07_agricultura1 - agricultura brasileira

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Secretaria de Assuntos Estratégicos Presidência da República AGRICULTURA BRASILEIRA AGRICULTURA BRASILEIRA NO SÉCULO XXI NO SÉCULO XXI Documento preliminar Documento preliminar Versão para discussão Versão para discussão Brasília, junho de 2009

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  • Secretaria de Assuntos Estratgicos

    Presidncia da Repblica

    AgriculturA BrAsileirA AgriculturA BrAsileirA no sculo XXino sculo XXi

    Documento preliminarDocumento preliminarVerso para discussoVerso para discusso

    Braslia, junho de 2009

  • AgriculturA BrAsileirA no sculo XXiAgriculturA BrAsileirA no sculo XXi

    SumrioSumrio

    ApresentaoApresentao ......................................................................... ......................................................................... 77

    Parte i - as bases de novo modelo agrcola Parte i - as bases de novo modelo agrcola

    I. Iniciativas fsicas e econmicas para a transformao da I. Iniciativas fsicas e econmicas para a transformao da agricultura agricultura ......................................................................... ......................................................................... 1111

    Eixo 1: Recuperao das reas agrcolas degradadas do pas ..11

    Eixo 2: Produo de fertilizantes .......................................14

    Eixo 3: Superao dos obstculos logsticos ........................14

    Eixo 4: Resguardos fitossanitrios como oportunidades .........15

    II. Agenda de modernizao institucional para o setor II. Agenda de modernizao institucional para o setor agropecurio agropecurio ...................................................................... ...................................................................... 1616

    Eixo 1: Criao de ampla classe mdia rural por meio da coordenao estratgica entre Estado e setor produtivo ........16

    Eixo 2: Estmulo cooperao e concorrncia como base da organizao da produo agrcola......................................19

    Eixo 3: Desenvolvimento dos territrios rurais e rurais-urbanos 20

    IIIIII. Fortalecimento da poltica de agroenergia. Fortalecimento da poltica de agroenergia ........................ ........................ 2121

    A oportunidade da agenda diante da crise financeira mundial 22

    Parte ii - resumo das iniciativas Parte ii - resumo das iniciativas

    Recuperao de reas de terras degradadasRecuperao de reas de terras degradadas ............................ ............................ 2525

    Produo de fertilizantesProduo de fertilizantes ...................................................... ...................................................... 2626

    Superao dos obstculos logsticosSuperao dos obstculos logsticos ...................................... ...................................... 2626

  • Aumentar a qualidade fitossanitriaAumentar a qualidade fitossanitria ...................................... ...................................... 2727

    Regularizao do passivo ambiental e valorizao da Regularizao do passivo ambiental e valorizao da floresta em pfloresta em p ..................................................................... ..................................................................... 2727

    Organizao da extenso ruralOrganizao da extenso rural ............................................... ............................................... 2828

    Popularizao dos instrumentos financeiros contra riscos Popularizao dos instrumentos financeiros contra riscos fsico-econmicos fsico-econmicos ............................................................... ............................................................... 2828

    Melhoria das normas trabalhistas rurais Melhoria das normas trabalhistas rurais ................................ ................................ 2929

    Coordenao e aceleramento do avano tecnolgico Coordenao e aceleramento do avano tecnolgico ............... ............... 2929

    Criao de um mercado global para os Criao de um mercado global para os agrobiocombustiveisagrobiocombustiveis ............................................................ ............................................................ 3030

    Parte iii - ProPostas legislativaParte iii - ProPostas legislativass

    Propostas normativasPropostas normativas ........................................................... ........................................................... 3333

    Proposta 1 - Anteprojeto de Lei Proposta 1 - Anteprojeto de Lei Programa Nacional de Recuperao de reas DegradadasPrograma Nacional de Recuperao de reas Degradadas .......... .......... 3333

    Proposta 2 - Anteprojeto de LeiProposta 2 - Anteprojeto de Lei Criao do Sistema Nacional de Compensao Ambiental Criao do Sistema Nacional de Compensao Ambiental SNCA e do Mecanismo de Compensao Ambiental MCASNCA e do Mecanismo de Compensao Ambiental MCA ........ ........ 4411

    Proposta 3 - Anteprojeto de LeiProposta 3 - Anteprojeto de Lei Cria a empresa estatal Fertilizantes do Brasil S.A. - FEBRASACria a empresa estatal Fertilizantes do Brasil S.A. - FEBRASA ... ... 5522

    Proposta 4 - Anteprojeto de LeiProposta 4 - Anteprojeto de Lei Cria o Sistema Nacional de Defesa Sanitria - SNDSCria o Sistema Nacional de Defesa Sanitria - SNDS ................ ................ 6600

    Proposta 5 - Anteprojeto de DecretoProposta 5 - Anteprojeto de Decreto Criao do Selo Verde de Produtividade RuralCriao do Selo Verde de Produtividade Rural ......................... ......................... 6611

    Proposta 6 - Anteprojeto de Lei Proposta 6 - Anteprojeto de Lei Criao do Sistema nico de Assistncia Tcnica e Extenso Criao do Sistema nico de Assistncia Tcnica e Extenso Rural SATER e do Programa de Residncia em Assistncia Rural SATER e do Programa de Residncia em Assistncia Tcnica e Extenso Rural - REATER Tcnica e Extenso Rural - REATER ........................................ ........................................ 6655

    Proposta 7 - Anteprojeto de Lei Proposta 7 - Anteprojeto de Lei Altera normas do emprego ruralAltera normas do emprego rural ............................................ ............................................ 7755

  • Proposta 8 - Anteprojeto de Lei Proposta 8 - Anteprojeto de Lei Criao do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuria - Criao do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuria - SINPEAGROSINPEAGRO .......................................................................... .......................................................................... 8800

    Proposta 9 - Anteprojeto de Decreto Proposta 9 - Anteprojeto de Decreto Criao do Comit Tcnico Especial de AgroenergiaCriao do Comit Tcnico Especial de Agroenergia ................. ................. 8844

  • 77

    AgriculturA BrAsileirA no sculo XXiAgriculturA BrAsileirA no sculo XXi

    ApresentaoApresentao

    AA agricultura brasileira necessita de nova agenda de desenvolvimento, capaz de tornar o pas o principal produtor e exportador mundial de alimentos. o sentido desta agenda agrcola: um conjunto de ideias que devem ser reunidas e aperfeioadas pelos interessados, para que ganhe fora transformadora capaz de impulsionar o Brasil condio de potncia econmica e ambiental do sculo XXI.

    Para isso, preciso ir alm do carter essencialmente regulador da poltica agrcola. Ela deve possuir instrumentos e objetivos que permitam a transfor-mao da base produtiva para atingir metas ambiciosas de conquista do mer-cado internacional e consolidao do Brasil como principal exportador agrcola mundial. Implica reduzir o distanciamento entre o segmento empresarial e o familiar e valorizar as complementaridades diante de uma demanda crescente-mente especializada e diversificada.

    Esse objetivo deve ser ancorado na emergncia de uma vasta classe mdia ru-ral. Significa acelerar o surgimento de uma nova geografia econmica, na qual as funes do rural e do urbano se interpenetrem. Significa tambm criar as condies para uma agricultura familiar diversificada, que associa atividades agrcolas e servios urbanos. Trata-se de construir, passo por passo, um rural prspero de oportunidades econmicas. Em suma, a agricultura pode e deve ser a vanguarda de novas formas de organizao da produo e do consumo, com trabalho decente e respeito ao meio ambiente.

    A proposta que segue procura explicitar, no plano das ideias, os desafios dessa empreitada e as principais iniciativas que devem acelerar a transformao do campo. O presente documento dividido em duas partes. A primeira resume as bases do novo modelo agrcola. A segunda apresenta um rascunho inicial das propostas legislativas para dar vida s ideias.

  • 88

    Deliberadamente, no se detalham mudanas de carter emergencial e institu-cional, pensadas para blindar a agricultura contra os efeitos da crise financeira global. O detalhamento dessas medidas est sendo promovido por um grupo de trabalho, no mbito do Governo Federal, a fim de impactar o Plano Safra 2009-2010.

  • 11Parte IParte I as bases de novo modelo agrcola

  • 1010

  • 1111

    AgriculturA BrAsileirA no sculo XXiAgriculturA BrAsileirA no sculo XXi

    As bases de novo modelo As bases de novo modelo agrcolaagrcola

    AA agricultura no Brasil j est entre as mais avanadas do mundo, sob di-ferentes aspectos. No entanto, diversos gargalos dificultam o incremento da produo, a gerao de empregos e a consolidao do pas como o principal produtor e exportador mundial de alimentos. So problemas como o perfil da produo, as dificuldades e custos para reutilizar terras degradadas e importantes dificuldades logsticas. Nas propostas a seguir, procura-se contribuir para a consolidao da ponte entre a necessidade de estimular a produo agr-cola, num ambiente de medidas contra crises econmicas, e a obrigao de criar um ambiente favorvel para o futuro que queremos: uma sociedade prspera e sustentvel.

    Para se tratar dessa questo, importante incialmente propor solues para a recuperao de terras degradadas e para a superao de obstculos logsticos. Em seguida, proporcionar mudanas de carter institucional, em especial aque-las de carter emergencial, para estimular a produo. Por fim, num dos temas em que o pas tem maior potencial de desenvolvimento, criar mecanismos para estimular o setor de biocombustveis, uma das grandes promessas para o futuro prximo.

    i. iniciativas fsicas e econmicas Para a i. iniciativas fsicas e econmicas Para a transformao da agricultura transformao da agricultura

    Eixo 1: Recuperao das reas agrcolas degradadas do pasEixo 1: Recuperao das reas agrcolas degradadas do pas

    H nova fronteira agrcola a conquistar. Trata-se da recuperao de extensas reas degradadas espalhadas por todo o Brasil. So cerca de 200 milhes de hectares sem utilizao ou ocupados por pecuria altamente extensiva e de baixa produtividade, uma rea equivalente a trs vezes o total da superfcie atual ocupada por lavouras. imensa riqueza natural desperdiada. So terras

  • 1212

    em grande parte esgotadas, em decorrncia de lgicas ultrapassadas de cul-tivo. Faltam estmulos de mercado conservao. Faltam arranjos produtivos adequados. Faltam linhas especficas de financiamento pelo setor pblico. Tal situao atinge pequenos e grandes produtores rurais, embora seja mais fre-quente nas grandes propriedades, cuja posse da terra gera por si s ganhos imobilirios. Por essa razo, preciso combinar incentivos creditcios s pena-lidades para a baixa produtividade.

    Existe um enorme passivo de regularizao ambiental no campo. Para solucio-nar esse problema, preciso enfrentar a necessidade da produo florestal, como a recomposio florestal, prevista pelo instituto da Reserva Legal (RL) e da recomposio das reas de Proteo Permanente (APP). Trata-se de pro-blema generalizado no pas, com feies mais dramticas na regio Norte, em razo das exigncias legais e de grande incerteza jurdica, agravado pela inca-pacidade do Estado de controlar a efetividade das normas ambientais.

    Paralelamente, h tambm importante demanda de mercado por produtos flo-restais, em especial por madeira serrada. Essa demanda, aliada falta de al-ternativas sustentveis para o trabalho dos habitantes da floresta e inca-pacidade dos agentes pblicos de controlar as atividades ilegais, incentiva o desmatamento e lgicas insustentveis em mdio e longo prazos. importante aperfeioar o modelo atual com incentivos produo florestal e investimen-tos em tecnologia. Se nada for feito, o ritmo de degradao das florestas tende a aumentar. Prope-se:

    Criao do Programa Nacional de Recuperao de reas de Terras DeCriao do Programa Nacional de Recuperao de reas de Terras De--gradadasgradadas

    Duas abordagens distintas so propostas: uma para a regio Norte, outra para as demais regies do pas. Na regio Norte, o foco so reas de ter-ras degradadas pendentes de regularizao fundiria. Nas demais regies, reas de terras degradadas j regularizadas.

    A recuperao de terras degradadas exige investimento elevado e sua im-plementao esbarra na escassez crnica de financiamento. Ao invs de seguir o modelo tradicional, com financiamento para a simples recupe-rao das reas, estimula-se o financiamento da produo agrcola em reas de terras degradadas. Pretende-se criar ou modificar os instrumentos financeiros existentes, de acordo com o tipo de produto e modelo de ne-gcio, para estimular a produo agrcola.

  • 1313

    Simultaneamente, deve haver ampliao dos mecanismos de assistncia tcnica e de extenso rural, especficos para produo em reas de terras degradas.

    Assim, ser possvel mobilizar a liquidez de crdito, gerenciar riscos e incluir a participao do setor pblico a fim de favorecer a produo. A inteno atuar em dois segmentos com lgicas de mercado prprias: produo de florestas para madeira serrada e integrao entre lavoura, pecuria e culturas perenes.

    Criao do Programa de estmulos produo florestalCriao do Programa de estmulos produo florestal

    A produo florestal encontra importantes obstculos na falta de regu-larizao ambiental, na falta de crdito e na falta de tecnologia para se tornar competitiva. No tocante ao meio ambiente, h necessidade de recomposio florestal tanto em relao Reserva Legal (RL), quanto recomposio das reas de Proteo Permanente (APP). problema ge-neralizado no Pas, com feies mais dramticas na Regio Norte, pelo ambiente de incerteza jurdica.

    muito importante que o setor madeireiro passe por verdadeira revoluo. O Brasil tem todas as condies de almejar posio de destaque no mer-cado mundial de produtos madeireiros, semelhana do status que detm no setor de papel e celulose. As principais barreiras so recursos financei-ros e tecnologia. As linhas de crdito existentes so raras e inadequadas para a produo sustentvel de madeira serrada, pois exigem carncias de no mnimo dez anos, conforme as espcies utilizadas. H falta de inves-timento em tecnologia florestal, que deve ser superada para se assegurar uma produo florestal com valor diferenciado capaz de competir com as florestas temperadas do hemisfrio norte, que dispem de produo em escala e tecnologia.

    A inteno criar mercado de produtos madeireiros com dois grandes segmentos. O primeiro, de larga escala e baixo custo, progressivamente atendido por floresta plantada. O segundo, de menor escala, com foco em madeiras nobres, oriundas do manejo sustentvel de florestas nativas, com preos elevados, compatveis com os custos de sua extrao susten-tvel ambientalmente. Paralelamente, organizar os produtores em consr-cios de exportao, para trabalho coletivo voltado agregao de valor em territrio nacional.

  • 1414

    Criao de mecanismos para regularizao do passivo ambiental e vaCriao de mecanismos para regularizao do passivo ambiental e va--lorizao da mata nativa em plorizao da mata nativa em p

    A proposta estabelecer mecanismo de compensao ambiental que per-mita remunerar a prestao de servios ambientais de manuteno da mata nativa. Tal mecanismo deve criar meios para viabilizar o cumprimen-to da legislao ambiental referente obrigatoriedade de reserva legal por parte dos produtores agrcolas em reas cuja recuperao da cobertura vegetal seja invivel.

    Criao do Programa de estmulos integrao entre lavoura, pecuria Criao do Programa de estmulos integrao entre lavoura, pecuria intensiva e culturas perenesintensiva e culturas perenes

    Deve-se estimular a ampliao de culturas comerciais em terras degrada-das. Os meios para isso envolvem, por um lado, linhas de financiamento com prazo e custo adequados. Incluem, de forma complementar, simpli-ficao e reduo do pagamento de tributos incidentes sobre o setor. Os avanos tecnolgicos no setor j demonstram a possibilidade de im-portante reduo de custos, com o menor uso de insumos e aumento de produtividade.

    Alm, disso, o prprio modelo de negcio deve ser aperfeioado, estimu-lando-se a diversificao de produtos em uma mesma unidade agrcola. A diversificao permite maior renda lquida, assegura manejo agrcola ambientalmente sustentvel e mesmo expanso de culturas perenes. A integrao permite ainda superar alguns dos entraves tradicionais, como a necessidade de capital inicial elevado e de amplos prazos de carncia. A integrao de culturas permite modelo de negcios com fontes distin-tas de receitas, escalonadas no tempo, e a adaptao s terras de difcil mecanizao, tpica de culturas anuais. O resultado a otimizao do patrimnio fundirio e a gerao de atividades mais intensivas em mo-de-obra. Contudo, na intensificao da pecuria e na sua integrao com culturas anuais que h amplo espao a ser conquistado, por seu efeito benfico para a pecuria e pela reduo do incentivo ao desmatamento.

    Eixo 2: Produo de fertilizantesEixo 2: Produo de fertilizantes

    O Brasil fortemente dependente da importao de insumos agrcolas. Na rea de fertilizantes a situao ainda mais grave: o alto grau de concentrao no

  • 1515

    segmento gera desigualdades na relao entre fornecedores e produtores, com ntido prejuzo para os ltimos. O crescimento da safra agrcola nos ltimos anos gerou grande aumento da demanda, com importante impacto nos preos. fator de alta vulnerabilidade da agricultura brasileira, capaz de gerar crises de oferta, imprevisibilidade de custos e desestmulo produo.

    A produo privada de fertilizantes no garante preos competitivos para via-bilizar rpida expanso da agricultura. Em virtude disso, preciso interveno do Estado para recuperar o equilbrio do mercado. So necessrias medidas que restabeleam dinmica equitativa, seja por mecanismos fiscais, seja pela atu-ao mais presente do Estado na produo direta de fertilizantes estratgicos. Para tanto, se prope:

    Criao de empresa estatal de Fertilizantes Criao de empresa estatal de Fertilizantes

    Essa empresa poder atribuir sustentabilidade s medidas a serem adota-das pelo Governo com o fim de mitigar o impacto do elevado custo dos fertilizantes, de forma a restabelecer a competitividade do setor privado, aumentar as possibilidades de segurana alimentar e reduzir os custos da produo agrcola brasileira.

    Reduo da alquota do ICMS interestadual incidente sobre fertilizanReduo da alquota do ICMS interestadual incidente sobre fertilizan--tes, enquanto no houver equilbrio de preostes, enquanto no houver equilbrio de preos

    Eixo 3: Superao dos obstculos logsticosEixo 3: Superao dos obstculos logsticos

    Para superar os obstculos relacionados ao escoamento das safras, necessrio construir paradigma multimodal de transporte, com ambiente legal e poltico favorvel coordenao entre rodovias, ferrovias, hidrovias e dutos, de manei-ra eficiente e racional.

    Para o modal ferrovirio, necessrio combinar concorrncia e regulao para revelar sua eficincia intrnseca, diminuindo as diferenas de custo entre trans-porte rodovirio e ferrovirio. Para as hidrovias, preciso garantir infraestrutu-ra de eclusas, sob responsabilidade e financiamento do Governo Federal, alm de medidas para aumentar a navegabilidade dos rios. Quanto ao transporte rodovirio, importa criar programa de desenvolvimento e racionalizao de estradas vicinais, alm de duplicao e pavimentao de rodovias estratgicas. Assim, se prope:

    Estabelecimento de medidas logsticas estruturaisEstabelecimento de medidas logsticas estruturais

  • 1616

    importante traar poltica de definio de eixos estratgicos de trans-porte agrcola, como novas outorgas ferrovirias; ampliao e melhora-mento da malha de estradas vicinais; duplicao e pavimentao de es-tradas federais estratgicas para o escoamento da produo agropecuria; implementao e ampliao de hidrovias.

    Criao do Plano Logstico Anual de SafraCriao do Plano Logstico Anual de Safra

    preciso fortalecer dinmica socioeconmica prspera a partir da integra-o entre espaos rurais e urbanos. Trata-se, portanto, de poltica logsti-ca muito mais ampla que o transporte da produo agrcola, com sistemas de estoque e carregamento de safras no tempo, viabilizando estratgia de preos e sistemas de provimento da indstria de transformao. Deve incluir o atendimento a novas economias derivadas da conectividade cres-cente entre o rural e o urbano, como a funo residencial e turstica e at mesmo a industrial. Deve incluir tambm o acesso aos servios urbanos essenciais aos negcios e melhoria da qualidade de vida no campo e nas regies urbanas integradas.

    Para atingir esses objetivos, sugerem-se medidas preventivas em logs-tica, fundadas nas estimativas de safra e metas decrescentes de custos logsticos. Faz-se tambm necessria a ampliao do apoio estrutural da CONAB; leiles de servios logsticos para as regies mais distantes dos centros de consumo ou dos canais de exportao; infraestrutura de bai-xo custo, compreendendo sistemas de armazenamento, portos, trmites aduaneiros e transporte intermodal; e melhoramento das estradas vicinais (para permitir o fortalecimento das relaes entre a economia no campo e os servios urbanos).

    Eixo 4: Resguardos fitossanitrios como oportunidadesEixo 4: Resguardos fitossanitrios como oportunidades

    Os consumidores de produtos alimentares tm exigido padres progressivamen-te mais rgidos de qualidade e inocuidade dos alimentos, levando governos a implementarem regras rgidas sobre a certificao e a rastreabilidade de pro-dutos agropecurios. preciso garantir a segurana dos consumidores e evi-tar barreiras disfaradas ao comrcio internacional, que podem ser facilmente empregadas contra o Brasil em razo da desorganizao do sistema produtivo nacional, pblico e privado.

    No basta certificar fazendas, frigorficos ou fiscalizar supermercados de for-ma isolada, posto que o consumidor exige garantia de qualidade e inocuidade

  • 1717

    ao longo de toda a cadeia percorrida pelo alimento. Para alm disso, a cen-tralizao do sistema atual precisa ser transformada por um modelo baseado na cooperao federativa, que integre subsistemas pblicos e privados, com mecanismos de comando e de controle fundados na otimizao da capacidade instalada e na redistribuio de competncias. Para isso, se prope:

    Criao do Sistema Nacional de Defesa SanitriaCriao do Sistema Nacional de Defesa Sanitria

    Tal sistema dever ter atuao descentralizada e ser fundado na certifica-o privada de produtos. O Estado deve diminuir sua funo de fiscal da produo e passar a exercer papel de auditor de atividades, homologando certificadoras de qualidade. conhecida a falta de recursos nesta rea para garantir qualidade e evitar embargos comerciais. A soluo a descentra-lizao da atividade para os demais entes federados e a parceria com o agricultor. Trata-se de criar sistema que v alm da fiscalizao realizada pelo setor pblico: importa criar iniciativa complementar, que conte com o apoio preventivo do produtor. Esse o sentido de programa ora em cur-so no Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa) e que precisa ser radicalmente ampliado.

    ii. agenda de modernizao institucional Para o ii. agenda de modernizao institucional Para o setor agroPecurio setor agroPecurio

    importante estimular a integrao entre as polticas para agricultura familiar e para a agricultura empresarial, reduzindo a dualidade de hoje. Trata-se da criao de agenda agrcola que permita sobrepujar o contraste entre agricul-tura de pequena escala, de padro familiar, que luta para emancipar-se com xito, ainda que para poucos e agricultura empresarial, cuja competitividade inequvoca no se traduz em renda e poupana agrcola estveis.

    O predomnio de uma dupla poltica, embora bem-sucedida no curto prazo, pelo tratamento diferenciado aplicado a condies que j so desiguais, fra-giliza o setor no longo prazo. crucial sua substituio gradual por estratgia que fortalea a integrao desses dois segmentos ao considerar o papel de cada um deles na formao das cadeias produtivas ligadas agricultura, pecuria e produo florestal. Note-se que a ausncia dessa estratgia reduz a possibilidade de usar a diversidade de escalas e de sistemas de produo como atributo da competitividade do setor. Alm disso, desestimula a coope-rao, importante para enfrentar o mercado de insumos e para obter melhores condies de comercializao da produo. Ainda, dificulta a formulao de

  • 1818

    polticas de benefcios mtuos, justamente onde esta se faz mais necessria: diante dos mercados cada vez mais agressivos e diante do consumidor urbano, cada vez mais preocupado com a qualidade, custo e origem ambientalmente sustentvel. Essa agenda comum, que precisa ser implementada, expressa em trs grandes eixos.

    Eixo 1: Criao de ampla classe mdia rural por meio da Eixo 1: Criao de ampla classe mdia rural por meio da coordenao estratgica entre Estado e setor produtivocoordenao estratgica entre Estado e setor produtivo

    A parceria entre agricultores e Estado tradio em todo o mundo. O Estado chamado para atuar em relao aos riscos econmicos e climticos, bem como para garantir segurana alimentar da populao. No Brasil, preciso ir alm. O fosso das assimetrias sociais no campo e os desafios dos mercados agrcolas tornam o modelo insuficiente para a construo de um Brasil e de um setor rural brasileiro aptos para o sculo XXI. necessria poltica agrcola com o objetivo maior de promover o desenvolvimento socioeconmico e ambiental da agricultura brasileira, capaz de criar vasta classe mdia rural e organizar sociedade rural-urbana plena de oportunidades econmicas.

    Eis o desafio: superar um problema cujo centro no o mercado, embora este seja essencial, e sim a organizao socioeconmica dos produtores agrcolas. , antes de tudo, construo institucional.

    Essa , na essncia, a diferena entre uma poltica agrcola movida exclusiva-mente pelos sinais de mercado, mesmo que eficiente, e outra orientada pela vontade poltica das foras sociais interessadas em perseguir pacto social pela prosperidade de todos no campo. O resultado positivo deve ser a consolidao de modelo que abrigue, de forma coerente, as diversidades culturais, sociais e econmicas da agricultura brasileira.

    Para tanto, necessrio alinhar numa s direo quatro conjuntos de instru-mentos de poltica pblica. Assim, prope-se:

    Popularizao dos instrumentos financeiros contra riscos fsico-ecoPopularizao dos instrumentos financeiros contra riscos fsico-eco--nmicosnmicos

    Isto deve ser feito pela institucionalizao de um seguro-renda que arti-cule trs instrumentos de poltica agrcola: riscos climticos, excessos de flutuao de preos e garantia da segurana alimentar. A finalidade har-monizar no longo prazo produo, consumo, custo e qualidade, a despeito das flutuaes naturais de mercado.

  • 1919

    Implementao de medidas de aperfeioamento da atual Poltica de Implementao de medidas de aperfeioamento da atual Poltica de Garantia de Preos Mnimos (PGPM) Garantia de Preos Mnimos (PGPM)

    No mbito da agricultura familiar, o aperfeioamento do Programa de Aquisio de Alimentos (PAA) deve ser visto no como programa setorial, mas como um programa do Governo Federal. Tais medidas incluem aes como:

    a) Tornar obrigatrio o seguro contra riscos climticos e biolgicos quando da contrao de crdito em instituies financeiras, mantida a subveno ao prmio em montante que acompanhe o conjunto dos agricultores dispostos a tomar crdito.

    b) Aprovar o PL sobre Fundo de Catstrofe e consolid-lo como lastro pblico ao mercado de seguro agrcola, reduzindo o prmio do seguro.

    c) Democratizar o acesso ao mercado de derivativos (por exemplo, opes) para os pequenos agricultores organizados em associaes, a fim de proteg-los contra flutuaes de preos, de forma comple-mentar s garantias oferecidas pela Companhia Nacional de Abaste-cimento (Conab). O Governo dever prover de subveno o mercado de opes por perodo de alguns anos at que o mercado adquira liquidez suficiente para abarcar a maior parte da produo agrcola.

    Diante da crise, esse instrumento que ganha destaque para contornar os efeitos destrutivos sobre o capital humano e material construdo no campo. sobre ele que recaem esperanas de capturar a liquidez de poupana disponvel para assegurar o volume de crdito necessrio ao Plano Safra 2009-2010.

    Incentivo ao aumento da produtividade com sustentabilidadeIncentivo ao aumento da produtividade com sustentabilidade

    necessrio criar mecanismos para a melhoria na qualidade da produo sem o desmatamento de novas reas de mata nativa. Tais mecanismos de-vem ter como diretrizes a divulgao de melhores prticas entre produtores rurais, a organizao e individualizao de informaes sobre produo e produtividade agrcola e a certificao rural sustentvel como prioritria para o recebimento de incentivos e utilizao de produtos financeiros e assistenciais a serem oferecidos aos produtores. Para tanto, se prope:

    a) criao do Selo Verde de Produtividade Rural, que certificar indi-vidualmente o aumento de produtividade com sustentabilidade; e

  • 2020

    b) criao do Concurso Nacional de Produtividade, que divulgar en-tre os produtores rurais as boas prticas que levam ao aumento da produtividade e da lucratividade, com sustentabilidade.

    Criao do Sistema nico de Assistncia Tcnica e Extenso Rural Criao do Sistema nico de Assistncia Tcnica e Extenso Rural (Sater)(Sater)

    A extenso rural deve se organizar por meio de sistema descentralizado e diversificado na sua modalidade de financiamento. No pode ser total-mente autofinanciada pelos agricultores, tampouco destinada unicamente agricultura familiar. A presena do setor pblico de forma ampla ou residual, conforme o padro produtivo, parte do exerccio da coorde-nao estatal, orientada pelos princpios do seguro-renda e da seguran-a alimentar. Aps anos de sucateamento, o desafio inicial consiste em soerguer a atividade nos estados e municpios com o apoio do Governo Federal, dentro de novo pacto federativo.

    O modelo tradicional de Assistncia Tcnica e Extenso Rural (Ater), inte-gralmente financiado pelo setor pblico, deve ser modificado para modelo diversificado de financiamento pblico-privado, segundo a forma de orga-nizao de produtores. Deve-se mudar tambm a abordagem de trabalho do extensionista, hoje mais preocupado com os fatores da porteira para dentro, adotando-se uma viso completa do agronegcio e da cadeia produtiva, na qual o mercado esteja includo.

    A arquitetura do Sistema deve se basear em fundos de acordo com os di-ferentes nveis federativos (nacional, estadual e municipal). Prope-se a adoao de modelo similar ao adotado na rea de sade, como o Sistema nico de Sade (SUS), ou na rea de seguridade social, como o Sistema nico de Assistncia Social (SUAS).

    Prope-se ainda que a estruturao dos servios de assistncia tcnica e extenso rural seja implementada obrigatoriamente por meio de consr-cios pblicos, a fim de distribuir os custos do sistema entre os diferentes nveis de governo e os demais atores envolvidos.

    Melhoria da regulamentao sobre trabalho ruralMelhoria da regulamentao sobre trabalho rural

    A finalidade atacar a informalidade por meio do estmulo ao emprego formal no campo. A proposta deve reconhecer as diferenas entre traba-lho rural e trabalho urbano, estabelecendo garantias e adequaes que permitam que a formalizao do trabalho rural no implique aviltamento da condio dos trabalhadores.

  • 2121

    Eixo 2: Estmulo cooperao e concorrncia como base Eixo 2: Estmulo cooperao e concorrncia como base da organizao da produo agrcolada organizao da produo agrcola

    A agricultura, no Brasil e no mundo, exemplo de prticas contemporneas de organizao da produo. recorrente a criao de associaes (informais ou no) responsveis por inmeros servios, tais como aquisio de maquinrio, insumos, acesso a novos clientes, extenso rural e manuteno de estoques. So formas de superao da ausncia de escalas adequadas existncia de servios e bens indispensveis competitividade dos produtos, em natura ou processados pelas cadeias agroindustriais.

    A cooperao e a manuteno da concorrncia pelo mercado so caractersticas contemporneas que tm importante tradio no setor agrcola. Os mecanis-mos institucionais at hoje criados muitas vezes fracassaram. por essa razo que mudanas no atual quadro normativo e nas polticas pblicas necessitam ser realizadas para implementar ambiente jurdico e poltico favorvel con-corrncia. Para tanto, necessrio:

    Aumento do fomento ao associativismo, cooperativismo e consrciosAumento do fomento ao associativismo, cooperativismo e consrcios

    Isso deve ser realizado por meio de:

    a) Concesso de estmulo fiscal criao de associaes para alm das cooperativas, tais como condomnios e consrcios para obteno de crdito, comercializao e exportao; e aquisio de maquinrio e insumos.

    b) Criao de mecanismos expeditos de controle e punio para situ-aes de gesto temerria e enriquecimento ilcito.

    Criao de sistema de alertas para atuao regulatria do Estado no Criao de sistema de alertas para atuao regulatria do Estado no setor agrcolasetor agrcola

    A produo agrcola, tradicionalmente dispersa e concorrencial, subme-tida presso de fornecedores de insumos e sementes, por um lado, e de grandes atacadistas e agroindstrias, altamente concentrados, por outro. O resultado tem sido sempre o mesmo: a perda sistemtica de margens de rentabilidade, mesmo nos perodos de alta dos preos agrcolas, que afeta indistintamente a pequenos e grandes produtores. Perdem os agricultores, todos, pois de forma cooperada poderiam adquirir escala perante a con-centrao dos mercados; perde a populao, que fica merc da formao e especulao de preos, viabilizada pela excessiva concentrao desse mercado. Finalmente, perde o Brasil na corrida por mercados internacio-

  • 2222

    nais, que interessam tanto ao pequeno como ao mdio e ao grande pro-dutor, e cujo acesso para os poucos que possuem escala e tecnologia, nica porta de entrada.

    Sem regulao adequada que assegure rentabilidade mnima ao agroneg-cio, pe-se em risco a sua prpria existncia, o que afeta diretamente a segurana alimentar do pas, seja por choque de oferta, seja, no caso mais grave, por risco de fome e desnutrio para as populaes mais pobres e desprotegidas.

    Coordenao da pesquisa, do desenvolvimento e da inovao no agroCoordenao da pesquisa, do desenvolvimento e da inovao no agro--negcionegcio

    Deve-se fortalecer o papel do Estado na coordenao do estmulo com-petitividade da produo agropecuria, com o desenvolvimento de tecno-logias adequadas e sustentveis ambiental e economicamente. Para tanto, importante:

    a) Criao do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuria (Sinpea-gro), que concede ao Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abasteci-mento instrumentos para coordenar esforos inovadores relacionados a P&D em agropecuria, em conjunto com agncias de fomento de diferentes nveis federativos; e

    b) Criao do Fundo da Pesquisa Agropecuria para financiar o desen-volvimento de solues tecnolgicas para o agronegcio brasileiro.

    Eixo 3: Desenvolvimento dos territrios rurais e rurais-Eixo 3: Desenvolvimento dos territrios rurais e rurais-urbanosurbanos

    Iniciou-se recentemente amplo processo de valorizao das regies rurais por meio do desenvolvimento territorial que aproxima cidade e campo de forma integrada. O Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (MDA) tem coordenado polticas governamentais e iniciativas locais, com o objetivo de induzir mudan-as no ambiente rural, com foco no desenvolvimento endgeno de cada regio a partir de suas potencialidades e riquezas. Esse processo tende a ajudar no crescimento da mobilidade das pessoas e das atividades como expresso de um processo social mais amplo, que deriva da evoluo do modo de vida e de mu-danas nas estruturas produtivas. Trata-se da substituio gradual do dualismo campo-cidade pela interpenetrao de funes rural-urbano.

  • 2323

    A agricultura familiar tende a se sustentar cada vez mais nesse fenmeno, de forma empreendedora, prxima a centros urbanos mais densos, somando tare-fas e renda oriundas tanto de atividades agrcolas quanto de ocupaes tipica-mente urbanas. A combinao relativiza as restries impostas pela minifundi-zao e permite, em certas regies, implementar uma linha de financiamento e um arcabouo jurdico favorvel ao reordenamento fundirio da agricultura familiar. Neste sentido, so necessrias:

    Ampliao substantiva do fundo para reordenamento fundirio, com Ampliao substantiva do fundo para reordenamento fundirio, com nfase para as reas com risco de minifundizao, considerando o nfase para as reas com risco de minifundizao, considerando o conceito de mdulo fiscal conceito de mdulo fiscal

    Regularizao da venda de terras em reas de risco de minifundizaRegularizao da venda de terras em reas de risco de minifundiza--o, considerando o conceito de mdulo fiscalo, considerando o conceito de mdulo fiscal

    IIIIII. fortalecimento da Poltica de agroenergia. fortalecimento da Poltica de agroenergia

    Cresce a presso mundial por reduo dramtica de emisses de gases causa-dores de efeito estufa, sem outra soluo, no curto prazo, que substituir parte do combustvel fssil por biocombustveis como lcool e biodiesel. So ventos a favor da agricultura brasileira, mas apenas por algum tempo, algo entre 10 e 15 anos. Novas tecnologias, como a hidrlise enzimtica da celulose, devem alterar as atuais vantagens do lcool derivado da cana de acar. Em quaisquer circunstncias, so argumentos suficientes para colocar no centro da poltica agrcola o desenvolvimento de fontes alternativas e renovveis de energia a partir da biomassa.

    Verifica-se, contudo, insuficiente nvel de investimentos em tecnologia, assis-tncia tcnica, logstica e regulao. Falta, sobretudo, coordenao e organi-zao com poderes para dirigir amplo programa de agroenergia que mobilize os meios hoje dispersos entre a mquina pblica e o setor privado. Prope-se:

    Promoo de um mercado global de agrobiocombustveis Promoo de um mercado global de agrobiocombustveis

    A iniciativa deve viabilizar de imediato a promoo do mercado de bio-combustveis no plano internacional, incluindo o apoio a pases tercei-ros, como os da frica e do Caribe, para abastecimento mundial plural. A transformao do lcool e do biodiesel em commodities passa tambm por mudanas no mercado desses produtos, devendo estes se submeter s

  • 2424

    regras e contratos tpicos do mercado de combustveis, no lugar do pa-dro de compra e venda dos produtos agrcolas, predominantemente spot. Esto previstas:

    a) criao de uma Poltica Nacional de Agroenergia que dever se desdobrar em metas vinculantes para toda a Administrao Pblica Federal; e

    b) criao de rgo estatal com competncias de regulao e coor-denao executiva da Poltica Nacional de Agroenergia.

    a oPortunidade da agenda diante da crise financeira a oPortunidade da agenda diante da crise financeira mundialmundial

    A Agenda fala do futuro da agricultura, porm com os ps no presente, para iniciar sua construo desde j. A crise financeira se abateu no mundo e deve colocar a agricultura no grupo de risco a ser apoiado pelo Estado. Isto abre espao mais largo de possibilidades de se pr em marcha as transformaes previstas na Agenda.

    A agricultura brasileira dever sentir mais duramente os impactos da crise por ocasio do financiamento da prxima safra, 2009-2010 portanto, defasado em alguns meses em relao aos demais setores. Secaram as fontes privadas que tradicionalmente asseguram crdito. Se nada for feito ainda este ano para as-segurar que a pouca liquidez existente possa se deslocar para atender o volume necessrio de crdito de custeio agrcola, h risco grande de reduo drstica da produo. Dos cerca de R$ 100 bilhes necessrios para a prxima safra, apenas 35% esto assegurados, fatia que tem cabido ao setor pblico prover.

    Parte da soluo depende da antecipao de mudanas institucionais propostas nesta Agenda. Esse o ambiente propcio para lanar o desafio de uma agenda mais ampla de transformaes profundas da agricultura e do rural. O momento de crise tambm o momento para virar a mesa. O ambiente de escassez e o risco de insolvncia tornam os interessados mais propensos a aceitar o desco-nhecido se este for o caminho da esperana.

  • 22Parte ii Parte ii resumo das iniciativas

  • 2626

  • 2727

    AgriculturA BrAsileirA no sculo XXiAgriculturA BrAsileirA no sculo XXi

    Resumo das iniciativasResumo das iniciativas

    recuPerao de reas de terras degradadasrecuPerao de reas de terras degradadas

    ContextoContexto

    Atualmente, aumentar a produo agropecuria implica a expanso da frontei-ra produtiva sobre reas de vegetao nativa. Usar o vasto estoque de terras degradadas uma alternativa, mas o custo da recuperao elevado frente ao custo de expanso para novas terras, especialmente na fronteira agrcola.

    PropostasPropostas

    Fornecer estmulos econmicos para que a recuperao e o uso produ-tivo de terras degradadas sejam atividades mais atrativas. Para tanto, necessrio reduzir a vantagem comparativa das terras novas, por meio da criao do Programa Nacional de Recuperao de reas Degradadas - PRONRAD. Medidas previstas no PRONRAD:

    Iseno de IR sobre ganho de capital decorrente da alienao de imveis rurais com reas de terras anteriormente degradadas j recuperadas;

    Mudana da base de clculo do ITR cobrado sobre imveis rurais, de forma a penalizar a manuteno de reas de terras degradadas e a estimular sua recuperao;

    Previso para que sejam institudos regimes diferenciados de tributos mu-nicipais, especialmente o ITBI, no caso de transmisso de imveis rurais com reas de terras degradadas;

    Linhas de crdito especiais destinadas aquisio, recuperao e uso produtivo de reas de terras degradadas;

  • 2828

    Articulao entre o Governo Federal e instituies de assistncia tcnica e extenso rural para auxiliar o produtor agropecurio na recuperao de reas de terras degradadas;

    Previso de isenes fiscais para a compra de insumos produo, bem como para o transporte de insumos e do produto agropecurio.

    Produo de fertilizantesProduo de fertilizantes

    ContextoContexto

    O setor de fertilizantes caracteriza-se por alto grau de concentrao em torno de trs empresas multinacionais. necessrio aumentar a competitividade dos agentes nacionais. No obstante, somente promover a iniciativa privada nacio-nal no garante que, no longo prazo, o pas disponha de fertilizantes a preo competitivo para viabilizar a expanso da agricultura.

    PropostasPropostas

    Projeto de Resoluo do Senado que fixa alquota zero para o ICMS inte-restadual incidente sobre fertilizantes.

    Criao de uma empresa estatal de capital fechado - Fertilizantes do Brasil S.A. (FEBRASA) -, que pode atribuir sustentabilidade s medidas a serem adotadas pelo Governo com vistas a mitigar o impacto do elevado custo dos fertilizantes.

    suPerao dos obstculos logsticossuPerao dos obstculos logsticos

    ContextoContexto

    Uma das principais restries ao crescimento da agricultura o desnvel entre capacidade de produo e infra-estrutura logstica. Se apenas os gargalos de infra-estrutura fossem sanados, a taxa mdia de crescimento do PIB aumenta-ria significativamente.

  • 2929

    PropostasPropostas

    Obrigatoriedade de eclusas nas barragens e hidreltricas, com nus para o governo federal.

    Concesso de novas outorgas para o transporte ferrovirio.

    Ampliao e melhoria da malha de estradas vicinais.

    Duplicao e pavimentao de estradas federais estratgicas para o esco-amento da produo agropecuria.

    Implementao e ampliao de hidrovias, como Teles Pires Tapajs e Araguaia Tocantins.

    aumentar a qualidade fitossanitria aumentar a qualidade fitossanitria

    ContextoContexto

    Os consumidores de produtos alimentares tm exigido padres progressivamen-te mais rgidos de qualidade e inocuidade dos alimentos, levando os governos (ou os blocos econmicos) a implementarem regras rgidas a este respeito, com fulcro na certificao e na rastreabilidade dos produtos agropecurios. No basta certificar fazendas, frigorficos, ou fiscalizar supermercados de forma isolada posto que o consumidor exige garantia de qualidade e inocuidade ao longo da cadeia percorrida pelo alimento.

    Proposta Proposta

    Implementao de novo modelo institucional de defesa agropecuria, in-tegrando subsistemas pblicos e privados. Projeto de Lei estabelecendo novos comandos e controles dirigidos fiscalizao: um controle que oti-miza a capacidade de fiscalizao j instalada (sem, portanto, gastar mais recursos) por meio da redistribuio racional de competncias e tarefas entre entes federados e que potencializa a participao da sociedade (de-sorganizada) na avaliao dos produtos comercializados.

  • 3030

    regularizao do Passivo ambiental e valorizao da regularizao do Passivo ambiental e valorizao da floresta em Pfloresta em P

    ContextoContexto

    A legislao ambiental em vigor, no que diz respeito obrigao de reserva legal, bastante restritiva quanto s opes disponveis para o seu cumpri-mento. Em vrios estados, em razo das circunstncias histricas de desmata-mento, o atendimento legislao hoje invivel. Isso impossibilita a regula-rizao ambiental de diversos produtores rurais, com o efeito perverso de que a ilegalidade estimula ainda mais o desmatamento. Conter de forma radical o desmatamento uma necessidade premente, que no pode ser adiada.

    PropostaProposta

    Criao do Mecanismo de Compensao Ambiental (MCA): um mercado nacional de compensao ambiental, que, de um lado, remunere o servio ambiental prestado pela mata em p e, de outro lado, viabilize o cumpri-mento da legislao ambiental em reas desmatadas cuja recuperao da cobertura vegetal seja econmica e ecologicamente invivel.

    organizao da extenso ruralorganizao da extenso rural

    ContextoContexto

    A sazonalidade da produo agropecuria impe a necessidade de atendimento em tempo integral, no podendo a ao de ATER ficar condicionada ao ca-lendrio habitual de liberao de recursos do Governo Federal, via convnio, sob risco de resultar completamente incua. Alm disso, a Poltica Nacional de Assistncia Tcnica e Extenso Rural PNATER, conduzida com excelncia pelo Ministrio do Desenvolvimento Agrrio MDA, tem como foco o pequeno agricultor e agricultor familiar, deixando de abranger parcela importante dos produtores agropecurios brasileiros.

  • 3131

    PropostasPropostas

    Criao do Sistema nico de Assistncia Tcnica e Extenso Rural - SATER, para coordenar as aes de ATER por meio de arranjo federativo inovador, que garanta a repartio mais eficiente e estvel dos recursos entre os entes federados.

    Criao do Programa de Residncia em Assistncia Tcnica e Extenso Ru-ral - REATER, com vistas a capacitar profissionais para a atividade de ATER e fomentar talentos empresariais na rea.

    PoPularizao dos instrumentos financeiros contra PoPularizao dos instrumentos financeiros contra riscos fsico-econmicos riscos fsico-econmicos

    ContextoContexto

    necessrio incentivar o aumento de produtividade das terras existentes, evi-tando o desmatamento de novas reas de mata nativa. Para tanto, deve-se di-vulgar prticas de sucesso entre os produtores rurais; coletar informaes indi-vidualizadas sobre produo e produtividade agrcola; diversificar os produtos financeiros disponveis aos produtores rurais; e ampliar o acesso ao crdito e ao seguro rural.

    PropostasPropostas

    Criao do Selo Verde de Produtividade Rural, que certificar individual-mente o aumento de produtividade com sustentabilidade.

    Criao do Concurso Nacional de Produtividade, que divulgar entre os produtores rurais as boas prticas que levam ao aumento da produtividade e da lucratividade, com sustentabilidade.

  • 3232

    melhoria das normas trabalhistas rurais melhoria das normas trabalhistas rurais

    ContextoContexto

    O emaranhado legislativo e o alto custo da mo de obra da decorrente geram distores no trabalho rural: a informalidade e a diminuio de postos de tra-balho so certamente as mais graves. De acordo com o IBGE, havia, em 2007, 16.579.000 trabalhadores rurais no pas, dos quais apenas 10% com carteira assinada. O emprego na rea rural exige um perfil diferente de empregado e uma jornada de trabalho diferenciada, em funo dos ciclos biolgicos das di-ferentes cadeias do trabalho no campo.

    PropostasPropostas

    Alteraes pontuais na regulao do trabalho rural, com a finalidade ime-diata de estimular e incrementar, no curto e mdio prazo, o emprego formal no campo, tendo em vista a reconstruo das relaes entre o tra-balho e o capital no Brasil.

    coordenao e aceleramento do avano tecnolgico coordenao e aceleramento do avano tecnolgico

    ContextoContexto

    O avano tecnolgico crucial para a competitividade da produo agropecu-ria brasileira nos mercados internacionais. Contudo, o modelo atual de pes-quisa e desenvolvimento para o agronegcio est marcado pela ausncia de coordenao entre atividades pblicas e privadas. Isso acarreta um risco de perda de competitividade da produo agropecuria brasileira por defasagem do nvel tecnolgico.

    PropostasPropostas

    Elaborao do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuria - SINPEAGRO, que concede ao MAPA instrumentos para coordenar esforos inovadores relacionados P&D agropecuria.

    Criao do Fundo da Pesquisa Agropecuria para financiar o desenvolvi-mento de solues tecnolgicas para o agronegcio brasileiro.

  • 3333

    criao de um mercado global Para os criao de um mercado global Para os agrobiocombustiveisagrobiocombustiveis

    ContextoContexto

    O implemento de uma agenda mundial de agroenergia oferece uma janela curta de oportunidades para o Brasil, entre 5 a 10 anos. A ausncia de coordenao institucional apta a aplicar poltica pblica clara e a prover respostas rpidas para o desenvolvimento do setor pode prejudicar o aproveitamento dessas oportunidades.

    PropostasPropostas

    Fixao de Poltica Nacional de Agroenergia (por decreto) que dever se desdobrar em metas vinculantes para toda a Administrao Pblica federal.

    Criao de rgo estatal com competncias de regulao e coordenao executiva da Poltica Nacional de Agroenergia.

  • 3434

  • 33Parte ii Parte ii propostas legislativas

  • 3737

    Propostas normativasPropostas normativas

    ProPosta 1ProPosta 1 anteProjeto de lei anteProjeto de lei Programa nacional de recuPerao de Programa nacional de recuPerao de reas reas degradadasdegradadas

    EM/SAE No

    Braslia, de de 2008.

    Excelentssimo Senhor Presidente da Repblica,

    Submeto considerao de Vossa Excelncia a anexa proposta de Projeto de Lei (PL) que institui o Programa Nacional de Recuperao de reas Degradadas PRONRAD, com o intuito de estimular a recuperao e a utili-zao produtiva de reas degradadas e reduzir a presso que a expanso da fronteira agrcola exerce sobre reas de mata nativa.

    Para consolidar uma posio de liderana do mercado mundial de alimentos, cada vez mais competitivo e preocupado com a origem ambiental-mente sustentvel da produo, fundamental que o Brasil explore uma nova fronteira agrcola: a recuperao das extensas reas degradadas espalhadas por todo o Brasil. So cerca de 170 milhes de hectares ocupadas por pecu-ria extensiva e de baixa produtividade correspondente a quase trs vezes a superfcie atual ocupada com lavouras que podem ser aproveitadas de forma mais eficiente para incrementar a produo agrcola no curto e mdio prazo, diminuindo a necessidade de prospeco de novas reas cobertas por vegeta-o nativa.

  • 3838

    A idia de aliviar a presso sobre reas de vegetao primria de todos os biomas, por meio do aproveitamento do vasto estoque de reas degradadas, portanto ociosas ou sub-aproveitadas, tem sido exaustivamente mencionada no debate sobre desenvolvimento sustentvel no Brasil.

    Os mais recentes estudos sobre o tema de terras degradadas indi-cam que h forte correlao entre degradao e produtividade. De fato, os ndi-ces de produtividade das terras degradadas so muito baixos, tanto se tomados em termos absolutos, quanto em termos relativos, isto , quando comparados a terras que no se encontram degradadas ou em fase de degradao.

    Destarte, o conceito que se adotar para classificar as terras como degradadas ser o de rea com acentuada diminuio da produtividade agrco-la relativamente ao que seria esperado para aquela rea, podendo ou no ter perdido a capacidade de manter a produtividade do ponto de vista biolgico.

    Para aferio da produtividade ser construdo um ndice que de-terminar o quanto a produtividade alcanada em determinada propriedade rural encontra-se defasada em relao produtividade mdia do Estado em que se localiza.

    No entanto, a principal restrio reconverso produtiva de reas degradadas o alto custo da recuperao vis a vis o baixo custo da terra nova, especialmente em regies prximas s reas de expanso da fronteira. De fato, estima-se o custo de recuperao de 1 hectare de rea fortemente degradada entre R$ 3 mil e R$ 4 mil. A ttulo de comparao, o custo de 1 hectare de terra nova cerca de R$ 1,2 mil em Santarm/PA e R$ 2 mil em Colniza/MT.

    Portanto, a recuperao de reas degradadas necessita de est-mulo econmico para se tornar vivel. Nesse sentido, o PL estabelece um con-junto de incentivos e punies que tornam a recuperao e comercializao de terras degradadas atividades mais atrativas do ponto de vista econmico, reduzindo a vantagem comparativa da utilizao de terras novas para aumen-tar a produo agrcola:

    isenta de tributao pelo Imposto de Renda os ganhos de capital decorrentes da alienao de imvel rural em que pelo menos 50% da rea total seja constituda de reas anteriormente degradadas j recuperadas, devida-mente comprovvel;

    no que se refere ao Imposto Territorial Rural, so duas determina-es que combinadas alteram o valor do imposto cobrado de modo a tornar a recuperao das reas degradadas vantajosa:

  • 3939

    trocar o conceito de Grau de Utilizao, atualmente utilizado no clculo do ITR, pelo de Grau de Produtividade, encarecendo o custo de manu-teno da terra em condies de degradao;

    desconsiderar as reas degradadas em processo de recuperao e as reas anteriormente degradadas j recuperadas na apurao da rea tribut-vel, durante determinado perodo de carncia.

    estabelece que os Municpios podem instituir regimes tributrios diferenciados relativos aos tributos municipais, especialmente o Imposto de Transmisso de Bens Inter-Vivos (ITBI), no caso de transmisso de imveis rurais com reas degradas;

    prev articulao entre o Governo Federal e instituies financei-ras pblicas e privadas de linhas de crdito especiais destinadas aquisio, recuperao e uso produtivo de reas degradadas.

    prev articulao entre o Governo Federal e instituies de as-sistncia tcnica e extenso rural para auxiliar o produtor agropecurio na consecuo dos objetivos deste programa.

    prev isenes especficas para a compra de insumos produo, bem como no transporte de insumos e do produto agropecurio.

    Em sntese, as medidas contidas no PL devem estimular a recupe-rao e uso produtivo de reas degradadas, aumentando o potencial de produ-o agropecuria brasileira, criando um mercado dinmico e economicamente atrativo capaz de induzir a formao de uma classe-mdia rural empreendedora e o desenvolvimento de novas tecnologias de produo intensiva, ao mesmo tempo em que reduzem o desmatamento de florestas.

    So essas, Senhor Presidente, as razes que fundamentam o pre-sente PL de instituio do Programa Nacional de Recuperao de reas Degra-dadas PRONRAD.

  • 4040

    Projeto de lei n _______, de ___ de _______ de 2009.Projeto de lei n _______, de ___ de _______ de 2009.

    Institui o Programa Nacional de Recuperao de reas Degradadas, altera a Lei n 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e d outras providncias.

    O PRESIDENTE DA REPBLICA, no uso das atribuies que lhe confere o art. 24, VI, e o art. 61 da Constituio Federal, apresenta o seguinte projeto de lei:

    Art. 1 Fica institudo o Programa Nacional de Recuperao de reas Degradadas PRONRAD, com os seguintes objetivos:

    I estimular a recuperao e a utilizao produtiva de reas de-gradadas como forma de reduzir a presso pelo avano da fronteira agrcola;

    II tornar a recuperao e a utilizao produtiva de reas degra-dadas uma opo economicamente vivel para a expanso da produo agr-cola;

    III incentivar a formao de um mercado de compra, recupera-o e venda de terras degradadas;

    IV incentivar a formao de novos arranjos produtivos de inte-grao campo-cidade baseado no aumento sustentvel da produtividade agr-cola;

    V viabilizar a formao de uma classe mdia rural e empreen-dedora cuja atuao se constitua em uma barreira degradao de reas pro-dutivas;

    Art. 2 Entende-se por reas degradadas aquelas com acentuada diminuio da produtividade agrcola relativamente ao esperado para aquela rea.

    Pargrafo nico. Sero consideradas reas degradadas e podero beneficiar-se deste programa as propriedades rurais que tiverem o Grau de Pro-dutividade, usado na aferio do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR), inferior a 80%.

    Art. 3 So instrumentos do PRONRAD:

  • 4141

    I incentivos financeiros aquisio, recuperao e ao uso produtivo de reas degradas;

    II incentivos fiscais recuperao, utilizao produtiva e ao comrcio de reas degradadas;

    III isenes de impostos relativas compra de insumos agrco-las e cobertura parcial do frete de transporte de insumos e produtos agrope-curios;

    IV assistncia tcnica e capacitao do produtor agrcola.

    Art. 4 A recuperao de reas degradadas ter um regime tri-butrio diferenciado com relao aos seguintes tributos federais, na forma disposta por esta lei:

    I Imposto de Renda sobre Ganho de Capital na Alienao de Imveis Rurais;

    II Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR).

    Pargrafo nico. Os Municpios podero instituir regimes tribut-rios diferenciados relativos aos tributos municipais, especialmente o Imposto de Transmisso de Bens Inter-Vivos (ITBI), com o intuito de aplicar no mbito municipal os objetivos e preceitos desta lei.

    Art. 5 O Governo Federal articular com as instituies finan-ceiras pblicas e privadas linhas de crdito especiais destinadas aquisio, recuperao e uso produtivo de reas degradadas.

    Pargrafo nico. Os objetivos referidos no caput podero ser re-alizados mediante linhas de crdito especficas do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO), do Fundo Constitucional do Norte (FNO), do Fundo Cons-titucional do Nordeste (FNE), do Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste (FDCO), do Fundo de Desenvolvimento da Amaznia (FDA), do Fundo de Desen-volvimento do Nordeste (FDNE), do Fundo de Recuperao Econmica do Esta-do do Esprito Santo (FUNRES) e de outros instrumentos financeiros voltados promoo do desenvolvimento nacional e regional.

    Art. 6 So isentos de tributao pelo Imposto de Renda os ga-nhos de capital decorrentes da alienao de imvel rural em que pelo menos 50% da rea total seja constituda de reas anteriormente degradadas objeto de comprovada recuperao.

  • 4242

    Art. 7 Os arts. 10 e 11 da Lei n 9.393, de 19 de dezembro de 1996, passam a vigorar com a seguinte redao:

    Art. 10 .............................................................................

    ........................................................................................

    1 .................................................................................

    ........................................................................................

    II - ...................................................................................

    g) comprovadamente degradadas e em processo de recuperao;

    h) anteriormente degradadas que tenham sido objeto de compro-vada recuperao.

    ........................................................................................

    V - Grau de Produtividade - GP, a relao percentual entre o valor da produtividade obtida na propriedade e o valor da produtividade mdia do Estado em que se localiza a propriedade rural, ambos referentes ao ano civil anterior.

    2 O valor da produtividade do imvel resultar do produto entre a produtividade fsica obtida na propriedade e o preo mdio de uma unidade do produto, ambos referentes ao ano civil anterior.

    3 A produtividade fsica mencionada no 2 corresponde ao quociente entre o volume da produo obtida na propriedade e a rea aprovei-tvel, ambos referentes ao ano civil anterior.

    4 O valor da produtividade mdia do Estado resultar do pro-duto entre a produtividade fsica mdia do Estado, para o produto em questo, e o preo mdio de uma unidade do mesmo, ambos referentes ao ano civil anterior.

    5 A produtividade fsica mdia do Estado, mencionada no 4, corresponde ao quociente entre o volume da produo obtida no Estado e a rea utilizada na agricultura, em hectares, ambos apontados pela Companhia Nacional de Abastecimento Conab, relativamente ao ano civil anterior.

    6 Para apurao do preo mdio unitrio do produto a que se referem os 2 e 4, dever ser usado o tabelamento oficial da Companhia Nacional de Abastecimento Conab, relativamente ao ano civil anterior.

  • 4343

    7 As informaes relativas ao volume de produo mencionado no 3 devero constar do DIAT.

    8 Para os fins do inciso V do 1, o contribuinte poder valer-se dos dados sobre o respectivo volume de produo, fornecidos pelo arrenda-trio ou parceiro, quando o imvel, ou parte dele, estiver sendo explorado em regime de arrendamento ou parceria.

    9 A exceo de que trata a alnea g do inciso II, 1, deste artigo, depender de projeto especfico e ter aplicao de:

    I - 3 anos consecutivos, para intensificao de pastagens;

    II - 3 a 5 anos consecutivos, para culturas perenes;

    III - 7 a 10 anos, para silvicultura ou sistemas silvipastoris.

    10 A exceo de que trata a alnea h do inciso II, 1, deste artigo, ser aplicvel por no mximo 6 anos consecutivos, contados a partir da concluso do processo de recuperao.

    11 A declarao para fim de iseno do ITR relativa s reas de que tratam as alneas a e d do inciso II, 1, deste artigo, no est sujeita prvia comprovao por parte do declarante, ficando o mesmo responsvel pelo pagamento do imposto correspondente, com juros e multa previstos nesta Lei, caso fique comprovado que a sua declarao no verdadeira, sem preju-zo de outras sanes aplicveis.

    Art. 11. O valor do imposto ser apurado aplicando-se sobre o Valor da Terra Nua Tributvel - VTNt a alquota correspondente, prevista no Anexo desta Lei, considerados a rea total do imvel e o Grau de Produtividade GP.

    1 Na hiptese de inexistir rea aproveitvel aps efetuadas as excluses previstas no art. 10, 1, inciso IV, sero aplicadas as alquotas, correspondentes aos imveis com grau de produtividade superior a 80% (oiten-ta por cento), observada a rea total do imvel.

    ................................................................... (NR)

    Art. 8 A tabela de alquotas constante da Lei n 9.383, de 19 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redao:

  • 4444

    TABELA D

    rea total do imvel (em hectares)

    GRAU DE PRODUTIVIDADE GP (EM %)

    Maior que 80

    Maior que 65 e 80

    Maior que 50 at 65

    Maior que 30 at 50

    At 30

    At 50 0,03 0,20 0,40 0,70 1,00

    Maior que 50 at 200

    0,07 0,40 0,80 1,40 2,00

    Maior que 200 at 500

    0,10 0,60 1,30 2,30 3,30

    Maior que 500 at 1.000

    0,15 0,85 1,90 3,30 4,70

    Maior 1.000 at 5.000

    0,30 1,60 3,40 6,00 8,60

    Acima de 5.000 0,45 3,00 6,40 12,00 20,00

    (NR)

    Art. 9 Os valores dos incentivos e isenes mencionados no art. 3 dependero de projeto especfico e tero vigncia de:

    I - 3 anos consecutivos, para intensificao de pastagens;

    II - 3 a 5 anos consecutivos, para culturas perenes;

    III - 7 a 10 anos, para silvicultura ou sistemas silvipastoris.

    Art. 10. Finda a vigncia mencionada no art. 9 desta Lei, o pro-dutor beneficiado por este programa que no obtenha seu Grau de Produtivi-dade, usado na aferio do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR), igual ou superior a 80% dever restituir Unio todos os valores referentes aos incentivos e isenes recebidos a ttulo deste programa.

    Pargrafo nico. Os valores a restituir sero corrigidos obedecendo s mesmas regras de correo aplicadas pela Secretaria da Receita Federal do Ministrio da Fazenda aos dbitos decorrentes do Imposto de Renda de Pessoa Fsica.

  • 4545

    Art. 11. As propriedades rurais beneficirias deste programa no so passveis de desapropriao para Reforma Agrria durante o perodo de vigncia mencionado no art. 9 desta Lei.

    Art. 12. As propriedades rurais que obtenham seu Grau de Produ-tividade, usado para aferio do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR), igual ou superior a 80% no so passveis de desapropriao para Re-forma Agrria.

    Art. 13. Revogam-se todas as disposies em contrrio.

    Art. 14. Esta Lei entra em vigor 180 dias aps a sua publicao.

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    ProPosta 2 ProPosta 2 anteProjeto de leianteProjeto de lei criao do sistema nacional de comPensao criao do sistema nacional de comPensao ambiental snca e do mecanismo de comPensao ambiental snca e do mecanismo de comPensao ambiental mcaambiental mca

    EM/SAE No

    Braslia, de de 2009.

    Excelentssimo Senhor Presidente da Repblica,

    Submeto considerao de Vossa Excelncia a anexa proposta de Projeto de Lei que cria o Sistema Nacional de Compensao Ambiental SNCA, com o objetivo de instituir um Mecanismo de Compensao Ambiental MCA. So duas as finalidades principais do MCA: a) criar um instrumento econmico de incentivo conservao de coberturas florestais nativas; b) instituir mais uma alternativa de compensao de passivo de reserva legal. Alm disso, o MCA pretende estimular o uso produtivo de reas degradadas, por entender que o uso racional dessas reas diminui a presso antrpica sobre as reas de vegetao primria.

    O MCA um instrumento econmico de conservao ambiental que permite minimizar o nus de manuteno da reserva legal, principalmente em relao atividade econmica rural, pois permite que um produtor rural explore de maneira mais eficiente sua terra mediante a compensao com reas onde a manuteno da cobertura vegetal implique menor custo de oportuni-dade. Ao mesmo tempo, facilita a regularizao de diversos produtores rurais atualmente em descompasso com a legislao ambiental. Alm disso, possibi-lita ao mercado compensar financeiramente titulares de imveis cuja cobertura florestal traga benefcio ambiental, de modo a que a cobertura vegetal deixe de ser vista como uma mera limitao incidente sobre a propriedade, mas passe a se constituir em oportunidade de ganho financeiro.

    De fato, uma das crticas recorrentes obrigatoriedade de manu-teno de um percentual mnimo da rea total de um imvel rural sob a forma reserva legal, isto , com cobertura florestal nativa, que essa imposio legal gera grandes benefcios sociais (valor da preservao ambiental como garantia

  • 4747

    de sustentabilidade e de conservao da biodiversidade, dos recursos hdricos e de vrios processos biolgicos, entre outros), mas encargos exclusivamente privados (na forma de receitas sacrificadas com atividades agrcolas e pecu-rias). No caso especfico das reas de floresta da Amaznia Legal, o Cdigo Florestal impe que 80% da rea dos imveis rurais constitua a reserva legal. A proposta mantm a obrigao de cobertura vegetal, porm possibilita que essa se traduza em benefcio financeiro. Assim, espera-se estimular a preservao da mata nativa e contribuir para o equilbrio do meio-ambiente.

    O MCA atende necessidade de se criar alternativas realmente viveis para a compensao de passivos ambientais relacionados ao dficit de reserva legal. Atualmente, de acordo com o texto da Medida Provisria n 2.166-67, de 2001, o proprietrio ou possuidor de imvel rural com dficit de reserva legal tm as seguintes alternativas, que devem ser adotadas isolada ou conjuntamente: i) recompor ou conduzir a regenerao da reserva legal em sua prpria propriedade; ii) compensar a reserva legal. A reserva legal pode ser compensada por outra rea equivalente em importncia ecolgica e exten-so, desde que pertena ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma micro-bacia, conforme critrios estabelecidos em regulamento. A legislao atualmente em vigor ainda prev que na impossibilidade de compensao da reserva legal dentro da mesma micro-bacia hidrogrfica, deve o rgo ambien-tal estadual competente aplicar o critrio de maior proximidade possvel entre a propriedade desprovida de reserva legal e a rea escolhida para compensao, desde que na mesma bacia hidrogrfica e no mesmo Estado, atendido, quando houver, o respectivo Plano de Bacia Hidrogrfica, e respeitadas as outras con-dicionantes previstas no texto legal.

    Essa norma bastante restritiva, sendo particularmente impra-ticvel em vrios Estados das regies Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Pas. Uma das razes a inexistncia de excedentes de reas de vegetao nativa remanescentes dentro da mesma micro-bacia, ou na mesma bacia hidrogrfica e no mesmo Estado. Desta forma, para atender demanda por regularizao de passivo de reserva legal e, conseqentemente, aumentar o cumprimento da im-posio legal, faz-se necessrio flexibilizar as regras de compensao. O MCA, na medida em que permite que passivos de reserva legal sejam convertidos em Cotas do MCA emitidas por proprietrios de reas ofertantes de ativo ambiental de todo o pas, representa uma alternativa mais flexvel e eficaz de aplicao do Cdigo Florestal.

    A proposta de Projeto de Lei aqui submetida se inicia com as di-retrizes do SNCA, reconhecendo o valor intrnseco da cobertura vegetal nativa para alm da captura de carbono; a atribuio difusa e nacionalizada da res-

  • 4848

    ponsabilidade de manter a cobertura vegetal nativa; a atribuio direcionada do nus financeiro da manuteno da cobertura vegetal nativa aos agentes poluidores; a necessidade premente de conteno das presses antrpicas sobre os biomas nacionais; a preferncia para utilizao de mecanismos de incenti-vos, baseados em adeso voluntria, em detrimento de solues coercitivas; e o reconhecimento da necessidade de um arranjo federativo inovador para a viabilidade de uma poltica de compensao e preservao ambiental.

    O MCA criado pelo Projeto de Lei possibilitar a compensao do passivo de reserva legal de determinados particulares por meio da peridica aquisio de Cotas do MCA emitidas por agentes que, em regra, possuam ati-vo ambiental que extrapola a reserva legal de sua propriedade. Trata-se de transao peridica de Cotas dotadas de cartularidade, livre comercializao e validade nacional, que busca compensar uma rea de reserva legal desmatada (demandante) com uma rea ambiental de uma outra propriedade que extra-pola a reserva legal de sua regio (ofertante), sendo que as reas ofertadas e demandadas sero valoradas de acordo com critrios a serem estabelecidos em decreto.

    Podero emitir Cotas do MCA: proprietrios, possuidores, usufru-turios ou titulares de direito real de uso de terras particulares ou da Unio, comunidades indgenas ocupantes de reservas indgenas, comunidades extrati-vistas ocupantes de unidades de conservao, OSCIPs, concessionrios flores-tais, alm de entes pblicos de direito pblico. Podero comprar Cotas do MCA: qualquer pessoa, fsica ou jurdica, que demande rea ambiental, alm do Poder Pblico em relao a Cotas em circulao. A negociao de Cotas poder ser direta entre emissor e comprador, em bolsa de valores, em mercado de futuros, por agentes comercializadores, ou por qualquer outra forma que facilite a tran-sao.

    Outro aspecto relevante que as cotas emitidas pela Unio pode-ro ser cedidas sem nus para micro e pequenos proprietrios rurais, como for-ma de viabilizar a regularizao ambiental. De outro modo, esses proprietrios dificilmente conseguiriam saldar seu passivo ambiental. Por outro lado, uma vez regularizados e integrados ao sistema, espera-se que esses proprietrios no desmatem o restante de suas reservas legais pois do contrrio estariam de volta ilegalidade e sujeitos s pesadas obrigaes pecunirias impostas pela lei. A regularizao, assim, atua em prol da preservao do meio-ambiente no longo prazo.

    Como incentivo adeso dos demandantes, aqueles que partici-parem do MCA e configurarem como plos passivos em processos penais que tenham como objeto crime ou infrao ambiental relacionados ao desmate de

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    reserva legal em sua propriedade sero beneficiados pela suspenso condicio-nal do processo, alm de serem anistiados das infraes administrativas corres-pondentes. A anistia e a suspenso condicional estaro vinculadas aquisio de Cotas do MCA suficientes compensao da supresso da cobertura vegetal na respectiva reserva legal. Esse benefcio, porm, apenas pode ser conferido queles que no tiverem praticado novos desmatamentos aps a autuao e que tiverem aderido ao SNCA em at 12 (doze) meses a partir da vigncia da futura lei. Adicionalmente, comprovada fraude de qualquer natureza, o agente estar sujeito ao destrancamento do processo penal a que respondia anteriormente, multa, crime do artigo 299 do Cdigo Penal Brasileiro e indenizao especfica.

    Cada cota ser registrada com um nmero de srie no Cadastro Nacional do SNCA por meio eletrnico, com o auxlio do INMETRO e do MMA, sendo que para a emisso de cotas se exigir certificao tcnica que assevere a categoria do ativo ambiental e o tamanho da rea compreendida.

    Finalmente, o Projeto de Lei inova ao conferir natureza patrimonial ao dano ambiental relacionado supresso de cobertura vegetal nas reservas le-gais. Para tanto, transforma em bem pblico, de natureza imaterial, o benefcio ambiental da cobertura vegetal das reservas legais. A ofensa a esse bem pblico gera obrigao de indenizar, tanto para os participantes do MCA, quanto para agentes ofensores que a ele no aderiram. Com isso, busca-se contribuir para a eficcia da legislao ambiental, alm de corrigir uma distoro decorrente da natureza difusa do benefcio de um meio-ambiente equilibrado, que inviabiliza-va que o prejuzo sofrido pela sociedade fosse devidamente quantificado.

    So essas, Senhor Presidente, as razes e caractersticas que pau-tam a presente proposta de Projeto de Lei que cria o Sistema Nacional de Com-pensao Ambiental SNCA e institui o Mecanismo de Compensao Ambiental MCA.

  • 5050

    Projeto de lei n ..........., de .... de ......... de 2009.Projeto de lei n ..........., de .... de ......... de 2009.

    Institui o Sistema Nacional de Compensao Ambiental SNCA e o Mecanismo de Compensao Ambiental MCA e d outras providncias.

    Captulo I DO SISTEMA NACIONAL DE COMPENSAO AMBIENTAL - SNCA

    Art. 1o Fica criado o Sistema Nacional de Compensao Ambiental SNCA, com o objetivo de instituir e organizar o funcionamento do Mecanismo de Compensao Ambiental MCA.

    Pargrafo nico. So diretrizes do SNCA:

    I a conservao dos biomas continentais brasileiros, de modo a preservar o patrimnio de biodiversidade dos vrios ecossistemas presentes no territrio nacional;

    II a necessidade de se reduzir energicamente o desmatamento das matas nativas, especialmente aquelas objeto de proteo pela legislao ambiental;

    III o reconhecimento do valor intrnseco da cobertura vegetal nativa, para alm da captura de carbono;

    IV a atribuio difusa e nacionalizada da responsabilidade de manter a cobertura vegetal nativa;

    V a atribuio direcionada do nus financeiro da manuteno da cobertura vegetal nativa aos agentes promotores do desmatamento;

    VI a necessidade premente de conteno das presses antrpi-cas sobre os biomas nacionais;

    VII a preferncia para utilizao de mecanismos de incentivos, baseados em adeso voluntria, em detrimento de solues coercitivas;

    VIII o reconhecimento da necessidade de um arranjo federativo calcado na cooperao entre os entes federados, tendo em vista a viabilidade de uma poltica de compensao e de preservao ambiental.

  • 5151

    Art. 2 So rgos e entidades componentes do SNCA:

    I o Ministrio do Meio Ambiente - MMA;

    II o Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento MAPA;

    III o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Na-turais Renovveis IBAMA;

    IV o Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade - ICMBIO;

    V o Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial INMETRO;

    VI os rgos e entidades de proteo ambiental dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios conveniados.

    Captulo II DO MECANISMO DE COMPENSAO AMBIENTAL MCA

    Seo I Disposies gerais

    Art. 3 O Mecanismo de Compensao Ambiental MCA instru-mento que possibilita a compensao do passivo de reserva legal de particu-lares por meio da peridica aquisio de Cotas do MCA, emitidas em razo de aes benficas ao ambiente, nos termos desta lei.

    Pargrafo nico. Para os fins desta lei, passivo de reserva legal a quantidade de Cotas do MCA que corresponde ao pleno atendimento da obri-gao de manuteno da cobertura vegetal da reserva legal, de acordo com os percentuais mnimos fixados pela Lei n. 4.771, de 15 de setembro de 1965.

    Art. 4 So caractersticas das Cotas do MCA:

    I validade nacional, vedada sua diferenciao por localidade de emisso;

    II livre comercializao, vedadas restries de negociao que no constem desta lei;

    III cartularidade.

  • 5252

    1 A quantidade de Cotas do MCA emitidas em virtude de um certo fato ser ponderada de acordo com a categoria de ativo ambiental, cuja valorao ser estabelecida por decreto.

    2 As Cotas do MCA tero prazo de validade de 3 (trs) anos, calculado a partir de sua emisso, na forma estabelecida em decreto.

    3 Durante o prazo de sua validade, as Cotas do MCA podero ser utilizadas para compensar a reserva legal desmatada.

    Seo II Da emisso de cotas do MCA

    Art.5. Podero emitir Cotas do MCA proprietrios, possuidores, usufruturios ou titulares de direito real de uso de terras cuja utilizao, ma-nejo ou situao da cobertura vegetal nativa se traduzam em ativo ambiental, nos termos desta lei.

    Pargrafo nico. especialmente admitida a emisso de Cotas do MCA por particulares que se enquadrem nas seguintes hipteses:

    I - titulares de direito real de uso de terras da Unio, devidamente registrados pela Secretaria de Patrimnio da Unio - SPU;

    II comunidades indgenas ocupantes de reservas indgenas;

    III comunidades extrativistas ocupantes de unidades de con-servao;

    IV Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico - OSCIP que realize a gesto compartilhada de unidade de conservao;

    V concessionrios florestais, desde que previsto no respectivo contrato de concesso florestal.

    Art. 6. Os entes de direito pblico podero emitir Cotas do MCA, excetuadas as terras pblicas federais que se enquadrem no pargrafo nico do art. 5.

    Pargrafo nico. As Cotas do MCA emitidas pela Unio podero ser cedidas, sem nus, a micro e pequenos proprietrios rurais cujas condies de subsistncia sejam desproporcionalmente oneradas pela necessidade de paga-mento de cotas do MCA.

  • 5353

    Art. 7. Decreto do Poder Executivo regulamentar as condies para a emisso de Cotas, dispondo sobre:

    I as categorias de ativo ambiental, que discriminaro as formas de conservao da cobertura vegetal ou de uso ou manejo da terra aptas a se-rem convertidas em Cotas do MCA;

    II os fatores de ponderao do nmero de Cotas do MCA discri-minados por cada categoria de ativo ambiental;

    1 Podero ser categorias de ativo ambiental, entre outras:

    I - rea de vegetao nativa recuperada;

    II - rea de vegetao nativa original;

    III rea de vegetao nativa em corredores ecolgicos;

    IV rea de vegetao nativa em reas definidas pelos Estados ou pelos Municpios como prioritrias para conservao;

    V outras reas cujo uso ou manejo se traduzam em servios ambientais relevantes.

    2 As categorias de ativos ambientais podero ser excludentes ou cumulativas entre si, de acordo com o que for definido em decreto.

    3 Nas categorias previstas nos incisos I e II, ser considerada apenas a rea que exceder a reserva legal, de acordo com os percentuais esta-belecidos no art. 16 da Lei 4.771, de 15 de Setembro de 1965.

    4 Como mecanismo de distribuio nacional da responsabili-dade por manter a cobertura vegetal nativa, o decreto poder autorizar que at 60% da reserva legal de reas de floresta de imveis rurais localizados na Amaznia Legal constituam categoria de ativo ambiental para fins de emisso de Cotas do MCA.

    Art. 8. Sem prejuzo atuao de outros entes pblicos ou priva-dos, a Caixa Econmica Federal atuar como agente comercializador das Cotas do MCA, arcando com os custos dos processos de certificao das cotas que comercializar e se remunerando mediante comisso sobre o preo de venda das cotas.

  • 5454

    Seo III Da compra e uso de Cotas do MCA

    Art.9. livre a comercializao e o uso das Cotas do MCA, sendo expressamente admitidas as seguintes formas de negociao, sem prejuzo de outras:

    I negociao direta entre emissor e comprador;

    II negociao em bolsa de valores;

    III negociao em mercado de futuros;

    IV negociao por agentes comercializadores, mediante comis-so.

    Pargrafo nico. A comercializao em bolsa de valores e em mer-cado de futuros poder ser objeto de regulamentao e fiscalizao pela Co-misso de Valores Mobilirios CVM.

    Art. 10. O passivo ambiental de uma propriedade rural a ser com-pensado pelas Cotas do MCA ser calculado em funo dos seguintes critrios, na forma estabelecida por decreto:

    I tamanho da reserva legal a ser compensada;

    II tamanho da propriedade rural;

    III regio em que se localiza a propriedade rural.

    Pargrafo nico. A supresso de cobertura vegetal de reserva le-gal que ocorra posteriormente vigncia desta lei dever ser compensada pelo triplo de Cotas do MCA.

    Art. 11. Aquele que desejar compensar reserva legal por meio do MCA dever declarar a rea de reserva legal desmatada a ser compensada, ao que restar configurada sua adeso ao SNCA.

    1 A partir da declarao fornecida pelo proprietrio, o MMA fornecer certificado eletrnico em que constar o nmero de Cotas do MCA necessrio compensao da reserva legal.

    2 A rea declarada no poder ser inferior quela objeto de autuao anterior pela respectiva autoridade fiscalizadora ambiental.

  • 5555

    Art. 12. Comprovada fraude de qualquer natureza, o agente estar sujeito a:

    I destrancamento do processo penal a que respondia anterior-mente, caso esse tenha sido suspenso na forma do art. 27 desta lei;

    II multa;

    III crime do artigo 299 do Cdigo Penal Brasileiro;

    IV indenizao na forma do art. 25 desta lei.

    Art. 13. O Poder Pblico poder efetuar compras das Cotas do MCA em circulao, de acordo com os mecanismos de compras pblicas previstos na legislao.

    Seo IV Da certificao, registro e fiscalizao

    Art. 14. Para fins do clculo da quantidade de Cotas do MCA a serem emitidas a um particular, exigir-se- certificao tcnica que assevere a categoria do ativo ambiental e o tamanho da rea compreendida.

    1 As entidades certificadoras podero ser entes pblicos ou en-tidades privadas credenciados em processo pblico conduzido pelo INMETRO.

    2 A qualificao tcnica das entidades certificadoras, as par-ticularidades do processo de certificao e os critrios para certificao das categorias de ativo ambiental sero definidos pelo INMETRO.

    Art. 15. Fica institudo o Cadastro Nacional do SNCA, mantido pelo MMA e administrado por todos os integrantes do SNCA, que conter o registro de cada Cota do MCA e dos agentes que as comercializarem, na forma estabelecida por decreto.

    1 No Cadastro Nacional do SNCA dever constar:

    I a qualificao do agente emissor de Cotas do MCA e a catego-ria do ativo ambiental ofertado;

    II o histrico de emisso de Cotas do MCA;

    III a determinao, em Cotas do MCA, do passivo de reserva legal de cada agente cadastrado;

  • 5656

    IV a quantidade de Cotas do MCA vlidas possudas por agente cadastrado;

    V o histrico de transaes das Cotas do MCA;

    VI o nmero dos autos de processos judiciais objeto da suspen-so condicional do processo de que trata o art. 27 desta lei.

    2 O MMA, mediante convnio, delegar aos rgos ambientais dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios a administrao e a manuten-o dos dados regionalizados do Cadastro Nacional do SNCA.

    3 Cada Cota de MCA emitida ser numerada em srie pelo MMA.

    4 O registro referido no caput do art. 15 dever ser mantido em plataforma eletrnica, cuja base de dados dever ser integralmente acessvel por meio de stio virtual mantido pelo MMA.

    5 O cadastro de agentes no SNCA e o processo de autodeclara-o referido no art. 11 desta lei sero efetuados preferencialmente de maneira eletrnica, e no se exigir, no momento do cadastro, nenhuma documentao comprobatria, sendo as fraudes punidas na forma desta lei e das disposies penais aplicveis.

    Art. 16. A fiscalizao da veracidade das informaes prestadas por agentes emissores de Cotas de MCA e agentes com passivo de reserva legal ser realizada cooperativamente pelas entidades integrantes do SNCA.

    Pargrafo nico. O IBAMA firmar convnios com os rgos e en-tidades estaduais e municipais de proteo ao meio-ambiente com a finalidade de delegar a fiscalizao do MCA e do benefcio ambiental oriundo das reservas legais referidas no art. 17 desta lei.

    CAPTULO II DA OBRIGAO DE INDENIzAR O DANO AMBIENTAL

    Seo I Disposies gerais

    Art. 17. O benefcio ambiental oriundo das reservas legais se constitui em bem imaterial da Unio, nos termos do art. 20, I, da Constituio Federal.

  • 5757

    Art. 18. O descumprimento das obrigaes de manter reserva legal ensejar indenizao pelo dano ambiental correspondente, nos termos deste captulo.

    Art. 19. Aquele que houver aderido ao SNCA ser considerado inadimplente perante a Unio se, em qualquer momento, no possuir Cotas do MCA vlidas equivalentes ao seu passivo de reserva legal.

    1 A inadimplncia descrita no caput gerar para a Unio o di-reito de ser indenizada na forma prevista neste captulo.

    2 No se caracterizar a inadimplncia se o passivo de reserva legal for compensado por Cotas do MCA vlidas em at um ano.

    Art. 20. Para os fins de apurao do valor das indenizaes previs-tas neste captulo, o valor das Cotas do MCA ser o da cotao mdia em bolsa dos trs meses anteriores inscrio do dbito na Dvida Ativa da Unio.

    Pargrafo nico. Enquanto no houver cotao em bolsa, ato do Poder Executivo fixar o valor de referncia das Cotas do MCA para os fins deste captulo.

    Art. 21. As indenizaes previstas neste captulo constituem Re-ceitas de Capital e sero inscritas na Dvida Ativa da Unio pela Procuradoria da Fazenda Nacional.

    Seo II Do valor das indenizaes

    Art. 22. Sem prejuzo das sanes administrativas e penais cab-veis, aquele que no houver aderido ao SNCA e no mantiver a cobertura vege-tal nativa em reserva legal de que seja proprietrio, possuidor, usufruturio ou titular de direito real de uso dever, cumulativamente:

    I - indenizar a Unio em valor equivalente a dez vezes o valor das Cotas do MCA que seriam necessrias para compensar o passivo de reserva legal do devedor, caso houvesse este aderido ao SNCA;

    II alternativamente, recompor a cobertura vegetal da reserva legal, aderir ao SNCA ou utilizar qualquer outro mecanismo de regularizao previsto na legislao ambiental.

  • 5858

    Art. 23. Sem prejuzo das sanes administrativas e penais cab-veis, aquele que aderiu ao SNCA e est inadimplente perante a Unio dever indenizar a Unio da seguinte forma, sem prejuzo da necessidade de adquirir o nmero de Cotas do MCA correspondente ao passivo de reserva legal:

    I se a diferena entre Cotas do MCA vlidas e o passivo de re-serva legal durar de um a trs anos, o devedor dever indenizar a Unio em valor equivalente a quarenta por cento das Cotas do MCA necessrias para compensar o passivo de reserva legal, calculadas na forma do art. 20, por ano de inadimplncia;