lite-ratura sobre o tema, não existe con-senso: uns dizem que estimulam a vi-olência, outros dizem o contrário, etem até quem diga que não interfe-rem em nada”, explica Balassiano.

regularmente surpreendidos pelachegada de novas e sempre mais so-fisticadas edições de jogos eletrôni-cos, aparelhos de celular, computa-dores, iPod, MP3, MP4, MP5 e as-sim por diante. A incorporação des-sas novas tecnologias pode produ-zir efeitos no mercado de trabalho,como procura demonstrar estudorecente realizado por pesquisadoresda Fundação Getúlio Vargas (FGV).Para as gerações daqueles nascidosnos últimos 30 anos, estar mais fa-miliarizadas e habituadas com o uni-verso dos videogames, jogos decomputador e Internet pode se tra-duzir no desenvolvimento de certashabilidades para o mercado de tra-balho. Já aqueles de maior faixaetária, em geral, necessitam de mai-or tempo para aprender a usar essasnovas ferramentas e, não raro, apre-sentam resistência em assimilar o usode novas tecnologias.

Dados da Associação Brasileira deDesenvolvedores de Jogos Eletrô-nicos (Abragames) mostram queexistem hoje no Brasil 560 profis-sionais da área empregados em 42empresas. Mesmo com a crise finan-ceira mundial deflagrada em 2008,o mercado de games no País pareceimune à retração econômica, tendomantido estimativas de forte expan-são para os próximos anos. No pla-no interno, o Produto Nacional Bru-to (PNB) do setor está na ordem deR$ 87,5 milhões, enquanto no glo-bal esses valores chegam a US$ 33bilhões. Só no ano passado, o mer-cado de jogos eletrônicos no País teve

Vinicius Zepeda

“Esse nunca foi o propósito de nos-so estudo, cujo objetivo foi o de in-vestigar a diferença entre o compor-tamento dos jogadores e dos nãojogadores no mercado de trabalho”,completa Pascarella.

Um fenômeno que salta aos olhosde quem circula pela cidade é a pro-liferação das lan houses (centros pú-blicos de acesso pago à Internet) embairros e comunidades de baixa ren-da. Esses locais oferecem àqueles quenão possuem computador ouvideogame em casa a possibilidadede acessar os jogos eletrônicos dis-poníveis na rede. “O ambiente en-contrado em jogos como esses émuito similar ao ambiente de traba-lho das grandes corporações. Nomundo da vida real, procuramos nosassociar com pessoas que têm inte-resses parecidos com os nossos. Nes-sas empresas de grande porte, mui-tas mantêm escritórios virtuais espa-lhados por todo o planeta, o que in-duz à troca de experiências de pro-fissionais de diferentes nacionalida-des e costumes”, relata Pascarella.

Jovens preferem sitesde relacionamento aosjogos eletrônicos

Para os pesquisadores da FGV, asdiferentes gerações que convivemno mercado de trabalho pertencema quatro categorias: os Veteranos,com mais de 60 anos e que têmcomo valores profissionais domi-nantes o trabalho árduo, conser-vadorismo, conformismo e lealda-de à organização; os Baby Boomers,com idade entre 40 e 60 anos, e quetêm como valores sucesso, realiza-ção, ambição, rejeição ao auto-ritarismo e lealdade à carreira; Ge-ração X, compreendida entre 25 e40 anos, com estilo de vida equili-brado, trabalho em equipe, rejeiçãoàs normas e lealdade aos relaciona-mentos; e, por último, o foco dapesquisa, a Geração da Tecnologia,com menos de 25 anos, auto-confiança, sucesso financeiro, inde-pendência pessoal junto com tra-balho de equipe, lealdade a si mes-mos e aos relacionamentos.

Estudo da FGVinvestiga se os jogoseletrônicos e a nova

cultura decomunicação gerada

pelo uso da Internetinfluenciam o

comportamento daspessoas no mercado

de trabalho

Programa de inclusão digital em favela do Rio: jovens familiarizados com as novas tecnologias

Proliferação das lan housesem bairros e comunidadesde baixa renda oferecem apossibilidade de acessar os

jogos eletrônicos,disponíveis na rede

Foto: Ricardo Teles/CDI

INCLUSÃO DIGITAL

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De acordo com a dupla, o estudo,em sua fase piloto, privilegiou a li-nha de investigação sobre como osjogadores e não jogadores no mer-cado de trabalho lidam com os te-mas da liderança, valores, comu-nicação, lazer, games, sites de relaci-onamento, competição e coopera-ção, escolha profissional, e risco esegurança.

Dentro do universo investigado peloestudo, foram observadas algumascaracterísticas semelhantes aos diver-sos grupos. Balassiano destaca queos jovens participantes de ambos osgrupos deram preferência aos sites derelacionamento, deixando os jogoseletrônicos em segundo plano.“Nossa hipótese é que a decisão dedelimitar a categoria ‘jogador’ àque-le que joga no mínimo três vezes porsemana precisará ser revista – o quepode tornar necessário uma novadefinição conceitual”, explica. Ele

salienta que os temas liderança, comu-nicação, competição/cooperação, escolha pro-fissional e risco/segurança foram os quemais apresentaram diferenças decomportamento.

Os jogos em rede e os sites e fer-ramentas de relacionamento/comu-nicação em rede, como Orkut,MSN, YouTube e Facebook, ga-nharam destaque na análise da lógi-ca de funcionamento dos games. “Oprincípio dos jogos eletrônicos é oda tentativa e erro, dos macetes de-senvolvidos após a repetição. Nocaso dos jogadores, observamosdiferenças na forma com que elesenfrentam os desafios no mercadode trabalho, atividade onde costu-mam ser mais autodidatas naquiloque têm interesse e, em geral, aver-são a aprender usando manuais. Elesmanifestam uma clara preferênciaem aprender tentando e errando atéacertar”, explica Balassiano. “Nocaso dos sites e ferramentas de co-municação pela Internet, eles per-mitem que a pessoa assuma, no am-biente virtual, uma personalidadepor vezes distinta da que ela tem navida real”, diz. “Um estudo desen-volvido por uma importante mul-tinacional fabricante de computado-

res mostrou que pessoas tímidas nocotidiano podem ser extremamen-te agressivas e mesmo líderes nossites de relacionamento e jogos emrede”, acrescentam os pesquisadores.

Eles destacam ainda que a tecnologiadesenvolvida pelos jogos eletrônicos,principalmente os simuladores deambientes reais, podem auxiliar emoutras áreas da informática e datecnologia em geral. “O exércitonorte-americano tem utilizado simu-ladores de combate para treinar seussoldados para confrontos reais”, ilus-tra Pascarella. “Mesmo com toda ariqueza e o fascínio que o mundodos jogos e dessas novas tecnologiasdigitais e de comunicação via Internet,não devemos esquecer do aspectomais relevante em nosso estudo: aofinal, esperamos identificar as dife-renças comportamentais do conví-vio no mercado de trabalho dos jo-gadores e dos não jogadores e auxi-liar as empresas a escolherem pro-fissionais com os perfis mais indica-dos às suas necessidades”, concluiBalassiano.

Balassiano: para pesquisador, não há consenso sobreos efeitos dos videogames na formação dos jovens

Para pesquisadores, a tecnologiadesenvolvida pelos jogos eletrônicos,

principalmente os simuladores de ambientesreais, podem auxiliar em outras áreas da

informática e da tecnologia em geral

Pesquisadores: Moisés Balassiano eRoberto PascarellaInstituição: Fundação Getúlio Vargas

Foto: Divulgação/Virtual Informática

Foto: Divulgação

Uezo: ensino tecnológico ganhaimpulso na Zona OesteCom novo reitor e R$ 5 milhões em recursosadicionais, Uezo vai ganhar mais 30 salas de aula

Juliana Lanzarini

Até há pouco tempo existia, no Rio de Janeiro, umarealidade contraditória: de um lado, um grande número de jovens, moradores da Zona Oeste da ci-

dade do Rio de Janeiro, alimentavam o sonho, ainda distan-te, de estudar em uma universidade pública. Do outro, in-vestimentos de peso sendo projetados para a região, mascom dificuldade em encontrar mão-de-obra qualificada.

Agora, o sonho do diploma está se tornando realidadepara esses jovens e as indústrias instaladas na região deve-

rão, em breve, poder contar com profissionais qualifica-dos, formados ali mesmo na Zona Oeste. No mês defevereiro, ao empossar o professor Roberto Soares deMoura como novo reitor do Centro Universitário Esta-dual da Zona Oeste (Uezo), o governador Sérgio Cabralanunciou a injeção de R$ 5 milhões em recursos adicio-nais para a instalação de novos laboratórios e salas deaula da instituição. A decisão promete dar novo impulsoà ideia de dotar a Zona Oeste de um centro de ensino epesquisa capaz de oferecer uma oportunidade de qualifi-cação aos jovens na região e suprir uma demanda cres-cente por mão-de-obra especializada.

Centro de ensino oferece oportunidade de qualificação a jovens e pode suprir uma demanda crescente por mão-de-obra especializada

EDUCAÇÃO

Foto: Carlos Magno

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Recente pesquisa da economista Re-nata La Rovere, contemplada como edital Pensa Rio, da FAPERJ, cons-tatou que a Zona Oeste tem umamão-de-obra de grau secundário al-tamente qualificada em relação aoresto da cidade: 45% dos jovens têmensino médio completo, contra 39%do Rio de Janeiro, como um todo.O problema está justamente no ensi-no superior: 13,5% contra 26,1% emtodo o Rio (veja reportagem à página 10).

Esse cenário começou a mudar em2005, com a abertura da Uezo. Emdezembro daquele ano ocorreu, en-tão, o primeiro vestibular, revelan-do a enorme demanda por umaoportunidade no ensino superiorgratuito: para concorrer às 360 va-

gas oferecidas, inscreveram-se 6.017candidatos, uma relação de 17 can-didatos para cada vaga.

Em fevereiro de 2006, a Uezo co-meçou a funcionar em parte das ins-talações do tradicional Instituto deEducação Sarah Kubitschek, na RuaManoel Caldeira de Alvarenga, emCampo Grande, Zona Oeste do Rio.As obras iniciais de adaptação dosprédios existentes para a instalaçãode laboratórios de ensino e pesquisaforam realizadas e, graças aos recur-sos liberados pela FAPERJ, foi pos-sível adquirir os primeiros equipa-mentos necessários ao funcionamen-to da nova instituição.

Agora, passados quatro anos, a Uezose prepara para colher os primeirosfrutos: em agosto próximo, o pri-meiro time de formandos finalmentejogará o capelo pra cima. E tudoindica que não terão dificuldade paraobter uma vaga de emprego.

É que um dos pilares da universida-de é ser justamente um ponto deapoio do ensino superior técnicocom a indústria. Para isso, oferececursos que estão diretamente ligadosaos empreendimentos da região. Umdos idealizadores da Uezo e reitorpro tempore durante os seus primeirostempos de funcionamento, o pro-

fessor da UFRJ Wanderley de Sou-za, explica que o projeto inicial eradotar o estado do Rio de Janeiro deuma instituição universitária inovado-ra e dedicada exclusivamente a cur-sos tecnológicos de duração média,vinculados ao processo de desenvol-vimento econômico do estado. “Asáreas foram selecionadas com baseem inúmeras reuniões com o setorprodutivo fluminense”, explica.

São seis os cursos tecnológicos ofe-recidos pelo Centro Universitário:gestão em construção naval e offshore,biotecnologia, tecnologia da infor-mação, tecnologia em produção defármacos, tecnologia em produçãode polímeros e tecnologia em pro-dução siderúrgica. A instituição ofe-rece ainda quatro programas degraduação: farmácia, biologia, ciên-cia da computação e engenharia daprodução.

Entre os empreendimentos da regiãoque prometem absorver essa mão-de-obra estão a expansão do grupoGerdau, a criação da CompanhiaSiderúrgica do Atlântico, a expansãoda francesa Michelin, o crescimentoda atividade de construção naval, acriação do Pólo Gás-Químico e ocrescimento da indústria biotec-nológica e farmacêutica no Rio deJaneiro, com a recém-inauguradafábrica do laboratório francêsServier, em Jacarepaguá. Tambémcontribuem para dar novo impulsoà região as obras do Arco Rodoviá-rio do Rio de Janeiro.

A área de Jacarepaguá conta aindacom outras importantes indústrias doramo farmacêutico: Merck, Roche,AbbottMantecorp, GlaxoSmithKlineBrasil, Laboratório Musa, Belfam eFarmanguinhos – fábrica de medi-camentos da Fiocruz que, desde

2004, possui uma unidade de pro-dução naquele bairro.

Mas desde a sua criação, em 2005, auniversidade passou por alguns per-calços, como a falta de professorese laboratórios fechados. ParaWanderley de Souza, a instituiçãocometeu alguns equívocos em suafase mais recente, ao iniciar algunscursos que fugiam à ideia do proje-to original. “Acho que foi um equí-voco e espero que a nova gestão,tendo à frente o professor RobertoSoares de Moura, coloque a institui-ção no seu trilho normal e amplie asua oferta de novos cursos, sobre-tudo voltados para o setor de pe-tróleo”, defende o ex-secretário-exe-cutivo do Ministério da Ciência eTecnologia e ex-secretário estadualde Ciência e Tecnologia. Para ele, asrecentes iniciativas de conceder àUezo personalidade jurídica própria,criar um quadro próprio e planejara realização de concursos “certamen-te assegurarão a inserção da Uezono seleto grupo de instituições uni-versitárias de alto nível”, aposta.

A Uezo passou a ter personalidadejurídica própria em 16 de janeiro,quando foi sancionada a Lei 5.380,garantindo à universidade o título defundação de direito público, vincu-lada à Secretaria de Ciência eTecnologia. Com isso, foi dado umimportante passo em direção ao for-talecimento da Uezo, antes ligada àFundação de Apoio à Escola Técni-ca do Estado do Rio de Janeiro(Faetec), que passou, assim, a ter au-tonomia financeira para gerir os seusrecursos e estabelecer parcerias econvênios com outras instituições deensino e pesquisa.

Segundo Roberto Boclin, que ocu-pava interinamente o cargo de rei-tor da Uezo, antes de Moura, a apro-vação da lei é uma prova do com-prometimento do governo do esta-do com a educação. “Estamos le-vando mais educação para uma re-

Infraestrutura a serviço da educação: oslaboratórios de informática (no alto) e detecnologia em bioquímica

Fotos: Carlos Magno

gião que estava abandonada há anose vinha sofrendo com a violência”,diz. Doutor em educação pela UFRJ,Boclin já passou pela cadeira de rei-tor em diversas instituições de ensi-no e, atualmente, é chefe do gabine-te do secretário de Ciência e Tecno-logia, Alexandre Cardoso.

A importância do ensino tecnológicopara a Zona Oeste também é ressal-tada por Alexandre Cardoso. Naavaliação do secretário de C&T, auniversidade surgiu justamente como ideal de mudar a cultura da for-mação tecnológica. “Temos que tera coragem para alterar este cenário evalorizar o curso técnico”, diz. Paraisso, defende, o caminho é a interaçãoda universidade com a indústria e asociedade. “Está sendo inauguradauma nova fase da educação superiortécnica no estado do Rio de Janeiroe no Brasil”, comemora.

Laboratórios ganhamnovos equipamentos

Pró-reitor de Pesquisa e Extensão dauniversidade, Sérgio Henrique Seabraconta que o valor dos investimentos,somados à qualidade dos projetos,prometem fazer da Uezo uma uni-

versidade de ponta. Demonstran-do confiança nos projetos para ofuturo da instituição, Seabra diz queos recursos fornecidos pelaFAPERJ têm sido fundamentaispara garantir a oferta de um ensinode qualidade. “Sem a compra dosequipamentos, os alunos do últimoperíodo teriam que adiar a forma-tura”, diz.

No fim de 2008, a Uezo inaugurouum novo prédio, com 14 salas, queexigiu um investimento de cerca deR$ 1,3 milhão. As obras do labora-tório de Produção de Polímeros,por exemplo, exigiram R$ 300 mile devem ser concluídas em maio.

O Centro Universitário já possuium microscópio eletrônico de var-redura de última geração, financia-do pela FAPERJ e utilizado na im-plantação do Laboratório deTecnologia de Microscopia Eletrô-nica (LTME). O equipamento éusado tanto na área biomédica (tes-te de drogas, por exemplo), comoindustrial (célula combustível). Atémeados de 2009, a Uezo disporáde mais um equipamento de altatecnologia, com a aquisição de ummicroscópio eletrônico de trans-missão, recentemente adquirido e,

Laboratório de tecnologia em fármacos: novos equipamentos à disposição dos alunos

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Mal podia imaginar a Conceição que ela havia despertado naquele Paulo, ainda menino, certo interesse, mesmo que dis-tante, pela medicina. “Conceição era uma amiga de família,

frequentadora da minha casa. Mulher sensual, com muita energia eque chamava a atenção de nós, garotos. Um belo dia, ela me viuvestido de branco e disse que eu poderia ser médico”, recorda PauloErnani Gadelha Vieira, empossado no mês de fevereiro na presidên-cia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Mas se Conceição não foia única responsável pela decisão deste cearense de abraçar a medicina,o episódio, marcante na sua adolescência, fez com que seu interessepela profissão fosse despertado. “É como se ali, naquele momento,fosse a primeira vez que eu pensasse no que gostaria de ser quando‘crescesse’”, lembra o novo presidente de um dos institutos de pes-quisa na área de saúde mais respeitados do mundo.

Graduado em Medicina pela Universidade do Estado do Rio deJaneiro (Uerj), mestre em Medicina Social pela mesma universidadee doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde PúblicaSergio Arouca (Ensp – Fiocruz), Paulo Gadelha conhece comopoucos a instituição que hoje dirige, tendo, mesmo ocupado a suavice-presidência de 2001 a 2008. Com vasta experiência na área depesquisa e docência, desenvolveu diversas pesquisas no campo daconstrução da assistência médica, da história das doenças e da saúdepública em geral.

De seu vasto currículo profissional constam a coordenação geral doXI Congresso Mundial de Saúde Pública e do 4º Congresso Mundialde Museus e Centros de Ciências e curadoria de várias exposições.Relator-geral da 12ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em2003, é membro da Comissão Intersetorial de Ciência e Tecnologiado Conselho Nacional de Saúde desde 2001. Por três anos, esteve napresidência da Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Co-letiva (Abrasco).

Aos 57 anos, casado com Ângela, sua colega dos tempos de faculda-de, pai de dois filhos, “os melhores do mundo”, Gadelha conquistouo respeito de seus pares não por sua trajetória clínica, mas pela histó-ria de conquistas no campo da saúde coletiva. Há mais de 20 anos nainstituição que agora preside, teve participação decisiva na construção

Saúde pública em primeiro lugar

A trajetória do novo presidente daFiocruz, Paulo Gadelha, confunde-secom a história da própria fundação

Flávia Machado

PERFIL

Foto: Andre Az/CCS/Fiocruz

igualmente, com o apoio de recur-sos disponibilizados pela fundação.Trata-se de um aparelho que utilizaelétrons em vez de luz para atraves-sar o material e gerar imagens da suaestrutura, em excelente resolução.Segundo Seabra, ele é geralmenteutilizado na metalurgia (estudo dosmetais e minerais) e nas ciências bio-lógicas, em especial no estudo dascélulas ao nível molecular.

Novo reitor e maisinvestimentos

O ano começou bem para a Uezo,que já recebeu este ano R$ 3,1 mi-lhões. Outros R$ 2,2 milhões devemser liberados pelo governo do esta-do ainda em 2009. “Este é um mo-mento muito importante para o es-tado. O Rio de Janeiro será umexemplo para o todo o Brasil emreferência de qualificação no ensinotécnico. Vocês poderão contar comnosso entusiasmo para o que preci-sarem”, declarou o governador Sér-gio Cabral ao dar posse a RobertoSoares de Moura no comando daUezo, no início de fevereiro.

Com a chegada de Moura à reitoria,abrem-se novos horizontes para osalunos e professores da Uezo. Mé-dico e professor titular da Universi-dade do Estado do Rio de Janeiro(Uerj), ele promete implantar um

plano de cargos e salários para do-centes e quadro técnico, já aprova-do na Assembleia Legislativa doEstado do Rio de Janeiro (Alerj), e arealização do primeiro concursopara o provimento das vagas paraprofessores e técnicos da instituição.

“Até junho, devemos lançar umedital para contratar, ainda em 2009,de 15 a 30 professores com dou-torado”, diz o novo reitor, que ésecretário-geral da Academia Naci-onal de Medicina e membro doConselho Superior FAPERJ. “Emseguida, novos concursos serão re-alizados”, adianta.

Com a contratação dos professo-res efetivos – os atuais 50 profes-sores são temporários –, Moura es-pera que seja possível abrir a pri-meira turma de pós-graduação dauniversidade. “Nossa meta é que,em 2010, tenhamos 117 professo-res titulares e 30 temporários, paraatender até 4 mil alunos”.

Outra meta estabelecida por Moura éo investimento na formação de mão-de-obra nas seis áreas do setortecnológico já existentes na universi-dade. “Antes de ser empossado, quan-do havia sido nomeado para o cargo,procurei o comandante da Marinhado Brasil, que se mostrou extrema-mente receptivo em estabelecer umaparceria para formarmos mão-de-

obra especializada à construção naval.Também entrei em contato com odiretor do Laboratório Farmacêuti-co Servier, que acaba de inaugurar umanova fábrica em Jacarepaguá, para quenossos alunos possam sair formadose já com emprego no local”, explicouSoares de Moura.

O novo reitor também destacou omodelo pioneiro e inovador da novauniversidade. “O Brasil é o 14º paísdo mundo em produção de ciênciaem todo o mundo. O número detrabalhos publicadas em periódicoscientíficos de renome internacional,por autores brasileiros, aumentagradativamente. Porém, o númerode estudos que é transformado embens, serviços e produtos que tra-gam benefícios para a sociedade éirrisório. Para crescermos, como fi-zeram outros países, como EstadosUnidos, Japão, Alemanha e, posteri-ormente, a Coreia do Sul, precisa-mos acabar com esse problema.Vamos criar um setor de patentespara que possamos gerar produtose trazer royalties para nossa universi-dade”, acrescentou.

Atualmente, a Uezo tem 800 alunosmatriculados, mas, com o novo ves-tibular e o período de rematrículas– ainda em andamento, – espera-seque o número salte para 980. “Esteserá um ano muito bom para aUezo”, assegura o reitor.

AUezo (Centro Universitário Estadualda Zona Oeste) ocu-pa parte das ins-talações do Instituto de EducaçãoSarah Kubitschek, espalhadas poruma área construída que totaliza 44mil m2. O conjunto arquitetônico écomposto por dois prédios e umaescola de ensino fundamental. Umterceiro prédio será construído, comcapacidade para abrigar 30 salas de

aula. Ao término do atual projeto deexpansão, a Uezo deverá ocupar 25mil m2 do terreno do instituto, equi-pado com ginásio de esportes cober-to, piscina e quadra poliesportiva.Quando todos os módulos estiverempreenchidos, estima-se que o CentroUniversitário possa receber cerca de5 mil alunos. A ampliação da estru-tura está estimada em R$ 5 milhões.

A universidade fica localizada próxi-ma às estações de trem de CampoGrande e Benjamim Dumont(Supervia), no tronco ferroviário doramal de Santa Cruz. Pelo local, pas-sam diversas linhas de ônibus paraoutros bairros da Zona Oeste e háboa oferta de transporte para a re-gião central do Rio e para a BaixadaFluminense.

Uezo: a periferia no centro dos debates

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Fotos: Flávio de Souza/COC/Fiocruz (à esq.) e Paulo Rodino/COC/Fiocruz

Gadelha ao lado de Arouca, que o convidou para criar um centro de memória da Fiocruz; e durante encontro na Ensp, em 1987 (ao fundo)

da Casa de Oswaldo Cruz, em 1985,e, tendo passado por diversas direto-rias e vice-presidências, pode-se dizerque a Fiocruz é a sua segunda casa.

Descendente de famílias tradicionaisdo Ceará e o caçula de uma casacom mais outros seis irmãos, Pau-lo conviveu desde cedo com doismundos. Do lado materno, a sofis-ticação da mãe, a qual define comosendo à frente do seu tempo, quevinha de uma família mais cosmo-polita, com boa formação cultural;do outro, seu avô paterno, vindode origem muito humilde, mas queconquistou riqueza, tornando-se umempresário conhecido. “Posso di-zer que tivemos uma infância mui-to rica, pois havia o contato com ourbano e com o rural, e tambémvivíamos uma situação financeiraconfortável”, pondera.

Sua educação formal não poderia tersido mais rigorosa, tendo estudadoo primário numa escola jesuíta, e oginásio num Colégio Militar, em ple-na fase da ditadura. Gadelha contaque não se envolveu formalmente namilitância, até mesmo pela poucaidade, mas a compreensão dos fa-tos era evidente. “Apesar de ser ado-lescente e estar estudando num co-légio de militares, nós já tínhamos apercepção de valores e sabíamos oque estava acontecendo com o País.E essa realidade ficou ainda maispróxima, quando o pai de um cole-ga nosso, que era um coronel de es-querda, foi preso.”

Se a educação formal lhe ensinoudisciplina e organização ao longo davida, ela também despertou seu ladoinquietante, de querer romper bar-reiras. A capital cearense logo ficariapequena demais para ele, e na pro-vinciana Fortaleza daquela época,Paulo sabia que não queria ficar.Antes mesmo de completar o ensi-no médio, surgiria a oportunidadede uma experiência inteiramente

nova em direção ao exterior. Foiquando viajou para os Estados Uni-dos para fazer intercâmbio e buscarnovos horizontes. Depois de morartrês meses perto de Boston, na Cos-ta Leste, interno numa escola da eli-te americana, ele viu que sua realida-de não era aquela. Reuniu suas rou-pas e livros e seguiu para Nova York,onde passou um mês, antes de to-mar o caminho de seu novo ende-reço, o estado do Minnesota. Lá,conviveu com uma realidade maispolitizada, de um país em plena fasede mudanças sociais, de liberdadescivis, da contracultura, da culturahippie, dos festivais americanos. Ese identificou com o que viu.

Já de volta ao Brasil, em 1970, masagora morando no Rio de Janeiro,onde também estavam alguns ir-mãos e parte de sua família, PauloGadelha começa a cursar medicinana Faculdade de Ciências Médicasda antiga Universidade do Estadoda Guanabara (UEG), atual Uerj.“Para muito além da Conceição, aescolha pela profissão se deu porquestões humanas e sociais. Buscavaalgo que me aproximasse dohumanismo”, revela. O que foi umagrande decepção nos primeiros anos,pois a faculdade lhe mostrou o ladofrio da profissão, do formol, dos equi-pamentos antiquados dos departamen-tos. Mas, ainda assim, entre viagens demochila nas costas e trabalhos parafazer, ele seguiu em frente.

Um pouco mais tarde, já no final dafaculdade, na residência médica empsiquiatria, foi começando a se encon-trar dentro da medicina. Na Associa-ção Nacional dos Médicos Residen-tes e também na Associação dos Mé-dicos Residentes do Rio de Janeiro –instituições que presidiu –,Gadelha seenvolveu em reivindicações trabalhis-tas, sindicalismo, e fez parte do Reme(Renovação Médica), que, a exem-plo do que faziam os sindicalistas doABC paulista, liderados por LuísInácio Lula da Silva, lutava em fa-vor da abertura política. “Foi umperíodo muito rico na minha vida.Todo mundo que passou por aque-les movimentos tem consciência deque contribuiu para a redemocra-tização do País.”

Nessa época de militâncias e lutascontra a ditadura, ao mesmo tempoem que fazia mestrado em Medici-na Social pela Uerj, depois de con-cluir a especialização em Medicinado Trabalho, havia, revela, um forteapelo para que ele seguisse a carreirapolítica, por causa de suas ativida-des no sindicato. Ele conta que foi aprimeira vez que sentiu alguma iden-tificação partidária, ao participar dacriação do Partido dos Trabalhado-res (PT). No entanto, diante da faltade novidades na carreira política, queà época lhe parecia muito previsível,optou por trilhar outros caminhosque o interessavam mais. “Eu nãotinha ainda uma carreira consolida-da e achava que se escolhesse entrarpara a política naquele momento, aopção seria me profissionalizar napolítica, sem um lastro acadêmico.”

Foi quando mergulhou no campoda história, da memória e das ciên-cias sociais, integrando um projetosobre História da Assistência Mé-dica, na Faculdade Candido Men-des. O interesse foi tamanho que elequase entrou para o Instituto doPatrimônio Histórico e ArtísticoNacional (IPHAN). De certo modo,

Nascido no Ceará,Gadelha passoutemporada nos EUAantes de ingressarna universidade, noRio, em 1970

essa busca o fez reencontrar sua pró-pria trajetória, pois foi convidadopelo sanitarista Sergio Arouca, re-cém-empossado na presidência daFiocruz e seu velho conhecido domovimento pela reforma no setorda saúde, para desenvolver um cen-tro de memória na fundação.Arouca, juntamente com ArlindoGómez de Souza e Luis FernandoFerreira, seus vice-presidentes, tinhaum projeto ambicioso no campo da

memória da saúde pública no Bra-sil, e Paulo Gadelha, para eles, era apessoa certa.

Nascia, então, a Casa de OswaldoCruz (COC), cujo objetivo era in-vestigar a história das ciências e dasaúde pública, e documentar e pre-servar sua memória, oferecendo apossibilidade de fazer uma profun-da reflexão histórica e de fortaleceruma identidade, até então dispersa,da própria Fiocruz. Paulo foi dire-tor da COC de 1985 até 1997, ten-do implementado e coordenadotambém o Museu da Vida, em suagestão. Surgia uma nova fase na ins-tituição, a partir de 1985, com a ges-tão de Sergio Arouca, marcada pelaredemocratização e pela retomada

da excelência em todos os camposde atuação. Projeto do qual Gadelhaparticipou ativamente, que perduraaté os dias atuais e que ele pretendedar continuidade, como presidente.“O papel da Fiocruz, desde os re-motos tempos de Oswaldo Cruz, erae continua sendo o de ser uma uni-dade técnico-científica de ponta, compesquisa, ensino e inovação tec-nológica, mas agora em uma novaescala”, ressalta. A nova escala, segun-

do Gadelha, refere-se à política deampliação e atuação da fundação quevem sendo implantada em âmbitonacional e internacional. Hoje, aFiocruz possui unidades técnico-ci-entíficas em mais cinco estados bra-sileiros, além do Rio de Janeiro: Ama-zonas, Bahia, Minas Gerais, Paraná,Pernambuco – e no Distrito Fede-ral. No início deste ano, abre seu pri-meiro escritório internacional perma-nente, em Moçambique, na África.E já estão em processo de constru-ção unidades no Ceará, Mato Gros-so do Sul, Piauí e Rondônia.

Com o slogan “História, Compro-misso e Inovação”, Paulo Gadelhadestacou, ao longo de sua campa-nha para a presidência da entidade,

a importância de se continuar tra-çando um caminho coerente coma tradição histórica da fundação,voltado para os interesses do Paísna área de saúde, e inovando parachegar a novos produtos, novosprocessos e agregar valores, bus-cando também a abertura de fron-teiras. “A Fiocruz atualmente temum papel central como inteligên-cia e âncora do Ministério da Saú-de, atuando numa diversidade de

campos, como pesquisa, formaçãode pessoal, vigilância e assistênciaem saúde, desenvolvimento e pro-dução de vacinas e medicamentos”,acrescenta.

O novo titular da fundação quer es-tender suas fronteiras para muitoalém do Brasil, no campo interna-cional. Ao mesmo tempo, preten-de trabalhar numa série de iniciati-vas que exigem, como ele enfatiza,“um processo de inovação orga-nizacional do ponto de vista da pro-jeção de tecnologias futuras, áreasnovas que vão impactar a ciência,como a nanotecnologia”. Essa atu-alização do projeto da Fiocruzé, para Gadelha, seu grande desa-fio à frente da instituição.

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O câncer de mamana mira da ciência

Pesquisa estuda novo teste para medir orisco de mulheres com secreção naturaldo mamilo de desenvolver a doença

Ocâncer de mama mata cerca de 10mil mulheres por ano no País. Nesteinício do século XXI, tornou-se o

principal responsável pela morte de mulheresbrasileiras. O número de vítimas fatais dessadoença – exatamente como acontece com inú-meros outros tipos de câncer – poderia cairconsideravelmente se o diagnóstico fosse fei-to com mais antecedência. Em outras pala-vras, as chances de cura aumentam muito quan-to mais precoce for a detecção do câncer.Cientes da importância de colocar à disposi-ção das mulheres novos métodos de preven-ção, pesquisadores do Instituto Nacional doCâncer (Inca) vêm trabalhando em técnicasinovadoras que podem ajudar a antever oavanço do tumor sobre o órgão feminino. Valelembrar que as chances de cura são de cercade 95% quando o câncer é detectado em seuestágio inicial.

“A maioria dos casos de câncer de mama ain-da é diagnosticada tardiamente, quando a do-ença está em estado avançado”, lamenta Gil-da Alves, chefe do Laboratório de GenéticaAplicada do Inca e coordenadora do projetodesenvolvido pela instituição com o objetivode reverter essa situação. Intitulado Pesquisa dedois marcadores moleculares em NAF e na saliva e aanálise de imagens em mulheres com risco para câncerde mama, o estudo pretende contribuir para odesenvolvimento de um novo teste que, seaprovado, deverá se tornar uma arma valiosapara o diagnóstico precoce desse tipo de cân-

SAÚDE

Débora Mottacer. Um dos materiais utilizados pela pesquisaé o Nipple Aspirate Fluid (NAF). A sigla em in-glês refere-se ao fluido presente no sistemaductal e lobular da mama, a partir do qual po-dem ser feitos testes com DNA (ácidodesoxirribonucleico) e proteínas. O NAF exis-te na mama de todas as mulheres, mas é conti-nuamente reabsorvido em não grávidas ou emmães que estejam amamentando. Em algumasmulheres, porém, há um vazamento espontâ-neo de NAF e, ao procurarem um ginecolo-gista, elas são encaminhadas a exames da mamaque geralmente não acusam nenhum mal.

“O ginecologista costuma pedir examescitológico, para ver se tem alguma célula ma-ligna na mama, e radiológico, seja ultras-sonografia ou mamografia, para ver se a ima-gem mostra algum sinal de tumor. Contrarian-do os resultados, que geralmente dão negativo,algumas dessas pacientes desenvolvem câncerde mama ao longo dos anos”, explica a biólo-ga, PhD em Genética pela Universidade Fede-ral do Rio de Janeiro (UFRJ), que estabeleceuparceria com o Hospital Gaffrée Guinle, daUniversidade Federal do Estado do Rio de Ja-neiro (UniRio), onde é coletado o NAF dessaspacientes com perfil de risco.

O NAF espontâneo (secreção espontânea) éum sinal descrito em 10% a 15% das mulhe-res com doença benigna da mama, mas em2,5% a 3% dos casos está relacionado ao car-cinoma (tumor maligno). É o sintoma maisfrequente, depois do nódulo e da dor mamá-ria, constituindo cerca de 7% das queixas daspacientes. “Nossa pergunta é se conseguiría-mos nesse estágio, em que geralmente não se

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detecta o câncer pelos exames decitologia e radiologia, encontrar al-gum marcador molecular no NAFque pudesse indicar que aquela mu-lher pode vir a ter um tumor”, dizGilda Alves.

Os marcadores moleculares do NAFque estão no alvo da pesquisa (oHER-2 e o TP53/p53) representamsinais do câncer de mama. Outrofluido adotado é a saliva, cujo con-junto de proteínas (secretoma) pos-sibilita o estudo de marcadorestumorais que circulam na correntesanguínea. O HER-2 foi seleciona-do para análise devido a sua con-centração – cerca de cinco vezesmaior na saliva de pacientes comcâncer de mama em relação à salivadas pacientes saudáveis. “Um dosobjetivos específicos da pesquisa éverificar, no NAF e na saliva daspacientes o aumento da expressãode HER-2”, adianta a pesquisadora.

O câncer é consequência da multi-plicação desenfreada das células. Ogene supressor tumoral TP53 foiescolhido para o estudo porque estárelacionado à divisão celular. Esseciclo funciona a partir dos papéisopostos desempenhados pelosoncogenes e pelos genes supressores

de tumor, que controlam a veloci-dade e a forma como a célula sedivide. “É como a direção de umcarro, que depende do acelerador edo freio. As células têm que se divi-dir na hora certa e precisam de estí-mulo dos oncogenes e de inibiçãopor parte dos genes supressores detumores”, explica Gilda. E prosse-gue: “No tumor, ocorre um gran-de estímulo dos oncogenes e osgenes supressores tumorais são per-didos, o que resulta na divisão des-controlada das células. Procuramosjustamente as mutações no geneTP53, uma das lesões mais preco-ces do DNA em casos de câncerde mama.”

A análise molecular desses mar-cadores, associada à avaliação dasimagens de ultrassonografia de altafrequência, pode melhorar o diag-nóstico precoce e identificar mulhe-res em risco de desenvolver esse tipode câncer, aumentando as chances decura e diminuindo os custos psico-lógico, social e econômico do trata-mento de um tumor avançado. Asamostras são coletadas de maneiraprática. “A extração do NAF é esti-mulada por meio do automassage-amento da mama pela própria paci-

ente. O exame é indolor e nãoinvasivo, já que o material é coleta-do em Guthrie cards, que é o mesmocartão utilizado para o teste do pe-zinho em recém-nascidos”, esclare-ce a pesquisadora.

A descoberta da doença em fase ini-cial proporciona grande chance decura e oferece a possibilidade de umtratamento não mutilador. O trata-mento principal, no entanto, conti-nua sendo o cirúrgico, com ou semradioterapia, quimioterapia ehormonioterapia. O câncer de mamaapresenta manifestações clínicas,como alterações no tamanho ou for-ma dos seios; secreção nos mamilosou sensibilidade; alteração na pele damama, na auréola ou no mamilo;entre zonas mais quentes, inchaço,vermelhidão e escamação da pele; epresença de nódulo, acompanhadoou não de dor mamária.

Mas a doença pode ser assinto-mática, o que reforça a necessidadede uma prevenção constante. “Aideia da pesquisa é oferecer um testecomplementar aos exames dedetecção tradicionais, que jamaispodem ser descartados”, ressaltaGilda. “Todas as mulheres devemfazer o exame clínico a partir dos 40anos e uma mamografia bianual apartir dos 50 anos. Entretanto, aspacientes pertencentes a grupos comrisco elevado de desenvolver câncerde mama devem fazer uma mamo-grafia anual a partir dos 35 anos”,alerta a pesquisadora do Inca.

Gilda Alves: técnicas inovadoras podem ajudar a antever o avanço do tumor sobre a mama

Foto: Carlos Leite/Inca

Pesquisadora: Gilda AlvesInstituição: Instituto Nacional doCâncer (Inca)

As atividades de popularizaçãoda ciência têm aumentado sig-nificativamente no Brasil nos

últimos anos, seguindo uma tendên-cia mundial. Isso é fruto, por um lado,de uma demanda da sociedade, inte-ressada em ampliar o seu acesso aoconhecimento e aos artefatos produ-zidos por um mundo onde a tec-nologia e a ciência têm papel cadavez mais relevante. E, por outro, dapercepção do meio acadêmico danecessidade de manter um perma-nente diálogo com a sociedade, sejaajudando a fortalecer a cidadania e ainclusão social por um maior acessoao conhecimento científico, seja justi-ficando a importância e o significa-do de seu trabalho. Essas atividades

foram especialmente alavancadascom a criação, em 2003, pelo Minis-tério da Ciência e Tecnologia, de seuDepartamento de Popularização eDifusão do Conhecimento Científi-co e Tecnológico, que promove anu-almente a Semana Nacional de Ci-ência e Tecnologia, e por várioseditais realizados pelas agências defomento, incluindo a FAPERJ. Deforma semelhante, também a inicia-tiva privada começou a despertarpara a popularização da ciência, coma produção de programas para a te-levisão, a publicação de revistas degrande circulação, ou a realização deexposições com temas científicos.

Um fato novo e muito importantepara a área de popularização da ciên-cia foi a recente criação do ComitêAssessor de Divulgação Científica noCNPq, que estabeleceu um espaçopróprio para a avaliação de proje-tos nessa área, eminentementemultidisciplinar. Muitas teses de pós-graduação, livros e artigos têm sidoproduzidos nos últimos anos, mos-trando que, aliada a uma prática cres-cente, também a reflexão e o estudosobre a popularização da ciênciavêm se constituindo no País. É de seesperar que com a criação do novoCA a pesquisa e o ensino sobre apopularização e a divulgação cientí-fica se ampliem e se consolidem ain-da mais. E isso é fundamental.

A popularização da ciência lida comquestões muito complexas, tanto noque se refere às formas de interaçãocom a sociedade, como ao entendi-mento do que é ciência e tecnologia,sua forma de produzir e disseminaro conhecimento, ou sua inserção no

Popularização da ciência:diálogo com a sociedade

Alfredo Tolmasquim

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mundo contemporâneo, incorpo-rando elementos da epistemologia eda teoria do conhecimento, da his-tória da ciência, da pedagogia, da psi-cologia, da comunicação, entre mui-tas outras áreas.

Um dos grandes desafios para apopularização da ciência é não cairna armadilha de trabalhar apenas osconceitos e teorias científicas, en-fatizando unicamente os resultadosda ciência. Tão ou mais importanteque explicar um determinado con-ceito é mostrar como esse conheci-mento foi e está sendo construídocoletivamente, com hipóteses e teo-rias, com experimentações, com er-ros e acertos. E, obviamente, comotoda construção coletiva, sujeita amuitas divergências e brigas. Umamaior aproximação das pessoascom a ciência como um todo, seusconceitos e teorias, pode ser al-cançada a partir da percepção de quea ciência é necessariamente produtode um momento histórico, onde im-pera uma determinada visão de mun-do, e onde transitam os cientistas comseus métodos e instrumentos.

Muitas vezes se imagina que é pos-sível resolver o problema da falta deinteresse dos alunos pelo ensino deciências apenas com a implantaçãode métodos dinâmicos e interativos.Essa foi, por exemplo, a aposta demuitos centros de ciências, que ten-taram fugir do modelo estático dasexposições de grandes coleções deobjetos, característica dos museus tra-dicionais, com a criação de espaçosde interatividade. Entretanto, na mai-oria das vezes, restringiam-se a mos-trar um determinado fenômeno eapresentar a explicação científica paraaquele evento, reforçando o enfoqueapenas sobre o conhecimento já pro-duzido e reconhecido.

Porém, cada vez fica mais clara a ne-cessidade de se popularizar a ciênciapor meio de seu contexto e produ-ção históricos. Possivelmente, a tabe-la periódica de elementos, terror dosalunos que têm que decorar enormeslistas de nomes “estranhos”, fique bemmais interessante e instigante se elesconhecerem as tentativas dos várioscientistas ao longo do século XIX emencontrar alguma ordem para os

Um outro aspecto bastante comple-xo a ser trabalhado na popularizaçãoda ciência é a sua relação com outrasformas de conhecimento. Apopularização da ciência certamentenão pode ser vista como uma via demão única, apenas de transmissão deconhecimento, mas como uma for-ma de comunicação e diálogo coma sociedade, que passa por compre-ender o significado e a importânciade outros saberes. E isso é ainda maisrelevante na América Latina, ou noBrasil em particular, onde subsistemexpressões culturais locais muito ricasa serem exploradas e conhecidas.

O Museu de Astronomia e CiênciasAfins (www.mast.br) promoveu, re-centemente, uma interessante experi-ência de ensino para a popularizaçãoda ciência com a realização de um cur-so de aperfeiçoamento para agentesde popularização da ciência na Amé-rica Latina e Caribe, que contou como apoio da OEA, a Organização dosEstados Americanos. O curso reuniu,durante um mês, na forma deimersão, diversos profissionais doBrasil e de vários países da América

A Assembléia Geral da Organizaçãodas Nações Unidas (ONU) procla-mou 2009 como o Ano Internacio-nal da Astronomia (AIA 2009). Olançamento do evento no Brasil ocor-reu no fim de janeiro e até dezem-bro envolverá atividades em 55 ci-dades do País. A programação ocu-pará espaços em observatórios, uni-versidades, planetários, museus e atéem shopping centers. Doutora em As-tronomia pela Universidade de SãoPaulo (USP) e pesquisadora do Ob-servatório Nacional (ON), DanielaLazzaro é coordenadora do comitêorganizador da Assembléia Geral daUnião Astronômica Internacional

elementos conhecidos na época, oque só foi conseguido pelo russoDmitri Mendeleiev. Ou ainda, o es-tudo dos dinossauros ficará aindamais cativante se as pessoas pude-rem compreender como, a partir dealguns poucos ossos e dentes, foipossível reconstituir a aparência deum dinossauro, o que comia oucomo se movia. Esses são apenasdois pequenos exemplos ilustrativosde um tipo de abordagem que podeser realizada em praticamente todasas áreas do conhecimento e todasas teorias, em vigor ou não.

A história da ciência fornece um ca-ráter de mundaneidade à produçãocientífica. Isso se dá, por um lado,na possibilidade de mostrar comoas ideias científicas, filosóficas oureligiosas, que imperavam em umdeterminado momento, propicia-ram a elaboração de uma novaconstrução científica. E, por outro,na compreensão do processo tri-lhado por um grupo de cientistas,ao longo de vários anos, para en-contrar a melhor explicação paraum determinado fenômeno.

Latina, e abarcou temas relacionadosaos aspectos históricos e sociais daciência, ao papel da ciência e datecnologia na modernidade, às ques-tões emergentes e controversas na ci-ência atual, além da história e daconceituação da divulgação e do jor-nalismo científico. A iniciativa resul-tou na constituição de uma ativa redede comunicação entre esses profissi-onais. Segundo depoimento dos alu-nos, o contato com esses temas pro-piciou novas reflexões e novas práti-cas em suas atividades em po-pularização da ciência.

A popularização é, portanto, umaárea de conhecimento e de atuaçãoque tem se aprimorado muito nosúltimos anos, e para a qual a pers-pectiva de ampliação das pesquisase do ensino é a garantia de poderlidar com questões ainda mais com-plexas e estimulantes.

(IAU, na sigla em inglês) – um dospontos altos da programação doAIA 2009 – que será realizada no Rio,em agosto. A astrônoma é Cientistado Nosso Estado, um dos programas-símbolo da FAPERJ.

Qual a importância desse evento parao planeta, em geral, e para o Brasil,em particular?

A importância do AIA reside no fatode tentar, de forma global, atrair aatenção das pessoas para a astrono-mia, a cultura e a ciência em geral.Um dos objetivos é o de fazer comque o público, de crianças a adultos,passe a ver a astronomia como algoque faz parte de suas vidas. E tam-

bém mostra que seu estudo podepropiciar melhorias para todos. Oevento se reveste ainda mais de im-portância, pois acontece exatamentequando a União Astronômica Inter-nacional (IAU) promove, pela pri-meira vez, sua assembléia geral noPaís, mais precisamente no Rio deJaneiro. Durante duas semanas, osmaiores especialistas do mundo es-tarão reunidos na cidade, discutindoas novas descobertas e propondonovos rumos para essa área.

O AIA 2009 tem por objetivo cele-brar toda a inspiração e o conheci-mento obtidos ao longo dos séculospor meio da observação do céu. Em

países como o Reino Unido, associa-ções civis defendem menos ilumina-ção nas cidades para resgatar o es-petáculo celeste à noite. O queestamos perdendo?

De fato, o crescimento desor-denado das grandes cidades está fa-zendo com que existam cada vezmenos locais onde o céu pode servisto em todo seu esplendor. Issoé ruim tanto para a pesquisa comopara o homem comum, que perdea possibilidade de admirar o que anatureza tem de mais lindo. NoBrasil, infelizmente, pouco temosavançado na adoção de medidasque não ofusquem a beleza do céunoturno.

Os organizadores do evento acredi-tam que a sua realização pode aju-dar a promover uma mudança cul-tural no modo como a sociedade en-xerga a astronomia. Explique isso.

De uma forma geral, a sociedadeenxerga a astronomia como algomuito distante, para loucos ou gêni-os. De um lado, tem a imagem doastrônomo que no imaginário po-pular – e também nem tão popular!– se parece com o próprio GalileoGalilei, com frequência visto comouma figura bizarra, que passa as noi-tes em claro olhando o céu atravésde um telescópio. Por outro, a as-tronomia é encarada como uma ci-ência muito difícil, que não só re-

quer muito conhecimento de física ematemática, mas também de altosinvestimentos, e que só é feita de for-ma adequada lá fora. Essa visão nãoespelha a realidade. E mostrar essanova realidade, como a pesquisa emastronomia é feita hoje em dia e oquão perto de nós está são os obje-tivos do AIA.

Para conferir a programação com-pleta do AIA 2009, acesse a página:<www.astronomia2009.org.br/>

DANIELA LAZZARO, astrônoma

Alfredo Tolmasquim é pesquisador emhistória da ciência e diretor doMuseu de Astronomia e CiênciasAfins (Mast), unidade de pesquisa doMinistério da Ciência e Tecnologia

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Foto:Divulgação/Mast

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Encontro na sede da Funda-ção na segunda quinzena dejaneiro reuniu o presidente

da Coordenação de Aperfeiçoamen-to de Pessoal de Nível Superior (Ca-pes/MEC), Jorge Guimarães, e o di-retor presidente da FAPERJ, RuyGarcia Marques, que discutiram osdetalhes de um programa de coo-peração técnica e acadêmica que de-verá ser assinado ao longo de 2009.O acordo, que prevê um total derecursos de cerca de R$ 70 milhões,visa promover o desenvolvimentodas instituições de pesquisa e ensinosuperior fluminenses, particularmen-te dos programas de pós-graduaçãodo estado, por meio da concessãode bolsas de pós-doutorado e debancada, e de apoio para a aquisi-ção de equipamentos. Com isso, pro-cura-se fortalecer e ampliar o Pro-grama Nacional de Pós-Douto-ramento no estado. Além de Mar-ques, também participaram da reu-nião, pela FAPERJ, o diretor detecnologia, Rex Nazaré Alves, o che-

fe de gabinete, Roberto Dória, e osassessores da presidência, EgbertoMoura e José Firmino Nogueira Neto.

O total de recursos previsto no acor-do será dividido igualmente entreCapes e FAPERJ. A Capes se res-ponsabilizará pelo aporte de R$ 29,7milhões, com os quais serão financia-das 250 bolsas de pós-doutoradorecém-doutor, e de mais R$ 5,06milhões para a aquisição de equipa-mentos que façam parte de projetosselecionados conjuntamente com aFAPERJ. A Fundação participarácom R$ 23,76 milhões para custear200 bolsas de pós-doutorado recém-doutor, e mais R$ 9 milhões para ofinanciamento das taxas de bancadaassociadas às 250 bolsas outorgadaspela Capes. Caberá ainda à FAPERJoutros R$ 2 milhões para aquisiçãode equipamentos.

O acordo deverá vigorar por 48meses e a seleção de bolsistas seráfeita por meio de edital. As propos-tas para aquisição de equipamentos

também serão selecionadas poredital conjunto, a que somente po-derão concorrer orientadores debolsistas de pós-doutorado selecio-nados dentro do termo de coope-ração e incluídos em programas depós-graduação stricto sensu, avaliadospela Capes com conceitos 5, 6 e 7,em associação com programas comconceitos 3 e 4, ambos sediados noestado. Prevê-se vigência de dois anospara as bolsas, com possibilidade derenovação por um período de mais12 meses. Também serão apreciadasassociações entre Instituições de Ci-ência e Tecnologia (ICTs) e empre-sas sediadas no estado no desenvol-vimento dos projetos.

“Vimos tendo uma demanda cres-cente e altamente qualificada por bol-sas de pós-doutorado e, a partir des-sa parceria com a FAPERJ, podere-mos aumentar o índice de concessãopara essa modalidade de bolsa noestado do Rio de Janeiro”, declarouJorge Guimarães. E prosseguiu: “Estaimportante parceria que vem sendonegociada vem ao encontro do inte-resse da Capes, no sentido de forta-lecer o Programa Nacional de Pós-doutorado e de possibilitar a interaçãoaltamente desejável entre programasde pós-graduação de excelência comoutros programas ainda em cresci-mento, inclusive para uso comparti-lhado de equipamentos”. À saída dareunião, Marques enfatizou a impor-tância das parcerias com as entidadesfederais e a relevância do programade pós-doutoramento: “O programapropiciará a fixação de jovens talen-tos do Rio e de outros estados doPaís, ou do exterior, em nossas insti-tuições de ensino e pesquisa de exce-lência”, disse.

Parceria Faperj-Capes: fomento em altaFoto: Vinicius Zepeda

Jorge Guimarães (à dir.) e Ruy Marques: cooperação técnica e acadêmica em discussão

FAPERJIANAS

FAPs, CNPq e MSdebatem criação da ‘RedeMalária’

Quinze milhões de reais em recursos,que poderão ser aumentados, lança-mento de edital ainda no primeiro se-mestre de 2009 e prazo de até cincoanos para o desenvolvimento de pro-jetos. Esse foi o resultado do encon-tro que reuniu, no dia 13 de fevereiro,na sede da FAPERJ, representantes doMinistério da Saúde, do Conselho Na-cional de Desenvolvimento Científi-co e Tecnológico (CNPq) e de setefundações de amparo à pesquisa(FAPs) – Amazonas, Minas Gerais,Mato Grosso, Maranhão, Pará, Rio deJaneiro e São Paulo. Um dos pontosque mais se enfatizou na rede foi aintegração entre pesquisas e deman-das da sociedade na área de saúde. Apartir de avaliações anuais, aqueles pro-jetos que apresentarem bons resulta-dos poderão ter o seu prazo dilatadopara até cinco anos, situação em queserão aportados mais recursos financei-ros pelos participantes. A malária é adoença tropical e parasitária que maisprovoca problemas sociais e econô-micos no mundo. No Brasil, de acor-do com dados do Ministério da Saú-de, apenas em 2008, o número de ca-sos atingiu 306.347, 99% deles regis-trados na região da Amazônia Legal.

Seminário internodebate política defomento da Fundação

A diretoria da Fundação realizou nosdias 15 e 16 de dezembro, na regiãoserrana, seminário interno para acom-panhamento dos projetos que foramfinanciados nos anos de 2007 e 2008e para o planejamento das atividadesda Fundação em 2009. A reunião tevecomo objetivo realizar uma apresen-tação detalhada do fomento pratica-do em todas as modalidades de auxí-lios e bolsas e, a partir daí, programar

ações futuras. Desde o mêsde setembro de 2008, a di-retoria da FAPERJ vemimplementando uma políti-ca de acompanhamento dofomento à C&T fluminense.Relatórios parciais dos pro-jetos contemplados nas di-ferentes linhas de fomento daFundação têm sido solicita-dos aos pesquisadores, comdestaque para itens comoformação de recursos huma-nos e produção científica etecnológica. “Somente comavaliações periódicas poderemos ve-rificar se a política de financiamento àC&T fluminense vem tendo uma apli-cação correta”, declarou na ocasião opresidente da FAPERJ, Ruy Marques.Egberto Moura, assessor da presidên-cia, lembrou que a Fundação teve umforte aumento da demanda em prati-camente todas as modalidades de au-xílios e bolsas em período recente.“Não há dúvida de que isso é reflexoda recuperação da credibilidade daFundação”, disse. No planejamento deeditais para o corrente ano, foi unís-sona a preocupação em se continuarpropiciando a recuperação dainfraestrutura para pesquisa nas insti-tuições de ensino e pesquisa sediadasno estado.

Secretário de C&T domunicípio do Rio visita aFAPERJ

O secretário Especial de Ciência eTecnologia do município do Rio deJaneiro, Rubens Andrade, e o subse-cretário Marcos Villaça estiveram reu-nidos, na segunda quinzena de janeiro,com o presidente da Fundação, RuyMarques, e o diretor científico, JersonLima Silva, para estudar a viabilidadede parcerias da capital fluminense coma Fundação. Andrade assumiu, no iní-cio do ano, a pasta de C&T, que nãoexistia e foi criada com o desmem-

bramento da Secretaria Municipal deDesenvolvimento Econômico. “O Rioé uma cidade da inovação e precisaocupar novos espaços, do ponto devista da produção do conhecimento eda inclusão digital”, disse Andrade. Osecretário reafirmou a disposição doprefeito Eduardo Paes em criar umaFundação de Amparo à Pesquisa dacidade do Rio de Janeiro.

Morro Santa Marta ganharede de Internet gratuita

Desde a primeira quinzena de marçoque os quase 10 mil habitantes doMorro Santa Marta já contam comuma rede de Internet gratuita em ban-da larga. A implantação da rede wireless– sem fio – no local é resultado doprojeto Santa Marta Digital, uma inici-ativa da Secretaria de Ciência eTecnologia, financiada pela FAPERJ,em cooperação com a PUC-Rio e aSecretaria de Segurança do Estado. Oinvestimento foi de R$ 496 mil. O San-ta Marta é primeira comunidade de bai-xa renda do País a ter acesso ao siste-ma wireless, que conta com 16 antenasde transmissão de sinal via rádio. Alémde contribuir para a inclusão digital dosmoradores, a Internet gratuita vai faci-litar o acesso da população aos servi-ços públicos digitais e fortalecer acompetitividade dos microem-presários do local.

O governador Ségio Cabral (em primeiro plano), o secretário deC&T, Alexandre Cardoso, e o vice-governador Pezão: iniciativainédita no País leva internet gratuita à comunidade de baixa renda

Foto: Carlos Magno

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Aberta no início de março, en-cerra-se no dia 31 de julho o período de inscrições para o

programa de Auxílio à Editoração(APQ 3) da FAPERJ. A iniciativa é vol-tada para o apoio à edição de livros,manuais, números especiais (temáticos)de revistas e coletâneas científicas em

Programa apoia publicação de títulos

Os infames da históriaPobres, escravos e deficientes noBrasil

A autora aborda um universo extrema-mente amplo e plural que atravessa quase500 anos da história da sociedade brasileira.À luz das propostas metodológicas deFoucault, a psicóloga e historiadora LiliaLobo apresenta uma genealogia da institui-

ção “deficiência” no Brasil, tomando como ponto de partidaa pobreza e a escravidão.

Autor: Lilia Ferreira LoboEditora: LamparinaNúmero de páginas: 451

Pesquisa-intervenção nainfância e juventudeColeção Infância e Adolescênciano Contemporâneo

Esta coleção visa trazer ao público ideias ediscussões inovadoras no campo dos estu-dos da infância e adolescência, objetivandolevar adiante a tarefa da universidade, que é

também suscitar reflexões, examinar alternativas e encami-nhar propostas para o saber e o viver coletivos.

Organizadoras: Lucia Rabello de Castro,Vera Lopes BessetEditora: NauNúmero de páginas: 664

Cápsulas de ciênciaDe forma clara e acessível, e sem prejuízodo rigor científico, automação e sociedade,crise e monitoramento ambiental, aplica-ções na medicina e na engenharia do con-ceito de problemas inversos, fluidossupercríticos, caracterização de materiais,relações simbióticas entre matemáticas ecomputadores e distribuição de riqueza

são os temas tratados neste volume.

Organizador: Francisco Duarte Moura NetoEditora: QuartetNúmero de páginas: 232

EDITORAÇÃO

qualquer tipo de suporte – papel, ele-trônicos, vídeos, CDs e DVDs. O pro-grama contribui para a difusão epopularização da ciência e tecnologiafluminense, oferecendo aos pesquisado-res a oportunidade de divulgar à popu-lação o seu trabalho de pesquisa. Em2007 e 2008, os números revelaram um

ótimo desempenho dessa modalidade deauxílio, com o financiamento de um nú-mero superior a 100 títulos/ano. Den-tro da mesma linha de atuação, umaoutra iniciativa prevista para o ano de2009 é o lançamento de edital para apoi-ar a produção de material didático. Con-fira, abaixo, alguns lançamentos de 2008.

Espaço urbanoConflitos e subjetividade

Comum linguagem de fácil compreensão,o trabalho apresenta um olhar sobre osmoradores das favelas cariocas, fundamen-tado em profundo estudo empírico que secontrapõe à visão hegemônica presente namídia, na fala dos políticos e das classes

médias, que estigmatiza e criminaliza esses segmentos.

Autor: Ana Lúcia Gonçalves MaiolinoEditora: Mauad XNúmero de páginas: 309

Um olhar para o futuroDesafios da física para oséculo 21

Os editores apresentam neste livro algunsdos principais desafios que a física deveráenfrentar neste século que se inicia, visandocontribuir para despertar vocações, mos-trando aos jovens estudantes que a carreira

científica é uma profissão promissora e instigante, e que mui-tos desafios permanecem sem solução, à espera de novos ci-entistas dispostos a enfrentá-los.

Editores: João dos Anjos, Cássio Leite VieiraEditora: Vieira & LentNúmero de páginas: 192

Tecnologia do hidrogênioEste livro é dirigido a alunos de graduaçãoe pós-graduação de química, engenhariaquímica, engenharia de materiais e áreasafins, que buscam uma visão global sobreos diferentes aspectos envolvidos natecnologia do hidrogênio. Além do públi-co universitário, o livro também é destina-

do a profissionais da área técnica que buscam um conheci-mento mais fundamental das tecnologias do hidrogênio.

Autor: Mariana de Mattos Vieira Mello SouzaEditora: SynergiaNúmero de páginas: 132

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