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1-Pós Graduada em Educação Física Escolar de 1º e 2º Graus, em Administração, Supervisão

e Orientação Escolar, Graduada em Educação Física- UEL. Colégio Estadual Olavo Bilac e

Escola Municipal Pe José de Anchieta- Cambé- PR.

Doutora em Educação (UNESP) Mestre em Educação (UEM) graduada em Pedagogia(UEL),

professora do Departamento de Educação- UEL-Londrina -PR

PROFISSÃO DOCENTE: (des)valorização, (des)motivação ou reflexos da

contemporaneidade?

Sonia Maria Macarini Radigonda¹ Anilde Tombolato Tavares da Silva²

“O que fazemos na vida ecoa na eternidade” Palavras do General Máximus em uma cenas do filme Gladiador de 2000.

Resumo

O processo de desvalorização profissional, a desmotivação docente e suas consequências na sociedade contemporânea levou este estudo a buscar entendimento acerca dos fenômenos da motivação para a profissão docente bem como formas de enfrentamento da problemática e manutenção da saúde mental do professor. Iniciamos pela revisão crítica de trabalhos anteriores sobre o tema, buscando o entendimento das diferentes teorias da motivação passando para a instrumentalização da pesquisa por meio de questionário onde os professores apontaram os fatores que acreditam provocar sua desvalorização profissional e a sua desmotivação docente e quais os tipos de ações que acreditam contribuir para a superação dos problemas levantados. A partir dos resultados obtidos pelo questionário, organizamos um ciclo de estudos composto por encontros semanais para debates, aprofundamento teórico, análise de trechos de filmes e dinâmicas de grupo com carga horária total de 40 horas. Desse modo espera-se contribuir para a (re)construção significativa das relações inter e intrapessoais em toda comunidade escolar, para a ação efetiva e comprometida dos mesmos na sua motivação profissional e na qualidade do processo de ensino e aprendizagem dos alunos.

Palavras-chave: docência, contemporaneidade, motivação profissional, valorização

do professor.

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1 Introdução

A sociedade contemporânea vem enfrentando uma série de desafios

decorrentes dos avanços tecnológicos, científicos e relacionamentos em rede, tudo

sendo visto e vivido em tempo real. Assim, as inúmeras transformações que

impactam as diferentes esferas do convívio humano requerem uma atenção

especial, dada sua complexidade e as alterações que provocam no comportamento

humano e na própria definição da identidade pós-moderna.

Entretanto, é imperceptível o ritmo deste desenvolvimento tecnológico

e suas consequências no que se refere à vida do ser humano, na sua subjetividade,

ou seja, nos seus sonhos, nas suas alegrias, suas lutas e ao encantamento ou

desencantamento profissional e vivencial, afetando praticamente todos os contextos

institucionais, entre eles, este que nos interessou neste projeto: a escola.

Paralelamente a tantas evoluções, vivemos tempos de desencantos, frustrações e

tristezas. Os professores da rede pública não estão alheios a tal realidade, sentem-

se impotentes para desenvolver sua função de transformar a realidade de seus

alunos. A escola, que sempre foi um mecanismo refém da sociedade e sua evolução

histórica, social e política, hoje sente-se incapaz de acompanhar e mesmo

compreender seu papel diante da rapidez destas transformações. Os professores,

assim como a própria educação escolar, se isolaram numa ilha à parte, contribuindo

para este sentimento de desvalorização e desmotivação que acomete grande parte

dos professores da escola pública.

A realidade que se apresenta tem gerado muita preocupação ao ver

cada dia mais professores se mostrarem tristes, desmotivados, e até mesmo

doentes, não apresentando prazer ao fazerem o que sabem de melhor: ministrar

aulas e mediar o processo de construção do conhecimento. Essa preocupação é

maior ainda quando constatamos que são estes mesmos professores que atuam no

ensino médio e profissional sendo formadores de novos profissionais das áreas de

secretariado, recursos humanos e professores em curso de Formação de Docentes.

A motivação é fruto de uma interação entre a pessoa e o ambiente,

tornando-se mais forte quanto maiores forem as necessidades e motivos interiores

de cada pessoa. O artigo em questão vislumbrou, por meio de um processo de

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Intervenção Pedagógica, desenvolver um trabalho que norteasse o ambiente

escolar, oferecendo a nós professores, a oportunidade de refletirmos sobre o papel

social de nossa função, bem como a possibilidade do avanço real, da contribuição

de um embasamento teórico, sólido e consistente. Acreditamos que a desmotivação

profissional que permeia o trabalho do professor nos dias atuais está diretamente

ligada à crise social de valores éticos na contemporaneidade. Portanto, a

compreensão crítica sobre a realidade em que estamos inseridos pode influenciar os

professores a se perceberem como agentes de transformação e a trabalharem

entusiasticamente visando sempre à realização pessoal, profissional e às metas que

se direcionam para o bem comum de toda a comunidade escolar. A crise gerada

pela desvalorização, a desmotivação, a falta de entusiasmo, de prazer, de

dedicação, de empenho, de autenticidade, de comprometimento e o desinteresse

efetivo da comunidade escolar estão diretamente interligados aos fatores históricos,

sociais e políticos que perpassam nossa sociedade.

Neste sentido procuramos respostas para as seguintes questões: De

que forma o professor pode acompanhar criticamente o ritmo acelerado da

contemporaneidade? Como manter-se motivados frente a tantos conflitos de valores

éticos, sociais e históricos? Como encontrar disposição para ser um professor tão

completo e manter a autoestima?

O objetivo deste estudo foi refletir sobre os fatores que geram a

percepção do cenário de desvalorização e desmotivação dos professores,

aprofundar as bases teóricas e aproximar da práxis no intuito de propor ações

positivas de enfrentamento e superação.

Para alcançar tal objetivo, nossa fundamentação teórica voltou-se para

os estudos sobre a desvalorização e a desmotivação e suas consequências para a

profissão docente, buscando o entendimento das diferentes teorias da motivação

passando para a instrumentalização da pesquisa por meio de questionário no qual

os professores apontaram os fatores que acreditam provocar sua desvalorização

profissional e desmotivação e quais os tipos de ações que acreditam contribuir para

a superação dos problemas levantados. A partir dos resultados obtidos pelo

questionário, organizamos um ciclo de estudos, composto por encontros semanais

para debates, aprofundamento teórico, análise de trechos de filmes e dinâmicas de

grupo com carga horária total de 40 horas. Desse modo espera-se contribuir para a

(re)construção significativa das relações inter e intrapessoais em toda comunidade

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escolar, para a ação efetiva e comprometida dos mesmos na sua motivação

profissional e na qualidade do processo de ensino e aprendizagem dos alunos.

1.1 O desencanto na profissão docente na contemporaneidade: à luz da teoria

A temática da formação de professores em virtude da multiplicidade de

tendências e tensões que a perpassam é bastante complexa tornando-se um campo

de estudos nem sempre fácil. Na palavra “formar” está implícita a ideia de forma, a

qual mostra a existência de um molde anterior a ser aplicado. Pensando nisto

Libânio busca corrigir esta ideia transformando

[...] a palavra formar em formar-se ajudando a acabar com a ideia de passividade. Formar-se é, portanto, um processo educativo que está na mão do próprio formando, que respeita sua singularidade e que busca ampliar as suas qualidades na intenção de transformar a sociedade em que vive. (LIBÂNIO apud MORAES e SILVA, 2009, p.7939)

Uma análise dos escritos sobre o assunto revela que não se tem

levado em conta, na maioria dos casos, o processo histórico e o teórico acerca da

formação de professores, deixando de lado vários fatores históricos que durante

décadas influenciaram na formação destes profissionais.

Entretanto, atualmente, já se manifesta positivamente, apesar de

tímida, uma mudança qualitativa na formação de professores. Porém, não tem ainda

sido suficiente para sanar as dificuldades apresentadas pelos professores,

principalmente no víeis da motivação no âmbito do trabalho.

O desencanto pela profissão, a perda da identidade, a falta de sentido

no ensinar, a falta de disposição para o trabalho, as doenças psicossomáticas e os

distúrbios psíquicos de caráter depressivos estão fortemente instalados em nossas

escolas.

A docência nunca foi uma tarefa simples, porém, a modernidade traz

novos elementos que tornam o trabalho docente ainda mais difícil. Há exigência de

profissionais competentes que acompanhem o desenvolvimento tecnológico e as

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mudanças no mundo do trabalho, no entanto, não é o acúmulo de conhecimentos

que garante o êxito no desempenho de suas funções, exigindo dos professores

domínio de um conjunto de habilidades pessoais. Faz parte da tarefa do professor

deparar-se cotidianamente com mudanças de contexto tanto em âmbito discente,

quanto em relação ao conhecimento e às tecnologias, ou ainda aos paradigmas.

Mas como cuidar de todas estas variáveis se o professor não cuidar

primeiro de seu eu? Como encontrar disposição para ser tão completo, manter sua

autoestima e seu estado de espírito interior tão elevado ao ponto de desejar de

forma intrínseca ser melhor na sua prática educativa e transformar sua própria

realidade social? Temos então instalada uma situação que Moraes e Silva definem

como crise docente aquela que...

[...] arrasta-se ao longo dos anos provocando uma situação de “mal-estar”, visível nos professores, desmotivados, muitas vezes, essa insatisfação profissional afeta a personalidade do professor e faz com que o mesmo acabe transmitindo em atitude de indisposição e negativismo para seus alunos. (MORAES e SILVA, 2009, p.7946)

É nesse sentido que acreditamos interferir o nível de motivação do

professor na direção da construção e afirmação de sua identidade, pois, segundo

Brezezinski

[...] a identidade do professor é fruto de interações sociais complexas nas sociedades contemporâneas é expressão sócio-psicológica que interage nas aprendizagens, nas formas cognitivas, nas ações dos seres humanos. Ela define um modo de ser no mundo, num dado momento, numa dada cultura, numa história.(BREZEZINSKI, 2002 p.86)

As mudanças na sociedade globalizada, segundo Moraes e Silva,

[...] levam-nos a refletir sobre o papel da escola e da educação; as mudanças de valores, os modelos culturais, as referências para jovens, as transformações do mercado de trabalho, enfim, fatores que nos fazem repensar sobre o modelo educacional pelo qual trabalhamos. Esses fatores acometem os professores influenciando primeiramente sua prática em sala

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de aula, gerando muitas vezes tensões e conflitos, sendo estes ligados a sentimentos de desencanto e emoções negativas. Muitas mudanças tiram dos professores sua autonomia deixando-os desmotivados, [...] (MORAES e SILVA, 2002, p.7946)

As autoras concluem ainda, citando a psicóloga e escritora Zagury

(2006 p.111), que “qualquer profissional, para manter-se motivado e com um nível

mínimo de adesão ao processo, precisa sentir que sua experiência, ideias e opiniões

são ouvidas. Mais que ouvidas, consideradas”.

Porém o cotidiano do trabalho pedagógico do docente leva ao caminho

oposto. Com isto alimenta-se cada vez mais o sentimento de impotência, de

incapacidade, de não conseguir manter-se valorizado e motivado. Possivelmente

sejam estes alguns dos motivos que agravam o estado de saúde psicossocial e

físico já que estão cada vez mais presentes no ambiente escolar.

A escola deve ser o lugar do diálogo, hoje banalizado, da construção

de uma comunicação dialógica que questiona a si e ao mundo que a cerca.

Conhecer a realidade é fundamental para que essa construção se realize. Só assim

poderemos compreendê-la e explicá-la.

Pensar a contemporaneidade nos leva a refletir sobre características

deste tempo como a “infantilização do trabalho docente”. Será de fundamental

importância buscarmos informações nos escritos de autores como Adorno, Kant,

Foucault, Benjamin, Gagnebin, e Silva, para entender o significado dessa

infantilização no contexto social, suas influências e consequências na ação docente,

bem como as possibilidades de superação. Só desse modo começaremos a

estranhar aquilo que parece natural, lutar contra ideias cristalizadas, desejando um

pensar reflexivo e filosófico que poderá influenciar positivamente na valorização e

motivação da profissão docente.

Para Silva

O pensamento reflexivo e criativo é elemento inerente e propulsor da atividade pedagógica, mas estamos envolvidos pelo deslumbramento do processo tecnológico e nos deixamos levar, de certa forma, pela degeneração do pensamento reflexivo, ameaçando o conteúdo ético do processo formativo em razão de sua determinação social. (SILVA, 2009, p.928)

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A principal preocupação desta mesma autora, com a qual nós

concordamos

[...] é pensar a noção de infância pela notoriedade que ela vai ganhando na modernidade, posicionando-a como centro das atenções, não pela sua influência na vida do homem, mas na sua vinculação com o desenvolvimento da sociedade, atrelada à idéia de menoridade e de

incapacidade. (SILVA, 2007 p.7)

Já que, segundo Gangnebin (1994), “a menoridade é a incapacidade

de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo” a ação docente

reveste-se de uma importância especial não podendo resumir-se ao mero

cumprimento de tarefas, como tão bem alerta Silva:

A atividade docente, assim com toda a atividade do homem moderno, transformou-se em mera técnica ou aplicação de conhecimentos produzidos pelas ciências da educação, atendendo à necessidade social de aumento da eficiência, a demanda de qualificação profissional e aos padrões de consumo. Mera atividade repetidora, incapaz de traduzir-se em experiências

narráveis. (SILVA, 2009, p. 929).

Essa importância à qual nos referimos portanto é aquela que rompe

com alguns mitos instalados no interior da escola e da sociedade e propõe um

aprofundamento da função docente superando a mera função de transmissores de

informação. É aquela que supera esta infantilização através da recriação do

conhecimento na sua totalidade possível.

1.2 Consequências desse desencanto: doenças sociais.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) o conceito de saúde

é, desde 1948, não apenas a ausência de doença ou enfermidade mas um bem-

estar físico, psíquico e social. Este conceito, no Brasil, a partir da 8ª Conferência

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Nacional de Saúde, realizada em 1986, foi ampliado tomando fortes contornos

sociais e saindo dos lugares clássicos como hospitais e postos de saúde para outros

como nossa casa e nossa escola, passando a ser então: “[...] resultante das

condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho,

emprego, lazer, liberdade, acesso e posse de terra e acesso a serviço de saúde”.

Um olhar sobre a literatura da área chama a atenção pelo elevado

número de ocorrências de estresse ocupacional em dois segmentos profissionais: os

da saúde e os do ensino. Os fatores que contribuem para essa ocorrência são, além

dos ambientais, alguns ligados à organização do trabalho, fatores físicos e

psicológicos e estilos de vida.

Vários estudos apontam para o surgimento de uma nova síndrome

ligada ao exercício profissional, especificamente dos professores, a Síndrome de

Burnout, citando Esteve, (1999), Carlotto

[...] adverte sobre as desastrosas tensões e desorientações provocadas nos indivíduos quando estes se veem obrigados a uma mudança excessiva em um período de tempo demasiadamente curto. Para o autor, o professor está sendo tirado de um meio cultural conhecido, em que se desenvolveu até então sua existência, e está sendo colocado em um meio completamente distinto do seu, sem esperança de voltar à antiga paisagem social de que se lembra. (CARLOTTO, 2002, p.23)

Fatores estressores, se persistentes, podem levar à Síndrome de

Burnout, caracterizada pela literatura de domínio público como:

[...] um distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de esgotamento

físico e mental intenso, definido por Herbert J. Freudenberger como “(…) um

estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à

vida profissional”.

Carlotto alega que:

Burnout em professores afeta o ambiente educacional e interfere na obtenção dos objetivos pedagógicos, levando estes profissionais a um

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processo de alienação, desumanização e apatia e ocasionando problemas de saúde e absenteísmo e intenção de abandonar a profissão. (CARLOTTO, 2002, p.21)

Professores com Burnout apresentam exaustão física e emocional

advinda de um crescente sentimento de desconforto em contrapartida à diminuição

da vontade de lecionar. Apresentam também falta de energia, alegria, entusiasmo,

satisfação, interesse, vontade, sonhos para a vida, ideias, concentração,

autoconfiança e humor.

Ainda segundo Carlotto,

[...] torna-se de fundamental importância destacar que a prevenção e a erradicação de Burnout em professores não é tarefa solitária deste, mas deve contemplar uma ação conjunta entre professor, alunos, instituição de ensino e sociedade. As reflexões e ações geradas devem visar à busca de alternativas para possíveis modificações, não só na esfera microssocial de seu trabalho e de suas relações interpessoais, mas também na ampla gama de fatores macroorganizacionais que determinam aspectos constituintes da cultura organizacional e social na qual o sujeito exerce sua atividade profissional. (CARLOTTO, 2002, p.27)

Concluimos assim que o Burnout de professores relaciona-se

diretamente com as condições desmotivadoras no trabalho, afetando, na maioria

dos casos, o desempenho do profissional. Embora muitos estejam neste patamar

continuam desenvolvendo suas funções sem condições de desempenhá-las

adequadamente.

O livro O Monge e o Executivo, Hunter (2004, p.25) define “a liderança

como a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente

visando atingir aos objetivos identificados como sendo para o bem comum.”

Sabendo-se que a liderança impacta na estima e motivação dos

professores, entendendo motivação como Waal, Marcusso e Telles (2004, p.26) “o

processo psicológico que leva uma pessoa a fazer esforços para obter certo

resultado”, este aspecto deve ser estudado e analisado de modo que se encontrem

sempre formas benéficas para obter o comprometimento das pessoas com os

objetivos educacionais. Etimologicamente, motivação tem sua raiz na palavra mover,

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isto é, um impulso gerador de ação, é interno e resulta da interação entre o ser e seu

ambiente. Podendo ser gerada por fatores internos ou externos ao indivíduo.

Para Sampaio (2009, p.5), com base em Maslow pode-se afirmar que o

ser humano tem vários tipos de necessidades, que recebem a seguinte

classificação: de segurança, de pertença e de amor, de estima, fisiológicas, de

autorrealização, desejos de saber e de entender, e estéticas. Durante nossos

encontros, foi possível detectar que essas necessidades, tão primárias ao ser

humano e, por consequência, ao professor, estão longe de serem contempladas na

rotina da comunidade escolar, impondo ao profissional da educação um sentimento

de exclusão e de falta de identidade como pessoa e profissional.

1.3 Perspectivas de superação

A revisão da literatura pertinente aponta para a superação desses

desafios. Segundo nosso entender, a superação da docência solitária pode

encontrar vazão na formação continuada desde que, além dos saberes científicos

específicos de cada disciplina, no dizer de Linhares, ocorra ainda a construção de

[...] canais onde possam expressar e debater sentimentos, percepções, reflexões e preocupações com seu trabalho, aproveitando tudo que o constrange ou potencializa para compartilhar percursos de gestação de discursos em que ressoem suas vozes, suas opiniões, suas análises e suas ações. (LINHARES,2010)

Segundo Severino (2010, p.631), “a exigência da necessidade ética

emerge no exercício da ação interpessoal, ou seja, ela se impõe prioritariamente

quando está em pauta o agir em relação a outras pessoas”. Neste sentido, para

sermos coerentes também com a dimensão histórica e social é imperativo, no dizer

de Severino,” impregnar a formação docente de uma radical sensibilidade ética, sem

a qual não há como esperar de sua atuação com essa mesma qualidade”.

A superação se faz necessária para que não tenhamos a perpetuação

da ilusão acerca da função educativa segundo a qual “o professor finge que ensina e

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o aluno finge que aprende” (Werneck H. 1992). Necessária ainda para que a escola

pública e, por conseguinte o fazer docente e discente tornem-se plenos de

significação, retomando sobre si o compromisso ético com as classes trabalhadoras

das quais fazem parte tanto alunos quanto professores, garantindo aos últimos

melhores condições de trabalho.

O tempo presente nos desafia a manter um diálogo constante com a

literatura, pois somente pelo conhecimento é possível realizarmos as ações

indicadas por Silva de

[...] pensarmos a educação atual e provocar um debate que garanta uma reflexão sobre as perspectivas da infantilização do trabalho docente e os desafios postos por eles no campo da educação, os limites e a possibilidade de se assumir a escola como espaço de produção do novo, do não-dito, do não-pensado em detrimento do que já está instituído. SILVA (2009, p. 929).

Frente ao exposto até aqui, o presente trabalho insere-se ainda em

concordância com o que preconizam as Diretrizes Curriculares para a Educação

Básica do Estado do Paraná, ilustrada nesta afirmação de Sacristán:

[...] os aspectos intelectuais, físicos, emocionais e sociais são importantes no desenvolvimento da vida do indivíduo, levando em conta, além disso, que terão de ser objeto de tratamentos coerentes para que se consigam finalidades tão diversas, ter-se-á que ponderar, como consequência inevitável, os aspectos metodológicos do ensino, já que destes depende a consecução de muitas dessas finalidades e não de conteúdos estritos de ensino. Desde então, a metodologia e a importância da experiência estão ligadas indissoluvelmente ao conceito de currículo. O importante do currículo é a experiência, a recriação da cultura em termos de vivências, a

provocação de situações problemáticas. (SACRISTÁN, 2000, p.41)

Confirmando a necessidade de um olhar para além das competências

técnico-científicas na formação do docente, dada a importância dos aspectos

metodológicos e das ações que compõem o currículo oculto bem como das relações

inter e intrapessoais em todo o processo educativo.

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2 Desenvolvimento

Para seguirmos adiante no presente artigo, partimos do pressuposto

que o objetivo de todo professor é realizar-se profissionalmente e contribuir para o

aumento e manutenção da qualidade do ensino. Este pressuposto deverá vir

acompanhado de visões, questionamentos e vivências mais amplas e críticas por

parte dos mesmos. Torna-se necessário um diálogo científico com os pensadores

até aqui apresentados, e outros que poderão contribuir sobre as questões relevantes

acerca da desvalorização profissional e da desmotivação docente e todos os

aspectos nelas envolvidos como a motivação e o significado do trabalho na ação

docente, emoções e afeto, saúde mental, ética, autoestima, realização pessoal,

desejos, comprometimento, vínculos, relações intra e interpessoais e qualidade de

vida.

Acreditamos assim estar no caminho de respostas e saídas mais reais

e significativas para as questões que nos propusemos no início de nosso trabalho,

encontrando formas para acompanhar criticamente o ritmo acelerado da

contemporaneidade, mantendo-se motivados frente a tantos conflitos de valores

éticos, sociais e históricos e encontrando disposição para ser um professor tão

completo, manter a autoestima e o estado de espírito interior elevado ao ponto de

desejar de forma intrínseca ser melhor na prática educativa e transformar a própria

realidade social.

O estresse profissional, a angústia e o desgaste físico e emocional

provocados por conta desses questionamentos e pelo desejo de encontrar respostas

estão presentes na ação docente diariamente, motivos pelos quais fomos levados a

propor uma formação significativa, sistematizada e coerente, pautada nos

conhecimentos científicos e nas trocas de experiências vivenciadas, desejando a

constante superação dos limites enfrentados na profissão docente.

De posse dos dados recolhidos no questionário aplicado, promovemos

um Ciclo de Estudos de quarenta horas com o intuito de confrontar as percepções

dos envolvidos à luz de referenciais teóricos, e vivenciar as ações por eles sugeridas

e outras que permitissem o alargamento da compreensão acerca dos problemas

levantados. Oportunizamos um embasamento teórico sobre as questões relevantes,

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que se fazem necessárias para a compreensão e reflexão sobre a crise de valores

éticos, morais e sociais, pela qual a sociedade contemporânea vem passando e,

consequentemente, influenciando a prática docente. Deste modo, acreditamos

contribuir para a (re)construção significativa das relações inter e intrapessoais em

toda comunidade escolar, para a ação efetiva e comprometida dos mesmos, bem

como para a motivação profissional e qualidade do processo de ensino e

aprendizagem.

Os encontros do ciclo de estudos foram organizados conforme o

quadro a seguir:

Conferência de Abertura: “Motivação e Significado do Trabalho na Ação Docente.” Profª Ana Celi Pavão – UEL Horário: 8 horas. Local: Salão Nobre do Colégio Estadual Olavo Bilac - Cambé-PR 1º Encontro “As Emoções e o Afeto no Trabalho Docente” Responsáveis: Sonia Maria Macarini Radigonda Profª Ana Celi Pavão – UEL Horário: 7:30 às 11:30 horas Local: Salão Nobre do Colégio Estadual Olavo Bilac - Cambé-PR 2º Encontro “Profissão docente e Saúde mental” Responsáveis: Sonia Maria Macarini Radigonda Profª Drª Regina Marcia Brolesi de Souza - UEL Horário: 7:30 às 11:30 horas Local: Salão Nobre do Colégio Estadual Olavo Bilac - Cambé-PR 3º Encontro “A síndrome de Burnout e o trabalho docente” Responsável: Sonia Maria Macarini Radigonda Horário: 7:30 às 11:30 horas Local: Salão Nobre do Colégio Estadual Olavo Bilac - Cambé-PR

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4º Encontro “A ética na formação e atuação dos professores” Responsáveis: Sonia Maria Macarini Radigonda Profª Drª Anilde Tombolato Tavares da Silva - UEL Horário: 7:30 às 11:30 horas Local: Salão Nobre do Colégio Estadual Olavo Bilac - Cambé-PR 5º Encontro “A subjetividade no trabalho docente” Responsável: Sonia Maria Macarini Radigonda Horário: 7:30 às 11:30 horas Local: Salão Nobre do Colégio Estadual Olavo Bilac - Cambé-PR 6º Encontro “Desafios contemporâneos do trabalho docente” Responsável: Sonia Maria Macarini Radigonda Horário: 7:30 às 11:30 horas Local: Salão Nobre do Colégio Estadual Olavo Bilac - Cambé-PR 7º Encontro “Avaliação da intervenção pedagógica” Responsável: Sonia Maria Macarini Radigonda Horário: 7:30 às 11:30 horas Local: Salão Nobre do Colégio Estadual Olavo Bilac - Cambé-PR

3 O SENTIMENTO DOCENTE: O pedido de socorro que não quer calar

Gostaríamos de iniciar essa etapa do artigo com as considerações de

alguns colegas de profissão ao abordarem e debaterem sobre como se veem e

como se sentem diante da massificação predatória do sistema vinculado aos

desejos da sociedade contemporânea.

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- Em minha prática pedagógica também percebo a desmotivação e o desencanto. Alguns fatores como burocracia, exigências, sobrecarga, falta de respeito, baixo salário, salas super lotadas e principalmente o comportamento inadequado dos alunos entre outros são com certeza os motivos de reclamações constantes por parte dos professores. Acredito que esta desvalorização profissional acontece devido a falta de valores essenciais que estão sendo esquecidos em nosso tempo. Penso que a afetividade é algo super importante em qualquer profissão. Necessitamos de humanidade, de resgate valores e principalmente de muito amor ao próximo, mas isto só será possível com o envolvimento de toda a comunidade e não somente da escola. Assim acredito que este projeto será de grande eficácia. (E.A.N.)

- Somos constantemente orientados a reagir de forma que todos as questões podem e devem ser resolvidas com o menor constrangimento possível para estes menores, que muitas vezes, como sabemos nos agride verbalmente e até com gestos, e o mais difícil é comprovar isto. (A.A.S.)

- O professor no seu árduo dia a dia acaba se sentindo desmotivado ao encontrar salas superlotadas, cobranças da sociedade, ausência do apoio da comunidade escolar (e, em especial, das famílias), baixos salários etc. Entretanto, a iniciativa de projetos como o deste GTR, pode fazer a diferença na qualidade de vida pessoal, familiar e profissional dos docentes levando-os a perceber suas reais funções, suas limitações, sua importância para a formação de pessoas melhores, resgatando sua valorização e motivação para o trabalho. (R.R.S.)

- A realidade da sala de aula não é fácil e sem reconhecimento profissional não dá. Por isso que falo que me orgulho dos professores que atuam em minha escola, com certeza temos falhas como qualquer outra escola, mas procuramos força na união e no respeito. (F.R.O.N.)

- Vivemos em torno de uma realidade cruel enquanto professores. Realidade esta que aceita quase tudo de maneira natural em nome da modernidade. Até parece que temos que engolir todas as regras, todas as Leis... caso contrário levamos o rótulo de desatualizados ou fora do contexto. O que era indisciplina, falta de educação, aquela que se traz de casa por parte dos alunos, hoje se atribui, na sua maioria, à falta de pulso do professor. Caso a maioria das notas de uma turma seja baixa é culpa do professor e da sua metodologia ultrapassada. E assim vão as culpas delegadas aos professores pelo baixo índice de aprendizagem. Porém, na minha visão é muito fácil achar um CRISTO para culpar pelas falhas Governamentais e Religiosas. Um país onde pais não conseguem sustentar e alimentar suas famílias, onde a constituição só é válida para os economicamente ricos, onde a Fé está materialista e as igrejas não conseguem mais atrair, conquistar fiéis e com eles mostrar uma vida em comunidade, dando espaço a vivência do simbólico, da caridade... só podemos esperar este MUNDO MODERNO. A falta de valores é imensa e intensa em nome dos tempos modernos. O que mais escuto são palavras negativas, desilusão, falta de esperança. Assim não dá. A intervenção pedagógica é urgente e prioritária para uma educação mais eficaz e humana. (M.H.B)

- Precisamos entender que estamos no limite, nossa falta de motivação e doenças é o sinal de alerta, um grito de agonia de uma classe que não aguenta mais. (T.M.H.)

Ao olharmos para as participações no GTR e no Ciclo de Estudos, é

visível que não bastam apenas os discursos dos responsáveis pelo sistema

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educacional nem as intenções dos mesmos, pois essas não traduzem de forma

cristalina a realidade de uma classe que clama por auxílio no sentido de (re)erguer

uma profissão que, em outras realidades, é reverenciada por imperadores.

Não se pode também dizer que a situação docente chegou aos níveis

que se encontra apenas por descuido e desinteresse do sistema. O individualismo

exacerbado nos modos de trabalho de alguns profissionais docentes que se

recusam a adotar uma linha de atuação colaborativa também torna-se vilão, e isto

só é prejudicial a eles mesmos pois, dessa forma, estarão mais e mais isolados ao

lidarem com os problemas complexos de sua docência. No surgimento dos

problemas, é possível afirmar que manuais escolares não os ajudarão em nada.

Ao conversar individualmente sobre o quadro de desmotivação na ação

docente e a desvalorização profissional que percebemos, tentamos levar os

professores a refletirem e posteriormente tomarem ciência, identificarem e darem

nomes aos fatos, pois ficou muito forte o indício de que os mesmos sentem-se

envergonhados e diminuídos ao terem que assumir algumas situações perante o

grupo de profissionais ou mesmo diante da sociedade como a dificuldade em atuar

na sala de aula hoje.

A falta de controle dos acontecimentos no dia a dia na sala de aula, o

descontrole emocional para lidar com as situações-problema (violência emocional,

desrespeito, agressão verbal e física), o cansaço físico e mental que, apesar dos

finais de semana e das férias, não passa. A falta de autonomia verdadeira para

realizar seu trabalho, o pouco conhecimento das correntes pedagógicas vigentes

que vão impostas a cada troca de governo, a falta de identidade profissional (quem

somos afinal?), a dificuldade de lidar com o novo, a dificuldade de adequar o

conhecimento científico específico de sua área nas aulas, não conhecer quem é o

aluno hoje e o que ele precisa e busca, a falta de tempo e de dinheiro ou mesmo de

disposição física e mental para buscar formação adequada e de qualidade, uma vez

que somos cobrados, responsabilizados e tratados como os únicos culpados pelos

problemas da escola e da sociedade como um todo.

É preciso parar e retomar as rédeas da nossa vivência profissional,

uma vez que não se pode esperar ações e tomadas de postura que venham de

esferas e instâncias superiores. A saúde mental, emocional e física é nossa e somos

nós quem devemos assumir o controle da busca e da manutenção da qualidade de

vida. Portanto é primordial que o indivíduo invista em si próprio, trace objetivos e

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metas a seguir, faça análise de suas limitações e fracassos e encontre meios para

superá-los, criando oportunidades para seu pleno desenvolvimento profissional e

pessoal.

A proposta desse trabalho surge como uma tentativa de acenar uma

bandeira que mostre, ou pelo menos, inicie uma demonstração de que apenas

capacitação pedagógica não vem ao encontro das reais necessidades da classe

docente contemporânea. Faz-se iminente um investimento no profissional de

educação que o abarque como um ser completo e integral e não apenas como o

mediador das propostas pedagógicas a serem desenvolvidas.

Penso que nós, professores, precisamos ser os primeiros a acreditar

em nossa força política, desejarmos e sermos participativos, buscando em nós

mesmos a transformação como pessoa e como profissional, para termos condições

de ser espelho para aqueles que nos são entregues às mãos.

4 Uma última palavra...

Vivemos numa sociedade pós-moderna onde a valorização pessoal

depende unicamente de cada indivíduo. É importante que cada pessoa tenha

conhecimento de si própria, suas limitações e suas competências buscando

oportunidades profissionais adequadas ao seu desempenho proporcionando assim

sua realização pessoal.

Ao abordar a questão da motivação, esse trabalho propõe uma linha de

estudos que vai muito além da motivação extrínseca, passa longe de momentos e

de técnicas de autoajuda, a proposta é de que por meio de estudos, leituras e trocas

de experiências, o professor possa redefinir as questões internas e externas aos

muros da escola. É preciso rever a formação continuada desenvolvida nos moldes

em que é trabalhada em nossa práxis: não há como desmembrar o ser pessoal do

profissional.

É preciso estudar para ser melhor. O estudo pautado no conhecimento

científico e na formação humana alavancam a compreensão da realidade. Estudar é

construir a nossa competência. Devemos estudar para melhorar nosso desempenho.

As reflexões geradas pelo conhecimento nos estimulam a fazer novas escolhas e

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tomar decisões acertadas vivenciando na prática o que estudamos. O conhecimento

científico revela as práticas bem sucedidas. Não existe nada mais prático que uma

boa teoria. Conhecemos nossa realidade a partir da nossa própria limitação,

analisando as partes, mas sem deixar de buscar a interação do todo de forma

completa e dinâmica. Desse modo não parece suficiente continuarmos realizando

formação continuada só no aspecto pedagógico, é necessário buscarmos a

formação global.

A bandeira levantada pelo presente trabalho é pensar também que a

contemporaneidade nos desafia a voltarmos para nós mesmos e reencontrarmos

nossos valores, nossa identidade e, neles fundamentados, buscarmos as novas

formas de viver e atuar. Não é fácil abandonarmos hábitos, costumes e nos

adaptarmos aos novos meios e recursos. Às vezes precisamos reaprender o que

sempre fizemos muito bem.

Na contemporaneidade também somos desafiados a viver em

sociedade, respeitando nossos próprios limites e os avanços dos demais, sendo

humildes, responsáveis, afetuosos, verdadeiros, solidários e acima de tudo

humanos. Precisamos ser autores de nossas histórias, histórias variadas,

significativas, cheias de objetivos e metas, recheadas de aventuras na tarefa de

ensinar e na descoberta das novas possibilidades de aprender.

Se não formos um ser e um profissional crítico que sonha com o

melhor, que conhece seus direitos e deveres, que cuida de seu corpo e de sua

mente, que se valoriza, que sabe exercer autonomia, que exerce sua cidadania, não

conseguiremos ser agentes de transformação na vida daqueles que muitas vezes só

têm o espaço da escola para isso. Sabemos que não é fácil, mas precisamos ser o

professor e não mais um professor.

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