1 - fichamento miriam lemle-guia teórico alfabetizador

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LEMLE, M. (1991). Guia terico do alfabetizador. 5.ed. So Paulo: tica. (Srie Princpios).Lemle (1991) apresenta uma subdiviso dos tipos de relao existentes em nossa lngua entre sons da fala e letras do alfabeto. So trs tipos de relao: relao de um para um: cada letra com seu som, cada som com uma letra (Quadro 1); relao de um para mais de um, determinadas a partir da posio: cada letra com um som numa dada posio (Quadro 2), cada som com uma letra numa dada posio (Quadro 3); relaes de concorrncia: mais de uma letra para o mesmo som na mesma posio (Quadro 4). O casamento entre sons e letras nem sempre monogmico. O modelo ideal do sistema alfabtico o de que cada letra corresponda a um som e cada som a uma letra, mas essa relao ideal s se realiza em poucos casos. (LEMLE, 1991, p.17). No Quadro 1, esto os casos de correspondncia biunvoca entre letras e fonemas. QUADRO 1 Correspondncias biunvocas entre fonemas e letras (p.17) p b t d f v a /p/ /b/ /t/ /d/ /f/ /v/ /a/

Chamamos de fonema, em lingstica, uma unidade de som caracterizada por um dado feixe de traos distintivos. Traos distintivos so caractersticas de som que so relevantes na diferenciao entre unidades do sistema. Por conveno, esse tipo de unidade representado entre barras inclinadas (/ /). (LEMLE, 1991, p.18).

Nos dois quadros a seguir, podem ser vistas as mais importantes correspondncias mltiplas entre letras e sons (Quadro 2) e entre sons e letras (Quadro 3). importante ter claro na mente que tais correspondncias so determinadas pela posio, ou seja, so regulares. possvel aprend-las por meio de uma regra, de modo que podem ser sistematicamente ensinadas por um professor bem preparado para exercer sua profisso. (LEMLE, 1991, p.21).

QUADRO 2 Uma letra representando diferentes sons, segundo a posio (p.21)CFORM Centro de Formao Continuada de Professores Campus Universitrio Darcy Ribeiro - Gleba A - Pavilho Ansio Teixeira - sala AT-149 - Braslia - DF - CEP 70904-970 Telefone (61) 3307-3027 - Fax (61) 3307-3627 E-mail [email protected]

Letra s

Fone (sons) Posio Incio de palavra [s] Intervoclico [z] [] [] [m] (nasalidade da vogal precedente) [n] (nasalidade da vogal precedente) [I] [u] [e] ou [] [i] [o] ou [] [u]

Exemplos sala casa, duas rvores

Diante de consoante surda ou em final resto, duas casas de palavra Diante de consoante sonora Antes de vogal Depois de vogal, diante de p e b Antes de vogal Depois de vogal Antes de vogal Depois de vogal No-final Final de palavra No-final Final de palavra rasgo, duas gotas mala, leme campo, sombra nada, banana ganso, tango, conto bola, lua calma, sal dedo, pedra padre, morte bolo, cova bolo, amigo

m

n

I e o

QUADRO 3 Um som representado por diferentes letras, segundo a posio (p.22) Letra Posio Diante de a, o, u c qu Diante de e, i Diante de a, o, u [g] g gu Diante de e, i Posio acentuada* i [i] Posio tona em final de e palavra u Posio acentuada [u] o Posio tona em final de palavra Intervoclico rr [R] Outras posies r (r forte) o Posio acentuada [w] am Posio tona qu Diante de a, o [ku] q Diante de e, i cu Outras g Diante de e, i [gu] gu Outras * Posio acentuada = posio tnica Fone (som) [k] Exemplos casa, come, bicudo pequeno, esquina gato, gota, agudo paguei, guitarra pino padre, morte lua falo, amigo carro rua, carta, honra porto, cantaro cantaram aqurio, quota cinqenta, eqino frescura, pirarucu agenta, sagi gua, agudo

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Estes quadros no esgotam a informao sobre relaes som-letra e letra-som previsveis pela posio, nem so verdadeiros para todos os falares do Brasil. Em cada comunidade lingstica os professores devero compor seus prprios quadros correspondentes aos quadros dados aqui, registrando neles a distribuio dos sons conforme se d no dialeto falado pela sua clientela e por eles mesmos. (LEMLE, 1991, p.22). Com base nos fatos do dialeto carioca, fornecida no Quadro 4 uma viso dos principais casos da situao de concorrncia pela qual mais de uma letra, na mesma posio, pode servir para representar o mesmo som. (LEMLE, 1991, p.23).

QUADRO 4 Letras que representam fones idnticos em contextos idnticos (p.24) Fone [z] [s] Contexto Intervoclico Intervoclico diante de a, o, u Intervoclico diante de e, i Diante de a, o, u, precedido por consoante Diante de e, i, precedido por consoante Diante de vogal Diante de consoante Fim de palavra e diante de consoante ou de pausa Incio ou meio de palavra e diante de e, i Fim de slaba Incio de palavra Letras s z x ss sc ss c sc s s c ch x s x s z j g u l zero h Exemplos mesa certeza exemplo russo lao cresa posseiro, assento roceiro, acento asceta balsa ala persegue percebe chuva, racha taxa, lixo espera, testa expectativa, texto funis, ms, Tas atriz, vez, Beatriz jeito, sujeira gente, bagageiro cu, chapu mel, papel ora, ovo hora, homem

[]

[] [u] zero

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O alfabetizando deve chegar seguinte concluso: Para cada som numa dada posio, h uma dada letra; a cada letra numa dada posio, corresponde um dado som; Em certos ambientes, certos sons podem ser representados por mais de uma letra. (LEMLE, 1991, p.32). No Quadro 5, temos um resumo dos sufixos e dos prefixos mais importantes para a ortografia, pois so aqueles cujos sons poderiam, sem erro de posicionamento das letras, ser escritos com outras letras. (LEMLE, 1991, p.37).

QUADRO 5 Identificao de afixos visando fixao de generalizaes ortogrficas (p.38) Alternativa ortogrfica fonologicamente plausvel esa ez s is sso au isse ajem isar nsa nsia dis des estra

Afixo

Exemplos

-eza -s -ez -iz -o -al -ice -agem -izar -na -ncia desdisextra-

grandeza, beleza, moleza portugus, francs estupidez, gravidez atriz, bissetriz, aprendiz inflao, formao, votao sensacional, maternal burrice, tolice bobagem, passagem, lavagem realizar, concretizar, socializar confiana, poupana, presena importncia, carncia, freqncia desfazer, desmentir disperso, discusso, distorcer extraordinrio, extraditar

O mecanismo de mudana na forma das palavras No quadro a seguir, apresentamos algumas das principais mudanas lingsticas evidenciadas no portugus do Brasil, contrastando a representao lexical que est atrs do saber lingstico de muitos brasileiros com a representao das mesmas palavras na conveno ortogrfica oficial. (LEMLE, 1991, p.51).

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Representao lexical na mente dos falantes crube l > r / depois de afrio consoante prano fal r >/ final de am palavra trabaiad > i / entre duas vogais mui trabaiad mi l > r / final de slaba armoo arma fartava salaro i >/ tono, diante operaro de vogal rodoviara arrai l >/ final de pessoa palavra anz d >/ depois de falano nasal trabaiano snico r >/ depois de dento consoante cadasto pobrema vinte minuto s >/ final de aquelas moa palavra sabemo tivemo > i / depois de adivogado consoante final de adimito slaba atimosfera l > u / final de slaba l > / diante de ditongo iniciado por [i] sau auto Getulho lho

Mudana lingstica

Representao lexical na conveno ortogrfica clube aflio plano falar amor trabalhador mulher trabalhador melhor almoo alma faltava salrio operrio rodoviria arraial pessoal anzol falando trabalhando sndico dentro cadastro problema vinte minutos aquelas moas sabemos tivemos advogado admito atmosfera sal alto Getlio leo

Para poder refletir sobre os problemas do ensino da lngua importantssimo entender esse mecanismo da mudana lingstica. (LEMLE, 1991, p.49). Nosso primeiro passo foi perceber que uma mudana lingstica ocorre em duas etapas. Na primeira, h uma fase de mera flutuao fontica, decorrente da variao no desempenho articulatrio de um grupo de falantes. Essa variao no desempenho tende a concentrar as realizaes dos sons mutantes em uma das extremidades do espectro das realizaes possveis. Num segundo momento, com a entrada em cena de uma nova gerao de falantes a adquirirem a lngua, os dados do desempenho fontico dos mutantes fonticos so reinterpretados e reanalisados pelos recm-chegados, que os organizam em seu saber lingstico de uma maneiraCFORM Centro de Formao Continuada de Professores Campus Universitrio Darcy Ribeiro - Gleba A - Pavilho Ansio Teixeira - sala AT-149 - Braslia - DF - CEP 70904-970 Telefone (61) 3307-3027 - Fax (61) 3307-3627 E-mail [email protected]

diferente da utilizada por seus predecessores. (LEMLE, 1991, p.53). ... a mudana inevitvel, como qualquer fenmeno natural. Tal mudana no torna uma lngua pior nem melhor, mas, apenas, diferente. (LEMLE, 1991, p.60). O professor que no tem preparo para entender o fenmeno da mudana lingstica com a mesma naturalidade com que entende o fenmeno da evaporao ou da condensao da gua presa fcil de uma teorizao preconceituosa dos fatos da lngua. E uma teorizao tremendamente perniciosa. Esse professor, que no entende o fenmeno da mudana da lngua, acaba fatalmente acreditando na idia de que a lngua escrita a lngua certa e que tudo aquilo que no igual ao certo errado. Todos aqueles que falam errado so inguinorantes. Ao professor, cabe reprov-los. E a situao se eterniza. (LEMLE, 1991, p.63-4). Para minorar o fracasso de nossa alfabetizao, necessrio sanar a formao falha dos responsveis diretos pela alfabetizao as professoras. (LEMLE, 1991, p.64).

Por Ana Dilma de Almeida Pereira - UnB

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