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Instituições Escolares: a reconstituição das práticas através dos arquivos
MARIZA DA GAMA LEITE DE OLIVEIRA1
1. Introdução
Este artigo consiste em parte da pesquisa empreendida pela autora no seu doutoramento
em Educação, desenvolvida em um arquivo escolar e em arquivos públicos.2
A instituição educacional portadora do arquivo possui uma história centenária, visto que
começou a funcionar como instituição caridosa, que abrigava menores em sua maioria órfãos,
desde a Primeira República.
Um grupo de pesquisa da Faculdade de Educação da UFRJ esteve envolvido na
organização desse arquivo desde 2010, quando pudemos perceber que o potencial do acervo
poderia trazer significativa contribuição à reconstrução da história da educação no Rio de
Janeiro, entre a Primeira e a Segunda Repúblicas.3
O foco deste artigo consiste em abordar o potencial de arquivos escolares, que
comumente não recebem o devido tratamento e preservação. Estes podem abrigar documentos
valiosos para a análise histórica das práticas escolares, através do olhar dos sujeitos que por sua
condição social de subalternidade, não puderam contar a sua versão da história.
2. Fundamentação Teórica
1 FAETEC/RJ; Doutora em Educação. 2 Debates e embates na instrução pública primária e seus efeitos nas práticas do Instituto Ferreira Vianna (Rio de
Janeiro, 1929 – 1940). (UFRJ/2015). 3 Grupo de pesquisa liderado pela prof. dra. Irma Rizzini (FE/UFRJ): “Centro de Memória Ferreira Vianna:
documentos, ensino e infância trabalhadora no Rio de Janeiro (1888-1942)”.
2
Heymann (1997; 2012)4 contribui para a desconstrução de mitos a respeito dos
documentos, e algumas de suas proposições trazem luz à discussão sobre a preservação de
arquivos escolares. Segundo a autora, o contato com fontes primárias suscita no pesquisador
tão grande encantamento e atração, capaz de fazê-lo pensar que tal material revelará os fatos
como ocorreram. Para evitar essa armadilha, faz-se necessário conhecer o processo de
constituição dos arquivos pessoais, desde sua etapa de acumulação, até a abertura a consulta
pública, onde os arquivos são “monumentalizados” e transformados em fonte de pesquisa.
Arquivos são artefatos dotados de historicidade, nos quais incidem interferências
configuradoras, isto é, conformadoras de sentido, afirma Heymann (2012). Assim, no caso de
arquivos pessoais, ao passar pelo crivo do próprio titular, e de sua família, após a sua morte, os
arquivos ficam sujeitos a critérios e interesses destes, no tocante ao que se deve reter e acumular.
Desta feita, é um erro considerar que um arquivo pessoal possa traduzir a história de vida de
seu titular, ou ser a “memória” deste, em seu “estado bruto”, pois “o documento não é o feliz
instrumento de uma história que seria em si mesma, e de pleno direito, memória; a história é,
para uma sociedade, uma certa maneira de dar status e elaboração à massa documental de que
ela não se separa” (FOUCAULT, 2012: p. 8).
Entregues a alguma instituição que abrigue acervos históricos para pesquisa, os
documentos sofrem um terceiro nível de interferência, de arquivistas ou documentalistas, que
para atender a demandas previstas da pesquisa histórica, promovem a seleção e reordenamento
interno destes conjuntos documentais; isto é, “(re) atualizam a memória” (HEYMANN, 1997:
p. 44). Assim, os arquivos pessoais ficam disponíveis como fontes de pesquisa depois de passar
“do domínio privado ao público”.
Destaca a autora que especialmente para os arquivos pessoais, jamais estaremos seguros
sobre o que foi guardado originalmente, o que foi destruído, o que se perdeu ou o que foi
entregue a terceiros. Nesta direção, a constituição do arquivo físico se aproxima ao jogo de
regras anunciado por Foucault (2000):
Chamarei de arquivo não a totalidade de textos que foram conservados por uma
civilização, nem o conjunto de traços que puderam ser salvos de seu desastre, mas o jogo das regras que, em uma cultura, determinam o aparecimento e o
4 Heymann foi pesquisadora e coordenadora do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea
do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC/FGV).
3
desaparecimento de enunciados, sua permanência e seu apagamento, sua existência
paradoxal de acontecimentos e de coisas (FOUCAULT, 2000: p. 95).
O arquivo, para o autor, não é simplesmente onde são guardados os documentos, mas
sim toda experiência cultural que envolve a instituição.
A nova Sociologia da Educação apontou que para além das divisões “externas” do
sistema educacional, há muitos outros elementos que fazem parte de sua matriz reprodutora,
que só podem ser desvelados voltando-se para o interior da escola; para o que se convencionou
chamar de “caixa preta”, que antes raramente era examinado e problematizado. “Foi aqui que
se descobriram de novo aquelas divisões mais externas – veladas e maquiadas por sucessivas
reformas educacionais que procuravam, num contínuo processo de legitimação, atenuá-las –
agora reproduzidas numa outra escala” (SILVA, 1992: p. 62).
Outra grande contribuição da nova Sociologia da Educação foi chamar a atenção para
os elementos mais invisíveis da educação; ao que se passa na sala de aula – o chamado
“currículo oculto”.5 Quanto ao conhecimento escolar, sabe-se que não é resultado de uma
relação neutra, e nem um produto de transmissão homogênea para todos os grupos sociais;
portanto, a adoção da perspectiva histórica, no sentido de encarar a escola e todos os que a
caracterizam como “invenções” sociais, como alerta o autor, auxiliam a melhor
compreendermos sua história material. Mesmo nas teorizações que enfatizaram o que a escola
reproduz, está colocada a possibilidade de rupturas, contradições, transformações (SILVA,
1992: p. 68).
Os Estudos Subalternos podem ser empregados no resgate das práticas das instituições
escolares. Figueiredo (2010) cita e analisa a obra de Spivak (2010), afirmando ser a condição
de subalternidade a condição do silêncio, ou seja, o subalterno carece necessariamente de um
representante por sua própria condição de silenciado. Spivak propõe a produção de uma história
que represente a narrativa da verdade dos subalternos; que procure ouvir aqueles que estão à
margem. Um exemplo seria questionar o modo como o pensamento europeu excluiu, também,
numa relação de subalternidade, as demais regiões do mundo, inclusive a América Latina.
5 Ler mais em: SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo.
2ª. ed., 10ª. reimpressão. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
4
Segundo a autora, a produção dessa história deve ser feita com a utilização de fontes
não convencionais ou negligenciadas, como a memória popular e o discurso oral, consistindo
no desenvolvimento de uma história alternativa ao discurso oficial. Lembra ainda que o termo
“subalterno” não pode ser usado para se referir a todo e qualquer sujeito marginalizado; deve
ser resgatado, retomando o significado que Gramsci lhe atribui ao se referir ao proletariado,
cuja voz não pode ser ouvida. Dessa forma, não se deve falar pelo subalterno (representá-lo),
mas trabalhar contra a subalternidade e criar espaços nos quais ele possa se articular e, como
consequência, também ser ouvido (SPIVAK, 2010).
No nosso caso, os “subalternos” puderam ser ouvidos através da pesquisa acadêmica
envolvendo os registros documentais que estes deixaram. Diretores, inspetoras de alunos,
funcionários da Instrução Pública, são os personagens dessas produções. Assim, entendemos
que no processo de construção da realidade histórica, o historiador opera de forma indireta,
buscando pistas e sinais deixados pelos homens; possibilitando restaurar personagens e
processos por meio de indícios, conjecturas e efeitos, como afirma um dos maiores praticantes
da Micro História, Carlo Ginzburg: “Quando as causas não são reproduzíveis, só resta inferi-
las a partir dos efeitos” (GINZBURG, 1990: p. 169).
3. Percurso Metodológico
A Escola Técnica Estadual Ferreira Vianna pertence atualmente à Fundação de Apoio à
Escola Técnica (FAETEC/RJ). Foi fundada no final do século XIX, com a denominação de
Casa de São José (1888), sob direção de irmãs de caridade. Sua finalidade era abrigar crianças
abandonadas na idade de 6 a 12 anos, do sexo masculino, órfãs e com risco de tornarem-se
desviantes na sociedade. Ao longo dos seus mais de cem anos de existência, passou por
inúmeros regulamentos e decretos, que retratam um percurso histórico caracterizado pelas
descontinuidades nos objetivos e nas ações empreendidas pelas Reformas Educacionais tanto
no âmbito municipal como federal. Devido à subordinação em várias instâncias (governo
federal, estadual e municipal), recebeu diversas denominações (instituto, escola pré-vocacional,
escola artesanal, escola industrial, colégio, centro interescolar). A partir de 1996 a instituição
foi absorvida pela Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia - Fundação de Apoio à Escola
Técnica (FAETEC), passando a fazer parte da maior rede de escolas técnicas do Rio de Janeiro.
5
Atualmente são ministrados na escola os cursos técnicos de: Edificações, Eletrônica,
Eletrotécnica, Mecânica e Telecomunicações; e localiza-se no bairro do Maracanã, na cidade
do Rio de Janeiro, que por longo período foi a capital federal do país.
Iniciamos nossas atividades no Centro de Memória da Escola Técnica Estadual Ferreira
Vianna em 2010. As alunas da graduação da FE/UFRJ inicialmente trabalhavam com os
documentos acessíveis da pequena sala destinada ao arquivo, apartados num armário que ficava
trancado, os quais juntamente com objetos da cultura material eram expostos na semana de
aniversário da escola no mês de agosto. Dentro do armário havia doze pastas com documentos
diversos, livros de matrícula, livros de visitantes ilustres à instituição, recortes de jornal,
bandeira, livros antigos e algumas fotos. A maior parte dos documentos estava sem o devido
cuidado e preservação, por falta de políticas da própria rede de ensino. O pouco que se
conservou, deveu-se à iniciativa de algumas professoras da escola, que atualmente encontram-
se aposentadas.
No espaço mínimo que havia para transitar na sala chamada de “arquivo morto”, além
de diversas estantes presas umas às outras e com farto material, havia cerca de 20 arquivos de
aço sobrepostos contendo pastas suspensas com dossiês de alunos a partir da década de 1960,
bastante consultados pela secretaria para emissão de certidões de ex-alunos na categoria de
“aluno aprendiz” para averbação do tempo e vínculo para fins de aposentadoria.
Havia dentre a documentação: livros de pontos, livros de matrículas, controle de caixa
escolar, ofícios, dentre outros; a maior parte dos registros tinha caráter administrativo. Alguns
pacotes de documentos envoltos em papel pardo e amarrados com barbantes foram encontrados
em meio a esse material antigo, os quais haviam sido organizados em 1941 por uma funcionária,
que tinha a função de servente, mas fora desviada para o trabalho de secretaria naquele período.
Ao iniciarmos a organização do arquivo, procuramos manter o mesmo critério iniciado por ela,
agrupando todos os documentos relativos ao mesmo ano, pois acreditamos que facilitaria a
compreensão da dinâmica de cada gestão. A agência dessa funcionária foi fundamental para
que documentos de diversos períodos ainda estivessem praticamente intactos; e provavelmente
fomos os primeiros pesquisadores a abrir esses pacotes desde 1941.
Essa primeira organização possibilitou transitarmos pelas estantes sem dificuldades de
acesso ao material, bem como termos noção da quantidade e categorias de documentos
6
existentes. Sem verbas de qualquer espécie (exceto as bolsas de iniciação científica para as
alunas) ou orientação de profissionais especializados, apenas com o apoio de duas professoras
de História da escola iniciamos uma organização básica, separando os documentos por ano e
agrupando por décadas. As espécies catalogadas foram: atestados de pobreza e óbito, certidões
de batismo e registro civil, relatórios diversos, ofícios e inventários, livros de registros de
frequência e folhas de pagamentos, dados estatísticos e prestações de contas, relatórios dos
serviços clínicos e dentários, artigos de jornais, livros didáticos e científicos, desenhos
produzidos pelos alunos, peças produzidas nas oficinas e material didático. Assim, ao mesmo
tempo em que organizávamos e higienizávamos, também analisávamos o potencial da
documentação para reconstituirmos a sua história. Estávamos diante de fontes primárias
variadas e ecléticas; desta forma, a metodologia que adotamos para nossas produções se
aproximam da Micro História, bastante praticada pela Escola de Annales.
A Micro História é essencialmente uma prática historiográfica em que suas referências
teóricas são variadas e, em certo sentido, ecléticas. Na dinâmica social, o que está em jogo em
sua prática é a decisão de reduzir a escala de observação para propósitos experimentais, afirma
Giovanni Levi (1992), para quem o princípio unificador de toda a pesquisa micro histórica é a
crença em que a observação microscópica revelará fatores previamente não observados. Assim,
nosso trabalho no arquivo da Escola Técnica Estadual Ferreira Vianna trouxe à tona a versão
da história que funcionários e alunos vinculados à instituição educacional não puderam contar
no tempo em que a viveram, mas que pode ser recuperada pelos indícios deixados, pelas fontes
primárias, documentos oficiais ou não, e depoimentos de familiares desses sujeitos.
4. Resultados e Discussão
O único material produzido sobre a história da instituição que localizamos no arquivo,
o qual foi produzido anteriormente à nossa chegada, é a dissertação de mestrado da professora
de História Vilma Alves Machado (2004), agora já falecida. Na obra, a professora analisa os
documentos da Casa de São José do período de 1888 a 1916. O recorte da dissertação foi
limitado pelos documentos preservados no cofre da escola. Numa análise apaixonada, a autora
vincula a história da instituição à questão social da infância dita “desvalida”, em meio às
transformações urbanas ocorridas no distrito federal, na transição entre os séculos XIX e XX.
7
Durante o período em que demos uma primeira organização ao arquivo (2010–2014),
produzimos trabalhos e artigos, a fim de tornar o acervo da ETE Ferreira Vianna conhecido. No
quadro abaixo, são listados os estudos realizados com sua documentação, ou fundamentação
teórica correspondente a arquivos, gerados pelo grupo de pesquisa da FE/UFRJ.
Quadro 1: Produções acadêmicas tendo como fontes os documentos do acervo da ETE
Ferreira Vianna
Nº Título Autor/Tipo Ano
1 A Casa de São José - instituição fundada por Ferreira
Viana em 1888, no Rio de Janeiro, para abrigar e educar
crianças desvalidas para o trabalho.
MACHADO, Vilma Alves.
(Dissertação Mestrado)
2004
2 Produções dos alunos na Casa de São José (1911 - 1915):
Símbolos da Cultura Material Escolar.
MARTINS, Jaqueline da C.;
NASCIMENTO, Rafaela Rocha
do. (Trab. congresso)
2011
3 A escola como veículo de formação patriótica: reflexões
preliminares sobre fontes documentais da década de
1930.
OLIVEIRA, Mariza da Gama
L. (Trabalho congresso)
2011
4 Um acervo centenário possibilidades de iniciação
científica para alunos do ensino médio profissional.
OLIVEIRA, Mariza da Gama
L. (trabalho completo -
congresso)
2011
5 A organização do ensino profissional no distrito federal
(1892 - 1902): poderes públicos e práticas sociais.
SANT’ANNA, Clarissa;
PINTO, Suzana Teixeira
(Trabalho Jornada)
2012
6 Um estudo preliminar acerca das expressões da cultura escolar na Casa de São José/Instituto Ferreira Vianna
(1911 – 1931) sob o olhar da produção dos alunos.
MARTINS, Jaqueline da C.; NASCIMENTO, Rafaela R. do.
(Trabalho congresso)
2012
7 A educação destinada aos pequeninos da Casa de São
José/Instituto Ferreira Vianna, e a trajetória escolar dos
alunos da instituição (1910–1920).
MARTINS, Jaqueline da
Conceição. (Monografia
graduação)
2012
8 Práticas escolares no Instituto Ferreira Vianna no início
do século XX.
AIETA, Viviane de Oliveira.
(Trabalho congresso)
2012
9 Os Insubordinados e Indisciplinados da Casa de São José
(1902 - 1916).
MENDONÇA, Sabrina Aguiar
de.
(Monografia graduação)
2012
10 Os incorrigíveis da cidade: um estudo sobre a
distribuição e circulação das infâncias na capital federal
(décadas de 1900 e 1910).
RIZZINI, Irma; MARQUES,
Jucinato. (Capítulo de livro). 2012
11 Contando a história do Instituto Ferreira Vianna (1931 -
1933): o diretor José Piragibe e a implantação do projeto
escola cidade.
OLIVEIRA, Mariza da Gama
L. (Trabalho congresso) 2012
12 Era Vargas: estratégias de militarização da infância no
Instituto Ferreira Vianna (1929 - 1933).
OLIVEIRA, Mariza da Gama
L. (Trabalho completo - congresso)
2012
13
O tratamento étnico/racial nas relações de dependência
para o ingresso dos alunos em duas instituições
educacionais: Instituto Profissional Masculino/João
Alfredo e Casa de São José/Instituto Ferreira Viana (1900
- 1916).
NASCIMENTO, Rafaela Rocha
do. (Monografia graduação)
2013
8
14 A escola como veículo de formação patriótica: a criação
da guarda civil e do escotismo no Instituto Ferreira
Vianna (1929 - 1939).
OLIVEIRA, Mariza da Gama
L. (Trabalho congresso) 2013
15 Escotismo e educação: o projeto civilizador republicano
no interior da escola (1929 - 1939).
OLIVEIRA, Mariza da Gama
L. (Trabalho congresso)
2013
16 A história da escola pré-vocacional Ferreira Vianna na
gestão da diretora Joaquina Daltro: entre obras e
estatísticas (1936 - 1939).
OLIVEIRA, Mariza da Gama
L.; COSTA, Luciene M.
(Trabalho congresso)
2013
17 Arquivos Escolares - Contribuições de Foucault à Crítica do Documento.
OLIVEIRA, Mariza da Gama L. (Trabalho congresso)
2013
18 Arquivos Escolares: Fontes para a História da Educação.
OLIVEIRA, Mariza da Gama L. (trabalho congresso)
2013
19 José Piragibe: educador atuante no Movimento em
Defesa da Escola Pública no Distrito Federal (1877 –
1940).
OLIVEIRA, Mariza da Gama
L. (Trabalho congresso) 2014
20 O professor primário no início do século XX: formação e
atuação no distrito federal.
OLIVEIRA, Mariza da Gama
L. (Trabalho congresso)
2014
21 Memória Social: diferentes aspectos de um campo em
construção.
OLIVEIRA, Mariza da Gama
L.; RODRIGUES, Denise S.
(Resenha Revista Linhas)
2014
22 Basílio de Magalhães e as crianças ditas “anormais” do
Instituto Ferreira Vianna (1924 – 1925).
AIETA, Viviane de Oliveira.
(Monografia graduação)
2014
23 Projeto Escola Cidade: o trabalho de enquadramento da
memória nas práticas de militarização da infância (1931 –
1933).
OLIVEIRA, Mariza da Gama
L. (Artigo Revista Linhas). 2015
24 Debates e embates na instrução pública primária e seus
efeitos nas práticas do Instituto Ferreira Vianna (Rio de
Janeiro, 1929 - 1940).
OLIVEIRA, Mariza da Gama
L. (Tese de Doutorado). 2015
25 O fio e os rastros da escolarização do Distrito Federal
(1890 - 1906).
MARQUES, Jucinato de
Sequeira (Tese de Doutorado).
2015
26 O subalterno pode falar: uso de fontes primárias no
resgate da história das práticas escolares
OLIVEIRA, Mariza da Gama
L. (Livro, Editora Appris) 2018
Elaborado pela autora.6
Como observado, diversos artigos foram publicados em eventos de História da
Educação e revistas, os quais posteriormente transformaram-se em monografias, teses e livro.
A seguir discorreremos brevemente sobre o conteúdo dessas pesquisas acadêmicas.
As alunas bolsistas Rafaela Nascimento e Jaqueline Martins produziram e apresentaram
o trabalho “Produções dos alunos na Casa de São José (1911-1915): Símbolos da Cultura
Material Escolar”, no VI Congresso Brasileiro de História da Educação, no Espírito Santo
(2011). A cultura material analisada compreende desenhos realizados pelos alunos no início do
século XX. Em outro trabalho, apresentado no IX Seminário de Estudos e Pesquisas (2012), as
autoras também abordam práticas escolares do período até 1931 no Instituto Ferreira Vianna.
6 Para citar, ver referências bibliográficas completas na tese ou livro da autora: Oliveira (2015; 2018).
9
As monografias de conclusão do curso de Pedagogia das alunas também foram baseadas
no acervo. A monografia de Jaqueline trouxe aspectos da história da instituição quando ainda
era Casa de São José, e investigou a trajetória escolar de seis menores, sendo um deles o avô
da professora Sonia Lopes (FE/UFRJ). A pesquisa buscou entender como era o ensino destinado
a essas crianças e como agiram, mediante a escolarização que se pretendia formadora, de modo
a que se tornassem cidadãos úteis a si e à pátria. A monografia de Rafaela, a partir da
identificação dos sujeitos ali matriculados entre 1900 e 1916, debruçou-se na investigação a
respeito dos alunos que eram identificados como pretos e pardos. Buscou assim compreender
a dinâmica escolar de ingresso e o processo pedagógico dirigido a esse grupo, incluindo a
relação entre as duas instituições pesquisadas: Instituto Profissional Masculino e Instituto
Ferreira Vianna. O trabalho contou com quatro capítulos baseados nas leituras e fontes
consideradas pertinentes à análise das formas de inserção da população negra nos bancos
escolares no início do século XX, demonstrado pelo interesse da família/tutores e de terceiros
para uma melhor colocação social da criança.
No trabalho "A organização do ensino profissional no distrito federal (1892-1902):
poderes públicos e práticas sociais", apresentado na 24ª. Jornada de Iniciação Científica,
Tecnológica, Artística e Cultural da UFRJ (2012), as alunas bolsistas Clarissa Sant' Anna e
Suzana Teixeira Pinto analisaram as disputas e tensões políticas em torno dos projetos sobre a
instrução pública e ensino profissional da então capital federal entre os anos de 1892 e 1902,
enfatizando os esforços de organização do ensino profissional que culminaram na aprovação
do Decreto nº 282, de 27 de fevereiro de 1902, primeiro regulamento do ensino profissional do
distrito federal. Ao analisar este contexto, identificam os reflexos deste decreto nas práticas
escolares da instituição.
Viviane de Oliveira Aieta, pesquisadora bolsista, desenvolveu estudos sobre as crianças
ditas “anormais” no início do século XX, visando à contextualização histórica desta
classificação, aspectos da anormalidade na infância, o tratamento dado às crianças e as
intervenções empreendidas pela instituição. Um trabalho da autora que inclui parte desta análise
foi publicado nos Anais do IX HISTEDBR (UFPB, 2012). Sua monografia, defendida em
novembro de 2014, sob o título: “Basílio de Magalhães e as crianças ditas ‘anormais’ do
Instituto Ferreira Vianna (1924 – 1925)”, busca compreender o significado da categoria
10
“anormal” na década de 1920 e a polissemia de sentidos atribuídos à “anormalidade infantil”,
tendo como fonte o livro de Basílio sob o título “Tratamento das creanças anormaes de
intelligencia (1913)”, localizado no acervo da escola, quando inventariávamos os 400 livros e
periódicos que se misturavam aos documentos.
"Os Insubordinados e Indisciplinados da Casa de São José (1902-1916)" é o tema da
monografia de Sabrina Aguiar de Mendonça, concluinte do curso de Pedagogia em setembro
de 2012, que também atuou na organização do arquivo. A monografia orientada pelo professor
Jucinato Marques (FE/UFRJ), está delimitada entre o primeiro regulamento do ensino
profissional da Capital Federal (Decreto nº 282, de 27 de fevereiro de 1902) até o momento em
que a Casa de São José se torna uma escola primária mista, passando a denominar-se Instituto
Profissional Ferreira Vianna (Decreto n° 1730, de 05 de janeiro de 1916). Os resultados da
pesquisa indicam que a insubordinação e a indisciplina de alguns alunos podem ser
compreendidas como mecanismos acionados para o seu desligamento da instituição.
O professor Jucinato Marques (UFRJ), em sua tese de Doutorado em Educação, analisou
o processo de escolarização do Distrito Federal entre os anos de 1890 e 1906, a partir das
trajetórias de Ramiz Galvão e Medeiros e Albuquerque – ambos responsáveis e coautores das
reformas do ensino. A partir da configuração de suas redes governativas, da rede de
sociabilidade e das próprias reformas educacionais, buscou entender como cada um elaborou
seu molde de tradição da instrução pública, a fim de estabelecer o início dessas tradições e
revelar suas especificidades. O estudo procurou trazer à baila a compreensão acerca da forma
escolar e da sua organização; das práticas sociais, culturais e políticas acionadas pelos poderes
públicos; da identificação dos sujeitos que direta ou indiretamente estiveram empenhados na
construção da sua institucionalidade. Desta forma, procurou dar continuidade à pesquisa
desenvolvida no Mestrado, quando organizou e analisou dossiês dos alunos do Instituto João
Alfredo, instituição que se vinculava à Casa de São José/Instituto Ferreira Vianna.
Rizzini e Marques (2012) produziram o texto “Os incorrigíveis da cidade: um estudo
sobre a distribuição e circulação das infâncias na capital federal (décadas de 1900 e 1910)”, que
tem por objetivo compreender a distribuição e a circulação das crianças nos internatos para a
educação nos ofícios na virada para o século XX e analisar como se consolidou a escolarização
em algumas instituições modelares: a Casa de São José (1888 - 1916), o Instituto Profissional
11
Masculino (1894-1910) e a Escola Quinze de Novembro (1899 - 1913). Para os autores, o
“desamor aos estudos” e os comportamentos “incorrigíveis” dos alunos destas e de outras
instituições similares, alçados nos estabelecimentos mantidos pelo poder público e
caracterizados por serem internatos profissionais, anunciam um problema a ser investigado pela
historiografia: descortinar e compreender as ações empregadas, por parte de uma parcela da
população, no espaço/tempo escolar, na trama dos seus destinos. Isso implica em articular, criar,
burlar e manipular alternativas existentes nas redes sociais e, portanto, é a tradução dos
movimentos, dos deslocamentos e da circulação empreendida, por parte dos alunos, nos
arranjos estabelecidos em torno de suas ações tanto no interior quanto fora da instituição.
Oliveira (2015), autora deste artigo, procurou maximizar as suas produções,
apresentando-as em eventos de História e História da Educação, a fim de analisar o potencial
das fontes que futuramente seriam agregadas à sua tese “Debates e embates na instrução pública
primária e seus efeitos nas práticas do Instituto Ferreira Vianna (Rio de Janeiro, 1929 – 1940)”.
Seu recorte temporal foi 1929 a 1940, quando diversas reformas foram implantadas na
reestruturação da máquina educacional, que serviria ao grande projeto nacionalista de Vargas,
tornando esse período frutífero para a pesquisa educacional. Colaborou para a escolha do
recorte, a documentação disponível e preservada no arquivo.
Por fim, a tese de Oliveira (2015) deu origem ao livro “O subalterno pode falar: uso de
fontes primárias no resgate da história das práticas escolares” (2018), da Editora Appris.
Segundo a autora, a renovação da História Política e a abordagem dos Estudos Subalternos
viabilizaram reflexões sobre as práticas e os projetos pedagógicos desenvolvidos na instituição,
e revelam, através dos indícios documentais, a agência e resistência dos verdadeiros
protagonistas de sua história. Em pesquisa externa, a autora localizou na Biblioteca Nacional
fascículos da revista “A Escola Primária”, destinada aos professores primários da cidade, e
editada pelos inspetores da Diretoria de Instrução Pública, nas primeiras décadas do século XX.
Devido à sua importância e procura por diversos pesquisadores, a partir de 2015 a coleção já se
encontrava digitalizada na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, e consiste numa fonte
de pesquisa valiosa, pois a coleção apresenta uma riqueza de temas, tais como: reformas de
ensino; higiene escolar; métodos renovados de ensino; orientações sobre o ensino de diversas
disciplinas; discussões sobre o ensino profissional nas escolas primárias etc.
12
A pesquisa do grupo de estudantes e educadores da UFRJ no arquivo aqui apresentado
finalizou no ano de 2014, porém, a semente plantada germinou, cresceu e rende até hoje
diversos frutos, pois conseguiu sensibilizar a geração presente dos professores da escola, das
áreas de História, Sociologia e Pedagogia, que atualmente dedicam parte de sua carga horária
de trabalho à preservação do acervo do arquivo, e continuam a divulgar o seu potencial, através
das dissertações e teses que têm produzido enquanto pesquisadores, após nossa passagem por
aquele arquivo. Portanto, consideramos que o objetivo maior de nossa missão foi alcançado!
Referências
FIGUEIREDO, Carlos Vinícius da Silva. Estudos subalternos: uma introdução, Revista Raído,
Dourados, MS, v. 4, n. 7, jan./jun. 2010.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia o saber. 8ª. edição, Ed. Forense Universitária, 2012.
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GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. Tradução: Frederico
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HEYMANN, Luciana. Indivíduo, memória e resíduo histórico: uma reflexão sobre arquivos
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